Notas de Aula Algebra 3 - UnB · 5. Transitividade 56 6. Cubicas 56 7. Subcorpos est aveis 58 8....

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Notas de Aula ´ Algebra 3 Martino Garonzi Universidade de Bras´ ılia Segundo semestre 2018 1

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Notas de Aula Algebra 3

Martino Garonzi

Universidade de Brasılia

Segundo semestre 2018

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As pessoas que as pessoas que as pessoas amam amam amam.

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Conteudo

Capıtulo 1. Grupos 51. Acao de um grupo sobre um conjunto 52. Acao de conjugacao 73. Representacoes permutacionais 104. Teorema de Sylow 135. O grupo simetrico de grau 4 176. O grupo simetrico de grau 5 207. Solubilidade 238. Resolucao dos exercıcios - Grupos 24

Capıtulo 2. Teoria de Galois 431. Corpos de decomposicao 432. O grupo de Galois 453. Correspondencias de Galois 484. Extensoes de Galois 525. Transitividade 566. Cubicas 567. Subcorpos estaveis 588. Solubilidade 609. Extensoes radicais 6310. Quarticas 6611. O teorema fundamental da algebra 6712. Construtibilidade com regua e compasso 6813. O teorema de Abel 7114. Resolucao dos exercıcios - Teoria de Galois 73

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CAPıTULO 1

Grupos

1. Acao de um grupo sobre um conjunto

Seja G um grupo. Dizemos que G age a direita sobre o conjunto X se edada uma funcao X ×G→ X, (x, g) 7→ xg com as propriedades seguintes.

(1) x1 = x para todo x ∈ X;(2) (xg)h = x(gh) para todo x ∈ X e para todo g, h ∈ G.

Dizemos que G age a esquerda sobre o conjunto X se e dada uma funcaoG×X → X, (g, x) 7→ gx com as propriedades seguintes.

(1) 1x = x para todo x ∈ X;(2) h(gx) = (hg)x para todo x ∈ X e para todo g, h ∈ G.

Observe que se H ≤ G e G age sobre X entao H tambem age sobre X, a acaode H sendo definida pela mesma regra que define a acao de G.

Trabalharemos mais com acoes a esquerda. Se nao tiver especificacoes todasas acoes sao acoes a esquerda.

Exemplo fundamental: o grupo simetrico Sn age sobre {1, 2, . . . , n} da ma-neira natural: (f, α) 7→ f(α). Logo, todo subgrupo de Sn age sobre {1, 2, . . . , n}da maneira natural.

Acao trivial: sejam G um grupo, X um conjunto. A acao de G sobre Xdefinida por (g, α) 7→ α para todo α ∈ X, g ∈ G e chamada de acao trivial.

Acao regular: seja G um grupo e X = G. A acao de G sobre X dada por(g, α) 7→ gα para todo α, g ∈ G e chamada de acao regular de G.

O grupo finito G aja sobre o conjunto X. Dado α ∈ X denotamos por Gα outambem por StabG(α) o estabilizador de α, isto e o conjunto

{g ∈ G | gα = α}(e um subgrupo de G), e denotamos por OG(α) a G-orbita de α, isto e o conjunto{gα | g ∈ G}. Tal acao e dita transitiva se existe α ∈ X tal que OG(α) = X,em outras palavras OG(α) = X para todo α ∈ X, em outras palavras existe umaunica orbita.

Proposicao 1. O grupo G aja sobre o conjunto X. Entao X e igual a uniaodisjunta das G-orbitas.

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6 1. GRUPOS

Demonstracao. E claro que α = 1α ∈ OG(α) para todo α ∈ X, issomostra que X =

⋃α∈X OG(α). Para mostrar que a uniao e disjunta precisamos

mostrar que se x, y ∈ X sao tais que Gx ∩ Gy 6= ∅ entao Gx = Gy. Para issosuponha Gx ∩ Gy 6= ∅. E suficiente mostrar que Gx ⊆ Gy, a outra inclusaosendo analoga. Seja gx ∈ Gx, queremos mostrar que gx ∈ Gy. Por hipoteseexiste z = hx = ky ∈ Gx ∩ Gy (com g, h ∈ G), daı x = h−1ky. Obtemosgx = gh−1ky ∈ Gy. �

Proposicao 2 (Princıpio da contagem). Se G age sobre X e α ∈ X entao

|G : Gα| = |OG(α)|.Em particular se a acao for transitiva entao |X| divide |G|.

Demonstracao. Queremos construir uma bijecao entre o conjunto (G : Gα)das classes laterais esquerdas de Gα em G e o conjunto OG(α). Defina f : (G :Gα) → OG(α) levando gGα para gα. f e bem definida: se gGα = hGα entaoh−1g ∈ Gα, em outras palavras h−1gα = α e multiplicando os dois lados aesquerda por h obtemos gα = hα ou seja f(gGα) = f(hGα). f e bijetiva: einjetiva pois se gα = hα entao h−1g ∈ Gα ou seja g ∈ hGα ou seja gGα = hGα;e sobrejetiva pois se gα ∈ OG(α) entao gα = f(gGα). �

Por exemplo considere G = S4 agindo sobre X = {1, 2, 3, 4} e pense noselementos de X como os vertices de um quadrado:

1 2

4 3

O estabilizador Gα e isomorfo a S3 para todo α ∈ X (por exemplo os elementos doestabilizador de 1 sao 1, (23), (24), (34), (234), (243)). O subgrupo H = 〈(1234)〉age rotacionando os quatro elementos, os elementos de H sao 1, (1234), (13)(24),(1432) logo Hα = {1} para todo α ∈ X.

No caso da acao trivial de G sobre um conjunto X (ou seja gx = x para todog ∈ G, x ∈ X) temos Gx = {g ∈ G : gx = x} = G e Gx = {gx : g ∈ G} = {x}logo a igualdade |Gx| = |G : Gx| e a igualdade 1 = |G : G|.

No caso da acao regular de G sobre G (ou seja gx e o produto em G entreg e x) temos Gx = {g ∈ G : gx = x} = {g ∈ G : g = 1} = {1} (podendomultiplicar por x−1 !) e Gx = {gx : g ∈ G} = G para todo x ∈ G, logo aigualdade |Gx| = |G : Gx| neste caso e a igualdade |G| = |G : {1}|.

Exercıcios.

(1) O grupo G aja a direita sobre o conjunto X levando (α, g) ∈ X×G paraαg. Mostre que a formula g ∗ α := αg−1 (onde g ∈ G e α ∈ X) defineuma acao a esquerda de G sobre X.

(2) O grupo simetrico G = S4 age de maneira natural sobre X = {1, 2, 3, 4}.Calcule o indice |G : Gα| para todo α = 1, 2, 3, 4.

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2. ACAO DE CONJUGACAO 7

(3) Se G age sobre X e H ≤ G podemos considerar as orbitas da acao deH sobre X (H-orbitas). Considere G = S4 agindo da maneira naturalsobre X = {1, 2, 3, 4} e H = Gα onde α ∈ X. Conte as H-orbitas.

(4) Seja G um grupo. Mostre que G age sobre G×G por meio da regra

G× (G×G)→ G×G, (g, (α, β)) 7→ (gα, gβ).

Conte as orbitas dessa acao em termos de n = |G|.

2. Acao de conjugacao

Acao sobre os conjugados de um elemento. Seja G um grupo e seja x umelemento (fixado!) de G. Dado h ∈ G o elemento hxh−1 e dito o conjugado de xpor meio de h. Os elementos de G do tipo hxh−1 sao chamados de conjugadosde x em G. Seja

X = {hxh−1 : h ∈ G}o conjunto dos conjugados de x em G. O grupo G age transitivamente no conjuntodos conjugados de x levando (g, hxh−1) para ghxh−1g−1 = (gh)x(gh)−1. Se tratade uma acao a esquerda, e e transitiva sendo que X e igual a orbita de x. Oestabilizador de x e

StabG(x) = Gx = {g ∈ G | gxg−1 = x} = {g ∈ G | gx = xg},

dito o centralizador de x em G e indicado por CG(x). Analogamente o estabi-

lizador de hxh−1 e CG(hxh−1). E obvio que x ∈ CG(x) (pois x comuta com x).O princıpio da contagem diz exatamente que o numero de conjugados de x em Ge igual ao indice do seu centralizador : |X| = |G : CG(x)|. Por exemplo se G eabeliano entao |X| = 1 e CG(x) = G.

O conjunto dos conjugados de um elemento x de um grupo G e chamadode classe de conjugacao de x em G. Uma classe de conjugacao de G e umaclasse de conjugacao de um elemento de G. Por exemplo no grupo simetrico Sna classe de conjugacao de um elemento x consiste dos elementos de Sn com amesma estrutura cıclica de x.

Podemos considerar a acao de G sobre X = G dada pela conjugacao: G ×G → G, (g, x) 7→ gxg−1. As orbitas dessa acao sao as classes de conjugacao doselementos de G. Por exemplo a classe de conjugacao de 1 e {1} (pois 1 comutacom todo mundo).

Equacao das orbitas. O grupo G aja no conjunto X e as orbitas dessa acaosejam OG(x1), . . . , OG(xt). Entao sendo |OG(xi)| = |G : Gxi | para todo i e X auniao disjunta OG(x1) ∪ . . . ∪OG(xt) obtemos

|X| = |OG(x1) ∪ . . . ∪OG(xt)| =t∑i=1

|OG(xi)| =t∑i=1

|G : Gxi |.

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8 1. GRUPOS

Equacao das classes. Trata-se da equacao das orbitas no caso particularem que X = G e a acao e por conjugacao: (g, x) 7→ gxg−1. Obtemos que sex1, . . . , xk sao representantes de classes de conjugacao distintas entao

|G| =k∑i=1

|G : CG(xi)|.

Exemplo. Considere

G = S3 = {1, (12), (13), (23), (123), (132)}.

Os conjugados de (12) sao (12), (13), (23) (os cıclos de comprimento 2), os con-jugados de (123) sao (123) e (132) (os cıclos de comprimento 3). As orbitas daacao de conjugacao (ou seja as classes de conjugacao) sao entao

{1}, {(12), (13), (23)}, {(123), (132)}.

A orbita de (12) tem tamanho 3 e de fato |G : CG((12))| = |G|/|CG((12))| = 3sendo CG((12)) = {1, (12)}. A orbita de (123) tem tamanho 2 e de fato |G :CG((123))| = |G|/|CG((123))| = 2 sendo CG((123)) = {1, (123), (132)} (essescentralizadores podem ser calculados a mao). A equacao das classes neste casopode ser escrita 6 = 1 + 3 + 2, mais especificamente

|S3| = |{1}|+ |{(12), (13), (23)}|+ |{(123), (132)}|.

|S3| = |G : CG(1)|+ |G : CG((12))|+ |G : CG((123))|.

O centro de um grupo G e a intersecao dos centralizadores dos elementos deG:

Z(G) =⋂x∈G

CG(x) = {g ∈ G : gx = xg ∀x ∈ G}.

Em outras palavras Z(G) contem os elementos que “comutam com todo mundo”.Por exemplo G e abeliano se e somente se Z(G) = G. Pode se verificar a mao queZ(S3) = {1}.

Seja p um numero primo. Um grupo finito G e chamado de p-grupo se |G|e uma potencia de p: existe um inteiro nao negativo n tal que |G| = pn. Porexemplo S3 nao e um p-grupo pois |S3| = 6 = 2 · 3 nao e uma potencia de umprimo. Por exemplo S2 = {1, (12)} e um 2-grupo pois |S2| = 2 = 21. Um outroexemplo de p-grupo e o grupo de Klein S2 × S2, ele tem ordem 2 · 2 = 4 = 22.

Teorema 1. Seja p um numero primo. Seja G um p-grupo com G 6= {1}.Entao Z(G) 6= {1}.

Demonstracao. Dado x ∈ G denotaremos por C(x) a classe de conjugacaode x. Escreva as classes de conjugacao de G como C(x1), . . . , C(xm). O numero me o numero de classes de conjugacao de G (por exemplo se G = S3 entao m = 3).

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2. ACAO DE CONJUGACAO 9

Observe que xi ∈ Z(G) se e somente se C(xi) = {xi} (a acao de conjugacao numelemento do centro e trivial). Escrevemos a equacao das classes como

|G| =m∑i=1

|G : CG(xi)|.

A menos de trocar de lugar as parcelas dessa soma podemos supor que xi ∈ Z(G)para todo i = 1, 2, . . . , k, assim k = |Z(G)| ≤ m. Obviamente |G : CG(xi)| = 1para todo i = 1, 2, . . . , k assim temos

|G| = 1 + 1 + . . .+ 1 +

m∑i=k+1

|G : CG(xi)| = |Z(G)|+m∑

i=k+1

|G : CG(xi)|.

Observe que |C(xi)| > 1 para i > k. Por outro lado |G| = pn e uma potencia de p e|G : CG(xi)| = |C(xi)| e uma potencia de p maior que 1 para todo i = k+1, . . . ,m(e uma potencia de p pois divide |G| = pn, e maior que 1 pois xi 6∈ Z(G)).Reduzindo a equacao das classes modulo p obtemos entao

0 ≡ |Z(G)|+ 0 mod p

ou seja p divide |Z(G)|. Isso implica que Z(G) 6= {1} sendo que |{1}| = 1 nao edivisıvel por p. �

Exercıcios.

A acao de G sobre X e dita fiel se a intersecao dos estabilizadores e trivial:

A acao e dita fiel se⋂α∈X

Gα = {1}.

(1) (Exercıcio da aula passada - corrigido) G aja de maneira fiel sobre X, eseja H ≤ G. Suponha que a acao de H sobre X seja transitiva. DefinaK = CG(H) = {g ∈ G : gh = hg ∀h ∈ H} (o centralizador de H emG). Mostre que Kα = {1} para todo α ∈ X.

(2) Seja G um grupo finito abeliano que age de maneira fiel e transitivasobre um conjunto X. Mostre que |G| = |X|.

(3) Seja G um grupo que age de maneira fiel e transitiva sobre X. Mostreque |Z(G)| divide |X|.

(4) Seja G um grupo. Mostre que toda classe de conjugacao de G temtamanho no maximo |G : Z(G)|.

(5) Conte as classes de conjugacao de A4 e de S4.(6) Mostre que Z(Sn) = {1} para todo n ≥ 3.(7) Encontre um grupo G tal que {1} 6= Z(G) 6= G.(8) Seja k(G) o numero de classes de conjugacao do grupo finito G. Seja

C := {(x, y) ∈ G×G : xy = yx}.

Mostre que |C| = k(G)|G|.[Dica: comece mostrando que |C| =

∑x∈G |CG(x)| e aplique a

equacao das classes.]

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10 1. GRUPOS

Acao sobre os conjugados de um subgrupo. Seja G um grupo e seja H umsubgrupo de G. Dado g ∈ G considere gHg−1 := {ghg−1 | h ∈ H} ⊆ G. Trata-se de um subgrupo de G. Os subgrupos de G do tipo gHg−1 sao chamados deconjugados de H. Se trata de subgrupos de G isomorfos a H (um isomorfismoe H → gHg−1, h 7→ ghg−1). G age transitivamente no conjunto dos conjugadosde H levando (g, yHy−1) para gyHy−1g−1 = (gy)H(gy)−1. O estabilizador de Hpor meio de tal acao e

{g ∈ G | gHg−1 = H},e dito o normalizador de H em G e denotado por NG(H). Se trata de umsubgrupo de G contendo H. Dizemos que um elemento g ∈ G “normaliza H” segHg−1 = H, ou seja g ∈ NG(H), e se K ≤ NG(H) dizemos que K normalizaH. Por exemplo e obvio que H sempre normaliza H. O princıpio da contagemdiz exatamente que o numero de conjugados de H em G e igual ao indice do seunormalizador:

|{gHg−1 | g ∈ G}| = |G : NG(H)|.Em particular H e normal em G se e somente se NG(H) = G (todo mundonormaliza H). Observe que H ≤ NG(H) ≤ G logo |G : H| = |G : NG(H)| ·|NG(H) : H|, em particular |G : NG(H)| ≤ |G : H|, logo H tem sempre nomaximo |G : H| conjugados em G.

3. Representacoes permutacionais

O grupo G aja agora nos dois conjuntos X e Y . As duas acoes sao chamadasde equivalentes (ou isomorfas) se existir uma bijecao ϕ : X → Y tal que ϕ(gx) =gϕ(x) para todo g ∈ G, x ∈ X(observe que gx e a acao de G sobre X, gϕ(x) e aacao sobre Y ). Duas acoes isomorfas sao “a mesma acao”, no sentido que mexemos mesmos elementos da mesma maneira.

Sejam G um grupo e H um subgrupo de G. O grupo G age transitivamenteno conjunto X das classes laterais esquerdas de H em G levando (g, yH) paragyH. Ela e transitiva porque OG(H) = X. Alem disso o estabilizador de H e{g ∈ G : gH = H} = H. Toda acao transitiva e desse tipo, mais especificamente:

Proposicao 3 (Caracterizacao das acoes transitivas). Seja G×X → X umaacao transitiva e sejam x ∈ X, H = Gx. A bijecao construida na demonstracaodo princıpio da contagem determina uma equivalencia entre a acao de G sobre Xe a sua acao no conjunto das classes laterais esquerdas de H por multiplicacao aesquerda.

Demonstracao. Seja Y = (G : H) = {yH : y ∈ G}. Ja vimos que a funcaoϕ : X → Y , ϕ(gx) = gH e bem definida e bijetiva. Precisamos mostrar que sek ∈ G entao ϕ(k(gx)) = kϕ(gx), mas isso e obvio pois ϕ(k(gx)) = ϕ((kg)x) =kgH e kϕ(gx) = k(gH) = kgH. �

No proximo resultado vemos que dar uma acao de G sobre X e a mesmacoisa que dar um homomorfismo G → Sym(X). Mais especificamente, existeuma bijecao canonica entre o conjunto das acoes a esquerda de G sobre X e o

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3. REPRESENTACOES PERMUTACIONAIS 11

conjunto dos homomorfismos G → Sym(X). Um homomorfismo G → Sym(X)e tambem chamado de representacao permutacional (estamos representandoos elementos de G como permutacoes de X).

Proposicao 4 (Representacoes permutacionais). Sejam G um grupo e X umconjunto.

• Se A : G×X → X, (g, x) 7→ gx e uma acao de G sobre X o homomor-fismo correspondente e γA : G→ Sym(X), γA(g) : X → X, x 7→ gx.

• Se γ : G → Sym(X) e um homomorfismo, a acao correspondente eAγ : G×X → X, (g, x) 7→ γ(g)(x).

As construcoes acima sao bem definidas e sao uma a inversa da outra:

• AγA = A para toda acao A de G sobre X,• γAγ = γ para todo homomorfismo γ : G→ Sym(X).

Demonstracao. Seja dada a acao A de G sobre X. A funcao γA(g) :X → X e bijetiva, sendo γA(g−1) a sua inversa (de fato γA(g−1)γA(g)(x) =γA(g−1)(gx) = g−1gx = x e γA(g)γA(g−1)(x) = γA(g)(g−1x) = g(g−1x) = x,logo e um elemento de Sym(X), o grupo das funcoes bijetivas X → X. γA ehomomorfismo de grupos porque se x ∈ X, e g, h ∈ G,

γA(gh)(x) = ghx = g(hx) = γA(g)(γA(h)(x))⇒ γA(gh) = γA(g)γA(h).

Agora suponha de ter um homomorfismo γ : G→ Sym(X), g 7→ γ(g). Entao Aγdefine uma acao porque γ(g)γ(h)x = γ(gh)x sendo γ homomorfismo.

Precisamos mostrar que as construcoes acima sao uma a inversa da outra. Sejadada a acao A, entao a acao AγA : G×X → X leva (g, x) para γA(g)(x) = gx, issomostra que AγA = A. Seja dado o homomorfismo γ, entao γAγ : G → Sym(X)leva g para γAγ (g) : x 7→ γ(g)(x), isso mostra que γAγ (g) = γ(g) para todo g ∈ Glogo γAγ = γ. �

O nucleo de uma acao de G sobre X e por definicao igual ao nucleo dohomomorfismo G → Sym(X) correspondente, e uma acao e dita fiel se o seunucleo e {1}. Em particular as acoes fieis de G sobre X correspondem aos ho-momorfismos injetivos G → Sym(X), e as acoes fieis sobre X correspondem (amenos de equivalencia) aos subgrupos de Sym(X). No caso da acao natural deSn sobre {1, 2, . . . , n} o homomorfismo correspondente e a identidade Sn → Sn.

Seja γ : G → Sym(X) o homomorfismo correspondente a uma acao de Gsobre X. O nucleo da acao e entao

ker(γ) = {g ∈ G : γ(g) = idX} = {g ∈ G : γ(g)(x) = x ∀x ∈ X}= {g ∈ G : gx = x ∀x ∈ X} =

⋂x∈X Gx.

Ou seja o nucleo de uma acao e igual a intersecao dos estabilizadores.Por exemplo o nucleo da acao de conjugacao de G sobre G e a intersecao doscentralizadores dos elementos de G, ou seja o centro de G, Z(G).

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12 1. GRUPOS

Pelo teorema de isomorfismo se G age sobre X com nucleo K entaoG/K e isomorfo a um subgrupo de Sym(X).

O teorema de Cayley generalizadoSeja H um subgrupo de G, e G aja por multiplicacao a esquerda sobre o

conjunto X := (G : H) das classes laterais esquerdas de H em G. Tal acao eobviamente transitiva. Seja yH ∈ X. Mostraremos que o estabilizador de yH eigual a yHy−1. Temos

Stab(yH) = {g ∈ G | gyH = yH} = {g ∈ G | y−1gy ∈ H} =

= {g ∈ G | g ∈ yHy−1} = yHy−1.

O nucleo dessa acao e entao igual a⋂g∈G gHg

−1. Trata-se de um subgrupo normal

de G (sendo o nucleo de um homomorfismo) contido em H. Denotaremos-o por

HG e chamaremos-o de coracao normal de H em G. E facil ver que todosubgrupo normal de G contido em H e contido em HG, em outras palavras HG eo maior subgrupo normal de G contido em H (em particular H EG se e somentese H = HG). Temos entao um homomorfismo injetivo

G/HG → Sym({yH : y ∈ G}) ∼= Sn

onde n = |X| = |G : H|.Teorema de Cayley generalizado: o quociente G/HG e isomorfo a um

subgrupo de Sn, onde n = |G : H|, em particular a ordem de G/HG divide n!.

Teorema de Cayley classico (“G e isomorfo a um subgrupo de Sym(G)”).O caso H = {1} do teorema de Cayley generalizado corresponde a acao regularde G (a acao de G sobre G dada pela multiplicacao a esquerda). Observe queneste caso HG = {1} logo obtemos um homomorfismo injetivo G → Sn onden = |G : H| = |G|. Em outras palavras a acao regular do grupo G e dada pelamultiplicacao a esquerda de G sobre o proprio G (as classes laterais de {1} saosimplesmente os elementos de G). Os estabilizadores dessa acao sao triviais logoo nucleo tambem e trivial e a acao e fiel.

Um grupo G e dito simples se os unicos subgrupos normais de G sao {1}e G. Deduzimos que se um grupo simples G possui um subgrupo H de indicen > 1 entao |G| divide n!. De fato HG ≤ H ≤ G logo HG 6= G logo HG = {1} eG ∼= G/HG e isomorfo a um subgrupo de Sn, que tem ordem n!.

Exercıcios.

(1) Sejam A e B subgrupos do grupo finito G e defina AB = {ab : a ∈A, b ∈ B}. Mostre que |AB| = |A||B|/|A ∩ B|. Mostre que se B E Gentao AB ≤ G.

(2) Seja H um subgrupo de G de indice 2. Mostre que H e normal em G(ou seja H = HG).

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4. TEOREMA DE SYLOW 13

(3) Seja M um subgrupo maximal de G (ou seja os unicos subgrupos H deG com M ≤ H ≤ G sao M e G). Mostre que o numero de conjugadosde M em G nao e igual a 2.

(4) Seja p um numero primo e seja G um p-grupo finito. Seja M um sub-grupo maximal de G (definido no exercıcio acima). Mostre que M EGe que |G : M | = p.

[Dica: por inducao sobre n, onde |G| = pn. Seja y ∈ Z(G) − {1},uma sua oportuna potencia x tem ordem p; considere G/〈x〉.]

(5) O grupo G aja de maneira fiel sobre o conjunto X. Mostre que se X efinito entao G e finito tambem.

(6) Uma acao de G sobre X com todos os estabilizadores triviais (ou sejaGx = {1} para todo x ∈ X) e dita semiregular. Mostre que a acao deG sobre X e equivalente a acao regular de G (que e a acao de G sobreG dada pela multiplicacao a esquerda) se e somente se e semiregular etransitiva.

(7) Considere o grupo S6 agindo da maneira natural sobre {1, 2, 3, 4, 5, 6}.Mostre que S6 contem um subgrupo isomorfo a S4 cuja acao sobre{1, 2, 3, 4, 5, 6} e transitiva.

[Dica: considere a acao natural de S4 sobre o conjunto dos subcon-juntos de {1, 2, 3, 4} de cardinalidade 2.]

(8) Seja G um grupo de ordem 21 e H um subgrupo de G com |H| = 7.Mostre que H EG (ou seja H = HG).

(9) Seja G um grupo simples. Mostre que se G contem um subgrupo deindice 3 entao |G| = 3.

(10) Seja G um grupo e sejam x, y elementos de G. Mostre que xy e yx saoconjugados em G.

(11) Mostre que se G/Z(G) e cıclico entao G = Z(G), ou seja G e abeliano.[Dica: chamado Z = Z(G), o quociente G/Z e gerado por um ele-

mento xZ, logo todo elemento de G tem a forma xnz com n um inteiroe z ∈ Z. Considere dois elementos a = xnz, b = xmw de G (ondez, w ∈ Z) e mostre que ab = ba.]

4. Teorema de Sylow

Teorema 2 (Cauchy). Seja G um grupo finito cuja ordem e divisıvel peloprimo p. Entao existe x ∈ G de ordem p.

Demonstracao. Considere Gp = G×· · ·×G (p vezes) e X = {(g1, . . . , gp) ∈Gp : g1 · · · gp = 1}. Obviamente |X| = |G|p−1. O grupo C = Cp = 〈σ〉 age sobreo conjunto X da seguinte forma: σ leva (g1, . . . , gp) para (g2, . . . , gp, g1). Issodefine uma acao de C por meio da posicao σi(x) := σi−1(σ(x)). Se trata de umaacao bem definida porque se (g1, . . . , gp) ∈ X entao (g2, . . . , gp, g1) ∈ X, de fato

g2 · · · gpg1 = g−11 g1 · · · gpg1 = g−1

1 g1 = 1.

O elemento σ fixa (g1, . . . , gp) se e somente se g1 = . . . = gp = g e neste caso gp =1. A orbita de um elemento x = (g1, . . . , gp) nao fixado por σ tem cardinalidade

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14 1. GRUPOS

|C : Cx|, e sendo p primo devemos ter |C : Cx| = p, logo aplicando a equacaodas orbitas obtemos que p divide a cardinalidade de Y = {(g1, . . . , gp) ∈ X :g1 = . . . = gp}. De fato definido m como sendo o numero de orbitas com pelementos temos |X| = |Y |+mp e reduzindo modulo p obtemos que p divide |Y |.Em particular |Y | > 1, logo (1, 1, . . . , 1) nao e o unico elemento de Y , em outraspalavras existe um elemento (g1, . . . , gp) ∈ X com g1 = . . . = gp = g 6= 1, daıgp = 1 logo g tem ordem p. �

Seja G um grupo finito e sejam H ≤ G, N E G. Seja π : G → G/N aprojecao canonica. Temos π(H) = HN/N e pelo teorema de isomorfismo sendoker(π|H) = H ∩N temos H/H ∩N ∼= HN/N . Deduzimos |H/H ∩N | = |HN/N |que pode ser escrito como |HN | = |H||N |/|H ∩N |.

Seja G um grupo finito, e seja p um numero primo que divide |G|. Um p-subgrupo de Sylow (ou p-Sylow) de G e um subgrupo H de G tal que |H| e umapotencia de p e p nao divide |G : H|. Em outras palavras escrevendo |G| = ptmcom m nao divisıvel por p, um p-subgrupo de Sylow de G e um subgrupo de Gde ordem pt.

Teorema 3 (Sylow). Sejam G um grupo finito, p um divisor primo de |G|,e pt a maior potencia de p que divide |G|. Escrevemos |G| = mpt.

(1) Para todo inteiro k tal que pk divide |G|, existe um subgrupo de G deordem pk. Em particular existe um p-subgrupo de Sylow de G.

(2) Dois quaisquer p-subgrupos de Sylow de G sao conjugados em G, e onumero np = np(G) de p-subgrupos de Sylow divide m e e congruente a1 modulo p.

(3) Todo p-subgrupo de G esta contido em um p-subgrupo de Sylow de G.

Precisamos do lema seguinte.

Lema 1. Seja p um numero primo. Se um p-subgrupo H de G normaliza ump-subgrupo de Sylow P de G (ou seja H ≤ NG(P )) entao H ≤ P .

Demonstracao. Considere o normalizador NG(P ). Temos P E NG(P ) epor hipotese H ⊆ NG(P ). Temos que HP e um subgrupo de NG(P ) sendoque P e normal em NG(P ), e HP/P ∼= H/H ∩ P e um p-grupo porque a suaordem divide a ordem de H. Segue que HP e um p-grupo (de fato |HP | =|H||P |/|H ∩ P |) contendo P , logo |HP | = |P | por maximalidade de P (que eum p-Sylow). Obtemos |P | = |HP | = |HP/P ||P | logo HP/P = {1}, ou sejaH ⊆ P . �

Agora mostraremos o teorema 3.

Demonstracao. Item 1. Por inducao sobre |G|. Podemos supor que pdivida os indices dos centralizadores dos elementos nao centrais, porque se naopoderiamos aplicar a hipotese de inducao a um centralizador oportuno. Pelaequacao das classes

|G| = |Z(G)|+∑i

|G : CG(xi)|,

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4. TEOREMA DE SYLOW 15

onde os xi sao representantes de classes de conjugacao nao contidas no centro,deduzimos que p divide |Z(G)|. Seja x um elemento de Z(G) de ordem p (existepelo teorema de Cauchy). Sendo x ∈ Z(G), o subgrupo 〈x〉 e normal em Ge o quociente G/〈x〉 tem ordem |G|/p = mpt−1. Se k = 0 o subgrupo {1}tem ordem 1 = p0, agora suponha k > 0. Por hipotese de inducao, sendo 0 ≤k− 1 ≤ t− 1, o quociente G/〈x〉 contem um subgrupo H/〈x〉 de ordem pk−1, daı|H| = |H/〈x〉||〈x〉| = pk−1p = pk.

Item 2. Seja Π o conjunto dos p-Sylow de G, e considere a acao de conjugacaode G sobre Π: (g, P ) 7→ gPg−1. Seja P ∈ Π. Seja Σ uma orbita de Π para aacao de conjugacao de G, e particionamos Σ em P -orbitas. A cardinalidade detais orbitas e uma potencia de p porque P e um p-grupo. Se P ∈ Σ entao {P}e uma P -orbita (porque P normaliza P ), e e a unica P -orbita com um unicoelemento porque se {Q} e uma P -orbita entao P normaliza Q logo pelo Lema 1temos P ⊆ Q e segue P = Q sendo |P | = |Q|. Da equacao das orbitas segue entaoque |Σ| ≡ 1 mod (p). Por outro lado se P 6∈ Σ entao pelo Lema 1 nao existemP -orbitas de Σ com um unico elemento, logo pela equacao das orbitas p divide|Σ|. Segue que:

• se P ∈ Σ entao |Σ| ≡ 1 mod (p).• se P 6∈ Σ entao p divide |Σ|.

Segue que o segundo caso nao pode acontecer (ou seja nao existe P 6∈ Σ), emoutras palavras Σ = Π, ou seja a acao de G sobre Π e transitiva, e isso mostraa primeira parte do segundo item. Vimos que np(G) = |Π| = |Σ| ≡ 1 mod (p).Para mostrar que np(G) = |Π| divide m = |G|/pt basta observar que se P ∈ Πentao |Π| = |G : NG(P )| divide |G : P | = m sendo que P ⊆ NG(P ) (maisespecificamente |G : P | = |G : NG(P )||NG(P ) : P |).

Item 3. Seja agora H um p-subgrupo de G. Particionamos Π em H-orbitas.Como cada H-orbita tem um numero de elementos que e uma potencia de p, ea cardinalidade de Π e congruente a 1 modulo p, deve existir uma H-orbita quecontem um unico elemento, P . Segue que H normaliza P , ou seja H ⊆ P pelolema 1.

Isso termina a demonstracao do teorema 3. �

Dado um primo p e um grupo G indicaremos com np(G) ou simplesmente comnp o numero de p-subgrupos de Sylow de G. Observe que np = 1 se e somente seo p-subgrupo de Sylow de G e normal em G.

Por exemplo suponha que |G| = mp com p primo e m < p. Entao G nao e umgrupo simples. De fato, os p-subgrupos de Sylow tem ordem p e indicado com npo numero de p-subgrupos de Sylow, np divide m e np ≡ 1 mod p. Como m < pdeduzimos np = 1 logo existe um unico p-subgrupo de Sylow, logo e normal.

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16 1. GRUPOS

O problema geral: dado um grupo G conseguimos entender se G e simplesapenas conhecendo a sua ordem |G|? Observe que G e simples abeliano se esomente se |G| e um numero primo p e neste caso G ∼= Cp.

Por exemplo se G tem ordem 21 nao e simples pois contem um 7-Sylow, quetem indice 3, logo e normal (pelo teorema de Sylow). Por exemplo se G temordem 40 = 23 · 5 entao G nao e simples pois n5 = 1.

Um exemplo mais interessante e: se |G| = 30 mostraremos que G nao esimples. Temos |G| = 30 = 2 · 3 · 5 daı n5 = 1 ou n5 = 6. Se n5 = 1 acabou, agorasuponha n5 = 6. Daı G contem 4 · 6 = 24 elementos de ordem 5 logo G contemexatamente 6 elementos de ordem diferente de 5, mas se n2 > 1 e n3 > 1 entaotem a identidade, pelo menos dois elementos de ordem 2 e pelo menos quatroelementos de ordem 3, uma contradicao.

Exercıcios.

(1) Seja G um grupo finito e seja p um numero primo. Mostre que |G| euma potencia de p se e somente se todo elemento de G tem ordem umapotencia de p.

(2) Mostre que se G e um grupo tal que |G| ∈ {6, 12, 18, 24} entao G nao eum grupo simples.

(3) Seja G um grupo finito com um subgrupo H de indice 4. Mostre que Gnao e simples. [Dica: G/HG e isomorfo a um subgrupo de S4 ...]

(4) Seja G um grupo nao abeliano com |G| < 60. Mostre que G nao esimples.

(5) Seja G um grupo nao abeliano com 60 < |G| < 168. Mostre que G nao esimples. [Cuidado: algumas ordens sao difıceis, falaremos delas em salade aula. Mas e bom tentar.]

(6) Seja p um primo. Calcule np(G) nos casos seguintes.(a) G = GL(2, p) (“general linear group”), o grupo das matrices 2× 2

inversıveis com coeficientes no corpo Z/pZ, ou seja

G = GL(2, p) =

{(a bc d

): a, b, c, d ∈ Z/pZ, ad− bc 6= 0

}.

[Dica: comece calculando |GL(2, p)|: tem p2 − 1 escolhas para aprimeira coluna e p2 − p escolhas para a segunda.]

(b) G = SL(2, p) (“special linear group”), o grupo das matrices 2 × 2com coeficientes no corpo Z/pZ e determinante 1, ou seja

G = SL(2, p) =

{(a bc d

): a, b, c, d ∈ Z/pZ, ad− bc = 1

}.

[Dica: sendo o determinante det : GL(2, p) → Z/pZ − {0} um ho-momorfismo sobrejetivo com nucleo SL(2, p) obtemos pelo teoremade isomorfismo (p− 1)|SL(2, p)| = |GL(2, p)|.

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5. O GRUPO SIMETRICO DE GRAU 4 17

(c) O grupo seguinte:

G =

{(a b0 c

): a, b, c ∈ Z/pZ, ac 6= 0

}≤ GL(2, p).

(7) Seja P um subgrupo de Sylow de G. Mostre que NG(NG(P )) = NG(P ).

5. O grupo simetrico de grau 4

Considere o grupo G = S4, grupo simetrico de grau 4, agindo sobre X ={1, 2, 3, 4} da maneira natural. Se trata de um grupo de ordem 4! = 24 = 23 · 3.

5.1. Os subgrupos de Sylow. Imagine os elementos de X como verticesde um quadrado:

1 2

4 3

Pense no comprimento do lado como unitario, assim as diagonais tem compri-mento

√2. O conjunto dos elementos que preservam a distancia e um subgrupo

D, chamado de grupo diedral de grau 4. Os seus elementos sao tambem chamadosde “isometrias” do quadrado. Por exemplo a rotacao horaria de noventa grause dada pelo 4-cıclo (1234) ∈ D. As reflexoes tambem sao isometrias e nenhum

3-cıclo e uma isometria. E facil entender que

D = {1, (1234), (1432), (13)(24), (12)(34), (14)(23), (13), (24)}.

Em particular D e um 2-Sylow de S4. Observe que D nao e abeliano porque(13)(1234) = (12)(34) e (1234)(13) = (14)(23). Como existem elementos deordem 2 fora de D (por exemplo (14)) e todo 2-subgrupo esta contido em um2-subgrupo de Sylow, deduzimos que n2(G) 6= 1. Como n2(G) divide |G : D| =3 obtemos que n2(G) = 3. Os conjugados de D correspondem aos grupos deisometria correspondentes as varias maneiras de enumerar os vertices do quadrado.Analogamente n3(G) ∈ {1, 4} e n3(G) 6= 1 porque nem todos os conjugados de(123) pertencem a 〈(123)〉 (por exemplo considere (234)). Logo n3(G) = 4.

5.2. Os subgrupos normais. Considere K := DG, o coracao normal de Dem G. Sabemos que G/K e isomorfo a um subgrupo de S3, e |G : K| = |G : D||D :DG| = 3|D : DG|, segue que |D : DG| ∈ {1, 2}. Por outro lado |D : DG| 6= 1porque se nao seria D = DG ou seja DEG, e isso e falso porque n2(G) = 3. Segueque G/K ∼= S3 e |D/K| = 2 daı |K| = |D|/2 = 4. O subgrupo K e chamado de

grupo de Klein. E um subgrupo normal de G de ordem 4 e G/K ∼= S3. Temos

K = {1, (12)(34), (13)(24), (14)(23)} ∼= C2 × C2. Grupo de Klein.

Observe que o grupo alternado A = A4 e normal em G de indice 2 e contem K,daı temos uma sequencia de subgrupos normais (as setas sendo inclusoes)

{1} 4 // K3 // A

2 // G

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18 1. GRUPOS

Mostraremos que eles sao os unicos subgrupos normais de G. Para issolembre-se que os unicos subgrupos normais de S3 sao os dois triviais e o grupoalternado de grau 3. Seja N um subgrupo normal de G com N 6= {1},K,A,Gpor contradicao. Se K ≤ N entao N e um entre K, A e G (pelo teorema decorrespondencia) logo podemos supor K 6≤ N , daı N ∩ K tem ordem 1 ou 2.Mas se fosse |N ∩K| = 2 entao escrevendo N ∩K = 〈x〉 = {1, x}, o elemento xpertenceria ao centro de G (sendo N ∩ K normal em G) e Z(G) = {1}. Segueque N ∩ K = {1}. Deduzimos que NK e um subgrupo normal de G de ordem4|N |, logo |N | ∈ {1, 2, 3, 6}. Ja sabemos que nao pode ser |N | ∈ {1, 3} (lembre-seque n3(G) = 4) e |N | 6= 2 porque se nao seria N ≤ Z(G), logo |N | = 6. Se P eum 3-Sylow de N entao tendo ordem 3 e um 3-Sylow de G. Como N e normalem G, os conjugados de P em G estao contidos em N , mas entao sao iguais a Pporque n3(N) = 1 pelo teorema de Sylow. Isso implica (pelo teorema de Sylow)que todos os 3-Sylow de G estao contidos em N , logo G tem um unico 3-Sylow,o que contradiz n3(G) = 4.

5.3. Os quocientes. Segue como corolario que os quocientes de S4 saoS4/{1} ∼= S4, S4/K ∼= S3 (K e o nucleo da acao de conjugacao de S4 no conjuntodos seus 2-subgrupos de Sylow), S4/A ∼= C2 e S4/S4

∼= {1}.

5.4. Os subgrupos maximais. Um subgrupo maximal deG e um subgrupoM tal que os unicos H com M ≤ H ≤ G sao M e G. Sendo |G : M | = |G :H||H : M | quando M ≤ H ≤ G, e claro que se M e um subgrupo de indiceprimo entao e maximal. O grupo alternado A tem indice 2 em G logo e maximal.O grupo diedral D tem indice 3 em G logo e maximal, assim como os seus tresconjugados. Considere os estabilizadores Gx com x ∈ X, sabemos que Gx ∼= S3.Eles sao maximais. De fato se Gx < H < G entao |G : H| = 2 logo H e normal,mas vimos acima que o unico subgrupo normal de indice 2 e A, logo H = A, eisso e uma contradicao porque A nao contem nenhum estabilizador Gx (todos osestabilizadores contem 2-cıclos, e os 2-cıclos nao pertencem a A).

Os conjugados de D, os Gx com x ∈ X e A sao os unicos subgruposmaximais de G. Para mostrar isso seja M um subgrupo maximal de G. Se|G : M | = 2 entao M E G logo M = A. Se |G : M | = 3 entao M e um 2-Sylowlogo e conjugado a D. Se |G : M | = 4 entao |M | = 6 logo M nao e transitivo(4 = |X| nao divide |M |), por outro lado M contem um 3-cıclo logo as orbitasde M tem tamanho 1 e 3 e deduzimos que M = Gx para algum x ∈ X. Se|G : M | = 6 entao |M | = 4 logo M nao e maximal porque esta contido em um2-Sylow, que tem ordem 8 (todo 2-subgrupo de G esta contido em um 2-Sylowde G). Se |G : M | = 8 entao |M | = 3 logo M e um 3-Sylow logo nao e maximalporque esta contido em um oportuno Gx, que tem ordem 6. Se |G : M | = 12entao |M | = 2 logo M esta contido em um 2-Sylow logo nao e maximal.

5.5. Os subgrupos transitivos. Os subgrupos transitivos sao G, A,K, os conjugados de D e os subgrupos cıclicos de ordem 4 (os geradospelos 4-cıclos). Para ver isso seja H um subgrupo transitivo de G. Observe que|X| = 4 divide |H| e |H| divide |G| = 24, logo |H| ∈ {4, 8, 12, 24}. Se |H| = 8

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5. O GRUPO SIMETRICO DE GRAU 4 19

entao H e um 2-Sylow (ou seja e conjugado a D), se |H| = 12 entao H tem indice2 em G, logo e normal em G, logo H = A (ja temos a lista de todos os subgruposnormais!), e se |H| = 24 entao H = G. Precisamos estudar agora o caso |H| = 4.Neste caso a acao e regular e tem duas possibilidades: H e cıclico ou nao e cıclico.No primeiro caso H e gerado por um 4-cıclo. No segundo caso os elementos naotriviais de H tem ordem 2. Mostraremos que neste caso H = K e o grupo deKlein. Sendo |H| = 4, H e abeliano (veja as listas). A menos de conjugar H comum elemento oportuno podemos supor H ≤ D. Se H contem (13) entao comoos unicos elementos de D de ordem 2 que comutam com ele sao (24) e (13)(24)obtemos H = {1, (13), (24), (13)(24)}, mas esse subgrupo nao e transitivo, umacontradicao. Analogamente H nao pode conter (24). Mas entao os elementos deH sao 1, (12)(34), (13)(24) e (14)(23), ou seja H = K.

Exercıcios.

(1) Sejam A e B subgrupos normais de um grupo G tais que A ∩B = {1}.Mostre que ab = ba para todo a ∈ A, b ∈ B. [DICA: dados a ∈ A eb ∈ B mostre que aba−1b−1 ∈ A ∩B.]

(2) Seja G um grupo finito com dois subgrupos normais A, B tais que AB =G e A ∩B = {1}. Mostre que G ∼= A×B.

(3) Seja G um grupo de ordem 6. Mostre que se G e abeliano entao e cıclico,e que se G nao e abeliano entao G ∼= S3.

(4) Seja G um grupo de ordem 15. Mostre que G e cıclico.(5) Seja G um grupo nao abeliano de ordem 231 = 3 · 7 · 11. Mostre que|Z(G)| = 11. [DICA: considere a acao de conjugacao de G sobre oconjunto dos elementos de ordem 11.]

(6) Seja G um grupo de ordem 12. Mostre que G ∼= A4 se e somente se Gnao contem subgrupos de indice 2. [DICA: se G de ordem 12 contemum subgrupo N de indice 2 entao olhando ao 3-Sylow de N mostre quen3(G) = 1.]

(7) Seja P um p-subgrupo de Sylow do grupo finito G e seja N EG. Mostreque P∩N e um p-subgrupo de Sylow de N e que PN/N e um p-subgrupode Sylow de G/N . [DICA: precisa mostrar que p nao divide |N : P ∩N |e que p nao divide |G/N : PN/N |.]

(8) Seja p um numero primo. Mostre que todo grupo de ordem p2 e abeliano.[DICA: lembre-se do exercıcio que falava que se G/Z(G) e cıclico entaoG e abeliano.]

(9) Seja G um grupo de ordem p2q onde p, q sao dois primos distintos.Mostre que G nao e simples. [DICA: pelo exercıcio anterior os p-Sylowde G sao abelianos. Sejam P1, P2 dois p-Sylow, entao P1 ∩ P2 E P1 eP1 ∩ P2 E P2 sendo P1, P2 abelianos. Considere NG(P1 ∩ P2).]

(10) Seja G um grupo agindo sobre o conjunto X e seja x ∈ X. Mostre quegGxg

−1 = Ggx.

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20 1. GRUPOS

6. O grupo simetrico de grau 5

Observe que o grupo simetrico Sn e abeliano se e somente se n ≤ 2. De fatose n ≥ 3 entao (12) e (123) nao comutam. Analogamente An e abeliano se esomente se n ≤ 3. De fato se n ≥ 4 entao (123) e (12)(34) nao comutam.

No que segue usaremos muito o princıpio da contagem: se x ∈ G entao x tem|G : CG(x)| conjugados em G.

Lema 2. Seja σ = (12 . . . n) ∈ Sn. Entao CSn(σ) = 〈σ〉. Se n e imparCAn(σ) = 〈σ〉 e An contem duas classes de conjugacao de n-cıclos.

Demonstracao. Os conjugados de σ em Sn sao os cıclos de comprimenton, logo σ tem exatamente (n − 1)! conjugados em Sn (um n-cıclos tem a forma(1a2 . . . an) e temos (n − 1)! escolhas para a2, . . . , an). Segue do princıpio dacontagem que |Sn : CSn(σ)| = (n − 1)! ou seja |CSn(σ)| = n. Como σ ∈ CSn(σ)obtemos 〈σ〉 ≤ CSn(σ), mas daı 〈σ〉 e CSn(σ) sao subgrupos da mesma ordem,um contido no outro, e obtemos a igualdade. Se n e impar entao σ ∈ An, logo〈σ〉 ≤ An e CAn(σ) = CSn(σ) ∩ An = 〈σ〉 ∩ An = 〈σ〉. Segue que o numero deconjugados de σ em An e |An : CAn(σ)| = (n!/2)/n = (n − 1)!/2. Isso vale paraqualquer n-cıclo, logo como An contem (n− 1)! n-cıclos obtemos que em An temexatamente duas classes de tais cıclos. �

Lema 3. Seja H um subgrupo de Sn. Entao H ≤ An ou |H : H ∩An| = 2.

Demonstracao. Suponha H nao contido em An. Entao sendo An E Sntemos que An ≤ HAn ≤ Sn. Como |Sn : An| = 2 deduzimos que HAn e iguala An ou a Sn. Mas HAn 6= An porque por hipotese H 6≤ An, logo HAn = Sn.Obtemos

H/H ∩An ∼= HAn/An = Sn/An ∼= C2,

logo |H : H ∩An| = |H/H ∩An| = 2. �

6.1. Equacao das classes de S5. Considere o grupoG = S5, grupo simetricode grau 5, agindo sobre X = {1, 2, 3, 4, 5} da maneira natural. Como em S5 doiselementos sao conjugados se e somente se tem a mesma estrutura cıclica, os re-presentantes das classes de conjugacao de S5 sao 1, (12), (123), (1234), (12345),(12)(34), (12)(345). Obviamente 1 tem apenas um conjugado. O numero deconjugados de (12) e o numero de 2-cıclos, e dado por

(52

)= 10. O numero de

conjugados de (123) e o numero de 3-cıclos, e dado por(

53

)2 = 20 (temos que

escolher os tres elementos do cıclo e com eles podemos construir (3 − 1)! = dois3-cıclos). Analogamente (1234) tem 5 · 3! = 30 conjugados e (12345) tem 4! = 24conjugados. (12)(34) tem 5 · 3 conjugados (5 escolhas para o elemento fixado epodemos construir exatamente tres conjugados de (12)(34) usando 4 elementos).(12)(345) tem

(53

)2 = 20 conjugados (a escolha do 3-cıclo determina o elemento).

A equacao das classes de S5 e entao

1 + 10 + 20 + 30 + 24 + 15 + 20 = 120.

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6. O GRUPO SIMETRICO DE GRAU 5 21

6.2. Equacao das classes de A5. A5 e um subgrupo de S5 de indice 2.Sendo |S5| = 5! = 120 temos |A5| = 5!/2 = 60.

Observe que t = (23) leva (por conjugacao) a = (12345) para b = (13245),ou seja tat−1 = b. Se s ∈ S5 e tal que sas−1 = b entao tat−1 = sas−1 ou sejas−1ta = as−1t, logo s−1t ∈ CS5

(a) = 〈a〉 ≤ A5, e como t 6∈ A5 segue que s 6∈ A5

(se fosse s ∈ A5 entao sendo t 6∈ A5 o elemento s−1t seria uma permutacao ımpar).Isso mostra que a e b nao sao conjugados em A5. Ou seja (veja o lema) as classesde 5-cıcos contidas em A5 sao a classe de a e a classe de b. Elas tem tamanho4!/2 = 12.

S5 contem 20 cıclos de comprimento 3. Seja τ um deles. Temos entao|CS5(τ)| = 120/20 = 6. Mas cada um deles comuta com o 2-cıclo disjunto τ∗

e 〈τ, τ∗〉 tem ordem 6 (e cıclico gerado por ττ∗). Segue que CS5(τ) = 〈τ, τ∗〉 epor consequencia CA5

(τ) = 〈τ〉. Segue que τ tem 60/3 = 20 conjugados em A5

ou seja A5 contem uma unica classe de 3-cıclos.

S5 contem 15 elementos de estrutura cıclica (2, 2). Seja τ = (12)(34) e C =CS5(τ). Temos entao |C| = 120/15 = 8 logo C 6≤ A5 (porque 8 nao divide|A5| = 60) e deduzimos pelo lema que |C : C ∩ A5| = 2 ou seja |CA5(τ)| =|C ∩ A5| = |C|/2 = 8/2 = 4. Segue τ tem 60/4 = 15 conjugados em A5, emoutras palavras A5 contem uma unica classe de elementos de estrutura cıclica(2, 2).

Os elementos de estrutura cıclica (2), (4) e (3, 2) nao pertencem a A5 (saoımpares).

Resumindo, representantes das classes de conjugacao de A5 sao 1, (12345),(13245), (123), (12)(34) e a equacao das classes de A5 e

1 + 12 + 12 + 20 + 15 = 60.

6.3. Subgrupos normais.

Teorema 4. A5 e um grupo simples. Em outras palavras os unicos subgruposnormais de A5 sao {1} e A5.

Demonstracao. Seja N um subgrupo normal de A5. Entao N tem asseguintes propriedades: N e uniao (disjunta!) de classes de conjugacao de A5

(sendo um subgrupo normal de A5), |N | divide |A5| = 60 (sendo N ≤ A5) e1 ∈ N . Segue que a soma dos tamanhos das classes contidas em N , incluindo1, e igual a |N |, em particular divide 60. Mas supondo N 6= {1} e N 6= A5, assomas possıveis sao 1 + 12 = 13, 1 + 20 = 21, 1 + 15 = 16, 1 + 12 + 12 = 25,1 + 12 + 20 = 33, 1 + 12 + 15 = 28, 1 + 20 + 15 = 36, 1 + 12 + 12 + 20 = 45,1 + 12 + 12 + 15 = 40, 1 + 12 + 20 + 15 = 48. Nenhum desses numeros divide 60.Contradicao. �

Corolario 1. Os unicos subgrupos normais de S5 sao {1}, A5 e S5.

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22 1. GRUPOS

Demonstracao. Seja N um subgrupo normal de S5. Se N ≤ A5 entaoN EA5 logo N = {1} ou N = A5 (sendo A5 simples). Agora suponha N 6≤ A5. AintersecaoN∩A5 e um subgrupo normal de S5 (sendo uma intersecao de subgruposnormais) contido em A5, logo N ∩A5EA5 e sendo A5 simples temos N ∩A5 = {1}ou N ∩A5 = A5. No segundo caso A5 ≤ N e isso e falso porque estamos supondoN 6≤ A5, logo N ∩A5 = {1}. Mas pelo lema 2 = |N : N ∩A5| = |N | logo N e umsubgrupo normal de S5 de ordem 2 e sabemos que isso implica N ≤ Z(S5) = {1},uma contradicao. �

6.4. Subgrupos de Sylow. |S5| = 5! = 120 = 23 · 3 · 5,|A5| = 5!/2 = 60 = 22 · 3 · 5.

S5 e A5 agem sobre X = {1, 2, 3, 4, 5} de maneira transitiva. Os estabiliza-dores da acao de S5 sao isomorfos a S4 e os estabilizadores da acao de A5 saoisomorfos a A4. Os subgrupos de Sylow de S5 sao: cıclico de ordem 3, cıclicode ordem 5 e diedral de ordem 8 (o diedral de ordem 8 estando contido em umestabilizador!). Os subgrupos de Sylow de A5 sao: cıclico de ordem 3, cıclico deordem 5 e abeliano Klein do tipo C2 × C2 (os Klein estando contidos nos esta-bilizadores!). Os unicos subgrupos de Sylow transitivos (de S5 e de A5) sao os5-Sylow (observe que se H ≤ S5 e transitivo entao 5 divide |H|).

Sendo 3 primo a intersecao de cada dois 3-Sylow e {1} logo n3(S5) = n3(A5) =20/2 = 10 (numero de 3-cıclos dividido pelo numero de 3-cıclos em cada 3-Sylow)e analogamente n5(S5) = n5(A5) = 24/4 = 6.

Para calcular n2(A5) observe que podemos identificar A4 com o subgrupode A5 que consiste das permutacoes pares de {1, 2, 3, 4, 5} que fixam 5. SejaH tal subgrupo, temos H ∼= A4. Seja K o subgrupo de Klein de H, ou sejaK = {1, (12)(34), (13)(24), (14)(23)}, sabemos que K E H logo H ≤ NS5

(K).Alem disso K e um 2-Sylow de A5 logo n2(A5) = |A5 : NA5

(K)|. Por outro lado

5 = |A5 : H| = |A5 : NA5(K)| · |NA5(K) : H| = n5(A5) · |NA5(K) : H|

mostra que n5(A5) divide 5 logo n5(A5) = 5 (nao pode ser n5(A5) = 1 sendo A5

simples).

Para calcular n2(S5) observe que cada 2-Sylow P esta contido em um esta-bilizador (porque um estabilizador tem ordem divisıvel por 8 e os estabilizadoressao conjugados) e ja vimos que os 2-Sylow de S4 sao transitivos, isso mostra queP tem exatamente duas orbitas em {1, 2, 3, 4, 5} (uma de tamanho 4, a outra detamanho 1). Segue que existe um unico estabilizador que contem P . Mas tem5 estabilizadores e cada um contem tres 2-Sylow, logo n2(S5) = 5 · 3 = 15. Emoutras palavras NS5

(P ) = P .

Exercıcios.

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7. SOLUBILIDADE 23

(1) Seja σ ∈ Sn um cıclo de comprimento n− 1. Mostre que CSn(σ) = 〈σ〉.(2) Seja G um grupo simples de ordem 60. Mostre que G ∼= A5. [DICA:

basta encontrar um subgrupo de indice 5 (por que?); no caso n2 = 15sejam P e Q dois 2-Sylow distintos, entao P ∩Q e normal em P e em Q(por que?), calcule o indice |G : NG(P ∩Q)|.]

(3) Mostre que S6 contem um subgrupo H cuja acao natural sobre X ={1, 2, 3, 4, 5, 6} e transitiva e com a propriedade que H ∼= S5. [Dica: S5

contem seis 5-subgrupos de Sylow.](4) Escreva a equacao das classes de S6 e de A6.(5) Seja p ≥ 2 um inteiro. Mostre que p e primo se e somente se p divide

(p − 1)! + 1. [DICA: se p e primo, conte os p-subgrupos de Sylow dogrupo simetrico Sp.]

(6) Seja p um primo. Conte os p-subgrupos de Sylow de G = GL(3, p) (ogrupo das matrizes 3× 3 inversıveis com coeficientes em Z/pZ). [|G| =(p3 − 1)(p3 − p)(p3 − p2)]. Dica: considere

P :=

1 x y

0 1 z0 0 1

: x, y, z ∈ Z/pZ

.

Curiosidade: GL(3, 2) e um grupo simples de ordem 168.(7) Dado um grupo G, o grupo dos automorfismos Aut(G) de G e o grupo

dos isomorfismos G→ G com a operacao de composicao. Seja α : G→Aut(G) dado por α(g)(x) = gxg−1. Se trata de um homomorfismo degrupos e ker(α) = Z(G). Mostre que Aut(S4) ∼= S4. [DICA: Seja Xo conjunto dos subgrupos de S4 de indice 4. Aut(S4) age sobre X demaneira natural. Mostre que tal acao e fiel.]

(8) Mostre que se Aut(G) e cıclico entao G e abeliano.

7. Solubilidade

Um grupo G e dito soluvel se existe uma sequencia (ou “serie”) de subgruposH0, H1, . . . ,Hn de G com as propriedades seguintes:

• H0 = {1},• Hn = G,• Hi e um subgrupo normal de Hi+1 para todo i = 0, 1, . . . , n− 1,• Hi+1/Hi e um grupo abeliano para todo i = 0, 1, . . . , n− 1.

Por exemplo todo grupo abeliano G e soluvel: basta escolher n = 1, H0 = {1},H1 = G. Um exemplo de grupo soluvel nao abeliano e S3, considerando a serie{1} < A3 < S3: os quocientes sao A3/{1}, cıclico de ordem 3, e S3/A3, cıclico deordem 2.

Proposicao 5. Se G e soluvel e H ≤ G, NEG entao H e G/N sao soluveis.

Demonstracao. Sejam H1, . . . ,Hn como na definicao de grupo soluvel.Seja Ki := Hi ∩ H para todo i = 0, 1, . . . , n. Observe que K0 = {1}, Kn = H,e Ki e um subgrupo normal de Ki+1 (de fato se g ∈ Ki+1 entao gKig

−1 estacontido em H sendo Ki ≤ H e g ∈ H, e esta contido em Hi sendo g ∈ Hi+1 e Hi

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24 1. GRUPOS

normal em Hi+1). Alem disso Ki+1/Ki = Ki+1/Ki+1 ∩Hi∼= Ki+1Hi/Hi e um

subgrupo de Hi+1/Hi, que e abeliano, logo Ki+1/Ki e abeliano.Agora observe que

Hi+1N/N

HiN/N∼=Hi+1N

HiN=Hi+1HiN

HiN∼=

Hi+1

Hi+1 ∩HiN

e um quociente de Hi+1/Hi porque Hi ≤ Hi+1∩HiN . Como Hi+1/Hi e abeliano

segue que Hi+1N/NHiN/N

e abeliano. Isso implica que a serie

N/N ≤ H1N/N ≤ H2N/N ≤ . . . ≤ HnN/N = G/N

tem fatores abelianos, logo G/N e soluvel. �

Corolario 2. O grupo simetrico Sn e soluvel se e somente se n ≤ 4.

Demonstracao. Observe que podemos identificar cada grupo simetrico Sncom o subgrupo de Sn+1 das permutacoes de {1, 2, . . . , n+1} que fixam o elementon + 1. Segue da proposicao que para mostrar que Sn e soluvel se e somente sen ≤ 4 basta mostrar que S4 e soluvel e S5 nao e soluvel. S4 e soluvel porquetemos a sequencia

{1} < K < A4 < S4

onde K e o grupo de Klein, e S4/A4∼= C2, A4/K ∼= C3, K/{1} ∼= K ∼= C2×C2 sao

abelianos. O grupo alternado A5 e simples nao abeliano logo a unica sequenciade subgrupos, cada um normal no seguinte, e {1} < A5, e A5/{1} nao e abeliano.Segue que A5 nao e soluvel logo sendo A5 um subgrupo de S5 segue que S5 naoe soluvel. �

Observe que se G e um grupo com um subgrupo normal N tal que N eG/N sao soluveis entao G e soluvel: dadas as sequencias H0, . . . ,Hn de N eK0/N, . . . ,Km/N para N e G/N como na definicao de grupo soluvel, com H0 ={1}, Hn = N = K0 e Km = G, considere a sequencia H0, H1, . . . ,Hn−1, Hn =K0,K1, . . . ,Km.

Proposicao 6. Seja p um primo. Todo p-grupo finito e soluvel.

Demonstracao. Por inducao sobre n onde |G| = pn. Se n = 1 entaoG ∼= Cp e abeliano, em particular e soluvel. Suponha o resultado verdadeiro paraos grupos de ordem pm com m < n e seja G um grupo de ordem pn. Sabemosque Z(G) 6= {1}. Se Z(G) = G entao G e abeliano, em particular soluvel. SeZ(G) 6= G entao G/Z(G) e soluvel por hipotese de inducao. Mas entao Z(G) esoluvel (porque abeliano) e G/Z(G) e soluvel, logo G e soluvel. �

8. Resolucao dos exercıcios - Grupos

(1) O grupo G aja a direita sobre o conjunto X levando (α, g) ∈ X×G paraαg. Mostre que a formula g ∗ α := αg−1 (onde g ∈ G e α ∈ X) defineuma acao a esquerda de G sobre X.

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8. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - GRUPOS 25

Temos 1 ∗ α = α1−1 = α1 = 1 e se g, h ∈ G entao g ∗ (h ∗ α) =g ∗ (αh−1) = (αh−1)g−1 = α(h−1g−1) = α((gh)−1) = (gh) ∗ α.

(2) O grupo simetrico G = S4 age de maneira natural sobre X = {1, 2, 3, 4}.Calcule o indice |G : Gα| para todo α = 1, 2, 3, 4.

Como a acao de G sobre X e transitiva, sendo OG(1) = X (e porconsequencia OG(α) = X para todo α ∈ X), obtemos que |G : Gα| =|X| = 4 para todo α ∈ X. O fato que OG(1) = X pode ser visto usandoo cıclo σ = (1234), de fato 1, σ(1) = 2, σ2(1) = 3, σ3(1) = 4 pertencem aOG(1).

(3) Se G age sobre X e H ≤ G podemos considerar as orbitas da acao deH sobre X (H-orbitas). Considere G = S4 agindo da maneira naturalsobre X = {1, 2, 3, 4} e H = Gα onde α ∈ X. Conte as H-orbitas.

A menos de trocar os nomes dos elementos podemos supor α = 4.Temos H = StabG(4) ∼= S3, os elementos de H sao 1, (12), (13), (23),(123), (132). Segue que as H-orbitas sao {1, 2, 3} e {4}. Mais em geralas Gα-orbitas sao X−{α} e {α}. Logo tem exatamente duas H-orbitas.

(4) Seja G um grupo. Mostre que G age sobre G×G por meio da regra

G× (G×G)→ G×G, (g, (α, β)) 7→ (gα, gβ).

Conte as orbitas dessa acao em termos de n = |G|.

A orbita de (α, β) e {(gα, gβ) : g ∈ G}, ela tem tamanho n = |G|.Segue que todas as orbitas tem tamanho n logo sendo que |G×G| = n2

o numero de orbitas e n.

(5) G aja de maneira fiel sobre X, e seja H ≤ G. Suponha que a acao deH sobre X seja transitiva. Defina K = CG(H) = {g ∈ G : gh =hg ∀h ∈ H} (o centralizador de H em G). Mostre que Kα = {1} paratodo α ∈ X.

Seja g ∈ Kα. Temos gα = α. Se β ∈ X entao existe h ∈ H comhα = β (porque a acao de H e transitiva) daı gβ = ghα = hgα = hα =β, segue que g ∈ Kβ . Mas isso vale para todo β ∈ X, logo g pertencea⋂β∈X Kβ , que esta contido em

⋂β∈X Gβ = {1} (sendo a acao de G

sobre X fiel). Segue que g = 1.

(6) Seja G um grupo finito abeliano que age de maneira fiel e transitivasobre um conjunto X. Mostre que |G| = |X|.

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26 1. GRUPOS

Como G e abeliano temos que CG(G) = G logo aplicando o exercıcioanterior obtemos Gα = {1} para todo α ∈ X. Sendo a acao transitiva,para um qualquer α ∈ X temos |X| = |G : Gα| = |G|.

(7) Seja G um grupo que age de maneira fiel e transitiva sobre X. Mostreque |Z(G)| divide |X|.

O grupo Z(G) age sobre X e tal acao e fiel. Seja O ⊆ X umaZ(G)-orbita. Sendo Z(G) um grupo abeliano que age de maneira fiel etransitiva sobre O, pelo exercıcio anterior obtemos |O| = |Z(G)|. Issovale para todas as Z(G)-orbitas logo pela equacao das orbitas |Z(G)|divide |X|.

(8) Seja G um grupo. Mostre que toda classe de conjugacao de G temtamanho no maximo |G : Z(G)|.

A classe de conjugacao de x ∈ G tem tamanho |G : CG(x)| e comoZ(G) ≤ CG(x) temos |G : Z(G)| = |G : CG(x)| · |CG(x) : Z(G)| daı|G : CG(x)| ≤ |G : Z(G)|.

(9) Conte as classes de conjugacao de A4 e de S4.

S4 e mais facil: duas permutacoes sao conjugadas se e somente seelas tem a mesma estrutura cıclica. Segue que representantes de classesde conjugacao sao 1, (12), (123), (1234) e (12)(34), logo S4 tem 5 classesde conjugacao e a equacao das classes e 1 + 6 + 8 + 6 + 3 = 24. No casode

A = A4 = {1, (12)(34), (13)(24), (14)(23), (123), (132), (124),

(142), (234), (243), (134), (143)}.Vamos calcular os centralizadores. Para fazer isso lembre-se que, nosgrupo simetricos, sendo gxg−1(g(i)) = g(x(i)) temos que o conjugadode um cıclo e

g(i1 · · · ik)g−1 = (g(i1) · · · g(ik)).

Por exemplo (1234)(123)(45)(1234)−1 = (234)(15). Alem disso se c1,. . ., cn sao cıclos entao

gc1c2 · · · cng−1 = gc1g−1gc2g

−1 · · · gcng−1

e isso permite de calcular facilmente os conjugados de uma permutacaoqualquer (escrita como produto de cıclos disjuntos).

Um elemento y pertence a CA(x) se e somente se yxy−1 = x. Lem-brando isso vamos calcular os centralizadores dos elementos de A. Ob-viamente CA(1) = A e

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8. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - GRUPOS 27

• CA((12)(34)) = {1, (12)(34), (13)(24), (14)(23)}, e e tambem igualao centralizador de (13)(24) e de (14)(23).

• CA((123)) = CA((132)) = {1, (123), (132)}.• CA((124)) = CA((142)) = {1, (124), (142)}.• CA((234)) = CA((243)) = {1, (234), (243)}.• CA((134)) = CA((143)) = {1, (134), (143)}.

Segue que (12)(34) tem 3 conjugados, que obviamente sao (12)(34),(13)(24) e (14)(23), e a classe de (12)(34) e a unica com 3 elementos.Como cada 3-cıclo tem 4 conjugados, existem exatamente duas classescom 4 elementos sendo 1 + 3 + 4 + 4 = 12 = |A| (equacao das classes).Segue que A contem quatro classes de conjugacao.

Curiosidade: conjugando com os 3-cıclos obtemos que• a classe de (123) e {(123), (243), (134), (142)},• a classe de (132) e {(132), (234), (143), (124)}.

O grupo K = {1, (12)(34), (13)(24), (14)(23)} (grupo de Klein) e umsubgrupo normal de A, de ordem 4, e age (por conjugacao) sobre as A-orbitas de tamanho 4, e tais acoes sao regulares (fieis, transitivas, comestabilizadores triviais).

(10) Mostre que Z(Sn) = {1} para todo n ≥ 3.

Seja g um elemento do centro Z(Sn). Suponha por contradicao queg 6= 1 e seja i ∈ {1, . . . , n} tal que g(i) = j 6= i. Sendo n ≥ 3 existek ∈ {1, . . . , n} com k 6= i e k 6= j. Por hipotese o 3-cıclo x = (ijk)comuta com g. Logo g(ijk) = (ijk)g. Aplicando a i obtemos g(j) = k.Por outro lado g(ij) = (ij)g tambem, e aplicando a i obtemos g(j) = i.Contradicao.

(11) Encontre um grupo G tal que {1} 6= Z(G) 6= G.

G = S3 × C2. O centro e {1} × C2.

(12) Seja k(G) o numero de classes de conjugacao do grupo finito G. Seja

C := {(x, y) ∈ G×G : xy = yx}.

Mostre que |C| = k(G)|G|.[Dica: comece mostrando que |C| =

∑x∈G |CG(x)| e aplique a

equacao das classes.]

Seja cx o numero de conjugados de x em G, temos cx = |G : CG(x)|logo |CG(x)| = |G|/cx, segue que |C| = |G|

∑x∈G 1/cx. Podemos jun-

tar todos os elementos que estao em uma mesma classe: chamando deC1, . . . , Ck as classes de conjugacao de G, onde k = k(G), se x ∈ Ci

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28 1. GRUPOS

entao cx = |Ci| logo

|C| = |G|k∑i=1

∑x∈Ci

1

cx= |G|

k∑i=1

∑x∈Ci

1

|Ci|= |G|

k∑i=1

1 = |G|k.

(13) Sejam A e B subgrupos do grupo finito G e defina AB = {ab : a ∈A, b ∈ B}. Mostre que |AB| = |A||B|/|A ∩ B|. Mostre que se B E Gentao AB ≤ G.

Considere a funcao f : A × B → AB dada por (a, b) 7→ ab. Sejax = rs ∈ AB com r ∈ A e s ∈ B. Se f(a, b) = x = rs entao ab = rs,segue r−1a = sb−1 = t ∈ A∩B, por outro lado escolhido t ∈ A∩B comoigual a r−1a, a escolha para a e b e unica: a = rt, b = t−1s. Segue que

f−1(rs) = {(rt, t−1s) : t ∈ A ∩B}

tem tamanho |A ∩ B|, logo escrevendo A × B como uniao disjunta dosf−1(x) obtemos que |A × B| e soma de |AB| parcelas iguais a |A ∩ B|,ou seja |A||B| = |A×B| = |AB||A ∩B|, segue o resultado.

(14) Seja H um subgrupo de G de indice 2. Mostre que H e normal em G(ou seja H = HG).

Precisamos mostrar que H = HG. Sabemos que G/HG e isomorfoa um subgrupo de S2, logo tem duas possibilidades: |G/HG| = 2 ou|G/HG| = 1. Mas a segunda nao pode acontecer porque HG ≤ H < G,logo |G/HG| = 2. Mas sendo 2 = |G : HG| = |G : H||H : HG| = 2|H :HG| deduzimos |H : HG| = 1 ou seja H = HG.

(15) Seja M um subgrupo maximal de G (ou seja os unicos subgrupos H deG com M ≤ H ≤ G sao M e G). Mostre que o numero de conjugadosde M em G nao e igual a 2.

Suponha por contradicao que M tenha dois conjugados em G. Sabe-mos entao que |G : NG(M)| = 2. Por outro lado M ≤ NG(M) ≤ G logoNG(M) = M ou NG(M) = G (sendo M maximal). Mas se NG(M) = Mentao 2 = |G : NG(M)| = |G : M | logo M tem indice 2 em G, logo MEG(pelo exercıcio anterior) mas isso significa que NG(M) = G, uma con-tradicao. Se por outro lado NG(M) = G entao M E G logo M temapenas um conjugado em G, uma contradicao.

(16) Seja p um numero primo e seja G um p-grupo finito. Seja M um sub-grupo maximal de G (definido no exercıcio acima). Mostre que M EGe que |G : M | = p.

[Dica: por inducao sobre n, onde |G| = pn. Seja y ∈ Z(G) − {1},uma sua oportuna potencia x tem ordem p; considere G/〈x〉.]

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8. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - GRUPOS 29

Por inducao sobre n, onde |G| = pn. Segunido a dica considerex ∈ Z(G) de ordem p e seja N = 〈x〉. O grupo G/N tem ordem pn−1

logo podemos aplicar inducao. Se N ≤ M entao M/N e normal deindice p em G/N logo M e normal de indice p em G. Agora suponhaN 6≤ M . Sendo M maximal obtemos NM = G. Por outro lado sendo|N | = p primo temos N ∩M = {1} logo pn−1 = |G/N | = |MN/N | =|M/M ∩N | = |M | e deduzimos |G : M | = p. Alem disso M ≤ NG(M)(obviamente) e N ≤ NG(M) sendo N ≤ Z(G). Segue que G = NM ≤NG(M) daı M EG.

(17) O grupo G aja de maneira fiel sobre o conjunto X. Mostre que se X efinito entao G e finito tambem.

G e isomorfo a um subgrupo de Sym(X), e chamado de n = |X|temos que |Sym(X)| = n! logo |G| e finito e mais especificamente |G|divide n!.

(18) Uma acao de G sobre X com todos os estabilizadores triviais (ou sejaGx = {1} para todo x ∈ X) e dita semiregular. Mostre que a acao deG sobre X e equivalente a acao regular de G (que e a acao de G sobreG dada pela multiplicacao a esquerda) se e somente se e semiregular etransitiva.

A acao regular e semiregular e transitiva. Agora suponha de teruma acao A de G sobre X que e semiregular e transitiva. Seja x ∈ Xe defina f : G → X, f(g) = gx. E sobrejetiva sendo A transitiva e einjetiva pois se gx = hx entao h−1gx = x logo h−1g = 1 ou seja g = hsendo A semiregular. Alem disso f(ag) = agx = af(g) logo f e umaequivalencia e deduzimos que A e equivalente a acao regular de G sobreG.

(19) Considere o grupo S6 agindo da maneira natural sobre {1, 2, 3, 4, 5, 6}.Mostre que S6 contem um subgrupo isomorfo a S4 cuja acao sobre{1, 2, 3, 4, 5, 6} e transitiva.

[Dica: considere a acao natural de S4 sobre o conjunto dos subcon-juntos de {1, 2, 3, 4} de cardinalidade 2.]

A acao indicada na dica e transitiva e fiel. Logo S4 e isomorfo a umsubgrupo transitivo de S6.

(20) Seja G um grupo de ordem 21 e H um subgrupo de G com |H| = 7.Mostre que H EG (ou seja H = HG).

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30 1. GRUPOS

Sendo |G| = 3 · 7 tem duas possibilidades para HG: e igual a {1}ou a H. Por outro lado se HG = {1} entao G ∼= G/HG e isomorfo aum subgrupo de S3, contradicao porque |G| = 21 e |S3| = 6. Segue queH = HG ou seja H EG.

(21) Seja G um grupo simples. Mostre que se G contem um subgrupo deindice 3 entao |G| = 3.

Seja H um subgrupo de G com |G : H| = 3. Em particular H < Glogo sendo o coracao normal HG um subgrupo normal de G contido emH, como G e simples HG = {1}. Sabemos que G ∼= G/HG e isomorfo aum subgrupo de S3. Os subgrupos de S3 sao dos tipos seguintes: {1},C2, C3, S3. Os unicos entre eles que contem subgrupos de indice 3 saoC3 e S3. Por outro lado S3 nao e simples porque contem um subgruponormal de ordem 3 (o grupo alternado de grau 3), logo G ∼= C3 e |G| = 3,alem disso H = {1}.

(22) Seja G um grupo e sejam x, y elementos de G. Mostre que xy e yx saoconjugados em G.

xy = x(yx)x−1.

(23) Mostre que se G/Z(G) e cıclico entao G = Z(G), ou seja G e abeliano.[Dica: chamado Z = Z(G), o quociente G/Z e gerado por um ele-

mento xZ, logo todo elemento de G tem a forma xnz com n um inteiroe z ∈ Z. Considere dois elementos a = xnz, b = xmw de G (ondez, w ∈ Z) e mostre que ab = ba.]

Como z, w ∈ Z(G) e as potencias de x comutam entre elas, ab =xnzxmw = xmwxnz = ba.

(24) Seja G um grupo finito e seja p um numero primo. Mostre que |G| euma potencia de p se e somente se todo elemento de G tem ordem umapotencia de p.

A implicacao ⇒ segue do teorema de Lagrange. Para a implicacaocontraria, se |G| nao e uma potencia de p existe um primo q 6= p quedivide |G| logo pelo teorema de Cauchy existe g ∈ G de ordem q. Issomostra que nem todo elemento de G tem ordem uma potencia de p.

(25) Mostre que se G e um grupo tal que |G| ∈ {6, 12, 18, 24} entao G nao eum grupo simples.

Se |G| = 6 temos n3 = 1. Se |G| = 12 = 22 · 3 entao podemossupor n3 = 4, daı temos 4 · 2 = 8 elementos de ordem 3, e sobra espaco

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8. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - GRUPOS 31

para apenas 4 elementos de ordem diferente de 3. Como os 2-Sylow temordem 4 deduzimos que n2 = 1. Se |G| = 18 = 2 · 32 entao n3 = 1. Se|G| = 24 = 23 · 3 entao seja P um 2-Sylow, ele tem indice 3 logo G/PGe isomorfo a um subgrupo de S3 e isso mostra que PG nao pode ser {1}(porque 24 nao divide 6).

(26) Seja G um grupo finito com um subgrupo H de indice 4. Mostre que Gnao e simples. [Dica: G/HG e isomorfo a um subgrupo de S4 ...]

Sendo HG ≤ H < G se G e simples (por contradicao) temos HG ={1} logo G ∼= G/HG e isomorfo a um subgrupo de S4. Segue que |G|divide 24 e 4 divide |G| daı |G| e um entre 4, 8, 12, 24. Mas 12 e 24foram tratados no exercıcio anterior, e se |G| e um entre 4 e 8, que saopotencias de 2, entao sabemos que Z(G) 6= {1} logo existe x ∈ Z(G) deordem 2 (pelo teorema de Cauchy) e 〈x〉 e um subgrupo normal diferentede {1} e de G, contradicao.

(27) Seja G um grupo nao abeliano com |G| < 60. Mostre que G nao esimples.

Se |G| e um primo e abeliano, se e uma potencia de um primo pn

com n ≥ 2 entao sabemos que Z(G) 6= {1}, logo se G nao e abelianoentao a existencia do subgrupo normal Z(G) mostra que G nao e simples.Alem disso se G contem um subgrupo de indice 4 entao nao e simplespelo exercıcio acima, e ja vimos que o unico grupo simples que contemum subgrupo de indice 3 e C3. Se |G| = 6 entao n3 = 1, se |G| = 10entao n5 = 1, se |G| = 12 entao veja o exercıcio acima, se |G| = 14entao n7 = 1, se |G| = 15 entao n5 = 1, se |G| = 18 entao n3 = 1, se|G| = 20 entao n5 = 1, se |G| = 21 entao n7 = 1, se |G| = 22 entaon11 = 1, se |G| = 24 entao veja o exercıcio acima, se |G| = 26 entaon13 = 1, se |G| = 28 entao n7 = 1, se |G| = 30 entao veja acima, se|G| = 33 entao n11 = 1, se |G| = 34 entao n17 = 1, se |G| = 35 entaon7 = 1, se |G| = 36 = 22 · 32 entao os 3-Sylow tem indice 4, se |G| = 38entao n19 = 1, se |G| = 39 entao n13 = 1, se |G| = 40 entao n5 = 1, se|G| = 42 entao n7 = 1, se |G| = 44 entao n11 = 1, se |G| = 45 entaon3 = 1, se |G| = 46 entao n23 = 1, se |G| = 48 = 24 · 3 entao os 2-Sylowtem indice 3, se |G| = 50 entao n5 = 1, se |G| = 52 entao n13 = 1, se|G| = 54 entao n3 = 1, se |G| = 55 entao n11 = 1, se |G| = 56 = 23 · 7entao podemos supor n7 = 8, daı temos 6 · 8 = 48 elementos de ordem7, daı tem espaco para apenas um 2-Sylow (porque 56− 48 = 8) ou sejan2 = 1, se |G| = 57 entao n19 = 1, se |G| = 58 entao n29 = 1.

(28) Seja G um grupo nao abeliano com 60 < |G| < 168. Mostre que G nao esimples. [Cuidado: algumas ordens sao difıceis, falaremos delas em salade aula. Mas e bom tentar.]

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32 1. GRUPOS

Excluindo as potencias de primos e os casos em que existe um sub-grupo de Sylow de indice 2, 3 ou 4 os unicos numeros faltando sao65 = 5 · 13, 66 = 2 · 3 · 11, 70 = 2 · 5 · 7, 72 = 23 · 32, 78 = 2 · 3 · 13,80 = 24 ·5, 84 = 22 ·3 ·7, 85 = 5 ·17, 88 = 23 ·11, 90 = 2 ·32 ·5, 91 = 7 ·13,95 = 5 · 19, 99 = 32 · 11, 102 = 2 · 3 · 17, 104 = 23 · 13, 105 = 3 · 5 · 7,110 = 2 · 5 · 11, 112 = 24 · 7, 114 = 2 · 3 · 19, 115 = 5 · 23, 117 = 32 · 13,119 = 7 ·17, 120 = 23 ·3 ·5, 126 = 2 ·32 ·7, 130 = 2 ·5 ·13, 132 = 22 ·3 ·11,133 = 7 · 19, 135 = 33 · 5, 136 = 23 · 17, 138 = 2 · 3 · 23, 140 = 22 · 5 · 7,143 = 11 · 13, 144 = 24 · 32, 145 = 5 · 29, 150 = 23 · 52, 152 = 23 · 19,153 = 32 · 17, 154 = 2 · 7 · 11, 155 = 5 · 31, 156 = 22 · 3 · 13, 160 = 25 · 5,161 = 7 · 23, 165 = 3 · 5 · 11.

Observe que muitos deles tem a forma mp com p primo e m < p,neste caso np = 1 pelo teorema de Sylow. Excluindo tais numeros osque faltam sao 70 = 2 · 5 · 7, 72 = 23 · 32, 80 = 24 · 5, 84 = 22 · 3 · 7,90 = 2 · 32 · 5, 105 = 3 · 5 · 7, 112 = 24 · 7, 120 = 23 · 3 · 5, 126 = 2 · 32 · 7,132 = 22 · 3 · 11, 135 = 33 · 5, 140 = 22 · 5 · 7, 144 = 24 · 32, 150 = 23 · 52,154 = 2 · 7 · 11, 160 = 25 · 5, 165 = 3 · 5 · 11.

Se |G| ∈ {70, 84, 140} entao n7 = 1, se |G| = 150 entao n5 = 1, se|G| ∈ {154, 165} entao n11 = 1. Se |G| tiver a forma 5 · pm com p primodiferente de 5 entao os p-Sylow tem indice 5 logo G e isomorfo a umsubgrupo de S5, daı |G| divide 5! e deduzimos que pm = 3 ou pm divide8. Isso resolve os numeros 80, 135, 160. Os que faltam sao 72 = 23 · 32,90 = 2 · 32 · 5, 105 = 3 · 5 · 7, 112 = 24 · 7, 120 = 23 · 3 · 5, 126 = 2 · 32 · 7,132 = 22 · 3 · 11, 144 = 24 · 32.

Se |G| = 105 = 3 · 5 · 7 entao podemos supor n7 = 15, n5 = 21, daıtemos 15 ·6 = 90 elementos de ordem 7 e 21 ·4 = 84 elementos de ordem5, uma contradicao sendo 90 + 84 > 105 = |G|.

Se |G| = 112 = 24 · 7 entao podemos identificar G com o correspon-dente subgrupo de S7. Seja A = A7, entao A tem indice 2 em S7 e G∩Ae normal em G, logo se G nao esta contido em A entao G ∩ A = {1},mas isso implica GA = S7 e |G||A| = 7! ou seja |G| = 2, absurdo. Segueque G ≤ A, em particular |G| = 24 · 7 divide |A| = 7!/2 = 23 · 32 · 5 · 7,uma contradicao.

Se |G| = 132 = 22 · 3 · 11 entao podemos supor n11 = 12, daıtem 10 ·12 = 120 elementos de ordem 11, por outro lado podemos suporn3 6= 4 (se nao o normalizador de um 3-Sylow teria indice 4) logo n3 = 22pelo teorema de Sylow e deduzimos que G contem 22 · 2 = 44 elementosde ordem 3, uma contradicao porque 120 + 44 > 132 = |G|.

Se |G| ∈ {90, 126} entao |G| tem a forma 2m com m impar. Nestecaso a representacao regular mostra que podemos identificar G com um

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8. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - GRUPOS 33

subgrupo de S = S2m e chamado de A = A2m < S o grupo alternado,temos que G ∩ A E G logo G ∩ A = G ou seja G ≤ A (nao pode serG ∩ A = {1} porque teriamos S = GA logo |S| = |GA| = |G||A| o queimplica |G| = 2, absurdo). Por outro lado chamado de x um gerador deum 2-Sylow de G, o elemento x corresponde (na representacao regular)a um produto de m cıclos de comprimento 2, e tal elemento nao pertencea A (sendo m impar), absurdo.

Faltaram os numeros 72 = 23 · 32, 120 = 23 · 3 · 5, 144 = 24 · 32. Elessao mais difıceis.

• Se |G| = 72 = 23 · 32 entao sejam P e Q dois 3-Sylow distintos deG. Se P ∩Q 6= {1} entao |P ∩Q| = 3 e P,Q ≤ NG(P ∩Q), segueque |G : NG(P ∩Q)| ∈ {1, 2, 4} e isso implica que P ∩QEG ou Gcontem um subgrupo de indice 2 ou 4; como |G| = 72 nao divide4! = 24 deduzimos que G nao e simples. Segue que P∩Q = {1} paratodos os 3-Sylow distintos P,Q. Alem disso n3 = 8 (nao existemsubgrupos de indice 2 ou 4) logo o numero de elementos de ordem3 em G e 8 · 8 = 64. Sobram 8 elementos, logo tem espaco para umunico 2-Sylow que entao e normal.

• Se |G| = 120 = 23 · 3 · 5 e G e simples observe primeiramente quen2 = 15. De fato se n2 = 3 ou n2 = 5 entao G e isomorfo aum subgrupo de S5 logo G ∼= S5 (sendo |G| = 120), mas S5 nao esimples pois contem o subgrupo normalA5 (grupo alternado de grau5). Sejam P , Q dois 2-Sylow distintos. Observe que NP (Q) ≤ P∩Qlogo as P -orbitas do conjunto dos 2-Sylow tem tamanho 1, 2, 4ou 8. Existe pelo menos uma tal orbita de tamanho 2, de faton2 = 15 6≡ 1 mod 4. Seja entao {Q,Q′} uma P -orbita de tamanho2. Segue que |P : NP (Q)| = 2 logo |NP (Q)| = 4 logo |P ∩Q| = 4.Segue que P ∩ Q e normal em P e em Q logo P,Q ≤ NG(P ∩ Q),logo |G : NG(P ∩ Q)| ∈ {1, 3, 5}. Mas isso implica que P ∩ Q E Gou entao G e isomorfo a um subgrupo de S5, e ja vimos que issonao pode acontecer.

• Se |G| = 144 = 24 · 32 entao observe primeiramente que n3 = 16,sendo 8 6≡ 1 mod 3 e sabemos que nao existem subgrupos de indice2 ou 4. Seja P um 3-Sylow, entao NG(P ) = P . Sendo |P | = 9 en3 = 16 6≡ 1 mod 9 deve existir uma P -orbita de tamanho 3 (temuma unica orbita de tamanho 1 e as outras nao podem todas tertamanho 9), logo existe um 3-Sylow Q tal que |P : NP (Q)| = 3,daı |NP (Q)| = 3 e sendo NP (Q) ≤ P ∩Q (pelo teorema de Sylow,porque NP (Q) e um 3-subgrupo de G que normaliza o 3-Sylow Q)obtemos |P ∩Q| = 3. Mas P e Q tem ordem 9, logo sao abelianos,logo P ∩ Q e normal em P e em Q, logo P,Q ≤ NG(P ∩ Q) logo

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34 1. GRUPOS

|G : NG(P ∩Q)| ∈ {1, 2, 4, 8} e nao pode ser G = NG(P ∩Q) sendoP ∩ Q 6= {1} (sendo |P ∩ Q| = 3). Tal indice nao pode ser 2 nem4 sendo G simples. Deduzimos |G : NG(P ∩ Q)| = 8 mas entao|NG(P ∩Q)| = 9 ·2 e isso implica que P tem indice 2 em NG(P ∩Q)logo e normal nele, daı NG(P ∩Q) ≤ NG(P ) = P , absurdo.

(29) Seja p um primo. Calcule np(G) nos casos seguintes.(a) G = GL(2, p) (“general linear group”), o grupo das matrices 2× 2

inversıveis com coeficientes no corpo Z/pZ, ou seja

G = GL(2, p) =

{(a bc d

): a, b, c, d ∈ Z/pZ, ad− bc 6= 0

}.

[Dica: comece calculando |GL(2, p)|: tem p2 − 1 escolhas para aprimeira coluna e p2 − p escolhas para a segunda.]

Temos p2−1 escolhas para a primeira coluna (uma qualquer colunanao nula) e p2 − p escolhas para a segunda coluna (uma qualquercoluna que nao seja multipla da primeira). Obtemos

|G| = (p2 − 1)(p2 − p) = p(p− 1)2(p+ 1),

daı os p-subgrupos de Sylow tem ordem p. Seja x =

(1 10 1

). E

claro que

P = 〈x〉 =

{(1 t0 1

): t ∈ Z/pZ

}e um p-subgrupo de Sylow, e pelo teorema de Sylow todos os sub-grupos de Sylow sao conjugados a P . Em particular pelo princıpioda contagem np(G) = |G : NG(P )| = |G|/|NG(P )|, logo e sufi-

ciente calcular |NG(P )|. Um elemento g =

(a bc d

)∈ G per-

tence a NG(P ) se e somente se gxg−1 e uma potencia de x. Temos

g−1 = 1ad−bc

(d −b−c a

), logo

gxg−1 = 1ad−bc

(a bc d

)·(

1 10 1

)·(

d −b−c a

)= 1

ad−bc

(ad− ac− bc a2

−c2 ac− bc+ ad

).

Logo se gxg−1 ∈ P devemos ter c = 0 e substituindo obtemos

gxg−1 =1

ad

(ad a2

0 ad

)=

(1 a/d0 1

)∈ P.

Segue que a igualdade c = 0 define o normalizador e |NG(P )| =p(p − 1)2. Segue que np(G) = |G : NG(P )| = p + 1 que e coerentecom o teorema de Sylow pois p+ 1 ≡ 1 mod p.

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8. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - GRUPOS 35

(b) G = SL(2, p) (“special linear group”), o grupo das matrices 2 × 2com coeficientes no corpo Z/pZ e determinante 1, ou seja

G = SL(2, p) =

{(a bc d

): a, b, c, d ∈ Z/pZ, ad− bc = 1

}.

[Dica: sendo o determinante det : GL(2, p) → Z/pZ − {0} um ho-momorfismo sobrejetivo com nucleo SL(2, p) obtemos pelo teoremade isomorfismo (p− 1)|SL(2, p)| = |GL(2, p)|.

Seguindo a dica obtemos |G| = p(p − 1)(p + 1) e como no caso

anterior seja x =

(1 10 1

)∈ G. O subgrupo P = 〈x〉 e um

p-subgrupo de Sylow e como no caso anterior precisamos calcular

|NG(P )|. Seja g =

(a bc d

). A conta e a mesma do exercıcio

anterior lembrando que ad− bc = 1 daı

gxg−1 =

(1− ac a2

−c2 ac+ 1

).

Segue que se g ∈ NG(P ) entao c = 0 e substituindo obtemosgxg−1 ∈ P daı a igualdade c = 0 define o normalizador. Segueque os elementos diagonais sao a e a−1 logo |NG(P )| = p(p − 1) enp(G) = |G : NG(P )| = p+ 1.

(c) O grupo seguinte:

G =

{(a b0 c

): a, b, c ∈ Z/pZ, ac 6= 0

}≤ GL(2, p).

Vimos acima que G e o normalizador de um p-Sylow de GL(2, p)logo neste caso np(G) = 1.

(30) Seja P um subgrupo de Sylow de G. Mostre que NG(NG(P )) = NG(P ).

A inclusao NG(P ) ≤ NG(NG(P )) e obvia, mostraremos a inclusaocontraria. Se g ∈ NG(NG(P )) entao gNG(P )g−1 = NG(P ), em particu-lar sendo P ≤ NG(P ) temos gPg−1 ≤ NG(P ). Sendo |gPg−1| = |P |, osubgrupo gPg−1 e um p-subgrupo de Sylow de NG(P ). Pelo teorema deSylow existe t ∈ NG(P ) tal que tP t−1 = gPg−1, por outro lado comot ∈ NG(P ) temos obviamente tP t−1 = P logo P = tP t−1 = gPg−1.Segue que g ∈ NG(P ).

(31) Sejam A e B subgrupos normais de um grupo G tais que A ∩B = {1}.Mostre que ab = ba para todo a ∈ A, b ∈ B. [DICA: dados a ∈ A eb ∈ B mostre que aba−1b−1 ∈ A ∩B.]

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36 1. GRUPOS

Seguindo a dica sendo aba−1 ∈ B e ba−1b−1 ∈ A (sendo A e Bnormais) obtemos que aba−1b−1 ∈ A ∩ B = {1} logo aba−1b−1 = 1 ouseja ab = ba.

(32) Seja G um grupo finito com dois subgrupos normais A, B tais que AB =G e A ∩B = {1}. Mostre que G ∼= A×B.

Pelo exercıcio anterior ab = ba para todo a ∈ A, b ∈ B. Sejaf : A×B → G definida por f(a, b) := ab. Entao f e sobrejetiva porqueAB = G e e um homomorfismo de grupos porque f(1, 1) = 1 · 1 = 1 ef((a, b)(c, d)) = f((ac, bd)) = acbd = abcd = f(a, b)f(c, d). Segue que ef e injetiva porque se f(a, b) = 1 entao ab = 1 daı b = a−1 ∈ A∩B = {1}logo b = 1 logo 1 = ab = a e segue que ker(f) = {(1, 1)}. Logo f eisomorfismo de grupos.

(33) Seja G um grupo de ordem 6. Mostre que se G e abeliano entao e cıclico,e que se G nao e abeliano entao G ∼= S3.

Sejam x um elemento de G de ordem 3 e y um elemento de G deordem 2. Se G e abeliano entao xy = yx logo (xy)2 = x2y2 = x2,(xy)3 = x3y3 = y, (xy)4 = x4y4 = x, (xy)5 = x5y5 = x2y, (xy)6 =x6y6 = 1. Segue que xy e um elemento de ordem 6, logo 〈xy〉 e umsubgrupo de ordem 6 logo 〈xy〉 = G e G e cıclico. Agora suponha Gnao cıclico. Pelo teorema de Sylow n3 = 1 e n2 ∈ {1, 3}. Se fossen2 = 1 entao G conteria um 3-Sylow normal A e um 2-Sylow normal BLogo pelo exercıcio anterior G ∼= A × B seria abeliano (sendo |A| = 3e |B| = 2). Isso mostra que n2 = 3. Seja P um 2-Sylow de G. Temosentao PG 6= P logo PG = {1} (sendo |P | = 2 primo e PG < P ), daıcomo P tem indice 3 em G, G ∼= G/PG e isomorfo a um subgrupo deS3. Como |G| = 6 segue que G ∼= S3.

(34) Seja G um grupo de ordem 15. Mostre que G e cıclico.

Sejam x um elemento de ordem 5 e y um elemento de ordem 3,A = 〈x〉 e B = 〈y〉. Entao A e um 5-Sylow e B e um 3-Sylow. Peloteorema de Sylow n5 = 1 e n3 = 1, logo A e B sao subgrupos normaisde G. Como |A| e |B| sao coprimos, A ∩ B = {1}. Segue que |AB| =|A||B|/|A ∩B| = |A||B| = 15 = |G| logo AB = G. Pelo exercıcio acimadeduzimos G ∼= A×B ∼= C3×C5

∼= C15 (teorema chines dos restos). Sepodia tambem mostrar que xy tem ordem 15 usando o fato que xy = yx.

(35) Seja G um grupo nao abeliano de ordem 231 = 3 · 7 · 11. Mostre que|Z(G)| = 11. [DICA: considere a acao de conjugacao de G sobre oconjunto dos elementos de ordem 11.]

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8. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - GRUPOS 37

Pelo teorema de Sylow n11 = 1, logo G contem exatamente 10 ele-mentos de ordem 11. Seja X o conjunto dos 10 elementos de ordem 11em G. O grupo G age por conjugacao sobre X, assim como todos ossubgrupos de G. Sejam P um 3-Sylow, Q um 7-Sylow. As P -orbitastem tamanho 1 ou 3, logo existe uma P -orbita {x} de tamanho 1 pois3 nao divide 10. Segue que os elementos de P comutam com x. Mas xtem ordem 11, logo ele gera o 11-Sylow, isso mostra que os elementos deP comutam com todos os elementos de ordem 11. Analogamente como7 nao divide 10 os elementos de Q comutam com todos os elementos deordem 11. Isso mostra que o nucleo da acao contem o 11-Sylow, um3-Sylow e um 7-Sylow, logo a ordem do nucleo e divisıvel por 11, por 3e por 7, logo o nucleo e igual a G, ou seja a acao e trivial. Isso significaque o 11-Sylow esta contido em Z(G), daı 11 divide |Z(G)|. Por outrolado |G : Z(G)| nao e um numero primo porque se G/Z(G) e cıclicoentao G e abeliano. Isso implica que |Z(G)| = 11.

(36) Seja G um grupo de ordem 12. Mostre que G ∼= A4 se e somente se Gnao contem subgrupos de indice 2. [DICA: se G de ordem 12 contemum subgrupo N de indice 2 entao olhando ao 3-Sylow de N mostre quen3(G) = 1.]

Seja G um grupo de ordem 12 contendo um subgrupo N de indice 2.Entao N e normal em G (tem indice 2), seja P um 3-Sylow de N . Entao|P | = 3 logo P e um 3-Sylow de G. Alem disso os conjugados de P em Gestao contidos em N (porque N e normal e contem P ) logo sao iguais a P(porque n3(N) = 1 pelo teorema de Sylow), ou seja n3(G) = 1. Agoraseja G = A4, para mostrar que G nao contem subgrupos de indice 2basta entao mostrar que n3(G) 6= 1. Mas isso e claro porque G contemmais que dois elementos de ordem 3 (mais precisamente G contem oitoelementos de ordem 3). Reciprocamente suponha que |G| = 12 e que Gnao contem subgrupos de indice 2. Seja P um 3-Sylow de G, entao Ptem indice 4 e P nao e normal em G porque se fosse P EG entao G/Pteria ordem 4 entao pelo teorema de Sylow existiria H/P de ordem 2logo H teria indice 2 em G. Segue que PG 6= P logo sendo |P | = 3 primoobtemos PG = {1}. Segue que G ∼= G/PG e isomorfo a um subgrupo deS4. Identificando G com o subgrupo correspondente de S4 obtemos queG e um subgrupo de S4 de indice 2 e vimos que isso implica G = A4.

(37) Seja P um p-subgrupo de Sylow do grupo finito G e seja N EG. Mostreque P∩N e um p-subgrupo de Sylow de N e que PN/N e um p-subgrupode Sylow de G/N . [DICA: precisa mostrar que p nao divide |N : P ∩N |e que p nao divide |G/N : PN/N |.]

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38 1. GRUPOS

Primeira parte. Temos |NP | = |N ||P |/|N ∩ P | logo |N : N ∩ P | =|NP |/|P | divide |G|/|P | = |G : P | logo nao e divisıvel por p (porquep nao divide |G : P |). Por outro lado P ∩ N e um p-grupo logo e ump-subgrupo de Sylow de N .

Segunda parte. Temos |G/N : PN/N | = |G : PN | = |G|/|PN | =|G||P ∩ N |/|P ||N | = |G|/|P ||N : P ∩ N | nao e divisıvel por p (porquep nao divide |G : P |). Por outro lado PN/N ∼= P/P ∩N e um p-grupologo e um p-subgrupo de Sylow de G/N .

(38) Seja p um numero primo. Mostre que todo grupo de ordem p2 e abeliano.[DICA: lembre-se do exercıcio que falava que se G/Z(G) e cıclico entaoG e abeliano.]

Seja G um grupo de ordem p2. Como G e p-grupo Z(G) 6= {1}. SeZ(G) = G entao G e abeliano, logo falta discutir o caso |Z(G)| = p.Neste caso G/Z(G) tem ordem p, logo e cıclico, mas sabemos que issoimplica G abeliano, ou seja G = Z(G), uma contradicao.

(39) Seja G um grupo de ordem p2q onde p, q sao dois primos distintos.Mostre que G nao e simples. [DICA: pelo exercıcio anterior os p-Sylowde G sao abelianos. Sejam P1, P2 dois p-Sylow, entao P1 ∩ P2 E P1 eP1 ∩ P2 E P2 sendo P1, P2 abelianos. Considere NG(P1 ∩ P2).]

NG(P1 ∩ P2) contem P1 e P2 logo contem P1 propriamente, masP1 tem indice q, primo, logo NG(P1 ∩ P2) = G. Se G e simples (porcontradicao) entao deduzimos P1∩P2 = {1}. Como isso vale para todosos p-Sylow distintos P1, P2, e como np = q (pelo teorema de Sylow,sendo G simples), deduzimos que o numero de elementos nao triviais deordem uma potencia de p e (p2 − 1)q = |G| − q, logo em G tem espacopara apenas um q-subgrupo de Sylow, que entao e normal (pelo teoremade Sylow).

(40) Seja G um grupo agindo sobre o conjunto X e seja x ∈ X. Mostre quegGxg

−1 = Ggx.

Primeira inclusao: se a ∈ Gx entao gag−1 · gx = gax = gx logogag−1 ∈ Ggx. Segunda inclusao: se b ∈ Ggx entao definido a = g−1bgtemos ax = g−1bgx = g−1gx = x logo a ∈ Gx daı b = gag−1 ∈ gGxg−1.

(41) Seja σ ∈ Sn um cıclo de comprimento n− 1. Mostre que CSn(σ) = 〈σ〉.

Sn contem n(n− 2)! (n− 1)-cıclos (escolhemos o ponto fixado em nmaneiras e com os restantes n− 1 elementos formamos (n− 2)! cıclos),logo |Sn : CSn(σ)| = n(n−2)! e isso implica |CSn(σ)| = n−1. Por outrolado 〈σ〉 ≤ CSn(σ) e |〈σ〉| = n− 1 logo CSn(σ) = 〈σ〉.

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8. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - GRUPOS 39

(42) Seja G um grupo simples de ordem 60. Mostre que G ∼= A5. [DICA:basta encontrar um subgrupo de indice 5 (por que?); no caso n2 = 15sejam P e Q dois 2-Sylow distintos, entao P ∩Q e normal em P e em Q(por que?), calcule o indice |G : NG(P ∩Q)|.]

Se H ≤ G tem indice 5 em G entao temos a representacao permu-tacional G → S5 com nucleo HG = {1} (sendo G simples) logo G eisomorfo a um subgrupo de S5. Podemos identificar G com o correspon-dente subgrupo de S5. Observe que |G| = 60 implica |S5 : G| = 2 logoGE S5. Mas os unicos subgrupos normais de S5 sao {1}, A5 e S5, logoG = A5. Isso mostra que basta encontrar um subgrupo de G de indice5. Obviamente n2 6= 1 n2 6= 3 (porque um grupo simples nao abelianonao contem subgrupos proprios nao triviais de indice menor ou igual a4) e se n2 = 5 entao o normalizador de um 2-Sylow tem indice 5. Pode-mos entao supor n2 = 15. Sejam P e Q dois 2-Sylow distintos, eles temordem 4 logo sao abelianos e P ∩Q e normal em P e em Q. Deduzimosque P,Q ≤ NG(P ∩Q) = H. Segue que P ≤ H e P 6= H (sendo Q 6≤ P )logo o indice de H divide propriamente |G : P | = 15. Sabemos que|G : H| 6= 3 e se |G : H| = 5 entao encontramos um subgrupo de indice5, podemos entao supor |G : H| = 1 ou seja G = H, ou seja P ∩QEG.Mas sendo G simples isso implica P ∩Q = {1}. Contando os elementosobtemos entao que G contem 15 · 3 = 45 elementos de ordem 2 ou 4.Por outro lado n5 6= 1 logo n5 ≥ 6, isso implica que G contem pelomenos 4 · 6 = 24 elementos de ordem 5, isso e uma contradicao porque45 + 24 > 60.

(43) Mostre que S6 contem um subgrupo H cuja acao natural sobre X ={1, 2, 3, 4, 5, 6} e transitiva e com a propriedade que H ∼= S5. [Dica: S5

contem seis 5-subgrupos de Sylow.]

Seja X o conjunto dos seis 5-subgrupos de Sylow de S5. Entao aacao de conjugacao de S5 sobre X fornece um homomorfismo f : S5 →Sym(X) ∼= S6 cuja imagem e um subgrupo transitivo de S6. Faltamostrar que f e injetivo. Mas o nucleo de f e um subgrupo normal deS5, os subgrupos normais de S5 sao {1}, A5 e S5 e e claro que ker(f)nao contem A5: por exemplo (123) nao normaliza 〈(12345)〉. Segue queker(f) = {1}.

(44) Escreva a equacao das classes de S6 e de A6.

Temos 5! = 120 6-cıclos, 6 · 4! = 144 5-cıclos,(

64

)6 = 90 4-cıclos,(

63

)2 = 40 3-cıclos,

(62

)= 15 2-cıclos,

(62

)3 = 45 elementos (2, 2), 5·3 = 15

elementos (2, 2, 2), 6(

52

)2 = 120 elementos (2, 3),

(52

)2 · 2 = 40 elementos

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40 1. GRUPOS

(3, 3),(

62

)6 = 90 elementos (4, 2). A equacao das classes e

1 + 120 + 144 + 90 + 40 + 15 + 45 + 15 + 120 + 40 + 90 = 6! = 720.

As classes de A6:• 5-cıclos. O centralizador em S6 tem ordem 5 logo e cıclico e A6

contem duas classes de 5-cıclos, cada uma de tamanho 72.• 3-cıclos. O centralizador em S6 tem ordem 18 e nao esta contido

em A6 porque (123) comuta com (45) ∈ S6 − A6, logo os 3-cıclossao todos conjugados em A6.• (2, 2). O centralizador em S6 tem ordem 16 e nao esta contido emA6 porque (12)(34) comuta com (56) ∈ S6 − A6, logo os (2, 2) saotodos conjugados em A6.• (3, 3). O centralizador em S6 tem ordem 18 e nao esta contido emA6 porque (123)(456) comuta com (14)(25)(36) ∈ S6 −A6, logo os(3, 3) sao todos conjugados em A6.• (4, 2). O centralizador em S6 tem ordem 8 e nao esta contido emA6 porque (1234)(56) comuta com (56) ∈ S6−A6 logo os (4, 2) saotodos conjugados em A6.

Segue que a equacao das classes de A6 e

1 + 72 + 72 + 40 + 45 + 40 + 90 = 6!/2 = 360.

(45) Seja p ≥ 2 um inteiro. Mostre que p e primo se e somente se p divide(p − 1)! + 1. [DICA: se p e primo, conte os p-subgrupos de Sylow dogrupo simetrico Sp.]

Se p divide (p − 1)! + 1 entao p e primo porque se nao fosse primoexistiria um divisor primo q de p com q < p logo q dividiria p e (p−1)! eisso contradiz o fato que p divide (p−1)!+1. Reciprocamente suponha pprimo. O grupo simetrico Sp tem (p−1)! cıclos de comprimento p e cadap-Sylow tem ordem p logo contem p− 1 p-cıclos, daı np(Sp) = (p− 2)!.Pelo teorema de Sylow (p − 2)! ≡ 1 mod p. Multiplicando por p − 1obtemos (p− 1)! ≡ −1 mod p, ou seja p divide (p− 1)! + 1.

(46) Seja p um primo. Conte os p-subgrupos de Sylow de G = GL(3, p) (ogrupo das matrizes 3× 3 inversıveis com coeficientes em Z/pZ). [|G| =(p3 − 1)(p3 − p)(p3 − p2)]. Dica: considere

P :=

1 x y

0 1 z0 0 1

: x, y, z ∈ Z/pZ

.

Curiosidade: GL(3, 2) e um grupo simples de ordem 168.

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8. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - GRUPOS 41

P e um subgrupo de G pois 1 ∈ P e 1 x y0 1 z0 0 1

1 a b0 1 c0 0 1

=

1 a+ x b+ xc+ y0 1 c+ z0 0 1

.

A ordem de P e p3 porque temos p escolhas para cada um de x, y e z.Por outro lado podemos calcular facilmente a ordem de G: tem p3 − 1escolhas para a primeira coluna, p3 − p para a segunda e p3 − p2 para aterceira, segue que

|G| = (p3 − 1)(p3 − p)(p3 − p2) = p3(p3 − 1)(p2 − 1)(p− 1)

logo P e um p-Sylow de G. Para calcular np(G) = |G : NG(P )| calcula-remos a ordem do normalizador NG(P ). Seja

k =

a b cd e fg h i

∈ NG(P ).

Segue que para todo m ∈ P existe h ∈ P com kmk−1 = h ou sejakm = hk. Ou seja para todo x, y, z ∈ Fp existem r, s, t ∈ Fp tais que a b cd e fg h i

1 x y0 1 z0 0 1

=

1 r s0 1 t0 0 1

a b cd e fg h i

.

Fazendo os produtos obtemos a ax+ b ay + bz + cd dx+ e dy + ez + fg gx+ h gy + hz + i

=

a+ rd+ sg b+ re+ sh c+ rf + sid+ tg e+ th f + tig h i

.

Em particular tg = gx = 0. Mas escolhendo x = 1 obtemos g = 0.Segue que hz = 0. Mas escolhendo z = 1 obtemos h = 0. Segue quedx = 0. Mas escolhendo x = 1 obtemos d = 0. Segue que m e umamatriz triangular superior e a 6= 0, e 6= 0 e i 6= 0. Por outro lado ascondicoes g = h = d = 0, a 6= 0, e 6= 0, i 6= 0 garantem a existencia der, s, t como acima para toda escolha de x, y, z. Isso significa que

NG(P ) =

a b c

0 e f0 0 i

: a, b, c, e, f, i ∈ Fp, a 6= 0, e 6= 0, i 6= 0

tem ordem p3(p− 1)3. Segue que

np(G) =|G|

|NG(P )|=p3(p3 − 1)(p2 − 1)(p− 1)

p3(p− 1)3= (p+ 1)(p2 + p+ 1).

Observe que este numero e congruente a 1 modulo p, coerentemente como teorema de Sylow.

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42 1. GRUPOS

(47) Dado um grupo G, o grupo dos automorfismos Aut(G) de G e o grupodos isomorfismos G→ G com a operacao de composicao. Seja α : G→Aut(G) dado por α(g)(x) = gxg−1. Se trata de um homomorfismo degrupos e ker(α) = Z(G). Mostre que Aut(S4) ∼= S4. [DICA: Seja Xo conjunto dos subgrupos de S4 de indice 4. Aut(S4) age sobre X demaneira natural. Mostre que tal acao e fiel.]

A acao obvia de Aut(S4) sobre X e dada por ϕ(H) = {ϕ(a) : H ∈X}. Se ϕ ∈ Aut(S4) e tal que ϕ(H) = H para todo H ∈ X entao emparticular ϕ(StabS4

(a)) = StabS4(a) para todo a ∈ {1, 2, 3, 4} (porque

os estabilizadores tem indice 4) logo ϕ fixa todos os 2-cıclos: por exemploϕ((12)) pertence a StabS4

(3) ∩ StabS4(4) = 〈(12)〉 logo ϕ((12)) = (12),

e o mesmo argumento se aplica aos outros 2-cıclos. Mas todo elementode S4 e produto de 2-cıclos (transposicoes) logo ϕ = 1. Segue quetemos uma representacao permutacional Aut(S4) → S4 injetiva, logo|Aut(S4)| ≤ 24. Por outro lado Z(S4) = {1} logo a funcao α indicadano texto mostra que |S4| ≤ |Aut(S4)|. Em conclusao Aut(S4) ∼= S4.

(48) Mostre que se Aut(G) e cıclico entao G e abeliano.

Pelo exercıcio anteriorG/Z(G) e isomorfo a um subgrupo de Aut(G).Se Aut(G) e cıclico entao G/Z(G) e cıclico tambem e isso implica queG e abeliano.

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CAPıTULO 2

Teoria de Galois

1. Corpos de decomposicao

Seja K um corpo de caracterıstica zero. Em outras palavras K contem Qcomo subcorpo. Se quiser pode pensar que Q ≤ K ≤ C. Sejam K ≤ L corpos,em outras palavras seja “L/K” uma extensao de corpos. O grau de L sobre K e|L : K| = dimK(L), a dimensao de L sobre K como espaco vetorial. Observe que|L : K| = 1 se e somente se L = K. Se K ≤ L ≤M temos a formula do grau

|M : K| = |M : L| · |L : K|.Se a ∈ L e algebrico (ou seja admite um polinomio minimal) sobre K entao K(a)(o corpo gerado por K e por a) e isomorfo a K[X]/(f(X)) onde f(X) ∈ K[X] eo polinomio minimal de f sobre K e (f(X)) e o ideal principal de K[X] geradopor f(X). Se a, b sao duas raızes K(a) ∼= K[X]/(f(X)) ∼= K(b) (isomorfismos deaneis) mas em geral K(a) 6= K(b) (pense em X3 − 2: veja abaixo).

Lembre-se que todo polinomio de K[X] (o anel dos polinomios com coefici-entes em K) pode ser escrito de maneira essencialmente unica como produto depolinomios irredutıveis, ou seja K[X] e um domınio de fatoracao unica.

Proposicao 7. Se f(X) ∈ K[X] e irredutıvel entao nao tem raızes multiplas(ou seja e “separavel”).

Demonstracao. Suponha que seja f(X) = (X−a)2g(X) onde a e uma raizde f(X) em uma extensao M de K e g(X) ∈M [X]. A derivada de f(X) e

f ′(X) = 2(X − a)g(X) + (X − a)2g′(X) = (X − a)h(X)

onde h(X) = 2g(X) + (X − a)g′(X) ∈ M [X]. E claro que f ′(X) ∈ K[X], poisse f(X) =

∑ni=0 aiX

i entao f ′(X) =∑ni=0 iaiX

i−1 e iai ∈ K sendo ai ∈ K ei = 1 + 1 + . . .+ 1 ∈ K. Observe que como K tem caracteristica zero (!!) temosque f ′(X) tem grau n− 1, onde n e o grau de f(X) (atencao! Isso seria falso emcaracteristica p prima, de fato por exemplo em caracterıstica p a derivada de Xp eo polinomio nulo: pXp−1 = 0). Por outro ladoK[X] e um domınio euclidiano, logoaplicando o algoritmo de Euclides a f(X) e f ′(X) (que sao elementos coprimos deK[X], sendo f(X) irredutıvel!!) obtemos polinomios a(X), b(X) em K[X] com

a(X)f(X) + b(X)f ′(X) = 1.

Mas o lado esquerdo dessa equacao e divisıvel por X−a, logo substituindo X = aobteriamos 0 = 1, uma contradicao. �

43

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44 2. TEORIA DE GALOIS

Definicao 1 (Corpo de decomposicao). Seja f(X) ∈ K[X], de grau positivo.M ≥ K e chamado de corpo de decomposicao de f(X) sobre K se os seguintesfatos valem:

(1) M = K(u1, ..., ur) onde f(ui) = 0 ∀i = 1, ..., r.(2) f(X) e produto de fatores lineares (ou seja de grau 1) em M [X].

Equivalentemente, M e um corpo minimal com respeito a

(1) M ≥ K.(2) Se P (X) ∈M [X] e um fator irredutıvel de f(X) em M [X] entao P (X)

tem grau 1.

Exemplo. f(X) = X3 − 2 ∈ Q[X] (irredutıvel pelo criterio de Eisenstein).

Sejam α = 3√

2, t = e2πi/3 = −1/2 + i√

3/2 uma raiz cubica de 1 em C. Asraızes de f(X) sao α, tα, t2α. Segue que um corpo de decomposicao de f(X)sobre Q e M = Q(α, tα, t2α) (obtido adicionando a Q todas as raızes de f(X)).Observe que entao M = Q(α, t). Observe que M contem o subcorpo Q(α) eM = Q(α)(t), ou seja M e obtido adicionando t a Q(α). Segue que |M : Q| e

igual ao grau do polinomio minimal de t sobre Q(α). Mas t = −1/2 + i√

3/2logo (t + 1/2)2 = −3/4, segue que t e raiz de (X + 1/2)2 + 3/4 logo |M : Q(α)|vale 1 ou 2. Mas se vale 1 entao M = Q(α), em particular t ∈ Q(α), e issoe um absurdo porque Q(α) ⊆ R mas t 6∈ R. Segue da formula do grau que|M : Q| = |M : Q(α)| · |Q(α) : Q| = 2 · 3 = 6. Sejam a = α, b = tα. Observeque Q(a) e Q(b) sao corpos isomorfos (sendo isomorfos a Q[X]/(X3 − 2)) masQ(a) 6= Q(b): de fato b 6∈ Q(a) sendo Q(a) ⊆ R mas b 6∈ R.

Exemplo. f(X) = X4− 5X2 + 5 ∈ Q[X] (irredutıvel pelo criterio de Eisens-tein). As raızes de f(X) sao a, b,−a,−b onde

a =

√5 +√

5

2, b =

√5−√

5

2.

Observe que 2a2 − 5 =√

5 e ab =√

5 logo 2a2 − 5 = ab, e deduzimos queb = (2a2 − 5)/a ∈ Q(a). Segue que neste caso o corpo de decomposicao de f(X)sobre Q e Q(a,−a, b,−b) = Q(a), ele tem grau 4 sobre Q.

Se M/K e extensao de corpos, um K-automorfismo de M e um isomorfismode aneis σ : M → M com a propriedade que σ(x) = x para todo x ∈ K. Oconjunto dos K-automorfismos de M e um grupo com a composicao, indicadopor AutK(M) ou G(M/K) e chamado de grupo de Galois da extensao M/K.

Se M e corpo de decomposicao para f(X) ∈ K[X] sobre K e G e o grupode Galois de M/K podemos escrever f(X) =

∑ni=0 aiX

i com ai ∈ K para todoi = 0, . . . , n logo se r ∈ M e uma raiz de f(X) e g ∈ G entao, sendo g(ai) = aipara todo i = 0, . . . , n,

f(g(r)) =

n∑i=0

aig(r)i =

n∑i=0

g(airi) = g

(n∑i=0

airi

)= g(f(r)) = g(0) = 0,

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2. O GRUPO DE GALOIS 45

logo g(r) e tambem uma raiz de f(X). Segue que a acao natural (de automorfismo)de G sobre M induz uma acao de G sobre o conjunto das n raızes de f(X) quepertencem ao corpo M (observe que f(X) admite exatamente n raızes em M ,sendo elas todas distintas!). Na proxima aula mostraremos que |G| = |M : K|.Como M e gerado pelas raızes de f sobre K, tal acao de G e fiel, logo G e isomorfoa um subgrupo de Sn, e isso implica que |M : K| = |G| divide n!.

Exemplo. Q(i) e corpo de decomposicao sobre Q de X2 + 1, e os Q-automorfismos de Q(i) sao |Q(i) : Q| = 2, sao a + ib 7→ a + ib e a + ib 7→ a − ib.G = G(M/K) e isomorfo a S2. De fato se g ∈ G = G(Q(i)/Q) entao g(i) e umaraiz de X2 + 1, logo g(i) ∈ {i,−i}, e sendo g(x) = x para todo x ∈ Q, issodetermina os dois automorfismos descritos.

Exemplo. Seja M o corpo de decomposicao de X3 − 2 sobre Q e seja G ogrupo de Galois de M/Q. Vimos acima que |G| = |M : Q| = 6. Sendo G isomorfoa um subgrupo de S3 deduzimos G ∼= S3.

Exercıcios.

(1) Calcule o grau do corpo de decomposicao M (contido em C) sobre Qdos polinomios seguintes.(a) X2, X2 − 1, X2 − 2, X2 − 3, X2 − 4,(b) X3 − 1, X3 − 4, X3 − 8,(c) X3 + 1, X3 + 8,(d) X4 − 2, X4 − 16,(e) X4 + 1, X4 + 16,(f) X4 − 6X2 + 6,(g) (X2 − 2)(X2 − 3),(h) X4 − 6X2 − 3 (dica: observe que M 6⊆ R),(i) X3 − 3X + 1 (dica: se u e raiz, u2 − 2 e raiz?).

(2) Faca a lista dos elementos do grupo de Galois de um corpo de decom-posicao de X3 − 2 sobre Q. A acao do grupo de Galois no conjunto dasraızes e transitiva?

(3) Seja M uma extensao de Q e seja g um isomorfismo de aneis M → M .Mostre que g(x) = x para todo x ∈ Q.

(4) Determine G(Q( 3√

2)/Q).

2. O grupo de Galois

Lembre-se que se f(X) ∈ K[X] existe sempre um corpo de decomposicaopara f(X) sobre K (obtido adicionando a K todas as raızes de f(X)). Observeque se A e T sao aneis comutativos e σ : A→ T e homomorfismo, e c ∈ T , entaoexiste um unico homomorfismo σ : A[X]→ T tal que σ|A = σ e σ(X) = c.

A notacao f(X) ∈irr K[X] significa que f(X) e um polinomio irredutıvel.

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46 2. TEORIA DE GALOIS

Teorema 5. Sejam K e F corpos, σ : K → F isomorfismo. Entao σ podeser extendido de uma unica maneira a um isomorfismo K[X] → F [X] tal queX 7→ X. Seja f(X) ∈irr K[X] e seja g(X) a sua imagem em F [X]. Sejam u umaraiz de f(X) e v uma raiz de g(X). Existe um unico isomorfismo K(u) → F (v)que extende σ e leva u para v.

Demonstracao. Observe que sendo f(X) irredutıvel em K[X], g(X) e irre-dutıvel em F [X]. A unicidade e imediata (para definir K(u)→ F (v) basta dizerquais sao as imagens dos elementos de K e de u). Para a existencia observe queK(u) ∼= K[X]/(f(X)) ∼= F [X]/(g(X)) ∼= F (v) (sendo f(X) o polinomio minimalde u sobre K e sendo g(X) o polinomio minimal de v sobre F ). O isomorfismoentre os aneis quociente e obtido do teorema de isomorfismo observando que acomposicao entre K[X] → F [X] e F [X] → F [X]/(g(X)) e sobrejetiva e temnucleo (f(X)). �

Teorema 6. Seja σ : K → F isomorfismo de corpos, e σ : K[X] → F [X]a sua extensao; seja f(X) ∈ K[X] e f(X) := σ(f(X)); sejam M e M cor-pos de decomposicao de f(X) e de f(X) respectivamente, sobre K e F , ondedeg(f(X)) > 0. Entao σ pode ser extendido a um isomorfismo M → M . Onumero de isomorfismos M →M que extendem σ e exatamente igual a |M : K|.

Demonstracao. Mostraremos o teorema por inducao sobre n := |M : K|.Se n = 1, M = K logo f(X) e fatoravel completamente em K[X]. Segue que f(X)e fatoravel completamente em F [X], logo M = F e o unico isomorfismo possıvelM → M extendendo σ e o proprio σ. Segue que existe exatamente 1 = |M : K|tal isomorfismo.

Seja agora n ≥ 2. Seja h(X) ∈irr K[X] de grau maior que 1 e suponhaf(X) = h(X)t(X) em K[X]. Isso e possıvel porque K[X] e um domınio defatoracao unica e se todos os polinomios irredutıveis de K[X] que dividem f(X)tivessem grau 1 entao K seria igual a M . Como M e corpo de decomposicaopara f(X) sobre K, e h(X) e um fator de f(X) em K[X], existe u ∈ M talque h(u) = 0, e pela mesma razao existe v ∈ M tal que h(v) = 0. Temosh(X) ∈irr F [X], h(X) divide f(X) e M e M sao corpos de decomposicao de f(X)e f(X) sobre K(u) e F (v) respectivamente (sao tais sobre K e F respectivamente).Pela formula dos graus |M : K(u)| < |M : K|, logo por hipotese de inducao σ podeser extendido a um isomorfismo M →M de exatamente |M : K(u)| maneiras.

Seja u raiz de h(X), e sejam u1, u2, ..., ur as raızes distintas de h(X) em M .Seja

σi : K(u)→ F (ui)

o isomorfismo que extende σ e leva u para ui (e unico). Como K tem caracteristicazero,

r = deg(h(X)) = |K(u) : K|Sendo |M : K(u)| < |M : K|, pela hipotese de inducao σi pode ser extendido aM de exatamente |M : K(u)| maneiras, e como tem r possibilidades para σi, o

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2. O GRUPO DE GALOIS 47

numero total de tais isomorfismos e

r · |M : K(u)| = |K(u) : K| · |M : K(u)| = |M : K|.

Para terminar basta entao mostrar que todo isomorfismo φ : M →M que extendeσ e obtido extendendo algum σi: se u e raiz de h(X), φ(u) e raiz de h(X). Defato se h(X) = anX

n + ...a1X+a0 entao h(X) = σ(an)Xn + ...+σ(a1)X+σ(a0)e φ(ai) = σ(ai) para i = 0, . . . , n sendo que φ extende σ por hipotese, logo

h(φ(u)) =

n∑i=0

σ(ai)φ(u)i =

n∑i=0

φ(ai)φ(u)i = φ

(n∑i=0

aiui

)= φ(h(u)) = φ(0) = 0.

Segue que φ(u) = ui para algum i ∈ {1, ..., r}, ou seja φ|K(u) = σi. �

Corolario 3. Seja M um corpo de decomposicao para f(X) ∈ K[X] sobre Ke seja G = G(M/K) o grupo de Galois da extensao M/K. Entao |G| = |M : K|.

Demonstracao. E so escolher F = K, M = M , σ = idK no teorema. �

Corolario 4. Se L/K e uma estensao de corpos de grau finito e f(X) ∈K[X] entao L contem no maximo um corpo de decomposicao para f(X) sobre K.

Demonstracao. Se L contem dois corpos de decomposicao M1,M2 paraf(X) ∈ K[X] sobre K entao 〈M1,M2〉 e um corpo de decomposicao para f(X)sobre K, sendo gerado por raızes de f(X), e pelo teorema anterior aplicado aocaso K = F , σ = idK , temos K-isomorfismos M1

∼=K 〈M1,M2〉 ∼=K M2. Masum K-isomorfismo e em particular uma funcao K-linear (se f : A→ B e um K-isomorfismo e a ∈ A, λ ∈ K entao f(λa) = f(λ)f(a) = λf(a)), logo dimK(M1) =dimK(〈M1,M2〉) = dimK(M2) e sendo tal dimensao finita deduzimos M1 = M2.

Exemplo. Seja f(X) = X3−1 ∈ Q[X]. Sendo f(X) = (X−1)(X2 +X+1),

definido u = −1/2+ i√

3/2, as raızes de f(X) sao 1, u e v = −1/2− i√

3/2. Sendov = −1− u, o corpo de decomposicao para f(X) sobre Q e M = Q(u, v) = Q(u),tem grau 2 sobre Q (o polinomio minimal de u sobre Q e X2 +X + 1). Segue queo grupo de Galois G de M/K tem ordem 2, logo G = 〈σ〉, e σ age no conjunto{1, u, v} das trez raızes de f(X) fixando 1 e trocando u com v (e um 2-cıclo!).Em particular a acao do grupo de Galois no conjunto das raızes nao e transitiva(... e as orbitas correspondem canonicamente aos fatores irredutıveis de f(X)).

Exercıcios.

(1) Seja f(X) = X3 − 3X + 1 ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de umcorpo de decomposicao M de f(X) sobre Q. Sabemos pela lista anteriorque M = Q(u) onde u e uma raiz de f(X), e que u2 − 2 e uma outraraiz de f(X). Pelo teorema de hoje existe σ ∈ G que leva u para u2− 2.Mostre que G = 〈σ〉 (grupo cıclico de ordem 3).

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48 2. TEORIA DE GALOIS

(2) Seja f(X) = X4 − 5X2 + 5 ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de umcorpo de decomposicao M de f(X) sobre Q. Sejam

a =

√5 +√

5

2, b =

√5−√

5

2.

Vimos na aula anterior que as raızes de f(X) sao a,−a, b,−b. Peloteorema de hoje existe um σ ∈ G que leva a para b. Mostre que G = 〈σ〉(grupo cıclico de ordem 4). [Dica: calcule σ(

√5) lembrando que

√5 =

2a2 − 5 e lembre-se que ab =√

5. Deduza que σ(b) = −a.]

(3) Seja f(X) = X4 − 6X2 − 3 ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de umcorpo de decomposicao M de f(X) sobre Q. Mostre que G e isomorfo aum 2-Sylow de S4 (veja a lista anterior).

(4) Seja f(X) = X4 − 3X2 + 4 ∈ Q[X]. E irredutıvel (nao precisa mostrarisso). Seja G o grupo de Galois de um corpo de decomposicao M def(X) sobre Q.• Mostre que se a ∈M e raiz de f(X) entao as raızes de f(X) sao a,−a, 2/a, −2/a e deduza que M = Q(a).• Seja σ ∈ G que leva a para b = 2/a (existe pelo teorema de hoje).

Mostre que σ(b) = a (dica: calcule σ(b)2 e deduza que σ(b) = ±a,agora no caso σ(b) = −a calcule σ(ab)).• Mostre que G e isomorfo ao grupo de Klein (o 2-Sylow de A4).

(5) Seja f(X) = (X2 − 2)(X2 − 3) ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois deum corpo de decomposicao M de f(X) sobre Q. Seja A o grupo de

Galois de Q(√

2)/Q e seja B o grupo de Galois de Q(√

3)/Q. Mostreque G ∼= A×B.

3. Correspondencias de Galois

Seja M/K uma extensao de corpos de grau finito.

Definicao 2 (O grupo de Galois). O grupo de Galois da extensao M/K epor definicao

G(M/K) := AutK(M) = {g ∈ Aut(M) | g|K = idK}

ou seja o grupo dos automorfismos de M (isomorfismos de aneis M → M) querestritos a K sao a identidade de K, ou seja o grupo dos K-automorfismos de M .

Chamado de G o grupo de Galois de M/K, seja [M/K] o reticulado doscorpos intermediarios de M/K (ou seja o conjunto parcialmente ordenado doscorpos L tais que K ≤ L ≤ M , e um reticulado), e indicaremos com L (G) oreticulado dos subgrupos de G (ou seja o conjunto parcialmente ordenado dossubgrupos de G, que e um reticulado). A ordem parcial dos reticulados [M/K] eL (G) e a inclusao.

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3. CORRESPONDENCIAS DE GALOIS 49

Definicao 3 (As correspondencias de Galois). Considere as aplicacoes se-guintes (correspondencias de Galois):

i : [M/K]→ L (G), L 7→ i(L) = L′ j : L (G)→ [M/K], H 7→ j(H) = H ′

i(L) = {g ∈ G | g(`) = ` ∀` ∈ L} j(H) = {m ∈M | h(m) = m ∀h ∈ H}

Sao boas definicoes. Dados L ∈ [M/K], H ∈ L (G), L′′ = j(i(L)) ∈ [M/K] eH ′′ = i(j(H)) ∈ L (G) sao chamados de “fechos” de L e de H respectivamente.Se L e H coincidem com os seus fechos sao chamados de fechados.

Observe que:

• As correspondencias de Galois invertem as inclusoes: se L1 ≤ L2 entaoi(L1) ≥ i(L2); se H1 ≤ H2 entao j(H1) ≥ j(H2).

De fato se L1 ≤ L2 e g ∈ i(L2) entao g(`) = ` para todo ` ∈ L2,e como L1 ⊆ L2 obtemos g(`) = ` para todo ` ∈ L1 logo g ∈ i(L1).Analogamente se H1 ≤ H2 e m ∈ j(H2) entao g(m) = m para todog ∈ H2, e como H1 ≤ H2 obtemos g(m) = m para todo g ∈ H1 logom ∈ j(H1).• Se L ∈ [M/K] e H ∈ L (G) entao L′′ ≥ L e H ′′ ≥ H.

De fato se ` ∈ L entao g(`) = ` para todo g ∈ L′ logo ` ∈ L′′, eanalogamente se h ∈ H entao h(m) = m para todo m ∈ H ′ logo h ∈ H ′′.• K ′ = G. Isso e porque todo elemento de G fixa todo elemento de K.• G e fechado, ou seja G′′ = G. Isso e porque com certeza todo elemento

de G fixa os elementos de M fixados por todos os elementos de G.• K ′′′ = G, de fato K ′′′ = G′′ = G.• M e fechado. De fato M ′ = {1} logo M ′′ = {1}′ = M .• {1} e fechado. De fato {1}′ = M logo {1}′′ = M ′ = {1}.• L ∈ [M/K] e fechado se e somente se existe H ∈ L (G) tal que L =H ′. Em outras palavras a imagem de i e igual ao conjunto dossubgrupos fechados.

De fato se L e fechado entao L′′ = L logo basta escolher H = L′, ereciprocamente se existe H ∈ L (G) tal que H ′ = L entao L′ = H ′′ ≥ Hlogo (lembrando que j inverte as inclusoes) L ≤ L′′ ≤ H ′ = L queimplica L′′ = L.

• H ∈ L (G) e fechado se e somente se existe L ∈ [M/K] tal que H =L′. Em outras palavras a imagem de j e igual ao conjunto dossubcorpos fechados.

De fato se H e fechado entao H ′′ = H logo basta escolher L = H ′, ereciprocamente se existe L ∈ [M/K] tal que L′ = H entao H ′ = L′′ ≥ Llogo (lembrando que i inverte as inclusoes) H ≤ H ′′ ≤ L′ = H queimplica H ′′ = H.

• i ◦ j restrita ao conjunto dos subgrupos fechados de G e a identidade;j ◦ i restrita ao conjunto dos corpos intermediarios fechados de M/K ea identidade. Segue que i e j induzem bijecoes, uma a inversa da outra,entre o conjunto dos subgrupos fechados de G e o conjunto dos corposintermediarios fechados de M/K.

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50 2. TEORIA DE GALOIS

K em geral nao e fechado. Por exemplo se M = Q( 3√

2) e K = Q entaovimos que G = {1} logo K ′ = G = {1} e G′ = {1}′ = M . Temos entao queK ′′ = M 6= K logo K nao e fechado. O unico subcorpo fechado e M . Observeque neste caso [M/K] = {K,M} e L (G) = {G} sendo G = {1}. Definiremos“extensao de Galois” uma extensao M/K em que K e fechado.

Teorema 7. Seja M/K extensao de corpos. Sejam L1, L2 ∈ [M/K] comL1 ≤ L2 e |L2 : L1| = n. Entao |L′1 : L′2| ≤ n.

Demonstracao. Inducao sobre n. Se n = 1 temos L1 = L2, logo L′1 = L′2,logo |L′2 : L′1| = 1 ≤ 1. Seja agora n ≥ 2. Temos dois casos:

Primeiro caso: existe L0 ∈ |M : K| tal que L1 < L0 < L2. Sejam |L0 : L1| =n1 < n, |L2 : L0| = n2 < n. Pela formula dos graus n = n1n2. Por hipotese deinducao |L′1 : L′0| ≤ n1, |L′0 : L′2| ≤ n2. Segue que |L′1 : L′2| = |L′1 : L′0| · |L′0 :L′2| ≤ n1n2 = n.

Segundo caso: nao existem corpos intermediarios entre L1 e L2. Neste casodado u ∈ L2 \ L1 temos L2 = L1(u), logo u e algebrico sobre L1 porque L2/L1

e extensao finita (tem grau n). O polinomio minimal de u sobre L1, f(X), temgrau n. Indicado com G o grupo de Galois da extensao M/K,

L′2 = L1(u)′ = {g ∈ G | g(u) = u, g(`) = ` ∀` ∈ L1} = {g ∈ L′1 : g(u) = u}.

Seja r := |L′1 : L′2|. Se σ, τ ∈ L′1 sao tais que σ(u) = τ(u) entao u = σ−1(τ(u))logo σ−1τ ∈ L′2, ou seja σ e τ sao congruentes modulo L′2: eles tem a mesmaclasse lateral modulo L′2, ou seja σL′2 = τL′2. Escrevendo L′1 = τ1L

′2 ∪ . . . ∪ τrL′2

como uniao disjunta das r = |L′1 : L′2| classes laterais de L′2 em L′1, temos entaoque τ1(u), . . . , τr(u) sao dois a dois distintos. Sendo L2 = L1(u) e |L2 : L1| = n, opolinomio minimal f(X) de u sobre L1 tem grau n, e sendo f(X) irredutıvel sobreum corpo de caracterıstica zero, as n raızes de f(X) sao distintas. Os τi restritosa L1 sao a identidade de L1, logo pelo argumento usual f(τi(u)) = τi(f(u)) =τi(0) = 0 para todo i = 1, ..., r. Isso nos da r raızes distintas de f(X), logor ≤ n. �

Exemplo. Seja f(X) = X3 − 2, α = 3√

2, t = e2πi/3 = −1/2 + i√

3/2. SejamK = Q, M = Q(α, t) o corpo de decomposicao de f(X) sobre Q e G = G(M/K).Se g ∈ G temos que g(α) e uma raiz de f(X) logo as possibilidades sao

• g(α) = α. Neste caso se g(αt) = αt entao αt = g(αt) = g(α)g(t) = αg(t)logo g(t) = t e g e a identidade. Se g(αt) = αt2 entao αt2 = g(αt) =g(α)g(t) = αg(t) logo g(t) = t2.

• g(α) = αt. Neste caso se g(αt) = α entao α = g(αt) = g(α)g(t) = αtg(t)logo g(t) = t2. Se g(αt) = αt2 entao αt2 = g(αt) = g(α)g(t) = αtg(t)logo g(t) = t.

• g(α) = αt2. Neste caso se g(αt2) = α entao α = g(αt2) = g(α)g(t)2 =αt2g(t)2 logo g(t) = t2. Se g(αt2) = αt entao αt = g(αt2) = g(α)g(t)2 =αt2g(t)2 logo g(t) = t.

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3. CORRESPONDENCIAS DE GALOIS 51

Segue que os elementos de G sao (determinados pela acao nas tres raızes e)dados por

Elemento Imagem de α Imagem de t Estruturag1 α t Identidadeg2 α t2 2-cıclo (αt, αt2)g3 αt t 3-cıclo (α, αt, αt2)g4 αt t2 2-cıclo (α, αt)g5 αt2 t 3-cıclo (α, αt2, αt)g6 αt2 t2 2-cıclo (α, αt2)

Como G ∼= S3, cada possibilidade ocorre. Observe que g1 = 1. Deduzimos que

• Q′ = G• Q(α)′ = {g1, g2} = 〈g2〉,• Q(αt)′ = {g1, g6} = 〈g6〉,• Q(αt2)′ = {g1, g4} = 〈g4〉,• Q(t)′ = {g1, g3, g5} = 〈g3〉.• M ′ = {1}.

Como veremos nas proximas aulas, neste caso especıfico (sendo M um corpode decomposicao) i e j sao bijetivas, uma a inversa da outra (assim todos ossubcorpos e todos os subgrupos sao fechados), e os reticulados [M/K], L (G) saoos seguintes. As setas sao inclusoes e os numeros a esquerda indicam os graus, adireita indicam os indices. Observe que g3g5 = 1.

M

Q(α)

2

;;vvvvvvvvvQ(αt)

2

OO

Q(αt2)

2

ddJJJJJJJJJ

Q(t)

3

iiTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT

Q3

ccGGGGGGGGGG3

OO3

::uuuuuuuuuu

2

55jjjjjjjjjjjjjjjjjjjj

{1}

2}}zzzzzzzz

2

��

2

!!DDD

DDDD

D3

((QQQQQ

QQQQQQ

QQQQQ

〈g2〉3

""EEE

EEEE

E〈g6〉

3

��

〈g4〉

3||yyyyyyyy

〈g3〉

2

vvllllll

llllll

lllll

G

Exercıcios.

(1) Seja K = Q. Dado o polinomio f(X) ∈ K[X] seja M o corpo dedecomposicao de f(X) sobre K contido em C e seja G = G(M/K) (ogrupo de Galois de f(X)). Calcule i : [M/K] → L (G) e j : L (G) →[M/K] (as correspondencias de Galois) nos casos seguintes (cf. as listasanteriores):• X2 + 1,• X3 − 1,• (X2 − 2)(X2 − 3),• X4 + 1,• X3 − 3X + 1,• X4 − 5X2 + 5.

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52 2. TEORIA DE GALOIS

• X4 − 3X2 + 4.(2) Seja M/K uma extensao de grau 2 e seja G = G(M/K). Mostre que

K e fechado, ou seja G′ = K. [Dica: seja u ∈ M − K, mostre queM = K(u), deduza que M e um corpo de decomposicao do polinomiominimal de u sobre K, deduza que |G| = 2.]

(3) Sejam α = 3√

2, t = e2πi/3, K = Q, M = Q(α, t) (corpo de decomposicaode X3 − 2 sobre Q). Seja G = G(M/K). Quais sao os subcorpos L deM tais que g(`) ∈ L para todo ` ∈ L e para todo g ∈ G?

4. Extensoes de Galois

Lema 4. Sejam H ≤ G grupos, n = |G : H|, e seja {τ1, ..., τn} um transversalesquerdo de H em G, ou seja τ1H∪. . .∪τnH = G. Para todo σ ∈ G, {στ1, ..., στn}e tambem um transversal esquerdo de H em G.

Demonstracao. E so multiplicar por σ a esquerda na igualdade G = τ1H∪. . . ∪ τnH. �

Teorema 8. Seja M/K uma extensao finita de corpos, com grupo de GaloisG, e sejam H1, H2 ∈ L(G) com H1 ≤ H2. Definido n := |H2 : H1| temos|H ′1 : H ′2| ≤ n.

Demonstracao. Seja {τ1, ..., τn} transversal esquerdo de H1 em H2. Seσ ∈ H2 entao pelo lema 4 {στ1, ..., στn} e um transversal esquerdo de H1 em H2.Os elementos de uma mesma classe lateral esquerda de H1 operam da mesmaforma nos elementos de H ′1: sejam γ, β ∈ H2 congruentes modulo H1, ou sejatais que β−1γ = µ ∈ H1; se u ∈ H ′1 entao γ(u) = β(µ(u)) = β(u). Logo se σ ∈ H2

e i ∈ {1, ..., n} existe j ∈ {1, ..., n} tal que τi(u) = σ(τj(u)) para todo u ∈ H ′1.

Suponha por contradicao que |H ′1 : H ′2| > n. Sejam ui ∈ H ′1 para i =1, ..., n+ 1, linearmente independentes sobre H ′2. Considere o sistema linear

∑n+1i=1 τ1(ui)xi = 0

...∑n+1i=1 τn(ui)xi = 0

Se trata de um sistema de n equacoes lineares e n + 1 incognitas x1, . . . , xn+1,logo admite pelo menos uma solucao nao nula em M . Seja (a1, ..., ar, 0, ..., 0)uma solucao nao nula (obtida a menos de reordenacao) com o numero maximo dezeros, e com ai 6= 0 para todo i = 1, ..., r. A menos de multiplicar tal solucao pora−1

1 (obtendo uma outra solucao) podemos supor que a1 = 1. A nossa solucao eentao (1, a2, ..., ar, 0, ..., 0). Existe um unico i ∈ {1, ..., n} tal que τi ∈ H1. Semperda de generalidade podemos supor i = 1. Para todo i = 1, ..., n + 1 temosτ1(ui) = ui. Existe pelo menos um j ∈ {2, ..., r} tal que aj 6∈ H ′2, porque sea2, ..., ar ∈ H ′2 entao pela primeira equacao u1 + a2u2 + ... + arur = 0, o quecontradiz a independencia linear dos ui sobre H ′2. Sem perda de generalidade seja

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4. EXTENSOES DE GALOIS 53

j = 2. Seja entao σ ∈ H2 tal que σ(a2) 6= a2. Aplicando σ ao sistema obtemos∑n+1i=1 (στ1)(ui)σ(ai) = 0

...∑n+1i=1 (στn)(ui)σ(ai) = 0

Mas pelo que foi dito no comeco dessa demonstracao os τi agem exatamente comoos στi sobre os ui, muda apenas a ordem. Segue que

(σ(1), σ(a2), ..., σ(ar), σ(0), ..., σ(0)) = (1, σ(a2), ..., σ(ar), 0, ..., 0)

e uma outra solucao do sistema (e so permutar as linhas do sistema). Subtraindoa solucao (1, a2, ..., ar, 0, ..., 0) obtemos uma terceira solucao, ela e

(0, σ(a2)− a2, ..., σ(ar)− ar, 0, ..., 0)

Essa solucao nao e nula porque σ(a2)− a2 6= 0, e tem um zero amais da solucao(1, a2, ..., ar, 0, ..., 0). Isso contradiz a maximalidade do numero de zeros. �

Segue que se M/K e uma extensao de corpos com grupo de Galois G, eL1, L2 ∈ [M/K], H1, H2 ∈ L(G), entao:

Se L1 ≤ L2 ≤M e L1 e fechado entao L2 e fechado e |L′1 : L′2| = |L2 : L1|.

Demonstracao. Temos

|L2 : L1| ≥ |L′1 : L′2| ≥ |L′′2 : L′′1 | = |L′′2 : L1| = |L′′2 : L2| · |L2 : L1|,

logo L′′2 = L2 e |L′1 : L′2| = |L2 : L1|. �

Se H1 ≤ H2 ≤ G e H1 e fechado entao H2 e fechado e |H ′1 : H ′2| = |H2 : H1|.

Demonstracao. Temos

|H2 : H1| ≥ |H ′1 : H ′2| ≥ |H ′′2 : H ′′1 | = |H ′′2 : H1| = |H ′′2 : H2| · |H2 : H1|,

logo H ′′2 = H2 e |H ′1 : H ′2| = |H2 : H1|. �

Em particular, como {1} e fechado, todo subgrupo de G e fechado.

Definicao 4 (Extensoes de Galois). Seja M/K uma extensao de corpos comgrupo de Galois G. M/K e dita extensao de Galois se uma das seguintescondicoes equivalentes e satisfeita:

• K e fechado, ou seja K ′′ = K, ou seja G′ = K.• Todo u ∈M −K nao e fixado por algum σ ∈ G.

K ′′ = K e equivalente a G′ = K porque em geral K ′ = G.

Proposicao 8. Se M/K e extensao de Galois finita com grupo de Galois Gentao os corpos intermediarios de M/K e os subgrupos de G sao fechados.

Demonstracao. Seja L ∈ [M/K]. L e fechado sendo K fechado. SejaH ∈ L(G). Temos {1} ≤ H e {1} e fechado, logo H e fechado. �

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54 2. TEORIA DE GALOIS

Proposicao 9. Se M/K e extensao de Galois finita e L ∈ [M/K] entaoM/L e extensao de Galois.

Demonstracao. Sabemos que L e fechado, ou seja que o conjunto dos ele-mentos de M fixados por L′ e L. Alem disso o grupo de Galois de M/L e L′.Segue que L e fechado em M/L tambem, e M/L e extensao de Galois. �

Proposicao 10. Uma extensao finita M/K com grupo de Galois G e ex-tensao de Galois se e somente se |M : K| = |G|. Em particular todo corpo dedecomposicao sobre K e extensao de Galois.

Demonstracao. Se M/K e de Galois entao K e fechado e isso implica|M : K| = |K ′ : M ′| = |G : {1}| = |G|. Reciprocamente se |M : K| = |G| entao

|G| = |M : K| = |M : K ′′| · |K ′′ : K| ≥ |K ′′′ : M ′| · |K ′′ : K| = |G| · |K ′′ : K|e deduzimos K ′′ = K ou seja K e fechado. �

Obtemos como corolario o teorema fundamental.

Teorema 9 (Teorema fundamental da teoria de Galois). Seja M/K extensaode Galois finita com grupo de Galois G. Entao todos os corpos intermediarios deM/K sao fechados e todos os subgrupos de G sao fechados. As correspondenciasde Galois induzem uma correspondencia bijetiva entre os corpos intermediariosde M/K e os subgrupos de G que inverte as inclusoes. O ındice de dois sub-grupos e igual ao grau dos correspondentes corpos intermediarios, e o grau dedois subcorpos e igual ao ındice dos correspondentes subgrupos. Em particular|G| = |M : K|.

Teorema 10. Seja M/K extensao de Galois finita com grupo de Galois G.Se f(X) ∈irr K[X] tem uma raiz em M entao f(X) pode ser decomposto emfatores lineares em M [X]. Em particular chamada de {v1, . . . , vn} uma K-basede M , e chamado de fi(X) o polinomio minimal de vi sobre K, M e corpo dedecomposicao para f1(X) · · · fn(X) sobre K.

Demonstracao. Suponha sem perda de generalidade que f(X) seja monico.Sejam u1, ..., ur as raızes distintas de f(X) em M . Chamado de n o grau de f(X)temos r ≤ n. Seja g(X) := (X − u1)...(X − ur). Dado σ ∈ G, sabemos que se ue raiz de f(X) em M entao σ(u) e tambem raiz de f(X). Segue que

{u1, ..., ur} = {σ(u1), ..., σ(ur)}.Ou seja σ permuta as raızes de f(X) contidas em M . Em particular chamadode σ o unico automorfismo de M [X] que extende σ e leva X para X, temos queσ(g(X)) = g(X). Escrevendo g(X) =

∑ri=0 biX

i, se σ ∈ G temos entaor∑i=0

biXi = g(X) = σ(g(X)) =

r∑i=0

σ(bi)Xi

Segue que σ(bi) = bi para todo σ ∈ G e para todo i = 0, . . . , r. Segue quebi ∈ G′ para todo i = 0, . . . , r. Mas G′ = K sendo M/K extensao de Galois, logog(X) ∈ K[X]. Alem disso g(X) divide f(X) em M [X] pois todas as raızes de

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4. EXTENSOES DE GALOIS 55

g(X) sao raızes de f(X), todas de multiplicidade 1. Sendo f(X), g(X) ∈ K[X]segue que g(X) divide f(X) em K[X]. Como f(X) e irredutıvel em K[X] issoimplica que g(X) = f(X). Logo f(X) pode ser decomposto em fatores linearesem M [X]. �

Corolario 5. Seja M/K extensao finita de corpos. Entao M/K e de Galoisse e somente se M e corpo de decomposicao sobre K para um polinomio de K[X].

Exercıcios. Descreva as correspondencias de Galois para a extensao M/Konde K = Q e M e o corpo de decomposicao de f(X) contido em C nos casosseguintes.

(1) f(X) = X4 −X3 − 2X + 2.(2) f(X) = X4 + 5X2 + 5.(3) f(X) = X4 − X2 + 1. [Dica: escreva a fatoracao de X12 − 1 e mostre

que se u ∈ C e um elemento de ordem multiplicativa igual a 12 entaof(u) = 0 e as raızes de f(X) sao potencias de u.]

(4) f(X) = X4− 2, que tem grupo de Galois D8 (o grupo diedral de ordem8). G = D8 = 〈a, b〉 onde a = (13) e b = (12)(34). Observe queab = (1234) tem ordem 4. Os subgrupos normais de G sao {1}, 〈abab〉 =Z(G), 〈a, bab〉, 〈ab〉, 〈b, aba〉, G. O quociente G/Z(G) e isomorfo a C2×C2. As classes de conjugacao de G sao {1}, {abab}, {ab, ba}, {a, bab},{aba, b}. Os subgrupos de G sao os seguintes.

G

2llllll

llllll

lll

22

RRRRRR

RRRRRR

RRR

〈a, bab〉 ∼= C2 × C2

2ppp

pppppp

ppp2

2

QQQQQQ

QQQQQQ

Q〈ab〉 ∼= C4

2

〈b, aba〉 ∼= C2 × C2

2mmm

mmmmmm

mmmm

22

NNNNNN

NNNNNN

〈a〉2

WWWWWWWWWW

WWWWWWWWWW

WWWWWWWWWW

W 〈bab〉2

QQQQQQ

QQQQQQ

QQQ〈abab〉 〈aba〉 〈b〉

{1}2

WWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW2

QQQQQQQQQQQQQQQ2

2mmmmmmmmmmmmmmm

2

ggggggggggggggggggggggggggggggg

(Curiosidade) Como visto X3 − 2 tem grupo de Galois S3 e X3 − 3X + 1tem grupo de Galois A3. Usando um programa (por exemplo WolframAlpha,disponıvel na internet) compare as fatoracoes de X3− 2 modulo os primos p ≤ 50com as fatoracoes de X3 − 3X + 1 modulo os primos p ≤ 50. Voce percebera queexiste um tipo de fatoracao (modulo os primos) muito frequente para X3− 2 quenao ocorre para X3 − 3X + 1. Usar WolframAlpha e muito facil, por exemplopara fatorar X3 − 2 modulo 5 basta escrever

factorize x^3-2 modulo 5

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56 2. TEORIA DE GALOIS

5. Transitividade

Teorema 11. Seja f(X) ∈ K[X] um polinomio com raızes distintas e sejaM um seu corpo de decomposicao sobre K. Entao a acao de G = G (M/K) noconjunto das raızes de f(X) e transitiva se e somente se f(X) e irredutivel emK[X].

Demonstracao. Se f(X) e irredutıvel e α, β sao duas raızes de f(X) emM entao sabemos que a composicao K(α) ∼= K[X]/(f(X)) ∼= K(β) e um K-isomorfismo que leva α para β, e se extende a um isomorfismo M → M , ou sejaum elemento de G que leva α para β.

Agora suponha que a acao de G seja transitiva. Se f(X) = h(X)k(X) entaose r e raiz de h(X) e s e raiz de k(X) existe g ∈ G tal que g(r) = s, e por um ladoh(g(r)) = g(h(r)) = 0, ou seja g(r) = s e raiz de h(X), por outro lado g(r) = se raiz de k(X) logo isso daria uma raiz de f(X) com multiplicidade maior que 1,uma contradicao. �

6. Cubicas

Seja K um corpo de caracterıstica zero. Seja f(X) ∈ K[X] de grau n, raızesdistintas, com corpo de decomposicao M sobre K e grupo de Galois G. Sabemosque G pode ser visto como um subgrupo de Sn (representacao permutacionalinduzida pela acao de G no conjunto das n raızes de f(X)) Sejam v1, . . . , vn asraızes do polinomio f(X) (todas distintas). Seja

∆ := (v1 − v2)(v1 − v3)...(vn−1 − vn) =∏

1≤i<j≤n

(vi − vj)

D := ∆2 e chamado de discriminante de f(X). Como todo g ∈ G induz umapermutacao dos vi, temos g(∆) ∈ {∆,−∆}. Mais especificamente se g e parg(∆) = ∆, se g e ımpar g(∆) = −∆. Segue que para todo g ∈ G, g(D) =g(∆2) = g(∆)2 = (±∆)2 = D, logo D ∈ K sendo M/K Galois. Alem disso, comog ∈ G fixa ∆ se e somente se g ∈ An, segue que o subgrupo correspondente aK(∆) (nas correspondencias de Galois) e K(∆)′ = G ∩ An. Observe que isso ecoerente com as correspondencias de Galois pois |G : G ∩ An| vale 1 ou 2, assimcomo |K(∆) : K|, e |G : G ∩An| = 2 se e somente se |K(∆) : K| = 2.

Seja f(X) = X3 + bX2 + cX + d. Entao calculando f(X − b/3) obtemos umpolinomio da forma g(X) = X3 + pX + q com o mesmo discriminante de f(X).

Proposicao 11. D = −4p3 − 27q2.

Demonstracao. Seja M um corpo de decomposicao de g(X). Escrevag(X) = (X − v1)(X − v2)(X − v3) onde os vi sao as raızes de g(X) em M =Q(v1, v2, v3). Como g(X) = X3 + pX + q segue

X3 + pX + q = X3 − (v1 + v2 + v3)X2 + (v1v2 + v1v3 + v2v3)X − v1v2v3.

Segue que

v1 + v2 + v3 = 0, v1v2 + v1v3 + v2v3 = p, v1v2v3 = −q.

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6. CUBICAS 57

Calculando v1, v2, v3 pela equacao v1 + v2 + v3 = 0 e substituindo na expressaode p obtemos

p = v1(−v1 − v3) + v1v3 + v2v3 = −v21 + v2v3,

p = (−v2 − v3)v2 + v1v3 + v2v3 = −v22 + v1v3,

p = v1v2 + v1v3 + (−v1 − v3)v3 = −v23 + v1v2.

Suponha primeiro que q = −v1v2v3 6= 0.

D = ∆2 = (v1 − v2)2(v2 − v3)2(v1 − v3)2

= ((v1 + v2)2 − 4v1v2)((v2 + v3)2 − 4v2v3)((v1 + v3)2 − 4v1v3)

=

(v2

3 + 4q

v3

)(v2

1 + 4q

v1

)(v2

2 + 4q

v2

)=

1

v1v2v3(v3

3 + 4q)(v31 + 4q)(v3

2 + 4q)

= (−1/q)(−pv3 + 3q)(−pv1 + 3q)(−pv2 + 3q)

= (−1/q)(p2v1v3 + 3pqv2 + 9q2)(−pv2 + 3q)

= (−1/q)(p3q + 3p2qv1v3 − 3p2qv22 + 9pq2v2 − 9pq2v2 + 27q3)

= (−1/q)(p3q + 3p3q + 27q3) = −p3 − 3p3 − 27q2 = −4p3 − 27q2.

Suponha agora que um dos vi e zero, por exemplo v3 = 0 (sem perda de generali-dade). Entao q = 0, p = −v2

2 e v2 = −v1 logo D = (v1 − v2)2v42 = 4v6

2 = −4p3 =−4p3 − 27q2. �

Suponha agora f(X) irredutıvel. Lembre-se que

∆ = (v1 − v2)(v1 − v3)(v2 − v3).

Sabemos que o grupo de Galois de f(X) e um subgrupo transitivo de S3, logoe S3 ou A3 (os subgrupos transitivos de S3 sao A3 e S3). Mas observe que seG = S3 entao existe s ∈ G que fixa v3 e troca v1 com v2, logo s(∆) = −∆ epor consequencia ∆ 6∈ K, ou seja D nao e um quadrado em K. Por outro ladose G = A3, digamos gerado por s, e s(v1) = v2, s(v2) = v3 e s(v3) = v1 entaos(∆) = ∆ logo ∆ ∈ G′ = K (sendo G gerado por s) ou seja D e um quadradoem K. Segue que G = A3 se D e um quadrado em K, e G = S3 se D nao e umquadrado em K.

Exemplo. f(X) = X3 − 2 tem grupo S3 sobre Q. De fato p = 0, q = −2logo o discriminante e −27 · 22, que nao e um quadrado em Q.

Exemplo. f(X) = X3−3X+ 1 tem grupo A3 sobre Q. De fato e irredutıvele p = −3, q = 1 logo o discriminante e −4(−3)3 − 27 = 92. Chamada de a umaraiz de f(X), o corpo de decomposicao e Q(a) e os seus unicos subcorpos sao osdois triviais.

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58 2. TEORIA DE GALOIS

Exemplo. f(X) = X3 +3X2 +1 tem grupo S3 sobre Q. De fato e irredutıvele f(X−1) = X3−3X+ 3 logo p = −3, q = 3, segue que D = −4(−3)3−27 ·32 =−27(−4− 9) = 33 · 13 nao e um quadrado em Q logo G = S3.

7. Subcorpos estaveis

Seja M/K extensao de corpos com grupo de Galois G. L ∈ [M/K] e ditoestavel se para todo σ ∈ G, u ∈ L temos σ(u) ∈ L. L e estavel se e somente seσ(L) = L para todo σ ∈ G. A inclusao L ≤ σ(L) segue do fato que se ` ∈ L entao` = σ(σ−1(`)) e σ−1(`) ∈ L se L e estavel. Em outras palavras, a acao naturalde G sobre M induz uma acao de G sobre [M/K] dada por L 7→ σ(L) = {σ(`) :` ∈ L} (e facil ver que se σ ∈ G e L e subcorpo de M contendo K entao σ(L)e subcorpo de M contendo K) e os subcorpos estaveis sao os pontos fixos dessaacao.

Observe que se H ≤ G entao M/H ′ e extensao de Galois com grupo de Galoisigual a H ′′ = H (para mostrar isso e so escrever a definicao de grupo de Galois).

Teorema 12 (Teorema fundamental - parte 2). Seja M/K extensao de Galoisfinita com grupo de Galois G. Entao L ∈ [M/K] e estavel se e somente seL′ e normal em G, se e somente se L/K e de Galois. Se L e estavel entaoG(L/K) ∼= G/L′.

Demonstracao. Seja L ∈ [M/K] corpo intermediario estavel. Para todoσ ∈ G, γ ∈ L′, u ∈ L temos σ−1(γ(σ(u))) = σ−1(σ(u)) = u porque σ(u) ∈ Lsendo L estavel e sendo γ ∈ L′. Logo σ−1γσ ∈ L′. Isso mostra que L′ EG.

SejaHEG. Para todo γ ∈ H, σ ∈ G e para todo u ∈ H ′ temos σ−1(γ(σ(u))) =u, ou seja γ(σ(u)) = σ(u). Valendo isso para todo γ ∈ H, temos σ(u) ∈ H ′ (sendoM/H ′ extensao de Galois com grupo de Galois H ′′ = H), e isso vale para todou ∈ H ′ e para todo σ ∈ G. Segue que H ′ e estavel.

Se L ∈ [M/K] e estavel entao L/K e de Galois. De fato dado u ∈ L − Kbasta mostrar que existe um γ ∈ G (L/K) tal que γ(u) 6= u. Sendo M/K deGalois, existe σ ∈ G (M/K) tal que σ(u) 6= u. Alem disso σ|L ∈ G (L/K) sendo Lestavel. Basta entao tomar γ := σ|L.

Se L ∈ [M/K] e L/K e de Galois entao L e estavel. De fato seja σ ∈ G(M/K)e seja u ∈ L. Precisamos mostrar que σ(u) ∈ L. Sendo L/K algebrica, u ealgebrico sobre K. Considere f(X) ∈ K[X], o polinomio minimal de u sobre K.Sendo u ∈ L e L/K Galois, f(X) e produto de fatores lineares em L[X]. Sabemosque σ(u) e tambem raiz de f(X) em M ≥ L. Logo σ(u) ∈ L.

Seja L ∈ [M/K] estavel. Considere α : G = G (M/K)→ G (L/K) definido porα(σ) := σ|L (faz sentido sendo L estavel). Sendo M um corpo de decomposicaosobre K, todo K-automorfismo de L pode ser extendido a M , logo α e sobrejetiva.O nucleo de α consiste dos K-automorfismos de M que sao a identidade sobre L,ou seja ker(α) = L′. Segue que G (L/K) ∼= G/L′. �

Observe que se M e corpo de decomposicao de f(X) ∈ K[X] sobre K entaoM e corpo de decomposicao de f(X) sobre L tambem, sendo K ≤ L. Ou seja se

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7. SUBCORPOS ESTAVEIS 59

M/K e Galois e K ≤ L ≤ M entao M/L e Galois. Do ponto de vista do grupode Galois, se L ∈ [M/K] com certeza {1}E L′, ou seja M/L e Galois. Em geral

L′ nao e normal em G, ou seja L/K nao e Galois: por exemplo Q( 3√

2)/Q nao eGalois e esta contido no corpo de decomposicao de X3 − 2 sobre Q.

Seja M/K extensao de Galois, G = G (M/K), L ∈ [M/K], H = L′ ≤ G.Sabemos que o coracao normal HG de H em G e o maior subgrupo normal de Gcontido em H. Segue que H ′G e o menor subcorpo estavel de M contendo L = H ′,ou seja a menor extensao de Galois de K contendo L. Tal extensao e chamadade fecho de Galois (Galois closure) de L sobre K. E obtido adicionando a K asraızes dos polinomios minimais sobre K dos elementos de L (na verdade bastaconsiderar geradores de L sobre K).

Raızes n-esimas

Seja Q ≤ K ≤ C um corpo e seja n um inteiro positivo. Na proposicaoseguinte ϕ e a funcao de Euler.

Proposicao 12. O grupo de Galois de Xn− 1 sobre K e abeliano, isomorfoa um subgrupo de U(Z/nZ), em particular a sua ordem divide ϕ(n).

Demonstracao. f(X) = Xn−1 nao tem raızes multiplas porque e coprimocom a sua derivada nXn−1. Seja A o conjunto das raızes de f(X) em C. Observeque A e um grupo cıclico de ordem n gerado por u = ei2π/n, e M = K(u). SejaG = G (M/K). O homomorfismo ϕ : G → Aut(A) que leva g para g|A e injetivo(porque se g fixa os elementos de A entao fixa todas as raızes, logo e a identidade),logo G e isomorfo a um subgrupo de Aut(A). Mas γ ∈ Aut(A) e determinadopor γ(u) (sendo γ(uk) = γ(u)k para todo inteiro k, sendo γ homomorfismo), logopodemos considerar ψ : Aut(A) → U(Z/nZ) que leva γ para m onde γ(u) = um

(aqui U(Z/nZ) e o grupo multiplicativo de Z/nZ, ou seja o grupo multiplicativodas classes modulo n coprimas com n). γ e bem definido porque se a, b sao inteirosua = ub se e somente se a ≡ b mod n, e se γ ∈ Aut(A) e γ(u) = um (os elementosde A sao potencias de u) entao m e coprimo com n porque um precisa ser umgerador do grupo cıclico A ∼= Cn. O nucleo de ψ e trivial porque se γ ∈ Aut(A) eψ(γ) = 1 entao γ(u) = u1 = u logo γ e a identidade, de fato γ(uk) = γ(u)k = uk

para todo inteiro k. Segue que ψ e um homomorfismo injetivo de grupos logo Gisomorfo a um subgrupo de U(Z/nZ), que e um grupo abeliano (a multiplicacaomodulo n e comutativa), logo G e abeliano. �

Curiosidade: pode se mostrar que se K = Q entao o grupo de Galois deXn − 1 e isomorfo a U(Z/nZ), em particular e abeliano de ordem ϕ(n) (onde ϕe a funcao de Euler). Para aprofundar sobre isso veja: polinomios ciclotomicos.

Proposicao 13. Se K contem todas as raızes de Xn−1 e t e raiz de Xn−aonde a ∈ C entao K(t) e um corpo de decomposicao para Xn − a sobre K eG = G (K(t)/K) e cıclico de ordem um divisor de n.

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60 2. TEORIA DE GALOIS

Demonstracao. As raızes de Xn − a sao os elementos da forma tu onde ue uma raiz de Xn− 1, e como todos tais u pertencem a K isso mostra que K(t) eo corpo de decomposicao de Xn − a sobre K. Se g ∈ G = G (K(t)/K) entao g(t)e uma raiz de Xn− a logo existe uma unica raiz n-esima ug de 1, que depende deg, tal que g(t) = tug. Se g, h ∈ G temos ugh = uguh, de fato g(uh) = uh (sendouh ∈ K) logo

ught = gh(t) = g(uht) = g(uh)g(t) = uhugt

e cancelando t obtemos ugh = uguh. Alem disso se ug = 1 entao g fixa t logoe a identidade K(t) → K(t) (porque fixa K e t). Segue que g 7→ ug e umhomomorfismo injetivo G → A onde A e o grupo cıclico das raızes complexas deXn − 1. Segue que G e isomorfo a um subgrupo de A ∼= Cn, logo G e cıclico deordem um divisor de n. �

Exercıcios.

(1) Descreva as correspondencias de Galois sobre Q para os polinomios

X4 − 1, X5 − 1, X6 − 1, X7 − 1, X8 − 1.

Pode usar o fato que o grupo de Galois de Xn − 1 sobre Q e isomorfoa U(Z/nZ). Dada uma raiz n-esima u de 1 de ordem multiplicativa n,cada elemento g ∈ G e identificado pela classe m modulo n, coprimacom n, tal que g(u) = um.

Verifique que todos os subcorpos sao estaveis.

Para ajudar:• U(Z/4Z) = {1, 3} e cıclico gerado por 3;• U(Z/5Z) = {1, 2, 3, 4} e cıclico gerado por 2;• U(Z/6Z) = {1, 5} e cıclico gerado por 5;• U(Z/7Z) = {1, 2, 3, 4, 5, 6} e cıclico gerado por 3• U(Z/8Z) = {1, 3, 5, 7} nao e cıclico, e isomorfo ao grupo de Klein.

8. Solubilidade

Proposicao 14. Seja M um corpo de decomposicao sobre K. Seja U oconjunto das raızes n-esimas de 1 em C. Entao G (M/K) e soluvel se e somentese G (M(U)/K(U)) e soluvel.

Demonstracao. A extensao M/K e Galois por hipotese, logo M e o corpode decomposicao sobre K para um polinomio f(X) ∈ K[X]. A extensao K(U)/Ke Galois sendo um corpo de decomposicao de Xn − 1 e M(U)/K e Galois sendoum corpo de decomposicao de f(X)(Xn − 1). Sejam T = G (M(U)/K(U)),R = G (M(U)/K), G = G (M/K). Precisamos mostrar que T e soluvel se esomente se G e soluvel. Trabalharemos na extensao M(U)/K. Sabemos queT = K(U)′, e sendo K(U) um corpo de decomposicao, e Galois logo e estavel eR/T ∼= G (K(U)/K) e abeliano. Sendo M um corpo de decomposicao, e Galoislogo e estavel em M(U)/K e M ′ E R, R/M ′ ∼= G (M/K) = G. Isso mostra que

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8. SOLUBILIDADE 61

se T e soluvel entao R e soluvel (sendo R/T abeliano) logo G ∼= R/M ′ e soluvel.Pertencer a T significa fixar U , e pertencer a M ′ significa fixar M , logo pertencera T ∩M ′ significa fixar M(U), ou seja T ∩M ′ = K(U)′ ∩M ′ = M(U)′ = {1}.Segue que T ∼= T/T ∩M ′ ∼= TM ′/M ′ ≤ R/M ′ ∼= G, ou seja T e isomorfo a umsubgrupo de G, logo T e soluvel se G e soluvel. �

Corolario 6. Seja K um corpo, Q ≤ K ≤ C, e seja a ∈ K. O grupo deGalois de Xn − a sobre K e soluvel.

Demonstracao. Dado um corpo de decomposicao M de Xn − a sobre Kvimos que G (M(U)/K(U)) e cıclico, em particular e soluvel, logo G (M/K) esoluvel pela proposicao anterior. �

Proposicao 15. Sejam σ1, . . . , σr automorfismos distintos de um corpo K.Entao σ1, . . . , σr sao linearmente independentes sobre K.

Demonstracao. Por contradicao existam σ1, . . . , σr automorfismos de Klinearmente dependentes sobre K, daı podemos escolher r minimal com essa pro-priedade. Sejam a1, . . . , ar ∈ K com

∑ri=1 aiσi = 0. A minimalidade de r implica

que ai 6= 0 para todo i = 1, . . . , r. Como a funcao nula nao e automorfismo, r ≥ 2.Seja b ∈ K com σ1(b) 6= σ2(b). Temos

a1σ1(b)σ1(c) + . . .+ arσr(b)σr(c) = a1σ1(bc) + . . .+ arσr(bc) = 0.

Subtraindo σ1(b)(a1σ1(c) + . . .+ arσr(c)) = 0 obtemos

a2(σ2(b)− σ1(b))σ2(c) + . . .+ ar(σr(b)− σ1(b))σr(c) = 0.

Isso vale para todo c ∈ K logo e uma combinacao linear nula dos σi com menosde r coeficientes nao nulos. Os coeficientes nao sao todos nulos porque a2(σ2(b)−σ1(b)) 6= 0. Isso contradiz a minimalidade de r. �

Dada uma extensao de Galois M/K de grau n com grupo de Galois G, anorma de m ∈M e

NM/K(m) = N(m) =∏g∈G

g(m).

Por exemplo na extensao de Galois Q(i)/Q, corpo de decomposicao de X2 +1 comgrupo de Galois G = {1, σ} onde σ(i) = −i, a norma de a+ib e (a+ib)σ(a+ib) =(a+ ib)(a− ib) = a2 + b2. Observe que

• Se x ∈ K entao N(x) = xn.De fato sendo x ∈ K temos g(x) = x para todo g ∈ G logo N(x) =∏

g∈G g(x) =∏g∈G x = xn sendo |G| = |M : K| = n.

• Se x, y ∈M entao N(xy) = N(x)N(y) e N(x−1) = N(x)−1.De fato sendo os elementos de G homomorfismos de corpos, e sendo

a multiplicacao em M comutativa,

N(xy) =∏g∈G

g(xy) =∏g∈G

g(x)g(y) =∏g∈G

g(x)∏g∈G

g(y) = N(x)N(y),

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62 2. TEORIA DE GALOIS

N(x−1) =∏g∈G

g(x−1) =∏g∈G

g(x)−1 =

∏g∈G

g(x)

−1

= N(x)−1.

• Se x ∈M e σ ∈ G entao N(x) = N(σ(x)).De fato N(σ(x)) =

∏g∈G gσ(x) =

∏h∈G h(x) = N(x) sendo {gσ :

g ∈ G} = G.• Se x ∈M entao N(x) ∈ K.

De fato se σ ∈ G entao σ(N(x)) =∏g∈G σg(x) =

∏h∈G h(x) =

N(x) sendo {σg : g ∈ G} = G, isso vale para todo σ ∈ G logoN(x) ∈ G′ = K.

Teorema 13 (Teorema 90 de Hilbert). Seja M/K extensao de Galois finitacom grupo de Galois G = 〈σ〉 cıclico. Um elemento a ∈ M tem norma 1 se esomente se existe b ∈M tal que a = bσ(b)−1.

Demonstracao. Seja n = |G|. Temos G = 〈σ〉 = {1, σ, . . . , σn−1}. Sejaa ∈M . Observe que

N(a) =∏g∈G

g(a) = aσ(a)σ2(a) · · ·σn−1(a).

Se existe b ∈M com a = bσ(b)−1 entao

N(a) = N(bσ(b)−1) = N(b)N(σ(b)−1) = N(b)N(σ(b))−1 = N(b)N(b)−1 = 1.

Agora suponha N(a) = 1. Seja ϕ o homomorfismo M →M definido por (lembreque σ0 = 1)

ϕ(c) =

n−1∑i=0

aσ(a) · · ·σi(a)σi(c).

Sendo 1, σ, . . . , σn−1 distintos, eles sao linearmente independentes, logo ϕ nao e ohomomorfismo nulo. Existe entao c ∈M tal que ϕ(c) 6= 0. Seja b := ϕ(c). Sendoaσ(a)σ2(a) · · ·σn−1(a) = N(a) = 1 e σn = 1 temos

σ(b) =

n−1∑i=0

σ(a)σ2(a) · · ·σi+1(a)σi+1(c) = a−1n−1∑i=0

aσ(a) · · ·σi+1(a)σi+1(c)

= a−1

(n−2∑i=0

aσ(a) · · ·σi+1(a)σi+1(c) + aσ(a)σ2(a) · · ·σn(a)σn(c)

)

= a−1

(n−1∑i=1

aσ(a) · · ·σi(a)σi(c) + ac

)= a−1

n−1∑i=0

aσ(a) · · ·σi(a)σi(c) = a−1b

ou seja σ(b) = a−1b. Sendo b 6= 0, obviamente σ(b) 6= 0 e podemos reformular aigualdade σ(b) = a−1b como a = bσ(b)−1. �

Proposicao 16. Seja M/K extensao de Galois finita de grau n com Kcontendo todas as raızes n-esimas de 1 e G = G (M/K) = 〈σ〉 cıclico. EntaoM = K(t) com t raiz de Xn − a, para algum a ∈ K, e Xn − a e irredutıvel emK[X].

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9. EXTENSOES RADICAIS 63

Demonstracao. Seja ε = ei2π/n. Sendo ε ∈ K temos N(ε) = εn = 1 logoN(ε−1) = 1 tambem e existe t ∈ M tal que ε−1 = tσ(t)−1. Segue que σ(t) = tεlogo σ(tn) = (tε)n = tn logo a := tn ∈ K. Segue que t e raiz de Xn − a. SendoK(t) ⊆ M e |M : K| = n, para mostrar que M = K(t) e suficiente mostrarque Xn − a e irredutıvel em K[X], porque daı segue |K(t) : K| = n = |M : K|logo M = K(t). Seja f(X) o polinomio minimal de t sobre K, entao σi(t) = tεi

e raiz de f(X) para todo i = 0, 1, . . . , n − 1, e σi(t) = tεi 6= tεj = σj(t) se

i, j ∈ {0, 1, . . . , n − 1} e i 6= j, segue que f(X) =∏n−1i=0 (X − σi(t)), logo f(X)

divide Xn − a e tem grau n, isso implica f(X) = Xn − a. �

Exercıcios.

(1) Seja f(X) = X6−2. Calcule a ordem do seu grupo de Galois G sobre Q.Encontre um subgrupo normal abeliano N de G tal que G/N e abeliano.

(2) Seja M/K extensao de Galois com grupo de Galois G e seja m ∈ M .Defina Tr(m) =

∑g∈G g(m), o traco de m. Mostre que Tr(m) ∈ K.

(3) Seja M um corpo de decomposicao de X3− 2 sobre Q. Calcule a norma

e o traco de α = 3√

2, de u = e2πi/3 e de α+ u.(4) Seja M um corpo de decomposicao de f(X) = X3 − 3X + 1 sobre Q,

seja α ∈ M uma raiz de f(X) e na extensao M/Q calcule a norma e otraco de α.

(5) (BONUS - Facultativo - Pesquise na internet em ingles) Seja M/K ex-tensao de Galois de grau n. Todo α ∈ M determina a funcao K-linearfα : M → M dada por fα(x) := αx. Apos escolha de uma base de Msobre K a funcao fα pode ser vista como matriz n× n com coeficientesem K. Mostre que det(fα) = N(α) e Tr(fα) = Tr(α) (onde o traco deuma matriz e a soma dos elementos diagonais).

9. Extensoes radicais

Resolver uma equacao polinomial f(X) = 0 sobre K para nos significa ex-pressar as solucoes de f(X) = 0 a partir dos elementos de K usando operacoes decorpo e raızes n-esimas. Por exemplo a formula para resolver X3 + pX + q = 0,onde p, q ∈ Q, e (Cardano)

xk = ξk3

√−q

2+

√q2

4+p3

27+ ξ2k 3

√−q

2−√q2

4+p3

27, k = 0, 1, 2

onde ξ = ei2π/3 = − 12 +i

√3

2 e se q2/4+p3/27 < 0 as duas raızes cubicas na formula

sao tomadas complexas conjugadas e se q2/4 + p3/27 ≥ 0 as duas raızes cubicasna formula sao reais. Observe que se existirem raızes complexas conjugadas deuma cubica irredutıvel entao o grupo de Galois dela e S3 porque a conjugacaocomplexa tem ordem 2. O exemplo das cubicas justifica a definicao seguinte.

Seja F/K uma extensao de corpos. Ela e dita radical se existe uma torrede raızes que vai de K ate F , ou seja uma sequencia de subcorpos

K = K0 ≤ K1 ≤ . . . ≤ Kr = F

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64 2. TEORIA DE GALOIS

tal que para todo i = 0, . . . , r−1, Ki+1 = Ki(ti) onde tnii ∈ Ki para algum inteiropositivo ni, ou seja ti e uma raiz ni-esima de um elemento de Ki, ou seja ti e raizde um polinomio Xni − ai ∈ Ki[X].

Se f(X) ∈ K[X], a equacao f(X) = 0 e dita soluvel por radicais se existemuma extensao radical F/K e um corpo de decomposicao M/K de f(X) sobre Ktal que M ≤ F .

Por exemplo a torre de raızes correspondente a cubica acima e

Q ⊂ Q(i√

3) ⊂ Q(i√

3,√δ) ⊂ Q

(i√

3,√δ, 3

√−q

2+√δ

)

⊂ Q(i√

3,√δ, 3

√−q

2+√δ, 3

√−q

2−√δ

)onde δ = q2

4 + p3

27 .

O fecho de Galois de uma extensao L/K e a extensao M/K obtida adicio-nando a L todas as raızes dos polinomios minimais dos elementos de L sobre K.Se trata da menor extensao de Galois de K contendo L.

• Se F/K e radical e F ≥ L ≥ K entao F/L e radical.• Se F1, F2 sao radicais sobre K entao 〈F1, F2〉/K e radical.• Se F/K e radical e N/K e o fecho de Galois de F sobre K entao N/K

e radical.

A terceira observacao segue do fato que N e gerado sobre K pelos σ(F ) ondeσ ∈ G (N/K) (veja os exercıcios) logo pela segunda observacao basta mostrar queσ(F )/K e radical, mas isso e obvio.

Teorema 14. Sejam f(X) ∈ K[X], M um corpo de decomposicao de f(X)sobre K e G = G (M/K). A equacao f(X) = 0 e soluvel por radicais se e somentese G e soluvel.

Demonstracao. Seja M/K um corpo de decomposicao de f(X) sobre K eseja G = G (M/K).

Suponha que f(X) e soluvel por radicais. Existe entao uma extensao radicalF/K com F ≥ M . O fecho de Galois E de F e radical, e como G (M/K) ∼=G (E/K)/G (E/M) e suficiente mostrar que G (E/K) e soluvel, e sendo E umcorpo de decomposicao podemos supor E = M , ou seja podemos supor M radical.Temos uma sequencia de subcorpos

K = K0 ≤ K1 ≤ . . . ≤ Kr = M

tal que para todo i = 0, . . . , r−1, Ki+1 = Ki(ti) onde tnii ∈ Ki para algum inteiropositivo ni. Seja m = n0 · · ·nr−1 e seja U o grupo das raızes de Xm − 1 em C.Como G (M/K) e soluvel se e somente se G (M(U)/K(U)) e soluvel, podemossupor que U ⊆ K. Vamos mostrar que G e soluvel por inducao sobre r. Se r = 1entao M = K1 = K(t0) e G (K(t0)/K) e soluvel, sendo corpo de decomposicao

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9. EXTENSOES RADICAIS 65

para Xn0 − tn00 . Agora suponha r ≥ 2. Por hipotese de inducao N = K(t0)′ =

G (M/K(t0)) e soluvel, e sendo K(t0)/K Galois (porque K ⊇ U), N e normal emG e G/N ∼= G (K(t0)/K) e cıclico. Segue que G e soluvel.

Suponha agora G soluvel. Seja U o grupo das raızes de X |G| − 1 em C (saotodas distintas) e suponha que U ⊆ K. Sendo G soluvel existe uma serie

G = G1 BG2 B . . .BGr = {1}

com Gi/Gi+1 cıclico para todo i = 1, . . . , r − 1 (veja os exercıcios), e tomando ossubcorpos correspondentes Ki = G′i obtemos

K = K1 < K2 < . . . < Kr = M.

Temos ni = |Ki+1/Ki| = |Gi : Gi+1| para todo i = 0, 1, . . . , r − 1 e o grupo deGalois de M/Ki e K ′i = Gi. Sendo Gi+1 normal em Gi, Ki+1 e estavel em M/Ki,e o subgrupo correspondente a Ki+1 e Gi+1, logo Ki+1/Ki e extensao de Galoiscom grupo de Galois Gi/Gi+1, cıclico. Como K contem U , segue (pelo teoremaque vimos) que Ki+1 e obtido de Ki adicionando uma raiz de um polinomio daforma Xni − ai com ai ∈ Ki+1, logo a serie de subcorpos acima e uma torre deraızes.

Agora suponha que K nao contem U . Sendo U um grupo cıclico, K(U) eextensao radical de K (e obtida adicionando uma oportuna raiz de X |G| − 1),logo sendo M ⊆ M(U), para mostrar que f(X) = 0 e soluvel por raidicais bastamostrar que M(U) e extensao radical de K, e para isso e suficiente mostrar queM(U) e extensao radical de K(U). Sabemos que M(U)/K(U) e Galois, sendoM(U) corpo de decomposicao de f(X) sobre K(U). Trabalharemos na extensaoM(U)/K, que e Galois sendo M(U) corpo de decomposicao de f(X)(X |G| −1) sobre K. O homomorfismo de restricao G (M(U)/K(U)) → G = G (M/K),σ 7→ σ|M e bem definido (sendo M/K Galois, logo M e estavel) e injetivo logoG (M(U)/K(U)) e soluvel de ordem que divide |G|. Segue que U contem as raızesde Xm − 1 onde m = |G (M(U)/K(U))|. Pelo paragrafo anterior M(U)/K(U) eradical. �

Exercıcios.

(1) Seja F/K uma extensao de corpos e seja M o fecho de Galois de Fsobre K, G = G (M/K). Mostre que M e gerado pelos corpos σ(F )onde σ ∈ G.

(2) Seja G um grupo soluvel finito. Mostre que G e policıclico, ou seja existeuma serie {1} = G0CG1C . . .CGn = G tal que Gi/Gi−1 e cıclico paratodo i = 1, . . . , n. Isso permanece verdadeiro se G for infinito?

(3) Seja f(X) = X5−4X+2 (irredutıvel em Q[X] pelo criterio de Eisenstein)e seja M um corpo de decomposicao de f(X) sobre Q com grupo deGalois G, pensado como subgrupo de S5 agindo nas 5 raızes de f(X).(a) Mostre que f(X) tem tres raızes reais e duas raızes complexas con-

jugadas (estudando o grafico de f).

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66 2. TEORIA DE GALOIS

(b) Considere a conjugacao complexa a+ ib 7→ a− ib para mostrar queG contem um 2-cıclo.

(c) Mostre que 5 divide |G| (pense na transitividade) e deduza que Gcontem um 5-cıclo.

(d) Usando o fato que S5 e gerado por um qualquer 5-cıclo junto comum qualquer 2-cıclo (nao precisa mostrar isso) deduza que a equacaof(X) = 0 nao e soluvel por radicais.

10. Quarticas

Seja f(X) = X4 + bX3 + cX2 + dX + e irredutıvel e separavel em F [X] esejam v1, v2, v3, v4 as suas raızes, todas distintas. Seja M = F (v1, v2, v3, v4) eG = G (M/F ), isomorfo a um subgrupo de S4. Sejam

α := v1v2 + v3v4, β := v1v3 + v2v4, γ := v1v4 + v2v3

Como os vi sao distintos segue que α, β e γ sao distintos. De fato

α− β = v1v2 + v3v4 − v1v3 − v2v4 = (v1 − v4)(v2 − v3) 6= 0,

α− γ = v1v2 + v3v4 − v1v4 − v2v3 = (v1 − v3)(v2 − v4) 6= 0,

β − γ = v1v3 + v2v4 − v1v4 − v2v3 = (v1 − v2)(v3 − v4) 6= 0.

Alem disso e facil se convencer que a acao natural de G sobre as raızes induzuma acao de G sobre {α, β, γ}. Seja K < S4 o grupo de Klein. E claro que seσ ∈ G ∩K entao σ fixa α, β e γ. Reciprocamente se σ 6∈ G ∩K entao σ nao fixapelo menos um entre α, β, γ. Para se convencer disso, se σ 6∈ G entao σ e de umdos tipos seguintes:

• 2-cıclos. Por exemplo se σ = (12) entao β 7→ γ 7→ β.• 3-cıclos. Por exemplo se σ = (123) entao α 7→ γ 7→ β 7→ α.• 4-cıclos. Por exemplo se σ = (1234) entao γ 7→ α 7→ γ.

Segue que F (α, β, γ)′ = G∩K, e (G∩K)′ = F (α, β, γ) sendo M/F Galois. Logosendo F (α, β, γ) estavel em M/F ,

G/G ∩K ∼= G(F (α, β, γ)/F )

O polinomio

R(X) = (X − α)(X − β)(X − γ) ∈ F (α, β, γ)[X]

e chamado de resolvente cubica de f(X). Como a acao natural de G induz umaacao permutacional em {α, β, γ} temos R(X) ∈ F [X]. Uma conta demonstra quea resolvente cubica de f(X) = X4 + bX3 + cX2 + dX + e e

X3 − cX2 + (bd− 4e)X − b2e+ 4ce− d2 ∈ F [X].

O grupo de Galois de R e isomorfo a G/G ∩ K. G e um subgrupo transitivode S4 (sendo f(X) irredutıvel), e sabemos quais sao os subgrupos transitivos deS4: o grupo de Klein, os subgrupos cıclicos de ordem 4, os subgrupos diedrais deordem 8, o grupo alternado A4 e o grupo simetrico S4. E entao imediato deduziras coisas seguintes. Se G/G ∩K ∼= S3 entao G = S4. Se G/G ∩K ∼= A3 entao

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11. O TEOREMA FUNDAMENTAL DA ALGEBRA 67

G = A4. Se G = G∩K entao G = K. Suponha |G/G∩K| = 2. Se K ≤ G entaoG = D8, e se |G ∩K| = 2 entao G = C4.

Exemplo. f(X) = X4 − 2 tem grupo de Galois D8. De fato a resolventecubica e X3 +8X = X(X2 +8) que tem grupo de Galois de ordem 2, logo G e D8

ou C4, por outro lado nao e C4 porque Q( 4√

2) nao e um corpo de decomposicaopara f(X). Segue que G = D8.

Exemplo. f(X) = X4−3X2+4 tem grupo de Galois K. De fato a resolventecubica e R(X) = X3 + 3X2 − 16X − 48 = (X + 3)(X − 4)(X + 4). Segue queG = G ∩K logo G = K.

Exemplo. f(X) = X4 + 8X + 12 tem grupo de Galois A4. De fato aresolvente cubica e R(X) = X3 − 48X − 64, que e irredutıvel. O discriminantede R e 4 · 483 − 27 · 642 = 212 · 34 = 5762. Segue que R tem grupo de Galois deordem 3 logo G = A4.

Exemplo. f(X) = X4−X − 1 tem grupo de Galois S4. De fato a resolventecubica e R(X) = X3 + 4X − 1, que e irredutıvel. O discriminante de R e −283logo R tem grupo de Galois S3 e G = S4.

O problema seguinte e um classico problema em aberto.

Problema inverso de Galois (Inverse Galois Problem): dado um grupo finito Gencontre um polinomio f(X) ∈ Q[X] cujo grupo de Galois sobre Q e isomorfo a G.Equivalentemente, encontre uma extensao de Galois M/Q tal que G (M/Q) ∼= G.

11. O teorema fundamental da algebra

Um corpoK e dito algebricamente fechado se todo polinomio nao constante deK[X] admite pelo menos uma raiz em K. Pela fatoracao unica, isso e equivalentea dizer que os unicos polinomios irredutıveis em K[X] sao os polinomios de grau1, e isso e equivalente a dizer que a unica extensao finita de K e o proprio K, ouseja nao existe nenhuma extensao finita M/K de grau maior que 1.

O teorema fundamental da algebra diz que o corpo

C = {a+ ib : a, b ∈ R}

dos numeros complexos e algebricamente fechado. Observe que a teoria de Galoisdesenvolvida ate agora nao depende de C ser algebricamente fechado, dependeapenas da existencia dos corpos de decomposicao de um polinomio (e do fato cheos subgrupos finitos do grupo multiplicativo de um corpo sao cıclicos - exercıciopara quem quiser).

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68 2. TEORIA DE GALOIS

Teorema 15 (Teorema fundamental da algebra). O corpo C dos numeroscomplexos e algebricamente fechado.

Demonstracao. Seja M/C uma extensao finita, mostraremos que M = C.A extensao M/R e finita de grau maior ou igual a |C : R| = 2. Seja F o fechonormal de M sobre R, entao F/R e uma extensao finita de Galois de grau maiorou igual a 2, logo podemos supor M = F , ou seja M/R e Galois.

Seja G = G (M/R), seja H um 2-subgrupo de Sylow de G e seja L = H ′ osubcorpo R ≤ L ≤ M correspondente a H. Entao L/R e uma extensao de grauımpar. Isso implica que L = R. De fato se α ∈ L entao |R(α) : R| e ımpar (poisdivide |L : R| pela formula do grau) logo o polinomio minimal f(X) de α sobreR tem grau ımpar. Mas um simples esboco de grafico mostra que todo polinomiode grau ımpar admite pelo menos uma raiz real, logo e redutıvel em R[X] se tivergrau maior que 1. Isso implica que |R(α) : R| = 1 ou seja α ∈ R. Segue queG = |M : R| e uma potencia de 2, ou seja G e um 2-grupo.

Segue que P = G (M/C) = C′ ≤ G e tambem um 2-grupo (sendo um subgrupode um 2-grupo). Suponha P 6= {1}, e seja Q um subgrupo maximal de G (M/C).Temos visto que Q tem ındice 2 em P (todo subgrupo maximal de um p-grupo naotrivial tem ındice p), logo o subcorpo correspondente Q′ na extensao de GaloisM/C tem grau 2 sobre C, ou seja Q′ = C(β) com β de grau 2.

Queremos mostrar que β ∈ C, o que leva a uma contradicao terminando oargumento. Pela formula de Bhaskara para mostrar que as raızes do polinomiominimal de β sobre C pertencem a C basta mostrar que para cada d = r+ is ∈ Cexiste c = x + iy ∈ C tal que c2 = d (aqui r, s, x, y ∈ R), ou seja x2 − y2 = r e

2xy = s. Para isso seja ρ =√r2 + s2 e seja α um numero real tal que cos(α) = r/ρ

e sin(α) = s/ρ (α existe porque (r/ρ)2 + (s/ρ)2 = 1). Sejam x =√ρ cos(α/2) e

y =√ρ sin(α/2). Temos x2 − y2 = ρ cos(α) = r e 2xy = ρ sin(α) = s. �

12. Construtibilidade com regua e compasso

Um numero complexo e dito construtıvel com regua e compasso se podeser costruıdo a partir de um segmento de comprimento 1 usando apenas regua ecompasso, ou seja podendo construir segmentos entre dois pontos, cırculos comdado centro passantes por um dado ponto, e podendo interceptar as linhas cons-truidas de tais formas. Lembre-se que e sempre possıvel construir a reta perpen-dicular a uma reta dada e passante por um dado ponto, o ponto medio de umsegmento, e e possıvel transladar e rotacionar segmentos.

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12. CONSTRUTIBILIDADE COM REGUA E COMPASSO 69

Teorema 16. Os numeros complexos construtıveis formam um corpo F talque se α ∈ F entao

√α ∈ F , ou seja os polinomios de grau 2 de F [X] sao

redutıveis. Em outras palavras F nao admite extensoes de grau 2.

Demonstracao. Precisamos mostrar que dados α e β construtıveis, α+ β,α − β, 1/α (quando α 6= 0), αβ e

√α sao construtıveis. Usando o fato que todo

numero complexo tem a forma a+ ib com a, b reais e facil se reduzir ao caso emque α e β sao reais. Faremos o produto e a raız quadrada, os outros sao deixadospor exercıcio. �

Teorema 17. α ∈ F se e somente se existe uma “torre radical”, ou seja umasequencia de corpos

Q = K0 < K1 < K2 < . . . < Km

tal que |Ki : Ki−1| = 2 para todo i = 1, . . . ,m, com a propriedade que α ∈ Km.

Em particular, sendo |Km : Q| = 2m, todo numero complexo construtıvel ealgebrico de grau sobre Q igual a uma potencia de 2.

Demonstracao. Observe que se existe uma tal serie entao cada Ki e obtidoadicionando a Ki−1 uma raız quadrada de um elemento de Ki−1. Como a raız

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70 2. TEORIA DE GALOIS

quadrada de um numero construtıvel e um numero construtıvel, deduzimos queα e construtıvel.

Reciprocamente suponha que α seja construtıvel. Isso significa que α e ocomprimento de um segmento que pode ser obtido a partir de um ponto inicialO (que pode ser a origem de uma referencia cartesiana) fazendo intersecoes deretas com retas, retas com circulos ou circulos com circulos. Como as retas saograficos de equacoes polinomiais de grau 1 e os cırculos sao graficos de equacoespolinomiais de grau 2, deduzimos que todos os pontos obtidos nesse processotem como coordenadas solucoes de equacoes polinomiais de grau 1 ou 2, logopertencem a um oportuno subcorpo de C em uma serie como no enunciado. �

Teorema 18. α ∈ C e construtıvel se e somente se o fecho de Galois M deQ(α) sobre Q tem grau |M : Q| igual a uma potencia de 2. Em outras palavras αe construtıvel se e somente se o grupo de Galois do polinomio minimal de α sobreQ e um 2-grupo.

Demonstracao. Seja M o fecho de Galois de Q(α), ou seja o corpo dedecomposicao do polinomio minimal f(X) de α sobre Q, e seja G = G (M/Q).Observe que M e gerado sobre Q pelos g(α) onde g ∈ G (as raızes de f(X)),logo se α e construtıvel entao g(α) e construtıvel para todo g ∈ G (basta aplicarg a uma torre radical), logo existem torres radicais alcancando todos os corposQ(g(α)) com g ∈ G, e por consequencia existe uma torre radical alcancando M .

Se G e um 2-grupo entao usando que o centro de G nao e trivial, por inducaoconseguimos construir uma serie

{1} = G0 < G1 < G2 < . . . < Gm = G

com Gi normal em G para todo i e Gi/Gi−1 de ordem 2 (contido no centro deG/Gi−1). Tomando os subcorpos correspondentes obtemos uma torre radical cujoultimo termo e M , logo contem α. �

Teorema 19. O n-agono regular e construtıvel se e somente se ϕ(n) e umapotencia de 2.

Demonstracao. Seja u um elemento de C de ordem multiplicativa igual a n.E claro que o n-agono regular e construtıvel se e somente se u e construtıvel. Q(u)e corpo de decomposicao de Xn − 1 sobre Q e vimos que G (Q(u)/Q) ∼= U(Z/nZ)tem ordem ϕ(n). O resultado segue. �

Por exemplo o 7-agono regular nao e construtıvel (sendo ϕ(7) = 6) mas o17-agono regular e construtıvel (sendo ϕ(17) = 16).

Teorema 20. Nao e possıvel quadrar o cırculo, duplicar o cubo e nem trisecaro angulo.

Demonstracao. Quadrar um cırculo de lado 1 significa encontrarum quadrado de area igual a area do cırculo, ou seja π, ou seja de lado√π. Tal quadrado nao pode ser construıdo porque

√π nao e algebrico (se fosse

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13. O TEOREMA DE ABEL 71

algebrico seria raız de um polinomio nao nulo f(X) logo π seria raız de f(X2),mas π e transcendente).

Duplicar um cubo de lado 1 significa construir um cubo de volumeo dobro do volume do cubo dado, ou seja 2. Isso nao e possıvel. De fato umcubo de volume 2 tem lado 3

√2 que nao e construtıvel porque tem grau 3 sobre

Q, e 3 nao e uma potencia de 2.Trisecar um angulo α significa, dado um angul de amplitude α,

construir um angulo de amplitude α/3. Isso em geral nao e possıvel. Para verisso observe primeiramente que construir um angulo de amplitude α e equivalentea construir cos(α) e sin(α) (interceptando com o cırculo unitario). A partir docırculo de centro a origem e raio unitario pode se construir o angulo de 60 graussendo cos(π/3) = 1/2 e sin(π/3) =

√3/2, mas nao e possıvel construir o angulo

de 20 graus porque definido x = cos(π/9) e y = sin(π/9) temos (x+ iy)3 = 1/2 +

i√

3/2 daı x3−3xy2 = 1/2 e usando y2 = 1−x2 obtemos x3−3x(1−x2)−1/2 = 0.Segue que x e raız de 8X3 − 6X − 1 que e irredutıvel logo cos(π/9) tem grau 3logo nao e construtıvel. �

Existem elementos de grau uma potencia de 2 que nao sao construtıveis, porexemplo considere f(X) com grupo de Galois S4 e α uma raız de f(X). Sejam G ogrupo de Galois de f(X), L = Q(α) e H = L′ o subgrupo correspondente. Temosque |G : H| = |L : Q| = 4 logo H e o estabilizador de um ponto e nao existemsubgrupos entre H e G diferentes de H e G. Segue que os unicos subcorpos deQ(α) sao Q e Q(α), logo α nao e construtıvel.

Um exemplo especıfico: considere f(X) = X4−4X+2, irredutıvel pelo criteriode Eisenstein, e seja α uma raız de f(X). Mostraremos que α nao e construtıvelexibindo um elemento de grau 3 no corpo de decomposicao do polinomio minimalde α sobre Q. Existem a, b, c, d reais tais que

f(X) = (X2 + aX + b)(X2 + cX + d).

Seja t = b+d. As contas mostram que t(t2−8) = 16 logo t e raız de X3−8X−16,irredutıvel em Q[X]. Se α fosse construtıvel entao t seria construtıvel, mas t temgrau 3.

13. O teorema de Abel

Considere E = K(X1, . . . , Xn), o corpo das fracoes deD = K[X1, . . . , Xn]. Seσ ∈ Sn existe um unico homomorfismo σ : E → E que fixa os elementos de K e talque Xi 7→ Xσ(i) para todo i = 1, . . . , n. Considere G = {σ : σ ∈ Sn} ≤ Aut(E),temos G ∼= Sn. Seja S = {e ∈ E : σ(e) = e ∀σ ∈ G} o subcorpo de Ecorrespondente a G. S e dito o corpo das funcoes racionais simetricas emX1, . . . , Xn.

As funcoes simetricas elementares nas variaveis X1, . . . , Xn sao

s0 = 1, sm :=∑

1≤i1<...<im≤n

(m∏k=1

Xik

)∀1 ≤ m ≤ n.

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72 2. TEORIA DE GALOIS

Por exemplo

s1 =

n∑i=1

Xi, s2 =∑i<j

XiXj , . . . , sn = X1X2 · · ·Xn.

E claro que K(s1, . . . , sn) esta contido em S. Observe que E e corpo de decom-posicao para (veja: formulas de Viete)

g(Y ) =

n∑i=0

(−1)isiYn−i = (Y −X1)(Y −X2) · · · (Y −Xn)

sobre K(s1, . . . , sn) e G e o subgrupo correspondente a S. Segue que a extensaoE/S e de Galois com grupo de Galois G ∼= Sn logo |E : S| = n! e sendo|E : K(s1, . . . , sn)| ≤ n! (o grupo de Galois de E/K(s1, . . . , sn) e isomorfo aum subgrupo de Sn) deduzimos K(s1, . . . , sn) = S. Se H e um qualquer grupofinito entao H ≤ Sn para algum n e usando a construcao acima segue que E/H ′

e extensao de Galois com grupo de Galois H. Resumindo:

Teorema 21. K(s1, . . . , sn) = S. Ou seja toda funcao racional simetrica efuncao racional das funcoes simetricas elementares.

Teorema 22. Todo grupo finito e grupo de Galois de uma extensao de Galois.

Por exemplo se n = 3 temos

s1 = X1 +X2 +X3, s2 = X1X2 +X1X3 +X2X3, s3 = X1X2X3,

g(Y ) = (Y −X1)(Y −X2)(Y −X3) = Y 3 − s1Y2 + s2Y − s3.

Sejam K corpo e t1, . . . , tn indeterminadas simultaneas sobre K (algebrica-mente independentes). A equacao geral de grau n e

f(X) =

n∑i=1

(−1)itiXn−i = 0.

Tal equacao e soluvel por radicais sobre K(t1, . . . , tn)?

Teorema 23 (Abel). A equacao geral de grau n sobre K(t1, . . . , tn) tem grupode Galois Sn, em particular e soluvel por radicais se e somente se n ≤ 4.

Demonstracao. Vimos acima que definido

g(Y ) =

n∏i=1

(Y −Xi) =

n∑i=0

(−1)isiXn−i

onde s0 = 1, K(X1, . . . , Xn) e corpo de decomposicao de g(Y ) sobre K(s1, . . . , sn)com grupo de Galois Sn. Seja E um corpo de decomposicao de f(X) sobreK(t1, . . . , tn) e escrevemos f(X) = (X − r1) · · · (X − rn).

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14. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - TEORIA DE GALOIS 73

Considere σ : K[t1, . . . , tn] → K[s1, . . . , sn] que fixa K e leva ti para si paratodo i = 1, . . . , n. Defina τ : K[X1, . . . , Xn]→ K[r1, . . . , rn] que fixa K e leva Xi

para ri para todo i = 1, . . . , n. Pelas formulas de Viete temos, para m = 1, . . . , n,

tm =∑

1≤i1<...<im≤n

ri1 · · · rim .

O homomorfismo τ ◦ σ fixa K[t1, . . . , tn].Observe que σ e isomorfismo K[t1, . . . , tn] → K[s1, . . . , sn] (injetividade: se

h ∈ K[t1, . . . , tn] com σ(h) = 0 entao h = τ(σ(h)) = 0), logo σ se extende aum isomorfismo dos corpos de fracoes e este se extende a um isomorfismo σ′ :K(t1, . . . , tn)[X] → K(s1, . . . , sn)[X] que leva X para X. Como σ′ leva f(X)para g(X) temos um isomorfismo dos corpos de decomposicao de f(X) e g(X)que entao tem o mesmo grupo de Galois, Sn. �

14. Resolucao dos exercıcios - Teoria de Galois

(1) Calcule o grau do corpo de decomposicao M (contido em C) sobre Qdos polinomios seguintes.

(a) X2, X2 − 1, X2 − 2, X2 − 3, X2 − 4.

Observe que se f(X) tem todas as raızes em Q entao o corpo dedecomposicao dele e Q, e o caso de X2, X2− 1 = (X − 1)(X + 1) e

X2−4 = (X−2)(X+2). Um c.d. deX2−2 e Q(√

2,−√

2) = Q(√

2),tem grau 2 sobre Q sendo X2 − 2 irredutıvel sobre Q (pelo criterio

de Eisenstein), e um c.d. de X2 − 3 e Q(√

3,−√

3) = Q(√

3), temgrau 2 sobre Q sendo X2 − 3 irredutıvel sobre Q (pelo criterio deEisenstein).

(b) X3 − 1, X3 − 4, X3 − 8.

X3−1 = (X−1)(X2+X+1), um c.d. e Q(u) onde u = −1/2+i√

3/2e uma raiz deX2+X+1 (irredutıvel porque nao tem raızes inteiras).Analogamente X3 − 8 = (X − 2)(X2 + 2X + 4), um c.d. e Q(u)

onde u = −1 + i√

3 e uma raiz de X2 + 2X + 4 (irredutıvel porquenao tem raızes inteiras).

(c) X3 + 1, X3 + 8.

X3 + 1 = (X + 1)(X2 −X + 1), um c.d. e Q(u) onde u e uma raizde X2 −X + 1, e X3 + 8 = (X + 2)(X2 − 2X + 4), um c.d. e Q(v)onde v e uma raiz de X2 − 2X + 4. O grau e 2 nos dois casos.

(d) X4 − 2, X4 − 16.

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74 2. TEORIA DE GALOIS

Uma raiz de X4 − 2 e α = 4√

2, e as outras sao iα, −α, −iα. Segueque um corpo de decomposicao e Q(α, i). Como |Q(α) : Q| = 4(sendo X4 − 2 irredutıvel pelo criterio de Eisenstein) e Q(α) ⊆ R,e i 6∈ R, segue que |Q(α, i) : Q| = |Q(α, i) : Q(α)| · |Q(α) : Q| =2 · 4 = 8.X4 − 16 = (X2 − 4)(X2 + 4) = (X − 2)(X + 2)(X2 + 4), logo umcorpo de decomposicao e Q(2i,−2i) = Q(i), tem grau 2 sobre Q.

(e) X4 + 1, X4 + 16.

As raızes de X4+1 sao (±1±i)/√

2, logo um corpo de decomposicao

e M = Q(i,√

2), e sendo Q(√

2) real e i 6∈ R deduzimos que |M :

Q| = 4. As raızes de X4 + 16 sao (±1± i)√

2 logo ele tem o mesmocorpo de decomposicao de X4 + 1.

(f) X4 − 6X2 + 6.

Farei esse exercıcio mais tarde no curso.

(g) (X2 − 2)(X2 − 3).

Os dois fatores X2 − 2, X2 − 3 sao irredutıveis pelo criterio deEisenstein. Sejam a =

√2, b =

√3. O corpo de decomposicao e

M = Q(a, b). Observe que b 6∈ Q(a), de fato se fosse b = ar + scom r, s ∈ Q entao 3 = b2 = 2r2 + s2 + 2ars que implica a =(3−2r2−s2)/2rs ∈ Q, uma contradicao. Segue que |M : Q(a)| = 2logo |M : Q| = |M : Q(a)| · |Q(a) : Q| = 2 · 2 = 4.

(h) X4 − 6X2 − 3 (dica: observe que M 6⊆ R).

Seja f(X) = X4− 6X2− 3 (irredutıvel pelo criterio de Eisenstein).

Resolvendo f(X) = 0 obtemos X2 = 3 ±√

12 = 3 ± 2√

3. Sejam

a =√

3 + 2√

3, b =√

3− 2√

3. As raızes de f(X) sao a,−a, b,−b,logo um corpo de decomposicao para f(X) sobre Q e M = Q(a, b).Temos Q(a) ⊆ R mas b 6∈ R, logo b 6∈ Q(a). Sendo b raiz deX2 − b2 ∈ Q(a)[X], temos |M : Q(a)| ∈ {1, 2}, mas tal grau nao e1 sendo b 6∈ Q(a). Sendo |Q(a) : Q| = 4 obtemos |M : Q| = |M :Q(a)| · |Q(a) : Q| = 2 · 4 = 8.

(i) X3 − 3X + 1 (dica: se u e raiz, u2 − 2 e raiz?).

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14. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - TEORIA DE GALOIS 75

Seja f(X) = X3− 3X + 1. Se f(u) = 0 entao u3 = 3u− 1. Usandoessa relacao calculamos

f(u2 − 2) = (u2 − 2)3 − 3(u2 − 2) + 1

= u6 − 6u4 + 12u2 − 8− 3u2 + 6 + 1

= (3u− 1)2 − 6u(3u− 1) + 9u2 − 1

= 9u2 − 6u+ 1− 18u2 + 6u+ 9u2 − 1 = 0.

Segue que u2 − 2 e raiz, logo (u2 − 2)2 − 2 = u4 − 4u2 + 2 =u(3u − 1) − 4u2 + 2 = −u2 − u + 2 tambem e raiz. Segue que u,u2−2 e−u2−u+2 sao raızes distintas de f(X) (uma igualdade entreduas delas daria uma equacao polinomial para u de grau menor que3, absurdo) logo Q(u) e um corpo de decomposicao para f(X) sobreQ, ele tem grau 3.

(2) Faca a lista dos elementos do grupo de Galois de um corpo de decom-posicao de X3 − 2 sobre Q. A acao do grupo de Galois no conjunto dasraızes e transitiva?

Seja G o grupo de Galois de um corpo de decomposicao M = Q(α, t)

de f(X) = X3− 2 sobre Q, onde α = 3√

2, t = e2πi/3. As raızes de f(X)sao α, tα, t2α. Se g ∈ G temos que g(α) e uma raiz de f(X), logo temostres possibilidades.• g(α) = α. Neste caso g(tα) pode ser tα ou t2α. No primeiro casotα = g(tα) = g(t)g(α) = g(t)α logo g(t) = t e g = 1. No segundocaso t2α = g(tα = g(t)g(α) = g(t)α logo g(t) = t2.

• g(α) = tα. Neste caso g(tα) pode ser α ou t2α. No primeiro casoα = g(tα) = g(t)g(α) = g(t)tα logo g(t) = t2. No segundo casot2α = g(tα) = g(t)g(α) = g(t)tα logo g(t) = t.

• g(α) = t2α. Neste caso g(tα) pode ser α ou tα. No primeiro casoα = g(tα) = g(t)g(α) = g(t)t2α logo g(t) = t. No segundo casotα = g(tα) = g(t)g(α) = g(t)t2α logo g(t) = t2.

Isso nos da 6 possibilidades. Como |G| = |M : Q| = 6, cada umadessas possibilidades determina um elemento de G.

(3) Seja M uma extensao de Q e seja g um isomorfismo de aneis M → M .Mostre que g(x) = x para todo x ∈ Q.

Seja m um inteiro positivo. Observe que m = 1 + 1 + . . . + 1 eg(1) = 1 (sendo g homomorfismo) logo g(m) = g(1 + 1 + . . . + 1) =g(1) + g(1) + . . .+ g(1) = mg(1) = m, e g(−m) = −g(m) = −m, e comoisso vale para qualquer inteiro positivo m, obtemos que g fixa todos osinteiros. Escrevendo x ∈ Q como x = a/b com a e b numeros inteirosobtemos entao xb = a logo a = g(a) = g(xb) = g(x)g(b) = g(x)b e segueque g(x) = a/b = x.

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76 2. TEORIA DE GALOIS

(4) Determine G(Q( 3√

2)/Q).

Seja α = 3√

2 e seja G = G(Q(α)/Q). Seja f(X) = X3 − 2. Observeque se g ∈ G entao g(α) ∈ Q(α) (sendo g um isomorfismo Q(α)→ Q(α)),e f(g(α)) = g(α)3 − 2 = g(α)3 − g(2) = g(α3 − 2) = g(0) = 0, logog(α) e raiz de f(X). Mas as raızes de f(X) sao α, αt e αt2, onde

t = −1/2 + i√

3/2 ∈ C−R. Sendo g(α) ∈ Q(α) ⊆ R obtemos g(α) = α.Mas entao g : Q(α)→ Q(α) e um isomorfismo de aneis que fixa α e fixatodos os racionais, logo g = 1. Isso mostra que G = {1}.

(5) Seja f(X) = X3 − 3X + 1 ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de umcorpo de decomposicao M de f(X) sobre Q. Sabemos pela lista anteriorque M = Q(u) onde u e uma raiz de f(X), e que u2 − 2 e uma outraraiz de f(X). Pelo teorema de hoje existe σ ∈ G que leva u para u2− 2.Mostre que G = 〈u〉 (grupo cıclico de ordem 3).

Seja v = u2 − 2, como visto e uma raiz de f(X). Sendo u raiz def(X) temos f(u) = 0 ou seja u3 − 3u + 1 = 0, que pode ser escritou3 = 3u− 1. Usando essa relacao calcularemos σ(v) e σ(σ(v)). Temos

σ(v) = σ(u2 − 2) = σ(u)2 − 2 = (u2 − 2)2 − 2 = u4 − 4u2 + 2

= u(3u− 1)− 4u2 + 2 = 3u2 − u− 4u2 + 2 = −u2 − u+ 2,

σ(σ(v)) = σ(−u2 − u+ 2) = −σ(u)2 − σ(u) + 2 = −(u2 − 2)2 − (u2 − 2) + 2

= −u4 + 4u2 − 4− u2 + 4 = −u(3u− 1) + 3u2 = u.

Segue que σ como permutacao das raızes u, v = u2 − 2 e w =−u2 − u + 2 e o 3-cıclo (uvw). Como σ e completamente determinadopela sua acao no conjunto das raızes, obtemos que σ tem ordem 3. Comoo grupo de Galois G do corpo de decomposicao Q(u) sobre Q tem ordem|Q(u) : Q| = 3 deduzimos que G = 〈σ〉.

(6) Seja f(X) = X4 − 5X2 + 5 ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de umcorpo de decomposicao M de f(X) sobre Q. Sejam

a =

√5 +√

5

2, b =

√5−√

5

2.

Vimos na aula anterior que as raızes de f(X) sao a,−a, b,−b. Peloteorema de hoje existe um σ ∈ G que leva a para b. Mostre que G = 〈σ〉(grupo cıclico de ordem 4). [Dica: calcule σ(

√5) lembrando que

√5 =

2a2 − 5 e lembre-se que ab =√

5. Deduza que σ(b) = −a.]

Temos σ(√

5) = σ(2a2 − 5) = 2σ(a)2 − 5 = 2b2 − 5 = −√

5, e

sendo ab =√

5 temos −√

5 = σ(√

5) = σ(ab) = σ(a)σ(b) = bσ(b) ou

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14. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - TEORIA DE GALOIS 77

seja σ(b) = −√

5/b = −a. Segue que σ(σ(b)) = σ(−a) = −σ(a) = −be σ(σ(σ(b))) = σ(−b) = −σ(b) = −(−a) = a. Ou seja σ e o 4-cıclo(a, b,−a,−b) e tem ordem 4. Mas sabemos que Q(a) e c.d. para f(X)sobre Q, logo pelo teorema |G| = |Q(a) : Q| = 4 logo G = 〈σ〉.

(7) Seja f(X) = X4 − 6X2 − 3 ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de umcorpo de decomposicao M de f(X) sobre Q. Mostre que G e isomorfo aum 2-Sylow de S4 (veja a lista anterior).

Como visto na lista anterior |M : Q| = 8, mas sabemos que |G| =|M : Q| e G age de maneira fiel no conjunto das 4 raızes de f(X), logoG e isomorfo a um subgrupo de S4 de ordem 8, ou seja um 2-Sylow deS4 (e um grupo diedral de ordem 8).

(8) Seja f(X) = X4 − 3X2 + 4 ∈ Q[X]. E irredutıvel (nao precisa mostrarisso). Seja G o grupo de Galois de um corpo de decomposicao M def(X) sobre Q.

• Mostre que se a ∈M e raiz de f(X) entao as raızes de f(X) sao a,−a, 2/a, −2/a e deduza que M = Q(a).

f(−a) = (−a)4 − 3(−a)2 + 4 = a4 − 3a3 + 4 = f(a) = 0 ef(2/a) = 16/a4−3(4/a2)+4 = (16−12a2 +4a4)/a4 = (16−12a2 +4(3a2−4))/a4 = 0. Segue que as raızes de f(X) sao a,−a, 2/a,−2/a(observe que duas quaisquer dessas raızes sao distintas, por exemplose fosse 2/a = −a entao teriamos a2 = −2, absurdo pois o polino-mio minimal de a sobre Q tem grau 4). Segue que M = Q(a).

• Seja σ ∈ G que leva a para b = 2/a (existe pelo teorema de hoje).Mostre que σ(b) = a (dica: calcule σ(b)2 e deduza que σ(b) = ±a,agora no caso σ(b) = −a calcule σ(ab)).

σ(b)2 = σ(b2) = σ(4/a2) = 4/σ(a)2 = 4/b2 = a2 logo σ(b) = ±a.Se fosse σ(b) = −a entao sendo ab = 2 teriamos

2 = σ(2) = σ(ab) = σ(a)σ(b) = b(−a) = −ab = −2,

isso contradiz o fato que σ e um Q-automorfismo (fixa os elementosde Q). Logo σ(b) = a.

• Mostre que G e isomorfo ao grupo de Klein (o 2-Sylow de A4).

Seja a ∈M uma raiz qualquer de f(X). Como observado, as raızesde f(X) sao a, −a, 2/a, −2/a. Segue que se σ ∈ G fixa a entaoσ = 1. Se σ(a) = −a entao σ(−a) = −(−a) = a e σ(2/a) = −2/a,σ(−2/a) = 2/a, segue que σ e (12)(34) (onde a corresponde a 1, −a

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78 2. TEORIA DE GALOIS

a 2, 2/a a 3 e −2/a a 4). Se σ(a) = 2/a entao como observado acimaσ(2/a) = a, σ(−a) = −σ(a) = −2/a e σ(−2/a) = −σ(2/a) =−a, segue que σ e (13)(24). Se σ(a) = −2/a entao σ(−2/a) =−2/σ(a) = −2/(−2/a) = a, σ(2/a) = 2/σ(a) = 2/(−2/a) = −a,σ(−a) = −σ(a) = 2/a, segue que σ e (14)(23). Segue que oselementos de G correspondem, em S4, exatamente aos elementos 1,(12)(34), (13)(24), (14)(23), logo G e isomorfo ao grupo de Klein.

(9) Seja f(X) = (X2 − 2)(X2 − 3) ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois deum corpo de decomposicao M de f(X) sobre Q. Seja A o grupo de

Galois de Q(√

2)/Q e seja B o grupo de Galois de Q(√

3)/Q. Mostreque G ∼= A×B.

Sejam a =√

2, b =√

3. Sejam A = {g ∈ G : g(b) = b}, B ={g ∈ G : g(a) = a}. Observe que A ∩ B = {1}. Alem disso |G| =|Q(a, b) : Q| = 4 logo G e abeliano (todo grupo de ordem 4 e abeliano)

logo AEG, B EG. O elemento g ∈ G que troca√

2 com −√

2 pertencea B, e o elemento que troca

√3 com −

√3 pertence a A. Segue que

|A| ≥ 2, |B| ≥ 2 logo |AB| ≥ 4, segue que AB = G, |A| = |B| = 2 e A e

isomorfo ao grupo de Galois de G(Q(√

2)/Q), B e isomorfo ao grupo de

Galois de G(Q(√

3)/Q). Deduzimos que G ∼= A×B.

(10) Seja K = Q. Dado o polinomio f(X) ∈ K[X] seja M o corpo dedecomposicao de f(X) sobre K contido em C e seja G = G(M/K) (ogrupo de Galois de f(X)). Calcule i : [M/K] → L (G) e j : L (G) →[M/K] (as correspondencias de Galois) nos casos seguintes (cf. as listasanteriores):

• X2 + 1. O corpo de decomposicao e M = Q(i), tem grau 2 sobreQ, logo |G| = 2 e escrevendo G = {1, σ} temos σ(i) = −i (porqueraızes de X2 + 1 sao levadas em raızes de X2 + 1). Segue que[M/K] = {Q,Q(i)} e L (G) = {{1}, G}. Temos Q′ = G, G′ = Q,Q(i)′ = {1} (isso e pelas propriedades gerais) e G′ = {a + ib ∈Q(i) : σ(a+ ib) = a+ ib} = Q. De fato σ(a+ ib) = a+ ib significaa + ib = a − ib ou seja b = 0. A equacao σ(a + ib) = a + ib eequivalente a −ib = ib ou seja b = 0 logo G′ = Q. Os reticulados[M/K] e L (G) sao os seguintes, onde as setas sao inclusoes e osnumeros indicam os graus a esquerda, os indices a direita.

M

Q

2

OO {1}

2

��G

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14. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - TEORIA DE GALOIS 79

• X3 − 1. A fatoracao e X3 − 1 = (X − 1)(X2 + X + 1). Seja

u = e2πi/3 = −1/2 + i√

3/2. u e raiz de X2 + X + 1, a outraraiz e −1 − u. Segue que M = Q(u) e um corpo de decomposicaopara X3 − 1, tem grau 2 sobre Q. Temos [M/K] = {M,K} e|G| = 2, escrevendo G = {1, σ} temos σ(u) = −1−u (porque raızesde X2 + X + 1 sao levadas em raızes de X2 + X + 1). Sabemosque Q′ = G, Q(u)′ = {1} e {1}′ = Q(u). Temos G′ = {a + bu ∈Q(u) : σ(a+ bu) = a+ bu} = Q pois σ(a+ bu) = a+ bu significab(−1 − u) = bu ou seja b = 0. Os reticulados [M/K] e L (G) saoos seguintes, onde as setas sao inclusoes e os numeros indicam osgraus a esquerda, os indices a direita.

M

Q

2

OO {1}

2

��G

• (X2 − 2)(X2 − 3). Um corpo de decomposicao e M = Q(√

2,√

3),

tem grau 4 sobre Q logo |G| = 4. Sejam u =√

2, v =√

3, e observe

que uv =√

6 tem grau 2 tambem. Se g ∈ G nao e a identidadeentao g(u) 6= u ou g(v) 6= v. No primeiro caso g(u) = −u (sendog(u) uma raiz de X2 − 2) e temos duas possibilidades: g(v) = vou g(v) = −v. No segundo caso g(v) = −v (sendo g(v) uma raizde X2 − 3) e temos duas possibilidades: g(u) = u ou g(u) = −u.Isso nos da quatro possibilidades, e cada uma delas ocorre sendo|G| = 4. Podemos resumir tudo na tabela seguinte.

Elemento Imagem de u Imagem de v Estruturag1 u v Identidadeg2 u −v 2-cıclo (v,−v)g3 −u v 2-cıclo (u,−u)g4 −u −v (u,−u)(v,−v)

Observe que g1 = 1 e g2g3 = g4. Escrevendo entaoG = {1, g2, g3, g4}os subgrupos de G sao {1}, G, 〈g2〉, 〈g3〉, 〈g4〉. Temos {1}′ = M ,M ′ = {1}, Q′ = G como sempre. Um elemento de M tem aforma m = a + bu + cv + duv. Segue que g2(m) = m significaa+ bu− cv−duv = a+ bu+ cv+duv ou seja −cv−duv = cv+duvou seja cv+duv = 0 ou seja c+du = 0 ou seja c = d = 0 e obtemos〈g2〉′ = {a+bu : a, b ∈ Q} = Q(u). Analogamente 〈g3〉′ = Q(v). Aigualdade g4(m) = m significa a+ bu+ cv+duv = a− bu− cv+duvou seja bu+ cv = 0 ou seja b = c = 0 logo 〈g4〉′ = {a+duv : a, d ∈Q} = Q(uv). Observe que G visto como grupo de permutacao noconjunto das raızes {u, v,−u,−v} nao e transitivo, as orbitas sao{u,−u} e {v,−v}. Os reticulados [M/K] e L (G) sao os seguin-tes, onde as setas sao inclusoes e os numeros indicam os graus a

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80 2. TEORIA DE GALOIS

esquerda, os indices a direita.

M

Q(u)

2

;;wwwwwwwwwQ(v)

2

OO

Q(uv)

2

ddHHHHHHHHH

Q2

ccFFFFFFFFF2

OO2

;;vvvvvvvvv

{1}

2}}zzzzzzzz

2

��

2

!!DDD

DDDD

D

〈g2〉2

""EEE

EEEE

E〈g3〉

2

��

〈g4〉

2||yyyyyyyy

G

• X4+1. Se trata de um polinomio irredutıvel. Sejam r = (1+i)/√

2,

s = (1 − i)/√

2. As raızes de f(X) = X4 + 1 sao r, s,−r,−s logoum corpo de decomposicao e M = Q(r, s). Observe que rs = 1,logo s = 1/r e M = Q(r) tem grau 4 sobre Q. Segue pela teoriaque |G| = 4. Se g ∈ G entao g(r) ∈ {r, s,−r,−s} (porque raızessao levadas em raızes) e o valor de g(r) determina o valor de g(s) =g(1/r) = 1/g(r). Sendo |G| = 4 cada possibilidade ocorre, logotemos G = {g1, g2, g3, g4} onde

Elemento Imagem de r Imagem de s Estruturag1 r s Identidadeg2 s r (r, s)(−r,−s)g3 −r −s (r,−r)(s,−s)g4 −s −r (r,−s)(s,−r)

Observe que g1 = 1 e g2g3 = g4. Escrevendo entaoG = {1, g2, g3, g4}os subgrupos de G sao {1}, G, 〈g2〉, 〈g3〉, 〈g4〉. Temos {1}′ = M ,M ′ = {1}, Q′ = G como sempre. Um elemento de M tem a formam = a+br+cr2+dr3 com a, b, c, d ∈ Q. A igualdade g2(m) = m sig-nifica, lembrando que r4 = −1, que br+cr2 +dr3 = −br3−cr2−d4ou seja c = 0 e b+ d = 0. Segue que 〈g2〉′ = {a+ b(r− r3) : a, b ∈Q} = Q(r − r3). Analogamente 〈g3〉′ = Q(r2) e 〈g4〉′ = Q(r + r3).

Note que (r − r3)2 = 2 e (r − r3)2 = −2, logo Q(r − r3) = Q(√

2)

e Q(r + r3) = Q(i√

2). Sendo r2 = i, temos Q(r2) = Q(i). Ob-serve que G visto como grupo de permutacao no conjunto das raızes{r, s,−r,−s} e transitivo. Os reticulados [M/K] e L (G) sao os se-guintes, onde as setas sao inclusoes e os numeros indicam os grausa esquerda, os indices a direita.

M

Q(√

2)

2

;;vvvvvvvvvQ(i)

2

OO

Q(i√

2)

2

ddHHHHHHHHH

Q2

ccGGGGGGGGGG2

OO2

;;vvvvvvvvvv

{1}

2}}zzzzzzzz

2

��

2

!!DDD

DDDD

D

〈g2〉2

""EEE

EEEE

E〈g3〉

2

��

〈g4〉

2||yyyyyyyy

G

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14. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - TEORIA DE GALOIS 81

• X3 − 3X + 1. Sabemos que chamada de u uma raiz de f(X) =X3−3X+1, o corpo de decomposicao de f(X) e M = Q(u) as raızesde f(X) sendo u, v = u2−2 e w = −u2−u+2. Pela teoria sabemosque |G| = 3, e escrevendo G = {1, σ, σ2} podemos supor σ(u) = v,daı σ2(u) = w e σ corresponde ao 3-cıclo (u, v, w). Como |M : K| =|G| = 3, neste caso [M/K] = {M,K}, L (G) = {{1}, G}. Observeque a igualdade σ(a + bu + cu2) = a + bu + cu2 (onde a, b, c ∈ Q)significa bv+cv2 = bu+cu2 ou seja b(u2−2)+c(u2−2)2 = bu+cu2

ou seja bu2−2b−cu2−cu+4c = bu+cu2 e isso implica −2b+4c = 0,b − c = c, −c = b daı b = c = 0 e G′ = Q. Os reticulados [M/K]e L (G) sao os seguintes, onde as setas sao inclusoes e os numerosindicam os graus a esquerda, os indices a direita.

M

Q

3

OO {1}

3

��G

• X4 − 5X2 + 5. Sejam

r =

√5 +√

5

2, s =

√5−√

5

2.

Vimos que M = Q(r) e o c.d. de f(X) = X4−5X2 +5 e G = 〈σ〉 ecıclico de ordem 4, σ corresponde ao 4-cıclo (r, s,−r,−s). Uma basede M sobre Q e {1, r, s, rs} e σ2(a+br+cs+drs) = a+br+cs+drse equivalente a −br − cs + drs = br + cs + drs ou seja b = c = 0,logo 〈σ2〉 = Q(rs) = Q(

√5). Os reticulados [M/K] e L (G) sao

os seguintes, onde as setas sao inclusoes e os numeros indicam osgraus a esquerda, os indices a direita.

M

Q(√

5)

2

OO

Q

2

OO

{1}

2

��〈σ2〉

2

��G

• f(X) = X4−3X2 +4. Sejam α =

√3+√−7

2 , β =

√3−√−7

2 . αβ = 2

logo β = 2/α e M = Q(α, β) = Q(α) e o corpo de decomposicaode f(X) sobre Q. Segue que |G| = |M : Q| = 4. Existe g ∈ Gque leva α para β. Temos g(β) = 2/β = α e g = (α, β)(−α,−β).Existe k ∈ G que leva α para −β. Temos k(−β) = 2β = α ek = (α,−β)(−α, β). Existe h ∈ G que leva α para −α. Temos

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82 2. TEORIA DE GALOIS

k(β) = −2/α = −β e k = (α,−α)(β,−β). Uma conta mostra queα−1 = − 1

4 (α3 − 3α), α−2 = 14 (3 − α2), α−3 = 1

16α(−3α2 + 5).

Observe que (α3 − α)2 = −4 e (α3 − 5α)2 = 28. Segue que 〈g〉′ =

Q(α3 − 5α) = Q(i), 〈k〉′ = Q(α3 − α) = Q(√

7) e 〈h〉′ = Q(α2) =

Q(i√

7).

G

〈g〉

2

=={{{{{{{{〈k〉

2

OO

〈h〉2

aaCCCCCCCC

{1}2

``BBBBBBBB2

OO2

==||||||||

Q

2yyrrrrrr

rrrrr

2

��

2

&&LLLLL

LLLLLL

Q(√

7)

2

%%LLLLL

LLLLL

Q(i)

2

��

Q(i√

7)

2xxrrrrrr

rrrr

M = Q(α)

(11) Seja M/K uma extensao de grau 2 e seja G = G(M/K). Mostre queK e fechado, ou seja G′ = K. [Dica: seja u ∈ M − K, mostre queM = K(u), deduza que M e um corpo de decomposicao do polinomiominimal de u sobre K, deduza que |G| = 2.]

Como u 6∈ K temos |K(u) : K| > 1 e sendo |M : K| = 2 temos2 = |M : K| = |M : K(u)| · |K(u) : K| logo M = K(u) (sendo K(u) 6=K). Seja f(X) = X2 + bX + c o polinomio minimal de u sobre K. Asoma das raızes de f(X) e −b logo a outra raiz de f(X) e −b − u ef(X) = (X − u)(X + b + u). Segue que um corpo de decomposicao eK(u,−b− u) = K(u) = M e pela teoria sabemos entao que |G| = |M :K| = 2. Podemos escrever G = {1, σ}. Segue que σ(u) = −b−u (porqueraızes sao levadas em raızes). Um elemento generico deM e do tipo ru+sonde r, s ∈ Q logo K ′′ = G′ = {ru+ s ∈M : σ(ru+ s) = ru+ s} = K,de fato σ(ru+ s) = ru+ s significa ru = r(−b− u) ou seja r = 0 (sendob e u linearmente independentes sobre Q). Deduzimos que K ′′ = K ouseja K e fechado.

(12) Sejam α = 3√

2, t = e2πi/3, K = Q, M = Q(α, t) (corpo de decomposicaode X3 − 2 sobre Q). Seja G = G(M/K). Quais sao os subcorpos L deM tais que g(`) ∈ L para todo ` ∈ L e para todo g ∈ G?

Usaremos a notacao na tabela do arquivo da aula teorica. TemosG = {1, g2, g3, g4, g5, g6}. Os subcorpos de M sao Q = G′, Q(α) = 〈g2〉′,Q(αt) = 〈g6〉′, Q(αt2) = 〈g4〉′, Q(t) = 〈g3〉′, M = {1}′. Dado umsubcorpo L de M , seja (∗) a propriedade “g(`) ∈ L para todo ` ∈ Le para todo g ∈ G”. Obviamente os subcorpos M e Q verificam (∗).Q(α) nao verifica (∗) sendo g3(α) = αt 6∈ Q(α). Q(αt) nao verifica (∗)sendo g3(αt) = αt2 6∈ Q(αt). Q(αt2) nao verifica (∗) sendo g3(αt2) =α 6∈ Q(αt2). Por outro lado Q(t) verifica (∗) porque gi(t) ∈ {t, t2}, logo

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14. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - TEORIA DE GALOIS 83

gi(t) ∈ Q(t), para todo i = 1, . . . , 6. Resumindo, os unicos subcorposde M que verificam (∗) sao Q, Q(t) e M (observe que os subgruposcorrespondentes sao exatamente os subgrupos normais de G).

(13) Descreva as correspondencias de Galois para a extensao M/Q onde Me o corpo de decomposicao de f(X) = X4−X3− 2X + 2 contido em C.

Observe que f(X) = (X − 1)(X3 − 2). Logo a correspondencia e amesma de X3 − 2 (onde e subentendido que cada elemento do grupo deGalois fixa a raiz racional 1).

(14) Descreva as correspondencias de Galois para a extensao M/Q onde Me o corpo de decomposicao de f(X) = X4 + 5X2 + 5 contido em C.

Sejam α =

√−5+

√5

2 , β =

√−5−

√5

2 . As raızes de f(X) sao α,

−α, β, −β. Temos αβ =√

5 = 2α2 + 5 logo β = (2α2 + 5)/α ∈Q(α) logo M = Q(α) e um corpo de decomposicao para f(X) sobre Q.

Existe g ∈ G que leva α para β. Temos g(√

5) = 2β2 + 5 = −√

5 logo

g(β) = −√

5/β = −α e g(−α) = −β, g(−β) = α. Segue que g e o

4-cıclo (α, β,−α,−β) e sendo |G| = 4 obtemos G = 〈g〉. E claro que

〈g2〉′ = Q(√

5).

G = 〈g〉

〈g2〉

2

OO

{1}

2

OO

Q

2��

Q(√

5)

2

��M = Q(α)

(15) Descreva as correspondencias de Galois para a extensao M/Q onde Me o corpo de decomposicao de f(X) = X4 −X2 + 1 contido em C.

Seja u = ei2π/12, as raızes de f(X) sao u, u5, u7, u11 logo M =Q(u) e um corpo de decomposicao para f(X) sobre Q. Existe g ∈ Gque leva u para u5, segue que g2(u) = u25 = u e g(u7) = u35 = u11,g = (u, u5)(u7, u11). Existe k ∈ G que leva u para u7, segue que k2(u) =u49 = u e k(u5) = u35 = u11 logo k = (u, u7)(u5, u11). Existe h ∈ Gque leva u para u11, segue que h(u5) = u55 = u7 e h = (u, u11)(u5, u7).Como |G| = |M : Q| = 4 obtemos G = {1, g, k, h}. Vamos calcular 〈g〉′.Um elemento de M tem a forma t = a + bu + cu2 + du3, e g(t) = tsignifica a + bu5 + cu10 + du3 = a + bu(u2 − 1) − c(u2 − 1) + du3 =a+ c− bu− cu2 + (b+ d)u3 logo b = c = 0. Segue que t = a+ du3 logo

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84 2. TEORIA DE GALOIS

〈g〉′ = Q(u3).

G

〈g〉

2

=={{{{{{{{〈k〉

2

OO

〈h〉2

aaCCCCCCCC

{1}2

``BBBBBBBB2

OO2

==||||||||

Q

2yyrrrrrr

rrrrr

2

��

2

''OOOOO

OOOOOO

OO

Q(u3)

2

%%KKKKK

KKKKK

Q(u2)

2

��

Q(u+ u−1)

2wwpppppp

ppppp

M = Q(u)

(16) Descreva as correspondencias de Galois para a extensao M/Q onde Me o corpo de decomposicao de f(X) = X4 − 2 contido em C. f(X) temgrupo de Galois D8 (o grupo diedral de ordem 8). G = D8 = 〈a, b〉 ondea = (13) e b = (12)(34). Observe que ab = (1234) tem ordem 4. Ossubgrupos normais de G sao {1}, 〈abab〉 = Z(G), 〈a, bab〉, 〈ab〉, 〈b, aba〉,G. O quociente G/Z(G) e isomorfo a C2×C2. As classes de conjugacaode G sao {1}, {abab}, {ab, ba}, {a, bab}, {aba, b}. Os subgrupos de Gsao os seguintes.

G

〈a, bab〉 ∼= C2 × C2

2

66lllllllllllllll〈ab〉 ∼= C4

2

OO

〈b, aba〉 ∼= C2 × C2

2

hhRRRRRRRRRRRRRRR

〈a〉

2

77pppppppppppp〈bab〉

2

OO

〈abab〉2

hhQQQQQQQQQQQQQ2

OO2

66mmmmmmmmmmmmm〈aba〉

2

OO

〈b〉2

ggNNNNNNNNNNNN

{1}2

kkWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW2

hhQQQQQQQQQQQQQQQ2

OO2

66mmmmmmmmmmmmmmm

2

33ggggggggggggggggggggggggggggggg

Observe que se g ∈ G entao g(α) ∈ {α, iα,−α,−iα} e g(i) ∈ {i,−i}.Como g(α) e g(i) determinam unicamente g, e |G| = 8, cada possibi-lidade ocorre. Vamos identificar α com 1, iα com 2, −α com 3 e −iαcom 4. Entao G e gerado por a = (13) e b = (12)(34). Como exemplovamos calcular 〈aba〉′ = {t ∈ Q(α, i) : aba(t) = t}. Podemos escrevert ∈ Q(α, i) como

c1 + c2α+ c3α2 + c4α

3 + c5i+ c6αi+ c7α2i+ c8α

3i

Sendo aba = (14)(23) = (α,−iα)(iα,−α), aba(i) = aba(αiα−1) =−iαα−1 = −i, segue que aba(t) e igual a

c1 − c2iα− c3α2 + c4(−iα3) + c5(−i) + c6(−α) + c7α2i+ c8(−α3)

logo c2 = −c6, c3 = 0, c4 = −c8, c5 = 0. Segue que t = c1 +c2α+c4α3−

c2αi+ c7α2i− c4α3i ou seja t = c1 + c2(α− αi) + c4(α3 − α3i) + c7α

2i.

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14. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - TEORIA DE GALOIS 85

Segue que 〈aba〉′ = Q(α(1− i), α3(1− i), α2i) = Q(α(1− i)). Da mesmaforma e possıvel calcular todos os subcorpos a partir dos subgrupos.

Q

2yytttttttttt

2

��

2

&&NNNNN

NNNNNN

N

Q(α2)

2{{vvvvvvvvv

2

��

2

$$IIII

IIII

IQ(i)

2

��

Q(iα2)

2xxqqqqqq

qqqq

2

��

2

''OOOOO

OOOOOO

Q(iα)

2

))TTTTTTT

TTTTTTTT

TTTQ(α)

2

$$JJJ

JJJJ

JJQ(α2, i)

2

��

Q((1− i)α)

2xxqqqqqq

qqqqq

Q((1 + i)α)

2ssggggg

gggggggggg

ggggggg

Q(α, i)

(17) (Curiosidade) Como visto X3−2 tem grupo de Galois S3 e X3−3X+1tem grupo de Galois A3. Usando um programa (por exemplo Wolfra-mAlpha, disponıvel na internet) compare as fatoracoes de X3−2 moduloos primos p ≤ 50 com as fatoracoes de X3 − 3X + 1 modulo os primosp ≤ 50. Voce percebera que existe um tipo de fatoracao (modulo os pri-mos) muito frequente para X3−2 que nao ocorre para X3−3X+1. UsarWolframAlpha e muito facil, por exemplo para fatorar X3− 2 modulo 5basta escrever

factorize x^3-2 modulo 5

p X3 − 2 X3 − 3X + 12 X3 X3 +X + 13 (X + 1)3 (X + 1)3

5 (X + 2)(X2 + 3X + 4) X3 + 2X + 17 X3 + 5 X3 + 4X + 111 (X + 4)(X2 + 7X + 5) X3 + 8X + 113 X3 + 11 X3 + 10X + 117 (X + 9)(X2 + 8X + 13) (X + 3)(X + 4)(X + 10)19 X3 + 17 (X + 10)(X + 12)(X + 16)23 (X + 7)(X2 + 16X + 3) X3 + 20X + 129 (X + 3)(X2 + 26X + 9) X3 + 26X + 131 (X + 11)(X + 24)(X + 27) X3 + 28X + 137 X3 + 35 (X + 14)(X + 28)(X + 32)41 (X + 36)(X2 + 5X + 25) X3 + 38X + 143 (X + 9)(X + 11)(X + 23) X3 + 40X + 147 (X + 26)(X2 + 21X + 18) X3 + 44X + 1

(18) Descreva as correspondencias de Galois sobre Q para os polinomios

X4 − 1, X5 − 1, X6 − 1, X7 − 1, X8 − 1.

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86 2. TEORIA DE GALOIS

Pode usar o fato que o grupo de Galois de Xn − 1 sobre Q e isomorfoa U(Z/nZ). Dada uma raız n-esima u de 1 de ordem multiplicativa n,cada elemento g ∈ G e identificado pela classe m modulo n, coprima comn, tal que g(u) = um. Verifique que todos os subcorpos sao estaveis.

• Seja f(X) = X4 − 1 e seja G o seu grupo de Galois sobre Q.G ∼= U(Z/4Z) = {1, 3} e cıclico gerado por 3. Sendo as raızes1,−1, i,−i, um c.d. sobre Q e M = Q(i), que tem grau 2 sobre Q,e os subcorpos sao Q e M . M ′ = {1} e Q′ = G.

• Seja f(X) = X5 − 1 e seja G o seu grupo de Galois sobre Q.G ∼= U(Z/5Z) = {1, 2, 3, 4} e cıclico gerado por 2. A fatoracaode f(X) = X5 − 1 e (X − 1)(X4 + X3 + X2 + X + 1). Sejau = ei2π/5, as raızes de f(X) sao 1, u, u2, u3, u4 logo um c.d. sobreQ e M = Q(u), tem grau 4 sobre Q. Como G e cıclico tem tressubcorpos, o unico nao trivial corresponde a 〈4〉 ≤ G. Seja L = 〈4〉′,vamos descrever L. Seja g ∈ G tal que g(u) = u4, entao 〈g〉′consiste dos m = a + bu + cu2 + du3 tais que g(m) = m, ou sejaa + b(−u3 − u2 − u − 1) + cu3 + du2 = a + bu + cu2 + du3. Seguea− b = a, c− b = d, d− b = c, −b = b ou seja b = 0 e c = d, segueque m = a+ c(u2 + u3) e L = 〈g〉′ = Q(u2 + u3). Seja α = u2 + u3,sabemos que α tem grau 2 (porque o subgrupo correspondente 〈g〉tem ındice 2), e α2 = u4 +u6 +2 = −1−u−u2−u3 +u+2 = 1−αlogo α2 + α − 1 = 0 e deduzimos α = (−1 ±

√5)/2, segue que

L = Q(α) = Q(√

5). Para mostrar que L e estavel basta calcularh(u2 + u3) onde h(u) = u2 e mostrar que h(u2 + u3) ∈ L. Temosh(u2) = u4 = −u3− u2− u− 1 e h(u3) = u6 = u logo h(u2 + u3) =−u3 − u2 − 1 ∈ L.

• Seja f(X) = X6 − 1 e seja G o seu grupo de Galois sobre Q.G ∼= U(Z/6Z) = {1, 5} e cıclico gerado por 5. A fatoracao def(X) = X6 − 1 e (X − 1)(X + 1)(X2 + X + 1)(X2 − X + 1) eu = ei2π/6 e raız de X2−X+1. Sendo |G| = 2 os unicos subcorpossao M e Q e M ′ = {1}, Q′ = G.

• Seja f(X) = X7−1 = (X−1)(X6 +X5 +X4 +X3 +X2 +X+1) eseja G o seu grupo de Galois sobre Q. Seja u = ei2π/7 e M = Q(u)o corpo de decomposicao de f(X) sobre Q. Sabemos que G ∼=U(Z/7Z) = {1, 2, 3, 4, 5, 6} e cıclico gerado por 3, em particular|Q(u) : Q| = |M : Q| = |G| = 6, logo o polinomio minimal de usobre Q tem grau 6. Sendo u raiz de X6 +X5 +X4 +X3 +X2 +X + 1, tal polinomio e o polinomio minimal de u sobre Q. Temos4 subcorpos porque os subgrupos de G sao {1}, 〈2〉, 〈6〉 e G. Sejam = a + bu + cu2 + du3 + eu4 + lu5, e sejam g, h determinadospor serem tais que g(u) = u2 e h(u) = u6. Para encontrar 〈g〉′ e

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14. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - TEORIA DE GALOIS 87

〈h〉′ precisamos resolver as equacoes g(m) = m e h(m) = m (veja adefinicao de H ′ quando H e um subgrupo).

Temos u7 = 1 logo g(m) = a+ bg(u) + cg(u)2 + dg(u)3 + eg(u)4 +lg(u)5 = a+ bu2 + cu4 + du6 + eu+ lu3 e sendo u6 = −1−u−u2−u3 − u4 − u5 temos

g(m) = a− d+ (b− d)u2 + (c− d)u4 − du5 + (e− d)u+ (l − d)u3.

Segue que g(m) = m se e somente se a−d = a, b−d = c, c−d = e,−d = l, e − d = b, l − d = d, ou seja d = 0, b = c = e, l = 0 em = a+ b(u+ u2 + u4), segue 〈g〉′ = Q(u+ u2 + u4)

Temos h(m) = a + bh(u) + ch(u)2 + dh(u)3 + eh(u)4 + lh(u)5 =a+bu6 +cu5 +du4 +eu3 +lu2 e sendo u6 = −1−u−u2−u3−u4−u5

temos

h(m) = a− b− bu+ (c− b)u5 + (d− b)u4 + (e− b)u3 + (l − b)u2.

Segue que h(m) = m se e somente se a− b = a, b = −b, c− b = l,d− b = e, e− b = d, l− b = c ou seja b = 0, c = l, d = e, segue quem = a+ c(u2 + u5) + d(u3 + u4) logo 〈h〉′ = Q(u2 + u5, u3 + u4) =Q(u2 + u5) (sendo (u2 + u5)2 = u4 + u3 + 2).

Segue que os subcorpos de Q(u) sao Q, Q(u+u2 +u4), Q(u2 +u5) eQ(u). Para mostrar que sao estaveis basta mostrar que definido k ∈G o elemento tal que k(u) = u3 temos k(u+u2+u4) ∈ Q(u+u2+u4)e k(u2 +u5) ∈ Q(u2 +u5) (por definicao de subcorpo estavel, sendok um gerador do grupo cıclico G).

k(u+ u2 + u4) = u3 + u6 + u12

= u3 − 1− u− u2 − u3 − u4 − u5 + u5

= −1− u− u2 − u4 ∈ Q(u+ u2 + u4),

k(u2 + u5) = u6 + u15 = −1− u− u2 − u3 − u4 − u5 + u

= −1− u2 − u3 − u4 − u5 ∈ Q(u2 + u5)

sendo u3 + u4 = (u2 + u5)2 − 2.

Observe que α = u+u2+u4 tem grau 2 sobre Q (porque o subgrupocorrespondente a Q(α) e 〈g〉, tem ındice 2), vamos procurar umaexpressao mais simples para α. Temos α2 = u2 + u4 + u + 2u3 +2u5 +2u6 = α−2−2α logo α2 +α+2 = 0, segue α = (−1± i

√7)/2

e por consequencia Q(α) = Q(i√

7).Observe que β = u2 + u5 tem grau 3 sobre Q (porque o subgrupocorrespondente a Q(β) e 〈h〉, tem ındice 3), vamos procurar uma

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88 2. TEORIA DE GALOIS

expressao mais simples para β. Usando u7 = 1 e u6 = −1 − u −u2 − u3 − u4 − u5 obtemos

β3 = (u2 + u5)3 = u6 + 3u9 + 3u12 + u15

= −1− u− u2 − u3 − u4 − u5 + 3u2 + 3u5 + u

= −1 + 2u2 − u3 − u4 + 2u5

= −1 + 2β − (β2 − 2) = −β2 + 2β + 1

logo β3 + β2 − 2β − 1 = 0. A partir dessa equacao nao e possıveldeduzir uma expressao mais simples para β.

O diagrama dos subcorpos de M e dos subgrupos de G e o seguinte.

M

Q(α)

3

<<zzzzzzzzQ(β)

2

bbDDDDDDDD

Q2

aaDDDDDDDD

3==zzzzzzzz

{1}

3~~|||||||| 2

!!BBB

BBBB

B

〈g〉2

!!CCC

CCCC

C〈h〉

3}}{{{{{{{{

G

• Seja f(X) = X8 − 1 e seja G o seu grupo de Galois sobre Q.G ∼= U(Z/8Z) = {1, 3, 5, 7} nao e cıclico, e isomorfo ao grupo deKlein.

A fatoracao de f(X) e (X − 1)(X + 1)(X2 + 1)(X4 + 1), e dadauma raız u de X4 + 1, as raızes de X2 + 1 sao u2 e −u2, as outrasraızes sao 1 = u8 e −1 = u4 logo o corpo de decomposicao def(X) e Q(u), igual ao corpo de decomposicao de X4 + 1, e asraızes de X8 − 1 sao exatamente as potencias de u. Sabemos queG ∼= U(Z/8Z) = {1, 3, 5, 7}. Sejam 1, g, h, k os quatro elementos deG. Eles sao determinados pelas igualdades g(u) = u3, h(u) = u5,k(u) = u7. Obviamente G′ = Q e {1}′ = M , agora precisamoscalcular os subcorpos correspondentes a 〈g〉, 〈h〉, 〈k〉. Seja m ∈M .Como uma base de M sobre Q e {1, u, u2, u3} (u tem grau 4 sendoraız do polinomio irredutıvel X4 + 1) temos m = a+ bu+ cu2 +du3

com a, b, c, d ∈ Q.

Para encontrar 〈g〉′ precisamos resolver a equacao g(m) = m (vejaa definicao de H ′ quando H ≤ G). Lembrando que g(u) = u3 eu4 = −1 temos

g(m) = a+ bg(u) + cg(u)2 + dg(u)3 = a+ bu3 + cu6 + du9 = a+ bu3 − cu2 + du.

Segue que g(m) = m se e somente se b = d e c = 0, ou sejam = a + b(u + u3), logo 〈g〉′ = Q(u + u3). Observe que α =

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14. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - TEORIA DE GALOIS 89

u + u3 tem grau 2 sobre Q (porque o subgrupo 〈g〉 tem ındice

2) e α2 = u2 + u6 + 2u4 = −2 ou seja α = ±i√

2 e concluimos

que 〈g〉′ = Q(i√

2). Sendo G gerado por g e por h, para mostrarque 〈g〉′ e estavel e suficiente mostrar que h(α) ∈ Q(α). Temosh(α) = h(u)+h(u)3 = u5 +u15 = u5 +u7 = −u−u3 = −α ∈ Q(α).

Para encontrar 〈h〉′ precisamos resolver a equacao h(m) = m. Lem-brando que h(u) = u5 e u4 = −1 temos

h(m) = a+ bh(u) + ch(u)2 + dh(u)3 = a+ bu5 + cu10 + du15 = a− bu+ cu2− du3.

Segue que h(m) = m se e somente se b = 0 e d = 0, ou sejam = a + cu2, logo 〈h〉′ = Q(u2). Observe que β = u2 tem grau2 sobre Q (porque o subgrupo 〈h〉 tem ındice 2) e β2 = −1 ouseja β = ±i e concluimos que 〈h〉′ = Q(i). Sendo G gerado por ge por h, para mostrar que 〈h〉′ e estavel e suficiente mostrar queg(β) ∈ Q(β). Temos g(β) = g(u2) = u6 = −u2 = −β ∈ Q(β).

Para encontrar 〈k〉′ precisamos resolver a equacao k(m) = m. Lem-brando que k(u) = u7 e u4 = −1 temos

k(m) = a+ bk(u) + ck(u)2 + dk(u)3 = a+ bu7 + cu14 + du21 = a− bu3− cu2− du.

Segue que k(m) = m se e somente se b = −d e c = 0, ou sejam = a + b(u − u3), logo 〈k〉′ = Q(u − u3). Observe que γ =u − u3 tem grau 2 sobre Q (porque o subgrupo 〈k〉 tem ındice

2) e γ2 = u2 + u6 − 2u4 = 2 ou seja γ = ±√

2 e concluimos

que 〈k〉′ = Q(√

2). Sendo G gerado por g e por k, para mostrarque 〈k〉′ e estavel e suficiente mostrar que g(γ) ∈ Q(γ). Temosg(γ) = g(u− u3) = u3 − u9 = u3 − u = −γ ∈ Q(γ).

O diagrama dos subcorpos foi visto em uma lista anterior.

Observacao: toda extensao de grau 2 e Galois. Isso podeser visto da maneira seguinte: seja M/K uma extensao de grau 2 eseja E ≥ M o fecho de Galois de M , G = G (E/K), entao M ′ e umsubgrupo de G de ındice |G : M ′| = |M : G′| = |M : Q| = 2 logo enormal, logo M ′′ = M e estavel em E/K, ou seja M/K e Galois. Emoutras palavras a frase “toda extensao de grau 2 e Galois” traduzida nocontexto dos grupos e “todo subgrupo de ındice 2 e normal”. O mesmoargumento (usando o teorema de Cayley generalizado) mostra que ofecho de Galois E/K de uma extensao L/K de grau n tem grau|E : K| menor ou igual a n! (traducao: o coracao normal de umsubgrupo H de ındice n de um grupo G tem ındice menor ouigual a n!: pense no homomorfismo de Cayley generalizado G → Sncom nucleo HG).

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90 2. TEORIA DE GALOIS

Uma maneira menos teorica de mostrar que toda extensao de grau 2e Galois e a seguinte: se M/K tem grau 2 entao seja u ∈M −K, temosK 6= K(u) logo K(u) = M (pela formula do grau, sendo |M : K| = 2primo), seja f(X) = X2 + bX + c o polinomio minimal de u sobre K.Mostraremos que M e corpo de decomposicao de f(X) sobre K, ou sejaque a raız v de f(X) distinta de u pertence a M . Temos (X−u)(X−v) =f(X) = X2 + bX + c ou seja X2 − (u+ v)X + uv = X2 + bX + c, segueque uv = c logo v = c/u ∈ K(u) = M sendo c ∈ K.

(19) Seja f(X) = X6−2. Calcule a ordem do seu grupo de Galois G sobre Q.Encontre um subgrupo normal abeliano N de G tal que G/N e abeliano.

Sejam α = 6√

2, u = ei2π/6. As raızes de f(X) sao α, αu, αu2, αu3,αu4, αu5 logo M = Q(α, u) e um c.d. de f(X) sobre Q. Como α ereal e u nao e real e tem grau 2 temos |M : Q| = 6 · 2 = 12. Observeque Q(u) e estavel (ou seja, e extensao de Galois de Q) sendo c.d. paraX6 − 1 sobre Q logo o subgrupo N = Q(u)′ e normal em G de ındice|G : N | = |Q(u) : Q| = 2 logo e normal de ordem 6 e G/N ∼= C2.Observe que (veja as aulas teoricas) N = G (M/Q(u)) e cıclico porqueQ(u) contem todas as raızes de X6 − 1 (as potencias de u). Segue queN e G/N sao cıclicos. Curiosidade: G e isomorfo ao grupo diedral deordem 12.

(20) Seja M/K extensao de Galois com grupo de Galois G e seja m ∈ M .Defina Tr(m) =

∑g∈G g(m), o traco de m. Mostre que Tr(m) ∈ K.

Como no caso da norma, se σ ∈ G temos σ(Tr(m)) =∑g∈G σg(m) =∑

h∈G h(m) = Tr(m) logo Tr(m) ∈ G′ = K.

(21) Seja M um corpo de decomposicao de X3− 2 sobre Q. Calcule a norma

e o traco de α = 3√

2, de t = e2πi/3 e de α+ t.

Elemento Imagem de α Imagem de t Estruturag1 α t Identidadeg2 α t2 2-cıclo (αt, αt2)g3 αt t 3-cıclo (α, αt, αt2)g4 αt t2 2-cıclo (α, αt)g5 αt2 t 3-cıclo (α, αt2, αt)g6 αt2 t2 2-cıclo (α, αt2)

Temos N(m) =∏6i=1 gi(m) e Tr(m) =

∑6i=1 gi(m) logo

N(α) = α2(αt)2(αt2)2 = α6t6 = 4,

T r(α) = 2α+ 2αt+ 2αt2 = 2α(1 + t+ t2) = 0,

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14. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - TEORIA DE GALOIS 91

lembrando que t3 = 1 e que t2 + t+ 1 = 0 temos

N(α+ t) = (α+ t)(α+ t2)(αt+ t)(αt+ t2)(αt2 + t)(αt2 + t2)

= [(α+ t)(αt+ t)(αt2 + t)] · [(α+ t2)(αt+ t2)(αt2 + t2)]

= [(α2t− α+ t2)(αt+ 1)] · [(α2t− αt+ t)(α+ 1)]

= [2t2 + α2t− α2t− α+ α+ t2] · [2t+ α2t− α2t− αt+ αt+ t] = 9.

E imediato pela definicao de traco que Tr(a+ b) = Tr(a) + Tr(b) paratodo a, b ∈M logo Tr(α+ t) = Tr(α) + Tr(t) = Tr(t) e

Tr(t) =

6∑i=1

gi(t) = t+ t2 + t+ t2 + t+ t2 = −3.

(22) Seja M um corpo de decomposicao de f(X) = X3 − 3X + 1 sobre Q,seja α ∈ M uma raız de f(X) e na extensao M/Q calcule a norma e otraco de α.

Lembre-se que as raızes de f(X) sao α, α2 − 2 e −α2 − α + 2 e ogrupo de Galois e G = 〈g〉 onde g(α) = α2 − 2. Segue que a norma deα e

N(α) = αg(α)g2(α) = α(α2 − 2)(−α2 − α+ 2)

= (α3 − 2α)(−α2 − α+ 2) = (α− 1)(−α2 − α+ 2)

= −(3α− 1)− α2 + 2α+ α2 + α− 2 = −1,

T r(α) = α+ g(α) + g2(α) = α+ α2 − 2− α2 − α+ 2 = 0.

(23) Seja F/K uma extensao de corpos e seja M o fecho de Galois de Fsobre K, G = G (M/K). Mostre que M e gerado pelos corpos σ(F )onde σ ∈ G.

Escrevendo F = K(a1, . . . , an) temos M = K(A1, . . . , An) onde Aie o conjunto das raızes do polinomio minimal de ai sobre K. Se v ∈ Aiexiste σ ∈ G tal que σ(ai) = v logo para todo i o conjunto Ai estacontido no corpo gerado sobre K pelos σ(F ) onde σ ∈ G.

(24) Seja G um grupo soluvel finito. Mostre que G e policıclico, ou seja existeuma serie {1} = G0CG1C . . .CGn = G tal que Gi/Gi−1 e cıclico paratodo i = 1, . . . , n. Isso permanece verdadeiro se G for infinito?

Pela definicao de grupo soluvel e suficiente mostrar o enunciadoquando G e abeliano. Mostraremos o resultado por inducao sobre |G|.Seja x ∈ G nao trivial e N = 〈x〉EG, entao N e cıclico e G/N e abelianode ordem menor que |G| logo G/N e policıclico por hipotese de inducao,seja N/N = G0/N EG1/N E . . .EGn/N = G/N uma serie com todos

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92 2. TEORIA DE GALOIS

os fatores cıclicos. Entao a serie {1}EN EG1E . . .EGn = G tem todosos fatores cıclicos, logo G e policıclico.

Um grupo soluvel infinito nao precisa ser policıclico. De fato observeque todo grupo policıclico e finitamente gerado: se tivermos uma serie{1} = G0 C G1 C . . . C Gn = G tal que Gi/Gi−1 e cıclico para todoi = 1, . . . , n, digamos Gi/Gi−1 = 〈giGi−1〉, entao 〈g1, . . . , gn〉 = G. Poroutro lado todo grupo finitamente gerado e finito ou enumeravel, logopor exemplo o grupo aditivo R dos numeros reais nao e policıclico.

(25) Seja f(X) = X5−4X+2 (irredutıvel em Q[X] pelo criterio de Eisenstein)e seja M um corpo de decomposicao de f(X) sobre Q com grupo deGalois G, pensado como subgrupo de S5 agindo nas 5 raızes de f(X).

(a) Mostre que f(X) tem tres raızes reais e duas raızes complexas con-jugadas (estudando o grafico de f).

A derivada de f e f ′(X) = 5X4−4 que e positiva para X ≤ − 4√

4/5

e X ≥ 4√

4/5, e sendo f(0) = 2 e f(1) = −1 deduzimos pelo graficoque f tem exatamente tres raızes reais. As outras duas sao entaocomplexas conjugadas.

(b) Considere a conjugacao complexa a+ ib 7→ a− ib para mostrar queG contem um 2-cıclo.

A conjugacao complexa fixa as tres raızes reais e troca entre elasas duas raızes complexas conjugadas, logo corresponde a um 2-cıclono grupo de Galois.

(c) Mostre que 5 divide |G| (pense na transitividade) e deduza que Gcontem um 5-cıclo.

Sendo f(X) irredutıvel, G age de maneira transitiva no conjuntodas 5 raızes logo 5 divide |G| pelo princıpio da contagem.

(d) Usando o fato que S5 e gerado por um qualquer 5-cıclo junto comum qualquer 2-cıclo (nao precisa mostrar isso) deduza que a equacaof(X) = 0 nao e soluvel por radicais.

Pelos itens anteriores G contem um 2-cıclo e um 5-cıclo logo G ∼= S5

nao e soluvel (como visto) logo f(X) = 0 nao e soluvel por radicais.

(26) Encontre o grau do corpo de decomposicao de X4 − 6X2 + 6 sobre Q.

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14. RESOLUCAO DOS EXERCICIOS - TEORIA DE GALOIS 93

f(X) = X4 − 6X2 + 6 = (X − α)(X + α)(X − β)(X + β) onde

α =√

3 +√

3 e β =√

3−√

3. SejaG = G (M/Q) ondeM = Q(α, β) e ocorpo de decomposicao de f(X) sobre Q. Se g ∈ G entao g(−α) = −g(α)e g(−β) = −g(β). Segue que g e um dos elementos seguintes.

g1 = 1, g2 = (α,−α), g3 = (β,−β), g4 = (α,−α)(β,−β),

g5 = (α, β)(−α,−β), g6 = (α,−β)(−α, β),

g7 = (α, β,−α,−β), g8 = (α,−β,−α, β)

Observe que H = {g1, . . . , g8} e um grupo que contem o grupo de GaloisG de f(X), e sendo G transitivo, se G 6= H tem apenas duas possibili-dades:• G = {g1, g4, g5, g6}. Neste caso todos os elementos de G fixam αβ

mas αβ =√

6 6∈ Q, contradicao.• G = 〈g7〉 = {g1, g7, g4, g8}. Neste caso todos os elementos de G

fixam αβ(α2 − β2) =√

6 · 2√

3 = 6√

2 6∈ Q, contradicao.Segue que G = H e |M : Q| = |G| = 8.

(27) (BONUS - Facultativo - Pesquise na internet em ingles) Seja M/K ex-tensao de Galois de grau n. Todo α ∈ M determina a funcao K-linearfα : M → M dada por fα(x) := αx. Apos escolha de uma base de Msobre K a funcao fα pode ser vista como matriz n× n com coeficientesem K. Mostre que det(fα) = N(α) e Tr(fα) = Tr(α) (onde o traco deuma matriz e a soma dos elementos diagonais).

Solucao: deixo para depois.