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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Luciana Assis Navarro O ARTISTA INSTAURADOR: REFLEXÃO ACADÊMICA SOBRE O PROCESSO CRIATIVO “O QUE ELA QUER DIZER COM ISSO: INSTAURAÇÕES PERFORMATIVAS” CURITIBA 2009

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁLuciana Assis Navarro

O ARTISTA INSTAURADOR:REFLEXÃO ACADÊMICA SOBRE O PROCESSO CRIATIVO

“O QUE ELA QUER DIZER COM ISSO: INSTAURAÇÕES PERFORMATIVAS”

CURITIBA2009

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O ARTISTA INSTAURADOR:REFLEXÃO ACADÊMICA SOBRE O PROCESSO CRIATIVO

“O QUE ELA QUER DIZER COM ISSO: INSTAURAÇÕES PERFORMATIVAS”

CURITIBA

2009

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Luciana Assis Navarro

O ARTISTA INSTAURADORREFLEXÃO ACADÊMICA SOBRE O PROCESSO CRIATIVO

“O QUE ELA QUER DIZER COM ISSO: INSTAURAÇÕES PERFORMATIVAS”

Monografia apresentada ao Curso de Pós

Graduação em Arte

Contemporânea - Prática Teoria e História, da

Universidade Tuiuti do Paraná.

Orientador: Prof. Mestre Evandro Gauna

CURITIBA

2009

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Para Nina, minha filha, que esteve comigo neste trabalho,

dentro mesmo do meu corpo e depois fora,

com seus sons e movimentos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos artistas que colaboraram com esta pesquisa: Luana Navarro, Lucas

Amado, Fernando de Proença e Aline Vallim.

Aos professores e alunos dessa pós graduação.

Aos meus pais, meus irmãos e meu companheiro Lucas.

Ao Coordenador desta Pós-Graduação e Orientador deste trabalho, Evandro

Gauna, por seu apoio delicado.

.

Um especial agradecimento a Carla Vendrami (in memorian) , professora e artista

que orientou o Pré-Projeto desta Pesquisa.

.

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO....................................................................................................9

2. O QUE ELA QUER DIZER COM ISSO?..........................................................11

2.1 O artista..........................................................................................................11

2.2 O artista-sujeito contemporâneo....................................................................14

3.O QUE ELA QUER DIZER COM INSTAURAÇÕES

PERFORMATIVAS?.............................................................................................17

3.1 O performer instaurador.................................................................................17

3.2 O corpo do artista e o espaço performático...................................................20

4. COMO O CORPO DO ARTISTA SE INSTAURA NO ESPAÇO?.....................24

4.1 .Trajetória.......................................................................................................24

4.2 As estratégias de Instauração........................................................................28

4.2.1Habitar...................................................................................................28

4.2.2.Expandir................................................................................................29

4.2.3 Estranhar..............................................................................................30

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................32

REFERÊNCIAS....................................................................................................33

ANEXOS..............................................................................................................35

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Embaraçada (cores) – Luciana Navarro – fotografia ...........................11

FIGURA 2 - Instaurada (cores) - Luciana Navarro – fotografia................................14

FIGURA 3 – Instaurada - Luciana Navarro – fotografia ...........................................16

FIGURA 4 – Auto-Retrato - Luciana Navarro – fotografia....................................... 17

FIGURA 5- Auto-Retrato - Luciana Navarro – fotografia......................................... 18

FIGURA 6 – Instaurada - Luciana Navarro – fotografia ............................................19

FIGURA 7 – Instaurada - Luciana Navarro – fotografia ............................................19

FIGURA 8 – Instaurada- Luciana Navarro – fotografia............................................. 20

FIGURA 9 – Instaurada- Luciana Navarro – fotografia .............................................20

FIGURA 10 – Instaurada- Luciana Navarro – fotografia ...........................................22

FIGURA 11 – Instaurada- Luciana Navarro – fotografia........................................... 25

FIGURA 12 – Embaraçada- Luciana Navarro – fotografia .......................................26

FIGURA 13 – Embaraçada (Cores) - Luciana Navarro – fotografia .........................26

FIGURA 14 – Instaurada (Cores) - Luciana Navarro – fotografia .............................27

FIGURA 16 - This is my favorite – F. Woodmann - photograph ……….………….28

FIGURA 18 – A Coleta de Neblina (2002) – Brigida Baltar – Fotografia...................28

FIGURA 20 – Untitled Film Still # 6 – Cindy Shermann – photograph………..…...30

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RESUMO

O Objetivo deste trabalho é a reflexão acadêmica do processo criativo “O que ela quer dizer com isso- Instaurações Performativas” gerado durante o curso de Pós Graduação em Arte Contemporânea da UTP. Atualmente existem poucas técnicas e caminhos pré estabelecidos para a criação artística, por isto, este trabalho contribui e aponta para possibilidades possíveis nessa área. Esta pesquisa é importante porque emerge de problemas gerados na prática artística. Apresenta questões e aponta respostas provisórias que se configuram ao longo do tempo, em trajetória e território de experimentação.

Palavras-chave: arte contemporânea, processo de criação, performance.

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1. INTRODUÇÃO

A arte na sociedade contemporânea é um ambiente de diálogos, hibridismos,

recorrências e aparecimento de novas questões artísticas. Por esta razão, uma

pesquisa acadêmica em arte contribui para a produção de conhecimento, diálogos a

colabora na legitimação e entendimento das especificidades deste tipo de pesquisa.

Este trabalho é uma reflexão acadêmica sobre o processo criativo “O que ela

quer dizer com isso- Instaurações Performativas”. Este processo de criação

aconteceu durante o curso de Arte contemporânea da Universidade Tuiuti di Paraná

nos anos 2008 e 2009.

O interesse desta pesquisa é aprofundar as questões do artista por meio de

uma reflexão acadêmica e descobrir novos espaços para a criação artística. O foco

aqui é o artista e o seu corpo, entendido como lugar onde a obra acontece. Temos

por isto, o exercício de falar de um arista/performer instaurador de questões.

A Questão que move este trabalho é: Como o artista instaura seu corpo no

espaço onde a ação acontece?

No primeiro capítulo tem o objetivo de situar o leitor sobre que tipo de artista e

sujeito estamos querendo pensar, demonstrando que esse artista é um sujeito

inserido na sociedade pós-moderna.

No segundo capítulo esclareço sobre as referências de performance e o

conceito de instauração presentes nesta pesquisa e como esta prática do ação

artística como uma instauração performativa possibilita o aparecimento de uma

relação específica entre corpo do artista e espaço performático.

O terceiro capítulo traz informações sobre a trajetória da construção deste

trabalho e apresenta as três estratégias de instauração: habitar, expandir e estranhar

– que são os modos de operar encontrados para encaminhar esse percurso artístico.

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Os principais autores utilizados para fundamentar esta pesquisa são: Merleau

Ponty, Gaston Barchelard, Michael Archer, Regina Mellin e Sandar Rey.

Se escolherem, podem entrar. Este trabalho foi feito para ser habitado. “todo

espaço realmente habitado traz a essência da noção de casa” (BARCHELARD,

1993.)

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2. O QUE ELA QUER DIZER COM ISSO?

2.1 O artista

Estou fazendo o exercício de comunicar a outros artistas, estudantes,

professores, comunidade acadêmica ou a quem possa interessar sobre o meu

processo de criação. O pronome meu, é usado aqui para que eu possa assumir

algumas escolhas e posicionar-me diante de algumas questões no mundo. Um

processo de criação é extremamente pessoal, tem uma dimensão íntima infinita, e

por outro lado e ao mesmo tempo, é sempre um acontecimento público, conectado

com o tempo e o espaço onde o artista vive. Como coloca BARCHELARD “O

exterior e o interior são ambos íntimos; estão sempre prontos a inverte-se, a trocar

sua hostilidade . (...) O espaço íntimo perde toda clareza. O espaço exterior perde

seu vazio” . ( BACHERLAR, 2005, p.221).

FIGURA 1

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Um processo de criação se constrói na relação com outros artistas, com

leituras, e com a observação e experimentação da vida.

Aqui se trata de olhar para uma produção artística que toma o corpo como

lugar onde os conceitos artísticos se configuram. O corpo do artista aqui é ao

mesmo tempo lugar de experimentação e lugar de seleção, de edição de idéias e

conceitos; é o lugar onde a obra acontece. Ao dizer corpo do artista, digo não

somente o seu corpo físico, sua forma corporal, mas também as conexões que esse

corpo-mente constrói com o público, com o tempo e espaço da performance e com

os conceitos, sensações e imagens que são comunicadas, bem como qualquer outra

relação com todo material escolhido para fazer parte da ação artística.

. Minha produção se contextualiza na arte contemporânea, nesse

ambiente de diálogos e hibridismos de linguagens e conceitos. Por isto, falar de

uma produção é também falar de modos de criação na arte contemporânea, de

procedimentos e novos modos de organizar e comunicar um trabalho artístico.

Levando em conta que a arte contemporânea se faz, na maioria dos casos

sem técnicas pré-estabelecidas. Para Archer,

Hoje existem poucas técnicas e métodos de trabalho, se é que existem, que podem garantir ao objeto acabado a sua aceitação como arte. Inversamente, parece, com freqüência, que pouco se pode fazer para impedir que mesmo o resultado das atividades mais mundanas seja erroneamente compreendido como arte. Embora a pintura possa continua sendo importante para muitos, ao lado dos artistas tradicionais há aqueles que utilizam fotografia e vídeo, e outros que se engajam em atividades tão variadas como caminhadas, apertos de mão ou o cultivo de plantas. “ (2001, prefácio).

Esse projeto apresentasse como lugar de possíveis trocas e diálogos com outros

artistas e pesquisadores que se interessam por trabalhos de arte que são

instaurados enquanto são gerados.

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A pergunta que move esta pesquisa artística é :Como o corpo pode instaurar-

se no espaço onde a ação acontece?

As reflexões geradas pelas experimentações performáticas, apontam para a

possibilidade em instaurar o corpo no espaço por meio de posições corporais

simples e da criação de estratégias de instauração, que serão explicadas no

decorrer do trabalho.

Este trabalho apresenta um modo específico de pensar a relação corpo e

espaço através da obra como uma instauração performática. Tem como objetivo

principal aprofundar minhas questões como artista por meio de uma reflexão

acadêmica acerca de minha produção e compartilhar o processo de criação com

artistas, pesquisadores,comunidade acadêmica e público em geral.

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2.2. O artista- sujeito contemporâneo

Para Stuart Hall, “esta perda de um “sentido de si” estável é chamada,

algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo

deslocamento – descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e

cultural quanto de si mesmos – constitui uma crise de identidade para o indivíduo”

(2005, p. 9).

Pensar o artista como um sujeito que habita essa sociedade pós-moderna é

refletir sobre como esse contexto interfere nas suas relações enquanto cria um

trabalho artístico.

Figura 2

A idéia do artista como um sujeito móvel e em processo, remete também a

Barchelard,

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o ser espiralado, que se designa exteriormente como um centro bem revestido, nunca atingirá o seu centro. O ser do homem é um ser desfixado. Toda expressão o desfixa. No reino da imaginação, mal uma expressão foi enunciada o ser já tem necessidade de outra expressão. BARCHELARD p.218

Por este caminho, entendemos que o artista não é um gênio, alguém que

guarda uma idéia incrível e preciosa, que em algum momento “sai” “desabrocha”. O

artista se confunde, move-se, e constrói seu trabalho através de tensões, de

dúvidas. A “obra” acontece nesse artista que é também sujeito, está no mundo,

caminha pelas ruas da cidade, está no tempo e espaço presente. Vivendo em uma

sociedade fragmentada, como poderia sua obra ter características como: harmonia,

centralidade, equilíbrio?

Diversas questões sobre o que pode ser um artista hoje,aparecem com

freqüência nas discussões atuais. O que tem se modificado na figura do artista?

Quais os resíduos de virtuosismo, glamour e genialidade que ainda carregamos?

Em o artista como curador, Ricardo Basbaum, esclarece e aponta de forma

bastante interessante um pouco dessas questões.

Percebe-se logo que ser (ou não) um artista não é algo que se possam exigir limites rígidos ou absolutos, revelando-s mais como um trânsito, um certo deslocamento através das coisas combinado com a produção de um espaço particular de problemas (o lugar do “poético” , que Bataille associa ao mal), um determinado formular de questões em que objetos, situações, eventos e uma certa configuração do sensível estão envolvidos: este indivíduo (ou coletivo, claro) insere-se (é inserido: trata-se de uma atribuição que necessariamente envolve alteridade) numa rede de dinâmicas e num contorno de espacialidade em que se movimenta, deflagrando toda uma economia própria deste conjunto de operações. (ano,p.35).

O artista encontra-se nesse lugar onde muitas coisas se cruzam. Sensações

íntimas, invenção de linguagem, mercado de arte, relação com outros artista,

políticas públicas, etc.

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Por isto, como coloca Bausbaum, muitos artistas tornam-se também

curadores, agentes de discussões para a melhoria de políticas públicas, críticos ...

Podemos pensar que é função do artista instaurar sua poética, mas também mover

um certo “arquétipo do artista” – atuar na diluição da centralidade e narcisismo.

Essa movimentação para fora de si não deixa de ser uma condição do próprio exercício do gesto poético, que foge do loop narcísico e busca hospedagem no corpo do outro – espectador, audiência, público.- mas que também pode ser encontrada no elenco de práticas daqueles artistas que se inscrevem na tradição de hibridização junto a poéticas alheias , em que buscam as singularidades da alteridade conforme se manifestam através do seu próprio jogo de corpo: o exercício de atividades- institucionalizadas em maior ou menor grau – de interlocução informal e produção crítica, por exemplo, ou de agenciamento de trabalhos e curadoria.( ano, p. 36)

Figura 3

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3. O QUE ELA QUER DIZER COM INSTAURAÇÕES PERFORMATIVAS?

3.1 O performer instaurador

Figura 4

Pensar a ação do artista como uma instauração performativa é um exercício

para observar como essas crises se manifestam na relação entre o corpo e o

espaço. Para acompanhar a construção dessas relações no tempo, parto do

conceito de instauração. Para Passeron, em citação utilizada por Sandra Rey, no

texto Por uma abordagem Metodológica da pesquisa em artes visuais, “ Instaurar

uma obra de arte é dar existência a um ser que não existia antes. Contém a idéia de

uma energia interna, como se a obra instaurada tivesse, a partir de um instante, que

não é o instante em que está acabada, a força de irradiar por si mesma

(PASSERON, 1996).

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Figura 5

. Ela propõe pensarmos a obra de arte como um processo vivo onde o artista

inventa os modos de realizar sua obra enquanto ela é feita. Trata-se de pensar obra

e pesquisa como processos interligados e em construção. Neste caminho, “ sob o

prisma da obra em processo, a produção de sentido configura-se nas operações

durante a sua instauração” . (REY, 2002, p.129)

Essa idéia de instaurar uma obra de arte foi praticada nesse processo

criativo por meio de ações performáticas que realizei em diferentes lugares

escolhidos. Foram Ações externas, em Studio e dentro de casa, realizadas sem

público e orientadas para fotografia. “Quando o ateliê passa a ser “qualquer lugar” ,

“todo lugar” ou “onde eu estiver”, seu conceito passa a se estruturar não somente

como um lugar físico, mas, sobretudo, como uma espécie de parênteses no tempo, ,

passando a existir, então, onde o artista está.” MELLIN, p.50.

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Essas ações são experimentações que remetem ao efêmero, ao transitório,

ao lugar presencial sugerido pela idéia de performance.

Figura 6

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Figura 7

Desde as vanguardas européias, já se esboçavam ações performáticas que objetivavam rupturas, como as que ocorreram no futurismo, no construtivismo russo, no dadaísmo, no surrealismo e na Bauhaus. Contudo, foi a partir do segundo pós- guerra que tais ações se tornariam mais freqüentes, assim como suas denominações: happening, Fluxus, aktion, ritual, demonstration, direct art, destrucion art, event art, dé-collage, body art, entre outras tantas designações, creditadas, grande parte das vezes, ao processo de um único artista ou de um grupo. Todavia, a partir dos anos 1970, não obstante as diferenças estilísticas e ideológicas que possuíam, acompanhadas ainda dos protestos de muitos artistas das artes visuais, todas essas denominações foram agrupadas sob a terminologia única de performance art. P. 11

No entanto, há também um olhar mais atualizado, que segundo Regina Melin,

ultrapassa muitos dos clichês que construímos sobre essa forma de arte:

Pretendo mostrar que, atualmente, uma definição possível de performance nas artes visuais contempla uma série infindável de trabalhos, ampliando sobremaneira o seu conceito. Associada a essa noção surge uma variante de procedimentos, reexaminada por meio de elementos performativos presentes na ordem construtiva de muitos trabalhos apresentados na forma de vídeos, instalações, desenhos, filmes, textos, fotografias, esculturas e pinturas. ( 2008, p. 8)

2. O Corpo do Artista e o Espaço Performático

Figuras 8 e 9

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Na produção “O que ela quer dizer com isso? Instaurações Performativas” é

por meio do corpo, da maneira como este corpo está no espaço, que o artista dilui

centralidade e narcisismo. È o exercício de uma presença localizada (sabemos onde

estamos, onde está o corpo do artista – aparece a questão da habitação) e em

diluição, em movimento sutil e em todas as direções (podemos experimentar o

espaço, o momento presente, por meio da presença do corpo do artista – aparece a

questão da expansão) sem abandonar o estranhamento – o espaço de ruído, de

resíduos, o espaço do medo, da dúvida, das restrições, dos nãos .

Os temas corpo e espaço são recorrentes em trabalhos de arte

contemporânea, mas cada artista tem um modo específico em construir essas

relações. Nesta produção a relação corpo e espaço foi construída por meio de

sensações ( observadas durante as ações realizadas) imagens ( muito estimuladas

pelas fotografias das ações) e das referências (Barchelard, Merleau Ponty) .

Esta relação específica entre corpo e espaço construída nesse trabalho pode

ser entendida por meio do título “O que ela quer dizer com isso? Instaurações

Performativas”. A pergunta O que ela quer dizer com isso? aponta para a questão

discutida no primeiro capitulo, sobre o sujeito móvel descentrado. Como o artista

aqui é esse sujeito sem certezas, instaurador de questões, sua relação com o

espaço também não será objetiva, clara, centralizada.

A prática dessas ações artísticas, entendidas como instaurações

performativas, colaboram para uma relação específica entre corpo do artista e

espaço performático. O artista que tem como meio o seu próprio corpo - o artista-

performer - mantém um contato vivo, fenomenológico com o espaço. Na direção do

que propõe Merleau Ponty,

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depois da ciência e da pintura, também a filosofia e sobretudo a psicologia parecem atentar ao fato de que nossas relações com o espaço não são as de um puro sujeito desencarnado com um objeto longínquo, mas as de um habitante do espaço com seu meio familiar ( PONTY, 2004, p. 15)

.

Figura 10

Ainda no exercício de atualizar o lugar do corpo na arte contemporânea para

investigar uma presença física mais refinada do artista no espaço de atuação

performática, reporto-me a teoria do corpo-mídia, desenvolvida por pesquisadores

das Artes do Corpo da PUC SP. Segundo Cristine Greiner,

Ao que tudo indica, a singularidade de um corpo está ligada a identidade de suas ações em um ambiente e o fluxo incessante de imagens que não apenas o identificam em relação aos demais seres vivos, mas o tornam aptos a sobreviver. (...) há de se perceber um corpo a partir de suas mudanças de estado, nas contaminações incessantes entre o dentro e o fora (o corpo e o mundo) o real e o imaginado, o que se dá naquele momento e em momentos anteriores (sempre imediatamente transformados, assim como durante as predições, o fluxo inestancável de imagens, oscilações e recategorizações. (2005, p. 80 e 81)

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Por este caminho, o espaço onde o artista está e onde a obra acontece, é

parte da criação artística. E isto não é nenhuma novidade, se olharmos para a obra

de diversos artistas. Por exemplo,se pensarmos em obras de Richard Serra (1939- ),

Apoio de uma tonelada (castelo de cartas) (1968-69) , é simples e assemelhasse a um cubo, mas as quatro placas de metal, grandes e extremamente pesadas, que a compõe, estão apenas equilibradas uma na outra, não soldadas ou unidas rigidamente de nenhuma outra forma; Placa de apoio de uma tonelada (1969) mantém uma placa de pé e longe da parede de modo igualmente precário, por meio de um cilindro de chumbo. Mas assim como estava interessado por esse tipo de jogo, em que as certezas, as revelações e as confianças da arte eram exibidas como as ilusões potencialmente perigosas que são, Serra, desde o início, preocupava-se também com as qualidades particulares do ambiente em que sua obra era mostrada. Mais tarde isto resultaria numa série de trabalhos em grande escala para locais públicos, mas inicialmente ele lidou com o espaço fechado da galeria. (ARCHER, 2001, p.66)

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4. TRAJETÓRIA E ESTRATÉGIAS DE INSTAURAÇÃO

4.1 Trajetória

Quando iniciei o curso de especialização em arte contemporânea da TUIUTI,

estava trabalhando no processo de criação do solo de dança Pública ultimo solo

com glamour (bolsa estruturação coreográfica do programa de pesquisa em dança

da casa hoffmann - 2008). Minha vontade era escrever sobre as relações que eu

vinha criando com obras de artistas visuais nesse processo (Picasso, Paula Rego,

Vanessa Beecroft e Cindy Shermann). No primeiro módulo da pós (História da Arte

Contemporânea - Simone Landal) escrevi um pouco sobre o contexto da obra de

Cindy Shermann. No módulo Elementos para uma estética na contemporaneidade

(Rubens Portella) linkei meu trabalho e as reflexões sobre corpo feminino e o

conceito de Sedução, em contato com o livro Da Sedução de Baudrillard. Durante o

módulo de Gravura na Contemporaneidade ( Renato Torres), partindo dos conceitos

de múltiplo e híbrido, exercitei gravuras partindo de uma fotografia da performance

que eu estava apresentando. Quando tivemos o módulo de Fotografia (Evandro

Gauna), fizemos um exercício fotográfico sobre Ações Efêmeras. Partimos do texto

Ações Orientadas para Fotografia e Vídeo. Nesse exercício percebi que tinha feito

um deslocamento de idéias e modos de operar e que estava iniciando outro

processo de criação.

Depois de muita polêmica durante o curso, onde não conseguíamos definir as

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possibilidades e restrições sobre o modo de realizar a monografia, tivemos as aulas

de Processo de Criação e Poética (Carla Vendrami), e enfim entendemos e

definimos que poderíamos fazer a monografia em Poéticas Visuais, fazer uma

reflexão acadêmica sobre um processo criativo pessoal, pensar a própria poética.

As primeiras ações (que chamei de INSTAURADA) foram focadas na

presença do corpo no espaço. Habitar esse espaço onde a performance acontece e

ir instaurando o corpo por meio de posições físicas simples. Habitar e expandir,

dando a ver o corpo do performer como um dos espaços do espaço, diluindo a

centralidade ou o olhar narcísico sobre o corpo do artista que está trabalhando. O

espaço externo atravessando o corpo vazado e móvel do performer.

Figura 11

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Em seguida iniciei outras ações que chamei de EMBARAÇADA (que na

tradução para o português quer dizer grávida). Apareceram cores e o espaço íntimo

ficou mais próximo, a relação com a câmera fotográfica também, os espaços onde

trabalhei foram menores, mais fechados e interiores.

Figura 12

Realizei alguns experimentos com as fotos de Instaurada e Embaraçada,

fotografando as fotos na tela do computador com uma gelatinas coloridas (utilizada

em refletores de iluminação cênica , foi colocada entre a máquina fotográfica e a tela

do computador).

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Figura 13

Figura 14

O último momento deste trabalho foram fotografias de pequenas ações

extremamente íntimas em frente a um espelho dentro de minha própria casa. Esse

momento do trabalho,chamei de Auto-Retrato – nessas imagens aparecem a luz dos

disparos fotográficos que junto com a mudança aparente do corpo da artista (em

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gestação) reorganizam e trazem a tona novamente a idéia de habitação, expansão e

estranhamento.

Figura 15

4.2 Estratégias de Instauração

No exercício de fazer uma reflexão acadêmica sobre esse processo criativo,

foram escolhidos três conceitos que chamei de estratégias de instauração: Habitar –

Expandir e Estranhar. Essas três estratégias surigiram de sensações, imagens e

reflexões experenciadas e escolhidas como modos de operar nesse trabalho. O

artista opera por meio destas estratégias para instaurar o próprio corpo no espaço

onde a ação acontece.

4.2.1 Habitar

HABITAR refere-se ao estar mesmo onde se está, ‘a presença do corpo do

artista. Ele está habitando o lugar escolhido para sua performance. Experencia, pela

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pele onde o corpo toca. Os ossos estão apoiados no chão, a respiração acontece

naquele momento, ligando o que há dentro do corpo e o que há fora do corpo

Figura 16

Figura 17

4.2.2 Expandir

EXPANDIR refere-se à ampliação do lugar performático. O corpo, quando

habita o espaço, começa um movimento de expansão que potencializa a relação

corpo e espaço. O lugar habitado amplia-se. Nesse movimento, o artista pode sentir

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o quanto é pequeno e ao mesmo tempo em que o limite de experiência do próprio

corpo é bem maior do que costumamos saber.

Figura 18

Figura 19

4.2.3 Estranhar

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ESTRANHAR refere-se aos resíduos de dúvida, inquietação, fantasmas,

medos e a movimentos de restrição que carregamos e que são influenciados por

padrões da sociedade na qual vivemos. Há momentos em que o corpo do artista

experencia um clichê, um estereótipo e até um arquétipo.

Figura 20

Figura 21 e 22

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora a arte contemporânea apresente-se como um lugar com contornos

pouco claros, aberto a todo tipo de organização das questões do artista, não

significa que não há rigor, métodos, estudo e aprofundamento das questões trazidas

em cada trabalho. O que acontece é que cada artista acaba por instaurar uma

poética própria. Esta poética é gerada, organizada e comunicada ao público

enquanto é feita. O artista e sua obra estão em processo de construção e

experimentação.

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Para entrar em contato com a cada trabalho, muitas vezes é necessário, além

de ouvir o trabalho do artista, conversar com ele, ler seus cadernos de criação,

saber quais são suas referências teóricas.

Por este motivo, realizar uma reflexão acadêmica sobre um processo criativo

contribui para ampliar o espaço de contato entre artista, público e comunidade de

artistas. Para aqueles que se interessem por trabalhos artísticos que são gerados e

instaurados ao mesmo tempo, esta pesquisa apresentasse como um lugar de

diálogo e reflexão.

As questões aqui levantadas estão suspensas. Há um exercício em resolvê-

las e um caminho aberto para que continuem se ampliando e aprofundando.

Pretendo organizar uma exposição pública com este material e também, a partir

dele, desenvolver em colaboração com outros artistas, uma pesquisa coreográfica.

O objetivo desta pesquisa foi alcançado. Não da forma que idealizei e projetei

mas do modo como pode ser feito nesse momento. Aproxima-se então, vida e arte. A

arte manifestando a vida: incompleta, imprecisa, em movimento.

REFERÊNCIAS

ARCHER, Michael . Arte Contemporânea – Uma história Concisa. São Paulo:

Martins Fontes, 2001.

BARCHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

BASBAUM, Ricardo. O artista como curador , 2001. In: FERREIRA, Glória (org).

Crítica de Arte no Brasia: temáticas contemporâneas. Rio de Janeiro:Funarte, 2006.

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GLUSBERG, Jorge. A arte da performance. São Paulo : Perspectiva, 2005.

GREINER, Cristine . O corpo – pistas para estudos indisciplinares. São Paulo:

Annablume, 2005.

HALL, Stuart . A identidade cultural na pós modernidade. 10. ed. Rio de Janeiro:

DP&A, 2005.

MELIN, Regina . Performance nas Artes Visuais . Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

PONTY, Merleau. Fenomenologia da percepção. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,

1999.

PONTY, Merleau . Conversas – 1948. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

REY, Sandra. Por uma abordagem Metodológica da Pesquisa em Artes Visuais. In:

O meio como ponto zero. Porto Alegre: UFRJ, 2002. p125-140.

SANTAELLA, Lucia. Corpo e Comunicação – Sintoma da Cultura. São Paulo:

Paulus, 2004.

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ANEXOS – Trechos impressos do blog

WWW.oqueelaquerdizercomisso.blospot.com

Domingo, 15 de Fevereiro de 2009OLÁ

Estou criando um blog para compartilhar um pouco sobre o processo de criação que estou chamando:O que ela quer dizer com isso? instaurações performáticaswww.oquelequerdizercomisso.blogspot.comeste trabalho é o lugar da minha monografia sobre poética que estou iniciando para a conclusão da especialização em arte contemporânea da TUIUTI.

inspirada pelo catálogo da artista brigida baltar, em que ela publica conversas por email sobre seu trabalho, sugiro que vcs possam, é claro quando quiserem e se quiserem, escreverem emails pra mim caso observem pensem algo sobre o que estou fazendo, sobre mim e/ou sobre o que tenho feito antes...

até onde vai o corpo do artista? qual é o lugar onde a obra acontece?

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com carinholuciana [email protected] POSTADO POR LUCIANA NAVARRO ÀS 05:23 0 comentários

ANOTAÇÔES

novembro de 2008pessoa físicalugares de dançaresíduos urbanosanotações, falhas e resíduos urbanosvertigens urbanasquadrado de borracha pretobolachas de agua e salgarrafa de aguacabide de plásticofio dental dentro da boca(relação entre sensações e materiais)PESO

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ocupação orgânica de espaçoo corpo dentro do corpopeso nas pernaslabirintosperder o espaçoágua e salsacolinha de plástico com peixefotos no chão preto de bolinhasroupinha verde de hospital (com sacola de peixe na barriga)fio dental dentro da bocapipocaum coração na barrigaum coração na barriganão consigo manter a casa arrumadaamar alguém antes de veramar alguém em sua formação orgânicaalguém vivendo imersa em matéria orgânica e conectada a ruídos externos22 de novembroanotar percepções no espaçodistanciar-se da loucuradesestabilização do espaçosensação desde criança ( tipo um caldeirão com polenta mexendo, não estou nem dento nem fora, ou estou dentro e fora)Foto em um tratorFilmar o corpo carregado por um trator5o. mês de gravidez : congestionamento nasalas pessoas são vazadasdentro e fora24 de novembrocantar “eu sou ovelha negra da família ...” Rita Lee29 de novembrocorpo dentro do prédiocorpo dentro do corpoespaço realsem imagináriosem projeçãopeixe dentro da sacola de plásticoaumento da dimensão interna – aumento da dimensão exterior07 de dezembrochão cheio de ovosandar com ovo na colher pela cidadeobra como uma ação (não criar uma sequencia de ações e/ou cenas)bota de plástico branca(palestra de sábado: )habitaçãolugar incompreensíveltransformar o lugar em um lugar comumser muito simplesimenso espaço para o espectador colocar suas informações na obradesestrutura o que é aquilo e onde é09 de dezembro

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conversa com a candice (ontem)trabalho conectado com outros artistashabitar e expandirhabitação temporáriahabitação temporária de um espaço, de um corpo10 de dezembroaula com Rosi, Candice e Peterhabitar e expandiresvaziaraté onde é o que eu estouo que onde eu souexpandir o que eu sou, até onde me vejoaté onde eu sou?experenciar outro processo para construir outro trabalhoComo construir, reconhecer, experimentar habitações temporárias do corpo no espaço e expandir as relações e ações no percurso de instauração de uma obra?20 de dezembro(aula de poética – dia 13 de dez)estar localizado e expandindo no espaçovocê olha pro espaco e reconhece onde o corpo estásugestao do fer: o nome do trabalho está se tornando redundante?Pensei em voltar para o nome PESSOA FÍSICA??????ações físicas: ficar em pé, deitarplanejamento: FEVEREIROtrabalhar com a rosi: preparação corporaltempo e espacoos ossosrespiraçaohabitar e expandir10 DE JANEIROsobre espaço e solidãocomo o corpo experimenta o espaço onde habita?Espaços de solidão, habitação,experimentações e colaborações artísticaspercepção e relação do corpo no espaçoexpansão no espaço é uma estratégia de sobrevivência, uma estratégia para desfazer, ou refazer a subjetividadeestratégias contra políticas de controle da subjetividade, habitar e expandir – estratégias de sobrevivência para não morrer só, para estar no mundo, para não morrerexpandir até onde eu sou, o ser não é o limite da pele, o ser expade, abre-se, dilaa-se no mundo para sobreviverarte e sobrevivência – teoria dos sistemascorpo mídia – corpo e ambiente – corpo como lugar de experimentação23 DE JANEIROViver em processo de criaçãotrajetória precáriaindo pelos caminhos mais difíceiscriar trajetórias precáriashabitações transitórias e precárias

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COMO SE MOVE?26 DE JANEIROcompartilhar uma existência orgânicagenerosidade – estratégia de sobrevivênciasobre tudo o que não alcançosobre tudo o que não souter a casa sempre arrumadalembrar do aniversário de todos que amodistanciar-se da loucuravoltar a falar em cenafevereiroembaraçadapausasimpotênciaimpossibilidadeespaço íntimoESTÃO APARECENDO CORES

desde que ela nasceu vivo em oração POSTADO POR LUCIANA NAVARRO ÀS 15:27 0 comentários

Quarta-feira, 22 de Julho de 2009como mover angústias?

POSTADO POR LUCIANA NAVARRO ÀS 13:18 0 comentários

Segunda-feira, 13 de Julho de 2009fazer 1 minuto de silêncio para o luto pela vida perdida

POSTADO POR LUCIANA NAVARRO ÀS 09:02 0 comentários

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Quinta-feira, 2 de Julho de 2009urbano e ecológico

POSTADO POR LUCIANA NAVARRO ÀS 20:28 0 comentários

Terça-feira, 23 de Junho de 2009

é melhor viver com ela POSTADO POR LUCIANA NAVARRO ÀS 16:31 0 comentários

Segunda-feira, 8 de Junho de 2009DESPEDIDA DE UM CORPO SÓ

últimas imagensPOSTADO POR LUCIANA NAVARRO ÀS 10:20 0 comentários

Sexta-feira, 22 de Maio de 2009Um carta escrita por Lygia Clark, dedicada ao seu filho

Meu filho: Meu filho,Você é um ser,Existe na medida do mundo,É pouco,O mundo é a constatação da realidade exterior que te cerca.É a tua medida inicial.É o teu começo mas não o teu fim.É o chão da tua expressividade pois você é um ser vertical.Para cima do chão há o “invisível”.Você pode olhar os seus pés mas não a sua própria

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imagem.Esta você a percebe. Na verticalidade está a medida da sua procura.Quando você aceitar a simples constatação da vida, aí sim será o seu começo.O primeiro sentimento será de perda pois tudo que cai na constatação é vivido como ganho.Tudo adquirido como perda até a integração absoluta do “o percebido’ no seu ser interior.É a própria dinâmica da vida: perde-ganha.Quando você se sentir no mais absoluto desespero você está sendo salvo.Solte e aceite a tua intuição que te levará a uma aparente solução-solução esta sempre provisória.Aceite o provisório pois jamais o processo pode parar.A vida a ser uma realidade extraordinária desde que você esteja voltado para a sua presença interior.Não há realidade independente do o “interiror em si”.Desconfie das coisas claras, a pureza é descoberta dentro da maior conturbação de uma crise.É um ponto luminoso dentro da maior escuridão.O teu corpo meu filho, é o veículo da tua vivência.Não o impeça de florir por nada.Cuide dele como você cuida do teu carro,Toda a tua riqueza interior vai suá-lo, sujá-lo e até sangrá-lo.Quando ele estiver gasto externamente você mesmo estará mais interiço e completo interiormenteVocê o despirá um dia como a crisálida deixa o casulo.Ai de você.Você é ainda o início não elaborado pois aí você vai saber que esteve permanente morto em vida POSTADO POR LUCIANA NAVARRO ÀS 19:11 0 comentários

Terça-feira, 12 de Maio de 2009

um ovo

Era como se eu estivesse perdidanão lembrava quem eu tinha sido e não sabia em quem eu ía me tornarquando tive a certeza que geraria uma pessoa sentia um foco,um direcionamento de uma energia interna, como se algo orgânico, interno, fizesse sentidotinha um buraco dentro do corpo, agora esse buraco fazia sentido, algo acontecia

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naquela caverna que era o meu próprio corpo e ao mesmo tempo um lugar no mundoas vezes perdia o espaço , pisava sem tocar o chão,comecei a habitar o espaço, a vida,algo se expandia, meu corpo habitava e expandiaoutro corpo habitava meu corpo, meu corpo habitava outro corpo, o mundoum corpo dentro do corpoo corpo passou a estar dentro de outro corpodescobri o espaçoo mundo aumentando para dentro do corpo e para fora, para o mundoera único, um único instante orgânico temporário e era o óbvio, a natureza, o mais simpleso que sempre esteve na cara, na rua, em todas as pessoasdepois estranhou, o corpo estranhavao que habitava tornou-se maior, cada dia maior e mais inteiroo corpo dentro do corpo era partes, pé, mãotornou-se cruel, humano, pesadotomou espaço, alterou o equilíbrio, o sono,o passo ficou lento, o corpo outro corpo,o corpo dentro do corpo foi ficando autônomo, era mesmo outroum dia rasgou-seo corpo tinha ficado tão grande que precisava atravessar, rasgar, gritaro corpo ficou bicho, berou a mortealucinado não conhecia como nasciam os bebês9 meses de formação e 20 horas de abertura e despedidauma explosãoolhos sol POSTADO POR LUCIANA NAVARRO ÀS 17:58 0 comentários

Quinta-feira, 9 de Abril de 2009

Projeto de Pesquisa em Poética “ Corpo :Espaço nos Espaços” que está sendo realizado no curso de Especialização em Arte Contemporânea pela Universidade Tuiuti do Paraná em Curitiba, com a orientação de Carla Vendrami.

A questão principal que mobiliza o processo de criação é:Como o corpo pode instaura-se no espaço onde a ação acontece?

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“ Instaurar uma obra de arte é dar existência a um ser que não existia antes. Contém a idéia de uma energia interna, como se a obra instaurada tivesse, a partir de um instante, que não é o instante em que está acabada, a força de irradiar por si mesma (PASSERON, 1996).

Esta citação é utilizada por Sandra Rey, no texto Por uma abordagem Metodológica da pesquisa em artes visuais, para situar a idéia de instauração. Ela propõe pensarmos a obra de arte como um processo vivo onde o artista inventa os modos de realizar sua obra enquanto ela é feita. Trata-se de pensar obra e pesquisa como processos interligados e em construção. Neste caminho, “ sob o prima da obra em processo, a produção de sentido configura-se nas operações realizadas durante a sua instauração” . (REY, 2002, p.129)

estratégias de instauração:ESTRANHAR - HABITAR - EXPANDIR

ações coreográficas orientadas para fotografiaposições corporais e deslocamentoso corpo instaura-se no espaço onde a ação acontece