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Nota de Esclarecimento Estes artigos de minha autoria, geólogo Alberto Rogério Benedito da Silva, foram escritos e publicados no jornal A Gazeta Mercantil, em Belém, entre 2000 e 2005, exceto aqueles feitos em parceria, cujos nomes encontram-se grafados nos respectivos artigos. Então, têm que ser assim entendidos seus backgrounds. De forma que muitas colocações podem parecer fora do contexto da realidade atual. Obrigado pela compreensão!

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Nota de Esclarecimento

Estes artigos de minha autoria, geólogo Alberto Rogério Benedito da Silva, foram escritos e publicados no jornal A Gazeta Mercantil, em Belém, entre 2000 e 2005, exceto aqueles feitos em parceria, cujos nomes encontram-se grafados nos respectivos artigos. Então, têm que ser assim entendidos seus backgrounds. De forma que muitas colocações podem parecer fora do contexto da realidade atual. Obrigado pela compreensão!

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PLANO BRADY E A CORROSÃO DAS RESERVAS INTERNACIONAIS DE OURO

O Plano Brady que pretende reduzir a dívida dos 39 países mais endividados do mundo em 20% pode ser considerado como uma versão retardada do Plano que o ex-ministro da Fazenda, Bresser Pereira, apresentou ao então Secretário do Tesouro James Baker, considerado, àquela altura, inviável. A base de ambos baseia-se na troca dos atuais títulos da dívida por outros, tudo com o aval do FMI e do BIRD. Sucintamente o Plano Brady gira em torno de cinco tópicos: 1. países credores põem dinheiro no FMI e no Bird. 2. FMI e Bird compram títulos com descontos no mercado, 3. FMI e Bird vendem títulos de países devedores com seus avais, 4. a dívida se torna menor e consegue maior garantia e S. devedores quitam os títulos no prazo pré-estabelecido.

Em sã consciência, não se poderia esperar que qualquer política sob o tacão do FMI e BIRD seja benevolentes para os países do terceiro mundo. Logicamente, que por trás de tudo isso está recheada uma política recessiva, cuja maior chaga deverá ser a remessa de lucro ou o conhecido serviço da dívida. Os primeiros acenos já foram dados, os países têm que ter alguma coisa para dar e rezar por uma cartilha pré-estabelecida. Nesse painel já se enquadraram México e Venezuela, ambos produtores e exportadores de petróleo. 0 México, na ótica dessas instituições, tem um governo novo e está incrementando um amplo plano de reformas econômicas, cujas metais principais são: a privatização de 70% de suas estatais, abertura para o capital estrangeiro, racionalização do câmbio, redução do déficit público, etc. A Venezuela deverá trilhar por caminho semelhante ao do México.

Ao povo brasileiro, apesar das palavras amenizadoras do Dr. William Rogers, advogado do Brasil nas negociações da dívida externa de que o plano precisa ter força para acabar com a transferência de capitais dos devedores para os credores", tem um gap que nos deixa muito vulnerável, é a conversão da dívida em investimentos através de equity swaps.

Os empréstimos swaps foram largamente utilizados nos primeiros anos da presente década pelo então Ministro Delfim Neto, quando houve corrosão de nossas reservas internacionais de ouro, reduzindo-as a míseras 9,5 t, em setembro/83. Operações dessa natureza significam vendas a pronta entrega em ouro, diante de simultâneas compras futuras, implicando na transferência física imediata do metal para o comprador em prazos normalmente de seis meses, renováveis, cabendo ao vendedor o custo operacional, calculado com base na Libor (taxa interbancária de Londres). Por incrível que pareça, a mesma situação de 80/83 se repete, os juros ascendentes, a nível internacional e o fantasma da queda das reservas camuflam-se no Plano Brady. Apenas como informação, após a queda de setembro/83, o Brasil só veio se recuperar em janeiro/86, quando auferiu reservadas da ordem de 97,5t de ouro, alcançando 100 t em março do mesmo ano. O record nacional foi alcançado em 1963, com 253 t. Em dezembro/64, após o golpe dos militares, nossas reservas internacionais de ouro eram de 84 t.

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SUBSOLO RICO COM BOLSÕES DE POBREZA E MISÉRIA

Carlos Alberto Alves

Alberto Rogério B. Silva

Esta é a conclusão que chega qualquer pessoa que percorre a PA-275, estrada que liga a PA-150 às instalações dos Projetos Ferro e Manganês da CVRD em Carajás, cortando os recém-criados municípios de Curionópolis e Parauapebas, sul do Pará. Por paradoxal que pareça, a região é detentora da maior Província Mineral do Planeta - Carajás - que detém 17,7 bilhões de t de ferro de boa qualidade 80 milhões de t de manganês, 80 milhões de t de níquel 96 milhões de m3de granito 11,4 milhões de t quartzo, 1,5 milhão de t de wolframita, 145 milhões de t de bauxita, 18 mil t de estanho e 65 t de ouro, bem como importantes indícios de mineralizações para molibdênio, zinco, prata, etc.

No ano de 1988, a região foi responsável por 21% da produção de ferro do Brasil, 5% da produção de ouro, 40% da produção de manganês; e 7% da produção de cassiterita. Os bens minerais produzidos na região responderam por 58% da produção mineral do Pará que foi de US$ 885 milhões.

As cidades de Eldorado, Curionópolis e Parauapebas, representam aglomerações humanas sem nenhum saneamento ou infraestrutura básica, onde impera a pobreza e a miséria. Em Parauapebas, por exemplo, cerca de 90% das edificações são de madeira, muitas destas representando verdadeiras palafitas. Todas essas cidades surgiram após 1980. O local de Curionópolís era uma simples guarita de beira de estrada. Hoje esse eixo congrega quase meio milhão de pessoas, que representam a herança maldita do que foi Serra Pelada do início dos anos 80. Segundo as palavras do Prefeito de Parauapebas, há, na região, um intenso fluxo migratório, com a massa da população vivendo no desemprego ou subemprego, tudo causado pela força do garimpo de ouro que não fixa a população. Questiona, ainda, o Prefeito, a evasão do ouro dos garimpos e o retorno dos ganhos auferidos com a produção do metal. Serra Pelada, localizada a 35 km ao norte de Curionópolis, após produzir, oficialmente, 41 t de ouro (as estatísticas indicam que a produção real é 2,5 vezes maior) representa o abandono e a miséria, com um agravante, o alto índice de criminalidade. A distribuição de renda questionada pelo Prefeito de Parauapebas, representa uma pirâmide, cujo o ângulo superior é reduzido. Cerca de 90% dos ganhos auferidos com o ouro de Serra Pelada, ficaram nas mãos de 15% da população, que passou pelo garimpo, com a maioria dos investimentos feitos, por essas pessoas, fora do domínio da microrregião. Em valores históricos representaram US$ 680 milhões, 0,6% da atual dívida externa brasileira e somente três vezes superior ao que o atual Prefeito de Marabá necessita para resolver todos os problemas de sua cidade. Para aqueles que tem memória curta, é bom lembrar que muitos profetas do Apocalipse, no ápice da produção do ex-famoso garimpo, apregoavam que o ouro de Serra Pelada pagaria a dívida externa do Brasil.

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Permeando pelo campo tributário, essa região respondeu, em 1988, por 60% do tributo incidente sobre os produtos minerais in natura gerado no Estado do Pará, que somou US$ 20,8 milhões. Em termos de comparação, um dos projetos mínero-metalúrgicos, ora em instalação na área do parque industrial de Marabá, reverterá para o município, no estágio médio de maturação, cerca de US$ 17 milhões em imposto. É calcado nessa vertente que os geólogos paraenses defendem uma maior participação nos efeitos multiplicadores e dinamizadores do Estado, sugerindo aos Constituintes do Pará uma inserção de parte do royalty estabelecido na Constituição Federal que retorne ao Setor Mineral. Também, com a percepção de um futuro mais condigno para aqueles que labutam em regiões onde os dotes naturais foram abençoados, como é o caso de Carajás, é que, pinçando, novamente, a Constituição Federal, os geólogos sugerem que conste da futura Carta Máter do Estado que a organização associativa dos garimpeiros tenha a responsabilidade do Estado, bem como a participação do Ministério Público, levando em conta a projeção do meio ambiente.

Absorvendo tais pontos nas futuras leis estaduais é que antevê-se a não repetição, no futuro, de situações semelhantes às que se observa hoje na região citada, onde a política imediatista de garimpagem empregada, arraigou sequelas profundas, só recuperáveis no longo prazo e com bastante competência administrativa.

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LIXIVIAÇÃO BACTERIANA-. UMA NOVA FRONTEIRA PARA RECUPERAÇÃO DO OURO

Alberto Rogério Benedito da Silva

Ouro, metal amarelo, acompanha o homem ao longo do tempo por cerca de 20.000 anos, tendo como a informação mais pretérita a do período Paleolítico, no Egito. Entretanto, sã com a descoberta das Américas, na Idade Moderna, é que o ouro apresentou grande incremento em termos de projeção. No Brasil, as primeiras descobertas ocorreram no século XVI, e no século XVII, nosso pais foi responsável por cerca de 40% da produção mundial. Hoje, apesar de manter-se entre a 4ª e a 5ª posição, o Brasil produz algo em torno de 3% do total do ouro mundial, cuja liderança é da África do Sul, que é responsável por uma fração superior a 50% do metal que 6 jogado anualmente no mercado.

Até bem pouco tempo a evolução tecno16gica enfrentava sérios problemas para recuperar a fração mais fina que 150 mesh, uma vez que essa granulometria, pode ser considerada como limite máximo de recuperação do ouro por processos gravimétricos, a partir daí só o tratamento químico recupera, com boa performance, o referido metal.

No Simpósio de Reno, realizado em Nevada, USA, em 1984, a recuperação do ouro, através de cianetação, foi o ponto alto do encontro, quando expext3 do mundo inteiro mostraram-se bastante preocupados com o ouro não recuperado pelos processos tradicionais.

O processo de cianetação, altamente seletivo, é considerado como um dos principais desenvolvimentos metalúrgicos dos últimos tempos. Apesar de ser descoberto a cem anos atrás, e, em 1889, na Nova Zelândia, ter sido montada a primeira planta de extração de ouro por cianetação, quando o metal era recuperado por precipitação com zinco e alumínio foram com os avanços tecnológicos, utilizando-se carvão ativado, que deram alternativas de recuperação do ouro por adsorsão e posterior dessorção e eletr61ise, refletindo os rápidos avanços nos projetos de mineração. Tal processo imprimiu uma ágil evolução, permitindo várias opções, aplicadas de acordo com as características do minério; podem do ser assim sintetizadas: cianetação tradicional, CIP (carvão em polpa), CIL (carvão em lixiviação) e HL (lixiviação em pilha), VAT (lixiviação em reservatório). Em função de seu baixo custo, a lixiviação em pilha representa um dos mais recentes avanços na aplicação de cianeto para recuperação de ouro e prata; dessa forma, viabilizou uma série de jazidas consideradas economicamente inviáveis por possuírem baixo teor ou pelo fato do ouro ser finamente dividido, apresentando, com efeito, baixas recuperações pelos processos tradicionais.

A lixiviação bacteriana em minérios de ouro é um processo bastante recente, por conseguinte sua literatura é bastante escassa e de difícil acesso, face a maioria dos trabalhos serem editados em russo. A viabilidade desse processo pode ser possível através de duas rotas

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principais: uma, usando microorganismos como thiobacilluus ferroxidans, que é adequada para minérios onde o ouro ocorre associado a pirita e/ou arsenopirita. Outra, de lixiviação direta de ouro associado, usando-se aminoácidos, produzidos por bactérias do gênero pseudomonas e bacilIus

As perspectivas para aplicação industrial dessa técnica são bastante alvissareiras, entretanto, estudos no que tange a lixiviação direta do minério, encontram-se, ainda, em fase um tanto embrionária). Outra possível aplicação da Biotecnologia em minérios de ouro é sua concentração em fungos do tipo asppertgillus oryzae, que, é uma alternativa dos processos em carvão ativado ou cimentação com zinco.

O tratamento dos minérios contendo sulfetos, em alguns casos, quando submetidos ao processo de cianetação, chega a alcançar, até, 98% de performance. Por outro lado, em outros minérios de ouro, considerados refratários, esse rendimento não ultrapassa 30%. Para sanar esse baixo rendimento, uma alternativa tem merecido atenção peculiar, que é a Lixiviação Bacteriana dos sulfetos, como uma técnica de pré-tratamento para a liberação dos grãos de ouro antes da cianetação. A ação de bactérias thiobacillus ferroxidan, em estudos experimentais, na recuperação do ouro sulfetado, tem mostrado uma performance da ordem de 81%, ou seja, bem superior àquela obtida no processo de cianetação direta do concentrado, sem oxidação prévia. A biolixiviação, para o caso em tela, é feita após a flotação, seguindo-se a cianetação e recuperação do ouro.

Alguns trabalhos pilotos de lixiviação bacteriana realizados na África do Sul, demonstraram que os sulfetos como pirita e arsenopirita, contendo ouro, apresentam boa viabilidade técnica e econômica quando comparados com o tratamento usual de ustulação do concentrado. Tais experiências mostraram que, apesar do custo de operação, usando o pré-tratamento com lixiviação bacteriana, ser maior que o de ustulação, o investimento fixo necessário para a alternativa, envolvendo lixiviação bacteriana, é menor dentre todas as rotas consideradas. Par-tindo-se do princípio de que a recuperação do ouro é da mesma grandeza em ambos, a performance do processo através de bactérias poderá ser bastante favorável, a depender do custo financeiro de implantação do projeto. Para melhores resultados, alguns ajustes tecnológicos se fazem necessários, como:

aprimoramento de bactérias com capacidade de incremento suficiente em meiocontendo arsênio;

formação de um mínimo de jarosita, que é consumidora de cianeto no processo e; melhoramento nos equipamentos, objetivando diminuir a energia consumida na oxidação.

- Trabalhos similares realizados na União Soviética, indicam que a oxidação de sulfetos através

da thiobacillus ferroxidan incrementou, até 3 vezes, a recuperação do ouro, se comparado com processos usuais de cianetação direta.

Uma análise econômica para recuperação de ouro entre 10 e 100% versus tipo de

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amortização, mostrou que a lixiviação por bactérias será uma alternativa de alta rentabilidade se a recuperação por cianetação direta for inferior que 50%. Não é descartada a possibilidade de algumas adaptações, dependendo do tipo de minério, custos do reagente, da energia, etc. quando os resultados da Lixiviação Bacteriana seriam melhores quanto mais refratário for o minério.

As reações deste processo envolvem sulfetos, sulfoansenietos e sulfatos de Ferro em presença

de oxigênio, água e bactéria. Quando ocorre a presença de NH + , K+ e Na+, em pH superior a

2,7 há a formação da jarosita, de acordo com a reação:

3 Fe2 (SO4) 3 + 2 KOH + 10 H2O----> 2 K Fe3 (SO 4)2 (OH) 6 + 5 H 2 O

O mecanismo de ação das bactérias ainda carece de algumas elucidações; com efeito, dois são os caminhos mais aceitos: um, onde ocorre um ato que mais direto à superfície mineral, em que as bactérias, por intermédio de um sistema enzimático, oxidam a superfície sulfetada do minério; e, outro, que envolve o ciclo Fe 2+ e Fe 3+ e as bactérias oxidam o FeS04 à Fe2 (SO 4,7 formando com o H2SO4 um licor lixiviante eficaz. Até o presente, apesar do tiobacilIus

ferroxidans ser a bactéria mais usada e estudada, não se descarta o uso de outras bactérias como sulfolobus acidocaldarius e sulfolubus brierleyi, que poderiam, também, ser utilizadas na lixiviação dos sulfetos. Assim como os thiobacillus, tais microorganismos são autotróficos, ou seja, usam CO2 do ar como fonte de carbono gerando energia a partir da oxidação de material orgânico e oxidando, logicamente, os sulfetos. Uma das boas vantagens do uso do tipo sulfolobus é a possibilidade de seu tratamento a temperatura mais elevadas, 30 a 80o C, enquanto que a thiobacillus só apresenta bons resultados na faixa de 25 a 35o C, dessa forma, as primeiras apresentariam taxas de reações mais elevadas. Com efeito, as pesquisas envolvendo bactérias do gênero sulfolobus, ainda se encontram em fase embrionária.

Na lixiviação direta do ouro, pouco são os agentes oxidantes, como o cianeto ou cloreto, que possuem um potencial de oxidação suficiente para complexar o ouro. O potencial de oxidação padrão de alguns íons variam de -1-,71 a 0,38 para o Au+ a Au[CS(NH)2 respectivamente,. Dessa forma, se um microorganismo agir como catalisador, o agente complexante deve ser produzido pelo mesmo.

Alguns trabalhos desenvolvidos pelo pesquisador francês Pares, a partir de 1964, indicam que

uma variedade de bactérias apresentam capacidade para dissolução do ouro. No caso específico de Ití (África) diversos tipos de bactérias heterotr6ficas extraídas, do minério de ou

água da mina dissolveram ouro em pó e em minérios; no entanto estes microorganismos tendem a sofrer mutações quando preservadas inadequadamente. Neste caso, em particular, observou-se que a capacidade de solubilização é função do tipo de granulometria do minério, da cepa, da composição do meio de crescimento e do pH. A tabela, a seguir, mostra que a taxa de lixiviação foi de 82% e a concentração menor que 10mg/l. As bactérias do tipo tiobacillus

foram inativas na dissolução direta do ouro.

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RESUMO DOS RESULTADOS DCS TRABALHOS DESENVOLVIDOS POR PARES

MICROORGANISMO CONDIÇÕES E RESULTADOS

Agtobacteuum Tumefaceins 26-28o C, 400 ml de nutriente contendo 150 g de minérios solubilização 1- 1,5mg/l

BacilIus citcullans, B pumillis B cereus B.

licheniformis , B polymyxa, B. megaterium

800 ml de nutriente contendo de minério 250 g de minério, 26.28o C, 82% de extração após

293 dias, solubilização: 10mg/l

Pseudomonas-flurescens Bactérias nitrificante autotrófica

400 ml de nutriente contendo 20 mg de ouro em pó., 26-280 C solubilização: 0,1-2 mg/1

Fonte: CASSA, J.C.S. & ANDRADE, T.R. O estado da arte da lixiviação bactéria na de minérios de ouro-1986

Um trabalho executado pela equipe do pesquisador Korobushkina, em 1998 na União Soviética, na área de lixiviação direta de ouro, mostrou a presença de alto percentual de bactérias, principalmente dos gêneros bacilIus e pseudomonas nos minerais e águas das minas, tais bactérias produziriam aminoácidos, que seriam responsáveis pela solubilização do ouro. A formação de complexo aminoácido-ouro e sua dissolução, é função principalmente do pH, entretanto varia de acordo com cada tipo de organismo, sendo os mais ativos os bacilIus

meganterium e mesentericus e pseudomonas liquefaceins, conforme mostra a tabela a seguir: fungos e actinomicetos indicaram baixa receptividade, por outro lado estes resultados demonstraram que as bactérias heterotróficas têm capacidade para dissolver o ouro livre.

DISSOLUÇÃO DE OURO COM DIFERENTES MICROORGANISMOS

BACTÉRIAS

OURO DISSOLVIDO(mg/1)

DIAS 80 100 140

Sarcina flava 0.12 0,21 0 .21

Bacillus megaterium 1,21 2.15 2.15

Bacillus mesentericus niger 0.17 0.31 1.35

Bacillus solitarium 0.06 0.08 0.24

Bacillus nitrificans 0.20 0.22 0.47

Pseudomonas liquefaciens 1.62 n.d n.d.

Controle 0 0 n.d.

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Fonte- CASSA, J.C.S. & ANDRADE, T.R.- O estado da arte da lixiviação bacteriana de minérios de ouro-1986

Estudos detalhados realizados, também, recentemente na União Soviética, evidenciaram que a evolução dos processos de lixiviação direta, ainda estão em fase embrionária, entretanto, existe um grande esforço na área de química, cujo objetivo é estudar melhor a formação dos depósitos de ouro no que tange a um melhor aproveitamento através do uso de bactérias. O método mais usado para a recuperação do ouro dissolvido em soluções, até o presente, é o do carvão ativado, entretanto esse processo poderia, eventualmente, ser substituído pela absorção por microorganismos, que seriam posteriormente calcinados para a recuperação do metal. Algumas pesquisas desenvolvidas na URSS demonstram que fungos do tipo AspergilIus

Ortyzae tem poder de absorver quantidades de ouro, em soluções coloidais 10 a 12 vezes maiores que o carvão ativado. Outro ponto a considerar é a capacidade de a biomassa absorver ouro, que é função das interações eletrostáticas desenvolvidas entre as partículas co16ides e as moléculas de proteínas. A biomassa de fungos deveria ser produzida em um habitat de cultura e adicionada à solução, aurífera, mas, na realidade, o que acontece é que a absorção do ouro em solução de cianeto, usando fungos, ainda não está perfeitamente demonstrada.

No Brasil, fora as pesquisas desenvolvidas pelo professor José Clodoaldo da Silva Cassa, da Escola Politécnica, da Universidade Federal da Bahia, os demais estudos encontram-se em caráter bastante embrionário. Em termos da Amazônia. - com a evolução tecno16gica do processo, poderia ser uma solução viável para as áreas auríferas depredadas por garimpeiros, uma vez que, o mercúrio metálico, altamente utilizado nas áreas garimpeiros, ao contrário do sulfeto de mercúrio, que é um bactericida, não apresenta nenhum obstáculo, para a Lixiviação Bacteriana. Outros dois pontos positivos a considerar são: o custo relativamente baixo do processo; um estudo publicado recentemente pelo Fínancía1 Time, mostra que o processo, em tela, chega a alcançar apenas 40-60% do preço do tratamento convencional. E a recuperação, do ouro fino; as experiências mais recentes evidenciam que as bactérias podem adsorver até a fração de cinco micra, ou seja, o ouro superfino.

Com efeito, as perspectivas para aplicação industrial da Lixiviação Bacteriana com tiobacilIus

ferroxidans no tratamento de minérios refratários contendo sulfetos, como pirita e arsenopirita, são bastantes promissoras a curto e médio prazos. Mas estudos referentes à lixiviação direta do ouro ainda estão em fase preliminar, dependendo, para aplicação industrial, do isolamento ou desenvolvimento de microorganismos que, combinados com substratos e complexantes, desenvolvam taxas de reação que possam competir com o processo de cianetação. Um fator altamente favorável à Biolixiviação é o agravante ambiental produzido pela cianetação, enquanto que a lixiviação através de bactérias, não deixa nenhuma sequela à natureza.

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LAVRA EXPERIMENTAL DE OURO: EXPERIÊNCIA VERSUS INVESTIMENTOS

Alberto Rogério Benedito da Silva/Geó1ogo DNPM/5º D.

Alicerçado no artigo 22 do Código de Mineração (dec.-lei 227 de 28.02.87) que através de seu item 7, faculta ao DNPM, na fase de pesquisa, autorizar a alienação de quantidades minerais para análises e ensaios industriais. A partir da segunda metade de 1983, surgiu, no seio do Setor Mineral, a figura da Lavra Experimental. Apesar de não ter nenhuma configuração jurídica, o objetivo desse instrumento foi de fazer um estudo dos equipamentos utilizados no beneficiamento de minerais detríticos; ter um melhor conhecimento do depósito mineral; financiar parte da pesquisa realizada; capacitar o pessoal envolvido e aprimorá-lo tecnicamente e; finalmente, ocupar o sítio mineralizado, ante ao avanço desenfreado da garimpagem no pais.

Assim sendo, até o ano de 1986, cerca de uma dezena de plantas foram montadas no Estado do Pará e Território Federal do Amapá, âmbito do 5º Distrito do DNPM. Considerando a carência de dados estatísticos sobre mineração na Amazônia e a importância destes para futuros investimentos regionais, bem como subsidiar o empresariado do setor no Planejamento de uma política de longo prazo, foi feita uma amostragem junto às principais plantas em funcionamento, obtendo-se, ainda que em caráter preliminar, os seguintes valores médios:

investimentos feitos durante a pesquisa, incluindo bloqueamento de reservas e cubagem : US$ 2.500.000;

investimentos realizados para a montagem da planta:

preço médio dos equipamentos: US$ 850.000

Valor gasto na infraestrutura.: US$ 950.000;

relação estéril/minério do corpo lavrado : 2,07;

ccut-off da lavra (para o caso do elúvio x colúvio): 0,3 g/m3 com d = 1,6;

investimentos em aprimoramentos tecnológicos (otimização da operação de lavra e beneficiamento): US$ 400.000;

estudo comparativo entre teores de pesquisa e obtido durante a lavra.: 58% do ouro é recuperado por processos gravíticos, o restante só é recuperável com tratamento químico;

fração granulométrica recuperada: por intermédio de jigagem é possível recuperar até 58% do ouro compreendido entre a faixa de 16 a 180 mesh. Até a fração de mesh, em alguns casos, recupera-se até 95% do ouro;

gasto no projeto : US$ 9/m3 lavrado.

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É necessário frisar que os dados citados referem-se a depósitos mistos (mineralização secundária e primária) de dimensões pequena a média, com reservas de 1,8 milhão de t de minério e teor variando de 0,2 até 6- 8 g/t.

As plantas, em funcionamento, utilizam apenas processos gravimétricos, entretanto, duas dessas já dispõem de beneficiamento através de cianetação. Uma no Território Federal do Amapá está utilizando, em caráter experimental, cianetação através de lixiviação em tanque (VAT), para tratar o rejeito da gravimetria. Até o presente, os resultados estão sendo satisfatórios e acredita-se que, dependendo da conclusão dos estudos preliminares, deverá ser utilizada a cianetação para o tratamento do ROM.

A outra, no Pará, deverá, a partir de 1987, utilizar uma unidade CIP móvel.

Como complemento ao trabalho, apenas para traçar um paralelo, é feita uma relação de custo de produção mundial de algumas minas com lavra aluvionar e a céu aberto, onde se pode observar que a média do teor de ouro aluvionar é de 1,07 g/m3 e custo US$/m3 é da ordem de 5,36. Na lavra a céu aberto, o teor é de 3,45, enquanto que o custo passa para 16,58. Logicamente que esses dados são de países com características, às vezes, destoantes da Amazônia e uma logística menos onerosa que, certamente, conduziriam a valores um tanto diferentes das lavras da Região Norte.

CUSTO DE PRODUÇAO DE MINAS DE OURO ALUVIOMAR

NOME DA MINA PRODUÇÃO TEOR CUSTO

OU PROJETO PAIS m3/h g/m3 US$/M3

Nullagine Austrália 14 1,02 5,40

Nullagine “ 56 0,81 3,14

Black Hills Creek Canadá 64 0,65 5,32

Clear Creek “ 40 0,41 3,47

Hendersen “ 48 0,89 6,81

La Cantina México, 159 0,41 1,96

Madre de Dios Peru 16 - -

Chandalar USA 64 0,81 -

Livegood “ 159 1,67 -

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Manhattan Gulch “ 15 1,02 4,42

Nolan “ 32 2,44 10,46

Solomon “ 48 1,68 7,10

Média 59,6 1,07 5,36

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CUSTO DE PRODUÇAO DE MINAS DE

OURO COM LAVRA A CÉU ABERTO

NOME DA MINA PRODUÇÃO TEOR CUSTO

OU PROJETO PAIS t/h g/t US$/t

Reedy's Austrália 23 4,51 22,5

Porphyry “ 23 5,51 -

Cork Tree Well “ 39 4,04 22,75

Haveluck “ 39 2,49 15,75

Haveluck “ 37,5 2,38 -

Phar Lap “ 45 3f51 15,50

Queen Charlotte Canadá 563 2,90 10,56

Carshaw “ - 6,84 15,85

Doyon “ - 5,82 -

Arrow “ - 1,71 - Santa Clara Costa Rica 171,03 -

Pueblo Viejo Rep. Dominic. 379 4,04 -

Avino México 35,5 1,00 -

Tedi Papua,N. Guiné 938 2,80 -

Bell Mountain USA 31 1,80 15,00

Dewey “ 38 3,73 16,50 Grey Eagle “ - 4,77 25,00

Zaca “ 113 1,24 11,00

Clementine “ 64 3,42 13,80

Dee Gold “ 32 3,95 22,00

Aurora “ 38 4,32 16,50

Bell (Jerrit Canyon) “ 104 7,77 -

Picacho “ 151 1,17 5,73 Mesquite “ - 2,55 -

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Mc Laughin “ 113 5,47 -

Rich Gulch “ 113 4,04 20,00

Bluebird “ 113 3,73 20,00

Fire Creek “ 15 2,39 -

Pinson “ 54 3,70 20,34

Round Mountain “ 375 1,37 -

Beal “ 113 1,87 -

Alligator Rigge “ 89 4,04 -

Carlin “ 95 5,47 28,50

Carlin “ 95 5,47 37,50

Carlin “ 67 6,50 -

Landusky and Zortman “ 667 1,01 5,45

Landusky and Zortman “ 604 1,01 5,00

Pinson “ 56 5,29 -

Victor “ 75 2,05 -

Jamestown “ 188 2,50 -

Montana Tounels “ 562 1,71 8,25

Annie Crek “ 75 1,43 7,8

MÉDIA 162,6 3,45 16,58

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O RISCO DO ESTADO DE CARAJÁS

Alberto Rogério Benedito da Silva

O Projeto de Decreto-Legislativo apresentado pelo Deputado Federal Asdrubal Bentes, do PMDB-Pará objetivando, objetivando criar o Estado de Carajás, subtraindo do Pará 23% de sua área e vinte e dois municípios da região sudeste do Estado, deve ser encarada como uma agressão muito seria a todos os paraenses.

Apesar de já ter sido considerado antirregimental e anticonstitucional, subtrai, ainda, do Pará parcela significativa de riquezas. Neste artigo, trataremos, tão somente, daquela fração não renovável; entretanto, há de levar em conta, com efeito, outras que, fatalmente, virão à tona com o fervor das discussões.

Em termos de recursos minerais, a natureza foi pródiga ao derramar no subsolo riquezas abençoadas que deram como produto a Província Mineral de Carajás - a maior do planeta -cujos recursos englobam 17,5 bilhões de toneladas de ferro de boa qualidade, 1,2 bilhão de toneladas de cobre, 80 milhões de toneladas de manganês, 80 milhões de toneladas de tonela-das de manganês, 80 milhões de toneladas de níquel, 96 milhões de metros cúbicos de granitos ornamentais, 11,4 mi1hões de toneladas de quartzo, 1,5 milhão de toneladas de volfrâmio, 145 milhões de toneladas de bauxita, 18 mil toneladas de estanho e 65 toneladas de ouro, assim como promissores indícios de mineralizações para molibdênio, zinco, prata, paládio, etc.. Esses bens minerais são utilizados nos mais diversos ramos da indústria que se traduzem na utilização de bens do dia a dia da humanidade, como ferro (aço), ligas latas, folhas de flandres, etc.

Entre 1986-88, dos US$ 2,6 bilhões oriundos do produto mineral paraense, a região de Carajás respondeu por 65% (US$ 1,7 bilhão). Se a esses dados forem acrescentados os valores da bauxita de Oriximiná e do ouro do Tapajós, região em que se localiza outra pretensa fração do Estado que poderia ser subtraída, em função da criação do Estado do Tapajós, aí o nosso produto mineral estaria limitado a 1% do que e hoje, ou seja, ficaríamos reduzidos a materiais de construção e raras bauxitas.

Em 1988, a região de Carajás foi responsável por 40% da produção brasileira de manganês, 21% da produção de ferro, 7% da produção de cassiterita e 59%, da produção de ouro.

Em termos de arrecadação de imposto sobre minérios, o caminho é o mesmo, entre 1986 e 1988, a região de Carajás foi responsável por 68% dos tributos gerados sobre a mineração.

Na década de 80, o Valor da Produção Mineral da região de Carajás, em média, cresceu 18,3% ao ano, enquanto a paraense cresceu 15,2%, a brasileira, 2,1% e o PIB, 1,9%. Uma performance de fazer inveja a qualquer economia desenvolvida.

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Só para se ter uma ideia, a Coréia do Sul, uma das economias de melhor desempenho na década, cresceu 12% anuais.

A Companhia Vale do Rio Doce, principal mineradora de Carajás, investirá nos próximos cinco anos algo em torno de US$ 650 milhões, nos projetos de ferro, cobre, manganês, níquel e ouro. Os projetos mínero-metalúrgicos que serão implantados ao longo do eixo Carajás-Itaqui, só no lado paraense, em número de mais de meia dezena, deverão investir semelhante quantia para produzir ferro-ligas a base de manganês e níquel, bem como ferro gusa; tais investimentos deverão retornar, em média? Tributos para os municípios da ordem deUS$15-20 milhões por projeto/ano.

Os dados, até então elucidados, são necessários e suficientes para um levante da sociedade paraense contra esse saque que subtrairá a parte mais rica do nosso subsolo. As entidades de classe terão que romper esse silêncio para pugnar por nossos direitos. Nesse particular, a Apgam-Associação Profissional dos Geólogos da Amazônia, está de parabéns porque saiu na frente.

E por trás dessa luta esconsa, outra preocupação tende a aflorar, que é a da agressão ambiental. As riquezas existem e devem ser exploradas da melhor maneira para agredir o mínimo a natureza, porque só assim estaremos realizando o desenvolvimento do país. E.com a valorização da componente ambiental, e possível vislumbrar, em horizonte razoável, o trinômio mineração-meio ambiente -avanços tecnológicos, fator preponderante nas metas de qualquer nação que almeje um futuro saudável para a humanidade. Expressões como as do Presidente da UDR, seção Marabá, de que: “não se planta alface e nem se cria boi em copa de árvores", tem que ser riscadas dos dicionários de todos aqueles que se pautam pela união do Pará e sua conservação ambiental.

Portanto, o alerta esta lançado, devemos todos lutar para a preservação da unidade do Estado. É uma bandeira lançada pelos geólogos, responsáveis por pequena parcela do desenvolvimento de toda nação e no caso paraense, tal fração foi bastante aguçada face às riquezas minerais de Carajás. Outro fator que deve ser levado em conta, e o início do processo de verticalização dos bens minerais. Com tudo isso, seria, até certo ponto, inassimilável conceber que todos aqueles que lutaram para o Pará deixar de ser almoxarifado de matérias-primas minerais, perca parcela importante de seu território.

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AS QUEIMADAS VOLTAM A PREOCUPAR

Alberto Rogério Benedito da Silvai

As pesquisas realizadas pela jornalista Liana John, da Agência Estado, têm trazido contribuições significativas para a preservação ambiental. A última trata da prevenção das queimadas no Brasil, com ênfase à Amazônia.

Em sua publicação comenta que os planos para prevenir queimadas em todo o país começam, finalmente, a descer dos céus para a realidade terrestre. No início do ano 2000, o Brasil completou doze anos de monitoramento sistemático de queimadas por satélite. Com isto, é possível identificar as piores frentes de fogo, inclusive com coordenadas geográficas, desde 1988, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), passou a utilizar diariamente, durante toda a estação seca, o seu programa de computador, capaz de identificar os focos de calor nas imagens dos satélites meteorológicos da série NOAA. Mas, o que se pode fazer com estas informações privilegiadas que nunca foram consenso no governo federal? Pois é esta a mudança alvissareira que se anuncia.

Ao longo destes anos, o Inpe melhorou seu programa e com a ajuda da Embrapa Monitoramento por Satélite mapeou os pontos quentes – hot spots – de forma detalhada, aumentando a precisão a cada ano. O Inpe também criou condições de se casarem as informações obtidas pelos satélites NOAA (que, neste caso, leem temperaturas) com as dos satélites de sensoriamento (que verificam uso da terra, áreas de desmatamentos, etc.), como o Landsat e o primeiro satélite brasileiro desta família, o CBERS.

A parceria entre os dois tipos de satélite fez com que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) passasse a ter um mundo de dados disponíveis, dentro do programa chamado “Proarco”, que trata de ações prioritárias na Amazônia, concentrando esforços de fiscalização no Arco do Desmatamento – região entre o Oeste do Maranhão, na divisa com o Pará, e o Leste do Acre –, onde a ocupação humana é mais intensa e a pressão sobre o meio ambiente, mais intensiva.

Mas só fiscalizar e multar queimadas não basta. Isso já atestou pessoalmente o ministro José Sarney Filho, durante a última estação seca. Mesmo as campanhas educativas de uso controlado do fogo têm impacto restrito sobre a superfície das queimadas. Por outro lado, são mais efetivos os treinamentos de brigadas anti-incêndio e os alertas utilizados em 1999 para controlar queimadas que ameaçam se transformar em incêndios nas unidades de conservação. A prova efetiva é que os treinamentos realizados no ano passado, em Roraima, com cinco brigadas anti-incêndios e cerca de mil produtores dos assentamentos e das áreas indígenas estão se repetindo este ano. Esta ação também será estendida a outras áreas prioritárias, como o Sítio do Descobrimento, na Bahia.

Todavia, mais do que proibir, estipular regras ou aprender a combater incêndios, é preciso dar alternativas ao uso tradicional do fogo para os agricultores que o utilizam como ferramenta de

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trabalho. Se isso não ocorrer, as autuações servirão apenas para nivelar estes agricultores aos desmatadores ilegais, que usam as queimadas ilegal e indiscriminadamente.

Para buscar alternativas, o MMA perseguiu e conseguiu este ano a ajuda do Ministério da Agricultura e Abastecimento, tendo em vista que a grande maioria dos pontos de fogo detectados pelos satélites são queimadas para renovar pastagens, eliminar restos de culturas ou controlar pragas. Antes mesmo do Carnaval, o ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, apresentou sugestões de medidas preventivas, num programa que envolve diversos centros da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Diversas tecnologias agrícolas estão disponíveis e podem substituir o uso do fogo na agricultura. Cerca de 40 delas estão listadas ao lado dos mapas atualizados de queimadas, no site da Embrapa Monitoramento por Satélite. Mas existem outras tecnologias, ainda dispersas nas instituições de pesquisas. Falta não só as reunis e difundi-las junto aos agricultores, como incentivar a produção de maquinários agrícolas necessários à sua implementação. Além disso, é necessário financiar cultivos que dispensem o uso do fogo. E, ainda, divulgar no campo alertas de risco de incêndio, para que sejam suspensas mesmo as queimadas autorizadas, quando as condições meteorológicas e de solo favorecerem a perda de controle sobre o fogo.

Esse roteiro consta nos planos do Ministério da Agricultura. E mais: ainda há tempo hábil para se colocar vários destes planos em prática antes do início da estação seca, em junho. Resta saber se a Presidência da República vai dar ao assunto a mesma prioridade dos ministros do Meio Ambiente, e, da Agricultura e Abastecimento. Esta é a conclusão da pesquisadora.

Aqui no Pará a Sectam dispõe de um laboratório de primeira linha que mapeia e localiza os pontos quentes alertados anteriormente. Resta saber se o governo estadual dará a prioridade esperada pela população. Já que o Pará faz parte das zonas críticas de queimadas da Amazônia e do Brasil

Ainda em relação à Amazônia, dia 30 de março, último, dois fatos importantes ocorreram: um, em reunião extraordinária, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) aprovou a proposta fixando em 80% a extensão de mata nativa a ser preservada como reserva legal nas propriedades rurais situadas em área de floresta na Amazônia Legal, e no mesmo sentido, adotou 35% para as propriedades situadas em área de cerrado da Amazônia. Para os fazendeiros que preservarem suas terras, o Conama aprovou compensações como isenção de ITR sobre a área preservada e isenção de Imposto de Renda para recuperação de área degradada. Outro, em Belém, o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, lançou o programa Agenda Positiva, que visa a definir critérios a serem utilizados para acesso e remessa de recursos da biodiversidade ao exterior. O grupo, responsável pela tarefa, terá prazo de sessenta dias para apresentar propostas sobre o assunto.

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O espaço da Vale na economia paraense

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Alberto Rogério Benedito da Silvaii

A partir da descoberta de Carajás, em 1967, a CVRD voltou suas atenções para o Pará. O primeiro grande passo envolveu a Amazônia Mineração S.A., cuja associação com a US Steel Co. tinha como objetivo explorar o minério de ferro de Carajás. Em 1971, mais um avanço concreto foi dado com a criação da Rio Doce Geologia e Mineração (Docegeo), que, a partir de investimentos de mais de US$ 80 milhões, promoveu a maior pesquisa geológica já realizada no Brasil, aumentando as reservas minerais da CVRD em mais 35 novos depósitos, envolvendo 11 minerais diferentes, com ênfase para Carajás, no Pará. Esse programa de exploração contribuiu para o acréscimo significativo nas reservas nacionais, chegando a alcançar até 24 vezes, no caso do cobre, 22 no do caulim, 12 no da bauxita, dentre outros (tabela 1).

Tabela 1 - Reservas minerais – período 1971-93

Bem mineral Acréscimo nas reservas

Ferro 2,3

Bauxita 12,0

Caulim 22,0

Cobre 24

Estanho 8,6

Fertilizantes 5,1

Ouro (metal) 5,3

Níquel 1,5

Fonte: Docegeo

As principais reservas minerais do Pará envolvem sete produtos: ferro, bauxita, caulim, cobre, manganês, níquel e ouro. Devido aos seus dados quantitativos e qualitativos representam um percentual significativo em relação ao Brasil, como pode ser observado na tabela 2, onde a participação paraense é de 81% em relação a bauxita, seguida do cobre (75%), caulim (53%) e ferro (30%). Desse universo a Vale do Rio Doce responde por 100% das reservas de ferro, cobre, ouro e níquel, manganês (75%), bauxita (40%) e caulim (35%).

Tabela 2 - Reservas minerais do Estado do Pará

Bem mineral Quantidade (mil t) Teor-% %-Brasil %-CVRD

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Ferro 17.354.527 66 de Fe2O3 30,5 100,0

Bauxita 2.394.675 50 de Al2O3 80,6 40,0

Caulim 817.686 - 53,0 35,0

Cobre 1.348.298 0,85 de cobre 75,0 100,0

Manganês 80.807 40 de MnO2 35,6 75,0

Níquel 80.725 - 16,4 100,0

Ouro (em kg) 283.627 - 12,3 100,0

Fonte: Anuário Mineral Brasileiro – DNPM/1997, adaptado

Outro dado importante a considerar é o reflexo da produção mineral paraense e seus produtos de transformação em relação às produções brasileira e mundial, onde sobressaem o alumínio, cuja performance em relação ao Brasil é de 29,2% e em relação ao mundo, 1,54%. Seguindo o mesmo critério, a bauxita contribuiu, respectivamente, com 84% e 8,36%; o caulim (28,1% e 1,44%); o ferro (25% e 4,49%); o manganês (96,4% e 18,2%); o ouro (24,5% e 0,61%); e o silício (6,0% e 0,46%). Exceto o silício, o Sistema CVRD participa em todos e, em três, – alumínio, ferro e manganês – com 100% (tabela 3).

Tabela 3 - Produção Mineral/98 (mil toneladas)

Commodity

Pará

Mundo

Brasil

Ranking mun-dial (Brasil)

Pará/Bra-sil -%

Pará/mun-do -%

Vale/Pa-rá - %

Alumínio 350,0 22.200 1.200 5 29,2 1,54 100,0

Bauxita 10.500,0

125.000 12.500 4 84,0 8,36 99,5

Caulim 360,0 25.000 1.280 3 28,1 1,44 50,0

Ferro 45.00,0 1.020.000 180.000

3 25,0 4,49 100,0

Manganês 1.350,0 7.400 1.400 6 96,4 18,2 100,0

Ouro – t 14,7 2.400 60 7 24,5 0,61 75,0

Silício 15,6 3.400 260 5 6,0 0,46 0,0

Fonte: DNPM//Seicom/Mineral Commodity-USGS/Metal Bulletin, adaptado

Nos últimos quatro anos o Sistema Vale do Rio Doce vem aumentando sua participação na economia paraense, crescendo 10% ao ano entre 1996 a 1999 e totalizando US$ 2,1 bilhões. Por seguimento a maior contribuição é representado pelas compras com US$ 951 milhões (44,4%), seguida de investimentos (US$ 445,6 milhões – 20,8%), serviços contratados (US$ 270,8 milhões – 12,6%), salários (US$ 265,3 milhões – 12,4%), impostos e contribuições financeiras (US$ 156,6 milhões – 7,3%), preservação ambiental (US$ 45,7 milhões – 2,1%) e apoio às comunidades (US$ 8,7 milhões – 0,4%).

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Pelo lado do emprego, no período considerado, foram contratadas 41.900 pessoas, sendo 80% efetivadas dentro do Estado do Pará. Desse total, 17.821 (43,3%) representam empregos diretos e 23.369 (56,7%) indiretos. No primeiro caso 67% foram efetivados no Pará e no segundo, o percentual avançou para 93%. Focalizando os dados anuais, 1999, com US$ 700 milhões (32,4%), representou a maior parcela, seguido de 1996 (US$ 520 milhões), 1997 (US$ 500 milhões) e 1998 (US$ 440 milhões). Até 2002, deverão ser investidos mais US$ 530 milhões, em projetos da própria Vale e das cinco empresas ligadas ao Sistema CVRD.

Dentro de um cenário mais elástico, a Vale fechou recentemente um acordo com o grupo norueguês Norsk Hydro, para capitalizar a Alunorte, em US$ 200 milhões, representando 25,3% da empresa, reduzindo, portanto, seu passivo de US$ 863 milhões para US$ 478 milhões. O grupo ainda se comprometeu em participar com US$ 150 milhões de um investimento total de US$ 300 milhões para a expansão da produção de alumina no Pará (de 1,5 milhão para 2,3 milhões de toneladas/ano). O aumento implicará em acréscimo na performance da bauxita da Mineração Rio do Norte – MRN – em 1,6 milhão de toneladas/ano, cujos investimentos também já foram anunciados e alcançarão US$ 140 milhões. A esse total, da mesma forma, serão somados US$ 70 milhões da Albras. A CVRD ainda assinou contrato com a Hydro Aluminium, também subsidiária do grupo norueguês, para aumentar das atuais 350 mil toneladas para 580 mil toneladas/ano de alumínio primário em lingotes, incluindo o fornecimento pelo prazo de 10 anos de 963 mil toneladas de alumínio da Albras, a um valor atual de mercado de US$ 1,55 bilhão. O período do acordo vai de 2000 até 2009. Nesse contrato, o risco comercial – risco double – será bancado pela Hydro Aluminium, que também será a garantidora do contrato com a CVRD, o que possibilitará a securitização de recebíveis de exportação de alumínio, título de grande aceitação dos investidores internacionais. O contrato assinado abre as portas para uma reestruturação comercial e pode ser o primeiro passo para uma nova sociedade entre a Hydro e a Albras, no projeto de uma fábrica de transformação de alumínio em Barcarena. A nova unidade industrial da Albras fabricaria extrudados de alumínio como cabos, rodas de alumínio, perfis especiais e esquadrias, tal como a Hydro já faz na Noruega.

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NEGÓCIO MILIONÁRIO E INVENTOR POBRE

Alberto Rogério Benedito da Silva

Uma reportagem veiculada na revista IstoÉ Dinheiro mostra que o criador da web não ganha dinheiro com ela. Hoje, uma simples ideia de sucesso na Internet pode render milhões e até bilhões, entretanto, a mãe de todas as ideias rendeu pouco mais que notoriedade e respeito ao inglês Tim Berners-Lee. Enfurnado em um laboratório de Física, na cidade de Genebra, Suíça, ele desenvolveu entre 1980 e 1990 as bases do que é hoje a rede mundial de computadores. Entre outras coisas, criou o modelo de navegação por links, escreveu o primeiro browser e até mesmo o primeiro software para servidores de rede. O nome World Wide Web – o popular www – também é da sua lavra, embora, na ocasião da gestação tenha sido ridicularizado por amigos e até por sua esposa.

Ele tinha tudo para ser um bilionário, mas optou pelo idealismo. Dirige um Volkswagen Rabbit, ano 84, e ocupa uma pequena sala no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, onde chefia a equipe do World Wide Web Consortium, uma entidade sem fins lucrativos, cujo objetivo é definir padrões técnicos para a Internet. Provocou tamanha revolução nos negócios e na sociedade que já foi comparado a Gutemberg. O maior reconhecimento que recebeu, porém, veio com seu novo livro Weaving the Web, lançado em novembro nos Estados Unidos e, desde então, dono de lugar cativo entre os best-sellers da área de negócios.

A obra poderia até ter contornos tecno-épicos, com a fascinante história do rapaz que, nascido em uma família de cientistas – seus pais ajudaram a desenhar o Ferranti Mark, primeiro computador disponível comercialmente –, reuniu uma porção de boas ideias desencontradas e, com elas, jogou a humanidade em uma nova era de desenvolvimento. Mas Berners-Lee é modesto demais para tanto. Ele narra, de fato, os principais passos de sua saga, como a dificuldade que teve em convencer seus superiores a comprarem o microcomputador da NeXT – empresa criada pelo visionário e, este sim, bilionário Steve Jobs, depois de sua primeira passagem pela Apple – no qual bolou seu browser. Prefere, entretanto, valorizar seus conceitos a respeito do futuro de sua cria. “É importante que a web ajude as pessoas a serem mais intuitivas”, escreve. “Se conseguirmos, a criatividade vai florescer entre mais e maiores grupos. ”

A Internet é atualmente o maior core business do planeta, chegando a deter um índice capaz de fazer sombra ao Dow Jones, em Wall Street. O Nasdaq – National Association of Secutities Delears Automatic Quotation – representou a coqueluche nos últimos tempos para as bolsas mundiais. Nas últimas semanas esse índice sofreu revezes consideráveis, mas são coisas passageiras de negócios e muitas vezes voláteis.

A informática detém os dois homens mais ricos do mundo, os principais donos da Microsoft – Bill Gates e Paul Allen. Recentemente a revista Fortune publicou a relação dos empresários com menos de 40 anos que fizeram fortuna com a Internet (tabela 1), cuja nova capital de

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riqueza reside nos Estados Unidos, onde o Silicon Valley, na Califórnia, é o principal representante desta safra.

Tabela 1 – Os bilionários da rede

Nome Idade (anos) Empresa Fortuna US$ bilhões)

Jeff Bezos 35 Amazon 5,74

Pierre Omidyer 32 eBay 3,69

David Filo 33 Yahoo! 3,12

Jerry Yang 30 Yahoo! 3,05

Henry Nichollas III 39 Broadcom 2,38

Rob Glase 37 Real Networks 2,29

Scott Blum 35 Buy.com 1,66

Jeff Skoll 33 eBay 1,33

Michael Robertson 32 MP3 0,90

Naveen Jain 39 InfoSpace 0,86

Fonte: Fortune

As empresas mais valorizadas nos últimos tempos, todas, sem exceção, tem alguma afinidade com a informática. A Microsoft, por exemplo, cujo valor de mercado é da ordem de US$ 480 bilhões, tem sua matriz baseada em software. A Cisco Systems, segue a mesma linha, e, ainda, superou a cria de Bill Gates, pois seu valor de mercado ultrapassou os US$ 500 bilhões. As quinze maiores empresas ligadas ao mercado de Internet, todas superam os bilhões de dólares e a liderança é da America Online, que após a fusão com a Time Warner, alcançou US$ 242,5 bilhões, duas vezes e meia a segunda colocada, a Yahoo!, e seis vezes a terceira, a Charles Schwab. A tabela 3 mostra o ranking das quinze maiores empresas desse ramo de bilhões.

Mas nem tudo é glória para as famosas ponto.com A condenação da Microsoft pela justiça americana deu um choque no mercado tecnológico e a desvalorizou em US$ 81 bilhões, fazendo com que seu fundador – Bill Gates – perdesse US$ 11,5 bilhões. A retração de 7,6% no índice Nasdaq, ocasionou uma perda de US$ 350 bilhões.

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Tabela 2 – Maiores empresas da Internet por valor de mercado

Empresa Endereço Valor (US$ bilhões)

America Online1 www.aol.com 242,47

Yahoo! www.yahoo.com 95,98

Charles Schwab www.charlesschwab.com 40,69

CMGI www.cmgi.com 39,39

eBay www.ebay.com 25,78

Amazon www.amazon.com 21,58

Priceline www.priceline.com 13,45

RealNetworks www.realnetworks.com 11,15

VerticalNet www.verticalnet.com 9,76

Excite@Home [email protected] 9,48

DoubleClick www.doubleclick.com 8,98

Lycos www.lycis.com 7,07

E*TradeGroup www.etrade.com 5,15

CNET www.cnet.com 4,75

Healtheon www.healtheon.com 3,09

Fonte: Nasdaq (cotação de 10 de março/2000) - 1 - após a fusão com a Time Warner

Esse mercado fluido, no período 01.06.97 a 04.04.00, considerando as 220 maiores empresas do Standard & Pools, deu a três empresas de Internet a maior valorização das ações nas bolsas americanas (tabela 4).

Enquanto isso, a respeitada revista americana Fortune, divulgou sua tradicional lista das 500 maiores empresas do mundo (tabela 5), incluindo volume de vendas e trouxe pela 16ª vez a General Motors em primeiro lugar, com faturamento de US$ 189 bilhões e lucro de US$ 6 bilhões. A General Electic, a quinta maior do ranking, lucrou US$ 11 bilhões. Enquanto isso, a Yahoo! apresentou lucro, em 1999, de US$ 57 bilhões, embora não figure entre as 500 da Fortune. A única empresa da Internet presente na lista é America Online (337ª) que faturou US$ 4,8 bilhões. Outras do ramo da tecnologia da informática que constam na seleta lista: Microsoft (84ª) e a Cisco Systems (146ª) ocupam posições modestas se comparadas com seus valores de mercado (ambas somam US$ 970 bilhões). Um contraste, realmente. E difícil de entender. Porém, uma realidade.

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Tabela 4 – Ações mais valorizadas nas bolsas americanas

Empresa Valorização-%

Yahoo! 6.060

Amazon.com 4.046

American Online 1.738

EMC Corp 1.169

Sun Microsystem 1.001

Cisco Systems 858

Dell Computer 667

Oracle 655

Texas Instruments 577

Applied Materials 539

Fonte Economática

Tabela 5 – Maiores empresas do mando,

segundo a revista Fortune

Empresa Faturamento/99 (US$ bilhões)

General Motors 189

Wal-Mart 167

Exxon Mobil 164

Ford 163

General Electric 112

IBM 87

Citigroup 82

AT&T 62

Philip Morris 61

Boeing 58

Fonte: Fortune

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A VISÃO DO FMI E DO BIRD PARA A ECONOMIA MUNDIAL

Alberto Rogério Benedito da Silva

Não há dúvida de que o centro de gravidade econômico do mundo é representado pelos Estados Unidos. Em outubro/99, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previu que o líder mundial cresceria cerca de 2.6% em 2000. Sem dúvida, uma decisão precipitada para uma economia que há nove anos seguidos apresenta expansão acelerada, desemprego extraordinariamente baixo (4%), e taxa inflacionaria de somente 2,5% ao ano. Uma outra estimativa do Fundo é que a economia americana cresça 4,4% este ano e com inflação baixa. A revisão transforma a perspectiva global e ratifica que as contas dos Estados Unidos estão em ordem, além de mostrar que no longo prazo o FMI faz suas previsões mais voltadas para o resto do mundo do que para os Estados Unidos.

As reuniões de primavera do FMI e do Banco de Mundial normalmente tratam de negócios. A deste ano, realizada em Washington, DC, veio acompanhada de milhares de protestos. Tudo para demonstrar desagrado ao Fundo e ao Banco tendo em vista que, segundo os manifestantes, as ações dos dois órgãos empobrecem a maioria da população mundial. Tais acusações parecem absurdas, uma vez que há 18 meses o presidente Bill Clinton declarou que o sistema financeiro internacional enfrentou sua pior crise neste meio século e que a maioria das economias emergentes estão desfrutando de uma repercussão altamente positiva.

A virada da Ásia foi espetacular, a região está emergindo suas economias, afetadas pela crise de 1997-98. O PIB da Coréia Sul subiu quase 11%, em 1999, e sua produção é agora superior aos níveis pré-crise. A Malásia, no mesmo ano, evoluiu quase 6% de seu PIB. Ao final de 2000, a Tailândia já deverá ter superada a produção perdida e a Indonésia, mesmo ainda com problemas localizados, avançou seu PIB em 6%, no quarto trimestre de 1999.

O panorama da América Latina não é diferente. O México, impulsionado pela alta nos preços do petróleo e pela próspera economia americana, é a estrela – mais de 80% das exportações do México vão para os Estados Unidos – e com isso sua economia cresceu 3,7% no último ano. O Brasil também superou bem a crise. O FMI considera provável que a economia brasileira cresça 4% este ano. Aliás, os países latinos apostam nas exportações, como o Chile, que avançará 6% ou mais e até mesmo Argentina está retornando a um crescimento saudável.

A Europa, da mesma forma, está emergindo sua economia, principalmente a parte Ocidental. Até mesmo Rússia apresenta franca recuperação, em grande parte graças ao aumento nos preços do petróleo.

A grande pergunta, portanto, é: haverá mais prosperidade? A resposta vem em três outras perguntas. As economias emergentes fizeram direitinho as lições de casa? Os investidores

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também cumpriram suas metas? E, as reformas do sistema financeiro internacional tornaram-se mais seguras?

Até mesmo o crédito está dividindo governos emergentes. A maioria reagiu aos problemas de 1997-99 com prudência, em lugar de populismo e assim a retórica é a disciplina da macroeconomia, a reestruturação e a reforma. E muitos daqueles impulsos reformistas foram dirigidos para as duas grandes fraquezas que arruinaram as economias emergentes. A primeira, o uso inadequado das taxas de juros – muitas moedas estavam acompanhadas de taxas de juros insustentáveis. E a segunda, as economias estavam emergindo de um sistema financeiro fraco. Frequentemente, os bancos e as empresas tomavam empréstimos de maneira irresponsável. Nenhum governo deu ênfase às liquidações dos empréstimos.

Há, ainda, uma elevação renovada em portfólios importantes para mercados emergentes. O IFC/Standard & Poor investem nesses mercados e com isso houve crescimento de 60% neles, em 1999. Mercados de bonds também se fortaleceram. O Institute of International Finance (IIF), porta-voz dos banqueiros, espera fluxos privados para as principais economias emergentes da ordem de U$ 200 bilhões este ano, U$150 bilhões a mais que em 1999, porém, abaixo dos U$ 330 bilhões de 1996. Um bom indício, uma vez que dez dos 27 países que respondem por mais que 90% dos fluxos importantes tem origem no setor privado.

Por outro lado, poucas economias emergentes realmente deixaram as taxas de juros flutuarem e, com isso, alguns economistas questionaram os benefícios dessa flutuação, como Ricardo Hausmann, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ele considera que países pagam um preço alto com taxas de juros elevadas e ganham pouca flexibilidade em flutuar. Na sua visão, o maior problema é que as economias emergentes não podem tomar empréstimos em suas próprias moedas. E taxas de juros flutuantes ou fixas não resolvem isso. Eis porque ele defende dolarização completa. Entretanto, tanto a crítica como a solução proposta por Mr Hausmann representam soluções extremas.

Em adição a tudo isso, alguns avanços modestos estão sendo feitos para ajudar países a prevenirem-se de crises futuras, considerando que há padrões internacionais em tudo, desde transparências estatísticas até política monetária. Várias economias emergentes formaram um esquema para monitorar melhor e manter seus padrões. O Basle Committee – uma supervisão de bancos – publicou novas diretrizes mostrando como os bancos deveriam administrar sua liquidez. Entretanto, está para ocorrer uma revisão nesse comitê, onde os padrões de eficiência serão importantes. O Financial Stability Forum é outro grupo que estuda grandes assuntos em estabilidade financeira internacional, sem, portanto, até o presente, apresentar nenhuma norma nova ou trocas radicais de metas.

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NOVOS DESAFIOS AO MERCADO AMERICANO DO AÇO

Alberto Rogério Benedito da Silva

No final de junho, o conservador mercado americano do aço, lançou em Washington, através do American Iron and Steel Institute (AISI), um plano empresarial ambicioso para incrementar o setor nos próximos cinco anos. A proposta prevê aumento do número de associados, incremento na conscientização pública da importância do aço para a economia, análise detalhada de forças e fraquezas do mercado, oportunidades e ameaças no mercado automotivo e construção de segmentos de containers. Os associados do AISI vêem nisso uma ferramenta extremamente competitiva para os clientes, cuja meta final será aumentar a demanda e o consumo de produtos de aço. Para o presidente Richard K. Riederer, chefe-executivo da Weirton Steel Corporation, o plano pode ser considerado agressivo, porém, é compreensivo e comercial, uma vez que, apoiado pelo AISI, tem como missão cultivar diretamente os diversos nichos do mercado norte-americano do aço. A resposta é refletida através do conselho de diretores do instituto, que deu apoio incondicional à iniciativa.

O “Steel’s Blueprints for the New Millennium”, uma espécie de slogan do AISI, define um novo modo de negociar com a indústria competitiva do aço, o que deve balizar os desafios da próxima década. Esta é a posição dos principais executivos das empresas do setor. A ênfase em crescimento agressivo e as sociedades estratégicas conduzirão a um novo impacto no mercado. O plano está tornando transparente toda a indústria, salientando que ela precisa adquirir isso para rever os efeitos para trás e para frente da indústria.

O instituto envolve 47 empresas-membros, incluindo setores de eletricidade e aço, e ainda, 174 sócios que são os provedores ou clientes da indústria do aço.

Em 2001 é esperada uma recuperação em todos os preços de produtos de aço, inclusive chapas. De um modo geral a economia mundial está indo muito bem e não há nenhuma razão para que os preços continuem decaindo por muito tempo. Não há nenhuma justificativa para retração do mercado como ocorreu em 1997 ou 1998, com as crises asiática e russa.

Os preços das chapas no mercado spot, que representam 30% do total das vendas de cerca de 22-23 milhões de toneladas/ano, hoje variando entre US$230-242/tonelada (FOB), deverão estabilizar até o final de agosto ao redor US$215-220/tonelada (FOB). O principal motivo é que, a partir de maio e junho, a mentalidade do mercado mudou, como consequência da alteração dos juros americanos, do julgamento do caso Microsoft e da queda do índice Nasdaq. Outro fator nevrálgico para esta mudança foi ocasionado pelo crescimento continuado nas taxas de produção americanas. A performance do aço bruto entre janeiro e maio/2000 estava 13% superior ao mesmo período de 1999, enquanto que no Japão e no mundo, em período equivalente, a taxa era de, respectivamente, 17% e 12%. Por outro lado, o

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avanço do dólar contra o euro impediu as exportações para a Europa e facilitou a internalização de fluxos para os Estado Unidos, onde as importações continuaram subindo, forçando, assim, os preços para baixo e ocasionando uma queda de US$30/tonelada. Já, a acirrada competição do mercado asiático fez reduzir em US$30-40/tonelada, durante os últimos dois meses, exceto na Coréia do Sul, onde o mercado permaneceu aquecido.

O mercado americano, em particular, é extremamente volátil porque 40% das compras de aço operam independente dos smelters e com isso tendem a intensificar a competitividade. Na Europa esse ranking é de somente 30%, o mesmo ocorrendo no Brasil.

Para o mercado brasileiro, a expectativa é de um período alvissareiro para 2001. Pelo menos esta é a previsão do diretor de vendas da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST). As vendas futuras para o terceiro trimestre giraram em torno de US$ 230/tonelada (FOB), enquanto que para o quarto trimestre, cujos preços serão negociados até o fim de agosto deverão flutuar ao redor de US$ 220/tonelada (FOB).

Entretanto, a tese defendida pelo professor Ruy Bahia é de que o retardo exagerado na privatização da indústria estatal brasileira, tal como ocorreu no setor elétrico, pode ter sido a principal perda de mercado de porte no Brasil, incluindo aí exportação e importação. A Volkswagem, por exemplo, previa importar aço porque não aceitava o aumento pretendido pelos produtores nacionais que ainda hoje não têm competitividade para o mercado externo.

Pelo lado governamental, o BNDES vem apoiando financeiramente o processo de reestruturação, modernização tecnológica e aumento da capacidade para adequação ao ambiente competitivo. Entre 1999/2002 os investimentos alcançarão US$ 7,4 bilhões, a partir de uma previsão inicial de US$ 10,4 bilhões. Desse montante, o BNDES desembolsou US$ 2,4 bilhões, ou 32,4% do total (tab. 1). Este segmento da economia brasileira ainda não opera nos padrões internacionais de larga escala. Por exemplo, apesar de o Brasil ser o 8º produtor mundial, a maior empresa brasileira, a CSN, é a 36ª no “ranking” dos maiores fabricantes mundiais e considerando o conjunto Usiminas e Cosipa, a posição é 23ª. A própria organização societária da siderurgia brasileira contém ainda muitos entraves, que a impedem de alcançar o pleno desenvolvimento do setor. Faz-se necessário, entretanto, um novo arranjo nessas composições para poder dar continuidade aos processos de fusão, aquisição e incorporação, visando a atuação através de grupos fortalecidos e competitivos.

Tabela 1 - Investimentos no setor do aço e participação do BNDES (US$ milhões)

Ano 1999 2000 2001 2002 Total

BNDES 830 799 487 317 2.433

Outros 2.752 639 741 603 5.005

Soma 3.582 1.438 1.228 920 7.438

Fonte: IBS e BNDES

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PROGRAMA AMBIENTAL DA ONU REFORÇA LADO SOCIAL DA MINERAÇÃO

Alberto Rogério Benedito da Silva

No início do mês de julho/2000, uma cerimônia realizada em Cambridge, Inglaterra, uniu o World Conservation Monitoring Center (WCMC) ao United Nation Environmental Programme (UNEP). O WCMC é um centro de monitoramento de conservação do meio ambiente, que, com a parceria, passa a ter responsabilidade para avaliar e informar todos os aspectos ambientais, incluindo a saúde de espécies e de ecossistemas ameaçados. De acordo com o diretor executivo do UNEP, Klaus Toepfer, os ecossistemas e as populações de espécies globais têm declinado cerca do 30% nos últimos 30 anos e a tendência é que essa queda seja acentuada com o passar dos tempos. Ele acredita que a pobreza nos países em desenvolvimento e o nível de consumo não sustentável em países industrializados são os principais fatores que contribuem para a perda da biodiversidade.

Direcionar ameaças à biodiversidade e tomar decisões importantes, baseadas em informações científicas precisas e acessíveis é um pré-requisito fundamental. Nesse sentido, o WCMC é um referencial para dar uma contribuição efetiva. O diretor do Centro, Mark Collins, assegura que a união com o UNEP dará ao seu trabalho um reconhecimento internacional e fará com que seus dados sejam mais acessíveis tanto para a elaboração de políticas públicas como para assessorar agências de desenvolvimento e de conservação, incluindo nesse rol a organização de planejamento ambiental. Para ele: “manter a biodiversidade do ambiente natural é um fator central para o desenvolvimento sustentável”.

Os principais objetivos da parceria são: i)- atender às necessidades de usuários nos setores públicos e privados; ii) - prover informações com objetivo de ajudar a proteção global e o gerenciamento sustentável da biodiversidade; iii) - manter equipes de alto nível de pesquisadores; iv) - expandir e enfatizar o papel na provisão de assessoramento, assistência técnica e treinamento para construir e manter um banco de dados envolvendo a biodiversidade que sirva de informação e capacitação aos países em desenvolvimento; v) - buscar parcerias de organizações em países em desenvolvimento, visando a aumentar e promover seus próprios trabalhos; e vi) - negociar acordos através de convenções internacionais

A parceria é uma oportunidade ímpar para reunir os especialistas do WCMC, em projetos inéditos lincados em redes e sites com ecologistas dos setores privado e público, envolvendo temas como educação ambiental, onde cerca de 2,25 milhões de visitas já foram feitas no site do WCMC, destacando-se alunos e professores. Serve também para enfocar a nova era da contabilidade social, como um programa de trabalho, onde as multinacionais BP-Amoco e Rio Tinto, por exemplo, decidiram compartilhar seus bancos de dados ambientais com outras empresas mundiais e escolheram o WCMC como o canal de gerenciamento dos mesmos. A responsabilidade do WCMC é selecionar quais dados serão disponíveis, o que fazer com eles e o que poderá ser envolvido, incluindo compartilhamento em ações e esclarecendo os motivos pelos quais as multinacionais estão dando este passo ambiental importante.

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Paralelamente, o WCMC compilou e mantém um banco de dados de espécies globais em extinções, envolvendo um tratado com a relação de animais e plantas sob ameaças, por ouro lado, o centro lançou recentemente o slogan: Biodiversidade global - a Terra já está consumindo os recursos do século 21.

Os governos e empresários estão repensando algumas suposições básicas em relação aos padrões de medidas dos planos de crescimentos econômicos, inclusive os estoques de ativos naturais, com ênfase à biodiversidade, como um elemento vital para a sustentabilidade. Dentro desse enfoque, outro fator preponderante é a qualidade de vida de gerações futuras, assim como as riquezas das nações, uma vez que todos esses parâmetros dependem de um ambiente natural saudável e produtivo.

Para a indústria mineral podem haver benefícios mútuos. Por exemplo, a disponibilidade do banco de dados do WCMC é importante no momento de serem tomadas decisões corporativas para exploração de uma nova área. Na oportunidade, a empresa pode ser alertada em relação à presença de espécies ameaçadas ou de uma área protegida. Mesmo considerando alguma resistência do setor em se aconselhar com o WCMC, mas como todos os projetos minerais, de um modo geral, são submetidos a auditorias ambientais anuais, e considerando, ainda, que todo novo projeto é obrigado a fazer estudos ambientais prévios detalhados, o banco de dados do WCMC é, sem dúvida, uma ajuda significativa e valiosa.

Os projetos mínero-industriais, especialmente em países em desenvolvimento, podem representar centros ideais para monitorar a biodiversidade. O site do UNEP-WCMC (www.unep-wcmc.org) é o terceiro local ambiental mais visitado, atraindo dois milhões de visitas por mês. Além do enfoque de educação ambiental, já citado, ele é visitado por estudantes do mundo inteiro e membros públicos de aproximadamente 200 mil comitês de profissionais. Como a indústria mineira luta para melhorar sua imagem, aqui está uma oportunidade de relações públicas que não deve ser perdida.

Resgatar essa experiência, fazendo um elo como as comunidades que gravitam em torno dos projetos mínero-metalúrgicos paraenses é a iniciativa a ser adotada por todas as empresas que aqui atuam. A contabilidade social, que, pela primeira vez, foi levada em consideração pela Vale do Rio Doce não deixa de ser uma boa iniciativa, todavia, a alternativa mais coerente passa também pelo estreitamento das ações com as unidades escolares, sem dúvida, o melhor efeito multiplicador com uma visão prospectiva de médio e longo prazos.

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PARCERIA COM A COMUNIDADE: UM EXEMPLO A SEGUIR NA MINERAÇÃO

Alberto Rogério Benedito da Silva

O editorial elaborado por Tracey Khanna na recente edição da revista Mining Environmental Management evidencia um estudo de caso no qual a Nicolet Minerals enfrentou um desafio em trabalhar com comunidades e grupos de ativistas ambientais durante a exploração de sua propriedade mineral de Crandon Mine, em Wisconsin, Estados Unidos. A iniciativa representou uma experiência envolvendo os atores citados para assegurar que uma nova operação mineira pode proteger o meio ambiente, sem deixar de lado os interesses da mineradora nem de seus acionistas. Trata-se de um esforço e desafio inéditos que envolvem toda uma parceria na fase do licenciamento do projeto.

Não obstante, a aliança do projeto educacional, incluindo grupos ambientais, nativos, residentes locais, sindicatos e estudantes, houve ainda fortes campanhas contra a implantação do projeto mineiro. A meta do empreendimento é educar e informar as comunidades locais sobre possíveis perigos que a exploração de sulfeto poderia trazer. A resistência ao projeto iniciou desde os trabalhos pioneiros e recentemente a empresa de mineração organizou uma reunião envolvendo estudantes e jovens, oportunidade em que foi discutida amplamente a validade da implementação do mesmo. Para complicar mais ainda, muitos tomaram como exemplo o acidente ocorrido, recentemente, na Romênia, o que foi mais uma resistência às implementações da operação. O projeto é um exemplo real do que pode ocorrer em prol ou contra a indústria mineral. Hoje os ativistas ambientais são crescentes no mundo inteiro e podem se transformar em uma resistência antimineral.

Em 1998, a pesquisa realizada em trinta países e coordenada pelo “Environics International Ltd” de Toronto-Canadá indicou que a maioria dos entrevistados discorda que as indústrias mundiais estejam trabalhando para assegurar um ambiente sadio a todos. Outro indicador da pesquisa é que, desde 1992 o país que mais se preocupa com o meio ambiente é o Canadá, superando, inclusive a preocupação com a economia, que, até bem pouco tempo, era uma prioridade nacional. Normalmente a mineração tende a ser considerada pela população não só como de baixa agregação tecnológica, ou seja, não é totalmente limpa, como pouco conhecida e divulgada. Em 1994, por exemplo, uma pesquisa realizada nos Estados Unidos por Roper Research, classificou a mineração em 24º lugar em termos de popularidade, atrás, até mesmo, da indústria do tabagismo.

No início de 2000, também no Canadá, a província de British Columbia e o Conselho de Minas Yukon realizaram uma pesquisa de opinião pública, em que 96% dos entrevistados votaram a favor da implementação de projetos minerais, desde que os mesmos tragam retornos econômicos e sejam conduzidos de forma ambientalmente correta. O estudo também sinalizou a mesma intenção a todas as áreas da província, tanto urbanas como rurais. Mesmo que não represente uma tendência internacional concreta, já são bons indícios de que o apoio público à indústria mineral pode ser considerado um fenômeno emergente. Todavia, se faz necessário que este apoio seja divulgado através de trabalhos educativos, visando principalmente a criação de consciência e efeitos multiplicadores nas áreas envolvidas.

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A maioria dos grupos ativistas internacionais é oriunda de países desenvolvidos. Mesmo assim, alguns questionamentos devem ser feitos, como: i) a comunidade deve almejar uma boa assistência orientada, onde o padrão de vida e o desenvolvimento dependem dos recursos naturais? ii) existe expectativa para manter um equilíbrio entre as necessidades econômicas, e as metas sociais e ambientais, sem levar em conta projetos minerais em uma região mineira? iii) é razoável confiar nas leis de países em desenvolvimento, onde suas matérias-primas são exploradas, mas suas regras não são claramente definidas, podendo estas se refletir em impactos sociais e ambientais? Seguramente, tais questões refletem grandes conflitos para a maioria dos ecologistas.

Uma dificuldade para a mineração é que os ativistas são extremamente articulados para disseminar informações, porém, nem sempre suas mensagens são tão seguras e precisas. O uso da Internet fortaleceu esse segmento, tornando-o mais eficiente e transformando o duvidoso em democrático. Recorrendo novamente à pesquisa realizada em British Columbia, a maioria dos consultados declarou que há carência de informações em relação à mineração, principalmente no que se refere ao número de minas da província, área ocupada por projetos minerais durante os últimos 140 anos, além de retorno econômico por superfície ocupada pela indústria mineira, comparada com outros segmentos da economia, como a silvicultura ou a agricultura.

Tais questionamentos servem para sinalizar que a indústria mineira deve ser mais eficiente em termos de divulgação de seus atos. Enfim, necessita ter uma comunicação mais competente com o seu público alvo e esta função seguramente tem que ser também dos órgãos governamentais. Papel similar deve ter o lado acadêmico, pois assim agindo, suas informações, mesmo não possuindo o viés popular ajuda no melhor entendimento do setor. Neste particular, a pesquisa de British Columbia indica que as pessoas hoje tendem a não confiar tanto em cientistas como no passado. A necessidade atual é de somar esforços para acrescentar informações não só à comunidade envolvida nos projetos minerais, como a todos os setores. Com esse procedimento, o mais importante é a massificação do papel do setor mineral em contraponto às campanhas direcionadas pelos grupos opositores.

Convencendo a comunidade a aceitar o desenvolvimento de um novo projeto mineral implica em cumprir um papel de responsabilidade e ofuscar os grupos ativistas contrários à sua implantação. Em suma, existe uma necessidade imperiosa de que é de romper o silêncio da mineração, apesar de, até o presente, isso não ocorrer. E a culpa é dos próprios dirigentes deste importante segmento da economia. Anunciando seus benefícios, a comunidade entenderá que o despendido, mesmo envolvendo tempo e dinheiro, será sempre entendido como algo bem empregado.

E para nós paraenses, que lição poderá ser tirada deste belo exemplo? Como Estado minerador não há outra alternativa senão buscar a comunidade para discutir os problemas e inserir na população as vantagens que ela pode trazer a todos. Uma boa iniciativa seria fazer estudos de casos prévios durante a elaboração do EIA/Rima dos projetos a serem implantados. A Gold Fields pretende fazer isso no projeto Cachoeira antes de explorar ouro na região do Gurupi. Outra alternativa é fazer um trabalho educativo junto às comunidades, principalmente

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nas escolas, onde os estudantes são os melhores efeitos multiplicadores. A Companhia Vale do Rio Doce já faz esse trabalho e pretende ampliar mais ainda. E os resultados? A melhor resposta é o índice de desenvolvimento humano (IDH) criado pela ONU, cujo crescimento nos municípios paraenses foi melhor naqueles que possuem atividade mineral ou seus produtos de transformação. Os exemplos de Parauapebas, Oriximiná e Barcarena comprovam isso.

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1

As “bandas” da indústria mineral do Pará 1

2

Alberto Rogério Benedito da Silva1 3

4

O ressurgimento na mídia do provável desmembramento do Estado do Pará acirra novamente 5

a expectativa da criação do Estado do Tapajós que contemplaria o Oeste paraense, 6

envolvendo vinte e dois municípios (Alenquer, Almeirim, Aveiro, Belterra, Brasil Novo, 7

Curuá, Faro, Jacaréacanga, Juruti, Itaituba, Medicilândia, Monte Alegre, Novo Progresso, 8

Óbidos, Oriximiná, Placas, Prainha, Santarém, Rurópolis, Terra Santa, Trairão e Uruará). A 9

área seria de 509,5 mil km2 e a população, de acordo com último censo do IBGE, da ordem 10

de 797,4 mil habitantes. 11 12 Para o governo estadual, segundo as notícias veiculadas na imprensa, o Estado a ser criado 13

representaria a banda pobre do Pará, haja vista que é responsável por apenas 4% da 14

arrecadação estadual (US$ 22 milhões) dos US$ 548 milhões arrecadados, em 1999, pelo 15

fisco estadual. 16

17

Pela ótica mineral, a banda Leste, liderada por Carajás, detém as principais reservas minerais 18

conhecidas (tab. 1). O minério de ferro é de escala planetária e de excelente qualidade, o que 19

o coloca em alta competitividade, em nível internacional. O manganês é a principal mina 20

brasileira, inclusive com minério eletrolítico, utilizado em fabricação de pilhas, a mina de 21

ouro do Igarapé Bahia é a maior da América Latina e o caulim representa cerca de 20% das 22

reservas nacionais. Os dados mensurados de cobre com ouro associado e os prospectos 23

conhecidos direcionam a região de Carajás para uma província cupro-aurífera de classe 24

internacional. Até mesmo as reservas de bauxita (carro-chefe da banda Oeste) apresentam 25

quantitativos superiores na banda Leste. 26

27

Na banda Oeste destacam-se as reservas de bauxita metalúrgica de Trombetas (Oriximiná) a 28

bauxita refratária de Monte Dourado (Almeirim) e o calcário de Itaituba (tab. 2). A produção 29

de ouro, originário da província do Tapajós, extraído por processos de garimpagem não 30

possuem reservas definidas e encontram-se declinantes, face ao exaurimento das reservas 31

superficiais. O ouro mensurado nessa região pertence à bacia do Rio Xingu (Volta Grande do 32

Xingu e Iriri). 33

34 35

36

37

38

39

1 Geólogo-consultor mineral e ambiental; e-mail: [email protected][email protected]

Tabela 2 - Reservas minerais da banda Oeste

Bem mineral Volume (mil t) Bauxita 650.000 Calcário 1.312.826 Estanho (mil m3) 21.473 Gipsita 580.479 Ouro ( t) 50

Fonte: DNPM/1997

Tabela 1-Reservas minerais da banda Leste do Pará Bem mineral Volume (mil t)

Ferro 17.354.527 Bauxita 1.747.675 Calcário 1.105.122 Cobre 1.348.298 Caulim 820.000 Manganês 80.807 Níquel 80.725 Tungstênio 1.907 Quartzito 85.797 Granito (mil m3) 30.737 Estanho (mil m3) 20.500

Tungstênio 1.907 Ouro (t) 300 Zinco 8.471

Fonte: DNPM/97

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Em termos de valor dos bens produzidos a banda Leste, com US$ 1.738,3 milhões, responde por 87,1% (tab. 3 e fig. 1), destacando-se: ferro, ouro, caulim e manganês, além de seus produtos de transformação (alumínio, alumina e vergalhão, cabo e ligas de alumínio, todos derivados da bauxita de Trombetas). A banda Oeste, responsável por 12,9% (US$ 257,5 milhões), tem seu principal apoio na bauxita de Trombetas (tab. 4 e fig. 1)

Banda Leste - 87,1%

ferro, ouro e manganêsalumina, alumínio e derivadosferro-gusa e silício metálico(bauxita e ouro)

Cotejando as exportações minerais, responsáveis por 80,2% ou US$ 1.714 milhões do total paraense, verifica-se que, novamente, a banda Leste tem a primazia (72,5%) e a banda Oeste responde por somente 7,7% (tab. 5)

A geografia mineral do Pará caracteriza também a banda Leste como a rota mais propícia para a verticalização mineral, mesmo que utilizando a matéria-prima da banda Oeste. O incremento da verticalização está escudado em um recente acordo fechado entre a Vale com o grupo norueguês Norsk Hydro, que entrou como sócio na Alunorte, capitalizando-a em US$ 200 milhões. O grupo também se comprometeu em participar com US$ 150 milhões de um investimento total de US$ 300 milhões para a expansão da produção de alumina no Pará de 1,5 milhão para 2,3 milhões de toneladas/ano. O aumento implica em acréscimo na produção da bauxita da Mineração Rio do Norte (Trombetas), em 1,6 milhão de toneladas/ano (investimentos de US$ 140 milhões). A esse total serão somados US$ 70 milhões da Albras, totalizando US$ 510 milhões de recursos nos próximos anos. A Vale assinou ainda outro contrato com a Hydro Aluminium para fornecimento entre 2000-2009, de 963 mil toneladas de alumínio da Albras, a um valor de US$ 1,55 bilhão.

Mesmo considerando a banda pobre do Pará, ao se configurar a criação do novo Estado, seus habitantes, compostos por pessoas trabalhadoras e honradas ficarão orgulhosos e com certeza prontos a enfrentar mais este desafio.

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Tabela 5 - Exportações Minerais Paraenses/99 (US$ mil - FOB)

Banda Leste

Empresa Bem mineral Valor %

Alumínio Brasileiro S.A. – Albras alumínio 527.051 24,7

Alumina do Norte S.A.- Alunorte alumina 130.261 6,1

Camargo Corrêa Metais – CCM silício metálico 11.059 0,5

Companhia Siderúrgica do Pará – Cosipar ferro gusa 14.872 0,7

Companhia Vale do Rio Doce – CVRD ferro 685.391 32,1

Companhia Vale do Rio Doce – CVRD manganês 23.726 1,1

Companhia Vale do Rio Doce – CVRD ouro 85.126 4,0

Pará Pigmentos S.A. – PPSA caulim 24.144 1,1

Rio Capim Caulim S.A. – RCC caulim 34.291 1,6

Siderúrgica Marabá – Simara ferro gusa 5.084 0,2

Soinco da Amazônia S. A. – Soinco vergalhões e cabos de alumínio 8.378 0,4

Soma 1.549.383 72,5

Banda Oeste

Empresa Bem mineral Valor %

Mineração Rio do Norte S.A – MRN bauxita matalúrgica 93.330 4,4

Caulim da Amazônia S.A. – Cadam caulim 64.413 3,0

Mineração Sta. Lucrécia S.A. – MSL bauxita refratária 7.003 0,3

Soma 164.746 7,7

Total das exportações minerais paraenses 1.714.129 80,2

Total das exportações paraenses 2.135.947 100,0

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MD

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A ONDA VIRTUAL INVADE O MERCADO, PEGUE-A OU FIQUE PARA TRÁS

Alberto Rogério Benedito da Silvaii

Márcia Baganhaii

Ultimamente, um novo tipo de empresa vem ocupando desordenadamente o mercado: as famosas ponto-com. O que isso significa para a economia mundial e qual seriam as implicações? Tudo, ou quase isso. Empresas como a Amazon.com, a Dell Computers, a Cisco System, e até mesmo a própria Microsoft, a cada dia têm suas valorizações crescendo e ocupando um espaço maior na mídia.

.

Um estudo realizado pelo Centro de Pesquisa em Comércio Eletrônico da Universidade do Texas mostra que a indústria da Internet nos Estados Unidos movimentou US$ 301,4 bilhões, em 1998. Já para a ActivMedia Research, empresa de pesquisa do Estado de New Hampshire, em 2003 esse valor saltará para US$ 1,3 trilhão. Hoje, a indústria americana da Internet já ocupa a 18a economia do mundo, rankeada atrás da Suíça e à frente da Argentina. Outro fato: nenhum outro ramo da tecnologia foi assimilado tão rapidamente. O rádio demandou 38 anos para ter uma audiência global de 50 milhões de pessoas; a TV aberta, 16 anos; a TV a cabo, 10; e a Web, somente 5 anos. Enquanto isso, "pense em quanto tempo outras indústrias levarão para alcançar US$ 300 bilhões em faturamento", afirma John Chambers, presidente mundial da Cisco Systems. E rebate: "literalmente, em menos de uma década nós atingiremos o que outros setores levaram 100 anos para atingir."

Acompanhando a tal onda, há mais um fator onipresente: o desaparecimento da estrutura física dessas empresas, tornando-as cada vez mais virtualizadas. Voltemos a Dell Computer Corporation, cujo valor de mercado é US$ 18 bilhões e vende cerca de US$ 20 milhões/dia em computadores, através de seu site na Web. E os seus fornecedores têm acesso em tempo real a todas informações envolvendo as transações, propiciando aos clientes o acompanhamento dos pedidos, desde a fábrica até a entrega. A permeabilidade chega a atingir setores industriais, como é caso da Nokia que, de uma simples produtora de papel, há duas décadas, hoje é uma das grandes líderes do mercado de telefones celulares.

O eBay, maior site de leilões do mundo, em quatro anos atingiu cifras de mercado de US$ 16 bilhões. E o seu portfólio de negócios é variável envolvendo fósseis, selos, feijões saltitantes mexicanos, livros, discos, talentos, dentre outros. A Sears, fundada há cerca de um século e um dos símbolos do capitalismo americano, hoje é avaliada em cerca de US$ 13 bilhões. Os investidores não pagam mais pelo valor presente das empresas da Web, mas sim pela perspectiva de futuro que elas podem trazer. Nos três primeiros meses deste ano, a Web foi responsável por um quarto dos carros vendidos nos Estados Unidos. A Wal-Mart, maior varejista do mundo, deverá colocar seu site de vendas no ar brevemente, investindo para isso US$ 500 milhões. Em 1998, a Net americana ocupou uma mão-de-obra de 1,2 milhão de pessoas, ou cerca de 1% de toda a força de trabalho do País. Para efeito de comparação, a indústria automobilística, representada pela Ford e General Motors, agrupava em suas fábricas pouco mais de um milhão de funcionários, em agosto deste ano.

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Não se pode esquecer ainda que acrescido a tudo isso vem a onda terceirizante das empresas e a redução do tempo; outras características do mundo virtual. As semanas foram substituídas por dias, os dias por horas e estas por minutos. A tecnologia de ponta (ponto-com) permite em curtíssimo tempo o contato entre empresas e consumidores, liderada pelo “business to business” e “business to consumer”. Tal fato remete à gestão de relações cliente-fornecedor, representada pela “fidelização”, ou a “superintegração horizontal”, decisiva para o sucesso e expansão de qualquer empresa, inclusive as virtuais. O melhor exemplo são, de novo, as empresas Amazon.com e a Cisco Systems. Das 28 fábricas que produzem materiais para a Cisco, somente duas são de sua propriedade. Não se pode esquecer da transparência em tais atividades, também essencial na nova onda de negócios, pois assim o cliente tem o conhecimento de seus métodos e abdica de procurar de concorrentes.

E o Brasil, em geral, e o Pará, particularmente, como reagem a esses acenos? As empresas virtuais, até o presente, sofrem diversas dificuldades, em nível nacional, onde, infelizmente, ainda impera o ineficiente sistema de logística. A velocidade das transações via Internet é maior que as empresas de transportes podem suportar, e com isso há muito atraso na entrega de mercadorias, ocasionando outro grande desafio: a resolução deste problema. É o que promete a Intecom (parceria entre o banco JP Morgam e o Grupo Martins), cujo tempo de entrega de encomendas não deve ultrapassar a 24 horas em, pelo menos, cinco mil municípios.

No caso paraense, além do difícil apoio logístico (grandes distâncias e baixa rede de infraestrutura) ainda há outro agravante: a qualidade dos serviços. Para avançar nesta onda é necessário investimento maciço em treinamento de recursos humanos. Só para cotejar, recentemente um artigo veiculado na IstoÉ Dinheiro comenta que na Tailândia em qualquer hotel para se alugar um automóvel basta contatar o “office boy” e apresentar o cartão de crédito.

Todavia, não resta outra alternativa. Ou entra-se na onda, ou então a onda passa e ficamos a ver navios. Ou mesmo, esperando a próxima pororoca. Com isso, a ordem é: mãos à obra.

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SÉRIE ISO 14000, O CAMINHO DA SUSTENTABILDIADE

Alberto Rogério Benedito da Silva

Após a gestão de qualidade da ISO 9000, a série ISO 14000, que tem preocupação com o desempenho ambiental, mostra o desempenho da sustentabilidade daqueles que a abraçam. Todavia, desde de 1947 que a International Organization for Standardization (ISO), uma organização não governamental com sede em Genebra e responsável pela elaboração e aplicação dos padrões internacionais de qualidade, certifica empresas dos setores comercial, industrial e tecnológico.

Em linguagem simples, a série ISO 14000 complementa sua antecessora direcionando-se para a envolvente externa da empresa, estabelecendo padrões de desempenho que permitem minimizar os efeitos adversos que a sua atividade tem no ambiente. Mais concretamente, essa série apresenta um vasto conjunto de métodos analíticos de amostragem e teste, destinados a lidar com desafios ambientais específicos. Ela desenvolveu mais de 350 padrões internacionais para o monitoramento de aspectos ambientais, tais como a qualidade do ar, da água e do solo, destinados a fornecer às organizações dados cientificamente válidos acerca dos efeitos ambientais da sua atividade econômica.

Mas o que é a série ISO 14000? É um conjunto de padrões internacionalmente reconhecidos por estruturar o sistema de gestão ambiental (SGA) de uma organização e o gerenciamento de seu desempenho ambiental. Inclui ainda padrões para o SGA (EMS) (14001 e 14004), auditoria (14010, 14011 e 14012), rotulagem (14020, 14021 e 14024), avaliação de desempenho ambiental (14031) e análise de ciclo de vida (14040).

A ISO 14001 é o documento base da série, elaborado após o sucesso dos padrões de qualidade da série ISO 9000. Sendo específico para os elementos mínimos de um SGA efetivo (EMS), as principais exigências para adquirir a ISO 14001 são: apresentar desenvolvimento de uma política ambiental com um compromisso para as necessidades (compliance), prevenção de poluição e melhoria continua; conduzir um plano que identifica aspectos ambientais de uma operação e as exigências legais, fixando objetivos e metas consistentes com a política e estabelece um programa de gerenciamento ambiental; implementar e operacionalizar um programa envolvendo estrutura e responsabilidades definindo treinamento, comunicação, documentação, controle operacional e preparação para atendimento às emergências; conferir uma ação corretiva, incluindo o monitoramento, a correção, a ação preventiva e a auditoria; e definir revisão contínua do gerenciamento.

A certificação pela ISO 14001 é uma validação reconhecida das conformidades de uma organização de seu SGA (EMS) em relação aos seus padrões, por uma empresa certificadora independente (third party). Ela é alcançada por um processo de cinco etapas que incluem: solicitação do registro; revisão da documentação do SGA (EMS); revisão preliminar no local; auditoria de certificação e determinação da certificação atual. Na realidade, é um processo contínuo que começa com a certificação inicial e que continua com auditorias de avaliação, que são executadas periodicamente para verificar as conformidades de acordo com os padrões

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requeridos pela série. O enfoque da auditoria de certificação tem como objetivo verificar se o sistema de gestão ambiental (SGA) da organização está sintonizado com os padrões da ISO 14001.

Os benefícios da certificação têm reflexos internos, como: melhoria na eficiência das operações com maior retorno nos investimentos; disciplina organizacional; reconhecimento e flexibilidade na legislação; proteção dos investimentos no SGA, envolvendo a revisão de auditoria independente que auxilia a manutenção de seu sistema com relativo reduzidos custos de manutenção. Já os reflexos externos envolvem: satisfação das necessidades contratuais; expansão de mercados e da base de clientes; maior competitividade; e melhora da imagem para clientes, fiscalização, funcionários, investidores, comunidade local e outros.

Após a implementação do o sistema de gestão ambiental, o passo seguinte é a criação do manual de gestão do ambiente, de acordo com as seguintes orientações: ISO 14001 (sistemas de gestão ambiental, incluindo a especificação e orientação para seu uso); ISO 14004: (sistemas de gestão ambiental, ressaltando as linhas de orientações gerais relativamente aos princípios, sistemas e técnicas de suporte); ISO 14010 (linhas de orientação para auditoria ambiental e princípios gerais); ISO 14011 (linhas de orientação para a auditoria ambiental e procedimentos de auditoria dos sistemas de gestão ambiental) e ISO 14012 (linhas de orientação para a auditoria ambiental, ressaltando critérios de qualificação para auditores ambientais).

Uma coisa é importante, após ser apresentado o pedido de certificação - e considerando que a mesma seja concedida - o percurso da gestão ambiental não termina. Anualmente, são realizadas auditorias de acompanhamento para efeitos de manutenção da certificação e para sua renovação, efetivadas de três em três anos.

É do interesse da entidade certificada garantir a conformidade com determinados padrões de gestão dos sistemas ambientais, pois estes ajudam não só a criar práticas mais sólidas de proteção ambiental como a garantir a sua continuidade. Se, por um lado, é maior a sensibilidade dos consumidores em relação à proteção ambiental e ao impacto do funcionamento das organizações no ambiente, prevendo-se que, em pouco tempo, eles se recusem a comprar de empresas potencialmente poluentes, por outro lado, a própria entidade certificada pode otimizar os seus processos, reduzindo custos de desperdício, de distribuição, de consumo de energia e de materiais, ao mesmo tempo que melhora a sua imagem junto aos clientes, investidores, fornecedores e entidades regulamentadoras.

Sem dúvida um outro avanço desenhado é a certificação SA 800 de qualidade, que impõe exigências, como a não contratação da mão-de-obra infantil; salários equivalentes para homens e mulheres; e garantias à segurança, saúde e integridade física e psicológica dos funcionários

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SEQÜESTRO DE CARBONO, UM NOVO PARADIGMA

Alberto Rogério Benedito da Silva

A expectativa sobre o tema s de carbono deveria ser um debate acirrado em Haia, Holanda. Esta foi a preocupação da jornalista Liana John através de um artigo veiculado no site da Agência Estado, entretanto, as delegações dos países signatários da Convenção de Mudanças Climáticas, os ambientalistas e os representantes dos principais países produtores de petróleo caminharam para a sexta reunião da Conferência das Partes (COP6), realizada entre os dias 13 e 24 de novembro, último sem nenhuma proposta concreta. Todos levaram maçudos relatórios, declarações e glossários diplomáticos, dizendo-se preparados para um quentíssimo debate sobre os chamados Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDLs) e sua possível influência na redução efetiva das emissões mundiais de carbono. Apenas promessa.

Os MDLs constituem diversos sistemas de financiamento à conservação ou plantio de florestas, ou mesmo financiamento à adoção de tecnologias limpas, em que os países emissores contribuem com os recursos financeiros e os países mais pobres adotam as medidas para reduzir ou deixar de aumentar suas emissões, ficando responsáveis pelo "sequestro" de carbono da atmosfera. Não se pode esquecer que as emissões de carbono hoje representam uma grande ameaça à humanidade, basta lembrar as decisões tomadas no Protocolo de Kioto, Japão, em 1997, que prevê a redução de 5,2% do carbono emitido no mundo, entre 2008 e 2012, em relação às emissões verificadas em 1990. Os efeitos dessas emissões representam aquecimento global da atmosfera, cujas consequências variam da elevação do nível dos oceanos a sérias alterações climáticas, capazes de desestruturar a agricultura e a economia mundial, além de inviabilizar a sobrevivência de ecossistemas inteiros, com extinção em massa de espécies. Um alerta dos ecossistemas naturais vem das recentes enchentes na Europa, os efeitos do El Niño e La Niña nas Américas.

Uma outra expectativa de resultado era o consenso entre países altamente emissores e países detentores de florestas, para a adoção dos MDLs. Verificando a posição brasileira nota-se como seria difícil este acordo. O Itamarati, responsável pelo comando da delegação oficial brasileira, bate na tecla da redução das emissões em todos os países e não aceita a inclusão das florestas nativas brasileiras nos MDLs. O mesmo ocorre com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e com algumas entidades ambientalistas.

Incluir as florestas nativas nos MDLs, tanto para o Itamarati, como para o MCT, seria engessar o desenvolvimento, mesmo que sustentável, e ameaçar a soberania nacional, na medida em que estes mecanismos pressupõem um compromisso de longo prazo com a redução das emissões (as florestas não podem ser cortadas em 30 ou 40 anos) e o monitoramento e controle dos financiadores sobre as parcelas de florestas comprometidas com o "sequestro" de carbono. Enquanto isso, o Ministério do Meio Ambiente (MMA), alguns pesquisadores e outros ambientalistas defendem a inclusão das florestas nos MDLs, vislumbrando nessa posição a chance de conter o ritmo assustador dos desmatamentos e queimadas, com alguma compensação econômica para quem preserva florestas. Assim sendo, ao contrário de ser um "peso morto" para os proprietários rurais, suas reservas florestais legais

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passariam a ser mais uma fonte de renda, o que tornaria mais fácil a adoção de uma agenda ambiental positiva.

Agora vejam, se os próprios brasileiros não possuem opiniões convergentes, como seria então o ponto de vista de outros países, principalmente os ricos, onde as disparidades são tais, que tornam incertos os resultados da reunião de novembro (COP6).

A participação decisiva dos Estados Unidos, ainda depende de outra posição: o resultado das eleições presidenciais, que continua pendente. Caso seja definida a eleição de George Bush, a atual hesitação em aderir ao Protocolo de Quioto pode se transformar em um claro retrocesso do maior emissor de carbono do planeta. Caso contrário – a vitória de Al Gore, hoje mais remota – podem ocorrer avanços significativos nos compromissos norte-americanos, muito embora o discurso não deva mudar o tom básico, de endosso às políticas de compensação (países emissores financiando países detentores de florestas) e não de efetiva redução das próprias emissões.

A China, defendendo seu próprio crescimento, aposta nas negociações como alternativa para incrementar o consumo de seus habitantes, em troca de suporte para de tecnologias limpas, nem sempre totalmente limpas. Por outro lado, os holandeses, assim como a maioria dos europeus, enveredam pelo lado da preocupação com o longo prazo, resgatando o que vislumbram além de Quioto. A intenção dos europeus é discutir a necessidade (ou não) de intensificar as políticas climáticas, suas viabilidades e sustentabilidades econômicas.

Fazendo um paralelo com a reciclagem, sem dúvida, uma boa alternativa aos lixões e aterros onde ainda se joga fora materiais úteis, mas que pode se tornar cara demais ou ineficiente para a conservação dos recursos naturais, se não vier acompanhada dos outros 3 "Rs" dos manuais ambientalistas: reduzir, racionalizar e reutilizar. Como a reciclagem, o sequestro de carbono seria boa alternativa, mas não se sustenta no longo prazo sem redução das emissões e do desperdício na queima de combustíveis fósseis, na queima de florestas, nos sistemas arcaicos de produção rural e industrial e nos excessos do consumidor mais rico.

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ÁGUA: LIQUIDO PRECIOSO, PORÉM MALTRATADO

Alberto Rogério Benedito da Silva

Recentemente a revista Galileu publicou a matéria denominada “Desventuras do planeta Água”. Nela mostrava que, em uma recente reunião da União Europeia, o presidente francês Jacques Chirac revelou que há, no momento, pelo menos 70 conflitos internacionais declarados por causa da água e há quem diga que isso é só o começo. "Nossos filhos verão mais guerras pela água do que por qualquer outra coisa", prevê o ambientalista inglês Robert Swan, um pioneiro da preservação da Antártica. Já, um estudo do Fundo Mundial da Natureza (World Wide Fund – WWF) parece confirmar a previsão: o consumo de água dobrará a cada 25 anos e, se o modo de gastar não for alterado, lá por 2008 cerca de 60% da humanidade não disporá mais de água suficiente ou, então, a receberá suja e em más condições de uso.

O diretor-geral do WWF, Claude Martin, alerta que todos precisam garantir um planeta vivo aos nossos filhos. A rigor, não é exato dizer que faltará água, pois o ciclo hidrológico a faz voltar sempre, nas fases de evaporação, nuvens, neblina e chuvas. O problema é que ela não cai na mesma proporção nem nos mesmos lugares; inunda várzeas e cidades, e falta em represas ou lavouras; em contrapartida, evapora-se de pradarias e vai cair em alto mar. O que vai faltar, e cada vez mais, é a água doce, potável, que cederá lugar à outra reciclada, clorada, às vezes suja e mais cara. Hoje, a sua falta já atormenta cerca de 1,3 bilhão de pessoas – um em cada cinco habitantes da Terra – e não é surpresa que o total de migrações no mundo tenha chegado, em 1998, ao recorde de 25 milhões de pessoas. Foge-se da seca talvez mais do que se foge da guerra.

Mas vejam só: 75% da superfície do planeta é composta de água, no entanto, desse total, 97% é salgada e está nos oceanos. Dos 3% restantes, que são água doce, 2% estão compactados nas duas calotas polares, e o que cabe aos 6 bilhões de seres humanos da Terra é somente 1%. E o pior, tão pouco e tão maltratado. No mar, superpetroleiros deixam enormes manchas negras de óleo pelo caminho, extinguindo a vida de peixes, algas, corais, pássaros, tartarugas, vegetação e a infinidade de microorganismos da biodiversidade marinha. Em terra, as indústrias despejam nos rios todo tipo de detritos, plásticos e tóxicos, que além de acabar com a vida à sua volta, inutilizam a água para uso agrícola ou urbano e vão poluir os mares, mais à frente.

A escassez atinge mais duramente a faixa ao norte da África, em países como Tunísia, Líbia, Jordânia e Arábia Saudita, e áreas centrais da Índia, nos estados de Punjab e Gujurat. Mas além da escassez há o descaso. Nas viagens à Antártica, cientistas descobriram lixo e até ossos de baleias apodrecendo sobre blocos de gelo que no futuro serão preciosas reservas de um mundo superpovoado e sedento.

A poluição tornou-se marca registrada de grandes rios. Antigos símbolos de civilizações, como os rios Ganges, na Índia, e o Nilo, no Egito, estão em largos trechos reduzidos a condutores de esgotos. O Amarelo, na China, e o Colorado, nos EUA, estão na lista dos ameaçados e, entre os grandes, só o Amazonas e o Congo estão em bom estado.

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Em outros lugares há um problema mais grave, o veneno, como o lançamento de mercúrio metálico em áreas de garimpo de ouro na Amazônia. Indústrias químicas fazem estragos a toda hora – a exemplo do que ocorrera com o derramamento de cianeto no Danúbio, em fevereiro passado, matando 150 mil toneladas de peixes.

Há até mesmo casos de pura incompetência, como o da antiga União Soviética, que desviou vários rios para a irrigação de lavouras e praticamente matou o mar para onde desaguavam – o de Aral, hoje representa uma desolada paisagem de areias sujas e água parada ao sul do Kazaquistão.

A distribuição da água, pelos cinco continentes, é muito desigual, mas o Brasil está em posição esplêndida nessa batalha: tem, sozinho, 8% dos recursos de água doce de todo o globo e imensas reservas debaixo da terra, os aquíferos, onde dormem 112 bilhões de metros cúbicos. Ainda assim, o país também sofreria muito com a falta de água dos outros. Como esse recurso não se cria do nada, a solução é simplesmente gastá-lo pouco e tratá-lo bem. Um amplo estudo do Fundo Mundial da Natureza, a “Campanha viva a água”, propõe reunir governos, empresas e grupos ecológicos numa grande operação para proteger mananciais, recuperar zonas úmidas, melhorar a captação e o transporte, reimplantar florestas para recuperar lençóis freáticos e planejar o uso sustentável de rios.

Projetos de dessalinização, para tornar a água do mar aproveitável, podem funcionar, como em Israel, Jordânia e Kuwait, mas só em pequenas quantidades. Discute-se, em alguns países, a ideia de mudar o modo de fornecê-la, deixando de entregá-la automaticamente nas casas e indústrias, para vendê-la, como qualquer outro produto – a água seria a commodity mais preciosa do próximo século.

O primeiro cidadão do mundo a chegar a pé ao Polo Sul (em 1986) e depois ao Polo Norte (em 1989), em duas viagens históricas, o ecologista inglês Robert Swan é hoje um herói de seu país. Bom orador, militante convicto e negociador competente, ele hoje se dedica em tempo integral à tarefa de recrutar jovens, obter ajuda de empresas e organizar a defesa da Antártica, cuja imensidão gelada o encantou pela imponência e lhe tirou o sono por toda a sujeira lá amontoada. Com ajuda de várias empresas, entre elas a Philips e a Unilever, Swan montou um pequeno e sofisticado barco, o "2041", cercou-se de voluntários e foi fundo em seu ideal, com a "Missão Antártica", cujo objetivo, em cinco anos, é identificar áreas poluídas, organizar o lixo em contêineres e retirá-lo de lá. A causa de Swan, no fundo, é uma contagem regressiva.

No ano 2041 (daí o nome do barco) vai expirar o acordo que impede a exploração econômica daquela região. Se ninguém fizer nada, pensa ele, naquele ano todas as 44 nações que lá estão vão atacar de uma vez só, em busca de petróleo, minérios, bases de pesca e pontos estratégicos para navios ou bases de satélites. "As crianças de hoje", diz ele, "serão os adultos que, naquele ano, estarão nos postos de decisão, ou próximos deles. Queremos engajá-las na defesa da Antártica". Por ora, seu projeto é montar uma expedição em 2001 para organizar a retirada do lixo da base russa da Antártica de Bellingshausen. E um de seus planos é juntar na sua expedição jovens de países em conflito e conclui: "temos que ser positivos nos nossos sonhos, ajudar os jovens a sonhar. Sem um sonho ninguém constrói nada."

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A CONSOLIDAÇÃO DA INDÚSTRIA MINERAL NA

AMAZÔNIA NA VIRADA DO MILÊNIO

Alberto Rogério Benedito da Silva

A indústria mineral na Amazônia é dividida em dois grandes segmentos: a indústria extrativa e a de transformação. A primeira, por sua vez, subdivide-se em: garimpo, representando a fase artesanal, ou semi-artesanal e mineração, onde os produtos são extraídos na forma in natura. Já a de transformação, envolve a verticalização dos bens produzidos no primeiro segmento.

Até 1950 esta indústria era caracterizada pelo extrativismo artesanal capitaneado principalmente pelo ouro. Na década de 50 dois fatores foram primordiais: a implantação do projeto Manganês, na Serra do Navio-Amapá – primeiro projeto mineral na Amazônia –; e o início da garimpagem do ouro na Província Aurífera do Tapajós-Pará. A década de 60 representou um marco histórico para a mineração nacional e mundial, com a descoberta de Carajás, em junho/67; outro fato de destaque foi incremento da garimpagem de cassiterita em Rondônia. Os anos 1970 iniciaram com a tentativa de o governo federal eliminar a garimpagem de cassiterita em Rondônia, deslocando os garimpeiros para a região do Tapajós-Pará, entretanto, foi nessa década que entrou em funcionamento o primeiro projeto industrial no Estado do Pará – a bauxita metalúrgica de Trombetas – e o segundo do Amapá – caulim de Mazagão. A década de 80 foi marcante, pois nela houve o start up de Carajás, com os projetos ferro e manganês; em Barcarena-Pará concluiu-se a implantação da Albras; em São Luiz-Maranhão, a Alumar; em Presidente Figueiredo-Amazonas, a instalação do projeto Pitinga; e em Almeirim-Pará, o projeto de bauxita refratária. Deu-se também a nova corrida ao ouro na Amazônia, tendo como papel de destaque a produção garimpeira em Serra Pelada-Pará. Na década de 90 o Pará ingressou no rol de Estados produtores de ouro industrial, com o projeto Igarapé Bahia, em Carajás; e na segunda metade da década mais três projetos entraram em fase produção: alumina, em Barcarena-Pará; e dois projetos de caulim da região do Rio Capim, no município de Ipixuna-Pará.

As reservas minerais da Amazônia não são só caracterizadas pela abundância, mas também pela qualidade (tab. 1), cujos dados oficiais indicam a excelente participação em nível nacional, dentre os quais: estanho com 87,4%, gipsita (95,3%), bauxita (80,6%), cobre (75%), caulim (72,6%), manganês (35,6%) e ferro (30,5%). Ressalte-se que o último, oriundo de Carajás, representa o maior volume concentrado deste tipo de minério, inclusive com alto teor de óxido de fero (Fe2O3), o que coloca o Pará em condições de alta competitividade no mercado mundial.

Outro dado importante é o peso da produção mineral amazônica em relação à mundial, destacando-se o manganês, o estanho, a bauxita, o caulim, o ferro e o alumínio (tab. 2)

Na década de 90, o valor da produção da indústria mineral da Amazônia alcançou US$ 30,4 bilhões (tab. 3). Desse total, o Pará responde por 57,8%, o Maranhão (20,3%), o Mato Grosso

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(7,2%), o Amapá (4,1%), o Amazonas (3,0%) e os demais (7,6%). Quando analisado somente 1999 (tab.3), o Pará, com US$ 1.985 milhões, aumentou sua participação para 63,1% e o Maranhão (US$ 720 milhões) para 22,3%.

Ao analisar por commodity mineral (tab. 4), há uma expressiva concentração no ferro e alumínio, respondendo no período considerado, respectivamente, por 21,7% e 29,2%. O primeiro oriundo da mina de Carajás (indústria extrativa), e o segundo de Barcarena-Pará e São Luiz-Maranhão, dois produtos da verticalização mineral que estão em ascensão e ambos consumindo matéria-prima paraense (bauxita de Trombetas). O ouro, mesmo declinante, representa três leituras: a passagem gradual do extrativismo garimpeiro para a produção industrial; o declínio da produção garimpeira; e os preços aviltados, em nível internacional, com reflexos no mercado interno.

Tabela 1 - Reservas minerais da Amazônia

Bem mineral Quantidade

(mil toneladas)

Teor - % % do Brasil

Ferro

Bauxita

Caulim

Cobre

Gipsita

Manganês

Níquel

Ouro (em t)

Estanho (em t)

17.354.527

2.394.675

1.120.686

1.348.298

1.660.179

80.807

80.725

550

516.000

66,0 – Fe2O3

50 – Al2O3

-

0,85-cobre

40- MnO2

-

-

-

30,5

80,6

72,6

75,0

95,3

35,6

16,4

12,3

87,4

Fonte: Anuário Mineral Brasileiro - DNPM – 1997

Tabela 2 - Produção mineral/99 (mil toneladas)

Commodity Amazônia

Mundo Brasil Ranking mun-

dial (Brasil)

Amazônia/

Brasil -%

Amazônia/mundo-%

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Alumínio

Bauxita

Caulim

Estanho - t

Ferro

Manganês

Ouro – t

Silício

710

10.450

1.020

18.000

45.814

1.350

21

15,6

22.200

125.000

20.000

209.000

1.020.000

7.400

2.400

3.400

1.200

12.500

1.280

20.000

180.000

1.400

60

260

5

4

3

4

3

6

7

5

59,2

83,6

79,7

90,0

25,4

96,4

35,0

6,0

3,20

8,36

5,10

8,61

4,49

18,24

0,87

0,45

Fonte: DNPM/Seicom/Sumário Mineral/Mineral Commodity-USGS/Metal Bulletin/Mining Journal

Tabela 3 -Valor da produção/unidade da federação – US$ milhões

90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 Total

Acre

Amapá

Amazonas

Maranhão

Mato Grosso

Pará

Rondônia

Roraima

Tocantins

3

199

147

483

301

1.544

157

96

90

2

143

76

490

290

1.583

94

56

120

1

107

104

531

282

1.441

107

16

135

1

135

94

549

282

1.506

82

12

145

2

172

84

634

287

1.562

83

16

140

2

122

98

743

155

1.837

58

7

135

3

141

104

667

158

1.947

63

4

114

3

85

73

667

154

2.149

60

3

124

3

80

60

700

140

1.993

56

3

120

3

75

60

720

130

1.985

50

3

120

23

1.259

900

6.184

2.179

17.547

810

216

1.243

Soma 3.020 2.854 2.724 2.806 2.980 3.157 3.201 3.318 3.155 3.146 30.361

Fonte: DNPM/Seicom/empresas

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Tabela 4 - Valor da Produção/commodity – US$ milhões

Commodity

90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 Total

Ferro

Alumínio

Ouro

Bauxita

Manganês

Alumina

Cassiterita

Outros

536

705

543

250

126

130

135

595

665

710

375

240

101

137

70

556

562

751

283

174

94

137

97

626

525

813

286

202

81

136

86

677

575

931

342

170

77

141

90

654

676

1.182

350

198

90

133

94

434

667

1.054

285

223

90

128

80

674

732

1.090

252

226

83

385

75

475

834

976

199

216

93

490

55

292

800

970

188

220

75

500

54

339

6.572

9.182

3.103

2.119

910

2.317

836

5.322

Soma 3.030 2.854 2.724 2.806 2.980 3.137 3.201 3.318 3.155 3.146 30.361

Fonte: DNPM/Seicom/empresas

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SOBREVIDA. À PEQUENA MINERAÇÃO NA AMAZÔNIA

Alberto Rogério Benedito da Silva

Nelson Bueno

Vinculado ao Ministério de Minas e Energia, o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) é quem fiscaliza e fomenta a mineração no Brasil. Ultimamente, o órgão exibiu um progresso significante, atualizando seu sistema de concessões de pesquisa e lavra de minerais, uma vez que, através de uma ação enérgica e com amplo uso da tecnologia, conseguiu atualizar a demanda de processos e hoje o sistema é transparente, inovador e funciona segundo altos padrões de qualidade e rapidez. Dentre os procedimentos utilizados pelo DNPM para atualizar seu sistema de concessões, um foi a instituição de uma nova legislação que lhe deu verba própria, oriunda de pagamentos de taxas diversas.

Em relação à lavra de minérios é consenso que as taxas são razoáveis e justas. O mesmo não ocorre com aquelas cobradas para a pesquisa de certos minerais. Dividida em dois grandes grupos: o primeiro, envolve basicamente os minerais industriais, aqueles de uso imediato na construção civil (areia, brita, seixos, argila e outros), na agricultura (fosfato), na indústria de papel (caulim), etc. E o segundo, de natureza completamente diferente do primeiro, são os minerais metálicos.

As taxas cobradas para o primeiro grupo também são consideradas justas e razoáveis. Mas é sobre o segundo grupo – os minerais metálicos – que a “taxa de ocupação de Alvará/hectare“ está afetando as empresas brasileiras com atuação na Amazônia.

Envolvendo ouro, cassiterita, ferro, cobre, e outros trata-se de uma atividade de alto risco econômico. Exige razoável conhecimento técnico, demanda enorme tempo e consome orçamentos elevados na fase de pesquisa – a de maior incerteza. Portanto, conviver com esta realidade é um mundo à parte.

Como o leitor poderia reagir se lhe fosse ofertado uma oportunidade de investimento em um projeto de pesquisa de minério, cujos indicativos fossem: um mapa, resultados de algumas amostras e a ideia de que ali poderia existir, num prazo indeterminado, uma mina de ouro, de cassiterita e de outro minério? E no momento de dirimir dúvidas, como: taxa de retorno do investimento, por exemplo, a resposta mais comum sempre é: ... não há dados disponíveis. Para se ter uma ideia do seu alto risco, na pesquisa de diamantes, a média estatística mundial é de que para cada mil ocorrências, somente uma se transforma em mina. Na de ouro, a relação é maior: cem para um.

É óbvio que existem alternativas para eliminar as dificuldades e transformar o investimento em algo interessante. O melhor exemplo foi idealizado no Canadá, no início do século passado, quando foram criadas bolsas de valores com o objetivo de dar condições ao surgimento de novos negócios minerais. As principais ferramentas lá, eram: “mapas e

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resultados de amostras, e nada mais“. Através de um sistema de emissão de ações e negociação em “pregões”, as pequenas empresas, conhecidas como “junior companies” capitalizaram-se. As que foram bem-sucedidas formam hoje algumas das megaempresas, como a Inco (maior produtora mundial de níquel) e a Noranda (maior empresa canadense e produtora de diversos tipos de minério). Seus os acionistas (pessoas físicas e jurídicas) que apostaram no risco, venceram juntos.

Um grande detalhe, a Bolsa de Vancouver-Canadá, criada especificamente como mecanismo de levantar dinheiro de risco, foi fundada em 1890. E com isso, as empresas canadenses proliferaram, assim como as australianas e estenderam seus interesses para o mundo afora, incluindo o Brasil. Aqui a pesquisa de minerais metálicos sempre foi executada predominantemente por multinacionais, muito embora no passado algumas empresas locais, com apoio de capital externo, também tenham sido bem-sucedidas. Com a chegada da globalização, a competição das nossas poucas empresas ficou em desvantagem e atualmente exceto a Companhia Vale do Rio Doce, recém-privatizada, em termos de empresa brasileira, nenhuma outra está atuando na busca de minerais metálicos.

As empresas estrangeiras, capitalizadas e com permanente orçamento disponível, invadiram o País e conquistaram o que existia de melhor em termos de chance de descobrir minérios. Isso fez com que as poucas empresas nacionais ou desistissem, ou formassem associação com as estrangeiras, sempre com participação minoritária.

Atualmente, a pesquisa mineral no mundo inteiro ressurgi de uma profunda crise, após o aviltamento dos preços das principais “commodities” e de uma grande fraude ocorrida nas bolsas canadenses, em 1997, que assustou grande parte dos investidores. Em relação ao ouro, a queda vertiginosa do seu preço, no final de 1998, promoveu o afastamento das empresas que buscavam esse metal.

O raro e disputado capital disponível está priorizando situações com chances de se implantar um projeto no curto-prazo, em áreas de fácil acesso, boa infraestrutura e mão-de-obra qualificada. A Amazônia não se encaixa neste quadro e hoje atrai poucos investidores, além de estar relegada aos últimos lugares no “ranking” das prioridades mundiais. Com isso, dezenas de indivíduos e algumas empresas menores que investiram no passado, sozinhas ou associadas com empresas estrangeiras, por não disporem de caixa para pagar as taxas do DNPM, estão sendo encaminhadas, sumariamente, à dívida ativa da União.

Uma boa alternativa para as empresas e indivíduos brasileiros, atuantes na Amazônia e que têm interesse em manter suas áreas, seria dilatar o prazo de validade dos Alvarás de Pesquisa, de 3 para 6 anos e diminuir retroativamente o valor da taxa, numa proporção significativa de cerca de R$1,00/ha para R$0,25/ha.

Mas como viabilizar tal proposta? Criada pela lei federal nº 9.314/96, o único caminho seria a edição de uma outra lei, alterando os valores propostos. Considerando os interesses regionais e a existência da Comissão da Amazônia no Congresso Nacional, onde os parlamentares defendem interesses comuns, a mesma poderia ser o fórum considerado ideal para iniciar os

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debates, logicamente que assessorada pelas Assembleias Estaduais.

Levando em conta que é uma medida simples, sem nenhuma oneração ao erário, e ainda que viabilizaria um segmento importante para a economia amazônica, dando-lhes um fôlego adicional para definirem suas pesquisas, fica o apelo para que nossos parlamentares abracem esta causa, tão nobre, quanto justa e urgente.

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O MERCADO BRASILEIRO DO AÇO E O

PROTECIONISMO NORTE-AMERICANO

Alberto Rogério Benedito da Silva

Um trabalho elaborado pelo BNDES, de autoria de Maria Lúcia Amarante de Andrade e colaboradores, indica que produção siderúrgica brasileira apresentou crescimento nas décadas de 70 e 80, porém, desde 1994 estabilizou na faixa de 25/26 milhões de toneladas/ano. O Brasil, que, em 1970, era o décimo oitavo produtor mundial, em 1998, subiu para a oitava colocação, representando 3,3% do total mundial e cerca de 50% da produção latino-americana.

Tabela 1 - Produção do aço (milhões de t)

Produção de Aço Bruto

1970

1980

1990

1996

1997

1998

1999*

Mundo – a

595,4

715,6

770,5

750,1

799,0

776,4

755,0

A. Latina – b

13,2

28,9

38,2

50,0

52,4

51,5

49,0

Brasil – c

5,4

15,3

20,6

25,2

26,2

25,8

24,3

c/a%

0,9

2,1

2,7

3,4

3,3

3,3

3,2

c/b%

40,9

52,9

53,9

50,4

50,0

50,1

49,6

Brasil-ranking

18º

10º

Fonte: IISI/Ilfa/IBS, * estimativa BNDES

Para o International Iron and Steel Institute (IISI) o consumo e a produção mundiais de aço, em 1999, foram, respectivamente, de 690 milhões toneladas e 780 milhões de toneladas. A Ásia respondeu por 40% (312 milhões de toneladas), a União Europeia (36% - 281 milhões de toneladas) e a América do Norte (14,5% - 98 milhões de toneladas). A China, com 111 milhões de toneladas, foi o maior produtor mundial e o Brasil ocupou a sexta posição com cerca 26 milhões de toneladas. Hoje, 40% do aço consumido no mundo é reciclado.

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A capacidade de produção brasileira, segundo o IISI, será de 32 milhões de toneladas de aço bruto, a partir do ano 2000. A retração na produção e nas exportações entre 1998/99, também deverão ser retomadas a partir de 2001.

Sob a alegação de “dumping”, em janeiro/2000, o governo americano sobretaxou mais ainda o aço brasileiro, em percentuais de 63% sobre a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e 46% sobre a Usiminas e a Cosipa. A oneração praticamente inviabiliza a participação dessas empresas no mercado americano.

O fato ocorreu devido a um erro de cálculo no período da coleta de dados para comprovar a operação de “dumping”, em função da desvalorização do real frente ao dólar, em janeiro/99. É que o período escolhido para a pesquisa foi de abril/98 a março/99.

Enquanto isso a reportagem de Robert Guy Matthews, veiculada no The Wall Street Journal, mostra que a indústria americana do aço, que sempre reclamou das siderúrgicas estrangeiras por receberem subsídios injustos, foi beneficiada com bilhões de dólares em subsídios públicos, segundo constatou o American Institute for International Steel Inc. (AIIS). Em seu relatório, o instituto contrapõe-se ao argumento usado pelas siderúrgicas americanas de que os produtores estrangeiros podem vender aço mais barato nos Estados Unidos, face aos pesados subsídios recebido de seus governos.

Além de receberem subsídios municipais, estaduais e federais, o AIIS classifica o setor do aço americano como protecionista, distorcendo o mercado global e forçando os consumidores americanos a pagar preços mais altos. A pesquisa descreve uma série de subsídios datados desde 1974, época em que o governo americano assumiu os benefícios de milhares de aposentados de 150 siderúrgicas, beneficiando o setor com cerca de US$ 2 bilhões, somente para esse programa.

O último subsídio concedido pelo presidente Bill Clinton, através da lei do Programa de Empréstimo, garantindo emergência ao aço, petróleo e gás, concedeu empréstimos de até US$ 250 milhões às siderúrgicas com dificuldades, visando, tão somente, o prosseguimento de suas operações.

O AIIS apresentou o relatório aos líderes em Seattle, durante a reunião da Organização Mundial de Comércio (OMC). A expectativa era que naquele encontro houvesse uma oportunidade para avançar a discussão sobre o livre comércio. Foi solicitado aos negociadores norte-americanos para que verificassem o comércio interno antes de propor qualquer alteração em programas governamentais. Tudo porque a discussão já perdura por mais de duas décadas e nesse período o governo americano vem fornecendo subsídios ao já deficitário mercado interno do aço, permitindo, com efeito, que a indústria doméstica mantenha e amplie sua capacidade. A conclusão do AIIS é que o grande perdedor não é o mercado, mas sim os contribuintes norte-americanos que subsidiam os produtores do aço e, em troca, pagam preços elevados.

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Mesmo com toda essa proteção, segundo o Bloomberg News, em nota de 02.02.2000, a Bethlehem Steel, terceira empresa americana do setor, demitirá 500 empregados (3,2% de sua força de trabalho), em função da baixa cotação do aço. A empresa, com sede na Pensilvânia, emprega cerca de 15.400 trabalhadores. Segundo o comunicado, a importação de placas de aço do Japão e de outros Países vem afetando fortemente a manufatura norte-americana, principalmente a Bethlehem Steel que tem tido sucessivos prejuízos com a queda de 9% nos preços do aço, ao longo dos últimos quatro trimestres.

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OS DESAFIOS DA INDÚSTRIA JOALHEIRA NACIONAL

Alberto Rogério Benedito da Silva

A produção mundial de jóias de ouro vem crescendo nos últimos cinco anos, a taxas médias anuais de 4,7%, graças a forte expansão da indústria indiana e de Países do Oriente Médio. Por outro lado, os asiáticos, exceto a China, retraíram suas produções. O mesmo ocorre com o mercado joalheiro latino-americano, cujo crescimento médio, no mesmo período, é da ordem de 13% ao ano. Essa performance é liderada pelo Brasil, que praticamente quadruplicou sua produção e já responde por quase um quarto do mercado.

As duas matérias-primas que alavancam a indústria joalheira são ouro e gemas. Ambas com ampla distribuição no território brasileiro, tanto em termos de qualidade, como de quantidade. Todavia, esse potencial não se expressa em termos de comercialização, pois mesmo sendo o Brasil responsável por mais da metade das reservas mundiais de gemas, suas exportações não ultrapassam a US$ 600 milhões, dos quais as barras de ouro somam quase US$ 390 milhões.

Em relação às gemas, as estatísticas do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM) indicam que, no Brasil, diamantes, safiras e rubis, respondem por cerca de 35% do total mundial, porém, sua fatia nesse mercado não ultrapassa a US$ 80 milhões/ano, enquanto que o comércio internacional é da ordem de US$ 1,5 bilhão. Como se vê, é um setor com grande potencial de expansão.

Os principais entraves às exportações nacionais são: elevada carga tributária, alta informalidade, baixa agregação de valor (venda de pedras preciosas em bruto), grande pulverização de participantes (garimpeiros, lapidários, etc.) e incipiente verticalização das empresas.

A carga tributária, hoje, representa a maior reclamação comercial. A reformulação e modernização dos tributos já mereceu atenção especial do IBGM, em conjunto com os ministérios de Minas e Energia, Fazenda, e Ciência e Tecnologia, além de alguns governos estaduais, entretanto, após a desvalorização do real frente ao dólar, todos os esforços sucumbiram e, atualmente, está sendo discutida de forma genérica no âmbito da Reforma Tributária, em curso no Congresso.

A indústria brasileira de jóias está concentrada basicamente nas micro e pequenas empresas (90%), que, segundo as estatísticas oficiais, correspondem a 1.200 unidades, ocupando mão-de-obra em torno de 26 mil pessoas. Entretanto, o IBGM estima que, incluindo os setores formais e informal, esses números podem chegar a 3,5 mil joalherias e bijuterias, 2 mil oficinas de lapidação e 22 mil empresas.

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Atualmente, contando com a parceria do Word Gold Council (WGC) e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o IBGM busca concluir uma pesquisa visando a aprofundar o conhecimento do setor.

Pela ótica da distribuição geográfica, Pará, Minas Gerais e Mato Grosso são os principais produtores de ouro. E Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, Pará e Rio Grande do Sul, os de gemas. Entretanto, quem lidera a exportação de jóias é o Rio de Janeiro, com 75% do total nacional, graças a presença de grandes empresas como, H. Stern e Amsterdam Sauer. O Rio de Janeiro, possui 70 empresas cadastradas oficialmente, que atuam em design e fabricação de jóias, e, com isso, concentram aproximadamente 18% da produção nacional, depois de Minas Gerais (25%), influenciado pela produção de gemas, e São Paulo, que é responsável pelo restante produzido no Brasil, tendo em vista que detém um parque industrial bem desenvolvido.

Um estudo feito pelo BNDES e liderado por Maria Lúcia Andrade conclui que o mercado internacional movimente cerca de US$ 7,5 bilhões em jóias, US$ 5 bilhões em diamantes e US$ 1,5 bilhão em pedras coradas. As exportações brasileiras são bastantes tímidas e não alcançam 2% do valor global. Os principais destinos dos nossos produtos de joalheria de ouro são: Estados Unidos, Suíça, Argentina e Peru, que respondem por 82% das vendas externas.

As estatísticas do IBGM, disponíveis até setembro/99, indicam que as exportações de gemas e metais preciosos, com US$ 368 milhões, retraíram 2,5% em relação ao mesmo período de 1998, com a maior posição ficando com os diamantes em bruto, e rubis, safiras e esmeraldas lapidadas (tab.1). Enquanto que as realizadas a não residentes, no período de janeiro-outubro/99, utilizando os benefícios do Antigo DEE, retraíram 9,3 % (tab. 2).

Tabela 1 - Exportações brasileiras de gemas e metais

Preciosos* - janeiro/setembro (US$ mil)

Principais itens 1998 1999 Cresc. - %

Diamantes em bruto 684 2.483 263,0

Diamantes lapidados 10.533 5.707 (46,0)

Pedras preciosas em bruto 16.622 18.791 13,0

Rubis, safiras e esmeraldas lapidadas 3.052 9.170 200,0

Outras pedras preciosas lapidadas 19.198 24.437 27,3

Obras e artefatos de pedras 6.748 7.107 5,3

Ouro em barras, fios, etc. 262.798 231.144 (12,0)

Produtos de metais preciosos p/indústria 29.523 40.024 35,6,0

Artefatos de joalheria de ouro 16.345 18.714 14,5

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Folheados de metais preciosos 5.542 5.727 3,3

Bijuterias de metais comuns 3.706 2.405 (35,1)

Demais itens 2.637 2.298 (12,8)

Total 377.388 368.007 (2,5)

Fonte: MDIC/Secex/Decex e IBGM, adaptada; () - indica decréscimo

* - não inclui exportações realizadas a não residentes (antigo DEE)

Tabela 2 - Exportação brasileira do setor de gemas e jóias realizadas

a não residentes, antigo DEE - janeiro/outubro (US$ mil)

Principais itens 1998 1999 cresc. %

Joalheria de ouro 25.780 25.853 0,3

Outros artigos (basicamente folheados de metais preciosos

10.923 7.306 (33,1)

Pedras lapidadas 5.623 5.373 (4,5)

Pedras em bruto 324 134 (58,6)

Total 42.650 38.666 (9,3)

Fonte: MDIC/Secex/Decex e IBGM, adaptada; ( ) - indica decréscimo

Já para aquelas exportações feitas pelo Capítulo 71 da NCM no período janeiro-junh/99, os estudos do IBGM indicam estabilidade, com destaques para rubis, safiras e esmeraldas, e lapidados, cuja performance foi de 141% (tab. 3).

Tabela 3 - Exportações brasileiras do setor de gemas e metais

preciosos. Capítulo 71 da NCM/1º semestre (US$ mil)

Principais itens 1998 1999 1999/98-%

Diamantes 7.664 4.443 (42,0)

Pedras preciosas em bruto 10.379 11.798 13,7

Rubis, safiras e esmeraldas, e lapidados 2.207 5.323 141,2

Outras pedras lapidadas 13.045 15.450 18,4

Obras e artefatos de pedras 4.246 4.634 9,1

Ouro em barras, fios, etc. 161.851 152.332 (5,9)

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Produtos de metais preciosos p/indústria 21.227 29.127 (37,2)

Joalheria de ouro 11.957 12.502 4,6

Folheados de metais preciosos 3.949 3.778 (4,3)

Bijuterias 2.112 1.781 (15,6)

Demais itens 2.633 2.375 (9,8)

Total 241.270 243.543 1,0

Fonte: MDIC/Secex/Decex e IBGM, adaptada – ( ) indica decréscimo

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ALTA DO PALÁDIO PUXA NOTAS ALVISSAREIRAS

E REAQUECE A MINERAÇÃO

Alberto Rogério Benedito da Silva

O paládio alcançou alta recorde – a maior de sua história – sendo cotado, na última quinta-feira, a US$ 735/onça-troy na LME. O maior produtor do metal é a Rússia com 70% do mercado. Segundo a Johnson Matthey Plc, 58% da demanda mundial de paládio, em 1999, foi destinada a catalisadores de carros da indústria automobilista (158 toneladas). Segundo a agência Reuters, as altas cotações respondem à demanda acelerada na União Europeia, Japão e Estados Unidos, este sintonizada com a decisão do presidente Clinton no sentido de reduzir a emissão de resíduos dos carros americanos. A platina seguiu a mesma trilha e foi cotada a US$ 575/onça-troy, no mesmo dia.

O Mining Investment Service (MIS) publicou recentemente um relatório com 112 páginas discorrendo sobre a exploração mundial do ouro, no qual considerou 970 depósitos especiais distribuídos em 88 países. Os prospectos encontram-se em várias fases de exploração, porém a maioria possui dados suficientes para estabelecer uma estimativa de recurso. Para cada prospecto, o MIS examinou localização, volume, teor, ouro contido e proprietário. A América Norte liderou a pesquisa em termos quantitativos, com 301 depósitos, sendo 126 nos Estados Unidos e 175 no Canadá. Austrália e arredores vêm em segundo com 282 depósitos e, em terceiro, a América Latina (195). Em relação aos dados do ano anterior, o maior crescimento foi da Austrália e arredores, onde a Austrália detinha 168 depósitos, seguida pelas Filipinas (25), Indonésia (24) China (15) e Papua-Nova Guiné (12). A pesquisa descreveu as 38 empresas mais importantes em termos de produção, que responderam por cerca de 1.220 toneladas, em 1999, cerca de 50% de produção mundial. Informou, ainda, que muitas dessas empresas estão adotando uma perspectiva crescentemente e globalizada para a exploração do metal.

Mundialmente conhecida como importante produtora de ferro, níquel, ouro e diamantes, a Austrália também é produtora significativa de minerais industriais – os minerais sociais –, incluindo 29 “commodities” nesta categoria. A nova classificação abandonou a denominação rígida desses minerais (não metálicos, não combustíveis extraídos e processados para fim e uso industriais) e incluiu na mesma: gálio, tântalo, minerais de titânio, vanádio e zircônio. Sua participação no mercado mundial envolve 34% de diamantes, 29% de zircão, 27% de rutilo e 15% de ilmenita. No final de 1998, a fusão da RGC com a Westralian Sands para formar Recursos de Iluka Ltd fez com que esta passasse a ser a segunda maior produtora do mundo de minerais de titânio, respondendo por aproximadamente um terço do mercado global. Na Austrália esta indústria é importante para novas oportunidades de investimentos, gerando mão-de-obra direta para de cerca de 4.800 pessoas nas mais remotas áreas.

O recente relatório do South African Minerals Review (1998-99) foi publicado pelo Centro de Política Minerais e de Energia. Seu autor Magnus Ericsson, do Raw Materials Group – Estocolmo, enfatiza e desmistifica as incertezas sobre a política mineral sul-africana e abri

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possibilidade para uma nova legislação mineral, a ser promulgada brevemente. Salienta, entretanto, que as mudanças não serão tão dramáticas, quanto esperadas. A parte mais importante serão as alterações anunciadas no sistema de direitos minerários. É que o governo está fixado no objetivo de longo prazo, onde tais direitos terão de beneficiar a população sul-africana como um todo. A proposta choca a política atual, mas, segundo Mr Ericsson, o governo tratará este assunto com muita cautela.

A decisão das mudanças sul-africanas não deixará nenhum vazio, pois a expectativa é que estes espaços poderão ser preenchidos por empresas juniores emergentes (principalmente com participação empresarial negra) e através de companhias mineiras internacionais, cada vez mais presentes no País. As mudanças anunciadas, mesmo que cautelosas, levam em conta que os investidores estrangeiros deverão estar atentos a importância da mineração sul-africana no contexto mundial. Paradoxalmente uma das mais importantes proteções da estabilidade será a nova classe emergente de empresários negros. Eles não gostariam de ver seus negócios sucumbirem e nem o governo admite tal possibilidade. Todos os novos investidores estarão altamente sensíveis às mudanças econômicas e políticas, entretanto, o papel de novos estrangeiros continuará sendo uma preocupação.

Um “boom” na demanda por aço inoxidável ajudado pela queda nas exportações russas, além dos sucessivos problemas em os projetos de níquel later tico australiano, fez cair os estoques da LME e podem elevar o preço do metal acima de US$10 mil/tonelada, até o final de março. Esta foi a afirmação de Macquarie Equities, em recente relatório. Enquanto isso, seu preço subiu ao nível mais alto dos últimos quatro anos, com o fundo de compra sendo a principal força na atual disputa. Esse panorama está incentivando as empresas a aumentarem suas produções e reexaminarem operações paralisadas. A Western Mining Corp (WMC), maior produtora de níquel da Austrália, já elevou sua produção anual para 100 mil toneladas e tomará uma decisão dentro do próximo mês de reabrir ou não operações que estavam ociosas durante os últimos dois anos, como as da Kambalda, por exemplo.

Recentemente, em Phoenix-Estados Unidos, a Phelps Dodge, parceira da CVRD em Carajás, anunciou que o alvo Sossego representa um significativo depósito de cobre-ouro. Os resultados de 121 furos de sonda, a profundidade média de 600 m, indicam uma reserva de 2,5 milhões de toneladas de cobre e 75 toneladas de ouro, entretanto, estudos adicionais podem aumentar, consideravelmente, esses números, podendo até dobrar as reservas mensuradas. Enquanto isso, CVRD informa que seus investimentos, em Carajás, destinados à pesquisa de cobre, este ano, alcançarão US$ 46 milhões.

A Anglo American pretende investir até 2003, no Brasil, US$ 1,4 bilhão, para viabilizar o beneficiamento de níquel, em Goiás e o projeto Salobo, em Carajás, dentre outros. Já seu braço de pesquisa mineral, a AnglGold, aplicará US$ 16 milhões na América do Sul, destes, US$ 6 milhões serão destinados ao Brasil.

A compra pelo Grupo México SA de CV de 54,3% da Southern Peru Copper Corp. (SPCC) no final de 1999 provocou forte ganhos da empresa no último trimestre daquele ano, face, principalmente, a comercialização de 91 mil toneladas de cobre, puxada pelas elevadas cotações do metal nos últimos períodos. Comentando o programa de expansão da companhia,

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Oscar González Rocha, novo diretor geral de SPCC, designado pelo Grupo México, disse que a expansão de Cuajone foi reduzida para 180 mil toneladas, em consequência da chuva e de problemas metalúrgicos no primeiro trimestre/99.

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AVANÇO TECNOLÓGICO RETOMA A CORRIDA AO OURO

Alberto Rogério Benedito da Silva

A reportagem de Ruth Simon do The Wall Street Journal comenta que, enquanto muitas pessoas prepararam para o ano 2000 estoques de champanhe e caviar, Joseph Dombrowski carregou-se de moedas de ouro. Por muito tempo este oficial da Força Aérea Americana costuma investir em fundos de ações, porém, a partir de dezembro de 1998, transferiu 90% de seu patrimônio para moedas comemorativas da águia americana, da folha de bordo canadense e da Filarmônica de Viena. Tudo por causa do bug do milênio, tão propalado na mídia. E o pior, muitos o seguiram, conforme afirmou Konstantin Kupfer, um joalheiro de Burlingame, na Califórnia, especializado em jóias finas e relógios, que vendeu mais de US$ 200 mil em moedas de ouro para clientes com medo do bug. Terence Hanlon, presidente da divisão de metais da corretora Dillon Gage Inc., afirmou que as vendas de moedas de ouro ficaram 60% a 70% acima do normal na época pré-ano novo.

Isso fez com que o Federal Reserve (banco central americano) mantivesse na virada do ano mais de US$ 200 bilhões em mãos – algo como US$ 2 mil para cada lar nos EUA, sem incluir os adicionais US$ 50 bilhões dos bancos comerciais. Ou seja, é muito dinheiro circulando no início do ano 2000.

Enquanto isso, uma nova versão da corrida ao ouro está ocorrendo na Califórnia e no Vale do Silício, igual a que iniciou no dia 24 de janeiro de 1848, quando um certo James Marshall, construindo uma serraria para John Sutter, achou uma pepita nas margens do American River, aos pés da Sierra Nevada. Na confusão que se seguiu, as terras e posses de Sutter foram destruídas com a invasão da área por mais de 100 mil aventureiros, só no primeiro ano, que transformaram a região numa paisagem lunar, semelhante a de Serra Pelada do início da década de 80.

Até a primeira Guerra Mundial, a maioria dos garimpeiros ganhava 3 dólares/dia, trabalhando de sol a sol em condições desumanas. Os chineses e outros, menos afortunados, viviam em regime de semiescravidão. Mais de 90% dos imigrantes era do sexo masculino e a violência do período é, até hoje, revivida por Hollywood. Pouquíssima gente ficou rica na primeira corrida: o trabalho era duro e incerto, a vida primitiva e arriscada, os preços astronômicos. Logo os mais espertos decidiram se tornar fazendeiros, mercadores e industriais. Alguns entraram no negócio de pás e picaretas, uma ideia genial, principalmente pela simplicidade. Qualquer um, achasse ouro ou não, havia de comprar instrumentos para procurá-lo. Pás e picaretas eram essenciais, valiam seu peso em ouro... ou quase.

Novamente, fazendo um paralelo com Serra Pelada, quase cento e cinquenta anos após, as mesmas coisas se repetiram, até parece uma cópia fiel, de envergonhar qualquer civilização.

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Agora, a definida por Sílvio Lemos Meira – veiculada no site da Agência Estado –, de corrida ao ouro versão 2.0 tem algo mais, além de sorte. As cavas de ouro, onde se concentram grandes pepitas, são os websites e serviços (portais, hubs, destinos?) usados pelos consumidores – os usuários finais. Na nova geografia virtual, os neogarimpeiros escavam tudo e em todas as direções, muitas das quais serão ouro de tolo, absolutamente virtual. Nestes, os construtores-garimpeiros buscam mercados e, principalmente, mentalidade, cultura e costumes (mindspaces) para produtos que ninguém sabe e nem quando precisará. Vão desde serviços para dar sua opinião sobre o que quiser, até lojas que vendem qualquer coisa e até mundos virtuais. Nos últimos momentos, já é possível pagar dinheiro real por espaço (físico?) virtual e a companhia salta para as bolsas de valores.

Muitos destes empreendimentos podem estar perdidos ou sem destino, em sua cruzada atrás do ouro, real, dos negócios virtuais. Outros buscam o pote no começo do arco-íris. Mas o certo é que todos usam e vão continuar usando servidores, roteadores, redes, bancos de dados, sistemas operacionais, softwares de segurança, engenhos de busca, sistemas de autoria, ambientes de programação, aplicações específicas e sabe-se lá mais quais ferramentas. Todos usam pás e picaretas variadas, e têm que usar. Era justamente aí que nós, aqui, deveríamos estar investindo: não para esta geração de ferramentas, que já tem fornecedores dominantes ou até monopolistas. Mas na próxima. E não estamos. Pelo menos não como deveríamos.

Todos esses dados podem levar a economia brasileira gerar bilhões de dólares em empreendimento e trabalho, fazendo das ferramentas da nova economia e transformando o ouro, real, do mundo virtual.

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ÁGUA, LÍQUIDO QUE SALVA E MATA

Alberto Rogério Benedito da Silva

Enquanto o projeto de lei nº 1.617, que cria a Agência Nacional das Águas (ANA), órgão com a responsabilidade de coordenar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, encontra-se em tramitação no Congresso Nacional, o pesquisador e professor Aldo da Cunha Rebouças, da Universidade de São Paulo (USP), considera que 50% da água da Região Nordeste está protegida da evaporação e pode abastecer o dobro da população da região do Polígono das Secas, que compreende os nove Estados do Nordeste e o norte de Minas Gerais. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima a população do nordeste em 33 milhões de habitantes, sendo 15 milhões no semiárido e a Organização das Nações Unidas (ONU) preconiza 100 metros cúbicos de água/habitante/ano. Assim, calcula-se serem necessários 1,5 bilhão de metros cúbicos de água por ano para suprir o semiárido. Como o potencial da água subterrânea é 58 bilhões de metros cúbicos/ano, segundo Rebouças, logo, pode-se abastecer mais que o dobro da população dessa região. Ele afirma que o semiárido, no nordeste brasileiro, tem 800 mil km² e os terrenos sedimentares, que têm água no subsolo, ocupam 700 mil km², isto é, 87,5% da área.

Segundo o pesquisador, as tecnologias para retirada dessa água são simples e devem ser acessíveis em nível de educação da população do semiárido, cuja maioria é analfabeta. "Basta uma bomba manual ou cata-ventos que usam a energia eólica (dos ventos)", explica. Esses elementos podem ser aplicados em poços, galerias ou canais. Um aspecto decisivo na escolha do método citado por Rebouças é o baixo custo, entre R$ 200 e R$ 400. Hoje a maior fonte de recursos hídricos da região são os açudes. Eles armazenam água das chuvas e dos rios. Mas a falta de condições para uso racional do líquido é um problema, pois carece de gerenciamento.

Já, a água contaminada por falta de tratamento foi a causa da morte de 342.732 crianças com menos de cinco anos no Brasil, entre 1979 e 1995, o que dá, em média, 21.420 óbitos por ano. A informação é da Fundação Nacional de Saúde calcada em dados das Secretarias Estaduais de Saúde. De acordo com o estudo, as crianças afetadas tiveram cólera, febre tifóide, amebíase e infecções intestinais que causaram as mortes. Cerca de 40% dos óbitos aconteceram na região Nordeste, onde 142.621 crianças morreram entre 1979 e 1995. A região Sudeste ficou em segundo lugar, pois teve 119.975 óbitos infantis no mesmo período. Em seguida vêm a região Sul (51.567); Norte (35.651 mortes); e Centro-Oeste (12.918). Os números devem ser maiores, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, pois nem sempre as mortes, especialmente de crianças, são comunicadas aos cartórios e às prefeituras. Para o ano 2000, o Ministério do Meio Ambiente, dentro do programa Avança Brasil destinou R$ 47 milhões para melhorar o aproveitamento dos recursos hídricos, aliando a utilização da água com o equilíbrio ambiental nas bacias do Paraíba do Sul, São Francisco e Araguaia-Tocantins.

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Por outro lado, um meteoro que caiu recentemente no Texas continha cristais de sal - e, presas ao sal, havia gotículas de água. Os cristais de sal foram datados como de 4,5 bilhões de anos atrás, o que abre a possibilidade de as gotículas de água serem mais antigas do que se pensa. Realmente, uma nova preocupação científica, até mesmo para a Nasa que vem estudando o assunto.

As estimativas da ONU indicam que mais de 20 países no mundo já sofrem com a falta de água, e nos próximos 25 anos 2,8 bilhões de pessoas viverão em regiões de seca permanente. O Brasil não está fora desse cenário, apesar de possuir a maior bacia hidrográfica do planeta e 8% de toda a água doce existente na superfície da Terra, todavia, sofre com a má distribuição dos recursos hídricos. Cerca de 80% do volume total dessas águas está concentrado na região Norte, que tem a menor densidade demográfica do País – somente 5% dos brasileiros, ou seja, 95% dos habitantes dividem os 20% restante. Em economia, a escassez de um produto é o que lhe dá valor econômico, e pelos maus tratos e descasos que a água vem sofrendo não é de se estranhar que ela possa se tornar a “commodity” do século XXI. Isto vem sendo discutido e foi tema do H2O Summit, realizado em São Paulo.

No século 21, a geoestratégia dos países deverá ser chamada de água. Com isso, haverá necessidade de se contabilizar os custos do desenvolvimento econômico quando o empreendimento envolver os recursos hídricos. Após a revolução industrial os países hoje desenvolvidos cresceram usando tais recursos indiscriminadamente. Hoje, os países em desenvolvimento devem olhar para esse passado e crescer de uma forma mais sustentável.

Para os estudiosos do tema, o planejamento nas atividades humanas que interferem no ambiente é primordial às questões ambientais, envolvendo construção de sistemas de irrigação, de barragens e transposição de águas. Já em relação à poluição dos recursos hídricos, o mais grave que ocorre atualmente é o lançamento, cada vez maior, de esgotos sem tratamento, onde o crescimento excessivo de bactérias provoca a morte de peixes e de toda espécie subaquática. Os exemplos mais graves dessa contaminação no mundo inteiro são: Mar Negro, Mar Adriático, Mar Báltico, Golfo do México, Golfo de Bengala, e Baía da Guanabara.

E a ONG Recicloteca - Centro de Informações Sobre Reciclagem e Meio Ambiente, sob o patrocínio da Brahma promove o II Prêmio Recicloteca de Monografias com o tema Alternativas Contra o Desperdício: A Reciclagem da Água. O concurso, que tem como objetivo incentivar a produção bibliográfica que envolva a reciclagem, é aberto ao público em geral de todo o país. Todas as monografias concorrentes serão incorporadas ao acervo da Recicloteca, e as duas melhores serão premiadas.

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O ETERNO BRILHO DO OURO

Alberto Rogério Benedito da Silva

O fim de qualquer ano serve para boas reflexões, todavia, em particular, o recém terminado, merece mais ainda, tendo em vista que representa a confluência do fim da década, do século e do milênio. O ouro, por seu turno, tem uma história longa a ser refletida. Ele foi bem concebido pela sociedade desde o início deste milênio. Sua beleza, fugabilidade e escassez relativa na natureza responde por uma alta procura e respeito. Esta demanda significou esforços de muitos para procurar e recuperar o metal precioso. Como o que Tim Green relacionou recentemente no World Gold, citando o Brasil e a Rússia, que se tornaram centros de produção, seguidos da Califórnia (Estados Unidos), Austrália, Canada e África do Sul que representaram os grandes “gold rush” no mundo.

Até a segundo a metade do século XX o que vigorava na economia era o padrão-ouro, porém, nos últimos anos predominaram no mundo todo três moedas básicas: dólar, euro e iene. Mesmo assim a campanha gradual de removê-lo como padrão monetário do mundo, fez com que o metal amarelo fosse mais desejado pela sua atração e utilização como adorno.

Cotejando a fatia da produção, a África do Sul se tornou um provedor proeminente, face as suas vastas reservas subterrâneas, localizadas na Bacia de Witwatersrand. Nos anos 60, aquele País alcançou a produção máxima de 1.000 toneladas. Com a crise do petróleo e a consequente alta da inflação, ao longo dos anos setenta, o preço do ouro mostrou-se ascendente, chegando a alcançar mais de US$ 800/onça-troy, no início de 1980.

No longo prazo, o impacto da indústria era profundo e isso acelerou a procura mundial por depósitos de ouro, desta feita dirigida por uma nova geração de empresas (as juniors companies), que predominou na década de oitenta, até a primeira metade da década de noventa. Essa meta, aliada às reformas políticas e econômicas ocorridas na América do Sul, Sudoeste da Ásia, Leste e Oeste África e nos países da ex-União Soviética, ajudou à exploração de novas oportunidades em busca do ouro. A produção cresceu em países tradicionalmente produtores como os Estados Unidos, Canadá e Austrália, que se contrapôs ao declínio gradual da produção da África do Sul.

Com a proximidade da virada do milênio a conclusão é que a produção aurífera está em nível mais alto e a indústria é verdadeiramente global, embora os ativos da produção estejam, cada vez mais, concentrados nas mãos de alguns principais “players”. Num horizonte mais elástico, a expansão da indústria observada nos últimos anos deverá arrefecer, devido ao baixo preço do metal. Não obstante, ainda há depósitos de classe mundial a serem encontrados, certamente um desafio para a interface do próximo milênio

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O LBMA Autumn Seminar, realizado recentemente, caracterizou dois documentos no tópico ouro como recurso de reserva, que travaram discussões acirradas. Embora houvesse algum acordo no ponto de vista do mercado, as características distintas entre as duas correntes eram as diferentes interpretações no evento. A revelação de Andy Smith, da Mitsui Global Precious Metals, é de que não haverá nenhuma surpresa e que o ouro deverá continuar mantendo seu papel no setor oficial. Ele resumiu, assim, sua posição: "Como reserva oficial o ouro é o prato preferido de todos, representando um silencioso jogo de palavras”. Opondo-se a esse pensamento estava Harry Bingham, da Van Eck Associates, que defendeu uma reavaliação do papel monetário de ouro. O “slogan” de sua campanha estava baseado no seu comentário: "... dinheiro protege dinheiro, mas o ouro pode proteger a riqueza acumulada de uma geração ".

A demanda por ouro alcançou o maior volume no terceiro trimestre/99 com 876,5 toneladas, de acordo com o World Gold Council (WGC), representando aumento de 8% em relação ao segundo trimestre /99 e 22% maior que o terceiro trimestre de 1998. Porém, o WGC adverte que o aumento do preço em função do “Acordo de Washington” pode bater a demanda no quarto trimestre, tradicionalmente o mais forte do ano. Para os 27 países cobertos pela pesquisa trimestral, o WGC informa que a demanda por jóias foi de 747,4 toneladas, acréscimo de 22% em relação ao terceiro trimestre, enquanto isso, a demanda de investimento também subiu, 19%, alcançando 129,1 toneladas. Regionalmente, a demanda na Índia, a maior consumidora de ouro, cresceu pelo terceiro trimestre consecutivo, alcançando 241 toneladas, 38% mais que o mesmo período do ano anterior.

A forte demanda, em cima dos dois últimos trimestres, em particular, incitou o WGC para questionar quanto do aumento pode ser atribuído ao baixo preço do ouro no período. A demanda por ouro tende a ter um forte componente sazonal e tradicionalmente o segundo e terceiros trimestres são mais fracos que o quarto trimestre. As estimativas calcadas em fatores sazonais e elasticidade de preço do WGC está baseado na performance do primeiro trimestre e na demanda por joalheira do trimestre de junho, que teria sido ao redor 660-665 toneladas. O relatório do WGC conclui que a demanda do segundo e terceiro trimestres deste ano não pode ser explicada somente pelas flutuações dos preços. É necessário adicionar uma demanda adicional em função de rendas adicionais do consumidor, como resultado do aquecimento na economia global, melhoria na economia indiana e mesmo a subida nos preços do petróleo. Todos estes fatos teriam impulsionado acréscimos em rendas e consequentemente demanda por ouro.

No apagar das luzes de 1999, o artigo de Jeffrey Christian, diretor gerente do Grupo CPM, sediado em Nova York, explicou o movimento dos “bulion banks” e ainda a reimpressão da tiragem do Grupo CPM, chamando a atenção em vários aspectos dos mercados de metais preciosos. Um dos pontos focalizados foi o desconhecimento do próprio mercado, exemplificado através da comercialização dos “bulion banks” e dos “dealers”, que são pouco conhecidos pelos observadores do mercado.

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PLANETA E HOMEM CONTINUAM EM EVOLUÇÃO

Alberto Rogério Benedito da Silva

Com a detecção de seis novos planetas orbitando estrelas vizinhas, amplia-se o conhecimento sobre os sistemas planetários. As descobertas fazem parte de um projeto de longo prazo, financiado pela Fundação Americana de Ciência e pela Nasa para observar 500 estrelas vizinhas e possíveis planetas. A proposta é liderada por Steven Vogt (Universidade da Califórnia, em Santa Cruz), Geoffrey Marcy (Universidade da Califórnia, em Berkeley), Paul Butler (Instituto Carnegie - EUA) e Kevin Apps (Universidade de Sussex-Inglaterra) e para tal utilizam, preferencialmente, o telescópio Keck I, do Hawaí.

Como os planetas exercem forças gravitacionais que provocam variações na velocidade das estrelas, além de diminuir o brilho destas ao passarem em frente, a busca de um planeta se dá observando-se essas variações. Vogt e seus colaboradores confirmaram esse método de detecção, ao conseguiram medir a diminuição do brilho de uma estrela quando um planeta passou à sua frente.

Os seis planetas orbitam estrelas semelhantes em tamanho, idade e brilho do Sol e estão localizados entre 65 e 192 anos-luz de distância da Terra. Suas massas variam desde ligeiramente menores até várias vezes maiores que a do planeta Júpiter e a composição é provavelmente semelhante - basicamente hidrogênio e hélio. As órbitas tendem a ser bastante excêntricas, com um traçado mais oval que circular. Até agora, somente um outro sistema de planetas múltiplos, ao redor da estrela Upsilon Andromedae foi identificado fora de nosso sistema solar. O número total de planetas fora de nosso sistema solar descoberto pelos astrônomos é 28, todos encontrados nos últimos cinco anos.

A matéria veiculada na revista científica Nature, de dezembro/99, informa que pesquisadores dos Estados-Unidos, da Inglaterra e do Japão estabeleceram um marco no Projeto Genoma Humano (PGH), publicando a primeira sequência, até hoje obtida, de um cromossomo humano. Identificado como cromossomo número 22, ele é um dos menores em tamanho. Embora ainda haja algumas pequenas lacunas na sequência de 33,4 milhões de pares de bases (Adenina/Timina e Citosina/Guanina) que formam o cromossomo, já foram identificados nele 545 genes, estimando-se que possa conter cerca de 1.000. Sob o ponto de vista médico, acredita-se que pelo menos 27 doenças decorrem de mudanças nos genes do cromossomo 22, incluindo alguns tipos de câncer e possivelmente a esquizofrenia.

A determinação da sequência do genoma humano estará completada até 2002. A partir dela, será possível, em princípio, identificar as 200 a 300 mil proteínas de que é formado um ser humano. Isto não será fácil, pois requer comparações com genomas de muitos outros tipos de organismos que também estão sendo sequenciados. O conhecimento de todas as proteínas codificadas por um

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gene será apenas um primeiro passo na compreensão de seu funcionamento, que, a exemplo do cromossomo 22, envolve um número gigantesco de interações entre centenas de proteínas.

Doenças de origem genética estão associadas a mudanças em uma pequena fração das bases que constituem o DNA. Um consórcio de que fazem parte as principais indústrias farmacêuticas está procurando catalogar as 300 mil mudanças mais comuns em populações humanas. Cada ser humano é individualizado pelos seus genes, as mudanças que ocorrem neles e sua interação com o meio ambiente. A compreensão das causas das doenças vai requerer a análise desses três fatores. O PGH trará uma contribuição fundamental para esse objetivo, mesmo que represente apenas sua etapa inicial.

Já o Proceedings of the National Academy of Sciences, de outubro/99 publica resultados obtidos pelos botânicos Douglas Schemske e H. Bradshaw Jr., da Universidade de Washington (Seattle –Estados Unidos), que contradizem a teoria convencional de que a evolução das espécies é um processo extremamente lento e gradual. Os cientistas estudaram os efeitos de mudanças muito pequenas do genoma, afetando possivelmente um único gene, nos mímulos (flores muito procuradas por abelhas e beija-flores). A espécie vermelha, Mimulus cardinalis, é procurada pelos beija-flores e a cor de rosa, Mimulus lewisii, é polinizada por abelhas. Uma alteração mínima do genoma dos mímulos vermelhos aumenta a secreção de néctar ao ponto de duplicar as visitas de beija-flores. Outra pequena alteração no genoma dos mímulos cor de rosa altera a pigmentação, reduzindo em 80% as visitas de abelhas. Os resultados foram obtidos em pesquisas de campo e os pesquisadores acreditam que alterações radicais produzidas por mudanças de um único gene poderiam ocorrer quando uma espécie enfrenta uma possível catástrofe, como a destruição de seu polinizador.

Enquanto isso, liderado por Alban Defleur, da Universidade do Mediterrâneo em Marselha (França), também na Science de outubro/99, mostra evidências de que grupos de neandertais que praticavam o canibalismo foram encontradas por pesquisadores franceses e norte-americanos de diversas instituições. Os indícios foram localizados na caverna de Moula-Guercy, na França, ocupada pelos neandertais cerca de 100.000 anos atrás. Sabia-se que os neandertais caçavam veados, cabras e outros animais, cujas carcaças eram cortadas com utensílios de pedra, inclusive extraindo tutano de ossos. Os vestígios encontrados são fragmentos de ossos humanos com marcas inteiramente análogas àquelas dos ossos de animais, indicando claramente tratar-se de canibalismo. É conhecido que outros grupos de neandertais enterravam os seus mortos. A descoberta pode demonstrar variações culturais entre os neandertais ou um tratamento diferente por ventura dado a inimigos.

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CHECK-UP NA SAÚDE MUNDIAL

Alberto Rogério Benedito da Silva

Para medir as principais ações de saúde no mundo inteiro a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou o seu World Health Report 2000, publicado na penúltima semana de junho. Contendo mais de 200 páginas o relatório faz um raio-x das principais ações que visam ao bem-estar da população, englobando, dentre outros itens: expectativa de vida, distribuição de renda, metas de atendimento, gasto per capita em saúde, performance do sistema de saúde e um ranking mundial da saúde. O assunto já ocupou este mesmo espaço em um artigo publicado dia 26.06.00, de autoria de Fernando Scaff, sob o título: “Brasil ficou em 125º lugar no campeonato mundial”, mas também ganhou destaques nas mídias mundial e nacional.

A revista The Economist fez um resumo interessante em sua penúltima edição (Evaluating health care, the health of nations). Nele considera que a medicina moderna pode ser boa para medir a saúde de pacientes, mas provou que é menos eficiente para medir seu próprio pulso. Avaliar o desempenho do sistema de saúde de um país não é nenhuma tarefa fácil, uma vez que inclui a própria medicina, a avaliação de drogas e dietas, e ainda porque alguns critérios escolhidos de mortalidade infantil são difíceis de definir. As comparações feitas entre países são até mais enganadoras, haja vista que os sistemas de saúde diferem radicalmente em seus financiamentos, organizações e metas sociais a alcançar.

A OMS classificou os sistemas de saúde de 191 países de acordo com suas performances, envolvendo as ações citadas. O estudo também considera a responsabilidade dos sistemas de saúde, levando em conta o atendimento médico, a maneira que são escolhidos e como oferecem e respeitam os pacientes, bem assim outros critérios direcionados para o referido atendimento.

Embora um de seus interesses seja a qualidade dos sistemas de saúde dos países, a OMS também se preocupa com a justiça social, que envolve um serviço adequado tanto aos pobres como aos ricos. Assim, foi observado como ocorreu a distribuição da expectativa de vida da população pesquisada; a qualidade dos serviços de grupos no sistema de saúde e como são tratados; e a distribuição de gastos por família em cuidados médicos. Este último funcionou como indicativo de pobreza, tendo em vista que a maioria da população possui assistência médica inadequada, incluindo atendimento fora dos planos de saúde das famílias. Muitas dessas coisas são difíceis de medir e até mesmo a maneira de amostragem é altamente controvertida. Mas, o resultado final foi um ranking de posicionamento global do sistema de saúde de cada país (tab. 1).

Não foi surpresa que o Japão e os países nórdicos, além da Suíça e Canadá, ocupassem as primeiras posições. Assim como as últimas colocações, com a exceção de Afeganistão e Myanmar, todos pertencem ao subcontinente do Saara africano, onde os gastos com saúde são

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reduzidos, resultando em precários serviços médicos, e refletindo em pobreza e desnutrição, além de AIDS, malária e outros doenças endêmicas. Todavia, houve também surpresas. A Colômbia que adquiriu marcas baixas de expectativa de vida apresentou bons resultados em distribuição de renda – primeira no ranking: seu governo trabalhou duro na última década para reverter o sistema de saúde e de pobreza do país. Outra surpresa, o sistema de saúde americano que é considerado competente e exemplar, não reflete na saúde da população em geral, pois a expectativa de vida dos Estados Unidos obteve a 24ª colocação no ranking mundial. O pior ocorreu com a distribuição de renda, classificada em 54ª posição, a mesma de Fiji, um país praticamente desconhecido. Desnecessário é dizer que os Estados Unidos são a maior economia do mundo e há anos estão em ascendente crescimento.

Na pesquisa, o que chamou atenção foi a França e a Itália, consideradas como um dos mais eficientes sistemas de saúde do mundo, ocupando, respectivamente, primeiro e segundo lugares (tab. 1 e 2). Isto causou surpresa na visão de Le Grand Juliano, da London School of Economics, pois nenhum desses países é conhecido pela excelência de seu sistema de saúde. A França tem um menor índice de educação que a Suécia e a Itália menor investimento per capita em saúde que a Suíça. Japão, Noruega e outras nações ocidentais aparecem com mais eficiência por causa de seus altos investimentos em saúde (tab. 1). Em resumo, a OMS considera que os sistemas de saúde desses países estão bem, mas sugere que determinados recursos aplicados podem ser melhores distribuídos.

Os responsáveis pela a avaliação da OMS, Chris Murray e Julio Frenk, listam em seu relatório novas e significativas tendências para que haja melhor performance dos sistemas de saúde e que esteja ao alcance de todos. Mas eles mostram também suas limitações, destacando-se a insuficiência de dados na pesquisa.

A tabela 2 lista os países do G-7, inclusive a Rússia que, aliás, destoa dos demais, por sua classificação baixa em todos os índices selecionados. Já entre os países sul-americanos, ilustrados na tabela 3, destaca-se a desconfortável posição do Brasil com a classificação mais baixa e o grande destaque é a Colômbia, já citada, com o melhor índice de distribuirão de renda.

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Tabela 1 – Relação dos dez primeiros países no ranking geral

País

Ranking geral

Eficiência

Distribuição de renda

Expectativa de vida

Japão 01 10 08-11 01

Suíça 02 20 38-40 08

Noruega 03 11 08-11 15

Suécia 04 23 12-15 04

Luxemburgo 05 16 02 18

França 06 01 26-29 12

Canadá 07 30 17-19 03

Holanda 08 17 20-22 13

Inglaterra 09 18 08-11 14

Áustria 10 09 12-15 17

Fonte: OMS - World Health Report 2000

País

Ranking geral

Eficiência

Distribuição de renda

Expectativa de vida

Japão 01 10 08-11 01 França 06 01 26-29 12 Canadá 07 30 17-19 03 Inglaterra 09 18 08-11 14 Itália 11 02 45-47 06 Alemanha 14 25 06-07 22 Estados Unidos 15 37 54-55 24 Rússia 100 130 185 91

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DECISÕES MILIONÁRIAS SACODEM A MINERAÇÃO BRASILEIRA

Alberto Rogério Benedito da Silva

A última semana de maio evidenciou uma série de grandes decisões sobre o setor mineral brasileiro, envolvendo empresas como a Vale do Rio Doce (CVRD), a S. A. Mineração Trindade (Samitri), a Broken Hill Proprietary Co. (BHP), a Samarco Mineração S. A. e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A matéria ganhou destaque, como editorial do periódico semanal londrino Mining Journal, de 02 de Junho, volume 334, número 8.585, sob o título: “Shake-up of Brazilian iron sector” (sacudida do segmento brasileiro de ferro), envolvendo temas como a compra, pela CVRD, de 63,06% (79% do capital votante) da Samitri do grupo Arbed, com sede em Luxemburgo; o anúncio feito pela Vale e a australiana BHP de um acordo para racionalizar o complexo de ferro Alegria; e a substituição de Benjamim Steinbruch da presidência do Conselho de Administração da CVRD.

A Arbed e a Belgo-Mineira têm juntas 79% do capital votante e 61% do capital total da Samitri, cujas operações estão localizadas em Minas Gerais. A Samitri é ainda controladora da Samarco S.A., com 51% das ações, numa joint venture com a BHP, dona dos 49% restantes. A Samarco produz pelotas de ferro, material com maior valor agregado que o minério de ferro fino ou granulado.

A Samitri e a Samarco concentram o processamento de minério de ferro no complexo Alegria em Minas Gerais. Depois do acordo, a BHP pagou US$ 8 milhões para nivelar meio a meio as ações da Samarco e da Samitri. O presidente de BHP Minerals, Ron McNeilly, ressaltou que o acordo facilitará a reestruturação das operações de ambas, visando a melhoria de eficiência e redução de custos.

As operações da Samarco incluem: mina a céu aberto e planta de concentração em Alegria; planta de pelotização e porto Ponta Ubu; além de duas usinas hidrelétricas. Durante os últimos cinco anos, a Samarco investiu mais de US$ 540 milhões para dobrar a capacidade da planta de pelotas para 12 milhões de toneladas/ano. Sua reserva é da ordem de 739 milhões de toneladas (46,7% de teor ferro) e é dominado por uma rocha denominada de itabirito com baixo teor de ferro, mas suficiente para sustentar as operações durante mais de 20 anos, a manterem-se as atuais taxas de produção. Em 1999, a Samarco faturou US$ 339,2 milhões, com um lucro líquido de US$ 72,3 milhões. Adicionalmente, a Samarco detém os ativos da Samitri incluindo quatro minas de ferro (Alegria, Corrego do Meio, Morro Agudo e Andrade), todas localizadas em Minas Gerais. A companhia produziu ano passado 14,4 milhões de toneladas de ferro, incluindo sinter feed e concentrado, e, em 1999, faturou US$ 181,2 milhões, apresentando um lucro líquido de US$ 53,3 milhões.

A Vale pagou US$ 525 milhões pelo controle da Samitri, que possui 51% da Samarco, enquanto que a BHP continua detendo 49% do seu patrimônio líquido. A decisão da BHP adquirir a Samitri é porque a CVRD detém estrada de ferro e instalações portuárias, dois pré-requisitos básicos para uma boa joint-venture em minério de ferro, cuja ferrovia Vitória-Minas, transporta todo o minério da Samitri (16 milhões de toneladas anuais).

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Vale e BHP lideram – primeira e segunda no ranking mundial – a produção e exportação de minério de ferro. Conjuntamente embarcaram cerca de 140 milhões de toneladas no último ano. Só a CVRD respondeu, em 1999, por cerca de 93 milhões de toneladas de minério de ferro e pelotas. Para o presidente da Vale, Jório Dauster, a negociação é a maior aquisição da história da Vale em seus 58 anos de existência. A Vale adquiriu recentemente a Socoimex e agora a aquisição de Samitri e Samarco é estratégica, haja vista que as duas empresas têm ricas reservas de ferro em Minas Gerais e formam um complexo de mineração de 30 milhões de toneladas. Assim, a Vale inicia um processo de substituição de suas minas em processos decadentes de produção, como Capanema e Timbopeba, por exemplo.

Quando a CVRD foi privatizada, em maio de 1997, ela foi adquirida pelo consórcio Valepar liderado pela CSN, que venceu o consórcio Valecom, conduzido pelo Anglo American Corp., sob a orientação do megaempresário Antônio Ermírio de Moraes. Os parceiros da CSN foram: NationsBank Corp., Opportunity Asset Management e quatro fundos de pensão brasileiros. Através da Valepar, a CSN assegurou 16,3% do capital votante da CVRD; o Opportunity Asset Management, 10%; os fundos de pensão 10,4%; e NationsBank 5%.

Recentemente os acionistas majoritários da Vale montaram uma estratégia para superar possíveis conflitos de interesse dentro da empresa. O assunto veio à tona quando a CSN sinalizou a intenção de descruzar as ações da CVRD. Com isso, após estratégicas negociações dos principais acionistas foi guindado a presidência Conselho de Administração da CVRD Roger Agnelli, representando os interesses do Bradespar, companhia de participações do Bradesco, em substituição a Benjamin Steinbruch, da CSN.

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A VEZ DO AÇO LATINO-MERICANO

Alberto Rogério Benedito da Silva

O The Wall Street Journal, de 07 de junho, tratou de um assunto de relevante interesse às empresas brasileiras que comercializam aço. Sob o título: “Juros americanos podem causar um estrago na siderurgia latina”, a matéria de Robert Guy Matthews e José Enrique Arrioja, comenta que as siderúrgicas americanas podem ser prejudicadas pelas recentes altas dos juros nos Estados Unidos. Em contrapartida, as latino-americanas ascendem com a crescente demanda interna nos países da região, entretanto, a boa performance latina pode sofrer as consequências do que ocorre hoje nos Estados Unidos. É que a alta dos juros americanos está provocando a queda de produtos siderúrgicos e com isso os estoques começam a crescer. Ante a esse quadro, a possibilidade de recuperação dos preços é remota na visão dos principais analistas do mercado.

Ryerson Tull Inc., importante processadora de aço americana, chama a atenção de seus acionistas a respeito dos lucros da empresa que não devem corresponder às expectativas, face a retração do mercado. A companhia acredita que a queda repentina do setor siderúrgico é apenas temporária. Enquanto isso, as concorrentes latino-americanos trilham em campos diferentes, principalmente, em função do aquecimento da demanda interna, que fez com que o aço subisse no atual semestre. Para Mauricio Reveco, diretor de análises do setor siderúrgico latino-americano da Salomon Smith Barney, em Nova York, é possível que essa tendência de alta continue até o próximo ano.

O aço laminado a quente chegou a avançar 20% nos últimos meses, alcançando a média de US$ 240/tonelada, mesmo assim bem abaixo dos US$ 320/tonelada praticado nos Estados Unidos. Para Reveco, a diferença de preço é justificada pelo custo de transporte e seguro necessários para colocar o aço no mercado americano.

Segundo o International Iron and Steel Institute (IISI), a produção mundial de aço, em 1999, alcançou 780 milhões de toneladas. Dos países latinos, o Brasil contribuiu com 26 milhões de toneladas (6ª posição), seguido de perto pelo México, o que ratifica a euforia de ambos com o novo panorama.

No Brasil, por exemplo, em abril, a demanda aquecida fez com o preço se elevasse em 12% e o mercado absorveu o percentual sem maiores problemas. Essa é a afirmação de Thomas Suza, analista do mercado siderúrgico da Merrill Lynch no Brasil. A Usiminas que costuma exportar 25% de sua produção, dever reduzir, este ano, para 12% o comércio destinado ao mercado transoceânico. A mesma coisa ocorre no México, onde as vendas apresentam-se estáveis. Esta é a afirmação de Santiago Rico, gerente da Altos Hornos do México – a maior siderúrgica do país, que, em 1999, produziu 3,2 milhões de toneladas de aço líquido. No quarto trimestre de 1999, os preços do aço laminado a quente mexicano chegaram a US$ 340/tonelada.

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Já na Venezuela, onde a situação macroeconômica é sombria, Reveco estima que a maior empresa do setor, a Siderúrgica del Orinoco pode apresentar resultados alvissareiros este ano depois de amargar fortes prejuízos nos últimos anos.

Mas a resposta mais esperada é: o que acontecerá caso se prolongue a tendência de queda nos Estados Unidos? Para Suza, o México seria o país mais beneficiado pela chegada das chamadas "importações residuais", ou seja, os excedentes gerados nos Estados Unidos, Europa ou Ásia. Até mesmo a Ahmsa está apreensiva com a tendência de queda dos preços americanos, pois ela afetará o mercado mexicano.

O atual panorama nebuloso do setor siderúrgico americano coincide com a tentativa de recuperar as empresas das dificuldades ocorridas entre 1998 e 1999, época em que os produtos importados tinham menores preços e provocaram redução nas cotações do mercado interno, chegando, inclusive, a fechar algumas empresas do ramo. Alguns analistas estão atenuando as estimativas em ralação às companhias siderúrgicas americanas, tentando contrapor às expectativas iniciais, que foram muito fortes. Para o analista do setor de aço da Donaldson, Lufkin & Jenrette, Scott Morrison: "a demanda de equipamentos de construção está bem menor, e os estoques e custos de distribuição estão altos", devido, principalmente, às altas de juros promovidas, há pouco tempo, pelo banco central americano (Fed). Já o analista Michelle Galanter Applebaum, da Salomon Smith Barney, considera que os aumentos nas taxas de juros impostos pelo Fed não diminuirão a demanda do aço por muito tempo. A pesquisa de mercado conduzida por essa consultoria recentemente indicou que a maioria dos consumidores de aço ainda crê que a demanda não será afetada pelas altas dos juros.

A Usiminas, principal fornecedora brasileira de aço para montadoras e empresas de linha branca, luta por um reajuste de 12% a 14% no preço do aço, alegando que, desde o Plano Real, o preço desse insumo subiu somente 46%, contra 104% a 110% de acréscimo na cotação dos carros.

Enquanto isso, as distribuidoras brasileiras de aço dão o primeiro passo rumo ao comércio eletrônico de seus produtos, apoiados no Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). A ideia é criar um portal independente de e-commerce, buscando a incorporação de outras grandes do setor, como a Comercial Gerdau, a Rio Negro e a Inal, e siderúrgicas: Usiminas/Cosipar, CSN, Gerdau, Belgo-Mineira e CST, assim como distribuidoras da Argentina e Uruguai, visando a ampliar, logo, a operação do portal a todo o Mercosul. Para o Brasil que produz anualmente, através de dez grupos siderúrgicos, cerca de 26 milhões de toneladas de aço bruto, existem mais de 30 mil consumidores e 3 mil revendas de aço. E esse é o público-alvo do XYZ (nome provisório da mais nova ponto.com).

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ONDA TECNOLÓGICA IMPÕE MUDANÇAS NA TRADICIONAL LME

Alberto Rogério Benedito da Silva

Os avanços tecnológicos e a globalização vieram mesmo para ficar e transformar o hábito de todos os habitantes do planeta terra. Até mesmo a centenária bolsa londrina teve que se curvar a esta corrida que, a cada dia, procura encurtar distâncias e facilitar a vida de cada ser humano.

Londres é a capital mundial dos investidores em mineração, sediando empresas como a Rio Tinto e a Anglo American, dentre outras grandes mineradoras e estará deixando para trás o método tradicional de comercialização em bolsas quando a London Metal Exchange (LME), a maior bolsa de metais básicos do mundo, responsável por mais de 90% de tudo que é comercializado nesse ramo econômico, alterar seus métodos. Atendendo aos próprios sócios e aos agentes externos dará ênfase ao comércio eletrônico e ao e-comerce, cuja proposta será de grandes mudanças, formatadas a partir de direcionamentos lançados na carta de 10 de junho, assinada pelo seu “chairman” Lord Bagri, sob o título: “Consultation on proposals to restructure the London Metal Exchange”, que, se aprovados, transformarão radicalmente sua estrutura e atividades comerciais.

As mudanças, coincidentemente acontecem quando Bill Gates – o homem que revolucionou o mundo com seus softwares – anuncia um novo desafio: o windows.net (software voltado para Internet) e também no momento em que um grupo de grandes empresas multinacionais montaram um portal eletrônico para agilizar e padronizar suas compras de rotina. Até mesmo as distribuidoras brasileiras de aço já deram o primeiro passo rumo ao comércio eletrônico de seus produtos e querem, com isso, alcançar todo o Mercosul.

Ao completar 123 anos festejados em fevereiro/2000 e comercializar anualmente cerca de US$ 2 trilhões, a LME está apta a dar esse grande salto. Até hoje seus preços diários são ditados na abertura do pregão e direcionam as demais bolsas do ramo, funcionando como um ponto de referência mundial. O centro da transformação é uma proposta irrecusável para as mudanças, acabando com a liderança de seus noventa e cinco sócios e a transformando em uma “holding”, que emitirá ações negociadas pelos “dealers” e ainda definirá os novos associados, a partir de um conceito moderno. Os sócios majoritários que não desejarem participar da nova bolsa serão compensados com valores entre US$ 230 mil US$ 380 mil, dependendo do número de desistências. Na mesma linha, os minoritários receberão entre US$ 15 mil e US$ 75 mil.

A nova LME reduzirá o número de diretores de dezoito para treze e um diretor poderá representar a associação de membros comerciais, principalmente usuários de trocas, sem direito a emitir contratos, tipicamente mineradores ou consumidores de metais. Considera, todavia, que a estrutura proposta é essencial para proporcionar flexibilidade, habilidade e responder, agilmente, às condições dinâmicas de mercado que regulam melhor a atual forma de comércio reinante no mundo globalizado. A “holding” LME desenvolverá negócios

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adicionais não-regulamentados, inclusive produtos e-comerce e atividades “ponto com”, através de uma subsidiária.

A LME reconhece e está consciente de que o impacto do fenômeno “ponto com” é o principal fator que respalda suas propostas. Na segunda semana de junho, por exemplo, o corretor de metal MG ofereceu à LME a utilização de seu sistema eletrônico e foi o suficiente para agilizar e tornar mais eficiente todas as negociações. Com essa nova realidade, a tradicional bolsa se viu pressionada a tomar uma decisão proativa ao contrária da tradicional reativa, fazendo com que o comércio eletrônico fosse priorizado. O chairman da LME, Lord Bagri, disse que: “a troca permanece comprometida com o sistema aberto, e que, assim, a maioria mantém o desejo de operar no sistema de comércio”.

Entretanto, mais recentemente seus sócios têm optado por um sistema de comercialização que os proporcione mais flexibilidade e importantes reduções em termos de custos. A proposta final da mudança é alcançar esse objetivo, haja vista que sugere uma alteração até o início do segundo semestre, sem prejuízo aos investidores que iniciaram suas operações pelo sistema convencional. Até hoje a bolsa funciona com dois períodos de negociações: o primeiro, entre 11,40 e 13,10 horas e o segundo, de 15,10 as 16,35 horas. A mudança prevê apenas um, corrido, entre 11 e 16 horas.

As alterações propostas para a LME foram noticiadas em primeira mão pelo Mining Journal, de 12 de maio e confirmadas agora pelo mesmo editorial de 16 de junho. O próximo e decisivo passo será o encaminhamento ao seu “board” com sinal verde de mais de 75% para aprovação, embora, inicialmente seus membros parecessem divididos quando se falava nessa revolucionária alteração. Agora é esperar para ver o grande avanço da mais conservadora e duradoura forma de comercializar commodities minerais do mundo.

Tabela 3 – Produção mundial de ouro País 1998 1999 Cresc.%

África do Sul 464 450 (3,0)

Estados Unidos 366 340 (7,1)

Austrália 312 300 (3,8)

Canadá 166 155 (6,6)

China 178 150 (15,7)

Rússia 104 105 0,2

Usbekistão 80 80 0

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OS FUNDING RESSURGEM

Alberto Rogério Benedito da Silva

Há exatamente um ano o Relatório Reservado publicou matéria sobre funding, salientando que a geração de private equity não procurava grandes ocorrências ou sítios minerais, mas sim mercadorias mais baratas com alguns dados mensurados, cujos direitos pudessem ser adquiridos na faixa de US$ 5-15 milhões. O capital era de origem canadense, norte-americano e asiático, com preferência por propriedades auríferas, além de áreas mineralizadas a paládio e a platina. O funding mais ativo era o Stillwater, através dos seus braços da Califórnia e da Flórida, que teria comprado um lote de seis blocos auríferos no Brasil, nas regiões Norte e Centro-Oeste, a um valor total de US$ 32 milhões.

Agora, novamente o Relatório Reservado volta ao assunto e alega que é a vez dos mineral funds da Europa, totalizando, pelo menos, uma dezena deles, a maioria administrada por grandes bancos de investimentos, com operações montadas e recursos disponíveis à cata de áreas para exploração de ouro, cobre, zinco, estanho, diamante e outros. Entre os mais entusiasmados estariam o alemão Allianz, que chega em parceria com o Dresdner, concentrando seu interesse na extração de chumbo e zinco, e o espanhol Founde Barcelona, que visa a exploração de minas de ouro. Dos espanhóis, o BBV montou um equity especialmente para investimentos no setor mineral no Brasil. Mas o germânico Oppenheim Roestoffwerte, o francês Orget e o suíço Multygold, que chega acompanhada da Banca de la Svizerra Lugano, também mostram presença.

Além dos funding, há uma série de escritórios de assessoria na área mineral interessada em negociações. A argentina SS, por exemplo, busca negócios com ouro, diamante e ferro. A italiana Gibber, sediada em Roma, uma das maiores deste setor na Europa, tem interesse em prospecção de ouro em Mato Grosso e de minério de ferro em Minas Gerais. Ressalte-se a ausência britânica nesta lista, tudo porque os investidores ingleses não têm interesse em tal tipo de operação em terras brasileiras. Seu alvo é outro, mais precisamente atuar como tradings na comercialização de commodities no mercado internacional. Outros, como o holandês Delfim Diamonds esperam o andamento das coisas para se definirem e isso passa pela criação da Agência Nacional de Mineração (ANM), ainda em tramitação.

Em 1998, em uma reunião prévia ao Simpósio Internacional do Ouro, aqui em Belém, no DNPM, o assunto foi levantado, porém, àquela altura, o clima estava turbulento devido ao caso Bre-X, ocorrido na Indonésia – um projeto aurífero supervalorizado superficialmente – que comprometeu a credibilidade da mineração mundial.

Na última edição de 1999 da Revista Minérios, uma reportagem comenta o assunto, ressaltando a participação do Banco Mundial e suas entidades associadas: o Internacional Finance Corporation (IFC) e a Multilateral Investment Guararity Agency (MIGA), bem como o Banco Interamericano para o Desenvolvimento (BID), além das agências bilaterais US

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EXIM e KFW, e aquelas de desenvolvimento (OPIC, nos Estados Unidos; DEG, na Alemanha; e FMO, na Holanda).

Como não podia ser diferente, a crise também aumentou a percepção de altos riscos nos mercados emergentes e foi traduzido pelas ações do IFC envolvendo empresas de 33 bolsas e 2 mil empresas nesses países com um valor de mercado da ordem de US$ 830 bilhões. O valor do índice do IFC chegou a 50% daquele observado em 1996.

Mesmo com os sinais de melhoria na conjuntura econômica e da recuperação dos preços das commodities minerais, ainda persistem dificuldades para obter esses recursos.

Todavia, os produtos do IFC e da MIGA são mais importantes para projetos de mineração. Apesar do IFC ser parte do Banco Mundial, ele possui estrutura gerencial e financeira independentes. Seus ativos somam US$ 11,4 bilhões e capital de US$ 5,1 bilhões, já os produtos incluem capital de risco e financiamentos para projetos da iniciativa privada nos países em desenvolvimento. Em 1998, o IFC financiou US$ 5,1 bilhões em novos projetos, dos quais US$ 2,7 bilhões com recursos próprios e o restante pela mobilização de recursos de terceiros, em projetos que somaram um custo total de US$ 15 bilhões.

O IFC é um bom parceiro para a mineração mundial e detém grande experiência internacional no financiamento de projetos pioneiros, desempenhando papel de mediador entre os interessados no processo, mantendo canais de comunicação direta com governos e atuando decisivamente na superação dos impasses. Possui boa performance na interface mineral e ambiental, podendo remover obstáculos dessas áreas.

A atuação do IFC é viabilizada por: i) - maior participação em países como Peru e Argentina, onde sua presença era reduzida, ii) - atrair recursos de terceiros para o Brasil – no Pará está associado à Vale no projeto caulim da Pará Pigmentos – via mecanismos de mobilizações existentes; iii) – responder a um número maior de pedidos, particularmente de empresas de menor porte; iv) – procurar trabalhar em conjunto com empresas do mercado de capitais, buscando novas oportunidades de mobilização de recursos; e v) – avaliar projetos em fase de detalhamento de estudos.

O propósito do IFC é apoiar o esforço do setor mineral brasileiro, visando a facilitar o acesso às várias fontes de financiamento disponíveis no Brasil e no exterior, mesmo considerando que a obtenção de crédito de longo prazo é complexa, entretanto, possível para projetos bem formatados.

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A AMAZÔNIA E O FUTURO DA ÁGUA

Alberto Rogério Benedito da Silva

No último 22 de março, Dia Internacional das Águas, foi feita uma profunda reflexão sobre as ameaças que pesam sobre as reservas mundiais desse bem essencial. Cerca de 70% da superfície do globo é coberta por água, mas somente 3% é água doce, distribuída irregularmente nos continentes e cada vez mais poluída pela ação predatória de mais de 6 bilhões de habitantes, que geram esgotos, lixo, efluentes industriais nocivos, agrotóxicos e pesticidas mal utilizadas, assoreando rios, lagos e faixas costeiras.

A conferência ministerial do Fórum Mundial da Água, realizada em Haia (Holanda), mostrou claras divergências nos depoimentos ali feitos. Os representantes das organizações não-governamentais (ONGs), incluindo sindicatos e associações de cunho social, além dos ambientalistas consideraram fraco o documento-base da conferência. No fórum, as duas principais arestas foram: cobrança da água e soberania dos países, que dividem rios ou reservas de água internacionais. Todos delegados concordaram que o direito de acesso à água limpa e segura é universal, entretanto, advogam a cobrança integral dos serviços relacionados à água, com subsídios restritos apenas aos mais pobres, e defenderam a parceria entre o setor público e privado no lugar do atual monopólio estatal, prevalecente na maioria dos países. Outro consenso foi a moção: a água é vital à vida e à saúde das pessoas, assim como os ecossistemas representam requisitos básicos para o desenvolvimento das nações.

Na declaração, os 130 países presentes ao evento comprometeram-se em buscar alternativas e promover mudanças em suas políticas de recursos hídricos, de forma a manter a segurança da água para o século XXI. Os pontos básicos por eles definidos foram: assegurar água doce, recursos costeiros e ecossistemas associados à água protegidos e recuperados; promover desenvolvimento sustentável e estabilidade política; assegurar a qualquer pessoa acesso a água segura e suficiente a custo compatível com manutenção de vida produtiva e saudável; e, proteger as populações vulneráveis de riscos e desastres relacionados à água. Considerando a água de boa qualidade o relatório final da Conferência Ministerial, realizado no fórum, identificou sete desafios para conseguir água no século XXI: satisfazer as necessidades básicas; proteger os ecossistemas; assegurar o suprimento de alimento; compartilhar os recursos hídricos; administrar riscos; atribuir valor econômico à água; e governar a água sensatamente

No evento foi detectado que três milhões de crianças morrem todos os anos por infecções e diarreias transmitidas por água contaminada; outra doença, a esquistossomose, aflige 200 milhões de pessoas por ano e a causa é um parasita que infecta os caracóis que vivem nos córregos e rios; os metais pesados – muitas vezes presentes na água – têm grande impacto sobre a saúde do homem e dos animais; os metais podem afetar o desenvolvimento do corpo e da mente, além do sistema nervoso – em alguns casos provocando câncer; e, testes em laboratório com animais demonstraram os efeitos cancerígenos de produtos organoclorados e outros tóxicos orgânicos presentes na água.

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Mesmo assim, surgiram algumas alternativas, destacando-se: purificar água utilizando métodos simples, fervendo-a entre um e cinco minutos; acrescentar uma ou duas gotas de cloro por cada litro de água, ou umas quatro gotas de iodo na mesma quantidade; evitar o desperdício de água, instalando em cada casa chuveiros ao invés de banheiras; evitar o uso excessivo de água, principalmente para os que têm jardim, ainda a utilização demasiada de fertilizantes químicos, pois ao serem conduzidos pelas chuvas podem contaminar cursos d'água; armazenar água, assegurando a limpeza dos mananciais e mantendo-os sempre cobertos para evitar a entrada de microorganismos.

O documento “Visão Mundial das Águas – Ação”, que tem como objetivo gerar uma consciência global sobre a crise existente e possíveis soluções disponíveis para a os recursos hídricos, ficaram definidos cinco ações–chaves: envolver os formadores de opinião no manejo integrado dos recursos hídricos; caminhar para a cobrança do custo total dos serviços da água; aumentar os fundos públicos para pesquisa e inovações de interesse público; reconhecer a necessidade de cooperação para melhorar o manejo integrado dos recursos hídricos nas bacias internacionais; e aumentar os investimentos em água.

Todavia, o limiar do século XXI traz algumas preocupações, como: 10% da população mundial correm o risco de ficar sem água se não forem tomadas medidas de conscientização contra o desperdício; em 26 países – 230 milhões de habitantes – já sentem os efeitos da falta d'água; vinte e três cidades, das quais dezoito localizadas em países em desenvolvimento, terão populações superiores a 10 milhões de habitantes; três bilhões pessoas do planeta viverão em áreas urbanas; algumas das maiores cidades do mundo dependerão essencialmente de água subterrânea para seus abastecimentos, porém, os aquíferos que abastecem esses centros, apresentarão baixa sustentabilidade (nas proximidades da Cidade do México, os aquíferos que fornecem, hoje, cerca de 3,2 bilhões de litros de água/dia, já se mostram deficientes em alguns partes); na África, 25 países enfrentarão problemas com a escassez de água antes de 2025; na Ásia, uma em cada três pessoas terá dificuldades, em função da carência desse líquido para beber, e, na sua parte ocidental já há forte pressão, porque os recursos hídricos subterrâneos estão rareando; a expansão das ocupações nos litorais, o crescimento industrial e o aumento das atividades de pesca estão degradando os ecossistemas litorais marinhos; mais da metade das cidades europeias estão para exaurir a exploração de suas reservas de água subterrânea; muitos países europeus já apresentam poluição de água subterrânea por nitratos, pesticidas, metais pesados e hidrocarbonetos; na América Latina e Caribe está sendo observado uma grande diminuição na captura de pescas marinhas; estoques de peixes na costa leste da América do Norte também estão decrescendo; e, mais da metade dos recifes de corais do mundo estão potencialmente ameaçados devido as atividades antrópicas.

Enquanto isso, aqui na Amazônia há abundância de água, de toda água doce superficial localizada no Brasil (14% das reservas mundiais), cerca de 80% estão aqui, os 20% restantes distribuem-se, desigualmente, pelo restante do país, atendendo a 95% da população. Essa abundância dá aos habitantes da região uma grande responsabilidade na manutenção e preservação dos recursos hídricos. Nossos mananciais subterrâneos sequer foram ainda utilizados em sua plenitude.

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RPPN É UMA SAÍDA PARA PRESERVAR O MEIO AMBIENTE

Alberto Rogério Benedito da Silva

A nota veiculada no site da Agência Ambiente Global de autoria de Débora Menezes mostra que as Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN’s) podem ser uma opção para a iniciativa privada proteger áreas naturais, principalmente em unidades de conservação, cuja responsabilidade é do governo federal, todavia, não isenta a iniciativa privada de também tomar iniciativa similar, com a criação de reservas voltadas para a conservação da natureza, programas de educação ambiental e ecoturismo. As RPPN’s já totalizam, em todo Brasil, 236 áreas, perfazendo 423.208 hectares.

A proposta das RPPN’s foi criada há 10 anos pata pessoas físicas, empresas de todos os portes e entidades civis e religiosas, podendo requerer o reconhecimento integral ou parcial de suas propriedades rurais. Para obter a autorização como unidade de conservação, entretanto, é preciso estar atento a alguns requisitos da área, principalmente ser significativa para a diversidade biológica, e reunir paisagens de grande beleza ou condições que justifiquem ações de recuperação ambiental capazes de promover a conservação de ecossistemas frágeis ou ameaçados.

Para as empresas, as RPPN’s representam, sem dúvida, uma boa forma de marketing ambiental e contribuição para o aumento de áreas protegidas no território brasileiro. Esse é o pensamento do engenheiro florestal Ivan Baptiston e comungado pôr todos aqueles que amam a natureza e veem um perigo iminente com a proposta do novo Código Florestal, aprovada em Comissão Especial do Congresso Nacional, mas felizmente já revertida pela Câmara Federal. O engenheiro trabalha junto à Fundação Boticário, que gerencia uma área de 2.340 hectares denominada Reserva Natural Salto Morato, em Guaraqueçaba, Paraná.

A Reserva, de acordo com Baptiston, faz parte do Programa de Áreas Naturais Protegidas, criado em 1992 pela Fundação, mantida pela empresa de produtos cosméticos O Boticário. O objetivo é implantar diversas iniciativas em meio ambiente, inclusive as RPPN’s, em parcerias como a feita em parceria com a ONG internacional The Nature Conservacy.

"É claro que há o retorno em agregar valor à marca O Boticário. Mas são iniciativas que vão expandindo-se para diversas áreas da proteção ambiental", diz o engenheiro florestal, lembrando que a Salto Morato pretende ser um modelo de gestão de reserva, não só com programas de visitação e educação ambiental, mas também com capacitação de profissionais, entre outros.

Além do marketing ambiental, o Ibama aponta como algumas vantagens para a criação de RPNN’s: isenção do pagamento do Imposto Territorial na área da Reserva; facilidade ao crédito agrícola nos bancos oficiais; prioridade na análise e concessão de recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente; proteção contra queimadas, desmatamentos, caça, pesca e outras ações que degradam o meio ambiente; orientação sobre o manejo e gerenciamento da reserva; além de ganhos financeiros extras com atividades ecológicas de lazer e recreação.

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Criar uma RPPN consiste em considerar propriedades particulares a serem preservadas e reconhecidas pelo poder público como Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Para isso, o proprietário deve apresentar ao Ibama, ou o órgão ambiental estadual, a escritura definitiva da propriedade, com matrícula no Cartório de Registro de Imóveis; cédula de identidade; ou ato de designação de representante (quando se tratar de pessoa jurídica); comprovante de pagamento do Imposto Territorial Rural (ITR); plantas do imóvel indicando limites e confrontantes da propriedade; e área a ser reconhecida, bem assim de sua localização no município ou região.

No prazo de sessenta dias o Ibama, ou órgão responsável pelo reconhecimento, faz a vistoria no local, analisa a documentação e emite o parecer que, se favorável, é completado com assinatura de um Termo de Compromisso pelo proprietário. O reconhecimento é publicado no Diário Oficial e o proprietário tem mais sessenta dias para averbação em cartório.

Aqui no Pará, a Rio Capim Caulim S. A. pleiteou junto a Sectam a substituição de Estação Ecológica, localizada na área do projeto de exploração de Caulim, no município de Ipixuna, por uma RPPN e para tal fez diligência visando a regularização fundiária junto ao Iterpa e aquisição de uma superfície permitida pelo Estado (dois mil e quinhentos hectares) para a implantação da RPPN. Chegou a apresentar um Plano de Manejo para a área, de acordo com as normas do Ibama, contendo, dentre outros, estudos envolvendo: geologia, geomorfologia, hidrologia, pedologia, vegetação, climatologia, paisagem e planimetria. Complementarmente apresentou proposta de recuperação de áreas degradadas; pesquisa científica para minimizar os impactos causados pela mineração; educação ambiental; desenvolvimento sustentado das comunidades envolvidas; e infraestrutura, forma de administração, incluindo recursos para sua manutenção.

A proposta foi levada a plenária do Conselho Estadual do meio Ambiente (Coema), porém não chegou a ser viabilizada.

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OS CAMINHOS DA GLOBALIZAÇÃO

Alberto Rogério Benedito da Silva

Márcia Baganha

O texto divulgado pelo staff do FMI, denominado de “Globalização: ameaça ou oportunidade? ” Traz alguns assuntos interessantes sobre o tema que mexeu com toda estrutura mundial, principalmente o setor econômico. Em nome desse novo desafio muitas fusões entre empresas foram efetuadas, de modo que até o simples consumidor, de uma maneira ou de outra, sentiu o que essa avassaladora alteração fez no dia-a-dia de todos.

Apesar de o termo globalização vir sendo utilizado desde a década de 80, não se trata de um fenômeno recente, algumas pesquisas indicam que o mundo já era globalizado há 100 anos, sendo, portanto, a diferença, ao longo do tempo, o nível de desenvolvimento comercial, financeiro e de serviços. Hoje, a era da informação faz com que a integração dos diversos mercados seja possível, em função da alta tecnologia de comunicações. Na globalização há duas vertentes contraditórias: uma, considerava-a um fenômeno benéfico, inevitável e irreversível, essencial ao desenvolvimento econômico mundial. Outra, condena esses avanços, responsabilizando-a por todos os males causados à sociedade (desemprego, crises financeiras, pobreza, guerras e, principalmente, disparidades socioeconômicas reinantes entre as nações).

A globalização do século XX é marcada por profundo crescimento econômico, que, por sua vez, não se deu de maneira uniforme em todos os países. As disparidades socioeconômicas são perceptíveis e crescem, cada vez mais, devido à desigual, porém, acelerada expansão comercial das nações. As economias em desenvolvimento, por exemplo, apesar de todas as suas dificuldades de adaptação, têm sofrido algumas transformações, principalmente a economia asiática, cuja renda per capita está equiparando-se ao nível de países industrializados, da década de 70. Por outro lado, grande parte desses países ainda passam por um progresso lento, como, por exemplo, na África, onde a renda per capita de seus países, de um modo geral, caiu bastante, e, em alguns casos, declinou de vez.

Atualmente existem quatro aspectos globalizantes: comércio, circulação de capitais, movimento de pessoas e avanço tecnológico. Para o FMI, a participação comercial de países em desenvolvimento passou de 19%, em 1971, para 29%, em 1999. Os investimentos estrangeiros nesses países é a mais nova fase de crescimento do fluxo de capitais. Já a procura por melhores condições de vida e oportunidades de empregos incentivam as migrações internacionais e a troca de informação é a principal chave para o avanço tecnológico, pois viabilizará, a um baixo custo, modernos métodos produtivos, técnicas administrativas, mercados exportadores e políticas econômicas.

Segundo a mais recente pesquisa do World Economic Outlook, elaborado pela ONU, enquanto a produção per capita aumentou consideravelmente no último século, a distribuição de renda entre as nações apresenta acentuada desigualdade. Outro fator a ser levado em consideração é o bem-estar social da população mundial que vem demonstrando, no decorrer dos anos, grandes progressos em países pobres. Considerando a educação, a renda e a

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expectativa de vida, baseado nos Indicadores de Desenvolvimento Humano (IDH), há ainda um outro aspecto diferente a analisar. De acordo com esse índice, as economias pobres alcançaram, hoje, níveis superiores aos das economias mais desenvolvidas em 1870. Isso ocorreu devido ao avanço na medicina e às melhores condições de vida da sociedade. É válido ressaltar que, apesar dessa performance, não houve incremento na qualidade de vida. A pobreza reina nos países subdesenvolvidos e o aumento de pessoas infectadas com o vírus da AIDS no continente africano, por exemplo, tem reduzido, cada vez mais, a expectativa de vida. Os principais fatores que resultam no bem-estar social são a acumulação de capital físico (investimentos), humano (mão-de-obra) e o avanço tecnológico (fator de produção). Além disso, a estabilidade econômica, as instituições equilibradas e a reforma estrutural dos países são tão importantes quanto as transferências financeiras para o rápido desenvolvimento de qualquer nação.

Para o FMI, a formatação de um horizonte político-financeiro-técnico passa por estabilidade macroeconômica; políticas externas eficientes; instituições fortes e governo consolidado; educação, treinamento, pesquisa e desenvolvimento visando a melhor produtividade; controle da dívida externa para se assegurar recursos adequados ao desenvolvimento sustentável; e maior proximidade participativa envolvendo governo e sociedade. As economias desenvolvidas também podem ajudar no desenvolvimento das emergentes, buscando incrementar o comércio, através do acesso ilimitado ao mercado exportador de países pobres e incentivando o fluxo de capital privado, assim com a ajuda financeira dos países industrializados.

As desigualdades também emanam em algumas classes, principalmente dos desempregados e de empresas tradicionais. E qual seria a política correta? A intervenção do governo, de modo a proteger esses grupos, restringindo o comércio e o fluxo de capitais. Entretanto, o governo também deveria incentivar a integração destes para adotar políticas correspondentes às do mercado internacional, promovendo, assim, ao mesmo tempo, a abertura econômica desses mercados e atendendo às suas necessidades. Ao longo do tempo o mercado mundial tem sofrido várias mudanças, e a globalização é uma delas. Outras foram o “amadurecimento” das indústrias, com seus serviços cada vez mais orientados para as necessidades da população, e a maior procura por trabalhadores especializados.

Algumas questões, entretanto, ainda persistem, como: as sucessivas crises financeiras na década de 90 refletem o processo globalizante? Seria, todavia, a integração econômica global a responsável por essas crises? Estaria ela dificultando o governo no controle das atividades econômicas, por exemplo, limitando suas escolhas no sistema de impostos e taxas? É evidente, que em toda integração financeira, os países encontram obstáculos no segmento de políticas instáveis financeiramente, por exemplo, nos setores privados no que concerne ao aumento salarial e à marcação de preços. É valido ressaltar que a globalização não reduz a soberania nacional, pelo contrário cria um forte incentivo aos governos na vertente dessas políticas. Vários esforços visando a estabilidade financeira têm se trabalhado para o fortalecimento da estrutura financeira internacional. Uma solução seria o estabelecimento de modelos e códigos, baseados em princípios internacionais. É certo que essas economias não teriam passado por tais crises se não tivessem se exposto ao mercado de capitais globais, por outro lado, também, não teriam alcançado a surpreendente marca de crescimento.

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Apesar de todas as dificuldades e desigualdades, ignorar o fenômeno da globalização seria perda de tempo, uma vez que o mercado global oferece grandes oportunidades na integração intercontinental, levando a cada país maior acesso ao fluxo de capital internacional, tecnologia, importação barata e gigantescos mercados consumidores.

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CENÁRIO DO OURO ACIRRA DISPUTA DE EMPRESAS

AUSTRALIANAS E ELEVA RESERVAS CANADENSES

Alberto Rogério Benedito da Silva

Os recentes movimentos de algumas empresas do mercado aurífero norte-americano e sul-africano acirraram os negócios com ouro na Austrália, fazendo com os produtores anunciassem vendas futuras, a preços convidativos. Como os produtores estrangeiros não se uniram para restringir as vendas, as empresas australianas utilizaram a disputa do preço na prioridade de seus negócios.

O preço do ouro na Austrália, na penúltima semana de fevereiro, estava em níveis muito atraentes, cerca de US$315/”onça–troy” no mercado “spot”, e o preço para entrega em doze meses ultrapassou esse valor. Com tais níveis a previsão dos analistas é que os produtores australianos não podem deixar de negociar seus produtos. Para Simon Klimt, “chairman” do Wetspac Banking Corporation em Sydney, as empresas australianas fortaleceram as vendas, discordando, inclusive de suas congêneres americanas e sul-africanas, como a Placer Dome Inc, a Barrick Gold e a AngloGold, que no início do mês reduziram suas posições de “hedge”. Tal posição empurrara os preços “spot” do ouro para US$320/”onça-troy”. Mas o prêmio pago aos preços futuros com entrega em doze meses, aumentou cerca de 5%, alcançando US$ 12/”onça-troy”. Seis meses atrás esse prêmio era minúsculo.

Tradicionalmente o patamar de US$ 300/”onça-troy” representa um nível convidativo para negociações, afirmou Mike Chester, analista do Salomon Smith Barney. Ele confirmou ainda que a média do custo “cash” do ouro do quarto trimestre/99 foi da ordem de US$ 190/”onç-troy” e que as posições de vendas futuras e de opções de produtores australianos estão alcançando posições recordes e continuam aumentando. Já para Ric Simes, economista-chefe do Rothschild Austrália, o patamar retrocitado ativaria alguns produtores australianos a agir.

Até o final de setembro/99, as empresas australianas haviam “hedgeado” 1.477 toneladas, equivalente a cinco anos de sua produção. E até aquele mês o preço “hedge” do ouro era de US$ 330/”onça-troy”, contra US$ 390/”onça-troy”, em 1998.

A canadense McWatters, de Quebec, anunciou um significativo aumento em suas reservas e recursos de ouro, alcançando 75 toneladas, 60% maior que as do ano passado, podendo os recursos adicionais (inferida) alcançar mais 46 toneladas. As reservas e recursos totais em todas as categorias atingiram 218 toneladas, 18,5% de crescimento sobre as 184 toneladas do ano anterior. As últimas avaliações consideram “onça-troy” a US$ 325, representando uma otimização sobre os US$ 330, considerados anteriormente. As avaliações foram auditadas por John V. Tully and Associates Inc.

Ao longo de 1999, a McWatters administrou um extenso programa de exploração do Complexo de Sigma-Lamaque, combinando trabalhos subterrâneo e a céu aberto, que

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confirmou um depósito de classe mundial de aproximadamente 330 toneladas de ouro, após 65 anos de pesquisa.

Até dezembro de 1999, as reservas superficiais provada e provável do Complexo de Sigma-Lamaque totalizaram uma previsão histórica de 500 toneladas de ouro, enquanto que as inferidas representam 15 toneladas. Desse total 97% ficam situadas em Sigma, até a profundidade de 180 metros, cuja operação de lavra demanda mais de 15 anos, a taxas de produção atuais.

Como pode ser observado os produtores tradicionais de ouro já responderam positivamente a reação do mercado, falta agora o Brasil dar sinal de vida, ante a essa nova euforia. Talvez os elevados custos da Amazônia inibam ainda os “players” mundiais. Todavia, uma luz parece se acender, desta feita via “funding”, um antigo sonho das bolsas de valores nacionais que nunca obtiveram um aceno positivo do mercado. Será que desta vez vai?

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DIA MUNDIAL DAS ÁGUAS: FESTEJOS E PREOCUPAÇÕES

Alberto Rogério Benedito da Silva

O Dia Mundial das Águas – 22 de março – foi celebrado pela primeira vez em 1993, um ano depois que a Eco-92 aconteceu no Rio de Janeiro, de acordo com as recomendações da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, contidas no capítulo 18 (sobre recursos hídricos) da Agenda 21. A decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas introduziu na agenda mundial a celebração das águas visando a debater sua escassez, qualidade e quantidade, problemas de posse e direitos de uso, seja da água subterrânea, superficial ou costeira.

“Observe o Dia Mundial das Águas de 2000 em todo o planeta e também em seu país, região ou cidade para celebrarmos juntos este evento”. Esta é a mensagem veiculado no site da Unesco sobre o evento, que também sugere as seguintes atividades: fazer da água responsabilidade de todos; evidenciar a crise atual da água e a possibilidade de seu agravamento: refletir sobre as próximas gerações e trabalhar para melhorar o futuro delas; engajar as mulheres e a juventude no gerenciamento da água; atentar para a importância da água como recurso escasso e precioso; gerenciar o solo e a água para melhorar a qualidade das bacias hidrográficas; e, buscar influência sobre os representantes políticos na questão das águas. A Unesco, através do International Hydrological Programme (IHP) da Divisão de Ciências da Água e do projeto Visão Mundial da Água é o organismo membro do Comitê Mundial das Águas responsável pela organização de eventos e divulgação do tema: “Água para o Século XXI”. Em Haia, Holanda foi organizado o II Fórum Mundial das Águas e Conferência Ministerial na semana que antecedeu a 22 de março, A mobilização utilizou organismos de recursos hídricos de diversos países que deveriam preparar uma apresentação sobre a “Visão das Águas para 2025”. As apresentações foram organizadas por: região (Américas, Ásia, Europa etc.), assunto (água para alimentação, para saúde, para lazer etc.) e grupos especiais (indígenas, jovens, terceira idade etc.). Paralelamente, acontece ainda a Feira Mundial das Águas.

Merece destaque, na programação do evento, o dia 21 de março, quando ocorre a apresentação da “Visão das Águas para 2025” das Américas (Dia das Américas), com o caso Everglades-Pantanal – um esforço conjunto do South Florida Water Management District (SFWMD), Florida Center for Environmental Studies (CES), Comitê do Alto Paraguai, Embrapa Pantanal e Fundação Ecotrópica –, fazendo parte da Everglades Pantanal Initiative (EPI). Também vale lembrar que no dia 20, na sessão 18, “Água e Povos Indígenas”, a Fundação Centro Brasileiro de Referência e Apoio Cultural (FCEBRAC) rodou um documento sobre os impactos de uma hidrovia no Pantanal na vida dos povos indígenas.

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Outros temas da conferência envolvem: Água para alimentação e desenvolvimento rural, Transposição de água entre bacias hidrográficas, Água para pessoas, coletando água da chuva, Água e meio ambiente, Água subterrânea e patente social, Água nos rios, Soberania nacional e águas internacionais, Água e turismo, Modelo para ação e financiando infraestrutura de água.

O conjunto de eventos e todas as apresentações foram interligados por um único tema: A Construção da Visão Mundial das Águas para 2025. Um segundo passo nessa direção será a tentativa de um compromisso mundial com a “Estrutura para a Ação”, relatório já disponível online, assim como um Sumário Executivo.

Um outro momento do ano, especificamente no segundo sábado de outubro, comemora o Dia Interamericano da Água com o mesmo propósito de sensibilizar a população sobre a importância de conservar esse precioso recurso natural. A data foi celebrada pela primeira vez também em 1993, por sugestão da Organização Pan-americana de Saúde, Associação Interamericana de Engenharia Sanitária (AIDIS) e Associação Caribenha de Águas e Esgoto, no XXIII Congresso Interamericano de AIDIS em Havana, Cuba.

Em são Paulo foi realizado o Seminário "Gestão da Água", envolvendo autoridades do setor. E em Belém, a Associação Brasileira de Água Subterrânea (Abas) viabiliza, no auditório Albano Franco da Fiepa, palestra para comemorar o dia.

Com todos esses festejos, cerca de 3 bilhões de pessoas não têm acesso à higiene e mais de cinco mil crianças morrem a cada dia, devido as doenças ligadas à água suja. Esta é a conclusão de um relatório da ONU publicado recentemente. Contudo, os governos poderiam assegurar o acesso à água limpa e à higiene adequada a todos, em 25 anos, caso se comprometessem a iniciar projetos locais eficazes em função de custos. ‘‘Estamos perdendo a batalha. Continuar com o enfoque atual significa que a crise se agravará’’, disse Brian Appleton, especialista em água e sistemas sanitários da Organização Mundial da Saúde (OMS). O informe diz que nos últimos 20 anos melhorou o fornecimento de água potável, mas não a higiene e os sistemas sanitários.

O relatório, intitulado Visão 21, exorta a mudar radicalmente as políticas de abastecimento de água. Em vez de projetos dispendiosos de alta tecnologia, o informe sugere que seja dada mais responsabilidade às donas de casa e às organizações comunitárias. Segundo a pesquisa, embora a qualidade da água na Índia tenha melhorado nos últimos anos, 80% dos 800 milhões de habitantes fazem suas necessidades fisiológicas ao ar livre, usam banheiros públicos precários ou sanitários que constituem fontes de doenças. Nas zonas rurais, apenas 3% da população têm acesso a instalações sanitárias. ‘‘Esta falta lamentável de instalações causa graves problemas de saúde, para não falar do odor terrível’’, salienta o estudo. Lembra, entretanto, que doenças como cólera, disenteria e hepatite estão relacionadas às fezes

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humanas. Segundo o relatório da ONU, a instalação de sanitários que usam menos água que os convencionais teriam causado grande melhora. Projetos locais na Bolívia, na Tanzânia e na Etiópia demonstraram sua utilidade, conclui o trabalho.

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OS AJUSTES DO MERCADO DO AÇO E A AUTODEFESA AMERICANA

Alberto Rogério Benedito da Silva

A última semana de outubro esteve nevrálgica em relação ao mercado do aço. O jornal The Wall Street Journal publicou duas matérias a respeito de autoria de Paulo Trevisani Jr., Jose Enrique Arrioja e Robert Guy Matthews; e os sites do Metal Bulletin, do International Iron and Steel Institute e do American Iron and Steel Institute também destacaram insistentemente a matéria. Com toda essa onda, a China, a maior produtora e exportadora do mundo incrementou seu comércio externo de finos em 4,9 milhões de toneladas e o Segundo Congresso Mundial de Aço prometeu reestudar os preços do aço. A demanda por aço na Ásia, exceto a China, continuam ascendentes este ano, acumulando, até o presente, 84 milhões de toneladas, 10% a mais que o mesmo período de 1999 e para 2001, a previsão deverá alcançar cerca de 87 milhões de toneladas. No Brasil, entre janeiro e setembro/00, tanto a produção como as vendas domésticas cresceram 10,9% alcançando, respectivamente, 20,7 milhões de toneladas e 11,2 milhões de toneladas. No mesmo período, as exportações caíram 6,5% (6,8 milhões de toneladas, com valor de US$ 1,94 bilhão).

Por outro lado, a queda repentina das siderúrgicas americanas nas bolsas transformou-se em ameaça às concorrentes de outros países. E os principais alvos estão sendo o Brasil, a Venezuela e o Japão, que vendem aço mais barato aos Estados Unidos. O golpe foi tão profundo que em uma carta, assinada por 71 siderúrgicas e o maior sindicato da categoria, enviada ao presidente Clinton evidenciaram que as importações americanas atingiram níveis superiores a pré-crise asiática. O principal argumento foi calcado em um relatório do Departamento de Comércio americano que faz severas cargas à Rússia, Japão, Coréia do Sul e Brasil, países que estariam competindo de maneira inadequada com as siderúrgicas americanas. A resposta do governo americano foi de limitar as exportações em defesa dos interesses nacionais.

A crise fez com que aumentasse a aversão ao aço importado, um fato arduamente defendido pelos funcionários das siderúrgicas, haja vista que a importação é uma ameaça constante aos seus postos de trabalhos. Outro indicador da crise é o índice Dow Jones para o setor, que está em retração de mais de 50%, desde o pico de março/98.

Os países atingidos registraram o golpe, principalmente o Brasil e o Japão, todavia não inibiram as ações americanas. A siderúrgica venezuelana Río Turbio, mesmo considerada inocente, após vender aço a preços aviltados aos Estados Unidos, reduziu suas exportações de 43,3 mil toneladas para aquele país, em 1997, para cerca de 10 mil toneladas previstas para este ano. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) que mantinha um comércio equilibrado

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exportou, em 1996, 17% de sua produção para o Nafta, em 1997 subiu para 31%, em 1998 (37%), mas, este ano, reduziu para 26%.

Com efeito, mesmo nos Estados Unidos, há analistas e observadores afirmando ser bobagem a maioria dos argumentos contra o aço importado. "Alguém dá um preço e todos os outros seguem (...) Isso é cartel e todo mundo faz isso, em todo lugar", disse um analista do setor sob condição de anonimidade.

Executivos das maiores companhias siderúrgicas do mundo deram uma trégua recentemente na batalha entre eles para confrontar um antigo problema que está afetando a todos: o mundo está produzindo aço demais. Hoje, as siderúrgicas mundiais têm capacidade de ofertar cerca de 870 milhões de toneladas de aço/ano, 15% mais do que a demanda. E as empresas mantêm um programa de expansão em torno de 2% ao ano, numa tentativa equivocada de aumentar os lucros.

Na recente conferência de Melbourne, Austrália, os executivos das siderúrgicas estavam otimistas. A ideia para a maioria dos participantes era que o valor de suas companhias aumentaria, ou pelo menos pararia de cair, se deslanchassem um processo de fechamento de fábricas ineficientes, reduzindo a produção e consolidando o setor. A posição de Kirby Adams, diretor-superintendente da BHP Steel, é que haveria necessidade de focalizar as ações em construção de valores e não em construção de capacidade. Tal consolidação poderia resolver os problemas da indústria, hoje fragmentada. Em resumo: com menos e maiores empresas, a indústria poderia controlar mais os preços. Hoje, existem no mundo centenas de siderúrgicas, entretanto, as cinco maiores representaram somente 15% da produção mundial, em 1999. Se comparado com as montadoras de veículos, as cinco maiores mantinham sob suas rédeas 57% da produção mundial/99 e as cinco maiores fabricantes de utensílios domésticos controlavam 55% da produção, no mesmo ano. A Alcoa, por exemplo, maior fabricante de alumínio do mundo e que este ano adquiriu a terceira maior empresa do setor, representa um quarto do mercado.

É evidente que as siderúrgicas não podem continuar dependendo de leis comerciais antidumping para limitar suas capacidades. Nos últimos anos, a maioria delas obtiveram sucesso processando as concorrentes internacionais por dumping em seu mercado. Só para se ter uma ideia, Países como Peru e Ucrânia, estão se transformando cada vez mais em nacionalistas e sofisticados no uso das leis antidumping. No evento de Melbourne, assim se pronunciou Sir Brian Moffet, presidente do conselho do Corus Group PLC, de Londres: "... o problema é que há tantos pequenos participantes por causa da abordagem nacionalista” e “como podemos, com uma indústria, limitar a capacidade"? O caminho de consenso é a consolidação, todavia, no mundo hipercompetitivo da siderurgia, a ideia de simplesmente fechar unidades ou negociar fusões no esforço de deter o excesso de oferta, dificilmente será adotada logo. Isto porque a siderurgia ainda é parte essencial das economias de muitos países, pois tudo ainda gira em torno do aço. A maioria dos países investiram fortemente em siderúrgicas e são relutantes em fechar as operações, demitir trabalhadores e depender de

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importações. Pelo contrário, é provável que governos ajudem as siderúrgicas agonizantes a continuar operando com empréstimos e concessões. É o caso do governo americano. A conclusão é que, embora as empresas estejam prontas a adotar a consolidação, convencer os governos a fazer o mesmo será mais difícil.

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O DRAMA DOS ECOSSISTEMAS BRASILEIROS

Alberto Rogério Benedito da Silva

As matérias publicadas por Maura Campanili e Liana John mostram que a devastação atinge os principais ecossistemas brasileiros. As evidências do declínio podem ser medidas pelos 93% de florestas derrubadas na Mata Atlântica e pelos 12% devastados da Floresta Amazônica nas últimas décadas, além de a degradação do Cerrado, falta de água nos grandes centos urbanos de um país como o Brasil que possui os maiores recursos de água doce no mundo.

Os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), informam que, entre as décadas de 70 e 90, a Amazônia perdeu 551 mil km2 de florestas e que só em 1998 17,4 mil km2 foram desmatadas, representando um avanço de 31,4% em relação ao ano anterior. Para o Conservation International (CI), no cerrado a coisa não é diferente, inclusive esse ecossistema, juntamente com o da Mata Atlântica, já consta na relação dos 25 “hot spots” mundiais de áreas prioritárias para conservação da biodiversidade, haja vista a sua fragilidade.

A justificativa da Secretaria de Coordenação da Amazônia, do Ministério do Meio Ambiente, é que as políticas ambientais tiveram seu marco inicial implementado nos países desenvolvidos dentro de um contexto de escassez de recursos naturais e de ocupação territorial consolidada, política não aplicável em países onde reina a abundância de recursos e imperam os conflitos sobre o direito à propriedade, como é o caso do Brasil. Eis o motivo, segundo o Ministério do Meio Ambiente, de a legislação ambiental brasileira, apesar de avançada, não conseguir produzir a eficácia esperada. Esse gargalo deverá ser superado a partir da viabilização do projeto de criação do Sistema de Áreas Protegidas, apresentado ao Fundo Ambiental Global (GEF), no mês de maio, em Washington, cuja meta será preservar 10% da Amazônia, através de unidades de conservação. Para reforçar tal tese, os ministérios do Meio Ambiente e do Planejamento e Gestão deverão fazer, conjuntamente, a avaliação socioeconômica e ambiental dos eixos nacionais de integração do governo federal, previstos no Avança Brasil.

Um estudo realizado pelo ISA e pelo Instituto de Pesquisas da Amazônia (Ipam) evidencia que somente o asfaltamento de quatro rodovias (parte da Transamazônica, Cuiabá-Santarém Humaitá-Manaus e Manaus-Boa Vista), previsto no Avança Brasil, poderia implicar no desmatamento de 180 mil km2 na Amazônia, nos próximos 25 a 35 anos. Outros estudos demonstraram o perigo de alterar o fluxo das águas na Região do Pantanal e, com isso, obrigaram praticamente o governo a desacelerar o projeto da hidrovia Paraguai-Paraná.

O relatório do World Resources Institute salienta que a dependência da vida em relação aos ecossistemas é uma coisa óbvia, todavia, a tarefa de integrar considerações sobre a capacidade

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dos mesmos ecossistemas nas decisões relativas ao desenvolvimento é uma tarefa árdua. Por esse motivo, os autores do relatório recomendam conhecer o funcionamento dos mesmos, respeitando seus limites naturais e manejando-os de forma, preferencialmente, holística e não setorizada. Recomendam, todavia, o monitoramento regular e os estudos de processos que assegurem a capacidade de sustentar a vida, de forma que seja possível medir as consequências das decisões e escolhas políticas. Eles propõem formatar uma proposta integrada de ação, denominada “Millenium Ecosystem Assessment”, com o seguinte aval: “mesmo que alguns tipos de dados sejam disponibilzados em abundância, suas análises mostram que ainda não há coordenação de esforços. As escalas divergem, medidas diversas desafiam a integração e diferentes fontes de informação, muitas vezes, desconhecem os resultados relevantes de uma e de outra." Klaus Toepfer, diretor do PNUMA, acha que, no alvorecer de um novo século, é necessário que haja habilidade de mudar os sistemas vitais do Planeta Terra para melhor ou para pior. No primeiro casso, é imperioso reconhecer que o bem-estar das pessoas e dos ecossistemas estão interligados e que a teia está se esgarçando. "Precisamos repará-la e temos os instrumentos em mãos para fazê-lo", conclui o diretor.

A ecologista e pesquisadora Liana John indica os sinais do declínio em quatorze itens enumerados a seguir: “ i – o mundo perdeu metade de suas áreas inundáveis (responsáveis pela boa qualidade da água e alta biodiversidade) no último século; ii – a extração de madeiras e a conversão em áreas agrícolas já consumiu metade das florestas mundiais; iii – o desmatamento nos trópicos supera os 130 mil km2 anuais; iv – cerca de 9% das espécies de árvore estão ameaçadas de extinção; v – aproximadamente 70% dos principais estoques pesqueiros marinhos são superexplorados, ou estão no seu limite biológico; vi – o ritmo de crescimento da pesca está 40% acima do que os oceanos podem sustentar; vii – praticamente todas as terras numa margem de 100 km da zonas costeiras foram de alguma forma alteradas para uso agrícola ou urbano, produzindo impactos ambientais negativos; viii – a degradação dos solos já afetou dois terços das terras agricultáveis, nos últimos 50 anos; ix – cerca de 30% das florestas originais do mundo foram transformadas em áreas agrícolas; x – barragens, canais e desvios fragmentam quase 60% dos maiores rios mundiais; xi – cerca de 20% dos peixes de água doce estão extintos ou ameaçados; xii – em torno de 500 milhões de hectares de savanas, campos e florestas abertas da zona tropical e subtropical queimam todos os anos; xiii – desde 1980, a economia global já triplicou e a população cresceu 30%, alcançando 6 bilhões de pessoas; e xiv – mais de 2,3 bilhões de pessoas convivem com a escassez de água potável”.

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RETRAEM INVESTIMENTOS NA MINERAÇÃO MUNDIAL

Alberto Rogério Benedito da Silva

De acordo com a primeira edição do relatório “Estratégias de Exploração”, publicado em setembro/2000 pelo Metals Economics Group (MEG) na Nova Scotia, Canadá, os investimentos anuais em exploração de metais não ferrosos aumentaram entre 1993 e 1997, e no último ano do período, alcançou o maior valor, US$ 5,2 bilhões. A partir dessa época a curva se inverteu dramaticamente: em 1998 houve um decréscimo de aproximadamente 29%, o mesmo ocorrendo em 1999 (24%). Todavia, de 1999 para 2000 o retraimento foi de somente 7%, passando de algo em torno de US$ 2,8 bilhões para US$ 2,6 bilhões. Para efeito das estatísticas do MEG, a pesquisa envolveu investimentos em exploração de metais não ferrosos de 656 empresas, em 2000, cujo quantitativo foi de aproximadamente US$ 2,34 bilhões. Já em 1999, o estudo foi baseado em 670 empresas. Este universo representa cerca de 90% do total mundial para exploração (tabela 1).

Tabela 1 – Investimentos em exploração mineral

Região

1999 (670 empresas) 2000 (656 empresas) 1999/2000 (%)

US$ milhões % US$ milhões %

América Latina 719,4 28,1 661,9 28,3 (8,0)

Austrália 495,3 19,3 404,8 17,3 (18,3)

Canadá 309,9 12,1 348,0 14,9 12,3

África 337,1 14,7 293,1 12,6 (13,5)

Estados Unidos 252,1 9,8 234,5 10,0 (7,0)

Sudeste da Ásia 196,1 7,7 199,2 8,5 1,6

Outros 212,7 8,3 196,7 8,4 (7,5)

Subtotal 2.522,6 100,0 2.341,2 100,0 (8,3)

Total mundial 2.800,0 - 2.600,0 - (7,0)

Fonte: Metals Economics Group (MEG), adaptado

A expectativa do MEG é que os investimentos em exploração continuem em níveis reduzidos nos próximos anos, indicando, assim, a tendência da curva negativa de um ciclo. Embora o preço do ouro continue em baixa, os metais básicos, o paládio e o grupo da platina mostraram sinais de ascensões significativas desde a metade de 1999.

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Com as economias do mundo mostrando vitalidade e o crescimento robusto no consumo de metais (a demanda por cobre aumentou 8% no primeiro semestre de 2000), espera-se que os preços dos metais básicos retomem a curva ascendente. Com isso, os investimentos tendem a seguir a tendência do preço dos metais, melhorando no período e refletindo-se em efeitos positivos nos patrimônios líquidos dos exploradores juniores e invertendo, com efeito, as curvas dos atuais orçamentos de exploração na maioria das especializações.

Em termos de investimento em exploração mineral por região, a América Latina mantém mais uma vez a liderança, com as companhias destinando para a exploração US$ 661,9 milhões, todavia, mesmo apresentando um pequeno aumento na fatia mundial – 0,2 pontos percentuais –, retraiu 8% em relação a 1999.

A Austrália alocou recursos da ordem de US$ 404,8 milhões, representando 17,3% do total, em 2000; o Canadá, US$ 348 milhões (14,9%); a África, US$ 293,1 milhões (12,6%); os Estados Unidos, US$ 234,5 milhões (10%); o Sudeste Asiático, US$ 199,2 milhões (8,5%); o resto dos países, US$ 196,7 milhões (8,4% do total). Desta última fração, aproximadamente US$ 90,1 milhões foram destinados à Europa, US$ 34,9 milhões para a Ásia, US$ 33,9 milhões aos países que englobam a antiga União Soviética, US$ 8 milhões para o Oriente Médio e US$ 29,8 milhões para outras áreas não especificadas. Todos esses valores estão incluídos no universo das empresas pesquisadas, excluindo-se, portanto, os 10% restantes.

O Canadá, por incrível que pareça, com tendência diferente da mundial, aumentou seus investimentos, ocupando a terceira colocação no ranking com US$ 348 milhões e US$ 38,1 milhões ou 12,2% a mais que 1999. Este acréscimo é devido, principalmente, a procura de diamante e platina. Os investimentos da região do Sudeste Asiático também aumentaram em US$ 3,1 milhões, abocanhando 8,5% do total mundial, contra 7,7%, em 1999.

Embora a Austrália seja o país que mais investiu em exploração no ano de 2000, em valores absolutos mostrou o maior retraimento mundial. Comparando com os recursos de1999 (US$ 495,3 milhões) este ano o orçamento australiano somou somente US$ 404,8 milhões, caindo, portanto, 18%, enquanto que a retração média mundial foi de somente 8,3%. Em termos de investimentos globais, a Austrália retraiu 2 pontos percentuais (17,3%, em 2000, contra 19,3%, em 1999). A África mostrou a segunda maior diminuição, com uma queda de US$ 84 milhões (US$ 293,1 milhões, em 2000, contra US$ 377,1 milhões, em 1999), entretanto, em termos mundiais, apresentou a segunda maior queda, passando de 14,7% no ano anterior para 12,6% este ano.

A menor queda percentual ocorreu nos Estados Unidos (7,0%), passando de US$ 252,1 milhões, em 1999, para US$ 234,5 milhões, em 2000, o mesmo ocorrendo com sua participação mundial que aumentou este ano para 10%. Seguindo o mesmo raciocínio, os outros países retraíram 7,5% e a participação mundial praticamente manteve-se estável.

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PESQUISA DETALHA ORÇAMENTOS EM EXPLORAÇÃO MINERAL

Alberto Rogério Benedito da Silva

O relatório “Estratégias de Exploração”, publicado em setembro/2000 pelo Metals Economics Group (MEG) na Nova Scotia, Canadá, tece importantes comentários sobre os investimentos em pesquisas minerais feitas no mundo inteiro. Nos últimos anos os orçamentos em exploração mineral vêm sofrendo seguidas reduções. Em 1998 a queda foi de 30%, já em 1999, reduziu o desaceleramento, mesmo assim foi 23% menor que do ano anterior. Este ano, todavia, o declive foi muito baixo. Com isso, muitos departamentos dentro das empresas tiveram que defender suas previsões orçamentárias contra a ênfase crescente em aquisições. Ainda que com possibilidades de compras limitadas e novos projetos caros, além de relativamente poucas opções para alimentar crescimentos futuros, a pesquisa indica um ano decisivo, onde é evidenciado: quem está investindo? Quanto? Onde? E qual a meta para o novo milênio? Estes são os principais enfoques dados no relatório do MEG.

A credibilidade da publicação está respaldada em uma equipe de referência padrão da indústria mineral mundial, com a presença maciça de exploradores sêniores e planejadores corporativos. Dessa forma, durante anos seguidos o estudo vem se tornando uma ferramenta essencial para planejamentos estratégicos da quase totalidade das empresas minerais de todo o planeta, que utilizam a publicação não só para fazer análises de exploração “versus” aquisição, como para formatar investimentos destinados às apresentações de seus planejamentos corporativos.

A primeira parte da edição faz uma análise global, procurando focalizar os gastos atuais em exploração mineral de 656 empresas incluídas no trabalho. Ilustra através de tabelas e gráficos, dentre outras coisas, os maiores investimentos despendidos; os gastos por metas, a localização de projetos e fase de desenvolvimento; além de identificar a origem da exploração dos “funding” por local e sede de cada companhia envolvida.

Já a segunda parte focaliza os orçamentos em exploração incorporados das mesmas empresas citadas. Nesta, o primeiro passo foi definir perfis de aproximadamente 85 companhias com orçamentos de exploração, em 2000, superiores a US$ 5 milhões/ano. Estes perfis dão todas as informações disponíveis sobre despesas no período de 1992 a 2000; detalha, por outro lado, o orçamento de 2000 de cada empresa, dividindo-o em valores financeiros dirigidos a vários objetivos do investimento global, especificando as regiões, os países e as fases de desenvolvimento. Em cada descrição é comentada a extensão e o direcionamento do programa de exploração da companhia, evidenciando não só os detalhes das atividades atuais como as orientações estratégicas.

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Na sequência inclui também aproximadamente 500 mineradoras com orçamentos, em 2000, menores que US$ 5 milhões/ano. Estas companhias são listadas em ordem alfabética com seus respectivos orçamentos de exploração desmembrados em alocações atuais, focalizando o local onde o recurso é investido, o objetivo do projeto e a fase de desenvolvimento.

Em uma seção especializada são examinados todos os orçamentos de exploração, inclusive especificando os percentuais com respectivos destinos, os rendimentos adquiridos e as vendas anuais ajustadas, quando disponíveis. Também é apresentada uma análise anual das mais importantes indústrias de exploração, através de um cotejamento comparativo das aquisições e dos gastos durante os últimos sete anos. Completam este portfólio, uma relação indexada com gastos por região e país para cada companhia, subdividindo-os por objetivos e fases de atuação.

O estudo desce a detalhes de orçamentos, incluindo origem e interesses indiretos, aplicações em melhores prospectos de cada projeto. Mostra ainda as empresas que estão investindo em ouro, metais básicos, diamantes, além de outras metas para 2000. Destaque especial é dado aos “funding”, onde estão investindo, o quantitativo destinados aos programas de “grassroots” e em exploração das minas. Evidenciam orçamentos com e sem sucessos, além de estratégias dos investimentos e os gastos de companhias individuais. Esta análise permite ao leitor determinar, por exemplo, quanto foi investido em exploração de “grassroots” da “mining companies”, o montante que os “funding” mundiais direcionaram para ouro, comparando-os com os dos metais básicos, ou quanto foi despendido em ouro em determinada região e como está sendo empregado. Evidencia, por exemplo, os valores investidos na América Latina correlacionando-os com os da África ou da Austrália. Em resumo, mostra os maiores investimentos direcionados para “grassroots”, últimos estágios e viabilidades, além de orçamentos nas minas em atividade, e aqueles previstos e gastos por origem de capital (canadense, australiano, americano, africano, europeu, latino americano e regiões do Pacífico e Sudeste asiático, por exemplo). Relaciona os 30 principais investimentos destinados à exploração por meta, bem assim os montantes destinados a ouro e metais básicos em relação ao orçamento global. O relatório encerra com as seguintes ilustrações:

tendências e níveis de investimentos em exploração no período 1993-2000; orçamento individual das empresas no período 1992-2000; comparação entre o previsto e o investido em 1999; investimentos “versus” aquisições entre 1993 e 2000; investimentos em exploração de ouro e metais básicos, e as aquisições destes metais

em relação às cotações nas principais bolsas mundiais; relação dos investimentos em exploração das 30 principais empresas no ano 2000; e maiores investimentos direcionados para ouro, metais básicos e outros tipos de metais.

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OS MANDAMENTOS DA “EMPRESA VERDE”

Alberto Rogério Benedito da Silva

O crescimento da onda verde veio a partir de 1988, quando a revista "Time" escolheu o Planeta Terra como destaque do ano, e no ano seguinte a revista "Fortune" anunciou, em matéria de capa, que a pressão verde sobre os negócios seriam o “megatrend” da década de 90 e da virada do milênio. Com isso, as preocupações ambientais avançaram, passando dos cientistas e ambientalistas para a iniciativa privada.

O primeiro aceno em nível internacional veio a partir da constituição do "Business Council For Sustainable Development", emanado da Rio/92, cujo objetivo era criar massa crítica nas discussões técnicas e políticas, além de mostrar ao público as iniciativas do setor empresarial. O efeito multiplicador foi tão positivo que hoje já há atitudes ambientalmente corretas, que atendem a legislação ambiental, refletindo-se no mercado internacional, através do "consumo verde". O melhor exemplo são as inúmeras ISO 14.001 concedidas à muitas empresas. Estes credenciamentos têm caracterizado ganhos importantes de produtividade e competitividade. Atualmente, uma empresa ambientalmente correta não é somente um ato de sensibilidade social, mas sim a necessidade institucional e mercadológica urgente.

A criação desses valores ambientais não é um processo tão simples e burocrático. Trata-se de uma mudança cultural e passa por um processo de educação. É mudar toda a mentalidade da equipe, através de processo planejado com ênfase a um Programa de Educação Ambiental de médio e longo prazos, iniciado de cima para baixo e de dentro para fora.

Recentemente, o jornalista Rogério Ruschel, presidente da Ruschel & Associados Marketing Ecológico e vice-presidente de Planejamento da Propeg Propaganda, publicou um artigo em que citava os dez mandamentos verdes, descritos a seguir:

1. Avaliar e identificar os problemas ambientais potenciais e existentes em todas as áreas da empresa e não só na fase de produção. Pode-se economizar energia e matérias-primas, reduzir emissões da frota de veículos, promover campanhas de carona e rodízio, reutilizar e reciclar materiais e reduzir hábitos esbanjadores em todo a empresa.

2. Assumir que as soluções devem ser tecnicamente honestas e politicamente desejáveis – investimentos na área ambiental devem ser planejados como aqueles que aumentam os lucros.

3. Promover mudanças comportamentais de "cima para baixo e de dentro para fora". Os diretores devem dar o exemplo e a empresa só deve divulgar seu esforço depois de ter feito as "lições de casa".

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4. Situar os valores ambientais no contexto da cultura corporativa de maneira irreversível – e zelar por eles.

5. Permitir e promover a contribuição dos funcionários. Programas de mudança comportamental precisam ser participativos – como os de reengenharia, por exemplo – e os de caráter ambiental geralmente atraem iniciativas individuais muito rapidamente.

6. Estender as conquistas ambientais a seus fornecedores e parceiros de negócios. No fundo, todos querem mudar, mas alguns podem precisar de ajuda especial – um empurrãozinho.

7. Ouvir a comunidade e trabalhar em conjunto com ela. O "inimigo" é comum a todos e a parceria é a melhor solução.

8. Entender educação ambiental como parte da formação básica e indispensável dos funcionários que tomam decisões na empresa – hoje e no futuro.

9. Ter paciência e calma com ataques externos agressivos: ambientalistas, lideranças comunitárias e jornalistas também estão aprendendo a conviver com este assunto. Diálogo é sempre o melhor caminho.

10. Preparar a construção de novas relações éticas e estratégicas com o mundo externo. Este é um aprendizado difícil e completamente novo.

Acrescido a essa feliz ideia pode-se também incluir a necessidade do social, hoje já embutido na programação de muitas empresas, que já primam por um trabalho ambientalmente correto, onde o “status” preventivo tomou lugar das ações corretivas, tendo em vista que estas antes representavam elevados investimentos para regenerar as agressões à natureza. Afinal de contas, trabalhar o social e o ambiental, além de ser uma questão de economia é principalmente fator de desenvolvimento.

E o mais importante: tudo é uma forte conscientização verticalizada. Se ninguém quer consumir produtos oriundos de tecnologias sujas, então para que os produzis? Eis a chave do negócio que todos devem praticar.

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MINA DE OURO PERUANA SUPERA IGARAPÉ BAHIA

Alberto Rogério Benedito da Silva

A partir de 1991 o Pará, através da mina de igarapé Bahia, em Carajás, passou a fazer parte do seleto grupo de Estados produtores industriais de ouro no Brasil. Com uma produção acumulada de 67 toneladas, até 1999, essa mina até pouco tempo era considerada a maior da América Latina.

Entretanto, também na década de 90, surgiu no cenário mundial a mina peruana La Quina, pertencente à empresa Minera Yanacocha, que é considerada um dos grandes sucessos na história da mineração de ouro, inclusive superando a mina brasileira. De começo humilde e inseguro na década de 80 à exploração de uma propriedade nos altos dos Andes passou a ser uma das principais minas de ouro e mais lucrativas, em nível mundial. Só o bloco central possui uma reserva provada conhecida, cujo quantitativo alcança nove milhões de onças (280 toneladas).

La Quinua deverá iniciar a operação plena de todos os “pits” (área de escavação do minério), incluindo a prata (com reflexos na economicidade do projeto), em 2000-2001 e ao que tudo indica proverá lucros significativos para seus principais acionistas durante os próximos anos. Estas foram as conclusões de um artigo publicado nos anais do 4º Simpósio de Ouro Internacional, realizado em Lima. O empreendimento pertence à empresa Minera Yanacocha e a sua divisão societária está assim dividia: 51,35% da Newmont Mining, 43,65% através de companhia peruana Minas Buenaventura e 5% da International Finance Corporation, braço financeiro do Banco Mundial.

Em 1993, o governo francês privatizou algumas das operações de sua agência geológica, (Bureau Recherches et de Géologiques Minières – BRGM), incluindo os 24,7% de interesse na Minera Yanacocha, em uma transação com a australiana Normandy Mining. Os outros parceiros na joint venture, Newmont Mining e Minas Buenaventura, pleitearam direitos pré-acertados com a BRGM. Após uma prolongada negociação, a Suprema Corte do Peru deu ganho de causa àquelas empresas e concordou que a participação da Newmont Mining fosse aumentada de 38% para 51,35% e a da Minas Buenaventura de 32,30% para 43,65%.

La Quinua está localizada a 4.260 m acima do nível do mar, encravada nos Andes peruano, 600 km a norte de Lima e 23 km a norte de Cajamarca. Os incas exploraram ouro na área há centenas de anos atrás, entretanto, nos idos de sessenta a região se transformou em um foco de exploração de cobre. Na década de oitenta o ouro voltou a ser explorado na região. Em junho de 1984, um acordo de exploração-conjunto do empreendimento foi assinado entre a Newmont Mining, as Minas Buenaventura e a BRGM. O trabalho de exploração priorizado naquele ano envolvia cinco anomalias em solo bloqueadas para prata. Ao final de 1985, um pequeno depósito de elevado teor foi localizado. Em 1987, o projeto da joint venture foi colocado em “stand by”, face às atividades terroristas e à ameaça de nacionalização da área. Mais adiante, em 1988, a exploração permitiu bloquear uma reserva estimada de 22,3 milhões de toneladas de minério de ouro, a um teor de 2,8 g/t e 2,2 onças/t de prata, entretanto, em seguida foram adicionados mais 10 milhões de toneladas de minério de ouro a um teor de 1,4 g/t na região de Carachugo. O estudo de viabilidade foi completado, em 1990, e o projeto

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aprovado em julho de 1992. Somente na área de Carachugo foi bloqueado um recurso de ouro de 1,28 milhão de onças (39,8 toneladas). Com isso, a empresa Minera Yanacocha produziu seu primeiro grama de metal, em agosto de 1993.

O desenvolvimento do depósito Maqui Maqui, adjacente a Carachugo iniciou em abril de 1994, seguido pelo “pit” San Jose Sur, em 1996, com a Cerro Yanacocha entrando em operação pré-industrial, em 1997.

A Minera Yanacocha opera atualmente quatro “pits” que alimentam três blocos de pilhas de lixiviação em pilha (heap leaching): Carachugo, Maqui Maqui e Cerro Yanacocha, que, por sua vez, alimentam duas plantas de recuperação “Merrill-Crowe”. Desde de 1993, a Minera Yanacocha produziu 6,3 milhões de onças de ouro (195,9 toneladas) a um preço médio, respectivamente, “cash” total de US$ 102/onça e de produção total de US$146/onça.

Os investimentos em pesquisa até o final de 1999 foram de US$ 74 milhões para mesurar reservas de metal amarelo de 51,5 milhões de onças (1.600 toneladas), representando um custo médio de descoberta de US$ 1,44/onça, cujo dispêndio total para o “star up” da mina foi da ordem de US$ 480 milhões. É esperado que produção, em 2000, alcance próximo de 2 milhões de onças (62,2 toneladas), acima das 1,66 milhões de onças (51,6 toneladas) de 1999.

A produção de prata começará a ser significativa na produção de 2000. Os créditos da prata beneficiarão os custos da produção de 1,7 milhão de onças desse metal, em 2000 e 3,5 milhões de onças, provavelmente, em 2001. Com isso, os custos totais da mina reduzirão em US$ 4/onças, em 2000 e alcançarão até US$10/onças, antes de 2002.

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OS AVANÇOS DO ALUMÍNIO

Alberto Rogério Benedito da Silva

As características do alumínio têm mostrado as multi-utilizações desse metal na indústria, haja vista as aplicações que vêm se alastrando pelos mais diversos setores da economia. As mais importantes passam pela substituição do aço na indústria automotiva, o revestimento de fachadas de edifícios comerciais, a utilização nas embalagens e até mesmo sua utilização como componente principal da produção de móveis. Essa performance anima as empresas do setor brasileiro que já preveem vendas em 2000 da ordem de US$ 6 bilhões, contra US$ 5,7 bilhões, em 1999. As principais empresas do setor como Alcoa, Alcan e Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) devem investir cerca de US$ 700 milhões na modernização do parque industrial este ano. Só a Alcoa, de 1998 até o final de 2000, acrescentará mais de US$ 350 milhões na inauguração de suas novas unidades. Para João Bosco Silva, presidente da Associação Brasileira de Alumínio (Abal) e da Alcan “o potencial de crescimento no uso do alumínio é enorme”.

Uma batalha iniciada na década de 80, a utilização de alumínio na indústria automobilística está perto da realidade, a Audi, por exemplo, já possui um automóvel 100% de alumínio, porém ainda em escala piloto. A redução do peso dos automóveis é um caminho sem volta, nos Estados Unidos já existem protótipos de carros quase 100% de titânio e de outros metais leves. Porém, o grande desafio ainda é transformá-los em escala comercial, hoje ainda com preços elevados. Mas, isso deverá ocorrer com o tempo e breve. Na exposição do Salão de Automóveis de São Paulo há carros de alumínio com 80% do peso do comercial e consumo 40% a menor.

Segundo a Abal, o Brasil produziu 846 mil toneladas de alumínio primário no período janeiro-agosto/2000, contra 828 mil toneladas no mesmo período de 1999. Só as entregas para processadores domésticos alcançaram 150,2 mil toneladas nos primeiros oito meses de 2000, isto representa um tênue acréscimo de 0,6% contra a performance do mesmo período de1999. O fortalecimento do mercado doméstico pode ser medido pelas exportações de produtos de alumínio que caíram para 506,1 mil toneladas de janeiro-julho/2000, 8% abaixo no mesmo período de 1999, embora em termos de valor FOB houvesse um crescimento de 15,5%, alcançando US$923 milhões.

As projeções otimistas se baseiam no índice de consumo per capita de países mais desenvolvidos, como Estados Unidos e Japão, cuja média é de 30 quilos por ano. No Brasil, essa taxa subiu de 2,2, em 1992, para os atuais 4,4 quilos anuais. O presidente da CVRD, Jório Dauster, acredita que nos próximos anos o ritmo de expansão do alumínio deverá ser maior que o do aço.

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A recuperação econômica incentivou empresas como a Alcoa (US$ 1,2 bilhão de vendas no Brasil) a adquirir recentemente, no Rio de Janeiro, a Aluex, cujo principal objetivo é fortalecer a atuação no setor de construção civil. Na CBA, o desembolso até 2003 será da ordem de US$ 400 milhões para a construção de uma fábrica no interior de São Paulo. O gerente de construção civil da CBA, José Carlos Garcia Noronha, afirma que: “nossas vendas subirão até 60% em três anos”. Já a Alcan incrementará mais de US$ 500 milhões na produção até 2004, que, para cacifar suas pretensões buscou uma parceria de nível mundial: a suíça Alusuisse, com quem formalizou uma associação. Outro ponto positivo é a busca de novas aplicações do alumínio, que vão desde embalagens até materiais esterilizáveis e ração animal, latas para alimentos, bem assim discos para a fabricação de panelas.

Em nível mundial, os prêmios de alumínio no Leste Asiático ficaram firmes, mesmo com a baixa atividade que acontece no mercado físico. É provável que o mercado físico fique lento durante algum tempo, representando uma resposta do desequilíbrio das ações entre a Ásia e a Europa.

Em Cingapura, os prêmios da LME estão mantendo ainda um nível “spot” de US$48-53 por tonelada. Os compradores reclamam dos preços elevados, enquanto os produtores estão pouco dispostos a reduzi-los para não cortar seus lucros. "As coisas parecem estar melhorando, mas o interesse sustentável ainda é incerto", comentou um comerciante daquela cidade.

Enquanto isso em Hong Kong e na China, o mercado físico permanece estável, com os usuários comprando o que eles precisam e não acumulando ações novas. Na expectativa de uma recuperação na LME, os produtores estão vislumbrando exportações para o Japão e Coréia. Os prêmios de alumínio em Hong Kong e no Japão estão atualmente ao redor US$70-75, enquanto na Coréia caíram a US$55-65.

Como nem tudo são flores, a Golden Aluminium Northwest reduziu para 60% sua capacidade de produção em dois “smelters” na parte Oeste dos Estados Unidos, em função da carência de energia na região. O "smelter" da Goldendale tem capacidade de 168 mil toneladas/ano, enquanto que a do Northwest é de 82 mil toneladas/ano. A redução resultará em 100 mil toneladas/ano a menos no mercado. Por motivos de queda nas encomendas, a Alcoa anunciou uma redução de US$ 176 milhões nas despesas anuais no quarto trimestre, excluindo os gastos com energia. E recentemente foi anunciado a volta da utilização do aço em latas (hoje predominantemente de alumínio), em função principalmente do preço daquela matéria-prima que alcança menos da metade do valor do alumínio.

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ECOSSISTEMAS EM CRISE

Alberto Rogério Benedito da Silva

O artigo veiculado no site da Agência Estado de autoria de Liana John trata de um assunto grave: o declínio dos ecossistemas mundiais. A conclusão do resumo do “Relatório do Milênio” sobre os Recursos Naturais Mundiais, lançado nesta semana pelo World Resources Institute (WRI), Banco Mundial (Bird), Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA) e Programa das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento (PNUD) é que um assunto é preocupante e ameaça toda a humanidade. Trata-se de um produto de mais de 175 pesquisadores que durante 2 anos cotejaram resultados de 100 outros estudos anteriores, cujo relatório completo deverá ser publicado brevemente, haja vista que os ecossistemas são considerados as engrenagens biológicas do planeta. Na pesquisa foram incluídos zonas costeiras, florestas, savanas, recursos hídricos e sistemas agrícolas. A análise faz um raio-x do estado atual e de suas tendências, incluindo a capacidade de produzir bens e serviços ambientais, dos quais dependem os homens, a fauna e a flora. Destacam-se entre os serviços prestados pelos ecossistemas: a produção de alimentos e de água potável em quantidades suficientes, o estoque de carbono atmosférico, a manutenção da biodiversidade e a provisão de oportunidades de turismo e lazer. O diretor executivo do PNUMA, Klaus Töepfer, afirmou que: "nós podemos continuar alterando os ecossistemas da Terra cegamente ou podemos aprender a usá-los de forma mais sustentável" e "... nosso conhecimento sobre os ecossistemas cresceu dramaticamente, mas não conseguiu, sequer, empatar com nossa habilidade em alterá-los".

Para James Wolfensohn, presidente do Banco Mundial, é necessário que governos e empresas repensem alguns pressupostos básicos que embasam as maneiras de medir e planejar a economia. A quantificação e valorização dos custos de produção desses serviços ambientais, até hoje computados como gratuitos, é uma nova tendência entre os ambientalistas, mas ainda não foi assimilada por economistas, empresários e autoridades.

Mesmo com a diminuição do crescimento da população o número de pessoas no mundo chegou a 6 bilhões. E para alimentar essa massa humana, a agricultura já tomou mais de um quarto da superfície terrestre. Mais da metade das terras ocupadas pela agricultura sofrem processos de degradação devido à erosão, salinização, poluição ou degradação biológica, intensificados nos últimos 50 anos. Como consequência dessa degradação, a produtividade agrícola cresce menos e de forma desigual. Embora o total de alimentos produzidos no mundo seja suficiente, a má distribuição desta produção mantém pelo menos 800 milhões de pessoas subnutridas. E o crescimento na produtividade não atenderá aos 3 bilhões de novos habitantes do planeta Terra, previstos para os próximos 30 anos.

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O uso de energia cresceu cerca de 70% nos últimos 30 anos e deve continuar aumentando à razão de 2% anuais nos próximos 15 anos. O reflexo é mais conforto, porém, mais contribuições para o aquecimento global da atmosfera, a menos que se consigam baratear as formas alternativas de energia – eólica, solar, geotermal, por exemplo.

A redução nas emissões de gases prejudiciais à camada de ozônio foi considerável. O plante Terra consome cerca de 70% a menos desses gases, desde 1987. Por outro lado, há necessidade de substituir os outros 30% e eliminar o mercado negro de CFCs e mesmo assim, a recuperação da camada de ozônio deverá levar muitos anos, porque os gases emitidos no passado ainda estão ativos.

Um outro desafio surge a partir do excesso de nitrogênio proveniente da fertilização química agropecuária, dos esgotos e da queima de combustíveis fósseis. O excedente é traduzido em redução na fertilidade dos solos e em favorecer a eutrofização de lagos, represas, estuários e mangues. A fragmentação dos rios, a partir de construção de barragens e desvios de canais de irrigação, aumenta consideravelmente os impactos sobre as áreas de influências das bacias hidrográficas e da zona costeira, provocando assoreamento, erosão, alteração de recifes de coral e mangues, além de poluição. Cerca de 60% dos grandes rios do planeta já estão fragmentados e 58% dos recifes de coral do mundo correm risco, devido às atividades humanas.

O desmatamento continua acelerado, mesmo após o mundo já ter perdido metade de suas florestas originais. Na zona tropical, a perda anual alcança 130 mil km2 a cada ano e essa destruição alcança áreas inundáveis, pântanos, charcos, banhados e depressões, locais, em geral, de alta biodiversidade e extrema importância para a conservação da qualidade da água doce. A água, considerada prioridade pela ONU para o próximo milênio, é um dos recursos que mais preocupa. Cerca de 30% da população mundial já vive em regiões com falta ou escassez de água. E, o que é pior, esse total pode chegar até 70% nos próximos 30 anos, se não forem tomadas sérias medidas de conservação.

Com tudo isso, é lamentável dizer que se os ecossistemas estão em declínio, nós que fazemos parte deles temos uma responsabilidade muito grande, que é regenerá-los, caso contrário sucumbiremos juntos, ou talvez antes deles, pois a natureza, sábia do jeito que é, tem suas maneiras de se reequilibrar, enquanto os homens, mortais e frágeis, nem sempre buscam respostas eficazes para possíveis agressões.

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OURO PÁLIDO

Alberto Rogério Benedito da Silva

O relatório Gold Survey 2000 (Update 1) produzido pelo Gold Fields Mineral Services (GFMS), veiculado a partir de outubro em seu site e no do Mining Journal (World Gold), relata a posição do mercado do ouro, referente aos primeiros seis meses de 2000. A revisão ocorreu um ano após os tumultos sofridos pelo mercado que promoveram uma pequena elevação momentânea dos preços do metal. Dessa forma, o GFMS aproveitou a oportunidade para lançar a revisão de setembro/99, no seminário de um dia realizado em Londres. Na ocasião, uma série palestrantes de renomes internacionais foram convidados a emitir opinião em tópicos importantes sobre o mercado do ouro.

Infelizmente nenhuma boa notícia foi dada no evento. Pelo contrário, a principal notícia foi o declínio de mercado. O diretor do GFMS, Philip Klapwijk, previu para os últimos meses de 2000 que a “onça-troy” do ouro varie entre US$ 265-285, com média de US$276 (na última sexta-feira ela foi cotada abaixo de US$ 264 na LME); reiterou, todavia, que durante o ano uma das características foi a redução do papel do mercado, que não tem respondido às flutuações do dólar americano. A oferta acelerada de “hedging” tem sido superada pelas crescentes vendas do setor oficial, como resposta direta do “Acordo de setembro/1999”, firmado entre quinze bancos centrais europeus e pelo “Acordo de Washington”. Outro fator marcante é a queda na demanda de fabricação de jóias, especialmente no mercado indiano.

Há três componentes principais na análise da oferta, segundo o GFMS: produção das minas, vendas do setor oficial e ouro reciclado. De acordo com o GFMS a produção semestral das minas caiu pela primeira vez desde 1994, mesmo considerando o tênue declínio de 0,5% (1.236 toneladas em 1999, contra 1.230 toneladas, em 2000). Dois fatores passageiros foram responsáveis por isso: primeiro, os fortes invernos ocorridos no hemisfério norte e os verões excepcionalmente úmidos ao sul do equador, que se refletiram na performance das minas em operação. Minas a céu aberto no Oeste australiano foram fortemente atingidas pelas chuvas de verão, enquanto que na China e na Ásia Central predominaram condições de invernos extremas. Segundo, a instabilidade política em países como o Zimbábue, Indonésia, e as Ilhas Fiji e Solomon. Todavia, o GFMS espera a recuperação da produção no segundo semestre, de modo que volte a mesma performance do ano passado.

Os custos de operação caíram no primeiro semestre/2000. O custo “cash” teve a média de US$ 189/”onça-troy”, 4% abaixo do mesmo período de 1999.

Os produtores têm sofrido nos últimos dez anos um grande impacto no mercado, causado pela utilização do “hedge”. O “Acordo” dos bancos centrais europeus, firmado em setembro do ano passado teve um efeito significativo em restringir estratégias e mecanismos para esse

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segmento. Com isso, houve uma oferta líquida de 332 toneladas de ouro no primeiro semestre de 1999, enquanto que no mesmo período de 2000 este valor caiu para 84 toneladas.

Já as vendas do setor oficial aumentaram no primeiro semestre de 2000, contrapondo ao decréscimo das negociações de “hedge”. As vendas líquidas alcançaram 324 toneladas, contra 293 toneladas do mesmo período de 1999. Ironicamente o “Acordo dos Bancos Centrais”, criado para reduzir as vendas, foi responsável pela performance positiva dos desembolsos oficiais. Nesse sentido, o GFMS assim se pronunciou, "... a razão principal para o aumento dramático anual em vendas líquidas foi a mudança da política de bancos centrais europeus, respaldado pelo “Acordo” de setembro/99”. Os principais países que efetivaram vendas oficiais dentro do “Acordo”, até o final de junho, foram: Reino Unido (75 toneladas), Holanda (70 toneladas), Áustria (30 toneladas) e Suíça (51 toneladas). Em resumo: de uma comercialização de 352 toneladas, 226 toneladas (64%) vieram dos signatários do “Acordo”.

A grata surpresa do componente da oferta veio do ouro reciclado que subiu 17% no primeiro semestre/2000, alcançando 310 toneladas. Os dados do relatório do GFMS creditam esse crescimento a combinação da alta do dólar americano e piques locais do preço do ouro. A maior elevação proporcional ocorreu na Europa com 36%, embora o maior aumento em condições absolutas tenha ocorrido no Leste Asiático, onde o ouro reciclado cresceu 13 toneladas, ou 27% a mais que o mesmo período do ano anterior. A pesquisa do GFMS acredita que uma combinação de eficiente infraestrutura de reciclagem e maior competitividade no mercado secundário sejam os principais responsáveis pelos incrementos do ouro ligado à joalheira.

Pelo lado do preço, após a análise do GFMS, os dados da LME apontam para média da “onça-troy”, até o final do ano, em torno de US$ 270-275. Traduzindo: quem esperava a recuperação dos preços para ativar a oferta deve mudar o azimute. Pelo lado das empresas, após insistentes reduções nos custos, este panorama não será surpresa, haja vista que seus custos médios estão no patamar abaixo do US$ 200/“onça-troy”.

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ELEVADOS INVESTIMENTOS MOVIMENTAM A MINERAÇÃO MUNDIAL

Alberto Rogério Benedito da Silva

Segundo o Metals Economics Group (MEG), publicado pelo Engineering &Mining Journal, as aquisições tanto de metais básicos como de ouro aumentaram, em 1999, depois de dois anos de declínio, refletindo com isso um otimismo crescente do setor mineral. Cerca de US$ 8 bilhões foram gastos em aquisições, contra US$ 12,4 bilhões, em 1996 e US$ 8,7 bilhões, em 1997. No período de 10 anos (fig. 1), as aquisições de não ferrosos totalizaram US$ 56,1 bilhões, sendo US$ 28,3 bilhões destinados a 146 projetos de ouro e US$ 27,8 bilhões para 135 projetos de metais básicos. A aquisição média de metais básicos foi ligeiramente maior, alcançando US$ 206,1 milhões, contra US$ 193,9 milhões das aquisições para ouro. Das 135 transações de metais básicos, 72 delas, ou 53%, foram direcionadas para cobre primário, 37 (28%) para zinco, 25 (19%) para níquel primário, e apenas uma para chumbo. Somente no ano de 1999, 11 projetos de metais básicos mudaram de proprietários, envolvendo cifras da ordem de US$ 3,9 bilhões. Já em relação ao ouro foram feitas 17 aquisições, avaliadas em US$ 4 bilhões.

Das três principais aquisições efetuados em 1999, duas envolvendo metais básicos e uma ouro, ultrapassaram a US$ 1 bilhão, cada. A maior delas alcançou US$ 1,8 bilhão realizada entre a Phelps Dodge e a Cyprus Amax, anunciada em setembro e concluída no início de dezembro. A Cyprus havia planejado uma fusão amigável com Asarco que foi anunciado em julho, mas em agosto a Phelps Dodge anunciou sua oferta hostil para ambas as companhias. A Cyprus era a maior produtora de cobre e molibdênio em função da aquisição da Amax, em 1993. Seus ativos incluem as minas de cobre a céu aberto Bagdad, Sierrita e Miami, no Arizona; as minas subterrâneas de molibdênio Henderson e Climax, no Colorado; a mina de cobre El Abra, no Chile; e a mina de cobre no Cerro Verde SX/EW, no Peru. Em 1998, a Cyprus Amax produziu aproximadamente 439 mil toneladas de cobre e 28 mil toneladas de molibdênio.

Outra transação com o metal cobre no valor de US$ 1,2 bilhão envolveu o Grupo México que comprou a Asarco, em outubro. Inicialmente havia uma previsão da fusão entre a Asarco e a Cyprus Amax, porém foi desfeita após a oferta hostil da Phelps Dodge à Cyprus Amax. A Asarco produziu, em 1998, 465 mil toneladas de cobre, a partir de suas minas nos Estados Unidos e Peru. Todavia, ela detém também propriedades no Canadá, na região de Yukun.

A maior aquisição envolvendo ouro, em 1999, foi anunciada em junho, mas só foi consumada em setembro, quando a empresa Franco-Nevada formatou a parceria com Euro-Nevada, envolvendo investimentos de US$ 1,3 bilhão. A Euro-Nevada tinha uma propriedade ao norte

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do bloco Goldstrike, em Nevada, famoso por abrigar uma das maiores minas de ouro da Barrick Gold.

Em termos de “juniors companies”, a grata surpresa veio da Suécia, onde, no início de fevereiro, a North Atlantic Natural Resources anunciou sua intenção em prosseguir com o depósito de zinco Storliden, transformando-se, assim, na primeira mina de metal a céu aberto naquele País nórdico, desde 1990. O depósito é pequeno, porém de alto teor, contém 1,8 milhão de toneladas com 10,3% de zinco, 3,5% de cobre, e 24 g/tonelada de prata. A previsão do início da lavra é para 2001. Duas novas minas serão as primeiras do novo clima de exploração da Suécia, depois que a nova legislação mineira foi introduzida, em 1993. Em 1999 muitas das principais companhias de mineração foram envolvidos em exploração naquele País, incluindo a Rio Tinto, a BHP e a Phelps Dodge com amplos programas para alguns anos. A Anglo American também iniciou um trabalho de exploração ambicioso no período. Entre as companhias internacionais de meio porte que operam lá estão a North, a Boliden e a Outokumpu.

A Robe River Iron Assoc. conduzida pela North Ltd., começou o desenvolvimento de seu projeto de ferro West Angelas na região de Pilbara, na Austrália Ocidental, com o início da operação planejados para 2002 e produção prevista de aproximadamente 20 milhões de toneladas anuais, devendo alcançar até 50 milhões de toneladas/ano. O projeto inclui expansão da Robe e a construção de 340 km de estrada de ferro. A operação está situada 110 km a oeste de Newman e 100 km a leste de Paraburdoo.

A Cambior Inc. completou três transações avaliadas no valor de US$ 62,5 milhões, em maio/99, tendo como principal objetivo cobrir suas perdas de 1999. A maior delas foi a venda das minas de zinco Bouchard-Hebert e Langlois, por US$ 48 milhões, na região de Abitibi, em Quebec, Canadá.

50

2.000

1990

Fonte: Metals Economics Group

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000Metais básicos

Figura 1 -Valor das negociações (US$ milhões)

Ouro

Total

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NECESSIDADE DE ALERTA AMBIENTAL

Alberto Rogério Benedito da Silvaii

A matéria denominada “Cidadania ambiental: um novo campo de luta”, de autoria de Solange S. Silva Sánchez, socióloga, doutoranda em sociologia e autora de "Cidadania ambiental: novos direitos no Brasil" detalha os recentes acontecimentos envolvendo a reformulação do Código Florestal, onde se defrontam ambientalistas, governo e legisladores para confirmar a tese segundo a qual os direitos ambientais no Brasil conquistados ao longo das últimas décadas, ainda podem sofrer um retrocesso e, por isso, necessitam de atenção apurada da sociedade civil como um todo.

As perspectivas de abordagem do tema meios ambientes, ao longo do tempo, têm cumulado alterações, todavia, os avanços conquistaram espaços importantes que redefiniram a maneira de pensar das relações entre o desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente, ou o desenvolvimento sustentado. As questões ambientais trouxeram em seu bojo uma série de novas questões que, até certo ponto, desafiam a imaginação política. O ápice de tudo evidencia a necessidade de ser ampliado o direito a um meio ambiente saudável, ao lado da emergência de novos sujeitos de direitos, como as gerações futuras e a própria natureza.

No Brasil, a partir da materialização da Agenda 21, as diversas etapas da política ambiental consolidam-se formalmente e resgatam o direito a um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, conforme reza a Constituição Federal Brasileira de 1988, que o colocou no mesmo nível dos demais direitos e garantias fundamentais. A formatação de uma política ambiental foi resultado da pressão de forças sociais organizadas e, a demanda e reivindicações ambientalistas possibilitaram a formulação da Lei de Política Nacional de Meio Ambiente, trazendo instrumentos legais inovadores como a avaliação de impactos ambientais e a audiência pública, além da criação da Lei dos Interesses Difusos, de 1985, um instrumento legal extremamente moderno e democrático.

A década de 90 desaguou como amplas possibilidades de uma consolidação democrática; haja vista que tínhamos o presidente Fernando Collor, como o primeiro mandatário máximo do País democraticamente eleito depois de duas décadas e meia de regime autoritário. Outro fator positivo foi a realização da Conferência Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro – a Rio/92. Todavia, a negativa explícita e sistemática do debate político, sobreposto a uma bem montada estratégia de "marketing verde"; visando, dentre outras coisas, a liquidar os direitos a um meio ambiente saudável estava embutida no anteprojeto de consolidação das leis ambientais; aliada a tentativa de restabelecer a política de incentivos fiscais em regiões pouco povoadas, como a Amazônia, por exemplo. Outra questão: a resistência em aceitar a participação da sociedade civil organizada em

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gerenciamento de projetos financiados pelo Banco Mundial e outros organismos multilaterais. Mesmo assim, os ambientalistas sobrepuseram tais ameaças e garantiram seus direitos conquistados.

Novamente agora a história quer se repetir. A proposta que altera o Código Florestal, reduzindo de 80% para 50% a área de reserva legal na Amazônia (além de outras modificações significativas) é considerada como grande retrocesso ocorrido na legislação ambiental brasileira. A mesma foi repudiada pela sociedade civil e tem mobilizado os diversos setores ambientalistas.

A reação da sociedade foi tanta que surpreendeu até mesmo o governo, que havia relegado para segundo plano a votação da proposta na Comissão Mista do Congresso. Ante a pressão, a Câmara decidiu anular a votação e rediscutir as mudanças do Código, levando em consideração a proposta do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que continha valiosas contribuições de setores organizados da sociedade civil. Nos últimos anos, na luta pela proteção ambiental, os ecologistas brasileiros constituíram-se em sujeitos sociais, cujas condições implicam em assumir o papel destacado em debates políticos e em processos decisórios, uma vez que já mostraram que não são simples atores dispostos a declamar discursos inflamados e que já evoluíram para práticas concretas de ação.

Na Rio/92, o Fórum Global que foi uma conferência da sociedade civil, paralela ao evento oficial, os ecologistas, em profundos debates, adquiriram aprendizados valiosos, aproximando-se de outros movimentos populares, incorporando, assim, a dimensão social em suas lutas e projetos. E de novo, os ambientalistas brasileiros mostram-se capazes para participar e interferir em debates políticos, bem como em negociações, impedindo retrocessos que ameaçam o meio ambiente e as gerações futuras, desempenhando um papel fundamental e digno na árdua tarefa de manter os direitos que formulam as bases de uma cidadania mais ampla.

Enfocando o lado estritamente mineral, a evolução desse processo na Amazônia é bastante evidenciado e pode ser dividido em quatro rotas: i) sem nenhum cuidado com a questão

ambiental – o melhor exemplo é o projeto de manganês da Icomi, na Serra do Navio-Amapá. Lá o exaurimento da jazida deixou um passivo ambiental considerável, com descaracterização da topografia, agressão aos ecossistemas (florestal e aquático) e um volume considerável de estéril; ii) conscientização ambiental incipiente com ações corretivas – nesta inclui-se o projeto Trombetas da Mineração Rio do Norte S.A., que poluiu o Lago Batata, mas o recuperou, investindo cerca de US$ 80 milhões; iii) conscientização ambiental plena da

necessidade de fazer um projeto ecologicametne correto – esta é a fase atual e o melhor exemplo são os projetos de ferro, manganês e ouro, em Carajás; e iv) estudos preventivos e

parcerias – discussão prévia do EIA/Rima com a comunidade, que deverá balizar os próximos projetos, desde que haja conscientização da sociedade envolvida no projeto.

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JUVENTUDE-TALENTO-SUSTENTABILIDADE NO ENCONTRO DO ALUMÍNIO EM MADRI

Alberto Rogério Benedito da Silva

Na 15ª Conferência Internacional do Alumínio promovido pelo Metal Bulletin, em Madri, no início de setembro, o discurso dos principais executivos das empresas participantes priorizou a trilogia: juventude-talento-sustentabilidade.

Philippe Varin, executivo sênior da Pechiney, exultou aos delegados que a indústria do alumínio tem que transformar os desafios de mercados desequilibrados, a baixa rentabilidade, as expectativas crescentes de clientes e as questões ambientais em oportunidades, que incluem desenvolvimento de relações mais íntimas com clientes sintonizados com a onda o “business-to-business” (B2B), tida como parte da solução de preocupações sustentáveis. Este padrão é liderado pelas consequências do efeito estufa, mas possui uma atenuante a mais: atrair pessoas jovens e talentosas para implementar práticas novas no mercado.

Para John Pizzey, presidente de produtos primários da Alcoa, representando o presidente da Alcoa Europa, que também é presidente da Associação de Alumínio da Europa (EAA), em seu pronunciamento aos delegados do evento, a indústria do alumínio europeia está trabalhando para assegurar sustentabilidade. Ele focalizou a iniciativa da EAA, que lançou, em 1998, um desafio intitulado: "alumínio para futuras gerações", cuja meta é buscar a sustentabilidade do setor. Citou ainda três exemplos recentes do trabalho do EAA: primeiro, a parceria de estudo em sustentabilidade com o grupo verde alemão, Wuppertaler Institute; segundo, um estudo do ciclo de vida do alumínio aplicado ao transporte, em parceria com a ONG Amigos da Terra; e terceiro, o estabelecimento de uma coleção-piloto em planta de reciclagem na Dinamarca.

Melhorar a rentabilidade da indústria do alumínio permanece sendo um assunto fundamental, onde os projetos devem ser avaliados com os mesmos critérios financeiros para a criação de um valor intrínseco. A expansão de “smelters” existentes na Europa, América do Norte e Ásia está ficando mais difícil, devido às novas restrições ambientais e limites de ofertas de materiais disponíveis. Isto significa dizer que como em outras indústrias, a cooperação tem que ser prioritária entre os parceiros, como maneira de melhor selecionar os projetos dos “smelters”, tendo em vista que a globalização acelera a competitividade e reduz o número de projetos com alto padrão de rentabilidade.

Novos desenvolvimentos em tecnologia, incluindo a AP50 da Pechiney e os anodos inertes da Alcoa estão não só ajudando a trazer consciência de custo, como a distribuição de excelência

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operacional nas indústrias do alumínio. Outra alternativa é o “continuous casting” que representa uma solução para incrementar as capacidades. Durante os últimos dez anos, dois terços da nova capacidade do alumínio estiveram em crescimento contínuo, respondendo por 1,5 milhão de toneladas da capacidade e atualmente representa cerca de 10% de produção mundial, ou 2 milhões de toneladas.

Pela ótica da internet, tendo como carro-chefe o “e-commerce”, os produtos “internet-traded” deverão alcançar um universo de 20-60% do mercado, antes de 2004. Os internautas nutrirão relações mais íntimas com os clientes e os produtores adquirirão acesso direto ao usuário-fim, melhorando, assim, o conhecimento do cliente e o desenvolvimento do produto. A distribuição também será mais focalizada em logísticas e perícias de mercado, em lugar de tarefas administrativas. Entretanto, grupos do alumínio terão que aumentar o próprio “B2B” rapidamente, de modo que os meios de cooperação sejam mais eficientes entre competidores e clientes.

Em termos ambientais, é necessário compensar o aumento da emissão de partículas nos incrementos de capacidades adicionais dos “smelters” e para isso serão exigidas novas soluções, utilizando processos inovadores e mecanismos comerciais.

Para criar oportunidade, a indústria do alumínio precisa também atrair pessoas jovens e talentosas. De acordo com o fórum de recrutamento europeu, nenhuma empresa que trabalha com alumínio está entre as 25 primeiras, em termos empregos atraentes para pessoas recém-saídas das universidades.

Para a Alcoa, a Europa representa 20% de suas vendas mundiais e emprega mais de 200 mil pessoas, produzindo mais de 5 milhões de toneladas/ano de alumínio, para a uma demanda de mais de 7 milhões de toneladas/ano. Trata-se de uma indústria responsável por investimentos significativos e está disposta a reduzir dramaticamente suas taxas de consumo de energia, de emissões de partículas e de acidentes de trabalho. Porém, enfrenta muitos desafios, como: justificar o consumo de energia subsidiado; os riscos à saúde causados pela indústria do alumínio e a maneira de evitá-los; responder às demandas de clientes europeus da indústria automotiva, da construção e de setores de empacotamento, enquanto minimiza desperdícios e maximiza reciclagem, em resposta aos compromissos feitos pela União Europeia na conferência de Kyoto.

Também durante a conferência houve um “road show”, onde uma equipe representando a Companhia Vale do Rio Doce e o governo do Pará discutiram com grandes empresas mundiais desse importante segmento econômico os interesses delas na verticalização do alumínio paraense. O lado unânime da equipe: todos têm pretensão de investir, depende apenas de ajustes de negócios, porém, há uma exigência comum, que é a oferta de energia compatível com as exigências do mercado globalizado.

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Água, um líquido cada vez mais raro

Alberto Rogério Benedito da Silvai A declaração do presidente francês de que “há, no momento, pelo menos 70 conflitos internacionais declarados por causa da água” e a palavra do ambientalista inglês Robert Swan, o pioneiro da preservação da Antártica, que "nossos filhos verão mais guerras pela água do que por qualquer outra coisa" representam um grande alerta para a utilização desse precioso líquido. Um estudo do World Wildilife Fund (WWF) parece confirmar a previsão: o consumo de água dobra a cada 25 anos e, se o modo de gastá-la não for alterado, em 2008 cerca de 60% da humanidade não disporá mais de água suficiente ou, então, a receberá suja, em más condições de uso. "Precisamos garantir aos nossos filhos um planeta vivo", alerta o diretor-geral do WWF, Claude Martin. A rigor, não é certo dizer que vai faltar água, pois o ciclo hidrológico faz com que o líquido precioso volte sempre, nas fases de evaporação, nuvens, neblina e chuvas. O grande problema é que ela não cai na mesma proporção nem nos mesmos lugares. Pode inundar várzeas e cidades, e faltar em represas ou lavouras. Ainda, evaporar de pradarias e cair em alto mar. O que vai ficar cada vez mais difícil é a água doce, potável, que será substituída pela reciclada, clorada, às vezes suja e mais cara. A falta d’água já atormenta hoje a vida de 1,3 bilhão de pessoas, ou seja, a média de um em cada seis habitantes da Terra. Tudo isso parece ironia, quando se sabe que 75% da superfície do planeta é composta de água. No entanto, 97% dela é salgada, está nos oceanos. Dos 3% restantes, que são água doce, 2% estão compactados nas duas calotas polares e o que cabe a todos os seres humanos é 1% que restou dessa conta. Como se vê, a maior parte da superfície do Planeta Terra é composta de água, elemento mineral imprescindível à vida. O que se consume é uma parte bem pequena do total existente na Terra, com a seguinte distribuição: 1,5% rios, lagos e cursos d'água; 48% água subterrânea até 800 metros de profundidade; 49% água subterrânea abaixo de 800 metros de profundidade; 0,8% água contida no solo (umidade); e 0,7% vapor d'água na atmosfera. E pelo fato de os recursos hídricos para o consumo serem reduzidos é que, a partir da Rio/92, a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio Ambiente, priorizou a água. Como conseqüência, foi elaborada a Agenda 21que definiu as prioridades para o mundo inteiro. A preocupação do governo federal com os recursos hídricos é plenamente justificada, tendo que vista que o Brasil possui 14% de toda água doce do mundo, entretanto, este recurso, vital para a humanidade, não tem sido tratado pelos brasileiros com o cuidado merecido, uma vez que 40% da água consumida é desperdiçada; apenas 10% do esgoto gerado é tratado; 23,8% das pessoas não têm água encanada (36 milhões de brasileiros); e 51,8% de domicílios urbanos não têm esgoto (16,3 milhões).

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