NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS NATIVAS DO CERRADO

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NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS NATIVAS DO CERRADO --REVISÃO BIBLIOGRÁFICA-- Natália Hilgert de Souza Introdução O Cerrado brasileiro possui uma grande quantidade de produtos florestais não madeireiros potencialmente úteis economicamente. Os frutos das espécies nativas ocupam um lugar de destaque na alimentação da população local. Muitos desses frutos possuem elevado teor de açúcares, proteínas, vitaminas e sais minerais (ALMEIDA et al., 1998). Hoje, existem mais de 58 espécies de frutas nativas conhecidas e utilizadas pela população da região e de outros estados (AVIDOS e FERREIRA, 2003). Além do uso alimentício, há diversas espécies vegetais com potencial oleaginoso, fornecedoras de fibras, forragem, tanino, corantes e medicamentos. As populações locais buscam na sua exploração, alternativas que contribuam para sua sobrevivência. A crescente demanda de tecnologia para exploração do potencial de essências florestais nativas exige informações sobre a silvicultura nos diversos campos do conhecimento e, dentre eles, o da nutrição mineral. Em função da grande variabilidade genética observada nos cerrados, e face à heterogeneidade dos solos das regiões tropicais, são ainda incipientes os dados disponíveis sobre o comportamento destas espécies no que diz respeito aos requerimentos nutricionais e a sua capacidade de adaptação a condições ambientais distintas. As características físicas e químicas do solo estão entre os principais fatores que condicionam o desenvolvimento da vegetação, daí a ocorrência natural de diferentes formações florestais, mesmo em regiões homogêneas quanto aos demais fatores do ambiente. Dentre estes, a profundidade efetiva, presença de concreções no perfil, proximidade à superfície do lençol freático, drenagem e fertilidade são determinantes dessas fitofisionomias. Além das variações na fisionomia, ocorrem variações na composição florística, fitossociologia e produtividade desses ecossistemas naturais devido às variações na fertilidade e nas características físicas dos solos. O conhecimento dos aspectos nutricionais de espécies nativas do Cerrado é uma ferramenta

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NUTRIÇÃO MINERAL DE PLANTAS NATIVAS DO CERRADO--REVISÃO BIBLIOGRÁFICA--

Natália Hilgert de Souza

IntroduçãoO Cerrado brasileiro possui uma grande

quantidade de produtos florestais não madeireiros potencialmente úteis economicamente. Os frutos das espécies nativas ocupam um lugar de destaque na alimentação da população local. Muitos desses frutos possuem elevado teor de açúcares, proteínas, vitaminas e sais minerais (ALMEIDA et al., 1998). Hoje, existem mais de 58 espécies de frutas nativas conhecidas e utilizadas pela população da região e de outros estados (AVIDOS e FERREIRA, 2003). Além do uso alimentício, há diversas espécies vegetais com potencial oleaginoso, fornecedoras de fibras, forragem, tanino, corantes e medicamentos. As populações locais buscam na sua exploração, alternativas que contribuam para sua sobrevivência.

A crescente demanda de tecnologia para exploração do potencial de essências florestais nativas exige informações sobre a silvicultura nos diversos campos do conhecimento e, dentre eles, o da nutrição mineral. Em função da grande variabilidade genética observada nos cerrados, e face à heterogeneidade dos solos das regiões tropicais, são ainda incipientes os dados disponíveis sobre o comportamento destas espécies no que diz respeito aos requerimentos nutricionais e a sua capacidade de adaptação a condições ambientais distintas.

As características físicas e químicas do solo estão entre os principais fatores que condicionam o desenvolvimento da vegetação, daí a ocorrência natural de diferentes formações florestais, mesmo em regiões homogêneas quanto aos demais fatores do ambiente. Dentre estes, a profundidade efetiva, presença de concreções no perfil, proximidade à superfície do lençol freático, drenagem e fertilidade são determinantes dessas fitofisionomias. Além das variações na fisionomia, ocorrem variações na composição

florística, fitossociologia e produtividade desses ecossistemas naturais devido às variações na fertilidade e nas características físicas dos solos.

O conhecimento dos aspectos nutricionais de espécies nativas do Cerrado é uma ferramenta importante para compreender o estabelecimento destas em solos com baixa disponibilidade nutricional. Segundo Haridasan (2008), muitas espécies arbóreas nativas desenvolveram mecanismos de adaptação às condições de baixa fertilidade do solo, no entanto, essa questão deve ser comprovada por meio da capacidade de cada espécie responder à maior disponibilidade de nutrientes.

O objetivo desta revisão é apresentar os principais aspectos abordados dentro do tema “Nutrição mineral de plantas nativas do Cerrado”, destacando os principais estudos envolvendo espécies arbóreas nativas deste bioma.Práticas para produção de mudas e cultivo em Latossolos

Dentre os solos do Cerrado, os Latossolos representam 46%, são altamente intemperizados, com reduzida disponibilidade de nutrientes e alta saturação por alumínio (EBERHARDT et al., 2008). Associado a acidez e toxidez por Al, a baixa fertilidade natural compromete o desenvolvimento de diversas espécies. Os teores de matéria orgânica na camada superficial variam entre 10 e 30 g kg-1, resultando em baixo conteúdo de N. O P é fortemente adsorvido por óxidos de ferro e alumínio na fração argila e em argilominerais como a caulinita (PEREIRA et al., 2009). Deste modo, o N e o P estão entre os nutrientes mais limitantes para o crescimento e desenvolvimento das plantas nestas condições.

A prática mais comumente utilizada para neutralizar a acidez é a calagem, restaurando a capacidade produtiva dos solos, aumentando a disponibilidade de nutrientes e diminuindo os elementos tóxicos (SORATTO et al., 2008).

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Furtini Neto et al. (1999) estudando o crescimento inicial e nutrição mineral das espécies arbóreas Senna multijuga, Stenolobium stans, Anadenanthera falcata e Cedrela fissilis, em Latossolo Vermelho Escuro, observaram respostas distintas aos tratamentos (testemunha; 12 mmolc Ca dm-3; 3 mmolc Mg dm-3; elevação do pH sem aplicação de Ca e Mg; calagem para pH=6,0 com CaCO3 + MgCO3; e 15 mmolc Al dm-3 de solo), para as variáveis estudadas. A aplicação de Al limitou sensivelmente o desenvolvimento de todas as espécies, enquanto a calagem favoreceu o crescimento em altura, diâmetro e produção de biomassa. As maiores produções de matéria seca foram obtidas nos tratamentos com calagem, Ca e Mg, que favoreceram a aquisição e a utilização dos nutrientes. S. stans e C. fissilis se mostraram mais sensíveis à acidez, porém S. stans e S. multijuga foram as mais responsivas à correção do solo.

Todavia, considerando que a calagem em superfície pode ter ação limitada às camadas superficiais, a aplicação de gesso agrícola em superfície é apontada como uma alternativa para a melhoria do ambiente radicular, diminuindo a toxidez do Al trocável para as plantas, além de fornecer Ca, S, Mg e K para as plantas em profundidade. (CAIRES et al., 2003). Em espécies nativas, o gesso tem sido utilizado em programas de recuperação de áreas degradas como complemento da adubação. (CAIRES et al., 2003). Em estudo realizado por Silva et al. (2006) sobre eficiência no uso de nutrientes por espécies pioneiras verificou-se aumento no valor do pH e redução na concentração de Al nas camadas superficiais do solo (0-15 e 15-30 cm) nos tratamentos que continham fósforo + calcário e fósforo + calcário + gesso (P+Cal e P+Cal+G). Porém, o mesmo resultado não foi observado nas camadas mais profundas (abaixo de 30 cm) com aplicação de gesso, no entanto, o gesso e o fosfato favoreceram o desempenho das espécies nesses tratamentos.

A eficiência do gesso na melhoria dos efeitos da acidez no subsolo tem sido demonstrada em vários trabalhos, com grandes

culturas. Sua aplicação na superfície seguida por lixiviação para subsolos ácidos resulta em melhor crescimento radicular e maior absorção de água e nutrientes pelas raízes (CARVALHO e RAIJ, 1997), em decorrência do aumento da concentração de Ca, da formação de espécies menos tóxicas de Al (AlSO4

+) e da precipitação de Al3+ (SHAINBERG et al., 1989). Devido à escassez de estudos com espécies nativas ainda há dúvidas, sobre as condições em que se podem esperar efeitos favoráveis do gesso e sobre o método de recomendação do produto.

A baixa fertilidade do solo impõe restrições ao crescimento das plantas, e por isso o conhecimento dos aspectos nutricionais das espécies nativas do Cerrado é essencial para que as mudas não tenham seu crescimento prejudicado pelo desequilíbrio nutricional. Mudas produzidas com teor nutricional adequado têm melhor desenvolvimento, boa formação do sistema radicular e melhor capacidade de adaptação ao local definitivo.

Dentre as avaliações utilizadas para avaliar o efeito da adubação sobre o crescimento e desenvolvimento das plantas encontram-se: altura de plantas; diâmetro do caule; massas fresca e seca (folha, caule e raiz ou parte aérea e radicular); comprimento e diâmetro de raiz; área foliar; teor de clorofila; relações altura/diâmetro, parte aérea/raiz e raiz/parte aérea; índice de qualidade; taxa de crescimento relativo e absoluto, índice de área foliar, taxa assimilatória líquida etc.

Em trabalho realizado por Venturin et al. (2005) para verificar o efeito da omissão de nutrientes sobre o crescimento de mudas de Eremanthus erythropappus em Latossolo Vermelho-Amarelo, foi observado que os tratamentos com omissão de P e a Testemunha não apresentaram produção de matéria verde, indicando que a baixa disponibilidade de P ou a baixa fertilidade natural do solo não foram suficientes para manutenção do crescimento. No tratamento completo, as mudas apresentaram altura e diâmetro iguais ou superiores aos demais tratamentos. A omissão de N mostrou-se

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limitante, afetando em geral o crescimento das plantas em altura e diâmetro. O crescimento da parte aérea e radicular quanto à matéria seca foi reduzido pela ausência de N e a relação raiz/parte aérea foi mais afetada na supressão de Mg.

Fernandes et al. (2008) estudando doses de NPK na produção de mudas de Dimorphandra mollis, em Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico, recomendam a aplicação de 237, 390 e 227 mg dm-3 de N, P e K, respectivamente, para obter maiores valores de altura, diâmetro e produções de massa seca total.

O nível de saturação por bases também influencia o crescimento e qualidade de mudas em diferentes tipos de solo. Bernardino et al. (2005) utilizando uma mistura de CaCO3 e MgCO3 na relação estequiométrica 4:1, em três diferentes níveis, verificaram que a elevação da saturação por bases não teve influência significativa em nenhum dos parâmetros avaliados quando o substrato utilizado foi o Argissolo. Segundo os autores, os teores iniciais de Ca2+ (1,74 cmolc/dm3) e Mg2+ (0,17 cmolc/dm3) no solo, que já seriam suficientes para suprir as necessidades dessa espécie, durante a fase de muda. O índice de qualidade de Dickson indicou que as melhores mudas foram obtidas na saturação de 70,0% para o Latossolo distrófico e de 50,0% para o Latossolo álico, uma vez que, quanto maior o índice de qualidade de Dickson, melhor a qualidade das mudas.

Na maioria dos estudos sobre fertilização de mudas de espécies nativas foi verificado que as plantas respondem positivamente à adubação, especialmente em relação ao N e ao P. Segundo Marschner (1995), estes são os nutrientes que mais limitam o crescimento e o desenvolvimento vegetal. O N é necessário para a síntese da clorofila, estando envolvido na fotossíntese. Uma adubação nitrogenada adequada favorece os teores foliares deste e de outros elementos, especialmente P, aumentando, consequentemente, o crescimento e a produção (BOVI et al., 2002). O P é essencial para o crescimento normal das plantas e está entre os nutrientes com maior demanda, pois é um componente importante das

células vegetais, envolvido nos processos de respiração celular, fotossíntese e síntese de compostos orgânicos (TAIZ e ZEIGER, 2004).

Em estudo com planta nativa do Cerrado, Souza et al. (2006) relataram que os nutrientes N e P devem ser prioritários nos estudos de fertilização mineral do ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa). Utilizando-se a técnica do elemento faltante, esses autores verificaram menor produção de massa seca da parte aérea e radicular na ausência de N e P, e a relação raiz/parte aérea foi mais afetada na supressão de P. Nicoloso et al. (2001) observaram que a grápia (Apuleia leiocarpa) é muito exigente em P e medianamente exigente em K e N na fase inicial de crescimento. Dose superior a 80 mg kg-1 de P aumentou o crescimento das plantas e número de folhas, massa seca da planta, e a relação entre a massa seca das raízes e da parte aérea. O efeito benéfico da adubação nitrogenada foi condicionado à aplicação conjunta de K em relação às características avaliadas.

Para a produção de mudas de faveiro (Dimorphandra mollis), Fernandes et al. (2008) recomendam níveis de N e P no solo de 245 e 495 mg dm-3, respectivamente, para obter maiores valores de altura, diâmetro, massa seca da parte aérea e de raízes. Resende et al. (1999), utilizando diferentes doses de P no crescimento inicial de espécies florestais de diferentes grupos sucessionais obtiveram diferentes respostas quanto ao requerimento desse nutriente. As espécies pioneiras Lithraea molleoides, Schinus terebinthifolius, Piptadenia gonoacantha, Mimosa caesalpiniaefolia, Sesbania virgata foram mais responsivas ao fornecimento de P do que as clímax Hymenaea courbaril, Calophyllum brasiliensis, Tabebuia serratifolia, e Myroxylon peruiferum. A produção de massa seca total de aroeira e jacaré aumentou já na primeira dose de P aplicada (100 mg dm-3), sendo que para as demais pioneiras o crescimento foi menos expressivo. As espécies clímax mostraram-se pouco sensíveis ao suprimento de P, refletindo um baixo requerimento na fase de mudas.

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Métodos de avaliação da eficiência nutricional das mudas

São escassos os trabalhos referentes à utilização de índices para avaliação da eficiência nutricional de plantas nativas. As metodologias empregadas para avaliar o comportamento nutricional das plantas incluem a concentração de nutrientes nas plantas (teor) e relacionando-a com a massa seca obtém-se o conteúdo de nutrientes. Na maioria dos laboratórios a análise de rotina feita em tecido vegetal segue a metodologia proposta por Malavolta et al. (1997), na qual amostras secas são moídas para determinação dos teores de N, por meio da digestão sulfúrica e determinado pelo método micro-Kjedhal, e digestão nitroperclórica, através da qual é possível determinar os teores de P, K, Ca, Mg, S e micronutrientes.

A partir da massa seca e do conteúdo dos nutrientes na planta é possível calcular os seguintes índices de eficiência nutricional: eficiência de absorção = (conteúdo total do nutriente na planta)/(massa seca de raízes), em mg g-1 (SWIADER et al., 1994); eficiência de uso de nutriente = (massa seca total produzida)2/(conteúdo total do nutriente na planta), em g2 mg (SIDDIQI & GLASS, 1981); e eficiência de translocação = [(conteúdo do nutriente na parte aérea)/(conteúdo total do nutriente na planta)].100, em porcentagem (ABICHEQUER e BOHNEN, 1998). Os resultados obtidos através dessa avaliação podem fornecer informações importantes sobre a habilidade de uma espécie crescer e se desenvolver em solos ácidos e deficientes em nutrientes.

Os estudos realizados com espécies nativas do Cerrado demonstram baixo teor de nutrientes nos tecidos das plantas, mesmo sob fertilização do solo. No entanto, segundo Haridasan (2008), os conceitos de deficiência de nutrientes e toxicidade, bem estabelecidos na agricultura, não devem ser estendidos às plantas nativas em ecossistemas naturais, indiscriminadamente, pois muitas delas são resistentes ou tolerantes às condições edáficas consideradas desfavoráveis às

plantas cultivadas. Fonseca et al. (2010) verificaram que o padrão de crescimento de Dimorphandra wilsonii sob baixa disponibilidade de nutrientes reflete sua habilidade em crescer em ambientes de menor fertilidade do Cerrado apresentando respostas adaptativas visando à melhoria de sua condição nutricional.

Árvores isoladas de Stryphnodendron guianense sob pastagens cultivadas num Latossolo Vermelho-Amarelo álico, apresentaram teor foliar de macronutrientes de 21,8 g kg-1 de N; 1,24 g kg-1 de P; 6 g kg-1 de K; 7,8 g kg-1 de Ca e 3,93 g kg-1 de Mg (ANDRADE et al., 2002). Em estudo sobre requerimento nutricional de mudas de Stryphnodendron adstringens, dentre outras espécies, em Latossolo Vermelho-Amarelo, obteve-se, aos 245 dias após semeadura, teores de macronutrientes (g kg-1) de 20,2 de N; 0,78 de P; 5,4 de K; 7,71 de Ca; 1,05 de Mg no tratamento completo com calagem e 16,5 de N, 0,43 de P, 1,15 de K, 6,45 de Ca e 0,83 g kg-1 de Mg na testemunha. No tratamento completo com ausência de calagem a absorção de N, K e Mg foi prejudicada (CARLOS, 2009).

Utilizando a técnica do elemento faltante na nutrição mineral de Peltophorum dubium, Venturin et al. (1999) verificaram que a absorção de nutrientes foi mais prejudicada quando da omissão de N e P, comparando-se à testemunha. No tratamento completo, aos 96 DAT, utilizando as doses de 150 mg kg-1 de N e 120 mg kg-1 de P, o conteúdo de macronutrientes (mg/planta) na parte aérea das mudas foi: 260,3 (N), 12,2 (P), 87,8 (K), 74,9 (Ca) e 16,4 (Mg). Em mudas de Carapa guianensis, após seis meses de cultivo sob doses crescentes de P, Neves et al. (2004) observaram que os elementos em estudo que mais se acumularam na parte aérea (mg/planta) seguem a seguinte ordem decrescente: N (254,3); Ca (133,5); K (106,5); Mg (17,9); S (16,3) e P (6,4), esses valores foram obtidos com doses de P variando de 241 a 287,5 mg dm-3.

Gonçalves et al. (2012), estudando a nutrição de mudas da leguminosa arbórea Anadenanthera macrocarpa em diferentes tipos de solo, observaram comportamento distinto em

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relação às doses de nutrientes aplicadas. Em Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico, de textura argilosa, as mudas de angico acumularam mais N e P na raiz, independente das doses aplicadas. Com a menor dose de N (50 mg dm-3) o conteúdo de N foi 39,23 mg/planta na raiz e 33,16 mg/planta na parte aérea; com a maior dose (200 mg dm-3) o conteúdo de N passou a 75,1 mg/planta na raiz e 56,4 mg/planta na parte aérea. A aplicação da menor dose de P (150 mg dm-3) proporcionou conteúdo de P na raiz de 0,91 mg/planta e 0,86 mg/planta na parte aérea, e com a maior dose (600 mg dm-3) o conteúdo de P passou a 5,2 mg/planta na raiz e 3,98 mg/planta na parte aérea.

Em estudo de Resende et al. (2000) foi verificado que a resposta ao fornecimento de P é dependente das características genéticas individuais das espécies, pois quando agrupadas de acordo com o grupo ecológico, foi possível distinguir claramente padrões de comportamento contrastantes para espécies pioneiras e clímax na fase inicial de crescimento. As espécies pioneiras, de crescimento mais rápido, foram bastante influenciadas pela disponibilidade de P, apresentando maior acúmulo de macronutrientes na parte aérea, e sensíveis alterações nos teores foliares e na eficiência de utilização desses nutrientes. As espécies clímax mostraram menor resposta ao fornecimento de P, comportamento esse associado à menor taxa inicial de crescimento dessas espécies.Considerações finais

Em solos distróficos como os de Cerrado é comum encontrar e associar baixas concentrações de nutrientes nas folhas das espécies nativas à baixa fertilidade dos solos, o que reflete em adaptações das plantas em utilizar de modo mais eficiente os nutrientes presentes em baixas concentrações. Dentre esses, o P é referido como o mais limitante às plantas devido às características de forte adsorção aos óxidos de ferro e alumínio da fração argila. Na planta, o P é determinante no crescimento, uma vez que tem considerável importância no metabolismo do

carbono, bem como na formação de açúcares fosfatados.

Por ser um fator controlado geneticamente, a eficiência nutricional de determinada espécie pode fornecer subsídios a programas de melhoramento genético, os quais poderão selecionar espécies com maior capacidade de absorver e assimilar nutrientes quando em condições limitantes. Sendo assim, sugere-se que mais estudos sejam realizados a fim de se obter maiores informações sobre o comportamento nutricional das espécies nativas do Cerrado.Referências BibliográficasABICHEQUER, A.D.; BOHNEN, H. Eficiência de

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