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junho 2002 PÁGINA 4 junho 2002 PÁGINA 6 ...uma coisa bem cafona e dor-de-corno: adoro a Roberta Miranda! E o público daqui gosta, porque não tem clubber. Quanto mais brega, melhor: dá para tirar mais partido. Eu ganhei um disco da Carmen Silva, uma coisa “Estenda a mão para Deus!”, bem evangélica, e isso pode ser muito engraçado! Porque tu escolhe essas figuras escrachadas, enquanto todo mundo quer representar personagens cheias de glamour? Às vezes nem é tanto luxo assim: é só um brilhozinho... Digo que não existe drag em Porto Alegre, mas bicha que não tem dinheiro para comprar strass e pendura mangueira na cabeça! Castanha já está rindo, mas logo remenda: Só a Dolly e a Charlene Voluntaire são drags, o resto é clone, usando perucas de cabelos vermelhos com mechas... Eu me considero um caricato. Posso entrar de chinelo de dedo, faço a maloqueira mesmo! A Dandara Rangel faz uma Alcione divina, e como eu, investe no humor... A Laurita Leão que eu adoro! também é maravilhosa. Mas não são tão escrachadas como eu! Eu já dublei a Shirley Bessey, mas nunca acerto na sincronia da boca (ela é babalu!): o que interessa é fazer careta! Enquanto os artistas que fazem shows na noite guei de Porto Alegre adotam codinomes e assumem alter-egos, tu faz um personagem diferente a cada ocasião. Uso meu próprio nome, mas posso também encarnar a Maria Helena Castanha. Com ela, eu concorri e ganhei o Miss Plenitude, há 3 anos, no antigo Era. É nome de velha, e ela é clone da Esther Grossi. Quando a deputada precisa ir em vila e corre o risco de apedrejamento eu vou no lugar dela! Não gosto de nomes em inglês, que é coisa de São Paulo: aqui isso não cola! Fazer personagens diferentes é um hábito adquirido no teatro, onde começou minha carreira. O Costureiro Reginaldo, a Maria Aparecida é uma dona-de-casa maloqueira... Gosto de surpreender o público, que já sabe o que vai encontrar nos palcos. Num show que fiz no Vitraux, das 19 apresentações, 10 eram dublagens da Whitney Houston, o resto era da Cher, e só eu fazendo a bagaceira! Ficou uma coisa Rádio Continental... Mas mesmo assim, alguns me copiam. Na Escola de Sereias, criei um quadro do Titanic, em que coloco peixes dentro do sutiã. O Luxo Nenhum lugar seria mais adequado para entrevistar João Carlos da Silva Castanha, 41, do que uma das novas cabines (R$10/h) do novíssimo Era Uma Vez (Rua 18 de Novembro, 31): “Aqui é um matador”, diz ele. Enquanto eu apronto o microfone, sentado na cama forrada de plástico cinza, à minha frente Castanha usa têmpera azul para pintar o olho, acomodado no vaso sanitário e com um espelho sobre os joelhos. Vai virando Maria Helena Castanha, boá de TNT branco e vestido vermelho, pronta para cantar... pra quê ? Carlos Castanha entrevista espetáculo foi um sucesso, de ganhar essas bobagens de troféus e tudo. Aí, descubro que uma guria tá me imitando, com peixinho de pano! Fico louco com isso! O tratamento dispensado para ti e para as finas é igual? Já me disseram “Teu cachê não pode ser tão caro, porque tua roupa é mais simples, não tem plumas nem paetês...” Aí entra uma bicha com rabo-de-galo na cabeça e fica naquela de guarda- costa da Whitney!! Não sua nem uma gota! Como tu escolhe as roupas pros teus personagens? Eu ganho tudo, não compro uma meia, Deus me livre comprar roupa de mulher: minha mãe me dá de presente! Ela sabe de tudo, cansamos de sair juntas em boates, ela de amarelo e eu de laranja! Quem via, jurava que eram sapatonas. Minha mãe é maravilhosa! Tu sempre menciona figuras conhecidas, políticos e socialites durante tuas apresentações. Ah, eu falo muito! E não tenho medo. O Reginaldo é estilista e faz decoração de interiores, posteriores e exteriores. Fez a da casa do Olívio Dutra em Quintão que é uma cafonice: tem pôsters da Elis e do Che pelas paredes! Colocou um colchão d'água belíssimo, mas o Olívio dormiu de bruços e estorou! Agora quem ri sou eu. Fez uma roupa toda branca prá Judite, linda! Só que ela tomou uma garrafa de água mineral com caipira, e dormiu na beira da praia, em pé! Acordou com um monte de oferendas aos seus pés, porque o povo pensou que fosse Iemanjá! Se é preciso falar da RBS, eu falo! Quando montei a peça “A Rainha do Rádio”, usei o sobrenome Sirotski para substituir Maluf, da versão paulista. Bom, fiquei proibido de aparecer em rádio e TV! Mais recentemente, apresentei a mesma peça em Gramado, e usei o sobrenome daquele empresário que era dono da Ortopé. Foi necessária escolta da polícia! Hoje o cara tá fugido, na Alemanha... Naquela época, eu era muito esquerdinha pro meu gosto, hoje eu invento nomes fictícios... Tu não é mais esquerdinha? Eu participava do Ói nóis Aqui Travêis, tinha 16 anos e andava pelado na rua, fazendo teatro de rua. Hoje acho o teatro de rua uma caretice! O pessoal se acha moderno porque tá pendurado em elástico no Theatro São Pedro, ou porque faz teatro em ilha... Como se montar Shakespeare fosse o auge da vanguarda! Política não me interessa desde que deixaram de me dar teatro. Eu fazia teatro de bonecos e bastava pedir uma passagem que ganhava, não precisava implorar ou entrar em Orçamento Participativo! Foi assim que fui pro Espírito Santo, representando o RGS. Hoje fica todo mundo louco prá entrar no Em Cena, mas só prá assistir! Quando fiz A Mãe, ninguém me conhecia. Eu queria conseguir a Sala Álvaro Moreira, mas para isso tinha que destrinchar um edital, prá mim um mistério... O Tatata Pimentel, então diretor do Renascença, só checou a agenda: “Ah, tem data! Dois meses prá ti! Escreve uma cartinha à mão mesmo, nesse papel de pão!”. Fácil, acessível, sem burocracia. E não é que tivesse menos grupos, hein? Então tu começou a ficar famoso... Em 82, quando o Júlio Conte ganhou troféu como melhor ator por Bailei na Curva, eu subi no palco prá entregar um ramalhete de rosas para o prefeito Villela. Cheguei a beijar o homem na boca, foi um sucesso. Daí que as pessoas passaram a ter medo de mim. Mas eu digo que basta ter respeito. Atualmente tu faz shows na noite, em casas guei e hétero. Faço shows em jantares de casais, salões de beleza, onde me chamarem eu vou. Casa guei, só o Era Uma Vez! Não gosto desse clima de quarto escuro, detesto que me ponham a mão e eu não enxergue quem é! Faz tanto tempo que eu trabalho, que os strippers entram e saem sem que eu me dê conta... Porém, já fiz show em lugares em que o camarim era no cantinho e rolavam horrores. Comecei a trabalhar na noite lá na Arca de Noé, na Ramiro Barcelos. Viram meu show no Viva a Gorda, me convidaram e eu nunca mais larguei! Eu trabalhava no Bahamas e na Wanda até as sete da manhã, e saía direto para seis apresentações na escola Pastor Doms, espetáculo infantil. De vez em quando vou no Vitraux, e também no Sunga, até em Tramandaí. Na inauguração do Sunga em PoA, me botaram num queijinho, e eu de chambre... Subi nos palcos de muitos lugares. Babados fortíssimos? Bah! Aqui no Era não rola cheiração, e há controle dos banheiros. Mas na Wanda, naquela época, a polícia entrava, colocava as bichas na parede, no chão, era um horror! E eu bebia muito, já cheguei a tomar 40 cubas-libres numa noitada. Certa vez acordei de manhã, amarrado (Castanha abre e estica as pernas e os braços) debaixo de uma mesa de sinuca! Desde que tive Hepatite, nunca mais bebi nada! E olha, quando eu parei de beber, achei que não seria mais capaz de fazer show nenhum! Eu entrava completamente louco, no teatro eu entrava louco, já tomei ácido para fazer peça de teatro infantil. Houve a peça infantil que tinha duração de 45 minutos e levou uma hora e meia... Foi o dobro do tempo, e as crianças adorando!! Acho que não é a idade, mas eu já me acomodei um pouco... Te preocupa o futuro? Ah, atualmente eu consigo viver só fazendo shows, paga meu aluguel, o ônibus. Já me convidaram para ir a São Paulo, mas não gosto de dever favores, viver em casa de amigo não dá. Penso em fazer shows sem a obrigação de pagar minhas contas, mas só por prazer! Tem vezes que me convidam e eu vou só pelo dinheiro, como o próprio teatro infantil, que é torturoso! Exceto o Zé Adão Barbosa e a Irene Britzke, os outros só me passaram cambalacho... Gente, ele é bem direto! Prefiro fazer meu show e ir prá casa. É legal essa idéia de casamento, papel passado, etc? Acho que sim, se dois caras constroem juntos um patrimônio, não pode ser que, quando um morre, a família venha e leve tudo! Mas não vale se há traição e hipocrisia. Eu sou bem caretinha. Tô casado há três anos, e moro junto com um rapaz de 23 anos. Ele trabalha e não gosta de boates. Não rola ciúme? Não. Agora que minha mãe tá meio doente, fico dias sem ver a cara dele. Eu moro com ele, doze gatos e três cachorros. Ui! Alimento os bichos e saio, deixando um bilhete, tchau... A gente se vê e fica junto: desde os trinta eu não choro mais por amor. Não sofro mais. Maria Helena tá quase pronta, faltam os óculos e-nor-mes, e a peruca branca, espetada. E essa pulseira de papel e lantejoulas, Castanha, foi tu quem fez? “É, fiz ontem à noite, enquanto eu e minha mãe assistíamos O Clone. Daí que eu inventei a Vó da Jade.” Mas, para minha surpresa, Castanha me diz que, agora, depois da entrevista, vai tirar tudo, e vai se arrumar de novo, peça por peça, tim-tim por tim-tim, mais tarde: “Não agüento ficar montado até a hora do show! Não tenho saco!” Fotos Luis Gustavo

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Entrevista com o multifacetado ator João Carlos Castanha para a nuanceira Luís Gustavo Weiler no ano de 2002 no extinto bar Era Uma Vez sobre teatro, bichisse e casamento.

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...uma coisa bem cafona e dor-de-corno: adoro a Roberta Miranda! E o público daqui gosta, porque não tem clubber. Quanto mais brega, melhor: dá para tirar mais partido. Eu ganhei um disco da Carmen Silva, uma coisa “Estenda a mão para Deus!”, bem evangélica, e isso pode ser muito engraçado!

Porque tu escolhe essas figuras escrachadas, enquanto todo mundo quer representar personagens cheias de glamour?

Às vezes nem é tanto luxo assim: é só um brilhozinho... Digo que não existe drag em Porto Alegre, mas bicha que não tem dinheiro para comprar strass e pendura mangueira na cabeça! Castanha já está rindo, mas logo remenda: Só a Dolly e a Charlene Voluntaire são drags, o resto é clone, usando perucas de cabelos vermelhos com mechas... Eu me considero um caricato. Posso entrar de chinelo de dedo, faço a maloqueira mesmo! A Dandara Rangel faz uma Alcione divina, e como eu, investe no humor... A Laurita Leão que eu adoro! também é maravilhosa. Mas não são tão escrachadas como eu! Eu já dublei a Shirley Bessey, mas nunca acerto na sincronia da boca (ela é babalu!): o que interessa é fazer careta!

Enquanto os artistas que fazem shows na noite guei de Porto Alegre adotam codinomes e assumem alter-egos, tu faz um personagem diferente a cada ocasião.

Uso meu próprio nome, mas posso também encarnar a Maria Helena Castanha. Com ela, eu concorri e ganhei o Miss Plenitude, há 3 anos, no antigo Era. É nome de velha, e ela é clone da Esther Grossi. Quando a deputada precisa ir em vila e corre o risco de apedrejamento eu vou no lugar dela! Não gosto de nomes em inglês, que é coisa de São Paulo: aqui isso não cola! Fazer personagens diferentes é um hábito adquirido no teatro, onde começou minha carreira. O Costureiro Reginaldo, a Maria Aparecida é uma

dona-de-casa maloqueira.. . Gosto de surpreender o público, que já sabe o que

vai encontrar nos palcos. Num show q u e f i z n o V i t r a u x , d a s 1 9

apresentações, 10 eram dublagens da Whitney Houston, o resto era da Cher, e só eu fazendo a bagaceira! F i c o u u m a c o i s a R á d i o Continental...

Mas mesmo assim, alguns me copiam. Na Escola de Sereias, criei

um quadro do Titanic, em que coloco peixes dentro do sutiã. O

LuxoNenhum lugar seria mais adequado para entrevistar João Carlos da Silva Castanha, 41, do que uma das novas cabines (R$10/h) do novíssimo Era Uma Vez (Rua 18 de Novembro, 31): “Aqui é um matador”, diz ele. Enquanto eu apronto o microfone, sentado na cama forrada de plástico cinza, à minha frente Castanha usa têmpera azul para pintar o olho, acomodado no vaso sanitário e com um espelho sobre os joelhos. Vai virando Maria Helena Castanha, boá de TNT branco e vestido vermelho, pronta para cantar...

pra quê ?

Carlos Castanha

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ista espetáculo foi um sucesso, de ganhar essas

bobagens de troféus e tudo. Aí, descubro que uma guria tá me imitando, com peixinho de pano! Fico louco com isso!

O tratamento dispensado para ti e para as finas é igual?

Já me disseram “Teu cachê não pode ser tão caro, porque tua roupa é mais simples, não tem plumas nem paetês...” Aí entra uma bicha com rabo-de-galo na cabeça e fica naquela de guarda-costa da Whitney!! Não sua nem uma gota!

Como tu escolhe as roupas pros teus personagens?

Eu ganho tudo, não compro uma meia, Deus me livre comprar roupa de mulher: minha mãe me dá de presente! Ela sabe de tudo, cansamos de sair juntas em boates, ela de amarelo e eu de laranja! Quem via, jurava que eram sapatonas. Minha mãe é maravilhosa!

Tu sempre menciona figuras conhecidas, p o l í t i c o s e s o c i a l i t e s d u r a n t e t u a s apresentações.

Ah, eu falo muito! E não tenho medo. O Reginaldo é estilista e faz decoração de interiores, posteriores e exteriores. Fez a da casa do Olívio Dutra em Quintão que é uma cafonice: tem pôsters da Elis e do Che pelas paredes! Colocou um colchão d'água belíssimo, mas o Olívio dormiu de bruços e estorou! Agora quem ri sou eu. Fez uma roupa toda branca prá Judite, linda! Só que ela tomou uma garrafa de água mineral com caipira, e dormiu na beira da praia, em pé! Acordou com um monte de oferendas aos seus pés, porque o povo pensou que fosse Iemanjá!

Se é preciso falar da RBS, eu falo! Quando montei a peça “A Rainha do Rádio”, usei o sobrenome Sirotski para substituir Maluf, da versão paulista. Bom, fiquei proibido de aparecer em rádio e TV! Mais recentemente, apresentei a mesma peça em Gramado, e usei o sobrenome daquele empresário que era dono da Ortopé. Foi necessária escolta da polícia! Hoje o cara tá fugido, na Alemanha... Naquela época, eu era muito esquerdinha pro meu gosto, hoje eu invento nomes fictícios...

Tu não é mais esquerdinha?Eu participava do Ói nóis Aqui Travêis, tinha 16

anos e andava pelado na rua, fazendo teatro de rua. Hoje acho o teatro de rua uma caretice! O pessoal se acha moderno porque tá pendurado em elástico no Theatro São Pedro, ou porque faz teatro em ilha... Como se montar Shakespeare

fosse o auge da vanguarda! Política não me interessa desde que deixaram de me dar teatro. Eu fazia teatro de bonecos e bastava pedir uma passagem que ganhava, não precisava implorar ou entrar em Orçamento Participativo! Foi assim que fui pro Espírito Santo, representando o RGS. Hoje fica todo mundo louco prá entrar no Em Cena, mas só prá assistir!

Quando fiz A Mãe, ninguém me conhecia. Eu queria conseguir a Sala Álvaro Moreira, mas para isso tinha que destrinchar um edital, prá mim um mistério... O Tatata Pimentel, então diretor do Renascença, só checou a agenda: “Ah, tem data! Dois meses prá ti! Escreve uma cartinha à mão mesmo, nesse papel de pão!”. Fácil, acessível, sem burocracia. E não é que tivesse menos grupos, hein?

Então tu começou a ficar famoso...Em 82, quando o Júlio Conte ganhou troféu

como melhor ator por Bailei na Curva, eu subi no palco prá entregar um ramalhete de rosas para o prefeito Villela. Cheguei a beijar o homem na boca, foi um sucesso. Daí que as pessoas passaram a ter medo de mim. Mas eu digo que basta ter respeito.

Atualmente tu faz shows na noite, em casas guei e hétero.

Faço shows em jantares de casais, salões de beleza, onde me chamarem eu vou. Casa guei, só o Era Uma Vez! Não gosto desse clima de quarto escuro, detesto que me ponham a mão e eu não enxergue quem é! Faz tanto tempo que eu trabalho, que os strippers entram e saem sem que eu me dê conta... Porém, já fiz show em lugares em que o camarim era no cantinho e rolavam horrores.

Comecei a trabalhar na noite lá na Arca de Noé, na Ramiro Barcelos. Viram meu show no Viva a Gorda, me convidaram e eu nunca mais larguei! Eu trabalhava no Bahamas e na Wanda até as sete da manhã, e saía direto para seis apresentações na escola Pastor Doms, espetáculo infantil. De vez em quando vou no Vitraux, e também no Sunga, até em Tramandaí. Na inauguração do Sunga em PoA, me botaram num queijinho, e eu de chambre... Subi nos palcos de muitos lugares.

Babados fortíssimos?Bah! Aqui no Era não rola cheiração, e há

controle dos banheiros. Mas na Wanda, naquela época, a polícia entrava, colocava as bichas na parede, no chão, era um horror! E eu bebia muito, já cheguei a tomar 40 cubas-libres numa noitada. Certa vez acordei de manhã, amarrado

(Castanha abre e estica as pernas e os braços) debaixo de uma mesa de sinuca!

Desde que tive Hepatite, nunca mais bebi nada! E olha, quando eu parei de beber, achei que não seria mais capaz de fazer show nenhum! Eu entrava completamente louco, no teatro eu entrava louco, já tomei ácido para fazer peça de teatro infantil. Houve a peça infantil que tinha duração de 45 minutos e levou uma hora e meia... Foi o dobro do tempo, e as crianças adorando!! Acho que não é a idade, mas eu já me acomodei um pouco...

Te preocupa o futuro?Ah, atualmente eu consigo viver só fazendo

shows, paga meu aluguel, o ônibus. Já me convidaram para ir a São Paulo, mas não gosto de dever favores, viver em casa de amigo não dá. Penso em fazer shows sem a obrigação de pagar minhas contas, mas só por prazer! Tem vezes que me convidam e eu vou só pelo dinheiro, como o próprio teatro infantil, que é torturoso! Exceto o Zé Adão Barbosa e a Irene Britzke, os outros só me passaram cambalacho... Gente, ele é bem direto! Prefiro fazer meu show e ir prá casa.

É legal essa idéia de casamento, papel passado, etc?

Acho que sim, se dois caras constroem juntos um patrimônio, não pode ser que, quando um morre, a família venha e leve tudo! Mas não vale se há traição e hipocrisia. Eu sou bem caretinha. Tô casado há três anos, e moro junto com um rapaz de 23 anos. Ele trabalha e não gosta de boates.

Não rola ciúme?Não. Agora que minha mãe tá meio doente,

fico dias sem ver a cara dele. Eu moro com ele, doze gatos e três cachorros. Ui! Alimento os bichos e saio, deixando um bilhete, tchau... A gente se vê e fica junto: desde os trinta eu não choro mais por amor. Não sofro mais.

Maria Helena tá quase pronta, faltam os óculos e-nor-mes, e a peruca branca, espetada. E essa pulseira de papel e lantejoulas, Castanha, foi tu quem fez? “É, fiz ontem à noite, enquanto eu e minha mãe assistíamos O Clone. Daí que eu inventei a Vó da Jade.”

Mas, para minha surpresa, Castanha me diz que, agora, depois da entrevista, vai tirar tudo, e vai se arrumar de novo, peça por peça, tim-tim por tim-tim, mais tarde: “Não agüento ficar montado até a hora do show! Não tenho saco!”

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