Noves fora, tarô pra quê?

Aprendendo a entender dicas teóricas aplicadas na vida prática.

A razão pela qual escolhi uma figura controversa para abordar este assunto, é que do Louco vem as melhores ideias quando temos que lidar com questões como o

rompimento de padrões, a auto reinvenção, a liberação de amarras, o resgate pelo prazer de viver, a recuperação de algo.

A repetição de dinâmicas, cristalizações psíquicas, padrões mentais e estratégias defensivas freiam a visão e geram loops de sabotagens ou restrições. Assim,

caminhos óbvios, embora mais facilmente aceitos, dificilmente gerarão mudanças.

Quase sempre só alguma ação que cause algum conflito com esse fluxo repetitivo, para a qual a mente não possa montar uma sabotagem ou defesa, causa algum

resultado eficaz.

Nasceu em 29, estudou e depois dirigiu Marcel Marceau; fundou o Movimento Panico com Fernando Arrabal, escreveu e dirigiu para teatro; em 53 enveredou pelo já decadente movimento surrealista de André Breton (poeta e psiquiatra francês, cujo Manifesto em 24 - calcado em ideias freudianas de libertação da lógica imposta por padrões sociais/morais - lançou a revolução artística e literária que nos deu Dalí, Miró etc e que influenciou artistas brasileiros como Tarsila do Amaral); estudou psicanálise, brujería e xamanismo; em 70 John Lennon divulgou seu filme “El Topo”; dirigiu vários outros filmes, por ex. A Montanha Sagrada, A Dança da Realidade (2013, aos 84 anos); produziu HQs com Moebius; foi discípulo reverente do mestre zen Ejo Takata.

Inclassificável, imprevisível, multifacetado, paradoxal, intrigante, instigante e controverso, Jodorowsky é considerado um guru cult por uns, um expoente da contracultura por outros e um charlatão por muitos.

Há, porém, um fato incontestável: viveu e vive a vida seguindo seus próprios padrões e com um grau de abertura e uma profundidade de mergulho que só encontramos n’O Louco.

Portanto, para a maioria de nós, é impossível (além de perigoso), acolher suas ideias sem filtrá-las ou adaptá-las. Mas para que isso seja feito sem perder a essência proposta, temos que ser capazes de isenção para compreender esse universo fora do padrão, bem como de coragem para considerar como possíveis algumas ideias que, a priori, nos parecerão inviáveis.

“... o tarô como um teste projetivo que permitia localizar as necessidades da pessoa e saber onde residiam seus problemas.

... a mera atualização de uma dificuldade inconsciente ou pouco conhecida já constitui um esboço de solução.

... as pessoas tomavam consciência da sua identidade, dificuldades, do que as levava a agir. Eu as fazia passear através da sua árvore genealógica* para mostrar-lhes a origem antiga de alguns de seus males(workshop em breve! PAUSA PARA O MERCHAND!! ).

... logo percebi que não poderia haver cura verdadeira se não chegávamos a uma ação concreta.

Para que a consulta tivesse um efeito verdadeiramente terapêutico precisava desembocar numa ação criativa, efetivada no âmbito real.”

Alejandro Jodorowsky, em “Psicomagia”, sobre como e porquê ele percebeu esse caminho.

O tarô é um analista e um orientador.

Um bom jogo abre espaço para que apontar faces relevantes de um momento ou questão, além de incluir uma posição de conselho ou de encerrar, na própria análise, a orientação.

A meu ver, é trabalho do tarólogo compreender essa orientação e sugerir caminhos para efetivá-la concretamente.

Algumas cartas são mais facilmente traduzíveis ou passíveis de interpretação nesse sentido, mas outras costumam nos confundir na hora de sugerir uma ação prática.

Quando somos apenas teóricos na orientação, a maioria das pessoas fica dizendo “Ahhhh” ou “Ohhh”, porque, sim, a ideia ressoa em seu interior, o que já é um excelente começo.

Mas a verdade é que, embora a pessoa não diga, a frase que paira no ar é: Tá, e COMO eu faço isso?!

Para sugerir caminhos concretos, quem lê também precisa aprender a pensar em mais do que apenas na teoria do tarô. E precisa aplicar, na sua própria vida, aquilo que lê, reflete e “prega”.

Tarólogo bom tem um Louco ativo: vive realmente, e percebe a própria experiência e seus efeitos. E, então, agrega isso ao tarô que oferece aos outros.

Mulher, 45, casada. “ Dá uma olhada no meu casamento/marido?”

Carta de corte: A Estrela

Mulher, 54, casada. “Meu marido está esquisito, diferente. Fazendo dieta, mudou o visual, tá calado e distante. Tá pulando cerca? Que que eu faço?”

Carta de corte: O Mago

Literatura, música, arte; ações simbólicas, atividades de contra fluxo, treino de pausas, desafios, escolhas, imaginação ativa, baby steps etc.

Noves fora: a riqueza do tarô está em produzir resultados. O efeito de uma boa leitura tem que evoluir para ações reais na vida; ações que façam a pessoa ser mais leve, realizada, tranquila, livre, encaminhada ou genuinamente satisfeita.

Quando pensar no conselho, pense fora da caixa. Entenda o arcano como um todo, luminar e sombra juntos, e permita-se criar e sugerir atitudes coerentes com esse escopo, mas capazes de romper a resistência que houver ali.

Nunca despreze as ideias singelas, ingênuas ou sutis: há um poder enorme em começar por pequenas brincadeiras, atividades novas ou ações simbólicas, pois é a língua com mais possibilidade de driblar a autocensura, movimentar o inconsciente e, este, nossas ações no mundo concreto.

Ivana MihanovichBlog: http://tarotluminar.blogspot.com.br/

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