O agora das bibliotecas ou a biblioteca ágora : bibliotecas públicas, coworking e inovação

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    SUMRIO

    Resumo ................................................................................................................................ 4Abstract................................................................................................................................. 5Introduo ............................................................................................................................. 61 Sociedade em mudana..................................................................................................... 8

    1.1 A Europa 2020 101.2 Cidades Inteligentes 13

    2 Um novo conceito de biblioteca pblica ........................................................................... 15

    2.1 Papis da biblioteca pblica 192.1.1 Papel educativo 192.1.2 Papel cultural 212.1.3 Papel social 222.1.4 Papel informativo 252.1.5 Papel poltico 26

    3 A atualidade ..................................................................................................................... 293.1 Parques Biblioteca 333.2 BiblioRedes 36

    4 Rede Nacional de Bibliotecas Pblicas ............................................................................ 395 Biblioteca pblica: novos espaos, novas funcionalidades ............................................... 42

    5.1 Bibliotecas pblicas como espaos de trabalho 435.1.1 Fablabs 435.1.2 Digital Media Labs 445.1.3 Hackerspaces 465.1.4 TechShops 465.1.5 Coworking Spaces 47

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    6 Instrumentos para a biblioteca gora: implementao em Montemor-o-Velho ................. 496.1 Justificao do Projeto 50

    6.1.1 Objetivos a atingir 526.1.2 Fatores de sucesso 536.1.3 Misso 536.1.4 Riscos 54

    6.2 Enquadramento territorial 546.2.1 Breve descrio do concelho de Montemor-o-Velho 556.2.2 Acessibilidades 576.2.3 Anlise SWOT do Municpio 58

    6.3 A Biblioteca Municipal Afonso Duarte 596.3.1 Espaos da Biblioteca / Memria descritiva 596.3.2 Organizao do Fundo Documental 616.3.3 Servios disponveis 616.3.4 Horrio 626.3.5 Diagnstico 626.3.6 Anlise SWOT da Biblioteca Municipal Afonso Duarte 64

    6.4 Casos de estudo / Benchmarking 656.4.1 Centre for Social Innovation 656.4.2 Fusion Cowork - Aveiro 666.4.3 Espao de coworking na Biblioteca Municipal de Alfndega da F 67

    6.5 Coworking na Biblioteca Municipal Afonso Duarte 686.5.1 Localizao 696.5.2 Principais stakeholders, pblico alvo e vantagens esperadas do projeto 706.5.3 Caractersticas de um espao de coworking 706.5.4 Servios 726.5.5 Projeto 746.5.6 Criao e dinamizao de um grupo de coworkers 78

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    6.5.7 Parcerias 806.5.8 Desenvolvimento de aes de marketing 826.5.9 Levantamento de Custos 846.5.10 Calendarizao das vrias etapas que compem o projeto 90

    CONCLUSES ................................................................................................................... 91BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 92LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS............................................................................... 97ANEXOS ............................................................................................................................. 99

    ANEXO 1 100

    ANEXO 2 101ANEXO 3 103ANEXO 4 105ANEXO 5 106

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    Resumo

    Num contexto de constante evoluo tecnolgica e de alteraes sociais, que conduzem actual sociedade de informao e do conhecimento, pretende-se compreender qual o novo

    conceito de biblioteca pblica, e quais os servios e espaos que comeam a emergir um

    pouco por todo o mundo nestes equipamentos com o objetivo de atrair novos pblicos e ir

    ao encontro das necessidades das pessoas. Como pano de fundo relacionou-se o papel

    das bibliotecas pblicas com as polticas de crescimento inteligente, sustentvel e inclusivo

    da Estratgia Europa 2020. Apresenta-se um novo conceito de biblioteca pblica, que

    responda aos novos desafios da atualidade articulando-os com os papis educativo,

    cultural, social, informativo e poltico que esta desempenha. Neste sentido, houve a

    preocupao de demonstrar a importncia das bibliotecas pblicas no desenvolvimento de

    polticas culturais, sociais e educativas integradas atravs de alguns exemplos concretos

    relevantes, a saber: os Parques Biblioteca em Medelln, na Colmbia (com uma vertente

    marcadamente social), o programa BiblioRedes, no Chile (com um enfoque nas tecnologias

    de informao e comunicao) e o Programa Nacional de Bibliotecas Pblicas (RNBP), que

    dotou at ao momento Portugal com mais de duas centenas de modernas bibliotecas

    pblicas. Finalmente, no mbito destes novos espaos e funcionalidades oferecidos pelas

    bibliotecas pblicas procurou-se desenvolver o conceito de biblioteca pblica enquanto

    espao de trabalho atravs de vrios exemplos que tm em comum o conceito de

    coworking. Com base neste conceito prope-se a criao de espaos de coworking

    aplicados s bibliotecas pblicas, atravs de um projeto concreto a ser implementado na

    Biblioteca Municipal de Montemor-o-Velho.

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    Abstract

    In a context of evolving technological and social changes, leading to today's information and

    knowledge society, we aim to understand the new concept of public library, and what

    services and spaces are emerging all over the world in public libraries in order to attract new

    users and meet the needs of people. As background, we associate the role of public libraries

    with the policies for smart, sustainable and inclusive growth strategies under Europe

    Strategy 2020. We present a new concept of public library that responds to the new

    challenges of today linking them with the educational, cultural, social, political and

    informative roles it plays. In this sense, there was a concern to demonstrate the importance

    of public libraries in the development of integrated cultural, social and educational policies

    through some concrete relevant examples, namely: the Library Parks in Medellin, Colombia (

    with a distinctly social dimension), the BiblioRedes program in Chile (with a focus on

    information and communication technologies) and the National Program of Public Libraries

    (RNBP), which, to date, has provided Portugal with more than two hundred modern public

    libraries . Finally, under these new spaces and facilities offered by public libraries, they tried

    to develop the concept of public libraries as an area of work through several examples that

    have in common the concept of co-working. Based on this concept we propose the creation

    of co-working spaces in public libraries, through an actual project to be implemented in theMunicipal Library of Montemor-o-Velho.

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    Introduo

    Num contexto de constante evoluo tecnolgica e de alteraes sociais, que conduzem

    atual sociedade de informao e comunicao, pretendemos compreender qual o novo

    conceito de biblioteca pblica e dar um contributo no sentido de reajustar as bibliotecas

    pblicas aos novos desafios da sociedade, s necessidades emergentes e aos novos

    pblicos (clientes/utentes). Neste sentido, teremos a preocupao de demonstrar que as

    bibliotecas pblicas devem fazer parte de uma estratgia concertada e integrada no

    desenvolvimento de polticas culturais, sociais e educativas e que estas podem ser

    parceiros privilegiados no crescimento inteligente, sustentvel e inclusivo das comunidades.

    Como tal uma Europa forte necessitar de bibliotecas fortes. Sero apresentados alguns

    exemplos relevantes, a saber: os Parques Biblioteca em Medelln, na Colmbia (com uma

    vertente marcadamente social), o programa BiblioRedes, no Chile (com um enfoque nas

    tecnologias de informao e comunicao) e o Programa Nacional de Bibliotecas Pblicas

    (RNBP), que dotou at ao momento Portugal com mais de duas centenas de modernas

    bibliotecas pblicas.

    Em Portugal, a maioria dos municpios portugueses dispe de uma biblioteca pblica

    moderna integrada na denominada Rede Nacional de Bibliotecas Pblicas (RNBP). Trata-se

    de um Programa partilhado entre a Administrao Central e os municpios. Este Programa

    tem vindo a possibilitar a criao de novas bibliotecas pblicas. Propriedade dos municpios,

    cada biblioteca integra seces diferenciadas para adultos e crianas e tambm espaos

    polivalentes para actividades de animao, colquios, exposies, etc. No que respeita s

    colees, para alm de livros, jornais e revistas, as bibliotecas oferecem documentos udio,

    vdeo e multimdia, de modo a acompanhar as correntes actuais da literatura, da cincia,

    das artes, etc. Disponibilizam ainda servios baseados nas tecnologias de informao e

    comunicao, sendo o mais generalizado o de acesso Internet.

    Numa altura em que as pessoas conseguem informao e contedos informativos e

    culturais sem necessidade de recorrer s bibliotecas, em que os livros enfrentam a

    concorrncia dos e-books, disponibilizados para os mais diversos meios de suporte e de

    forma mais apelativa/interativa, as bibliotecas pblicas tradicionais, que privilegiam o

    emprstimo domicilirio e o apoio aos estudantes, tendem a parecer desligadas da

    atualidade e a perder atratividade.

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    Ora, o investimento realizado nestes equipamentos tem que ser rentabilizado,

    proporcionando comunidade (e no s a uma parcela desta) novos produtos e servios.

    Estes espaos visam a promoo do livro e da leitura, mas tambm o desenvolvimento

    social, cultural e da cidadania, sendo, por isso, considerados recursos estratgicos e

    factores competitivos na atual sociedade de informao e conhecimento. Por isso, um dos

    desafios o de manter e aumentar os utilizadores destes equipamentos, descobrir e

    absorver a comunidade, redefinir a misso e os novos papis.

    Mas a focalizao no utilizador coloca novas questes quanto utilizao destes espaos:

    Biblioteca como centro cultural? Como espao de trabalho? Como espao de lazer? Como

    espao de informao? Como espao de convvio? Ou tudo isto junto?

    Como resposta as novas bibliotecas devero proporcionar espaos diferenciados,

    adequados s necessidades dos diferentes grupos, que proporcionem uma maior

    diversidade na sua utilizao, sendo para alm disso um lugar de aprendizagem, um lugar

    de trabalho e um lugar para se (con)viver. Em suma, as bibliotecas pblicas, caso queiram

    continuar a ser relevantes para a comunidade e sobreviver, devero inovar.

    Para alm do enquadramento terico, o pretendem-se com o presente trabalho que este

    seja um instrumento para a implementao de um espao de trabalho numa biblioteca

    pblica, analisando o potencial que estas oferecem como equipamentos e parceiros

    privilegiados na criao de um espao de coworking de mbito municipal. Este projeto

    poder ter um alcance transversal, podendo ser implementado em qualquer municpio, em

    comunidades intermunicipais ou mesmo em regies, idealmente em rede.

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    1 Sociedade em mudana

    Vivemos num mundo em constante transformao, que pode ser de carter superficial ou

    extremamente profundo. Hoje, presenciamos uma disseminao do uso das tecnologias da

    informao e comunicao. Por sermos contemporneos deste processo no nos possvel

    avaliar a dimenso deste impacto. Porm, inegvel que testemunhamos uma mudana

    profunda na sociedade. As TIC modificaram a forma de expresso, os registos

    documentais, as instituies e, principalmente, as pessoas e suas expectativas de obter

    informao e conhecimento. As pessoas, a partir do advento da Internet, acostumaram-se a

    obter informaes de forma mais rpida, a qualquer hora e em qualquer lugar, sendo que o

    utilizador est cada vez mais exigente e nmada.

    As mudanas so cada vez mais rpidas e produzem na sociedade transformaes em

    todos os domnios: economia, sociedade, tecnologia, trabalho, cultura, relaes pessoais,

    entre outros. Esta nova realidade tem afetado as nossas vidas, os nossos modos de

    relacionamento, a utilizao dos tempos livres, os sistemas de trabalho, as instituies e as

    organizaes, provocando nas pessoas uma necessidade de atualizao constante,

    conhecimentos e recursos informativos.

    Os autores que discutem o vasto territrio da Sociedade da Informao enfocam o assunto

    nos mais diferentes ngulos e objetivos, como tambm pelos mais distintos pressupostos

    tericos. Sociedade global, aldeia global, sociedade ps-industrial, sociedade da

    informao, sociedade em rede, sociedade tecnolgica, sociedade do conhecimento, no

    importa a nomenclatura destinada sociedade atual, pois todas elas tm algo em comum:

    discutem a sociedade a partir da mudana de paradigma causado pela avalanche de

    informaes mediticas. Esta teve seus primrdios com o telgrafo e as ondas radiofnicas,

    mas o seu boom foi consolidado especialmente a partir dos anos 60 do sc. XX, aps aecloso do fenmeno televisivo e, mais tarde, com o aperfeioamento do computador e o

    surgimento da Internet.

    Com o extraordinrio desenvolvimento cientfico e tecnolgico experimentado na segunda

    metade do sculo XX estabeleceram-se as condies e o cenrio para a convergncia entre

    a informtica, a eletrnica e a comunicao. Este facto, leva o computador a centralizar

    funes que antes eram apresentadas por diversos meios e canais de comunicao. As

    tecnologias digitais, surgiram como a infra-estrutura do ciberespao, novo espao de

    comunicao, de sociabilidade, de organizao e de transao, mas tambm novo mercado

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    da informao e do conhecimento. O ciberespao abre caminhos para a cibercultura, pela

    qual a produo e a disseminao da informao so pautadas pelo dispositivo

    comunicacional todos-todos. Assim, no h apenas um emissor, mas milhares.

    A Internet e as tecnologias digitais fizeram emergir um novo paradigma social, descrito poralguns autores, como Sociedade de Informao e do Conhecimento. Um mundo onde o

    fluxo de informaes intenso, em permanente mudana, e onde o conhecimento um

    recurso flexvel, fluido, sempre em expanso e em mudana. Um mundo sem territrio onde

    no existem barreiras de tempo e de espao para que as pessoas se comuniquem. Uma

    nova era que oferece mltiplas possibilidades de aprender, em que o espao fsico da

    escola, to proeminente em outras dcadas, neste novo paradigma, deixa de ser o local

    exclusivo para a construo do conhecimento e preparao do cidado para a vida ativa.

    As evolues tecnolgicas recentes tm conduzido ao aparecimento no mercado de um

    elevado nmero de ttulos em suporte eletrnico. Assiste-se a um diversidade, em riqueza e

    quantidade, de contedos em formato eletrnico que prefiguram uma alterao radical ao

    modo de conceber uma biblioteca. Estas constataes colocam um desafio: qual ser o

    papel da biblioteca pblica no futuro?

    As funes tradicionais de promoo da leitura e do acesso informao, alargada s suas

    novas formas e suportes, continuaro a ser fundamentais no novo ambiente. Para as

    desempenhar cabalmente, como se afirma no Manifesto da UNESCO/IFLA (1994), as suas"colees e servios devem incluir todos os tipos de suporte e tecnologias modernas

    apropriados, assim como fundos tradicionais".

    Em Portugal, onde na maioria dos lares, e at em muitas escolas, escasseiam os livros e o

    computador ainda no uma ferramenta facilmente acessvel, as bibliotecas pblicas

    podem e devem ser a porta aberta para o novo mundo da informao digital e multimdia, o

    ponto de acesso ao ciberespao para aqueles que, por razes socioeconmicas e/ou

    culturais, no tm, partida, meios para o fazer em casa.

    A evoluo tecnolgica observada nos ltimos anos e sobretudo a expanso da Internet,

    vieram modificar os hbitos das pessoas e prev-se que essa alterao se aprofunde

    medida que as autoestradas da informao se generalizem. A nvel das instncias

    europeias, e com algum eco entre ns, tm sido produzidos vrios documentos sobre a

    passagem para a sociedade da informao e sobre as transformaes que ela implica. Para

    a preparar, foram lanados programas com forte incidncia na utilizao de produtos e

    servios multimdia.

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    neste contexto que as bibliotecas pblicas viram as suas responsabilidades aumentadas

    e as suas funes diversificadas para se tornarem cada vez mais aptas a levar s

    populaes os novos meios de aquisio e transmisso de saber que a Sociedade da

    informao e do Conhecimento faculta.

    1.1 A Europa 20201

    A Europa atravessa um perodo de transformaes. A crise anulou anos de progresso

    econmico e social e exps as fragilidades estruturais da economia europeia. Entretanto, o

    mundo est a evoluir rapidamente e os desafios de longo prazo (globalizao, presso

    sobre os recursos, envelhecimento da populao) tornam-se preocupantes.

    Atravs da Estratgia Europa 2020, a Unio Europeia pretende transformar a UE numa

    economia inteligente, sustentvel e inclusiva. Para o efeito, estabeleceu os cinco objetivos a

    seguir referidos que os Estados-Membros devero traduzir em objetivos nacionais, tendo

    em conta os seus diferentes pontos de partida:

    Aumentar a taxa de emprego da populao com idade entre 20 e 64 anos do nvel

    atual de 69 % para, pelo menos, 75 %.

    Atingir o objetivo de investir 3 % do PIB em I&D, em especial melhorando as

    condies do investimento em I&D pelo sector privado, e desenvolver um novo

    indicador para acompanhar a inovao.

    Reduzir as emisses de gases com efeito de estufa em, pelo menos, 20 %

    relativamente aos nveis de 1990 ou em 30 %, se as condies o permitirem,aumentar para 20 % a parte das energias renovveis no nosso consumo final de

    energia e aumentar em 20 % a eficincia energtica.

    Reduzir a percentagem de jovens que abandonam prematuramente a escola para 10

    %, relativamente aos atuais 15 %, e aumentar a percentagem da populao com

    idade entre 30 e 34 anos que completou estudos superiores de 31 % para, pelo

    menos, 40 %.

    1 Consulte:

    http://www.umic.pt/images/stories/publicacoes3/UE2020_COM_final.pdfhttp://www.umic.pt/images/stories/publicacoes3/UE2020_COM_final.pdf
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    Reduzir em 25 % o nmero de europeus que vivem abaixo dos limiares de pobreza

    nacionais, o que permitir tirar da situao de pobreza 20 milhes de pessoas.

    Para atingir estes objetivos, a Comisso props uma Agenda Europa 2020 que consiste

    numa srie de iniciativas cuja execuo constituir uma prioridade partilhada com vrias

    aces emblemticas (ver Anexo 1).

    Um estudo da Comisso Europeia, intitulado Regions 2020: an assessment of future

    challenges for EU regions (2008), identificou quatro grandes tipos de desafios com que os

    pases e as regies europeias se iro confrontar no horizonte de 2020 e que so: a

    globalizao; a mudana demogrfica, as alteraes climticas e a segurana e

    sustentabilidade energticas.

    Neste contexto, entenda-se a globalizao como uma fora motriz que est a gerar

    progressos cientficos e tecnolgicos, criando mltiplas oportunidades graas abertura de

    novos mercados de dimenso gigantesca, ao mesmo tempo que vai testar a capacidade

    europeia de realizar um ajustamento estrutural profundo e de gerir as consequncias sociais

    desse ajustamento.

    Quanto mudana demogrfica, esta poder ser encarada como uma fora motriz que vai

    alterar a estrutura etria e do emprego nas sociedades europeias, levantando questes em

    termos de eficincia econmica e equidade intergeracional. Alm disso, as presses

    migratrias tero forte impacto dada a proximidade de regies, das mais pobres do mundo

    e/ou das que vo ser mais afetadas pelas mudanas climticas e escassez de recursos.

    Ainda tendo por referncia o mencionado estudo, em relao s regies portuguesas

    (Continente), no seu conjunto, encontram-se entre as que mais iro ser atingidas por trs

    das foras motrizes: globalizao, alteraes climticas e questes energticas.

    Portugal, atravs da Direo-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB), foi um dos 17

    pases europeus2 convidados pela Fundao Bill & Melinda Gates a participar no Estudo

    transeuropeu para aferir as percees dos utilizadores sobre os benefcios dasTIC nas

    bibliotecas pblicas. A coordenao do Estudo coube DGLAB bem como a reviso e

    2 Fazem parte do estudo os seguintes Pases: Alemanha, Blgica, Bulgria, Dinamarca, Espanha, Finlndia,Frana, Grcia, Holanda, Itlia, Letnia, Litunia, Polnia, Portugal, Reino Unido, Repblica Checa e Romnia.

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    traduo dos relatrios finais que datam de Maro de 20133. Nele estiveram envolvidas

    vrias bibliotecas pblicas portuguesas. Este estudo, que inclui um relatrio geral ao nvel

    da UE e relatrios a nvel nacional, visa avaliar o papel das bibliotecas pblicas no apoio s

    polticas econmicas e sociais no mbito da Estratgia Europa 2020. Os seus objetivos

    foram compreender o impacto do acesso s Tecnologias da Informao e Comunicao

    atravs das bibliotecas nas vidas dos cidados, designadamente para apoiar a aplicao

    das polticas de crescimento, educao, e coeso da Estratgia Europa 2020 da Unio

    Europeia.

    Sublinhe-se que um dos relatrios acima referido, faz ainda uma remisso para um outro

    estudo. A se refere que existe um conjunto cada vez maior de evidncias sobre as formas

    como o acesso s TIC contribui para o desenvolvimento econmico, social, da sade e da

    educao.4

    Conclui-se que existem evidncias de que o acesso s TIC atravs das bibliotecas pblicas

    pode apoiar a aplicao das polticas especficas de crescimento, educao e coeso

    referidas na Estratgia Europa 2020, tais como os marcos das competncias e incluso

    digitais descritos na Agenda Digital para a Europa (uma das sete iniciativas emblemticas

    da Estratgia), ou a aprendizagem informal ou no formal, que mencionada em trs das

    sete iniciativas emblemticas.

    3 Consulte:4 ConsultarThe Global Impact Study of Public Access to Information & Communication Technology (Estudosobre o impacto global do acesso pblico s Tecnologias de Informao e Comunicao) sobre a escala,natureza e impactos do acesso pblico s tecnologias de informao e comunicao. Considerando asbibliotecas, telecentros e cibercafs, o estudo analisa o impacto em vrias reas, incluindo a comunicao elazer, cultura e lngua, educao, emprego e rendimentos, governao e sade. Implementado pelo Technology& Social Change Group (TASCHA, Grupo para a Tecnologia e a Mudana Social) da Universidade de

    Washington, o estudo faz parte de um projeto de investigao mais alargado apoiado pelo InternationalDevelopment Research Centre (IDRC, Centro Internacional de Investigao sobre o Desenvolvimento), doCanad, e de um subsdio dado ao IDRC pela Bill & Melinda Gates Foundation (Fundao Bill & Melinda Gates).

    http://www.iplb.pt/sites/DGLB/Portugues/noticiasEventos/Paginas/AsTICnasBibliotecasEuropeias.aspxhttp://www.iplb.pt/sites/DGLB/Portugues/noticiasEventos/Paginas/AsTICnasBibliotecasEuropeias.aspxhttp://www.iplb.pt/sites/DGLB/Portugues/noticiasEventos/Paginas/AsTICnasBibliotecasEuropeias.aspxhttp://www.iplb.pt/sites/DGLB/Portugues/noticiasEventos/Paginas/AsTICnasBibliotecasEuropeias.aspx
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    1.2 Cidades Inteligentes

    O conceito de cidade inteligente tem vindo a dominar quer a literatura acadmica quer aagenda das polticas pblicas. No existe um conceito nico e universalmente aceite de

    cidade inteligente. Encontram-se em conceo e implementao diversos projetos a nvel

    mundial, com objetivos, caratersticas, motivaes, aes, parceiros, nveis de maturidade,

    modelos de governao e fontes de financiamento diversas, apesar do tema estar sempre

    relacionado com a utilizao das tecnologias de informao e comunicao para facilitar a

    vida urbana. (INTELI INTELIGNCIA EM INOVAO, CENTRO DE INOVAO, 2012)

    As cidades so espaos de problemas, desafios e oportunidades. Se por um lado, as

    cidades agregam 50% da populao mundial e contribuem para 60-80% do consumo de

    energia e 75% das emisses de carbono, originando fenmenos de desigualdade e

    excluso social, cenrio que tende a agravar-se quando se prev um crescimento

    populacional de 7 para 9 bilies em 2040, principalmente nos pases em desenvolvimento

    (ONU, 2012). Por outro lado, as cidades so palcos de inovao, conhecimento e

    criatividade, sendo que as previses apontam para que as 600 maiores urbes do mundo

    gerem 60% do PIB mundial em 2025 (MCKINSEY GLOBAL INSTITUTE, 2011). Nestes

    termos, imperativos demogrficos, econmicos, sociais e ambientais tornam premente aaposta em novos modelos de desenvolvimento urbano.

    Por estes motivos, tem-se assistido ao emergir de programas e projetos de cidades

    inteligentes (smart cities) em todo o mundo, tendo como base a utilizao de tecnologias de

    informao e comunicao com vista a promover a competitividade econmica, a

    sustentabilidade ambiental e a qualidade de vida, apelando colaborao de diversos

    atores (municpios, bibliotecas, universidades, centros de investigao, empresas,

    cidados).

    Os principais pilares destas iniciativas centram-se em reas diversas, como: governao,

    energia, mobilidade, gesto da gua e resduos, edifcios, segurana pblica, sade,

    cultura, entre outras.

    A Carta de Leipzig sobre Cidades Europeias Sustentveis assinada em 24 de Maio de

    2007, pelos ministros europeus responsveis pelo ordenamento do territrio e urbanismo,

    no mbito da presidncia alem da UE, veio definir as bases de uma nova poltica urbana

    europeia, focalizada na resoluo dos problemas de excluso social, envelhecimento,alteraes climticas e mobilidade. Os 27 Estados Membros definiram um modelo de

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    polticas urbanas para a Europa do sculo XXI, cujas propostas chave, na base dos

    pressupostos de que o futuro da integrao europeia passa pelas cidades e de que o futuro

    das polticas urbanas passar pelos centros das cidades, so: o renascimento urbano,

    apostando nos centros das cidades; garantir uma elevada qualidade dos espaos pblicos;

    enfrentar as mudanas climticas tambm uma tarefa urbana; modernizar a rede de

    mobilidade e reforar a eficincia energtica dos edifcios; boa governana urbana, no

    sentido de envolver outros parceiros j que o planeamento urbano no tarefa exclusiva do

    setor pblico e envolver os cidados no combate excluso social nas cidades.

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    2 Um novo conceito de biblioteca pblica

    Embora tenham tido a sua origem nos pases anglo-saxnicos, nomeadamente em

    Inglaterra e nos EUA, atualmente as bibliotecas pblicas so um fenmeno mundial.

    Encontram-se em vrios pases e em distintos graus de desenvolvimento. Apesar dos

    diversos contextos em que as bibliotecas pblicas atuam, sejam por motivos culturais,

    sejam por motivos econmicos, sejam por motivos polticos, e dos servios oferecidos por

    estas estarem muito dependentes desses mesmos contextos, normalmente possvel

    encontrar caractersticas comuns entre elas.

    Segundo as Directrizes da IFLA/UNESCO para bibliotecas pblicas organizadas por Koontz& Gubbin (2012, p. 1-2): A biblioteca pblica uma instituio criada e financiada pela

    comunidade, seja por meio de governo local, regional ou nacional, seja por meio de outra

    forma de organizao da comunidade. Ela proporciona acesso ao conhecimento,

    informao, educao permanente e a obras da imaginao por meio de uma variedade

    de recursos e servios, e se coloca disposio de modo igualitrio, a todos os membros

    da comunidade, independentemente de raa, nacionalidade, idade, gnero, religio, lngua,

    dificuldade fsica, condio econmica e social e nvel de escolaridade.

    Um dos documentos que ter contribudo para consagrar os princpios bsicos que orientam

    a criao e a organizao das bibliotecas pblicas um pouco por todo o mundo o

    Manifesto da UNESCO/IFLA sobre as bibliotecas pblicas (1994). Este documento constitui,

    de facto, a base de trabalho e uma referncia que tem suportado a reflexo e a discusso

    nesta rea nos ltimos anos, em que profissionais e polticos tm participado, e que tem

    resultado na elaborao de inmeros outros documentos e trabalhos sobre o papel das

    bibliotecas pblicas no contexto da Sociedade de Informao.

    Esta reflexo em torno das bibliotecas pblicas tem produzido uma reformulao e uma

    atualizao do prprio conceito de biblioteca pblica e do reconhecimento poltico da sua

    importncia na sociedade atual. Por isso, as bibliotecas pblicas so hoje reconhecidas

    como instituies estreitamente associadas aos conceitos de democracia, cidadania,

    aprendizagem ao longo da vida, desenvolvimento econmico e social, diversidade cultural,

    entre outros.

    O Manifesto da UNESCO/IFLA sobre as bibliotecas pblicas (1994) define a biblioteca

    pblica como uma instituio indispensvel democracia, liberdade, prosperidade e aodesenvolvimento harmonioso das pessoas e das sociedades. Neste sentido, este Manifesto

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    apresenta um conjunto de princpios fundamentais que devem presidir criao de

    bibliotecas pblicas, a saber:

    A biblioteca pblica a porta de acesso local informao e ao conhecimento;

    Os servios devem ser oferecidos com base na igualdade de acesso para todos,

    sem distino de raa, sexo, idade, religio, nacionalidade, lngua ou condio

    social;

    Todos os grupos etrios devem encontrar materiais adequados s suas

    necessidades;

    As colees e servios devem incluir todo o tipo de documentos em diversos

    suportes;

    Os servios e colees devem ser adequados s necessidades e condies locais;

    As colees devem ser de elevada qualidade e refletir diversas perspetivas e

    tendncias;

    As tecnologias de informao e comunicao devem estar presentes;

    As colees e servios no devem ser submetidos a qualquer forma de censura

    (ideolgica, poltica ou religiosa) ou a presses comerciais;

    Os servios devem estar acessveis a todos os membros da comunidade;

    Os servios devem em princpio ser gratuitos;

    A biblioteca pblica da responsabilidade das autoridades locais e nacionais;

    So uma componente essencial de qualquer estratgia a longo prazo para a cultura,

    o acesso informao, a alfabetizao e a educao.

    Outros documentos internacionais tm sublinhado a importncia da biblioteca pblica na

    sociedade atual. Ao nvel da Unio Europeia surge em 1998 um documento poltico muito

    importante para as bibliotecas pblicas: uma resoluo do Parlamento Europeu intitulada

    Report on the Green Paper on the role of libraries in the modern world. Este documento

    aponta um conjunto de aes a adotar pelos estados membros, das quais se destacam as

    seguintes:

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    As bibliotecas devem ser tidas em conta nas estratgias nacionais e da Unio

    Europeia para a Sociedade de Informao, assim como nos respetivos

    oramentos, j que constituem um dos mais importantes sistemas organizados

    de acesso cultura e ao conhecimento;

    Devem ser adotadas medidas adequadas que permitam s bibliotecas

    desempenhar um papel ativo no acesso informao e transmisso do

    conhecimento;

    Todo o tipo de bibliotecas deve possuir equipamentos modernos, em particular,

    ligao Internet;

    Utilizao gratuita dos servios bsicos das bibliotecas pblicas, em

    conformidade com o esprito do Manifesto da UNESCO, uma vez que, pela sua

    natureza, a biblioteca pblica um servio pblico de interesse geral.

    Em Copenhaga, em Outubro de 1999, sobre o tema Public Libraries and the information

    Society,decisores polticos de 31 pases europeus aprovaram a Declarao de Copenhaga,

    que consideram poder ser uma base comum para o desenvolvimento de polticas para as

    bibliotecas pblicas. Neste documento feito um apelo para que os governos desenvolvam

    as seguintes aes:

    Definam uma poltica nacional de informao que desenvolva e coordene todos os

    recursos relevantes de interesse pblico. Essa poltica deve reconhecer o papel

    nico e vital das bibliotecas pblicas como pontos de acesso para a maioria dos

    cidados, sendo apoiada por legislao adequada;

    Criem uma rede de infraestruturas que suporte o desenvolvimento de uma poltica

    nacional de informao para a Sociedade de Informao que leve cooperao asinstituies, principalmente as que so tradicionanalmente consideradas instituies

    da memria como as bibliotecas, arquivos e museus. Esta infraestrutura deve

    encorajar uma cooperao efetiva entre bibliotecas pblicas;

    Criem um programa de desenvolvimento para as bibliotecas pblicas que assegure

    um nvel bsico a cada cidado que inclua informao adequada e tecnologias de

    informao e o necessrio financiamento para garantir esse acesso;

    Assegurem que as bibliotecas pblicas sejam equipadas de modo a disponibilizaremo mximo acesso aos novos recursos informativos a todos os cidados,

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    independentemente da situao econmica, fsica ou educacional. Que estas

    bibliotecas tenham recursos adequados para sustentarem a continuidade dos

    servios;

    Faam lobby no Parlamento Europeu para que as bibliotecas pblicas fiquem bemposicionadas na agenda social atual e futura,

    Trabalhem no sentido de garantir que exista um equilbrio entre os direitos dos

    criadores da informao e os direitos de acesso informao dos cidados.

    Mais recentemente, em 2009, realizou-se em Viena uma conferncia conjunta da EBLIDA

    (European Bureau of Library, Information and Documentation Associations) e do frum

    NAPLE (National Authorities on Public Libraries in Europe) sobre o tema A Library Policy for

    Europe. Desta Conferncia resultou a Declarao de Viena, que constitui um apelo de

    ambas as entidades Comisso Europeia no sentido de pr em prtica quatro

    recomendaes para o desenvolvimento das bibliotecas europeias, em particular as

    pblicas, a saber:

    Realar o papel das bibliotecas na Sociedade Europeia do Conhecimento e

    encorajar os estados membros a promover as suas bibliotecas;

    Criar um Centro Europeu do Conhecimento para as bibliotecas pblicas;

    Financiar projectos europeus que visem o desenvolvimento das bibliotecas, incluindo

    o financiamento para a criao de bibliotecas digitais e de servios em linha que

    permitam uma cidadania europeia ativa e oportunidades de aprendizagem;

    Implementar uma poltica de direitos de autor justa, que garanta os direitos legtimos

    dos detentores desses direitos, mas que, em simultneo, consagre excees

    razoveis aplicadas ao trabalho das bibliotecas.

    Os documentos referenciados mostram a importncia da biblioteca pblica no contexto atual

    da Sociedade de Informao e apontam tambm para o enorme potencial social das

    bibliotecas pblicas. Estas no podem ficar de fora da construo europeia da Sociedade

    de Informao. Devem afirmar-se como espaos essenciais para o desenvolvimento social

    e a cidadania, principalmente porque na sociedade atual a informao e o conhecimento

    so considerados cada vez mais recursos estratgicos e fatores competitivos.

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    2.1 Papis da biblioteca pblica

    Definir a misso de uma organizao determinar qual, ou quais, os papis que esta deve

    ter na sociedade. Trata-se, por outras palavras, de saber qual a sua razo de ser, quais

    os seus clientes e o que espera a sociedade que ela faa. A misso de uma organizao

    (pblica) deve ir ao encontro da satisfao das necessidades (e expetativas) do cliente que

    a procura para utilizar e/ou adquirir bens e servios. Por isso, prioritrio para qualquer

    organizao estabelecer e definir a sua misso e os seus papis.

    Ao longo dos anos as bibliotecas pblicas tm vindo a assumir vrios papis. Estes vo

    desde da biblioteca-memria, preocupada basicamente em conservar o patrimnio escrito

    para as geraes futuras, passando pelo papel da biblioteca-estudo, suporte da vidaacadmica e escolar; para chegar a outros papis mais atuais, que pretendem responder

    aos novos desafios e necessidades das pessoas como, por exemplo: apoiar a

    aprendizagem ao longo da vida; ser um agente activo na recolha, preservao e divulgao

    da histria, cultura e tradies locais; desenvolver-se como um plo de difuso cultural;

    constituir-se como lugar de encontro e frum de debate; servir como centro de informao

    comunitria e de apoio ao cidado para que este, de modo crtico e autnomo, possa usar a

    informao que necessita; promover a incluso digital; ser uma possibilidade de lazer e de

    ocupao dos tempos livres.

    2.1.1 Papel educativo

    O papel educativo das bibliotecas pblicas normalmente associado leitura. Apesar das

    tecnologias de informao e comunicao e dos novos suportes, como o caso dos

    materiais audiovisuais, cada vez mais populares neste tipo de biblioteca, o livro continua a

    ter um lugar central e privilegiado na composio das colees e com base nele que se

    desenvolve grande parte das suas actividades e dos servios prestados. So objectivos das

    bibliotecas pblicas, portanto, entre outros, combater a iliteracia, promover a leitura e

    realizar atividades de animao cultural, visando a consolidao e a criao de novos

    pblicos para o livro. Com este propsito, recomenda a IFLA (1994) que as bibliotecas

    pblicas devem, por um lado criar e fortalecer os hbitos de leitura nas crianas, desde a

    primeira infncia e, por outro, possam apoiar, participar e, se necessrio, criar programas

    e actividades de alfabetizao para os diferentes grupos etrios.

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    Num pas onde as bibliotecas escolares eram raras e mal apetrechadas at ao final dos

    anos 90 do sc. XX5, as novas bibliotecas pblicas municipais tm sido um incentivo ao

    sistema educativo, nomeadamente atravs do apoio tcnico que prestam s bibliotecas

    escolares.6 No entanto, as atividades de promoo e animao da leitura das bibliotecas

    pblicas municipais portuguesas tm estado muito focadas no pblico escolar. Os espaos

    de leitura destas bibliotecas so frequentemente salas de estudo ocupadas por estudantes

    e as atividades de promoo da leitura so normalmente dirigidas a crianas, com

    atividades em que a Hora do Conto ocupa um lugar central. Apesar de louvveis, tais

    actividades tm, sobretudo, um carcter ldico, j que, por diversas razes, no parece

    haver uma estratgia concertada de formao de leitores crticos e autnomos. Por estes

    motivos, o papel educativo das bibliotecas pblicas em Portugal tem estado muito ligado

    escola e aos estudantes. Como assinala Lopes & Antunes (2000, p. 26) [....] esta

    apropriao paraescolar da biblioteca pblica no deixa de ser inquietante e de levantar

    sentimentos de perplexidade entre tcnicos e decisores. Com efeito, dever esta instituio

    assistir passivamente sua progressiva escolarizao, sobretudo tendo em conta os

    fraqussimos nveis de leitura e requisio de obras no-escolares? Numa altura em que

    5 Em 1996 o Ministrio da Educao em parceria com o Ministrio da Cultura decidiu criar o Programa Rede deBibliotecas Escolares, tendo como objectivo principal a instalao de bibliotecas escolares nas escolas de todosos nveis de ensino. O Programa Rede de Bibliotecas Escolares tem por finalidade apoiar a criao e/ou

    desenvolvimento de bibliotecas escolares nas escolas pblicas dos diferentes nveis de ensino. Cada BE/CRE(Biblioteca Escolar/Centro de Recursos Educativos) dever ser entendida como um centro de recursosmultimdia de livre acesso, destinado consulta e produo de documentos em diferentes suportes, devendodispor de espaos flexveis e articulados, mobilirio e equipamento especficos, fundo documental diversificado euma equipa de professores e tcnicos com formao adequada. Alm disso, pretende-se com estas bibliotecasque os jovens possam aprender a pesquisar, avaliar e utilizar a informao disponvel na aquisio/produo denovos conhecimentos, adquirindo competncias que constituem o meio essencial para fazer face s rpidasmutaes da sociedade, ao desenvolvimento cientfico e tecnolgico acelerados que caracterizam o nossotempo, constante desactualizao do conhecimento. Pretende-se, assim uma articulao entre a bibliotecaescolar e a sala de aula num sentido de promover as literacias e melhorar a aprendizagem. Consultar:6 A rede de Bibliotecas Escolares atravs do Ministrio da Educao tem vindo nos ltimos anos junto dosmunicpios a estabelecer protocolos no sentido de estes, atravs das suas bibliotecas municipais, garantiremapoio (tcnico e financeiro) s bibliotecas escolares dos respectivos municpios. Deste modo, as bibliotecasescolares, sobretudo do 1 ciclo, tm vindo a receber um apoio decisivo das bibliotecas pblicas municipais.Este apoio num nmero crescente de bibliotecas municipais tem dado origem ao chamado Servio de Apoio sBibliotecas Escolares (SABE). De entre as muitas funes que tm sido atribudas ao SABE destacam-se asseguintes: apoiar as bibliotecas escolares, estimulando a sua criao onde no existam ou acompanhando odesenvolvimento das existentes; promover a articulao das bibliotecas escolares com as outras bibliotecas doconcelho, procurando formas de cooperao e rentabilizao de recursos; fornecer recursos fsicos e deinformao s bibliotecas escolares, nomeadamente s escolas de menor dimenso, e apoiar projetosespecficos; prestar colaborao tcnica s escolas no domnio da organizao, gesto e funcionamento dasbibliotecas escolares; participar na formao contnua dos profissionais envolvidos no servio de bibliotecasescolares; apoiar o uso eficaz dos recursos, atravs do aconselhamento na seleo dos recursos ou nodesenvolvimento do servio de biblioteca. Estes novos servios de apoio s bibliotecas escolares tm, noentanto, tido um efeito perverso no funcionamento das bibliotecas pblicas municipais, a saber: no reforo juntoda comunidade e dos autarcas do papel educativo da biblioteca pblica, criando nestes a ideia que a bibliotecasmunicipais devem apoiar sobretudo os estudantes e, na sobrecarga de trabalho dos j reduzidos recursos

    humanos existentes nestas bibliotecas (CALIXTO, 2005, p.79; OLEIRO & HEITOR, 2010, p. 4-5), que poderiamser canalizados para garantir servios/atividades junto de outros setores da comunidade que so, normalmente,preteridos face s solicitaes escolares aqui apontadas.

    http://www.rbe.min-edu.pt/http://www.rbe.min-edu.pt/
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    atravs do Programa da Rede de Bibliotecas Escolares se conseguiu dotar uma grande

    parte das escolas com bibliotecas modernas, esta situao parece no se ter alterado. Esta

    realidade voltou a ser confirmada com Santos (2007, pp. 118, 122) em A leitura em Portugal

    a indicar que so os estudantes que mais frequentam as bibliotecas pblicas. Num outro

    encontro sobre servios bibliotecrios para jovens, Nunes (2008) alertava para o seguinte:

    O uso das bibliotecas pelos jovens considerado marcadamente instrumental, e muitos

    bibliotecrios queixam-se da escolarizao das bibliotecas pblicas.

    2.1.2 Papel cultural

    Acompanhando a evoluo da sociedade a preocupao inicial da biblioteca pblica com

    educao expandiu-se e deu lugar a outros papis, nomeadamente o cultural. Com estepropsito recomenda a IFLA/UNESCO no Manifesto sobre bibliotecas pblicas (1994) que

    as bibliotecas pblicas devem promover o conhecimento sobre a herana cultural, o

    apreo pelas artes e pelas realizaes e inovaes cientficas e possibilitar o acesso a

    todas as formas de expresso cultural das artes do espectculo. Mas, na verso de 1972

    da UNESCO que podemos encontrar indicaes mais precisas sobre o papel cultural destes

    equipamentos: La biblioteca pblica es, de un modo natural, el centro cultural de la

    comunidad, en el que se renen las personas que tienen interesses semejantes. Ha de

    poder disponer, pues, de los locales y el material necesarios para organizar exposiciones,debates, conferencias, audiciones musicales y proyecciones cinematogrficas, tanto para

    adultos como para nios.

    Estas atividades so normalmente denominadas de extenso cultural ou de aco cultural e

    visam, entre outros, os seguintes objectivos (GARCA RODRIGUEZ, 2002, p. 289-290):

    Criar uma conscincia coletiva do valor e importncia da biblioteca como recurso

    informativo, documental e cultural, ou seja, criar vnculos entre a biblioteca e os seus

    utilizadores de modo a aumentar o prestgio da biblioteca junto da comunidade;

    Despertar a curiosidade e o desejo de visitar a biblioteca, ou seja, transformar a

    biblioteca num equipamento cuja utilizao faa parte dos hbitos da populao;

    Comunicar aos no utilizadores da biblioteca que esta no apenas um lugar

    destinado leitura e ao estudo;

    Reduzir as desigualdades culturais e educativas de alguns setores da sociedade,

    especialmente daqueles que por motivos geogrficos (zonas rurais ou subrbios) ou

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    razes econmicas (pessoas carenciadas, desempregados, imigrantes, idosos, etc.)

    dificilmente tm acesso a bens culturais;

    Racionalizar ao mximo os recursos da biblioteca e demonstrar a sua utilidade

    social.

    Com efeito, ocupar os tempos livres, promover atividades recreativas e desenvolver

    programas de dinamizao cultural junto da comunidade, faz parte das valncias atribudas

    atualmente s bibliotecas pblicas. Atravs da organizao de atividades e da explorao

    das suas colees tm oportunidade de se transformar em verdadeiros centros culturais e

    de contribuir para o desenvolvimento artstico das populaes. Neste sentido, muitas so as

    localidades em Portugal em que a biblioteca municipal um dos poucos, seno mesmo, onico ponto de acesso, a bens e servios culturais. Assim, podemos encontrar uma grande

    diversidade de atividades entre as quais se destacam: o emprstimo domicilirio de livros e

    documentos audiovisuais, permitindo que as pessoas possam ter acesso literatura, ao

    cinema e msica; as atividades de promoo e animao da leitura que se traduzem, por

    exemplo, em encontros ou debates com escritores, bem como feiras do livro, comunidades

    de leitores, exposies ou espetculos; o acolhimento de outras atividades e iniciativas, no

    necessariamente relacionadas com a leitura, de artistas ou grupos recreativos e culturais da

    comunidade que utilizam as instalaes da biblioteca, nomeadamente auditrios e salas

    polivalentes para a realizao de atividades diversas.

    2.1.3 Papel social

    De todas as competncias anteriormente referidas a leitura desempenha um papel

    fundamental j que permite o desenvolvimento das restantes, tendo-se convertido no s

    num objetivo intelectual individual, mas tambm num bem coletivo indispensvel para odesenvolvimento econmico e social. Atualmente, na chamada sociedade da informao e

    do conhecimento a capacidade de ler e escrever tornou-se numa necessidade e num

    instrumento fundamental de desenvolvimento scio-econmico. E evidente, que uma tal

    sociedade exige mais do que nunca uma sociedade de leitores.

    Segundo Betancur Betancur (citada por Yepes Osorio, 2001, p. 8): Por ello, la promocin

    de lectura que asuma la biblioteca pblica contempornea, debe ser orientada a la

    formacin y consolidacin de lectores crticos, autnomos y universales. Lectores que

    descubran en el acto de la lectura la posibilidad de recrearse, crearse, construirse,

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    transformarse y transformar su entorno, pues un lector ntegro y mltiple acceder no slo a

    la informacin producida por la humanidad en el transcurso del tiempo, sino, adems

    reconocer su propia informacin, la generada por su comunidad, y acceder a ella de

    manera autnoma, sin intermediarios, la comprender y lo que es ms importante, sabr

    qu hacer con ella, guiado por un mandato nico: el de su propia conciencia.

    Todavia, pode haver informao sem leitura, ou seja, a informao atinge e abrange toda a

    sociedade, independentemente de esta ser formada por leitores ou analfabetos. A

    informao est relacionada com diversas circunstncias e necessidades que atualmente

    condicionam a vida das pessoas face s transformaes sociais, polticas e econmicas e

    aos acelerados avanos cientficos e tecnolgicos. A biblioteca pblica, ao permitir o acesso

    livre e gratuito informao, oferece grandes possibilidades e apresenta-se como um lugar

    privilegiado para apoiar a cidadania. O papel social da biblioteca pblica deve, por isso,conseguir atravs da informao que os sectores mais desfavorecidos da sociedade se

    reconheam como portadores de direitos e deveres.

    Contudo, estar a biblioteca a desempenhar convenientemente essa funo? Conforme

    Almeida Jnior (1997, p. 91) as bibliotecas continuam muito distantes daquilo que as

    pessoas em geral fazem e desejam: A populao no nos reconhece como teis

    socialmente. E sabem por qu? Porque, insistimos em no reconhecer a nossa verdadeira

    funo social que no apenas incentivar a leitura, mas trabalhar com a informao, lev-laqueles que dela necessitam. Atravs dela, permitir que a populao conhea seus direitos,

    saiba reivindic-los, possua uma conscincia social e poltica que possa transformar toda

    essa estrutura social.

    Como se v o acesso informao no passa necessariamente pela promoo da leitura.

    Porm, esta vertente tem sido pouco explorada por c. Para alm dos servios de

    informao comunidade, outros servios poderiam ser implementados. Sabe-se que as

    bibliotecas so prdigas, quer em atividades de animao e promoo da leitura quer em

    outras atividades culturais. Encontros com escritores, feiras do livro, exposies e

    espectculos diversos so exemplos disso. Menos comum, vermos as bibliotecas pblicas

    disponibilizarem espaos e incentivarem as pessoas da comunidade para debates,

    discusses e a defesa dos seus direitos. Um verdadeiro trabalho social poderia, nesse

    mbito, ser desenvolvido pelos bibliotecrios na e com a comunidade. Tratar-se-ia, de abrir

    a biblioteca no somente aos escritores e a outros artistas, mas tambm de promover o

    debate em torno de temas que afetam a vida das pessoas da comunidade. O que implicaria

    envolver mltiplos parceiros, tais como associaes e entidades locais, membros influentes

    da comunidade e at polticos. Por outras palavras (BETANCUR BETANCUR, 2007, p. 21)

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    a biblioteca deve: Realizar programas de formacin de opinin pblica que posibiliten la

    generacin y permanencia de espacios de encuentro, debate y discusin sobre temas de

    inters comunitario, sean estos problemticas, propuestas, proyectos, planes, etc., que

    permitan una interlocucin real de los diferentes actores de la comunidad.

    Embora com outra perspetiva, Calixto (2005, p 71-72) chama a ateno para um importante

    papel social que, atualmente, desempenham as bibliotecas pblicas da RNBP (nem sempre

    valorizado, porque no imediatamente percetvel), tendente incluso social, a saber:

    Disponibilizam a todos, sem exceo, e de forma gratuita, um conjunto de bens e

    servios, que tambm so dirigidos aos mais pobres, entre os quais imigrantes e

    deficientes;

    Funcionam como um abrigo e lugar de encontro para membros da comunidade que

    sofrem de solido e dificuldades econmicas, como por exemplo, os idosos;

    Funcionam, por vezes, como ponto de encontro de imigrantes, que ali vem

    valorizadas as suas culturas e organizam em conjunto com a biblioteca atividades

    que visam a sua integrao;

    Oferecem atravs dos servios de informao comunidade apoio e orientao aos

    utilizadores para instituies sociais e outras entidades de apoio comunitrio;

    Disponibilizam acesso gratuito Internet e a outras tecnologias de informao e

    comunicao a pessoas que de outro modo no lhes teriam acesso;

    Oferecem atravs do Fundo Local7 oportunidade s comunidades locais de

    descobrirem e valorizarem a memria coletiva e as suas razes;

    Embora sejam poucas, algumas bibliotecas oferecem servios bibliotecrios

    itinerantes atravs de carrinhas s populaes mais isoladas, que de outro modo,

    dificilmente, teriam acesso ao livro e leitura.

    7 As bibliotecas pblicas alm de constituir um fundo documental diversificado, enciclopdico e continuamenteatualizado que seja relevante para a comunidade, devem tambm como objetivo prioritrio constituir colees deinteresse local designadas por Fundo Local. Este fundo decisivo para a conservao da memria coletivalocal e tem verificado nos ltimos anos um crescente interesse da parte dos historiadores e utilizadores emgeral. O Fundo Local tambm um dos aspetos especficos das colees das bibliotecas pblicas. Estesrecursos documentais de interesse local so muito especficos, refletem a atividade de uma determinadacomunidade e as caractersticas do concelho e da regio em questo. O seu valor est exatamente no seucarcter nico e no papel vital que desempenha para o conhecimento da histria da comunidade e, porconseguinte, da sua identidade. Sendo esta uma coleo irrepetvel em outras bibliotecas torna-se o bem

    informativo mais precioso que as bibliotecas pblicas podem oferecer ao mundo globalizado da Internet. Estesfundos encerram pequenas partes da histria nacional e, no seu conjunto, constituem a imagem maisaproximada que podemos ter daquilo que somos como povo.

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    2.1.4 Papel informativo

    Apesar de forte, a viso da biblioteca pblica como instituio dedicada educao e

    promoo e animao da leitura, tem dado lugar criao de servios destinados a outros

    setores da populao que no os estudantes. Em Portugal, a prevalncia de servios e

    atividades dirigidas s escolas, j aqui assinalada, faz com que a maioria das necessidades

    e expectativas dos cidados em matria de informao no sejam contempladas pelas

    bibliotecas. Perante este cenrio, as bibliotecas tm tentado reorientar as suas funes de

    modo a conseguir responder s necessidades de informao da sua comunidade,

    especialmente da populao adulta. Por isso, neste novo modelo de biblioteca adquire

    particular importncia tudo o que est relacionado com a integrao da comunidade. A

    biblioteca pblica deixa de ser uma instituio isolada que oferece servios apenas queles

    que a procuram para passar a ter um papel ativo na vida comunitria, colaborando tambmcom as organizaes e grupos existentes na localidade. Por outro lado, a biblioteca pblica

    no pode desempenhar apenas um papel cultural e educativo, mas deve, para alm destas

    funes ditas tradicionais, desenvolver novas valncias e tornar-se num grande centro de

    informao para a comunidade local, favorecendo a participao dos cidados na vida em

    sociedade.

    luz desta viso, as bibliotecas comearam a ter em conta, entre outras questes, as

    necessidades informativas dos seus utilizadores (adultos) relacionadas com a vida

    quotidiana e o exerccio da cidadania, bem como com aspectos relacionados com o

    desenvolvimento social e econmico da comunidade. Para ir ao encontro destas novas

    necessidades de informao as bibliotecas tm criado servios especficos, entre os quais

    se destaca o chamado Servio de Informao Comunidade8. Este considerado um dos

    servios que melhor preenche o papel informativo da biblioteca pblica junto das

    comunidades em que est inserida e pode ser definido, segundo Matthew (citado por

    COSTA, 2004, p. [2]), como um servio que ajuda os indivduos e grupos a resolver

    problemas do dia-a-dia e a participarem activamente no processo democrtico,

    concentrando-se nos problemas mais importantes que as pessoas tm que enfrentar

    relacionados com as suas casas, os seus empregos e os seus direitos. Vemos aqui,

    portanto, uma oportunidade extraordinria das bibliotecas captarem utilizadores que

    habitualmente no as frequentam, de alargar a sua esfera de influncia e de se afirmarem

    junto do poder poltico. Como observa Lozano Daz (2002, p. 448): En esta sociedad de la

    informacin y del conocimiento, la informacin local, aquella que informa sobre nuestro

    8 Embora recentes, entre ns, os servios de informao comunidade inspiram-se nos CommunityInformation Center que surgiram nas bibliotecas pblicas anglo-saxnicas nos anos 70 do sculo XX.

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    entorno, territorio y poblacin se convierte en informacin con valor estratgico para

    ciudadanos, entidades, empresas e incluso para la propia administracin de la cual depende

    la biblioteca pblica, normalmente los Ayuntamientos.

    2.1.5 Papel poltico

    Trs elementos sustentam o papel poltico das bibliotecas pblicas: a promoo da leitura, o

    acesso local informao e a liberdade intelectual.

    Comecemos pela promoo da leitura. Parece consensual que uma sociedade da

    informao e do conhecimento, como hoje conhecida a nossa sociedade, implique uma

    sociedade de leitores. Neste sentido, aprender a ler e a escrever , antes de mais, aprender

    a ler o mundo e aprender a compreender o seu contexto, no atravs da manipulao

    repetitiva das palavras, mas atravs de um processo dinmico e dialctico em que a

    linguagem e a realidade se articulem. Quer isto dizer que a promoo da leitura deve ser

    capaz de criar leitores autnomos e crticos.

    Como observa Yepes Osorio (2007, p. 13): La lectura, hoy en da reconocida como una

    accin social de trascendencia en pases ricos y pobres, debe ayudar a una construccin

    poltica, al destierro del analfabetismo poltico, y por esa va abrirse paso como uno de los

    derechos fundamentales de los individuos. Estamos perante uma conceo da leitura quepretende dotar os indivduos de uma maior conscincia poltica. A leitura torna-se, ento,

    uma atividade emancipadora, um instrumento essencial para que os indivduos se possam

    reconhecer como cidados, isto , como detentores de direitos e deveres. Conceo

    completamente distinta daquela que v a leitura como uma atividade recreativa ou

    relacionada com a aprendizagem e aquisio de conhecimentos e que, em boa verdade,

    aquela que predomina nas mltiplas actividades de animao da leitura que por c se

    fazem. Ainda segundo o mesmo autor (2007, p. 15): El papel que desempea la lectura en

    este nuevo rol, es el de formar disidentes polticos que ingresen a la categora deciudadanos conscientes de sus deberes, con argumentos para procurarse sus derechos y

    con la posibilidad de participar en la conformacin de un bienestar comn ayudado por

    criterios ticos y con una opinin pblica formada.

    Outro aspeto da dimenso poltica do trabalho das bibliotecas pblicas prende-se com o

    acesso local informao. Enquanto servio pblico a biblioteca pblica um servio

    aberto a todos com um papel fundamental na recolha, organizao e tratamento da

    informao. Neste mbito, as bibliotecas pblicas tm uma particular responsabilidade, querna recolha de informao local (Fundo Local) quer na criao de servios capazes de

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    oferecer informao especfica, para que as pessoas, no seu dia a dia e na relao que

    estabelecem com as diversas instituies, possam conhecer e exercer os seus direitos e

    deveres (Servio de Informao Comunidade).

    El compromiso de la biblioteca pblica con el desarrollo local se sustenta en que esta esuna institucin que, desde sus prcticas culturales, sociales y educativas, tiene un fuerte

    matiz poltico que normalmente no es reconocido y ejercido por el bibliotecario. Este matiz

    poltico al que me refiero, lo pueden o deben generar los aportes que la biblioteca pblica

    haga a los procesos de participacin ciudadana o comunitaria; a la formacin de actitudes

    positivas en los individuos y grupos, en relacin con lo colectivo, lo pblico, lo comn; a la

    posibilidad de motivar a los individuos para que transformen su papel de espectadores y se

    conviertan en protagonistas de los procesos de desarrollo de su comunidad, desde

    proyectos colectivos que articulen recursos y actores en un territorio determinado.(BETANCUR BETANCUR, 2007, pp. 59-60)

    Finalmente, a dimenso poltica da liberdade intelectual. Garantir o pluralismo das colees

    e defender o livre acesso informao com o objetivo de contribuir para a construo de

    uma sociedade mais democrtica e transparente tudo menos uma atitude neutral,

    imparcial e apoltica. Esta dimenso, embora nunca nomeada, est bem patente no to

    citado Manifesto da UNESCO/IFLA sobre as bibliotecas pblicas (1994), em que logo na

    sua abertura se constata que a liberdade, a prosperidade e o desenvolvimento dasociedade so valores fundamentais. Para logo a seguir ser feito um apelo, a bibliotecrios

    e educadores que tais valores: S sero atingidos quando os cidados estiverem na posse

    da informao que lhes permita exercer os seus direitos democrticos e ter um papel ativo

    na sociedade. A participao construtiva e o desenvolvimento da democracia dependem

    tanto de uma educao satisfatria, como de um acesso livre e sem limites ao

    conhecimento, ao pensamento, cultura e informao.

    Embora todos os manifestos, declaraes e outras recomendaes apontem para uma

    biblioteca pblica mais interventiva na comunidade, esta interveno s possvel se os

    bibliotecrios se reconhecerem tambm como atores polticos. Ou no sero a defesa dos

    direitos humanos, o combate censura ou a promoo da cidadania, por exemplo, aes

    polticas? Neste sentido, vale a pena lembrar o Manifesto da IFLA sobre transparncia, bom

    governo e ausncia de corrupo (IFLA, 2005). Naquele que , at ao momento, um dos

    seus manifestos mais polticos, a IFLA lembra que a biblioteca uma instituio necessria

    ao exerccio da democracia, que deve ajudar na defesa dos direitos civis, na promoo da

    cidadania e no combate corrupo. Como refere a IFLA (2005b): A corrupo solapa os

    valores sociais bsicos e a confiana nas instituies polticas, e ameaa o imprio da lei.

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    Ela cria um ambiente para os negcios em que s o corrupto triunfa. Ela atrapalha o

    trabalho cientfico e a pesquisa, enfraquece o papel das profisses e obstrui a emergncia

    da sociedade do conhecimento. uma das maiores contribuies para o aparecimento e

    prolongamento da misria humana e a inibio do desenvolvimento. A corrupo mais

    bem sucedida sob condies de segredo e ignorncia geral. Mas aquele organismo vai

    ainda mais longe, e pede s bibliotecas, que atravs da suas coleces e dos diversos

    servios que prestam comunidade informem os cidados sobre os seus direitos e

    garantias, ofeream materiais sobre assuntos filosficos, scio-econmico ou polticos, que

    promovam o debate em torno destes temas e que, em parceria com outras entidades que

    lutam pela liberdade intelectual e pelos direitos humanos, aconselhem, promovam e

    denunciem todas as formas de corrupo e manipulao da informao.

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    3 A atualidade

    Atualmente, as bibliotecas pblicas atravessam uma crise decorrente do surgimento e

    expanso generalizada da Internet e de um conjunto de equipamentos e aparatos

    tecnolgicos de informao e comunicao, hoje acessveis, pelos menos nos pases mais

    desenvolvidos, a uma grande parte da populao. Pela primeira vez na histria as

    bibliotecas deixaram de ser repositrios privilegiados da informao. Numa poca em que

    esto disponveis gratuitamente uma quantidade quase infinita de recursos informativos

    atravs da Internet, impe-se perguntar para que serviro as bibliotecas quando as pessoas

    conseguem informao e contedos culturais sem necessidade de recorrer a estas.

    Neste contexto, as bibliotecas pblicas enfrentam novos desafios, mas tambm novas

    oportunidades. Pensada para as pessoas, as bibliotecas pblicas no podero deixar de se

    atualizar e adaptar de forma a dar resposta a novos interesses e necessidades da

    sociedade atual, reformulando alguns dos seus papis e ampliando outros. Estas

    mudanas, nomeadamente aquelas relacionadas com as tecnologias de informao e

    comunicao, tm vindo a alterar profundamente a imagem das bibliotecas pblicas,

    obrigando-as a mudanas tanto ao nvel dos edifcios e dos seus espaos, como tambm

    ao nvel dos acervos disponibilizados (em que o livro perde o protagonismo dando lugar a

    outros suportes), dos servios oferecidos, dos recursos humanos necessrios e da sua

    prpria gesto e funcionamento.

    Um estudo recente da Arts Council de Inglaterra, The library of de future (2013), em que se

    analisa como ser o futuro das bibliotecas, prope quatro grandes prioridades para estas

    continuarem a serem relevantes para a comunidade:

    A biblioteca como espao aberto comunidade;

    Aproveitar ao mximo as potencialidades das tecnologias de informao ecomunicao;

    Assegurar que as bibliotecas sejam resilientes e sustentveis;

    Capacitar com formao adequada os profissionais que trabalham nas bibliotecas.

    Destas prioridades, gostaramos de destacar uma em particular, aquela que est

    relacionada com a prioridade de transformar as bibliotecas num espao comunitrio. As

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    bibliotecas, nomeadamente as bibliotecas pblicas, devem ser cada vez mais encaradas

    como a sala de estar da comunidade, ou seja, um espao onde as pessoas se renem e

    sociabilizam com as demais. As bibliotecas (pblicas) so lugares predominantemente

    democrticos e abertos, dotados de valiosos recursos de informao e de uma grande

    diversidade de servios e atividades. Por isso, necessrio procurar uma articulao entre

    o mundo fsico (o espao) e o mundo virtual (o digital) e uma integrao flexvel das

    potencialidades que as redes sociais e os recursos digitais, incluindo a Internet, oferecem.

    O objetivo envolver e captar (novos) utilizadores e incentivar deste modo a criatividade, a

    partilha de ideias, de experincias, de conhecimentos, etc.

    Uma das principais funes das bibliotecas pblicas a de garantir aos cidados um

    acesso gratuito ao conhecimento e cultura. Ora, o conhecimento detido pelas pessoas

    vasto e multifacetado e transmite-se muitas vezes melhor pela partilha entre as pessoas deque atravs da leitura dos livros, que contm apenas uma parte do conhecimento existente.

    Face a isto, parece natural que as bibliotecas se reivindiquem como instituies e espaos

    de partilha de informao e conhecimentos.

    Estas novas bibliotecas, abertas comunidade e cujos espaos diferenciados so

    adequados s mltiplas necessidades de diversos grupos e faixas etrias apela ao conceito

    de zoning. Nestas bibliotecas, o espao adaptado s diversas prticas e usos (leitura,

    estudo, debate, audio de msica, visionamento de filmes, etc.), existindo diversosambientes (espaos silenciosos, lugares de convvio ou de trabalho em grupo), onde a

    msica de fundo, as conversas ao telemvel ou com outros utilizadores so permitidas,

    existindo muitas vezes cafetarias e zonas mais informais de descanso e convvio.

    Num momento em que se assiste desmaterializao da informao e sua circulao e

    utilizao sob a forma digital o enfoque nas bibliotecas como espao pblico, de encontro e

    partilha real (e no virtual) entre as pessoas surge como um desafio estratgico para as

    bibliotecas pblicas. Com o objetivo de atrair novos pblicos que normalmente no usam

    estes equipamentos, muitas bibliotecas tm vindo a reformular, reajustar e readaptar os

    seus servios e espaos.

    Nas Ideas Stores9 de Londres ou nas bibliotecas pblicas holandesas, a variedade de

    cores, o conforto do espao e do mobilirio, a presena de tecnologias de informao e

    comunicao e mesmo a excentricidade da decorao so uma nota dominante que

    rompem e contrastam com a ideia tradicional que temos de uma biblioteca como espao de

    9 Consulte:

    http://www.ideastore.co.uk/http://www.ideastore.co.uk/http://www.ideastore.co.uk/
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    Fig. 2 - OBA (Biblioteca Pblica de Amesterdo)

    estudo, leitura e silncio. A escolha da decorao e do mobilirio feita de modo a diluir a

    fronteira entre a esfera pblica e privada. No OBA10 (Openbare Bibliotheek Amsterdam) em

    Amesterdo pufes brancos munidos de computadores convidam as pessoas a adoptar uma

    postura mais informal e descontrada (em oposio quela mais formal exigida numa

    cadeira em frente a uma mesa), o que normalmente est associado a um contexto mais

    domstico. Deste modo, a decorao e construo do espao permite e induz que se faa

    uma apropriao do mesmo de uma forma mais livre, descontrada e individual.

    Fig. 1 Idea Store de Bow (Londres)

    Estas novas bibliotecas promovem um

    ambiente estimulante e dinmico.

    Segundo Oliveira (2013): Local de

    mltiplos eventos e encontros os mais

    diversos, a polivalncia cultural e cvica

    agora a marca indelvel das bibliotecas

    pblicas, cada vez mais versteis e

    disponveis para acolher todo o tipo de

    pblicos e apoiar a sua comunidade. E

    acrescenta a autora: A Biblioteca

    Pblica deste novo sculo, para alm de

    lugar de aprendizagem, tornou-se

    tambm um lugar para se estar e para se (con)viver. Distante das grandes bibliotecas

    centradas no emprstimo massivo, sem espaos de estudo e sem utilizadores durante as

    10 Consulte:

    http://www.oba.nl/http://www.oba.nl/http://www.oba.nl/
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    Fig. 3 - OBA (Biblioteca Pblica de Amesterdo)

    Fig. 4Biblioteca Pblica de

    Guadalajara (Espanha)

    horas de trabalho, encontramos agora edifcios abertos, desenhados com preocupaes

    estticas e de acolhimento dos utilizadores para as mais diversas actividades.

    Com efeito, as bibliotecas pblicas funcionam cada vez mais como uma espcie de

    laboratrios sociais, abertos experimentao e explorao, so lugares ldicos emgicos, cheios de cantos e recantos para todos os gostos e temperamentos.

    Conforme as novas Diretrizes da IFLA

    para bibliotecas pblicas: A biblioteca

    pblica desempenha importante papel

    como espao pblico e ponto de

    encontro. Isso particularmente

    importante em comunidades onde h

    poucos lugares de encontro. Ela s

    vezes chamada de sala de visitas da

    comunidade. O uso da biblioteca para

    pesquisa, ensino e lazer aproxima as

    pessoas graas a contatos informais,

    proporcionando uma experincia social positiva.

    (KOONTZ & GUBBIN, 2012, p. 11). E reforam esta ideia

    mais frente: Uma biblioteca pblica bem utilizadacontribuir significativamente para a vitalizao de uma

    rea urbana e ser importante centro de aprendizagem,

    centro social e local de encontro, especialmente em reas

    rurais dispersas. Os bibliotecrios devem, portanto, cuidar

    para que o edifcio da biblioteca seja usado e administrado

    com eficincia, a fim de aproveitar ao mximo as suas

    instalaes em benefcio da comunidade. (KOONTZ &

    GUBBIN, 2012, p. 18).

    Sobre estas novas dinmicas que as bibliotecas pblicas

    esto a desenvolver particularmente interessante a

    descrio feita por Oliveira (2013) da Biblioteca Pblica de Guadalajara11. Vejamos: Na

    nova Biblioteca Pblica Municipal de Guadalajara, em Espanha, outrora um palcio

    senhorial, existe um grande ptio interior coberto, mobilado com sofs e mesas de apoio.

    Nas estantes das paredes em volta esto as novidades e as selees temticas e num dos

    11 Consulte:

    http://www.bibliotecaspublicas.es/guadalajara/http://www.bibliotecaspublicas.es/guadalajara/http://www.bibliotecaspublicas.es/guadalajara/
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    lados uma bateria de computadores disponveis ao pblico. Num dos cantos, encontra-se

    um piano de cauda onde de vez em quando um leitor se senta para tocar uma pea de jazz

    ou de msica clssica que se ouve no segundo piso, que simultaneamente galeria de

    exposies e tambm local de trabalho na Internet, bem como na rea contgua do fundo

    local. E prossegue: No terceiro andar, uma grande sala de estudo acolhe em silncio total

    trezentos estudantes das 9h00 s 21h00 em pocas de exame. Nos dias de festa, como no

    jantar anual dos cerca de 20 clubes de leitura desta Biblioteca, trezentas pessoas jantam

    nessa mesma sala e, de seguida danam pela noite fora ao som de um piano acstico. no

    jardim interior ou no tal trio coberto quando o tempo est de chuva.

    Os exemplos podem-se multiplicar e a casustica neste caso no tem fim, j que so

    inmeras as bibliotecas (pblicas) um pouco por todo o mundo que esto a mudar

    profundamente a sua imagem. Existem, todavia, dois casos particularmente interessantes,pelo seu impacto e provenincia, no panorama das bibliotecas pblicas a nvel mundial que

    merecem destaque: os Parques Biblioteca na cidade de Medelln na Colmbia e o projeto

    BiblioRedes no Chile.

    3.1 Parques Biblioteca

    12

    Com uma populao de 2.214.494 habitantes, organizada em 16 unidades territoriais

    regionais, denominadas comunas, Medelln a segunda maior cidade da Colmbia e a

    capital do Departamento de Antiquia. Cortada de norte a sul pelo rio Aburr, a cidade

    nasce nas margens do rio e cresce pelas encostas acima.

    A partir de 2004, Medelln conhecida pelo narcotrfico e pelos elevados ndices de violncia

    (que fez dela durante as dcadas de 80 e 90 do sc. XX uma das cidades mais violentas do

    mundo), tem vindo a assistir a um processo de transformaes profundas centradas na

    requalificao urbana, fazendo hoje de Medelln um modelo de boas prticas a nvel

    mundial.

    12 Consulte:

    http://www.reddebibliotecas.org.co/sistemabibliotecas/Paginas/default.aspxhttp://www.reddebibliotecas.org.co/sistemabibliotecas/Paginas/default.aspxhttp://www.reddebibliotecas.org.co/sistemabibliotecas/Paginas/default.aspx
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    Fig. 5 - Parque Biblioteca Len de Grieff (Medelln,

    Estas transformaes profundas da cidade tiveram incio em 2004 com um ambicioso

    programa poltico do Municpio de Medelln baseado na articulao de polticas urbanas e

    programas sectoriais. A partir de um sistema integrado de transportes pblicos ousado, que

    inclui linhas de metro, autocarros e telefricos, as comunas foram ligadas e contempladas

    com uma eficiente e moderna rede de equipamentos pblicos, entre os quais esto os

    Parques Biblioteca. At ao momento foram inaugurados nove Parques Biblioteca.

    Segundo o Municpio de Medelln

    (Empresa de Desarrollo Urbano

    EDU): Los Parques Biblioteca

    son Centros Culturales para el

    desarrollo social que fomentan el

    encuentro ciudadano, lasactividades educativas y ldicas, la

    construccin de colectivos, el

    acercamiento a los nuevos retos

    en cultura digital. Y tambin son

    espacios para la prestacin de servicios culturales que permiten la creacin cultural y el

    fortalecimiento de las organizaciones barriales existentes.

    Os Parques Bibliotecas so complexos urbansticos formados por edifcios de arquiteturamoderna, com amplos espaos circundantes, formados por zonas verdes e recreativas, cujo

    edifcio principal uma biblioteca dotada de modernos e diversos servios bibliotecrios.

    Estas novas bibliotecas, normalmente localizados em zonas carenciadas e problemticas

    da cidade de Medelln, oferecem espaos inovadores, quer em termos de arquitetura quer

    em termos de mobilirio e equipamentos, possuindo equipas com formao na rea das

    bibliotecas.

    Desta forma as bibliotecas esto no centro de uma estratgia na construo e

    aprofundamento da cidadania atravs da incluso das populaes em programas

    educativos e culturais. Trata-se de, a partir destas, em articulao com outros agentes e

    equipamentos, criar dinmicas que visem transformar o tecido urbano e social das zonas

    mais carenciadas da cidade e ser um estmulo para a integrao, evoluo e transformao

    das pessoas que a vivem. Um dos exemplos mais significativos destes parques o Parque

    Biblioteca Espaa o qual merece uma breve apresentao.

  • 7/27/2019 O agora das bibliotecas ou a biblioteca gora : bibliotecas pblicas, coworking e inovao

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    O AGORA DAS BIBLIOTECAS PBLICAS OU A BIBLIOTECA GORA

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    CEFAD

    AL2012/2013.GRUPOI

    I

    Fig. 6 - Parque Biblioteca Espaa (Medelln, Colmbia)

    Antes de 2007, a zona onde agora est instalada o Parque Biblioteca Espaa era de difcil

    acesso e turbulenta: a proliferava a violncia, o trfico de droga e a pobreza. Foi ento que

    o Municpio de Medelln decidiu reabilitar e requalificar toda esta parte da cidade de forma

    profunda pondo em marcha, num primeiro momento, o funcionamento de um sistema de

    telefrico, integrado na rede de metro da cidade. Dava-se, assim, incio a um processo de

    dignificao de milhares de famlias vivendo nos morros e nas encostas, que pela ausncia

    de vias de comunicao e transportes pblicos se encontravam num grande isolamento

    face s demais zonas da cidade. O impacto positivo deste projeto permitiu ao Municpio

    avanar com mais medidas e iniciar a construo de uma mega biblioteca em terrenos onde

    terminava a ltima estao de telefrico e onde se encontram concentradas a maior parte

    da associaes e coletividades culturais da zona.

    O Parque Biblioteca Espaa (PBE),inaugurado em 2007, uma

    estrutura imponente composta por

    trs grandes blocos negros,

    semelhantes a grandes rochedos,

    que dominam o cimo de uma

    encosta ngreme sobre a cidade de

    Medelln. O PBE ocupa uma rea

    de 13.942 m2 distribudos por trs

    edifcios. No seu interior cada um

    tem uma cor diferente e sugestiva,

    de acordo com as atividades e servios que ali so oferecidos havendo um corredor que

    permite a comunicao entre eles. So trs edifcios, cada um com uma funo: auditrio,

    No primeiro edifcio funciona o auditrio, onde a comunidade pode desenvolver as mais

    variadas atividades culturais. O do

    meio conhecido como o Edifcio

    do Conhecimento: nos seus sete

    pisos convivem a tecnologia, com

    espaos de Internet e salas de

    leitura, sendo que ambas as

    valncias tm espaos

    diferenciados e especficos para

    crianas, jovens e adultos, e ainda

    um piso dedicado exclusivamente

    a exposies. No terceiro edifcioFig. 7 - Parque Biblioteca Espaa (Medelln, Colmbia)

  • 7/27/2019 O agora das bibliotecas ou a biblioteca gora : bibliotecas pblicas, coworking e inovao

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    esto localizadas os servios administrativos e as salas de formao. neste edifcio que

    est situado o espao Sala de Mi Barrio vocacionado para o resgate, organizao e difuso

    da memria escrita, fotogrfica e videogrfica da comunidade. Existe ainda uma ludoteca

    para crianas at aos dez anos e sala de exposies. (JARAMILLO, 2010).

    3.2 BiblioRedes13

    Com o apoio financeiro e tcnico da Fundao Bill & Melinda Gates e em parceria com o

    Governo do Chile, em 2002 a Direccin de Bibliotecas, Archivos y Museos (DIBAM) inicia o

    programa BiblioRedes para instalar computadores e Internet inicialmente em 368 bibliotecas

    em todo o territrio chileno. Os objetivos consistiram em transformar as pessoas em

    agentes de desenvolvimento cultural e social a partir das bibliotecas pblicas, usando a

    Internet e as tecnologias de informao e comunicao, e com isto reduzir a chamada

    brecha digital das localidades mais isoladas.

    Um aspeto interessante do programa BiblioRedes que embora orientado para toda a

    comunidade, ele deu prioridade s mulheres como agentes de mudana. O enfoque dadoao pblico feminino deveu-se a dados que apontavam que no Chile s 30% das mulheres

    trabalhavam fora de casa. Um estudo encomendado Universidade Alberto Hurtado

    indicava que em contexto familar a pessoa com menos competncias na rea das TIC era a

    me, com 76% a declarar no saber usar um computador. (BUDNIK SINAY & MAZA

    MICHELSON, 2006, p. 72)

    Este um Programa que tem como misso: Contribuir a la inclusin digital y desarrollo de

    las comunidades locales de Chile, a travs de las Bibliotecas Pblicas e Internet, para

    fomentar la participacin y compartir sus culturas e identidades en redes sociales y

    virtuales. (BiblioRedes) Entre os vrios servios prestados pelo Programa BiblioRedes

    destacam-se: assistn