Novos Generos Do Jornalismo Online

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     Nonada, Porto Alegre, n.25, 2° semestre 2015 –  ISSN 2176-9893 121 

    NOVOS GÊNEROS DO JORNALISMO ON-LINE : ANÁLISE DEPORTAIS E SITES BRASILEIROS

    NEW GENRES OF ONLINE JOURNALISM: ANALYSIS OF THEBRAZILIAN WEB PORTALS AND WEB SITES

    Mariana Giacomini Botta1 

    Resumo: Apresenta-se um levantamento de características que permitem considerar dez novas formas decomunicação (home page, lista de últimas notícias, galeria de fotos, lista, especial multimídia, liveblog ,

     post de blog, post em redes sociais, vídeo de vlog e vídeos/fotos no Snapchat e Periscope) como gênerosdo jornalismo on-line  no Brasil. Foram utilizados como critérios para a identificação dos gêneros: a

     presença nos veículos estudados; a estabilidade do formato; a existência de objetivos comunicativosdefinidos; recorrências linguístico-discursivas; e interatividade.

    Palavras-chave: Gêneros jornalísticos on-line, Jornalismo on-line, Análise do discurso, Imprensa.

    Abstract: We present a survey of characteristics that allows to consider ten new forms of communication(home page, list of breaking news, photo gallery or slide show, list, multimedia storytelling, liveblog,

     blog post, post in social networks websites, video in vlog and video/photo in Snapchat and Periscope) asgenres of online journalism in Brazil. We use as criteria for the identification of genres: their presence instudied media; the stability of its form; the existence of well-defined communicative objectives;recurrence of linguistic structures; and the degree of interactivity.

    Keywords: Online journalistic genres, Online journalism, Discourse analysis, Press.

    Introdução 

    Desde o surgimento do jornalismo on-line, na década de 1990, a possibilidade de produção de conteúdo multimídia é apontada, ao lado da interatividade, como o grandediferencial em relação aos suportes tradicionais, como o papel, a TV e o rádio.Entretanto, até bem pouco tempo, o que se via em veículos informativos da internet

     brasileira era a simples transposição ou adaptação dos gêneros de outras mídias, sem umreal aproveitamento da capacidade multimídia e das possibilidades de interatividadedessa nova mídia.

    Este cenário vem mudando. A criação de formatos, muitas vezes motivada porinteresses comerciais, abriu espaço para a experimentação e consolidação de novas

    formas de comunicação jornalística, desenvolvidas para a realidade on-line. Galerias ouálbuns de fotos, grandes reportagens apresentadas como especiais multimídia e matériasde prestação de serviço formatadas como uma lista, entre outras novidades, são cada vezmais frequentes nas páginas informativas da internet brasileira, o que leva a crer que setrata de gêneros emergentes do jornalismo na web, e é isso que este trabalho se propõe aanalisar.

    Para isso, parte-se da concepção de que os gêneros são entidades comunicativas,formas verbais “de ação social relativamente estáveis realizadas em textos situados emcomunidades de práticas sociais e em domínios discursivos específicos”

    (MARCUSCHI, 2002, p. 25). Considera-se também que os gêneros são caracterizados

    1 Professora do PPG Letras da UniRitter, Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela UNESP e emCiências da Linguagem pela Université Paris III Sorbonne Nouvelle. 

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     por suas funções comunicativas, cognitivas e institucionais, ou seja, por aspectossociocomunicativos (conteúdos, estilo e composição característica) e funcionais.

    De acordo com Bakhtin (1997, p. 279), todo enunciado reflete as condiçõesespecíficas e as finalidades de cada uma das esferas da atividade humana, não só por seu

    conteúdo (temático) e por seu estilo verbal (seleção operada nos recursos da língua  —  lexicais, fraseológicos e gramaticais), mas também por sua construção composicional.Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-seindissoluvelmente no todo do enunciado e são marcados pela especificidade de umaesfera de comunicação.

    Aos três elementos fundamentais que, segundo Bakhtin, compõem os gêneros(conteúdo temático, estilo e construção composicional), Marcuschi (2002, p. 24)acrescenta outros três: (1) ação prática; (2) circulação sócio histórica; e (3)funcionalidade.

    Segundo Moirand (2007, p. 93), os elementos considerados fundamentais porBakhtin para a delimitação e identificação dos gêneros correspondem mais à concepção

    de texto que de discurso. Por isso, ela propõe que o estudo dos gêneros seja realizado a partir de um modelo dialógico, que coloque a enunciação no centro da constituição dosgêneros e a intertextualidade no centro do esquema da comunicação. Para ela, no estudodos gêneros é preciso relacionar o que é interno (a estrutura do enunciado) ao seuexterior (o contexto extraverbal). Essa é a perspectiva adotada neste trabalho.

    Os gêneros também serão analisados levando-se em consideração sua relaçãocom as tradições discursivas, objeto de estudo de Kebatec (2004, p. 161). Aceita-se aideia de que, para reconhecer um gênero, é preciso verificar características fixas

     presentes na estruturação formal dos textos, uma vez que a comunicação do falante seorganiza seguindo os moldes tradicionais de realização discursiva. Partindo-se daidentificação de esquemas textuais e de modelos de realização discursiva que orientam a

     produção dos discursos individuais, é possível caracterizar e mapear as origens dosgêneros discursivos.

    O estudo dos gêneros constitutivos do discurso jornalístico interessa tanto aos jornalistas quanto aos analistas e leitores, pois diz respeito não somente à produçãodiscursiva, mas também à sua recepção. O registro e a descrição desses gêneroscontribuem para uma reflexão sobre as práticas jornalísticas e sobre o estatuto do leitor,enquanto ator ativo do ato interpretativo.

    Para a identificação dos diferentes gêneros emergentes do jornalismo on-line atual serão avaliadas formas de comunicação recorrentes presentes nos portais UOL(uol.com.br), G1 (g1.globo.com) e ClicRBS (clicrbs.com.br), e nos sites Folha de S.

    Paulo (folha.uol.com.br), Estadão (estadao.com.br), O Globo (oglobo.globo.com) eZero Hora (zh.clicrbs.com.br). Opta-se, neste primeiro momento, por restringir a análisea veículos brasileiros, incluindo tanto os que se propõem a realizar coberturas nacionais(UOL, G1, Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo) quanto os que se dedicam mais aassuntos regionais (ClicRBS e Zero Hora).

    1. Gêneros ou formatos?

    A discussão sobre a diferenciação entre gênero e formato é frequente ao se tratardas diferentes operações enunciativas realizadas em meios de comunicaçãoaudiovisuais, principalmente na televisão.

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     Nonada, Porto Alegre, n.25, 2° semestre 2015 –  ISSN 2176-9893 123 

    Para Duarte (2007, on-line), o termo “formato”  identifica a forma e o tipo de produção de um programa (de TV) e, embora ele seja largamente utilizado, suadefinição carece de rigor. Para essa autora:

    [...] formato é o processo pelo qual passa um produto televisual, desde suaconcepção até sua realização. Trata-se do esquema que dá conta daestruturação de um programa, constituído pela indicação de uma sequênciade atos que se organizam a partir de determinados conteúdos, com vistas aobter a representação de caráter unitário que caracteriza o programatelevisual: cenários, lugares, linha temática, regras, protagonistas,modalidades de transmissão, finalidades e tom. O formato está ligado, poroutro lado, a toda a estrutura comercial de uma emissora ou produtora detelevisão, fato que deixa nele vestígios, semantizando e reciclando asdemandas oriundas dos públicos. (DUARTE, 2007, on-line)

    Transpondo tal definição aos veículos de comunicação digitais em plataformaon-line, é possível entender formato como o conjunto de elementos que podem estar

     presentes na constituição de um gênero e a organização estrutural desses elementos, semlevar em consideração a temática, o conteúdo informacional propriamente dito, asrelações estabelecidas entre os interlocutores e os efeitos de sentido efetivamenteconstruídos.

    Os gêneros são, portanto, estruturados em determinados formatos. E o formato éuma das características perceptíveis e analisáveis dos gêneros, o tipo de estruturação,ligada ao elemento composição construcional, citado por Bakhtin como um dos pontosde vista pelos quais é possível observar a relativa estabilidade dos tipos de enunciado.Segundo esse autor (1997, p. 284), a construção composicional engloba o “tipo deestruturação e de conclusão de um todo, tipo de relação entre o locutor e os outros

     parceiros da comunicação verbal (relação com o ouvinte, ou com o leitor, com ointerlocutor, com o discurso do outro, etc.) ”.Percebe-se, pois, que, assim como na televisão, no jornalismo on-line  há uma

    multiplicidade de formatos, que podem ou não estruturar gêneros, o que vai depender da presença de outras características recorrentes e/ou estáveis observáveis, ligadas a: (1) osobjetivos da comunicação; (2) os temas mais frequentemente abordados (conteúdotemático); (3) o nível de linguagem, forma de utilização dos elementos linguísticos eaplicação de estratégias enunciativas (estilo); (4) os efeitos de sentido construídos erelações estabelecidas entre os participantes da comunicação (construçãocomposicional); e (5) o contexto extraverbal e circulação sócio histórica(intertextualidade).

     Neste trabalho, por se tratar de um estudo inicial, feito com o objetivo de apenasidentificar alguns dos diferentes gêneros em vias de consolidação no discurso jornalístico da internet brasileira, as categorias descritivas de análise serão: a) formato(os elementos estruturais e sua organização); b) funcionalidade; c) estilo (restrito aoselementos relacionados ao nível da linguagem e à composição dos títulos e subtítulosdos textos); d) composição construcional (somente as relações entre os participantes e

     possibilidade de interatividade). Uma vez identificados os gêneros e assinaladas suas principais marcas distintivas, um estudo mais aprofundado sobre cada um deles serádesejável e necessário.

    2. O discurso da mídia

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     Nonada, Porto Alegre, n.25, 2° semestre 2015 –  ISSN 2176-9893 124 

    Charaudeau (2010, p. 206-207) afirma que o gênero de informação midiáticadeve ser definido “segundo o resultado do cruzamento entre um tipo de instânciaenunciativa, um tipo de modo discursivo, um tipo de conteúdo e um tipo de dispositivo” 

    (grifos do autor), todos elementos que permitem distinguir e caracterizar o que elechama de “classe textual”.

    Para esse autor, a instância enunciativa diz respeito à origem do sujeito falante eseu grau de implicação (se é jornalista ou outro profissional), marcada por suaidentificação no texto e pelo lugar da mídia onde está inserido. O modo discursivo estárelacionado à transformação do acontecimento em notícia (relato, comentário ou

     provocação do acontecimento, o que dá origem, respectivamente, a uma reportagem, aum editorial ou crítica e a um debate). O conteúdo trata do macrodomínio abordado, quecorresponde à editoria (política, economia, cultura etc.), e o tipo de dispositivorelaciona-se ao suporte midiático (imprensa, rádio, televisão, internet).

    Ainda de acordo com Charaudeau (2010, p. 212), há três desafios que estão

     presentes na construção de qualquer gênero de informação: a) o desafio de visibilidade(atração da atenção do público leitor); b) o desafio de inteligibilidade (tornar o conteúdointeressante e acessível); e c) o desafio de espetacularização (fazer o conteúdo suscitarinteresse e/ou emoção).

     Nos textos jornalísticos, a composição dos títulos está intimamente relacionadaao primeiro desses desafios, pois, de acordo com Evans (2000, apud  Ward, 2006, p.119) eles são elaborados com os objetivos de atrair o maior número possível de leitorese fazer com que os leitores que não acessam o conteúdo completo possam reter uma“impressão” sobre o assunto (são os usuários que não leem os textos em sua integridade,apenas “escaneam” a página com os olhos).

    De acordo com esse autor, os títulos dos textos carregam uma responsabilidadeadicional no jornalismo on-line. Eles fornecem orientações e contextos importantes paraos leitores que acessam seções individuais de reportagens, separadas do restante dacobertura _por exemplo, caso haja um link   para uma seção direta de outro  site  oumecanismo de busca (WARD, 2006, p. 119).

    Dada a importância dos títulos dos textos no jornalismo on-line, considera-sefundamental a análise de sua estrutura e composição para a caracterização ediferenciação dos novos gêneros jornalísticos, conforme mencionado no final da seçãoanterior. Além disso, como diz Moirand (2007, p. 93), no estudo dos gêneros é precisoencontrar uma fórmula e/ou estratégia discursiva recorrente, que diferencie um gênerodos demais. Acredita-se, portanto, que os títulos, mais que outras sequências textuais

    (dada sua importância nessa esfera de comunicação), podem conter algumas dessasestratégias.

    3. Gêneros identificados 

    A partir dos critérios listados a seguir, foi possível identificar dez diferentescandidatos a gêneros nos veículos noticiosos (portais e  sites) da internet brasileira,citados na introdução deste trabalho:. presença na maioria dos veículos informativos on-line;. formato mais ou menos estável (incluindo elementos visuais e textuais), com

     possibilidade de reconhecimento pelo leitor e de reprodução por parte dos profissionais;

    . finalidade e objetivos comunicativos bem definidos;. recorrência de determinadas características linguísticas e discursivas;

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    . graus de interatividade.

    Os gêneros encontrados podem ser nomeados da seguinte maneira:1. Home Page 

    2. Lista de últimas notícias3. Álbum ou galeria de fotos4. Lista (“tipo Buzzfeed”)5. Especial multimídia (modelo “Snow Fall” / TAB)6. Liveblog  7. Post de blog8. Post em redes sociais9. Vídeo de Vlog10. Vídeos ou fotos no Snapshat e Periscope

     Neste trabalho, por questões de limitação de espaço, propõe-se a caracterização

    inicial dos cinco primeiros gêneros indicados nessa lista, ressaltando-se que todos elesmerecem um estudo mais aprofundado, a ser realizado oportunamente.

    3.1 Home Page2 

    A home page é a página inicial de qualquer  site, noticioso ou não. Entretanto,nos veículos informativos, entre eles os portais e  sites ligados a editoras, empresas decomunicação tradicionais e jornais, ela apresenta particularidades que a distinguem das

     páginas iniciais de sites pessoais, de empresas, de profissionais liberais, de motores de busca e de e-commerce, por exemplo.

    Toda home page  de veículo noticioso é composta por um grande número dechamadas3  que remetem, por meio de hiperlink , a reportagens e outros conteúdosinformativos e/ou recreativos. Nos portais (como o UOL, o G1 e o ClicRBS), que têm acaracterística de concentrar e distribuir a produção de diversos sites e blogs associados,

     percebe-se um maior número de chamadas e variedade de temas  –   há espaço, porexemplo, para matérias4 de prestação de serviços e de curiosidades, sem real conteúdoinformativo, além de textos sobre a repercussão de vídeos que fazem sucesso nomomento nas redes sociais. Os  sites  ligados a jornais (Folha de S. Paulo, Estadão, OGlobo e Zero Hora) priorizam, nas chamadas da home page, o que é considerado notícia(relatos informativos sobre fatos ou acontecimentos atuais), assim como os textos

     produzidos por colunistas e blogueiros parceiros.

    2 Conforme consta no Dicionário Houaiss (2009): “página principal, de abertura de um site, e através daqual o programa navegador, uma vez indicado o seu endereço (URL), tem acesso ao referido site”. 3 Cf. Dicionário Houaiss (2009), no verbete chamada1: “Rubrica: jornalismo –  resumo de notícia, na capaou no sumário de um caderno de jornal ou revista, indicando a localização da respectiva matéria; Rubrica:

     jornalismo, radiofonia, televisão  –   resumo de notícia apresentado na abertura de um noticiário, ou em

    momentos que antecedem o programa, o bloco ou a notícia propriamente dita”.  4  Matéria é o nome genérico dado a qualquer tipo de texto jornalístico, acepção já registrada noDicionário Houaiss (2009).

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     Nonada, Porto Alegre, n.25, 2° semestre 2015 –  ISSN 2176-9893 126 

    IMAGEM 1: Reprodução da parte principal (superior) da home page do portal UOL (07/09/2015)

    Em todos os veículos estudados, a função da home page  é oferecer conteúdo próprio ou de parceiros, que possam ser do interesse dos leitores, levando-os a clicar naschamadas e acessar os textos a elas relacionados. A home page  é atualizadaconstantemente, e o principal critério levado em consideração na hierarquização dosassuntos é a audiência, seguido pela relevância (interesse público). Para isso, os editores

    acompanham, minuto a minuto, o comportamento dos internautas na página, e tentamidentificar tendências e traçar estratégias para atrair mais audiência. No que diz respeito aos elementos visuais, as home pages  dos três portais

    analisados começam com uma barra horizontal (preta no UOL e ClickRBS e de corclara no G1), onde se encontram links para outros portais (Globo.com, nos casos do G1e do ClicRBS), além do acesso a serviços de e-mail , de assinaturas e da central derelacionamento. No UOL, essa barra inicial traz informações como a data, a cotação dodólar e links para outros sites e serviços da empresa, como BOL, Pague Seguro e perfisem redes sociais. Neste espaço, no G1, encontra-se um menu com itens que levamdiretamente às diferentes seções.

    Em seguida, observa-se a presença de uma outra faixa horizontal, em cor

    diferente, com a identificação do veículo (logotipo), que pode vir centralizada oualinhada à esquerda. No mesmo espaço, aparecem informações como link  de acesso a e-mail  e motor de busca (UOL), menu do portal e motor de busca (G1), e definição daregião geográfica onde está o usuário, previsão do tempo e motor de busca (ClicRBS).

     Nos portais que ainda não exibiram o menu com seu conteúdo, esse vem logo a seguir,com os itens dispostos horizontalmente. Passando o mouse  ou clicando em cada umadas opções, é possível acessar diretamente outras seções dos veículos.

    De acordo com o Novo Manual de Redação da Folha de S. Paulo (1996), a parteinicial da primeira página de um jornal impresso é chamada cabeçalho5. Por conta de

    5 Cabeçalho: “nome que se dá à parte superior da Primeira Página de um jornal. Dele constam logotipo e

    informações como data, número, ano, nome do diretor ou redator-chefe e endereço da sede”. ( Novo Manual da Folha de S. Paulo, 1996, on-line). Disponível em:.

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     Nonada, Porto Alegre, n.25, 2° semestre 2015 –  ISSN 2176-9893 127 

    uma certa semelhança, pode-se dizer que as partes da home page  descritas até omomento compõem o cabeçalho, embora as informações sobre as empresas decomunicação, na internet, venham apenas no final da página.

    As chamadas vêm logo depois. A primeira, geralmente realçada, com fonte em

    tamanho maior que as demais, ou colocada em uma caixa de cor diferente, é a mancheteou destaque, o assunto mais relevante daquele momento. Ela pode vir acompanhada defoto relacionada e, normalmente, é introduzida por um chapéu ou cartola6, é composta

     por um título (com tamanho entre 40 e 70 caracteres, em média) e um subtítulo (tambémchamado, no jargão jornalístico, de linha-fina, linha de apoio ou sutiã).

    Os títulos das chamadas, incluindo o destaque, são elaborados segundo asnormas tradicionais de redação jornalística: frase objetiva e em ordem direta, na vozativa e escrita impessoal (em terceira pessoa), com verbos no presente do indicativo,

     pouca pontuação e indicação precisa dos envolvidos (evitando o uso de pronomes pessoais e de nomes de cargos e funções).

    Logo ao lado do destaque, alguns portais apresentam o que se chama rotativo 7:

    entre três e cinco opções de fotos do dia, que vão se sucedendo nesse espaço da página,acompanhadas por título e subtítulo, que também remetem a conteúdo próprio.

    Todos esses elementos constituem a “área nobre” dos portais e sites, que

    corresponde à cabeça de página8 do jornalismo impresso.Assim como os portais, os sites de jornais (Folha de S. Paulo, Estadão, O Globo

    e Zero Hora) também têm cabeçalho e cabeça de página. O primeiro elemento é umafaixa horizontal estreita, com link para o portal que abriga a página (quando há), acessoao serviço de e-mail, de assinaturas e atendimento ao cliente, a outros sites e veículos damesma empresa, com atalhos para redes sociais, classificados e motor de busca. Nafaixa seguinte, vem a identificação do veículo (centralizada ou à esquerda) e pode haverlinks para outros serviços, como direcionamento à edição impressa do dia, ao acervo, à

     previsão do tempo etc. Na sequência, encontra-se o menu com as seções do site, que pode vir seguido por um rotativo de uma linha e sem foto, com as últimas notícias,como pode ser visto na imagem a seguir.

    6  Cf.  Novo Manual de Redação da Folha de S. Paulo  (1996, on-line): “Palavra ou expressão curtacolocada acima de um título. Usada para indicar o assunto de que trata o texto ou os textos que vêmabaixo dela”. 7 Esse nome circula internamente nas redações dos veículos de comunicação.

    8 Cabeça de página: “Alto da página. Espaço nobre que deve ser reservado para publicação de textos maisimportantes, com título ocupando toda a largura da página” (Novo Manual de Redação da Folha de S. Paulo, 1996, on-line).

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     Nonada, Porto Alegre, n.25, 2° semestre 2015 –  ISSN 2176-9893 128 

    IMAGEM 2: Reprodução da parte principal da home page do site Folha de S. Paulo (07/09/2015)

    Depois, vêm as chamadas, com o destaque ou manchete em fonte maior que as

    demais. Ela pode ser ilustrada por foto e sempre é introduzida por um chapéu ou cartola,composta por um título e um subtítulo. Os títulos das chamadas seguem o padrãolinguístico dos portais (objetividade, impessoalidade, voz ativa).

    Tanto nos portais quanto nos sites, na região próxima ao destaque, há chamadasmais ou menos relacionadas ao tema ou ao assunto principal. Nesse espaço, é maiscomum encontrar, na maior parte do dia (exceto em fins de semana, feriados e emépocas de eventos como o Carnaval), chamadas de política ou economia nacional, que

     podem dar lugar a outros sujeitos, de acordo com sua importância. Assuntos mais leves,ligados a sociedade, comportamento, cultura, etc. costumam aparecer depois da primeirarolagem da barra ( scrollbar , em inglês), que fica no canto direito da página, ou seja, na“segunda tela” da home page. Observa-se, portanto, que há uma certa hierarquia

    temática na organização das home pages, embora a disposição dos elementos seja mais pautada pela audiência que pela relevância, como já foi assinalado. Essa hierarquia varia bastante no decorrer do dia, com base nos conhecimentos sobre os hábitos dosinternautas que acessam as páginas em cada faixa de horário. No portal ClicRBS,

     percebe-se a priorização do noticiário regional na área nobre da página principal.Em todos os veículos, há também espaço para formatos variados de anúncios,

    que podem aparecer no topo da página, nas laterais e em caixas, entre as chamadas.As principais diferenças que podem ser apontadas entre as home pages  dos

     portais e as dos sites de jornais são que as primeiras são bem mais extensas (oferecemmais opções de chamada aos leitores) e trazem maior variedade de assuntos abordados(menos notícias, temas mais leves, conteúdo recreativo e de entretenimento,curiosidades e prestação de serviço).

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     Nonada, Porto Alegre, n.25, 2° semestre 2015 –  ISSN 2176-9893 129 

    Quanto à interatividade, pode-se considerar as home pages como sendo poucointerativas. A barra de rolagem permite que o usuário defina seus caminhos de leitura,escolhendo o que quer acessar, embora ele não tenha a oportunidade de personalizar oespaço segundo os temas de maior interesse. De acordo com a classificação dos

    diferentes tipos de interatividade proposta por Lévy (1999, p. 85), que leva emconsideração as possibilidades de apropriação e personalização, a reciprocidade, avirtualidade, a implicação da imagem dos participantes e a telepresença, pode-se afirmarque as home pages  são um dispositivo de comunicação de difusão unilateral, commensagem linear não alterável em tempo real, com reorientação do fluxo informacionalem tempo real e sem implicação real do participante na mensagem (ele é visto como oconsumidor cuja atenção deve ser conquistada).

    3.2 Lista de últimas notícias

    Trata-se de uma página especial do  site  ou portal, dedicada à organização das

    notícias publicadas, que pode ser acessada a partir de um link   na home page  quedireciona o leitor a URLs9 específicas, como pode ser visto abaixo:

    G1: g1.globo.com/noticia/plantao.htmlUOL: noticias.uol.com.br/ultimas/ClicRBS: zh.clicrbs.com.br/rs/ultimas-noticias/Estadão: stadao.com.br/ultimas/Folha de S. Paulo: folha.uol.com.br/ultimas-noticias/O Globo: oglobo.globo.com/ultimas-noticias/Zero Hora: zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/ultimas-noticias/

    A principal característica das listas de últimas notícias é a organização doconteúdo informativo em ordem cronológica inversa (aparece em primeiro lugar na

     página o que aconteceu mais recentemente). O conteúdo deixa de ser apresentado deacordo com a relevância, o que modifica a hierarquia dos critérios de noticiabilidade do

     jornalismo tradicional, que tem como princípios a novidade, o ineditismo, a atualidade,a imprevisibilidade e a exclusividade, entre outros itens.

     Na internet, com a noções de tempo real, novidade e atualidade, o jornalismo passou a priorizar a instantaneidade e o imediatismo, deixando de lado valores-notíciacomo a imprevisibilidade e a notoriedade, o que parece estar relacionado com anecessidade de inserção regular de conteúdo. Fato interessante é verificar que a

    cronologia inversa

    10

    , marca do jornalismo impresso em sua fase inicial (entre os séculosXVI e XIX), volta a figurar como característica de um gênero nos veículos on-line.Por organizar as notícias conforme a hora da sua publicação, as listas de últimas

    notícias permitem que o usuário se informe sobre os acontecimentos mais recentes,mesmo que superficialmente. Cabe ao leitor escolher sobre qual dos assuntosapresentados na lista ele quer se aprofundar, clicando nos hiperlinks.

    9 URL é sigla do inglês Uniform Resource Locator , nome dado ao endereço de uma página na internet.10  Sobre esse assunto, ver BOTTA, M. G. A imprensa pioneira em língua portuguesa e os gêneros

     jornalísticos no século XVIII. In:  Revista Comunicação Midiática. Bauru (S.P): FAAC/UNESP,maio/ago. 2013, v. 8, n. 2. Disponível em:

    .

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     Nonada, Porto Alegre, n.25, 2° semestre 2015 –  ISSN 2176-9893 130 

    IMAGEM 3: Reprodução da página de últimas notícias do site Estadão (29/09/2015)

    Dos veículos analisados, apenas o ClicRBS não tem uma página dedicada àsúltimas notícias, mas elas podem ser acessadas nos sites de cada um dos jornais ligadosao portal.

    Mesmo tendo URL diferente, o cabeçalho da página das últimas notícias é omesmo da home page. Na sequência, aparece o título da seção: Plantão (G1), Últimas(Estadão), Últimas Notícias (O Globo, Folha de S. Paulo, Zero Hora). Logo em seguida,vêm a data, os horários de publicação das notícias, chapéu (informando a editoria outema) e os títulos das matérias, com hiperlink  para os textos. Esse título costuma serexatamente o mesmo encontrado nos textos completos. Fotos relacionadas e os nomes

    dos jornalistas que assinam as matérias também podem figurar entre os itens da lista,como pode ser visto na página do site Estadão (reproduzida anteriormente), que tambémdisponibiliza links para os internautas compartilharem as reportagens nas redes sociaisou via e-mail . O site Folha de S. Paulo é o único que não traz fotos acompanhando ostítulos das notícias.

    A página do jornal O Globo difere das demais por não apresentar o conteúdo emforma de lista, mas em uma tabela. Além disso, não há a hora da publicação doconteúdo, mas a informação de há quanto ele foi colocado no ar (por exemplo: há umminuto), como pode ser visto na sequência:

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    IMAGEM 4: Reprodução da página de últimas notícias do jornal O Globo (29/09/2015)

     No  site  da Zero Hora, há a possibilidade de personalizar o conteúdo da lista

    (ordenar por mais recentes, mais lidas ou mais comentadas) e, abaixo do título,aparecem TAGs (palavras-chave) relacionadas ao assunto. Em algumas dessaschamadas da lista há subtítulos que complementam a informação dos títulos. Subtítulostambém fazem parte das chamadas da lista de últimas notícias do portal G1, que ainda

     permite que se “filtre” o conteúdo por editoria ou tema. No UOL, há um menu por meio do qual é possível acessar apenas as últimas

    notícias postadas, os álbuns de foto, vídeos, infográficos ou colunas e posts de blogsmais recentes. Também há a opção de filtrar o conteúdo acessado segundo sua

     procedência (agência de notícias ou jornais internacionais). Na página de O Globo, ousuário pode escolher se quer ver as notícias conforme a editoria ou “tipo de conteúdo”(fotogaleria, matéria em capítulos, lista de fatos, infográfico, enquete etc.). No Estadão,

     pode-se selecionar o conteúdo a partir de critérios como: notícias, fotos, áudios, vídeos,infográficos, especiais e redes sociais. A Folha de S. Paulo é a única que não oferece

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    formas de customização dessa página, o que demonstrar um menor grau deinteratividade.

    3.3 Álbum ou galeria de fotos

    Ao se levar em consideração que na internet não há a restrição de espaço,limitação que incapacita os veículos impressos a publicarem várias fotografiasrelevantes sobre um mesmo evento ou acontecimento, percebe-se o que motivou aemergência da galeria ou álbum de fotos como um dos primeiros gêneros criadosexclusivamente para o ambiente on-line. Trata-se de uma sequência de fotosacompanhadas por legendas. Para passar de uma foto a outra, o internauta deve clicarem uma seta, que normalmente fica à direita da imagem.

    Este gênero vem sendo cada vez mais utilizado pelos veículos informativos nainternet, pois, além de agradar aos leitores, que gostam de ver imagens bonitas e poucotexto, ainda resulta no aumento da audiência, uma vez que, normalmente, o acesso de

    uma nova foto está vinculado à geração de uma nova URL, que contabiliza mais  pageview11 na métrica do site ou portal.

    Métricas são sistemas de mensuração que permitem medir e avaliar odesempenho de um site. A audiência na internet é medida com base em dois parâmetros

     principais, a visualização de páginas e o número de visitas. O primeiro, tambémconhecido como  page views  (PV), mostra quanto um site é acessado. O cálculo daaudiência é baseado no total de vezes que arquivos HTML são carregados no navegadordo usuário, ou seja, na quantidade de cliques que ele dá para acessar novas páginas domesmo site. Cada vez que o internauta clica em um link , outra página é aberta e issogera uma  page view. É por meio dessa métrica que são identificados os artigos maislidos dos veículos. Além disso, ela é interessante editorialmente, pois orienta asestratégias de publicação dos  sites  e portais, com o objetivo de gerar mais visitas.Comercialmente, ainda é o número mais usado para atrair anunciantes e estipular osvalores das ações publicitárias.

    O segundo parâmetro é o número de visitas únicas, também chamado uniquevisitors (UV) ou contador de visitas (hits), que indica quantas pessoas visitaram o  site,independentemente do número de vezes que o fizeram. Cada acesso individual conta um

     ponto. Ou seja, se um mesmo visitante acessar o  site  três vezes durante o dia, serãocomputados um visitante e três visitas.

    Tais dados são gerados por ferramentas específicas, chamadas web analytics,que avaliam o tráfego e presença do público on-line. Alguns programas mostram

    também o tempo médio de duração das visitas, a taxa de rejeição, a fonte de tráfego e as palavras-chave mais buscadas que levam até o conteúdo. Essas informações fazem partede uma atividade de marketing chamada Otimização de Sites (SEO), do inglês Search

     Engine Optimization, que desenvolve estratégias com o objetivo de potencializar emelhorar o posicionamento de um site nas páginas de resultados de audiência.

    É por causa da contagem de  pageviews que o álbum se tornou um dos gênerosmais populares da internet brasileira e ficou conhecido no meio jornalístico como “caça-cliques”.

    11 Page Views (PV) é um dos principais parâmetros para a medida de audiência de um site, correspondeao número de acessos.

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    IMAGEM 5: Captura de tela de galeria com mais de 80 fotos, do site Folha de S. Paulo (16/08/2015)

     Nem todos os veículos usam os álbuns como estratégia para aumentar aaudiência. Em O Globo, por exemplo, o design da página das “fotogalerias” foi criadode forma a não gerar nova URL.

    IMAGEM 6: Álbum com 17 fotos, publicado no site do O Globo, de 16/08/2015

     Na cobertura do mesmo evento (os protestos de 16 de agosto pelo país), oEstadão também publicou sua galeria, com fotos enviadas por internautas e, assim comoO Globo, cada foto carregada não gerava nova URL:

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    IMAGEM 7: Galeria com fotos de internautas, publicada no site de O Estado de S. Paulo” (16/08/2015)

     No mesmo dia, os portais de notícias analisados também trouxeram galerias defotos sobre os protestos: o UOL publicou, na seção “notícias”, um álbum com 122 fotos,gerando nova URL a cada clique; o G1 optou por dois formatos: um álbum tradicional(com geração de um endereço por foto) e uma “lista”, com imagens organizadasverticalmente. Alguns exemplos:

    IMAGEM 8: Álbum publicado pelo UOL Notícias (16/08/2015)

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    IMAGEM 9: Álbum de fotos publicado no portal G1, com 145 imagens (16/08/2015)

    Além da sequência de fotos, as galerias geralmente apresentam elementostextuais, como o crédito do fotógrafo, um título e uma legenda (breve texto, geralmentedescritivo da imagem). Elas podem ser consideradas como uma adaptação das foto-legendas12 dos meios impressos para a plataforma digital.

    Usadas na cobertura de grandes eventos, em que é produzido bastante materialfotográfico, as galerias ou álbuns também aparecem em outros contextos. No portalUOL, que utiliza o mesmo recurso da Folha de S. Paulo de geração de nova URL a cadafoto, por exemplo, este é um gênero recorrente, principalmente nas estações “Mulher” e“Entretenimento”. Em alguns casos, ele é escolhido para apresentar conteúdo nãodiretamente relacionado com as fotografias, sendo usadas imagens aleatórias, deagências internacionais, ou ilustrações produzidas exclusivamente para acompanhar otexto que, nestes casos, costuma ser um pouco maior, como pode ser visto na sequência:

    12 Cf. Dicionário Houaiss (2009): “Rubrica: jornalismo. Fotografia, em jornais ou revistas, acompanhadade legenda mais extensa que a comum, descrevendo, explicando ou comentando a ilustração”.

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    IMAGEM 10: Galeria foi escolhida pelo UOL na montagem de matéria com depoimentos de casais sobrefertilização in vitro (13/08/2015)

    IMAGEM 11: Álbum do UOL, com ilustrações e dicas de especialistas para recém-casados

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    Identifica-se no gênero galeria de fotos, portanto, pelo menos, quatro tiposdistintos: (1) as galerias informativas ou “quentes”, nas quais o que há de mais relevantesão as imagens, que registram um evento ou acontecimento; (2) as galerias

    “depoimento”, montadas com fotos de personagens que participam da matéria  –  nessescasos, tanto as fotos quanto o texto são importantes como conteúdo informativo; (3) asgalerias “consumo”, que trazem produtos, lançamentos, ideias ou qualquer tipo de

     prestação de serviço para o internauta –  nas quais as fotos e textos têm o mesmo peso natransmissão do conteúdo; (4) as galerias “ilustração”, aquelas em que as imagens sãofotos de agências ou ilustrações, usadas apenas para adequar o texto ao formato, semrelevância informativa na transmissão do conteúdo.

    Quanto à interatividade, há veículos que apresentam um menu com miniaturasdas imagens, permitindo que o usuário pule diretamente para as que desejar ver, sem terde seguir a ordem imposta pelas flechas.

    Outro tipo de álbum bastante interessante, presente, por exemplo, no  site  Zero

    Hora, é o de “imagens da semana”, que reúne os assuntos mais relevantes  dedeterminados períodos, de forma resumida.

    3.4 Listas (“estilo Buzzfeed”)

    Buzzfeed13  é uma empresa norte-americana de mídia de notícias eentretenimento, fundada em 2006 por Jonah Peretti, com o objetivo de testar, rastrear ecriar o conteúdo viral14 na internet. O site é dividido em 28 seções, entre elas, Notícias,Buzz, Vida, Entretenimento, Beleza, Celebridades, LGBT, Música, Política, Esportes eTecnologia. A maior parte do tráfego do Buzzfeed (cerca de 75% 15) é proveniente decompartilhamento de conteúdo em redes sociais. “19 pessoas que estão tendo um dia

     pior que o seu" ou "43 coisas que farão você se sentir velho" são exemplos do materialdisponível na página, divertido, de leitura rápida e com tendência a se espalharfacilmente.

     Nos últimos anos, o Buzzfeed ganhou versões em diversas línguas e países, e foio responsável pela consolidação de formatos como listas e quiz 16, influenciandoveículos do mundo inteiro. No Brasil, foi lançado no final de 2013 e, no início, contoucom a ajuda de alunos de um curso on-line  de línguas para traduzir os textos,originalmente escritos em inglês. Hoje, a empresa tem jornalistas contratados para a

     produção de conteúdo.

    Seguindo a tendência lançada pelo Buzzfeed, portais e  sites  brasileiros vêm,gradativamente, aumentando a oferta de textos informativos adaptados ao gênero“lista”, como pode ser  visto na página seguinte. Essas listas costumam apresentar fotosacompanhando os itens, geralmente ser numerados e destacados por meio deintertítulos, que aparecem em fontes diferentes. A diferenciação nas cores e tamanhosdas fontes chama a atenção dos usuários e permite que se informem sem,

    13 A versão brasileira pode ser acessada pelo link: .14  “O conteúdo viral é aquele que alcança audiência e repercussão em redes sociais, muitas vezesinesperados, em processo de alastramento similar ao de uma epidemia” (MATSUKI, 2012).  15 Conforme informação publicada no site  Blue Bus, disponível em: . Acesso em 29.set.2015.16  Quiz: “jogo ou competição em que se fazem perguntas para testar conhecimento geral” ( Dicionário Michaelis Inglês-Português, on-line). Disponível em: .

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    necessariamente, terem de ler todo o conteúdo que aparece ao lado ou abaixo dasimagens.

    Os títulos das listas diferem do padrão do jornalismo tradicional, uma vez quesempre são usados numerais, indicando a quantidade de itens apresentados. Outra

    característica é o uso de verbos no modo imperativo (como “veja”, “saiba”, “aprenda”),e não no presente do indicativo, o que contraria a impessoalidade característica destaesfera comunicativa. Antes dos itens, há sempre um texto curto introdutório.

    O gênero lista não tem a intenção de informar objetivamente sobre umacontecimento e adapta-se melhor a conteúdos recreativos (curiosidades), de utilidadedoméstica (dicas para cuidados da casa) ou pessoal (questões relacionadas com a saúde,

     por exemplo). Também é bastante usado em editorias de Esportes e Entretenimento.

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    IMAGEM 12: Montagem realizada com captura de tela de página do portal G1, sobre as personalidades presentes no Festival de Cinema de Gramado de 2015

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    IMAGEM 13: Montagem feita a partir da captura de tela da página do portal UOL

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    IMAGEM 14: Texto “lista” publicado no site da Folha de S. Paulo (18/08/2015)

    3.6 Especial multimídia (modelo Snow Fall  / TAB)

    O chamado modelo Snow Fall  é uma das maiores apostas recentes dos veículosinformativos on-line. Ele teve origem com uma reportagem interativa especial publicadano site do jornal The New York Times que conta, de forma inovadora, o desenrolar deuma avalanche de neve no estado de Washington, nos Estados Unidos, em fevereiro de2012, e que matou três dos 16 atletas profissionais que praticavam  snowboard   nasencostas nevadas do vale Tunnel Creek, nas montanhas Cascade.

    A tragédia foi reconstituída pelo veículo por meio de uma narrativa multimídia,usando recursos de áudio, vídeo, texto e animações, publicada em dezembro de 2012.

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    Em 2013, a reportagem “Snow Fall”17, do produtor John Branch, ganhou o prêmioPullitzer e passou a ser considerada um modelo para a produção de conteúdoinformativo multimídia. Hoje, Snow Fall  virou uma espécie de jargão jornalístico usado

     para identificar a combinação de canais de comunicação em uma narrativa on-line.

    Segundo Castilho (2013, on-line), a repercussão da reportagem foi tanta, que aeditora-chefe do jornal, Jill Abramson, afirmou que foi decisiva para o desenvolvimentode uma nova estratégia editorial de valorização do vídeo e da multimídia na produção

     jornalística.

    IMAGEM 15: Reprodução da página inicial do especial “Snow Fall”, do The New York Times (2012)  

    Já há algum tempo, pesquisadores de comunicação apontam a opção multimídiacomo o formato ideal para o jornalismo na era digital, pois nele o internauta poderia ter

     papel ativo, rearrumando as peças da narrativa de acordo com seus interesses e desejos.Desde 2013, veículos brasileiros têm feito experiências no gênero que se pode chamarde especial multimídia: os sites dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de São Paulo eos portais G1 e UOL são alguns exemplos.

    Além da convergência de mídias (texto, áudio, fotos, infográficos, animação evídeos), usadas de modo complementar para contar uma história, a principalcaracterística desse novo gênero é a composição não linear, que permite diversos

     percursos de leitura. No especial do TNYT, por exemplo, pode-se navegar pelo menuque aparece na parte superior da tela, escolhendo o tópico de maior interesse, mas

    também é possível descer a página com o cursor ou mouse. Se é feita essa opção, oleitor encontra textos, galerias de imagens, infográficos animados com mapas da região,reproduções de depoimentos em áudio, vídeos com entrevistas de especialistas esobreviventes da tragédia, e pode escolher o que quer ver.

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      A reportagem pode ser acessada pelo link: .

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    IMAGEM 16: Página inicial do especial “5 anos de crise econômica no mundo”, do UOL (2013)

    O especial multimídia é um produto mais bem cuidado que os demais conteúdos jornalísticos on-line e envolve em sua produção diversos profissionais, com habilidadesdiferentes, o que significa que ele custa mais caro para as empresas. Por outro lado, traz

     prestígio e é visto como uma ferramenta para atrair e fidelizar o público mais jovem.Por conta da produção mais elaborada e finalização mais demorada, não é usado nacobertura de notícias (eventos, ocorrências recentes).

    Apesar de poder ser encontrado em todos os veículos analisados, a primeirainiciativa de publicação regular de conteúdo neste gênero é do UOL, que lançou, emoutubro de 2014, o TAB (tab.uol.com.br), publicado semanalmente, às segundas-feiras.De acordo com matéria18  publicada no portal no dia do lançamento da nova seção, aideia do TAB é trazer “reportagens inéditas, aprofundadas, provocadoras e de alta

    qualidade”.Rodrigo Flores, diretor de conteúdo do UOL, disse, naquela época, que o TAB,

     produzido por 12 profissionais, buscaria “novos pontos de vista e abordagem sobretemas como sustentabilidade, mobilidade, consumo, comportamento e tecnologia”. Eleafirmou também que a ideia era aumentar o diálogo com o público jovem19, que buscaexperiências variadas ao acessar um conteúdo e tem hábitos de navegação diferentes dousuário tradicional. Os resultados, até o momento, agradam aos idealizadores do

     projeto: dados do portal dão conta de que o internauta gasta cerca de 40 segundos emuma notícia, mas, no UOL TAB, o leitor fica, em média, quatro minutos20.

    Considerações finais

    As análises preliminares aqui apresentadas mostram algumas características que permitem considerar home page, lista de últimas notícias, álbum ou galeria de fotos,

    18  “UOL lança o TAB, novo projeto editorial interativo”, publicada em 13.out.2014. Disponível em:. Acesso em 11.ago.2015.19  Conforme informação publicada no site  Projeto Draft , disponível em: . Acesso em 15.ago.2015.20  Conforme a reportagem “Jornalismo e publicidade: existe liberdade para criação editorial na web?”,

     publicada no site  FapCom  em 2.abr.2015, disponível em: . Acesso em13.ago.2015.

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    lista e especial multimídia como gêneros emergentes do jornalismo on-line  ligado aostradicionais grupos de comunicação no Brasil. Foram identificadas diferentesfuncionalidades, especificidades relativas ao formato, elementos gráficos e linguísticos,

     possibilidades e formas de interatividade, preferências e restrições de conteúdo

    temático, entre outras propriedades, que contribuem para a caracterização e distinçãodos gêneros nesta esfera comunicativa.Este levantamento, entretanto, não esgota o assunto e, por isso, reafirma-se a

    necessidade de realização de estudados em maior profundidade. É preciso, sobretudo,fazer pesquisas mais apuradas sobre as relações da estrutura interna dos enunciados comseu contexto extraverbal, orientada pela perspectiva dialógica, adotada neste trabalho.

    Além disso, também deve-se dedicar maior atenção às recorrências linguísticas,esquemas textuais e modelos de realização discursiva que podem ser identificados emcada um dos gêneros aqui investigados, relacionados com as tradições discursivas queorientam as produções individuais.

    Mais que um inventário, espera-se que este trabalho ajude a organizar o

    conhecimento atual sobre as práticas jornalísticas no ambiente on-line  e sirva deincentivo para novos estudos, que refutem ou confirmem algumas das propostas aquiapresentadas.

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