O Auto da barca do inferno

38
“O Auto da Barca do Inferno” Cena Do Fidalgo (Don Arnrique) Adereços que o caracterizam: -pajem: desprezo pelos + pobres -manto: vaidoso -cadeira: julgava-se importante e poderoso Argumentos de Defesa: -Barca do Inferno é desagradável -tem alguém na Terra a rezar por ele -é “fidalgo de solar” e por isso deve entrar na barca do Céu -é nobre e importante Pertence: -à nobreza Acusações: -ter levado uma vida de prazeres, sem se importar com ninguém -ter sido tirano para com o povo -ser muito vaidoso -desprezava o povo Referência ao pai de Don Anrique porque: -é uma denuncia social, pq tb o pai do Fidalgo já tinha entrado na Barca do Inferno, isto é, toda a classe nobre tinha os mesmos pecados A movimentação dele em cena: -1º foi á barca do Diabo que lhe explica p onde vai a barca e falando sempre em tom d ironia -depois foi à barca do Paraíso para tentar a sua sorte, mas o Anjo acusa-o de tirania e diz-lhe de q maneira nenhuma pode lá entrar -o Fidalgo volta para a Barca do Inferno e o Diabo explica-lhe todos os seus pecados, fazendo com que ele fique muito triste e arrependido Momentos psicológicos da personagem: -ao princípio o Fidalgo está sereno e seguro que irá para o Paraíso -dirige-se à barca do Anjo, arrogante, e fica irritado pq ele n lhe responde e mostra-se arrependido e desanimado por ter confiado no seu “Estado”

Transcript of O Auto da barca do inferno

Page 1: O Auto da barca do inferno

“O Auto da Barca do Inferno”

 

Cena Do Fidalgo (Don Arnrique) Adereços que o caracterizam:-pajem: desprezo pelos + pobres-manto: vaidoso-cadeira: julgava-se importante e poderoso Argumentos de Defesa:-Barca do Inferno é desagradável-tem alguém na Terra a rezar por ele-é “fidalgo de solar” e por isso deve entrar na barca do Céu-é nobre e importante Pertence:-à nobreza Acusações:-ter levado uma vida de prazeres, sem se importar com ninguém-ter sido tirano para com o povo-ser muito vaidoso-desprezava o povo Referência ao pai de Don Anrique porque:-é uma denuncia social, pq tb o pai do Fidalgo já tinha entrado na Barca do Inferno, isto é, toda a classe nobre tinha os mesmos pecados A movimentação dele em cena:-1º foi á barca do Diabo que lhe explica p onde vai a barca e falando sempre em tom d ironia-depois foi à barca do Paraíso para tentar a sua sorte, mas o Anjo acusa-o de tirania e diz-lhe de q maneira nenhuma pode lá entrar-o Fidalgo volta para a Barca do Inferno e o Diabo explica-lhe todos os seus pecados, fazendo com que ele fique muito triste e arrependido Momentos psicológicos da personagem:-ao princípio o Fidalgo está sereno e seguro que irá para o Paraíso-dirige-se à barca do Anjo, arrogante, e fica irritado pq ele n lhe responde e mostra-se arrependido e desanimado por ter confiado no seu “Estado”-no fim dirige-se ao Diabo, mais humilde, pedindo-lhe que o deixe regressar à Terra p ir ter com a amante Crítica de Gil Vicente nesta cena:-os nobres viviam como queriam (vida de luxúria)-pensavam que bastava rezão e ir à missa para ir para o Céu Características dadas às mulheres desse tempo:-mentirosas-infiéis-falsas-fingidas-hipócritas Caracterização do Fidalgo:

Page 2: O Auto da barca do inferno

-nobre (fidalgo de solar)-vaidoso-presunçoso do seu estado social-o seu longo manto e o criado que carrega a cadeira representam bem a sua vaidade e ostentação-a forma cm reage perante o Diabo e o Anjo revelam a sua arrogância ( d quem está habituado a mandar e a ter tudo)-apresenta-se como alguém importante-despreza a barca do Diabo chamando-lhe “cortiço”-a sua conversa com o Diabo revela-nos q além da sua mulher tinha uma amante, mas que ambas o enganavam pois a mulher quando ele morreu chorava mas era de felicidade e a amante antes d ele morrer já estava c outro-o Fidalgo é, pois, uma personagem tipo q representa a nobreza, os seus vícios, tirania, vaidade, arrogância e presunção Desenlace:-Inferno  Cena Do Onzeneiro (Usuário) Símbolos cénicos:-bolsão: representa o dinheiro Esta personagem pertence:-à burguesia “Oh! Que má-hora venhais,/ onzeneiro, meu parente!”:-o Diabo revela, c este tratamento, que Onzeneiro tem semelhanças com  ele, é como se fossem membros da mesma família-o Diabo sempre o ajudou a fazer o mal, a enganar os outros-agr os papeís invertem-se: é a vez de o Onzeneiro ajudar o Diabo Defesas:-ter morrido sem esperar -n ter tido tempo de “apanhar” + dinheiroEsta queixa mostra que para esta personagem o dinheiro era importante-jura ter o bolsão vazio-precisa de ir à Terra para ir buscar + dinheiro (para comprar o Paraíso) 

Acusações:-Anjo: acusa-o de levar um bolsão cheio de dinheiro e o coração cheio de pecados, cheio de amor pelo dinheiro-ser avarento O Onzeneiro é condenado pelo Anjo ao Inferno pq:-leva o coração cheio de pecados, cheio de amor pelo dinheiro e o bolsão representa esse dinheiro O Onzeneiro interpreta a recusa do Anjo cm:-que por n ter dinheiro não pode entrar no Paraíso-ele pensa q com o dinheiro pode comprar tudo e resolver tudo A vida do Onzeneiro:-avareza (só pensa em dinheiro) 

Page 3: O Auto da barca do inferno

Gil Vicente dá esta pobre caracterização à vida da personagem porque:-todas as personagens são personagens tipo-n podem representar características pessoais Desenlace:-Inferno  Cena Do Parvo (Joanne) No passado o Parvo representava:-uma pessoa pobre de espírito (pertencia ao povo) N tem referência ao passado porque:-não agiu com maldade-não tem pecados   Símbolos cénicos:-não traz porque os símbolos cénicos estão relacionados com a vida Terrena e os pecados cometidos-o Parvo não tem qualquer tipo de pecados Defesas:-Anjo: tudo o que fez foi sem maldade e é simples O Parvo não usa qualquer tipo de argumento para convencer o Anjo a deixá-lo entrar no Paraíso porque:-n teve tempo de dizer nada, a sua entrada naquela barca foi autorizada de imediato-o Anjo deixa-o entrar porque tudo o que fez foi sem maldade “Quem és tu? / Samica alguém”:-revela a sua simplicidade-a resposta está relacionada com o seu destino que é o Paraíso Caracterização desta personagem:-não traz símbolos cénicos c ele porque não tem qualquer tipo de pecados-com simplicidade, ingenuidade e graça, autocaracteriza-se ao Diabo como “tolo”-queixa-se de ter morrido-as suas atitudes ao longo da cena são descontraídas, o q irrita o Diabo q o quer na sua barca-o Diabo é insultado por ele-esses insultos revelam a sua pobreza de espírito-apresenta-se ao Anjo cm “Samica alguém” e este diz-lh q entrará na sua barca, pq td o q fez foi sm maldade A mh opinião sb esta cena:-tem uma intenção lúdica: fazendo divertir quem está a assistir a esta peça -tb tem uma intenção de crítica: dizendo q os parvos são pessoas pobres de espírito e n teem intenção de fzr mal-ajuda muito na crítica e faz os cómicos Desfecho:-fica no caís e entra com os Quatro Cavaleiros  

Page 4: O Auto da barca do inferno

Cena Do Sapateiro (Joanatão) Símbolos Cénicos:-avental: simboliza a profissão -carregado se formas de sapatos: simbolizam a sua profissão e vem carregado pelos seus pecados Esta personagem representa:-o povo Acusações:-roubava-enganava-religião mal praticada Defesas: (práticas religiosas)-rezava e ia à missa ào fidalgo usou a mesma defesa-fazia ofertas à igreja-confessava-se-fez todas as práticas religiosas Crítica feita por Gil Vicente a todas as rezas:-forma superficial d cm os católicos praticavam a religião-julgavam q as rezas, missas, comunhões, tinham mais valor q praticar o bem Desfecho:-Inferno  Cena Do Frade (Frei Babriel) Símbolos cénicos:-hábito de frade-escudo-capacete-espada-moça (Florença)

Equipamento de esgrima

 Críticas com esses símbolos:-desajuste entre a vd religiosa e a vd q ele levava ( vd mundana)-os símbolos representavam a vd de prazeres q ele levava, o q o afastava do seu dever àcrítica religiosa Pertencia:-ao clero (mundano) Argumentos de Acusação:-era mundano-n respeitou os votos de castidade e de pobreza O Frade não nega as acusações feitas, pois:-pensa q o facto de ser Frade e o seu hábito o vão salvar dos seus pecados Argumentos de Defesa:

Page 5: O Auto da barca do inferno

-ser Frade-rezou muito Apresenta-se cm cortesão:-o q revela q ele frequentava a corte e os seus prazeres, era um frade mundano “Gentil padre mundanal”:-contradição: encontra-se na palavra “mundanal” e “gentil”-o Frade deveria ser uma pessoa dedicada à alma, ao espírito, ms é mundanal, vive os prazeres do mundo, por isso existe aqui uma contradição “Diabo-(...) E n os punham lá grosa / no vosso convento santo?Frade- E eles faziam outro tanto!” revela q:-havia uma quebra de votos de castidade àhábito comum entre eles-esta afirmação alarga a crítica a toda a classe social, pois o Frade é uma personagem tipo, representando toda uma classe social Uso do facto de ser Frade naquele tempo:-prentende mostrar q o clero se mostrava superior-poderia fazer o q quisesse sm ser condenado-mal-estar na sociedade por serem cd vez + frequentes os Frades ricos e poderosos O Anjo recusa-se a flr c o Frade pq:-tem vergonha do seu réu -n tinha coragem d flr c alguém do clero c tantos pecados (repugnante) Frade aceita a sentença pq:-viu q o Anjo n quis flr c ele-pq n cumpriu as regras q deveria ter cumpridu-se o Anjo se recusa a flr c ele é pq todos os seus pecados foram graves Caracterização do Frade:-auto-caracteriza-se “cortesão” (frequentava a corte) o q entra em contradição com a sua classe-sabe dançar tordilhão e esgrimir àqualidds típicas de um nobre-é alegre pois chega ao cais a cantar e a dançar-tal cm os outros Frades n cumpriu o voto de castidd nm de pobreza, cm se comprovava c as suas palavras-está convencido q por ser membro da Igreja tem entrada directa no Paraíso-personagem tipo através da qual se critica o clero  Cena Da Alcoviteira (Brízida Vaz) Símbolos Cénicos:-seiscentos virgos postiços-três arcas de feitiços-três almários de mentir-jóias de vestir-guarda-roupa-casa movediça-estrado de cortiça-dous coxins

Page 6: O Auto da barca do inferno

(todos estes símbolos representavam a sua actividd d alcoviteira ligada à prostituição) Tipo:-alcoviteira Qd o Diabo sabe q é Brízida Vaz q está no cais ele fica:-contente: sabe q ela tem muitos pecados é por isso mais passageira p a sua barca-surpreso / admirado : n esperava por ela tão cedo-surpreendido Com o campo semântico da mentira ela revela q:-é hipócrita-tenta fazer-se de vítima perante o Diabo p convencê-lo do q lh interessa-hábil mentirosa Qd o Diabo a convida a entrar ela:-diz, c alguma arrogância, q n entra sm o Fidalgo Perante o Anjo, Brízida Vaz usa outras tácticas:-a sedução: muda o seu tom de voz tentando seduzir o Anjo-usa vocabulário de cariz religioso: para o Anjo ter pena dela Qd fala com o Anjo, ela usa um vocabulário de cariz religioso para:-ele ter pena dela-a deixar entrar na sua Barca-a achar uma boa pessoa Argumentos de Acusação:-viveu uma má vida (prostituição) Argumentos de defesa:-diz q já sofreu muito-q arrajou muitas “meninas” para elementos do clero Caracterização de Brízida Vaz:-chegando ao cais na barca do Inferno, recusa-se a entrar sem o Fidalgo, provavelmente eram conhecidos-diz q n é a barca do Diabo q procura-leva vários elementos cénicos relaccionados com a sua profissão de alcoviteira-está sempre confiante de q vai entrar na barca do Anjo-defende-se dizendo q sofreu muito, cm ng, q arranjou muitas “meninas” para elementos do clero e q está orgulhosa por ter arranjado “dono” para todas as suas “meninas”-qd vai à barca do Anjo muda completamnt a sua atitude, usando mais o vocabulário de cariz religioso e tentando seduzir o Anjo e fazer-se de boa pessoa Desenlace:-Inferno  Cena Do Judeu (Semah Fará) Símbolos Cénicos:-bode: representa a sua religião

Page 7: O Auto da barca do inferno

 Tipo:-Judeu Lg q chega ao cais o Judeu dirige-se p a barca do Inferno pq:-sabe q n será aceite na barca do Anjo, já q em vd nunca foi aceite nos lugares dos Cristãos-os Judeus eram mt mal vistos na época e nm poderia admitir a hipótese de entrar na barca do Anjo P entrar na Barca do Inferno ele usa:-o dinheiro Ele usa o dinheiro pq:-era uma forma de mostrar q os Judeus tinham gd poder económico, estavam ligados ao dinheiro O Judeu n quer deixar o bode em terra pq:-quer ser reconhecido cm Judeu-n recusa a sua religião O Parvo acusa-o de:-roubar a cabra-ter cometido várias ofensas à religião cristã àprofanar a igreja, comer carne no dia de jejum...-ser Judeu Em termos de contexto histórico essa acusção:-revela q os Cristãos odiavam os Judeus -acusavam-nos de enriquecer à custa de roubos de Natureza diversa-acusavam-nos de ofender a religião católica, cometendo diversas profunações Desenlace:-fica no cais (pq ng o quer)  Cena Do Corregedor e do Procurador Símbolos Cénicos:-Corregedor: vara e processos-Procurador: livros jurídicos Pertenciam:-Corregedor:Juíz-Procurador:Funcionário da Coroa O Diabo cumprimenta o Corregedor com “Oh amador de perdiz” pq:-era uma pessoa corrupta-a perdiz era um símbolo de corrupção A forma d cm o Corregedor inicia diálogo c o Diabo aproxima-se da forma cm o Fidalgo tb o fez O Corregedor usa mt o Latim pq:-é uma língua mt usada em direito O Diabo responde-lhe em Latim Macarrónico pq:-era p ridicularizar a linguagem utilizada na justiça

Page 8: O Auto da barca do inferno

-p mostrar q essa linguagem n servia d nd-poderiam sbr flr bem Latim mas n sabiam aplicar as leis O Corregedor pgta “Há’ qui meirinho do mar?” pq:-ele estava habituado a ser servido O Corregedor pgta se o poder do barqueiro infernal é maior do que o do próprio Rei pq:-ele na Terra tinha um gd poder-n admitia q mandassem nele Acusações do Procurador:-n tem tempo de se confesssarO Diabo acusa o Corregedor de:-ter aceitado subornos (ser corrupto)-ter aceitado subornos até de Judeus (mt mal vistos naquele tp)-confessou-se mas mentiu Defesas:-era a sua mulher q aceitava os subornos Acho q o argumento usado de defesa do réu foi:-errado-o Diabo saberia d td-ele n deveria estar a mentir-n devia estar a acusar a sua mulher p depois tb ela ser condenada “Irês ao lago dos danados / e verês os escrivães / coma estão tão prosperados” quer dzr q:-o Corregedor, qd for p o Inferno, vai encontrar os seus colegas (Homens ligados à justiça) Gil Vicente julgou em simultâneo o Corregedor e o Procurador pq:-ambos passavam informação -ambos faziam parte da justiça(havia cumplicidd entre a justiça e os assuntos do Rei, ambos eram corruptos) A confissão p eles:-n era importante: só se confessavam em situações de risco e n diziam a vdd Qd o Corregedor e o Procurador se aproximam do Anjo, ele:-reage mal-fica irritado-manda-lhes uma praga: atitude nada normal do Anjo O Parvo acusa-os de: -roubar coelhos e perdizes-profanar nos campanairos: levavam a religião de uma forma superficial Desenlace:-Inferno No Inferno o Corregedor dialoga com Brízida Vaz pq:-já se conheceriam da vd terrena  

Page 9: O Auto da barca do inferno

Cena Dos Quatro Cavaleiros Símbolos Cénicos:-hábito da ordem de Cristo-espadas Pertenciam:-aos cruzados Defesas:-dizem q morreram a lutar contra os mouros em nome de Cristo Qd chegam ao cais chegam a cantar. Essa cantiga mostra:-aos mortais q esta vd é uma passagem e q terão de passar sp naquele cais onde serão julgados Os destinatários desta mensagem são:-os mortais-os Homens pecadores Nessa cantiga está contida a moralidd da peça pq:-fala da transitoriadd da vd -fala da inavitabilidd do destino final-fala do destino final q está de acordo c akilo q foi feito na vida Terrena Os cavaleiros n foram acusados pelo Diabo pq:-merecem entrar na barca do Anjo-morreram a lutar pela fé cristã, contra os infieís, o q os livrou d tds os pecados-esta cena revela a mentalidd medieval da apologia do espírito da cruzada 

Perfil literário Gil Vicente foi sem dúvida um homem que viveu um conflito interno, por conta da transição da idade Média para a Idade Moderna. Isso quer dizer que foi um homem ligado ao medievalismo e ao mesmo tempo ao humanismo, ou seja, um homem que pensa em Deus mais exalta o homem livre.

O Autor critica em sua obra, de forma impiedosa, toda a sociedade de seu tempo, desde os membros das mais altas classes sociais até os das mais baixas. Contudo as personagens por ele criadas não se sobressaem como indivíduos. São sobretudo tipos que ilustram a sociedade da época, com suas aspirações, seus vícios e seus dramas (tipo é o nome dado aos personagens que apresentam características gerais de uma determinada classe social). Esses tipos utilizados por Gil Vicente raramente aparecem identificados pelo nome. Quase sempre, são designados pela ocupação que exercem ou por algum outro traço social (sapateiro, onzeneiro, ama, clérico, frade, bispo, alcoviteira etc.). Ainda com relação aos personagens pode-se dizer que eles são simbólicos, ou seja, simbolizam vários comportamentos humanos.

Os membros da Igreja são alvo constante da crítica vicentina. É importante observar, no entanto, que o espírito religioso presente na formação do autor, jamais critica as instituições, os dogmas ou hierarquias da religião, e sim os indivíduos que as corrompem.Acreditando na função moralizadora do teatro, colocou em cenas fatos e situações que

Page 10: O Auto da barca do inferno

revelam a degradação dos costumes, a imoralidade dos frades, a corrupção no seio da família, a imperícia dos médicos, as práticas de feitiçaria, o abandono do campo para se entregar às aventuras do mar.

A linguagem é o veículo que Gil melhor explora para conseguir efeitos cômicos ou poéticos. Escritas sempre em versos, as peças incorporam trocadilhos, ditos populares e expressões típicas de cada classe social.A estrutura cênica do teatro vicentino apresenta enredos muito simples. Provavelmente as peças do teatrólogo eram encenadas no salão de festas do castelo real.O teatro de Gil Vicente não segue a lei das três unidades básicas do teatro clássico (Grego e Romano) ação, tempo, espaço.A ideologia das obras vicentinas apresentam sempre o confronto entre a idade Média e o Renascimento ou Medievalismo (Teocentrismo versus antropocentrismo).

As obras de Gil Vicente podem ser divididas em três fases distintas:1ª fase (1502/1508)- Juan del Encima- Temas Religiosos

2ª fase (1508/1515) - Problemas sociais Decorrentes da expansão marítima Destacando:

- "O Velho da Horta" (obra de cunho hedonta);- "Auto da Índia".

3ª fase (1516/1536) - Maturidade artística- "Farsa de Inês Pereira", que tem como tema é a educação feminina;- "Trilogia das Barcas", uma critica social e religiosa.

A obra teatral de Gil Vicente pode ser didaticamente dividida em dois blocos:

Autos: peças teatrais de assunto religioso ou profano; sério ou cômico.Os autos tinham a finalidade de divertir, de moralizar ou de difundir a fé cristã.Os principais autos vicentinos são: Monólogo do Vaqueiro; Auto da Alma; Trilogia das Barcas (compreendendo: Auto da Barca do Inferno; Auto da Barca da Glória, Auto da Barca do purgatório); Auto da Feira, Auto da Índia e Auto da Mofina Mendes.

Farsas: são peças cômicas de um só ato, com enredo curto e poucas personagens, extraídas do cotidiano.Destacam-se Farsa do Velho da Horta, Farsa de Inês Pereira e Quem tem Farelos?

A obra vicentina completa contém aproximadamente 44 peças (17 escritas em português, 11 em castelhano e 16 bilingües).

Análise da obra

Escrita em 1517, durante a transição entre Idade Média e Renascimento, o Auto da Barca do Inferno, é uma das obras mais representativas do teatro vicentino. Como em tantas outras peças, nesta o autor aproveita a temática religiosa como pretexto para a crítica de costumes.

É uma das peças mais famosas do dramaturgo. Segundo a edição original, foi composto para contemplação da sereníssima e muito católica rainha Lianor, nossa senhora, e representado por seu

Page 11: O Auto da barca do inferno

mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei Manuel, primeiro de Portugal deste nome.

Gil Vicente, ao apresentar seu Auto da Barca do Inferno, utiliza a expressão "auto de moralidade", com a qual os historiadores da literatura designam algumas produções do final da Idade Média em que os personagens (alegóricos) personificam exclusiva ou predominantemente idéias abstratas dispostas entre o Bem e o Mal. Pouco tempo antes, a palavra francesa moralité era empregada para designar obras poéticas de caráter didático-moral, tal como, a nosso ver, o termo deve ser entendido na obra.

Em seguida, o escritor julga necessário declarar o argumento utilizado para compor a trama. As almas, após se libertarem de seus corpos terrestres, dirigem-se a um braço de mar onde dois barcos as esperam: um deles, conduzido por um Anjo, levará as almas ao Paraíso e outro, tripulado pelo Diabo e seu Companheiro, dirige-se ao Inferno. E de se supor que o porto em que estão as barcas seja o Purgatório.

Primeira das três "barcas" escritas por Gil Vicente, a do Inferno tem como personagens almas de representantes das variadas classes sociais e de algumas atividades diversas, além de quatro cavaleiros cruzados. Cada personagem é julgada e condenada ao seu destino, embarcando em companhia do Diabo ou do Anjo.

Foi escrita em versos rimados, fundindo poesia e teatro, fazendo com que o texto, cheio de ironia, trocadilhos, metáforas e ritmo, fluísse naturalmente. Faz parte da trilogia dos Autos da Barca (do Inferno, do Purgatório, do Céu).

Temática

Sátira social - Esta obra tem dado margem a leituras muito resumidas, que grosseiramente nela só vêem uma farsa. Mas se Gil Vicente fez a análise impiedosa das "doenças" que corroíam a sociedade em que viveu, não foi para ficar por aí, como nas farsas, mas para propor um caminho decidido de transformação.

Esta obra é normalmente classificada como "auto de moralidade", mas muitas vezes aproximando-se da farsa. Esta obra retrata um pouco do que era a sociedade portuguesa do século XVI, e apesar de este auto se designar como o Auto da Barca do Inferno, este é mais o auto do julgamento das almas. Talvez tenha este nome pois quase todas as personagens têm como destino a Barca do Inferno.

Na peça, é clara a inteção do autor em expor de forma satírica e despojada os grandes vícios humanos. A forma encontrada para isso reside nos personagens, ou melhor, nas almas que se apresentam no porto em busca do transporte para o outro lado, dentro da visão católica e platônica de céu e inferno.

Ela proporciona uma amostra do que era a sociedade lisboeta das décadas iniciais do século XVI, embora alguns dos assuntos discorridos sejam pertinentes à atualidade.

Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, é um auto onde o barqueiro do inferno e o do céu esperam à margem os condenados e os agraciados. Os que morrem chegam e são acusados pelo Diabo e pelo Anjo, mas apenas o Anjo absolve.

Estilo

Obra escrita em versos heptassílabos, em tom coloquial e com intenção marcadamente doutrinária, fundindo em algumas passagens o português, o latim e o espanhol. Cada personagem apresenta, através da fala, traços que denunciam sua condição social.

Estrutura

Como já citado, a peça se caracteriza como um auto, designação genérica para peças cuja finalidade é tanto divertir quanto instruir; seus temas, podendo ser religiosos ou profanos, sérios ou cômicos, devem, no entanto, guardar um profundo sentimento moralizador. O auto não tem uma estrutura definida, não estando dividido em atos ou cenas, é uma peça teatral em um único ato, subdividido em cenas marcadas pelos diálogos que o Anjo ou o Diabo travam com os personagens.

Cenário

Um ancoradouro, no qual estão atracadas duas barcas. Todos os mortos, necessariamente, têm de passar por esta paragem, sendo julgados e condenados ou à barca da Glória ou à barca do Inferno.

A peça tem seu início quando as almas chegam subitamente a um rio (ou braço de mar) que, forçosamente, todos os mortos terão de atravessar, não sem antes sofrerem um julgamento.

Page 12: O Auto da barca do inferno

Ao que tudo indica, o cenário da peça era rudimentar, possivelmente um salão (quarto) e alguns poucos móveis e panos. A mímica tem lugar de destaque, servindo de marcação e de direcionamento da ação.

Personagens

Diabo: condutor das almas ao Inferno, conhece muito bem cada um dos personagens que lhe cai às mãos; é zombeteiro, irônico e bom argumentador. Gil Vicente não pinta o Diabo como responsável pelos fracassos e males humanos; o Diabo é um juiz, que exibe às claras o lado mais recôndito dos personagens, penetrando nas consciências humamas e revelando o que cada um deles procura esconder.

Fidalgo: representa a nobreza, e chega com um pajem, tem uma roupagem exagerada e uma cadeira de espaldar, elementos característicos de seu status social. O diabo alega que o Fidalgo o acompanhará por ter tido uma vida de luxúria e de pecados, sendo portanto, condenado pela vida pecaminosa, em que a luxúria, a tirania e a falta de modéstia pesam como graves defeitos. Ao Fidalgo, nada lhe valem as compras de indulgências, ou orações encomendadas. A figura do Fidalgo, arrogante e orgulhoso, permite a crítica vicentina à nobreza, e é centrada nos dois principais defeitos humanos: o orgulho e a prática da tirania.

Onzeneiro: o segundo personagem a ser inquirido é o Onzeneiro, usurário que ao chegar à barca do Diabo descobre que seu rico dinheiro ficara em terra. Utilizando o pretexto de ir buscar o dinheiro, tenta convencer o Diabo a deixá-lo retornar, demonstrando seu apreço às coisas mundanas. O Diabo não aceita que o Onzeneiro volte à terra para reaver suas riquezas, condenando-o ao fogo do Inferno.

Parvo: um dos poucos a não ser condenado ao Inferno. O Parvo chega desprovido de tudo, é simples, sem malícia e consegue driblar o Diabo, e até injuriá-lo. É uma alma pura, cujos valores são legítimos e sinceros. Ao passar pela barca do Anjo, diz ser ninguém. Então, por sua humildade e por seus verdadeiros valores, é conduzido ao Paraíso. Em várias passagens da peça, o Parvo ironiza a pretensão de outros personagens, que se querem passar por "inocentes" diante do Diabo.

Sapateiro: representante dos mestres de ofício, que chega à embarcação do Diabo carregando seu instrumento de trabalho, o avental e as formas. É um desonesto explorador do povo. Habituado a ludibriar os homens, procura enganar o Diabo, que espertamente não se deixa levar por seus artifícios e o condena.

Frade: como todos os representantes do clero, focalizados por Gil Vicente, o Frade é alegre, cantante, bom dançarino e mau-caráter. Chega acompanhado de sua amante, e acredita que por ter rezado e estar a serviço da fé, deveria ser perdoado de seus pecados mundanos. Dá uma lição de esgrima ao Diabo (que finge não saber manejar uma arma), o que prova a culpa do espadachim, já que frades não lidam com armas. E contra suas expectativas, é condenado ao fogo do inferno. Deve-se dosar que Gil Vicente desfecha ardorosa crítica ao clero, acreditando-o incapaz de pregar as três coisas mais simples: a paz, a verdade e a fé.

Brísida Vaz: agenciadora de meretrizes, misto de alcoviteira e feiticeira. Por sua devassidão e falta de escrúpulos, é condenada. É conhecida de outros personagens que utilizaram em vida seus serviços. Inescrupulosa, traiçoeira, cheia de ardis, não consegue fugir à condenação. Personagem que faz o público leitor conhecer a qualidade moral de outros personagens que com ela se relacionaram.

Judeu: entra acompanhado de seu bode. Detestado por todos, até mesmo pelo Diabo que quase se recusa a levá-lo, é igualmente condenado, inclusive por não seguir os preceitos religiosos da fé cristã. Bom lembrar que, durante o reinado de D. Manuel, houve uma perseguição aos judeus visando à sua expulsão do território português; alguns se foram, carregando grandes fortunas; outros, converteram-se ao cristianismo, sendo tachados cristãos novos.

Corregedor e o Procurador: ambos representantes do judiciário: juiz e advogado. Deveriam ser exemplos de bom comportamento e acabaram sendo condenados justamente por serem tão imorais quanto os mais imorais dos mortais, manipulando a justiça de acordo com as propinas recebidas, pois faziam da lei sua fonte de recursos ilícitos e de manipulação de sentenças. A índole moralizadora do teatro vicentino fica bastante patente com mais essa condenação, envolvendo a Justiça humana, na figura dos representantes do Direito.

Enforcado: chega ao batel acreditando ter o perdão garantido por seu julgamento terreno e posterior condenação à morte. Isso teriam lhe redimido dos pecados, mas é condenado também a ir para o Inferno.

Cavaleiros Cruzados: finalmente chegam à barca quatro cavaleiros cruzados, que lutam pelo triunfo da

Page 13: O Auto da barca do inferno

fé cristã e morrem em poder dos mouros. Obviamente, com uma ficha impecável, serão todos julgados, perdoados e conduzidos à Barca da Glória.

Cada um dos personagens focalizados adentram a morte com seus instrumentos terrenos, são venais, inconscientes e por causa de seus pecados não atingem a Glória, a salvação eterna. Destaque deve ser feito à figura do Diabo, personagem vigorosa que, como vimos, conhece a arte de persuadir, é ágil no ataque, zomba, retruca, argumenta e penetra nas consciências humanas. Ao Diabo cabe denunciar os vícios e as fraquezas, sendo o personagem mais importante na crítica que Gil Vicente tece de sua época.

Surgem ao longo do auto três tipos de cômico, o de caráter, o de situação e o de linguagem. O cômico de caráter é aquele que é demonstrado pela personalidade da personagem Parvo, que devido à sua pobreza de espírito não mede suas palavras, não podendo ser responsabilizado pelos seus erros. O cômico de situação é o criado à volta de certa situação, como o Fidalgo, em que é zombado pelo Diabo, e o seu orgulho pisado. Por fim, o cômico de linguagem é aquele que é proferido por certa personagem, como as falas do Diabo.

Enredo

A peça inicia-se num porto imaginário, onde se encontram as duas barcas, a Barca do Inferno, cuja tripulação é o Diabo e o seu Companheiro, e a Barca da Glória, tendo como tripulação um Anjo na proa.

A obra apresenta um conjunto de personagens, as almas dos mortos, que, após o traspasse, deparam-se com um braço de mar onde barcas as aguardam.

O primeiro a embarcar é um Fidalgo, que chega acompanhado de um Pajem, que leva a calda da roupa do Fidalgo e também uma cadeira, para seu encosto.

O Diabo mal viu o Fidalgo e já lhe falou para entrar em sua barca, pois ele iria levar mais almas e mostrar que era bom navegante. Antes disso, o companheiro do Diabo, começou a preparar a barca para que as almas dos que viessem, pudessem entrar.

Quando tudo estava pronto, o Fidalgo dirigiu a palavra ao Diabo, perguntando para onde aquela barca iria. O Diabo respondeu que iria para o Inferno, então o Fidalgo resolveu ser sarcástico e falou que as roupas do Diabo pareciam de uma mulher e que sua barca era horrível. O Diabo não gostou da provocação e disse que aquela barca com certeza era ideal para ele, devido a sua impertinência. O Fidalgo espantado, diz ao Diabo que tem quem reze por ele, mas acaba recebendo a notícia de que seu pai também havia embarcado rumo ao Inferno.

O Fidalgo tenta achar outra barca, que não siga ao Inferno, então resolve dirigir-se a barca do céu. Ele resolve perguntar ao Anjo, aonde sua barca iria e se ele poderia embarcar nela, mas é impedido de entrar, devido a sua tirania, pois o Anjo disse que aquela barca era muito pequena para ele, não teria espaço para o seu mau caráter.

O Diabo começa a fazer propaganda de sua barca, dizendo que ela era a ideal, a melhor. Assim, O Fidalgo desconsolado, resolve embarcar na barca para o Inferno. Mas antes, o Fidalgo queria tornar a ver sua amada, pois ele disse que ela se mataria por ele, mas o Diabo falou que a mulher que ele tanto amava, estava apenas enganando-o, que tudo que ela lhe escrevia era mentira. E assim, o Diabo insistia cada vez mais para que o Fidalgo esquecesse sua mulher e que embarcasse logo, pois ainda viria mais gente.

O Diabo manda o Pajem, que estava junto com o Fidalgo, ir embora, pois ainda não era sua hora. Logo a seguir, veio um onzeneiro que questionou ao Diabo, para onde ele iria conduzir aquela barca. O Diabo querendo conduzi-lo à sua barca, perguntou por que ele tinha demorado tanto, e o Onzeneiro afirmou que havia sido devido ao dinheiro que ele queria ganhar, mas que foi por causa dele que ele havia morrido e que não sobrou nem um pouco para pagar ao barqueiro.

O Onzeneiro não quis entrar na barca do Diabo, então resolveu dirigir-se à barca do céu. Chegando até a barca divina, ele pergunta ao Anjo se ele poderia embarcar, mas o Anjo afirmou que por ele, o Onzeneiro não entraria em sua barca, por ter roubado muito e por ser ganancioso. Então, negada a sua entrada na barca divina, o Onzeneiro acaba entrando na barca do Inferno.

Mais uma alma se aproximou, desta vez era um Parvo, um homem tolo que perguntou se aquela barca era a barca dos tolos. O Diabo afirmou que era e que ele deveria entrar, mas o Parvo ficou reclamando que morreu na hora errada e o Diabo perguntou do que ele havia morrido, e o Parvo sendo muito sutil respondeu que havia sido de diarréia.

O Parvo ao saber aonde aquela barca iria, começou a insultar o Diabo e foi tentar embarcar na barca

Page 14: O Auto da barca do inferno

divina. O Anjo falou que se ele quisesse, poderia entrar, pois ele não havia feito nada de mal em sua vida, mas disse para esperar para ver se tinha mais alguém que merecia entrar na barca divina.

Vem um sapateiro com seu avental, carregando algumas fôrmas e chegando ao batel do inferno, chama o Diabo. Ele fica espantado com a maneira na qual o sapateiro vem carregado, cheio de pecados e de suas fôrmas.

O sapateiro tenta enrolar o Diabo, dizendo que ali ele não entraria pois ele sempre se confessava, mas o Diabo joga toda a verdade na sua cara e o manda entrar logo em sua barca. O sapateiro tenta lhe dizer todas as feitorias que havia realizado, na tentativa de conseguir entrar no batel do céu, mas o Anjo lhe diz que a "carga" que ele trazia não entraria em sua barca e que o batel do Inferno era perfeito para ele. Vendo que nào conseguiu o que queria, o sapateiro se dirige à barca do Inferno e ordena que ela saia logo.

Chegou um Frade, junto de uma moça, carregando em uma mão um pequeno escudo e uma espada, na outra mão, um capacete debaixo do capuz. Começou a cantarolar uma música e a dançar.

Ele falou ao Diabo que era da corte, mas o próprio perguntou-lhe como ele sabia dançar o Tordião, já que era da corte. O Diabo perguntou se a moça que ele trazia era dele e se no convento não censuravam tal tipo de coisa. O Frade por sua vez diz que todos no convento são tão pecadores como ele e aproveitou para perguntar para onde aquela barca iria. Ao saber para onde iria, ficou inconformado e tentou entender porque ele teria que ir ao Inferno e não ao céu, já que era um frade. O Diabo lhe responde que foi devido ao seu comportamento durante a vida, por ter tido várias mulheres e por ter sido muito aventureiro. Assim, o Frade desafia o Diabo, mas este não faz nada e apenas observa o que o Frade faz.

O Frade resolve puxar a moça para irem ao batel do Céu, mas lá se encontraram com o Parvo, que pergunta se ele havia roubado aquela espada que ele carregava. O Frade completamente arrasado, finalmente se convence que seu destino é o inferno, pois até mesmo o Parvo zombou de sua vida e de seus pecados. Dirigiu-se a barca do Inferno, resolve embarcar junto com a moça que o acompanhava.

Assim que o Frade embarcou, veio a alcoviteira Brísida Vaz, chamando o Diabo para saber em qual barca ela haveria de entrar. O companheiro do Diabo lhe disse que ela não entraria na barca sem Joana de Valdês.

Ela foi relatando o que estava trazendo para a barca e afirmava que iria para o Paraíso, mas o Diabo dizia que sua barca era o seu lugar, que ela teria que ficar ali.

Brísida vai implorar de joelhos ao Anjo, que esse a deixe entrar em sua barca, pois ela não queria arder no fogo do inferno, dizendo que tinha o mesmo mérito de um apóstolo para entrar em sua barca. O Anjo, já sem paciência, mandou-lhe que fosse embora e que não lhe importunasse mais.

Triste por não poder ir para o Paraíso, Brísida vai caminhando em direção ao batel do Inferno e resolve entrar, já que era o único lugar para onde ela poderia ir.

Logo após o embarque de Brísida Vaz, veio um Judeu, carregando um bode, na qual fazia parte dos rituais de sacrifício da religião hebraica. Chegando ao batel dos danados, chama o marinheiro, que por acaso era o Diabo; perguntando a quem pertencia aquela barca. O Diabo questiona se o bode também iria junto com o Judeu, esse por sua vez afirma que sim, mas o Diabo o impede pois ele não levava para o Inferno, os caprinos.

O Judeu resolve pagar alguns tostões ao Diabo, para que ele permita a entrada do bode; disse que por meio do semifará ele seria pago. Vendo que não consegue, ele xinga o Diabo e roga-lhe várias pragas, apenas por não fazer a sua vontade.

O Parvo, para zombar o Judeu, perguntou se ele havia roubado aquela cabra, e aproveitou para xingá-lo. Afirmou também que ele havia urinado na igreja de São Gião e que teria comido a carne da panela do Nosso Senhor. Vendo que o Judeu era uma péssima pessoa, o Diabo ordenou-lhe logo que entrasse em sua barca, para não perderem tanto tempo com uma discussão tola.

Depois que o Judeu embarcou, veio um Corregedor, carregado de feitos, que quando chegou ao batel do Inferno, com sua vara na mão, chamou o barqueiro. O barqueiro ao vê-lo, fica feliz, pois esta seria mais uma alma que ele conduziria para o fogo ardente do Inferno. O Corregedor era um amante da boa mesa e sua carga era qualificada como "gentil", pois tratava-se de processos relativos a crimes, que era um conteúdo muito agradável para o Diabo. Ele era ideal para entrar na barca do Inferno, pois durante sua vida, ele era um juíz corrupto e que aceitava perdizes como suborno.

O Diabo começa a falar em latim com o Corregedor, pois era usado pela Justiça e pela Igreja, além de ser

Page 15: O Auto da barca do inferno

a língua internacional da cultura. Ele ordena ao seu companheiro que este apronte logo a barca e que se prepare para remar rumo ao Inferno.

Os dois começam a discutir em latim, pois o Corregedor por ser achar superior ao Diabo, pensa que só porque era um juíz prestigiado, não teria que entrar em sua barca. O Diabo vai perguntando sobre todas as suas falcatruas, até citando sua mulher no meio, que aceitava suborno dos judeus, mas o Corregedor garantiu que com isso ele não estava envolvido, que estes eram os lucros de sua mulher, e não dele.

Enquanto o Corregedor estava nesta conversa com o Arrais do Inferno, chegou um Procurador, carregando vários livros. Resolve falar com o Corregedor, espantado por encontrá-lo aí, questiona para onde ele iria, mas o Diabo responde pelo Corregedor e diz que iria para o Inferno, mas que também era bom ele ir entrando logo, para retirar a água que estava entrando na barca.

O Corregedor e o Procurador não quiseram entrar na barca, pois eles tinham fé em Deus e também porque havia outra barca em melhores condições, que os conduziria para um lugar mais ameno. Quando chegam ao batel divino, o Anjo e o Parvo zombam de suas ações, que eles não tinham o direito de entrar ali, pois tudo que eles haviam feito de ruim, estava sendo pago agora, com a ida de suas almas para o Inferno. Desistindo de ir para o paraíso, os dois ao entrarem no batel dos condenados, encontram Brísida Vaz. Ela por sua vez, se sentiu aliviada por estarem ali, pois enquanto estava viva foi muito castigada pela Justiça.

Veio um homem que morreu enforcado e ao chegar ao batel dos mal-aventurados, começou a conversar com o Diabo. Ele tentou explicar porque ele não iria no batel do Inferno, pois que ele havia sido perdoado por Deus ao ser condenado à forca e morrer, mas isso não passou de uma mentira, pois ele teria que morrer e arder no fogo do Inferno devido aos seus erros. Desistindo de tentar fugir de seu futuro, ele acaba obedecendo as ordens do Diabo para ajudar a empurrar a barca e remar, pois o horário da partida estava próximo.

Depois disso, vieram quatro Cavaleiros cantando, cada um trazia a Cruz de Cristo, pelo Senhor e também para demonstrar a sua fé, pois eles haviam lutado em uma Cruzada contra os Mulçumanos, no norte da África. Absolvidos da culpa e pena, por privilégio dos que morreram em guerra, foram cantarolando felizes indo em direção ao batel do Céu.

Ao passarem na frente do batel do Inferno, cantando, segurando suas espadas e escudos, o Diabo não resiste e pergunta-lhes porque não pararam para questionar para onde sua barca iria. Convidando-os para entrar, o Diabo recebe uma resposta não muito agradável de um dos Cavaleiros, pois esse disse que quem morresse por Jesus Cristo, não entraria em tal barca.

Tornaram a prosseguir, cantarolando, em direção à barca da Glória, e quando chegaram nela, o Anjo os recebeu muito bem e disse que estava à espera deles por muito tempo. Sendo assim, os quatro Cavaleiros embarcaram e tomaram rumo em direção ao Paraíso, já que morreram por Deus e porque eram livres de qualquer pecado.

Auto da Barca do Inferno é uma complexa alegoria dramática de Gil Vicente, representada pela primeira vez em 1517. É a primeira parte da chamada trilogia das Barcas (sendo que a segunda e a terceira são respectivamente o Auto da Barca do Purgatório e o Auto da Barca da Glória).

Os especialistas classificam-na como moralidade, mesmo que muitas vezes se aproxime da farsa. Ela proporciona uma amostra do que era a sociedade lisboeta das décadas iniciais do século XVI, embora alguns dos assuntos que cobre sejam pertinentes na atualidade.

Diz-se "Barca do Inferno", porque quase todos os candidatos às duas barcas em cena – a do Inferno, com o seu Diabo, e a da Glória, com o Anjo – seguem na primeira. De facto, contudo, ela é muito mais o auto do julgamento das almas.

EstruturaO auto não tem uma estrutura definida, não estando dividido em actos ou cenas, por isso para facilitar a sua leitura divide-se o auto em cenas à maneira clássica, de cada vez que entra uma nova personagem.

Resumo da ObraA peça inicia-se num porto imaginário, onde se encontram as duas barcas, a Barca do Inferno, cuja tripulação é o Diabo e o seu Companheiro, e a Barca da Glória, tendo como tripulação um Anjo na proa.

Page 16: O Auto da barca do inferno

Apresentam-se a julgamento as seguintes personagens:

um Fidalgo, D. Anrique; um Onzeneiro (homem que vivia de emprestar dinheiro a juros muito elevados, um agiota); um Sapateiro de nome Joanantão, que parece ser abastado, talvez dono de oficina; Joane, um Parvo, tolo; um Frade cortesão, Frei Babriel, com a sua "dama" Florença; Brísida Vaz, uma alcoviteira (ou proxeneta); um Judeu usurário chamado Semifará; um Corregedor e um Procurador, altos funcionários da Justiça; um Enforcado; quatro Cavaleiros que morreram a combater pela fé. Cada personagem discute com o Diabo e com o Anjo para qual das barcas entrará. No final, só os Quatro Cavaleiros e o Parvo entram na Barca da Glória (embora este último permaneça toda a ação no cais, numa espécie de Purgatório), todos os outros rumam ao Inferno. O Parvo fica no cais, o que nos transmite a ideia de que era uma pessoa bastante simples e humilde, mas que havia pecado. O principal objectivo pelo qual o fica no cais é para animar a cena e ajudar o Anjo a julgar as restantes personagens, é como que uma 2ª voz de Gil Vicente.

Análise

Sátira SocialEsta obra tem dado margem a leituras muito redutoras, que grosseiramente só nela vêem uma farsa. Mas se Gil Vicente fez a análise impiedosa das moléstias que corroíam a sociedade em que viveu, não foi para se ficar aí, como nas farsas, mas para propor um caminho decidido de transformação em relação ao presente.

Normalmente classificada como uma moralidade, muitas vezes ela aproxima-se da farsa; o que indubitavelmente fornece ao leitor/espectador é uma visão, ainda que parcelar, do que era a sociedade portuguesa do século XVI. Apesar de se intitular Auto da Barca do Inferno, ela é mais o auto do julgamento das almas.

PersonagensAs personagens desta obra são divididas em dois grupos: as personagens alegóricas e as personagens – tipo. No primeiro grupo inserem-se o Anjo e o Diabo, representando respectivamente o Bem e o Mal, o Céu e o Inferno. Ao longo de toda a obra estas personagens são como que os «juízes» do julgamento das almas, tendo em conta os seus pecados e vida terrena. No segundo grupo inserem-se todas as restantes personagens do Auto, nomeadamente o Fidalgo, o Onzeneiro, o Sapateiro, o Parvo (Joane), o Frade, a Alcoviteira, o Judeu, o Corregedor e o Procurador e os Quatro Cavaleiros. Todos mantêm as suas características terrestres, o que as individualiza visual e linguisticamente, sendo quase sempre estas características sinal de corrupção.

Fazendo uma análise das personagens, cada uma representa uma classe social, ou uma determinada profissão ou mesmo um credo. À medida que estas personagens vão surgindo vemos que todas trazem elementos simbólicos, que representam a sua vida terrena e demonstram que não têm qualquer arrependimento dos seus pecados. Os elementos simbólicos de cada personagem são:

Fidalgo: manto e pajem que transporta uma cadeira. Estes elementos simbolizam a opressão dos mais fracos, a tirania e a presunção.

Onzeneiro: bolsão. Este elemento simboliza o apego ao dinheiro, a ambição e a ganância.

Sapateiro: avental e moldes. Estes elementos simbolizam a exploração interesseira, da classe burguesa comercial.

Parvo: representa simbolicamente, os menos afortunados de inteligencia.

Frade: Moça e espada. Estes elementos representam a vida mundana do Clero, e a dissolução dos seus costumes.

Alcoviteira: moças e os cofres. Estes elementos representam a exploração interesseira dos outros, para seu próprio lucro.

Page 17: O Auto da barca do inferno

Judeu: bode. Este elemento simboliza a religião judaica.

Corregedor e Procurador: processos, vara da Justiça e livros. Estes elementos simbolizam a magistratura.

Quatro Cavaleiros: cruz de cristo simboliza a fé dos cavaleiros pela religião católica.

HumorSurgem ao longo do auto três tipos de cómico: o de carácter, o de situação e o de linguagem. O cômico de carácter é aquele que é demonstrado pela personalidade da personagem, de que é exemplo o Parvo, que devido à sua pobreza de espírito não mede as suas palavras, não podendo ser responsabilizado pelos seus erros. O cómico de situação é o criado à volta de certa situação, de que é bom exemplo a cena do Fidalgo, em que este é gozado pelo Diabo, e o seu orgulho é pisado. Por fim, o cómico de linguagem é aquele que é proferido por certa personagem, de que são bons exemplos as falas do Diabo.

Teatro de Gil Vicente

      Mentalidade medieval - ambientado no início da Era Moderna, mas ainda reflete o pensamento medieval.

      Características:

      1) teatro alegórico - as barcas são alegorias da morte;

Page 18: O Auto da barca do inferno

      2) teatro de tipos - classe social, profissão, sexo, idade. Exemplos do Auto da Barca do Inferno:

Fidalgo Onzeneiro Parvo Procurador/ Corregedor

3) Teatros de quadros: sucessão de cenas, chegando a um ponto culminante e desfecho.

      4) Rupturas da linearidade do tempo e despreocupação com a verossimilhança: na farsa O Velho da Horta - pela manhã a mocinha procura o velho para comprar os temperos, no final do diálogo, o criado vem avisar-lhe que já é noite.

      5) Teatro cômico e satírico. A maioria das peças são comédias de costumes, seguindo o lema latino: “Pelo riso corrigem-se os costumes”. Personagens caricaturais. Sua linguagem faz cócegas na platéia.

      Gil Vicente

Com uma biografia das mais controvertidas, poucos fatos são tidos como certos na vida de Gil Vicente. Nascido por volta de 1465. Aproveitou-se do prestígio que a função de organizador das festas da corte lhe conferia para, em 1502, encenar sua primeira peça, o Monólogo do vaqueiro ou Auto da visitação, na câmara da rainha D. Maria, em comemoração ao nascimento de D. João III. Durante trinta e quatro anos Gil Vicente fez representar dezenas de peças. Em 1562, seu filho, Luís Vicente, publicou a Compilagem de todalas obras de Gil Vicente.

      Características do teatro vicentino

      Escrita em 1517, Auto da Barca do Inferno é das obras mais representativas do teatro vicentino. Como em tantass outras peças, nesta o autor aproveita a temática religiosa como pretexto para a crítica de costumes. Num braço de mar estão ancoradas duas barcas. A primeira, capitaneada pelo diabo, faz a travessia para o inferno; a segunda, chefiada por um anjo, vai paa o céu. Uma a uma vão chegando as almas dos mortos - um fidalgo, um onzeneiro (agiota), um parvo (bobo), um sapateiro, um frade, levando sua amante, uma alcoviteira, um judeu, um corregedor (juiz), um procurador (advogado do Estado), um enforcado e quatro Cavaleiros de Cristo (cruzados) que morreram em poder dos mouros. Todos tentam evitar a barca do diabo. Mas apenas o parvo e os cruzados conseguem embarcar para o céu.

      Ambientado no início da Era Moderna, o teatro vicentino ainda reflete o pensamento medival por sua moral religiosa e sua concepção teocêntrica do mundo.

      No Auto da Barca do Inferno, por exemplo, ao ver-se recusado pelo anjo, o fidalgo assim se lamenta por ser dissipado sua vida sem acreditar no castigo do inferno.

      Ao inferno todavia!

      Inferno há aí para mim?!

      Ó triste! Enquanto vivi

      nunca cri que o aí havia.

      Tive que era fantasia

      folgava ser adorado;

      confiei em meu estado

Page 19: O Auto da barca do inferno

      e não vi que me perdia.

      2. Teatro popular

      Apesar dos elementos ideológicos inovadores que suas sátiras sociais contêm, Gil Vicente não se deixou influenciar pelas novidades estéticas introduzidas pelo Renascimento. Sua obra é a síntese das tradições medievais e populares.

      “... o seu teatro não pode ser jamais entendido se analisado e concebido segundo os padrões de uam estética que não seja a estética do teatro popular”. (Segismundo Spina)”

      Vale então fazer uma breve análise da obra de Gil Vicente à luz da estética do teatro popular medieval.

      Teatro alegórico: rperesenação de idéias abstratas com personagens, situações e coisas concretas. O Auto da Barca do Inferno, por exemplo, é uma peça alegórica. O cais e as barcas são a alegoria da morte; a barca do inferno é alegoria da condenação da alma; a barca do céu, a da salvação.

      Teatro de tipos: as personagens de Gil Vicente são sempre típicas, isto é, não são indíduos singulares nem possuem traços psicológicos complexos; pelo contrário, apenas reúnem os caracteres mais marcantes de sua classe social, de sua profissão, de seu sexo, de sua idade.

      Teatro de quadros: em geral, as peças de Gil Vicente desenvolvem-se por uma sucessão de cenas relativamente independentes, sem formar propriamente um enredo, uma história que, depois de apresentada, se complica até um ponto culminante e um desfecho.

      No Auto da Barca do Inferno temos uma introdução em que aparecem o diabo e seu companheiro preparando a barca e anunciando a vigem; com a chegada do fidalgo, inicia-se o primeiro quadro, e os outros se sucedem sempre com a mesma estrutura: chegada da personagem, diálogo com o diabo, tentativa de embarque para o céu e, se a personagem é recusada pelo anjo, retorno à busca do inferno.

      Rupturas da linearidade do tempo e despreocupação com a verossimilhança: mesmo nas peças que possuem um enredo, a sucessão cronológica dos acontecimentos é freqüentemente inverossímil ou mesmo absurda.

      Na fasra O velho e a horta, um velho hortelão apaixona-se por uma mocinha, pela manhã, o procura para comprar temperos. Ao final do primeiro diálogo, um criado vem avisar-lhe que já é noite e que sua mulher o espera para jantar. Malsucedido em seus galanteios, o velho apaixonado contrata os serviços de uma alcoviteira, que lhe arranca dinheiro para comprar presentes e empreender a conquista. Numa de suas visitas, a alcoviteira é presa e açoitada. Desconsolado, o velho recebe a notícia do casmento da lmoça por quem se apaixonara. tudo isso aconece numa sucessão ininterrupta, marcada apenas pela entrada e saída de personagens, e a única marcação de tempo, como se viu, é inverossímil.

      Teatro cômico e satírico: as peças de Gil Vicente, em sua maioria, são comédias de costumes, seguindo o lema latino ridendo castigat mores (pelo riso corrigem-se os costumes). O dramaturgo lança mão de inúmeros recursos eficientes para provocar o riso: personagens caricaturais; situações absurdas; desencontros imprevistos e ridículos. Mas é sobretudo o poder de sua linguagem que faz cócegas na platéia.

      Observe o recurso à linguagem popular nos xingamentos do povo ao diabo (Auto da Barca do Inferno).

      Hiu! Hiu! Barca do cornudo,

      Pero Vinagre beiçudo

Page 20: O Auto da barca do inferno

      (............................................)

      Sapateiro da Candosa!

      Entrecosto de carrapato!

      Hiu! Hiu! Caga no sapato,

      filho da grande aleivosa!

      Tua mulher é tinhosa

      e há de parir um sapo

      chentado (=pregfado) no guardanapo!

      Neto da cagaminhosa!

      Furta-cebolas! Hiu! Hiu!

      ‘scomungado nas igrejas!

      Burrela, cornudo sejas!

História da Língua - Origem e Evolução da Língua Portuguesa. « voltar

1. As línguas românicas são aquelas que derivaram do latim.

Page 21: O Auto da barca do inferno

    Verdadeiro

    Falso

2. Os celtas (povo que habitava a Península Ibérica antes da chegada dos romanos) falavam diversas línguas, de que restam alguns vocábulos na toponímia.

    Verdadeiro

    Falso

3. O português derivou do latim clássico.

    Verdadeiro

    Falso

4. Os visigodos e suevos, que invadiram a Península Ibérica por volta do século V d. C., impuseram a sua língua ao povo vencido.

    Verdadeiro

    Falso

5. Os árabes deixaram-nos muitas palavras começadas por ch-.

    Verdadeiro

    Falso

6. A partir dos finais do século XII, na Galiza e no Norte de Portugal, nasce, a nível escrito, o galaico-português.

    Verdadeiro

    Falso

7. O latim foi usado como língua escrita, nos documentos jurídicos, pelo clero e pela nobreza, até ao século XII.

    Verdadeiro

    Falso

8. No século XV, D. Dinis deu um grande impulso à língua portuguesa, ordenando que, daí em diante, passassem a ser escritos em português todos os livros e documentos.

    Verdadeiro

Page 22: O Auto da barca do inferno

    Falso

9. A língua portuguesa enriqueceu imenso, nos séculos XV e XVI, pelo contacto dos navegadores portugueses com os povos nativos de África, Ásia e América.

    Verdadeiro

    Falso

10. Os estrangeirismos são vocábulos de outras línguas adoptadas e adaptadas à fonética da língua portuguesa.

    Verdadeiro

    Falso

História da Língua - Fenómenos Fonéticos. « voltar

1. Que nome damos às transformações de sons, quer vocálicos, quer consonânticos, operadas nos vocábulos através de uma lenta evolução?

Page 23: O Auto da barca do inferno

    

2. A que princípios obedecem as alterações fonéticas?

    

3. Quais são os quatro grupos de fenómenos fonéticos que existem?

    

4. Quais são os três fenómenos de queda?

    

5. Quais são os três fenómenos de adição?

    

6. Como se designa o fenómeno que consiste na mudança de um som dentro da sílaba ou palavra?

    

7. Que nome tem o fenómeno contrário à assimilação?

    

8. Qual é o fenómeno que consiste na passagem de um som oral a nasal, por influência de um som nasal que lhe é próximo?

    

9. Identifica o fenómeno fonético ocorrido na evolução de mi/mim.

    

10. Identifica o fenómeno fonético ocorrido na evolução de absente/ausente.

    

Evolução fonética « voltar

1. Indica o fenómeno fonético que consiste na queda de um fonema no início da palavra.

Page 24: O Auto da barca do inferno

    

2. Indica o fenómeno que explica a evolução fonética de "assi" para "assim".

    

3. 3. Indica o fenómeno fonético que explica a evolução de "benino" para "benigno".

    

4. Indica o fenómeno fonético que explica a evolução da palavra "despois" para "depois".

    

5. Qual o fenómeno fonético verificado na passagem de "inda" para "ainda".

    

6. "Vinrá" e "faze" são palavras que caíram em desuso. Como se designam estes vocábulos?

    

7. Indica o arcaísmo que deu origem ao pronome "mim".

    

8. "Per malícia nom erraste". Indica os arcaísmos presentes neste verso, pela ordem que aparecem na frase.

    

9. Explica a evolução fonética do seguinte signo linguístico: Lectum > lectu > leito.

    

10. Explica a evolução fonética do seguinte signo linguístico: fratem > frate > frade.

    

Questão 1 - Incorrecto. A resposta correcta era: verdadeiro.

Questão 2 - Incorrecto. A resposta correcta era: verdadeiro.

Page 25: O Auto da barca do inferno

Questão 3 - Incorrecto. A resposta correcta era: falso. O português derivou do latim vulgar.

Questão 4 - Incorrecto. A resposta correcta era: falso. Os visigodos e suevos aceitaram a língua do povo vencido, visto a sua cultura ser inferior à dos povos dominados.

Questão 5 - Incorrecto. A resposta correcta era: falso. Os árabes deixaram-nos muitas palavras começadas por al-.

Questão 6 - Incorrecto. A resposta correcta era: falso. O galaico-português nasce, a nível oral, na Galiza e no Norte de Portugal, em finais do século IX.

Questão 7 - Incorrecto. A resposta correcta era: verdadeiro.

Questão 8 - Incorrecto. A resposta correcta era: falso. Embora tal decisão tenha partido de D. Dinis, ela ocorreu sim no século XIII e nunca no século XV.

Questão 9 - Incorrecto. A resposta correcta era: verdadeiro.

Questão 10 - Incorrecto. A resposta correcta era: verdadeiro.

Questão 1 - Incorrecto.A resposta correcta era: Fenómenos fonéticos.

Questão 2 - Incorrecto.A resposta correcta era: Lenta e inconsciente evolução e princípio do menor esforço.

Questão 3 - Incorrecto.A resposta correcta era: Fenómenos de queda/supressão/elisão; adição; permuta; analogia.

Questão 4 - Incorrecto.A resposta correcta era: Aférese, síncope e apócope.

Questão 5 - Incorrecto.A resposta correcta era: Prótese, epêntese e paragoge.

Questão 6 - Incorrecto.A resposta correcta era: Metátese.

Questão 7 - Incorrecto.A resposta correcta era: Dissimilação.

Questão 8 - Incorrecto.A resposta correcta era: Nasalação.

Questão 9 - Incorrecto.A resposta correcta era: Paragoge.

Questão 10 - Incorrecto.A resposta correcta era: Vocalização.

Page 26: O Auto da barca do inferno

Evolução Fonética

Questão 1 - Incorrecto. A resposta correcta era: Aférese.

Questão 2 - Incorrecto. A resposta correcta era: Paragoge.

Questão 3 - Incorrecto. A resposta correcta era: Epêntese.

Questão 4 - Incorrecto. A resposta correcta era: Síncope.

Questão 5 - Incorrecto. A resposta correcta era: Prótese.

Questão 6 - Incorrecto. A resposta correcta era: Arcaísmos.

Questão 7 - Incorrecto. A resposta correcta era: Mi.

Questão 8 - Incorrecto. A resposta correcta era: Per e nom.

Questão 9 - Incorrecto. A resposta correcta era: Apócope do m e vocalização do c.

Questão 10 - Incorrecto. A resposta correcta era: Apócope do m e sonorização do t.

1. Nome do autor do Auto da Barca do Inferno.

    

2. Ano da representação do primeiro auto de Gil Vicente.

Page 27: O Auto da barca do inferno

    

3. Gil Vicente ficou, também, conhecido por ser:

    Ourives

    Sapateiro

    Bombeiro

4. Qual o nome da primeira peça vicentina?R: Auto da .

5. Gil Vicente viveu entre os séculos:

    XIV - XV

    XV - XVI

    XII - XIV

6. Personagem alegórica que representa o Bem e a Salvação.

    

7. Personagem alegórica que simboliza o Mal e a Condenação.

    

8. Elementos alegóricos que representam a viagem para o Inferno ou para o Céu.

    

9. Primeira personagem a ser condenada no Auto da Barca do Inferno.

    

10. Elemento cénico do Onzeneiro.

    

Correcção

Questão 1 - Incorrecto. A resposta correcta era: Gil Vicente.

Questão 2 - Incorrecto. A resposta correcta era: 1502.

Page 28: O Auto da barca do inferno

Questão 3 - Incorrecto. A resposta correcta era: Ourives.

Questão 4 - Incorrecto. A resposta correcta era: Visitação. O Auto da Visitação também ficou conhecido como Monólogo do Vaqueiro.

Questão 5 - Incorrecto. A resposta correcta era: XV - XVI.

Questão 6 - Incorrecto. A resposta correcta era: Anjo.

Questão 7 - Incorrecto. A resposta correcta era: Diabo.

Questão 8 - Incorrecto. A resposta correcta era: As barcas.

Questão 9 - Incorrecto. A resposta correcta era: Fidalgo.

Questão 10 - Incorrecto. A resposta correcta era: Bolsão.

1. Personagem que não é condenada devido à sua irresponsabilidade e inconsciência.

    

2. Nome próprio do Sapateiro.

    

Page 29: O Auto da barca do inferno

3. Figura de estilo presente no verso: "vai pera a ilha perdida".

    

4. Gil Vicente utiliza, apenas, um tipo de cómico.

    Verdadeiro

    Falso

5. O Fidalgo chega ao cais acompanhado de uma cadeira, um manto e um pagem.

    Verdadeiro

    Falso

6. O Onzeneiro pede ao Diabo que o deixe voltar ao mundo para ver a sua mulher.

    Verdadeiro

    Falso

7. O Sapateiro carregava as formas, símbolo da sua profissão.

    Verdadeiro

    Falso

8. O Frade está convencido que o seu hábito o protegeria da condenação

    Verdadeiro

    Falso

9. O Frade e a moça acabam por embarcar no batel divinal.

    Verdadeiro

    Falso

10. O nome próprio das personagens é um aspecto relevante.

    Verdadeiro

    Falso

Correcção

Page 30: O Auto da barca do inferno

Questão 1 - Incorrecto. A resposta correcta era: Parvo. Esta personagem também é conhecida por Joane.

Questão 2 - Incorrecto. A resposta correcta era: Joanantão.

Questão 3 - Incorrecto. A resposta correcta era: Eufemismo.

Questão 4 - Incorrecto. A resposta correcta era: Falso. Gil Vicente utiliza, também, o cómico de situação e de carácter.

Questão 5 - Incorrecto. A resposta correcta era: Verdadeiro.

Questão 6 - Incorrecto. A resposta correcta era: Falso. O Onzeneiro pede ao Diabo que o deixe voltar ao mundo para ir buscar dinheiro para comprar a salvação.

Questão 7 - Incorrecto. A resposta correcta era: Verdadeiro.

Questão 8 - Incorrecto. A resposta correcta era: Verdadeiro.

Questão 9 - Incorrecto. A resposta correcta era: Falso. O Frade e a moça acabam por embarcar no batel infernal.

Questão 10 - Incorrecto. A resposta correcta era: Falso. O nome próprio das personagens é um aspecto irrelevante.

1. As personagens do "Auto da Barca do Inferno" são planas, estáticas e lineares por serem personagens-tipo.

    Verdadeiro

    Falso

2. A Alcoviteira é condenada por Lenocínio.

Page 31: O Auto da barca do inferno

    Verdadeiro

    Falso

3. Gil Vicente foi contemporâneo de Camões

    Verdadeiro

    Falso

4. A figura de estilo presente nos versos: "confessado e comungado/E tu morreste escomungado" é a antítese.

    Verdadeiro

    Falso

5. Classe social que o Fidalgo representa.

    

6. Classe social que o Onzeneiro representa.

    

7. Personagem que simboliza a justiça corrompida e parcial.

    

8. Personagem que entra na Barca da Glória e tem uma recepção calorosa por parte do Anjo.

    

9. Personagem que faz uma demonstração de esgrima.

    

10. Personagem que se apresenta com uma corda ao pescoço.

    

Correcção

Questão 1 - Incorrecto. A resposta correcta era: Verdadeiro.

Questão 2 - Incorrecto. A resposta correcta era: Verdadeiro.

Questão 3 - Incorrecto. A resposta correcta era: Verdadeiro.

Questão 4 - Incorrecto. A resposta correcta era: Verdadeiro.

Page 32: O Auto da barca do inferno

Questão 5 - Incorrecto. A resposta correcta era: Nobreza.

Questão 6 - Incorrecto. A resposta correcta era: Burguesia.

Questão 7 - Incorrecto. A resposta correcta era: Corregedor. Outra resposta correcta: Procurador

Questão 8 - Incorrecto. A resposta correcta era: Cavaleiros.

Questão 9 - Incorrecto. A resposta correcta era: Frade.

Questão 10 - Incorrecto. A resposta correcta era: Enforcado.