NOTAS PRÉVIAS SOBRE A GEOLOGIA DE TRÁS-OS-MONTES … · trata-se de uma nota prévia, baseada...

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NOTAS PRÉVIAS SOBRE A GEOLOGIA DE TRÁS-OS-MONTES ORIENTAL 3 - Alguns aspectos geológicos da região de Mogadouro POR A. RIBEIRO Colahorador do Centro de Estudos de Geologia da Faculdado de de Lisboa MANUEL M. MARQUES Investigador da Junta de Investigações do Ultramar J. DE A. REBELO Assistente da de Ciências do Lisboa INTRODUÇÃO o presente estudo, iniciado em Agosto de 1960, integra-se noutro, mais geral, que tem vindo a ser realizado por colabo- radores do Centro de .li:studos de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa, desde o verão de 1959, sobre a região de Trás-os-Montes oriental (1). Refere-se quase exclusivamente à zona de Mogadouro (2) (1) Notas Prévias sobre a geologia de Trás-os-Montes oriental 1 - O Ordovícico ele Vila Flor e a linha de fractura da Vilariça, por A. Ribeiro, C. Mata e·M. Ramos. 2 - O Ordovícico de Abreiro-Murça e a linha de fractura Torre de D. por A. Ribeiro, J. de A. Rebelo e F. Coelho. Boletim do Museu e Labol'atório 1vIinerálógico e Geológico da Faculdade de Ciências de Lisboa, págs. 127-137, Li.<>"boa, 1960 .. (2) Reservámos para um estudo geológico de toda a região nordes- tina os problemas que não são específicos da área de Mogadouro, mas comuns a todo o NE de Trás-os-Montes.

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NOTAS PRÉVIAS SOBRE A GEOLOGIA DE TRÁS-OS-MONTES ORIENTAL

3 - Alguns aspectos geológicos da região de Mogadouro

POR

A. RIBEIRO Colahorador do Centro de Estudos de Geologia

da Faculdado de Ci~ncias de Lisboa

MANUEL M. MARQUES Investigador da Junta de Investigações do Ultramar

J. DE A. REBELO Assistente da l.<~aculdade de Ciências do Lisboa

INTRODUÇÃO

o presente estudo, iniciado em Agosto de 1960, integra-se noutro, mais geral, que tem vindo a ser realizado por colabo­radores do Centro de .li:studos de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa, desde o verão de 1959, sobre a região de Trás-os-Montes oriental (1).

Refere-se quase exclusivamente à zona de Mogadouro (2)

(1) Notas Prévias sobre a geologia de Trás-os-Montes oriental 1 - O Ordovícico ele Vila Flor e a linha de fractura da Vilariça, por A. Ribeiro, C. Mata e·M. Ramos. 2 - O Ordovícico de Abreiro-Murça e a linha de fractura Torre de D. Chama-Meirele~, por A. Ribeiro, J. de A. Rebelo e F. Coelho. Boletim do Museu e Labol'atório 1vIinerálógico e Geológico da Faculdade de Ciências de Lisboa, págs. 127-137, Li.<>"boa, 1960 ..

(2) Reservámos para um estudo geológico de toda a região nordes­tina os problemas que não são específicos da área de Mogadouro, mas comuns a todo o NE de Trás-os-Montes.

SGP
Referência bibliográfica
Boletim da Sociedade Geológica de Portugal, Vol. XV, Fasc. I, 1963.

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(abrangida pela folha 107 da C. M P. na esc. 1:~õ.000) bem como a observações efectuadas em áreas vizinhas (folhas 108 e 108-A, 120 e 1~1 do mesmo mapa).

Con vém, toda via, salientar a natureza deste estudo: trata-se de uma nota prévia, baseada quase exclusivamente em observações de campo e, como tal, parcelar, esquemática e provisória.

N a região referida podemos considerar as seguintes enti­dades geológicas:

I - Complexo xisto-quartzítico ante-ordovícico

Abrangendo grande parte do N E de Trás-os Montes, esta formação é constituída essencialmente por quartzitos e xistos variados, com todas as transições entre eles, em intercalações múltiplas. Sendo paleontologicamente estéril, apenas se pode afirmar seguramente que a formação!é ante-ordovícica, pelas razões que adiante apresentaremos.

Na região em estudo, intercalados neste Complexo, obser­vam-se, ainda, xistos anfibólicos e clo/'ito-anfibólicos, cuja origem é controversa.

11- Ordovícico

Constitui uma série iniciada Ipor ~um conglomerado de base, ao qual se seguem camadas xisto-quartzílicas e, final­mente, espessa formação xistenta. Nas camadas xisto-quar­tzíticas encontram-se Oruziana e Vexillum, O que permite atribuir-lhes idade skidaviana. Deste modo, o conglomerado de base pode, póis, representar quer o Tremadociano, quer o Skidaviano inferior; a formação xistenta representa, sem dúvida, o Lanvirniano-Landeiliano.

III - Rochas eruptivas e orto-metamórficas

Pót'fit'os e ortogncrisses

No Complexo xisto-quartzítico observam-se numerosas intrusões de pórfiros e gnaisses, cuja origem eruptiva foi pos­sível estabelecer. Apresentam-se sob a forma de filões, solei­ras (<<sills») ou pequenas intrusões discordantes.

Granitos

Distribuem-se por manchas variadas (Vila de Ala, Vilari­nho dos Galegos, Peredo da Bemposta e Bemposta), tratan­do-se, geralmente, de granitos de grão médio, de d.uas mícas.

IV - Filões de quartzo

Cortando as formações do Complexo xisto- quartzílico, observam-se importantes filões quartzosos, bem como, local­mente, densa rede de filonetes da mesma natureza.

* * Quando se examina a distribuição destas entidades geoló­

gicas verifica-se que: 1- O Ordovícico faz parte de um arco que rodeia o

Complexo xisto-quartzítico; este arco tem forma aproximada­mente elíptica, com o eixo maior disposto na direcção NW-SE. As camadas orientam-se paralelamente ao arco referido e inclinam sempre para o interior deste, de tal modo que a base da formação aflora no exterior do arco e, do lado interno, o contacto com o _ Complexo é feito por camadas mais elevadas.

2 - No Complexo, suficientemente variado para que as numerosas intercalações nele existentes possam ser utilizadas como leitos de referência e portanto de estrutura fàcilmente reconhecível, as camadas dispõem-se segundo um arco para-

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leIo ao anterior e mais interno. Inclinam geralmente para o interior do arco mencionado, sobrepondo-se aos xistos do Ordovícico. Na realidade, verifica-se que cavalgam as cama­das do referido sistema.

Observa-se ainda a existência de pórfiros, ortognaisses e anfibolitos, sobretudo na zona mais interna do arco do Com­plexo, em relação com uma estrutura anular, em que se integram rochas variadas (peridotitos, gabros, antibolitos, pór­tiros ácidos e básicos), cujo bordo corre paralelamente ao dito arco, a norte de Mogadouro. Esta estrutura nunca atinge o Ordovícico.

Os granitos mostram-se discordantes em relação à estru-tura atrás citada, interrompendo, localmente, o contacto, em que o Complexo xisto-quartzítico cavalga o Ordovícico.

Sistemas de falhas de direcções variadas parecem cortar as formações anteriores. Mas porque as camadas, mesmo as mais resistentes, se adaptam às rejeições impostas pelos referi­dos acidentes, conclui-se que estes sistemas devem ter sido contemporâneos ou levemente posteriores ao dobramento visto que, quando se deram, a plasticidade do conjunto era ainda grande.

1-COMPLEXO XISTO-QUARTZÍTICO ANTE-ORDOVÍCICO

É constituído por variados tipos petrográficos, a saber:

Quartzitos e xistos quartzíticos

São as rochas mais destacadas dentro do Complexo, pela espessura que mostram, pela constância lateral que apre- ' sentam, pela competência com que reagiram aos dobramentos e pelas cristas que originaram. Estes factores fazem delas os elementos mais favoráveis à pesquiza da estrutura, pois o arco do Complexo é mais claramente patenteado neste tipo litológico.

São ora )\:istóides (desenvolvendo-se então, nos planos

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de xistosidade, a sericite), ora compactos (quando mais puros). Por vezes possuem pigmentos ferruginosos.

Passam gradualmente às rochas que os acompanham, por intermédio de xistos, onde alternam, em leitos muito finos (máximo 2 mm), material pelítico, transformado em sericite e (ou) clorite, e material psamítico; os quartzitos xistóides passam a xistos abundantemente sericíticos que, quando alterados, são amarelo-avermelhados.

Grauvaques

São numerosas as intercalações de grauvaques escuros ou esverdeados, ricos de matéria calcária, com xistosidade ora nítida, ora apagada; por vezes contêm pirite.

Xistos sericíticos e clorítícos

As rochas mais abundantes são os xistos sericíticos, com percentagem de clorite variável, podendo mesmo dominar sobre a sel'Ícite. Por isso, a cor destas rochas varia de cin­zenta clara a verde.

Geralmente, estas rochas são atravessadas por numero­sos veios de quartzo, concordantes ou discordantes em relação à xistosidade, por vezes muito dobrados. Tal facto não se observa tão vulgarmente nas formações que a seguir se mencionam.

Xistos «borra de vinho»

São xistos argilosos, por vezes um pouco luzentes. Devem a sua cor, certamente, a minerais de ferro que se dis­tl'Íbuem por toda a massa da rocha. Em alguns casos, origi­nam finas intercalações ou estão incorporados em xistos clorí­ticos. Esta associação pode explicar-se fàcilmente, se se tiver em linha de conta que num xisto com algum ferro se forma clorite e não sericite, correspondendo os xistos borra de vinbo a teores anormalmente elevados daquele elemento,

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Anfibolitos e xistos clorilo-anfibólicos

Estes dois tipos de rocbas são difíceis de separar, devido à existência de passagens graduais entre eles, o que leva a pensar que parte dos xistos cloríticos tenba resultado da transformação dos xistos anfibólicos. A fácies é a dos «green schist» dos autores ingleses, passando a anfibolitos epidóticos; é admissível que exista origem dupla, como acontece para todas as rocbas desse tipo:

a) - Algumas devem corresponder a formações sedimen­tares em que, por conterem teores elevados de ferro, se formou clorite em vez de sericite.

b) - Noutros casos os xistos anfibólicos devem corres­ponder a margens de intrusões de orto-anfibolitos, onde as acções dinâmicas permitiram a xistificação da rocba, enguanto o núcleo, mais rijo, resistiu melhor a essas acções.

Não possuímos critérios que permitam discernir, em cada caso, qual o tipo de que se trata.

II - ORDOVÍCICO

Um corte na estrada de Moncorvo a Mogadouro mostra, por alturas do Km 65, que ao granito de Lagoaça sucede, para norte, uma série xisto-quartzítica, onde ocorrem numero­sas bilobites (Cruziana) e que, portanto, corresponde ao Ski­daviano. Seguem-se xistos cinzentos, listrados, que (ao Km 58,7) são cavalgados pelos xistos do Complexo xisto­quartzítico, desenvolvendo-se uma zona de esmagamento múl­tipla, na extensão de cerca de 100 metros; há mesmo uma caixa de falba, com fragmentos de quartzo, quartzito e xisto, fortemente inclinada no sentido do cavalgamento (Est. III, ' fig. 1).

Esta disposição observa-seen tre os meridianos de Cas­telo Branco e de Tõ, embora na zona oriental estejam inter­postas várias manchas graníticas (Vilarinbo dos Galegos, Peredo da Bemposta). Na estrada de Santiago a Vila dos Sinos e Vilarinho dos Galegos a sucessão m.ostra-se, porém,

mais completa: 1500 m a norte de Vilarinho observa-se um conglomerado de base, intensamente metamorfizado (Est. 1, figs. 1 e 2), o que o torna dificilmente reconhecível, mas no qual se podem ainda distinguir, numa matriz xistenta, alguns calhaus rolados de quartzo e mesmo certos níveis francamente psamíticos, estando o conjunto obliterado pela formação de andaluzite e biotite e introdução de quartzo de exsudação. Segue-se uma alternância de xistos, quartzitos (Est. II, fig. 1) e xistos quartzíticos (que, um Km a NNE de Vila dos Sinos, forneceram Veroillum) e, no topo, espessa ban­cada quarlzítica (V. t. de S.ta Bárbara 2.8 ). O cavalgamento que limita a norte a mancha ordovícica é aqui pouco vísivel, devido à intrusão do granito de Vila de Ala e ao desenvolvi­mento de uma superfície de aplanação (coberta por uma pelí­cula de depósitos), onde os afloramentos rareiam.

Este último corte mostra que o Ordovícico abrange maior extensão do que a que lhe é atribuída nos mapas geológicos de 1899 e 1952; parece ter havido continuidade entre a man­cha de Lagoaça e a de Atenor, que têm de resto litologia semelhante.

Esta continuidade foi depois interrompida por várias manchas graníticas, nomeadamente a de Bemposta.

III - ROCHAS ERUPTIVAS E ORTO-METAMÓRFICAS

Orlognaisses e pórfiros

Na região de Mogadouro existem rochas de textura por­fírica, bem como gnaisses, cuja filiação em pórfiros foi possí­vel estabelecer.

Os gnaisses encontram-se sobretudo a N e E de Moga­douro. São rochas de grão médio, com fenocristais de feldspato e quartzo imersos numa matriz filitosa esverdeada. O folheado está geralmente bem deseu vol vido. Formam soleiras, pelo que poderiam ser tomados por lentilhas de rochas arcósicas que tivessem sofrido posteriores acções dinamometamórficas, conjuntamente com os xistos encaixantes. Porém, vários factos

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mostram que a rocha original era eruptiva, possivelmente porfírica.

Em primeiro lugar, os contactos, quando observados em pormenor, são irregulares porque a massa principal da intru­são envia digitações para as rochas encaixantes.

Além disso, as intercalações de gnaisse não têm, por vezes, continuidade lateral; terminam bruscamente, sem transição para os xistos encaixantes.

A rocha original parece ter sido um pórfiro, dada a textura actual que os gnaisses exibem.

Uma rocha aberrante ocorre, por vezes, no contacto com o gnaisse; parece tratar-se, à primeira vista, de um quartzito com pigmentos ferruginosos, que lhe conferem cor arroxeada, ou então de uma corneana.

Entre os locais em que se observa, pode citar-se o Alto <la Castanheira, junto da estrada de Mogadouro a Paradela, perto do cruzamento para Brunhoso.

Os pórfiros formam filões subconcordantes com as rochas encaixantes ou pequenas intrusões. Apresentam fenocrislais de feldspato e raros de quartzo, incluídos numa matriz irre­solúvel a olho nú, de tons variados mas predominando o cin­zento·azulado. Os fenocristais raramente ultrapassam 1 cm de diâmetro

Os conlactos com a rocha encaixante são geralmente nítidos, podendo aparecer, por vezes, corneanas.

A distribuição destes pórfiros é muito dispersa. Existem fiiões quer no interior do arco quartzítico, quer no próprio arco. Uma pequena intrusão em forma de arco de ferradura existe a E de Mogadouro. O núcleo não sofreu deformação, , mas a margem mostra-se tectonizada, originando-se uma rocha em tudo semelhante ao gnaisse, o que corrobora a hipótese atrás emitida sobre a origem dos gnaisses.

Conforme veremos noutro trabalho, os gnaisses e pórfiros representamo bordo externo de uma intrusão do tipo lopolí­tico, que abrange rochas variadas, desde peridotitos a pórfiros ácidos.

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Granitos

As principais manchas gr'aníticas vêm indicadas, em tra­ços gerais, no mapa de 1899. Ocupar-nos-emos apenas das manchas de Vila de Ala e de Vilarinho dos Galegos.

VILA DE ALA - O afloramen to é constituído por um granito de grão médio a grosseiro, de duas micas; apresenta uma auréola de metamorfismo muito reduzida. Estende se por cerca de i Km2, a sul desta povoação, parte da qual assenta nele.

VILARINHO DOS GALEGOs-Este afloramento, não assinalado em qualquer dos mapas geológicos de 1899 e 195'2, é formado por um granito de grão médio a grosseiro, essencialmente mos­covítico, atravessado por densa rede, irregular, de veios pegma~ títicos com turmalina. lTorma pequena mancha rodeada por uma desen vol vida auréola de metamorfismo onde existem mica~ xistos biotíticos, micaxistos andaluzíticos (Est. III, fig. 2), etc,; o conjunto é cortado por apertada rede de filõe"s pegmatíticos com granadas.

IV-FILÕES DE QUARTZO

Os filonetes de quartzo abundam extraordinàriamente na região considerada, a maior parte dos quais instalados nas formações xistentas sericito~cloríticas do Complexo xisto­-quartzítico, que são por eles atravessadas em todos os sen­tidos. Muitos destes filonetes parecem estar relacionados com as vindas porfíricas, pois ::;ão mais densos, geralmente, perto de afloramentos de rochas desta natureza.

Pela espessura, merecem referência especial dois filões quartzosos observados na área considerada. Um deles loca~ liza~se na Serra de Pereira. Tem, à vista, 10 a '20 metros de espessura aproximada e segue a direcção N-S.

Sobre o outro encontra-se instalado o vértice geodésico de Paçó. Com direcção N '20oW e espessura aparente de 30 a 40 metros, este filão origina importante relevo.

ESTRUTURA

Esboçada na generalidade, a estrutura mostra· se com* plexa quando analizada em pormenor. Só um estudo mais minucioso e o uso de métodos de microtectónica permitirão resolver alguns dos problemas que se levantam.

Vamos considerar a região dividida em dois sectores, oci­dental e oriental, por uma divisória, orientada sensIvelmente na direcção NNW-SSE, que passa pela Quinta da Nogueira­-Paçó-F'oz da Ribeira de Bruçó. O eslilo estrutural é diferente nos dois sectores.

A estrutura do Ordovícico no sector oriental parece cor­responder a um flanco de dobra, como mostra a posição do conglomerado de base e o facto de não haver duplicações na série, resultantes de dobras.

No sector ocidental existem, certamente, numerosas plica­turas (vidé, por exemplo, a barreira da estrada de Moncorvo a Mogadouro, ao Km 63,5), deitadas, mergulhando para NNW. Parece existir o flanco de um anticlinal (com o núcleo ocupado pelo granito de Bruçó-Quinta da Fonte Santa), cujo bordo é visível entre os v. geodésicos de Lagoaça e de Navalheirinha. Por outro lado, os quartzitos como que rareiam para norte, sucedendo-lhe xistos possIvelmente lanvirnianos, o que con­corda com a existência de um flanco de anticlinal.

Quanto ao Complexo xisto-quartzítico, verifica-se, no sector ocidental, que existem quatro fiadaE' principais de quar­tzitos, a saber:

- Mogadouro-Almofada. - Figueira-Zava. - Vilar de Rei. - Serrin ha- Vale de Porco. No sector oriental, os alinhamentos de quartzitos são

menos nítidos, pelo que só um estudo de pormenor permitirá chegar a conclusões com um mínimo de segurança. Apenas se pode afirmar que o limite norte do arco parece estar bem definido entre Penas Roias e Algoso.

Torna-se difícil determinar a estrutura a que corresponde este dispositivo. Devem existir dobras isoclinais, pelo que o conjunto imita um bloco monoclinal. Os xistos borra de vinho encontram-se a norte da última fiada de quartzitos, havendo uma excepção na área da Fonte dos Galegos, onde, justamente, se observa a única inclinação para o quadrante sul, nOs quartzitos do v. trigo de Nogueira, o que faz suspeitar da existência de dobramentos.

A divisória entre os sectores ocidental e oriental parece corresponder a acidente tectónico importante, porque:

1 - as fiadas quarlzíticas encontram-se desligadas ao longo dela;

2 - os terrenos ordovícicos parecem não ter continuidade de um e outro lado do acidente;

3 - na zona divisória existe um filão espesso de quartzO (Paçó).

O sector oriental teria sido deslocado para norte em rela­ção ao ocidental; os quartzitos adaptaram-se, em parte, a este movimento, pelo que é difícil dizer se se trata de falha ou tlexura.

Uma falha de direcção NW-SE parece desligar as fiadas quartzíticas para noroeste (do lado NW), pelo que os quartzitos de Mogadouro ligariam com os de Azenha. Este acidente pode estar na origem da portela de Za va. .

* "" *

Estes trabalhos sobre a região de Trás-os-Montes devem-se principalmente ao estímulo do Prof. CARLOS TEIXEIRA, que igualmente os tem orientado. Por isso aqui lhe deixamos expresso o nosso agradecimento.

Aos Serviços Geol9gicos de Portugal e ao Centro de Estu­dos de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa, que subsidiaram os trabalhos referidos, estamos, de igual modo, reconhecidos.

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A .Fundação C. Gulbenkian é, do mesmo modo, credora do nosso reconhecimento, pois, atribuindo ao Centro de Estudos de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa importante subsídio, tornou possível a realização da extensa campanha de investigações geológicas levadas a cabo em Trás-os-Montes.

Ao colega C. Cramez que nos acompanhou na ultima parte do trabalho de campo e com a colaboração do qual tivemos ocasião de encontrar novos elementos sobre o Ordo­vícico da região, deixamos expressa a nossa mais viva satis­fação em o termos tido por companheiro.

BIBLIOGRAFIA

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DELGADO, J. F. N . - Contribuição para o estudo dos terrenos paleozóicos. Comunicações da Comissão do Serviço Geológico de P ortugal. Tomo VI, 1904-1907.

TEIXEIRA, C. - Notas sobre a geologia de Portugal. O Complexo xisto­-grauváquico ante-ordoviciano. Lisboa, 1955.

- - Notas sobre a geologia de Portugal. O sistema Silúrico. Lisboa, 1955. - - L'evolution du territoire portugais pendant les temps ante-mesozoi-

ques. Boletim da Sociedade Geológica de P ortugal. Vol. XIII, p . 229-255. Porto, 1959.

1\1[ APAS

Carta Geológica de Portugal. Escala 1 :500.000 - DELGAGO, J. F. N. C

CHOFFAT, P. Direcção dos Trabalhos Geológicos, 1899. Carta Geológica de P ortugal. Escala 1 :l.000 .000. Serviços Geológicos de

Portugal, 1952. Carta Corográfica de Portugal. Escala 1 :100.000, fols. 11. 0S 6 e 9. Carta Nlilitar de Portugal. Escala 1 :25.000, fols . n. OS 80, 93, 94, 107, 108 e

108-A, 120 e 12l.

Centro de Estudos de Geologia da Faculdade de Ciéncias de Lisboa (Fundação do In stitu to de Alta Cultura).

1 - Conglomerado ele base elo Ordovícico, cerca ele 1,5 Km a SSE ele Tó

2- Pormenor da fotografi a anterior

(Fot. C. TEIXE IR A)

!Jo Z. da Soe . Geol . rle Podug al - Vol, xv, 1<;63

1-- Quartzitos com Vexillu11Z. 1 Km a N de Vila dos Sinos (Mogadouro)

2 - Crista quartzítica da Serra de F igueira (Mogadouro)

(Fot. C. TEIXEIRA)

r

1- Cavalgam ento do Complexo xisto-quartzítico sobre o Ordovícico, na estrada de Castelo Branco para Lagoaça, ao Km 58,7

2 --· Rocbas xistentas co m a ndalu zite. 1 Km a S de Vila dos Sinos, no contacto com o gran ito de Vilarinho dos Galegos

(Fot. C. T EIXEIRA)