O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o...

16
O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o Mobiliário da Sala das Sessões Alexandre Arménio Tojal

Transcript of O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o...

Page 1: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

O Arquitecto

José Luís Monteiro e as Artes

Decorativas: o Mobiliário da

Sala das SessõesAlexandre A rménio To ja l

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:22 Page 48

Page 2: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

49

Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro (1848-1942) foram já publica-dos1, quer enquanto técnico camarário, quer como profissional liberal. Parece-nos, no entan-to, que no domínio das artes decorativas muito pouco foi ainda dito e, especificamente, noque respeita às suas incursões pelo mobiliário. Para além da sua vasta actividade em matériaurbanística, a versatilidade deste Arquitecto revelou-se também enquanto autor de desenhosde mobiliário, tendo contribuído de forma relevante para o agenciamento dos espaços deserviço camarários.

A destruição quase total dos Paços do Concelho, pelo incêndio de Novembro de 1863, paraalém de ter exigido a sua reconstrução, tornou indespensável a execução de novos móveis paraas diferentes salas ocupadas pela Presidência e Vereação, assim como para os diversos serviçosda administração municipal.

As datas de execução dos projectos de mobiliário conhecidos sugerem-nos que os serviçoscamarários, após a reconstrução terminada, terão funcionado com equipamentos provisórios,na expectativa de, gradualmente, se mobilarem de novo, de forma condigna e completa.

Neste contexto, José Luís Monteiro, na qualidade de Arquitecto-Chefe da 1ª Secção2, integra-da organicamente na Repartição Técnica, chefiada pelo Engenheiro Ressano Garcia (act.1874-1909), foi chamado a conceber um conjunto de projectos de mobiliário. Desde o gabi-

1 V. por exemplo, José-Augusto-França, A Arte em Portugal no século XIX, Lisboa, 3ª ed., Livraria Bertrand, 1990, vol. II, pp. 11-22; Fátima G. Cordeiro Ferreira e Maria Augusta Adrêgo Maia, Mestre José Luís Monteiro na arquitectura da transição do século, Lisboa,Associação dos Arquitectos Portugueses, 1990; Pedro Bebiano Braga, “José Luís Monteiro – os coretos e Lisboa”, in Olisipo,Grupo Amigos de Lisboa, Lisboa, nº 3, 1996; José Luís Monteiro: marcos de um percurso [catálogo], Lisboa, CML/Divisão deArquivos, Out/Nov 1998.2 Iniciou a sua actividade na Câmara Municipal de Lisboa em 1880 no lugar de Arquitecto-Chefe da 1ª Secção da RepartiçãoTécnica. Atingiu a idade da reforma 29 anos mais tarde.

Desenho do mobiliário para o Gabinete do Chefe da Contadoria, 1886 (AML-AC, Repartição Técnica, Orçamentose Projectos, Orçamento nº 263, Caixa 5 A/OP).

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:22 Page 49

Page 3: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

50

nete da Presidência, em 1884, passando pelo gabinete do Chefe da Contadoria, em 1886, atéaos serviços de Arquivo, Fazenda Municipal, Beneficência e Obras, em 1890, todos recebe-ram mobília desenhada pelo Arquitecto.

Elegemos, no entanto, para objecto de estudo neste artigo, o mobiliário da sala que se desta-ca pela sua simbologia política e institucional, a Sala das Sessões, excluindo, nesta sede, qual-quer intenção de uma leitura mais global de todo o agenciamento dos Paços do Concelho.

Na Sala das Sessões3 realizavam-se as reuniões da Presidência e Vereação; nelas se discutia edecidia sobre as variadas questões ligadas à administração do município, e o público interes-sado delas podia tomar parte, como assistente, sentado na área especificamente reservada.

Sabemos que o incêndio de Novembro de 1863 não destruiu a mobília existente nesta sala; oresultado do rescaldo publicado nos jornais de 1 de Dezembro do mesmo ano disso dáconta4. No entanto, apesar de ter sobrevivido à catástrofe, não houve intenção de a conservarna referida sala.

Parece-nos compreensível que o executivo camarário, renovado no seu habitat arquitectónico,tenha querido equipá-lo com mobiliário novo, mais coerente com a nova linguagem formal eestética do edifício. Mais nos parece legítimo, tratando-se de uma sala emblemática do podere dignidade municipais.

A primeira notícia documentada do empenho dos serviços camarários na construção de umnovo mobiliário data de 3 de Outubro de 18855. Trata-se de um orçamento e memória apre-sentados – sob a forma de ofício - pelo Arquitecto José Luís Monteiro – na qualidade deresponsável pela condução dos trabalhos da 1ª Secção – ao Engenheiro Chefe da RepartiçãoTécnica, Ressano Garcia6: Tenho a honra de enviar a V. Exª o projecto de carteiras duplas e suas respec-tivas cadeiras destinadas a servirem aos vereadores na nova Sala das Sessões7.

No mesmo documento informa não haver realizado ainda o desenho para a carteira da pres-idencia por não ter recebido orientações conclusivas, pedindo decisão sobre a posição desti-

3 O projecto de Domingos Parente da Silva (1836-1901) assim designa esta sala; actualmente é designada Salão Nobre.4 Esta informação foi colhida em Salette Simões Salvado, Paços do Concelho: Elementos para a sua História, Lisboa, Trabalho poli-copiado apresentado ao concurso de promoção a Assessor, 1989, p. 20.5 Decorrerão dez anos até à arrematação do projecto por Victor de Alcântara Knotz, seu executor, como confirmaremos maisadiante neste trabalho.6 Não detectámos documentação anterior que abordasse o assunto, no entanto, o conhecimento dos procedimentos camaráriossugere-nos que terá havido uma decisão prévia, em reunião de Câmara, no sentido do Vereador do Pelouro das Obras tratar doassunto. Este, muito provavelmente em Ordem de Serviço, terá notificado o responsável do Serviço das Obras, EngenheiroRessano Garcia, para proceder conforme decisão supra, que, por sua vez terá delegado no seu subalterno, Arquitecto José LuísMonteiro, cuja Secção que chefiava se incumbia, no âmbito das funções atribuídas, destes assuntos.7 AML-AC, Repartição Técnica, Orçamentos e Projectos, Orçamento nº 263, cx. 5-A/OP.

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:22 Page 50

Page 4: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

51

nada ao escrivão, se na mesma mesa, ao lado do presidente (...) como se pratica em algumas assembleias,ou se em carteira separada à esquerda da presidencia; refere o destaque ornamental a considerar nacadeira do Presidente, que deverá ser mais decorada e de maiores dimensões; aponta o tamanho dasala a agenciar - que não se coíbe de qualificar como exíguo - como factor a ter em conta nadisposição do mobiliário da Sala das Sessões; sugere a distribuição dos bancos para o públi-co, dispostos em amphiteatro, acusando critérios de harmonia e funcionalidade.

A madeira escolhida é o carvalho do norte, e orça a despesa em 3.061$000 réis; o anfiteatro eos bancos para o público, tambem de carvalho em grande parte, poderão custar 2.200$000 reis aproxi-madamente; total a despender pela Câmara: 5.261$000 réis.

A finalizar o ofício sugere que o projecto seja encomendado particularmente e não arrematadoem praça a quem por menos o fiser, systema este condemnado pela experiencia, sugestão que nos parececonfirmar a qualidade pretendida para a obra.

Junto da memória e orçamento referidos não existem, em arquivo, quaisquer outros docu-mentos. No entanto, consultado um conjunto de desenhos avulsos8 relacionado com os Paços

Desenho da cadeira de braços dos Vereadores para a Sala das Sessões [1885], (AML-AC, Repartição Técnica,Desenhos para os Paços do Concelho, gaveta nº 61).

8 AML-AC, Repartição Técnica, Desenhos para os Paços do Concelho, Gav. 30 (mf. Nº 021/96).

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:22 Page 51

Page 5: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

52

do Concelho, que incluem peças de mobiliário para a Sala das Sessões, não datados e assina-dos pelo Condutor na 1ª Secção José Carneiro da Silva Fernandes, somos levados a pensar que terãoacompanhado a memória e orçamento de Outubro de 1885 e a atribuir a sua concepção aoArquitecto José Luís Monteiro, Chefe da referida Secção, que terá incumbido o Condutor dasua execução, no seguimento de outras concepções de mobiliário já referidas.

Os desenhos apresentados – alçados anteriores, laterais e posteriores, quer de uma carteiradupla, quer de uma cadeira de braços – se estão assinados pelo já nomeado José Carneiro daSilva Fernandes, não estão datados. Um olhar mais atento sobre a estrutura orgânicacamarária sugere-nos uma data anterior a 1890, pois a partir deste ano a referida 1ª Secção,fruto de uma reestruturação orgânica dos serviços, passa a denominar-se 1ª Repartição.

Desenho da carteira dos Vereadores para a Sala das Sessões [1885], (AML-AC, Repartição Técnica, Desenhos paraos Paços do Concelho, gaveta nº 61).

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 52

Page 6: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

53

Pela memória e orçamento assinados por José Luís Monteiro é enviado o projecto de carteirasduplas e suas respectivas cadeiras destinadas a servirem aos vereadores, afirmando o mesmo Arquitectonão estar, ainda, concebida a carteira destinada ao Presidente da Câmara, pelas razões atrásindicadas e limitando-se a tecer considerações sobre a cadeira – a desenhar, acrescentamosnós – que deverá ser mais decorada e de maiores dimensões9. De facto, os referidos desenhos avulsos,não contemplam, nem a cadeira do Presidente, nem a sua carteira.

Combinadas estas duas constatações apontamos para 1885 a data dos desenhos avulsos queterão acompanhado a memória e orçamento de Outubro do mesmo ano.

Sabendo que terão que decorrer dez anos para que o projecto do mobiliário seja levado pordiante e que não corresponderá exactamente aos desenhos das carteiras duplas e da cadeira,desenhados por José Carneiro da Silva Fernandes, pareceu-nos importante a atribuição da suadata de execução assim como as considerações mais precisas sobre a sua concepção; adianteperceberemos melhor porquê.

Segue-se um hiato documental - durante o qual não há notícia do desenrolar deste processo– que nos indicia desinteresse das hierarquias camarárias na construção de uma nova mobília,quem sabe, empenhada noutros projectos considerados mais importantes, já que à RepartiçãoTécnica – posterior Direcção-Geral de Obras Públicas - cabiam funções de gestão e contro-lo urbanístico da capital.

Coincidência ou não, é neste período - 1885-1895 - que se definem e rasgam as grandesartérias como a Avenida da Liberdade, a actual Avenida da República e todas as avenidas novasenvolventes, que significaram um enorme esforço humano e material da administraçãocamarária e cujo grande mentor foi o Engenheiro Ressano Garcia10, apoiado pela sua equipa.É natural, portanto, que os interesses e preocupações para aí convergissem.

Só em 1894 o assunto volta à tona. A Comissão Municipal, em sessão de 21 de Maio, sob pro-posta do Vereador Corrêa Guedes, resolveu que a chefia da Repartição Técnica, redesignadaDirecção-Geral de Obras Públicas, fornecesse à mesma Comissão, num curto prazo dequarenta dias, os desenhos da mobilia para a sala nobre do edificio dos Paços do Concelho11.A 1ª Repartição – chefiada por José Luís Monteiro – respondeu, sob a forma de ofício, de 17de Julho do mesmo ano, enviando o projecto e orçamento da despesa a fazer com a aquisição da mobil-ia necessaria para a sala nobre dos Paços do Concelho e bem assim a planta da disposição a adoptar para a

9 A utilização do verbo no tempo futuro confirma, parece-nos, a nossa hipótese.10 Sobre este assunto, v. Lisboa de Ressano Garcia 1874-1909 [catálogo], dir. Raquel Henriques da Silva, Lisboa, CML/FundaçãoCalouste Gulbenkian, Abr/Mai 1989.11 AML-AC, Repartição Técnica, Livros dos Processos, Processo nº 9510, cota nº 1608.

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 53

Page 7: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

54

Sessão de Câmara , disposição de mobiliário, 1903-1910 (AML-AF, A4186).

collocação da mesma mobilia12. Três dias mais tarde o Director-Geral, Engenheiro Ressano Garcia,aprovou a proposta.

A Comissão Municipal, entidade máxima a quem cabia tomar a decisão final, no dia 23 deJulho do mesmo ano, anuiu, não sugerindo qualquer alteração, e decidiu pela elaboração – acargo da 1ª Secção da Repartição Técnica - do programma com que deve ser posto em praça o fornec-imento da mobilia a que o referido orçamento respeita.

Poucos dias mais tarde O Século13 divulgou a intenção da edilidade em agenciar a Sala dasSessões conforme o projecto elaborado pela Repartição Técnica, dando notícia do orçamento calcula-do – 3.414$000 réis – e da abertura de concurso para arrematação.

Posta em praça a empreitada em Dezembro de 1894, apenas uma proposta surgiu como can-didata, assinada pelo reputado marceneiro Victor de Alcântara Knotz, orçando o trabalho naquantia de dois contos e quinhentos mil reis14. A 1ª Repartição informou, considerando vantajosa a

12 O projecto e orçamento referidos ter-se-ão, entretanto, extraviado, pois não foram detectados no Arquivo Municipal. Tendoem conta a mobília que foi efectivamente construída, somos levados a concluir que os desenhos agora apresentados difeririamnalguns detalhes dos realizados nove anos antes, que datámos - neste trabalho - de Outubro de 1885, concebidos sob a tutela daentão 1ª Secção da Repartição Técnica.13 De 27 de Julho de 1894.14 Valor mais baixo que todos os outros indicados anteriormente.

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 54

Page 8: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

55

proposta. Em sessão de 17 de Janeiro de 1895 a Comissão Municipal deu o assentimento final,resolvendo adjudicar o fornecimento do mobiliário ao único candidato.

Apercebemo-nos que, desta vez, o processo foi conduzido com grande celeridade, pois logoem 25 de Janeiro de 1895 a Câmara Municipal de Lisboa celebrou um contrato15 com Victor deAlcântara Knotz16 para execução por empreitada da mobília destinada à sala nobre dos Paços do Concelho17.

Em Março ou Abril seguintes a mobília foi fornecida à Câmara Municipal de Lisboa. Registao livro da contabilidade municipal18, na rubrica das despesas do dia 20 de Maio, o pagamen-to a Victor d’Alcântara Knotz da importância de 17 secretárias e 19 cadeiras, tudo de carvalho, torneadase entalhadas, para a sala das sessões fornecidas em Março último:1ª prestação conforme o contrato feito em17 [sic] de Janeiro pp.1.250$000. De acordo com um segundo registo da contabilidade, a dívidada mobilia para a sala das sessões da Câmara fornecida em Abril último [sic] foi saldada em Julhoseguinte, com o pagamento da 2ª prestação19.

Sessão de Câmara, disposição do mobiliário (Ilustração Portugueza,nº 412, 1914, p. 63).

15 AML-AC, Notariado, Livro de Escrituras nº 11, fl. 23 v.16 Com marcenaria na Rua do Arco a Jesus, nº 19.17 A Sala das Sessões públicas começou a ser também designada por Salão Nobre.18 AML-AC, Serviços Financeiros, Livros de Caixa, nº 71, fl. 71.19 AML-AC, Serviços Financeiros, Livros de Caixa, nº 72, fl. 33.

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 55

Page 9: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

Descrito todo o processo técnico e administrativo de concepção e execução do projecto, quese arrastou, como vimos, por cerca de dez anos, passemos à apresentação do mobiliário,objecto de estudo deste trabalho20.

Antes de definir tipologias interessará recensear quantitativamente as peças, propósito quenão é totalmente pacífico. De facto, a única referência de que dispomos, quanto ao númerode carteiras21 e cadeiras, resulta do primeiro registo contabilístico atrás referido. Somos leva-dos a pensar que, com o pagamento da 2ª prestação, tenham sido entregues, entretanto, maispeças em Abril último, como é registado. Mais se confirma esta hipótese, se observarmos, querfotografias da sala dos primeiros anos de Novecentos, quer um Inventario Geral de 192322 exis-tente no Arquivo Municipal de Lisboa – Arco do Cego.

A fotografia de Joshua Benoliel (1873-1932), publicada na Ilustração Portugueza23, indica-nosvinte e sete lugares sentados (contando com o Presidente) em carteiras iguais, ainda que nãoseja perceptível quais são duplas e quais são individuais.

O referido Inventario, dá conta de 26 secretarias em carvalho com obras de talha para dois lugares, 4 sec-retarias em carvalho do mesmo modelo das antecedentes (para um logar), 1 secretaria em carvalho, igual mod-elo, para um logar com estrado com alçado atraz (a carteira do Presidente).

Parece-nos haver sido feito um registo menos claro no que respeita às 26 secretarias; tratar-se-á, quanto a nós, de lugares sentados e não do número de carteiras duplas, por duas razões queadiantamos: por um lado, a Vereação estava muito longe de ser constituída por cinquenta edois elementos24, por outro, para uma sala que também tinha um espaço reservado ao públi-co, a área jamais permitiria tão elevado número de carteiras25.

56

20 Actualmente as secretárias ou carteiras e respectivas cadeiras já não mobilam a sala destinada às sessões públicas. Após o novoincêndio no edifício dos Paços do Concelho de 1996, a ocupação das áreas foi redefinida tendo-se concebido, sob a direcção deDaciano Costa, uma nova Sala de Sessões, que recebeu mobiliário novo. As referidas secretárias encontram-se, hoje, na sala desessões privadas da Presidência e Vereação. Quanto às cadeiras, três encontram-se junto das secretárias, as restantes num depósi-to camarário.21 Optamos por esta designação em detrimento de secretária, por nos parecer metodologicamente mais fiel ao espírito do seuautor, o Arquitecto José Luís Monteiro, que assim as adjectiva; por outro lado, conceptualmente, o termo carteira afigura-se-nosmais correcto tendo em conta a forma e a função desta peça de mobiliário.22 AML-AC, Administração Geral, Inventario Geral – Palacio dos Paços do Concelho, Gav. 30.23 Nº 412, de 1914.24 Em 1884, no ano anterior à primeira proposta de agenciamento, de José Luís Monteiro, Presidente e Vereação somavamcatorze membros; em 1896, no ano seguinte ao fornecimento da mobília, o mesmo grupo tinha aumentado para dezasseis (V.Arquivo Municipal, A Evolução Municipal de Lisboa: Pelouros e Vereações, Lisboa, CML, 1996, pp. 109, 114).25 Lembramos que já José Luís Monteiro, na sua memória e orçamento de Outubro de 1885, atrás mencionado, referia as dimen-sões exiguas da sala, como factor a considerar na colocação da carteira para o Escrivão da Câmara.

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 56

Page 10: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

57

Propomos, portanto, como número possível, treze carteiras duplas, quatro carteiras individu-ais e uma secretária para o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Quanto ao número de cadeiras, e continuando no pressuposto de que o registo contabilísti-co de Julho de 1895 omitiu a quantidade de uma segunda entrega de peças, apontamos paraos 28 fauteils em carvalho, estofados, em veludo encarnado e um fauteil da mesma madeira e modelo dosantecedentes, tendo a mais a corôa mural, que serve ao presidente, tal como refere o Inventario de 1923.

Da quantidade de peças apresentadas – da mobília para a Sala das Sessões – conseguimosinventariar, hoje, vinte e quatro fauteils (que designaremos por cadeiras de braços), uma cadeirade braços para o Presidente, uma secretária mais nobre, também para o Presidente26, setecarteiras duplas e três carteiras individuais27; constatamos, portanto, que, no decurso dotempo, algumas peças foram, lamentavelmente, desaparecendo.Descreveremos, de seguida, o mobiliário sobrevivente, que tipologicamente se divide em:secretária, carteiras e cadeiras de braços, executado em madeira de carvalho.

A secretária destinada ao Presidente dasessão, assim como as carteiras, obedecemà mesma estrutura e programa decorativo.No entanto, aquela, atendendo à singulari-dade e evidência do cargo a que se destina-va, foi concebida de forma a destacar-sedos restantes móveis de trabalho. Umolhar imediato, hoje, fá-la salientar-se pelamaior dimensão que apresenta e pelotampo plano, característica que nos leva arejeitar a designação de carteira. No entan-to, cremos que ao tempo da sua estreia, oestrado e o alçado então existentes, intensifi-cariam a diferença.

Uma observação mais atenta faz-nos detectar outras particularidades. Toda a secretária assen-ta num pedestal. O alçado principal organiza-se em três panos, simetricamente delimitadospor quatro colunas adossadas, iniciadas em bolacha, sendo as dos extremos angulares. O panocentral, de maiores dimensões, é preenchido por um medalhão circular, decorado com uma

Secretária do Presidente para a Sala das Sessões. Desenhode José Luís Monteiro e execução de Victor Knotz em1895 (foto do autor).

26 Esta secretária encontra-se, hoje, no edifício dos Paços do Concelho (tal como as carteiras ainda existentes), na mencionadasala das sessões privadas e é ocupada pelo secretário da sessão, o correspondente ao Escrivão da Câmara. Foram-lhe retirados oestrado e o alçado, que acompanhavam inicialmente a secretária, e que não conseguimos localizar.27 Do número considerado, uma carteira dupla e uma individual estão, ainda, em fase de restauro, segundo informação de umtécnico camarário.

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 57

Page 11: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

barca portuguesa que transporta consigo símbolos de Lisboa: uma bandeira, dois corvos e ocorpo jacente de S. Vicente, padroeiro da cidade. Circundam este medalhão, quatro aponta-mentos de talha de inspiração vegetalista, em reserva, simetricamente dispostos. Os doispanos laterais opõem-se gramaticamente ao central, na sua nudez decorativa, apenas pontua-da com um friso rectangular, à maneira de reserva por preencher. O entablamento, seguindoa linguagem tripla dos panos, apresenta um programa poliédrico, a sugerir distorcidas pontasde diamante e é rematado por um friso denticulado que contorna o tampo recortado dasecretária.

Os alçados laterais continuam a mesma lin-guagem dos panos laterais do alçado princi-pal. O alçado posterior apresenta uma gave-ta central que se esconde sob o tampo, comcaixa aberta recuada, apresentando, ao cen-tro, um friso circular, despido de qualqueroutro motivo decorativo.

As carteiras destinadas à Vereação apre-sentam, como dissemos já, uma linguagemmuito próxima da secretária descrita.

Importa distinguir, desde logo, os dois tipos de carteiras concebidas: duplas e individuais. Asprimeiras resultam da junção física de dois módulos, concebidos de raiz, exactamente iguais,que simulam o adossamento de carteiras individuais, destinadas a dois utilizadores; o segun-do tipo, a ser ocupado por uma única pessoa, não apresenta qualquer dissemelhança com ascarteiras duplas, apenas se trata de um módulo individual, a permitir o seu adossamento arti-ficial a qualquer uma outra carteira, iludindo continuidade.

Entre as carteiras duplas há que distinguir três formas: numa o adossamento é completamenterectilíneo, como se de duas peças paralelamente justapostas se tratasse; noutra a junção dascarteiras produz um efeito ligeiramente curvilíneo; uma terceira solução acentua estearredondamento. Desta forma tornava-se possível desenhar, a partir da disposição domobiliário, um hemiciclo.

O programa decorativo é igual, quer para as carteiras duplas, quer para as individuais, recor-rendo-se a um padrão-tipo. O alçado principal apresenta apenas um pano limitado por duascolunas angulares. O medalhão repete exactamente a decoração da secretária do Presidente,o mesmo não se verificando com os pequenos retábulos que o circundam que se fizeram demenores dimensões e com outro figurino, ainda que, também, de inspiração vegetalista.Quando se trata de carteiras duplas, as colunas angulares – à esquerda e à direita de cada

58

Carteira dupla dos Vereadores para a Sala das Sessões.Desenho de José Luís Monteiro e execução de VictorKnotz em 1895 (foto do autor).

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 58

Page 12: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

módulo virtual – deixam de o ser, para se disporem lado a lado.

Como carteiras que são, apresentam tampo inclinado, levadiço, sob o qual se criou um espaçode arrumação de papéis ou documentos, à maneira de gaveta. Tudo o resto segue o modeloda secretária concebida para o Presidente.

Para os móveis de assento seguiu-se o mesmo critério: destacar a cadeira de braços doPresidente do conjunto das restantes cadeiras a ocupar pela Vereação.

O modelo tipo das cadeiras de braços apresenta: assento, espaldar e costas estofados a velu-do carmesim28. As pernas, de pequena dimensão, têm uma configuração cónica, ritmada porcolarinhos de diferentes dimensões; o aro do assento é arredondado à frente e rectilíneo doslados e atrás, com os ângulos marcados por pontas de diamante, seguindo a linguagem doentablamento das carteiras e secretária. Os braços recua-dos, apoiados numa voluta decorada, rematam em enro-lamento, com uma elegante folha em talha de vulto. Oespaldar - contornado lateralmente por prumadas comum friso saliente preenchido por um festão pendente nafrente e lado - remata com dois mascarões encimadospor dois bolbos gomados. O cachaço, que o recortado doestofo acentua, evolui em tensão ondulante para umacornija angulada, sugerindo frontão a coroar a cadeira.Sob este, e ao centro do cachaço, um elegante monogra-ma entrelaçado - CML - perpetua as iniciais da CâmaraMunicipal de Lisboa, enleando-se numa folhagem sus-pensa, à maneira de festão.

A cadeira de braços do Presidente apresenta maiordimensão, ainda que não muito acentuada e distingue-seapenas no cachaço: o monograma é, neste móvel deassento, substituído pelas armas, em vulto, do Município,que se fazem acompanhar por uma cascata de folhagense enrolamentos, ligeiramente diferentes das restantescadeiras.

Apresentado o mobiliário efectivamente construído para a Sala das Sessões, e que chegou aténós, podemo-nos agora aperceber das diferenças introduzidas entre as peças criadas e osprimeiros desenhos de José Luís Monteiro, concebidos em 1885. 59

Secretária do Presidente para a Sala dasSessões. Desenho de José LuísMonteiro e execução de Victor Knotzem 1895 (foto do autor).

28 As três cadeiras que se encontram hoje nos Paços do Concelho são estofadas a veludo verde, assim como mais onze - incluin-do a do Presidente - que se encontram num depósito já aludido; pensamos que a necessidade de substituição, devido aoenvelhecimento do veludo original, terá levado à opção desta cor, no entanto, ainda se mantêm dez com a cor original.

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 59

Page 13: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

60

Estruturalmente há uma grande semelhança, querno modelo da cadeira de braços, quer no figurino dacarteira dupla. O tempo decorrido até ao retomardo projecto, em 1894, traduziu-se, apenas, na intro-dução de pequenas alterações decorativas e de apu-ramentos ligados à funcionalidade com a criação decarteiras individuais.

As armas com a coroa mural, no medalhão do panocentral, foram substituídas pelo episódio vicentino;as colunas foram simplificadas, reduzindo-lhes onúmero de colarinhos, e foi acentuada – nascarteiras duplas - a ilusão de justaposição de doiscorpos com a execução de duas colunas ao centro,em vez de uma, como constava no desenho de 1885.

Nas cadeiras de braços reparamos que a grande alteração se fez no cachaço. O brasão dearmas com a coroa mural foi substituído pelo monograma CML – excepto na cadeira doPresidente - que se inscreveu no centro do cachaço e não no vértice da cornija angulada,como previa o desenho inicial para o brasão. Registamos, também, mínimas alterações no tipode motivos vegetalistas.

Do mobiliário conhecido, desenhado por José Luís Monteiro para os serviços camarários, esteé, sem dúvida, o mais requintado do ponto de vista ornamental, mas a função nobre da Saladas Sessões assim o impunha.

Preteridos os receituários neogótico ou neomanuelino, ou todos os exotismos que osimpérios fizeram próximos, tantas vezes mais exuberantes e inflamados, Mestre Monteiro foibuscar os elementos do classicismo puro, da renascença ou do neoclássico – que tinhaassimilado desde a sua formação, em Paris, com o seu professor J. L. Pascal - no laboratóriodo ecletismo, à maneira do II Empire napoleónico, para enformar as cadeiras e as carteiras queacompanhariam as decisões e as polémicas da instituição municipal.

Os elegantes festões vegetalistas ou os mascarões, a geometria do entablamento ou dopedestal, o denticulado ou o sugerido frontão, a majestade das cadeiras ou a angulosidade dascarteiras não são mais do que uma miscelânea de elementos clássicos, que encontramosrepetidos - alguns deles – na obra de José Luís Monteiro, constituindo-se, assim, imagens demarca de um estilo pessoal.

Pormenor da cadeira de braços do Presidente.Desenho de José Luís Monteiro e execução deVictor Knotz em 1895 (foto do autor).

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 60

Page 14: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

Esta concepção estilística não impediu, no entanto, o Arquitecto, de dotar estas peças, assimcomo, em geral, os móveis que dele conhecemos para a Câmara Municipal de Lisboa, de umacaracterística que a modernidade começava a impor: funcionalidade, isto é, conceber a peçade mobiliário, casando forma e função, estilo e desempenho, aliança de um design hojeconhecido. É verdade que o mobiliário de serviços29 - destinado a constituir meio de tra-balho - mais facilmente exigia esta característica, daí que tal orientação deva ter estado pre-sente na mente do Arquitecto, sempre que o risco criador se definia.

Esta funcionalidade evidencia-se, para nós, em três aspectos. O primeiro resulta da amovi-bilidade de todo o mobiliário desenhado para a Sala das Sessões: secretária, estrado e alçado,carteiras e cadeiras, tudo era amovível, podendo-se instalar as peças, em caso de necessidade,onde fosse necessário, na sala disponível. O segundo, constatamo-lo nas três tipologias decarteiras duplas, atrás mencionadas: rectilíneas, semi-anguladas ou acentuadamente anguladas,permitindo dar forma a um hemiciclo, maior ou menor, de acordo com o número deVereadores que a lei ia alterando. Por último, as carteiras individuais: se uma ou outra, colo-cadas próximo do Presidente, poderiam servir para o Escrivão tomar as notas devidas, quan-do necessário, encostadas a uma qualquer carteira dupla, simulavam a continuidade – man-tendo uma harmonia estilística – na disposição do colégio.

Autoridade, colegialidade institucional, legitimidade histórico-cultural e dignidade parecem-nos ser as características que ressaltam de uma leitura meta-formal do mobiliário adoptado,inspirado na lição dos revivalismos classicizantes tão à maneira de Oitocentos.

Se a autoridade se quis plasmar no monograma inscrito no alto espaldar das cadeiras daVereação, coroa de cada cabeça legitimada no poder municipal, quis-se também gravar, e maisvisivelmente, no lugar do Presidente, entronizado na sua cadeira, único móvel de assento aostentar as armas do município e a coroa mural, no estrado que o elevava ou no alçado queo encenava.

A colegialidade institucional, receita do ideário demo-liberal, transmitiu-se, acima de tudo, naconfiguração da sala que os próprios móveis criavam. A sua ductibilidade permitia criar umespaço semi-circular, mais ou menos prolongado, que a secretária do Presidente encerrava. Ocolégio dos Vereadores, sentava-se, assim, num frente a frente, mais ou menos exacerbado,que a convergência ou divergência de ideias temperava.

A lição de uma cidade multi-secular, que busca na sua História e nos seus valores cristãosenraizados a legitimidade do presente, inscreveu-se em todos os padrões-tipo dos medalhões

6129 Acusamos alguma dificuldade em, conceptualmente, referir esta área do mobiliário; pretendemos englobar todos os móveisque agenciam espaços exclusivamente dedicados a um qualquer desempenho profissional. Parece-nos ser, esta área, um filãoespecífico da História do Mobiliário a merecer mais atenção.

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 61

Page 15: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

centrais, repetidos em cada móvel de trabalho, verdadeiros emblemas da cultura municipal: S.Vicente, padroeiro da cidade instituído pelo primeiro monarca português, com o corpojacente na barca que o transportou, faz-se acompanhar por dois corvos, um à esquerda, outroà direita, como se de dois soldados - fiéis e vigilantes - se tratasse e que nenhuma história pos-itivista fez afastar do imaginário de Oitocentos.

A dignidade foi o resultado da soma das parcelas enumeradas e às quais acrescentamos aintencionalidade estética, característica concorrente para a criação do objecto artístico e queo Arquitecto José Luís Monteiro, no mobiliário, como noutros domínios da arte, revelandoum casamento feliz entre versatilidade e qualidade, soube imprimir nos seus trabalhos.

62

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 62

Page 16: O Arquitecto José Luís Monteiro e as Artes Decorativas: o ...arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/fotos/editor2/52.pdf · 49 Vários estudos sobre a obra do Arquitecto José Luís Monteiro

Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 63