Num bairro moderno

20
ESCOLA SECUNDÁRIA PINHEIRO E ROSA NUM BAIRRO MODERNO DE CESÁRIO VERDE Professora : Armanda Mesquita Trabalho Realizado por : Adriana Marta Nº1 Brigida Laranjo Nº5 Eliana Luís Nº8 11ºE

description

Análise de Poema, Cesário Verde

Transcript of Num bairro moderno

Page 1: Num bairro moderno

ESCOLA SECUNDÁRIA PINHEIRO E ROSA

NUM BAIRRO MODERNO DE CESÁRIO VERDE

Professora: Armanda MesquitaTrabalho Realizado por: Adriana Marta Nº1

Brigida Laranjo Nº5Eliana Luís Nº8

11ºE

Page 2: Num bairro moderno

NUM BAIRRO MODERNO

Dez horas da manhã; os transparentes Matizam uma casa apalaçada; Pelos jardins estancam-se as nascentes, E fere a vista, com brancuras quentes, A larga macadamizada.  

Rez-de-chaussé repousam sossegados, Abriram-se, nalguns, as persianas, E dum ou doutro, em quartos estucados, Ou entre a rama dos papéis pintados, Reluzem, num almoço as porcelanas.  

Como é saudável ter o seu conchego, E a sua vida fácil! Eu descia, Sem muita pressa, para o meu emprego, Aonde agora quase sempre chego Com as tonturas duma apoplexia.

E rota, pequenina, azafamada, Notei de costas uma rapariga, Que no xadrez marmóreo duma escada, Como um retalho de horta aglomerada, Pousara, ajoelhando, a sua giga.  

E eu, apesar do sol, examinei-a; Pôs-se de pé; ressoam-lhe os tamancos; E abre-se-lhe o algodão azul da meia, Se ela se curva, esguedelhada, feia E pendurando os seus bracinhos brancos.  

Do patamar responde-lhe um criado: "Se te convém, despacha; não converses. Eu não dou mais." E muito descansado, Atira um cobre ignóbil oxidado, Que vem bater nas faces duns alperces.

Page 3: Num bairro moderno

Subitamente - que visão de artista! - Se eu transformasse os simples vegetais, À luz do Sol, o intenso colorista; Num ser humano que se mova e exista Cheio de belas proporções carnais?!  

Bóiam aromas, fumos de cozinha; Com o cabaz às costas, e vergando, Sobem padeiros, claros de farinha; E às portas, uma ou outra campainha Toca, frenética, de vez em quando.  

E eu recompunha, por anatomia, Um novo corpo orgânico, aos bocados. Achava os tons e as formas. Descobria Uma cabeça numa melancia, E nuns repolhos seios injectados

As azeitonas, que nos dão o azeite, Negras e unidas, entre verdes folhos, São tranças dum cabelo que se ajeite; E os nabos - ossos nus, da cor do leite, E os cachos de uvas - os rosários de olhos.  

Há colos, ombros, bocas, um semblante

Nas posições de certos frutos. E entre As hortaliças, túmido, fragrante, Como dalguém que tudo aquilo jante, Surge um melão, que me lembrou um ventre.

E, como um feto, enfim, que se dilate, Vi nos legumes carnes tentadoras, Sangue na ginja vívida, escarlate, Bons corações pulsando no tomate E dedos hirtos, rubros, nas cenouras.

Page 4: Num bairro moderno

O Sol dourava o céu. E a regateira, Como vendera a sua fresca alface E dera o ramo de hortelã que cheira, Voltando-se, gritou-me prazenteira: " Não passa mais ninguém! ... Se me ajudasse?! ..."

Eu acerquei-me dela, sem desprezo; E, pelas duas asas a quebrar, Nós levantámos todo aquele peso Que ao chão de pedra resistia preso, Com um enorme esforço muscular. (...)

E pitoresca e audaz, na sua chita, O peito erguido, os pulsos nas ilhargas, Duma desgraça alegre que me incita,

Ela apregoa, magra, enfezadita, As suas couves repolhudas, largas.

E, como as grossas pernas dum gigante, Sem tronco, mas atléticas, inteiras Carregam sobre a pobre caminhante,

Sobre a verdura rústica, abundante, Duas frugais abóboras carneiras.

Page 5: Num bairro moderno

ANÁLISE FORMAL

O poema é constituído por 20 estrofes, cada estrofe tem 5 versos (quintilha).

Os versos são decassilábicos. A rima é do tipo A B A A B (rimas

cruzadas e emparelhadas).

“Dez horas da manhã; os transparentes AMatizam uma casa apalaçada; BPelos jardins estancam-se as nascentes, AE fere a vista, com brancuras quentes, AA larga macadamizada.“ B

Page 6: Num bairro moderno

TEMA / ASSUNTO

Tema: Deambulação do sujeito poético. Assunto: O sujeito poético deambula por

um bairro de Lisboa e vai encontrando várias personagens.

Page 7: Num bairro moderno

LOCALIZAÇÃO ESPÁCIO-TEMPORAL (ELEMENTO REALISTA)

Page 8: Num bairro moderno

VÁRIOS PLANOS FOCADOS PELO OLHAR DO SUJEITO POÉTICO

O sujeito poético visualizou os vegetais e transformou o que a rapariga carregava na reconstituição de um ser humano.

Page 9: Num bairro moderno

PRESENÇA DA LUZ NOS PRIMEIROS VERSOS

Exemplos:‘’ os transparentes/ Matizam uma casa’’, ‘’ fere a vista com brancuras quentes’’.

Page 10: Num bairro moderno

SINESTESIA NA 1ª ESTROFE

Sensações visuais e táteis (cor e temperatura)

Page 11: Num bairro moderno

CARATERIZAÇÃO DA REGATEIRA

Aspeto físico – "pequenina", "esguedelhada, feia", "os (...) bracinhos brancos", "magra", "enfezadita; o vestuário "rota“.

Recurso a diminutivos.

O poeta auxilia a "regateira“.

Page 12: Num bairro moderno

OPOSIÇÃO CIDADE / CAMPO

O que sentia Cesário Verde pela cidade e pelo campo?

Page 13: Num bairro moderno

VALOR EXPRESSIVO DAS METÁFORAS, SÍMBOLOS DA OPOSIÇÃO CIDADE-CAMPO

‘’Atira um cobre lívido, oxidado/ Que vem bater nas faces duns alperces.’’

Page 14: Num bairro moderno

OLHAR METAMORMOFOSEANTE DO SUJEITO POÉTICO / TRANSFIGURAÇÃO DO REAL (HUMANIZAÇÃO DO CABAZ DE FRUTA)

Page 15: Num bairro moderno

-RELAÇÃO ENTRE A HUMANIZAÇÃO DA FRUTA -A COMUNICAÇÃO DIRETA COM A VENDEDEIRA -A TRANSFORMAÇÃO VITAL DO SUJEITO POÉTICO

-Transfiguração do real, comparando os vegetais ao corpo humano.

Exemplo:“As azeitonas, que nos dão o azeite,Negras e unidas, entre verdes folhos,São tranças dum cabelo que se ajeite”

Page 16: Num bairro moderno

“Achava os tons e as formas. DescobriaUma cabeça numa melancia,E uns repolhos seios injetados”

Page 17: Num bairro moderno

SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO “POBRE CAMINHANTE”

Demonstração de simpatia para com as pessoas do campo.

Em oposição à forma como descreve as pessoas da cidade.

Exemplo: “Do patamar responde-lhe um criado: "Se te convém, despacha; não converses. Eu não dou mais." E muito descansado, Atira um cobre ignóbil oxidado, Que vem bater nas faces duns alperces.”

Page 18: Num bairro moderno

DIMENSÃO IMPRESSIONISTA DO POEMA, ATRAVÉS DE PALAVRAS DOS CAMPOS SEMÂNTICOS DE LUZ E COR

Cor: ‘’a rama dos papéis pintados’’, ‘’algodão azul’’, ‘’bracinhos brancos’’, cobra lívido, oxidado’’, ‘’faces duns alperces’’, ‘’ o intenso colorista’’, ‘’claros de farinha’’, ‘’ as azeitonas (…) negras’’, ‘’verdes folhas’’, ‘’da cor do leite’’, ‘’ginja vivida, escarlate’’, ‘’dedos rubros’’, ‘’Descolorida nas maças do rosto’’, ‘’janela azul’’’, ‘’nuvens alvas’’, ‘’laranja’’

Page 19: Num bairro moderno

Luz: ‘’os transparentes/ Matizam uma casa’’, ‘’ fere a vista com brancuras quentes’’, ‘’ Reluzem, num almoço, as porcelanas’’, ‘’apesar do sol’’, ‘’ á luz do sol’’, ‘’O sol dourava’’, ‘’joeira ou que borrifa estrelas’’, ‘’e a poeira que eleva nuvens’’, ‘’o sol estende pelas frontarias,/ Seus raios de laranja destilada’’.

Page 20: Num bairro moderno

FIM