O Astronauta Sem Regime Livro Do Jo

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1 O Astronauta Sem Regime Jô Soares Jô Soares Jô Soares Círculo do Livro S.A. Edição integral Copyright © José Eugênio Soares (Jô Soares) Capa: ilustração de Gilberto Miadaira Licença editorial para o Círculo do Livro por cortesia da L & PM Editores S.A. mediante acordo com o autor Venda permitida apenas aos sócios do Círculo Composto, impresso e encadernado pelo Círculo do Livro S.A. 4 6 8 10 9 7 5 91 93 92 À mim, sem cuja existência este livro não seria possível. E aos meus leitores, que eu também não sou bobo.

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O Astronauta Sem Regime jo soares

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    O Astronauta Sem Regime J Soares J Soares

    J Soares

    Crculo do Livro S.A. Edio integral Copyright Jos Eugnio Soares (J Soares) Capa: ilustrao de Gilberto Miadaira Licena editorial para o Crculo do Livro por cortesia da L & PM Editores S.A. mediante acordo com o autor Venda permitida apenas aos scios do Crculo Composto, impresso e encadernado pelo Crculo do Livro S.A. 4 6 8 10 9 7 5 91 93 92

    mim, sem cuja existncia este livro no seria possvel. E aos meus leitores, que eu tambm no sou bobo.

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    NDICE::: JOS EUGNIO SOARES (J) ....................................................................................................... 3 VISTO O MEU CORPO DE GORDO ................................................................................................. 4 O GLUBADOR ................................................................................................................................ 5 O DIA DO CAADOR ...................................................................................................................... 6 A GUERRA ..................................................................................................................................... 8 CAMARGO E A VOZ ....................................................................................................................... 9 AS ESTATSTICAS PROVAM QUE: ............................................................................................... 10 O QUE VOC NO DEVE SABER DE MEDICINA .......................................................................... 11 HORSCOPO ............................................................................................................................... 11 A HISTRIA DE JOANA E QUINCAS............................................................................................ 13 PEQUENOS POEMAS ALFANDEGRIOS: (SEM NADA A DECLARAR) .......................................... 14 CONTINHO DE TERROR .............................................................................................................. 14 O PIOR DOS CONTOS DE NATAL ................................................................................................ 15 VOC SABIA QUE. . . ................................................................................................................... 16 BALADA DO HIPOCONDRACO SAUDOSISTA ............................................................................. 17 QUE TEMPO? .............................................................................................................................. 18 O TESTE DO VINHO ..................................................................................................................... 20 PEQUENO DICIONRIO DOS ESPORTES ..................................................................................... 21 A RAPOSA E AS UVAS .................................................................................................................. 22 SER PAI........................................................................................................................................ 23 "ERAM OS ASTRONAUTAS DEUSES?" ........................................................................................ 23 A HISTRIA DO MACARRO ...................................................................................................... 24 MAIS UM NDIO EM WOUNDED KNEE: TONTO E ZORRO EM ATRITO ..................................... 25 TESTE DE NERVOS ...................................................................................................................... 26 DA DIFCIL ARTE DE REDIGIR UM TELEGRAMA ....................................................................... 27 DIETOMANIA .............................................................................................................................. 30 FBULA DA CIDADE GRANDE ..................................................................................................... 32 O CORVO TCHECOSLOVACO E A RAPOSA TCHECOSLOVACA .................................................. 33 O NOTICIRIO IMPOSSVEL QUE O RBITRO DE FUTEBOL SONHOU ....................................... 34 TEATRO DO ABSURDSSIMO ....................................................................................................... 35 NOTCIAS .................................................................................................................................... 36 O PRESENTE DE NATAL ............................................................................................................. 37 APRENDA A ANDAR DE METR .................................................................................................. 39 APRENDA A FAZER LEITE EM CASA ........................................................................................... 40 VOC CHARMOSO? ................................................................................................................. 41 HISTRIA GERAL ....................................................................................................................... 43 DA ARTE DE FALAR BEM SEM DIZER NADA ............................................................................... 45 SUGESTES PARA NOVAS PROFISSES ...................................................................................... 45 PROBLEMA ................................................................................................................................. 47 MINI-ENTREVISTAS .................................................................................................................... 48 PEQUENO DICIONRIO IMBECIL ............................................................................................... 50 J-JORNAL ................................................................................................................................. 55 CULTURA TAMBM CULTURA ................................................................................................ 58 GUERRA NUCLEAR ..................................................................................................................... 60 ACREDITE SE PUDER. . . ............................................................................................................. 62 O AUTOR E SUA OBRA .......................................................................................................... 64

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    Jos Eugnio Soares (J) J Soares todo cordura e quem encontrar outra ressonncia na palavra

    um grosso materialista. Carioca da gema, estudou na Sua, no canto de Vaud, de onde at hoje tira estranhos padres untuosos. Ao nascer num hospital da Gvea desconfiou logo que a vida era incurvel. Donde seu ceticismo sem remdio. Pois, cercado do riso que o envolve, nem percebe a seriedade que provoca. Suas imitaes so to originais que tinha que acabar inimitvel. E sua deformao profissional chegou ao ponto em que, s vezes, ao acabar o trabalho, leva meia hora at encontrar sua prpria cara. E se alguns amigos vissem, como eu, as caricaturas que lhes faz, nenhum deles voltaria a falar comigo. Pudibundo em dias teis, reserva sua lascvia para os dias santos. Mas dizem que, em certas tardes de abril, ele mergulha em chamas. Que quando viola a correspondncia alheia e l, abobalhado. Pois ningum jamais foi to ntimo do mago. Irmo do videoteipe, primo do tubo catdico (trabalha na tev desde quando ainda se chamava vosv), s faz televiso com controle remoto do Oiapoque ao Chu derrota os que, como eu, tratam a televiso com um "Nem te ligo".

    Profissional perfeicionista, sua vontade de acertar to grande que s atira nos diretores de tev com mira telescpica. Pintor de domingo, seus quadros so um dia de descanso. Acha que o problema demogrfico s estar resolvido se a populao, alm de no crescer em nmeros, diminusse de cintura. Sempre de bom humor, nem parece humorista. Adora motocicleta, sua forma pessoal de bicicleta. L muito, sobretudo o que ele mesmo escreve, sua forma pessoal de feedback. Conversador compulsivo, gasta com os amigos todos os restos da semana pois no cr em poupana do tempo que lhe sobra. Usa roupas fantsticas s para compensar um mundo cinza. Exibicionista nato, um dia descobriu que, pondo bilheteria, era muito mais fcil. Fala diversas lnguas; tem sotaque apenas em portugus claro. No escolhe papis aceita seu script em papel fino, crepom ou schoeller, shammer. Ecltico total, o que mais gosta tudo. S estar realizado no dia em que interpretar um personagem totalmente sem graa e o pblico no rir.

    Certa ocasio em que trabalhamos juntos fez um regime to srio, ficou to inacreditavelmente magro que, ao v-lo, todo mundo me dizia, com espanto: "Millr, como voc est gordo!" Pouco agressivo em seu humor, trabalha mais na linha do sardnico, cara que mora numa ilha de paz l perto de Siclia. Est profundamente certo de que aos humoristas cabe melhorar o ser humano Deus fez apenas uma caricatura. Por isso sua frase predileta: " no pepino que se torce o menino". Ama o agreste, torce pelo Fla x Flu, ri muito em certas noites de quarto minguante, uma vez, distrado, omitiu dezesseis dias e, as segundas-feiras, apenas se o entrev, que digo?, se o entrev, perdo, s em tev. E tem razo quando diz que a televiso de 21 polegadas no d toda a dimenso de seu talento: ainda espera atuar numa de 21 ps, em holografia. Tudo que , ele deve a si mesmo, papagaio que nenhum banco desconta. Feminista exagerado, acha que as mulheres, hoje em dia, j esto com tudo, quer dizer, s falta um pedacinho. Pois fruto de vosso ventre, embora se julgue ultrapassado e espere, na prxima gera-

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    o, vir em proveta. Voando entre Rio e So Paulo j gastou muitos medos: pois dizem que foi ele que colocou a pedra fundamental na Ponte Area. Cr no palhao, e em Carlitos, um s seu filho, o qual padeceu sob o poder de Joseph McCarthy. Mas no refluxo das mars no acredita. Sua expresso facial est na cara. Sua expresso corporal s se v quando ele pra. E no dia em que morrer no deseja choro nem vela. Quer um enterro bem simples: apenas um caixo de pinho com oitocentos bispos vestidos de prpura em volta, trezentas cmaras filmando e narrao em dezessete lnguas. Igualzinho ao do papa.

    Millr Fernandes

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    Visto o meu corpo de gordo

    Visto o meu corpo de gordo como a armadura de um cavaleiro andante mas trago a agilidade do trapzio no absurdo do meu salto. Dias a fio desafio a fsica contrariando as leis da gravidade, j que a farta matria que me cobre os ossos deveria me dar o ritmo das pedras. Mas meu gesto fcil e meu passo vo. Meu pulo largo e espanta os tristes e todos aqueles que, de medo, guardaram meus saltos no bolso da rotina. Meu corpo livre, volumoso e leve como um traje espacial e saio pelo espao. No tenho tubos me ligando ao mdulo mas j tive um cordo muito umbilical. Eu sou o astronauta sem regime, o dom Quixote do carboidrato. J.s.

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    O glubador

    Conto nonsenssssimo

    O coronel perguntou ao novo recruta: O senhor faz o qu na vida civil? Bom, coronel. Eu sempre fui glubador. Glubador? . O senhor, como homem instrudo, sabe naturalmente o que um

    glubador. Claro, claro! Glubador! respondeu o coronel, que no era homem

    de se dar por achado. E como glubador voc naturalmente faz. . . faz. . . Glubeiras, no , coronel? Eu fao glubeiras. Evidentemente! Glubeiras! J fez alguma glubeira aqui pro meu

    quartel? perguntou o coronel, disfarando a sua ignorncia. Como, se nunca me deram material para construir uma? respondeu

    o soldado. Mas isso um absurdo! Ento eu tenho um glubador no regimento e

    ele ainda no fez nenhuma glubeira? Eu lhe dou carta branca para fazer uma imediatamente. Na sua opinio, o material ideal para se fazer uma glubeira seria. . . seria. . . ?

    lgico que o senhor sabe que uma boa glubeira se faz de alumnio. Fica meio caro mas o senhor tem uma glubeira pra toda vida.

    O custo no importa! Eu quero que voc comece a fazer uma glubeira de alumnio amanh! disse o diretor.

    Pois no, coronel. De que tamanho? perguntou o soldado. No sei. O especialista voc. Bom, depende do gosto. Pra mim, uma glubeira profissional deve ter

    5,30m de comprimento por 3,52m de largura e 15cm de espessura. Isso se o senhor quiser uma glubeira clssica explicou o soldado.

    claro que eu quero uma glubeira clssica! Nada de modernismos! falou o coronel muito senhor de si.

    Uma semana depois, o soldado-glubador dava os ltimos retoques na chapa de alumnio. Curioso, o coronel foi ver como andava sua glubeira. Ao chegar, viu a chapa toda perfurada com orifcios que iam de 10 a 15cm. Quase enlouqueceu:

    Quem foi que furou a minha glubeira?!!

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    Fui eu, claro, coronel. Sem os respiros ela no funciona afirmou o glubador.

    Muito bem! Muito bem! S estava vendo se o senhor conhece mesmo o seu servio! disfarou o coronel. E onde que ns vamos usar essa maravilhosa glubeira?

    Num lago ou num rio, claro. Assim transportaram a glubeira at a beira de um lago e l ela foi lanada

    na gua pelo glubador, afundando no lago a seguir. O coronel ficou louco. O que isso?! Ento eu gasto uma fortuna para fazer uma glubeira e

    voc joga a minha glubeira na gua! Louco!! Voc vai preso!! O coronel me desculpe, coronel, mas pelo visto parece que o senhor

    no sabe o que uma glubeira disse o soldado-glubador. No sei mesmo! Mas agora voc vai me explicar! desabafou o

    coronel. O glubador elucidou-o calmamente: Pois ento o senhor no viu que a glubeira funciona exatamente

    quando afunda? S a que ela faz: GLUB... GLUB... GLUB... GLUB...

    O dia do caador Uma fbula grotesca Allegro ma non troppo de nenhuma utilidade

    Era um caador respeitado por todos. L se iam vinte anos que caava naquelas trridas regies africanas e era amado por todos os animais, graas sua inpcia na utilizao do fuzil e outras armas. Os nativos com justa razo deram-lhe a majestosa alcunha de "Katunga", que na lngua deles quer dizer: "O Boal". Evidentemente o caador no conhecia o real significado do seu apelido indgena e dele muito se orgulhava.

    Um dia bwana Katunga, tambm chamado de "Brahma" Katunga devido predileo que tinha por cerveja importada (se a fbula se passasse aqui provavelmente beberia alguma marca dinamarquesa), estava caando em terras onde o homem branco no tinha nunca posto o p. Jipe, trem e caminho, sim, mas o p nunca. Depois de ficar atirando sobre vrias caas sem conseguir acertar nenhuma, o caador j se preparava para voltar ao acampamento, quando ouviu um longo gemido. Devido longa experincia adquirida depois de tantos anos na selva, identificou-o logo como o grito desesperado de um antlope preso numa armadilha. Como acontecera vrias vezes antes, sua tcnica em distinguir o som de cada animal da floresta no o decepcionou: ao aproximar-se do lugar de onde partira o guincho do antlope, viu que se tratava de um elefante. Sua tcnica em distinguir rudos era pssima. Katunga era capaz de confundir um rugido de leo com o trinar de um pintassilgo a dois metros de distncia. Prova disso eram as inmeras cicatrizes que ostentava pelo corpo todo. Chegando mais perto, Katunga observou que o elefante tinha uma imensa cicatriz na orelha esquerda e

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    que os gemidos eram provocados por uma imensa farpa enfiada na pata do paquiderme. Imediatamente seu instinto de caador lhe disse que estava em perigo. Seu instinto de caador estava errado. O elefante passou-lhe um olhar de splica e duas lgrimas imensas correram pela sua tromba. Katunga podia ser Katunga mas tinha um bom corao. Pegando sua faca de caador com delicadeza, extraiu a enorme farpa que afligia o paquiderme. O animal deu um suspiro de alvio. Logo depois, o caador pegou no seu estojo mdico um band-aid para elefante, que sempre trazia para o caso de uma emergncia como esta, e delicadamente envolveu a pata do bicho. Ento deu-lhe um Alka-Seltzer de elefante, que tem mais ou menos o tamanho de um pneu de trator e foi lanado longe pelo efeito causado. Voltou a aproximar-se. Durante o perodo de convalescena foi incansvel. Ficou ao lado dele at que a ferida sarasse por completo. Depois despediu-se com um aceno de mo, enquanto o elefante satisfeito e curado trotava de volta para a selva, gritando de alegria.

    Anos depois, Katunga viu-se em maus lenis. Em lenis muito ruins mesmo. Alis, em pssimos lenis. Para falar a verdade no eram nem lenis, eram trapos. O caador estava completamente atado em trapos que impediam seus movimentos. Tinha sido capturado por uma tribo selvagem que fazia sacrif-cios humanos. Amarrado firmemente ao cho, aguardava o "elefante real" adorado pelos indgenas e que deveria chegar a qualquer momento. Conduzido pelo feiticeiro da tribo, o paquiderme viria para esmagar-lhe a cabea com sua enorme pata. Na hora da execuo, o caador viu o elefante aproximar-se com seu passo lento e pesado. Reconheceu-o imediatamente pela profunda cicatriz que tinha na orelha esquerda. Era o mesmo animal que ele um dia, muitos anos atrs, salvara na selva. O soberbo animal que ele tratara com tanta dedicao. No instante em que o bicho levantou a pata para mat-lo, o olhar dos dois se cruza. Houve um lampejo nos olhos do paquiderme. A legendria e fabulosa memria dos elefantes funcionara de novo: num segundo, o animal lembrara-se do seu benfeitor. Parou absolutamente esttico com a pata no ar. O impossvel acontecia. Katunga, o caador, seria salvo, pois os selvagens supersticiosos no ousariam mais molest-lo, pensando tratar-se de um sinal dos deuses. O elefante continuou imvel, para espanto dos indgenas. Enquanto o caador pensava na sua sorte, o bicho, com um rpido e agilssimo movimento, abaixou a imensa pata esmigalhando-lhe a cabea. Fez este gesto

    com extrema perfeio apesar de lembrar-se nitidamente do caador. MORAL: O elefante tem realmente uma memria prodigiosa, mas um

    bicho muito filho da puta.

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    Com tanto astronauta, normal que a Lua um dia fique cheia.

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    A guerra

    Devido ao grande interesse que a guerra vem suscitando atravs dos tempos, observamos que muita gente fala realmente da guerra sem saber exatamente da sua histria. Para esclarecer aos interessados, fizemos um pequeno levantamento que passamos a transcrever para melhor elucidao do assunto. A guerra foi inventada pouco antes da Idade Mdia por um obscuro filsofo da pennsula Ibrica, Giovanni Guerra, e passou imediatamente a se chamar guerra em sua homenagem. A primeira vez que Giovanni Guerra demonstrou sua inveno para o rei Luigi, o Louco assim chamado exatamente por causa da sua mania de ser rei, apesar de ser mulher e me de cinco filhos , vrias pessoas morreram e o rei ficou furioso, ordenando que Giovanni levasse aquela inveno para fora das fronteiras do seu reino. Estava assim criada a primeira guerra entre dois reinos, j que o rei vizinho, Giacommo, o Louro, um moreno teimosssimo, tomou aquilo como uma ofensa pessoal e revidou.

    Evidentemente, o "pequeno jogo da guerra", como Giovanni o chamava, foi-se aperfeioando pelos anos afora, e seu inventor jamais sups que se iria aos requintes blicos dos botes. Em sntese, quando comeou eram apenas estes os requisitos para uma boa guerra:

    1. Um inimigo Sem um inimigo, dificilmente se far uma boa guerra. As pessoas vo acabar simpatizando entre si sem atacar ningum. A no ser que se trate de uma guerra civil, em que as pessoas, sem a menor cerimnia, se matam na sua prpria lngua.

    2. Raiva Com raiva a guerra feita muito mais facilmente, j que quem ganha a guerra quem liquida o maior nmero possvel de inimigos. Um dos dois lados em guerra sempre ganha e outro sempre perde. praticamente impossvel empatar uma guerra.

    3. Armas Sem elas as guerras no passam de vulgares escaramuas. De preferncia, as partes interessadas na luta devem usar armas do mesmo porte. Ex.: canho contra canho, canivete contra canivete. Nunca usar canivete contra canho, seno a guerra acaba logo.

    4. Espies Perfeitos para aumentar o perodo de durao das guerras. Devem sempre fornecer informaes de um inimigo para o outro. J que dificilmente estas informaes sero corretas, os conflitos ficaro por isso mesmo mais conflitados.

    5. Roupa Ultimo e mais importante requisito de todos. Sem roupas, as pessoas teriam que guerrear nuas, o que seria imediatamente considerado imoral, ficando a guerra proibida.

    Por este pequeno apanhado sentimos imediatamente a genialidade do inventor, homem sempre preocupado com seus semelhantes, ou melhor, com a maneira de elimin-los. Devido a seus esforos e ao sucesso que alcanou sua inveno, s resta pedir que concedam, a ttulo pstumo, a Giovanni Guerra, o Prmio Nobel da Paz.

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    Camargo e a voz

    Conto nonsenssssimo

    Era um dia como qualquer outro. Camargo acordou, pulou da cama, tomou seu banho, vestiu-se e foi at a cozinha preparar seu caf. Enquanto fazia sua primeira refeio lendo o jornal como todas as manhs, ouviu a voz pela primeira vez. Era uma voz ntida e profunda:

    Camargo! hoje, Camargo! Camargo levantou os olhos do jornal e olhou em volta para ver quem

    falava. Com espanto verificou que no havia mais ningum junto dele. A voz repetiu:

    Escuta, Camargo! Quem te fala a voz da Fortuna! Levanta e vem comigo!

    Apesar de nervoso, Camargo obedeceu. Vestiu o palet e saiu em direo porta. Tremia de emoo.

    Camargo! Vamos at uma loja de bilhetes de loteria! Escuta a voz da Fortuna, Camargo!

    Camargo no cabia em si de excitao. Quase corria. Dois quarteires adiante avistou a loja. Quando ia entrando a voz falou:

    No, Camargo! A loja no essa! Continua correndo, Camargo! Escuta a voz da Fortuna!

    Camargo seguiu, correndo, quase sem flego, cada vez mais nervoso. Trs ruas mais longe, outra loja. Camargo, na corrida, passa sem ver. A voz avisa:

    Pra, Camargo! aqui! Entra, pede as trs sries daquele bilhete que est na vitrine. O nmero 45736. Vai Camargo!

    Mas pra comprar o bilhete inteiro eu vou ficar sem um tosto at o fim do ms!

    No seja ridculo, Camargo! a voz da Fortuna quem te fala! Camargo juntou tudo o que tinha no bolso e comprou o 45736. Agora vai pra casa, Camargo, e espera o resultado hoje a tarde. Voc

    no deve falar com ningum antes do resultado! Quem te fala a voz da Fortuna! Mas se eu no for trabalhar vou perder o emprego! disse Camargo. No seja imbecil, Camargo! a voz. da Fortuna! Vai, segue teu

    destino!

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    Camargo, febril, voltou para casa. Ligou o rdio e ficou espera do resultado, mal se contendo de alegria. Finalmente chegou a hora. Pausadamente o locutor anunciou o primeiro prmio: "09218".

    Antes de desmaiar horrorizado, Camargo ainda ouviu a voz da Fortuna dizendo desolada:

    Porra, Camargo, perdemos. . .

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    Perdeu a memria e no conseguia se lembrar onde.

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    No mundo moderno realmente difcil viver sem levar em conta a fascinante cincia das estatsticas. Cada vez mais estuda-se a fundo esta extraordinria possibilidade e ficamos mais fascinados ainda quando descobrimos por exemplo que

    As estatsticas provam que:

    Morreram mais pessoas na Primeira Guerra Mundial do que ontem. Toda gasolina consumida entre os anos de 1953 e 1958 era combustvel. Se todos os japoneses se colocassem simetricamente, um atrs do outro,

    com um intervalo de sessenta centmetros entre cada um, formariam uma fila indiana.

    Daqui a dois dias, em todo o planeta, tero se passado mais 48 horas. Chove muito mais num s perodo de chuvas do que em nove perodos de

    seca.

    Se toda a produo de arame farpado do mundo nos ltimos cinco anos fosse juntada num nico bloco, no se teria onde guardar.

    Cem por cento dos homens solteiros de 25 anos de idade nunca foram casados.

    De cada 237 automveis que passam por um cruzamento, todos andam. Para cada cachorro-quente vendido a mais existe uma salsicha a menos. Uma pesquisa feita entre os fumantes mostrou que antes do advento do

    filtro os cigarros podiam ser acesos dos dois lados.

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    Se aquele pintor tivesse vivido mais dez anos, teria gozado a fama da sua posteridade.

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    fato conhecido que geralmente todo brasileiro um mdico em potencial.

    Para cada doena, h cinco vizinhos com cinco tratamentos diferentes, todos eles melhores do que o que o clnico receitou.

    Para evitar que essa curiosa mania chegue a prejudicar algum, criamos esta modesta coluna para informar ao leigo coisas que ele precisa fazer o possvel para no aprender, a fim de no piorar o estado do paciente.

    O que voc no deve saber de medicina

    Nunca aprenda a aplicar injeo na veia No aprendendo, voc no corre o risco de confundir tratamento endovenoso com venenoso, liquidando seu amigo na primeira aplicao.

    No conhea remdios cuja bula passe de cinco centmetros Dificilmente voc conseguir, com toda a honestidade, entender mais de cinco centmetros de bula. A partir dos cinco, voc comea a confundir antibitico com biotnico. Nesse instante o amigo doente comea a correr risco de vida. No en-tanto provvel que um ser humano resista a qualquer remdio que no necessite de mais de cinco centmetros para explicar-se.

    Se algum desmaiar por perto, cale a boca o modo mais eficaz de evitar um palpite que pode fazer com que algum, saindo procura de "amnia", volte com um remdio contra "insnia". Isto s faria com que o desmaiado dormisse mais ainda.

    No queira entender de presso Ningum pneu de automvel, cuja calibragem pode ser feita com facilidade. Se uma pessoa lhe disser que tem uma presso de 5 por 9, resista tentao de dizer que tima mas que podia ser melhor. Talvez o remdio sensacional que o seu primo lhe trouxe da Europa seja para baixar a presso e que a pessoa necessite exatamente do contrrio.

    Sobre fraturas, nada Esta provavelmente a mais tentadora e arriscada parte da medicina que voc no deve saber. Pouca gente resiste a dar um palpite sobre uma entorse ou fratura ou fissura ou ruptura. Geralmente, dizem que a fratura foi s uma torcida e insistem em fazer uma frico. Ora, nada di tanto quanto uma massagem num p quebrado.

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    Horscopo

    No perca o novo zodaco. Agora voc sabe com certeza que seu signo no mente. Por este mtodo moderno, todos os outros horscopos ficam supe-rados.

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    Hospital As pessoas nascidas em hospitais so geralmente muito sadias, no tendo

    predisposio para doenas. Gostam de mdicos e do timos farmacuticos. Cor favorvel: branco-"azulejo".

    Leito Aqueles que nascem em leito so muito preguiosos. No gostam de andar

    e passam a maior parte do dia dormindo. A maioria gosta de ler na cama. Cor favorvel: preto-" azeviche".

    nibus Todos os que nascem em nibus so muito agitados. Detestam

    aglomeraes e desenvolvem facilmente uma tendncia para a claustrofobia. So quase sempre fortes e sacudidos. Cor favorvel: vermelho-"semforo".

    Avio Os que nascem em avio andam sempre com muita pressa. s vezes so

    areos e adoram andar com os cintos apertados. Nunca do asas imaginao. Cor favorvel: azul-"cu".

    Trem Os desse grupo se dividem em duas categorias: os eltricos e os calorentos.

    Os eltricos sao facilmente chocveis enquanto os calorentos no suportam banho turco. Cor favorvel: cinza-"fuligem".

    Navio Todos os que nascem em navio gostam de danar. So geis no bote e s

    andam a todo o vapor. Cor favorvel: verde-"oceano". Txi Os nascidos em txi pensam muito em dinheiro. Colecionam relgios e

    so muito sociveis, dando corda para todo mundo. Detestam sair em dias de chuva. Cor favorvel: cobre-''gorjeta".

    Casa Muita gente nasce em casa. So os mais sossegados. Dificilmente saem e

    preferem receber visitas. Do grandes decoradores e muitas vezes vivem um quarto a mais do que os outros. Cor favorvel: brique-"lareira".

    Elevador Talvez os mais difceis so os deste signo. Sua vida tem altos e baixos.

    Temperamentais, enguiam com quase todo mundo. No fumam e dificilmente saem com mais de cinco pessoas ao mesmo tempo. Cor favorvel: verde-"sobe".

    Campo Quem nasce em campo precisa se tratar. Tais pessoas, apesar de frteis,

    so inconstantes. Num dia, secas, e no outro, cheias de calor. Quando querem, so terrivelmente frias. Cor favorvel: marrom-''arado".

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    Banheira Os que nascem em banheira levam vida perigosa desde a mais tenra

    infncia. Quando escapam, so muito limpas, mas se do para beber vivem na gua. Cor favorvel: gelo-"sabonete".

    Cadeia As pessoas nascidas em cadeia prendem-se facilmente a qualquer

    compromisso. Tm horrios regulares e no gostam da vida ao ar livre. Quando dedicam-se ao jud conhecem logo todas as chaves. Cor favorvel: amarelo-"sol quadrado".

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    As melhores coisas da vida no custam nada. Voc s paga as embalagens.

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    A histria de Joana e Quincas Amores annimos

    Esta a histria de Joana, uma das mais desconhecidas lavadeiras na cidade. Ficou detestada por todas as suas freguesas, graas s ndoas que conseguia colocar nos mais limpos vestidos.

    Um dia, quando Joana ia, como de costume, lavar sua roupa na praia, o que causava rasgos incrveis nos tecidos, j que gua salgada no para isso, encontrou Quincas, um no menos ignaro jardineiro. Quincas, com o ancinho na mo, farto de jardinagem, preparava-se para abandonar a floricultura e com seus parcos recursos comprar aquela praia deserta e l ficar descansando. Quando viu Joana, porm, apaixonou-se.

    Joana, mulher de grande expediente, tirou aquela idia maluca da cabea de Quincas e disse que, se ele continuasse a jardinar com seu ancinho e ela lavando roupa, os dois poderiam casar-se. O jardineiro convenceu-se e fez ele mesmo o buqu e o vu de grinaldas para sua amada.

    Casaram-se e foram viver anonimamente em Brs de Pina, onde tiveram catorze filhos, todos jardineiros e lavadeiras. S muitos anos mais tarde que Quincas soube que a gleba de terra que pretendia comprar beira da praia era, na realidade, a futura Avenida Atlntica, em Copacabana. Durante anos ainda tentou refazer o negcio, mas o preo mudara.

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    Pequenos poemas alfandegrios: (sem nada a declarar) I Est fazendo economia, o bichinho da goiaba. J mudou-se no outro dia

    pra uma jabuticaba. II A mais perfeita maneira para ser sofisticado: o carrinho de ir feira dever

    ser importado. III Se um dia os agiotas negociassem piadas, os juros das anedotas seriam as

    gargalhadas. IV Olhou um "Van Gogh" belo e disse virando o rosto: "Que seria do amarelo,

    se no existisse o mau gosto?" V Todo dia, todo ms, como esforo de uma vida, o halterofilista fez um

    corpo sob medida. VI Flor carnvora e charmosa morde um dedo de repente Arranca e manda

    pra rosa dizendo: "Fale com gente".

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    Continho de terror

    Era profundo como um poo, mas vazio. O homem com orelhas de abano se aproximou do menino que voltava do

    colgio trazendo pela mo um macaquinho vestido de marinheiro: Voc no devia sair de casa com esse macaquinho. Est fazendo muito

    frio e um bichinho muito frgil. Todo dia eu levo ele pro colgio e nunca aconteceu nada disse o

    menino. Meia hora depois que o menino chegou no seu apartamento o macaquinho

    comeou a dar mostras de tristeza. No quis comer. Uma semana depois l se foi o macaquinho.

    A senhora gorda correu para atravessar a rua sem olhar para o lado da contramo. Deu um esbarro num homem parado na esquina, derrubando o embrulho de compras que acabara de fazer.

  • 15

    Desculpe. . . disse ela notando que o homem tinha umas orelhas de abano engraadssimas.

    De nada. A senhora no deve atravessar sem olhar nas duas direes. perigoso.

    Mas essa rua de mo nica. Eu olhei na direo dos carros explicou a gorda senhora enquanto o homem de orelhas de abano lhe ajudava a apanhar os embrulhos. Depois, h quinze anos que eu atravesso aqui e nunca aconteceu nada.

    Eu sei, mas pode vir um louco na contramo respondeu o homem enquanto se afastava, suas orelhas balanando ao vento da tarde.

    A senhora gorda foi atropelada na prxima esquina. Por um carro que vinha justamente na contramo.

    Os dois caixeiros-viajantes avanaram um pouco mais na fila de embarque, protegendo-se da chuva.

    Eu pensei que voc no tinha conseguido lugar falou o primeiro. E no tinha mesmo. Cheguei em cima da hora e j estava tudo lotado. Ento como que voc est embarcando? Por acaso. Tem um cara, um desses apavorados, que resolveu desistir

    da viagem e me vendeu a passagem dele. Disse que com o temporal, um nibus velho como esse podia despencar numa curva contou o segundo, rindo do absurdo.

    Puxa, que sorte! Quem foi o sujeito? perguntou o amigo. Aquele ali que est indo embora. Aquele de orelhas de abano.

    ****

    Se algum o chamar de cachorro, no ligue. Ladre.

    ****

    Uma histria idiota e cruel ou

    O pior dos contos de Natal

    (no estilo imbecil dos poemas dbeis)

    No h pedidos mais extravagantes que aqueles feitos perto do Natal. Crianas mandam cartas vacilantes sempre com algum desejo original. O mais estranho de que se tem memria o de um pretinho, menino de cor: tinha seis anos, o que diz a histria, sempre vividos com beleza e amor. Seu nome era Joo. Pois bem: um dia, o singular petiz senta-se a um banco e escreve o seu

  • 16

    pedido com alegria: "Papai Noel, eu quero ficar branco". Ao ler a carta o pai desesperado no sabe o que dizer, grita de vez: "Ah, meigo infante pardo tanto amado! Como fazer pra trocar-te a tez?" A noite chega enfim, to aguardada, e Joo contente, num rompante raro, vai cedo para a cama preparada com a certeza de acordar bem claro. Seu pai ento no sabe o que fazer. Procura febrilmente, pensa em vo: "Como vou tal problema resolver!" E de repente surge a soluo. Percorre a casa em louco desatino, pega os espelhos todos com carinho e esconde-os longe para que o menino no veja ao despertar que ainda pretinho. Eis que amanhece, hora de acordar. Vivaz e lpido o gentil fedelho quer ver seu rosto, mal pode esperar! Pula da cama em busca de um espelho. Vasculha toda a casa procurando, um pensamento o assalta: "Que estranho! Por mais que eu busque, no estou achando nenhum espelho de qualquer tamanho". Lembra-se a que a panificao, a padaria em frente onde ele mora, tem um espelho imenso no porto, e corre para a loja sem demora. Mas, ao cruzar a rua em disparada, no v, coitado, um caminho que vinha fazer a entrega, logo na alvorada, de um carregamento de farinha. As rodas passam sobre o corpo esguio e um dos sacos que era transportado se rompe e lana como um grande rio toda a farinha sobre o atropelado.

    Agora Joo j quase moribundo, mas mesmo assim levanta a cabecinha e lana ao espelho em frente um olhar profundo, j turvo pela morte que se avizinha. A farinha mudara-lhe o semblante: e, ao ver seu rosto branco qual papel, s exclama num sussurro agonizante: "Muito obrigado, meu Papai Noel!"

    ****

    Voc sabia que. . .

    "Se tivessem juntado todos os charutos que Churchill fumou durante toda a sua vida numa caixa fechada chave, ele no teria conseguido fumar nenhum.

    O tempo que levaria para percorrer a distncia que existe entre a Terra e Saturno exatamente o dobro se contarmos com a volta.

    As estatsticas provam que durante uma partida de futebol a bola tocada todas as vezes que um dos jogadores consegue atingi-la.

    Daqui a trs bilhes de anos, todas as pessoas que habitarem o planeta Terra estaro vivas.

    Napoleo perdeu a batalha de Waterloo exclusivamente porque a luta foi vencida pelos seus adversrios. Alguns historiadores afirmam que se tal fato no tivesse acontecido bem provvel que o resultado do combate fosse outro.

    Somados todos os pneus que j foram utilizados no mundo chegaramos a um total de cinco pneus por vez em cada automvel, contando-se com o estepe.

    O monte Everest, considerado o mais alto pico da Terra, tambm o mais prximo de todos os montes que o cercam.

  • 17

    Se formssemos uma longa esteira com todos os envelopes produzidos anualmente, teramos um imenso tapete de papel.

    A velocidade mxima atingida at hoje pelo homem sobre a gua pelo menos maior do que a atingida cinco anos atrs.

    O rei Lus XIV da Frana reinou durante todo o perodo em que esteve no trono. Apesar das controvrsias, consta que sua poca foi situada entre os reinos de Lus X e Lus XV.

    ****

    To distrado que contratou um detetive particular para saber por onde andava.

    ****

    Balada do hipocondraco saudosista

    Onde que foram todas as doenas Contagiosas, vrus soberanos Que agora at parecem mais ser crenas

    Bem esquecidas atravs dos anos. a verdade clara e persistente: Hoje ningum mais fica doente Como ento se ficava antigamente.

    Por onde anda o tifo abrasador, A to violenta inflamao pneumnica, A malria com todo o seu tremor E a esquecidssima peste bubnica. Ficaram isoladas friamente: Hoje, j ningum mais fica doente Como ento se ficava antigamente.

    Onde est agora a triste diphtria Causando o croup como inflamao, Que molestava mais sendo bactria

  • 18

    Do que o Krupp com K, sendo canho. Para no ver, s sendo inconsciente: Hoje, j ningum mais fica doente Como ento se ficava antigamente.

    Adeus cholra, febre amarela, O escorbuto tambm foi curado. S resta mesmo a pobre bagatela De se pegar um simples resfriado. Outrora, tinha charme um paciente: Hoje, j ningum mais fica doente Como ento se ficava antigamente.

    ****

    O cemitrio de elefantes um lugar to difcil de encontrar como um lugar onde se renem todos os motoristas de praa quando chove.

    ****

    Que tempo? Conto nonsenssssimo

    O professor de fsica olhou para seus alunos com aquele olhar tpico de quem sabe do que est falando. Era um olhar que todos os rapazes da classe temiam e conheciam bem. Parecia o mesmo que os cowboys do nos filmes de cinema antes de sacar seus revlveres. Podia-se ouvir uma mosca voando, mas todas as moscas estavam pousadas. O professor perguntou:

    Muito bem. Asdrbal, me responda: quanto tempo leva um litro de gua para se evaporar se for aquecido por uma chama de quinhentos graus centgrados? Asdrbal mexeu-se inquieto na cadeira. Estava nervoso porque no sabia a resposta e tambm no se chamava Asdrbal e sim Afonso. Mesmo assim arriscou:

    Cinco minutos? No. Vai ganhar um zero que para voc aprender! Voc Afonso,

    quanto tempo? Afonso, que era na realidade Asdrubal, tambm no sabia. Levou zero que era pra aprender. Assim continuou a sabatina de quinta-feira com o professor fazendo a terrvel pergunta e os alunos tentando desesperadamente acertar: Alfredo, quanto tempo?

  • 19

    Dois minutos e meio. . . quem sabe at trs. . . ? No. Zero que pra voc aprender! Osvaldo, quanto tempo? Um minuto? No! Macedo, quanto tempo? Dois dias se no chover. No. Pereira! Quanto tempo? T pouco ligando. O qu?! T pouco ligando. Silncio redobrado na classe. Como se fosse possvel redobrar um silncio

    j completo. O professor aproximou-se lentamente de Pereira: Quer dizer que o senhor est pouco ligando? T. A gua no minha e no sou eu que paga a conta do gs. Por

    mim pode levar um ano. Vai levar trs zeros que pra voc aprender!! vociferou o professor,

    que se era excelente em fsica era pssimo em matemtica. Depois, enlouquecido de raiva, dirigiu sua apocalptica pergunta a toda a classe:

    Algum aqui sabe quanto tempo leva um litro de gua para se evaporar se for aquecido por uma chama de quinhentos graus centgrados?!

    _ ? _ ? _ ? Muito bem!! Ento ningum sabe! Zero pra todos vocs que pra

    vocs aprenderem!!! Agora abram seus cadernos e anotem a resposta certa! Todos obedeceram humilhados e empunharam suas canetas para anotar a

    valiosa informao que sairia da boca daquele sbio. O professor respirou fundo e anunciou a resposta do problema:

    Um litro de gua, se for aquecido por uma chama de quinhentos graus, leva, para se evaporar, exatamente o tempo que for necessrio!

    ****

    Pode-se usar um transatlntico no Pacfico?

    ****

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    O teste do vinho

    Teste

    Cada vez torna-se mais difcil a boa bebida e a boa comida. A fim de melhor orientar quem resolve sair para um bom jantar e no quer correr o risco de errar, oferecemos hoje a opinio de um especialista que experimentar o seu conhecimento.

    Quando fui convidado para apresentar pela primeira vez por escrito, aqui nesta pgina, o meu dificlimo "teste do vinho", a princpio recusei. Depois me explicaram que era pago e eu imediatamente aceitei.

    Antes de mais nada preciso que o leitor compreenda que o vinho se divide em duas categorias distintas:

    1a. O BOM VINHO. 2a. O MAU VINHO. Muitas vezes o bom vinho pode se transformar em mau vinho, mas

    raramente o inverso verdadeiro.

    Quatro antigas maneiras de se reconhecer um vinho:

    a) Pelo gosto O mais difcil e o mais certo. Pode-se trocar uma garrafa mas nunca um paladar.

    b) Pelo dia seguinte Mtodo tambm certo, porm muito demorado. c) Pela azia Geralmente quando se reconhece j tarde demais. d) Pelos olhos Quando o bebedor lacrimeja ao primeiro gole, no

    vinho, vinagre.

    Sensibilidade auditiva ou visual A maneira infalvel: pelo nome.

    evidente que se o provador no tiver experincia prvia, deve providenciar para que os rtulos no estejam trocados. Passemos agora ao TESTE propriamente dito, para ver se o leitor interessado tem sensibilidade auditiva ou visual para a identificao do bom vinho.

    Destes cinco nomes da lista qual o vinho ruim?

  • 21

    1) ROMAN CONTI ...................................... de BOURGOGNE. 2) CHATEAU PETRUS ................................. de BORDEAUX. 3) CHATEAU D'YQUEN ............................... BLANC. 4) MAUBERGER NEIWEIR AUSLESE........ BLANC. 5) GRACIOZINHO DA CASA ...................... de PIRITUBA.

    (Texto invertido, ao p da pgina): Respostas: Se voc girou lentamente a resposta, o vinho ruim , sem

    dvida, GRACIOZINHO DA CADA DE PIRITUBA, tanto que ainda no foi nem fabricado, pois ningum teve tamanha audcia. Se, no entanto, na pressa de saber, voc virou a pgina bruscamente, estragou todos os outros tambm. Um bom vinho nunca se agita e voc desperdiou quatro garrafas dos melhores vinhos do mundo.

    ***

    Pequeno dicionrio dos esportes

    ALPINISMO: Brincar de bondinho do Po de Acar sem bondinho. BEISEBOL: Esporte onde muitos americanos so yankees e muitos

    brasileiros so japoneses. BASQUETE: Cinco homens procura de um cesto. BOXE: Onde fica provado que dar melhor do que receber. CAA: S deve ser praticada no dia do caador. CORRIDA DE CAVALO: Esporte onde os cavalos ganham e os burros

    perdem. ESQUI: Utiliza-se neve, dois bastes, dois pedaos de madeira, uma boa

    colina e algumas fraturas. FUTEBOL: Jogo composto de 22 jogadores, dois tcnicos, uma bola, um

    campo, dois bandeirinhas, um rbitro e duas torcidas, que geralmente no simpatizam com a progenitora do rbitro.

    PESCA: Um homem de um lado e um peixe do outro. Geralmente os peixes tm o dom de crescer seis ou sete vezes de tamanho, do momento em que so pescados at a hora em que so descritos aos amigos.

    REMO: Esporte em que o seu brao a gasolina do barco.

  • 22

    TIRO AO ALVO: Forma dificlima de dedetizao. Com uma bala, voc tem que acertar na mosca.

    XADREZ: O jogo predileto dos banqueiros. Sem o cheque no h o mate.

    ****

    S escrevia para seu pai em estilo telegrfico: S.O.S. S.O.S. S.O.S.

    ****

    A raposa e as uvas

    Uma contrafbula

    Passava certo dia uma raposa perto de uma videira. Apesar de normalmente nunca se alimentar de uvas, pois se trata de um animal carnvoro e no vegetariano, sua ateno foi chamada pela beleza dos cachos que reluziam ao sol. Fenmeno estranhssimo, uma vez que, geralmente, toda fruta cultivada revestida por uma fina camada protetora de inseticida e dificilmente pode refletir a luz solar com tal intensidade. Sendo curiosa e matreira, como toda raposa matreira e curiosa, aproximou-se para melhor observar a videira. Os cachos esta-vam colocados muito acima de sua cabea, e o animal (sem insulto) no teve oportunidade de prov-los, mas, sendo grande conhecedor de frutas, bastou-lhe um olhar para perceber que as uvas no estavam maduras.

    Esto verdes disse a raposa, deixando estupefatos dois coelhos que estavam ali perto e que nunca tinham visto uma raposa falar. Seu comentrio foi ainda mais espantoso, uma vez que as uvas no eram do tipo moscatel e sim pequenininhas e pretas, podendo facilmente ser confundidas, primeira vista, com jabuticabas. Note-se por este pequeno detalhe o profundo conhecimento que a raposa tinha de uvas, ao afirmar com convico que apesar de pretas, elas eram verdes. Dito isto, afastou-se daquele local.

    Horas depois, passa em frente mesma videira outra Canis vulpes (nome mais sofisticado do mesmo bicho), mais alta do que a primeira. Sua cabea alcana os cachos e ela os devora avidamente.

    No dia seguinte ao frutfero festim, o pobre bicho acorda com lancinantes dores estomacais. Seu veterinrio, chamado ime-

    diatamente, diagnostica uma intoxicao provocada por farta ingesto de uvas verdes.

    MORAL: Nem todas as raposas so despeitadas.

    ***

    Especializou-se em generalidades.

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    ***

    Est certo. Ser me padecer num paraso. Mas e ser pai? Hoje em dia, o que ser pai?

    Ser pai

    Ser pai sustentar filhos e filhas, pagar colgio, roupa e conduo, tratar tambm da me das maravilhas, ter pacincia e ter compreenso.

    E conservar o riso com que brilhas se um dos meninos pega o teu fusco, ataca de piloto das mil milhas e estoura o carro numa contramo.

    E no pensar em noites de viglias. Se freqentada a boate onde eles vo por meninos maus de boas famlias e boas meninas, mas "famlia" no.

    E enfim sentir a vida comear de novo neles como num resumo do que fizeste antes de casar.

    Ou ento se acaso tomam outro rumo, ter em casa um hippie e te acusar de PAI DE SOCIEDADE DE CONSUMO.

    ****

    Daqui a muitos anos, quando a conquista do espao for coisa de rotina e qualquer homem ou mulher puder embarcar numa espaonave em direo a outros planetas e mesmo outros sistemas solares, quando a primeira viagem Lua for lembrada apenas vagamente nos cadernos escolares, talvez surja um novo livro surpreendendo o mundo:

    "Eram os astronautas deuses?"

    Tudo leva a crer, segundo estudos feitos nos primrdios, na muito primitiva poca da conquista da Lua, que esta foi feita por indivduos chamados de astronautas. Por estranho que parea, estes viajantes eram considerados como verdadeiros deuses. Buscas e escavaes feitas agora, no sculo XXX, provam sem sombra de dvidas que o homem daqueles tempos, quase pr-histricos do sculo XX, tratava o astronauta nome que era dado ao piloto comum de espaonave como uma espcie de deus. Eis o que revelou a nossa pesquisa, baseada em documentos e fotos da poca:

    1) Os chamados astronautas usavam uma roupa especial, cheia de oxignio, feita certamente para que eles tivessem o privilgio de no respirar o ar poludo da Lua.

    2) Cada um deles trabalhava no mximo uma vez por ano e recebia oferendas altssimas em dinheiro (algo de muito valor que existia na poca), depositado todos os meses em um local de sacrifcios chamado "conta bancria".

  • 24

    3) Toda vez que voltavam de uma viagem eram contemplados e isolados por seus inferiores durante quarenta dias, sem que ningum pudesse colocar-lhes a mo em cima nesse perodo.

    4) Depois eram ovacionados em desfiles, em carros abertos, onde iam em p, recebendo uma chuva de papel picado. (De onde surgia tanta quantidade de papel, no se sabe hoje ao certo, mas parece que provinha de um livro fartamente distribudo na poca, chamado Lista telefnica.)

    5) Finalmente, milhes de pessoas contribuam para que os astronautas fizessem suas viagens (naquela poca, custaram muito mais do que as famosas pirmides do Egito). Mesmo assim, eles largavam sempre suas cpsulas voadoras no mar, mostrando desta forma total desprezo pelos bens materiais.

    ****

    To insignificante que seu nome era Pssiu.

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    A histria do macarro

    Cultura culinria

    O macarro foi trazido da China por Marco Polo, famoso viajante italiano, assim chamado por sua mania de marcar os plos cada vez que passava por eles em suas constantes andanas atravs do mundo. Alguns historiadores insistem em dizer que o seu nome, Polo, deve-se a sua origem polonesa por parte de avs, mas a verdade que quando Marco Polo nasceu, a Polnia ainda no tinha sido inventada.

    Ao chegar China, Marco Polo observou uma estranha planta de forma longilnea, que crescia perto das famosas muralhas. Estando com fome e sendo exmio cozinheiro, o viajante arrancou alguns ps do que os chineses j chamavam de ma-ca-lon e tratou de prepar-los.

    O resultado foi surpreendente. Marco Polo tinha feito a primeira macarronada da histria. Os chineses ficaram espantadssimos, pois at ento s utilizavam o macarro para a fabricao da plvora.

    Como prova de gratido, o imperador Kublay khan deixou que Marco Polo levasse algumas sementes de macarro com ele de volta para a Itlia. Chegando a Roma, Marco Polo tratou de cultiv-las, enriquecendo com as maiores plantaes de macarro daquela cidade. Aproveitando seus dotes de agricultor, Marco Polo comeou a fazer experincias e enxertos com a semente de macarro e conseguiu assim uma srie de variaes da planta: espaguete, talharim, etc.

  • 25

    Marco Polo morreu aos 95 anos de idade, logo aps sua primeira bem-sucedida colheita de lasanha. Tamanha foi a repercusso do seu sucesso que todas as transaes comerciais bem realizadas passaram a ser chamadas de Negcio da China.

    ****

    Se um co bater tua porta, no abras. No um co, que co no bate.

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    Mais um ndio em Wounded Knee: Tonto e Zorro em atrito

    Do nosso correspondente: A situao em Wounded Knee parece agravar-se com a chegada do famoso ndio Tonto, antes considerado por seus irmos de sangue como "vendido ao domnio do homem branco". Ao que parece, Tonto teve um desentendimento com Zorro a respeito do cavalo do heri, Silver, quando descobriu que o animal ganhava mais do que ele. Ouvido em primeira mo pela nossa reportagem, Zorro declarou:

    Zorro No devo satisfaes a ningum de quanto pago a Tonto, ou ao meu cavalo. difcil como nunca trabalhar hoje em dia nas histrias em quadrinhos e nas edies a cores. Silver usa muito mais tinta e ocupa mais espao. Logo, nada mais justo que ele receba tambm mais por sua atuao. Quanto a melhorar o salrio de Tonto, infelizmente impossvel. No fcil equilibrar um oramento quando s se atira com balas de prata.

    O no menos conhecido ndio Tonto tambm teve sua palavra a dizer: Tonto Em primeiro lugar devo dizer que meus motivos nesta separao

    no tm nada a ver com problemas de ordem financeira. No sou um mercenrio e pouco me importa que um reles cavalo ganhe mais do que eu. A verdadeira razo para o meu ato que finalmente tomei conscincia que sou e serei sempre um ndio. Alm do mais fao parte dos sioux-oglala. No tenho queixas do Zorro, apesar de achar que um homem com quem se trabalhou tantos anos, e que nunca tenha se dignado a tirar a mscara na nossa frente no merece confiana. Retomo o meu nome original de guerreiro: Relmpago Doente. Tonto inveno dos brancos. Um ndio Tonto um indiota.

    CHEGADA INESPERADA DE TONTO CAUSA IMENSA PREOCU-PAO EM WOUNDED KNEE.

    Do nosso correspondente: Os ndios de Wounded Knee no sabem o que fazer com seu mais recente aliado, o ndio Tonto, que sempre foi objeto de desprezo por parte de toda a nao Sioux. Fica o dilema: receber Tonto de volta e passar por cima de todos os anos em que ele passou com Zorro, inclusive perse-

  • 26

    guindo ndios, ou expuls-lo da regio como indesejvel, o que poderia trazer a antipatia de todos os fs do renomado nativo?

    ****

    Todos os tesouros da Terra no valem nada quando no so nossos.

    ****

    Estaria voc beira do esgotamento nervoso sem o saber? Cuidado! Est provado que o nervosismo um dos maiores perigos da vida moderna. Logo, se voc moderno, faa j o seu

    Teste de nervos

    Ao ouvir um disco do Waldick Soriano quinze vezes seguidas 1. ( ) Voc escuta mais uma vez. 2. ( ) Voc desmaia. 3. ( ) Voc sorri.

    Ao querer subir com pressa para o 25? andar de um prdio voc verifica que o elevador acaba de comear sua lenta subida para o alto

    1. ( ) Voc vai pela escada. 2. ( ) Voc d um murro na campainha. 3. ( ) Voc sorri. Ao ficar sem gasolina no meio da rua meia-noite e longe de um posto 1. ( ) Voc vai assobiando buscar gasolina no posto que fica a uns trs

    quilmetros. 2. ( ) Voc chuta o carro. 3. ( ) Voc sorri.

    Ao chegar na bilheteria do teatro sbado noite e verificar que no tem mais ingresso

    1. ( ) Voc compra para o dia seguinte. 2. ( ) Voc diz que desorganizao. 3. ( ) Voc sorri.

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    Ao comprar uma TV em cores e percebendo que ela no pega nenhuma 1. ( ) Voc espera 28 dias at que a equipe de manuteno venha. 2. ( ) Voc destrata a sua mulher, que teve a idia de comprar. 3. ( ) Voc sorri.

    Resposta ao teste Se voc teve pacincia para responder s perguntas imbecis deste teste, j

    um bom sinal. Se voc, alm disso, respondeu (1) a todas as perguntas, nada neste mundo

    far com que voc tenha um esgotamento nervoso. Se voc respondeu (2) a todas as perguntas deste teste, voc est a um

    passo do esgotamento nervoso. S que um passo frente. Se voc respondeu (3) a todas as perguntas, h muito que seu crebro no

    resiste faina do cotidiano e voc j est em estado catatnico, sem saber.

    ****

    Da difcil arte de redigir um telegrama

    Uma coisa incontestvel: a linguagem telegrfica s surgiu depois do telegrama. Nunca ningum escreveu uma carta assim: "Viagem boa. Ns bem. Tempo maravilha. Beijos fulano". O "Beijosfulano" numa palavra s um expediente para economizar no telegrama. No. Quando as pessoas s escreviam cartas e no havia crise de papel, o negcio era escrever laudas e laudas. Quanto mais pginas tinha uma carta, mais bonita era. Inventaram at o P.S., que uma maneira de se escrever uma carta depois da carta.

    Depois veio Morse, com seus traos e pontos, e todo mundo teve que se virar para escrever mais coisas em menos palavras. Fica aqui uma pergunta: o que ser que Morse inventou primeiro? O telgrafo ou o cdigo Morse? Das duas uma; ou ele inventou a telegrafia e depois quebrou a cabea at achar um alfabeto que se prestasse para sinalizar palavras ou ento criou um dia o cdigo, assim de brincadeira, e depois ficou pensando: "Como que eu posso transformar isto aqui num troo til?" E a bolou o telgrafo.

  • 28

    Seja como for, com ele surgiu o estilo telegrfico, muito usado hoje em dia no s nos telegramas mas tambm nos recados e at nos lembretes que s vezes ns deixamos para ns mesmos: "Dar banho no cachorro", "passar banco pegar dinheiro", "cancelar dentista", etc.

    Os telegramas devem ser curtos, no s por causa do preo mas tambm para poupar o telegrafista que fica o dia inteiro sentado, batendo monotonamente numa nica tecla. Um telegrafista como um pianista que s tocasse o samba de uma nota s a noite inteira. Alm disso, o telegrama tem seus prprios cdigos dentro do cdigo Morse. Por exemplo: ponto escrito ponto mesmo, por extenso, porque se o telegrafista em vez de escrever ponto, sinalizar apenas um ponto, estar escrevendo a letra "E". Viram como simples? Quanto vrgula, nem se fala. Ningum manda vrgula por telegrama.

    Resumindo: o estilo telegrfico deve ser sucinto, claro, rpido e preciso, qualquer que seja o motivo pelo qual o telegrama mandado. H uma histria famosa a respeito de uns parentes que tinham que comunicar por telegrama, a uma senhora que estava viajando, o falecimento de uma irm. Reuniram-se em volta de uma mesa e toca a escrever. Primeiro foi o primo quem redigiu a nota. Depois de alguns minutos mostrou o resultado do seu trabalho: INTERROMPA VIAGEM E VOLTE CORRENDO. TUA IRM MORREU. Todos leram, e um dos tios fez o seguinte comentrio:

    Eu acho que no est bom. Afinal de contas, vocs sabem que ela cardaca, est viajando e um telegrama assim pode ser um choque. Todos concordaram, inclusive um outro primo afastado que era meio sovina e achou o telegrama muito longo.

    Depois, com o preo que se paga por palavra, isso no mais um telegrama, um "telegrana".

    Ningum riu do infame trocadilho, mesmo porque velrio no lugar para gargalhadas. Foi a vez do cunhado tentar redigir uma forma mais amena, que no assustasse a senhora em passeio. Sentou-se e escreveu: INTERROMPA VIAGEM E VOLTE CORRENDO. TUA IRM PASSANDO MUITO MAL. Novamente o telegrama no foi aprovado. Um irmo psiclogo observou:

    No sejamos infantis. Se ela est viajando pela Europa e recebe esta notcia, no vai acreditar na histria de "passando muito mal". Sobretudo com "volte correndo" no meio.

    Tambm concordo falou o primo afastado, sempre pensando no custo. Ento o genro aproximou-se.

    Acho que tenho a forma ideal. Pegou o bloco e rabiscou rapidamente: INTERROMPA VIAGEM E VOLTE DEVAGAR. TUA IRM PASSANDO MAIS OU MENOS. Todos examinaram atentamente o telegrama. A filha reclamou:

    Vocs acham que mame boba? Se a gente escrever que a titia est passando mais ou menos e que ela pode voltar devagar, ela j vai adivinhar que

  • 29

    todas estas precaues so pelo fato de ela ser cardaca e que na realidade a irm dela morreu!

    Concordo plenamente disse o facultativo da famlia, que era tambm sobrinho da senhora em questo. Resolveu, como mdico, escrever o telegrama. PACIENTE FORA DE PERIGO. VOLTE ASSIM QUE PUDER. PACIENTE TUA IRM.

    De todas as frmulas at ento apresentadas, esta foi a que causou mais revolta.

    Que troo imbecil! gritou o netinho, que passava pela sala no momento em que a mensagem era lida. Puseram o menino para fora da sala, mas no ntimo a famlia concordava com ele.

    No, isso no. Se a gente mandar dizer que ela est fora de perigo, para que vamos pedir que ela interrompa a viagem? argumentou o tio.

    Tambm acho responderam todos num coro de aprovao. O filho mais velho resolveu tentar. Pensou bem, ponderou, sentou-se, molhou a ponta do lpis na lngua e caprichou: SE POSSVEL VOLTE. TUA IRM SAUDOSA PASSANDO QUASE MAL. POR FAVOR ACREDITE. CUIDADO CORAO. VENHA LOGO. SAUDADES SURPRESA.

    Realmente, esse bate todos os recordes! disse uma nora professora. Em primeiro lugar, no "se possvel", ela tem que voltar mesmo. Em segundo lugar, "saudosa" tem duplo sentido. Em terceiro lugar, ningum passa "quase mal". Ou passa mal ou bem. "Quase mal" e "quase bem" a mesma coisa. "Por favor, acredite", um insulto famlia toda. Ningum aqui mentiroso. Depois, "cuidado corao" no fica claro. Como telegrama no tem vrgula, ela pode pensar que a gente est dizendo "cuidado, corao", j que a palavra corao tambm usada como uma forma carinhosa de chamar os outros. Por exemplo: "oi, corao, tudo bem?" E finalmente a palavra "surpresa" no telegrama chega a ser um requinte de crueldade. Qual a surpresa que ela pode esperar?

    Ela pode pensar que a titia est esperando nenm falou um sobrinho. Aos noventa anos de idade? Abandonaram a idia rapidamente. Seguiu-se um longo perodo de

    silncio em que a famlia andava de l para c, pensando numa soluo. Pela primeira vez estavam se dando conta de que no era to fcil assim mandar um telegrama. Serviu-se o costumeiro cafezinho, enquanto cada qual do seu lado procurava uma maneira de escrever para a senhora em viagem sem que isso tivesse conseqncias desastrosas. De repente o irmo psiclogo explodiu num grito heurekiano de descoberta:

    Achei!! Escreveu febrilmente no papel. O telegrama passou de mo em mo e foi

    finalmente aprovado por todo mundo. Seu texto dizia: SIGA VIAGEM DIVIRTA-SE. TUA IRM EST TIMA.

  • 30

    ****

    O enterro do mau-carter foi muito concorrido. Todos queriam saber se ele tinha morrido mesmo.

    ****

    Dietomania

    Segundo a definio do dicionrio, a gordura uma substncia animal untuosa e de pouca consistncia, que se derrete facilmente. Bem se v que o ilustre Sr. Cndido de Figueiredo, autor do dito dicionrio, nunca teve problemas de obesidade, j que uma das coisas mais difceis de se derreter exatamente a gordura.

    O mais impressionante o interesse que hoje em dia todo mundo tem em perder peso. Posso falar tranqilamente no assunto porque, no frigir dos ovos, j cheguei a perder mais de oitenta quilos. Depois engordei uns quilinhos para ficar vioso e fofo, mas mesmo assim tenho agora praticamente a metade do peso que tinha h alguns anos atrs. Por isso que muita gente vem sempre me falar de dietas e de maneiras para se emagrecer. O que mais chama a minha ateno que no apenas o gordo que quer emagrecer. Hoje em dia at o magro quer perder uns quilos. No caso das mulheres ento, uma loucura. Cheguei a ver perfeitas manequins querendo saber como fazer para ficar mais magras. Ningum est satisfeito com o que pesa, e os regimes deixaram de ser um privilgio dos gordos. Ao contrrio, existem muito mais pessoas magras fazendo regime do que gordas. Virou moda. A dietomania tomou conta do mundo. Cada um tem sempre um sistema que o infalvel para emagrecer. Vejam algumas das dietas que existem por a:

    1) O jejum O interessado se interna numa clnica qualquer especializada e passa vrios dias sem comer. Alimenta-se exclusivamente de lquidos: um suco de manh, outro no al-

    moo e outro no jantar. Nesse tipo de dieta sente-se fome. Muita fome. Tem outro inconveniente: no pode ser feita a longo prazo ou a pessoa morre.

    2) A galinha e o ovo A pessoa que fizer esta dieta s pode comer uma galinha e dois ovos por dia. Meia galinha e um ovo no almoo, meia galinha e outro ovo no jantar. Esta dieta poderia tambm ser chamada de ALIMENTAO DO ETERNO RETORNO, uma vez que o ovo sai da galinha e vice-versa.

    3) O regime das mas timo para quem gosta de mas. Nesta modalidade, o sujeito pode comer quantas mas quiser, ou puder, durante o dia.

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    Vinte, trinta, quarenta, no importa quantas. A primeira vista, para quem gosta de fruta, a dieta parece um sonho. Puro golpe psicolgico: dificilmente algum con-segue comer mais de seis mas por dia, por mais que varie na apresentao: assada, morna, ao ponto, verde, madura, gelada, congelada.

    4) Oito bananas por dia durante uma semana Tem certas dietas que so dose pra leo. Essa dose pra macaco. S tem realmente uma vantagem. A pessoa come durante uma semana, mas fica com gosto e cheiro de banana durante vrios meses.

    5) Grelhados e alface A mais montona das dietas. A pessoa emagrece, no tanto pelo que come, mas pelo que deixa de comer. Depois de trs dias na base do grelhado sem gordura e da folha de alface com sal e limo, o sujeito no consegue mais ver esse tipo de comida na frente e acaba no comendo nada.

    interessante ver adeptos desta ou daquela dieta conversando, cada um querendo convencer o outro de que a sua que a melhor. O fato verdadeiro, porm, que s existe uma coisa que realmente engorda: COMIDA.

    Uma coisa preciso que se diga em favor dos gordos: eles so muito mais facilmente identificveis. Com todo mundo fazendo tanta dieta, vai haver uma padronizao de corpos. J o gordo, reconhecido de longe.

    Eu me lembro de um episdio acontecido comigo em Genebra, na Sua, no ano de 1968. Na poca eu pesava 160 quilos. Comprei um relgio numa loja e para no pagar as taxas, j que eu ia viajar, ficaram de me entregar a compra no aeroporto, pouco antes de eu embarcar. Como eu no sabia ainda o dia e a hora, fiquei de telefonar na vspera, dando o horrio. O funcionrio da relojoaria disse que EVIDENTEMENTE no teria problema em me achar no aeroporto para entregar o embrulho. Era fcil me identificar.

    Trs dias se passaram e finalmente chegou a hora de avisar ao homem da loja que no dia seguinte eu embarcaria para o Brasil. Telefonei procurando por ele:

    Eu queria falar com M. Frossard. Monsieur Frossard no est. Quem deseja falar? Aqui fala M. Soares. Eu comprei um relgio a h uns trs dias e M.

    Frossard ficou de me entregar no aeroporto, por causa das taxas. Eu embarco amanh s 5 horas da tarde.

    Ah, pois no, M. Soares. Meu nome Delormes. Eu no estava aqui quando o senhor fez a sua compra mas M. Frossard me avisou que o senhor ia telefonar. Sou eu quem vai lhe levar o relgio. Como eu no o conheo, me diga, como que eu fao para identific-lo no aeroporto?

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    O bvio seria dizer para ele que entregasse o embrulho para a pessoa mais gorda que encontrasse no balco da companhia area, mas no sei por qu, um certo pudor me fez dizer com discrio:

    fcil, M. Delormes. Eu vou estar vestido com uma cala cinza clara, gravata listrada vermelha e prateada, camisa branca e blazer preto. Alm disso, uma revista Paris-Match embaixo do brao.

    timo! Para que o senhor tambm me reconhea logo, eu vou lhe fazer uma descrio minha. Estarei de terno marrom listrado, camisa marrom em tom mais claro, gravata verde-escura e sapatos de camura marrom-escuro. Ah! na mo direita levarei um embrulho de papel dourado que o seu relgio. At amanh s 5, M. Soares. Desliguei o telefone e fui tratar de fazer as malas sem pensar mais no assunto.

    Na tarde seguinte, s cinco para as cinco, eu estava encostado no balco da companhia de aviao esperando o tal do M. Delormes e o meu relgio. Eu vestia exatamente a roupa que descrevera pelo telefone e trazia a revista embaixo do brao. s cinco horas em ponto, olhei para a porta do aeroporto e vi M. Delormes chegando, vestido como ele dissera e com o embrulho na mo. Assim que nos olhamos no pudemos deixar de sorrir um para o outro, pensando que realmente havia uma maneira bem mais simples de identificar entre ns, se no tivssemos sido to discretos: eu, por causa dos meus cento e sessenta quilos e ele, porque no tinha a orelha esquerda.

    ****

    "V ver se estou na esquina", disse o mgico. Foram, e ele estava.

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    Fbula da cidade grande

    Fbula O lobo e o cordeiro

    Um pequeno cordeiro bem desavisado bebia gua numa bica, calmo e relaxado.

    Um lobo aparecendo, no se sabe donde, j que numa cidade lobo no se esconde, a fim de devorar o cordeirinho amvel, foi logo dizendo num tom desagradvel:

    Porco, voc est pondo a boca na torneira e isso para mim uma tremenda sujeira. Depois eu estou a fim de beber desta gua. Falo isso no duro, sem raiva e sem mgoa. Foi a vez de o cordeiro acanhado dizer:

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    Seu lobo, eu no estou pondo a boca pra beber e mesmo que assim fosse, como o senhor pensa, informo que no tenho nenhuma doena.

    Pode ser disse o lobo. Mas ontem no morro, teu pai disse que eu era um lobo cachorro.

    O senhor se enganou disse o outro assustado. O meu pai faleceu j no ano passado.

    Ento foi tua me disse o lobo gritando, e o cordeiro falou quase desculpando:

    Eu garanto. Mame? E impossvel, coitada. Teve enfarte e morreu quando foi tosquiada. Respondeu o tal lobo sem titubear:

    Bom, no interessa! S sei que vou te jantar! Pegou o cordeirinho nervoso e aflito, preparou pro jantar e comeu ele frito. MORAL: Mesmo nas mais agitadas megalpoles, onde s vezes falta gua,

    o lobo come o cordeirinho.

    ****

    O livro tinha princpio, meio e fim. Mas no nesta ordem.

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    Fbula No pensem vocs que as fbulas de La Fontaine so apenas de La

    Fontaine!

    O corvo tchecoslovaco e a raposa tchecoslovaca

    Parece que na Tchecoslovquia um famoso intelectual annimo resolveu adaptar para o tchecoslovaco a famosa fbula O corvo e a raposa. Dizem que ficou mais ou menos assim:

    (Qualquer semelhana com animais no-tchecoslovacos mera coincidncia ou torpe propaganda imperialista!)

    Corvo tchecoslovaco estava em rvore linda tchecoslovaca, Com queijo tchecoslovaco no bico tchecoslovaco. De repente, chega raposa tchecoslovaca e diz: "Bom dia, camarada corvo tchecoslovaco; como voc bonito! Se voc cantar lindas czardas, voc maravilhoso!" Corvo tchecoslovaco, muito mais inteligente que corvo

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    Capitalista francs, pe queijo tchecoslovaco Embaixo de asa tchecoslovaca e canta. Ento raposa tchecoslovaca diz: "Bravo! bravo! agora mexe asa!" Corvo tchecoslovaco pe de novo queijo tchecoslovaco No bico tchecoslovaco e mexe asa. Ento, raposa tchecoslovaca diz: "Bravo! bravo! escuta, Camarada corvo tchecoslovaco, sem querer mudar de assunto,

    Voc sabia que sua mulher est dando para o ministro de Relaes Exteriores da URSS?" Corvo tchecoslovaco abre boca de espanto, queijo cai, Raposa tchecoslovaca come.

    MORAL: Mesmo que sua mulher d para o ministro de Relaes Exteriores da URSS, mantenha a boca fechada!

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    A coincidncia uma coisa to incrvel que nunca pode ser mera.

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    O noticirio impossvel que o rbitro de futebol sonhou

    Sua Excelncia apitou com perfeio Considerada impecvel a atuao do rbitro durante o ltimo Fla-Flu,

    sendo inclusive o mediador aplaudido unanimemente pelas duas torcidas na ocasio em que marcou o oitavo pnalti contra o Flamengo. A expulso dos trs atletas do Fluminense foi acolhida com uma chuva de rosas por parte dos tricolores.

    Anulou com razo Assim que o rbitro apitou anulando o gol que daria o campeonato ao

    Cear, o centroavante autor do tento aproximou-se de Sua Senhoria e, ajoelhando-se com respeito, beijou-lhe a mo, enquanto dizia: "Talvez eu no estivesse impedido, mas tenho confiana no seu golpe de vista. Obrigado por ter me corrigido". Depois do jogo, a diretoria do clube que perdeu ofereceu um jantar regado a champanha, gesto que o simptico referee considerou esportivo.

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    Nenhuma culpa cabe ao juiz Toda a crnica esportiva, bem como o pblico em geral, ficou de acordo

    quanto maestria e imparcialidade do rbitro no ltimo jogo de domingo, quando foram expulsos nada menos do que seis jogadores do Vasco, permitindo a vitria do Olaria, pela contagem de 5 a 0. Perdovel seu gesto confirmando quatro dos tentos aparentemente feitos em posio ilegal, j que Sua Senhoria estava de costas no momento dos lances.

    Apito de ouro Este foi o carinhoso apelido dado ao mediador da contenda Botafogo e

    Madureira, por ter permitido que o jogo transcorresse sem nenhum aborrecimento para ele. Um espectador mal-educado, que teve a audcia de criticar um ligeiro deslize de Sua Senhoria, quando este prolongou distraidamente o jogo por mais vinte e trs minutos, foi convidado a se retirar do estdio. Encontra-se nesse momento no Hospital das Clnicas Gerais, j que relutou um pouco em aceitar o convite.

    Surpresa faz o rbitro chorar As lgrimas rolaram pela face do rbitro quando ele foi surpreendido pelo

    carinho que toda a torcida demonstrou depois do prlio entre Vasco e Flamengo, que terminou empatado graas s suas sbias decises e alijando inclusive os dois times do certame. Todos sem exceo, jogadores, diretores tcnicos e tor-cidas, pediram que Sua Senhoria fizesse a volta olmpica, enquanto cantavam em coro o Parabns para voc, numa singela homenagem ao Dia das Mes.

    ****

    Tinha uma memria fotogrfica. S se lembrava de fotografias.

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    Teatro do absurdssimo

    Cenrio: Mesa de restaurante. Cena: Dois amigos sentados, doutor Doctor e senhor Monsieur. Ao fundo,

    gerente e garom. Doutor Doctor Garom, a conta! Garom (Aproximando-se.) Mas doutor! O senhor j pagou a conta. Doutor Doctor No discuta. O fregus tem sempre a razo! Traga a

    conta que eu quero pagar. (Garom afasta-se.)

  • 36

    Doutor Doctor (Ao seu amigo, senhor Monsieur.) Esses garons andam terrveis! (Garom volta novamente com a conta.) Garom Aqui est, doutor.

    Doutor Doctor (Pagando.) Toma. Pode guardar o troco. Senhor Monsieur Vamos embora.

    Doutor Doctor Vamos sim. Antes deixa s eu pagar a conta. (Chama.) Garom!!

    Garom (Aproximando-se.) Pois no, doutor. Doutor Doctor A conta, por favor. Garom Mas doutor! O senhor j pagou duas vezes! Doutor Doctor Voc quer discutir comigo, ?! Seu malcriado! Traga logo a conta que eu quero pagar! Garom (Assustado.) Trago sim, doutor. Doutor Doctor Eu no estou dizendo? Esse servio anda pssimo.

    (Garom volta com a conta novamente.) Garom (Meio com medo.) Est aqui.

    Doutor Doctor (Pagando mais uma vez.) E no se esquea de guardar o troco.

    (Garom vai se afastando, quando doutor Doctor chama-o de novo.) Doutor Doctor Ah, garom. E no se esquea de trazer a conta.

    Garom Por favor, doutor! O senhor j pagou mais de trs vezes!! Doutor Doctor (Levanta-se e vai saindo furioso.) um absurdo ter que

    discutir com este garom! Nunca mais eu ponho os ps neste restaurante!!! (Sai.) Garom Mas eu no entendo. . . (Confuso.) (Aproxima-se o gerente e pergunta.) Gerente Afinal de contas, o que foi que houve? Senhor Monsieur (Que continuou sentado.) Nada, no. uma mania que o meu amigo tem de ficar pagando a conta. Toda vez que eu saio pra almoar com ele a mesma coisa. Quer pagar sempre. Mas agora pra mim chega. Hoje quem paga sou eu. Garom, a conta!

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    Se mais depressa se pega um mentiroso do que um coxo, muito mais depressa ainda se pega um mentiroso coxo.

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    Notcias

    O lado bom O lado mau

    Cientistas descobrem que existe vida em Marte.

    Economistas afirmam que a vida l muito mais cara.

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    Nutricionistas declaram que a pesca pode alimentar com fartura noventa por cento da populao terrestre.

    As estatsticas provam que noventa por cento da humanidade tm horror a peixe.

    Encontrada a maneira defini-tiva de acabar com o conges-tionamento do trnsito.

    Fica terminantemente proi-bido o uso do automvel.

    Descoberta a ligao entre o homem e o macaco.

    O macaco descende do homem.

    O Brasil j ganhou fcil a Copa do Mundo.

    Em 1958, 1962 e 1970.

    No final do filme, os espec-tadores aplaudiram de p.

    Todos os dois.

    A renda per capita quadruplicou em trs meses.

    Constatou-se uma acentuada diminuio de capitais.

    Beethoven foi executado com admirvel maestria.

    Depois do espetculo, vrios conhecedores foram reclamar o corpo.

    Inventaram a gasolina sin-ttica.

    feita a base de petrleo.

    Todas as naes decidem forar o desarmamento atmico.

    Mesmo que para isso seja ne-cessria uma guerra nuclear.

    ****

    O presente de Natal

    Acho que esta talvez seja a melhor poca do ano para falar do presente de Natal. Este um tipo de presente que pode ser dado em qualquer poca do ano mas que combina muito mais com o ms de dezembro, mais propriamente no dia de Natal. O mais importante no presente de Natal compr-lo. Depois, encontrar uma pessoa a quem dar o presente assim adquirido. Outro mtodo que surte grande efeito oferecer aos seus amigos este ano o que voc ganhou no ano passado. Cuidado para no confundir e devolver o mesmo que a pessoa lhe deu. Para isso, convm etiquetar cada presente assim que recebido. Os presentes que se recebe no Natal e os presentes que se espera receber no Natal nem sempre so os mesmos. Aqui vo duas listas paralelas.

    Presentes que as pessoas esperam ganhar no Natal 1 Um Mercedes, ltimo tipo.

  • 38

    2 Um solitrio de lapidao retangular com 28 quilates. 3 Uma casa de praia em Angra ou Guaruj. 4 Um relgio Piaget-ouro. 5 Uma passagem de primeira classe para a Europa, ida e volta, com

    estadia paga. 6 Um carto premiado da Loteria Esportiva como nico vencedor. 7 Um iate, modesto, de cabina, para 36 pessoas. 8 Um apartamento de cobertura. De preferncia, mobiliado. 9 Um jatinho particular. 10 Todos os nove presentes anteriores juntos.

    Presentes que geralmente as pessoas ganham no Natal

    1 Uma gravata (pode ser aproveitada como enfeite de parede, j que hoje em dia se usa to pouco).

    2 Um prendedor de gravata. 3 Um alfinete de colarinho para gravata. 4 Duas gravatas. 5 Um sabonete novinho. 6 Uma saboneteira para sabonete novinho. 7 Dois sabonetes novinhos. 8 Um leno de pescoo. 9 Um chaveiro que, por coincidncia, tem gravado o nome da firma da

    pessoa que lhe deu o chaveiro. 10 Uma flmula do seu clube (no do clube de quem ganha o presente

    e sim de quem d).

    No pense o leitor que fcil decidir-se pela escolha de um presente de Natal. Alguns pontos so fundamentais para uma boa compra.

    O que voc precisa ter para comprar um presente de Natal

    1 Bom gosto. 2 Mau gosto. 3 Pacincia.

  • 39

    4 Tempo. 5 Dinheiro (na ausncia deste ltimo item, esquea os quatro

    primeiros).

    Pronto. Agora voc j sabe praticamente tudo a respeito do presente de Natal. No entanto, caso voc no possa utilizar este mtodo, h um mais simples: abrace e beije os de sua famlia, os seus amigos, os seus colegas, com carinho e ternura, dizendo simplesmente: "Feliz Natal". Dificilmente se encontrar frmula mais bonita. Por falar nisso, um Natal muito feliz e cheio de alegria para vocs tambm.

    ****

    Aprenda a andar de metr

    Muita gente anda preocupada em saber como vai andar de metr. Hoje, o metr para ns j uma realidade e no apenas um trem subterrneo onde assassinos de aluguel em filmes de mistrio empurram velhinhas assustadas. O metr, tambm conhecido como Bonde-tatu, vai facilitar a locomoo e o trnsito das pessoas, especialmente por baixo da terra. Por cima, a coisa vai continuar igual, o que nos faz perguntar por que que ento no se constri um metr em cima da terra onde o problema do trfego muito maior.

    Enfim, no estamos aqui para divagar sobre a colocao ideal do metr. O melhor passar aos conselhos e sugestes para pessoas que ainda no provaram a maravilha do trem underground.

    Nunca pegue o metr andando. Se durante anos voc se acostumou a pular para o bonde ainda em movimento, descondicione-se imediatamente desse hbito. O mximo que vai conseguir se esborrachar contra a porta fechada.

    Desista de andar no estribo. Por vrios motivos. Em primeiro lugar, no elegante. Em segundo lugar, os tneis so estreitos demais e finalmente, em terceiro lugar, metr no tem estribo.

    Cuidado para saltar na estao certa. Caso voc se atrapalhe, o melhor subir novamente para a luz do dia. No tente trocar de carro sem consultar o itinerrio ou perguntar a algum mais experiente. Conta-se que no famoso Tube de Londres existem pessoas perdidas desde 1948 por pura teimosia.

    No entre em qualquer buraco no meio da rua. Lembre-se que nem todas as aberturas encontradas no passeio levam ao metr. Algumas levam ao esgoto, outras levam a tneis abandonados, outras ainda a instalaes eltricas e tambm h algumas que no levam a nada. So simples buracos esquecidos no meio da rua. Se voc por acaso entrar num desses, pode ficar ali durante anos sem que ningum perceba.

  • 40

    No converse com o motorista. Por uma razo muito simples: metr no tem motorista e sim condutor. Quanto a conversar com o condutor, depende dele.

    Cuidado com as portas. Como j se pde observar neste maravilhoso dicionrio visual de cultura que o cinema, as portas do metr fecham rapidamente e abrem com a mesma velocidade. Por isso mesmo, no vacile: entre ou saia. No se instale tambm perto delas pois voc corre o risco de ser descarregado pelos outros em todas as estaes.

    Leve sempre o seu sanduche. Muito til no caso rarssimo, quase impossvel, de falta de energia. Passadas algumas horas voc pode vir a sentir fome, principalmente se est viajando em direo a sua casa para jantar. Parece que este problema ser no entanto totalmente suprimido com o advento do metr a pilha.

    No comeo, ande sempre ao lado de algum que j andou. No por nada, mas muito tranqilizador saber que se voc no conseguir acertar o caminho, seu amigo o conduzir facilmente ao ponto de chegada. Caso isso acontea e o seu amigo confesse que nunca andou de metr coisa nenhuma e s falou que sim para impressionar, use a palavra-cdigo que o tirar imediatamente de apuros: Socorro!!!!!

    Como viram, no h nenhum mistrio para uma tranqila e rpida viagem subterrnea. Depois dos dois primeiros meses voc conseguir inclusive ler descontrado os novos anncios que provavelmente sero colocados nas paredes: "Veja, ilustre passageiro, o belo tipo faceiro. . . "

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    No corra nunca o perigo de ficar sem o principal laticnio:

    Aprenda a fazer leite em casa

    O consumidor pode perfeitamente evitar o aborrecimento de ficar sem leite para beber, ou ter que beber o leite de um tipo que no lhe agrada. Para isso, so necessrios alguns ingredientes que podem ser facilmente conseguidos nas boas casas do ramo.

    1. Uma vaca

    Este pacfico animal (no confundir com o touro Mira, parecido, porm menos pacfico) quase que indispensvel na obteno do leite, a no ser que o indivduo tenha preferncia por leite de cabra. No aconselhamos leite de cabra. A quantidade conseguida muito menor, j que a cabra um recipiente muito menor do que uma vaca. Alm disso a vaca tem melhor carter. Pode inclusive ser chamada de vaca, sem se aborrecer.

  • 41

    Conseguindo uma vaca, voc pode conseguir no apenas os tipos convencionais de leite, A, B, ou C. Basta batiz-la, por exemplo, de Zulina, para conseguir um leite tipo Z.

    2. Um banquinho

    Sem dvida, a posio mais confortvel de tirar leite de uma vaca sentado num banquinho. A inventiva moderna j nos possibilita a compra de um banquinho de piano, muito mais prtico. O banquinho de piano regulvel e se ajusta perfeitamente a altura da sua vaca. Alguns principiantes podem pensar que o banquinho encomendado para que a vaca sente-se nele. No perca tempo. Sendo um animal praticamente irracional ela nunca apreciar esse tipo de delicadeza.

    3. Um balde

    Sem um bom balde o consumidor vai logo perceber que difcil recolher leite sem grande desperdcio. Mesmo morando sozinho e utilizando pouca quantidade nao muito prtico o uso de um copo ou de uma xcara de ch.

    Resumindo:

    Se a pessoa for organizada, pode servir-se para esta operao de vrios baldes. Desta forma, sempre restar uma certa quantidade de leite mesmo depois que toda a famlia tenha tomado caf com, bebido puro e feito pudim de. Basta ento ir vendendo a sobra pelo preo vigente, para que em pouco tempo o consumidor tenha recuperado o capital empatado nos baldes, no banquinho e na vaca. Da por diante s ir adquirindo mais baldes, mais banquinhos e mais vacas. Em pouco tempo o indivduo ter industrializado o que antes era apenas uma necessidade familiar. Depois da compra da segunda vaca, convm mudar-se para um apartamento maior.

    ****

    Sua beleza falava por si. S que ningum escutava.

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    Voc charmoso?

    Teste

  • 42

    Respondendo honestamente ao nosso pequeno teste, voc pode finalmente descobrir se realmente um sujeito de charme ou no. Basta assinalar uma pequena marca no quadradinho 1, 2 ou 3, antes das perguntas, e depois contar os pontos.

    A resposta vem logo abaixo, de cabea pra cima mesmo, numa inovao totalmente avanada em matria de resposta de teste. Veja logo se voc charmoso, respondendo ao:

    Quando voc anda na rua:

    1 ( ) As mulheres ficam olhando, fascinadas, para voc. 2 ( ) As mulheres nem olham. 3 ( ) Voc olha para as mulheres.

    Quando voc pega um txi:

    1 ( ) O motorista sorri. 2 ( ) O motorista grunhe. 3 ( ) O motorista salta.

    Quando voc vai a um restaurante:

    1 ( ) O maitre, abismado, diz que nunca viu ningum pedir to bem. 2 ( ) O maitre diz que j vai. 3 ( ) O maitre lhe informa que proibido entrar ali para pedir esmola.

    Quando voc leva a namorada ao cinema:

    1 ( ) Ela segura sua mo e beija voc carinhosamente. 2 ( ) Ela pede para voc comprar bala. 3 ( ) Ela v o filme.

    Quando voc chega ao trabalho:

  • 43

    1 ( ) Todos sorriem dizendo: "Finalmente ele chegou!" "Que saudades desde ontem!" 2 ( ) Alguns dizem: "Oi". 3 ( ) Todos vomitam.

    Resposta:

    Se voc marcou 3 em todas as perguntas, voc no s tem charme, como tambm detestvel.

    Se voc marcou 2 em todas as perguntas, voc tem charme, mas as pessoas no notam.

    Se voc marcou 1 em todas as perguntas, voc tem realmente muito charme, mas uma pena que seja to mentiroso.

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    Era to velho que conseguiu chegar posteridade ainda com vida.

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    Histria Geral

    Departamento de desinformaes

    Pr-histria

    As grandes pocas da humanidade so: a idade da pedra, a idade do bronze e a idade da aposentadoria.

    Existiam a pedra talhada, a pedra desnatada e a pedra pasteurizada. Os habitantes da pr-histria eram chamados de poliglotas e moravam em

    tabernas. Os homens das tabernas eram descendentes de seus pais.

    O antigo Egito

    Os reis do antigo Egito eram chamados Fanfarres. O mais conhecido deles chamava-se Nilo.

  • 44

    Os egpcios se alimentavam exclusivamente de hierglifos. As esposas dos Fanfarres eram chamadas de mmias. As pirmides eram assim chamadas porque tinham forma piramidal. Era dentro delas que os egpcios guardavam seus faris.

    A velha Grcia

    Ulisses, que era um tremendo cara-de-pau, conseguiu entrar em Tria fantasiado de cavalo de madeira.

    As duas mulheres mais famosas da Grcia foram Esparta e Atenas. Costumavam brigar muito, tanto que so representadas sem braos.

    O grego Lenidas, sempre com dor de garganta, foi o primeiro homem a extrair as Termpilas.

    Como Hrcules ganhava pouco, fazia doze trabalhos ao mesmo tempo.

    O imprio romano

    Antes de mais nada, Rmulo e Remo afundaram Roma. A sociedade romana se dividia em patrcios, que eram do mesmo lugar, os

    plebeus, que habitavam a Plebia, e os escravos, que tinham o direito de calar a boca.

    Roma foi invadida por Canibal, um guerreiro cartilaginoso.

    A Idade Mdia

    Na Idade Mdia, surgiu a mistura do caf com leite. A maior inveno da Idade Mdia foram as palavras cruzadas, que s

    eram jogadas por cavalheiros de antes. Atravs das palavras cruzadas, os cavalheiros de antes tentaram conquistar

    Matusalm.

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    Para o octogenrio, um dia j calendrio.

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    Da arte de falar bem sem dizer nada

    Quando fui convidado para homenagear com um discurso neste dignssimo banquete o meu prezado amigo cujo nome agora me falha a memria, achei imediatamente, depois de pensar muito, que eu era sem dvida a pessoa indicada, a no ser naturalmente que outro orador fosse escolhido. Desde criana, foi o homenageado um dos mais categorizados elementos, tendo muito mais talento e inteligncia do que todos os que eram menos dotados do que ele. Neto de seus avs, o homenageado tambm filho de seus pais, pertencendo desde cedo sua famlia. Veio ao mundo na sua cidade natal, exatamente no dia do seu aniversrio. Em menino, era membro ativo da infncia, tendo passado para a adolescncia na puberdade. Depois disso, ficou adulto e, num rasgo cronolgico, atingiu a maioridade aos 21 anos.

    Homem de vrias habilidades, perito naquilo que de melhor faz. Sua memria to fantstica que ele se lembra nitidamente de tudo aquilo que no esqueceu.

    uma pessoa de temperamento suave, a no ser quando se exalta, e s se cansa em momentos de exausto. Domina com perfeio todas as lnguas que fala sem dificuldade e quando conversa usa sempre a palavra, deixando apenas para redigir tudo aquilo que escreve. Conhece todas as partes do mundo a no ser os lugares onde nunca esteve. Alm disso, quando labuta, trabalha.

    Finalmente, devo revelar que no ano passado, neste mesmo dia, este meu carssimo amigo era dois anos mais moo do que ser no ano que vem. No quero ser profeta mas guardem bem as minhas palavras de hoje a uma dcada, o homenageado ver que dez anos ter-se-o passado. Obrigado.

    ****

    Era to indeciso que conseguia chegar s oito em ponto mais ou menos.

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    H algumas semanas lanamos uma idia extraordinria, apresentando vrias possibilidades de novas atividades. A repercusso foi extraordinria. Recebemos tantas cartas de indignao que resolvemos apresentar mais algumas