Novos Ciclones

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1 FLG 0253 – Climatologia II Disciplina Ministrada pelo Prof. Dr. Ricardo Sistemas Sinópticos – Os Ciclones – 1 – Introdução O presente resumo de aula visa registrar as noções dos sistemas sinópticos que atuam nas latitudes médias, bem como explanar como ocorrem as trocas térmicas das latitudes sub-tropicais com as sub-polares. Para tanto, as noções de como atuam os ciclones, a principal entidade meteorológica responsável por esse processo, devem ser entendidas. 2 – Classificação Os ciclones são classificados em dois grandes grupos, com a especialização de um deles para as latitudes mais altas. São eles: Ciclones Tropicais: (Furacão, no Atlântico; Tufão, no Pacífico, Norte Índico) São os ciclones que atuam na área tropical do planeta; Normalmente caminham de Leste para Oeste, aproveitando as ondas dos Alíseos; Prevalecem características convectivas para a manutenção de vida do sistema. Tais células são compostas por dezenas a centenas de nuvens Cumulonimbus (Cb) em uma convecção organizada. Ciclones Extratropicais: São os ciclones que atuam fora da área tropical do planeta, principalmente nas médias latitudes; Normalmente caminham de Oeste para Leste, seguindo o escoamento global; Prevalecem características termodinâmicas para a manutenção de vida do sistema. Esta propriedade é fator fundamental para toda a energética do ciclone; Possuem interação com a Teoria Frontal. Ciclones ET Polares: (Pertencentes ao grupo dos Extratropicais) São os ciclones que atuam próximos à linha de convergência e proximidades (60ºS, por exemplo); Normalmente caminham de Oeste para Leste; Prevalecem características termodinâmicas para a manutenção de vida do sistema; Interação duvidosa com a Teoria Frontal.

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FLG 0253 – Climatologia IIDisciplina Ministrada pelo Prof. Dr. Ricardo

Sistemas Sinópticos– Os Ciclones –

1 – Introdução

O presente resumo de aula visa registrar as noções dos sistemas sinópticosque atuam nas latitudes médias, bem como explanar como ocorrem as trocastérmicas das latitudes sub-tropicais com as sub-polares.

Para tanto, as noções de como atuam os ciclones, a principal entidademeteorológica responsável por esse processo, devem ser entendidas.

2 – Classificação

Os ciclones são classificados em dois grandes grupos, com a especializaçãode um deles para as latitudes mais altas. São eles:

Ciclones Tropicais: (Furacão, no Atlântico; Tufão, no Pacífico, Norte Índico)São os ciclones que atuam na área tropical do planeta;Normalmente caminham de Leste para Oeste, aproveitando as ondas dosAlíseos;Prevalecem características convectivas para a manutenção de vida dosistema. Tais células são compostas por dezenas a centenas de nuvensCumulonimbus (Cb) em uma convecção organizada.

Ciclones Extratropicais:São os ciclones que atuam fora da área tropical do planeta, principalmentenas médias latitudes;Normalmente caminham de Oeste para Leste, seguindo o escoamento global;Prevalecem características termodinâmicas para a manutenção de vida dosistema. Esta propriedade é fator fundamental para toda a energética dociclone;Possuem interação com a Teoria Frontal.

Ciclones ET Polares: (Pertencentes ao grupo dos Extratropicais)São os ciclones que atuam próximos à linha de convergência eproximidades (60ºS, por exemplo);Normalmente caminham de Oeste para Leste;Prevalecem características termodinâmicas para a manutenção de vida dosistema;Interação duvidosa com a Teoria Frontal.

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Imagem CaracterísticasCiclone Tropical:

Diversas bandas nebulosas, compostas pornuvens convectivas organizadas do tipo Cb,onde se nota mais de um braço ciclônico.Observa-se o “olho” do furacão ou tufão.(furacão John, no oceano Pacífico).

Ciclone Extratropical:

Um único braço nebuloso, em forma deespiral, ao redor do centro de baixa pressão,onde ar quente e úmido alterna-se com o arfrio e seco. Íntima ligação, no início doprocesso, com as frentes. (cicloneextratropical se aproxima da Europa e mardo Norte).

Ciclone Extratropical Polar:

Presença do braço nebuloso, com muitasnuvens altas de gelo. O ar frio e seco alterna-se com o quente e mais úmido sem misturavisível. (ciclone extratropical polar, próximoà península Antártica, estreito de Drake –imagem do satélite russo da série Meteor).

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3 – Fatores para o Desenvolvimento de um Ciclone Extratropical

Os fatores determinantes para o surgimento dos ciclones nas latitudes médiassão:

3.1 Forte gradiente de temperatura conforme varia a latitude: A distribuição datemperatura do ar em superfície não é homogênea conforme se caminha do Equadorpara os pólos. Principalmente no Hemisfério Sul, essa característica é maismarcante. Em média, a temperatura do ar varia de 30ºC no Equador para 25ºC nalatitude 30ºS, ou seja, temos um gradiente de temperatura de apenas 5ºC. Emcontrapartida, a mesma variação de latitude, ou seja, mais 30º (de 30ºS para 60ºS)poderemos chegar aos 0ºC. Temos, então, um gradiente de temperatura de 25ºCnestes 30º de latitude. Aproximadamente a impressionante marca de 0,83ºC por graude latitude. Isto sugere que qualquer movimento de ar em que seus fluxosinterceptem seus vizinhos, poderá ocorrer desequilíbrio e movimento de massa,provocando transportes quentes ou frios nestas latitudes.

Gradiente Térmico do Hemisfério Sul Analogia com a Topografia

3.2 Perturbação da Onda Longa Planetária por Ondas Curtas: perturbações dealta freqüência (rápidas) geradas na troposfera poderão interferir na oscilação deondas longas planetária, normais da atmosfera, que são ondas de baixa freqüência(lentas). Mas para entender esse fator determinante de surgimento de ciclones,precisamos estudar alguns conceitos recursivos inter-dependentes:

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Efeitos Recursivos Importantes:

A atmosfera é extremamente rasa de modo que, em relação ao planeta, ela éconsiderada apenas uma película;

Além de rasa, de 80 a 90% da atmosfera concentra-se na troposfera, ou seja, suamaior densidade está dentro de uma altitude média de 10km;

Se a troposfera é um representante de toda a atmosfera, poderemos considerar atropopausa como uma superfície limitante;

A atmosfera é composta de ar. O ar é um fluido, assim como água, glicerina, óleo,mel. Desta maneira, poderemos considerar a atmosfera, principalmente a troposferacomo um oceano, sendo que a tropopausa representaria bem a superfície do oceanotroposfera;

Se a troposfera é considerada um oceano, então é plausível imaginar que existamondas, principalmente na tropopausa, parte superior e superfície deste oceano;

Estas ondas dão a volta ao redor do planeta e são consideradas ondas longas, bemdefinidas conforme se aumenta a altitude dentro da troposfera. Porém são ondas deágua rasa, já que a troposfera é rasa.

Idealizado todo o cenário, poderemos avançar na nossa interpretação dasperturbações de ondas curtas nas ondas longas do oceano troposfera.

3.2.1 Presença de Montanhas:

Como o ar atmosférico é um fluido, quando ele se desloca sobre a rugosidadedo terreno é fácil de se intuir que o fluxo do escoamento será comprimido, enquantosobe a montanha (barlavento) e descomprimido quando desce (sotavento). Esteefeito mecânico é suficiente para desencadear diversos processos físicos de relativointeresse para a Meteorologia. No nosso caso em estudo, simplesmente precisamosnotar que uma compressão gerará ondas no transpor da montanha. Essas ondas sãomuito rápidas, com várias ocorrências em um intervalo de tempo, ou seja, são de altafreqüência. Também sepropagam pelo ar e vãoperturbar as ondas longaspresentes na atmosfera,desencadeando processospara dar início aosurgimento de frentes etalvez ciclones.

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3.2.2 Forte Convecção Local:

O aquecimento da superfície, durante o dia, desencadeia o processo desurgimento das bolhas térmicas. Conforme o ar próximo à superfície se aquece, elese eleva. A velocidade de ascensão das parcelas é muito grande, inicialmente naordem de 36km/h. Conforme passa o tempo, as bolhas térmicas fazem surgir nuvensquando atingem a altitude de condensação do vapor contido em seu interior,chamado Nível de Condensação por Levantamento (NCL). Dependendo davelocidade de ascensão e quantidade de vapor, as velocidades podem se elevar,principalmente em se tratando de nuvens Cb de grandes tempestades. Nestas, avelocidade de ascensão atinge impressionantes 200km/h. O importante é que tanto osurgimento de bolhas térmicas quanto o desenvolvimento de nuvens de grandeprofundidade provocam ondas curtas, muito velozes, que irão perturbar as ondaslongas da atmosfera.

3.2.3 Escoamentos Retilíneos e Velozes do Tipo Bernoulli:

Em certos momentos, principalmente nas altas latitudes, grandes centros debaixa pressão podem necessitar de rápido equilíbrio para garantir a propriedade deContinuidade da atmosfera (não há brechas ou espaços sem massa suficiente naatmosfera, afinal, como vimos, ela é considerada um oceano). Para compensar taisdesequilíbrios provenientes de baixas pressões acentuadas, podem ocorrerescoamentos muito fortes originados das regiões de alta pressão. Estes escoamentosatingem altas velocidades e perduram por horas, pois há a necessidade de setransportar massa para garantir o retorno do equilíbrio. Durante o processo, diversasondas curtas são emanadas pela troposfera que novamente vão perturbar a ondalonga.

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Exemplos de passagem de ciclones na linha de convergência antártica. Eles provocambaixas pressões suficientes para que a troposfera necessite de compensação. Em ambos oscasos, formou-se um forte fluxo de advecção quente, na vanguarda do ciclone emdecaimento. Tal escoamento é denominado de Bernoulli, pois faz alusão ao Túnel deBernoulli, um dos primeiros cientistas a pesquisarem os fluxos de fluidos em velocidade.

3.2.4 Outras Perturbações:

Existem outros tipos? A resposta é sim. Efeitos como a erupção de umvulcão, a explosão de uma bomba A ou H, um forte incêndio florestal são processosque também iniciam a liberação de ondas curtas na atmosfera, pois todos eles sãoperturbações no oceano troposfera.

4 – A Onda Longa

Hemisfério Norte: É considerado quase como o Hemisfério Continental, devido asua grande massa de terras e poucos oceanos livres. Tal configuração, aliado aprocessos regionais e de topografia, como a presença da Sibéria, por exemplo,interferem no surgimento das ondas da troposfera. Em altitude, nota-se na médiaclimatológica, o predomínio de uma onda número 5 (presença de 5 cavados e 5cristas). Tal média oscila entre um mínimo de 3 e um máximo de 7.

Hemisfério Sul: É considerado quase como o Hemisfério Oceânico, devido a suadiferença simetricamente oposta ao H.N.. Existe um continente, de fato, na regiãopolar que é a Antártida, ao invés de um mar congelado, como seu par no H.N. Alémdisto, temos um imenso oceano livre, o Circumpolar Antártico que faz ligação entreos três grandes oceanos da Terra. Lembramos que aos 60ºS (e proximidades) épossível navegar sem encontrar nenhuma barreira. Tal trecho do planeta oferece

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total liberdade de movimento aos fluidos geofísicos (oceanos e atmosfera) e estapropriedade é de grande importância no entendimento da supremacia do H.S. naocorrência de ciclones extratropicais em relação ao H.N. Na configuração doHemisfério Sul, pode-se notar apenas um pequeno trecho final dos continentes: oSul da América do Sul, Sul da África e Sul da Austrália. Nota-se, nesta disposição,uma formação triangular. Não é à toa que em altitude a média climatológica seja deuma onda número 3. As oscilações ficam entre 2 e 5, com casos muito particularesde ocorrências de ondas 1 ou 7.

5 – Estágios de Evolução em Superfície

Fazendo a conexão com a Teoria Frontal,notaremos para o Hemisfério Sul que a parte debaixo (altas latitudes) impera o ar frio, enquantoque a parte de cima (baixas latitudes) temos o arquente. Se nada perturbar as ondas longas,teremos essa estratificação garantida e as trocasde calor serão mínimas. Declara-se que o ar frioestá alinhado ao Sul e o ar quente alinhado aoNorte, ou seja, há uma Frente Estacionária. Naparte da retaguarda de ambas as regiões quentee fria, existe uma área de alta pressão emsuperfície. O escoamento na alta pressão, noH.S. é Anti-horário. Isto provocará umacúmulo de ar frio no lado esquerdo da FrenteEstacionária e um acúmulo de ar quente no ladodireito, do lado Norte da mesma frente.Tal desequilíbrio e movimento do ar para asregiões quente e fria formarão as devidasfrentes. No local de acúmulo de ar frio, surge aFrente Fria, no local de acúmulo quente, aFrente Quente. No ponto intermediário, apareceum centro de baixa pressão que será a conexãocom os níveis superiores, explanado mais àfrente neste texto, porém, o surgimento de umcentro de baixa pressão favorece a circulaçãoanteriormente estabelecida, reforçando osmovimentos frios e quentes, já que no H.S. acirculação ao redor de um centro de baixapressão é horário.

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Em estágio mais evoluído, o ar frio penetrarapidamente abaixo do ar quente, de modo queo giro da Frente Fria vai tomando posições daregião anteriormente ocupada pelo ar quente.Desta maneira, surge um setor de resistência,chamado de setor quente que logo será isoladopelo avanço frio. Note que o centro de baixa, noH.S. normalmente caminha para Sudeste.

O avanço da Frente Fria é muito mais rápido epraticamente isola o setor quente, deixando umapequena passagem até a Frente Quente. Esta, jáestá muito enfraquecida. Nota-se o acentuadocentro de baixa se formando.

Finalmente há o encontro do ar frio que fez ogiro completo em superfície do lado esquerdo,com o ar frio que circula na parte de vante daFrente Quente. Neste momento, a frente quentefoi isolada, ou seja, chamamos de FrenteOclusa. O ar mais frio do lado esquerdoencontrou o ar frio do lado direito. A partequente ficou isolada em altitude, como umcone, exatamente onde está registrada a FrenteOclusa.

Com o passar das horas, a oclusão se acentua. Oescoamento ciclônico fica mais forte e há aeminência de desprendimento do centro debaixa do sistema frontal original. Odeslocamento do ciclone, já em estágio maduro,na maior parte das vezes, no H.S. é de seguirpara Sudeste, em direção à Antártida.

Neste momento, o ciclone já está completa-mente desconectado da região frontal e partepara Sudeste. Nota-se que a região frontalcomeça a restabelecer o equilíbrio.

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Finalmente, no estágio final, o ciclone partepara sua fase de decaimento e a FrenteEstacionária está completamente restabelecida,pronta para iniciar todo o processo por um novoconfronto. Deve-se notar que essa frente écontínua, ou seja, dá a volta no planeta,alternando fases Estacionária, Quente, Fria eformação de algum ciclone na Oclusa.

Note que para o Hemisfério Norte, todo o processo é análogo, poréminvertido.

6 – Cortes Verticais das Frentes

Observando as regiões frontais em um corte vertical, poderemos notar queexistem algumas características diferentes. Chamamos a atenção que as ilustraçõessempre exageram na altura da troposfera. Devemos lembrar que a mesma é sempremuito rasa, porém, para fins didáticos, tais proporções são extremadas.

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Frente Fria: O avanço do ar frio é sempre mais rápido, portanto, a Frente Frianormalmente é caracterizada por ser uma frente veloz e que causa muitos danos poronde passa. Fazendo a alusão à uma frente de batalha, o avanço da Frente Fria éassociado com um ataque feroz. Só a presença de nuvens Cb (que possui grandedesenvolvimento vertical, chuva forte, relâmpagos, trovoadas, frentes de rajadasetc.) já fazem com que essa analogia seja bem convincente. O ar frio avança porbaixo do ar quente, forçando sua elevação, ou seja, a retirada do inimigo de campo.

Frente Quente: O avanço quente é mais lento, suave e bem extenso. Como o arquente é mais leve que o ar frio, ele necessita subir toda uma rampa fria. Com isto, anebulosidade é caracterizada ao longe, em altitude por nuvens Cirrus, depois,conforme vai se aproximando da região frontal quente, surgem nuvens Cirrostratus,Altostratus até chegar ao Nimbostratus, a nuvem sorrateira, que chega sem fazerbarulho, escurece o céu e chove leve (que não está associada ao Cb, neste caso). Emalusão à frente de batalha, a Frente Quente é lenta, ataque letárgico e envolve oinimigo na região frontal como mostra a presença do Nimbostratus.

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Frente Oclusa: O ar muito frio que avançou velozmente por toda a Frente Fria,conseguiu atingir a região da Frente Quente e encontrou o ar frio do lado oposto.Este encontro isolou o ar quente em altitude e toda a superfície foi tomada pelo arfrio. Em alusão à frente de batalha, uma formação em ferradura, onde um exércitoavança veloz sobre o inimigo, tomando toda a região ocupada por ele anteriormente,até encontrar seus companheiros de retaguarda, do outro lado. Os focos deresistência inimiga ficaram isolados, neste caso, em altitude.

7 – O Desenvolvimento da Onda do Ciclone Extratropical na Troposfera

Contudo, as frentes não se limitam somente em superfície. Há uma intrínsecaconexão com os níveis superiores. Para se entender isso, precisamos compreender oconceito de divergência e convergência. Desta maneira, o círculo estará completo.

Convergência e Divergência:

Sabemos que, em altitude, as ondas são bem comportadas, formando ondaslongas. Neste caso, os campos de pressão são lineares, formando isóbaras (linhas demesma pressão atmosférica) paralelas. Contudo, em algum momento, essapassividade foi interferida por uma onda curta e gerou um pequeno estrangulamentonas linhas de pressão. Sabemos que, em altitude, o vento tem comportamentogeostrófico, ou seja, fluiseguindo paralelo as isóbaras.Então, na região que antecedeo estrangulamento dasisóbaras, notamos a conver-gência de ar e na regiãoposterior, divergência. Pode-mos fazer alusão ao gado,andando na montanha, forman-do terracetes de pisoteio.

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Juntando todos os conceitos que aprendemos até o momento, poderemosformar a conexão da superfície com os níveis superiores para descrever odesenvolvimento do ciclone na troposfera, partindo de uma perturbação da ondalonga em altos níveis.

Em um primeiro instante, não há perturbação em altitude. Os ventosgeostróficos fluem naturalmente paralelos às isóbaras e não há mistura de ar quentecom ar frio, portanto, as isotermas permanecem também paralelas às isóbaras. Emsuperfície, prevalece a Frente Estacionária como uma tendência natural do ar frio equente.

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A certo momento, uma onda curta perturbou a onda longa e formou umadeformação acentuada nas isóbaras (o termo “acentuado” é exagerado, já que aordem dimensional desta deformação é de quilômetros em relação a centenas dequilômetros). Tal deformação gerou um cavado em altitude e respectiva região debaixa pressão inicial. Na área do cavado, há a aproximação das isóbaras. Destamaneira, três processos podem ocorrer na área de máxima aproximação das isóbaras:aumento, redução ou estabilidade na velocidade dos ventos. Como o aumento e aredução necessitam de trabalho, a atmosfera tende a executar os processos maissimples e prefere manter a velocidade. Como na região do estrangulamento háconvergência de massa, a atmosfera tende a deslocar o excesso desta massa paraoutros níveis, por exemplo, os inferiores (já que o ar neste nível é mais frio e tende adescer). Em contrapartida, na região de divergência, o nível superior necessita demassa para compensar, ou seja, adquire de níveis inferiores.

Está feita a conexão com a superfície: na região de divergência em altitude,haverá uma região de convergência em superfície, ou seja, uma alta pressão fria. Jána região de divergência em altitude, haverá uma região de convergência emsuperfície, ou seja, uma baixa pressão quente. Na região da alta, o ar tende a escoardo centro para a periferia e fortalece o setor frio da Frente Fria. Na região da baixa,o ar tende a escoar da periferia para o centro e enfraquece o setor quente da FrenteQuente, mas fortalece a circulação ciclônica.

Notemos que, como o ar em altitude permanece escoando paralelo as isóbarase cruza as isotermas, pois o deslocamento foi demasiadamente acelerado para haverequilíbrio térmico. Então, verifica-se que na região de convergência haverádeslocamento de ar de setores mais frios para setores mais quentes, ou sejatransporte de ar frio (advecção fria). Em contrapartida, no deslocamento da regiãodo estrangulamento para a região de divergência haverá transporte de ar quente(advecção quente).

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Depois de muitas horas, quando ocorre a oclusão, há o máximo desempenhodo processo ciclogenético e a tendência é a formação do ciclone e desprendimentodas frentes em superfície, enquanto o vórtice se estrutura como uma formaçãotubular por todos os níveis da troposfera, elevando o setor quente capturado. Quandoo centro de baixa consegue se propagar totalmente pela troposfera, o ciclone tenderáao enfraquecimento, já que passou para a fase barotrópica (as isóbaras e isotermasnão se cruzam, ou seja, não há mais troca de energia) e teremos uma baixa tanto emsuperfície como em altitude.

Analogamente, o processo é inverso no Hemisfério Norte.

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8 – Ciclones Além dos 60ºS

Como vimos, existe uma categoria especial dos ciclones extratropicais quesão classificados como polares. Esta denominação vem do fato de boa parte deles seoriginarem pelo acentuado gradiente térmico na região costeira à Antártida.Sabemos que o continente antártico é muito alto em seu centro. O platô Antárticopode chegar a 4200m de altitude. Vimos que o ar em superfície forma um grande esemi-permanente Anticiclone. Então, pelo seu escoamento natural, auxiliado pelaforte inclinação do centro continental até a costa, ao nível médio dos mares, teremosa formação de um forte escoamento catabático (que desce as montanhas) de um arfrio (de –50 a –10ºC) com um ar marítimo, relativamente mais quente (próximo do0ºC). Este gradiente de temperatura será suficiente para desencadear, nasproximidades da costa antártica, a maior formação de ciclones do planeta. Aliado aisto, nota-se que a maioria dos ciclones extratropicais das latitudes médias, tende ade deslocar para altas latitudes. Está formado então, o cinturão de ciclonesantárticos, chamado de Trilha das Depressões.

9 – Hibridismo

Contudo, mesmo após verificarmos as classificações dos ciclones e suasdiferenças significativas quanto ao surgimento e processos de sustentação, nãopodemos decretar que estas sejam regras que a Natureza deva seguir. Em muitoscasos, verificamos que há ocorrências de sistemas híbridos, que misturampropriedades ou sistemas mutantes, que de extratropicais, apresentam-se comotropicais. Outros, já na altura das altas latitudes, passam de extratropicais delatitudes médias para extratropicais polares. Não importando qual configuraçãoapresentem, todos são classificados como ciclones. Exemplo clássico vivido pelosbrasileiros, com ciclone extratropical em 20/03/2004 que tornou-se tropical em27/03/2004. Saldo: 3.000 casas destruídas, 40.000 destelhadas, areia invadiu esoterrou mais de 200 metros em algumas cidades litorâneas, 513 feridos, 8desaparecidos em alto mar, só encontrados dias depois à 300km da costa pelo1º/1ºGT da FAB, 1 baixa.

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10 – Considerações Finais

Após nosso estudo dos ciclones de latitudes médias, chamados extratropicais,devemos ter em mente que os processos térmicos do planeta, quanto a troca deenergia horizontal em grandes proporções, levam em conta os seguintes fatores:

Os sistemas frontais por si só têm extrema ineficiência em estabelecer o equilíbriotérmico. Superfícies de contato levam muito tempo para a troca de calor.

Há a necessidade de um mecanismo para acentuar essa eficiência: os Ciclones. São os ciclones extratropicais e polares as principais entidades meteorológicas

responsáveis pelo equilíbrio térmico do planeta, misturando o ar quente sub-tropicalcom o ar frio sub-polar.

Porém, toda a energia térmica do ar quente não vai ser utilizada para esquentar oar frio, obtendo como produto um ar “morno”. Grande parte da energia térmica seráconvertida em energia cinética, ou seja, todos os ciclones extratropicais, incluindo ospolares são responsáveis pela transformação de imensa quantidade de energiatérmica (calor) em energia cinética (forte velocidade de ventos) incluindo aintensificação do jato polar, em altitude.

Pelas características continentais ou oceânicas que vimos anteriormente, oHemisfério Sul excede, em muito, o número de ocorrências de ciclones em relaçãoao Hemisfério Norte, tornando a região dos 60ºS de latitude, como uma faixacomplexa de ciclones deslocando-se ao redor da Antártida. Se estabelecermos uminstante t de todo o planeta, os ciclones do Hemisfério Sul superam o Norte emmarcas de até 10 para 1.

Destaca-se, na América do Sul, a região do Norte da Argentina, Uruguai e baciado Prata como uma região ciclogenética (berço de ciclones) pela presença dacordilheira dos Andes e pelo acentuado gradiente térmico do continente com aregião da bacia do Prata.

Anexo 1: Projeções a se pensar...

O Aumento da temperatura do planeta vai derreter os pólos, principalmente aAntártida?

Como vimos, se são os ciclones das latitudes médias os responsáveis pela troca deenergia térmica em cinética, é mais plausível imaginar que:

Provável intensificação dos sistemas?Provável aumento no número de ocorrência de sistemas?Provável aumento da velocidade dos ventos?

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Anexo 2: Exemplos de Ciclones

Alguns exemplos de ciclones, iniciando pelos tropicais para salientar as suasdiferenças em relação aos extratropicais:

Ciclone Tropical Elena sobre o golfo doMéxico.

Ciclone Tropical Fay, Norte da Austrália.

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Ciclone Extratropical sobre o oceanoAtlântico em Fase Madura (Tipo C,Streten e Troup, 1973).

Ciclone Extratropical São Francisco,sobre o Atlântico e seu irmão gêmeo,Ciclone Extratropical Lobo, sobre oPacífico.

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Ciclone Extratropical Polar: cicloneformado sobre o mar de Weddell, Lesteda península Antártica é tipicamente umciclone Polar, já que propriedadestermodinâmicas do encontro do ar frio,proveniente do continente com o ar maisaquecido da costa provocam fortesgradientes térmicos.

Meso Ciclones Extratropicais: Apenasum destes ciclones é polar. Os outrosainda mantém características de latitudesmédias. Um meso ciclone é de tamanhopouco menor em relação à um ciclone deescala sinóptica. Note um ciclone emadiantada fase de decaimento sobre o marde Bellingshausen, à Oeste da penínsulaAntártica, também conhecido como“Cemitério das Baixas”. Na ponta dapenínsula é possível verificar um cordãode baixas pressões sucessivas, em meio anebulosidade.

Ricardo Augusto FelicioB.Sc. Meteorologista – USPM.Sc. Meteorologia Antártica – INPED.Sc. Climatologia – USP

Correio eletrônico: [email protected]:Estudos Superiores de Meteorologia e Climatologia. Vol. I – 2006Autor: Ricardo Augusto Felicio.Livro inédito. Registro na Fundação Biblioteca Nacional n. 385.889