Nosso Caminho n°12 - ano 2012

46

description

Revista Nosso Caminho, revista de arquitetura, arte e cultura fundada por Oscar Niemeyer Publicação Editora Nosso Caminho http://editoranossocaminho.com.br https://www.facebook.com/pages/REVISTA-NOSSO-CAMINHO/305986106365

Transcript of Nosso Caminho n°12 - ano 2012

Page 1: Nosso Caminho n°12 - ano 2012
Page 2: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

Diretoria: Oscar Niemeyer e Vera Lúcia G. Niemeyer

Conselho Editorial: Oscar Niemeyer, Vera Lúcia G. Niemeyer, Jair Valera, José Carlos Sussekind, Cecília Scharlach, Renato Guimarães e José Fernando G. Balbi

Jornalista Responsável: Renato Guimarães

Projeto Gráfico: Rodrigo Almeida de Paula

Revisão: Luiz Otávio Barreto Leite e Deborah Prates

Traduções: César Rojas Alfonzo e Leonardo da Silva Costa (Espanhol)

Diogo M. G. Cabreira e Luciana Simões de Aquino (Inglês)

Publicação: Editora Nosso Caminho

Produção Editorial: Editora Nosso Caminho

Produção Gráfica e diagramação: Chris Abbade

Capa: Algodão, 1938, Desenho a grafite e pastel/cartão, 42x41cm (aproximadas), Rio de Janeiro, RJ, imagem do acervo do Projeto Portinari, essa e todas as reproduções mostradas nesta edição foram autorizadas por João Cândido Portinari.

Editora Nosso Caminho Ltda.CNPJ 10.433.542/0001-01www.revistanossocaminho.com.br

Sumário

Nosso CamiNhoV.1  N.12 - 2012

Ao leitor 3 Vera Lúcia G. Niemeyer

Uma praça para o Recife 4Oscar Niemeyer

Jardim Botânico do Rio de Janeiro 8Oscar Niemeyer

Hotel Duas Barras – Alagoas 12Oscar Niemeyer

Fundação Oswaldo Cruz 16Oscar Niemeyer

Tecnet 20Oscar Niemeyer

Homenagem | Cândido Portinari 22

Artes | Uma festa para o olhar 27Marcus de Lontra Costa

A crise mundial e a defesa da soberania brasileira 29Renato Guimarães

memória | A fortuna do Barão 33Luiz Otávio Barreto Leite Artigos e crônicas |

O custo intangível do fracasso europeu – José Luís Fiori 35Lembrando o carnaval – Oscar Niemeyer 36A Leonel Brizola, com saudade – José Carlos Sussekind 38Sempre Vinicius: depoimento a Regina Zappa – Chico Buarque 39O mito e o tempo – Luiz Alberto Oliveira 41

Page 3: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

3

ao LEiToR

Ao completar três anos de existência, a revista Nosso Caminho tem recebido uma série de elogios sobre o seu conteúdo.

Na edição no 11, fizemos uma homenagem a Vinicius de Moraes, que agradou a muitos leitores. Nesta edição vamos homenagear, na proximidade de seu centenário, um artista de que todos nós brasileiros nos orgulhamos, Cândido Portinari.

Portinari nasceu na cidade de Brodósqui, interior de São Paulo, no ano de 1903. Veio para o Rio de Janeiro, iniciou-se na pintura em meados da década de 1910, vindo a falecer em 1962.

Suas obras magníficas – entre elas os paineis de Lavrador de Café e Guerra e Paz – revelam grande criatividade e beleza. Fez diversos trabalhos para se integrarem aos projetos de Oscar Niemeyer.

Nós de Nosso Caminho ficamos orgulhosos de poder homenagear esse grande artista plástico brasileiro, relembrando a importância de sua contribuição cultural aos jovens de nosso país, interessados nos problemas das artes plásticas. Portinari é, sem dúvida, um exemplo de dedicação e talento extraordinário.

Vera Lúcia G. Niemeyer

Page 4: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

54

Uma PRaÇa PaRa o RECiFE

Projeto: Oscar Niemeyer

O projeto desta grande praça estabeleceu uma pausa nes-te correr de prédios que variam entre quatro e dez pavi-mentos a desmerecer a maioria das praias brasileiras.

É importante frisar que tudo começou em função do poder imobiliário e sua ânsia invencível de lucro sem o menor respeito pelas mais primárias regras de correção e bom gosto. Isso sem falar do aspecto urbanístico que essas avenidas litorâneas apresentam, quando, destina-das a tráfego mais intenso, cortam a ligação mais íntima da cidade com as praias. É a preocupação de obras mais suntuosas que determina esse resultado questionável, impedindo, como seria mais agradável, que a cidade e as praias constituíssem um conjunto mais harmonioso, com praças e jardins a enriquecê-lo.

No caso desta praça do Recife a solução que propusemos evita a repetição das velhas avenidas litorâneas a que me referi, criando uma separação rígida retilínea que as cons-truções de mau gosto ajudam a empobrecer. A uma dis-tância considerável a praça vai impedir tanto desacerto.

Numa grande área ajardinada foram situados o teatro, o prédio de apoio com escritórios, e o salão de exposições.

Outros aspectos curiosos o visitante vai encontrar. Pri-meiro, a maneira simples e lógica com que uma rampa suave o leva até ao foyer do teatro previsto, onde uma grande parede de vidro o separa da platéia. E do pal-co, que, mais adiante, permite vislumbrar, surpreso, ele pensa como foi fácil realizar esse pequeno trajeto, que termina naturalmente próximo ao local donde partiu.

Acostumado a projetar teatros, conhecendo como os problemas de acesso – obrigando a rampas e escadas – são difíceis de resolver, sinto que uma lição de arquite-tura talvez se faça presente neste complexo. E me agrada mais ainda saber que a abertura do palco para o exterior foi também uma contribuição minha, que adotei com certa originalidade.

Continuo a recordar, entusiasmado, a planta do teatro, e o palco abrindo para o exterior me faz sorrir satisfei-to. Penso novamente no conjunto deste projeto de que o teatro é o elemento principal. Vejo os outros edifícios; sinto que a vista para o mar está livre, como eu deseja-va, que o prédio da administração e o salão de exposi-ções estão bem localizados, que o restaurante será um novo atrativo neste lugar magnífico, que, em boa hora, a Prefeitura desta importante capital nordestina resolveu aproveitar, transformando-o num centro de cultura e la-zer da melhor qualidade.

Page 5: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

76

Page 6: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

98

JaRdim BoTâNiCo do Rio dE JaNEiRo

Projeto: Oscar Niemeyer

Explicação necessária

Fui tomado por um entusiasmo juvenil ao projetar este salão de exposições no Jardim Botânico do Rio de Janei-ro. Era um desafio e tanto: desenhar um prédio moderno, possível de marcar um contraste com as construções an-tigas (algumas em estilo eclético) e monumentos diver-sos já fixados nesse ambiente extraordinário. Um espaço multissimbólico, de amplo significado histórico para os habitantes de minha cidade natal.

O salão projetado que deverá facilitar a interação entre o público e uma natureza exuberante, de rara beleza, terá um formato diferenciado, como se impunha, e compre-enderá 1.070,66m² de construção. E a fantasia do arqui-teto se fará notar: um pavimento sobre pilotis com cinco metros de pé-direito todo envidraçado, liberando assim toda a vista para o jardim. E as esquadrias afastadas em pontos da laje irão formar grandes varandas, abrindo para fora de maneira provocativa.

No térreo, além do acesso, previu-se um café – um espa-ço de convivência que irá constituir-se num ponto atra-tivo para os visitantes.

EXPOSIÇÕES

CAFÉ/BAR PÁTIO

EXPOSIÇÕES

PÁTIOCAFÉ/BAR

Page 7: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

1110

Page 8: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

1312

hoTEL dUas BaRRas – aLaGoas

Projeto: Oscar Niemeyer

Trata-se de um conjunto que deverá chamar a atenção de todos pelo jogo dos volumes e pela liberdade com que se interveio no espaço.

O projeto abrange um hotel com 40 quartos e todo o apoio necessário, o qual inclui, de forma destacada, pis-cinas, bares, restaurantes, fitness e saunas. Foram previs-tos um teleférico a estabelecer a ligação entre a praia e o restaurante, bem como uma grande recepção destinada ao condomínio residencial.

Em separado, projetamos uma residência com salas, dois quartos para o casal e quatro bangalôs conectados por uma extensa e elegante marquise, totalizando 10.772,39 m² de construção.

RESIDÊNCIA

PISCINA

APOIOPISCINA

QUARTOS

ESTAR

JANTAR

HOTEL

PISCINAS

LAZER

BAR

RECEPÇÃO

Page 9: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

1514

Page 10: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

1716

FUNdaÇão oswaLdo CRUz

Projeto: Oscar Niemeyer

Explicação necessária

Este complexo que irá abrigar importantes setores da Fundação Oswaldo Cruz (FIO-CRUZ), localizados em quatro edifícios com 27.450,20 m² de construção, impõe-se por sua harmonia e pela liberdade das solu-ções adotadas. Afinal, tratava-se de atender a um programa muito rico, à altura de uma das instituições científicas e acadêmicas mais renomadas do País.

Em primeiro lugar, vale salientar o museu de ciência e tecnologia, que corresponde, com certeza, a um antigo sonho de profis-sionais vinculados aos programas avança-

dos de pós-graduação oferecidos pela Fiocruz ou por esta formados. Projetei um grande salão com dois pavi-mentos onde serão instalados os equipamentos do mu-seu propriamente dito.

Desenhei ainda um teatro que poderá atender a diversas finalidades, capaz de comportar 600 pessoas, com acesso direto ao museu assegurado por uma grande marquise. Do lado oposto ao prédio desse teatro será construído um restaurante que tem a forma de um cilindro, a contrastar com as demais construções.

Por fim, incluímos o cinema 180o para 300 lugares, o qual irá situar-se do outro lado da Avenida Brasil e terá

ligação garantida por um viaduto destinado a veículos e pedestres.

Diferentes pesquisadores, professores e estudantes – sobretudo aqueles que atuam na área da saúde coletiva (inclusive nos domínios da saúde do trabalhador e da erradicação de doenças tropicais) –, integrantes de um variado público externo poderão realizar trocas sociais da maior relevância nesses espaços culturais que me foi possível desenhar.

Estão também previstos um centro esportivo e um grande estacionamento.

RESTAURANTE

IMPLANTAÇÃO

MUSEU

CINEMA

TEATRO

Page 11: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

1918

Page 12: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

2120

TECNET

Explicação necessária

A sede da TECNET por mim projetada com o maior interesse corresponde a um conjunto moderno de três edifícios que se distinguem por suas formas arrojadas, congruentes com a importância que a empresa assume em sua área de atuação.

O edifício principal sobressai por um apuro plástico que deverá chamar atenção a toda gente que o visitar, a se surpreender com os espaços projetados. Compõe-se de três andares superiores onde estão previstas as salas de escritório e a administração, e do térreo, que abrange os acessos e um hall de entrada. O subsolo destina-se aos principais setores de apoio e ao estacionamento.

O edifício de apoio, situado de modo expressivo no terre-no, compreende cinco pavimentos reunindo salas para escritório.

Completam este complexo o edifício abrigando uma sala de gravações e hangar – com a previsão de um heliporto –, totalizando 20.249,90 m² de construção.

Page 13: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

2322

Graças a ele a nossa arte moderna pode, com certeza, fi-gurar no quadro da cultura universal. E esse julgamento tem todo o sentido na medida em que, sempre inspirado pela sofrida e opressiva realidade brasileira, este soube fazer de sua pintura instrumento de denúncia social. E nela ganham relevo retirantes, espantalhos, favelados,

homenagem

Homenagear Cândido Portinari (1903-1962), por muitos reconhecido como o maior pintor brasileiro de todos os tempos, era objeto de antiga preocupação dos editores de Nosso Caminho.

enfim, nossa gente menos favorecida. Suas figuras de lavradores, como aquelas tematizadas nos murais en-contrados no Palácio Gustavo Capanema, antiga sede do Ministério da Educação (ver ilustrações que se seguem), sobressaem por sua majestade e por seus pés e mãos acentuadamente fortes.

A mestria técnica, a força do gênio criativo reveladas em sua pintura mural levaram Pablo Neruda a afir-mar que Portinari, juntamente com Orozco, Rivera, Tamayo e Guayasa-mín, forma a cordilheira dos Andes da pintura do continente america-no. E tais qualidades podem tam-bém ser apreciadas nos exemplares de sua arte de inspiração religiosa, nas composições históricas, nos inúmeros trabalhos dedicados a motivos referentes ao universo da infância que é possível admirar-mos, sobretudo se procedermos à leitura de O menino de Brodósqui, editado postumamente sob os cui-dados de João Cândido Portinari, filho deste grande criador.

No dia do seu falecimento, Carlos Drummond de Andrade, um de seus amigos mais queridos e com-panheiro de tantas lutas em defesa da moderna arte brasileira, escre-veu um belíssimo poema, que de-cidimos transcrever nesta home-nagem. São versos comoventes que iluminam a nossa compreensão da sensibilidade artística de Portinari, da diversidade de suas temáticas e procedimentos construtivos, da atenção que este dispensou aos se-res associados pelo drama humano – dos trabalhadores do café aos me-ninos pobres que se destacam em seus desenhos e telas. Todos a de-penderem da mão do pintor com o seu “poder de encantação”:

oscar Niemeyer e Cândido Portinari, 1948

Algodão, 1938Desenho a grafite  e pastel/cartão42x41cm (aproximadas)Rio de Janeiro, RJSem assinatura e sem data

Erva-mate, 1938Pintura mural  a afresco280x297cm Rio de Janeiro, RJSem assinatura  e sem data

Page 14: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

2524

Pau-brasil, 1938Pintura mural a afresco280x250cm Rio de Janeiro, RJAssinada e datada na metade inferior à direita  “C. PORTINARI” 1936-1944

Figura de Homem, 1938Desenho a carvão/papel53x33cm Rio de Janeiro, RJAssinatura estampada no canto inferior  esquerdo “ Portinari” Sem data(estudo para a pintura do mural “Erva-mate”) 

Torso, 1937Desenho a carvão/papel64x44cm (aproximadas)Rio de Janeiro, RJSem assinatura, datada na metade inferior à direita “croquis para o Pau-Brasil”.

Page 15: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

2726

A Mão

Entre o cafezal e o sonhoo garoto pinta uma estrela douradana parede da capela,e nada mais resiste à mão pintora.A mão cresce e pinta o que não é para ser pintado mas sofrido.A mão está sempre compondomódul-murmurandoo que escapou à fadiga da Criaçãoe revê ensaios de formase corrige o oblíquo pelo aéreoe semeia margaridinhas de bem-querer no baú dos vencidos.

A mão cresce mais e fazdo mundo como-se-repete o mundo que telequeremos.A mão sabe a cor da core com ela veste o nu e o invisível.Tudo tem explicação porque tudo tem (nova) cor.Tudo existe porque foi pintado à feição de laranja mágicanão para aplacar a sede dos companheiros,principalmente para aguçá-laaté o limite do sentimento da terra domicílio do homem.

Entre o sonho e o cafezalentre guerra e pazentre mártires, ofendidos,músicos, jangadas, pandorgas,entre os roceiros mecanizados de Israela memória de Giotto e o aroma primeiro do Brasilentre o amor e o ofícioeis que a mão decide:todos os meninos, ainda os mais desgraçados,sejam vertiginosamente felizescomo feliz é o retratomúltiplo verde-róseo em duas geraçõesda criança que balança como flor no cosmoe torna humilde, serviçal e doméstica a mão excedenteem seu poder de encantação.

Agora há uma verdade sem angústiamesmo no estar-angustiado.O que era dor é flor, conhecimentoplástico do mundo.E por assim haver disposto o essencial,deixando o resto aos doutores de Bizâncio,bruscamente se calae voa para nunca-maisa mão infinitaa mão-de-olhos-azuis de Cândido Portinari.

(De Lição de coisas) [NC]

Artes

Uma FEsTa PaRa o oLhaRMarcus de Lontra Costa

A figura elegante e discreta, de gestos comedidos e comu-nicação educada e natural, parece contrastar com as pin-turas arrojadas, barrocas, repletas de referências, adereços e informações que transformam cada tela numa festa para o olhar. Assim é Robinson Antônio de Oliveira, sargen-to da Marinha Brasileira, morador de Duque de Caxias, apaixonado pelo mundo da moda, da beleza e do requinte que ele com sensibilidade, talento e inteligência transpor-ta para o universo da arte contemporânea.

Essa pretensa estranheza entre o Criador e a Criatura, essa informação que supera o estereótipo, essa quanti-dade de mensagens que um encontro emite e transporta é uma das mais valiosas e encantadoras características

desse admirável mundo novo, contemporâneo, regido pela velocidade da comunicação. E é exatamente essa re-alidade atual, que incorpora a diversidade como instru-mento de riqueza artística e cultural, que garante valida-de à produção de Robinson e suas musas da Pop Music, da indústria do entretenimento, do fascínio à personali-dade e à idolatria da imagem popular.

Há pouco tempo, no mundo moderno, a principal função da arte seria criar formas e artefatos que fossem apropria-dos e reproduzidos pela atividade industrial; os ateliês (ou escritórios de criação...) seriam laboratórios de pesquisas estéticas que alimentariam a sociedade urbana através da arquitetura, do design, e da comunicação em geral. Essa estratégia de “construção da utopia” foi confrontada pela Pop Art, que ainda nos anos 60 busca responder a uma realidade mundial na qual o modernismo, em sua acep-

Robinson Oliveira                                                             O Refúgio de

Alek Wek, 2010                                                                                                                                 Acrílica sobre tela                                                          

1,33m x 1,86m

FoTo

s: R

oBi

Nso

N o

Liv

EiR

a

Algodão, 1938Pintura mural a afresco280x300cm Rio de Janeiro, RJSem assinatura e sem data

Page 16: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

2928

ção tradicional, não mais se identificava. A simbologia da arquitetura de Niemeyer em Brasília e as decorrências do movimento neoconcretista, de Hélio Oiticica, marcam no Brasil uma espécie de mal-estar com o formalismo clássi-co do modernismo, baseado na ordem e numa espécie de cartilha científica anacrônica.

Assim, a iconografia da comunicação de massa, os obje-tos do cotidiano urbano, os apelos fantasiosos da propa-ganda e os vários veículos de ação cultural como o cine-ma, a televisão e as histórias em quadrinhos invadem em definitivo o universo da arte; a Pop Art valoriza novas referências históricas e recria novos significados para a imagem, tendo por base o surrealismo e o dadaísmo em detrimento dos movimentos construtivos. Essa nova es-tratégia amplia a ação artística e acaba por retomar o di-álogo com a psicanálise e a antropologia além de outros setores da visualidade como o artesanato e a arte popular, até então desprezados por um tipo de raciocínio teórico que entende a arte como uma ilustração de si mesma ou como resultado de uma teoria elaborada a priori e não construída através do exercício constante da práxis.

O universo da Pop Art é suficientemente amplo para incorporar as ações e contribuições locais, as várias ge-ografias, e isso ocorreu no Brasil onde ela acabou por tornar-se mais política, mais crítica, dialogando com proximidade com o Nouveau Réalisme francês e a Arte Povera italiana. Nos anos 80 com a retomada democráti-ca os artistas da geração 80 reintroduziram a ação pictó-rica como arma de sedução e encantamento, produzindo imagens de grande contundência formal e intenso cro-matismo, a fazerem do cotidiano urbano brasileiro seu principal tema de trabalho. Robinson Antônio de Olivei-ra é herdeiro direto dessa vertente artística; ele entende o mundo e o recria através da ótica barroca, sem temer as alegorias e acreditando na força dos adereços.

Toda e qualquer pintura do artista busca encantar e en-volver o espectador. Aqui não há espaços para silêncios, para grandes áreas chapadas e vazias; a relação pintura/fundo é retrabalhada por Robinson sem temer aproxi-mações com mestres (algumas vezes esquecidos) da arte brasileira como Rodolfo Amoedo e Antônio Parreiras. Entre os artistas brasileiros do século passado ele encon-tra abrigo naqueles poucos que recusaram a imposição construtiva como Djanira, Bonadei e, posteriormente, Gerchman e Granato. A sensualidade se insinua de ma-neira discreta; o artista encontra em Gustav Klimt a sua identificação. Personalidades do nosso mundo artístico e cultural são vistas e revistas através do olhar sensível do artista. Assim, numa mesma série, Arthur Bispo do Rosário e Frida Kahlo convivem harmonicamente com Amy Winehouse, Madonna e Lady Gaga, todos reu-nidos em pinturas de grandes dimensões que fazem o olhar agir como se estivesse num baile de carnaval, per-correndo e pipocando pelas imagens espetaculares que Robinson, régisseur dessa grande ópera contemporânea, persegue em cada pintura que elabora com maestria, sensibilidade e paixão.

Rio de Janeiro, fevereiro de 2012

Robinson Oliveira                                                            Cocoon Madonna,

2009                    Acrílica sobre tela                                                          

1,65 x 1,37 m 

a CRisE mUNdiaL E a dEFEsa da soBERaNia BRasiLEiRa

Renato Guimarães

Neste início de 2012, com foco no Oriente Médio, mas com alastramento possível a vários continentes, o mun-do vive momento de grave perigo, que ameaça degenerar em guerras e destruições de grande escala. Elas podem resultar em grandes danos também para nosso país, mas aqui igualmente abrem valiosas oportunidades de desen-volvimento econômico e institucional, que favorecem e reclamam a mobilização popular na defesa da democra-cia e dos interesses nacionais.

I – Nas últimas décadas, especialmente após a extin-ção da União Soviética, uma potente ofensiva de direita abriu caminho para uma aparente vitória definitiva do sistema capitalista liderado pelo imperialismo estaduni-dense, que se pretendeu globalizado. Essa ofensiva afe-tou profundamente intelectuais e ativistas dos antigos movimentos e partidos de esquerda. Em grande medi-da, eles foram absorvidos por duas vertentes que, por caminhos diversos, incorporavam as ideias de vitória capitalista. Uma parte aderiu diretamente à ideologia neoliberal, que atribui ao mercado o poder exclusivo de decidir sobre as questões econômicas, sociais e políti-cas. Outra parte, também numerosa, se vergou à ilusão da vitória do capital, mas o fez em diversas construções ideológicas com retórica de esquerda que aceitam e di-fundem ideias básicas do neoliberalismo, tais como o império global, a prevalência inevitável do mercado, a falência do conceito de Estado e, por consequência, do conceito de soberania nacional, o fim da luta política or-ganizada das massas de trabalhadores, a transformação destas em “multidão”, etc.

Essa ofensiva de direita intensificou-se após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Uni-dos. Numa extensão singular do conceito clássico de que “soberano é quem decide sobre o estado de exceção”, o

governo daquele país, comandado pelo tenebroso com-plexo industrial-militar, depois de pôr seu próprio povo em certa medida sob esse estado – a ponto de submetê-lo atualmente a regime semelhante ao do AI 5, que sufocou o Brasil nos anos 1970 –, enveredou por uma política de-clarada e prepotente de projetar sua soberania nacional sobre o mundo inteiro e exportar o estado de exceção a qualquer país onde, a seu critério, seus interesses re-clamem isso. Arrogou-se o direito de ignorar fronteiras nacionais e instituições internacionais para empreender em qualquer rincão da Terra operações militares de todo tipo, em grande escala, com invasões e bombardeios, ou em pequena escala, com operações abertas ou encober-tas de perseguição a civis sob suspeita sua, aos quais, se não assassinam, sequestram e submetem a trato de pre-sas de guerra, sem quaisquer direitos legais.

A ofensiva expansionista dos Estados Unidos e seus alia-dos, principalmente ex-potências colonialistas da Euro-pa, com o objetivo principal de se apossar do petróleo dos árabes, mas disfarçada sob bandeiras humanitárias, despertou natural indignação e resistência no mundo e, em primeiro lugar, nos povos agredidos. Ao mesmo tempo, contribuiu para a elevação do preço do petróleo e outras mudanças econômicas e políticas no cenário mundial que aumentaram enormemente os custos do agressor, que já vinha sobrecarregado pelo aumento de seus gastos com forças armadas, tanto pela alta de preço dos equipamentos de tecnologia atual, como pelo fato de ele não poder mais contar com alistamento obrigatório e ficar limitado ao recrutamento de soldados profissio-nais – que pouco diferem de mercenários –, cujo cus-to operacional cresce em escala geométrica. Com isso, a ofensiva comprometeu os recursos econômicos, mi-litares e políticos dessa superpotência num grau muito acima de qualquer previsão de seu governo. Este se viu em curto prazo impossibilitado de pôr em prática sua estratégia proclamada de impor de modo fulminante e inconteste sua dominação mundial. O rápido cresci-mento de outras potências, especialmente a China, mas

Page 17: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

3130

também a Rússia, a Índia, o Brasil, e ainda a Alemanha e outros países europeus, opôs novos e maiores obstácu-los à expressão dessa estratégia de poder sem limites dos Estados Unidos. Sem perder a pose arrogante, dispondo ainda de grandes reservas e com a maior agressividade que caracteriza o comportamento de toda fera acuada, o governo de Washington decaiu gradativamente para uma situação de dificuldade econômica, política e mili-tar, enquanto crescia a consciência mundial sobre o ca-ráter de rapina do imperialismo estadunidense e sobre a necessidade de resistir a ele.

II – O repúdio à prepotência dos Estados Unidos e a disposição de opor-se a ela, manifestados com força crescente no mundo inteiro, evidenciaram mais uma vez a importância do fator nacional na luta política. Os Estados-nações, ao invés de desaparecerem, regressaram com força maior à cena. A defesa do interesse nacional diante da dominação ou da agressão externa, que é mo-tor principal da mobilização popular nos movimentos revolucionários desde a luta pela independência nos próprios Estados Unidos, repontando sempre, sob diver-sas formas, na Revolução Francesa, na Comuna de Paris, na Revolução Russa, na Revolução Chinesa, na Revolu-ção Cubana, volta a mostrar-se fator-chave para que a cidadania se apresente como força transformadora, a fim de levar adiante movimentos que no início se limitam a objetivos patrióticos, mas tendem a avançar para con-quistas democráticas de maior alcance social.

Esse ressurgimento do fator nacional no centro da ação política é realidade hoje por toda parte no mundo, par-ticularmente na Palestina e no Oriente Médio, mas tam-bém na Ásia e na África e até na Europa. É, entretanto, na América do Sul que ele encontra sua manifestação mais singular e que mais de perto interessa aos brasileiros.

III – Num eco à assertiva clássica de que a revolução escolhe o elo mais fraco da corrente para eclodir, a con-dição isolada e pouco relevante da América do Sul no quadro dos grandes conflitos em que se envolveram os

Estados Unidos, afinal, deixou esse país tolhido para in-tervir no que ele tradicionalmente considera seu “quin-tal”. Isso parece ter contribuído para que os povos da região percebessem a oportunidade de ir à forra das hu-milhações e infortúnios que durante décadas lhe impu-sera a política imperialista de Washington.

Em 1998, elege-se na Venezuela o presidente Hugo Chá-vez, com uma plataforma claramente anti-imperialista e, para surpresa de muitos, com a intenção firme de cumprir o prometido. Em 2002, elege-se no Brasil o pre-sidente Lula da Silva, que manteve a política econômi-ca neoliberal dos governos anteriores no seu primeiro mandato, mas a alterou, ainda que muito gradativamen-te, no segundo mandato, para beneficiar a aceleração do desenvolvimento econômico, e adotou uma política de socorro às camadas mais pobres da população, fortale-cendo com isso o mercado interno; adotou também uma política externa de maior aproximação com a América Latina e com outras potências que não os Estados Uni-dos, embora mantendo com esse país relações amistosas. Em 2003, elege-se na Argentina o presidente Néstor Kir-chner, que corajosamente enfrentou a banca internacio-nal a fim de livrar seu país de uma dívida externa abusiva e impagável, conseguindo com isso condições para pôr a nação vizinha numa trilha de desenvolvimento autoge-rido, que até hoje prossegue em ritmo alto, agora sob a presidência de Cristina Fernandes Kirchner, em segun-do mandato. A eleição em seguida de Evo Morales, na Bolívia, Rafael Correa, no Equador, Fernando Lugo, no Paraguai, José Mujica, no Uruguai, e Ollanta Humala, no Peru, deu maior firmeza à tendência de expansão na América do Sul de governos empenhados em alcançar expressão soberana e desenvolvimento pleno, econômi-co, cultural e social, de suas nações.

Essa tendência, embora clara e marcante, não é com cer-teza retilínea, nem imbatível. A ela se opõem em cada país fortes correntes internas de direita alinhadas com os Estados Unidos, que atuam orquestradas em escala

tadunidense e seus associados, que hoje preparam uma agressão de grande escala e consequências imprevisíveis à Síria e ao Irã, é meta que a todos obriga. Na América do Sul, e no Brasil em particular, a luta em defesa dos in-teresses nacionais, da preservação e do aprofundamento do regime democrático, da soberania e da coesão dos Estados da região é a diretriz que, bem atendida, per-mitirá a mobilização de forças capaz de vencer as fortes coalizões de direita e assegurar o avanço econômico, po-lítico e social de nossos povos e nações.

V – Não há receitas prontas nem caminhos traçados para essa luta. As experiências vividas por outros povos, no passado ou no presente, servem de lição e inspiração, mas não servem de modelo. A originalidade e a varie-dade das soluções que a vida vai gerando nos países sul--americanos é muito fecunda. Em comum, existe entre elas a circunstância de que são encabeçadas por líderes não egressos das classes dirigentes, que souberam per-ceber e potencializar o desejo de mudança das massas populares e o descrédito entre elas dos partidos e ins-tituições que vinham conduzindo a vida política. Essa dependência de lideranças pessoais é ao mesmo tempo positiva, porque facilita a participação das grandes mas-sas no processo político, e negativa, porque põe esse pro-cesso na dependência das escolhas e limitações pessoais do líder. Mas a necessidade de recorrer à mobilização popular, uma vez que as forças poderosas que o hostili-zam manipulam as grandes empresas de comunicação, as instituições políticas formais, e facçãoes militares, in-duz o líder a estimular a gestação de novas formas de organização de massas do povo para o combate político e até para a resistência armada. Chama a atenção, nes-se sentido, especialmente na Venezuela, na Bolívia e no Equador, a ascensão em bairros proletários de associa-ções de moradores que se articulam em torno de con-selhos comunitários e, ao mesmo tempo, defendem os interesses imediatos da população local, têm presença ativa na resistência ao golpismo de direita e pressionam em favor do aprofundamento da democracia.

internacional e dominam a mídia, os bancos e setores importantes do empresariado local. Com apoio finan-ceiro, político e militar dos Estados Unidos e outros países imperialistas menores, assim como de seus res-pectivos órgãos de espionagem e operações encobertas, de ONGs financiadas por empresas e governos im-perialistas, de sociedades secretas tipo Opus Dei, etc, tais setores de direita empreendem em cada país uma campanha sem trégua através da maioria dos órgãos da grande mídia. Esta assume caráter de partido político golpista, cuja finalidade é impedir que se elejam gover-nantes comprometidos com os interesses nacionais e, quando não conseguem isso, tentar a todo custo acuar e tornar refém deles o governante eleito para, se possível e conveniente para eles, derrubá-lo. É o que se vê cada dia, na Venezuela, na Bolívia, no Brasil, na Argentina, em toda parte.

IV – Há, entretanto, nesse processo de ascensão nacio-nal e democrática na América do Sul uma singularida-de que lhe dá poder de sustentação: ela se desenvolve com a rigorosa observância pelos governos das nor-mas de regime democrático do modelo estadunidense, que pressupõe a mídia submetida aos bancos e outros grandes patrocinadores privados e as eleições sujeitas a campanhas publicitárias de alto custo, subvenciona-das por doações de empresas milionárias. A vitória e a permanência de governantes que desagradam à direita, em condições tão adversas, tornou-se possível graças a uma súbita e auspiciosa elevação da argúcia política das massas populares. Estas continuam a deslumbrar-se com a propaganda consumista na TV, mas aprenderam a descolar-se do discurso das grandes redes midiáticas na hora de escolher candidato e ajuizar governo. Com isso, definhou o poder de empossar e derrubar governos que a grande mídia exibia em décadas passadas. Criam--se portanto condições novas que favorecem e exigem a recuperação das correntes progressistas e sua inter-venção na cena política. No plano internacional, a luta contra a política de guerras sem fim do imperialismo es-

Page 18: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

3332

VI – No Brasil, o movimento organizado de massas populares é ainda débil. No período final da ditadu-ra militar, recuperou-se um pouco da derrota que esta lhe impôs, mas voltou a perder força depois. O governo do presidente Lula refletiu essa debilidade. Contraditó-rio, ele manteve uma política econômica na qual ainda sobrevive o neoliberalismo, mas adotou medidas de fa-vorecimento ao poder aquisitivo da população pobre e desenvolveu uma política externa de relativa autonomia em relação aos Estados Unidos, de aproximação com países do Sul e, especialmente, de apoio aos governos sul-americanos que são hostilizados pela aliança entre as forças internas de direita e o governo estadunidense. A presidente Dilma Rousseff, eleita graças ao apoio de Lula, mantém nas linhas gerais essa diretriz.

Por sua política de favorecimento aos pobres e à sobera-nia dos povos sul-americanos, o presidente Lula foi alvo de uma constante e incansável campanha hostil da mí-dia. Para defender-se, ele se apoiou, porém, quase exclu-sivamente, em sua popularidade pessoal. Isso o deixou vulnerável a pressões e o levou a fazer concessões políti-cas onerosas para o interesse público, além de tolher suas possibilidades de avanço e pôr em risco a preservação no governo dos traços positivos de sua gestão. Com Dilma Rousseff, tal situação de modo geral se mantém.

É portanto urgente a necessidade de expansão de uma consciência pública de defesa do desenvolvimento sobe-rano e democrático do país, na sua economia, na sua or-ganização política e social, na sua cultura. Quanto maior seja essa consciência, mais forte estará o governo para resistir às agressões da direita e, ao mesmo tempo, maior será a pressão dos movimentos de massa para que ele torne suas políticas mais coerentes com os interesses do país e da sociedade.

Um elenco de propostas nesse sentido com certeza in-cluirá: 1) a efetiva aceleração do desenvolvimento econô-mico do país; em processo voltado para a defesa nacional

e com cuidado pelo meio ambiente 2) a subordinação dos sistemas bancário e cambial aos interesses desse de-senvolvimento; 3) a posse dos recursos naturais do país e, tanto quanto possível, a recuperação das empresas e recursos públicos estratégicos dilapidados; 4) a efetiva-ção de um programa de reforma agrária que penalize o latifúndio improdutivo e beneficie as propriedades produtivas de pequeno e médio porte; 5) a destinação de maiores verbas às políticas públicas de educação e saúde; 6) a mudança da política vigente de repressão po-licial direcionada contra a população mais pobre, prin-cipalmente não branca, por uma política democrática de segurança pública; 7) o reforço do controle pelo po-der público das concessões de meios de comunicação a grupos privados e outras medidas que proporcionem o aprofundamento do regime democrático; 8) o reequipa-mento das Forças Armadas e a dotação a elas de recur-sos necessários à eficiente defesa do território nacional; e 9) a ampliação e a consolidação da política externa de unidade com a América Latina – essencial para a preser-vação dos governos progressistas na região –, de respeito à soberania dos Estados, de relações amistosas com to-dos os povos e de defesa da paz.

Muitas são as metas a nos desafiarem, cujo alcance re-quer todo o engenho e toda a força que sejam capazes de reunir as correntes progressistas em nosso país, com sentido estratégico e espírito transformador. Povo e go-verno precisam mobilizar suas reservas de patriotismo e civismo a fim de que o Brasil possa aproveitar a grande oportunidade que tem hoje de firmar-se em breve prazo como nação poderosa, soberana, projetada no cenário mundial e consolidada em seu papel de lastro e líder do processo democrático de reconstrução nacional, pacífi-co e progressista, que se desenvolve na América Latina.

memória

a FoRTUNa do BaRão

Luiz Otávio Barreto Leite

Querendo bancar o esperto, o Cardoso colocou no cabide do restaurante, a certa distância da mesa que ocupava, o seu fino guarda-chuva com o seguinte cartão: “Este guarda-chuva pertence ao campeão nacional de boxe.”

Findo o almoço, foi buscá-lo, mas lá só encontrou este cartão: “O guarda-chuva do campeão nacional de boxe foi levado pelo campeão nacional de corridas.”

Pequenas histórias como essa, crônicas de maior exten-são – igualmente voltadas à crítica dos costumes e do comportamento humano –, frases cheias de ironia (ao modo provocativo das máximas e aforismos), anúncios divertidos eram divulgados entre 1926 e 1952, a despei-to de algumas interrupções, no semanário “A Manha”. Seu autor, o jornalista gaúcho Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (1895-1971), adotou o pseudônimo irreverente de Barão de Itararé e pode ser considerado o pioneiro do jornalismo alternativo no Brasil.

Ele próprio elaborava os textos dados à luz naquele peri-ódico, paginava-os, diagramava-os, além de atuar como diretor. Memorável era a maneira como lidava com as suas atribulações pessoais (perseguições, prisão e perda de entes queridos) e a vida política. Sobressaiu como mi-litante do PCB, crítico veemente do regime autoritário (“O Estado Novo é o estado a que chegamos”) e verea-dor eleito em 1946 por esse partido; o seu mandato foi cassado, juntamente com a anulação do registro dessa entidade, quase um ano depois. Não menos memorável era o seu jeito de enfrentar a fúria dos policiais censo-res e de simultaneamente lembrar aos que procuravam o seu jornal a oportunidade de colaborar com um anún-cio, mandando insculpir esta frase na porta de entrada

do escritório de direção de “A Manhã”: “Entre sem bater, mas não entre sem anunciar”.

Torelly veio a apurar a sua verve satírica em seus Alma-nhaques;* neles esse “marechal-almirante e brigadeiro do ar-condicionado” exibiu não a pureza (aristocrática) do sangue, mas a nobreza do espírito de zombaria:

“O fígado faz muito mal à bebida.”

“As mulheres de certa idade nunca são de idade certa.”

“A primeira ação de despejo foi a expulsão de Adão e Eva do Paraíso por falta de pagamento de aluguel e compor-tamento irregular.”

“A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.”

O Barão de Itararé inaugurou uma nova linhagem de hu-moristas no Brasil a que é possível vincular nomes como os de Stanislaw Ponte Preta (seu companheiro da Folha do Povo), Millôr Fernandes e Luís Fernando Veríssimo. Seu humorismo político inimitável revela-se muito con-gruente com a sua lucidez e coerência – manifestadas assim que pôde reconhecer a guinada progressista do Presidente Vargas, e quando não hesitou em fulminar os

Page 19: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

3534

críticos udenistas: “Não é triste mudar de ideias; triste é não ter ideias para mudar.” Mostra-se surpreendentemen-te atual a sua visão crítica da realidade política do País:

“Anistia é um ato pelo qual o governo resolve perdoar gene-rosamente as injustiças e crimes que ele mesmo cometeu.”

“A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas, em geral, enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.”

“O mal do governo não é a falta de persistência, mas a persistência na falta.”

Chamam a atenção na produção de Torelly as narrativas a que o autor confere, de maneira irônica, um valor etio-lógico. Em outras palavras: elas nos esclarecem, à seme-lhança dos mitos e contos populares, a origem de algum fenômeno, de uma palavra ou expressão usual (como “lágrimas de crocodilo”) ou de um fato digno de nota. Este pode ser, sob o prisma humorístico do Barão, a en-trada no Céu do primeiro advogado... A gênese (desco-nhecida) do vocábulo larápio, por exemplo, remontaria à abreviação popular do nome de ilustre cônsul romano da Cirenaica, muito empenhado em “confundir o patri-mônio alheio com o próprio”:

L [ucius]A [marus]R [ufus]A PIUS.

Graças aos estudos de Mikhail Bakhtin passamos a re-conhecer na paródia o principal processo de carnavali-zação artístico-literária. Esta se faz muito presente nos textos do Barão, sobretudo quando ele “desentroniza” máximas, provérbios e adágios:

“Deputado come o milho, papagaio leva a fama.”

“A união faz a força. Mas nem por isso deviam pôr tanta água no leite.”

“Deus dá peneira a quem não tem farinha.”

“Deus dá pente a quem não tem cabelo.”

Eis um modo de o nosso humorista expressar certa fide-lidade a esse fundo comum que é a cultura popular.

Crítico implacável dos jornais golpistas de Assis Chateau-briand e Carlos Lacerda, ardoroso defensor da imprensa alternativa, Torelly conquistou a admiração de muitos escritores e intelectuais de nosso país, em especial os de esquerda. De 1955 a 1958, Moacyr Werneck de Castro e Jorge Amado fizeram circular, com o apoio generoso de Oscar Niemeyer, o Paratodos: quinzenário da cultura brasileira, onde comparecia o velho Barão com os textos selecionados de A Manha. Há bem pouco tempo foi cria-do o Centro de Estudos da Mídia Alternativa “Barão de Itararé”. Leandro Konder, por sua vez, veio a publicar, em 2007, numa obra coletiva A formação das tradições (1889-1945) com o selo da Ed. Civilização Brasileira, um ensaio apaixonante sobre esse magnífico escritor, elogiando-lhe a combatividade e a agudeza de visão.

No modo de ver do filósofo Walter Benjamin, iludem--se aqueles que, empenhados em investigar o passado literário e político, privando-se do melhor, se limitam a realizar o inventário dos achados e não sabem “assimilar no terreno de hoje o lugar no qual é conservado o velho”. E esse espaço-tempo deve compreender as preocupações permanentes do Barão de Itararé: a necessidade de de-mocratização dos meios de comunicação, a urgência de se harmonizarem ética e política na gestão dos destinos de um país, a defesa da soberania nacional, a busca in-cessante de um mundo mais justo e solidário.

*O primeiro, dado ao público em 1949 (1° semestre), e os de 1955 (correspondentes ao 1° e 2° semestre) foram, em época bem recente, objeto de primorosas edições fac--similares, sob os cuidados de Sergio Luís Papi.

Artigos e crônicas

o CUsTo iNTaNGÍvEL do FRaCasso EURoPEU

José Luís Fiori

“Se fosse possível hierarquizar sonhos, a criação da União Européia estaria entre os mais importantes do século XX. Depois de um milênio de guerras contínuas, os estados europeus decidiram abrir mão de suas soberanias nacionais, para criar uma comunidade econômica e política, inclusiva, pacífica, harmoniosa, sem fronteiras, sem discriminações e sem hegemonias. Um verdadeiro milagre, para um continente que se transformou no centro do mundo, graças à sua capacidade de se expandir e dominar os outros povos, de forma quase sempre violenta, e muitas vezes predatória.”

JLF: “Os sinos estão dobrando”, Valor Econômico, junho de 2008

Os sinais de desagregação são cada vez maiores e fre-quentes, e já não resta dúvida de que o processo de “uni-ficação europeia” entrou num beco sem saída. É quase certo o calote da dívida grega, e é cada vez mais prová-vel a ruptura da zona do euro, que teria um efeito em cadeia, de grandes proporções, dentro e fora do Velho Continente. Ao mesmo tempo, a vitória da França e da Inglaterra, na Líbia, aumentou a divisão e aprofundou o cisma alemão dentro da OTAN. Por outro lado, os go-vernos conservadores europeus estão em queda livre, e sua alternativa social-democrata não tem mais nenhu-ma identidade ideológica. Os intelectuais batem cabe-ça e a juventude busca novos caminhos um pouco sem rumo. O próprio ideal da unificação européia tem cada vez menos força entre as elites, e dentro de sociedades em que se disseminam a violência e a xenofobia. Parece iminente o fracasso europeu.

Em tudo isso, chama a atenção que o avanço da catás-trofe anunciada venha sendo acompanhado por uma consciência cada vez mais nítida e consensual a respeito das causas últimas, econômicas e políticas, da própria impotência européia. Do lado econômico, todos reco-nhecem a falta de um Tesouro europeu com capacidade unificada de tributar e emitir dívidas, junto com um BC capaz de atuar como emprestador de última instancia, em todos os mercados, garantindo a liquidez dos atuais títulos soberanos nacionais que deveriam ser extintos e substituídos por um único título público unificado, para toda a zona do euro. E quase todos já reconhecem a impossibilidade de uma moeda soberana e de um BC eficaz, sem um estado que lhes dê credibilidade e poder real de ação, em particular nas situações de crise. Uma posição que só poderia ser cumprida, neste momento, pela Alemanha, que não quer ou não pode fazê-lo, ou por um estado central que ninguém aceita.

Da mesma forma, pelo lado político, o aumento da fra-gilidade e da fragmentação da Europa vem sendo atri-buído pelos analistas, de forma quase consensual, ao fim da Guerra Fria e à unificação da Alemanha, junto com o aumento descontrolado da União Europeia e da OTAN, que passaram da condição de projetos defen-sivos, para a condição de instrumentos de conquista territorial e expansão da influência militar e econômi-ca do ocidente, dentro da Europa do Leste, e já ago-ra, também, na Ásia Central e no norte da África. O alargamento, em todas as direções, da União Europeia e da OTAN aumentou suas desigualdades sociais e na-cionais, e reduziu o grau de homogeneidade, identida-de e solidariedade que existia no início do processo de integração, quando ele era tutelado pelos EUA, e tinha um inimigo comum, a URSS.

Agora bem, quando os analistas da crise europeia se de-dicam a traçar cenários futuros, quase todos calculam o tamanho da desgraça em termos estritamente econômi-

Page 20: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

3736

cos, em bilhões e trilhões de euros. E pouco se fala dos custos intangíveis do fracasso europeu no campo das ideias, dos valores e dos grandes sonhos e símbolos que movem a humanidade. Um verdadeiro impacto atômico sobre duas pilastras fundamentais do pensamento mo-derno: a crença na viabilidade contratual de um governo ou governança mundial; e a aposta na possibilidade cos-mopolita, de uma federação ou confederação de repúbli-cas, pacíficas, harmoniosas, e sem fronteiras ou egoísmos nacionais. Duas idéias europeias que foram concebidas num continente extremamente belicoso e competitivo, mas que foi o grande responsável pela criação e univer-salização do sistema de estados nacionais modernos e do próprio capitalismo. Agora os europeus estão expe-rimentando na pele a impossibilidade real de suas uto-pias, ao tentarem construir um governo cosmopolita e contratual a partir de estados nacionais extremamente desiguais, do ponto de vista do poder e da riqueza.

O problema grave e insanável é que a falência do “con-tratualismo” e do “cosmopolitismo” deixa os europeus sem mais nenhum sonho ou utopia coletiva. Em poucas décadas, no final do século XX, eles enterraram o seu so-cialismo, e agora, no início do século XXI, estão jogando na lata do lixo o seu “cosmopolitismo liberal”. E estão deixando o resto do sistema mundial, sem a bússola do seu criador, porque o sistema seguirá em frente, mas o seu “software” europeu está perdendo energia e está se apagando.

Setembro de 2011

LEmBRaNdo o CaRNavaL

Oscar Niemeyer

Carnaval do Rio como tudo mudou! Lembro, quando garoto, que era na esquina da Rua das Laranjeiras que víamos os blocos passarem, todos vestidos de índios – alguns mais organizados, como o da Fábrica Aliança.

Às vezes, o pai nos levava, para assistirmos à passagem dos préstimos, no hall de entrada do Clube de Enge-nharia na Avenida Rio Branco, e ali ficávamos, trepados nuns bancos, proibidos de ir à rua, acompanhando o es-petáculo. Recordo que, numa noite, um senhor em pé a nossa frente tentava acender um charuto e eu, inadverti-damente, procurei apagá-lo com um lança-perfume. E o fogo subiu pelo rosto do homem, que, furioso, com uma bengala na mão, se aproximou do banco onde estávamos e indagou: “Quem fez essa brincadeira?”. E foi aí, como tantas vezes acontece, que a generosidade desapareceu, e uma senhora interveio, indignada, apontando para mim: “Foi esse menino aí. Não ia falar, mas ele está rindo.”

Depois de casado, nunca pensei em Carnaval, quando para surpresa minha fui convocado por Brizola para projetar o Sambódromo do Rio. Uma aventura de que me lembro com muita saudade, pela decisão com que ele e Darcy Ribeiro levaram adiante o empreendimento contra todo tipo de objeções. – que não haveria tempo para construir o Sambódromo, que a época das chuvas seria outro obstáculo impossível de vencer, e até para um córrego que diziam passar por baixo das arquiban-cadas, apelaram. Mas Brizola e Darcy não deram bola para tais provocações, e o Sambódromo foi inaugurado na data prevista.

Durante os três meses que durou a construção, muitas vezes visitei a obra, acompanhado de Darcy e José Car-los Sussekind, responsável por sua estrutura, e, apesar do prazo curto que tínhamos pela frente, Darcy não se

cansava de propor novas soluções. “Vamos fazer salas de aula debaixo das arquibancadas?” – sugeriu um dia. E lá está a escolinha que imaginou e que ao Prefeito de Paris tanto espantou: “Nunca vi nada parecido” – dizia este, animado. Recordo, com a obra quase concluída, Darcy a me pedir: “Oscar, faz qualquer coisa marcando o Sam-bódromo.” Trata-se do arco que projetei e que foi cons-truído na Praça da Apoteose, aplaudido com entusias-mo por Brizola e Darcy. E no qual, tempos depois, César Maia resolveu pregar mais um dos inúmeros anúncios da sua prefeitura que vinha espalhando pela cidade – apesar de ser obra realizada pelo governo de Brizola e tombada pelo Estado.

Pedi para retirá-los. Não me deu bola, mas depois, ten-do eu recorrido ao SPHAN, esse estranho governante foi obrigado a retirá-los definitivamente.

Pois bem. Sempre considerei que é durante as grandes festas populares que as palavras de ordem devem se fazer ouvir, levando aos seus participantes os protestos contra tudo que significa injustiça social ou ofensa a nossa so-berania. E lamento que isso não ocorra com maior fre-quência, como uma resposta a este clima de miséria e opressão em que vivemos.

Muitas anos atrás, lembro-me bem, estava sozinho num hotel em Brasília e assistia pela televisão ao desfile da Escola de Samba São Clemente. Para o meu espanto o tema era “O menor abandonado neste mundo de ilusão”. E fiquei a escutar o canto, triste, a lembrar a miséria que ainda persiste em nosso país, as crianças mais pobres a perambularem pelas ruas, dormindo sobre as calçadas, enquanto outras, em número muito menor, usufruem todos os privilégios que o dinheiro permite.

Mal havia desligado a televisão, uma amiga me telefo-nou. Falei-lhe do desfile e ela me interrompeu: “Oscar, não chore.” É claro que eu não chorava, embora – quem sabe – pouco faltasse para isso. Não era apenas a miséria

que me magoava, mas esta injustiça imensa que precisa-mos eliminar.

Tudo isso explica o entusiasmo com que acompanhei tempos depois a passagem da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel no Sambódromo. Era a concretização da idéia que sempre me acompanhou, de levar para as festas populares as nossas reivindicações mais urgentes. Dessa vez, o tema foi a defesa da unidade e da integração dos povos que compõem a América Latina. Não podia haver assunto mais apaixonante, neste momento em que ve-mos esse continente tão ameaçado. E senti que a campa-nha de defesa da América Latina atingia uma nova etapa, mais clara e vigorosa – como a atuação surpreendente e corajosa de Chávez já impunha.

E o desfile da Vila Isabel prosseguiu, com a escultura monumental de Simón Bolívar a lembrar que as coisas se repetem, que é urgente a reorganização política da Amé-rica Latina, continuamente ameaçada pelo imperialismo dos EUA.

Pouco conhecimento guardava daquela figura extraordi-nária... artigos publicados, as conversas políticas no es-critório, sobretudo o livro de García Márquez O general em seu labirinto. O assunto me atraía, e recorri à enci-clopédia – a enciclopédia que Sartre dizia ler como um romance –, e lá estava a história desse herói venezuelano, todo feito de coragem e desprendimento.

E fiquei a ver, emocionado, como o povo do Rio de Janei-ro participava de tudo aquilo com especial entusiasmo, a se identificar com a luta política que sentimos crescer em seus corações.

Page 21: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

3938

gência, já que a ele estavam propondo evacuar parte das arquibancadas, em pleno desfile. Com que alegria sor-rimos e comemoramos, em conjunto, a inexistência do problema e a consagração do projeto, quando expliquei que a “rachadura” era , apenas, uma junta de dilatação...

Pareceu-me, assim, uma consequência natural que, com a mesma equipe e o mesmo sistema de gestão, menos de um ano depois, tenhamos sido incumbidos do pro-grama dos Cieps, as escolas de atendimento integral às crianças, o projeto mais vezes repetido (talvez mais de 500 repetições) em nossa história. Do lado construtivo e pedagógico, não há o que acrescentar ao que todos já conhecem. Hoje, passadas três décadas, o que mais me atrai nos Cieps, no entanto, é sua gênese quase psicoló-gica – de certo modo me fazendo lembrar a metáfora do brinquedo destacada no filme Cidadão Kane – na mente de Brizola. Uma única vez, ele me contou que, quando pequeno e muito, muito pobre, se encantava olhando, de fora das grades, para o “colégio inglês” de ( creio eu) Passo Fundo, com suas três “imponentes” construções: prédio de aulas, biblioteca e o ginásio coberto. Ele deu, meio século depois, às crianças pobres como ele o colé-gio que sonhou freqüentar, mas cujas grades sequer po-dia pensar em transpor. Isso é de uma beleza incomum, mostrando em Brizola um grau de humanidade e emo-ção que poucos tiveram o privilégio de poder detectar e compartilhar.

Depois dos Cieps foi a vez da Linha Vermelha, que me coube conduzir, diretamente em contacto com o Gover-nador, aprofundando muito a relação pessoal e podendo testemunhar sua honorabilidade e a lealdade, incluindo a dignidade com que geria sua vida pessoal e familiar e a coerência de seu posicionamento político, independen-temente de se concordar ou discordar dele.

Faria 90 anos em janeiro passado esse quase último dos grandes titãs de nossa política; inevitável, assim, tendo

A LEONEL BRIzOLA, COm SAuDADE

José Carlos Sussekind

Usando o velho chavão, parece que foi ontem, mas quase 30 anos já se passaram desde que, pela mão amiga de Oscar Niemeyer e, através dela, também pela de Darcy Ribeiro, fui levado ao então governador Brizola para conversarmos, os quatro, sobre a idéia da construção de um sambódromo. Jamais estivera com ele antes.

No encontro, Oscar já levava o esboço daquilo que, cer-ca de quatro meses depois, estaria pronto; lembro-me da pergunta, – central e direta – do governador: “Dá, mes-mo, para ficar pronto até o carnaval?” E da minha respos-ta dizendo que coisa igual em tal prazo talvez nunca se tivesse feito, mas que, em minha opinião, daria para ser.

Começava, assim, uma inesquecível aventura: 110 dias depois da decisão do governador, a obra estava pronta, uma semana antes do prazo fatal. Nesse pouco tempo, fizemos licitações, contratamos construtores e fornece-dores, desenvolvemos os projetos (que saíam de nossas pranchetas direto para a obra) e, em paralelo, respondí-amos a boa parte da mídia, a afirmar que “ não ia ficar pronto”, depois, que “ ia cair”, em seguida, que “ a acústi-ca seria péssima”, e assim por diante.

Tanta onda contrária era feita, que fui obrigado a man-dar fazer uma prova de carga antecipada, carregando as arquibancadas com barris cheios d’água, para atestar sua segurança e resistência aos olhos da opinião publica.

No dia da inauguração, já com as escolas desfilando, o que era uma junta prevista em projeto e, portanto, exis-tente na construção, chegou a ser interpretada como uma perigosíssima rachadura nas colunas, a traduzir ris-co imediato de ruína da obra... Recordo-me da figura – elegante, suave, gentil – de D. Neusa Brizola, com olhar assustado avisando que “Leonel” me procurava com ur-

tido contacto tão intenso e próximo, que transformou relação meramente profissional num vínculo de afetuosa estima, não me lembrar de todas essas coisas com espe-cial emoção. E, com saudade, das inúmeras vezes em que ia visitá-lo, depois de estar fora do poder, e das conversas fascinantes, instigantes, que tínhamos o habito de man-ter. Muita saudade, mesmo.

Brizola foi um homem, assim como Darcy, assim como Oscar, cuja alma nunca esteve à venda: preferiu perder eleições presidenciais que coroariam sua carreira singu-lar a ter que, camaleonicamente, cuspir na própria histó-ria e convicções para dizer o que, nas circunstâncias de época, seria o mais palatável e agradável aos ouvidos da maioria.

Embora nunca tenha formulado a frase, creio que Brizo-la concluiria de modo idêntico a Darcy Ribeiro: “Fracas-sei na maioria das propostas que defendi. Mas os fracas-sos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.

Fevereiro de 2012

sEmPRE viNiCiUs: dEPoimENTo a REGiNa zaPPa

Chico Buarque

Lembro-me dele sempre rindo, o corpo inteiro dele rindo.

Desde que era bem criança, Chico Buarque já era fasci-nado por Vinicius. Amigo de seu pai, Sérgio Buarque de Hollanda, o poeta frequentava a casa da família Buarque de Hollanda em São Paulo, depois em Roma, onde to-dos viveram durante dois anos, quando Chico tinha sete anos. Depois, novamente em São Paulo. Os saraus nessa segunda fase paulistana, que misturavam música e muita conversa até de madrugada, encantavam um jovem Chi-co que descobria a revolucionária batida da bossa nova através da canção Chega de saudade, composta por Vi-nicius e Tom Jobim. Mas, para Chico, a importância de Vinicius transcendia sua obra. Uma de suas principais contribuições, não apenas para Chico, mas para todos os compositores de música popular brasileira, foi mostrar que o trabalho do letrista é também importante manifes-tação da cultura brasileira, e não uma poesia menor. “Até então, essa história de poeta letrista era vista como um ofício menor.” Por causa dele, a letra de música ganhou status de poesia. Vinicius consolidou a versão de que, na criação, tudo é maior. De Vinicius Chico tem as melho-res lembranças.

Regina Zappa

“Lembro-me de Vinicius em Roma. Ele esteve lá em mis-são cultural do Itamaraty, ficava no hotel e ia lá em casa al-gumas vezes. Nessas noites, se dizia: “Hoje tem Vinicius”. A casa vibrava, aí descia o uísque, apareciam os salgadi-nhos, mamãe ficava alegre, papai ficava alegre. Miúcha ti-nha um violão que se chamava Vinicius. Eram noites for-midáveis, não entendia muito o que rolava lá, mas entendi que o Vinicius era um sujeito que fazia música e que eu conhecia um compositor em carne e osso. Tinha horas em que ele pegava o violão e eu ficava fascinado porque tinha um amigo do meu pai que fazia música.

Page 22: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

4140

“Um amigo do meu pai que fizesse música era quase um salvo-conduto para poder fazer música. Naquela época fazer música era um pouco mal visto, mas se o amigo do meu pai fazia... Nos anos 50, Vinicius já era um poe-ta consagrado. Para ele, não devia ser fácil cantar, tocar violão, se ligar a Pixinguinha, adorar Ismael Silva, essa gente toda do samba. Naqueles tempos ele se dizer o branco mais preto do Brasil era quase uma provocação.

“Para fazer letra de música, aquelas letras dele, tinha que ser músico. Vinicius era. Tinha um ouvido musical for-midável. A poesia dele, mesmo a poesia não cantada, a poesia escrita, é musical, é musicável. Acho que não ha-veria bossa nova sem a poesia do Vinicius. Quando apa-receu a bossa nova, eu tinha 14, 15 anos e aquilo me pe-gou. Era uma música muito moderna e com a vantagem de ser brasileira. Ouvi o Chega de saudade e falei: “Papai, me dá dinheiro para comprar o disco do Vinicius.”

“Quando Vinicius optou pela música popular, ele estava rompendo com muita coisa e com amigos dele. As pes-soas começaram a achar graça, ironizar, achando que era brincadeira. Mas a geração do Vinicius era literária, e a literatura estava acima de qualquer outra coisa para eles, principalmente, acima da música popular, e do cinema, coisas das quais o Vinicius gostava. Achavam graça um pouquinho da brincadeira do Vinicius, mas depois dei-xou de ser uma brincadeira. As pessoas implicavam. Ti-nham ciúmes, para não dizer inveja, dessa aproximação dele com essas artes e da dimensão humana que ele dava à poesia.

“Fui-me aproximando dele paulatinamente. Fui passan-do de tiete, aquele bobão, para amigo. Porque quando eu estava com Vinicius ficava bobo. Aí comecei a mostrar minhas coisas. Ele estimulava, dizia: “Me mostra aquele sambinha que você fez”. Vinicius sempre deu força. Não fiz muitos shows com ele, só alguns fora do Brasil, na Argentina e Portugal. Vinicius ficava muito à vontade no palco. Ficava mesmo como se estivesse em casa, toman-

do o uisquinho, conversando com o público. Ou melhor, gostava de ter amigo no palco e aí ficava batendo papo.

“Uma vez, em Portugal, ainda na época do salazarismo, ele terminou um show, no qual tinha contado muitas histórias e declamado poemas. O pessoal tinha adora-ção por ele. E aquela garotada vivendo a ditadura. Mas quando acabou o show, um sucesso, ele disse que que-ria agradecer àquela “mocidade portuguesa”. O público que aplaudia começou a ficar inquieto e depois passou a vaiar. Ele não entendeu nada. Depois explicaram que não podia falar “mocidade portuguesa”, porque era uma espécie de juventude fascista lá em Portugal.

“Vinicius era de uma generosidade muito grande. E de um ciuminho também. Ele dizia: “Bom, faça a música que você tem que fazer com seu parceirinho”. Quando fiz a parceria com Tom em Retrato em branco e preto, acho que ele ficou um pouco mordido. De certa forma, sucedi o Vinicius nas parcerias com o Tom. Vinicius só fazia música e escolhia parceiros por afinidade. Não existia a menor possibilidade de Vinicius entrar num esquema de parceria profissional.

“Vinicius gostava de se cercar de gente de todas as praias, não só de música. Ele gostava dos pintores – lembro-me dele dizer “Chiquinho venha aqui ver o Scliar, o Ivan.” A casa dele era uma espécie de open house, o tempo todo, todo mundo se reunindo lá. Pes-soas das tribos mais diferentes, gente de fotografia, de música, de teatro, de cinema.

“Vinicius tinha medo de elevador. Toda vez que saía de um apartamento, pedia que eu ficasse na janelinha até o elevador chegar embaixo. Então, eu tinha que perguntar lá de cima: “chegou?”

“A busca dele pelo grande amor muitas vezes podia pa-recer uma opção simplesmente pelo prazer. Mas era uma opção que custava caro. Ele sofria muito quando o amor

terminava. A amizade também era muito importante, era coisa sagrada, e sofria quando se sentia traído por algum amigo. Ele enfrentou momentos de altos e baixos na vida e no trabalho.

“Vinicius era um homem de esquerda, nunca escondeu isso. Na verdade, não escondia nada, era um homem de rompantes. Falava o que achava que tinha que ser dito sem medir consequências ou possíveis prejuízos. Ele não era um homem de carreira do Itamaraty. Lembro-me dele sempre rindo, o corpo inteiro dele rindo, sacudindo todo. Ele ria gostoso, ria das bobagens que ele mesmo falava e que os outros falavam. Tinha o riso frouxo e às vezes não conseguia parar de rir. Vinicius não sabia dizer não.

“As pessoas achavam que Vinicius era um devasso. Era um pouquinho, mas longe do que as pessoas imagina-vam. É difícil imaginar ele hoje, não sei onde estaria. Porque ele é o contrário de muita coisa que hoje é vito-riosa, como a ostentação. Ele tinha algo de generoso e, às vezes, de ingênuo. E alguma porralouquice. Hoje essas coisas não existem. O que existe é um resultado que se busca, um objetivo, uma coisa pragmática. Tudo o que o Vinicius não era. Então, Vinicius faz muita falta hoje, mas talvez ele não pudesse estar sendo o Vinicius nos nossos dias. Não imagino em que lugar ele estaria dentro deste país e deste mundo em que vivemos.”

o miTo E o TEmPo

Luiz Alberto OliveiraCentro Brasileiro de Pesquisas Fìsicas

Em eras antigas a perder de vista, os primeiros humanos já haviam decerto observado que a natureza é rica em re-gularidades: biológicas, climáticas, astronômicas, etc. O problema era ajustar as ações humanas a essa variedade de recorrências. Os homens precisaram encontrar um meio de descrever essas regularidades naturais e dar-lhes expressão sistemática através da linguagem, e o fizeram sob a forma de mitos, narrativas que relatam as origens dos seres e das coisas e as linhagens dos homens. Os mi-tos, de fato, são as mais remotas sondas de que dispomos para aferir as visões de mundo que vigoravam nas socie-dades arcaicas. É pelo exame desses relatos que podemos compreender como o espaço e o tempo eram concebidos e organizados. Graças a esse exame, observamos que não teria havido sociedade primeva na qual o tempo não fosse apreendido a partir das regularidades e repetições perce-bidas no mundo natural, consubstanciadas na figura do ciclo e de suas representações simbólicas. Da mesma ma-neira, os mitos também foram portadores de noções espa-ciais como centro, borda, superfície, fronteira, que servi-ram para as primeiras culturas categorizarem o ambiente em que viviam. Para além das evidências arqueológicas, o principal recurso de que dispomos para sondar como nos-sos ancestrais pensavam é exatamente o estudo dos mitos.

Qual é, contudo, a confiança que podemos hoje ter na capacidade descritiva de relatos assim tão antigos? A ca-pacidade da palavra oral de acolher, preservar e transmi-tir experiências e informações é singularmente notável. Por exemplo, no século XIII da Era Comum (EC), na Irlanda, foi compilada por escrito uma coleção de len-das declamadas e cantadas desde muito pelos famosos bardos irlandeses, denominada de Mabinogion. Entre essas lendas figurava um importante episódio chamado “A Batalha das Árvores”, em que uma rainha feiticeira e seu filho se desentendem e travam uma grande guerra.

Page 23: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

4342

Os seres do mundo se dividiram em partidários do prín-cipe e da rainha – inclusive, as árvores da floresta. O poe-ma enumera uma série de pares de árvores que se perfila-ram nas hostes adversárias – o pinheiro se opõe ao carva-lho; a azinheira ao salgueiro, etc – formando sete pares de árvores contrapostas. Quando Robert Graves, o grande erudito inglês, pesquisava para escrever sua célebre obra sobre os mitos gregos, deparou-se em seus estudos com um fragmento de um hino em louvor a Demeter, uma das divindades que presidia a passagem do mundo dos vivos ao dos mortos em um culto originário na sagrada região de Delfos, no qual também se achava descrita uma série de árvores emparelhadas. Para surpresa de Graves, embora o fragmento helênico fosse datado do século III antes da Era Comum (AEC) – ou seja, separado da com-pilação de lendas irlandesas por 1.600 anos e 3.000 quilô-metros de distância –, havia apenas três diferenças entre as duas séries, relativas a árvores que cresciam na Grécia e não eram encontradas na Irlanda!

Apesar dessa adaptação “ecológica”, a imagem de árvo-res se opondo aos pares era rigorosamente a mesma, e, quando Graves pesquisa mais o assunto, descobre que o esquema de árvore contra árvore, na verdade, codificava um alfabeto sagrado de quatorze consoantes, empregado em rituais secretos, em que cada árvore simbolizava uma letra. Porém, ainda mais assombrado ficou ao se dar conta de que cada uma das árvores florescia, ou frutificava, ou perdia as folhas, ou dava brotos, em uma certa ocasião específica do ano. Essas quatorze árvores, portanto, tam-bém formavam um calendário, de quatorze meses. Temos então um poema (ou hino) que exprime uma lenda, co-difica um alfabeto e encarna um calendário. Para Graves, é extraordinário que esse alfabeto seja simultaneamente um calendário, pois assim a palavra e o tempo se fundem, como ocorre na magia – e na poesia. Quando uma fór-mula mágica é pronunciada, um certo estado de coisas, um certo momento dos seres, responde a uma potência inerente a essa invocação. Eis, segundo Graves, o poder da palavra que encanta, o poder da poesia.

Qual é a funcionalidade mais evidente de um sistema co-letivo de registros como esse, portado pelos mitos? É o po-der de correlacionar distintas regularidades naturais de tal maneira que uma delas sirva de medida para outra, como fazem os caçadores ao vincular as migrações periódicas das manadas ao retorno de uma dada constelação no céu, convertendo um ciclo celeste em padrão de referência para um ciclo terrestre. Observações como essa, acumula-das na memória coletiva e transmitidas oralmente geração após geração, contribuíram decisivamente para a sobrevi-vência e prosperidade da espécie humana. Por milhares de anos, a repetição de relatos míticos foi assim a forma de assegurar a repassagem de conhecimentos, evitando que as observações longamente acumuladas pelos ancestrais fossem perdidas pelas novas gerações. De fato, a atividade de associar acontecimentos terrestres com configurações celestes e registrá-los em fórmulas míticas foi tão essen-cial para os mais remotos grupos humanos que conduziu à constituição do primeiro objeto técnico puramente con-ceitual – o calendário.

O que é um calendário? É um dispositivo para se cor-relacionarem os registros de diferentes ciclos celestes. Os ciclos astronômicos mais evidentes são os solares, a saber,

a sucessão de dias e noites e a sequência dos solstícios e equinócios, que demarcam as estações do ano. Mas além disso somos afetados por um outro ciclo muito importan-te, o lunar. Por ser um satélite muito grande e muito próxi-mo, as influências que a Lua exerce sobre a Terra e os seres vivos são imensas – como é o caso das marés. Contudo, o ciclo da Lua de quatro semanas não é comensurável com o ciclo do ano solar, ou seja, não há um número exato de lunações – meses de 28 dias – que corresponda a 365 dias. Para os povos antigos sempre foi um grande problema tentar ajustar as duas escalas; os babilônios, por exemplo, procuravam acumular o resto que sobrou de seu ano solar de 360 dias em termos de lunações para eventualmente totalizar um mês adicional. Como somente de sete em sete anos esse período aproximadamente coincidia com um número inteiro de lunações, foram necessárias longas observações e um dedicado corpo de eruditos para que fosse encontrado um modo prático de exprimir o ciclo das estações em termos de fases da Lua.

Os calendários mais remotos que podemos encontrar estão invariavelmente associados a alegorias míticas. As “churingas”, por exemplo, são hastes de madeira ou de osso, em que estão inscritas séries de marcas regulares que servem como uma espécie de registro portátil de me-mória, onde os espaçamentos representam períodos ou durações. Essas inscrições realizam assim uma notável proeza de pensamento, pois traduzem espaço em tem-po. Objetos extremamente valorizados, as churingas são utilizadas ainda hoje por povos aborígenes da Austrália, quer como deposítárias provisórias do espírito de um ancestral até sua transmissão para um recém-nascido, como também, fazendo as vezes de uma ‘partitura’ tátil, para cadenciar o ritmo dos cânticos e danças rituais.

Uma churinga de 25 mil anos de idade foi encontrada no interior da França, que junto à série habitual de inscrições regulares exibia ainda ícones, possivelmente representan-do um salmão, uma foca e um rio – embora o rio mais

próximo estivesse a dezenas de quilômetros. Qual a fun-ção dessas marcas? Continham a valiosa informação de que, numa determinada ocasião do ano, os salmões esta-riam subindo o rio para a desova e as focas iriam segui--los – assinalando portanto uma boa oportunidade para fisgar salmões e arpoar focas. Essa churinga é assim uma das primeiras evidências de um objeto técnico concebi-do para ampliar nossas capacidades cognitivas, no caso, de registrar acontecimentos e realizar previsões, de certo modo suplementando a função que as narrativas míticas realizavam ao assinalar as regularidades da Natureza.

Giorgio de Santillana, um filósofo da Ciência, após um extenso exame das mitologias de povos arcaicos e atuais, concluiu que não há sociedade humana que não tenha codificado alguma regularidade astronômica sob a forma de um mito, e elaborado desse modo algum tipo de ca-lendário. Essa prática seria tão amplamente generalizada que o faz propor uma nova definição para nosso gênero: “Homem é o animal que olha para o céu”. Si non è vero...

Page 24: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

44

Al lector 47Vera Lúcia G. Niemeyer

Una plaza para Recife 47Oscar Niemeyer

Jardim Botânico do Rio de Janeiro 48Oscar Niemeyer

Hotel Duas Barras – Alagoas 48Oscar Niemeyer

Fundação Oswaldo Cruz 48Oscar Niemeyer

Tecnet 49Oscar Niemeyer

Homenaje | Cândido Portinari 49

Artes | Una fiesta para la vista 50Marcus de Lontra Costa

La crisis mundial y la defensa de la soberanía brasilileña 51Renato Guimarães

memória | La fortuna del Barón 55Luiz Otávio Barreto Leite

Artigos e crônicas |

El costo intangible del fracaso europeo – José Luís Fiori 57Recordando el carnaval – Oscar Niemeyer 58Para Leonel Brizola, con añoranza – José Carlos Sussekind 60Para siempre Vinicius: declaración a Regina Zappa – Chico Buarque 61El mito y el tiempo – Luiz Alberto Oliveira 63

Nosso CamiNhoV.1  N.12 - 2012

SumArio

Page 25: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

4746

aL LECToR

Vera Lucia G. Niemeyer

Al completar tres años de existencia, la revista Nosso Caminho ha recibido muchos elogios sobre su contenido.

En la edición no 11, rendimos un ho-menaje a Vinicius de Moraes, la cual agradó a muchos lectores. En este número vamos a homenajear, por su próximo centenario, a un artista de quien todos los brasileños sentimos orgullo, Cândido Portinari.

Portinari nació en la ciudad de Bro-dósqui, interior de São Paulo, en el año de 1903. Vino para Río de Janei-ro, comenzó a pintar a mediados la década de 1910 y murió en 1962.

Sus grandes obras – entre ellas los paneles Guerra e Paz y Lavrador de Café – revelan una gran creatividad y belleza. Realizó diversos trabajos integrados a los proyectos de Oscar Niemeyer.

Nosotros, integrantes de Nosso Ca-minho, nos sentimos orgullosos de poder rendir tributo a ese gran ar-tista plástico brasileño, recordando la importancia de su aporte cultural a los jóvenes de nuestro país, intere-sados en los problemas de las artes visuales. Portinari es, sin duda, un ejemplo de dedicación y talento ex-traordinario.

Vera Lúcia G. Niemeyer

UNa PLaza PaRa RECiFE

Oscar Niemeyer

El diseño de esta gran plaza esta-bleció una pausa en ese corredor de edificios que van de cuatro a diez plantas restándole importancia a la mayoría de las playas brasileñas.

Es importante destacar que todo co-menzó debido al poder inmobiliario y su indomable ansia de lucro sin el más mínimo respeto a las reglas más elementales de corrección y buen gusto. Sin mencionar el aspecto ur-banístico que esas avenidas costa-neras poseen, cuando, destinadas al tráfico intenso, cortan la conexión más íntima de la ciudad con las pla-yas. Es la preocupación por obras más suntuosas lo que determina ese resultado cuestionable, impidiendo, como sería más agradable, que la ciudad y las playas constituyesen un conjunto más armonioso, con plazas y jardines que le enriqueciesen.

En el caso de esta plaza de Recife, la solución que propusimos evita la repetición de las viejas avenidas cos-taneras a las que me referí, creando una separación rígida rectilínea que las construcciones de mal gusto ayu-dan a empobrecer. A una distancia considerable la plaza va a impedir tanto desatino.

En una amplia zona ajardinada se ubi-can el teatro, el edificio de apoyo con oficinas, y el salón de exposiciones.

Otros aspectos curiosos el visitante encontrará. En primer lugar, es la manera simple y lógica como una suave rampa le conduce hasta el ves-tíbulo del teatro previsto, donde una gran pared de vidrio le separa del público. Y del escenario, que, más adelante, permite vislumbrar, sor-prendido, cuan fácil fue realizar ese pequeño trayecto, que termina na-turalmente cerca del local de donde partió.

Acostumbrado a diseñar teatros, a sabiendas de cómo los problemas de acceso – imponiendo rampas y escaleras – son difíciles de resolver, siento que una lección de arquitec-tura tal vez se haga presente en este proyecto. Y me agrada más aún sa-ber que la apertura del escenario ha-cia el exterior fue también una con-tribución mía, que adopté con cierta originalidad.

Sigo evocando, emocionado, la plan-ta del teatro, y el escenario abriendo hacia el exterior, me hace sonreír sa-tisfecho.

Pienso nuevamente en el conjunto de este proyecto del que el teatro es el elemento principal. Veo los otros edificios; siento que la vista hacia el mar está libre, como yo deseaba, que el edificio de la administración y el salón de exposiciones están muy bien situados, que el restaurante será un nuevo atractivo en este magnífico lugar, que, enhorabuena, la Prefectu-

Page 26: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

4948

JaRdim BoTâNiCo do Rio dE JaNEiRo

Oscar Niemeyer

Un entusiasmo juvenil se apoderó de mí para diseñar esta sala de exposi-ción en el Jardín Botánico de Río de Janeiro. Fue todo un reto: diseñar un edificio moderno, que pudiese mar-car un contraste con los edificios an-tiguos (algunos de estilo ecléctico) y diversos monumentos localizados ya en ese ambiente extraordinario. Un espacio multisimbólico, de gran sig-nificado histórico para los residentes de mi ciudad natal. El salón diseñado que deberá facili-tar la interacción entre el público y una naturaleza exuberante, de rara belleza, tendrá un formato diferen-te, como se amerita, y comprenderá 1.070,66 metros cuadrados de cons-trucción. Y la fantasía del arquitecto será notoria: una planta acristalada sobre pilares de cinco metros de altu-ra, liberando así toda la vista hacia el jardín. Y los marcos de las ventanas alejados en puntos del techo forma-rán grandes balcones, abriendo hacia afuera de manera provocativa.

En la planta baja, además del acce-so, se prevé un café – un espacio de convivencia que se convertirá en un punto de atracción para los visitantes.

FUNdaÇão oswaLdo CRUz

Oscar Niemeyer

Este complejo albergará importan-tes sectores de la Fundación Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), localizados en cua-tro edificios de 27.500,00 m² de cons-trucción se impone por su armonía y por la libertad de las soluciones adop-tadas. En suma, se trataba de cumplir con un programa muy rico, a la altura de una de las instituciones científicas y académicas más reconocidas del país.

hoTEL dUas BaRRas – aLaGoas

Oscar Niemeyer

Se trata de un conjunto que deberá llamar la atención de todos por el juego de volúmenes y por la libertad con la que se intervino en el espacio.

El proyecto comprende un hotel con 40 habitaciones y toda la infraestruc-tura de apoyo necesaria, que incluye, de manera destacada, piscinas, bares, restaurantes, fitness y saunas. Fueron previstos un teleférico para hacer la conexión entre la playa y el restau-rante, así como una gran recepción destinada al condominio residencial.

Por otra parte, diseñamos una resi-dencia con salones, dos habitaciones matrimoniales y cuatro bungalows conectados por una amplia y elegan-te marquesina, que totalizan un área de 10.772,39 metros cuadrados de construcción.

En primer lugar, cabe destacar el museo de la ciencia y la tecnología, que corresponde, sin duda alguna, a un viejo anhelo de los profesionales vinculados a los programas avan-zados de post grado ofrecidos por la Fiocruz o de esta egresados. Pro-yecté un gran salón con dos plantas donde serán instalados los equipos del museo propiamente dicho.

Diseñé inclusive un teatro que pue-de tener diversas finalidades, capaz de albergar 600 personas, con acceso directo al museo asegurado por una gran marquesina. Del lado opuesto del edificio del teatro será construi-do un restaurante que tiene forma de cilindro, en contraste con las demás construcciones.

Por último, incluimos una sala de cine 180° con 300 asientos, que estará ubicada del otro lado de la Avenida Brasil y se conectará por un viaducto destinado a vehículos y peatones.

Diferentes investigadores, profesores y estudiantes – especialmente aque-llos que trabajan en el área de salud pública (inclusive en salud ocupa-cional y en erradicación de enferme-dades tropicales) – miembros de una amplia audiencia externa – podrán llevar a cabo intercambios sociales de gran relevancia en esos espacios culturales que pude diseñar.

Están previstos también un centro de-portivo y un amplio estacionamiento.

ra de esta importante capital nordes-tina decidió aprovechar, transfor-mándolo en un centro de cultura y recreación de la más alta calidad.

TECNET

Oscar Niemeyer

La sede de TECNET, por mi diseña-da con gran interés, corresponde a un moderno conjunto de tres edificios que se distinguen por sus formas au-daces, congruentes con la importan-cia que la empresa tiene en su área.

El edificio principal se destaca por el esmero plástico que deberá impresio-nar a todas las personas que lo visiten, quienes se sorprenderán con los es-pacios diseñadas. Es conformado por tres plantas superiores donde están previstas las oficina y la administra-ción, y la planta baja, que comprende los accesos y un hall de entrada. El sótano está destinado a los principales sectores de apoyo y al estacionamiento.

El edificio de apoyo, situado de ma-nera expresiva en el terreno, está compuesto por 5 plantas que reúnem áreas de oficinas.

Completam este complejo el edificio que alberga una sala de grabaciones y hangar – con la previsión de un heli-puerto – lo que totaliza 20.250,00 m² metros cuadrados de construcción.

homENaJE

Homenajear a Cándido Portinari (1903-1962), reconocido por muchos como el mejor pintor brasileño de todos los tiempos, ha sido motivo de preocupación de por mucho tiempo para los editores de Nosso Caminho.

Gracias a él, nuestro arte moderno puede, sin duda, figurar como parte de la cultura universal. Y este razona-miento tiene sentido en la medida de que, siempre inspirado por la sufrida y oprimida realidad brasilera, supo hacer de su pintura un instrumento de protesta social. Y en esta se hacen relevantes emigrantes, espantapája-ros, favelados, en definitiva, nuestra gente menos favorecida. Sus repre-sentaciones de agricultores, como los que se encuentran en los murales del Palacio Capanema, antigua sede del Ministerio de Educación (ver ilustra-ciones), sobresalen por su majestuo-sidad y por sus manos y pies fuerte-mente acentuados.

La maestría técnica, la fuerza del ge-nio creativo reveladas en su pintura mural llevaron a Pablo Neruda a afir-mar que Portinari, Orozco, Rivera, Tamayo y Guayasamín, conformaban la cordillera de los Andes de la pintu-ra del continente americano. Y estas cualidades también pueden ser admi-radas en sus obras de carácter religio-so, en las composiciones históricas, en los innumerables trabajos dedi-cados a motivos relacionados con el universo infantil que es posible apre-ciar, sobretodo si leemos O menino de Brodósqui, publicado póstumamente gracias a João Candido Portinari, hijo de este gran creador.

En el día de su muerte, Carlos Drum-mond de Andrade, uno de sus me-jores amigos y compañero de tantas

luchas en defensa del arte brasileño moderno, escribió un hermoso poe-ma, que hemos decidido transcribir en este homenaje. Son versos conmo-vedores que iluminan nuestro enten-dimiento de la sensibilidad artística de Portinari, de la diversidad de sus temas y procedimientos constructi-vos, de la atención que le prestó a los seres asociados por el drama humano – de los trabajadores del café a los ni-ños pobres que se destacan en sus di-bujos y pinturas. Todos dependiendo de la mano del pintor con su “poder de encantamiento”:

La Mano

Entre el cafetal y el sueñoel niño dibuja una estrella doradaen la pared de la capilla,y nada se resiste a la mano del pintor.La mano crece y pinta lo que no debe ser pintado sino sufrido.La mano está siempre arreglandomodul- murmurandolo que escapó a la fatiga de la Creacióny revisa ensayos de formasy cambia lo oblicuo por lo aéreoy siembra margaritas de buena voluntad en el baúl de los derrotados.La mano crece más y hacedel mundo como se repite el mundo que telequeremos.

La mano sabe el color del colory con ella viste al desnudo y lo invisible.Todo tiene explicación porque todo tiene (nuevo) color.Todo existe porque fue pintado a semejanza de la naranja mecánica

Page 27: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

5150

UNa FiEsTa PaRa La visTa

Marcus de Lontra Costa

La figura elegante y discreta, de ges-tos comedidos y hablar educado y natural parece contrastar con las pinturas audaces, barrocas, repletas de referencias, adornos e informa-ciones que transforman cada lienzo en una fiesta para la vista. Así es Ro-binson Antônio de Oliveira, sargen-to de la Marina Brasileña, morador de Duque de Caxias, apasionado por el mundo de la moda, la belleza y la elegancia que él, con sensibilidad, talento e inteligencia transporta al universo del arte contemporáneo.

Esa supuesta extrañeza entre el Creador y la Criatura, esa informa-ción que supera el estereotipo, esa cantidad de mensajes que un en-cuentro emite y transporta, es una de las valiosas y encantadoras ca-racterísticas de ese admirable nuevo mundo, contemporáneo, regido por la velocidad de la comunicación. Y es precisamente esa realidad actual, que incorpora la diversidad como instrumento de riqueza artística y cultural, que garantiza validez a la producción de Robinson y sus mu-sas de la Pop Music, de la industria del entretenimiento, de la fascina-ción por la personalidad y por la idolatría de la imagen popular.

Hace poco tiempo, en el mundo mo-derno, la principal función del arte

no para mitigar la sed de los compañeros,sobretodo para aguzarlahasta el límite del sentimiento de la tierra morada del hombre. Entre el sueño y el cafetalentre guerra y pazentre mártires, ofendidos,músicos, jangadas, cometas,entre los campesinos mecanizados de Israella memoria de Giotto y el aroma primero de Brasilentre el amor y el oficioes donde la mano decide:todos los niños, incluso los más miserables,sean vertiginosamente felicescomo feliz es el retratomúltiple rosa-verde en dos generacionesdel niño que se mece como flor en el cosmos y hace humilde, servicial y doméstica la mano excedenteen su poder de encantamiento. Ahora hay una verdad sin angustiaaun sin estar angustiado.Lo que era dolor es flor, conocimientoplástico del mundo.Y así por haber dispuesto lo esencial,dejando el resto a los doctores de Bizancio,repentinamente se callay vuela para siemprela mano infinitala mano de ojos azules de Cándido Portinari.

(De Lição de coisas) [N.C]

sería crear formas y artefactos que fuesen apropiados y reproducidos por la actividad industrial; los ateliês (o talleres de creación…) serían labo-ratorios de investigación estética que alimentarían a la sociedad urbana a través de la arquitectura, del diseño, y de la comunicación en general. Esa estrategia de “construcción de la uto-pía” fue confrontada por el Pop Art, que aún en los años 60 buscaba res-ponder a una realidad mundial en la cual el modernismo, en su sentido tradicional, ya no se identificaba. La simbología de la arquitectura de Nie-meyer en Brasilia y las consecuencias del movimiento neoconcretista, de Hélio Oiticica, dejaron en Brasil una especie de malestar con el formalis-mo clásico del modernismo, basado en el orden y una especie de cartilla científica anacrónica.

Así, la iconografía de la comunica-ción de masas, los objetos del co-tidiano urbano, los llamamientos fantasiosos de la propaganda y los diversos vehículos de acción cultu-ral como el cine, la televisión y las historietas, invaden definitivamente el universo del arte; el Pop Art va-loriza nuevas referencias históricas y recrea nuevos significados para la imagen, teniendo como base el su-rrealismo y el dadaísmo a expensas de los movimientos constructivos. Esa nueva estrategia expande su ac-ción artística y acaba por retomar el diálogo con el psicoanálisis y la an-tropología además de otros sectores

de la visualidad como el arte popu-lar, hasta entonces despreciados por un tipo de razonamiento teórico que entiende el arte como una ilustra-ción de sí mismo o como resultado de una elaborada teoría a priori y no construida a través del ejercicio constante de la práxis.

El universo del Pop Art es lo suficien-temente amplio como para incor-porar las acciones y contribuciones locales, las diferentes zonas geográ-ficas, y eso ocurrió en Brasil, donde acabó por hacerse más político, más critico, y dialogando con proximi-dad con el Nouveau Réalisme francés y el Arte Povera italiano. En los años ochenta con la reanudación demo-crática, los artistas de la generación 80 reintrodujeron la acción pictórica como arma de seducción y encanto, produciendo imágenes de gran con-tundencia formal e intenso cromatis-mo, haciendo del cotidiano urbano brasileño su principal tema de tra-bajo. Robinson Antônio de Oliveira es heredero directo de esa vertiente artística; él entiende al mundo y lo recrea a través de la óptica barroca, sin miedo a alegorías y creyendo en la fuerza de l os aderezos.

Cualquier pintura del artista trata de encantar y envolver al especta-dor. Aquí no hay espacio para el si-lencio, para grandes áreas llanas y vacías; la relación pintura /fondo es retrabajada por Robinson sin temor a aproximaciones con maestros (a

veces olvidados) del arte brasileño, como Rodolfo Amoedo y Antônio Parreiras. Entre los artistas brasile-ños del siglo pasado, él encuentra abrigo en aquellos que rechazaron a la imposición constructiva como Djanira, Bonadei y, más tarde, Ger-chman y Granato. La sensualidad se insinúa de manera discreta; el artista encuentra en Gustav Klimt su iden-tificación. Personalidades de nuestro mundo artístico y cultural son vistas y revistas a través de la mirada sen-sible del artista. Así, en una misma serie, Arthur Bispo do Rosario y Fri-da Kahlo conviven en armon ía con Amy Winehouse, Madonna y Lady Gaga, todos reunidos en pinturas de gran tamaño que hacen a la vista ac-tuar como si estuviese en un baile de carnaval, recorriendo y estallando gracias a las espectaculares imágenes que Robinson, régisseur de esa gran ópera contemporánea, persigue en cada obra que ejecuta con maestría, sensibilidad y pasión.Río de Janeiro, febrero 2012

cir grandes daños para nuestro país, pero aquí también se abren valio-sas oportunidades para el desarrollo económico e institucional, que favo-recen y exigen la movilización popu-lar en defensa de la democracia y los intereses nacionales.

I – En las últimas décadas, especial-mente después de la desaparición de la Unión Soviética, una potente ofen-siva de derecha dio paso a una apa-rente victoria definitiva del sistema capitalista liderado por el imperialis-mo estadounidense, con pretensiones globales. Esa ofensiva afectó profun-damente a intelectuales y activistas de antiguos movimientos y partidos de izquierda. En gran medida, ellos fueron absorbidos por dos vertientes que, por senderos diferentes, incor-poraban las ideas de victoria capita-lista. Una parte acogió directamente la ideología neoliberal, que atribuye al mercado el poder exclusivo de de-cidir cuestiones económicas, sociales y políticas. La otra parte, también nu-merosa, se inclinó ante la ilusión de la victoria del capital, pero lo hizo en di-versas construcciones ideológicas con retórica izquierdista que aceptan y difunden ideas básicas de neolibera-lismo, tales como el imperio global, la prevalencia inevitable del mercado, el fracaso del concepto de Estado y, por consecuencia, del concepto de sobe-ranía nacional, el fin de la lucha polí-tica organizada de las masas de traba-jadores, la transformación de éstos en “multitud”, etc.

La CRisis mUNdiaL Y La dEFENsa dE La soBERaNÍa BRasiLEÑa

Renato Guimarães

Desde inicios del 2012, en el ámbi-to de Oriente Medio, pero con posi-ble extensión a varios continentes, a el mundo vive momentos de grave peligro, que amenazan con degene-rar en guerras y destrucción a gran escala. Estas también pueden produ-

Page 28: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

5352

Esa ofensiva de la derecha se intensi-ficó después de los ataques terroris-tas del 11 de septiembre de 2001 en los Estados Unidos. En una exten-sión singular del concepto clásico de que “soberano es quien decide sobre el estado de excepción”, el gobierno de ese país, después de poner a su propio pueblo, hasta cierto punto, en este estado, – a punto de someterlo a un régimen similar al del AI-5[1], que sofocó al Brasil de los años 70 -, encaminó por una política declarada y prepotente de proyectar su sobera-nía nacional sobre el mundo entero y exportar el estado de excepción a cualquier país donde, a su criterio, sus intereses lo exijan. Se atribuyó el derecho de hacer caso omiso de las fronteras nacionales y las institu-ciones internacionales para empren-der en cualquier rincón de la tierra operaciones militares de todo tipo, a gran escala, con invasiones y bom-bardeos, o en pequeña escala, con operaciones abiertas o encubiertas de persecución de civiles bajo sos-pecha, a quienes, si no asesinaban, secuestraban y sometían a un trata-miento de prisioneros de guerra, sin ningún derecho legal.

La ofensiva expansionista de los Es-tados Unidos y sus aliados, en es-pecial de las antiguas potencias co-loniales de Europa, teniendo como objetivo principal apropiarse del pe-tróleo de los árabes, bajo el disfraz de banderas humanitarias, despertó naturalmente indignación y resisten-

cia en el mundo y, en primer lugar, en los pueblos agredidos. Al mismo tiempo, contribuyó a la subida de los precios del petróleo y otros cambios económicos y políticos en el escena-rio mundial que aumentaron consi-derablemente los costos del agresor, que estaba sobrecargado ya por el au-mento de sus fuerzas armadas, tanto por la elevación de los precios de los equipos de tecnología actual como por el hecho de que ya no podía con-tar más con los reclutas y quedaría limitado a realizar operaciones con mercenarios, cuyos aumentos de los costos de operación crecen en pro-gresión geométrica. De esta manera, la ofensiva comprometió los recur-sos económicos, militares y políticos de esa superpotencia en un grado mucho más alto que cualquier pre-dicción de su gobierno. Este se vió a corto plazo imposibilitado de llevar a cabo su estrategia proclamada de imponer de modo fulminante e irre-futable su dominio mundial. El rá-pido crecimiento de otras potencias, especialmente de China y también Rusia, India, Brasil, e inclusive Ale-mania y otros países europeos, colo-có nuevos y mayores obstáculos a la expresión de esa estrategia de poder ilimitado de los Estados Unidos. Sin perder el estilo arrogante, poseyen-do las más grandes reservas y con mayor agresividad, comportamiento que caracteriza a toda bestia acorra-lada, el gobierno de Washington de-cayó gradualmente a una situación de dificultad económica, política y

militar, mientras crecía la conciencia mundial sobre el carácter de ave de rapiña del imperialismo yanqui y la necesidad de resistir a este.

II – El repudio a la arrogancia de los Estados Unidos y la voluntad de oponerse a la misma, expresadas con creciente fuerza en el mundo, de-mostraron una vez más la impor-tancia del factor nacional en la lu-cha política. Los Estados naciones, en lugar de desaparecer, volvieron con más fuerza a la escena. La defen-sa de los intereses nacionales frente a la agresión externa o a la domina-ción, que es el motor principal de los movimientos populares revolucio-narios desde la lucha por la indepen-dencia de los propios Estados Uni-dos, resurgiendo siempre de diversas formas en la Revolución Francesa, Comuna de París, Revolución Rusa, Revolución China, Revolución Cu-bana, vuelve a mostrarse como fac-tor clave para que la ciudadanía se presente como una fuerza transfor-madora, a fin de llevar a cabo mo-vimientos que en un principio se li-mitan a fines patrióticos, pero que tienden a convertirse en logros de-mocráticos de mayor alcance social.

Este resurgimiento del factor nacio-nal en el centro de la acción políti-ca es realidad hoy en todo el mun-do, especialmente en Palestina y el Medio Oriente, así como también en Asia y África e incluso en Europa. Sin embargo, es en América del Sur

que este encuentra su más singular expresión la cual interesa de cerca a los brasileños.

III – En un eco a la asertiva clásica de que la revolución elige el eslabón más débil de la cadena para eclosio-nar, la condición aislada y poco re-levante de América del Sur en el es-cenario de los grandes conflictos donde se involucraron los Estados Unidos, al final, dejó ese país lisia-do para intervenir en lo que él tradi-cionalmente considera su “patio tra-sero”. Eso parece haber contribuido para que los pueblos de la región per-cibiesen la oportunidad de vengarse de las humillaciones e infortunios que durante décadas le impusiera la política imperialista de Washington.

En 1998, se elige en Venezuela al presidente Hugo Chávez, con una plataforma claramente antimperia-lista y, para sorpresa de muchos, con la intención firme de cumplir lo pro-metido. En 2002, se elige en Brasil al presidente Lula da Silva, que mantu-vo la política económica neoliberal de los gobiernos anteriores en su pri-mer mandato, pero la cambió, aun que muy gradualmente, en el segun-do mandato, para beneficiar la ace-leración del desarrollo económico, y adoptó una política de socorro a los estratos más pobres de la población, fortaleciendo con eso al mercado in-terno; adoptó también una política externa de mayor aproximación a América Latina y a otras potencias

que no eran los Estados Unidos, aun manteniendo con ese país relaciones amistosas. En 2003, se elige en Ar-gentina al presidente Néstor Kirch-ner, que valientemente enfrentó a la banca internacional a fin de librar a su país de una deuda externa abu-siva e impagable, logrando con eso condiciones para poner la nación ve-cina en el camino del desarrollo au-todirigido, que hasta hoy prosigue en alto ritmo, ahora bajo la presiden-cia de Cristina Fernandes Kirchner, en segundo mandato. La elección en seguida de Evo Morales, en Bolivia, Rafael Correa, en Ecuador, Fernan-do Lugo, en Paraguay, José Mujica, en Uruguay, y Ollanta Humala, en Perú, dio mayor firmeza a la tenden-cia de expansión en América del Sur de gobiernos comprometidos en al-canzar expresión soberana y desa-rrollo pleno, económico, cultural y social, de sus naciones.

Esa tendencia, aunque clara y sobre-saliente, no es con seguridad rec-tilínea, ni imbatible. A ella se opo-nen en cada país fuertes corrientes internas de derecha alineadas con los Estados Unidos, que actúan or-questadas en escala internacional y dominan los medios de comunica-ción, los bancos y sectores impor-tantes del empresariado local. Con apoyo financiero, político y militar de los Estados Unidos y otros países imperialistas menores, así como de sus respectivos órganos de espionaje y operaciones encubiertas, de ONG

financiadas por empresas y gobier-nos imperialistas, de sociedades se-cretas tipo Opus Dei, etc, tales sec-tores de derecha emprenden en cada país una campaña sin tregua a tra-vés de la mayoría de los organismos de grandes medios de comunica-ción. Eses asumen carácter de par-tido político golpista, cuya finalidad es impedir que se elijan gobernantes comprometidos con los intereses na-cionales y, cuando no lo logran, in-tentar a todo costo acorralar y hacer rehén al gobernante electo para, si es posible y conveniente para ellos, de-rrocarlo. Es lo que se ve a cada día, en Venezuela, en Bolivia, en Brasil, en Argentina, en todas partes.

IV – Hay entretanto en ese proceso de ascensión nacional y democrática en América del Sur una singularidad que le da poder de sustentación: ella se desarrolla con la rigurosa obser-vancia por los gobiernos de las nor-mas de régimen democrático del mo-delo estadunidense, que presupone a los medios de comunicación someti-dos a los bancos y otros grandes pa-trocinadores privados y las eleccio-nes sujetas a campañas publicitarias de alto costo, financiadas por dona-ciones de empresas millonarias. La victoria y la permanencia de gober-nantes que desagradan a la derecha, en condiciones tan adversas, se hizo posible gracias a una súbita y auspi-ciosa elevación de la argucia po lítica de las clases populares. Estas siguen deslumbrándose con la propaganda

Page 29: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

5554

consumista de la TV, pero apren-dieron a despegarse del discurso de las grandes redes de comunica-ción a la hora de elegir candidato y ajuiciar gobierno. Con eso, debilitó el poder de nombrar y derrocar go-biernos que los grandes medios de comunicación exhibían en décadas pasadas. Se crean por lo tanto con-diciones nuevas que favorecen y exi-gen la recuperación de las corrientes progresistas y su intervención en el escenario político. En el plano inter-nacional, la lucha contra la política de guerras sin fin del imperialismo estadunidense y sus asociados, que hoy preparan una agresión de gran escala y consecuencias imprevisi-bles para Siria e Irán, es meta que a todos obliga. En América del Sur, y en Brasil en particular, la lucha en defensa de los intereses nacionales, de la preservación y de la profundi-zación del régimen democrático, de la soberanía y de la cohesión de los Estados de la región es la directriz que, bien atendida, permitirá la mo-vilización de fuerzas capaz de ven-cer las fuertes coaliciones de dere-cha y asegurar el avance económico, político y social de nuestros pueblos y naciones.

V – No hay recetas listas ni caminos trazados para esa lucha. Las expe-riencias vividas por otros pueblos, en el pasado o en el presente, sirven de lección e inspiración, pero no sir-ven de modelo. La originalidad y la variedad de las soluciones que la vi-

da va generando en los países sud-americanos son muy fecundas. En común, existe entre ellas la circuns-tancia de que son encabezadas por líderes que no provienen de las cla-ses dirigentes, que supieron perci-bir y potencializar el deseo de cam-bio de las masas y el descrédito entre ellas de los partidos e instituciones que venían conduciendo la vida po-lítica. Esa dependencia de lideraz-gos personales es al mismo tiempo positiva, porque facilita la partici-pación de las grandes masas en el proceso político, y negativa, porque pone ese proceso en la dependencia de las elecciones y limitaciones per-sonales del líder. Pero la necesidad de recurrir a la movilización popu-lar, una vez que las fuerzas pode-rosas que lo hostilizan manipulan las grandes empresas de comunica-ción y las instituciones políticas for-males, induce al líder a estimular la gestación de nuevas formas de orga-nización del pueblo para el comba-te político y hasta para la resisten-cia armada. Llama la atención, en ese sentido, especialmente en Ve-nezuela, en Bolivia y en Ecuador, la ascensión en barrios proletarios de asociaciones de moradores que se articulan en torno de consejos co-munitarios y, al mismo tiempo, de-fienden los intereses inmediatos de la población local, tienen presencia activa en la resistencia al golpismo de derecha y presionan en favor de la profundización de la democracia.

VI – En Brasil, el movimiento or-ganizado de masas es aun débil. En el período final de la dictadura mi-litar, se recuperó un poco de la de-rrota que esta le impuso, y volvió a perder fuerza posteriormente. El go-bierno del presidente Lula reflejó esa debilidad. Contradictorio, él man-tuvo una política económica en la cual aun sobrevive el neoliberalis-mo, pero adoptó medidas de favo-recimiento al poder adquisitivo de la población pobre y desarrolló una política externa de relativa autono-mía en relación a los Estados Uni-dos, de aproximación con países del Sul y, especialmente, de apoyo a los gobiernos sudamericanos que son hostilizados por la alianza entre las f uerzas internas de derecha y el go-bierno estadunidense. La presiden-te Dilma Rousseff, electa gracias al apoyo de Lula, mantiene en las lí-neas generales esa directriz.

Por su política de favorecimiento a los pobres y a la soberanía de los pueblos sudamericanos, el presiden-te Lula fue blanco de una constante e incansable campaña hostil de los medios de comunicación. Para de-fenderse, él se apoyó sin embargo, ca-si exclusivamente, en su popularidad personal. Eso lo dejó vulnerable a las presiones y lo llevó a hacer concesio-nes políticas onerosas para el interés público, además de paralizar sus po-sibilidades de avance y poner en ries-go la preservación en el gobierno de los trazos positivos de sugestión. Con

La FoRTUNa dEL BaRÓN

Luiz Otávio Barreto Leite

Haciéndose pasar por listo, Cardoso colocó en el perchero del restaurante, a cierta distancia de la mesa que ocu-paba, su fino paraguas con la siguien-te nota: “Este paraguas pertenece al campeón nacional de boxeo.”

Al final del almuerzo, fue a buscar-lo, pero solo encontró una nota que decía: “El paraguas del campeón na-cional de boxeo se lo llevó el campeón nacional de corridas.”

Pequeñas historias como esa, cró-nicas de mayor tamaño – también volcadas a la crítica de la moral y del comportamiento humano –, frases llenas de ironía (a modo provocativo de las máximas y aforismos), anun-cios divertidos eran divulgados en-tre 1926 y 1952, a pesar de algunas interrupciones, en el semanario “A Manha”. Su autor, el periodista gau-cho Apparício Fernando de Brinker-hoff Torelly (1895-1971), adoptó el seudónimo irreverente de Barón de Itararé y puede ser considerado como el pionero del periodismo alternativo brasilero.

Él mismo elaboraba los textos dados a luz en aquel periódico, los pagina-ba, diagramaba, además de actuar como un director. Lo más memora-ble era la manera como lidiaba con sus tribulaciones personales (perse-cuciones, prisión y pérdida de seres

Dilma Rousseff, tal situación de mo-do general se mantiene.

Es por lo tanto urgente la necesidad de expansión de una consciencia pú-blica de defensa del desarrollo sobe-rano y democrático del país, en su economía, en su organización polí-tica y social, en su cultura. Cuanto mayor sea esa consciencia, más fuer-te estará el gobierno para resistir a las agresiones de la derecha y, al mis-mo tiempo, mayor será la presión de los movimientos de masa para que este haga sus políticas más coheren-tes con los intereses del país y de la sociedad.

Un conjunto de propuestas en ese sentido con seguridad incluirá: 1) la efectiva aceleración del desarro-llo económico del país; 2) la subor-dinación de los sistemas bancario y cambial a los intereses de ese desa-rrollo; 3) la posesión de los recursos naturales del país y, tanto como sea posible, la recuperación de las em-presas y recursos públicos estratégi-cos dilapidados; 4) la efectuación de un programa de reforma agraria que penalice el latifundio improductivo y beneficie las propiedades producti-vas pequeñas y medianas; 5) la desti-nación de mayores presupuestos a las políticas públicas de educación y sa-lud; 6) el cambio de la política vigen-te de represión policial direccionada contra la población más pobre, prin-cipalmente no blanca, por una polí-tica democrática de seguridad públi-

ca; 7) el refuerzo del control por el poder público de las concesiones de medios de comunicación a grupos privados y otras medidas que pro-porcionen la profundización del ré-gimen democrático; 8) el re-equipo de las Fuerzas Armadas y la dotación a ellas de recursos necesarios para la eficiente defensa del territorio nacio-nal; y 9) la ampliación y consolida-ción de la política externa de unidad con América Latina – esencial para la preservación de los gobiernos pro-gresistas en la región –, de respeto a la soberanía de los Estados, de rela-ciones amistosas con todos los pue-blos y de defensa de la paz.

Muchas son las metas que nos desa-fían, cuyo alcance requiere todo el ingenio y fuerza que sean capaces de reunir las corrientes progresistas en nuestro país, con sentido estratégi-co y espíritu transformador. Pueblo y gobierno necesitan movilizar sus reservas de patriotismo y civismo a fin de que Brasil pueda aprovechar la gran oportunidad que tiene hoy de fortalecerse en corto tiempo como nación poderosa, soberana, proyec-tada en el escenario mundial y con-solidada en su papel de base y líder del proceso democrático de recons-trucción nacional, pacífico y progre-sista, que se desarrolla en América Latina.

[1] AI-5: El Acto Institucional Nº5, o AI-5, fue el quinto de una serie de decretos emitidos por el régi-men militar de Brasil en los años posteriores al golpe militar de 1964.[N. del Tradutor]

Page 30: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

5756

queridos) y la vida política. Se des-tacó como militante del PCB, crítico vehemente del régimen autoritario (“El Estado nuevo es el estado al que llegamos”) y concejal electo por ese partido en 1946; su mandato fue re-vocado, junto con la cancelación de la inscripción de esa entidad, casi un año después. No menos memorable era su manera de enfrentar la furia de la policía censuradora y simul-táneamente recordarles a quienes buscaban su periódico la oportuni-dad de colaborar con un anuncio, mandando a escribir esta frase en la puerta de entrada de su oficina de director de “A Manha”: “Entre sin llamar, pero no entre sin anunciar”.

Torelly agudizó su verbo satírico en sus Almanhaques,* en ellos ese “Ma-riscal Almirante y Brigadier de aire acondicionado” no mostró la pureza (aristocrática) de sangre, sino la no-bleza del espíritu de burla:

“El hígado es malo para la bebida.”“Las mujeres de cierta edad nunca son de edad cierta.”“El primer desalojo fue la expulsión de Adán y Eva del Paraíso por falta de pago de renta y comportamiento inadecuado.”“La televisión es la mayor maravilla de la ciencia al servicio de la estupi-dez humana.”El Barón de Itararé inauguró una nue-va linaje de humoristas en Brasil, a la que es posible vincular nombres como

los de Stanislaw Ponte Preta (su com-pañero de trabajo en la Folha do Povo) Millôr Fernandes y Luis Fernando Ve-ríssimo. Su inimitable humor político se muestra muy congruente con su lucidez y coherencia – manifestadas después de reconocer el cambio pro-gresista del Presidente Vargas, y cuan-do no dudó en fulminar a los críticos de la UDN: “No es triste cambiar de idea; triste es no tener ideas para cam-biar”. Se muestra sorprendentemente actual su visión crítica de la realidad política del País:“Amnistía es un acto por el cual el gobierno decide perdonar generosa-mente las injusticias y crímenes que el mismo cometió.”

“La moral de los políticos es como el elevador: sube y baja. Pero, en gene-ral, se detiene por falta de energía, o definitivamente no funciona, dejan-do desesperados a los infelices que confían en él.”

“El mal del gobierno no es la falta de persistencia, sino la persistencia en la falta.”

Llaman la atención en la producción de Torelly las narrativas a las que el autor confiere, de manera irónica, un valor etiológico. En otras palabras: ellas nos aclaran, a semejanza de los mitos y cuentos populares, el origen de algún fenómeno, de una palabra o expresión inusual (como “lágrimas de cocodrilo”) o de un hecho digno de ser mencionado. Esto puede ser,

desde el punto de vista humorístico del Barón, la entrada del primer abo-gado en el cielo... La génesis (des-conocida) del vocablo larápio, por ejemplo, remontaría a la abreviatu-ra popular del nombre de un ilustre cónsul romano de la Cirenaica, muy comprometido a “confundir el patri-monio ajeno con el suyo”:L [ucius] A [marus] R [ufus] A PIUS.Gracias a los estudios de Mikhail Bakhtin llegamos a reconocer en la pa-rodia el principal proceso de carnava-lización artístico-literaria. Esto se hace muy presente en los escritos del Barón, especialmente cuando él “desentroni-za” máximas, proverbios y adagios:

“Diputado come maíz, loro gana la fama.”

“La unión hace la fuerza. Pero no por eso debían ponerle tanta agua en la leche.”“Dios le da tamiz a quien no tiene harina.”“Dios le da peine a quien no tiene cabello.”Esa es una manera de nuestro humo-rista expresar cierta fidelidad a ese fon-do común que es la cultura popular.

Crítico implacable de los periódi-cos golpistas de Assis Chateaubriand y Carlos Lacerda, ferviente defensor de la prensa alternativa, Torelly ganó

la admiración de muchos escritores e intelectuales de nuestro país, espe-cialmente de izquierda. De 1955 a 1958, Moacyr Werneck de Castro y Jorge Amado hicieron circular, con el generoso apoyo de Oscar Niemeyer, Paratodos: quincenario de la cultura brasileña, donde el viejo Barón apor-taba textos seleccionados de A Ma-nha. Hace poco tiempo fue creado el Centro de Estudios de Medios Alter-nativos “Barón de Itararé”. Leandro Konder, por su parte, llegó a publicar, en 2007, en una obra colectiva A for-mação das tradições (1889-1945) bajo el sello Ed. Civilização Brasileira, un ensayo apasionante sobre este mara-villoso escritor, alabando su tenaci-dad y aguda visión.

Según el filósofo Walter Benjamin, se engañan aquellos que, empeña-dos en investigar el pasado literario y político, privándose de lo mejor, se limitan a realizar un inventario de los hallazgos y no saben “asimilar en el terreno de hoy el lugar donde es con-servado lo viejo”. Y ese espacio-tiempo debe comprender las preocupaciones permanentes del Barón de Itararé: la necesidad de democratización de los medios de comunicación, la urgen-cia de armonizar ética y política en la gestión de los destinos de un país, la defensa de la soberanía nacional, la búsqueda incesante de un mundo más justo y solidario.

* El primero, hecho público en 1949 (1er semestre), y los de 1955 (correspondientes al 1er y 2do semestre) fueron, en tiempos muy recientes, objeto de exquisitas ediciones facsímiles, realizadas por Sergio Luis Papi.

EL CosTo iNTaNGiBLE dEL FRaCaso EURoPEo

José Luís Fiori

“Si fuese posible jerarquizar sueños, la creación de la Unión Europea esta-ría entre los más importantes del siglo XX. Después de un milenio de gue-rras continuas, los estados europeos decidieron ceder sus soberanías na-cionales, para crear una comunidad económica y política, inclusiva, pa-cífica, harmoniosa, sin fronteras, sin discriminaciones y sin hegemonías. Un verdadero milagro, para un conti-nente que se transformó en el centro del mundo, gracias a su capacidad de expandirse y dominar otros pueblos, de forma casi siempre violenta, y mu-chas veces predatoria.”

JLF: “Os sinos estão dobrando”, Valor Econômico, junio de 2008

Las señales de desagregación son cada vez mayores y frecuentes, y ya no cabe duda de que el proceso de “unificación europea” entró en una calle sin salida. Es casi seguro el pufo de la deuda griega, y es cada vez más probable la ruptura de la zona del euro, que tendría un efecto en cadena, de grandes proporciones, dentro y fuera del Viejo Continen-te. Al mismo tiempo, la victoria de Francia y de Inglaterra, en Libia, aumentó la división y profundizó la desconfianza alemana dentro de la OTAN. Por otro lado, los gobiernos conservadores europeos están en

caída libre, y su alternativa social-demócrata no tiene más ninguna identidad ideológica. Los intelec-tuales se dan cabezazos y la juventud busca nuevos caminos un poco sin rumbo. El propio ideal de la unifica-ción europea tiene cada vez menos fuerza entre las elites, y dentro de sociedades donde se diseminan la violencia y la xenofobia. Parece in-minente el fracaso europeo.

Dentro de todo esto, llama la aten-ción que el avance de la catástrofe anunciada esté siendo acompañado por una consciencia cada vez más nítida y consensual al respeto de las últimas causas, económicas y políti-cas, de la propia impotencia europea. Por la parte económica, todos reco-nocen la falta de un Tesoro europeo con capacidad unificada para tribu-tar y emitir deuda, junto con un BC capaz de actuar como prestador en última instancia, en todos los merca-dos, garantizando la liquidez de los actuales títulos soberanos nacionales que deberían ser extintos y substitui-dos por un único título público uni-ficado, para toda la zona del euro. Y casi todos ya reconocen la imposibi-lidad de una moneda soberana y de un BC eficaz, sin un estado que les dé credibilidad y poder real de acción, en particular en las situaciones de crisis. Una posición que solo podría ser cumplida, en ese momento, por Alemania, que no quiere o no puede hacerlo, o por un estado central que nadie acepta.

Page 31: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

5958

De la misma manera, por el lado po-lítico, el aumento de la fragilidad y de la fragmentación de Europa vie-ne siendo atribuido por los analis-tas, de forma casi consensual, al fin de la Guerra Fría y a la unificación de Alemania, junto con el aumento descontrolado de la Unión Europea y de la OTAN, que pasaron de la condición de proyectos defensivos, a la condición de instrumentos de conquista territorial y expansión de la influencia militar y económica del occidente, dentro de la Europa del Este, y ya ahora, también, en Asia Central y en el norte de África. El ensanchamiento, en todas las direc-ciones, de la Unión Europea y de la OTAN aumentó sus desigualdades sociales y nacionales, y redujo el grado de homogeneidad, identidad y solidaridad que existía en el inicio del proceso de integración, cuando este era tutelado por los EUA, y te-nía un enemigo común, la URSS.

Ahora bien, cuando los analistas de la crisis europea se dedican a trazar escenarios futuros, casi todos cal-culan el tamaño de la desgracia en términos estrictamente económi-cos, en mil millones y trillones de euros. Y poco se habla de los costos intangibles del fracaso europeo en el campo de las ideas, de los valo-res y de los grandes sueños y sím-bolos que mueven la humanidad. Un verdadero impacto atómico so-bre dos pilares fundamentales del

pensamiento moderno: la creencia en la viabilidad contractual de un gobierno o gobernabilidad mun-dial; y la apuesta en la posibilidad cosmopolita, de una federación o confederación de repúblicas, pací-ficas, armoniosas, y sin fronteras o egoísmos nacionales. Dos ideas eu-ropeas que fueron concebidas en un continente extremamente belicoso y competitivo, pero que fue el gran responsable por la creación y uni-versalización del sistema de estados nacionales modernos y del propio capitalismo. Ahora los europeos están experimentando en la piel la imposibilidad real de sus utopías, al intentar construir un gobierno cos-mopolita y contractual a partir de estados nacionales extremamente desiguales, desde el punto de vista del poder y de la riqueza.

El problema grave e insanable es que la quiebra del “contractualismo” y del “cosmopolitismo” deja a los europeos sin ningún sueño o uto-pía colectiva. En pocas décadas, al final del siglo XX, ellos enterraron su socialismo, y ahora, al inicio del siglo XXI, están tirando a la basura su “cosmopolitismo liberal”. Y están dejando el resto del sistema mun-dial, sin la brújula de su creador, porque el sistema seguirá adelante, pero su “software” europeo está per-diendo energía y está se apagando.

Septiembre de 2011.

RECoRdaNdo EL CaRNavaL

Oscar Niemeyer

Carnaval de Río, ¡cómo todo cam-bió! Recuerdo, cuando chico, que era en la esquina de la Rua Laranjei-ras que veíamos a los blocos[1] pasar, todos vestidos de indios – algunos más organizados, como el de la Fá-brica Aliança[2].

A veces, papá nos llevaba, para ver el desfile de los fiesteros, en el hall de entrada del Club de Ingeniería en la Avenida Rio Branco, y nos que-dábamos allí, encaramados en unos bancos, con prohibición de ir a la calle, mirando el espectáculo. Re-cuerdo que, una noche, un hombre de pie frente a nosotros estaba tra-tando de encender un cigarro, y yo, disimuladamente, intenté apagarlo con un lança-perfume[3]. El fuego subió por la cara del hombre, quien, furioso, con un bastón en la mano, se acercó adonde estábamos y pre-guntó: “¿Quién me jugó esa bro-ma?”. Fue entonces cuando, como sucede a menudo, que la generosi-

[1] Bloco: Grupo de personas que desfilan y cantan en las calles durante el Carnaval, de manera semi-organi-zada, a menudo con el mismo disfraz o vestidos de la manera que más les convenga.

[2] Fábrica Aliança: Situada en barrio Laranjeiras y fundada en 1880, fue una de las mayores textileras de Brasil. Fue clausurada y vendida por partes después de haber quebrado en 1935.

[3] Lança-perfume: Droga recreacional de tipo inha-lante. Compuesta por éter y un solvente aromático. Se popularizó en los carnavales de Rio de Janeiro. Su venta fue prohibida en Brasil en 1961.

dad desapareció, y una señora dijo, indignada, señalándome: “Ha sido ese chico. No quería delatarlo, pero él se estaba riendo.”

Después de casado, nunca más pen-sé en Carnaval, cuando para mi sor-presa fui convocado por Brizola para diseñar el Sambódromo de Río de Janeiro. Una aventura que recuerdo con gran nostalgia, por la decisión con que él y Darcy Ribeiro llevaron adelante el proyecto contra todo tipo de objeciones – que no habría tiem-po para construir el Sambódromo, que la temporada de lluvias podría ser otro obstáculo imposible de ven-cer, e inclusive hasta a un arroyo que se decía pasaba por debajo de las gra-das, apelaron. Sin embargo, Brizola y Darcy hicieron caso omiso a tales provocaciones, y el Sambódromo fue inaugurado en la fecha prevista.

Durante los tres meses que duró la construcción, muchas veces visité la obra, acompañado de Darcy y José Carlos Sussekind, responsable de su estructura, y , a pesar del corto pla-zo que teníamos disponible, Darcy no se cansaba de proponer nuevas soluciones. “¿Vamos a hacer salones de clases bajo las gradas?” – sugerió un día. Y ahí está la pequeña escuela que se imaginó y que al prefecto de París tanto espantó: “Nunca vi nada parecido” – decía este, emocionado. Recuerdo a Darcy, con la obra casi terminada, pidiéndome: “Oscar, haz algo para marcar al Sambódromo.”

Se trata de un arco que diseñé y que fue construido en la Praça da Apo-teose, aplaudido con entusiasmo por Brizola y Darcy. Y donde, más tar-de, César Maia decidió colocar una de las innumerables propagandas de la Prefectura que venia dispersando por la ciudad – a pesar de ser una obra rea lizada por el gobierno de Brizola y preservada por el Estado.

Pedí que las retiraran. No me hizo caso; entonces formalicé una denun-cia ante el SPHAN (Departamento de Patrimonio Histórico y Artístico Nacional), y ese extraño gobernante se vio obligado a retirarlas definiti-vamente. Muy bien. Siempre he pensado que es durante las grandes fiestas popula-res que las consignas deben hacerse escuchar, llevando a sus participan-tes las protestas contra todo lo que tenga que ver con injusticia social u ofensa a nuestra soberanía. Y lamen-to que eso no ocurra más a menudo, como respuesta a este clima de mise-ria y opresión en que vivimos.

Hace muchos años, lo recuerdo bien, estaba solo en un hotel en Bra-silia y veía por televisión el desfile de la Escuela de Samba San Clemen-te. Para mi sorpresa, el tema era “El menor abandonado en este mundo de ilusión”. Y me quedé escuchan-do la canción, triste, recordando la miseria que aún persiste en nues-tro país, los niños más pobres que

deambulan por las calles, durmien-do en las aceras, mientras que otros, en menor cantidad, disfrutan de todos los privilegios que el dinero puede comprar. Justo después de apagar el televisor, una amiga me telefonea. Le hablé so-bre el desfile y ella me interrumpió: “Oscar, no llores.” Claro que no llo-raba, aunque – quién sabe – faltaba poco para eso. No era apenas la mi-seria lo que me lastimaba, sino esta inmensa injusticia que necesitamos erradicar.

Todo esto explica el entusiasmo con el que vi tiempo después el desfile de la Escuela de Samba Unidos de Vila Isabel en el Sambódromo. Era la rea-lización de la idea que siempre tuve, de llevar a las fiestas populares nues-tras demandas más urgentes. En esta ocasión el tema fue la defensa de la unidad y la integración de los pue-blos que conforman América Latina. No podría haber un tema más apa-sionante, ahora que vemos este con-tinente tan amenazado. Y sentí que la campaña de defensa de América Latina pasaba a una nueva etapa, más clara y vigorosa – como las ac-ciones sorprendentes y valientes que Chávez ya ha ejecutado.

Y el desfile de la Vila Isabel conti-nuó, con la monumental escultura de Simón Bolívar para recordar que las cosas se repiten, que es urgente la reorganización política de América

Page 32: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

6160

Latina, continuamente amenazada por el imperialismo yanqui.

Guardaba poco conocimiento de esa figura extraordinaria... artículos pu-blicados, conversaciones políticas en la oficina, en especial el libro de Gar-cía Márquez El general en su laberinto. El tema me atraía, y recurrí a la enci-clopedia – la enciclopedia que Sartre decía leer como una novela –, y allí estaba la historia de ese héroe venezo-lano, hecho de coraje y altruismo.

Y me quedé viendo, emocionado, como el pueblo de Río de Janeiro participaba de todo eso con especial entusiasmo, identificándose con la lucha política que sentimos crecer en nuestros corazones.

PARA LEONEL BRIzOLA, CON aÑoRaNza José Carlos Sussekind

Usando el viejo cliché, parece que fue ayer, pero pasaron ya casi 30 años desde que, de la mano amiga de Oscar Niemeyer y, a través de ella, también de la de Darcy Ribeiro, fui llevado ante el entonces gobernador Brizola para charlar, los cuatro, sobre la idea de la construcción de un sam-bódromo. Jamás estuve antes con él.

Para la reunión, Oscar ya llevaba el esbozo de aquello que, cerca de cuatro meses después, estaría lis-to; recuerdo la pregunta – central y

directa – del gobernador: “¿Puede, realmente, estar listo para el carna-val?” Y mi respuesta diciendo que cosa igual en tal plazo tal vez nunca se habría hecho, pero que, en mi opi-nión, sería posible.

Comenzaba, así, una inolvidable aventura: 110 días después de la de-cisión del gobernador, la obra esta-ba lista, una semana antes del plazo fatal. En ese poco tiempo, hicimos licitaciones, contratamos construc-tores y proveedores, desarrollamos los proyectos (que salían de nuestras mesas directo para la obra) y, en pa-ralelo, respondíamos a buena par-te de los medios de comunicación, mientras ellos afirmaban que “no iba a estar listo”, después, que “iba a caerse”, en seguida, que “la acústica sería pésima”, y así sucesivamente.

Eran tantos comentarios en contra, que fui obligado a mandar a hacer una prueba de carga anticipada, co-locando en las gradas barriles llenos de agua, para probar su seguridad y resistencia ante los ojos de la opi-nión pública.

El día de la inauguración, ya con las escuelas desfilando, lo que era una junta prevista en proyecto y, por lo tanto, existente en la construcción, llegó a ser interpretada como una peligrosísima rajadura en las co-lumnas, que acarrearía en riesgo in-mediato de desmoronamiento de la obra... Me acuerdo de la figura – ele-

gante, suave, gentil – de Doña Neusa Brizola, con mirar inquieto avisán-dome que “Leonel” me buscaba con urgencia, ya que a él le estaban pro-poniendo evacuar parte de las gra-das, en pleno desfile. Con qué ale-gría reíamos y celebramos, en con-junto, la inexistencia del problema y la consagración del proyecto, cuan-do expliqué que la “rajadura” era, apenas, una junta de dilatación...

Me pareció, así, una consecuencia natural que, con el mismo equipo y el mismo sistema de gestión, menos de un año después, hayamos sido co-misionados para realizar el programa de los Cieps, las escuelas de atención integral a los niños, el proyecto más veces repetido (tal vez más de 500 veces) en nuestra historia. Por el lado constructivo y pedagógico, no hay nada que agregarle a lo que todos ya conocen. Hoy, tres décadas después, lo que más me atrae de los Cieps, sin embargo, es su génesis casi psicoló-gica – de cierta manera haciéndo-me recordar la metáfora del juguete presentada en la película Ciudadano Kane – en la mente de Brizola. Una sola vez, él me contó que, cuando pequeño y muy, muy pobre, se en-cantaba mirando, desde afuera de las rejas, al “colegio inglés” (creo yo) de Passo Fundo, con sus tres “imponen-tes” construcciones: edificio de salas de clases, biblioteca y gimnasio cu-bierto. Él le dio, medio siglo después, a los niños pobres como él el colegio donde soñó estudiar, pero cuyas rejas

siquiera podía pensar en traspasar. Eso es de una belleza poco común, mostrando en Brizola un grado de humanidad y emoción que pocos tu-vieron el privilegio de poder percibir y compartir.

Después de los Cieps vino la Linha Vermelha (Línea Roja), que me fue encomendada dirigir, directamen-te en contacto con el Gobernador, profundizando mucho la relación personal y pudiendo testificar su ho-norabilidad y lealtad, incluyendo la dignidad con que dirigía su vida per-sonal y familiar y la coherencia de su posicionamiento político, indepen-dientemente de si concordarse o dis-cordarse con él.

Cumpliría 90 años en enero pasado ese casi último de los grandes titanes de nuestra política; inevitable, así, ha-biendo tenido contacto tan intenso y próximo, que transformó la relación meramente profesional en un vínculo de afectuosa estima, no recordar de todas esas cosas con especial emo-ción. Y, con añoranza, de las innu-merables veces en que iba a visitarlo, después de estar fuera del poder, y de las charlas fascinantes, provocantes, que teníamos la costumbre de mante-ner. Mucha nostalgia, de verdad.

Brizola fue un hombre, tal como Darcy, tal como Oscar, cuya alma nunca estuvo a la venta: prefería perder elecciones presidenciales que coronarían su carrera singular a te-

ner que, camaleónicamente, escupir en su propia historia y convicciones para decir lo que, en las circunstan-cias de la época, sería más apetecible y agradable a los oídos de la mayoría.

Aunque nunca haya formulado la frase, creo que Brizola concluiría de modo idéntico a Darcy Ribeiro: “Fracasé en la mayoría de las pro-puestas que defendí. Pero mis fra-casos son mis victorias. Yo odiaría estar en el lugar de quien me venció”.

Rio de Janeiro, febrero de 2012

PaRa siEmPRE viNiCiUs: dECLaRaCiÓN a REGiNa zaPPaChico Buarque

Le recuerdo siempre riendo, riendo con todo su cuerpo.

Desde que era muy niño, a Chico Buarque ya le fascinaba Vinícius. Amigo de su padre, Sérgio Buarque de Hollanda, el poeta visitaba la casa de la familia Buarque de Hollan-da en São Paulo, después en Roma, donde todos vivieron durante dos años, cuando Chico tenía siete años. Después, otra vez en São Paulo. Los saraos en esa segunda fase paulista-na, que mezclaban música y mucha charla hasta de madrugada, encan-taban al joven Chico que descubría la revolucionaria batida de la bossa nova a través de la canción Chega de saudade, compuesta por Vinícius y Tom Jobim. Pero, para Chico, la im-

portancia de Vinícius trascendía su obra. Una de sus principales contri-buciones, no apenas para Chico, sino también para todos los compositores de música popular brasileña, fue de-mostrar que el trabajo del letrista es también una importante manifes-tación de la cultura brasileña, y no una poesía menor. “Hasta entonces, esa historia de poeta letrista era vista como un oficio menor.” Gracias a él, la letra de música conquistó status de poesía. Vinícius consolidó la ver-sión de que, en la creación, todo es mayor. De Vinícius, Chico tiene los mejores recuerdos.

Regina Zappa

“Recuerdo a Vinícius en Roma. Él estuvo allá en misión cultural de Itamaraty, se quedaba en el hotel e iba a casa algunas veces. En esas no-ches, se decía: “Hoy hay Vinícius”. La casa vibraba, ahí venía el whisky, aparecían los aperitivos, mamá se alegraba, papá se alegraba. Miúcha tenía una guitarra que se llamaba Vinícius. Eran noches formidables, no sabía bien lo que allí pasaba, pero entendí que Vinícius era un sujeto que hacía música y que yo conocía a un compositor de carne y hueso. En ocasiones él tomaba la guitarra y yo quedaba encantado porque había un amigo de mi padre que compo-nía música.

“Un amigo de mi padre que compu-siese música era casi un salvocon-

Page 33: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

6362

ducto para poder hacer música. En aquella época hacer música era un poco mal visto, pero si el amigo de mi padre la hacía... En los años 50, Vinícius ya era un poeta consagra-do. Para él, no debía ser fácil can-tar, tocar guitarra, conectarse con Pixinguinha, adorar a Ismael Silva, toda esa gente del samba. En aque-llos tiempos hacerse llamar el blanco más negro de Brasil era casi una pro-vocación.

“Para escribir letra de música, aque-llas letras de él, había que ser mú-sico. Vinícius lo era. Tenía un oído musical formidable. Su poesía, in-clusive la poesía no cantada, la poe-sía escrita, es musical, es musicable. Creo que no habría bossa nova sin la poesía de Vinícius. Cuando surgió la bossa nova, yo tenía 14, 15 años y aquello me capturó. Era una músi-ca muy moderna y con la ventaja de ser brasileña. Oí Chega de saudade y dije: “Papá, dame dinero para com-prar el disco de Vinícius.”

“Cuando Vinícius optó por la músi-ca popular, él estaba rompiendo con muchas cosas y con amigos suyos. A las personas les comenzaban a pare-cer chistoso, ironizar, creyendo que era broma. Pero la generación de Vinícius era literaria, y la literatura estaba por encima de cualquier otra cosa para ellos, principalmente, por encima de la música popular, y del cine, cosas que a Vinícius le gustaban. Les parecían un poquito graciosas

las bromas de Vinícius, pero después dejó de ser un jueguito. Las personas se liaban. Se ponían celosas, por no decir envidiosas, de esa aproximación de él con esas artes y de la dimensión humana que él daba a la poesía.

“Fui aproximándome a él paulatina-mente. Fui pasando de fan, un verda-dero tonto, a amigo. Porque cuando yo estaba con Vinícius me quedaba bobo. Entonces comencé a mostrar mis cosas. Él me estimulaba, decía: “Toca aquél samba que compusis-te”. Vinícius siempre me apoyó. No hice muchos conciertos con él, solo algunos fuera de Brasil, en Argenti-na y Portugal. Vinícius se sentía muy cómodo en el escenario. Parecía que estuviese en casa, tomando un whis-kycito, conversando con el público. O mejor, le gustaba tener algún ami-go en el escenario y ahí se quedaba charlando.

“Una vez, en Portugal, aún en la épo-ca del salazarismo, él terminó un concierto, en el que había contado muchas historias y declamado poe-mas. La gente le adoraba. Y aquella muchachada viviendo la dictadura. Y cuando terminó el concierto, un éxito, él dijo que quería agradecer a la “mocedad portuguesa”. El público que aplaudía comenzó a ponerse in-quieto y después pasó a abuchear. Él no entendió nada. Después explica-ron que no se podría decir “mocedad portuguesa”, porque era una especie de juventud fascista allá en Portugal.

“Vinícius era inmensamente genero-so. Y celoso también. Él decía: “Bue-no, haga la música que tiene que hacer con su compañerito”. Cuando me asocié con Tom en Retrato em branco e preto, creo que él se moles-tó un poco. De cierta manera, fui el sucesor de Vinícius en las sociedades con Tom. Vinícius solo componía música y escogía compañeros por afinidad. No existía la menor posibi-lidad de que Vinícius entrase en una sociedad profesional.

“A Vinícius le gustaba rodearse de personas de todas las clases, no solo a nivel musical. A él le gustaban los pintores – me acuerdo oírle decir “Chiquinho ven acá a ver a Scliar, Ivan.” Su casa era como un open hou-se, todo el tiempo, toda la gente reu-niéndose allá. Personas de las más diferentes tribus, gente de fotografía, de música, de teatro, de cine.

“Vinícius tenía miedo de ascensor. Cada vez que salía de un apartamen-to, me pedía que me quedase en la ventanita hasta que el ascensor llega-se abajo. Entonces, yo tenía que pre-guntar desde arriba: “¿llegaste?”

“Su búsqueda por el gran amor mu-chas veces podía parecer una opción simplemente por el placer. Pero era una opción que costaba caro. Él su-fría mucho cuando el amor termi-naba. La amistad también era muy importante, era algo sagrado, y su-fría cuando se sentía traicionado

por algún amigo. Él enfrentó mo-mentos de altos y bajos en la vida y en el trabajo.

“Vinícius era un hombre de iz-quierda, nunca lo escondió. La verdad, no escondía nada, era un hombre de ímpetus. Decía lo que le parecía que debería ser dicho sin medir consecuencias o posibles perjuicios. Él no era un funcionario de carrera del Itamaraty. Le recuer-do siempre riendo, riendo con todo su cuerpo, sacudiéndose todo. Él reía rico, reía de las tonterías que él mismo hablaba y que otros habla-ban. Tenía la risa suelta y a veces no lograba parar de reír. Vinícius no sabía decir no.

“Las personas creían que Vinícius era un libertino. Era un poquito, pero no tanto como las personas imaginaban. Es difícil imaginarle hoy, no sé en donde estaría. Porque él es el contrario de muchas cosas que hoy son victoriosas, como la os-tentación. Él tenía algo de generoso y, a veces, de ingenuo. Y algo men-tecato. Hoy esas cosas no existen. Lo que existe es un resultado que se busca, un objetivo, una cosa prag-mática. Todo lo que Vinícius no era. Entonces, Vinícius nos hace mucha falta hoy, pero tal vez él no pudie-se ser el Vinícius de nuestros días. No imagino en qué lugar él estaría dentro de este país y de este mundo donde vivimos.”

EL miTo Y EL TiEmPo

Luiz Alberto OliveiraCentro Brasilero de Investigaciones Físicas

En eras antiguas que se pierden de vista, los primeros humanos ya ha-bían ciertamente observado que la naturaleza es rica en regularidades: biológicas, climáticas, astronómi-cas, etc. El problema era ajustar las acciones humanas a esa variedad de recurrencias. Los hombres necesita-ron encontrar un medio de describir esas regularidades naturales y darles expresión sistemática a través del lenguaje, y lo hicieron bajo la forma de mitos, narraciones que relatan los orígenes de los seres y de las co-sas y las ascendencias de estos. Los mitos, de hecho, son las más remo-tas sondas de que disponemos para constatar las visiones de mundo que imperaban en las sociedades arcai-cas. Es por el examen de esos relatos que podemos comprender como el espacio y el tiempo eran concebidos y organizados. Gracias a ese análisis, observamos que no habría habido sociedad primeva en la cual el tiem-po no fuese aprehendido a partir de las regularidades y repeticiones per-cibidas en el mundo natural, con-substanciadas en la figura del ciclo y de sus representaciones simbólicas. De la misma manera, los mitos tam-bién fueron portadores de nociones espaciales como centro, borde, su-perficie, frontera, que sirvieron para

que las primeras culturas categoriza-sen el ambiente donde vivían. Ade-más de las evidencias arqueológicas, el principal recurso del que dispone-mos para sondar como nuestros an-cestrales pensaban es exactamente el estudio de los mitos.

¿Cuál es, entonces, la confianza que podemos tener hoy en la capacidad descriptiva de relatos tan antiguos así? La capacidad de la palabra oral de acoger, preservar y transmitir ex-periencias e informaciones es singu-larmente notable. Por ejemplo, en el siglo XIII de la Era Común (EC), en Irlanda, fue recopilada por escrito una colección de leyendas declama-das y cantadas desde mucho por los famosos bardos irlandeses, denomi-nada de Mabinogion. Entre esas le-yendas figuraba un importante epi-sodio llamado “La Batalla de los Ár-boles”, donde una reina hechicera y su hijo se desentienden y traban una gran guerra. Los seres del mundo se dividieron en partidarios del prínci-pe y de la reina – inclusive, los árbo-les de la floresta. El poema enumera una serie de pares de árboles que se perfilaban en las huestes adversarias – el pino se opuso al roble; la encina al sauce, etc. – formando siete pares de árboles contrapuestas. Cuando Robert Graves, el gran erudito in-glés, investigaba para escribir su cé-lebre obra sobre los mitos griegos, se deparó en sus estudios con un frag-mento de un himno en alabanza a Deméter, una de las divinidades que

Page 34: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

6564

presidia el pasaje del mundo de los vivos al de los muertos en un culto originario en la sagrada región de Delfos, donde también se encontra-ba descrita una serie de árboles em-parejadas. Para sorpresa de Graves, aunque el fragmento helénico fuese datado del siglo III antes de la Era Común (AEC) – o sea, separado de la recopilación de leyendas irlande-sas por 1.600 años y 3.000 kilóme-tros de distancia –, había apenas tres diferencias entre las dos series, rela-tivas a árboles que crecían en Grecia y ¡no eran encontradas en Irlanda!

A pesar de esa adaptación “ecológi-ca”, la imagen de árboles oponién-dose a los pares era rigorosamente la misma, y, cuando Graves investi-ga más sobre el tema, descubre que el esquema de árbol contra árbol, en realidad, codificaba un alfabe-to sagrado de catorce consonantes, empleado en rituales secretos, en que cada árbol simbolizaba una le-tra. Pero, se asustó aún más al darse cuenta que cada uno de los árboles florecía, o producía frutos, o perdía las hojas, o daba brotes, en un mo-mento específico del año. Esos ca-torce árboles, por lo tanto, también formaban un calendario, de catorce meses. Tenemos entonces un poema (o himno) que cuenta una leyenda, codifica un alfabeto y encarna un calendario. Para Graves, es extraor-dinario que ese alfabeto sea simul-táneamente un calendario, pues asÃ

la palabra y el tiempo se funden, como ocurre en la magia – y en la poesía. Cuando una fórmula mági-ca es pronunciada, un cierto estado de cosas, un cierto momento de los seres, responde a una potencia in-herente a esa invocación. He aquí, según Graves, el poder de la palabra que encanta, el poder de la poesía.

¿Cuál es la funcionalidad más evi-dente de un sistema colectivo de registros como ese, traído por los mitos? Es el poder de correlacionar distintas regularidades naturales de tal manera que una de ellas sirva de medida para otra, como hacen los cazadores al vincular las migra-ciones periódicas de las manadas al retorno de una determinada conste-lación en el cielo, convirtiendo un ciclo celeste en patrón de referencia para un ciclo terrestre. Observacio-nes como esa, acumuladas en la me-moria colectiva y transmitidas oral-mente, de generación en genera-ción, contribuyeron decisivamente para la sobrevivencia y prosperidad de la especie humana. Por millares de años, la repetición de relatos mí-ticos fue la manera de asegurar que los conocimientos trascendiesen, evitando que las observaciones lar-gamente acu muladas por los ances-trales fuesen olvidadas por las nue-vas generaciones. De hecho, la ac-tividad de asociar acontecimientos terrestres a configuraciones celestes y registrarlas en fórmulas míticas

fue tan esencial para los más remo-tos grupos humanos que condujo a la constitución del primer objeto técnico puramente conceptual – el calendario.

¿Qué es un calendario? Es un dispo-sitivo para correlacionar los regis-tros de diferentes ciclos celestes. Los ciclos astronómicos más evidentes son los solares, a saber, la sucesión de días y noches y la secuencia de los solsticios y equinoccios, que de-marcan las estaciones del año. Pero además de eso somos afectados por otro ciclo muy importante, el lunar. Por ser un satélite muy grande y muy cercano, las influencias que la Luna ejerce sobre la Tierra y los se-res vivos son inmensas – como es el caso de las mareas. Sin embargo, el ciclo de la Luna de cuatro semanas no es conmensurable con el ciclo del año solar, o sea, no hay un número exacto de lunaciones – meses de 28 días – que corresponda a 365 días. Para los pueblos antiguos siempre fue un gran problema intentar ajus-tar las dos escalas; los bab ilonios, por ejemplo, buscaban acumular el resto que quedó de su año solar de 360 días en términos de lunaciones para eventualmente totalizar un mes adicional. Como solamente de siete en siete años ese período aproxima-damente coincidía con un número entero de lunaciones, fueron nece-sarias largas observaciones y un de-dicado equipo de eruditos para que

fuese encontrado un modo práctico de representar el ciclo de las estacio-nes en términos de fases lunares.

Los calendarios más remotos que podemos encontrar están invaria-blemente asociados a alegorías mí-ticas. Las “churingas”, por ejemplo, son pedazos de madera o de hue-so, donde están inscriptas series de marcas regulares que sirven como una especie de registro portátil de memoria, donde los espaciamientos representan períodos o duraciones. Esas inscripciones realizan así una notable proeza de pensamiento, pues traducen espacio en tiempo. Obje-tos extremamente valorizados, las churingas son utilizadas aún hoy por pueblos aborígenes de Australia, sea como depositarias provisorias del espíritu de un ancestral hasta su transmisión para un recién nascido, como también, haciendo a veces de una ‘partitura’ táctil, para darle ca-dencia al ritmo de cánticos y danzas rituales.

Una churinga de 25 mil años de edad fue encontrada en el interior de Francia, que junto a la serie habitual de inscripciones regulares exhibía aún íconos, posiblemente represen-tando un salmón, una foca y un río – aunque el río más cercano estuviese a decenas de kilómetros. ¿Cuál es la función de esas marcas? Contenían la valiosa información de que, en una determinada ocasión del año,

los salmones estarían subiendo el rio para desovar y las focas les seguirían – señalando por lo tanto una buena oportunidad para fisgar salmones y arponear focas. Esa churinga es por lo tanto una de las primeras eviden-cias de un objeto técnico concebido para ampliar nuestras capacidades cognitivas, en el caso, de registrar acontecimientos y realizar previsio-nes, de cierta manera suplementan-do la función que la s narraciones míticas realizaban al señalar las re-gularidades de la Naturaleza.

Giorgio de Santillana, filósofo de Ciencia, después de un extenso aná-lisis de las mitologías de pueblos ar-caicos y actuales, concluyó que no existe sociedad humana que no haya codificado alguna regularidad astro-nómica bajo la forma de un mito, y elaborado de ese modo algún tipo de calendario. Esa práctica sería tan ampliamente generalizada que le hace proponer una nueva definición para nuestro género: “Hombre es el animal que mira hacia el cielo”. Si non è vero...

Page 35: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

COntents

To the reader 69 Vera Lúcia G. Niemeyer

A square for Recife 69Oscar Niemeyer

Rio de Janeiro Botanical Gardens 70Oscar Niemeyer

Duas Barras Hotel – Alagoas 70Oscar Niemeyer

Fundação Oswaldo Cruz 71Oscar Niemeyer

Tecnet 71Oscar Niemeyer

Tribute | Cândido Portinari 71

Arts | A feast for the eyes 72Marcus de Lontra Costa

The world crisis and the defense of the Brazilian sovereign 73Renato Guimarães

memory | The Baron’s fortune 77Luiz Otávio Barreto Leite

Articles and Chronicles |

The intangible cost of European failure – José Luís Fiori 79Remembering the carnival – Oscar Niemeyer 80To Leonel Brizola, we miss you dearly – José Carlos Sussekind 82Vinicius for ever: Testimony to Regina Zappa – Chico Buarque 83The myth and the time – Luiz Alberto Oliveira 85

Nosso CamiNhoV.1  N.12 - 2012

Page 36: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

69

To ThE REadER

Vera Lúcia G. Niemeyer

At the completion of our third year in existence, the Nosso Caminho magazine has been receiving a series of compliments about its contents.

In the 11th edition, we paid homage to Vinicius de Moraes, which pleased many readers. In this edition, we will pay tribute, for his near centenary, to an artist of whom all Brazilians are proud, Cândido Portinari.

Portinari was born in the city of Brodósqui, a countryside city of São Paulo, in the year of 1903. He came to Rio de Janeiro, started painting around the middle of the 1910 de-cade, and passed away in 1962.

His magnificent works – among them the panels Lavrador de Café and Guerra e Paz – reveal great cre-ativity and beauty. He made many pieces for Oscar Niemeyer’s projects.

Our team at Nosso Caminho is proud to pay tribute to this great Brazilian plastic artist, reminding the impor-tance of his cultural contribution to the youth of our country, who are interested in the problems of the plastic arts. Portinari is without a doubt an example of dedication and extraordinary talent.

Vera Lúcia G. Niemeyer

a sqUaRE FoR RECiFE

The project of this large square puts a stop to this streak of buildings that vary between four and ten floors and that plague the majority of Brazilian beaches. It is important to point out that everything started due to the power of real state and its invinci-ble greed for profit, without the least concern to primary rules of correc-tion and good taste.

Not to mention the urban aspect that these seaside avenues, which are planned to receive heavy tra-ffic, present when they cut through the most intimate connection of the city to the beaches. It is the concern with constructing sumptuous works that determines this questionable result, preventing cities and beaches of constituting a more harmonious complex with squares and gardens enriching them, as it would certainly be more pleasant.

In the case of this square in Recife, the proposed solution avoids the re-petition of the old seaside avenues that I referred to, creating a rigid, rectilinear separation that tasteless constructions help to destroy. The square will avoid many mistakes in a considerable area.

The theater, the office building and the exhibition hall were placed in a large planted area. The visitor will discover other curious aspects. First,

the simple and logical way in whi-ch an elegant ramp takes him to the foyer of the planned theater, where a large glass wall separates him from the crowd; and from the stage, whi-ch, a little bit further, he can look at. And he will think surprised how easy it was to complete this small course that ends naturally close from where he started.

Being used to design theaters, kno-wing how access problems – forced to build ramps and stairs – are diffi-cult to solve, I feel that, perhaps, this complex is a lesson in architecture. And it pleases me even more to know that the stage opening to the outside was also my contribution, which I adopted with certain originality.

I continue to enthusiastically re-member the design of the theater, and the stage opening to the outside makes me smile satisfied.

I once again think about the whole of this project, in which the theater is the main element. I see the other buildin-gs, I feel that the view to the ocean is clear, as I hoped; that the administra-tion building and the exhibition hall are well located; that the restaurant will be a new point of interest in this magnificent place, which, all in good time, the City Hall of this important capital in Brazil’s northeast region de-cided to make the most out of it by transforming it into a first-class cen-ter for culture and leisure.

Page 37: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

7170

FUNdaÇão oswaLdo CRUz

Oscar Niemeyer

This complex, which will host im-portant sectors of Fundação Oswal-do Cruz (FIOCRUZ), comprised of four buildings with 27,450.20m² of constructed area, imposes itself for its harmony and for the liberty of the adopted solutions. After all, it was meant to fulfill the needs of a very rich program, suited for one of the

most renowned academic and scien-tific institutions in the country.

In the first place, it is worth high-lighting the museum of science and technology that certainly fulfills an old dream of the professionals as-sociated with the graduate courses offered by FIOCRUZ or those who graduated from it. I designed a large room with two levels where the equipment of the museum will be installed. I also designed a the-ater meant to accommodate many needs, capable of housing 600 peo-ple, with the direct access to the museum ensured by a big marquee. On the opposite side of this theater, there will be a restaurant shaped like a cylinder, to contrast with the other buildings.

Finally, we included an 180˚ movie theater for 300 people, which will be situated on the other side of Bra-sil Avenue and will have a guaran-teed connection through a walkway for pedestrians and vehicles. Differ-ent researchers, professors and stu-dents, especially those who work in the health sector (including the do-mains of workers’ health and tropi-cal diseases eradication) –, mem-bers of a varied external audience will be able to make more meaning-ful social exchanges in the cultural spaces I was able to design. There will also be a sports center and a big parking lot.

Rio dE JaNEiRo BoTaNiCaL GaRdENs

Oscar Niemeyer

I was struck by juvenile enthusi-asm while designing this exhibition hall at the Rio de Janeiro Botanical Gardens. It was quite a challenge: to design a modern building, capable of evidencing the contrast between the older buildings (some of eclec-tic style) and varied monuments al-ready fixated in this extraordinary place – a multi-symbolic space of great historical meaning for the residents of my native city. The de-signed hall, which might facilitate the interaction between the public and the exuberant nature of rare beauty, will have a differentiated format, as it was needed, and will comprehend 1,070.66m² of con-structed area. And the fantasy of the architect will stand out: an area over pilotis, with glass walls five meters high, which will allow for a com-plete view of the garden. And the separated sashes on the marquee will form large patios that will open to the outside in a provoking way.

On the ground level, beyond the ac-cess, we envisioned a café – a space for interaction that will become an attractive place for the visitors.

DuAS  BARRAS  HOTEL  –  ALAgOAS

Oscar Niemeyer

This is a complex that might draw the attention of everyone because of how it plays with volumes and be-cause of the freedom with which it imposes itself over the land.

The project is comprised of a hotel with forty rooms and all the neces-sary support, which, prominently, include pools, bars, restaurants, fit-ness centers and steam saunas. There is a lift planned, establishing a con-nection between the beach and the restaurant, as well as a large recep-tion area for the residential complex.

On a separate space, we designed a residence with rooms, two bedrooms for the couple and four bungalows connected by an extended and ele-gant marquee, totaling 10,772.39m² of constructed area.

TECNET

Oscar Niemeyer

TECNET’s headquarters, which was designed by me with the utmost interest, corresponds to a modern complex of three buildings set apart by their bold shapes, consistent with the importance that the company as-sumes in its area of expertise.

The main building stands out because of its plastic neatness, which will draw the attention of everyone who visits it, taking them by surprise with the designed spaces. It comprehends three higher levels for the proposed office rooms and administration, and a ground level, which will include the accesses and an entrance hall. The un-derground level will house the main supporting sectors and a parking lot.

The supporting building, situated in an expressive style over the field, comprehends five levels of office rooms.

A building hosting a recording room and a hangar – with a planned heli-port – completes this complex, total-ing 20,249.90 m² of constructed area.

TRiBUTE

Honoring Cândido Portinari (1903-1962), recognized by many as the greatest Brazilian painter of all time, had been an old concern of the edi-tors of Nosso Caminho.

Thanks to him, our modern art can definitely take its place among the universal community of culture. And this verdict makes perfect sense in the way that, always inspired by the oppressive and miserable Bra-zilian reality, Portinari knew how to make his painting an instrument for social criticism. And through it, migrants, scarecrows, slum dwel-lers, that is, our less fortunate people stand out. His pictures of farmers, such as those found in the murals of the Gustavo Capanema palace, the old headquarters of the Ministry of Education (pursuant to subsequent illustrations), stand out because of their majesty and because of their hands and feet intensely strong.

The technical mastery, the strength of his creative genius revealed in his mural paintings made Pablo Neru-da affirm that Portinari, along with Oroco, Rivera, Tamayo and Guaya-samin, form the Andes mountain range of painting of the American continent. And such qualities can also be appreciated in samples of his religiously inspired art, in the histo-rical compositions, in the countless works dedicated to motifs referent to the universe of childhood, whi-ch is possible for us to appreciate, especially, if we proceed to read O menino de Brodósqui, edited pos-thumously, under the supervision of João Cândido Portinari, son of this great creator.

On the day of his passing, Carlos Drummond de Andrade, one of his closest friends and partner in so many fights in the defense of mo-dern Brazilian art, wrote a beautiful poem, which we chose to transcribe in this tribute. They are touching ver-ses that illuminate our comprehen-sion about the artistic sensibility of Portinari, about his thematic diver-sity and creative processes, about the attention that he gave to the beings associated with the human drama - from the coffee pickers to the poor boys who stand out in his drawings and paintings. All of them depen-ding on the painter’s hand with his “power of enchantment”:

A Mão

Entre o cafezal e o sonhoo garoto pinta uma estrela douradana parede da capela,e nada mais resiste à mão pintora.A mão cresce e pinta o que não é para ser pintado mas sofrido.A mão está sempre compondomódul-murmurandoo que escapou à fadiga da Criaçãoe revê ensaios de formase corrige o oblíquo pelo aéreoe semeia margaridinhas de bem-querer no baú dos vencidos.A mão cresce mais e fazdo mundo como-se-repete o mundo que telequeremos.

A mão sabe a cor da core com ela veste o nu e o invisível.Tudo tem explicação porque tudo tem (nova) cor.

Page 38: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

7372

a FEasT FoR ThE EYEs

Marcus de Lontra Costa

The elegant and discreet figure of modest gestures and natural and edu-cated communication seems to con-trast with the bold, baroque paint-ings, full of references, decorations and information that transform each canvas into a feast for eyes. Such is Robinson Antônio de Oliveira, a ser-geant of the Brazilian Navy, resident of Duque de Caxias, in love with the world of fashion, beauty and sophis-tication, which he transports into the universe of contemporary art with sensibility, talent and intelligence.

This pretense disconnection be-tween the Creator and the Creature, this information which surpasses the stereotype, this amount of messages that a meeting emits and transports is one of the most valuable and en-chanting characteristics of this ad-mirable new, contemporary world, guided by the speed of communica-tion. And it is exactly this current reality that incorporates diversity as an instrument for artistic and cul-tural richness, which ensures valid-ity to Robinson’s production and his muses from the Pop Music, from the entertainment industry, the cult of personality and the worship of the popular image.

Not too long ago, in the modern world, the main function of art was

to create forms and artifacts that were appropriated and reproduced by industrial activity; the ateliers (or creation offices…) would be laboratories of aesthetical research which would feed the urban soci-ety through architecture, design and communication in general. This strategy of “construction of the uto-pia” was confronted by the Pop Art that, even in the sixties, sought to respond to a world reality to which modernism, in its traditional form, no longer belonged. The symbolism of Niemeyer’s architecture in Brasil-ia and the derivations of the neo-concrete movement of Hélio Oiti-cica, marked, in Brazil, some kind of unpleasantness with the classic formalism of the modernism, based on order and a type of anachronistic scientific primer.

This way, the iconography of mass communication, the objects of the urban routine, the fictional appeals of advertisements and the varied ve-hicles of cultural action such as mov-ies, television and comic books de-finitively invade the universe of art; Pop Art values new historic referenc-es and recreates new meanings for the image, having as its foundations surrealism and Dadaism, in opposi-tion to constructivist movements. This new strategy amplifies the artis-tic action and ends up restarting the dialogue with psychoanalysis and anthropology, among other visual

sectors such as craftsmanship and popular art, which, until then, were disparaged by a type of theoretical thinking that understands art as an illustration of itself or as a result of a theory elaborated in advance, and not as constructed through the con-stant use of the praxis.

The Pop Art universe is sufficiently ample to incorporate local actions and contributions, the different geog-raphies, and this happened in Brazil, where it ended up becoming more political, more critical, and closely dialoguing with the French Nouveau Réalisme and the Italian Arte Povera. In the eighties, with the democratic upsurge, artists from the eighties generation reintroduced the picto-rial action as a weapon of seduction and enchantment, producing images of great formal substance and chro-matic intensity, making the Brazilian urban routine its main theme. Rob-inson Antônio de Oliveira is a direct heir of this artistic tendency; he un-derstands the world and recreates it through baroque lenses, without fearing the allegories and believing in the power of decorations.

Each and every painting by the art-ist seeks to enchant and to lure the spectator. There are no spaces for silence, for extensive flat, empty areas; the relationship painting/background is reworked by Robin-son without fearing comparisons to

masters (often forgotten) of Brazil-ian art such as Rodolfo Amoedo and Antônio Parreiras. Among the Bra-zilian artists of the last century, he finds shelter in the few who denied the constructivist imposition such as Djanira, Bonadei and, later, Gerch-man e Granato. Sensuality insinu-ates itself in a discrete way; the artist finds in Gustav Klimt his identifica-tion. Personalities from our artistic and cultural world are seen time and again trough the sensible eyes of the artist. Thus, in the same series, Arthur Bispo do Rosário and Frida Kahlo harmoniously cohabit with Amy Winehouse, Madonna and Lady Gaga, all united in paintings of large dimensions that make the eyes act as though they were in a carnival party, running over and spotting the spectacular images that Robinson, régisseur of this great contemporary opera, seeks in each painting that he masterfully, sensually and passion-ately elaborates.

Rio de Janeiro. February, 2012.

Tudo existe porque foi pintado à feição de laranja mágicanão para aplacar a sede dos companheiros,principalmente para aguçá-laaté o limite do sentimento da terra domicílio do homem.

Entre o sonho e o cafezalentre guerra e pazentre mártires, ofendidos,músicos, jangadas, pandorgas,entre os roceiros mecanizados de Israela memória de Giotto e o aroma primeiro do Brasilentre o amor e o ofícioeis que a mão decide:todos os meninos, ainda os mais desgraçados,sejam vertiginosamente felizescomo feliz é o retratomúltiplo verde-róseo em duas geraçõesda criança que balança como flor no cosmoe torna humilde, serviçal e doméstica a mão excedenteem seu poder de encantação.

Agora há uma verdade sem angústiamesmo no estar-angustiado.O que era dor é flor, conhecimentoplástico do mundo.E por assim haver disposto o essencial,deixando o resto aos doutores de Bizâncio,bruscamente se calae voa para nunca-mais a mão infinitaa mão-de-olhos-azuis de Cândido Portinari.

(De Lição de coisas)

ThE woRLd CRisis aNd ThE dEFENsE oF ThE BRaziLiaN sovEREiGN

Renato Guimarães

At the beginning of 2012, primarily in the Middle East, but with a pos-sibility of spreading to other conti-nents, the world lives a moment of grave danger, that threatens to de-

velop into wars and large scale de-struction. It can also result in great damage to our country, but it can also open valuable opportunities of economic and institutional devel-opment that favor and beg popular mobilization in the defense of de-mocracy and national interests.

I – In the last decades, especially after the extinction of the Soviet Union, a powerful right wing offensive opened the way to an apparently de-finitive victory of the capitalistic sys-tem captained by American imperi-alism, which pretended to be global-ized. This offensive deeply affected intellectuals and activists of former left wing movements and political parties. To a great extent, they were absorbed by one of two ideologies that, through different approaches, incorporated the ideas of the capital-ist victory. One side directly adhered to the neo-liberal ideology, which at-tributed to the market the exclusive power to preside over economic, social and political issues. Another group, also numerous, gave in to the illusion of the victory of capital, but did that in many ideological con-structions, with a left wing rhetoric that accepts and spreads basic ideas of neo-liberalism, such as the world empire, the inevitable prevalence of the market, the bankruptcy of the concept of State and, consequently, of the concept of national sover-eignty, the end of organized political

Page 39: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

7574

fight of workers, the transformation of these workers into “mobs”, etc.

This right wing offensive intensified after the terrorist attacks of 9/11 in the United States. In a singular ex-tension of the classic concept in which “sovereign is the one who decides over the State of exception”, the government of that country, after putting, to a certain extent, its own people under this state – to the point of actually submitting to a regime similar to the AI 5, which suffocated Brazil during the 1970s – followed a clear and arrogant policy of pro-jecting its national sovereignty over the entire world and of exporting the state of exception to any country where, to its own criteria, its inter-ests required. It arrogated the right to ignore national borders and in-ternational institutions to initiate, in whichever place on Earth, any type of military operations, be it large scale with invasions and bombings or small scale with overt or covert persecution of civilians under its suspicion, whom, if it does not as-sassinate, it kidnaps and submits to the status of prisoner of war, without any kind of legal rights.

The expansionist offensive of the United States and its allies, specially old colonialists powers from Eu-rope, with the main goal of taking possession of the oil of the Arabs, but shielded under a humanitarian

banner, awakened natural revolt and resistance in the world and, primar-ily, among the attacked people. At the same time, it contributed to the increase in oil prices, as well as other economic and political changes in the world, which enormously in-creased the costs for the aggressor, who was already overloaded by the increase in its costs with military personnel, both by the increase in current equipment prices and by the fact that it could no longer count on mandatory enlistment and was limited to recruiting mercenaries, whose operational costs grew in a geometric scale. This way, the of-fensive compromised the economic, military and political resources of this superpower to a degree much greater than previously anticipated by its government. It found itself un-able to put into action, in a fulmi-nating and unassailable manner, its self-proclaimed strategy for world domination. The rapid growth of other powers, particularly China, but also Russia, India, Brazil, not to mention Germany and other Euro-pean countries, presented new and bigger obstacles to this strategy of limitless power of the United States. Without losing its arrogant attitude, still having large reserves available and exhibiting an aggressiveness that characterizes the behavior of a cornered beast, the government in Washington gradually descended into a situation of economic, politi-

cal and military difficulty, while the world’s awareness of the vile char-acter of American imperialism and of the necessity for resistance grew stronger.

II – The rejection to American ar-rogance and the disposition to op-pose, demonstrated, with growing force, in the entire world, showed, once again, the importance of the national factor in the political fight. The Nation-States, instead of disap-pearing, came back to the scene even stronger. The defense of the national interest in face of external domina-tion or aggression, which has been the main engine for popular mobili-zations in revolutionary movements since the fight for independence in the United States, and that constant-ly resurfaces in many forms, dur-ing the French Revolution, the Paris Commune, the Russian Revolution, the Chinese Revolution, the Cuban Revolution, is again a key factor for the civic conscience to present itself as a force of transformation, in order to push forward movements that, in the beginning, are limited to patri-otic goals, but tend to develop into democratic achievements of great-er social scope. This reemergence of the national factor at the center of the political action is a reality throughout the world, particularly in Palestine and the Middle East, but also in Asia and in Africa and even in Europe. It is, however, in South

America where it finds its most sin-gular manifestation and where it matters most to Brazilians.

III – Echoing the classic assertive that revolution chooses the weakest link of the chain to implode, the iso-lated and less relevant condition of South America in the context of the great conflicts in which the United States took part, left this country unable to intervene in what it tra-ditionally views as its “backyard”. This seems to have contributed to the people of the region noticing an opportunity to avenge humiliations and misfortunes that, for decades, were imposed by the imperialistic politics of Washington.

In 1998, Hugo Chávez is elected president of Venezuela, with a po-litical platform clearly anti-impe-rialistic and, as a surprise to many, with the firm intention of fulfilling his promises. In 2002, Lula da Silva is elected president of Brazil, who kept the neo-liberal economic pol-icy of his predecessors during his first term, but altered it, although very gradually, on his second term, to benefit the acceleration of the economic development, and adopt-ed policies that help the poorer seg-ments of the population, strength-ening the internal market; he also adopted a foreign policy of greater approximation to Latin America and other powers aside from the United

States, while maintaining friendly relations with this country. In 2003, Argentina elects, as its president, Néstor Kirchner, who courageously confronted international groups to free his country from an abusive and unaffordable external debt, estab-lishing the conditions needed to put the neighbor nation on a path of au-to-sustainable development that, to this day, proceeds in full swing, now under the presidency of Cristina Fernandes Kirchner, on her second term. The subsequent elections of Evo Morales, in Bolivia, Rafael Cor-rea, in Ecuador, Fernando Lugo, in Paraguay, José Mujica, in Uruguay, and Ollanta Humala, in Peru, give greater strength to the tendency of expansion, within South America, of governments engaged in achiev-ing sovereign expression and full economic, cultural and social devel-opment for their nations.

This tendency, although striking and clear, is definitely neither unani-mous nor unbeatable. Opposing it, in each country, are strong internal right wing groups aligned with the United States that act orchestrated on an international scale and domi-nate the media, banks and important sectors of the local business. With financial, political and military sup-port from the United States and oth-er smaller imperialistic countries, as well as from their respective espio-nage agencies and covert operations,

from NGOs financed by companies and imperialistic governments, from secret societies such as Opus Dei, etc, these right wing sectors lead, in each country, relentless campaigns through the majority of the larger media stations. These campaigns as-sume the characteristics of a schem-ing political party, whose goal is to prevent the election of politicians who are committed to national in-terests and, when this cannot be done, they try in every possible way to threaten and control this elected politicians in order to, if at all pos-sible and convenient to them, over-throw these officials. It is what we see every day, in Venezuela, in Bra-zil, in Argentina, everywhere.

IV – There is, however, in this pro-cess of national and democratic ascension in South America a sin-gularity that gives it power of sus-tainability: it develops under the rig-orous observation of the norms of the American model of democratic regimes, which presupposes the media to be subordinated to banks and others big private sponsors and the elections subjected to extremely costly publicity campaigns, funded by donations from wealthy com-panies. The victory and the perma-nence of governments that do not please right wing sectors, in such adverse conditions, became possible due to a sudden and auspicious in-crease of the political sagacity of the

Page 40: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

7776

lower classes. They continue to be amazed by the consumerist propa-ganda on TV, but learned to discern it from the speech of large media companies when choosing their government. This way, the power to take over and to overthrow govern-ments that the great media exhib-ited in past decades has weakened. New conditions that favor and de-mand the recovery of progressive groups and their intervention in the political scene are therefore cre-ated. On the international arena, the fight against the politics of endless wars of American imperialism and its associates, who are preparing a large scale aggression of unfore-seeable consequences to Syria and Iran, is the goal that pushes every-one forward. In South America, and particularly in Brazil, the fight in defense of national interests, the preservation and the strengthening of the democratic regime, the sover-eignty and the cohesion of the States of the region is the guideline that, if fulfilled, will enable the mobiliza-tion of forces capable of winning the strong right wing coalitions and will assure the economic, political and social development of our people and nations.

V – There are no specific formulas or charted roads for this fight. The events experienced by other people, in the past or in the present, serve as lessons and inspiration, but not as

models. The originality and the va-riety of solutions that life generates in South American countries are too fecund. In common, there is the condition amongst them that they are captained by leaders who are not from the dominant classes, who were able to perceive and capitalize on the desire for change demonstrated by the poorer classes and the distrust they had in the political parties and institutions that were dictating their political lives. This dependency on personal leaderships is, at the same time, positive because it facilitates the participation of the people in the po-litical process, and negative because this process depends on the personal choices and limitations of the leader. But the necessity to appeal to popu-lar mobilization, since the powerful forces that threaten him manipulate the big communication companies and the formal political institutions, instigate the leader to stimulate the gestation of new forms of popular organization for political combat and even for armed resistance. It is worth noticing, on this subject, especially in Venezuela, Bolivia and Ecuador, the ascension of homeowners associ-ations that form community councils in proletarian neighborhoods and, at the same time, defend the immedi-ate interests of the local population, have active presence in the resistance against right wing coups and pres-sure in favor of the development of democracy.

VI – In Brazil, the organized move-ment of the lower classes is still weak. During the last period of the military dictatorship, it recovered a bit from the defeat it had suffered, but it lost strength later. The Lula administration reflected this feeble-ness. Contradictorily, he kept an economic policy in which the neo liberalism still lives, but adopted measures that favored the buying power of the poorer levels of the population and developed a foreign policy of relative autonomy in re-lation to the United States, one of approximation to countries of the South and, especially, one that sup-ports South American governments that are threatened by the alliance between internal right wing forces and the United States government. President Dilma Rousseff, elected thanks to Lula‘s support, maintains this guideline in the overall context.

For his policies that favored the poorer and the sovereignty of the South American people, President Lula was the target of a constant and unrelenting hostile campaign by the media. To defend himself he used, almost exclusively, his personal pop-ularity. This made him vulnerable to pressures and caused him to make political concessions onerous to the public interest, aside from limiting his possibilities of development and risking the preservation of the posi-tive aspects of his administration.

This situation, in general, is the same with Dilma Rousseff.

Thus, there is an urgent necessity for expansion of a public conscience in defense of the democratic and sov-ereign development of the country, in its economy, its political and so-cial organization, its culture. The bigger this conscience, the stronger the government will be to resist the right wing aggressions and, at the same time, the greater the pressure of the mass movements will be for the government to make its policies more coherent with the interests of the country and of society.

A list of propositions on this subject will definitely include: 1) the effec-tive acceleration of the economic development of the country; 2) the subordination of the banking and financial systems to this develop-ment; 3) the possession of the natu-ral resources of the country and, to the extent possible, the recovery of the companies and public resources that were strategically dilapidated; 4) the implementation of a land reform that penalizes unproductive large properties and benefits the produc-tive small and medium sized proper-ties; 5) the allocation of larger bud-gets to health and education public policies; 6) the change of the current policy of violent repression against the poorer classes of the popula-tion, especially the non-whites, for a

democratic policy of public security; 7) the reinforcement of the public control of concessions for commu-nication channels to private groups and other measures that enable the strengthening of the democratic regime; 8) the renovation of equip-ment employed by the Armed Forc-es and the allocation of the necessary resources for the efficient defense of the national territory; 9) the inten-sification and the consolidation of the foreign policy of Latin America unity – essential for the preservation of the progressive governments in the region –, of respect to the sov-ereignty of the States, and of cordial relations with all the people and de-fense of the peace.

Many are the goals that challenge us, whose attainment require all the ingenuity and strength capable of uniting the progressive groups of our country, with a sense of strategy and a spirit of transformation. Peo-ple and government need to mobi-lize their reserves of patriotism and civic duty so that Brazil may take advantage of the great opportunity that it has today of affirming itself in a short period of time as a powerful nation, sovereign, projected in the world scene and consolidated in its role as the foundation and the leader for the democratic, pacific and pro-gressive processes of national recon-struction that are under way in Latin America.

ThE BaRoN’s FoRTUNE

Luiz Otávio Barreto Leite

Trying to be the smart one, Cardoso left his classy umbrella on the hanger of the restaurant, which was a small distance from the table where he was sitting, with the following card: “This umbrella belongs to the national box-ing champion.”

After he finished his lunch, he went to get his umbrella, but he found only another card: “The national boxing champion’s umbrella has been taken by the national running champion.”

Short stories like this one, or others a little bit longer but equally geared to-wards analyzing human behavior and customs, phrases full of irony (filled with provoking maxims and apho-risms), funny advertisements were all continuously published from 1926 to1952, aside from some interrup-tions, in the newspaper “A Manha”. Their author, the newsman from Rio Grande do Sul, Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (1895-1971), adopted the irreverent pseudonym of Baron of Itararé and can be consid-ered the pioneer of alternative jour-nalism in Brazil.

He himself elaborated the passages that came to life in that periodic, paginated them, did the layout, and also worked as the director. He dealt with his personal tribulations (perse-cutions, prison and the loss of loved

Page 41: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

7978

ones) and political life in the most memorable way. He stood out as a member of the PCB (Brazilian Com-munist Party), a relentless critic of the authoritarian regime (“The Es-tado Novo – meaning New State – is the state that we have come to”) and elected as city councilor in 1946 by this party; his term was terminated, along with the annulment of the reg-istration of this entity, almost a year later. Not less remarkable was the way in which he confronted the fury of the censorship police, and simulta-neously reminded those who sought his paper of the opportunity to col-laborate with an advertisement, en-graving this phrase on the entrance door of the “A Manha” director’s of-fice: “Enter without knocking, but do not enter without advertising”.

Torelly refined his satirical vein in his almanacs*; in them, this Mar-shal-Admiral and Brigadier of air conditioning exhibited not the puri-ty (aristocratic) of the blood, but the nobility of the mocking spirit:

“The liver is very bad to the alcohol.”

“Women of a certain age are never the right age.”

“The first eviction action was the expulsion of Adam and Eve from Paradise due to not paying rent and disrespectful behavior.”

“Television is the biggest wonder of science in service of human stupidity.”

The Baron of Itararé inaugurated a new lineage of humorists in Brazil, to which one can possibly associate names such as Stanislaw Ponte Preta (his partner at Folha do Povo), Mil-lôr Fernandes and Luís Fernando Veríssimo. His inimitable political humor reveals itself deeply congru-ent with his lucidity and coherence – which were manifested as soon as he could perceive the progressive turn in President Vargas administra-tion, and when he did not hesitate to obliterate the critics at UDN: “The sad thing is not to change ideas; the sad thing is to not have ideas to change.” His critical perception of the political reality of the country appears surprisingly fresh.

“Amnesty is an act with which the government decides to generously forgive the injustices and crimes that it has committed.”

“The moral standards of politicians are like elevators: they go up and down, but, in general, they get stuck because of power failure, or defini-tively do not work, leaving the un-fortunate ones who trust them in a desperate state.”

“The government’s mistake is not the lack of persistence, but the per-sistence in the mistake.”

It stands out in Torelly’s production the narratives to which the author grants, in an ironic way, an etiologic value. In other words: they explain to

ThE iNTaNGiBLE CosT oF EURoPEaN FaiLURE

José Luís Fiori

“If it were possible to rank dreams, the creation of the European Union would be among one of the most im-portant of the 20th century. After a millennium of continuous wars, the European States decided to give up their national sovereignties to create an economic and political communi-ty, inclusive, pacific, and harmonious, without borders, without discrimina-tion and without hegemonies. It was a true miracle for a continent that be-came the center of the world thanks to its capacity to expand and dominate other people, generally in a violent and often predatory manner.”

JLF: “The bells are tolling”, Valor Econômico, June, 2008

us, similarly to myths and old popu-lar tales, the origin of some phenom-enon, of a word or common expres-sion (such as “crocodile tears”) or of a noteworthy fact. This can be, under the humoristic prism of the Baron, the entrance of the first lawyer into heaven… The (unknown) genesis of the word larápio (a thief), for ex-ample, would go back to the popular abbreviation for the name of an illus-trious Roman consul from Cyrenaica, deeply engaged in “mistaking other people’s possessions for his own”:

L [ucius]A [marus]R [ufus]A PIUS. Thanks to the studies of Mikhail Bakhtin, we started to recognize, in the parody, the main artistic-literary process of carnivalization. This is present in the Baron’s writings, espe-cially when he “dethrones” maxims, proverbs and adages:

“The Deputy eats the corn, and the parrot is the one who takes the blame.”

“Union gives us strength, but even then we should not add so much wa-ter to the milk.”

“God gives a sieve to those who do not have flour.”

“God gives a comb to those who have no hair.”

This is one way of how our humor-ist can express certain fidelity to this common background that is popular culture.

Implacable critic of the oppositionist newspapers of Assis Chateaubriand and Carlos Lacerda, impassionate advocate of the alternative media, To-relly earned the admiration of many writers and intellectuals of our coun-try, especially those of left-wing polit-ical orientation. From 1955 to 1958, Moacyr Werneck de Castro and Jorge Amado published, with the generous support of Oscar Niemeyer, the Para-todos: a bi-monthly publication about Brazilian culture, in which the old Baron participated with selected writ-ings from A Manha. Very recently, the Centro de Estudos da Mídia Alterna-tiva “Barão de Itararé” was created. Leandro Konder, in turn, published, in 2007, in a collective work entitled A formação das tradições (1889-1945) under the printing stamp of Ed. Civi-lização Brasileira, an exciting essay about this magnificent writer, prais-ing his combativeness and critical sharpness.

According to Walter Benjamin’s point of view, misled are those who, while engaged in investigating the literary and political past, deprive themselves of the best, limit them-selves to making an inventory of the findings and fail to “assimilate in the world of today the place in which the old is preserved”. And this space-

time must comprehend the perma-nent preoccupations of the Baron of Itararé: the necessity for the democ-ratization of communication chan-nels, the urgency to harmonize eth-ics and politics in the administration of a country, the defense of national sovereignty, the unrelenting search for a world that is fairer and more compassionate.

* The first one, given to the public in 1949 (1st semes-ter), and the ones from 1955 (corresponding to the 1st and 2nd semesters) were, in recent years, objects of per-fect reprinting, under the care of Sergio Luís Papi.

The signs of dissolution are becoming more evident and more frequent, and there is no doubt left that the “Euro-pean unification” process has entered a dead end. It is all but certain that Greece will default, and the rupture of the Euro zone is ever more likely, which would have a chain effect of great proportion inside and out of the Old Continent. At the same time, France and England’s victory in Libya increased the division and deepened the German schism in NATO. On the other hand, the conservative Eu-ropean governments are in free-fall, and their social-democratic alterna-tive does not have any ideological identity. Intellectuals are bumping their heads and the youth is aimlessly searching for new paths. The Euro-pean unification ideal is becoming weaker among the elites, and among societies in which violence and xeno-phobia are disseminated. The Euro-pean failure seems imminent.

In all of this, it stands out that the de-velopment of the announced catas-trophe is being followed by a clearer and more consensual conscience about the ultimate causes, economic and political, of the European im-potence. On the economic side of things, everybody recognizes the lack of an European Treasure with the unified capacity to tax and to sell bonds, along with a Central Bank ca-pable of acting as a lender of last re-sort in all markets, thus guaranteeing the liquidity of the current national

Page 42: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

8180

sovereign bonds which should be extinct and replaced by a single uni-fied public bond for the whole Euro-zone. And nearly everybody recog-nizes the impossibility of a sovereign currency and an efficient Central Bank without a State that can con-fer them credibility and real action power, particularly during crises – a role that, at this time, could only be played by Germany, who does not want to or cannot do it, or by a cen-tral State that no one recognizes.

Mostly in the same way, on a politi-cal point of view, the increase of Eu-rope’s fragility and fragmentation is being attributed, almost consensu-ally by specialists, to the end of the Cold War and the unification of Ger-many, along with the uncontrolled growth of the European Union and NATO, which morphed from their origins of being defensive projects to their present day condition of in-struments for territorial conquest and expansion of the military and economic influences of the West in-side of East Europe and now also of Central Asia and North Africa. The European Union and NATO expan-sion in all directions increased its social and national differences and reduced the degree of homogeneity, identity and solidarity that existed at the beginning of the integration process, when it was safeguarded by the United States and had a common enemy: The Soviet Union.

Now, at a time when analysts of the European crisis are dedicated to forecasting future scenarios, nearly everyone is calculating the size of the tragedy in strictly economic terms, in billions or trillions of Eu-ros. And yet, people barely speak about the intangible costs of the Eu-ropean failure on the field of ideas, values, and the great dreams and symbols that move humanity. A true atomic impact on two fundamental pillars of modern thinking: the be-lief in the contractual viability of a global government or governance; and the wage on the cosmopolitan possibility of a federation or confed-eration of pacific, harmonious re-publics, without borders or national egotism. Two European ideas, con-ceived in an extremely competitive and bellicose continent, but which were mostly responsible for the cre-ation and the globalization of the system of modern national States and capitalism itself. Now, Europe-ans are experiencing the real impos-sibility of their utopias, trying to build a cosmopolitan and contrac-tual government from extremely unequal, in terms of wealth and power, national States.

The grave and irremediable problem is that the bankruptcy of the “con-tractualism” and the “cosmopolit-ism” leaves Europeans without any other collective dream or utopia. Within a few decades, at the end of the 20th century, they buried their

REmEmBERiNG ThE CaRNivaL

Oscar Niemeyer

Rio’s carnival, how things have changed! I remember, as a little boy, that it was on the corner of Laranjei-ras street where we saw the carnival groups parading, all dressed as In-dians – some more organized than others, such as the one from Fábrica Aliança.

Sometimes, our dad would take us to watch the car parade at the entrance hall of the Clube de Engenharia at Rio Branco Avenue, and there we stayed, perched on sitting bench-es, prohibited from going into the street, following the spectacle. I re-member that one night, an old man standing in front of us was trying to light up his cigar, and I, inadvertent-ly, tried to put it out with a popper. And the fire went up the man’s face, who, furiously, with a cane in his hand, got closer to the bench where we were and asked: “Who did this?”. And it was then, as it often happens, that generosity disappeared, and an

socialism, and now, at the beginning of the 21st century, they are throwing away their “liberal cosmopolitism”. And they are leaving the remaining world systems without the compass of its creator, because the system will go on, but its European “software” is losing energy and burning out.

September, 2011.

outraged old lady intervened point-ing at me: “It was that boy over there. I was not going to say anything, but he is laughing.”

After I got married, I never thought about Carnival anymore, when, to my surprise, I was asked by Brizola to design the sambadrome of Rio de Janeiro. An adventure which I fondly remember, because of the decisiveness with which him and Darcy Ribeiro kept the project going against all types of objections. – that we would not have enough time to build the sambadrome, that the rain season would be another unbeatable obstacle, and they even appealed to a stream, which people thought to ran underneath the stands. But Brizola and Darcy did not care about such provocations, and the sambadrome opened on the planned date.

During the three months that the construction lasted, I visited it many times, accompanied by Darcy and José Carlos Sussekind, who was re-sponsible for the structure, and, even though we had an impeding dead-line ahead of us, Darcy did not tire of proposing new solutions. “Let’s build classrooms underneath the stands?” – he suggested one day. And there it is the little school which he imag-ined and that perplexed the Mayor of Paris: “I have never seen anything like it” – he used to say excitedly. I remember, with the construction almost finished, Darcy asking me:

“Oscar, do something to mark the sambadrome.” And then I designed an arch that was built in the Apo-theosis Square, and was enthusiasti-cally received by Brizola and Darcy. And on which, years later, César Maia decided to hang another one of the countless advertisements that he had been spreading throughout the city about his administration –even though the place had been con-structed by Brizola and had been de-clared a national historic landmark.

I asked him to remove them. He did not listen to me, but, later, after I pleaded with the SPHAN, this odd politician was obligated to defini-tively remove them.

Well. I always felt that it is during big popular events that words of or-der must be heard, bringing to its participants the protests against all that translates into social injustice or offense to our sovereignty. And I re-gret that this does not happen more frequently, as a response to this state of misery and oppression in which we live.

Many years ago, I remember well, I was alone in a hotel in Brasilia and I was watching the parade of the samba school São Clemente on the TV. To my surprise, the theme was “the homeless kid in this world of illusion”. And I kept listening to the song, sad, remembering the misery that still persists in our country, the

poorer children wandering on the streets, sleeping on the sidewalks, while others, in a much smaller number, enjoy all the privileges that money can buy.

I had just turned off the TV, when a friend called me. I told her about the parade and she interrupted me: “Oscar, do not cry.” It is obvious that I was not crying, although – who knows – I was close to. It was not just the misery that bothered me, but this immense injustice that we need to eliminate.

All of this explains the enthusiasm with which I watched, years later, the parade of the samba school Unidos de Vila Isabel in the sambadrome. It was the concretization of the idea that always accompanied me, taking to popular parties our most urgent pleads. This time, the theme was the defense of the unity and the integra-tion of the people that compose Latin America. There could not have been a more passionate topic at this mo-ment in which we see this continent so threatened. And I felt that the cam-paign for the defense of Latin Amer-ica had reached a new level, clearer and more vigorous- as the surprising and courageous political stance of Chavez already demonstrated.

And Vila Isabel’s parade contin-ued with the monumental statue of Simón Bolivar, reminding us that things repeat themselves, that the

Page 43: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

8382

TO LEONEL BRIzOLA, wE mISS yOu dEaRLY

José Carlos Sussekind

To use the old adage, it feels like it was yesterday, but almost 30 years have gone by since, through the friendly hand of Oscar Niemeyer and, also, through the hand of Darcy Ribeiro, I was brought before with then-governor Brizola for a talk, be-tween the four of us, about the idea of building a Sambadrome. I had never been with him before.

At the meeting, Oscar already had the sketch of what, about four months later, would be completed; I remember the question – straight and direct – by the governor: “Can it really be done before the Carnaval?” And my answer, stating that some-thing of similar scale had, perhaps, never been done in so little time, but that, in my opinion, it could be done.

Thus began an unforgettable adven-ture: 110 days after the decision by the governor, the work was com-pleted, one week before the dead-line. In this short period of time, we had bid for the construction, hired workers and suppliers, developed the projects (which would go to the construction site straight from our drawing boards) and, in parallel, an-swered to a fair share of the media who declared that “it would not be ready”, then that “it was going to col-lapse” and again that “the acoustic would be terrible”, and so on.

There was such a negative reaction to it that I was forced to have an antici-pated weight test, loading the stands with barrels full of water, in order to attest to their security and resistance in the court of public opinion.

On opening day, already with the samba schools parading, what was, in reality, a joint designed into the project which, therefore, should be present in the construction, was in-

political reorganization of Latin America is urgent, that we are still threatened by United States imperi-alism.

I had little knowledge about that ex-traordinary figure… published ar-ticles, political conversations at the office, specially the book by García Márquez The General in his Laby-rinth. The topic attracted me, and I searched in the encyclopedia – the encyclopedia that Sartre used to read like a novel –, and there it was, the story of this Venezuelan hero, all made of courage and generosity.

And I was touched to see how the people from Rio de Janeiro partici-pated in all of that with a special en-thusiasm, identifying themselves with the political fight that we feel growing inside our hearts.

terpreted to be an extremely dan-gerous crack in the columns, posing an immediate risk to the construc-tion… I recall the – elegant, tender, gentle – figure of D. Neusa Brizola, with a terrified look on her face, telling me that “Leonel” was urgent-ly looking for me, since people were suggesting an evacuation of part of the stands in the middle of the pa-rade. How happy we smiled and cel-ebrated together the inexistence of the problem and the success of the project, when I explained that the “crack” was, simply, an expansion joint.

Thus, it seemed to me a natural con-sequence that, with the same team and the same administration sys-tem, less than a year later, we were put in charge of the Cieps program – the schools for the day-long care of children – the most repeated project (perhaps more than 500 repetitions) of our history. On the pedagogical and structural side of things, there is nothing else to add to what ev-eryone already knows. Today, after three decades, what attracts me the most in the Cieps, however, is its practically psychological genesis – in a way reminding me of the toy metaphor highlighted in the movie Citizen Kane – in Brizola’s mind. He told me, only once, that, when he was a little kid and very, very poor, he would be amazed by look-ing at, from outside the fences, the

“English school” of (I believe) Passo Fundo, with its three “imposing” buildings: the classroom building, the library and the indoor gymna-sium. He gave, half a century later, to the children, poor like he had once been, the school he dreamt of attending, but whose fences he could not cross. This is of such an uncommon beauty, showing Brizola on a level of humanity and emotion perceived and shared by very few.

After the Cieps, it was time for the Linha Vermelha, of which I was put in charge, directly in contact with the governor, strengthening our personal relationship and allowing me to witness his honorability and loyalty, including the dignity with which he led his personal and family life and the coherency of his political attitudes, independently of agreeing or not with him.

He would have been 90 years old this past January, one of the last few great titans of our politics; thus, it is inevi-table not to remember all of these things with special emotion, having had such close and intense contact that transformed our strictly pro-fessional relationship into a bond of affectionate esteem. And, to dearly miss the countless times in which I visited him, after he had left office, and the fascinating and instigating talks we had the habit of having. In-deed, I dearly miss this.

Brizola was a man, much like Darcy, much like Oscar, whose soul was never for sale: he chose to lose presi-dential elections that would crown his singular career rather than, like a chameleon, spit on his own history and convictions to say what, given the circumstances of the time, would be the most palatable and pleasing to the majority of ears. Although he was not the author of the phrase, I believe that Brizola would conclude identically to Darcy Ribeiro: “I failed in the majority of proposals I de-fended. But the failures are my vic-tories. I would hate to be in the place of those who bested me”.

viNiCiUs FoREvER: TEsTimoNY To REGiNa zaPPa

Chico Buarque

I remember him laughing all of the time, his entire body laughing.

Even when he was still a little kid, Chico Buarque was already fascinat-ed by Vinicius. A friend to his dad, Sérgio Buarque de Hollanda, the poet used to visit the home of the Buarque de Hollanda family in São Paulo, then, later, in Rome, where they lived for two years, when Chico was seven years old. Then, again, in São Paulo. The soirees during this second time in São Paulo, which combined mu-sic and conversation late through the night, enthralled a young Chico, who

discovered the revolutionary beat of the bossa nova through the song Chega de saudade, composed by Vinicius and Tom Jobim. But, to Chi-co, the importance of Vinicius tran-scended his work. One of his main contributions, not only to Chico, but to all composers of Brazilian popular music, was to show that the work of a lyricist also is an important mani-festation of Brazilian culture, and not a lesser poetry. “Till then, this idea of a lyricist poet was seen as a lesser craft.” Because of him, song lyrics gained the status of poetry. Vinicius consolidated the idea that in cre-ation, everything is grand. Chico has the fondest memories of Vinicius.

Regina Zappa

“I remember Vinicius in Rome. He was there on a cultural mission for the Itamarati, he stayed in a hotel and sometimes came to our house. On these nights, we used to say: “Vinicius is coming today”. The whole house vibrated, we brought out the whisky, prepared the snacks, my mom was happy, my dad was happy. Miúcha had a guitar that was named Vinicius. Those were extraor-dinary nights, I did not understand much what was happening, but I un-derstood that Vinicius was a person who made music and that I knew a real flesh and blood composer. There were times in which he would take the guitar and I would become fas-

Page 44: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

8584

cinated because there was a friend of my dad who made music.

“A friend of my dad who made mu-sic was almost a free pass for me to make music. At that time, to make music was frowned upon, but if a friend of my dad did it… In the fifties, Vinicius was already a re-nowned poet. To him, it should not be easy to sing, play the guitar, enjoy Pixinguinha, adore Ismael Silva, all these samba people. At that time, for him to say that he was the blackest white man in Brazil was almost an offense.”

“In order to write song lyrics, those kinds of lyrics, one had to be a musi-cian. Vinicius was. He had an amaz-ing musical ear. His poetry, even his non-lyrical poetry, the written po-etry, is musical, can be turned into music. I think that there would be no bossa nova without Vinicius’ poetry. When bossa nova appeared, I was 14, 15 years old, and that caught me. It was very modern music and had the advantage of being Brazilian. I listened to Chega de saudade and I said: “Dad, can I have some money to buy Vinicius’ record.”

“When Vinicius opted for popular music, he was breaking up with a lot of things and with many friends. People started to find it amusing, to make fun, thinking that he was jok-ing. But Vinicius’ generation was

a literary one, and literature was above everything else for them, es-pecially above popular music and movies, things that Vinicius loved. They thought that Vinicius’ antics were funny, but then it stopped be-ing an antic. People mocked. They were jealous, not to say envious, of his relationship with these arts and the humane dimension that he gave to poetry.”

“I gradually grew closer to him. I was changing from a fan, that goofy one, to a friend. Because when I was with Vinicius I got giddy. Then I started showing him my things. He encour-aged me, he used to say: “Show me that samba that you made”. Vinicius always supported me. I did not have many concerts with him, only a few outside of Brazil, in Argentina and Portugal. Vinicius felt comfortable on the stage. He felt as though he was at home, drinking his whisky, chatting with the public. Better yet, he liked to have friends on the stage and then he would stay there just chatting.

“One time, in Portugal, still during Salazar’s government, he finished a show in which he had told many stories and recited poems. People adored him. And those young peo-ple living through the dictatorship. But when the show ended, a success, he said that he wanted to thank that “Portuguese youth”. The crowd that

was clapping became uneasy and then they started booing. He did not understand why. Later, someone explained that people could not say “Portuguese youth” because it was a type of a youth fascist group in Por-tugal.”

“Vinicius was incredibly generous. And a little jealous too. He used to say: “Well, make the music that you have to with your little partner”. When I paired with Tom in Retrato em branco e preto, I think he got a little green with envy. In a way, I suc-ceeded Vinicius in partnerships with Tom. Vinicius only made music and chose his partners by affinity. There was not the slightest chance of Vini-cius entering a scheme of profes-sional partnerships.”

“Vinicius liked to be around people from different crowds, not only mu-sicians. He liked painters – I remem-ber him saying “Chiquinho come see Scliar, Ivan. His home was a kind of open house, all the time, everybody gathered there. People from the most varied tribes, photographers, musicians, people from the theater and the movies.”

“Vinicius was afraid of elevators. Every time he left an apartment, he asked me to wait by the little window on the door until he reached the first floor. Then, I had to ask from above: “Are you there?”

“His search for the great love could often seems as an option simply for pleasure. But it was an option that took its toll. He suffered greatly when the love ended. Friendship was also really important, it was sacred, and he suffered when he felt betrayed by a friend. He faced ups and downs in his life and his work.”

“Vinicius was a left wing man, he never hid that. Actually, he did not hide anything, he was an impetuous man. He spoke whatever he thought needed to be said without measur-ing the consequences or possible damages. He was not a man for the Itamarati career. I remember him laughing all of the time, his entire body laughing, shaking complete-ly. He had a delightful laughter, he laughed from the silly things that he and other people would say. He had an easy smile and sometimes he could not stop laughing. Vinicius did not know how to say no.”

“People though that Vinicius was perverted. He was a little bit, but far from what people imagined. It is hard to imagine him today, I do not know where he would be. Because he is the opposite of many things that today are considered a success, such as ostentation. He had something of generous and, sometimes, naive. And a degree of craziness. Today these things do not exist. What exists is a sought after result, an objective,

something pragmatic. Everything that Vinicius was not. So, Vinicius really is missed today, but perhaps he could not be like Vinicius these days. I cannot imagine what would be his place in this country or in this world that we live in.”

ThE mYTh aNd ThE TimE Luiz Alberto Oliveira

Brazilian Center for Physics Research

In ancient times long forgotten, the first humans had certainly already observed that nature is rich of regu-larities: biological, climatic, astro-nomical, etc. The problem was to adjust human actions to this variety of occurrences. Men needed to find a way to describe these natural regu-larities and give them systematic ex-pression through language, and they did this under the form of myths, narratives that tell of the origins of beings and things and the lineages of men. Myths, in fact, are the most ancient sources available to explore how archaic civilizations saw the world. It is though the examination of these recounts that we can com-prehend how space and time were conceived and organized. Thanks to this exam, we observe that there was not a primitive society in which time was not understood from the regu-larities and repetitions perceived in the natural world, consubstanti-ated in the figure of the cycle and

its symbolic representations. In the same way, myths were also the car-riers of spatial notions such as cen-ter, border, surface, frontier, which the first cultures used to categorize the environment in which they lived. Beyond the archeological evidenc-es, the main resource that we have available to probe how our ancestors thought is exactly through the study of myths.

What is, however, the certainty that we can have today in the descriptive capacity of such ancient recounts? The oral capacity of the word to ac-commodate, preserve and trans-mit experiences and information is uniquely notable. For example, in the 13th century of the Common Era (CE), in Ireland, it was compiled in written form a collection of oral legends that were long sung by the famous Irish bards, called Mabino-gion. Among these legends there was an important episode called “The Battle of the Trees”, in which a witch queen and her son have a disagree-ment and start a great war. The be-ings of the world were divided into supporters of the prince and of the queen – including the trees of the forest. The poem enumerates a series of tree couples that were placed in rival armies – the pine tree opposed the oak tree, the Holm oak opposed the willow, etc – forming seven pairs of trees against each other. When Robert Graves, the great English

Page 45: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

8786

thinker, was researching to write his famous work about the Greek myths, he found, in his studies, a fragment of an anthem in honor of Demeter, one of the goddess that presided over the passage from the world of the living to the world of the dead in a cult originated in the sacred region of Delphos, in which there was also the description of a series of paired trees. To Graves’ surprise, although the Hellenic fragment dated back to the 3rd century before the Common Era (BCE) – that is, separated from the compilation of Irish legends by 1.600 years and 3.000 kilometers -, there were only three differences be-tween the two series, relating to trees that grew in Greece and could not be found in Ireland!

Despite this “ecologic” adaptation, the image of the trees opposing their pairs was rigorously the same and, upon further research, Graves discovers that the scheme of tree against tree in fact codified a sacred alphabet of fourteen consonants, used in secret rituals, in which each tree symbolized a letter. However, he was even more amazed when he noticed that each tree flourished, or gave fruits, or lost its leaves, or bloomed, in a specific occasion of the year. Therefore, these fourteen trees also formed a calendar of four-teen months. We then have a poem (or anthem) that tells a legend, codi-fies an alphabet and incarnates a cal-

endar. To Graves it is extraordinary that this alphabet is simultaneously a calendar, because this way word and time merge together, as it happens in magic – and poetry. When a magic spell is pronounced, a certain state of things, a certain moment of be-ings, answers to the inherent power of this invocation. This is, according to Graves, the enchanting power of words, the power of poetry.

What is the most evident functional-ity of a system of collective registers such as this one characterized by the myths? It is the power to correlate distinct natural regularities in such a way that one of them act as a mea-surement for the other, such as hunt-ers do when they relate the periodic migrations of animals to the return of a certain constellation to the sky, converting a celestial cycle into a ref-erence standard for a terrestrial cycle. Observations such as this, accumu-lated in the collective memory and transmitted orally, generation after generation, decisively contributed to the survival and the prosperity of the human species. For millions of years, the repetition of mythical recounts was the way to assure the dissemi-nation of knowledge, preventing the long accumulated observations of our ancestors from being lost in the new generations. In fact, the activity of associating terrestrial occurrences to celestial configurations and reg-istering them in mythical formulas

was so essential to ancient groups of humans that it led to the creation of the first purely conceptual technical object – the calendar.

What is a calendar? It is a device to correlate the records of different ter-restrial cycles. The most evident as-tronomical cycles are the solar ones, that is, the succession of days and nights and the sequence of solstices and equinoxes, which mark the sea-sons of the year. But aside from that, we are affected by another very im-portant cycle, the lunar cycle. Due to its status as a very large, proximate satellite, the influences that the moon exert over the Earth and the living beings are immense – such as in the case of the tides. However, the four-week moon cycle is not commensu-rable with the year-long solar cycle, that is, there is not an exact number of lunations – months of 28 days – that correspond to 365 days. For the ancient civilizations, it was always a great problem trying to adjust the two scales; the Babylonians, for ex-ample, tried to accumulate what was left of their solar year of 360 days in terms of lunations to eventually cre-ate an additional month. Since this period only coincided with an even number of lunations every seven years, it required long observations and a dedicated body of thinkers for the discovery of a practical way of expressing the seasons in terms of lunar phases.

The oldest calendars that we can find are invariably associated with mythical allegories. “Churingas”, for example, are wood or bone shafts in which there are series of regu-lar marks inscribed, which serve as some kind of a portable record of memories, where the spaces rep-resent periods or durations. These inscriptions accomplish a notable achievement, because they translate space into time. Extremely valuable objects, churingas are still used to-day by the aboriginal people of Aus-tralia, be it as provisory receptacles for the soul of an ancestor until its transmission to a newborn, or as a baton to conduct the rhythm of ritu-al songs and dances.

A twenty five thousand year old churinga was found in the country-side of France, in which, along with the usual series of regular inscrip-tions, it exhibited icons, possibly representing a salmon, a seal and a river – although the closest river was dozens of miles away. What was the function of these marks? They contained valuable informa-tion that, in a certain occasion of the year, the salmons would be go-ing up the river to procreate and the seals would follow them – signaling a good opportunity to catch salmon and hunt seals. Thus, this churinga is one of the first evidences of a techni-cal object conceived to amplify our cognitive capacities in the case of

registering occurrences and making predictions, in a way, supplementing the function that mythical narratives fulfilled when recording the regular-ities of nature.

Giorgio de Santillana, a philosopher of Science, after an extensive exami-nation of the mythologies of archaic and current civilization, concluded that there is not a human society that has not codified some astro-nomical regularity in the form of a myth, and thus elaborated some type of calendar. This practice was so extensively utilized that he pro-poses a new definition to our spe-cies: “Men is the animal that looks to the sky”. Si non è vero...

Page 46: Nosso Caminho n°12 - ano 2012

88