NUNCA É TARDE PARA REALIZAR - VICENCIO PALUDO

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"Nunca é tarde para realizar" é uma das muitas frases que Vicencio Paludo costuma pronunciar. A trajetória do empresário sempre foi movida a desafios, tanto que quando estava com mais de 50 anos de idade, decidiu viajar pelo país em busca de uma grande oportunidade de negócio. E encontrou. Mesmo sem estrutura, capital suficiente e recursos tecnológicos, ele decidiu montar uma fábrica de remendos e manchões. Com perseverança, foco, fé, criatividade e apoio da família, aquela iniciativa se transformou na maior empresa do setor de borracha do Brasil, e uma das maiores do mundo. A vida de Vicencio Paludo é um verdadeiro aprendizado para aqueles que acreditam que nunca é tarde para realizar. NUNCA É TARDE PARA REALIZAR! NUNCA É TARDE PARA TRANFORMAR SEUS SONHOS EM REALIDADE!

Transcript of NUNCA É TARDE PARA REALIZAR - VICENCIO PALUDO

Vicencio paludo

n u n c a é t a r d ep a r a r e a l i z a r

e l i a s a w a d

S ã o P a u l o 2010

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Este espaço é de grande importância para mim, pois aqui registro agradeci-mentos a cada pessoa, instituição ou cidade que me acolheu e me ajudou:

Aos meus pais, pela educação e por me ensinarem uma profissão; aos meus irmãos;

Aos meus professores e ex-patrões; aos meus comandantes do Exército, onde muito aprendi;

A cada uma das cidades por onde passei: Paraí, cidade natal; Entre Rios, onde iniciei a minha vida profissional e também como pai de fa-mília; São Jorge, pois lá consegui bons resultados profissionais; agradeço a Nova Prata e a toda a comunidade, pois nesta cidade a Vipal nasceu e se consolidou como uma empresa de sucesso;

Aos clientes, que deixaram de usar o produto importado e passaram a acreditar na minha empresa; às instituições bancárias, tão importantes nos momentos de dificuldades e de crescimento da Vipal;

Aos meus filhos, netos e bisnetos;

Agradeço à minha saudosa esposa Ângela, tão presente em cada minu-to da minha vida;

Agradeço a você, leitor, por se interessar pela minha história;

Agradeço a Deus, por tudo que Ele me fez viver e alcançar;

Agradeço a você, Pátria Amada Brasil!

Vicencio Paludo

Copyright © 2010 by Elias Awad

Produção Editorial Equipe Novo Século

Capa Reinaldo Feurhuber

Projeto Gráfico Guilherme Xavier

Composição Isabel Xavier da Silveira

Preparação de texto Alessandra Kormann

Revisão Salete Milanesi

Foto de capa Milton Lewa Moraes

Impresso no BrasIl

prInted In BrazIl

dIreItos cedIdos para esta edIção à

novo século edItora

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“ Carreira se ganha no planejamento ”

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Prefácio

Caro leitor,

Expressar uma vida em algumas linhas... Transportar as experiências de vida para as páginas de um livro é um

ato de coragem. E essa é uma das palavras que eu uso para definir a tra-jetória vencedora do empresário Vicencio Paludo; do pai de família Vi-cencio Paludo; do amigo Vicencio Paludo; do meu pai, Vicencio Paludo. É com imensa honra que aceitei a missão de escrever o prefácio do livro, e aqui estou para fazê-lo em meu nome e de toda a família Paludo.

Outras palavras que não podem faltar na história de vida de Vi-cencio Paludo são superação e perseverança. Digo isso por ter acom-panhado cada passo dado nas cidades de Entre Rios, São Jorge e Nova Prata, todas na Serra Gaúcha.

Transitar por essas regiões nas décadas de 1940, 1950 e 1960 era extremamente difícil. Mas, em vez de reclamar das adversidades, ele procurava enfrentá-las e vencê-las. Otimismo é outra importante pa-lavra que consta no perfil de Vicencio Paludo.

E foi a união dessas qualidades com a coragem, a superação, a per-severança, o otimismo, e uma enorme dose de criatividade, que Vicen-cio Paludo abriu seu próprio negócio, uma pequena ferraria.

Ser empresário é antes de tudo uma questão de atitude. De nada

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adianta querer ter o próprio negócio se você não sabe praticar o verbo gerar: gerar oportunidades, gerar trabalho, gerar alegria, gerar rique-za. E foi justamente por conjugar o verbo gerar durante toda a sua vida que aquela pequena ferraria deu origem à Vipal Holding, o maior conglomerado de borrachas do Brasil e um dos principais do mundo.

Mas uma trajetória vitoriosa não se constrói sozinho. Dela fazem parte minha saudosa e aguerrida mãe, Ângela, os nove filhos e as mi-lhares de pessoas que contribuíram, direta ou indiretamente, para o vitorioso resultado alcançado. Aí entra outra qualidade de Vicencio Paludo: saber escolher pessoas.

Claro que somos fruto das transformações provocadas pelo meio em que vivemos e, principalmente, pelo conhecimento que adquiri-mos. Vicencio Paludo, que atravessou as mais distintas épocas sociais, políticas e econômicas do Brasil, é um homem de vasto conhecimen-to. Um homem que, além da cultura adquirida, traz dentro de si um enorme espírito empreendedor; uma sensibilidade que o faz levar em conta inúmeros aspectos antes de uma tomada de decisão. Até as mais árduas decisões são assumidas na certeza de se estar seguindo o me-lhor e mais seguro caminho. Quantas não foram as vezes em que com um simples olhar, com uma palavra bem colocada, ele conseguiu fa-zer com que um momento de dificuldade passasse a representar uma grande oportunidade. Muitos foram os momentos de turbulências que enfrentamos, pois eles também atingem e deixam grandes ensi-namentos àqueles que protagonizam uma trajetória de sucesso.

Aprendi também com o tempo a dizer não. O mundo dos negó-cios não é uma eleição do mais simpático e agradável. Nele, existem regras, condutas, posturas, isenção de privilégios e, principalmente, ética. Mas a negativa não significa o fim de um contato, de uma re-lação comercial, pois através dela pode haver amadurecimento e fortalecimento ainda maior na inter-relação. Meu pai me ensinou que a palavra não significa um recomeço e não o fim; representa a necessidade de mudanças e transformações positivas.

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Empresas necessitam de referências. Vicencio Paludo é a referên-cia do grupo de empresas ligado à Vipal Holding. Essa presença e li-derança forte que ele representa eu ainda consigo perceber claramen-te nas reuniões de acionistas ou mesmo nos momentos de definições. Sua opinião sempre é requisitada. E a cada vez que ele exterioriza seu pensamento, mais eu me conscientizo da alegria, do orgulho e da honra que é ser filho de Vicencio Paludo, sentimento que certamente acomete minhas irmãs e irmãos.

Também avalio que ser fiel aos conceitos, pautando-se sempre na justiça das avaliações e na eliminação de privilégios, configura uma relação de outras características e ramificações desta árvore vistosa e cheia de frutos em que se transformou a trajetória de Vicencio Palu-do. “Metas, missões e valores. Jamais deixe de tê-los e de praticá-los”, costuma dizer ele.

Bem, espero ter cumprido com sucesso o desafio de escrever este prefácio. Um desafio que aceitei por estar ao lado de Vicencio Paludo há décadas. Eu nasci em 1947, e nestes anos todos de convivência, vi esse homem chorar, sorrir, se impor, criar, descobrir, investir, arriscar, planejar... eu vi esse homem triunfar...

Deixo então ao Seu Vicencio, como costumo chamá-lo carinhosa-mente, minhas três últimas palavras, pronunciadas em coro pela se-gunda, pela terceira e pelas gerações futuras da família Paludo: Nós te amamos!

ARLINDO PALUDOPresidente do Conselho de Administração do Grupo Vipal

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“ Só erra quem faz ”

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Compartilhar Experiências

Caro leitor

Este é um livro que teve suas primeiras páginas escritas a partir de 1921, ano em que eu nasci, e que ganhou material e conteúdo com

o passar do tempo. Suas páginas contam minhas lembranças, meu tra-jeto, minhas conquistas, momentos felizes e outros nem tanto...

Independentemente das situações pelas quais passei, posso des-tacar dois itens que sempre estiveram presentes na minha vida: amor e união. Essas foram as principais receitas que utilizamos, eu e minha esposa Ângela, para constituir nossa família, composta por nove filhos, que originaram netos e bisnetos, assim como para criar e desenvolver a empresa Vipal. Tivemos uma vida de entrega ao trabalho, aos filhos e à religião. Uma trajetória de muitas dificulda-des, mas também de grandes alegrias e conquistas.

Venho de origem bastante humilde. Meu pai era dono de uma fer-raria, e meu sonho era seguir os passos dele. Realmente o fiz, mas provoquei mudanças que levaram o destino a me colocar na cidade de Nova Prata no ano de 1959. Ali teve início outro período de duro trabalho, mas também de perspectivas importantes.

Costumeiramente, as pessoas têm por hábito dizer: “Sonhar é inú-til...”. Eu particularmente discordo. Inútil não é sonhar, mas sim dei-

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xar uma vida inteira passar sem nada construir e não utilizar a criati-vidade, a força e a garra de trabalho para fazer desse sonho algo con-creto, uma fonte de oportunidades para você, para sua família e para muitas outras pessoas.

De sonho em sonho, saí da casa do meu pai, passei por outras ci-dades e cheguei a Nova Prata. De sonho em sonho abri um negócio que, anos mais tarde, permitiu-me empreender algo que acreditava. E sabe o que eu tinha a meu favor? A família, a criatividade, a determi-nação e uma grande ideia. Foram esses os pontos que usei como apoio. Dinheiro? Estrutura? Não havia... minha missão era a de colo-car em prática esse projeto de vida. O mais importante é que eu acre-ditava no projeto que criei e desenvolvi, pois, caso contrário, não con-seguiria convencer ninguém da sua viabilização. Contei com o refor-ço dos meus filhos, e todos foram importantes ao seu modo e ao seu tempo. Mas devo dizer que esse reforço, de forma especial, veio do mais velho, Arlindo Paludo, que desde a adolescência já me acompa-nhava e negociava com bancos os recursos que nos permitiram inves-tir no negócio. Afirmo que o Arlindo foi a bateria que fez meu carro se movimentar.

Assim como o Arlindo, todos os meus filhos foram também im-portantes para o crescimento da Vipal e para a realização pessoal que alcancei: as mulheres Maria de Lourdes, Ilda, Bernardete, Salete e Nair Ana; os homens Idir, a quem chamamos de “Tito”, João Carlos e... Vi-tacir, meu querido filho “Vita”. Uma fatalidade o tirou de nós em 17 de julho de 2007, em um acidente aéreo ocorrido no Aeroporto de Con-gonhas, em São Paulo. Agora ele está ao lado da mãe, a querida Ânge-la, mulher de pulso firme que ajudou a realizar os meus sonhos.

Bem, mas o empreendimento do Grupo Vipal, ligado principal-mente ao segmento de borrachas e com integrantes da primeira para a terceira geração, emprega 3.500 colaboradores – registro de dezem-bro de 2009 –, sendo responsável por grande parte da arrecadação dos impostos de Nova Prata, cidade situada nas Serras Gaúchas e que

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está a 180 km de Porto Alegre. Temos ainda revendedores e distribui-dores espalhados pelo Brasil e por todos os continentes, além de seis unidades fabris, sendo três de borrachas e três de plásticos.

Mas é quase impossível contar, em poucas palavras, como foi este caminho percorrido até o fechamento do livro, em dezembro de 2009.

Melhor então convidá-lo a conhecer minha história, composta de acertos, dificuldades, superação, equívocos, empreendedorismo, emoções e muito, mas muito trabalho.

Depois de conhecê-la, nos encontramos nas páginas finais do li-vro, para que eu possa abrir um pouco mais meu coração a você, caro leitor.

VICENCIO PALUDO

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“ Onde está o problema,está a solução ”

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Caro leitor,

Você estaria disposto a recomeçar um projeto de vida aos 87 anos de idade? E se esse projeto de vida fosse um livro? Pois

nas páginas seguintes, ao conhecer a biografia do senhor Vicencio Paludo, você irá, assim como eu, se “contagiar” com tanta garra e vontade de viver; com tanta criatividade e fé; com tanto humanis-mo e empreendedorismo.

Um homem que aos 87 anos esteve sempre disposto e solícito para se submeter a um verdadeiro “bombardeio” de perguntas que envol-viam a sua trajetória profissional e também aspectos pessoais. Real-mente, em momento algum recebi uma negativa do senhor Vicencio Paludo; para esse homem, a palavra “não” está fora do dicionário. Um homem que soube esperar o momento, já aos 88 anos de idade, de receber o livro biográfico em suas mãos.

Confesso que em muitas passagens emocionei-me com os relatos que ouvia, transcrevia e escrevia. Emocionei-me também quando, sabedor da origem do senhor Vicencio Paludo, fui percorrer suas fábricas, onde encontrei um exímio modelo de organização, susten-tabilidade, limpeza, logística e tecnologia.

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Emocionei-me pela forma como fui recebido pelo senhor Vicen-cio e por toda a família Paludo. E será que é possível realizar uma missão tão desafiadora como esta sem o componente da emoção?

Só mesmo um ser humano e empresário criativo e diferenciado para construir tal estrutura empresarial e familiar.

Os grandes empreendedores são aqueles que olham para as es-trelas – que metaforicamente representam as trajetórias de sucesso – e acreditam que conseguirão pegá-las com as mãos. Você pode até pensar: “Mas nisso muita gente acredita”. Sim, é verdade. Mas, ao mesmo tempo que muitos acreditam que podem, só alguns conse-guem; só alguns tornam isso uma meta que conseguem realizar.

Certamente, o que diferencia os grandes empreendedores é que eles se encontram no segundo grupo. Portanto, não tenha medo ou receio de sonhar e de acreditar, por mais impossível que isso possa parecer de se realizar.

Então, amigo leitor, conheça a partir de agora a biografia do se-nhor Vicencio Paludo. Ao final, erga suas mãos na direção das estre-las. Você vai ver que é sim possível agarrá-las.

É isso que Deus mostra ao presentear-me com as histórias de su-cesso que escrevi. É isso que sinto ao receber do senhor Vicencio Pa-ludo a honra de poder biografá-lo.

Boa leitura

ELIAS AwAD

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Prólogo

Estávamos em fins de 1946. O jovem Vicencio Paludo, recém--casado, disposto a construir a própria família, procura seu

pai, dono de uma ferraria, em busca de guarida para esse início de vida:

– Pai, estou casado há pouco tempo, preciso de apoio. O senhor bem sabe que conheço o trabalho a ser feito e...

Mas o jovem não conseguiu concluir o pensamento, interrompi-do que foi pelo pai, Pedro Paludo:

– Não posso! Se der essa oportunidade a você, seus irmãos tam-bém vão querer ter o mesmo. E o que eu vou dizer a eles?

Duras palavras aquelas, que calaram fundo no jovem, mas não o bastante para que desistisse do desejo de permanecer junto aos pais e irmãos:

– Pai, já lhe pedi isso tempos atrás. Façamos assim: eu trabalho em troca de casa, comida e de um pouco de dinheiro; pouca coisa, somente para comprar umas roupas, utensílios... quero trabalhar com o senhor na ferraria, quero aprender mais da profissão.

Mas o pai mostrou-se irredutível:– Não posso, meu filho!– Mas... pai... eu e a Ângela...Para espanto de Vicencio, o pai deu-lhe as costas. Surpreso, ele

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não entendeu aquela atitude. Mas, de repente, Pedro voltou a falar, agora com a voz embargada:

– Filho, de uma vez por todas, não posso empregar você! – agora sua voz soava um tom mais alto. – Por favor, meu filho, entenda. Não há espaço para você e para os seus irmãos na minha oficina. Arrume emprego em outro lugar... talvez em outra cidade...

Frente a frente, pai e filho se entreolhavam. Desta vez, a resposta de Pedro era definitiva; ele não daria a Vicencio a oportunidade de ganhar uma remuneração, de ser seu sucessor na ferraria. Dos olhos do pai corriam lágrimas. No filho, uma dor imensa fazia seu cora-ção chorar e gritar: “Você não tem mais nada a fazer nesta terra que o viu nascer!”. E, antes que as lágrimas chegassem a seus olhos, ele meneou a cabeça em sinal de respeito e se dirigiu ao pai:

– Está certo, então. Tenho duas propostas de trabalho – contou ele a Pedro, que não fez menção de querer saber quais eram. – Meu desejo era continuar aqui, ainda que por pouco tempo. Mas agora vou seguir minha vida de outra forma.

Decidido, o jovem pediu licença ao pai e caminhou em direção à porta da ferraria. Mas, antes que ele se fosse, o pai ainda disse:

– Se precisar, eu empresto uma mula para a viagem. – Eu aceito.Assim acertado, o jovem saiu, sabendo que, para se decidir, ainda

dependia de uma conversa com a esposa. Enquanto caminhava, seu pensamento ia longe: “Será que Ânge-

la estará disposta a me seguir? Será que ela me entenderá? Será que me apoiará?”.

Ao chegar em casa, Ângela estava arrumando o quarto em que moravam, na casa dos pais de Vicencio. Assim que a porta se abriu, ela foi em direção ao marido. Com a boca seca pela situação que acabara de ser protagonizada entre ele e o pai, e por causa da ansie-dade criada, Vicencio tomou duas canecas de água, atitude que cha-mou a atenção da esposa:

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– Que cara é essa? Como foi a conversa com seu pai?Então, tropeçando nas palavras, ele contou tudo à esposa. E, sem

esperar qualquer resposta, perguntou-lhe:– Ângela, podemos até continuar na casa do meu pai, mas terei

que encontrar outro lugar para trabalhar que não seja a ferraria dele – ela o ouvia, mas sem chance de responder. – Outra opção é bus-carmos nossa felicidade fora daqui, procurando um lugar onde pos-samos começar nossa vida juntos. Sua escolha definirá nosso rumo.

A jovem esposa pôde sentir nas palavras do marido um desejo de mudança, mas seu pensamento ia mais adiante:

– Nós seremos felizes em qualquer lugar que escolhermos. Por-tanto, quero que a decisão seja sua. Decida, querido, e eu o acompa-nharei e o apoiarei. Deus nos ajudará a tomar a decisão certa.

Ao ouvir a resposta de Ângela, o jovem, esboçando um leve sor-riso, grato a Deus pela postura da esposa, seguiu com as palavras, agora mais forte e decidido:

– Temos dois convites. Podemos ir para Entre Rios ou continuar no Paraí, mas agora no centro da cidade do Paraí. Amanhã vamos resolver. O certo mesmo, Ângela, é que nas terras do meu pai não ficaremos.

No dia seguinte bem cedo, perto das 5h30, o rapaz já se despedia dos pais e dos irmãos, tão rápido quanto lhe foi possível, antes que a emoção tomasse conta de todos.

Já de volta ao lado de Ângela, novamente a esposa lhe demons-trou seu apoio e carinho:

– Não pense em nada que possa atrapalhar seus objetivos. Vá, querido, acerte tudo. Estarei aqui, à sua espera. Seremos muito feli-zes, não importa onde estejamos.

“... não importa onde estejamos.” Sim, aquelas palavras eram sua base de apoio para tomar a decisão entre ficar e trabalhar no Paraí ou ir para Entre Rios, onde um homem de posses, chamado Ernesto Fabris, havia lhe mandado um recado através de um conhecido em

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comum: “Tenho uma pequena propriedade para alugar, onde há uma casa e uma oficina; um lugar humilde, mas onde se pode mon-tar uma ferraria. Além disso, garanto bom volume de serviço”.

Ambas as propostas eram boas e exigiriam muito trabalho. Mas trabalho nunca o assustara nem o intimidara, muito menos à sua esposa.

Apoiado por Ângela, mas ainda com a cabeça cheia de dúvidas, o rapaz dela se despediu com um carinhoso beijo e um forte abraço.

A mula, emprestada pelo pai, o esperava do lado de fora da casa, selada e já com alguns pertences. Em passos lentos, mas firmes, ele caminhou até o animal e o montou.

Antes de partir, virou-se, sorrindo e acenando para a esposa:– Logo estarei de volta – disse Vicencio. – Que Deus o acompanhe! – Ângela gritou para o marido, rece-

bendo dele um sinal de positivo com a cabeça.Agora o coração do rapaz se apertava. Ansiedade, dúvida e, aci-

ma de tudo, esperança, o acompanhavam. Ao longe, o sol já começava a nascer; era uma luz que clareava

seu caminho. Mas... qual caminho? Para onde ir? Que cidade esco-lher, se ambas lhe ofereciam trabalho e lhe acenavam com a chance de um futuro melhor para a construção de seus sonhos?

Enquanto andava vagarosamente sobre a mula, seus pensamen-tos se atropelavam. De repente, ele se viu diante de uma bifurcação na estrada. Aquele era o ponto que exigia sua decisão. Direita ou esquerda? Seu futuro dependia da direção a tomar. Já não havia nin-guém para consultar...

Ninguém? Ali parado, o rapaz tirou do bolso a pequena e inseparável cruz

que sempre trazia consigo. Desmontou e, segurando a cruz nas mãos fechadas, rezou um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Com a cabe-ça e as mãos elevadas ao céu, numa voz baixa, mas cheia de emoção, ele pediu:

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– Meu Deus, a indecisão tomou conta de mim. Peço-Vos que me ajude a encontrar o melhor destino. O Senhor me fez sobreviver à guerra, porque antes me orientara a ter uma profissão. Agora, peço--Lhe que me indique um caminho para seguir minha vida. Por favor...

Já montado novamente, com lágrimas a escorrer por seu rosto, ele sentiu a mula se mover. Sem comandar as rédeas, somente acom-panhou a mula simplesmente virar lentamente à direita... seu cami-nho estava definido. Ele, o Senhor de seu destino, assim havia deter-minado...

E ali sua vida recomeçaria em... Entre Rios... era este o caminho indicado pela Luz Divina.

O recomeço que levaria Vicencio Paludo a tornar-se pai de famí-lia; Um caminho que lhe permitiria anos depois ser um empresário muito bem-sucedido.

Mas... e como será que este caminho seria percorrido?

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“ Um vazamentopequeno pode

esvaziar um barril ”

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CAPíTULO 1

Família Paludo, da Itália para o Brasil

Nasce Vicencio Paludo

Era meio da tarde daquele 12 de agosto de 1921. Pedro Paludo aguardava ansioso na sala da casa em que morava com a famí-

lia, até que do quarto do casal veio a notícia: – É um menino! No mesmo instante, Pedro foi ao encontro da mulher e do filho.

Lentamente, aproximou-se da cama e acariciou a esposa, grato pelo sexto filho do casal, e virou-se para receber em seus braços o recém--nascido, já envolvido em um lençol. Olhando fixamente para o filho, Pedro sentia uma deliciosa sensação de leveza em seus braços. Mas a criança estava inquieta, seu choro parecia sinal de um incômodo qualquer; Pedro imaginou se não seria por causa da pouca claridade do ambiente. De repente, o choro cessou. Provavelmente, o calor de seu corpo tenha confortado a criança, transmitindo-lhe uma sensa-ção de proteção. Agora, já tranquilo e sorridente, Pedro sussurrou ao ouvido do bebê:

– Bem-vindo, meu filho; bem-vindo, Vicencio! O menino, então, além da vida, tinha acabado de ganhar um nome.

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Vicencio passou sua infância em meio a muito trabalho, não havia um dia sequer em que não houvesse tarefas a cumprir.

Sua mãe, Carolina, sempre com problemas de saúde e por vezes aca-mada, sofrendo com a diabetes – porque naquele tempo e onde viviam não havia médico para ajudá-la –, mais comandava do que participava da rotina da casa e da família. Por isso, quem cuidava da alimentação, da ordem e dos afazeres da casa eram as filhas mais velhas, embora a divisão das tarefas fosse passada a elas pela própria Carolina. Mas a prioridade era mesmo o trabalho na lavoura. Por isso, geralmente ape-nas uma das filhas ficava em casa preparando tudo, enquanto as outras iam para o trabalho no campo.

Ao longo do tempo, Carolina perdeu a audição e sua saúde conti-nuou se debilitando cada vez mais. Mas, mesmo sofrendo, ela ainda viveu por muitos anos, vindo a falecer em 9 de novembro de 1982. E esta era a imagem da mãe que o menino Vicencio, então com seis anos, carregava consigo: uma mulher doente, mas meiga e respeitosa, de pou-cas, justas e sábias palavras. Como ela costumava dizer: “O que é certo não precisa de discussão”. Era uma mãe que amava demais seus filhos, não gritava nem batia, pois não precisava disso para que eles a respei-tassem.

Já Pedro Paludo era bem diferente, muito enérgico e autoritário; tal postura era fruto da rígida criação que tivera do pai, Enrico Paludo, o patriarca da família. Enrico era agricultor, nascido em Fossalta Di Pia-ve, perto de Veneza, na Itália. Em 1887, acompanhado de sua esposa, Luigia Furlanetto, e dos seis filhos, o homem decidiu emigrar para o Brasil em razão das precárias condições vividas por ele e pela família na Itália. Certos da mudança de rumo, Enrico e os seus vieram para o Bra-sil; ao desembarcarem em terras cariocas, diferentemente de outros con-terrâneos, que optaram pelo Rio de Janeiro, eles resolveram se estabelecer no Sul do país, mais precisamente no Rio Grande do Sul, na cidade de Cotiporã, na época apenas um povoado. O casal teve ao todo 11 filhos, entre eles Pedro, que tinha 13 anos quando Enrico Paludo faleceu.

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Quanto ao modo de Pedro criar os filhos, quando os mais velhos sa-íam à noite, o pai marcava hora para que voltassem. E aquele que se atrasasse, o que era raro acontecer, podia se preparar para ser recebido com um sermão. Pedro costumava dizer: “Regras não devem ser que-bradas”. Esse modelo de educação rígida foi o mais praticado pelas fa-mílias brasileiras na primeira meta-de do século 20.

Nos poucos momentos de distra-ção e lazer que podia ter, a família Paludo aproveitava para participar de festas ou promover encontros com os amigos. Mas nem sempre toda a família podia estar reunida nessas horas, porque alguém tinha que cumprir os afazeres domésticos. Por isso, era comum que nessas oca-siões metade ou até dois terços da família ficasse em casa para adubar, colher ou mesmo cozinhar e preparar conservas para a semana; era pre-ciso ainda cuidar dos animais, vacas, porcos e galinhas, pois, além de alimentá-los, havia o risco de serem atacados – principalmente as gali-nhas – pelos bichos da mata, como raposas, jaguatiricas (semelhantes ao leopardo) e graxains (uma espécie de cachorro selvagem). Não raras ve-zes se fazia necessário, além de proteger os animais da família, ter que sair correndo para cuidar da própria integridade física, porque esses bi-chos do mato investiam contra as outras espécies de bichos, mas, quando extremamente famintos, na falta destes, acabavam por atacar as pessoas.

O que mais animava o pequeno Vicencio eram os churrascos, que aconteciam sempre aos finais de semana. Ele “ajudava” a cavar um bu-

Pais de Vicencio, Carolina Casanova e Pedro Paludo, ao lado de uma das filhas

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