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- o AVESSO DA LOGICA: ASPECTOS DA RELAÇÃO ENSINO-APRENDIZAGEM NA ESCOLA TIA CIATA. Monica Rabell0 de Castro A N E X O S

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-o AVESSO DA LOGICA: ASPECTOS DA RELAÇÃO ENSINO-APRENDIZAGEM NA ESCOLA TIA CIATA.

Monica Rabell0 de Castro

A N E X O S

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MONICA RAB.ELLO DE CASTRO

-O AVESSO DA LOGICA: ASPECTOS DA RELAÇÃO ENSINO-APRENDIZAGEM NA ESCOLA TIA CIATA

DISSERTAÇAO DE MESTRADO

VOLUME 11

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S U M Ã R I O

pâg.

CRITERIOS USADOS NAS TRANSCRIÇOES 156

ANEXO I - DOCUMENTOS REFERENTES À CRIAÇAD DA ES-COLA 158

ANEXO 11 - FALAS SOBRE A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA.

1. Falas dos Alurios 171

2. Falas dos Professores .•................. 175

ANEXO 111 - FICHAS DE ROTEIRO E REGISTRO 191

ANEXO IV - FICHAS DE PERFIL DAS TURMAS .......... 197

ANEXO V - FALAS DE ALUNOS E PROFESSORES QUE EX­PLICITAM SUAS RELAÇOES.

1. Falas dos Alunos •••..................... 202

2. Falas dos Professores ................... 212

3. Entrevista feita pelos Alunos com os Pro-

fessores 242

ANEXO VI - FALAS SOBRE OS TEMAS.

1. Situações Matewâticas 252

2. Situações Assalto/Trabalho 291

ANEXO VII - REGISTRO FOTOGRÁFICO DO MOMENTO DA PES QUISA ...................................... 364

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CRIT~RIOS USADOS NAS TRANSCRIÇOES

Pela nao existência de procedimentos consensual­

mente estabelecidos para a transposiçio das falas para o

c6digo escrito, neste tralialfio, adotamos os seguintes cri­

térios:

I - Nio foram usados os sinais gráficos habitu­

ais da escrita, exceto nos seguintes casos:

rênteses.

- Ponto para finalizar uma fala.

Reticências para indicar hesitações, interrup­

çao feita por outro interlocutor ou para pau­

sas longas numa mesma fala.

- Para indicar pequenas pausas, geralmente pro­

duzidas pela respiraçio, foi utilizado o sím­

bolo C/). Procurou-se evitar pré-interpreta­

çoes que tendenciariam as significações.

2 - Letras maiúsculas foram usadas para:

- Iniciar uma fala.

- Nomear lugares ou pessoas.

- Após reticências ou interrogaçio.

3 - As falas dos pesquisadores vieram entre pa-

4 - Para indicar falas nao audíveis nas transcri

çoes, utilizou-se: Inio compreensível I.

5 - Adotou-se para os erros em concordância ou

em pronúncia de palavras um critério particular:

- Os fatos de pronúncia regional, tais como o fa

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lar chiado do carioca, - ~.

a nao pronuncIa do erre

final, etc.

- Foram mantidos aqueles que não decorrem do re-

gionalismo, como por exemplo o esse final em

concordâncias nominais, tempos verbais em con-

cordancias verbais, substituição ou anulação

de fonemas do tipo ~uol no lugar de ~uo~ ou ta

va no lugar de e~tava, etc.

6 - A entonação, neste caso, ficou prejudicada

em função de não se ter encontrado nenhuma forma de garan-

tir sua identificação. Caso haja interesse do leitor, as

fitas encontram-se em poder da autora.

7 - Os anexos foram organizados segundo a finali

dade das anilises e numerados para facilitar sua consulta.

Estes foram os critérios que nos pareceram menos

parciais para a utilização das falas, ji transpostas para

o código escrito, neste trabalho.

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A N E X O I

DOCUMENTOS REFERENTES À CRIAÇÃO DA ESCOLA

PARECER DO CONSELHO

ESTADUAL DE EDUCACÃO

DO RIO DE JANEIRO

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SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DIVISÃO DE APOIO TEcNICO

Portaria na- 8783/DAT ~8 5 de maio

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de 1988

o DIRETOR DA DIVISÃO DE APOIO TECNICO, fundamentado no Art. 1~, inciso I da Resolução n~ 1288/SEE/86 e considerando os termos do Parecer n~ 406/ CEDERJ/87 exarado no processo de n~ E-03/100677/87. -

RESOLVE:

Art. 1~- Autorizar a ESCOLA IIUNICIPAL TIA CIATA, sediada na Pas sarela do Samba, Setor 2, Sala 6-76, município do Rio de Janeiro, a funcionar 7 com o Projeto Experimental de Alfabetização de Adultos.

çao-

DS/mcnf

Mod. 10 • PcnU1a

Art. 2~- Esta Portaria ent~arã em vigor na data de sua publica-

Rio de Janeiro, 5 de maio de 1968.

Dirstcr t:a t.. .'" 'I! ::--I~ Tticttc,

.. O"ort ..... n'. •• r.{., :.çao •• s.. E. L ~" IaO..20U

'PUBtlCAD()

_1 ___ '''''

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ESTADO DO RIO DE J~NElRC

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO CONSELHO ESTI\DUAL OE EOUCAÇio

. ci,nl\fl/\ DE EDUCAçr.D PRÉ-ESCOLJiR E ENSINO DE 10 CRAU c~n~n~ DE ENSINO SUPLETIVO PRDCESSO .. rHlt 03/100.677/87 lNTERESSr.DO:: ·ESCOLr. MUNICIP.I\L TIA CIATA

160

PHnECEn NU 406/87 Concede à Escola Municipal Tia Ciate e condição da Escola Experimen_tal . e dá outras providôncies •

. HIST6r.ICO 1\ . Escola Municipal Tia Ciata, unidade educacional da Rede Municipal do Rio

do Janoiro, situada ne Passarela do Samwa, setor 2, sala 9-76 encsmlnna ' Consolho, através do sua Dirotora, Professora Ligia ~aria Costa leito, ' do funcionamento do nprojete Exporimental d6 Alfabotizaç~~ . do Adultos~, "oosonvolvimentc - nc rtlfcrida escola. , '. ' .

a este : pedi dc já em

O objetivo fundamontal da E~cQla 6 atandor ~cliontolo chamada "rneninoD do I'UC" o outros quo aprosontam caractor{sticêS sociais sc ..... ê'lhantos. são frut.o:;

.dos condiçõos 30ciois do meio, d~ inoxistêncl~ ro~l da ob~iºatoriod~dc oscol~r :0 do frQCBS5~ dQ escola no procasso d~ ~lfabatizaç~o. ~p~osentam farto ~csist~n 'cio o bloqueio di~nte da perspectivc do rotornar a os~e mosme instituiçõo oc=~­'lor O precisam do açõos muito fortes -e cr!ativco pore superar esso impa~9o.

n ' o~cola inclui seus alunos em trôs grandos grupos: os que não tôm f~rn{lic ou dolo foram oxcluídos ou ainda SG auto-excluíram D cus constituam 30% óas mê­.trlcul2.9 -vivam n<:l rua, praticando paquqr.los ,furtos, p~dindo esmolas e cor.tida c. "90ral~Gnto dormindo a6 ar livre; os quo ' t6m .família distanto, vivem da vonco do ;Jornoiç, balDs, guara~ .do ~ufom~vois, serv~çes de ongraxatos. O dinheiro QUo co~so9uom complo~ontD a ronce familiar. R~prcscntam estos 40% das matr{culaõ Uú JD~ restantos s;o for~ados pelos ropGtont~s de ató sois anoõ d6 repGtôncic ~o l~ sória. . . "

li ,iexoo'riê'no;:'i 'c piloto" que dosonvolvo na 'Passarola do Samba há cerco de :aoi,s, .';,r:,os ";'e'2;:'c;.ep"rç U~ ? fjlte-rnütivél inovLldora, dentro ca eróoria reoe munici­~ol do · ~nsino". pois J totalmente diforentó de trabalho foito nQe outras 987 Q:;'col.:ls. · Prljpõo-so uma motodologill diforonto', para u::ta clientela diferonte. H; g:-ondo rioxibillrlüdo odministr.:lt.iv<l: os inéltr{cul~s ocorrom om Qualquer 'poríodo do Dno lct~Vo. Este comoçél Quando 'o ~aluno' chog<l, o .termina ~uando ale sai da ' D~cola. N~D nn Dxigôncie ' antocipodo do aprosontaçco do documontos, rotrotcG c lmiforr:los par.n a froqtlôncia !ls .. aulas. BUSCê-90 :'primoiramento a participaç50 ~o Dluno, indtlPondonto do n~r~as vi·contes.' "Para 'isto, a luta polos dirElitos das­~os a lunos. (Cdut:~ç~~" :fi~?~}:6:ç'?~, _ tr~.~~lho , o atondimento módico (J JurIdico) o e busca do, .sua ~OiUl~O l?oci.,=,.l·, SilO . me.to .jprimordial do nosso trabalho", diz o documonto. . ... -: . Cri~M · potsibllidüdas . do 6n~lno o OdUCil~DO o partir das caracter!sticas de 1!1un[)tlo::' ~.:DDbiliobdq, criiH:ividoc!e, p'rovisoriodado, imediatismo, irroverência , 8gro:lsividado". " Procu.rcm contrltJuir pLlrD quo tol clientola oncontra 8ua idonti­dado D d08chvoi;a ofotividado o solid<lriodéldo, podendo "sair da rua" ennu~nto fOr:1fJ?rtnraon1:o Qn~i-soclill. A integração com outro~ grupos da analfabetos, com outro. cornctDristicQs reprosenta .ostImulo importante, e o convívio em grupo Soll Z1 ot'iDftttJção 9sclarocidól d~ oscola podo at'onuar ou 'masmo t.ornar lnoxprcss.!.. YO o DDntLmontc do vic~ônclQ acumulodo durantotanto& onoo do discriminaçõo o .abandono.

' N,!DtD proposto oducacio'~~l bUSC\l~60 uma escolo não-formal, nõo 6oriada,at; .l 4& aUt"l .. " .. ' .f 0, 'tl pntir de conteudos pocJagogicos. lldBquodos a cl1ontela, 1l1uno8 das ~SQ111 atér1.n3 .do 12 Q 25 on08. nNonhum !lator QUO tonho implicaçõoe com a oduco

.~GO - 1:0IDunltlLlda.· osco.1a, ostado' _ podo ticor oxcluído dosso proco6so. Isso poI ~UQ. 1l0DDD , OpçÕO InDtodológic~, participnçõo. o'ducoção 9 aç~o, Juntos compõem ti apt Dndlzn_ ,- -, . t i A

~ -~ CD6UtiVD o ~uo o oducoçao o aqu~ entondida como um a o d narnico D \ ':Jll'flllln8!ilta tZDca". Procuram tratQr o conhocimonto do uma manairo global, in­~:~~!~~1P11hor, do modn n atingir num curto ospaço do tompo, os obJetivo~ pro -

\K.IA.

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Os conhocimontos das ling~ogor.;·; tanto e da l.Íngu3 portuguosa como elt" guagam matomática centram-so noe soguintos aspoctos roferonciais: e grupo ; trabalho, o cultura o a cidadania. . I

n profissionolizaç;o 6 cuidedo Qtrav~a da inici~ç~o ao trebaiho 0. da~~ gi03 romunorodoG.

Embora ~ ovasõo soja alta, o'quo Ó natural om tal tipo de etlvi~ãdàÇ ~d~ mos ob:;arvor, . pelo leitura de preco:;se, rosultodo altamento positivo, 80 ConSl

der~rmos Que om trabàlho do tal naturoZD o quo dove contar nõo é o númoro d~­cortificados eXP9dido9 ~a8 o c~amomonto do "monino do rua" para uma 8tlv~~~ diforento. · . " • :"ro;<;" .

. ' . Lô::so no ' processO " que o trob.elho dosenvolvido tom sido reconhecido e I

odo por grupos qua . otondomól. umoninoD do ruolt!Pastorel do Monor; Sociedado 5à4 Mortinh~, Casa do Monor !rabalhador, rac~l~ode : do Serv~ço Soc!ar~ . '~edog~~

·da UrnJ; M6vimontc Nacional do Moninos do nua, atc.'. o ainda QUO o aluno 50 a vor osta oscolo diferente, Que não lho exigo freq~ência diária e obri~U ric, quo começa quando 010 chega, QUO comproando o sua impoosibilidado dD ~(­mcnocor ~ontbdD par muito tempo como uma altornativa prosonto, do um futur~~ CUQ vida. "Driga::, doprocüçõos, rouboD, dosro!'.:poi to à:;~ rouniõos pedêlgógicil8 to

tumultos na:; útividados oxtornas, nõo caracterizem ms1e o cotidiano, como no' primoiros to~po:; da escole".

Os ilustros Consolhoiros S5nia nogin~ScudQso O Roberto Fernando LG;o ~ 1050 "Ebort visi tDram a E·scola Tia CiDts o deram as molhares reforências sokc o trcbalhci l~ desonvolvido.

. , •• Ç; :r,ssassora Profo3sora ~no r.oemia Colil Belem, Que acompanhou a Con901"0

ra Sônic Scudoso, om rolatério encaminhado D Prosidonte da C~mara de -Educaç~ Pré-~scolar c de Ensino do 12 Grau diz: "Paroco-nos oue a Escola Tia Ciat~ , ar sua propc~ta pOdooóoica e social. o tiDo do oS~êbo~ocim Q n~o 00 ons~no V~

davc :;0 muI t±~licar aIO no:::::;a comun !..lodo r pois Quoca "ºtUçoos poculiaros 00 e~ sino, od~=acao o' socicliznçoc, c~ro um~ Dorcole do oro-adolG9contos e adol~! ocü!:as CO rU~f os ~'~C3ninos do ru<:~', que, som 01 .. , talvez J<!r.lais tiVOSS81õl ~ tunidodG do se ofester do mDrºinDlidado~. . .

Const.::, temD<Jr.:, 00 rclat.~rio o recrutamento dos . professores, sendo o CCf

po doconto cQnstitu{do do profossores das escolas·da Redo Municipal 9~a tro~ monto ('sp~c{fico, l1las QUo, conv1"vondo com o dia e · dia da oscola o part.1cipac:l.: dos reuniõos O dos planejamentos, ou nelas so integrem ou deles S9 afast~. ~ qua permonocem demonstram granoo éntusiasmo pelo trabalho, conformo nessa ~ ra p6de percober otrav6~ _ do grupo QUo nos visitou, nesta Consel~o.

'VOTO O~ nELnTOR~ É .tao granda o número da crianças o·adoioscontos QUo devem ser .tenõldo

polo escola rcg~lor, dontro da faixa dó obrigqtoriedade o~colDr o mesmo no ~ sino· 'formal do 21! Grau, QUo 510 torna nocossório rocorror à riQuoza do I'DCII"t-

sos matodológicos quo a oscola não-formal oforoco para que não se dal)·s . "er atendimento a imonsa população do adoloscontos o jovons adultoa.

: "Dc' aéordo com o conso dOlllogr5rico do 198'0, havia no Estado do lUo 150.000 anal·iaboto·s~ So so'm-ormos a ostos Os õnolfobetos: .funcionais, QUO só sDbom d03".D" hhar (, nomo mos sõo. incapazes do olabornr qua-ici"uar monsagem oscrita. e.to nÚr'-r ~. ~,bn!).o.':n qU<:lsc .. ·um milhóo. - . , . . '. . . . .

=Torna-50, porbnto, indlsponsêlvol quo os orlucDddt1r~~ü&iiiiaó do ·lD.aãã ér! o·t-1vidbdo do quo s~o capazos, pürtam para propo:;Ú1S · Qu~_atcndam à oS-pDc1f1cidE-de c~'cl1ontola o quo sojam ao mosmo tompo olom~nto6·. df.l; ·p~omoçãD socJ..al do" alunos c.' do su~s comunidados. . .1. . ••. , ,- . -' ,. ..... . .

Um~ posquisa rOéllizada pOlo profossor Gichuro, ,_ do Contro do (du.êa~Do D~ "sicc úo Universidado Konyolto, om Nairobi, rovoloü:Qu~ ' õ~tro os esp1rDçDo. · ~ ··sicas-dcs moninos de nua do Nélusbi uma das principais ore o -dosóJO . .ittJ .· froQ~~

télr uma -CJscol~, rocebor oducaçõo. Entratanto, às ,circunstânc1c3 não ... lhos .. poI'"" :'=mi ti~m' froqOontor uma oscolã ' rogular: a pobroza~ . a . 1c1ti~õ o -: e ';11bord3Íoo- !,~

ostavam aco~tumados. Eram muito pobro~ para so pormitirom e luxo do-lr~~, UM~ escola,.muito grandos poro iniciar uma oscolaridado normal o dD~oeiadD . ' -11-

:-vro:!" pnrn podor adaptar-so õ r .1 gidoz da ostrutura Recolar" (por9pot:ti.uaa : · ,. -. Uno:!co). :r. soluç~oencontrado poloo pO:lquisouoros do Konyol ta ' a:lsomo~lI-oo . Il

o:;to oxt~oordinária tnntativo da Escola Tio Ciata. Uma oecola d1foronta. quC

I ' ._----­_.-- -- - -----

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--C~~9ue ao alunG, penotrando om seu mundo, rospoitando-o o proeurondo Gocioli-lá-lo no contida do torná-lo um c1d~dõo copoz O~ comprooneor diroitos O dovo ro~, dontro de ccmunidodes livro~ •

. { de tocia convoniôncio o mo~mc obsclutcmonto nE!cosaó:- io que él o&co1L! pro DorvC os suas cara=torfsticos o uo lute ~r3 quo haja contlnuloooo em ~eu tr~­belho, um DUO manoiro de 8~r "oscola" principolmento ne prodio a ser co~stru oc oepocia1monte pa~a o bom traoalnc t --- Por tudo istú, somos do Por t cor quo ~o concoda õ Eccole Tio Ciata a condi­

çõo do Escalo Experimontal, do élcordo com o quo proscrevo o Art. 64 da Loi ••••• 5.692/71.

. Como Q clientela ü ser atendida compreonde foixüs otór~üs do 12 Q 25, in cluind.o pcs~oas quo normalmonto estariam .no Ensino Sup1utivo, e considorondc trator-se do uma propost~ de oducaç3o n;u fermal, propomos QUO osto Cer.6olhc, por sua~ C3~~r~ do Educoçõo Pré-E~colar o Ensine de !~ GrDu o C~wora do Ln~inc Suplotivo ocor.lp:mno II oxpo~iênCié:l "través . do rolot6rios somostr<Ji:l.

Su~orimos oin~a QUo a SUDorvi~;o, quo noc as scr!omuntc occ~ p anha=i ost~ tr" bolha . tõo rico p~.rt; a OOSGC rSll1ic<lcJc, posse dielogar COI!' i?sto Conselho sobre c molhor r.lanoira de so cvali~r o dcsor.lponho dcs csc=lcs abcrt<ls,o n~o-rorcais.

.,

As CÔr.larc~ rounidas <lcompanhame voto da Rolatct"s. Rio de JcnGi~c, 21 do outubro do 1967, (00) Myrthcs De LUCQ Wonzol - Prosidonte o Relatora

~ario CecIlio Oucdro . norlcn::l S<:lloodo Pl{nio Comt~ Leito Bittoncourt Roborto r~anciscc Roborto Fernando LODO ValIoso Ebort

CONCLUS~O DO PlENf.RIC

O. presonte Paroeor ó SIlL/\ 0.15 SESstli:S, ·no

aprovado por unaniCidQdp' . Rio do Janoiro, om 29 do ou br de

. ~c>· {. ERNESTO DE SOUl/'. -fREJI1E fILHO

ViCG-prCSideJ'o

I

_.-

198:.

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r r

J j

Diari()Ofiêialdo; Muniêfpio do Riódé Janeiró'

Poder Executivo!

r '- CIECRETO .. .1553DE12DEABRILDEl988 -

TRANSFOJUlll.. ~~ Toa Ciàta .... ESCOLA DE EDUCAçAO JUVENIL TlADATA ... _ ......... a:iw.· . ~ -o ~TD".aDMlE1IO RIODE.JANEIRO. no UIU de lUa alribu6- ' ~ ........... _ ......... _ dIIprvc. 07110.898/88. c:onsidetM-da: . -eM ,- ' . .;;~; .... .;.. ....... 'popuYçIoacol8T.naI .. beIa. . _ aad--. ........... _' ._que ... _'."....-lltÍCal ........... ZL4.: " ~; .• :-" .. t'. :.-.. ", .• . ". :" ..... -: ..: . _. __ b..... " f ..... c.-daCict.M:

- o ...-.. ea-..~ da EcI.açIo.. eprawdo por uMnimidede . _ 2lI ...... de 1117 ... 0 IL 40IIII7. __

DECRET~ . ,' " .~" . , .. . . _ , ., .• . . . An. . 10.. .- '*-' ....... pMI ESCOLA DE EOUCAçAO JUVENIL '01.02.901 Ta 'CIATA.. *aia ....... denomÍNÇIo da EICDIe Municipel 01 Jl2.101 n.c:a.. cn.. .. a-.. li. 6481, de 20 de tev.eiro de 1987.' ,., .... ofiãll ......... 10 .... do Município do Rio dIi Janeiro 100 • Jurildlçlo ela to. OillriD* Edi.açio • Cllhuno do ~to-Geral de ~ •• ~ ........ dI~ •• que w.- __ N Awnidll ~ v..- aIL - fi-. Ona." 11 ReviIo Administ .. av. - CemrD.. An. 4D. - A _ ............ izaçIo dninislnotiva de EICO'" de Educa­çIo Ju __ ., CiaII.-k.... iecIM do revime comum dIi rede ore.l .• f""". __ ....-_~primonIiaÍL· .

AR. 3D. - "0ireçI0 .~ ... -.:idII .... lWQime de colegiado. con_ do .... aI ___ ..... licipac;iode~~·::e.de ~ --"-"-io....-_ QXIIIi1u_. comunidade ........ ..... 40.. - A ..... , . :odmio.....uv~... J mpoaI de um ..... ele ' ........... inwdilaplinar formado por pro'-n dIi ...-..-.... ele _..- de ~ p.-. o ... beIho formado por poalo""' ............... 1oc:iaiI. monitorw.. An. k - A ..... _ ~ ele Educ8çIo.Ju-w T .. C-"18 podori 0CIIt· _ ................. ---. ...... nIo lendo .,.._isito. epr.-wuçlo da~_ . ........ - A ..... _ .. ~ ........ iuda por maio de CIlrCUno dIi ...... . • 10. - 56 ~_~ OSPiO"'-"- que .prnanl8rem decw.çJo .. ~ ____ tMlUde na pl'llpn. EICOIa de Educ:açlo J..-.~

r.Cia1lL . • 2ci. -~ ..... __ ... o quadto de prvtewar., • Oi, ..... o da

ÚI:IDII'I .. ~,Iu ... r .. Ci ... os.rrevimen .... após entreYilUi de ...... ~enuw_ .. at w...-idao~o lo. Oirtlltode Educ:açJo. Cultura. An. 70. - ........... __ .... .,igDr "" dal8 de ... publicaçio, ,~ .. cf .... ·" _ _____

"Io.~. 12t1 .. bril. 1988 - 4240, da FundaçJo da Cidade IlOllEftTOSATURNINO BRAGA ·

Joio da Si .... Ma •• L JooIF ..... Moacyr de GlIw

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Prefeitura da Cidade

AtOl do Prefeito

DECRETO N. 6491 DE 20 DE FEVEREIRO DE 1987 CRIA e ESCOLA MUNICIPAL TIA CIATA O PREFEITO DA CIDAOE DO RIO DE JANEIRO. no uso de SUG mibui­ç6es legais e tendo em viste o que constlI do proc. 0712458/87 . DECRETA: Art. 10. - Fica criede .". rede ofICiei de esubelecimentos de ensino de 10. srau do Município do Rio de Jeneiro. sob e jurildiçlo do 10. Distrito de Edu· c:açio e CUltu .... do [)epMumento Geral qe Eduaçio. de Secretarie Municipal de Educeçlo. e ESCOLA MUNICIPAL TIA CIATA. que teta sede". Awnid. dos Desfiles. Setor 02 - na II RegiJo Administmive - Centro. Art. 20. - Este decreto ent,..ii em vigor". date de ... publicaçio . rwogadas as d~1!S em contnrio.

Rio de Janeiro. 20 cie fevereiro de 1987 - 4230. de Fundaçlo da Cidade. ROBERTO SATURNINO BRAGA

Tito Bruno Bandei,.. Ryff M.rie Lucia Couto Kamache

164

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Meninos de rua fazem a festa Autoridades dão vez à alegria ao entregar escola

N as solenidades tradicionais eles costumam ser escorraçados t0-

mo intrusos, indesejáveis, mas ontem as autoridades de paletó e gravata faziam questão de não empurrar, mal­tratar ou olhar esquisito para aqueles meninos, muitos deles descalços, sujos e com roupas rasgadas, que por todos os portões e até por alguns buracos na tela de arame invadiram o terreno da nova Escola TIa Ciata, na Av. Presi­dente Vargas. Afinal, a festa era deles.

Por issO, ninguém da banda da PM reclamou quando um aluno. sem maior cerimônia, pegou e tentou tocar um trompete, nem quando uma turma de adolescentes arrancou e estourou todas as bolas colo,ridas que ornamen­tavam o saguão. E assim que eles se expressam, como aprenderam, depois de muito tempo de convivência, as pedagogas que elaboraram o projeto desta escola diferente, para meninos de rua.

A inauguração da nova sede, com capacidade para 800 alunos, represen-

tou o reconhecimento oficial da impor­tância e dos bons resultados de um projeto que começou quase marginal, como a própria vida dos alunos. A Fábrica de Escolas fez a obra, com Cz$ 200 milhões do BNDES. No palanque, o diretor da área social do banco. Carlos Lessa. e o prefeito Saturnino

Braga trocaram elogios e ressaltaram o valor da experiência. Depois, o prefei­

to aproveitou e pediu votos para o seu candidato, Jó Resende. Mas a garota­da se ligou mesmo foi na festa que se estendeu noite adentro, com grupos de capoeira, teatro, candomblé. filmes e pagode.

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, ) GLOSO Ouarta-feira. R r.8 março de ~ 989

r' · 1~111CO

I

- I\. cs:olmha dn Tin Ci"la r..1O r~z;] pcio n~cu ccr30: ":.cmissão

----------------~

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MOVlr,mno NACIONAL DE MWINOS I AS DE RUA c. ü. C. 02.70J .B!!O/OOOS.I!Q

COM:SSÃO ESTADUAL ~J RUíI Anàr6 Canltanti. 23 - FAtima

20.231 - Rio de Janeiro - RJ . Fone! 232-3348 e 252-7292

167

o Pre .. :ito do ?io de .Janeiro - Yarcelo Alencar - está preste~ a conse-. . t t . d ~. 1 ~ ~.. c 1""'\01""'': ;"nn4 ~ I,.; ,... ,; gu:.r seu :n en o:::e es ~ru:r co:-:-p e ... arr:_:1,,':' <! _Xy_ ... .J._ •• ~ .... a pe ... agoó __ 2 ~e

a-:endir!". e:-:t~ a cr::'anças de. !"ua, ir:plantad? na rede o:icial do n:ll.'1ici':;:i::

.. ~ justific~t:va 2.t::-: . - -:;entada pelo Prefei to :- ·:>i a -cc:>rdenaçao cc pro~e·to e ele nao seref!'

t'".esr.:o paz:tido polí tico. Sob esra alegação, ele afastou a direção Cê e~

cela. !)as 600 crien;as e adoles~en,:es ~·.le :reC!uer.-:a7~ a escola, ape­

::z s 80 continur.. E:1~:lanto i~3C! c3dá-Jere.!: de crianças, com claros si­

nais de execução por profissionais, são encontrados a cada dia em todo ..... • T-.,.,"; r"II ..; -~-""'-~s ouJo. .. - - M • ... :\.1.0 ae .. ::.nt_r .... , .... r:..-:...t_ '- _"!"as :Jeso::.parect::': ser.; .... elxar ra.s \.·TOS e se::

que o Prefeito ou ~ pOlícia de~on3trer.: interesse o~ preocupaçao.

Infelizmente, ::. ligação e!1tre o extermínio de crianças, que são fcrça­

àas a buscar sua socrevivência nas ruas e ·a in~íbia1ização de ur.a 9~C2 la cuja prcposta pedagógica é d!:.:--lhes ou~:-ê. possicilidade de vida, e­

viàencia o papel que o poder público ·:e~ assumindo ~rente à sociedade'

crasi1eira, do que pcdo: admitir a prepctê!1cia ê.o Pre fei to J.:arc~ lo .A:e~

caro No Brasil, se[:1.!I1do dados' do próprio Gove:-:: ·.) Feêe:-al, 10 milh~s !

de cano~as em idad-e escolar estão excluidis ~ ('..lalo!!er rede de e.r.si­

no. _ que impede que esses mer.inos e me: :'::2! sejar: ao !renos aJ.fabetiz~

dos, é a absoluta incapacidade àas polí·:.ieas oficiais de ed!lCação e r.­

assumir urna pedaecgi2.. capaz ce estabe1ece:-, com eJ.es; 1l!!:2 relação de

confianç~, valorização, respeito E 1iberdaàe, que sirva c~o base para

sua integração na sociedade. Se o Estado não adota u=a'proposta ped2..~Q.

gica que responàa aos direitos, inclusive constitucionais, de nossas!

criançás socialmente marginaliza::ias, não é porqu~ desconheça sua real!

possibilida.de, mas 'po~que' e~se não é c ' interesse e preocupação das '?li

tes que sustent~ seu ?oder. O Estado. Prasileiro prefere pe~tir e a-

,cobertar o fato de que essas rr:e's:::as elites este~~ ~immci-anõo e arr.l~, , do grupos, de outros despossu1dos, animalizados, para exte~~nar essas

. crianças.

A certeza de impunídade de nossos Governa;.tes é taman~ que per!'!lite ao

Prefei to }~arce10 Alencar, quando quar;tionadó pela pop:ll'2ção de sua ~i­

dade:, a que::! ~e-veria esta!' é:.te~:'o aos in:e:-esses.,jus:;ificar o ães~::õn­

te1a~ento ca E S C O L A Tia ~iata, por si~p1es e pretensa divergên -

cia na escolha de agrer:iação partidária entre ele e a coordenação àa

Escola., A justifi~ativa é ainda mais incompreensível porque se sabe !

que Harcelo Alencar pertence a um partido, cuj o representan1:e t:lais no­

táv~l, é candidato à Presidência d~ RepLlica, tendo como b~deira P!'~L

Page 16: o AVESSO DA LOGICA:

168

~~pél, a accção de una políti~2 oficial de to~es

, b ' - l' r-s Po'" l' -S" nao n"s --'u-"ra' ,.."::~ ~ - -- -.,..... ""'" ~..: ':::!'2::'1'1ç.2.3 . raSll.e a.. _ ::: .... , '" \';G.;::"" ". ___ ~::: ,· ·.::: •• _o, se o :-re"e.=

te d ~ P.io de .Janeiro ·.rier a público, dize:- q·.le não 2.;".l:-~ ~ extern:ínio e

desarare~i~ento de crianças no ~io, por elas nio pe:-:en~ere~ ao seu par-

t · ~ , ' ... 1. .. o pO-,-l vlCO.

o !: :;>-; :'mento 1:acional de ~/enir.os/as 1e ... ~.

(':>n~reta!!:~r::,~ propost~s alter~~t.i~."~s, -:.. er.: si :·:~~atic~~en~e de:1UDciajo E

s: tuação de aba::-::cno ~ ey.cl1..:s~o de r.:i: :-::;·es de C':o: ~::CêS e adc:. ~sc'2!1:e~ I . '1· . ..." . ~ ... Dr~~~ elros ~as po~_tlcas OL~C2alS

Nai& :l.'1'l3. vez alerta~os à sociedaje ae ~=~caçao - e so~iais ~ ~ ~ojo gera:. ~re;:::'J.ei.ra :::ara a necessija~o àe ~".~

girr.::')s que o Zstaào ctr.;Jra se'..: p'E)el :-:2 '~·.lSCê c": gêr~-:i.r os direi :.~S /

co::: ':i t".lcior:ais .de nessas cri~ças, sob pena àe ir.".-iatilizar:::cs. cor.:;:le--t3~er::.e, nosso futuro CO:i.C :1aç~o.

}·:o .... i:-:-:en to };aci onal de !·'er.:'r:os e l·~eninas de ?ua.

Pene::"!. to ~cd!'igues c~s <:"Er:tcs - Coo!'::enador ~;é­

~ional

Page 17: o AVESSO DA LOGICA:

169

Tia. Ciata: a versão oficial I W9b&&

Secretária diz que iIiformação sobre verbas foi negada

A. se~r~~tárüi municipal de Educa­ção. Mariléa Cruz, disse que um dos motivos do afastamento da professo: ra Lígia Costa Leite da direção da escola Tia Ciata, há três meses, foi o fato de ela se negar a dar informações sobre a orÍi::cm dos re<:ursos extras que fll1anciávam os trab"lbos experi· mentais com meninos de rua. Segun­der Mariléa, ainda não se sabe de onde vinham essas verbas nos quatro anos em que a escola foi dirigida por LígiaCost3. Leite. "Quando assumi, pedi esclarecimentos sobre os recur­sos :-dio oficiais, mas Lígia se [ec ',ou ;:; faJ?r e ('.(lrrli"f0F FI ~froJ1ti1r a f 't:-• '" 1 • !.'3Jla ,:1.eg()lI.

A·! a1 dirftOft da escola, a ex-di­retora adjunta Dahil Barbalho, afiro

iOU tam~m não saber de onde vi­hanl os reCIU$OS extra-oficiais,

porque os acordos eram feitos "dire­tamente com Lígia" e não havia qual­quer documento. Mariléa Cruz disse ainda que a professora já havia pedi­do para voltar a trabalhar na Funda­ç.ão Educar, órgão do governo fede­ral, pelo qual tinha sido cedida, e atrapalhou-se na explicação: "Ela saiu porque quis e porque foi afasta­da".

Lígia Costa Leite informou que os re rsos foram conseguidos com em­p;rios e empresas que se interessa~. ra peJo projeto de educação dos meninos de rua e daqueles que, mes­mo morando com r:; famílias, fonu]) recusados em outras escolas públicas. ~jarantiu que todas as informações

[oram prestadas à mulher do prefeito Marcello Alencar, Célia, presidente da Obra Soci3! do município, <Jue recebeu inclusive a lista de todos os doa ores de verbas.

Mariléa disse que, ao sair da Tia Ciata, Lígia levou todo o material de pesquisa sobre os alunos, o que acar­retou grandes dificuld,j(1:,; no tra ba-

lho da nova dire»ra. Acrescentou que apenas seis pr3fessores saíram ,e 60 c{)ntinuam traballando. Em mate­ria publicada no.JOR~.ALr. DO BRASIL de terça-tira, LIgIa a1u:ma que, desde que saiu da escola, mUItos alunos voltaram pata a rua, mas Ma­riléa des: -:ente: "Nio controlamos a freqüência diária d~ ~lunos, mas \'e~ rificamos, pelas J'llltriculas, que ba 439 alunos, e a esCl'la nunca teve 600 como afirmou Lígia.'.'

O O prefeito MarceUo Aleacar nega, com wemência, que tc­

nha declarado, M1 qU3lqJ1er mo­mento a frase "tu sou prefeito e

.' '" n. t'. nG 1elO quem cu ,'uero ,que me 101 atribuida pele JORNAl., DO BRASIL O[l'~m, • respeito ;" de­rniss30 da j :lagoga Lígia Ccs!& Leite da i: l"c\:ãú da Escola Tia Cia­ta. "Eu UdO poderia fazer ('cU! de­claração, Rté porque, na Prefrltura, as ilomear,óes raramente ~ã/) pes­soais e si' fruto de cOI1Sl!ltas de­mocri-,ticll!> mais ~. Jpl:ls".

Page 18: o AVESSO DA LOGICA:

• •• . . ' .. . .. f' • ~ •• ~ ~ ""

17 0

JORNAL-·,DO -BRASIL A 1989 1-----Jlib de Janeiro - - Terça-feira, Xl de junho de 1989 Ano XCIX - N° 80

. MenIDos de ma I~ 1.larg~ ~~I~ .~~ a Te Ciata ",'-, '1. ..-,',. e la ' I~ :: ~';",:

, .... .. - - ~~,. - .I ~ ' .. "-. !; ..... :.. . .. , ..... ~ : .,. !.~ ... , ~ ::, ~ . Em Um d~ seus mais criticados', atos . . ·':.l~administrãtivos; o prefeito"Marcello' ".~ Nencar demitiu a pedagqga ligia,Cos-" I " ,ti Leite da direção da Escola Tia' Ciata, I I. para meninos de rua: 'A explicação foi

, singela - "Eu nomeio quem eu quero" , -, mas o resultado, trágico: a . escola

entrou em colapso e das 600 crianças permaneceram apenas 80_ • '

O professor' ~ Ri~' iuru do PDT em educação, ficou perplexo com a medida. "São razões ineXplicáwis de po- '

, liticagcm pobre", definiu ele no prefacio do livro A.tirogiD dqf.,invencíVeis., em que

, 'Lígia expõe seu método .. De'um:téalico , " municipal em educação, da ouviu h~,

~ rizada-a explicação: "N"ao.WIDOS,.mais , -~ln\'eStium pivetes". (CidadI:\-~ 6)

Preço para o .Rio: NO.$. 0,70 I

,,"" •• -J~, .... , •• ;1 :,," .,.''r 4" <li!: '~""'''''~: :t ,.J ~--...I_ , _ _ ",~'+' . ( ,,\., : ' 1 ~"f' ... ::;.o';';.1Il ~ .. ~ -,~~ ' ,.." .' ' •• t#;'~

\ ~ • ' . ... r ~..' ~~ • 'I ~ ~. - ,,,' ~:... .' ...... ... , J:tJ~:

. . ... - . ~

Page 19: o AVESSO DA LOGICA:

A N E X O II

FALAS SOBRE A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA

1. FALAS DOS ALUNOS

"Em que. e..6ta. pe..6qu,i..6a. c.ontll.ibLÚU pa.ll.a. voc.e. ou. pa.­

!ta. a. e..6c.ola.?".

A pergunta foi feita aos alunos em cada turma,

sem a presença das professoras. Respondiam aqueles que qu~

riam. Abaixo apresentamos a transcrição das respostas da­

das.

ALEX SANDER

Foi que assim I assim nós fica sabendo algumas coisa a mais;

que a gen~e não sabia; pode aprender coisa que a gente ...

Com iSS3 aprendi ; assim / muitas coisas ; todo mundo fa­

lando junto; cada um ... Cada um falando um pouco; dá

pra... Prá saber o que os outros fala; dã prã juntar tu­

do.

ANSELMO

Eu achei que essa pesquisa teve um grande valor / teve e

ainda vai ter muito mais / agora a senhora deve tá queren­

do que eu responda / certo? Por causa que as pouca ou as

muitas pergunta que a senhora fez a nós ; aqui na escola ;

na sala I aqui I certo? Foi uma coisa que às vez ; todo I

.....

Page 20: o AVESSO DA LOGICA:

172

Às vez alguma pessoa I conforme a maioria de todos os alu­

nos aqui I pensa que isso é besteira I mas se estudar is­

so I que eu sou um cara que não tenho leitura I mas eu pe~

so / eu tenho raciocínio I graças a Deus I Deus me ajudou

que eu penso I eu sei que isso vai ter um valor I ti? e que a senhora não vai ficar perdendo tempo de ficar I pô I

durante dois I três / seis meses I certo? Vem aqui conver

sar com a gente toda segunda feira I perguntar o que ti ha

vendo I porque que houve isso I e o que que se passa I o

que que deixa passar loque que ti I e o que bi-bi-bi,

certo? Foi bom a senhora perguntar I porque assim vai ter

um jeito I não só da senhora I não da senhora ter conheci­

mento I certo? Mas como todos também I eu acho I vai ter

conhecimento I certo? E saber estudar mais um bocado o

que se passa na caoeça do menor I que seja de rua I ou que

nao sej a de rua.

MARCOS S.

Porque eu acho que quando você armou a sala de leitura I a

aula prá senhora I abriu um grande espaço I e aí I pri aí I voce sabia que a gente ia aprender alguma coisa na aula ~

a senhora deu ã gente.

JORGE P.

Eu espero que esse livro I né I saia bastante I fazendo su

cesso pGr aí / pelo mundo inteiro / sobre a Tia Ciata laíl

seja maneiro e todo mundo goste.

Page 21: o AVESSO DA LOGICA:

173

ADRIANO

Eu acho interessante 1 sabe porque? Que as pessoas que val

ouvir essa fita / que a senhora for amostrar aí / ela vai

ajudar a gente / vai ter mais cuidado com a gente / vai a­

judar a gente melhor ainda / ng ] as professoras ou as pe!

soas aí J que eu curto muito.

JORGE A.

A pergunta que a senhora fez prá gente J essa todas pergu~

ta que a gente fez prá gente J foi até bom prá gente / que

assim abre mais a nossa mente / já nasce assim umas idgias

mil vezes melhores J n6s também vamos J a senhora fazendo

essas pergunta prá gente / a gente soletrando legal J nao

dá prá gente falar palavras errada J e a gente vamo fazen-

do mais uma atividade / todas né J que a senhora tiver

prá mim / fei ótimo J espero nao s6 prá mim J mas prâ to-

dos os alunos daqui né j ah / assim uma campanha legal que/

po J os menor / todo mundo considerou a senhora aí J morô/

os menor fica satisfeito J a senhora sempre foi legal com

a gente J o menor fica satisfeito a pampa / moro Jagora nWm

a senhora sair daqui 1 não vai ficar legal a escola J -nao

vai sair daqui j se a senhora sair daqui a escola não vai

ficar legal. .

(Você gostaria que muitas pessoas lêssem o que voces fala-

ram?).

Ah J prá ver Dê / os alô que esse colega aqui tem / né? Os

alunos também gosta J entendeu? E aí / todo mundo / pô /

Page 22: o AVESSO DA LOGICA:

174

se ler / eu acho que / p6 / nossas id6ias aqui / que a ge~

te temo aqui / n6s tudo aqui J eu acho que as id6ia maravi

lhosa n6 / e se todo mundo comprar e ler / todo mundo / tem

certeza que vai gostar / vai ser um negócio / vai fazer su

cesso no mundo inteiro / e aí I todo mundo vai perceber que

os menor tem futuro / morô / porque não é isso que eles IJ€!!.

sa / que 6 um troço totalmente diferente.

CARLOS

Da pesquisa / eu achei legal I porque a gente tem que fa­

lar o que a gente sente loque a gente v~ loque a gente

fala / então a gente tem que falar tudo que a gente fala /

que a gente v~ / que o que as pessoa fala a gente tem medo

de falar / então por isso que eu achei legal / a gente tem

que botar tudo bonitinho I se algumas pessoa for escutar

essa grava ... Escutar essa fita / vai ver que isso aí tu­

do 6 verdade / que a gente vimo ... Que a gente vimo / que

a gente e que as pessoa fala.

Page 23: o AVESSO DA LOGICA:

2. FALAS DOS PROFESSORES

As perguntas foram feitas is professoras indivi­

dualmente. Como foram virias as intervenções do pesquisa­

dor, renroduzimos as transcrições com as perguntas e as

respostas.

PROFESSORA L.

(E quanto a essa pesquisa / o que voce imaginou que fosse

essa pesquisa?).

Eu não sei / sabe / porque depois que saiu / eu posso fa­

lar/ Depois que saiu no jornal aquela frase que estava de~

tro de uma sala / eu achei mais que voces tavam pes ... Eu

na minha opinião / eu pensei / pôxa / ela entrava na nossa

sala pri fazer a pesquisa J a gente acolhia tão legal e de

repente ela tava pesquisando era pri botar / uma coisa que

sempre foi feita J sempre nos ensinaram que tinha que par­

tir com o aluno de uma frase que surgisse dele.

(E aquela surgiu deles?).

Surge J porque de repente / por exemplo / eu nao / na ml­

nha sala não tava J mas esse neg6cio de vala / outro dia

na minha sala surgiu urna frase assim j ê / o garoto disse

assim / você não gosta de morro / jogar bola no morro / aí

ele botou j ele chegou e disse assim / que a patota jogava

hola no morro / aí eu disse qual morro / aí botou o Morro

do Pinto / aí depois eu disse / mas n6s távamos no fonema

ge nê / então eu queria outra coisa / eu disse vamos tro­

car patota porque vamos botar outra coisa no lugar de pat~

Page 24: o AVESSO DA LOGICA:

176

ta / ar ele disse aSSlm / a galera professora / entendeu?

Então n6s tamos trahalhando com essa frase / a galera joga

bola / ar eu digo / eu não quero no Morro do Pinto /

eles botaram / na Praia do Flamengo / não sei o que

surgiu.

(Você nao acna que voce está querendo por eles?) .

Não / eles é que querem.

(Você não percebe que você mudou a frase toda?).

então

Eu mudei a frase no sentido de puxar por eles / porque e-

les ...

(Mudou a frase / voce nao respeitou a frase que o menino

fez) .

Não / mas n6s trabalhamos com a frase deles.

(Você pediu prá mudar patota / pediu prá mudar o morro).

Não sabe porque?

(Ar voce mudou a frase).

Mudou não j mas sahe porque? Prá trabalhar / porque eu

disse assim / aí eu fui perguntar a ele / patota é a mesma

coisa que galera / que significa galera? E só se pode j~

gar hola no Morro do Pinto? Entendeu? Não foi assim / eu

quero / foi assim ...

(Discutido).

Um trabalho discutido / eles / nao professora tem Praia do

Flamengo / tem isso / que é prá dar oportunidade a todos /

nio foi assim / porque senio fica assim / a frase sem tra-

Page 25: o AVESSO DA LOGICA:

177

balnar / nao tinha sentido.

(Hi alguma contrihuiçio pr~ escola / essa pesquisa? Além

da reportagem do jornal?).

Até certo ponto j não sei se voce estiverem a fim mesmo de

perseverança naquilo que vocês pretendem realizar / aquele

objetivo de vocês I vocês ainda tão seguras que ainda po­

dem voltarem a assumir / que pode contribuir ou fora ou a­

qui dentro / até certo ponto é vilido / porque é através

de pesquisa que vocês vai surgir alguma coisa / pri voces

bolar um projeto em cima / pri vocês ver se tem alguma fa­

lha / pri vocês verem até que ponto esti sendo vilido aqu~

le projeto.

PROFESSORA AP.

(prâ você qual foi a finalidade dessa pesquisa?).

Você ti fazendo uma tese / VQcê foi uma das pessoas que bo

lou essa escola / eu acho que você ta fazendo uma coisa p~

recida mas tentanto aprimorar I você ta querendo levar o

que você ti fazendo / é / querendo levar isso que voce con

tribuiu pra fazer aqui / talvez em outros casos /

uma coisa mais pensada / você tã elaborando o que

talvez

0-J a ... A

semente da idéia que ji tinha na caheça / não é isso? Mas

- - o ? nao e 1550 o.

(~) .

Bom eu pensei que fosse isso.

(Mas é isso / trouxe contribuição pro teu trabalho?).

Page 26: o AVESSO DA LOGICA:

178

Pro meu trabalho? Eu acho / olha / porque foi tão / assim)

as entrevistas foram tio / dias J tão / por exemplo na ~a~

ta feira outra na J eu acho que foi pouco tempo ti / .A

pra

poder encaixar isso dentro do trabalho / mas a coisa / es-

se gravador gerou uma coisa incr!vel aqui dentro / gerou !

quela câmara de filmar com a gravação e com as entrevis-

tas / foi a partir desse gravador / passaram a filmar e a

gravar na cabeça deles tudo que tinha aqui / entrevistouvo

ce tamhEm e isso foi levado pri dentro da sala / porque tu

do / qualquer coisa que eles soltem assim no ar / eu t6 se

gurando } E levado atE pri trabalhar em sala / com esse ne

gócio da entrevista J da gravação / da filmagem / essa coi

sa da vida deles que foi levantada assim / em entrevista / .A

nos chegamos a discutir esse assunto depois melhor / o que

é j como é ] como comparar o que você falou / o que voce

disse / ah J mas ele disse o que que tem aquilo que eu fa­

lei de cada um tem o seu problema né / e a sua história/ e

quando chegou naquele momento que o Roberto falou / e por

isso a minha mãe enche a cara de cachaça e a minha vó man­

dou ela embora e agora eu tô sem mãe) e aí a gente foi co!!!.

parar tudo né j um com o outro j e eles chegaram a conclu­

são de que no fim de tudo eles sao... Eles tem alguma coisa

em comum né / eu acho que serviu mais pri unir / porque C!

da um / eles entendem que cada um tem uma catistrofe na sm

vida / eu penso assim / eu acho assim / que cada um / eles

tem a consciência disso j eles tratam aquilo como uma ca­

tistrofe / mas quando eles percebem que não são só eles j

acho que isso diminui / alivia um pouco / tem muita dor nis

Page 27: o AVESSO DA LOGICA:

179

so.

(Voce acha que teve alguma contribuição prã eles? Eu acho

até que voce tg dizendo que isso é uma contribuição prá e­

les / mais alguma outra J mais efetiva?).

Eu achei que foi muito curto o tempo para surtir assim /

prã gente sentir.

(A tua turma é uma das turmas J é J onde os alunos nao fal

taram) .

Eu achei que foi curto o tempo prá sentir um resultado /atê

ter / ser mais trabalhado / olha só / nós duas mesmo foi

uma vez só / então não deu assim tempo.

(Voce acha que pode haver alguma contribuição prá escola?).

Sim / porque pelo que eu entendi né J voce tinha me pergu~

tado o que que voce entendeu da pesquisa que eu ta fazendo

na esc.ola / ela ê uma pesquisa nê / e pesquisa como pesqui

sa / a escola precisa nê / da continuidade da sua pesquIsa

nê / só que voce também fez uma pesquisa paralela nê / eu

acho I enriquece ..• Enriquece na troca / por exemplo / se

o que eu penso se o que eu pensei e voce disse que ê nê /

é mesmo / se a tua tese está voltada prá / tipo / a semen­

te surgiu / vamos supor / do projeto / e voce tá levando /

tá aprimorando J tá buscando outros caminhos / está / eu

acho que valia a pena ser discutido junto aqui com a esco­

la.

(Mas tem os problemas políticos né I mas a minha intenção

era fazer).

Page 28: o AVESSO DA LOGICA:

180

Eu sou uma pessoa que detesta polrtica / eu acho que acima

da política tem uma pá de cabeça correndo nesse pátio / ca

beça que pensa tá? E tem uma pá de cabeça que trabalha /

que raciocina e que tá lá lidando com essas cabeças que tá

sofrendo com essa coisa da política.

PROFESSORA C.

(Como é que você percebeu a final idade da minha pesquisa?).

A finalidade da sua ... Olha / não sei se é da sua pesqui­

sa J mas acho que pesquisa de modo geral é um negócio que

me preocupa muito / eu acho que nós tamos num país muito

de pesquisa / todos pesquisam J todos sabem o assunto e

pouco se faz prá resolver alguma coisa / também eu não te­

nho a fórmula mágica não / prá resolver o que que resolve­

ria? Não sei.

(Eu particularmente / fiz pouco?).

Eu não acho que fez pouco / eu acho que foi... Eu acho qlE

é pouca coisa pro que eles tem de conteúdo / eu acho que

uma hora por dia / você não pesquisou nada / eu acho que

você tirou relatos de alguns momentos da vida desses meni­

nos / mas voce nao viveu o dia a dia deles / não teve a c~

plicidade que eu acho que um trabalho de pesquisa / prá um

solução / deve ter / é não sei qual era o seu objetivo qum

do voce iniciou né / voce até explicou que era prá uma ...

Um trabalho que voce tava fazendo e tal/mas eu não sei o

resultado final/que objetivo J qual é o objetivo desse fi

nal / é fazer um livro / é ir prá associação de moradores/

Page 29: o AVESSO DA LOGICA:

181

6 sentar com o governador / ~ ir ao Sarney / qual 6 esse

ohjetivo / ê trazer tecnocratas de fora prá atuar aqui den

tro / qual 6. esse objetivo / isso não ficou claro / qual 6

a função disso / não ficou claro / e pesquisa por isso s6/

só por isso / eu acno que a sua deve ter bastado prá você/

enquanto o que você queria saoer / mas prá ajudá-los / efe

tivamente eu acho que não.

(Você acha que inclusive prá escola nao haveria um retor-

no?).

Não se nôs nao tivermos uma solução.

(E o que que vocE imagina ser essa solução?) .

Eu acho ...

um trabalho de conscientização mesmo / que. e para-

da / de retorno mesmo I ...

de chegar aos .. -mesmo e orgaos compe

tentes I das pessoas competentes e dizer / olha / a nossa

escola I ela não precisa só de um / ela não precisa ...

de so

x professores e de uma sala disso / precisa de um psic610-

go sim e n6s s6 trabalhamos li enquanto ele tiver li / pr~

cis-a tã lã uma pessoa dessas I eu me sinto incompetente em

várias situações I eu preciso de a1gu€m atuando / porque

preciso mesmo / quantas e quantas vezes voce ve professora

sair da sala chorando porque ela não aguenta apressa0 / a

carga emocional é muito grande I então precisa disso / de

uma assistência I é bobagem a gente ter ilusão que a gente

pode trabalhar com a psicologia que tivemos no curso nor­

mal de três anos com esse tipo de aluno / fomos preparados

pri olhos azuis j cabelos louros e perfume francês / quer

dizer / eu acho que a nossa realidade de estudo não atende

Page 30: o AVESSO DA LOGICA:

182

a realidade de trabalho / por mais que a gente tenha feito

leitura de projeto] por mais que esteja lendo esse proje-

to mais uma vez J nós- vamos ler dez vezes esse projeto /

vinte / trinta / quarenta vezes I mas acho que existe .,

a1

uma necessidade de apoio emocional/porque nessa hora -e

que voce precisa alguém prã segurar sua peteca né / nessa

hora não adianta amiga dizer J é J - assim / mi a e mesmo na

nha sala também acontece / - isso / precisa de nao e voce um

profissional competente que te ajude a segurar a sua estru

emocional J afinal de contas - - de ferro ...

/ tura voce nao e ne

sahe J são pessoas trahalJiando com pessoas e eu acho que

isso é um pouco caso J eu acho que tem a idéia de que o

professor é capaz de tudo e não é não J e a gente quando

vem trabalhar numa escola que atende esses meninos / a gen

te vê que nós não somos capazes de quase nada J muito pou­

co / o que a gente tem sim é uma força de vontade do cace-

" te J que você tira / toma valium / toma vagostesil / enten

deu? Prá você relaxar e conseguir dormir e conseguir fi­

car tranquila / quantas e quantas vezes você toma J é / f~

um trabalho fora / faz um trahalho fora / é o trabalho que

vai te segurar / entepdeu? Quando o garoto diz prá você e

aí se eu não bater J se eu não fizer / nao ganho J tu diz

.. ] '7 o que pra ee. Vai morar lá em casa? Não dá / entendeu?

Você não tem como / você dizer isso J porque isso não vai

funcionar / eu acho que a escola só pode funcionar com es­

ses e esses profissionais J dessa e dessa maneira / sabe

a questão da oficina de trabalho / eu acho que é algo que

a gente tem que botar / eles precisam de emprego sim / a

Page 31: o AVESSO DA LOGICA:

183

gente nâo pode tapar o sol com a peneira / de que eles não

precisam de emprego nio / o que esse paIs mais precisa .. e

de emprego e a ge.nte finge que emprego é lazer J que ofici

na de trahalho vira lazer I a gente tem que buscar maneira

de arranjar / formar / de empregar essas pessoas sim / por

que vai você ter pedagogia sem emprego J como é que voce

sustenta sua cas·a? Como é que voce compra o remédio / não

tem / nâo existe isso / eu acho que é utópico a gente pen­

sar que vamos colocar uma oficina / pegar o excesso de pa­

pel pri trabalhar em grifica e etc ... Se você não vai as

grificas buscar estigios / possibilidades de absorção des­

sas pessoas / desses alunos / e serve de estímulo sim / se

é por aí que a gente vai começar / não importa / eu acho

que a gente tem que começar / porque no momento que ele ti

contato o outro ..

empregado / que vem de outro ver com que e

meio / ele vai buscar a escola J é cíclico / o emprego ge-

ra a vontade de subir / a vontade de ter e .,

busca a a1 voce

escola e a escola te di mais potencial pri você ir li /

porque foi assim com a gente j você entra no curso e voce

vê que a pessoa que fez pós conseguir um emprego melhor /0

que que você faz? Voc~ volta i escola pri fazer pós / e

aquele que conseguiu mestrado ti num emprego melhor finan­

ceiramente sim / com menos horário de trabalho também / por

que / não porque a gente vai fingir que não / que a gente

quer trabalhar menos / todo mundo quer trabalhar menos /

quer ter um salário decente J sabe j eu acho que a gente

tem que parar com essa mentira de que a gente quer traba-

lhar muito e ganhar pouco e feliz da vida / tem que pensar

Page 32: o AVESSO DA LOGICA:

184

essa coisa que eu acho muito mesquinha I sabe I da gente

achar que nao ; J e eu acHo que eles precisam tamhEm do em

prego I que a escola tem que ser geradora de emprego / .-e

esse tipo de escola que eu acho I da forma que é feito / se

tâ certo ou se tâ errado / aí é um outro ponto prá gente

questionar I mas que eu acno que ele tem que ter emprego

tem sim / eu acho que ê fundamental prá ele.

PROFESSORA V.

(Como voc~ percebeu a finalidade dessa pesquisa?).

O que eu percehi dessa pesquisa J parecia que tinha alguma

coisa a ver com J é J essa questão da criança que ficar so~

ta no mundo e de repente parar num aparelho repressor / que

no caso as duas vezes que eu assisti a pesquisa / tinha a

ver com internato, Funahem J acho que eu fiquei duas vezes

na sala I com essas coisas assim J então o que eu achei e-

ra isso J que tava se tentando ver que tipo de modificação

ou que tipo de coisas aconteceu com crianças que passaram

por esses mecanismos de pressão J que tem aí nê / que agem

sobre a criança / o menor.

(Voc~ acha que houve contribuição para os alunos da pesqui

sa?) .

Eu acho que eles puderam falar sobre isso nê I aqueles que

já passaram por esses mecanismos de repressão / puderam f~

lar sobre isso e também ficaram muito interessados a par-

tir de agora em falar em gravador.

Page 33: o AVESSO DA LOGICA:

185

PROFESSORA S.

(Como € que voc~ percebeu essa pesquisa?).

O trabalho todo?

(Esse trabalho todo 1.

Fiquei assim meio sem saber porque I sem saber o objetivai

entendeu? A gente ia I assistia I ouvia os relatos deles

né I a inibição pra falar J é J muitos talvez até gosta­

riam de ter falado mais e não falaram I o Marcelo J o An­

dré / por exemplo J queria ter dito tanta coisa e a inibi­

çao nao deixou né J que ele tem muita coisa pra contar I

mas ele preferia escutar I agora eu senti como algo que a

própria turma passou J que pena que isso acabou / quando

que vai ter aquela aula daquela professora Simone? Que e­

les chamam de Simone e a mim de Monica I ele as vezes con­

fundem quarta-feira I pôxa I agora só quarta-feira I que

na quarta-feira anterior voc~ I você disse pra eles que ha­

via terminado I foi assim J eu tive que parar dez minutosl

quinze I pra poder dizer I terminou dessa vez / quem sabe

numa próxima oportunidade eles I não ela vira prá fazer um

novo trabalho ou até ~esmo pra sentar com voc~s pra alguma

conversa / prâ voc~s contarem e pra ouvirem também o que e

las t~m prâ dizer.

(Voc~ acha que houve contribuição prâ voce ou prã eles den

tro desse processo· ar J durante a pesquisa?).

Em que sentido?

(Em algum sentido I qualquer sentido J voce acha que con-

Page 34: o AVESSO DA LOGICA:

186

tribuiu prâ voce no te.u trabalho e pra eles de alguma for-

ma?).

Não que nao tenha contribufdo I porque quem chega na sala

com voc~ prâ fazer o trabalho e falava na sua sala enquan­

to a gente ficava lã ; falavam I contavam I desabafavam /

chegava ali jogavam tudo; são os mesmos que fazem na sa­

la ; então assim né / nesse caso ; o Marcelo nao fala nem

com voce e nem comigo também nunca falou num ... Lá ele

conseguiu ainda né colocar prã fora e os outros que conta­

vam em sala / então não vou te dizer que melhorou / agora

eles falam mais ; eles se abrem mais / eles se expoe mais/

nao / ficava assim Jum momento bom prá eles / é uma das ...

Prâ eles como aula extra nê ; que eles não entendem muito

uma pesquisa / um livro / ficava algo como algo gostoso /

um momento legal deles participarem / de querer estarem lW

as vezes ; nem sempre eles estão dispostos a fazer educa-

ffsica / não hoje / ...

/ çao eu nao vou eu vou pra casa essa

aula não ; talvez logo 4'

J - sei J por ser no inlcio nao mas

era algo bom prá eles né j eles sentiam prazer em estar.

(Voc~ vê alguma possibilidade de retorno pro trabalho da es

cola com essa pesquisa?).

Isso .. e ••• Eu acho que isso af ê a base da pedagogia tal-

vez assim da escola / trabalhar em cima do que eles falam/

do que eles dizem J tanto é que quando a gente vai fazer

algum texto com a turma ou quando a gente junta as turmas;

parte ê deles / é até prâ mim é meio diffcil esse trabalho

ali / porque às vezes fala de peixe e eu não vou começar~

Page 35: o AVESSO DA LOGICA:

187

lo x mas ~ pelo x mesmo / nio tem outro jeito / eu prefe­

ria que fosse de safado como saiu da polícia civil/que é

muito mais facil / mas se ~ pelo x / vamos la / no . ,. . 1n1C10

me assustava / hoje não me assusta mais.

(E você ta encaminhando com o x mesmo?).

Se pintar um x ou algo em inglês que tenha letra que nao

tem no nosso alfabeto / a gente vai tentar dali pra alguma

coisa / o que eu trabalho não tem uma diretriz certa / pra

te dizer / mas eu tenho certeza que na hora a intuição /

naosei / eu não vou tamh~m / não ~ me elogiar mas eu te­

nho muito boa vontade / eu sinto que eu tenho a cada dia

que passa eu fico / eu deito / eu penso / poxa / posso fa-

zer isso / de repente as coisas surgem na hora que eu nao

tô pensando em Tia Ciata / as coisas acontecem e chega a-

qui e eu tenho a volta daquilo como algo positivo.

(Mas você fez uma opção nisso aí / você fez a opçao de pr!.

vilegiar o conteGdo pela forma / quer dizer / pelas letras

e tal/você ja tem essa opçao consciente na sua cabeça /

quer dizer / pintou o peixe / pintou o x / você vai traba-

lhar o x mesmo porque peixe é o conteúdo que você viu im-

portante pra eles).

Eu acho que eu tenho porque as coisas dão certo / elas tão

fluindo / talvez se eu tivesse at~ partido pra palavra mais

facil que nao tem muito a ver com o texto em si / eu ia fa

zer aquilo de uma maneira que não ia / eu nao ia talvez eu

nao tivesse volta / aquela coisa mecânica nao / ela passou

no quadro / ela deu uma folhinha / tem que ser isso e eles

Page 36: o AVESSO DA LOGICA:

188

criticam quando tem que criticar e eu acho isso bom / qua~

do eu falho / deles apontarem o defeito de eu de repente /

pô / eu não quero folhinha desse mimeógrafo / eles não fa­

lam / nesse escrito aqui / eu quero dever de quadro / que­

ro copiar de quadro / então as vezes a gente muda.

(Essa coisa da cópia / eles começaram a escrever

frases lá e eu tentei traoalhar a importância da

algumas

escrita

que eles fazem / houve alguma mudança nesse sentido na sa­

la de aula deles ... ).

Não / eu sinto a turma assim bastante criativa prá frase /

prá texto / eles não ficam pensando no que vão falar / e­

les tem uma história prá contar / tem que pensar / então a

conteceu mesmo / ele não tá vagando / imaginando o que vai

dizer né / e as frases acontecem às vezes naturalmente /

dali eu já parti prá ponto de interrogação / ponto de ex­

clamação né / o que veio também bater com sala de leitura/

de repente começou a trabalhar isso e a gente viu que hou­

ve né uma certa coincidência / sem a gente combinar nada /

então ...

(Você então / é uma opçao consciente você trabalhar com o

conteúdo você amarrou essa e daqui prá frente é ... ).

Eu posso até amanhã ver que nao é isso e voltar atrás e mu

dar / isso nao é nenhuma proposta definida num semestre in

teiro / prá um mês inteiro / pro ano talvez / não tem / por

que isso acontece no dia a dia / é que nem planejamento /

eu não gosto de fazer planejamento / acho até que eu nao

sei / porque eu tô escrevendo ali / até pode acontecer /

Page 37: o AVESSO DA LOGICA:

189

mas eu sou do contra I eu vou querer mudar aquilo de algu-

ma maneira I que eu tô fazendo a coisa em cima do que tal-

escola - pedir - ta? Pra - poder se vez a va e nao e o caso voce

guiar fica mais facil I nao nego que fica I mas eu prefiro

fazer depois que acontece I justamente pra eu fazer o in­

verso né I planejamento é algo com muito ... Por mais que

voce fale que ele é flexivel e é I nem sempre ele é / _voc~

pode ter um caderno lindinho I numas folhas que eu nem te­

nho caderno I eu escrevo em folhas pra que eu me guiei não

pra mostrar aquilo pra alguém I até comento.

PROFESSORA J.

(E como é que voc~ viu a finalidade dessa pesquisa?).

Bom I eu acho que questão de pesquisar I de ver até a que~

tão do aluno mesmo I em relação i aprendizagem I ao ensi­

no I aprendizagem de repente de procurar ir mais a fundo /

entendeu? Tentar descobrir as dificuldades dele loque

de repente pode levar ou não a I compreensível I de comporta

mento I eu acho que é uma coisa que é importante ta? E de

repente voce vai acabar até constatando o que a gente até

ja sabe.

(E voce acha que ela contribuiu de alguma forma pro teu na

balho? Ou não?).

Eu acho que ela veio constatar realmente o que ta aconte-

cendo entendeu? As dificuldades I a questão deles levarem

o que passa na vida deles pra dentro da sala de aula I to-

da essa questão I eu acho uma coisa I que a gente de repe~

Page 38: o AVESSO DA LOGICA:

190

te já sabia entendeu? Uma coisa que tem que ser explorada

até.

(E você acha que houve alguma contribuição pros alunos? A

cha que serviu prâ eles de alguma coisa?).

Isso aí eu nao sei / é difícil até falar prá eles / e até

a questão da pesquisa prá eles· também / eles / eu acho que

não tem tanto interesse / eles não sabem a importânciá en-

tendeu? Então acho que até o lance / por exemplo do grav~

dor / de ser gravado / coisa assim / eu acho que é uma coi

sa mais excitante prá eles / depois eles poderem ouvir o ~

que eles falaram / tudo isso eu acho que e mais excitante

do que a própria pesquisa / porque eu acho que eles não tem

ainda senso crítico / num sabe ainda o que que é / qual a

finalidade nem nada.

(E se não houve nenhuma contribuição você acha que essa pe~

quisa pode trazer contribuição / alguma contribuição para

o teu trabalho / o trabalho de outra escola?).

Bom / eu acho que / acho que toda pesquisa tem uma finali­

dade de acrescentar alguma coisa / alguma coisa que já es­

teja aí que / ou você, constatar aquilo ou então voce ampli

ar aquele campo entendeu? Então eu acho que sempre traz

alguma contribuição.

Page 39: o AVESSO DA LOGICA:

A N E X O 111

FICHAS DE ROTEIRO E REGISTRO

PROFESSORA: COORDE~ADORA: ----------------- -----------------

PROFESSORA DA S.L.: DATA:

1. PLANO:

2. COMPARECERAM OS ALUNOS:

3. AVALIAÇAO SUSCINTA DA ATIVIDADE:

Foi cumprido o planejamento?

Interesse da turma:

Os alunos gostaram?

Outros comentários:

4. ASPECTOS GERAIS:

- Ternas/assuntos trazidos pel~ turma:

Page 40: o AVESSO DA LOGICA:

192

- Brincadeiras/implicâncias entre eles?

- A turma forma um grupo? (solidariedade, amizade, com­

petição) .

- Existe liderança? Quem é? Que características possui?

(em que se baseia a liderança)

- Comentários sobre a sala de leitura.

- Comentários sobre a sala de aula.

- Comentarios sobre outras atividades da Escola.

- Outros comentários:

- Está havendo continuidade nos trabalhos da sala de lei

tura? Os alunos percebem?

- Atitudes dos alunos fren~e as atividades propostas:

Ca) Homogeneidade de atitudes? O sim O não

Porque não? Desnível de: conteúdo O idade O diferentes interesses O

Se outra razao, especificar:

Que proporção?

(b) Passividade:

Que proporção?

Cc) Descrédito? Em que? Em.si mesmo O na escola O no professor Ona sociedade O outros O

Page 41: o AVESSO DA LOGICA:

193

(d) Comportamento agitado? --------------------------------Que proporção?

(e) Dispersão? prováveis razoes:

(f) Prazer:

- Preconceitos identificados:

entre os alunos:

dos alunos para outras situações:

- Palavras utilizadas com significado diferente do u­

sual (glossário)

S. IMAGENS:

- Relações de ASSOCIAÇÃO e/ou OPOSIÇÃO estabelecidas pe

los alunos nos seguintes temas:

Escola

Trabalho-Salário-Patrão-Autônomo-Dinheiro-Sobrevivência

Liberdade

Felicidade

Governos/Poder

Polícia

Favela

Page 42: o AVESSO DA LOGICA:

Meninos de Rua

Vida

Namoro/Sexualidade

Lazer

Violência

Habitat

Saúde

- Metáforas utilizadas:

Possível associação:

- Gírias utilizadas:

Sentido identificado possível

6. CONTEODOS TRABALHADOS:

Existe desnível quanto a estes conteúdos?

Em que proporção?

7. CONTEODOS TRAZIDOS:

- Referências dos alunos para:

194

Page 43: o AVESSO DA LOGICA:

195

Tempo

Localização esnacial

Locomoção

Estruturas operatórias

Simbologia

- Mecanismos de anilise

(Explicitar se os alunos se dão conta e/ou s6 usam e/

ou aplicam).

Causa/conseqüência

Associaçã%posição

Condicional/hipóteses

Generalização/indução

Outros

8. QUE ELEMENTOS/PARÂMETROS USAM PARA ESTABELECER: (VALO­

RES)

Causa/conseqüência

Associações/o~osições

Page 44: o AVESSO DA LOGICA:

196

Símbolos/metáforas

Page 45: o AVESSO DA LOGICA:

ANEXO IV

FICHAS DE PERFIL DAS TURMAS PERF1~ DA TURMA

PROFESSORA: -looiG;..Je..'I..JYCÀ.~I ____ COORD: DATA: L.Ll~~;":'::::::';

1 - DADOS I?ESSOAIS DOS ALUMOS - TO'-AL : 69

IDADES

maJ,s t-......... H--rr--rr· r;-r oeZl !' ,I ., I

-ri -- ~ .. --------~ ; I . I , I

.+---'-'~--Ih~----~'~i--- I I ~ I "

PROCeD~CIA

10 15"~

lONA RUMLrn

ZONA UR5ANA~

I.I'l'ORAL [[I] ItfIERIORW]

OUTROS DADOS

NORA, VIVE:

com os pai t; 1~91 um o.. ~~ ;ai cOm õ1qúém da fal1li~' u rn com outra ramil\~ com outros meninos I'\~ rua) rn com outTO:S aàu.\tos [5J :lO' fi

T ra.bal ham 7 Não. ma~ já trabalhou?

Page 46: o AVESSO DA LOGICA:

PERHL DA TURMA

PROFESSORA: ~A~P.:... _~M.....;A.;.;.rJ.....;H..;.;A:....-__ COORD: MO";CA<

1 - DADOS PESSOAIS DOS ALUNOS Toí"AL: f 5'

IDADES

rr~r-lr-r -r r" '-~f I I' I' • I ! I 1

T-I~ ~ ---l I I ;-,1" L.~

PROCeD~CIA

! !

I I

10 15"

"ZONA RURAL I]J ZONA URI3A.NA[IT]

LITORAL üI] INTERIORG]

OUTROS DADOS

NORA, VIVE: ~

~O1l1 os pai c; m <.0",", I>,. rn~ rID cOm õ1'lvém da. !al'llil i Q m com ovtra ramiH~1xl com outros meninosTn::t rv.~) [[] com ou tTO~ adultos m

198

2 - DADO~ ~º_eR~~f\_~SCºLA~I1>r},_I)_E:_-r __ -r ___ "-__ -r-__ -..r--__ -r-_ ..... 1 10a

Há quanto tempo estuda ? ~~ __ ~ __ ~~~~~ __ ~~~~~ __ ~~~,-~ __ ~)<~~

Até q\Je série? Q\lds 64lri.es repetiu? 1!'s

~--~--~~~~~~--~--~~~ Aprendeu a ler na escola? Sim ------------------------------~ '----------

:3 - DADOS SOBRE: O lAAMLHO Não, ma~ já trabalhou ? Si~ Hão 3 Tra.balham 7 Si.m

Page 47: o AVESSO DA LOGICA:

PERFIL DA tURMA

199

DATA: Aby"/~io/g(j r I

1 _ DADOS PESSOAIS DOS ALUNOS - TOTAL.; i 3

2

IDADES

5 10

'ZONA RURAL m ZONA \JRl3ANA~

LI'l'ORAL [IQ} nnER10RW

",-

OUTROS DADOS

"'ORA, VIVE: . com os pai li [!Q] (..OI'T'I t> ..... ~ [Q cOm õlqvém da fall1il i ~ ~ com outra ramilt~ r11 com ov tioS meni.nosTna ru~J rn com OutTO~ adu.ltos ~

Há quanto tempo estuda ? ~~L-~ __ ~ __ ~~~ __ ~~~~~ __ ~~~~~ __ ~~~

Até que série .., Quais sQries repeti\J ?

Aprendeu a ler na escola

3 - DADOS SOBRE: O 'IAAM.::.LH~O:-...,.-_-.-______________ .--_-..,""","'--l.

Tnbalham 7 Sim .3 ~ão. ma!t já traba.lhou 7 Sim X liãol~ol

Page 48: o AVESSO DA LOGICA:

200

PERFIL DA TURMA

PROFESSORAS: s. , 1.. c. 3. ~f COORD: 1íQ.t\~ DATA: Abril /MQ.io/M .. ~=~r......;..:...;;;.;...;;;::;.:..-__ r '

1 _ DADOS PESSOAIS OOS ALUNOS - To r'\ L- : ~ b

PROC EDItNCIA

i I

10 15'

ZONA RURALm

ZONA URUNAW]

LITORAL m nnERIORÚ]

OUTROS DADOS

NORA, VIVE: -

com os pai .. 0 (..o"""" mDt. ([J cOm al'j\lém da farqi~· a 1]2] COm outra ramill~ com ov tros meninos no:!. ru.,;}) 00 com outro:s a.dultos m

Há quanto tempo estuda ? ~~~~--~~~~~~~~~~~-T~~-r~--~~~ Até que série "!

Q\lais sQries repetiu ?1~s ~ __ ~~~~~ __ ~~_~~~ __ -L __ ~

Apl'endeu a ler na eseola ? ------.-. - --------------------1

3 - DADOS SOBRE: O 'IAAMLHO

Não, ma~ já trabalhou?

al.LIOT ••• ~ amLlo VMUa

Page 49: o AVESSO DA LOGICA:

PERFIL DA TURMA

PRO ressoRAfI :-=C:::.' ... .(,,=-...:S~. _..:.rJ:..:,,:..:i"-!'T'..!'=-- COORD: ..!.M~o.!.:n!..!.;.::c:..:!::c...::.-. ___ _

1 - DMJOS PESSOAIS DOS ALUNOS - '"''TAL: ,J. 5

IDADES

ma.is+-!"""'P .......... -r-r-r"-' ,-.-.. oeZl ; i ,I !

...-. --------._­I

.i--...... H-~----r~ I

PRoceomCIA

j I

'ZONA RURAL[BJ

ZONA \JReANAm:J

LITORAL [!!J lHTERIORm

OUTROS DADOS

NORA, VIVE:

com 05 pai c,; 1!!1 (.,.Om c>. rn;'c- 1ll cOm õi qvél1' da fal1li~' M C2J com ovtra ramili~ '7< cem outros meninos "" ru~) m com outTO~ adultos m 50' m

201

Há quanto tempo estuda ? ~~~~--~--~~~--~~=--r-~--~'~~~~--~~~ Até qve série '!

QvaÍ-S séries repetiu?

Apl'end~'l a let' 11a eseola ?

'3 - DADOS '30lmE: O TMMLHO

1rólbalham? Sim ~4 INão I ma:r já trabalhou? Si.m GiJ Hão I 9 I

Page 50: o AVESSO DA LOGICA:

A' N E .x O V

FALAS DE ALUNOS E PROFESSORES ~E EXPLICITAM SUAS RELAÇOES

1. FALAS DOS ALUNOS

Debate na turma da Professora J.

AMAURI

A gente tá conversando um papo sério / as vez violência na

área / a gente somo da área / conversando o que tá aconte­

cendo / aí vem a professora / prá sala / não sei o quê J não

sabem nem ... ~ I nãosahe nem qual é o assunto que a gen­

te tá trocando e já tá mandando prá sala / não / prá elas

não interessa.

ANSELMO

Prá elas não interessa / pior que é.

ALEX SANDER

Interessa prá gente I que elas mora longe I nao tem perigo

de morar em beira de morro J agora quem ...

AMAURI

Elas prâ gente / a bem dizer I elas mora bem J uma mora no

prédio / é só pegar carro / ainda tem uns / tem carro aí.

ALEX SANDER

Monza / Escort / e a gente de carrinho de mao.

ANSELMO

prá gente é trem / quando não é o trem e o ônibus I dar ca

Page 51: o AVESSO DA LOGICA:

203

... lote / que nao e todo dia que todo mundo aquI tem dinhei-

ro / aluno então J não é todo dia que tem dinheiro prá pa­

gar passagem J ele se arrisca muito no calote J quando no

calote pode dar o azar de encontrar no meio da rua uma blitz/

a polícia entrar dentro do cambu ... Dentro do ônibus / ca

dê o documento / as vez o menor nao tem / tá sem documen-

to / e por aí já vem o agitamento nervoso dele / certo? E­

les as vezes é um garoto que não é de aguentar desaforo /

a polícia chega / pergunta o documento / eles não tem docu

mento / pergunta se ele vai pagar a passagem / não vai J

por causa de que os policial / a maioria deles hoje em dia

sao abusados / eles faz isso mesmo J e se o cara for um ca

ra agitado J certo? Nervoso / ele vai responder / ele vai

agressar / eles também / que que vai acontecer? Espanca-

mento prá ele.

(E esse problema nao interessa às professoras?).

ANSELMO

Não / não interessa por causa de quê eu acho que quase to­

das sao assim / sabe porque causo? A gente tá certo / que

a gente chega aqui e fala / qualquer um fala / eu dou calo

te / eu também dou / eu dou ...

AMAURI

Eu também dou.

ANSELMO

Mas não é todo dia que a gente ... Tem a~uele ditado I nao

é todo dia que cachorro caga na mesma esquina.

AMAURI

Page 52: o AVESSO DA LOGICA:

204

Calote a gente tamb€m se di mal/que as vez a gente quer

saltar num ponto / salta li embaixo j a porta não abre /

maior falta de sorte tam5€m que a gente tem.

ANSELMO

Da falta de sorte de encontrar um trocador que ele ti arma

do / então ele responde pro cara certo? Aí o cara / ah /

voce é um trocador / e começa a responder / aí di um azar

que o trocador puxa da arma / e daí / e daí / ah / a senho

ra não se lembra aquela vez / eu nao sei se a mulher ou o

rapaz / ali no Catumbi / e outra ali na Quinta da Boa Vis­

ta / se lembra aquela vez que o trocador matou o menino?

Entrevista dos alunos - Eles prepararam as perguntas e e~s

mesmos responderam como se fossem a professora (TURMA DA

PROFESSORA AP) .

PERGUNTA - Porque a senhora vai largar a turma?

- Eu acho a turma muito bagunceira / que não di nem gosto

prá gente / se eu pudesse sair daqui eu saía mas acontece

que eu não tenho outro trabalho / aqui não é uma escola /

isso aqui € uma bagunça.

PERGUNTA - E porque a senhora já nao foi?

(A resposta não foi identificada).

PERGUNTA - A senhora tem namorado?

- Eu não.

PERGUNTA - Quantos anos a senhora tem de casada?

- (Risos) Vinte anos.

Page 53: o AVESSO DA LOGICA:

205

PERGUNTA - Porque a escola nao tem passeio?

- Porque eu nao levo / que tem muito bagunceiro / tem que

tirar da escola / tem que organizar a escola j prâ depois

virar escola verdadeira / isso aqui já foi escola.

- -? PERGUNTA - Mas agora nao e. Que que é isso então?

- Isso aí é uma bagunça:cum esses alunos I que nao respon­

de a professora J que quer dar prá professora.

Entrevista dos alunos - Eles prepararam as perguntas e e-

les mesmos responderam como se fossem a professora C TURMA

DA PROFESSORA V).

PERGUNTA - Professora Ana Cristina / a senhora gosta de ser

professora / gosta de ensinar?

- Gosto.

PERGUNTA - A senhora gosta de seus alunos?

- Gosto.

PERGUNTA - E a senhora Cristiana?

- Também.

PERGUNTA - Eles nao dão problema não?

- Às vezes.

Também faz muita bagunça I nao atende a gente.

PERGUNTA - E o que a senhora faz?

- Ah eu boto de castigo I mando sair J sair da sala I eles

não faz dever nenhum / porque eles faz muito bagunça.

PERGUNTA - Os alunos são ohedientes J dão trabalho I como

é que é?

Page 54: o AVESSO DA LOGICA:

206

- Bem / tem uns que faz bagunça tem outros que não / os que

faz bagunça boto de castigo e depois falo com as mãe.

PERGUNTA - E quando nao tem mãe7

- Ah falo com o juiz de menor.

PERGUNTA - Fala com o juiz de menor e manda prender ele?

- Não dá só um castiguinho neles.

PERGUNTA - Que castigo?

- Bota eles de castigo em cima do caroço de feijão ajoelh~

do.

- Ah eu acho horrível/eles fica no quarto escuro.

PERGUNTA - E o que mais a senhora faz?

- ~ / eu mando o guarda pegar ele prá botar no qu'escuro

aí ele fica cheio de medo.

PERGUNTA - Nossa! As senhor~s nao t~m pena dele não?

- Não eles é muito levado.

PERGUNTA - Não tem outro jeito?

- Eles rasga as folha tudo J aí boto lá no qu'escuro / man

do o guarda pegar eles e Dotar no qu'escuro.

PERGUNTA - A vida da ?enhora é boa?

- E / é muito boa.

- E / é ótima.

Page 55: o AVESSO DA LOGICA:

HISTORIA QUE O MENINO CONTOU ESPONTANEAMENTE

(não havia tema pré-determinado)

História do Anselmo

207

Eu gostaria de falar sobre a Dona Jaqueline I minha I su­

per I super professora j e gostaria que ela pudesse né Ime

dar mais uma forcinha né I a senhora deve tá sabendo maiS

ou menos o que é Dona Monica I gostaria que ela me desse

mais força na leitura I tô precisando demais j e sabe como

é que é né I malandro I tô precisando da leitura I sabe po~

que? Não I vou falar sinceramente I a verdade é que mais

tarde essa leitura I vai me dar grandes lucros I tá enten­

dendo? E gostaria de encerrar por aqui mesmo / muito obri

gado.

HISTORIAS QUE OS MENINOS CONTARAM SOBRE O QUE PARA ELES SE

RIAM COISAS VIOLENTAS

Histórias do Carlos

Aqui na escola nao tem esse negócio de violentar nao I até

agora nunca vi nao I já vi briga I já vi gente com revól­

ver I já vi gente com faca I canivete I isso eu já vi / a­

gora violentar as pessoas I aqui nunca vi não j e ainda por

cima os garoto grande I por causa sao grande I eles quer

bater I mas também os alunos / também alguns alunos que tem

na escola I mexe com os moleque grande I esses moleque gran­

de também quer bater / não deixa I eles não pode ficar me-

Page 56: o AVESSO DA LOGICA:

208

xendo com os moleque grande I os moleque grande quer bater.

Daqui da escola I a violência I é que os professores I e­

les tentam parar a violência aqui na escola I mas na rua e

les não pode fazer nada I porque na rua é na rua J aqui nãol

aqui dentro quem manda são eles I agora na rua leu não seil

porque eles não pode mandar I porque lá eles não dão aulal

agora na rua I acho que I prá mim I na rua é a pior violê~

cia I porque na rua eles pode matar I eles pode matar e p~

de roubar I aqui não I aqui é diferente.

Histórias do Adriano

Que aqui dentro I aqui· dentro é bom sabe porque? Aqui a

gente I aqui eles corrige a gente I tem outras pessoa que

não vai corrigir certo? Mas eles aqui dentro I os profes­

sores e as professoras I eles corrige a gente aqui I eu ve

jo às vezes a minha professora me corrige muito I corrige

outros alunos aí I aí eles volta a fazer tudo de novo I aí

fica assim I aí vai vai I parece que nao tem fim.

Sabe porque? Porque ~s vezes a gente acha até engraçado I

que a gente somo jovem I inclusive I aí somo jovem I

urna parte a gente gosta I é uma diversão prá gente assim I

mas tem vez I quando eu tô velho pô I não vai dar prá mim

fazer isso que I que vai fazer barra pesada mesmo I aconte

ceu quando quer I então eu vou parar I aí amanhã ou depois

volto a fazer tudo de novo I que a gente vai fazer violên­

cia I assim zoar I fazer bagunça I.é que a gente acha um

Page 57: o AVESSO DA LOGICA:

209

barato / uma diversão / uma professora discutindo com a

gente / Ah / não faz isso / ~ / nio sei o qu~ / ai is vez

a gente gosta que ela sente raiva pela gente j ela não po­

de bater na gente / fazer nada} e a gente tamb~m não pode

fazer / agora tem certos alunos que bate at~ em professo­

ra / que eu vi / eu vejo aqui.

História do Adriano

Eu acho / quem é violento sao os próprios ... São os alu­

nos mesmo / a gente ê aluno mesmo / acho que a gente mesmo

que somos violento aqui dentro / as professoras não / acho

que a gente que ~ aluno mesmo J que ~ violento aqui dentro /

quer dizer / eu não mato J não faço isso / mas outras coi­

sas eu faço tamb~m / todo mundo faz / ningu~m não ~ santo/

ninguém é santo tamb~m.

História do Marcelo

Da Mineira / Mineira em guerra / não sei de qual outro mor

ro / acho que ~ do Larguinho / aí os moleque não vem estu­

dar J por causa dessa guerra que tá tendo aí / eles falam

que ia invadir a Tia Ciata / prá pegar os moleque lá do ma

ro do Larguinho / prâ matar / por isso que eles não tão fie

quentando a escola / aí / por isso / que a escola tá meia

vazia.

Históri.a do Amauri

Ah! Ela grita / faz um montão de coisa J quer xingar as

pessoa / elas não pode xingar não / ela vai falando / -nao

sou tua mãe / nao sei o que / elas fala / Ah! nao sou tua

Page 58: o AVESSO DA LOGICA:

210

mae / nao sei o que / mas elas também não pode bater na ge!!.

te não / elas fala j elas fala I não tô falando I algumas

professoras I de algumas que eu j á vi gritando I a sua mãe I

nao sei o que / mas como a gente não pode falar / não pode

agressar elas / falar alto com elas / elas também nao podé

falar alto com a gente I tem que ser o mesmo nIvelo

História do Alex Sander

Violência I violência pode ser a gente I que pode I que ti

ver falando com a pessoa / a gente I pode ser agressivo /

falando com a pessoa.

Opinião de Fábio sobre roubar

Eu falei isso brincando I mas o que eu falei prá ele / que

ele não devia roubar / porque roubar não é futuro I prá e~

dessa vez roubar um banco / não roubar ponre / só rico /

porque se eu fosse polícia / eu ia rancar dos ricos prá dar

pro pobre / sério / se eu fosse rico / se eu fosse polícia!

ia j ia prender ...

filho de rico / filho de pobre eu pegar so

nao / filho de pobre não merece ser preso I porque que /

porque que só preto vai prá cadeia? Que o branco também

tem que ir / ele é filho de papai e mamãe / mas também tem

que ir prá delegacia I porque agrada os polícia com moneij

dinheiro / nao pode Item que pegar uma cela e pá ..• Dá um

piau I ele fez mais do que certo j se a mulher era rica I

ele era mais de roubar / podia levar as calça dela.

Page 59: o AVESSO DA LOGICA:

211

Opinião de Jorge Luis sobre roubar

Eu acho errado quando a gente entra dentro do ônihus j co­

mo nós somo preto j a mulher tira o cordão e fica olhando

pri gente cheia de medo / quando a gente passa na rua / o

de terno e gravata j vem dentro do carro j começa a olhar

a gente / aí tem hora que a gente fica bolado j fica com raL

-va / mais de roubar mesmo j por causa de qu~ que eles nao

ve a gente / que a gente somo preto? Tem racismo de cor /

tira o cordão tira tudinho j diz que cisma e n6s tamb~m j

que não é nada disso que a gente pensa j não ~ nada disso

que eles pensa / eles pensa uma coisa / a gente pensa ou­

tra / aí que se revolta mesmo / condiç6es que hoje em dia

que di j pri trabalhando J fica tirando / a gente se revol

ta / certo? E é mais de roubar tudo / a gente não fica se~

tado dentro do ônihus / a mulher fica olhando pri nossa ca­

ra / tira o cordão / se levanta e vai lá prá frente / por­

que preto so pinga dentro de ônibus / se trabalha no sinal

vendendo jornal/eles vão j fecha o vidro do carro / pen­

sando que voc~ é ladrão / aí tinha que ter conselho também

pri quem não conhece j pensando que / porque é preto eles

pensa que é ladrão / que eu nao robo / tem mais é que rou­

bar mesmo / hoje em dia po / que Inão compreens-ívell / se

eu tô passando na rua / se a senhora me encarou / tamb~m /

sigo a senhora fora da calçada / sou mais de atravessar/tá

saindo daqui por causa de que? Porque eu sou ladrão? Deve

ser que eu vou rouhar J ficar me encarando / eu sou assim j

passei na rua j algu~m ficar me encarando / eu pergunto

quem me encarou se eu tenho cara de viado / eles fazem assim mesmo.

Page 60: o AVESSO DA LOGICA:

2. FALAS DOS PROFESSORES

Entrevista com a Professora L.

(Como é que tava tua turma no processo de ensino aprendiza

gem? Antes deles sumirem.).

Eles sumiram mais eu acho que foi por causa da greve / por

que antes da greve eles estavam bem j depois da greve é ~e

ele sumIram / né?

(E aí antes da greve tava legal?).

Razoavel / né / porque eles fizeram muita bagunça / eles sem

pre fizeram muita bagunça / não é de agora que eles fazem

essa bagunça não / sempre foi muita bagunça / principalmen

te a minha sala / teve mui ta briga / mui ta bagunça / eu sem

pre tentei controlar eles / mas sempre foram muito difÍce~

e também ensinar sempre foi muito difícil.

(Mas você acha que é difícil porque?).

Porque eles não acei ... Uma que eles sempre tiveram muita

liberdade / eles tem essa escola como a escola deles / o pro

fessor aqui sempre nunca teve vez / não é de hoje / a gen­

te se tivesse qualquer problema / fosse reclamar / o aluno

sempre é que tinha razão / quer dizer que isso aí -nao ... e

d'agora não / voce querer jogar isso pra agora / eu não a­

ceito / agora ta assim porque houve essa quebra devido a

greve J depois da greve / agora também com esse sistema

dos gari aí / querer mandar na escola j não sei porque/mas

sempre foi assim / os grande querer ser líder / não é d'a-

Page 61: o AVESSO DA LOGICA:

213

gora nao.

(Esse negocio de a escola ê do aluno / nao ê do professor/

você acha que a escola deve ser do professor?).

Não.

(A escola ê feita pro professor?).

o professor vem apenas aqui cumprir sua obrigação / mas eu

acho que tem que haver um comum acordo / entendeu? Ainda

mais no tempo que tinha tanta gente na coordenação/ era pri

ter um comum acordo / eu acho que se isto ti acontecendo /

tem coisas que acontece que ê assim como uma irvore / nao

~? e. Você planta aquela árvore / então se ti acontecendo aI

guma coisa de ruim com-os frutos daquela irvore / os fruto

não foi colocado ali / aquilo teve uma seqüência / enten­

deu? Até um edifício quando ele cai / o alicerce dele não

foi bem sucedido / ê o que tá / talvez / agora isso aqui /

seje os fruto antigos / entendeu? Então eu não aceito mui

ta coisa colocada em jornal I se agora não esti saindo bem /

não é a culpa de direção nem de professores / porque quem

sempre guentou a escola foi os professores I ou ruim ou

bom / você vê que os p'rofessores fazem tudo pri I sei li /

conduzir os alunos / ce vê que eles às vezes até certo pon

to / so a gente chega I briga / bota eles em sala de aulal

então I eu acho que se os frutos agora não estão saindo bons/

é porque não foram bem sucedidos na hora da

(Mas se até então foi diferente j você acha que nao j que

até então não foi diferente / eu não ia entrar nesse papo

nao porque o que interessa ã gente / não é nem isso.).

Page 62: o AVESSO DA LOGICA:

214

Não é isso nao ) não / mas o que eu quero dizer é isso /

porque quando as coisa tão sucedendo mal a gente tem que ver)

muitas vezes você tem um filho / ah! Meu Filho! Gente )

ve o principio ) vê o principio / quer dizer / eu acho is­

so / que se agora nao esti bem} não é coisas de momento /

as coisa.

(Você concorda que nao tá bem?).

Não está bem / mas nao é d'agora J isso sao os frutos que

-nos tamos colhendo.

(Mas antes tava legal?).

Não / nunca teve J nunca teve / mas de agora se o que tá

acontecendo agora nao é coisas de momento / entendeu? E co

mo você / um alicerce J uma árvore ) quando não tá os fru­

tos legais / quando aquele edifício que você constrói cai/

o alicerce dele não foi bem sucedido I porque o projeto em

si / ele é ótimo / o projeto em si ele é ótimo. Vou falar

um palavrão aqui. O projeto em si ) ele é ótimo mas no real

ele não é J nunca foi.

(Nunca foi! Agora porque que voce acha que esses meninos

sao analfabetos?).

Ah! Eles nao sao analfabetos porque eles querem / também

é conseqüência da realidade deles / são conseqüências da

dificuldade deles aprenderem} são conseqüência da liberda

de que ele sempre teve dentro da escola / não vêem isso a­

qui como uma escola prá eles entrar em sala de aula e aprel!.,.

der a ler / ele vê isso aqui como uma escola que eles vêm}

faz o que quer / bate / batucam / tem comida a hora que

Page 63: o AVESSO DA LOGICA:

215

quer / tem professor prá eles xlngarem a hora que quer /

isso sempre foi assim j nio ~ de agora entio como & que a­

gora j de uma hora prâ outra / porque a gente tamb~m nao

pode generalizar / porque dentro desse montante dos alunos

tem uns que querem muita coisa j eu tenho at~ pena J eu te

nho um aluno ótimo / eu tenho até vontade de levar esse a­

luno prá mim / mas ele j ah / ele nao vem à escola porque

ele tem que trabalhar / tem que ajudar / tem que sustentar

a mãe dele / ele fica / ele fica lá como é nesse ~ .

negoclo

de carro / toma conta de carro.

(Guardador de carro).

Guardador de carro j de noite / no Scala J ele chega em ca

sa quatro horas da manhã / como é que ele vem prâ escola?

Entende? São essas coisa que acontece / entio / de repen­

te / a gente diz / eles são analfabetos J eles são analfa­

betos porque querem e tamb~m eles não assume / porque tam­

b~m ele já tem muitas dificuldades / al~m da realidade de­

les / o / as doenças deles adquiridas e outras que já vem

na fecundação / tamb~m atrapalha muito na mente deles J às

vezes eu fico / pensando como é a mente desses rapazes/ co

mo é a mente / você acha que é normal o que muitos deles

fazem?

(Você acredita então no fato de o desenvolvimento biológi-

co J a desnutrição e tal ... ).

E no sociológico.

(Causa o emburrecimento?).

Além disso / além da ...

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216

(Emburrece o menino).

Não emburrece j ele já tem aquela má formação j eles pode

por exemplo I você vê I ninguém ê J ninguém é j ele pode ser

analfabeto e pode ser uma ótima pessoa I pode ser um óti­

mo I como é que se diz I profissional I ele pode ser um ó­

timo gari porque né I a pessoa não tem uma coisa mas pode

ter prá outra J é claro I aí não tem nada a ver.

(Você detectou na época que voce tinha uma turma formada I

algum problema na turma I alguma coisa que tenha dificulta

do o processo deles de ensino aprendizagem?).

O ensino aprendizagem deles é que uns até aprendem a ler I

a escrever I agora tem. outros que você I por exemplol eles

trabalhavam assim no processo de I da realidade delesl nél

a gente via I aí conversava I dali surgia as vezes um as­

sunto I as vezes uma brigai as vez que surgia no refeit6-

rio I aí eles levavam prá sala a gente começava a discu­

tir I colocava aquelas palavras no quadro I dali pediam I

tirava umas palavras chaves I pedia prã formar novas fra­

ses I dali prã formar outras palavras I surgia assim o tra

balho em si I mas de repente eles aprendiam aquelas pala­

vras I aí quando chega no dia seguinte você vai dar a mes­

ma coisa I eles já esqueceram tudo I então eu acho que de

um grupo as vezes dez I doze alunos I dois I três é que vo

cê consegue alfabetizar.

(Como ê que você lidava com isso? O quê você fazia prá re

solver essa dificuldade?).

A gente continuava tentando né I porque a gente tem que can

Page 65: o AVESSO DA LOGICA:

217

tinuar tentando.

(Continuava usando as mesmas palavras?).

Não / tentava mudar ne? Tentava mudar que eles mesmos/por

exemplo / se você é / simpatiza assim numa frase / de re­

pente se você botar aquela frase eles mesmos diz J ar che­

ga professora / essa frase eu nao quero nem ver mais / nem

isso não vai estudar / tem que ter criatividade / inventar

alguma COlsa com eles assim / pri modificar / mas que den­

tro do processo J às vezes surgia na hora / que eles fos­

sem formar novas palavras / surgiam aquelas palavras j que

às vezes ate já era palavra chave e de repente eles ji nao

sabiam ler de novo.

(Você acha que quanto tempo esses meninos levam pri ser aI

fabetizados?).

Ah eu / bom / os que estão mesmo assim que consegue memori

zar alguma coisa / eu achava ate que eles se alfabetizavam

ripido / mas eles tão / por exemplo I eles tão em sala a

gente dá um trabalho / ar eles fazem / ar daqui a pouco a

gente começa / agora vamos ler I eles começam a ler daqui

a pouco eles não lêem mais / que é eles / ah Professora eu

vou no banheiro / vou aqui / ali / ar somem / não guarda

nada daquilo que aprendeu / você entende? Pode tirar um

pelo Roger / o Roger eu tenho feito tudo pri ensinar o Ro­

ger a ler I mas ele / ele / eu acho que ele tem boa cabeça

porque um aluno que eu já consegui ele fazer multiplica­

ção / divisão I soma com reserva / tudo / e quando chega

na hora da leitura ele não lê / e o pior é que você dá um

Page 66: o AVESSO DA LOGICA:

218

trabalho j dá interpretação do trabalho / ele diz eu sei ...

como e que eu vou fazer / chega na hora ele não faz / che-

ga na hora ele nio l~ / is vezes at~ ele faz mas não l~.

(Voc~ acha que isso ê caso perdido então?).

Ah eu nao / se eu achasse que fosse caso perdido / eu -nao

estaria aqui j quando eu vim prá aqui / eu tive um objeti­

vo na minha vida / sempre trahalhei com coisa difrcil j eu

sempre gosto de enfrentar troço difrcil j ê sempre que di­

go / gente vamos ter calma ainda vai ter um consenso / pra

isso tudo / ou voc~s voltam I ou a direção muda / ou isso

toma um jeito ou acaba mas / temos que ter / sabe eu achol

que ~ o caso I enquanto ha vida ha esperança / voc~ acha

que eu com essa idade estaria aqui se eu nao tivesse obje-

tivo?

(Voc~ acha que demora muito pra eles se alfabetizarem?).

Pra uns demoram I prá outros desistem.

(Quanto tempo mais ou menos?).

Por exemplo tem aluno que chega no final do ano eles tio

lendo / escrevendo / tão tudo.

(Dur a a média de um ano?).

Aqui é I em outras crianças normais a gente demora muito

menos de um ano I mas aqui / agora tem uns que tão ar dois/

tr~s anos e nao aprenderam ler ainda / desde que a escola

começou que eles tão ar e ... Por exemplo / esse Roger/ v~

quantos anos o Roger ta ar.

Page 67: o AVESSO DA LOGICA:

219

Entrevista com a Professora A.P.

(Como é que está a turma no processo ensino-aprendizagem?).

De um modo geral/acho que ... Tá hem J ta um pouco len­

to / não sei se / porque eu sou uma pessoa assim / eu gos-

to das coisas J de ver as coisas surgirem com rapidez / eu

tenho aquela sede J né J eu tô achando / ta bem J ta no tem

po deles J né J mas pra mim J pra mim J ta lento / isso ... e

uma coisa que pra mim tem me deixado J eu fico nervosa /

me deixa ansiosa / eu sou muito ansiosa / tá?

(prá você / porque esses alunos sao analfabetos?).

Será que eles são analfabetos? O que é ser alfabetizado e

o que é nao ser alfabetizado / ser um analfabeto / num país

desse / né? Tem que ver isso / eles talvez ... Eles sejam

mais alfabetizados prá vida do que muita gente alfabetiza­

da por aí / tá entendendo? Depende do que leve ... O con­

ceito do que seja alfabetizado J se é no sentido de escre­

ver e ler / porque é que eles são assim / talvez porque a

sociedade não tenha dado a chance a ... Não tenha dado a

chance que eles precisam / ou será que prá eles o que ...

nos

chamamos de alfabetização seja / até um pouco desnecessá­

rio? Se a alfabetização que eles precisam é a nossa alfa­

betização / é o que a sociedade esperam que eles tenham /

tá entendendo?

(Algum entrave pro processo de alfabetização?).

O que gerou o entrave / talvez tenha sido esses padrões e~

sa metodologia que vinha sido usada né / nas escolas nor-

Page 68: o AVESSO DA LOGICA:

220

mais / n~ j o que causou foi eles nao se adaptarem / n~?

Talvez seja isso.

(Como ~ que voc~ ti encaminhando então? A partir de voce

ter entendido isso j como ~ que voc~ encaminha?).

Porque eles têm a dificuldade do que ~ imposto / eles recu

sam o imposto / porque eles num ... Como ~ que eles vão a­

ceitar uma metodologia / ti j de uma escola tradicional /

que não faz parte do meio deles / nê? Eles rejeitam essa

sociedade que os rejeita / n~. Então ..• Essa coisa da me

todologia / ela tem que ser deles / tem que vir do momento

deles / do pique que eles estão e quando a gente pega esse

pique e que transforma o que a gente sabe / o que ele sabe

num saber comum / eu acho que ê por aí que passa.

(Voc~ detectou algum problema individual na turma?).

Problemas individuais sempre tem / a turma é um apanhado re

problemas individuais / nê / que depois / vai se ver / sao

atê ... Eles si ... Eles conseguem se agrupar / nê / tem

muitos alunos que têm atê seus problemas individuais / mas

a gente vai trabalhando com cada um pri chegar a um comum.

(Você ti encaminhando' in di vidualmen te esses prob lemas ou ... )

Não / a parte do problema individual/ela chega / ti / -e

detectado / a gente conversa / a gente vai ver de onde ele

saiu / porque o que gerou aquilo ti influindo no comporta­

mento do aluno dentro da sala / e aí / vamos comparando a

situação de vida de cada um / eu acho que ... Porque / va­

mos supor / o Roberto / o Carlos que você entrevistou / ele

nao tem mãe / a mãe dele se embriaga e essa coisa toda /

Page 69: o AVESSO DA LOGICA:

221

essa revolta dele e ele compara com o outro tamb~m que tem

-mae e que se a mae j como se comporta ... E vamos chegando

a um senso comum J será que ê válido eu assumir esse com-

portamento se o fulaninfio tamb~m tem esse problema? Afinal

de contas não sou só eu que tenho esse tipo de problema J

tá dando prá entender?

(A questão do Brother / por exemplo j o Bira J ele tem pr~

blema de fala.).

Ele tem problema de fala J ele tem problema do tóxico J n~/

de dependência / ele tem um problema motor J ele tem um co~

junto de problemas / tá? Mas eu / enquanto professor / não

me sinto capacitada pr~ lidar com todos esses problemas /

eu faço ... Eu tô na medida do meu possível/não sei nem

se eu posso ir al~m ... Mas eu acho que ele precisava sim

de um atendimento / precisava de uma fono / uma coisa que

o ajudasse / um trabalho psicomotor / todo típico / tem que

ser J nê / e eu tou tentanto / dentro dos recursos que eu

tenho.

(Ele não falou no gravador logo de início J nê?).

~ ele / ele ...

(Mas o prazer que ele teve no dia que eu fiz a individual/

ele falou e se ouviu J foi uma coisa tão bonita!).

E o esforço / porque ele tem uma história j ne / que ele

era da turma da Valeria / mas a turma da Val~ria tem uma

faixa de idade menor J n~ / então / ele não se integrou e

quis sair e veio prá minha turma J era uma turma de um ní-

vel mais elevado / um nível acima da Valéria / n~ / e dis-

Page 70: o AVESSO DA LOGICA:

222

se que se ele tivesse vontade / ele poderia alcançar / né/

e aquele cara que todo mundo via por aí / né que nao que­

ria nada / que não fazia nada / que não prestava atenção /

que nao pegava um lápis / pela dificuldade de escrever /

de falar o torna assim com medo de falar no gravador / com

medo de escrever / ele tem esse medo e ele tá se libertan-

do desse medo / nê / ele tá se fazendo um esforço lindo /

sabe / eu acho que eu fico parada / olhando ele juntar as

palavras / o prazer que ele tem de juntar os pedaços / e

quando lê e forma uma palavra ele fica maravilhado e aí se

sente capaz e vai mais adiante como hoje / a gente tava

trabalhando lá na hora que ce chegou / ele tava assim / fasd.

nado / porque tava juntando e conseguiu um número de pon­

tos / a cada palavra um ponto / né / e conseguiu um número

de pontos que nunca tinha cons eguido / " - Eu ba..ti me. u ..t~­

c.oJLd, eu ba..ti meu. JLec.oJLd!" nê? Ele fica feliz e eu mais a:in

da / né?

(Que tempo voce acha necessário para alfabetizar esses me-

. ?) nlnos ..

Eu acho que ... Não sei se pelo outro tipo de trabalho que

eu faço / eu não tenho ... Eu acho que alfabetização nao

tem um tempo / e la tem o seu tempo / eu não vou marcar / eu

nao vou marcar um ano / não vou / e aquilo também / eu me

sinto bem porque nao tem essa de cobrança de um tempo / que

eu trahalho numa outra escola que tem / ...

totalmente dife-e

- J sinto essa cohrança do tempo J tempo de rente ne eu nao

entregar no final do ano uma criança alfahetizada né / eu

não sei / eu gosto de esperar / essa sede que eu tenho de

Page 71: o AVESSO DA LOGICA:

223

ver a coisa rolar pronta / entendeu? Também tem a consci-

~ncia de que tem que esperar o momento né ; eu nio tenho ;

nao tenho prazo / acho que alfabetizar nao é um ano / eu

nao sei se eu com essa idade já cheguei a estar totalmente

alfabetizada / é uma loucura se voc~ for pensar n1SSO / -e

uma loucura ; o que é ; o que a gente espera se voce sair

do padrão / né / eu inclusive tenho lá na outra; por isso

que para mim isso aqui é uma coisa sabe / é diferente ; -e

interessante / quebrou toda aquela viv~ncia que eu tinha né/

de aquela coisa; sei lá ... Bem fechado.

(Eu vou um pouquinho além com você / que você tá abrindo /

colocando uma outra possibilidade / vou fazer uma pergunta

que tá fora daqui mas que você mesmo tá colocando / se por

um lado você abre prá um prazo maior; por outro lado voc~

pode deixar a coisa meio frouxa.).

Indeterminar né?

(Então já que nio tem tempo / qualquer tempo como é que fi

ca essa coisa do deixar frouxo também / como fica esse cui

dado?).

Eu agora I eu acho qu~ tudo isso dependeria de rever exata

mente o que que voce objetiva com isso / com alfabetiza-

çao / porque se voce tem um objetivo aí tá / voc~ vai di­

zer ; mas vai ficar frouxo desse jeito / mas a partir do

interesse daquela situaçio de sala de aula; do interesse;

da vivência ; essa coisa vai chegar cada vez mais rápido /

você tá entendendo; tem ho;ras que eu mesma me espanto / eu

mesma me espanto com a velocidade que acontecem as coisas/

Page 72: o AVESSO DA LOGICA:

224

de você querer pegar / você ter um objetivo a cumprir né /

querer lançar uma determinada coisa e você no mesmo momen­

to dar dez / vinte passos além daquilo numa hora só.

(Necessidade de estar atenta a cada momento.).

E / é / pode ser um tempo menor do que se estabelece aí fo

ra / de repente eu não sei I eu acho que eu tinha que pen­

sar muito / é uma pergunta que / aquela pergunta que voce

me fez / eu teria que ter uma resposta que talvez fosseuma

solução / agora essa coisa de tempo com os meninos / os a­

lunos da alfabetização / esse negócio de tá rápido / tá len

to envolve muita coisa j envolve também a situação deles /

envolve a nossa situação / né / a minha situação particu­

lar / a situação deles / a situação da escola / isso pesa

muito / a escola ela está numa fase que você ainda I

dá prá você sentir com tranquilidade / dentro dela /

você trabalhar / você não consegue dizer que tá uma

-nao

-pra

coisa

sem uma tranquilidade / prá gente gravar. Isso aqui tem

que ter uma tranquilidade / então / a escola não tem essa

tranquilidade / a vida deles essa coisa do morro da guer­

ra / também não dá essa tranquilidade / isso tudo balança

a minha vida também / não dá essa tranquilidade / tem um

momento que quando junta tudo então.

(Porque você acha que a leitura e a escrita poderia contri

buir prâ eles? Prâ eles mesmos?).

Eles sempre pensam prá eles / o que eles pensam é que vao

aprender a ler e escrever prâ não ser burros / a gente tra

balhar.

Page 73: o AVESSO DA LOGICA:

225

(Você avalia que a leitura e a escrita possam contribuir

-efetivamente pra vida deles?).

Eu acho I acredito.

(De que forma?).

Eu acho que prá poder até na coisa do trabalho I até na

coisa do viver sabendo mais das coisas I porque eles sen­

tem gosto de chegar e me contaram que foram na biblioteca

e chegaram lá I tia eu li um livro todinho de ponta a pon­

ta I amanhã eu vou lá outra vez j já é um jeito diferentel

já dá um gosto diferente j você sei lá I a gente tudo que

a gente vê a gente lê I não sei e como é que seria se a ge~

te não soubesse ler I eu nao me imagino.

(Eles nao sabem ler I como é que você imagina que é prá e-

les?) .

Gente! Eles vivem da mesma maneira I é tal da coisa que

eu tinha falado no princípio I a alfabetização loque -e

alfabetização prá eles se eles não chegarem I vamo

nao forem na biblioteca e ler um livro tá I eles vao

sar isso na vida deles e vão procurar um caminho que

eles não faça falta I·talvez por isso esse jeito de

sem ler tenha trazido eles tão tarde prá escola.

suporl

pas-

-pra

viver

(E a escola em si você acha que pode contribuir em quê?

Que que a escola contribui prá vida deles?).

Contribui no sentido da I não só nessa coisa da alfabetiza

çao preparar para o trabalho j ela contribui no sentido de

juntar o mundo que eles vivem J porque prá eles é um mundo

Page 74: o AVESSO DA LOGICA:

226

a parte / com o mundo que as outras pessoas vivem / ela

junta isso tudo / nao s-ei se eu / eu sou muito enrolada nã:>

sei se você tá me entendendo / a escola / eles tem uma vi­

da / nós e outras pessoas temos outra vida j eu acho que

a escola junta isso e ajuda / não a assumir essa outra vi­

da / que seria a nossa / mas a conviver com ela I que is­

so é importante prâ ele sobreviver / tá? Além de preparar

pro trabalho / além de essa escola ... Ela recebe os alu­

nos com todos os seus problemas / todos os seus traumas I

eu acho que até de aliviar um pouco essa barra deles / não

sei.

Entrevista com a Professora A.

(pra você porque esses alunos sao analfabetos?).

Bom J no meu ponto de vista o problema não é do menino o

problema é no sistema / é na escola / porque dentro do pro

cesso escolar / do processo educativo / há um desinteres­

se / não há um interesse por parte / porque é o conteúdo /

não abrange a realidade deles j o próprio professor / o cor

po docente como um todo nao tá preparado pra essa realida­

de / e a maneira também / a avaliação feita através de pro

va de teste I não mede realmente o que o menino aprendeu /

e o desinteresse geral J daí o problema do menino não ser

alfabetizado I eu vejo o problema no ensino / na escola e

não um problema dele.

(Qual o tempo que você julga necessirio pra alfabetizar es

Page 75: o AVESSO DA LOGICA:

227

se menino?).

Eu não / prã mlm nao existe um tempo / um ano / dois anos/

cinco meses / eu acho que com o desenvolvimento dos menl­

nos / com o desempenho deles / a gente vai vendo J vai a-

valiando e o trabalho / o produto vai surgindo / eu acho

impossível / ah / eu vou alfahetizar em um ano ou em cinco

meses / prâ mim não existe uma data / um período certo.

Entrevista com a Professora C.

(Como é que tâ a tua turma no processo de ensino aprendiza

gem?).

Eu acho que a minha turma / eu nao posso vê-la basicamente

como uma única turma / ela é uma turma que agrupa um núme­

ro de alunos / um número x de alunos cada qual tem uma pa~

ticularidade / porque eu tenho dentro desse mesmo grupo dois

alunos que estão num processo que eu diria prontos /

daqui a algum tempo passar prâ uma outra fase / eu

alunos que tão no meio desse processo / e eu tenho

-pra

tenho

alunos

que estão no início do. processo / então caracterizar a tur

ma fica muito difícil/fica muito difícil de pegar por ci

ma e nivelar por cima ou nivelar por baixo / eu acho que eu

não estaria sendo coerente com o trabalho que é dese~vol­

vida na sala de aula / porque ê um trabalho diversificado/

atendendo a cada grupo / em cada etapa desses grupos / en­

tendeu? Então não dã prâ dizer como é que é o grupo / a

turma toda.

Page 76: o AVESSO DA LOGICA:

228

(Porque esses alunos são analfabetos?).

Eu acho que eles são analfabetos porque além deles não te­

rem ainda ter dado o estalo J clic da alfahetização né /que

a gente chama clic da alfab.etização I eu acho que eles / e~

ses que tem mais dificuldade / eles já es tão há alguns anos

aqui na escola né / eles já estão há algum tempo aqui na

escola / eu tenho um grupo que quase que fundou a escola /

eu acho que esses alunos têm um comprometimento que nao p~

sa só pela pedagogia J eu acho que nós fantasiamos ao lon-

go dos anos a nível de educação J deixamos que passassem

- -pra nos uma responsabilidade da qual não somos competentes

prá resolver / que passa pela área social sim / pela -area

pedagógica sim I mas passa pelo emocional/pela área médi

ca principalmente.

(Espera não tá generalizando?).

Não / tô falando da minha turma né / no meu grupo / o que

eu percebo no meu grupo / que eu tenho um grupo que fundou

a escola então quando eu vejo um aluno que escreve com uma

grafia otima I excelente J ele não consegue ter um traba­

lho perceptivo do que é / o que ele não consegue perceber/

o som do A com a figura do A e associar com uma gravura /

ele nao consegue fazer isso / então isso aí é uma falha ~e

nao e / pedagogicamente você não resolve / ah~ e já ten­

tei todas as formas J através de som J através da figura /

através de tudo e esses alunos não conseguem I e eu nao sou

a professora deles desde que eles entraram aqui J eu posso

até achar que eu não sou competente prá esse aluno I mas

Page 77: o AVESSO DA LOGICA:

230

tos que dormiam na sala / eram muitos dormindo na sala /um

momento em que eu descobri / eu tentei né / meio um traba-

lho / meio de mão / que aí entra também todo J uma vez que

eu tô trabalhando com eles né J pessoas como eu / meio ten­

tar um lugar prâ ele dormir que não fosse o ideal mas que

fosse um canto que ele pudesse dormir / ai vendo com um

-com outro um lugar pra ele dormir / ele conseguiu / na se-

mana que ele conseguiu um lugar prâ ele dormir ele ficou

bem / ele vinha prâ escola e conseguia produzir alguma col

sa j só que depois / aonde que ele tava dormindo o tapume

caiu J era só um teto e uns tapumes J não teve mais onde

dormir / então lâ na pastoral ele não pode mais ficar / lá

não tem vaga prá ele lá ou coisa parecida / prá esses alu­

nos eles não têm novamente onde dormir J se ele vem prá cá

o que que a gente faz / aula de artes ele dorme / combinei

com ele / você dorme na aula de artes / você dorme na aula

de Educação Física J você dorme na sala de leitura / é me­

lhor / não que a sala de leitura / artes e educação física

não seja é atividades prâ eles / mas é melhor ele dormir

nessas aulas e ter um aproveitamento de uma hora por dia J

mas é muito difícil / é muito difícil/ele vem prá cá can

sados sabe J arrasados / um aluno que tem uma dificuldade/

prá entender a particularidade de cada turma J tem um alu-

no que não tem um dente na frente / então ele -nao fala

"vi" e fala "fi" e ele entende" fi" quando é "vi" / ele

não tem J não tem / o dente impe~e que ele ouça que ele re

pita certo / o certo ele repete com entendimento diferente.

(Você já pensou em encaminhar esses proble~as individual-

Page 78: o AVESSO DA LOGICA:

231

mente?) .

Já / não só pensei como encaminhei / j á encaminhei / j á te!!.

tei buscar soluções J agora pelo que eu sei / o aparelho

do estado né / município não tem infra estrutura prá aten-

der esses alunos / num trabalho que é chamado de trabalho ~

pra atender classe privilegiada / que seria um trabalho de

fonoaudiólogo / psicólogo / com dentista protético J quer

dizer / uma série de coisas que esses alunos precisam.

(Fora queles quatro que são alunos antigos você botaria mais

algum?).

Eu tenho dois alunos / quer dizer / dentre os antigos eu

tenho alunos que com muito esforço tão conseguindo agora J

eu vejo que eles vao conseguir até certo ponto J eles -nao

vao passar dali / não vao passar e tenho dois que eu acho

que não vão conseguir nunca / nunca inclusive eu consultei

especialistas fora da escola / que eu tenho acesso sabe /

é J eu tô vendo com uma pessoa / não sei nem se tô agindo

certo J eu tô vendo uma pessoa que trab.alha noutra escola

prá fazer um trabalho com ele a nível fonoaudiológico / a

nível psicológico numa clínica na zona sul/sabe / conve~

cê-los também é difícil né / de psicólogo é uma palavra as

sociada muito a maluco / e eu acho que a escola tinha de

ter esse tipo de especialista / entendeu? Até porque eu

acho que o professor precisa ser orientado e trabalhado /

não a nível de pedagogia / a nível de psicólogo / de fono­

audiólogo / porque prá nós também é muito difícil voce en-

frentar um aluno desse depois de um dia que você vem cansa

Page 79: o AVESSO DA LOGICA:

232

da / ou que não venha cansada / e enfim I seja lá o que for

po / chega aqui voce tem horas que voce tem vontade de man

dar todos pro espaço mesmo sabe.

(Você determina algum tempo que voce julgue que sej a :,bas­

tante prá alfabetizar?).

Não / tempo nenhum / compromisso meu com eles é que eles

vão conseguir no tempo que eles puderem I né / se elespo­

dem conseguir em seis meses / eles vão conseguir em seis

meses I então eu tenho um aluno que logo no início quando

veio / tal I já após o momento da greve no ano passado ele

disse prá mim I esse ano em julho eu quero estar em outra

turma I eu disse prá ele I só vai depender de você e nao

de mim / e ele hoje faz frase / ele hoje monta um texto /

que e o Marcos.

(E você não acha que por outro lado deixar assim muito sem

prazo você deixa de avaliar?).

Não / eu acho que não fica sem avaliar não porque eles sa­

bem que eles tem um tempo prá conseguir / só que eles são

muito críticos e eles percebem que um ano é o tempo sufi­

ciente prá eles / ent~o eu acho que no geral/tirando o

Marcos / que manifestou um desejo muito grande / ne I tem

aí uma história meio particular da turma / o uso do mate­

rial / nós usávamos caderno deitado porque não pode usar o

caderno em pé / porque o deitado é mais fácil de você es­

crever I de a disposição dele em relação da disposição do

quadro de giz / eu expliquei essa coisa técnica prã eles

né I e eles conseguiram entender / então a proposta deles

Page 80: o AVESSO DA LOGICA:

233

~ / n65 podemos passar pri um outro caderno quando estiver

mos escrevendo melhor / podemos escrever de caneta quando

estivermos escrevendo melhor / foi o que eu propus a eles/

eles aceitaram / não foi imposto / foi proposto / e eles ~

ceitaram / e na medida em que eles estão vindo com a res­

posta / eu ji posso usar o caderno grande / o Z~ Alexandre

ji ti com o caderno grande J o Jorge Paulo ji passa pro c~

derno grande / ~ que ele ji atf comprou / ele ti esperando

o dele acabar nf / então eu acho que tem todo um compromi~

so de tempo que eles colocaram / que eles colocaram o tem­

po que f de um ano / que o tempo da escola regular / s6 qt.e

eu tambfm mostrei pri eles que nem sempre voe e consegue em

um ano / às vezes voce. consegue em dois ou três / então tam­

bfm pri que não cri~ a expectativa / frustração / quando

chegar no final do ano e perceber no ano seguinte que a

professora f diferente mas o trabalho f o mesmo J eu acho

que isso f importante tambfm nf.

Entrevista com a Professora S.

(Como f que tá a turma no processo de ensino aprendizagem?)

A turma caminha / s6 que eles caminham de uma forma muito

lenta / e como pri mim isso f algo novo / isso às vezes me

angustia / porque eu gosto das coisas mais prontas / che­

gar falar / eu quero aquilo tudo pronto J de repente eu sen

ti no início eu começava a passar a minha ansiedade pra e­

leS / hoje não / hoje eu vejo que o caminhar dele / eles a

Page 81: o AVESSO DA LOGICA:

234

pesar de lentos / é algo que a gente ta conseguindo fazer

alguma coisa / é / eu tenho alunos pelo menos dois deles

que ji conseguem ler / aquilo que eles não conseguiam / a

coordenação de eu abrir a primeira folha do caderno no pri

meiro dia / que eles chegaram e abrir a folha do caderno

hoje; aquilo vai me dando aquela alegria; que eu querla

sentir antes né ; e de eu ver isso junto com eles / profe!

sora eu quero receber na sexta-feira mas não quero botar o

dedo / então o que que a gente pode fazer pri você não bo­

tar o dedo? Eu não quero saber nada de quadro de dever /

eu quero é assinar o meu nome / e hoje todos eles sem ex­

ceção conseguem escrever o nome sem olhar no papel / e não

precisa receber pagamento botando li a impressão digital /

no caso; isso prâ mlm é algo assim / gratificante né/ ag~

ra ; leitura e escrita hoje é o que eu menos me preocupo /

que eu sei que que isso mais cedo ou mais tarde vai aconte

cer / quando não tiver nem um pouco preocupada com isso ;

alguém vai chegar prâ mim com uma notícia de jornal; val

ler nem que seja uma frase daquela coisa imensa / mas que

isso vai acontecer eu tenho certeza e é isso que eu tenho

assim sem ansiedade / ,esperado de cada um deles.

(pri você porque esses alunos sao analfabetos?).

Primeiro lugar a chance / né / que eles não tiveram em na­

da na vida / em tudo / né / é principalmente ... A minha

turma que é urna turma onde a maioria é de rua mesmo / de

morar no quarto que o dono do restaurante emprestou / en­

tão aquilo aI é cada um por si / quando resolve visitar a

mae entra na porrada e volta todo machucado j todo mordido;

Page 82: o AVESSO DA LOGICA:

235

resolve nao voltar / isso hoje ~os quinze / dezesseis anos

é assim / já tem uma certa consciência / agora isso aos se

te aos oito não entendiam porque né ) até que resolveram

sair de casa / en tão principalmente a chance / assim de uma

família mesmo) de um lar por mais humilde que fosse no mor

ro / na favela / mas eles nao tiveram a chance e talvez tam

bém não tenham se dado essa chance pela consciência que não

tinham e que hoje começam a ter I eu assaltava / eu fuma­

va / eu cheirava I professora) hoje eu não faço mais isso

porque a mente começou a abrir um pouco / eles vão ter de­

ficiências mil) falhas mil ao longo / mas eu acho que o

fato deles terem procurado a escola já é algo assim valio­

so / principalmente prá eles / né ) ~ de repente daqui eu

tenho esperança que daqui a um tempo os meus alunos / como

é a primeira sala que eles passam por aqui / eles possam

passar por todas as outras salas né / até de chegar numa

fase terminal I como a gente chama aqui / e é isso que eu

espero e basicamente / a chance que a vida / a família /

não deram a eles ) tal vez no momen to certo / nem se i se nun

ca né ) talvez não dê nunca / e o próprio mundo em si né /

o mundo que eles vivem / eles nao tem tempo prá estudar.

(Você detectou algum entrave no processo de ensino aprendi

zagem algum obstáculo objetivo para que eles se alfabeti­

zem ) voce já detectou alguma coisa?).

O que mais acontece assim constantemente na turma / pelo

menos nos meus é assim / a memória deles / eles não tem boa

memória não / não sei se eu tô errada / mas me parece algo

que a gente conversa ou fala hoje / em assunto talvez que

Page 83: o AVESSO DA LOGICA:

236

interesse a eles mesmos / um assunto interessante prá eles/

no dia seguinte eles tem assim / uma certa dificuldade prá

traduzir aquilo prá mim um dia depois / então eu acho ...

(E como é que você está encaminhando isso? -Como e que vo-

ce tá tentando resolver isso?).

Eu nao t6 me preocupando muito com lSS0/ porque isso nao

chega a ser um obstáculo / pelo menos não tá em termos /não

chega a interferir ainda negativamente / não / até pode ser

que ao longo né / daqui até uns dois ou três meses / em

que eu talvez espere mais deles isso possa interferir.

(Você colocou algum prazo prá que essa alfabe.tização acon-

teça?).

Não J não no início eu acho que eu tinha posto um prazo sim

prá mim né / eu enquanto professora e profissional eu que-

ria que eles me devolvessem aquilo tudo no prazo J nao di-

go nem de um ano mas talvez eu esperasse mais uns três ou

quatro meses J prá me ler "bola" ou alguma coisa assim / e

quando eu percebi que isso já estava acontecendo / eu acho

que eu tirei esse prazo de mIm / nao tem um prazo definido

-nao / e não t6 mais preocupada / eu sei que eles passarao

se continuarem na escola em todas as salas / mas se isso

vai acontecer em noventa ou dois mil / issoprá mim não -e

interessante agora.

(prá você em que que a leitura e a escrita pode contribuir

na vida deles?).

Pro mundo em geral/passar numa banca de jornal/querer

ler que o cara do comando vermelho matou I assaI tou / e não

Page 84: o AVESSO DA LOGICA:

237

sei; que é ler a reportagem do Cazuza que interessa muito

a eles por ser uma doença que tá na moda; sei lá ; e que

eu tenho que fazer isso prá eles hoje; de repente a gente

tá num determinado ; numa proposta minha e de repente aqui

lo nao acontece / vamos ler a revista do Cazuza porque is­

so e o que interessa agora e eles não tem essa dependênci~

(E a escola; no que que voce acha que a escola pode aju­

dar a eles?) .

Não diria socialização não; porque isso eles naturalmente

têm; seja legal ou não; se engalfinham de vez em quando;

mas a escola é um espaço que eles prôprios sabem que é de­

les ; principalmente na sala de aula j é o cuidado que e­

les têm com tudo ; é como se fosse de repente a sala a ca­

sa que eles não têm; essa sala aqui ê minha; essa profe~

sora é a minha professora ; essa escola aqui ê minha esco­

la ; é o acesso ao refeitôrio j é ao tomar banho na escolw

porque eles sô tomam banho na escola não têm outro lugar ;

é às seis horas ; e às dez ; dois num dia porque do dia se

guinte não tem onde tomar j então essa escola em primeiro

lugar ê um espaço que realmente é deles ; e eu sinto que ~

les sentem isso ; eles conseguem passar isso de alguma ma­

neira prá mim.

Entrevista com a Professora J.

(Como está a turma no processo de ensino aprendizagem?).

Bom / a turma ela está com dois grupos / tem um grupo em

...

Page 85: o AVESSO DA LOGICA:

238

que realmente é I tem alunos que já e~tão aqui há muitos a

nos que realmente não estão conseguindo ainda aprender I e

tem o outro grupo nao que tá já lendo j entendeu I já está

caminhando e tudo I mas esses alunos que não tão aprenden­

do a ler I sao até alunos que de repente nao entravam na

sala de aula j estão começando a entrar agora.

(Anselmo né?).

Anselmo I Alexandre I que ti aqui há mil~nios na escolal e

le nao entrava I agora ele tá entrando j tá procurando mas

tá com dificuldade.

(E porque você acha que esses meninos sao analfabetos? Os

que sao analfabetos.).

Eu acho que tem virios fatores aí entendeu j influenciandol

tem gente que tem até nível intelectual baixo I tem muita

dificuldade mesmo j deve ter algum distúrbio de aprendiza­

gem I entendeu? Aí entram fatores emocionais I sociais I

tudo isso aí entra j mas sinto que tem esse problema de di

ficuldade mais a nível assim intelectual mesmo.

(E nesse processo todo que entraves você conseguiu detec­

tar prâ que o processe não fosse tranquilo?).

Entraves como?

(Assim o que que dificultou j o que que geralmente dificul

ta esse processo deles?).

De repente a nao vontade do aluno I entendeu? Eu acho que

tem muitos aqui que não estão realmente interessados I sa­

be I porque é urna coisa difícil I eles sabem que eles têm

Page 86: o AVESSO DA LOGICA:

239

dificuldade I de repente quando eles percebem essa dificul

dade / acho que é mais cômodo a eles fugir do que enfren­

tar isso aí / entendeu?

(Bom / aí a gente tava falando dos entraves do processo.).

Não quer dizer eu acho que essas dificuldades deles também

devido aos proolemas / as dificuldades mesmo / tudo isso.

(E aí / como é que você tem encaminhado isso na tua turma?

Essa coisa da ausência deles J essas dificuldades que eles

apresentam I então como é que você tem transado isso?).

Bom I eu acho que de repente os alunos que tão vindo enten

deu I eles tão progredindo I aí o que acontece é que os que

nao aparecem J aí quando retornam I aí sempre teve esse pr~

blema né / aí eles tão muito defasado mesmo né J aí até is

so que agora tem dois grupos na turma j quer dizer J então

eu acho que eu deveria ficar com um grupo e vou ter que co

locar o outro grupo com uma outra professora J a gente fo~

mar uma outra turma / isso aí é que vai ter que ser feito.

(E quando eles voltam / eles sacam que alguns conseguiram

e eles ficaram prã trás?).

Ah sacam! Porque até mesmo não tem como J um lance de com

petição mesmo / de repente ver que o outro tã I porque o

outro tã comparecendo / então o outro tã progredindo e ele

não tã progredindo J quer dizer I é um j desestimula tanto

o professor quanto o aluno.

(E você percebe algum problema mais individual? Específi­

co de algum aluno?).

Page 87: o AVESSO DA LOGICA:

240

Não loque eu sinto é assim I de repente o aluno que por

exemplo nao entrava na sala de aula e que de repente agora

entra I agora tem até o caso do Alexandre I que entra ago­

ra porque eu que tô dando aula I entendeu? Eu tava conver

sando com ele / que ele tã com essa dificuldade e tem um

outro grupo na turma mais adiantado; então ele falou que

for - outra professora ele se pra nao vai I então tem até es

se ne gôc io I e agora como -e que eu vou fazer? Vou colocar

ele pra outra turma e de repente ele nao vai entrar ; en-

tão sao esses casos aSSIm.

(E quanto tempo você acha que é necessário prã alfabetizar?)

Ah ; eu acho que isso depende da criança da dificuldade que

ela tiver I porque de repente tem criança que você começa

e ela corre com você I entendeu? E tem outras que de re­

pente aprendem alguma coisa aí regridem ; e tem aluno meu;

o Anselmo I ele tava bem / ele tava indo bem de repente e­

le regrediu começou a se desinteressar entendeu I até mes-

mo Inão compreensível I quer dizer I isso mesmo aconteceu

quando ele entrou prâ gari; que a gente sabe que ele fica

cansado de trabalhar de manhã j vir ã tarde prá escola aí

fica com sono / com f~me é ... Entendeu? Então a gentenoo

sabe I se é isso I mas acho que isso ... Tem criança -nao

que começa e progride / tem outras que regride / então e

difícil a gente precisar.

4

Page 88: o AVESSO DA LOGICA:

241

Entrevista com a Professora V.

(Sobre o processo ensino aprendizagem.).

Ah I ti bem ; a gente começou a trahalhar e agora I a fre­

qüência da turma é boa I quer dizer I eles quase nao faltam;

minha turma não falta quase nunca J e isso pri mim é um d~

do também de avaliação I numa escola onde hã um rodízio gTa!!.

de de alunos I os alunos vêm e estão progredindo I entãoru

acho que esti tudo bem.

(Porque que esses alunos sao analfabetos?).

A minha turma não é I nao tem nem tan to a idade avançada nél

tem um monte de aluno com onze; com doze; assim; tem uns

dois ou três só com catorze; sei lá j eu acho que essa co~

fusão mesmo da vida deles I a escola não ti preparada -pra

esse tipo de aluno I sei lã ; repetiram a primeir& série I

aí se desanimaram não foram mais.

(Você detectou algum problema ou entrave pri esse processo

que você esti desenvolvendo na turma?).

Que loque emperra o trabalho às vezes é ; assim I é I sei

lá ; a escola I eu acho que a escola ti vivendo um momento

difícil/um momento de ... De crise mesmo I né I que ain­

da não acabou; que a gente tã tentando organizar agora I

mas que ainda não ti tranquilo e isso tira a tranquilidade

de todo mundo e isso atrapalha um pouco na sala de aula tam

bém; sei li ; e a própria característica dos alunos/deles

serem agitados I deles não aguentarem ficar muito tem°!-,u na

sala l° isso às vezes atrapalha I eu acho que é um processo / melhorou.

Page 89: o AVESSO DA LOGICA:

243

N. - No, No Noemi.

- O que a senhora acha dos alunos da tarde?

N. Olha como eles sao maiores I os meus alunos eu acho

muito agitados J mas eu ji t6 hi mais tempo em tur­

ma I à tarde então já t6 conseguindo entendê-los m~

lhor I ji t~ conseguindo conhecer melhor I são meni

nos a maioria que trabalham na gari I os meus alu­

nos ti I então eles já têm um propósito de vida til

isso I isso faz com que a gente esteja começando a

se entender I sabe J não sei até quando I não sei ~

-va1 ser pra sempre.

- Mas D. Noemi a senhora acha um garoto chamadoMarcus

ele tem que I vir na hora da escola dele não cedo

pri vim pertubar os alunos?

N. - Mas Marcus pelo que me consta ele estuda de manhã I

de tarde e de noite os três turnos.

- Ele faz muito ê bagunça minha senhora.

N. - E aquele ali não I aquele que mora li na Form~a não

ê esse?

- Mas ele também é legal.

N. - Eu acho ele muito legal.

- Mas é que ele fica peruando.

N. - Sabe às vezes ele não se encontrou ainda I sabe ag~

ra I ele tanto I é que ele gosta de ficar na escola

manhã I tarde e noite J eu ontem fiquei pensando qual

é o propósito realmente do projeto da escola J -e

Page 90: o AVESSO DA LOGICA:

244

que voces fiquem aqui ou sera que sabe ~ uma coisa

que eu vou questionar tá / ou será que dar uma en­

tradinha na sala já seria uma boa.

- D. Moemi.

N. No / Noemi .

- O que que a senhora acha J o que que como e o nome

da senhora?

R. - Rosangela.

O que que a senhora acha sonre esses garotd aí J co

mo esses segurança aqui j é jogar bola acertar na

professora e não pedir desculpa J com ignorância o

que que senhora acha disso?

N. - Olha eu não tenho uma opinião sobre isso porque eu

não vi o que que aconteceu J eu acho que a gente so

pode julgar quando a gente participa da coisa / se-

-ra que ele nao jogou sem querer? Eu nao vi como -e

que eu vou julgar J uma coisa que eu não vi e ~ di­

fícil ã bessa a gente julgar isso.

- Que que a senhora acha da violência da escola?

R. - O que que voce acha da violência da escola?

- Então tá vai / eu perguntei primeiro I não o que ~

a senhora acha?

R. - Eu acho triste porque como é que voces tão vendo?

Mas minha senhora nós somos estudante j eu vim -pra

cá I eu sou muito quieto / eu gostaria que a escola

Page 91: o AVESSO DA LOGICA:

245

fosse organizada.

R. - A escola não é organizada?

Não J muita bagunça / a senhora ve a escola toda pl

chada / ela / cabaram de lavar hoje a partir dama­

nhã / amanhã mesmo / amanhã a senhora pode olhar a­

trás como é que as porta tá tudo pichado de novo.

R. - E o que que você acha que elas estão fazendo aqui na

escola prá melhorar essa violência?

- Tem que ter uma reunião com os alunos J chamam ele

e reunir / oh / a partir de hoje se eu pegar picha~

do expulso ou suspenso} só entra aqui com respon­

sável certo.

R. - Certo / e quando os menInos tão brigando dentro da

escola?

- Suspensão.

R. Você acha que dar suspensao é a solução?

- A solução também pode expulsar } que a escola foi um

lugar prã gente aprender J prá gente nao brigar /

prá gente apre~der pra ser alguém na vida.

R. E você acha que aqui as professoras fazem isso?

- Não sei olha lã tã tudo sentado comendo coxinha / ou

tra conversando / a outra J só rindo j o que aue a

senhora acha? Minha professora tá aquich J ela fa

lou prâ mim não xingar um palavrão / até agora ain­

da não xinguei um palavão.

Page 92: o AVESSO DA LOGICA:

246

R. - Não.

- Sou respeitador meu chapa / agora esse daqui ~ ope­

rãrio invisível / tra5alha junto com a gente no seu

Paixão I calma aí / trabalha com a gen te aqui no seu

Paixão I só quer ir sexta feira prã receber.

R. Só vem prã grana.

- Minha senhora obrigado.

- A Valéria / a Valéria.

- O que que a senhora acha da violência na escola?

V. - Tã gravando mesmo?

- Tã.

V. - Tã gravando mesmo?

- Tã gravando.

V. - Mas esse microfone nao é / ê adequado?

- Vam'bora minha senhora vam'bora que.tã passando a

fita / que que a senhora acha da violência / falar

palavrão dentro da sala / fumar / brigar todo dia?

V. - Não sei I não ~ei.

- Que que a senhora acha da violência / a senhora mes

mo tava separando uma briga outro dia?

V. - Acho muito violenta a violência nessa escola} acho

que o pessoal aqui briga ã toa / briga muito ã toa}

acho que você é uma gracinha também.

- Agora o que que a senhora acha / todos dá / igual-

Page 93: o AVESSO DA LOGICA:

247

zinho agora / t5 fazendo a reunlao / um fala aqui J

começa a bater aqui.

V. Acho muito chato J é a minha hora do recreio prá des

cansar de vocês e vocês vem tudo prá aqui atrás da

gente j a Monica que é culpada disso.

-S.F. - Eu acho que a escola e de voces J dos alunos justa-

mente / tudo que voces fazem tá dá alegria pr5 gen­

te e dá tristeza J se tã havendo violência a gente

tã triste J o que eu acho é isso.

- Dá licença D. Sheila J eu sou aluno quieto?

S.F. - Você é aluno quieto J e aí Francisco?

Mas aí D. Sheila eu nao sou de brigar todo dia / mas

se a gente tivesse assim um grupo J os professores

um grupo assim / um aluno um da noite I tivesse uma

conversa sobre essa violência.

S.F. - Ah eu acho que isso seria ótimo J e já vai começar

hoje J Fr.ancisco e essa conversa vai começar hoj e

tã dez e meia tem essa conversa.

- E sobre a caipira que vai ter aí?

S.F. - Basta voces começarem a animar que nós estamos ani-

madas tá?

- Aquele tio? Ali aquele macaco ali que a senhora tã

vendo aqui J oh lã J é ele que arruma as brigas a-

qUI.

S.F. - E por que que vocês nao conversam com eles? Também

a escola é de voces.

Page 94: o AVESSO DA LOGICA:

248

A gente conversa com quem briga / nao -serve pra bri

gar dã uma conversa certo j mas esses alunos aí e-

les não entende / só porque mora no morro / vai dá

tiro nim um / vai matar o outro ali / acontecer a-

quilo entendeu? Mas eu acho errado isso / errado

que a escola é prã gente estudar.

* Mora na Mineira e ta falando mal do morro.

- Mora na Mineira nada / se a gente vem prá escola fui

prá estudar não prá oagunçar.

S.F. - Isso justamente / ê isso que a gente espera de vo­

c~s também.

- D. Helena o que que a senhora acha dessa conversa

toda?

H. - Eu acho / vem cá! 6 Francisco j eu acho o seguin­

te / eu acho que a viol~ncia que tá havendo aqui de~

tro ela começa lá fora j ela começa lã fora

também acontece aqui dentro.

- Morro do Macaco Molhado.

H. Agora a gente vai começar / hoje a faze~ reunlao cem

o turno inteiro e o assunto que vai rolar mais for-

temente / evidente / que ê isso agora eu acho J ag~

ra o que eu acho é que a gente tem que fazer uma

reunlao com voces e que todos voc~s tenham chance~

dizer isso de falar e de buscar um caminho melhor/

entendeu?

- Da TV Manchete / da TV Rádio Globo / a gente vai fa

Page 95: o AVESSO DA LOGICA:

249

lar corno é o nome dessa professora / moça como é o

nome da senhora?

E. - Meu nome é Elis-a.

- D. Elisa o que que a senliora acha dessa conversa com

a professora diretora?

E. - O que eu acho do que? D. Helena? Eu acho a Helena

urna pessoa muito interessada pela escola / tá sem­

pre presente se compromete com tudo que a gente pr~

cisa aqui prá resolver enfim / é urna boa diretora.

- E a D. Sheila?

E. - Sheila também é urna pessoa comprometida com a esco­

la / sempre presente atua aonde é possível atuar /

de urna ma~eira geral/eu acho que os funcionários

gostam de trabalhar aqui e fazem o melhor possível/

agora é claro que tem muita coisa prá melhorar tem

muita coisa prá mudar.

- Brigado, brigado ... Da Rede Globo I tá faltando/tá

faltando ... Seu Marcos, o que que o senhor acha~

sa reportagem da violência na escola? F2la seu no­

me primeiro.

M. - Meu nome é Marcos e eu acho que a violência não tá

com nada acho que tem que resolver as coisas no diá

logo e a gente tem que proteger os menores.

- Que tal urna reun1ao igual a gente tava falando a­

qui que vai ter urna reunião agora / os alunos sobre

essa violência?

Page 96: o AVESSO DA LOGICA:

250

M. Eu acho ótimo porque eu acho que so os alunos podem

M.

resolver esse problema.

Se a gente vai vim 9râ escola a gente vai vim estu­

dar e nio bagunçar.

- Perfeitamente, a escola é um espaço prá brincar e

prá estudar, não piá zoar, nio é prâ s.air na porrada.

- Anotado seu Marcos, falando com a Rede Globo Nacio-

nal. Adeus.

- (Seu nome é ... ).

- Francisco Macedo Neto.

-(Obrigada pela entrevista que voce me deu.).

- De nada.

- (Quem teve a idéia de fazer essa entrevista?).

- Eu, Francisco.

(Voc~ que bolou ~udo~ fez essa cimera.).

- Foi sim senhora.

- Não foi outro ga •..

- Não foi eu, não vem que nao tem.

(E o Brother tambêm participou da idéia?l.

- Não ele participou só agora na hora de falar porque

eu chamei ele porque não tinha nenhum locutor -pra

poder falar nem levar minha cimera, minha cimera ...

(Voc~ sabe que iS50 já aconteceu nessa escola há ai

Page 97: o AVESSO DA LOGICA:

guns anos?).

Sei sim sennora.

(E sabe quem fez esse tipo de ... ).

- Quem?

- (O Alexandre Trigueiro, você conhece ele?).

251

Nio senhora, mas eu gosto muito dessa escola por is

so que eu fiz isso.

- (Você tã querendo resolver os problemas da escola?)

- Tô sim senhora, tô sim senhora.

(Ta obrigada Francisco.).

Page 98: o AVESSO DA LOGICA:

A N E X O VI

FALAS SOBRE OS TEMAS

1. SITUAÇOES MATEMÁTICAS

Foram realizadas uma ou duas sessoes em cada tur-

ma, num total de nove. Destas foram selecionadas duas: uma

com a participação da pesquisadora e outra sem esta parti­

cipação. Os problemas propostos variaram a temática de a

cordo com o grupo. Alunos e professores não foram identi-

ficados, apenas sao diferenciadas suas falas pela inicial

de seus nomes. As professoras presentes contribuiram dia-

logando nos momentos em que desejaram. As situações foram

propostas pela pesquisadora. Os encontros ocorreram em

plena mudança do cruzado para o cruzado novo.

Turma da Professora J.

Professora T. - Um gari recebe vinte cruzados novos por h~

ra extra / se ele fizer num dia três horas

extra I quanto receberá?

A - Sessenta.

-PROFESSORA T. - Todos concordam? Como voce fez pra chegar

a essa resposta?

M1 - Chegou ã conclusão / ah / só ele pode res­

ponder né?

A - Fazendo a conta.

PROFESSORA T. - Que conta você fez?

Page 99: o AVESSO DA LOGICA:

253

A De mais j vinte mais vinte maIS vinte.

PROFESSORA T. - E se ele ficar quatro dias fazendo as tres

horas extra?

A - Ah j entendi.

AM - Num dia fazendo só três horas extra / a se

nhora tâ contando o mes todo?

PROFESSORA T. - Não / quatro dias J ele pegou quatro dias

e fez três horas extra.

AM - Quatro dias fazendo três horas extra.

PROFESSORA T. - E j dois dias dá cento e vinte J certo?

A - Dá duzentos e quarenta.

PROFESSORA T. - O gari encontra a menina que ele quer namo

rar e ela topa sair com ele / prá lanchar

no Mc Donalds J quanto ele teria que levar

-pra lanchar com a menina?

AM - Uns quinze tá bom.

PROFESSORA T. - Quinze tâ bom J e o que ele ia fazer com

esses quinze?

AM - Ah J ele ia gastar e ia sobrar troco ain-

da.

PROFESSORA T. - O que ele ia comprar?

AM - Quinze cruzados novos.

PROFESSORA T. - Tã / e o que ele ia comprar com esse di-

nheiro? Ele tem que gastar essa grana to­

da? Vai levar essa grana prá gastar toda.

Page 100: o AVESSO DA LOGICA:

254

AM - Ele ia chegar ... Cinema I e aí ...

PROFESSORA T. - Ele ia no cinema J tã J então ele ia gas-

tar no cinema?

AM - Me dã uma pipoca I dã uma pipoca.

PROFESSORA T. - Ia gastar no cinema I na pipoca ...

A - Inão compreensível I

PROFESSORA T. Quanto que é a pipoca I quanto que é o 'ha~

burguer J quanto que é o cachorro quente I

quanto que é isso I quanto que é aquilo I

até chegar aos quinze?

A.M - O cinema e dois sacos de pipoca I o saco de

pipoca ê um barão.

PROFESSORA T. - Um barão o saco de pipoca?

AM - ~ J caro I caro prã caramba.

-PROFESSORA T. - Caro pra caramba ...

AM - Dois sacos de pipoca deu dois barões I che­

gou lã J aí chegou I chupou uma bala de ho.!:,

telã I drops I aquela bala drops é trezen­

tos I' cabou de ver o filme e foi pro ...

PROFESSORA r. - Quanto ê que ele gastou até aqui?

AM - Atê aqui ele gastou dois e trezentos I com

dois sacos de pipoca J um J a bala halls

trezentos.

PROFESSORA T. - Aí ele foi pro Mac Donald I mas pois é I e

o cinema? Ele não pagou o cinema?

Page 101: o AVESSO DA LOGICA:

255

AM - Ih / é / ele pagou o cinema / cinema e mil

e quatrocentos.

PROFESSORA T. - Então vai aí / mil e quatrocentos / tô a­

chando esse cinema barato ...

AM - Dois é dois mil e oitocentos.

PROFESSORA T. - Barato esse cinema / onde que é heim? Acho

que eu vou lã de vez em quando.

AM - Todo cinema é assim mesmo / dia de semana

é setecentos.

PROFESSORA T. - Bom / e aí?

AM - Ele saiu aí perguntou / quer almoçar ou que

ir ao ROD's / ela falou / vamo pro Bob's.

PROFESSORA T. - Ih J ela nao quis almoçar não?

AS - De noite almoçar?

AM - Jantar / não quis nao.

PROFESSORA T. - Aí ele foi pro Bob's.

AS - De noite almoçar?

AM - Janta~ / aí ela foi / comeu um Big Bob's /

mil e duzentos / ele também comeu um Big

Bob t s e ela tomou um milk shake de morango/

setecentos / ele pagou também um milk shake

de morango e um copo de fri tas / batata fri

ta j batata frita é mil/dois copos de ba

tata fritas.

PROFESSORA T. - E aí / quanto é que ele já gastou aí?

Page 102: o AVESSO DA LOGICA:

256

AM - Então no Bob's ele gastou ... Deixa eu fa­

zer a conta aí ... Cinco mil e seiscentos.

PROFESSORA T. - Isso ele gastou.

AM - No Bob's.

PROFESSORA T. - E ao todo? Cinco cruzados e sessenta cen-

tavos no Bob's / o cinema / a pipoca e a

batata.

AM - Dois e oitocentos.

PROFESSORA J. - Três é embaixo de onde / embaixo do dois?

AM - Esse três aqui é embaixo do dois?

-PROFESSORA J. - Nâo / é trezentos.

PROFESSORA T. - ~ três mil ou trezentos?

. AM - ~ trezentos.

AS Então é embaixo do dois.

PROFESSORA T. o dois é o que? Aqui 6 / dois mil e oito­

centos e aqui é trezentos / esse aqui / três/

fica aonde?

AS Vai ficar no meio.

PROFESSORA J. - Embaixo do oito / três é embaixo do oito /

é um / mais dois / mais dois / mais dois.

A Forma outro aí I outra conta do lado.

PROFESSORA T. - Só que assim como você fez é oi to mais trin

ta / aqui / aqui Vlrou trinta não é não?

Esse zero aqui / como é que fica?

Page 103: o AVESSO DA LOGICA:

257

AM - Mas ...

ele .. ... so que vem pa ca.

PROFESSORA T. - Tem / até ~

/ tudo certo / ~ bo aI mas voce aI

tou trinta / oh ..

so.

AM Esse 4' tã - zero aI nao nao.

PROFESSORA T. - Esse zero aí não I não vale / ah / então

tã / então voc~ sabe que deu cinco cruza-

dos e dez centavos que ele gastou no cine-

ma / cinco e sessenta que ele gastou no

Boh's e quanto é que ele gastou ao todo?

AM - Ao todo ele gastou dez mil e setecentos.

PROFESSORA T. - Tã legal I só que ele nao gastou os quinze

cruzados / então como seria prã ele gastar

os quinze cruzados? Não tem mais nada?

Soórou quanto?

AM - Dez e setecentos / ele tem quatro e trezen

tos.

PROFESSORA T. - Como você descoóriu quatro e trezentos?

Fez a conta?

AM - Eu sei fazer a conta.

PROFESSORA T. - Fez assim de cabeça?

AM - Às vez eu uso as mao / só quando eu preci-

so mujto.

PROFESSORA T. - Aí você usa as maos / tã legal / e essa aí

é fãcil fazer de cabeça I você somou dez e

oitocentos mais quinze.

Page 104: o AVESSO DA LOGICA:

258

AM - Não eu tirei.

PROFESSORA T. - Bom I aí então ele ainda tem quatro e tre­

zentos pra gastar I e aí? Faz a festa ra-

paz / aproveita / cheio de dinheiro / vai

sonrar / como é que vai ser?

AM Aí ela vai comer mais um Big Bob's.

PROFESSORA T. - Mais um Big Bob / sua namorada era gorda?

AM - Não ela tava com fome ela.

PROFESSORA T. Ela tava com fome e vai dar quatro e trin-

ta mais um Big Bob?

AM - Não J ela comeu mais um Big Bob's e ele tam-

bém J ele comeu ..•

PROFESSORA T. - Ele comeu mais / voce também comeu mais?

AM - Ele comeu uma batata frita / deu dois e du

zentos.

PROFESSORA T. - Dois e duzentos / então ainda sobrou di-

nheiro.

AM - Aí sobrou dois e cem.

PROFESSORA T. Sobrou dois e cem.

-AM - Quinhentos ele tira pra passagem.

PROFESSORA T. - Ah quinhentos ele tira pra passagem mas qu~

nhentos dá prá passagem?

AM - Sobra cem.

PROFESSORA T. - Vocês ao cinema de ônibus e nao volta pro

Page 105: o AVESSO DA LOGICA:

259

casa?

AM - Volta né / comprei duas passagem oitocen-

tos de passagem.

PROFESSORA T. - Ainda sobrou dinheiro.

AM - Ainda sobrou um e trezentos.

PROFESSORA T. - Sobrou mil e trezentos.

AM - Mil e trezentos ele bebeu um milk shake de

morango druplo.

PROFESSORA T. - Duplo? -Quanto e que custa?

AM - O druplo é mil e duzentos.

PROFESSORA T. - Então sobrou alguma coisa ainda?

AM - Sobrou cem.

PROFESSORA T. - E aí o que que ele fez com esse cem?

AM - Chupou bala.

PROFESSORA T. Tâ legal/então ele gastou bem os seus qui!!.

ze cruzados / me convida da próxima vez ...

Mas se ele tivesse que fazer hora extra prâ

arranjar esse dinheiro?

AM - Se ele fosse fazer hora extra.

PROFESSORA T. - QuanTas horas ele teriR que trabalhar -pra

arranjar esse dinheiro todo?

A - Quantas horas ele tinha que trabalhar? A

senhora me pagaria quanto cada hora?

PROFESSORA T. - Vinte cruzanos novos.

Page 106: o AVESSO DA LOGICA:

260

A - Vinte cruzados novos / prá arrumar quinze

cruzados / deixo cu ver vinte e quatro ho­

ras é um dia e uma noite nê?

AM - Três noras ele arruma sessenta.

AS - Seis noras ele arruma noventa.

PROFESSORA T. - Seis horas ele arruma noventa?

A - Cinco noras eu arrumo mais.

PROFESSORA T. - Cinco horas você arruma dez cruzados? Uma

hora custa vinte cruzados.

A - Ah / uma hora / uma / duas / duas / três /

quatro / cinco.

AS - Cinco horas / cinco horas.

PROFESSORA T. - O que você fez Anselmo?

A - Botei vinte vezes cinco / entendeu.

PROFESSORA T. - Por que vinte vezes cinco?

A - Bateu na minha cabeça que eu faço issol aí

eu peguei certo / eu contei 55 os dois /

dois / dois / dois / dois / aí deu certo /

depois botando com os zeros / deu dez en­

tão deu errado a conta / então o certo mes

mo ê assim / quarenta / oitenta / noventa/

cinco horas dá noventa.

PROFESSORA J. - Oitenta mais dois.

A - Noventa / cem / cinco horas dá cem_

Page 107: o AVESSO DA LOGICA:

261

-PROFESSORA T. - Mas eu so preciso de quinze cruzados nao

precisa de cem.

A - Ah a Sra. só precisa de quinze cruzados eu

-so preciso de quinze cruzados.

PROFESSORA T. - E a hora extra custa vinte cruzados.

A - Então calma aí / então eu tenho que traba­

lhar quinze cruzados é? Então eu tenho que

trabalhar só meia hora / uma hora e divi-

dir ela e meter o meio.

PROFESSORA T. - Uma hora custa vinte cruzados / meia hora

custa quanto? Metade de uma hora custa qu~

to?

A - Metade de uma hora? E meia hora certo?

Então é dez.

PROFESSORA T. - E dez legal / e aí prá· eu saber quanto -e

que eu ...

A - Que a Sra. quer quinze mil cruzados certo?

PROFESSORA T. - Quero quinze cruzados.

A - Não quer trabalhar uma hora.

PROFESSORA T. - Não eu vou ganhar vinte eu só quero ganhar

quinze.

A - Aí a Sra. tem que dividir o vinte.

AS - Vinte menos quinze.

A - Vinte menos quinze como assim?

PROFESSORA J. - E aí Amauri?

Page 108: o AVESSO DA LOGICA:

262

H - s6 se pegar quant07

PROFESSORA T. - Eu sou preguiçosa só quero trabalhar prá

quinze.

AS - Zero menos cinco igual a cinco / dois me-

nos um igual a um correto? Tô certo ou tô

errado.

-A - Errado amigo como e que pode tu botar o

cinco.

AS - Zero menos cinco / dois menos um

PROFESSORA T. - E isso mesmo.

AM - Vinte centavos a Sra. fala duzentos nê?

PROFESSORA T. - Você diminuindo o quê? Não vinte centavos

vale vinte cruzados.

AM - Vinte mil cruzados?

AS - Eu tô diminuindo o vinte menos quinze.

PROFESSORA J. - Mas aí o dois não emprestou ao zero / nao

fica dez.

AS - Então vai dar cinco.

PROFESSORA T. - Duas notas de dez.

-AM - Eu na minha cabeça trabalhava pra ganhar o

quanto eu quisesse.

A - Agora deu quinze.

PROFESSORA T. - Lê o que você fez J fala o que você fez.

A - Você lê o que nao tem nada prá ler I dois

Page 109: o AVESSO DA LOGICA:

263

certo? Vou mostrar prá voces j tá vendo

aqui? Ti re i um bote i aqui aí ficou dez cer

to / dez tira cinco fica cinco / botei cin

co aqui já tá certo agora um daqui tira um

fica quanto / fica um.

PROFESSORA J. - Nenhum / você tem uma bala e chupa uma fi­

ca com quanto? Fica com uma bala?

A - Mas olha aqui gente tem um aquI.

PROFESSORA J. - Que tem um j poe o dedo.

PROFESSORA T. - Você n.ão emprestou um prá lá?

A - Tinha dois eu emprestei um pro lado / ago­

ra um.

PROFESSORA J. - Tira um / tira esse um / fica quanto?

A - Tirou esse debaixo amiga / vai tirar es­

se daqui de baixo.

PROFESSORA J. - Então fica quanto?

A - Vai ficar nada.

AS - Aí já somei / somei minha conta desse jei­

to ê zero menos / cinco menos zero pedi em

prestado ao cinco vou pedir emprestado um

ao cinco / o cinco fica valendo de quatro

e o cinco.

PROFESSORA T. - Ih emolou tudo.

AS - Ih elP.holei tudo / eu somei.

A - Tem que contar a hora / a hora que vai dar.

Page 110: o AVESSO DA LOGICA:

264

PROFESSORA T. - Eu quero ganhar quinze cruz. / uma hora cus-

ta vinte.

A - Uma hora / sao sessenta / sao seis homs de

trabalho.

PROFESSORA T. - Não uma hora sao sessenta minutos / é uma

hora de trabalho.

A - Dividir sessenta minutos / um / dois/três/

quatro / cinco / seis / sete / oito / novel

dez / onze / doze / treze J quatorze Jquin

ze J dezesseis J dezessete J dezoito / de-

zenove j vinte / puta que pariu / vai con-

até trinta depois ~

cinquenta até tar ate

sessenta j agora sim / agora a conta vai

ficar certa / a Sra. vai / oh. só uma hora

são sessen ta minutos a Sra. quer ganhar quin

ze cruzados só / uma hora são vinte cruza-

dos / a Sra. não quer vinte cruzados -so

quer quinze cruz / então / prá Sra. dar es

ses quinze cruz a Sra. tem que trabalhar

metade de sessenta minutos.

PROFESSORA T. - Tá aí eu vou ganhar quanto?

A - Metade de sessenta minutos / a metade não/

a Sra. vai trabalhar mais um bocadinho que

a metade / isso aí / a Sra. vai -trabalhar

trinta e cinco / não é quarenta nao calma ... aI.

AM - Não quarenta e CInco J aí Amauri acertou

Page 111: o AVESSO DA LOGICA:

265

quarenta e cinco minutos.

A - Quarenta e cinco minutos J se a Sra. quer

rangar J prá Sra. ganhar os quinze cruza­

"dos.

PROFESSORA T. - Se após o lanche ela tivesse convidado o

Amauri prá ir lá na casa dela / quanto a

mais de dinheiro .ele precisaria? Ah mas

aí ele já foi / já foi / já foi / já pagou

a passagem / vamos pro outro... Ele re-

cebeu quarenta cruzados prá comprar rou-

pa ... O troco tem que ser o menor possí­

vel.

A - Ele pode passar dos quarenta também.

PROFESSORA T. - Não só tem quarenta.

A - Só pode gastar só os quarenta / com essa

compra todinha a Sra. quer que some e quan­

to vê que vai dar embaixo.

PROFESSORA T. - Não sei J ele pode não querer comprar algu

mas coisas / ele pode querer comprar tudo/

pode 'querer comprar... Depende / ele tava

precisando de algumas coisas J eu vou fa­

lar urna coisa.

A - E se passar dimnói prá ficar só os quaren

ta.

AM - Diminói? (risos).

A - Diminuir J tirar quero dizer.

Page 112: o AVESSO DA LOGICA:

266

PROFESSORA T. - Dá prá mIm comprar uma televisão com qua-

renta cruzados} então •.. Ele ia comprar

roupa e ele viu esses preços aí / ele ti­

nha quarenta cruzados prá fazer isso.

A - Três vezes se is j sete / oi to / nove / dez/

onze ...

AM - Deu vinte e seis e cinquenta.

PROFESSORA T. - O que que ele comprou?

AL - Ele comprou tudo.

A - Não mas ela quer que dá a conta certinha

do / do j do ..•

PROFESSORA T. - Deu vinte e seis e cinquenta? -Mas so que

vai sobrar muito troco / quanto ~ que vai

sobrar de troco?

A - Então vai sohrar o que / uns cinco mil e

pouco ou mais ou menos.

PROFESSORA T. Vinte seis cinquenta - vai - e e quanto e que

dar de troco / ele tinha quarenta.

AM- Ele t.inha quarenta gastou quanto?

PROFESSORA T. - Ele tinha quarenta ele achou ... O que que

- fez aí? Que voce conta você fez? Que con

ta fez ... / hem Andr~? voce aI

A - De mais.

PROFESSORA T. - De mais / então tá j ele fez uma conta de

mais j ~

/ ~ ele achou vinte seis e aI e aI e

Page 113: o AVESSO DA LOGICA:

267

cinquenta / quanto é que ele receheu ~ tro

co? Ele deu os quarenta lá prá pagar/quan ..

to e que ele recebeu de troco?

A - Ah calma aí / então pô / calma aí / eu con

tando só aqui oh / de um lado só / deu vin

te e ... Vinte e um ou vinte e dois pô.

PROFESSORA T. - E aí J deu quarenta e seis.

AM - Sobe dois? Sobe dois.

PROFESSORA T. - Deu quarenta, e seis / por que sobe dois?

AM - Sohe o quatro.

PROFESSORA T. - Por que que sobe o quatro?

AM - Quarenta e seis sobe o quatro o seis dá

sessenta / aí / até agora / tá dando ses-

senta.

PROFESSORA T. - Como ê que voce fez esse nove e oitenta -e

o que?

AL - Nove e oitenta é a blusa.

PROFESSORA·T. - Duas blusas / tá legal / e esse nove e no-

ven ta'.

AL - Uma calça.

PROFESSORA T. - E esse oito e noventa.

AM - Uma bermuda.

PROFESSORA T. - Bermuda dá oito e noventa / bermuda era cin

co e noventa.

Page 114: o AVESSO DA LOGICA:

268

AL - Só que eu comprei um pouco mais cara o pa-

no era um pouco melhor.

PROFESSORA r. - E esse quatro e noventa I peraí I peraí I

como e que voce fez? Vem ci I me explicaL

AL - Esse quatro e noventa foi quatro cuecas.

PROFESSORA r. - Você comprou quatro cuecas I cinco e noven

ta ...

AL - Cinco e noventa foi um camisetinha pro meu

lrmao simples.

PROFESSORA r. - rã -e seis e noventa.

AL - Seis e noventa foi um sapato.

PROFESSORA r. ri.

-AH - Quarenta e sessenta centavos ne.

PROFESSORA r. - Ih I mas aí sobrou sessenta centavos.

AM - Sobrou ou faltou?

PROFESSORA r. - Sobrou sessenta centavos I quer dizer I s~

brou não passou dos quarenta I sessenta cen-

tavos e dos quarenta e nove e vinte voce

pode comprar? Você só tem quarenta.

AL - Não.

... PROFESSORA r. - Então o que voce teria que fazer aI pra vo

cê ter só quarenta?

AL - Vou ter que tirar umas coisa.

AM - Uma coisa só pri ele tirar.

Page 115: o AVESSO DA LOGICA:

269

PROFESSORA T. S s6 tirar uma coisa?

AM - Mas não vai dar os quarenta certo.

PROFESSORA T. - Mas aí J eu acho que é um troco pequeno J

quinhentos / bom tudo bem esse aí eu já to

satisfeito acho que voc~s já chegaram per­

to.

Segue registro dos alunos feitos durante as atividades aCl

ma.

Page 116: o AVESSO DA LOGICA:

;-, ,

/ I

V

---.-----..::

270

RegiStros efetuados para

o problema de sair com

a namorada.

Page 117: o AVESSO DA LOGICA:

271

I rJ) - o ro 'fi ~

o ~

rJ)

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'"d ro Ctl '"d :l .j...J ro

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Page 118: o AVESSO DA LOGICA:

~/

)~o ';j~o

'1 ~o b 70

).; 1J'c ~'3~ '~G o

, .,

Registros efetuados para o

problema das horas-extras.

2_..., í ~

Page 119: o AVESSO DA LOGICA:

273

Turma das Professoras C. e S.

(Esse encontro foi realizado na Sala de Leitura. Estavam

presentes as professoras C., S. e R. além dos alunos das

professoras C. e S. A Professora R. era a responsável pe-

lo trabalho na Sala de Leitura. Havia um grupo de seis en

graxates na turma).

(Um homem muito bem vestido senta para engraxar o sa-

pato I se o engraxate cobrar dele um cruzado e cin-

quenta centavos J e se o homem der a ele uma nota de

dez cruzados I quais notas o engraxate vai ter que de

1 - ?) vo ver pra ele ..

A Oito I oito mil/duas de quinhentos.

- (Pode dar de outra ferma?).

A Pode / quinze de quinhentos.

(Quinze de quinhentos J so quinze de quinhentos? Me

diz como você pensou.).

A Pensei assim I se dá oito mil/aí dá / tira um cruza

do / troca duas de quinhentos / quatro notas de um dá

seis notas / dá seis notas de quinhentos.

(Vocês concordam que quatro notas de mil dá seis no-

tas de quinhentos?).

F - Dá quatro.

MS - Não / dá oito.

- (Como é que você fez isso?).

MS - Trocando / contei na cabeça / dois três quatro / dá

Page 120: o AVESSO DA LOGICA:

oito.

(Dá oito / então e aí? Oito prá quatro mil.).

MS - Junta oito com mais quatro / dá dezesseis / dá oito

notas de quinhentos / então oito mais oito dá quanto?

Dezessete notas de quinhentos.

- (Porque dezessete?).

MS - Oh / oito mais oito e dezesseis / dezesseis com mais

um dá dezessete.

(Concordam com ele? Então deu dezessete notas de qu~

nhentos / tem outro jeito que daria?).

A - De cem.

-M - Um cruzado agora e dez centavos) dez notas de dez cen

tavos.

- (Tã distraído / quanto ele Lem que devolver mesmo?

Oito cruzados e cinquenta eles disseram que pode dar

oito notas de mil e uma de Quinhentos ou então dezes-

sete notas de quinhentos / que mais pode ser?).

A - Notas de cem.

(Notas de cem).

A - Oitenta e uma notas de cem.

(Vocês concordam?).

F Não / oitenta e cinco.

- (Aí eu concordo tamhém / só nota de cem? E se fosse

nota de cinco?).

Page 121: o AVESSO DA LOGICA:

275

A - Cinco mil?

- (Dava prá dar quantas?).

A - Dava uma e tr~s de mil e um de mil J tr~s e quinhen-

tos / três cruzados e cinquenta centavos.

(Se ele fosse pagar seIS graxas / quanto seria o tro-

co?) .

JA - Cada engraxada é quanto?

- (Cada engraxada é um e cinquenta.).

JA - E quatro e cinquenta tr~s graxas.

- (Três graxas J quero saber seis graxas.).

A - Dá dez cruzados.

- (Todo mundo concorda.).

A - A um e cinquenta dá dez.

-(Quantas notas ele teria que dar pra seis graxas de

um e cinquenta?).

A - Dava uma de dez.

- (Dava uma de dez e resolvia o problema? Dá dez / va-

mos verificar / tomo é que você encontrou esse dez?

Conta prá mim.).

F - Dá nove professora.

A - Contando no dedo J duas dá três mil/quatro dá seis

mil/com três / dez J não peraí I nove barão.

- (Outra / chega a namorada do engraxate / e combina de

Page 122: o AVESSO DA LOGICA:

276

i r c o mel e 1 o g o mal s p a s s e a r e 1 a n c h a r no r-Ic Dona 1 d f S /

quanto ele teria que levar prá lanch.ar com a namorada?).

E - Dez mil prá gastar com a namorada dá?

- (Dá prá comprar o que com dez cruzados?).

A - Ah / dá prá comprar dois cheeseburguer e duas laranj~

das.

E -- O pior que e.

- (Só dá prá isso?).

E - E ainda sobra troco / quanto tá um cheeseburguer?

JP - Acho que é um e duzentos.

- (Dois cheeseburguer entio ... ).

A ~ um e seiscentos.

E - E ainda sobra troco.

- (Quanto tã um cheesehurguer?).

JP - Acho que ê um e duzentos.

- (Dois cheeseburguer entio ... ).

A - ~ um e seiscentos I dá três e duzentos.

- (E um e duzentos ou um e seiscentos?).

A Três e duzentos / mais as duas laranjadas.

- (Quanto é as duas laranjadas?).

JP - E trezentos e cinquenta.

A - Só se for de água.

- (Duas laranjadas.).

Page 123: o AVESSO DA LOGICA:

277

E - Seiscentos J não I setecentos.

(Duas laranjadas com mais os três e duzentos que ele

j ã tinha dado.).

E Sete e sete são catorze I sao mil e quatrocentos.

JP - Não I três e novecentos professora.

- (Cada um dá trezentos e cinquenta.).

JP - Então dá setecentos.

- (Com mais o cheeseburguer.).

JP - Com mais os dois cheeseburguer ) é / dã ...

- (Quanto era os dois cheeseburguer?).

A - Três e duzentos.

JP - Dã três e novecentos.

(Então) dez mil / e aí faz mais o que?).

E - Ah I a passagem do ônibus.

- (Quanto é a passagem?).

E - Duzentos.

JP - Quatrocentos as duas.

- (Quatrocentos duas) com três e novecentos ... ).

E Dã quatro e trezentos / aí volta prá vir embora / prá

engraxar de novo.

- (Ele falou que levava dez / mas até agora ele so con­

seguiu gastar três e novecentos / o resto fazia o que?)

E - O resto vinha prá passagem I gastava quatrocentos de

Page 124: o AVESSO DA LOGICA:

278

passagem depois deixava a namorada em casa e la -pra

sua casa I gastava mais duzentos.

(Dez mil I ti sobrando I quanto ia sobrar?).

A Deu quatro e trezentos I dez mil I sobrava cinco e se

tecentos.

(Quan tas graxas e le ia te r que faze r então pra sair cor.:

, ?) a namor aua . .

E - Dez graxas a mil cada.

- (Ele só vai gastar quatro e trezentos.).

A Aí ele não tinha que levar I certo? Tinha que levar

mais ...

E Quatro I quatro nao I cinco graxas I fazia Clnco gra-

xas e sobrava setecentos cruzados.

A - Mas podia ...

(Cinco graxas no total I e se deJ)ois do passeio ela

convidasse ele -pra ir na casa. dela I quanto mais ele

precisaria?).

J Mais quatrocentos I mais cinco barão.

F - Mais dez mil.

(Porque mais Clnco Zé?).

J - Imagina que na casa dela ele vai so comprar cerveja ...

(Tem que ter dinheiro pra cerveja e a passagem ... ).

JP - A passagem ji ti lã.

- (Quer dizer que ele prã não passar vergonha com a ga-

Page 125: o AVESSO DA LOGICA:

rota ele precisa de quanto?).

JP - Vinte mil basta.

A Vinte e cinco mil.

E - Trinta mil.

- (E você Francisco?).

F - Seiscentos pri ir no hotel I um hotel especial.

E - Ih I não arruma isso nem num mes.

F - Eu arrumo I eu arrumo I maluco.

E - Vai roubar.

279

A - Que roubar o quê I eu pego um gringo J aí estourou o

coração dele rapi J isso é roubar? Isso é roubar?

Eu cobro de quem tem I cobro cinquenta mil I se tiver

piranha do lado dele J aí ela atrasa o lado da gente!

aí ela não deixa ele pagar isso nao.

E - E ela come o dinheiro dele.

A - Outro dia eu cobrei foi cinquenta dólar ao gringo Ime

deu ainda I me deu mais um dólar mas só que eu fui 0-

tirio I perdi o dólar I sapato dele I branco.

E - Li em Copacabana é assim I os gringo passa I aí os mo

leque vai I suja o sapato deles aí ...

A - Aí botei o dólar amarrado na bermuda J perdi o dólar

aí I perdi I puxa.

- (Quando você ganha dólar I você troca como?).

E - Eu troco com os garçom I o garçom troca prã gente/ m~

Page 126: o AVESSO DA LOGICA:

280

- -so que eles nao paga o preço / eles paga menos.

MS - Ajunta e troca no banco.

E Mas s6 que com o garçom ~ ripido.

A - Se o dólar ~ mil/mil e quinhentos J ele para mil e

duzentos.

F - Ti quanto o d6lar agora?

E - Três mil.

A - Então ele vaI querer pagar dois e quinhentos / que e-

le come n~?

- (O que voce fala com o gringo?).

J - Vou fazer xinxai ) sahe o que ~ xinxai?

- (Agora atenção) um trabalhador deseja comprar um ra­

dinho I ele acabou de receber o salario I ele poderia

comprar o ridio de uma vez?).

JP - Mas depende do salirio dele ) de quanto que ele ganha.

- (Vamos dizer ... Um salirio mínimo.).

JP - Salario mínimo não di não / ti oitenta e pouco / nao

ta tia?

- (Ta.).

JP - Não ta oitenta e ..•

- (Oitenta e um.).

JP - Oitenta e um e quatrocentos.

- (Quanto ~ um radio?).

MS - Quatrocentos não / quarenta centavos.

Page 127: o AVESSO DA LOGICA:

281

- (Quanto ~ um r~dio?).

E - Gravador?

F - Ih / cento e tal I cento e noventa J um r~dio-gravador.

MS - T~ nada.

A - R~dio-gravador ~ cento e setenta.

JP - Dependendo da loja I tã.

(Como é que ele poderia comprar entao j~ que ele -nao

poderia comprar de uma vez / como € que ele poderia fa

zer?) .

E Ã prestação j tia.

- (Mas como € que faz a prestação?) .

JP - E pagar em três vez J três vez.

- (Três vezes dava prâ ele pagar?).

JP - Dava.

(Quanto € que ele teria que pagar?).

3P - Sessenta / setenta.

- (Sessenta?).

MS - Nio / era mais que era prestação.

-- CE a~ quanto seria?).

MS A prestação eles cobra mais.

JP - ~ / eles cobra mais / quanto que € o r~dio?).

MS - O rádio era cento e setenta.

JP - Então cento e setenta / ele ia pagar duzentos né?

Page 128: o AVESSO DA LOGICA:

282

MS - E uns duzentos.

E E J uns duzentos e cinquenta.

JP - Ã prestação é duzentos e cinquenta.

MS - Ã vista é que é cento e setenta.

-(Mas corno e que calcula esse a mais que tem que pagar?).

JP - Aí deixa eu dar ...

MS - Uns dez por cento a maIS.

- (O que o cara disser tá bom ... O dono da loja diz/e~

tão é trezentos / você paga?).

JP - Não / aí já eu não pagaria né?

E - Trezentos mil?

JP - Aí eu furava o crédito J comprava ...

- (Mas tem gente que compra e não recebe também J tem.~.

Ele pagou já ... ).

- INão compreensível I .

- (Mas aí corno é que calculava a prestação / quer dizer /

ele coloca um a mais não é / e depois corno e que calcu

la a prestação?)"

JP - Aí e com eles lá né? Ele bota J deixa eu ver J tem que

botar prá duzentos né? Vamos supor / duzentos / o ca

ra deve pagar por mês um juro né? Com juro deve dar

uns setenta.

- (Setenta.).

JP - Três vezes dã.

Page 129: o AVESSO DA LOGICA:

283

(Tr~s vezes d~ quanto? Setenta J tr~s vezes?).

JP - Setenta dá ...

-(Pode escrever no papel se voces quiserem pra fazer o

cálculo.).

JP - Setenta J tr~s vezes.

- (Cento e oitenta? Como é que voc~ calculou isso?).

JP - S duas vezes setenta / di cento e ... Quarenta / cen-

to e quarenta mais um cento/e ... Sessenta.

- (Cento e quarenta botando mais um de setenta.).

AP - Já nao botei não?

E Dá duzentos e trinta.

- (Ele calculou que era cento e quarenta / duas de se-

tenta / todo mundo concorda?).

A Eu concordo_

E - Três vez dã duzentos ~ trinta.

JP - Mais uma di ••.

E - Duzentos e ~rinta / duzentos e trinta.

JP - Setenta dã •••

PROFESSORA S. - Duas de setenta dá cento e quarenta / ago-

ra bota mais uma de setenta.

JP - Mais uma de setenta?

E - Duzentos e trinta.

PROFESSORA S. - Dá du=entos e dez.

Page 130: o AVESSO DA LOGICA:

284

(Duzentos e trinta ou duzentos e dez?).

E - Conta aí / a minha tá certa.

(Voc~ pegou cento e quarenta e botou mais uma de se­

tenta?) .

E - Botei.

- (Como voc~ fez isso?).

E - No papel I duzentos e trinta oh.

(Como é que vamos decidir isso aí / duzentos e trinta

ou duzentos e dez?).

E - Duzentos e trinta.

JP - Duzentos e dez.

(Ele já calculou duzentos e dez I só voce que tá cal­

culando duzentos e trinta I como é que voc~ chegou a

duzentos e dez?).

JP - Duzentos e dez.

- (S6 que ele tá falando duzentos e trinta I como é que

voc~ achou esse duzentos e trinta?).

E - ~ duzentos e dez.

- (Tem certeza? .. Se ao jogar no bicho lo trabalhador

desse tr~s cruzados e cinquenta centavos ao jogo e g~

nhasse sete vezes o que ele jogou I quanto receberia?).

JP - Deixa eu ver ... Mil dã dezoito I dezoito mais duzen­

tos e setenta e seis.

- (Quanto é que ele vai receber?).

Page 131: o AVESSO DA LOGICA:

285

J Vou fazer a conta / ganhou cento e cinquenta.

(Ganhou cen to e c inquen ta o que? Cento e cinquenta cru

zados? Não acha que é muito não?).

J - Três mil e quinhentos?

- (Três mil e quinhentos.).

J - Aí / tã / cinco mil e quinhentos.

E - Isso aí tã errado.

- (Achei que você / tã lendo.).

J - Ele jogou três mil e quinhentos e ganhou quanto?

(Ele jogou três mil e quinhentos e ganhou sete vezes

o que ele jogou J sete vezes / tenta Francisco ... Vin

te e cinco? Vinte e C1nco cruzados? Todo mundo con­

corda que ele ganhou vinte e cinco?).

MS - Aqui.

(Ele achou vinte e quatro e cinquenta J você achou quan

to?) .

J - Não entendi o que a senhora falou.

- (Ele jogou três e cinquenta e ganhou sete vezes o que

ele jogou.).

J Eu achei vinte e cinco.

(Ele achou vinte e cinco e ele achou vinte e quatro e

cinquenta / e você / professora / pãra de ajudar J d~

zessete e cinquenta? Como é que você 2chou dezessete

e cinquenta?).

Page 132: o AVESSO DA LOGICA:

286

E - Contando.

- (Contando como?).

E Três e três I seis I com cinquenta de cada I um I dá

sete.

- (Tá / dá sete J e ai?).

E Aí sete e sete sao quatorze.

- (Sete e sete sao quatorze.).

E Então dá vinte e oito.

- (Já contou quatro vezes.).

E Vinte e oito / hem? Dá vinte e oito.

- (Quatro vezes.).

JP - Sessenta e tres.

PROFESSORA R. - Três J se't:e vezes deu vinte e um / ele so­

mou I achou cinquenta ~ seis e não quarenta e seis.

- (Ele achou quanto').

PROFESSORA R. - Cinquenta e seis I porque?

(Mas peraí I esse trinLa e cinco nao é trinta e CInco

cruzados I porque esse cinco é cinco centavos I es­

ses vinte e um I ê vinte e um cruzados I esse trinta

e cinco não é trinta e cinco cruzados.).

PROFESSORA R. - Seria isso?

- (Não faz a conta yrã ele.).

PROFESSORA S. - Monica J olha aqui I eu acho que ele tem

uma solução certa também / vê o que ele fe3.

Page 133: o AVESSO DA LOGICA:

287

JP - Sessenta e tres.

A Cento e vinte e oito.

(Ti correto j s6 que esse trinta e cinco n~o ~ trinta

e cinco ~ três e cinquenta / s~o sete vezes cinquenta.)

PROFESSORA R. - você tem certpza?

PROFESSORA S. Olha a solução dele aqui.

- (Você achou quanto?).

A Cento e vinte e oito.

JP - Eu achei sessenta e três.

- (Como você achou?l.

JP - Mil dã dezoito.

- (Mil di dezoito como? Mil o que?).

JP - Mil dã dezoito no bicho j mil cruzados di dezoito mil

no bicho J com mais mil dã trinta e seis ...

(Ah / ji seI J você calculou cada mil cruzados / um

dezoito / mais cinquenta centavos J os nove / aí voce

juntou esses sete ... Dezoito mais os noves / tã cor­

reto.).

PROFESSORA S. - ri certo n~?

(A última / você separou cinquenta cruzados para com-

prar roupas / os preços mais baixos que você encon-

trou foram / camiseta quatro e cinquenta J calça nove

e noventa / meia um e oitenta e tênis a oito e seten­

ta / o que você iria comprar / prã não sobrar troco?).

Page 134: o AVESSO DA LOGICA:

288

JP - Camiseta é quatro e cinquenta / então dã prá ele com­

prar duas e cinco par de meia e mais um par de tênis.

(Ele comprando isso que voce tá dizendo / vaI ter tro

co?) .

J Mais um par de t~nis que custa oito e cinquenta.

(Bom / mas comprando isso / comprando isso ele ainda

vaI ter troco?).

J - Não / só somando.

- (Você chegou a alguma conclusão?).

MS - Comprando um de cada.

J - Escreve calça aqui embaixo prá mim.

(Você comprou um de cada / aí soma direto / voce ain­

da pode comprar mais coisa / não pode comprar mais um

camiseta?) .

J - Aí soma mais.

- (Comprar mais uma camiseta você tá dizendo que dá vin

te e sete e oitenta.).

J peraí / até camiseta né / quatro e cinquenta / entao ...

JP - Aí professora / cinquenta barão certinho.

- (Você comprou o que?).

JP - Essa conta daqui / com a conta de cima.

- (Professoras j não ajudem.).

J - Aí.

- (A calça?}-

Page 135: o AVESSO DA LOGICA:

289

J - Certo?

- (Sio outras calças n~?).

J - sio mais barata J de outro pano / mas deu certo n~?

Segue registro dos alunos feitos durante as atividades aCl

ma.

Page 136: o AVESSO DA LOGICA:

290

)500

---

Registros efetuados para o

~ problema do jogo do bicho.

Page 137: o AVESSO DA LOGICA:

291

2. SITUAÇOES ASSALTO/TRABALHO

As falas aqui apresentadas foram recolhidas ao lon

go de toda a pesquisa. Em todos os grupos este tema apare

ceu, em alguns, no entanto, ele foi mais aprofundado. Em

alguns encontros os alunos contaram histórias, em outros hou

ve debate. Foram colhidos também depoimentos individuais,

tanto de professores quanto de alunos. Optamos por ordenar

estas falas segundo a cronologia em que apareceram para ~Je

o leitor possa sentir o efeito aue um locutor provocou nos

outros. As trocas entre os grupos foram oportunizadas uma

vez que histórias contanas em uma turma eram narradas nas

outras. Levou-se inclusive as falas gr~vadas em um grupo

para outros ouvirem e discutirem e os respectivo~ textos

transcritos onde se trabalhcu a leitura e a escrita.

Texto recolhido em 05/04/89.

História do Rogério

Meu nome é Rogério / vai fazer 4'

al ... Meu nome é Rogério /

certo? o problema / que eu fui / só prá saí / eu / meu ir

mão / meus colega / saí pá ... Mas aconteceu um acidente co

migo / primeira coisa I segurei na cabine / caí / fui prá

debaixo do trem / saí / aí depois fomo / aí a polícia que-

ria prender - toa / fazer nada / mas depois solta-a gente a

ram a gente / a gente fomo pro parque / isso daí é detalhe /

agora vai vim outro I eu vi um balão / balão japonês / su-

bi em cima do telhado / afundei com tudo / afundei com tu-

do / fui pegar uma pipa I aí pá ... subi em cima do telha-

Page 138: o AVESSO DA LOGICA:

292

do de novo / afundei com tudo / quase eu morro / mas nao

morri de sor~e / a Deus viu / .,

de-graças que o ,:,ara me a1

pois subi cima da casa do meu colega / ...

pular .. eu em pra pra

do / ...

cai de / ....

foi quatro vida / casa meu avo a1 eu novo Ja

resta ...

três / ...

foi de / aí depois / eu cai/ so mas Ja uma novo

foi do ônibus / pedi a mao a um garoto / mas nao adiantou

nada / desci direto / escapuli / paf ..• Aí fui direto pro

hospi tal/mas saí vivo / aí / agora / resta só duas vidas.

Textos recolhidos em 12/04/89

Histórias do Rogério

Aí teve um dia / que eu tava andando na rua / tava eu mais

um garoto / aí eu estava com pistola cromada / aí tinha tnna

mu1er / andando lá com umas peças / ouro / prata e re1ógio/

e dinheiro no bolso / cheguei J fui andando / andando / e

ela foi imaginando / quando eu corri / eu falei / .. e um as-

salto / "ela foi / ah / gritou J quando ela gritou / eu fa-

lei / - grita eu atiro / ai ela foi nao senao e passou as pe

ça / passou o relógio / passou dinheiro / passou cordão /

passou as jóias / tudo / faltava passar uma coisa / mas eu

não queria / deixa prã lá / cab~u-se / final.

Que que eu fazia se fosse assaltado? ..

Se fosse um / ne /

ah / brincava com ele umpoucD / toma / toma / toma / va­

leu / vai embora / quer dinheiro? Toma / deixava ele ir

embora / aí eu com o revolver I brincava com ele também /

se eu ver ele passando na rua I matavo ele / descontava tu

dinho / que ver ele com peça I tirava a peça / e tirava o

Page 139: o AVESSO DA LOGICA:

293

dinheiro dele tamh~m I aí ~ castigo I ía cortar a cabeça

dele j chutar a cabeça dele I sempre I ~ isso I devagar I

devagar ... Devagar eu chego lá.

Aí teve um dia I que eu tava no Azul I fumando um cigarrol

fui descendo n~ I devagar I não tinha ninguém I tava deser

to I tudo escuro I parecia que tava imaginando I eu escu­

tei um barulho I aúúú I de lobisomem I sabe o qu'eu fiz?

Fui vuado I subi na casa do meu colega I joguei o cigarro

fora I cendi a vela I dormi I num vi mais nada I fiquei cheio

de medo I fiquei tremendo I mas eu dormi I foi lá que eu

cheguei ao fim.

Aí até lá I aí a gente fomo amigo I se conhecemo lá no Mêi

er I certo? Aí do M~ier ele me chamou I estudava mas eu

larguei a escola I na Delfim I Delfim Moreira I entra bur­

ro e sai caveira I aí então o garoto falou assim I toma de

caxanga I falei I meto I at~ que isso aí ~ verdade mesmo I

meto I caxanga I casa de rico f caxanga I casa de rico I

cheio de coisas I jóias I tudo I televisão I então pá ...

O garoto falou I pega esse pau I aí eu peguei I vambora a

brir esse vasculante ! abri I ele falou I vai voce que va-

I tá legal fui I fiquei I ... ele ce e maIS magro eu preso aI

levantou I desci I falei I ah num vai dar I vou tentar laté

hora tinha polícia I tinha ningu~m I ... ele nessa nao nao aI

levantou I eu entrei I quando eu entrei I tum ... Já era I

aí eu entrei prá dentro I cheguei I abri a geladeira I não

tinha nada I so ovo I tinha água I tinha gelo I só I aí de

pois eu fui falei I como eu abro isso daqui que eu nao seI

Page 140: o AVESSO DA LOGICA:

294

abrir / ele / roda / rodei ele desceu / ele abriu-/ quando

ele entrou a gente catamo tudo / jóia / catamo tudo / en­

tão relógio / catamo rádio / aí eu tava com medo falei/

va'mbora / va'mbora / ele falou I não não não / verdade I

verdade / isso aí é verdade mesmo / foi / agora já passou/

agora tem que contar mesmo / aí foi / chegou né I aí quan­

do a gente saímo / não / num saímo não / a gente fomo na

frente / tinha nada de bom / tinha só a televisão / aí eu

falei / va'mbora levar só a televisão I vambora deixar es

sas coisas aqui prá traz / só a televisão / falou / não /

falei / va'mbora levar só a televisão / ele / não / se nao

alguém pode chegar / va 'mbora sair fora I a gente saímo I pe

gamo lá / fomo embora / fomo pro Azul I trocamo tudinho em

brizola / cheiramo / cheiramo I cheiramo / aí depois quan­

do acabou a gente ficamo triste / corremo atrás de novo /

conseguimo / aí foi até o fim / aí eu voltei prâ casa / e

acabou / não fiquei nem mais pensando nisso / mas depo~fi

quei / fui pensando devagar / fumei devagar I cheiro deva­

gar / cheiro devagar / mas com cuidado / não é cheirar a­

chando ... Cheirando e fumando não / fumar deixa ••• ~ um

tóxico / também deixa a pessoa muito doido nê? n foda/ aí

cumo que vai ficar / até brizola / brizola deixa o cara ma

gro I deixa o cara com fome / deixa o cara com... Desespe

rado / aí até lá acabou.

História do Marcos

Numa segunda-feira I cinco horas da manhã J eu indo pro tr~

balho / com uma pulseira de prata / um relógio cromado / ta

Page 141: o AVESSO DA LOGICA:

295

va indo pra Central/ia pegar o ônibus / aí senta dois ca

ra do meu lado / na Central/aí os sentado meu lado fala­

ram se eu poderia dar essa pulseira e esse relógio / eu fa

lei que nao posso dar / porque pra mim / dar tem que bri­

gar comigo / até o fim e levar / aí né eles falaram assim/

nao vou nem brigar nem vou levar / me da aí um barão; ta

tudo certQ ; eu falei ; não vou dar um barão ; tem que me

bater prâ levar ; aí teve na sexta-feira ; duas horas da

tarde / eu indo pro ... Certo? Voltei do trabalho; tava

indo pro dentista ; aí né encontrei ~om eles / aí eles que

rendo me bater ; não me bateram J briguei com eles; eles

não me bateram / bati neles; aí só foi isso.

História do Jorge P.

O que que eu faria? Se ele pedisso relógio; dinheiro; do

cumento ; eu dava tudo ; eu não enfrentava porque tinha me

do de morrer ; ficava com medo de morrer ; via a arma na

mão dele / nao sou a favor não / sou contra; não sei ; is

50 aí leva a pessoa prum mal caminho / leva prum beco sem

saída / porque / vamos supor assim / aí eles pega; fazer

um assalto né ; aí de repente eles fala assim / você nao

quer entrar pro nosso grupo? Assim / vender brizola ; ma­

conha / aí eu falo assim ; não topo / sou contra / não sou

a favor nao.

História do José A.

Boa noite / se eu venho numa rua escura e dois cara me as­

saltar? Bom / o que eu faria? Se eu tivesse em condições/

Page 142: o AVESSO DA LOGICA:

296

eu agia / certo? Como eu falei / se eu tivesse em condi­

ções / eu agia / se eu não tivesse / eu entregava tudo /

nao / por exemplo / se fosse dois caras e eu pudesse lutar

com eles / eu ía ã luta / prâ ele não levar o que é meu e

eu sair numa boa / mesmo que tivesse armado / agora se eu

visse assim / se eu desse / olhar assim / nao tivesse con­

dições de eu sair numa boa e ele me levar minhas coisas /

eu sou mais / entregava / porque é melhor o cara entregar

um relógio / uma pulseira / do que entregar uma vida nê?

História do Marcelo S.

Eu tava indo no trem / fui pegar o trem prâ ir / prá ir em

bora prâ casa / aí eu cheguei no trem / aí eu sentei no ban

co / aí chegou dois caras / aí falou / você quer me dar es

se relógio / falei / não / aí quando ele disse seco prn mim

dar o relógio a ele / eu nao queria dar o relógio a ele nãc:I

aí ele falou / tu me dá esse relógio agora / senão vou te

assaltar aqui / agora / com revólver e tudo / aí eu che~

tirei o relógio do pulso / e cheguei / entreguei na mao de

les.

Textos recolhidos em 19/04/89

História do Jorge P.

Se eu tivesse / se eu tivesse no ônibus / no lugar do Har­

co / tivesse sendo assaltado / se ele dizia / passa tudo /

passa relógio / dinheiro / pulseira / eu passava / mnn agia

não / no lugar do Rogério / ah / sei lá / se eu ía? Não I

olha / oh / sei lá / eu achava melhor correr atrás de uma

Page 143: o AVESSO DA LOGICA:

297

batalha / procurar um emprego / nao sei / se virava / qual

quer coisa / é .•• Vender bala no trem / e ... Ser camelô/

mas menos sairprá assaltar / porque / sei lá / eu não acho

isso certo / sou contra / não sou a favor não / sei lá /

um beco sem saída / só.

História do Jorge A.

Meu nome é Jorge / certo? Tô na Tia Ciata há pouco tempo/

mas se fosse eu I no caso do assalto / eu agiria da mesma

forma que o Marcos/entendeu? Brigava com os cara na moral/

e se eles tentassem levar minha peça / depois ia correr do

meu prejuízo certo? Agora / po / podia esses cara também

pegar numa arma morô? Botar a arma na mão / assaltar um

'Banco / aí sim / aí eles vão ficar rico / agora roubando a

gente que samo pobre / um trabalhador / eles não vão adian

tar nada / o azar vai cair tudo pros lado dele / mais for­

te ainda / morô Cbará I eu agiria da mesma forma que ele /

o Rogério é o que assaltou / não é? Então ... Se eu tives

se nessa condições que ele tava / assim / pô / com fome /

morô / desesperado / também ia fazer isso sim / mas sendo

que se eu visse que era uma boa / legal/eu ia meter mes­

mo / morô / se eles mê tentassem me dá volta / eu dava bu-

la na orelha dele e tudo / num tava com dinheiro / tava rom

fome / fazia .esmo / num tinha parada errada certo? Só is ~

so 50.

Debate em que participaram Jorge A., Jose A., Marcos R., a

Professora C.~ a Professora SN, a Professora R. e a pesqui

Page 144: o AVESSO DA LOGICA:

298

sadora. O restante do grupo, embora nao tenha se manifes­

tado neste momento, acompanhou o debate e depois veio a e­

mitir opiniões sobre o que foi discutido.

Professora SN. - Você acha que é mais difícil assaltar ou

ser assaltado?

Jorge A. - Ser assaltado / é claro.

Professora SN. - Porque você acha isso?

Jorge A. - Por causa de que ser assaltado é mais di­

fícil? Se você não tiver nada prá dar pro

ladrão / tu leva burduada / morô / e você

assaltando o cara / se o cara tiver com a

peça / tu leva a dele e ainda bate nele /

então se você for assaltado / tu perde o

que voce tem / ainda leva bula / bula na

orelha / e manda embora / tem direito a

nada / e se tu fala alguma coisa / tu le­

va tiro e tudo / tudo.

Professora C. - Você já foi assaltado?

Jorge A. - Eu já / várias vezes / e já assaltei tam-

Jorge A.

bém / muitas delas.

(Conta aí).

- Olha só / tava eu e meu irmão / lá em Ma­

ricá / certo? Tava eu e meu irmão lá em

Maricá / meu irmão tava ... Meu irmão ta­

va bolado com minha cunhada / sacô? Aí e

le começou a beber um pouco né / aí ele

Page 145: o AVESSO DA LOGICA:

299

chegou / pediu carona a um cara da blusa

vermelha / um cara assim da minha cor / um

outro escuro que nem ele assim / forte /

sabe como é que é / aí meu irmão deu si­

nal pro cara / aí o cara foi deu uma enca

rada e foi embora / aí depois o cara vol­

tou / disse / ah / cê vai prãonde? Ah /

queria uma carona ali até meu canto ôh ca

ra / é / entra aí dentro do carro aí / mas

sendo que o de branco / as sim da minha cor!

tava com camisão vermelho / aí saiu 00 ban

co da frente / botou a gente no banco de­

trás / e deu um jeito assim na camisa/ ti

po que tava dando um parai / tipo um re­

vólver entendeu? Aí eu já fiquei meio ca

brero / aqui assim / aí ôh cara / num vou

nessa não / aí disse o meu irmão / que na

da rapaz vambora nessa que assim a gente

nao paga passagem ne? Paguei outra passa

gem / você não tá a ~im de gastar dinhei­

ro? Ah / vambora I aí entrei na dele /

porque meu irmão é mais velho do que eu /

aí eu en trei na dele / nessa locara / p~

garam o tráfego I já íamo embora / pooom ...

O cara ta fincando o pé mesmo / daqui a

pouco / quando chegou naquela trilha que

vai / ôh cara / tu conhece aquela direção

que vai prã Mani1ha / de Alcântara prá Ma

Page 146: o AVESSO DA LOGICA:

300

nilha locara pegou aquela direção alí

de Alcântara prâ Manilha e falou assim I

oh I eu quero só o dinheiro de vocês I meu

irmão vai viajar e tudo I eu só quero o

dinheiro de vocês I o meu irmão como foi

esperto disse I po I somo pobre a pampa I

- I - fomo até pedir vocêsl moro nos carona a

- I dinheiro da moro que nos tava sem o pa~

I I quando . - falou sage nessa meu 1rmao as-

sim I . - deu burduada dentro da bo o cara Ja

ca do meu i rmão I pau... Eu não senti por

que ele I pau ... Aí rebentou a boca do

meu irmão todinha I aí meu irmão I õh ca-

ra I não faz isso comigo não I puxou-lhe

a carteira I meteu o dinheiro assim I 0-

lhou o dinheiro e meteu dentro do tênis I

os cara começou a bater na gente I sendo

que tinha aquelas notinhas de cem -meres

vermelhinha I nao -? e. Aquela grandona nãol

aquela menorzinha saiu I ,

tava I que a1 eu

uma manchinha daquela assim I deixa eu ver

isso ,

I hora ele viu a1 na que que nao va-

lia nada I o cara deu o maior tapão den-

tro da orelha I I tâ vendo ,

I não sei po a1

- I mano I ,

pra que a gente entrou nessa a1

os cara começou a bater na gente I bater

na gente I o carro trancado locara cor­

rendo com o carro I no final das conta I

a.8Llo:r ••• fURDA~ GETOU() v ......

Page 147: o AVESSO DA LOGICA:

Jorge A.

301

apanhamo a pampa / o cara deixou a gente

p6 / num lugar mais longe dri lugar que a

gente ía / e apanhamo a pampa / mor6 / meu

irmão com a boca toda arrebentada / e saí

mo no prejuízo / então / mor6 / mais fá­

cil / mais difícil tu ce assaltado / otá-

rio / que se você não tem nada / você a­

panha do mesmo jeito / morô / chará / e

-os cara pa ... Pega mesmo legal / e bate

sem pena / ainda mais vagabundo.

(yocê já assaltou?).

- Eu já / muitas vezes~

Professora SN. - Assaltar não é difícil / tamb.ém tem risco.

Jorge A. Corre o risco mas •..

Professora SN. - Você pode morrer.

Jorge A. E difícil sim / sendo que se voce assal­

tando você já está mais na atividade I se

sujar a área prá você / você pode abrir I

se você tiver com revólver você ainda t~

ca tiro com ele / derrepentemente voce se

dá nem / de repente não se dá bem I enten

deu agora?

PROFESSORA SN. - Se dar nem ou nao acontece nos dois casos.

Jorge A. - Acontece nos dois casos / mas mais fieil

ainda você sair com lucro / morô / porque

você / se sujou / tu pega a mulher que tu

Page 148: o AVESSO DA LOGICA:

302

tá assaltando como vítima / leva ela como

refém / morô / aí os cara num vai lá ten­

tar muita / alguma coisa / cê dá um tiro

na goela dela / e manda os cara embora /

eles vão ter que ir mesmo / se não pegar. ..

Coração / oh / coração de malandro tá na

sola do pé / entendeu? Se marcar bobeira/

eles mata mesmo / aí os cara num vai que­

rer que uma pessoa morre / inocente / vai

ter que ir embora mesmo / aí você vai sain

do numa boa.

Professora C. - Você já teve medo de morrer?

Jorge A. - Eu já / já que ...

Professora C. - Assaltando?

Jorge A. - Não / assaltando nao / eu tavo lá em Mes-

quita / Mesquita / Nova Iguaçu / morô /

quando a rapaziada lá / tava Chatuba com

Coreia / tava em guerra / eu e meu primo

Demétrio né / nós fomo fumar maconha lá

em cima / sabe como é que é / no I1Drrinho /

os cara pegaram a gente / os cara da Cha­

tuba pegaram a gente bem fumando maconha /

sendo que eles / nós pensamo que eles era

polícia / eles todo arrumadinho / tava tu

do arrumadinho / tava o Guará / o Pirata /

morô / e um japonezinho de bigodinho pô /

pegaram a gente / mas arrebentaram legal

Page 149: o AVESSO DA LOGICA:

Jorge A.

303

mesmo I aí deram só telefone I Guará I um

bração assim I que nem ele mesmo I maior

bigodão I todo fortão I toma I pô I tu num

viu I pô I naquele dia eu tremi na base I -moro.

- (Que que voce sente na hora que tá sendo

assaltado?) .

Depois? Aí a gente bota I pô I pior que

a gente bota a cabeça prá funcionar I tá

vendo I aí se a gente I eu penso assim I tá vendo I quando esses cara aí me pega I

eles me mete burduada I fala que vai me

dar tiro I me dar bicuda I me dar telefonei

eu na hora que eu vou pegar um comédia des

contar também I desconto nas outras pes­

soas também I porque quando eles estão com

raiva eles descontam na gente I então quan­

do eu pego um eu desconto também I que;não

tem nada a ver I eu faço a meSDR coisa com

eles I é que nem um polícia I que nem um

políéia I tu assalta uma vítima né I as­

salta uma vítima I aquela vítima vai cha­

ma a polícia prá você I e voce e pego I sem

voce espancar a vítima I a vítima fala que

voce espancou ela I aí os PM vai te espan

ca I então quando a gente pegar a vítimal

a gente tem que logo ir espancando ela I

prá ela tremer na base e não chamar nin-

Page 150: o AVESSO DA LOGICA:

304

guém / aí nao chama a polícia / nao chama

os outro prá apanhar você / aí você vai

embora tranquilo / numa boa.

Professora R. - Quando você assalta / machuca alguém / vo

ce nao liga? Vai embora / é indiferente?

Jorge A. - Vou embora / moro.

Professora R. ~ Você nio sente nada / cara / heim? Te --e

indiferente?

Jorge A. Ah / diferente eu sinto sim / a gente fi-

ca com um pouquinho de medo / dã um pou-

quinho de medo / mas dá ...

Professora R. - Você nio sente pena?

Jorge A. Não sinto não / você nao pode sentir pena

nao / se tu entrou nessa / aquela embarca

çao é uma só / tu não pode sentir medo nem

Jos.ê A.

pena entendeu? Porque na hora que eles

pi... A gente / eles não tem pena da gen

te / eles não tem pena da gente / como --e

que nós vamo ter pena deles / isso não p~

de e~istir certo? Na moral/na moral /

não pode existir / é só isso só.

- Do assalto como ele falou / o que eu acho

é que é isso mesmo que aconteceu / por e-

xemplo / se ele ... Que nem o cara ali fa­

lou / na hora do assaI to / que a gente vai

assaltar / não pode chegar na hora e sen-

Page 151: o AVESSO DA LOGICA:

305

tir medo / porque se sentir medo / aí vai

dar tudo errado / o cara vai dar aquele

pensamento / que vai roubar / que vai ba-

ter / que vai matar / tem que ir e voltar

naquele pensamento / e sair com outro sem

pre / ele vai se dar mal sabe / porque de

que que... Por exemplo / ele vai assaltar

uma pessoa / a pessoa vai agir pro lado

dele / ele nunca deve pensar que vai ter

medo do cara / o cara vai bater nele / ele

tem que agir / vai a luta / mesmo que nao

consiga nada / se conse gui r alguma coisa/

bem / se nao conseguir ... E é isso cer­

to? E a minha opiniio é essa / se a gen­

te esta assaltando / que a gente / se ti­

ver gente pra reagir a gente nio pode dar

mole / porque se der mole / o assaltante­

leva você pra pior / porque depois o cara

ta assaI tando / e o cara vai agir / se mo

agir / o cara vai à luta / certo / nem que

morra ali / mas tem que lutar / porque se

foi praquilo / nao deve ter medo / tem

que entregar firme e sair firme / certo?

Que outro falou / gente - assalta nem o a e

do aqui / por exemplo / vai com o dinhei-

aqui - assaI tado / chega na frente ro e e

tem que assaltar outro / porque a gente

nao pode ficar no / no perdido / né? Por

Page 152: o AVESSO DA LOGICA:

306

exemplo / agora a gente que é de menor /

por exemplo / agora acabou / né / essas leis

de que menor não tem mais isso / não tem

mais aquilo / não pode ir preso I agora tá

dimimuindo que de antigamente / menor mui

to roubava / menor roubava / pegava os ou

tro e metia porrada / é que num ia preso/

nao ia nada / não acontece nada / cheira-

va cola por aí / que nem eu já vi muitos

por aí cheirando / certo? E agora eu a­

cho que o que ele falou alí é certo / por

que a pessoa sendo assaltada / já é outro

problema / certo / é melhor o cara assal­

tar / do que ser assaltado / que no as­

salto / você sabe que vai e / eu traz al-

guma coisa I eu sai fora sem se machucar/

e o cara seado assaltado / o cara tem que

se entregar I porque / por exemplo / voce

está sendo assaltado / tem um aqui / voce

nao sabe quantos tem / se tem outro lá na

frente / você assaltando não / voce as­

saltando voCê sabe que tá você / tá outro

colega / a gente tá só / mas tá sabendo

que vai sair lucrando / que assa! tante mnca

vai assaltar a pessoa prâ perder / não é/

vai assaltar sempre prâ ganhar / então ~

e

isso que eu acho / quando a gente tiver as

saltando / tem que assaltar e segurar as

Page 153: o AVESSO DA LOGICA:

Marcos R.

307

ponta / mesmo que depois no fim / se fer­

ra / mas tem que sair sempre com lucro /

né / é só isso.

- b preferível levar a pessoa a refém ~ que

espancar / é craro / se os outro tão as­

saltando / aí encontro / eu chego na rua

com. .. Eu chego na rua com trezentos mil/

se nego me assaltar / eu chego na frente

vou ter que assaltar outra pessoa também/

-ne se eu tiver aqui / faz de conta com cem

mil/cento e cinquenta / nego me assalta

aqui / eu vou ter que assaltar outra pes­

soa lá na frente / causa de que / sem sa­

ber nada / mais fácil é levar a pessoa re

fém mesmo / só assim / deixa num lugar bem

longe / joga dentro do mato lá / deixa pIá

lá mesmo / mais fácil do que espancar.

Textos recolhidos em 26/04/89

História do Fábio.

Eu acharia que os pessoal/poderia arrumar um serviço prá

gente trabalhar / prá amanhã ou depois a gente crescer / a

prender a fazer alguma coisa / saber / porque saber / fa­

zer / estudar / ler / porque se algum dia eu tiver de rou­

bar / eu vou roubar pra mim sair da merda / eu ficar na mer

da / porque não adianta eu roubar pobre / ficar roubando

gravadorzinho / roubando miséria / roubo logo um Banco / prá

Page 154: o AVESSO DA LOGICA:

308

mim morrer / ou prá mim / ou prá mim viver / se dá bem na

vida / mas a minha idéia é essa / a minha idéia / crescer/

trabalhar / é estudar / no meu suol / cuidar da minha famí

lia / se eu tiver família / e cuidar da •.. E trabalhar do

meu suol / porque as vezes é muito ruim a gente usar ~ CO!

sa dos outros / pensar que tá se dando bem / quando pensar/

tâ entrando pelo cano / então eu nao quero que isso aconte

ça comigo / eu quero estudar / ser um grande pessoa / sa­

ber que eu tô ganhando / é do meu direito / nao é do suol

de ninguém / que tudo que eu consegui / foi com meu suol /

espero que amanhã ou depois / deus me ajudar / eu ter uma

boa família / e viver bem no meu canto / trabalhando / a­

prender uma profissão / qualquer coisa / prá mim / prâ ama

nhã ou depois / quando eu crescer / eu falar: eu venci / e

dar os mesmo conselho prá meu filho.

Opinião de Marcelo L. sobre assaltar.

Acho certo mesmo I tem. que roubar mesmo / porque quando uma

pessoa fica olhando assim I fica pensando que nós somo pi­

vete / esse negócio assim I aí fica olhando / aí quando fi

ca olhando assim I fica olhando sinistro assim / aí / sai

de perto da gente assim / ~uando eu vou prá sentar assim /

a moça assim / tá com cordãozão / um relógio bonito / d fi

ca / aí / esse pivete vai querer me roubar / aí fica pen­

sando o pensamento dela / sai de perto da gente. Aí quan-

do a gente vai ..

pa •.. Sentar assim / sem maldade nenhuma /

aí elas sai de perto da gente / aí quando a gente tá com

maldade / aí elas não sai I hoje mesmo / eu vinha andando

Page 155: o AVESSO DA LOGICA:

309

ali I ... a moça passou perto de mim I olhou prâ minha cara al

assim I ... andou mais rápido ainda I ... falei I vou en-al al eu

ela I ... comecei andar mais rápido I que ganar al a -eu tava

caixa de engraxate I aí passou um gol I - I ela per com a ne

guntou um negócio pro gol lá I aí começou a falar um negó­

cio lá I aí eu falei I vou andar mais rápido I vai pensar

que eu vou roubar ela I eu só queria enganar ela I botei a

caixa de engraxate na frente I aí fui andando I aí o gol

foi I né I olhou prá minha cara assim I eu olhei prá cara

dele assim I aí eu fui embora I que ele viu que eu sou en­

graxate I aí ele pensou que .eu não ia roubar ela I aí ela

ficou toda assustada I atravessou a rua e foi embora I foi

lá pra Central pegar ali o trem I foi prá lá.

Opinião do Amauri sobre roubar.

Meu nome é Amauri I se ele roubou I se a mulher fosse ~ m nheiro I tivesse muita coisa I ele tava certo nesse pontol

mas se a mulher fosse uma pobre I tivesse "tirando uma ondi

nha com os negócio dela I ele tava errado I depende I de­

pendia da condição I que eu tivesse I se eu tivesse muito

apertado precisando de dinheiro I de repente podia até fa-. . zer isso I não tivesse trabalhando nem nada I podia assal-

tar também I mas eu não ia querer assaltar essas mulezinha

nao I Ia querer assaI tar Banco I Banco que dá dinheiro I que

ir preso I toma um pau só I não é com reloginho I com cor­

dãozinho I que é ser preso com cordãozinho I esses negóciol

é besteira I ser preso é roubando banco I chega na cadeia

fica considerado I esses que rouba relógio I esses negoci-

Page 156: o AVESSO DA LOGICA:

310

nho / nao é considerado / chega lá briga / apanha / tem que

fazer coisa boa / roubar coisa que se ... Fazer coisa que

presta / trabalhador é considerado / que ele trabalha

sustentar a família / não prâ assaltar ninguém / tirar

.-pra

de

quem não tem / tem que tirar de quem tem / e não de quem

não tem / a gente j á não tem nada j â somo pobre j á de tudo/

um dinheirinho que a gente arruma prâ fazer um negócio / ain

da vem um / tira da gente que tem ass im / os preto fica sem

direito / a nada / os branco sabe como livrar / se tem um

dinherinho / sai rapidinho / muitos polícia é comprado por

dinheiro / os preto eles maltrata muito / que pensa que to

dos preto é escravo / todos preto é bandido / eles pensa tu

do de preto / os branco eles não faz quase nada.

Opinião do Henri sobre roubar.

Acho ridículo esse negócio de ficar roubando I assim / is­

so da certo não / ficar na cadeia lã / tudo f sabe conéque

é / né / não ... Trabalhar / trabalhar I depois I né / aju

dar a família / depois / né / esses Duleque / esses pivete

assim / que fica roubando / se dão m.al I se dão nuito mal /

por isso que eles ficam roubando I aí I ã toa / que nem lá

no morro / la no morro não pode roubar não / se roubar lá

em cima / rapaz / lá eles mata I mata legal mesmo / outro

dia / o cara foi roubar um negócio lã I os cara quase mata

ram ele / quase mataram ele / só deram porrada / só deram

porrada nele / e o cara roubou o negócio lá do cara la.

Page 157: o AVESSO DA LOGICA:

311

Opinião de Bruno sobre assaltar.

Eu acho errado I porque ... Negócio de assalto I eu acho

muito errado I sabe porque? Porque às vezes a pessoa tá

trabalhando I então deve alimentar os filhos I tá precisan

do de alimentar os filhos né I tia I aí chega lá I vai um

e assalta I aí os filhos em casa tão precisando I né I pa~

sando fome locara precisa trabalhar o tempo inteiro I prá

depois ser assaltado I isso nao dá I eu acho isso muito er

rado I porque as pessoas tem os filho I prá atender I tem

que precisar de almoço I de uma roupa I um jantar I né I que

a mae que é mãe / que é mãe mesmo I assume o compromisso do

filho / e assaltando I chega em casa fica passando fome /

a mae vai se virar com o que? Com nada I né I passa nece~

sidade I por isso que eu nao gosto I eu não admito com is­

so / isso eu acho errado.

Defesa do Jorge A.

Vou dar resposta aqui pra ele ali I sabe por causa de quêl

ele nunca teve um sofrimento como nós I menores de rua te­

mos / então você I essa resposta aqui é prá você I e por­

que vore nunca passou. dificuldade como nós I menores de rual

voce nunca passou por isso I então você acha errado I por

isso I a gente passa assim com a caixa de engraxate I

somos engraxate I trabalhador I as mulher passa assim

lado I elas I pô I olha assim pra gente I olhando assim

-nos

do

I

pô / esse muleque parece que nem ... ~ um animal ferozl en

tendeu? Porque nós tamo assim do lado delas parece que nós

vamos devorar elas I que somo ladrão I somo marginal I so-

Page 158: o AVESSO DA LOGICA:

312

mo estrupador / então elas fica assustada / e todos os me­

nor que ela vê ela pensa que rouba / nós somo trabalhador/

numa boa / agora se nós fosse ladrão / nós não ia andar as

sim não / nós ia andar arrumadinho / todo trajado / ela ...

a1

vao pensar que nós era playboy / aí é que elas se dava mal/

porque também as aparência engana / sacô / as aparência en

gana legal/agora / os assaltantes de Banco / eles anda as

sim não / eles anda tudo assim / pano / terno e gravata I

de malinha / você não olha assim / pô / que nada / aquele

ali é um pai de família qualquer / trabalhador / aí que /

né / vagabundo atrai até no ponto / que eles encostam o

maior ferrão na cara / se dão bem / saco / sabe por causa

de quê? Você tenta experimentar assim / um dia / uma sema

na / so engraxate / o tanto que você vai escutar a pampa /

morô? Ser humilhado pela pessoa / moro / chará / ôh cara!

você vai se acabar / rapaz senao ! morô / passa fome e tu­

do / cumpradre / e que nós / morô chará / tem muita potên­

cia morô / prâ gente isso aí é uma aventura I a gente I nós

vamo levando isso como aventura / experimenta só mn dia só I .. ..

por enquanto e so.

Contra-defesa do Bruno - Debate com Jorge Anísio., Jorge A • .,

Marcelo L. e a pesquisadora.

BRUNO Não sei nê / eu nunca passei por isso / eu

nunca passei por isso / e acho que nunca

vou passar / aí / é um direito dele ..

ne /

nao sou contra / direito dele / não nê?

Depende dele não vou contra ninguém / cada

Page 159: o AVESSO DA LOGICA:

313

pessoa se V1 r,a como pode / né tia / eu sou

contra sim / garoto / nao sou a favor não.

JORGE ANIsIO - Hoje em dia / a gente vai procurar emprego/

não encontra / vai procurar serviço / nao

encontra / vai fazer um curso / não tem cur

so / a gente vem aqui prá estudar / prá vo

cês / um bocado de gente não fica dentro da

sala de aula / por isso eu não paro dentro

da sala de aula / Juracy fica esculachando

por causa de quê? Todo mundo fica escula­

chando por causa de quê? Hoje em dia / a­

quela vida que a gente leva / não dá prá vi

ver mais não / rapá / hoje a gente vruro pIU

curar serviço / não encontra / outro dia /

eu saí de casa / era quatro hora / saí qua­

tro hora da madrugada / civil ainda me dá

geral I não vou deixar / que eu tô traba­

lham.ÓD I botei o documen to na cara dele /

que hoje em dia eu trabalho / trabalho no

CB I você trabalha?

BRUNO - Trabalho no hospital.

JORGE ANIsIO Então tu fica falando nisso ...

BRUNO - Trahalhar ê fácil/você sabendo correr a-

trás I voce acha / o negócio é ter coragem.

JORGE ANIsIO - CDmo é que a gente sai correndo atrás / tu

do bem / a gente sai correndo atrás / che­

ga lá a porta tá fechada / porque uns diz

Page 160: o AVESSO DA LOGICA:

BRUNO

JORGE A.

314

que tem assim / que pela cara / nao tem ser

viço / a porta tá fechada / aí o cara se

revolta / e tem mais é que roubar mesmo.

- A gente vai / mas quando não tem / a gente

corre prá outro / termina achando / o negá

cio é coragem.

- Esse caso / voce j á foi ladrão / você já foi

ladrão / aí / pô / tu pensa legal/pensa

assim / um dia legal/tira um dia prá tu

pens ar / que nada / isso não é vida prá mim

não / pô / eu sou uma pessoa cheia de i­

déia na cabeça / moro / eu posso muito bem

chegar / arrumar um serviço numa boa /

tu vai corre atrás / aí aquele pensamento

teu dá tudo certo / tu começa a trabalhar/

começa fraquinho assim / que tu vai subir

na vida / tu pega uma caixinha de engraxa­

te / aí / po / vai trabalhando / trabalhan

do / aí tu tá sem maldade na cabeça nenhu­

ma / aí tu po sai u daque le es tado seu / que

voce tava / morô / aí a pessoa olha assim/

tu ta sem maldade nenhuma naquele momento/

ta naquele pensamento / pô / que nada / vou

trabalhar pra mim vencer na vida / a pes­

soa olha assim prá você sentindo as sustada/

aí tu olha aquilo / você pô / no tempo que

eu era ladrão ela não fazia isso comigo /

passava na moral/sentava perto de mim /

Page 161: o AVESSO DA LOGICA:

BRUNO

MARCELO L.

315

tudo bem / obrigado / aí tu começa a tomar

remorso / vai tomar remorso / remorso / to

do dia tu escutando aquilo / aí tu chega

assim pro cara / vai uma graxinha aí dou­

tor / que graxa é o caralho / maior impre~

sao / entendeu? Pô I tu escuta mil pala­

vroes / aí tem hora que pô / você não a­

guenta não / você quer tirar a di feren;a os

cara são tudo fortão / nê / a gente não te

mo alimentação adequada / legal morô / que

nem pô muitos aí tem / aí pô / somo sempre

mais raquítico / mais ... Somo muleque so­

fredor cara / somo muleque sofredor legal/

eu principalmente / eu robei muito pô / ca

ra / aí mas tentando trabalhar / aí os pe~

soaI fica tudo assim / que nada / vai me

roubar / aí de vez em quando / eu pego mes

mo de tabuleta / e dou burduada / prá nego

pará com essas coisa / só isso / só isso só.

- Certo.

Dá raiva / caTa dá raiva a pampa / tem vez

que dá raiva assim I passa um dia clara /

passa uma noite em claro I já pensou se /

j á pensou se... Você engraxando um pé de

sapato assim /você com fome / pô doutor /

dá prá voce pagar um salgado? Assim / eu

tô com fome / prá mim dá não viu / cada gra

xa que a gente ganha dá pra comer um pão /

Page 162: o AVESSO DA LOGICA:

316

um café da manhã / mas a gente dorme /q~

do a gente acorda / aí começa a dar sono de

novo / aí a gente dorme tudo de novo /

gente engraxando assim / aí causa / aí

doutor / aí tem cada cara legal/que

a

o

come um salgado / aí se alimenta legal / p~

ga um suco / paga um gua.raná / mas tem mu!.

tos assim / que não paga / dá só dinheiro

prá você ir embora / se você tá sem dinhei

ro e quer comer / aí Doutor / dá prá voce

pagar um salgado alí prá mim? Pro senhor

pagar um refrigerante? Ah / que nada /vai

embora / tem uns que quando tá lelé da cu­

ca / quando bebe muita cachaça / bebe cer­

veja e mistura tudo / aí começa a xingar a

gente / fala uma porção de coisa pra gente

assim / fica até chateado assim / fica até

triste sabe pô / no meu tempo de roubar /

ninguém fazia isso comigo / andava no mo­

ral / podia comprar um negócio legal/sem

pedir nada a ninguém / mas é assim pô / se

for prá roubar de novo / começar a roubar

de novo / vou entrar pra vida do crime / eu

não gosto de entrar pra vida do crime / que

já muitos já me falaram / muitos me deram

conselho / mas o conselho se fosse bão ven

dia / não se dava / mas muita gente já fa-

laram isso prá mim / mas eu não acredito

Page 163: o AVESSO DA LOGICA:

MARCELO L.

JORGE A.

JORGE A.

nos conselho deles / aí eu chego assim.

- (Que conselho que te deram?).

317

- Conselho que me deram / é prâ nao escutar

conversa fiada assim / dos outro assim/~

cê tem que entrar prá vida do crime / rou­

bar mesmo.

- Eu tô assim com você né / aí por voce ser

meu amigo / eu sou ladrão e voce não é / aí

voce e um muleque trabalhador / aí eu ven­

do seu mal/eu te dou umas idéia / aí eu

falo assim / aí menor / se liga nessa não/

que trabalho não dá futuro / trabalho nao

dá futuro não / aí o negócio é chegar e me

tê-lhe o ferro mesmo na cara / e fica por

isso mesmo / que tu se dá bem na parada en

tendeu / esses são seus amigos / mas aml­

gos somos nós / tudo unido na parada J pe­

ga pra um / pega prâ todos.

- (Eu acho que agora / vocês mudaram um pou­

co de assunto / a gente tava falando de as

salto e agora vocês tão falando de precon­

ceito.).

- Preconcei to / jus tamen te / aqui / aqui J pô

eu era um muleque de rua legal I e roubari

e roubar / eu vi que nao era vida / mudei

né legal/aí o Seu Roberto / aí antigão

naquela pastoral/aí Seu Roberto me deu

Page 164: o AVESSO DA LOGICA:

JORGE A.

318

uma grande oportunidade I querIa dar opor-

tunidade pro meu primo Demétrio morô I vou

chegar né I te dar um ... Tá trabalhando

-aqui com a gente fazendo curso pra educa-

dor I fica recebendo seu salário todo mes

sem treta nenhuma I ar queria dar 'essa 0-

portunidade pro meu colp.ga I mas meu prImo

não qUIS I meu primo I meu colega I tanto

faz / tá - I na mesma nos somo amIgo a pampa ...

colega I - / tenho ir emboral aI meu nao que

que Ir embora I tenho que Ir embora prá São

Paulo aue tem uma mulher aqui / mulher em

são Paulo / eu vou pra São Paulo ficar mo­

rando lá com ela e aí eu sendo amigo dele

aô o Seu Roberto tá a fim de pegar essa o­

portunidade? A gente tenta né? Não vou

-ficar perdendo oportunidade so eu engraxa~

do J não dá prá mim chegar junto legal Ide

vez em quando meu pai I meus irmão I aí eu

fiquei nessa oportunidade I tô até lá ho­

je / lá vai fazer uns dois meses.

(Como é essa situação de sofrer esse pre-

conceito?).

Pô mui to ruim tia I é chato J magoado a p~

pa / morô / tu deita prá descansar assim

hem no nosso lugar I escutando todo dia es

sa humilhação / humilhação / quando a se-

nhora deitar de noite teu corpo fica pesa-

Page 165: o AVESSO DA LOGICA:

JORGE A.

JORGE A.

319

do I cansado a pampa I mas s6 ... N~o tra­

balhou nem nada I mas se cansa I mas aquilo

vai dando barulho na senhora I e vai fican

do até pesado I aí é chato a pampa I nos

somo é cheio de revolta I ô cara I qualquer

parada I o lance I se estoura à toa.

- (E só menino de rua que sofre preconceito?).

Prá mim s6 I morô / que eu nunca tive urna

oportunidade I minha m~e nunca teve urna 0-

portunidade de chegar I aí n~o I meu filho/

fica aí em casa descansando não precisa tra-

balhar mais não / por isso aue eu so acho

que sao o menor.

(Porque se vocês na rua sofrem preconceito /

é tão barra pesada I ent~o porque vocês t~o

na rua?).

- Sabe porque? Eu? O meu motivo? -De eu nao

ti em casa? E porque minha m~e I po / n~o

- legal comigo I I minha até e certo mae que ..-

legal / sendo sendo e comIgo mas que eu o

do meio / sabe I ela acha - tenho que eu nao

direito de falar nada J

i rm~o mais ve o 50 os

lho / entendeu / aí eu fico revoltado com

aquilo I ent~o por causa de que os Irmao

mais velho I mas eu também I ajudo dentro

de casa I eu também tenho o direito de fa-

lar / mandei assim prá ela I ela n~o / cai

Page 166: o AVESSO DA LOGICA:

320

tal / ~

sa e voce tem que escutar seu lrmao

mais velho / «'

eu / tudo certo / tá tudo al

certo / ...

/ minha fez festa al moro mae uma

lá / ela gosta de beber / ,

fez a pampa al

uma festa lá aí meu irmão encheu os córneos/

morô / aí queria bater na minha mãe / que-

ria bater na minha mãe / eu me estourei com

/ - tem vinte e quatro meu lrmao meu irmao a-

/ ... bordoada lá com ele lá /

, nos sal na al

foi legal / ...

outro dia / fa-nao al no eu

lei / ...

/ - tá vendo ... / - fi-al mae nao al so os

lhos mais velho que fala / né? O memr não

pode falar nao / sendo que foi o menor que

defendeu a senhora não foi? O filho mais

ve lho não / aí ficou com a cara lá no chão/

aí daí. ..

Texto recolhido em 27/04/89

Dramatização improvisada pelos alunos. Os personagens fo­

ram criados na hora. ,Seus nomes não importaram. O tema é

assalto. Logo após, seguiu-se um debate sobre a situação

ensaiada.

Identificação dos personagens criados:

A.S. - Assistentes sociais

G - Guarda

M - Meninas

v - Vítima

Page 167: o AVESSO DA LOGICA:

321

A.S. - Quem é essas duas meninas que tá aí?

G. - Ela tava na rua roubando / roubando um toca-fita de

carro.

(Risos).

A.S. - Menina porque você faz isso?

M.I - Porque eu tava precisando.

A.S. - Mas por causa de que voce nao pediu?

M.I - Porque eles não dão.

A.S. - Então você vai ter que ficar presa.

M.I - Não tem probrema.

A.S. - Mas você vai apanhar muito ..

M.I Não vou não porque ninguém é minha mae.

A.S. - Não / mas aqui é o Juizado de Menor.

G. Ela tava fazendo besteira na rua aí.

A.S. - E agora?

M.L - Agora é ela moça.

A.S. - E você garota o quê que tava fazendo? Junto com e­

la roubando / você não tem mãe não?

M.Z - Já.

A.S. Ai meu Deus do céu / conta alguma coisa aí gente /

qual o teu nome?

M.I - Ana Cristina da Silva.

M.Z - Andréia.

Page 168: o AVESSO DA LOGICA:

322

A.S. - O nome do teu pai?

M.l Não tenho pai.

A.S. - E tua mae.

M.l Também nao tem.

M.2 Também nao tem.

A. S. - A mae e o nai morreram?

M.2 - Morreram.

M.l - Não.

A.S2 - Morreram?

A. S. Como .. - falou morreu? - e Que voce que a tua mae

M.l Ah porque eu sou de colégio interno.

A.S2 - Não sabia não.

A.Sl - Mas todas pessoa tem Que ter mae.

A.S2 - E isso mesmo.

A.Sl - Você tem que ficar presa / tem que cortar o cabelo

todo / vão tê que tirar essa roupa J não vão poder

mais ficar com essa roupa.

A.S2 - Ai meu Deus do céu é isso mesmo.

M.I - Mas se rouba eu vou querer outra.

A.Sl - Problema.

(Confusão).

A.Sl - Mas aqui é o Jlliz::!do de Menor I ('oara o guarda) e

voce o quê que faz?

Page 169: o AVESSO DA LOGICA:

323

G. - E melhor ela ir presa mesmo porque ela ti roubando

muito / ela tâ na rua.

M.l - Mas nunca r01lbei na tua casa.

G. - E melhor p.la ir pres~ mesmo.

A.S2 - Vocês vão ficar na prisão hem.

M.l - Mas a gente nâo roubamo.

A.Sl - Roubaram sim.

M.l - Vocês tem certeza?

A.Sl/2 Tem absoluta.

A.Sl - Que os guarda falaram.

A.S2 - E o trabalho dele.

M.l Eles não sabe mentir.

(Confusão).

V. - Roubaram meu relógio / roubaram meu relógio.

(Confusão - A.S., bate na mesa).

M.l - Tem certeza?

V. Absoluta aqui olha a marca da tua unha aqui / conde

na a dez anos.

(Risos).

A.Sl - O quê que ela fez guarda?

G. - Roubaram uma carteira.

A.S2 - Leva as duas.

Page 170: o AVESSO DA LOGICA:

Debate sobre a dramatização.

- (Quando chega lá no Juizado de Menores pode ficar

zorra assim?).

- Pode não.

324

essa

- Quando que eu fui nao tinha nada disso / foi eu e uma ga

rota que tava careca J a gente chegamo lá / tudo em si­

lêncio / poxa / me deu até vontade de comer por / causa

Que auando eu cheguei lá / a tia tava com o maior peda­

çao de coxona na boca.

Aí a primeira coisa que a mulé perguntou foi como é meu

nome.

Mas no dia aue meu tio foi preso teve zorra.

- Tinha nada.

- Teve / teve você nao tava lá.

- Tem que respeitar o superior nao pone ter zorra nao.

- O quê que acontece quando tem zorra?

- Vai pro cubículo.

Ou então ... Pega a palmatória e pum ... Vai logo assim.

- (Então por que elas não ganharam castigo?).

- Mas elas vão ganhar.

- (Deixaram elas fazer toda aquela zorra / aqui?).

- Deixamo mas depois elas vão pagar tudo que elas fizeram.

- (Ah depois? Por que depois?).

- Na frente dos outro é muita vergonha prá elas~

Page 171: o AVESSO DA LOGICA:

325

- (Na frente dos outros nao pode.).

- E vergonha prá elas.

- Sô depois.

Dentro da prisão sim / ~

a1 ...

(Os cara batem / dão porrada / assim na frente dos ou­

tros?).

Porrada assim também nao dão nao / na frente dos outros

não / mas chega no quarto / aí é palmatôria porrada em

dobro.

- Mas quando chega em colégio interno levei surra / sô le-

vei tapa.

- Fala assim abre a mão.

- (Ela nunca levou surra J então voces tão mentindo.).

- Ela nao pegou o meu tempo J conforme o Juizado de Menor/

era prancheta de ferro / assim não tinha essa colhé de

chá de palmatôria então.

(Como é que ela nunca levou?).

Ela é menina / eu sou menino / olha diferença da gente /

a gente apanha.

- Sabe quanto um menor desse daqui leva de palmatôria/umas

vinte / eu cheguei lá levei foi trinta.

- (Você já levou palmatôria?).

- Ele nunca foi preso.

- (E você Cristiane?).

Page 172: o AVESSO DA LOGICA:

326

- Eu levei.

- (Ah então quer dizer que ela é boazinha.).

- E porque ela era puxa saco das professoras lá dentro.

- Sabe porque ela nio apanhou? Porque ela tinha namorado

lá dentro.

- Eu nunca namorei na minha vida.

(Risos - ao fundo: Tinha namorado!).

- Ela namorava o delegado lá.

- Nunca tive namorado.

- Sabe porque que eu fui emhora J porque as garota lá era

bagunceira / eu também era / mas só que eu dei uma de sa~

tinha / quando as tia ia falar comigo eu ficava igual a

uma santa / mas eu nio fazia bagunça nenhuma / eu ia em-

bora.

- Cristiane 0#

Eu apanhava pra caramba.

- (Por que?).

- Claro eu fazia bagunça / eu ficava magrinha com febre eu

ficava tudo doente J tudo / tudo doente lá / a gente fi­

cava tudo doente lá / ia tomar injeção sabe / aquelas i~

jeção de cavalo na gente / aí a gente saía voado porque

a gente não ía querer tomar nao.

(Que bagunça que você fazia prá você apanhar/ hem?).

Não sei / como foi lã né / apagaram a luz / aí gritou um

homem lá de baixo I todo mundo desceu / aí depois volta­

mo tudo pra dormir J antes de dormir a gente apanha.

Page 173: o AVESSO DA LOGICA:

327

Eu acho que é mentira porque meu primo nao apanhava.

- E verdade tia.

- Juro minha mãe mortinha embaixo da terra.

- Quando eu tava internada no colégio / quando eu era pe­

quena / ninguém apanhava } eu só apanhei quando eu era

pequena / eu apanhei porque a tia ...

Mas no teu colégio não apanha não / no teu colégio não a

panha não / mas nos outros apanha.

- Apanha que não faz bagunça.

Não é isso não.

E sim / é sim.

- (Você fazia muita bagunça Cristiane? Conta aí essa ver-

dade?).

- Então como é que você apanhava toda hora?

- Porque as garota brigava comigo.

- Tu roubava comida?

- Eu nao.

- Depois do almoço a tia botava todo mundo pra deitar la

no negócio / sabe / aí a tia falou aSS1m / quem mijar na

cama / quando eu pequena / quem mijar na cama vai levar uma

/ 4' peguei / (não mij ou) / - pior / ti-surra a1 eu nao e eu

rei minha calcinha J ...

tava de calcinha blu-a e que eu e

sinha / .,

eu tirei minha calcinha fiz xixi aonde a1 e que

eu tava deitada / aí botei minha calcinha e falei / olha

colega deita aqui colega ... A menina foi e deitou /

Page 174: o AVESSO DA LOGICA:

328

a tia deu uma surra nela.

Texto recolhido em 03/05}89

Neste texto, os alunos prepararam perguntas para os perso-

nagens e eles mesmos responderam. Foram seus personagens:

O PolIcia, O Assaltante, A VItima, O Patrão.

PERGUNTA - Eu vou fazer uma entrevista aqu1 com o polIcia

e queria saher do polIcia / porque que na hora

que tem um assalto no Banco / porque eles nao

chegam na hora?

A polIcia nao chega na hora porque / que quando

eles liga nao dá tempo de eu chegar lá / em tem

-po pra combater o assalto.

- Porque na hora que eles legal/ àí o ladrão já fo

ram embora / aí não dá tempo de chegar lá na ho

ra certa que eles querem.

PERGUNTA - Por que que voces polícia dão geral em engraxa-

te?

- Por que a gente dá geral nos engraxates? Porque

eles sao suspeito né? Noventa por cento deles

os / faz aviãozinho / outra cheira / outros quan-

do tá assim em turminha jogando baralho j bura­

co essas parada / muitos tem as parada ali / ci

garro / agora ~ gente não faz isso quando eles

tão jogando baralho / a gente não pede dinheiro

Page 175: o AVESSO DA LOGICA:

329

não nem quer levar o baralho deles entendeu?

- A gente gosta de dar geral nos engraxate porque

vários deles cheiram cola / na caixa dos engra-

xate a gente gosta de dar geral.

PERGUNTA - Por que que os polícias fazem cobertura na hora

do assalto?

- Olha / por que a gente dá cobertura aos bandido?

Porque eles são da gente / na hora que eles tão

assaltando são da gente / que no outro dia lá te

ve um assaI to na Treze de Março / Maio / não sei/

a gente saimo seguindo eles / seguindo J seguin­

do / foi parar em Copacabana / eles trocaram de

carro e deixaram o dinheiro com a gente e ou-

tros saltaram / jogaram o dinheiro na moto / ta

va um cara e uma garota esperando eles jogaram

o dinheiro na moto foram ewbora com a metade /

deixaram a metade prá gente / o meu colega poli

cial deu a volta com o carro e pegou todo di­

nheiro que tinha dentro e aí eles foram embora

e ninguém não recuperou o dinheiro / pegamo ~

so

-o ferido que tava baleado e ele nao pode contar

nada / porque se ele contar ele vai perder a vi

da e a gente também não vai forçar J só o juiz

se ele quiser forçar / se não quiser fica por

isso mesmo e o dinheiro a gente divide / a qua~

tidade de policial que tem.

- ~ por isso que o polícia é corrupto.

Page 176: o AVESSO DA LOGICA:

330

Seu / eu sou / se eu tivesse trabalhando na po­

lí~ia estadual eu faria meu trabalho conforme a

lei manda / pegava assaltante prendia e tudo

bem ... Agora se ê igual a mim esses boina bran

ca ! igual a gente aí / já fica diferente / por

que o salário da gente não dá entendeu / aí a

gente tem que correr atrás pra ganhar mais / por

que o meu trabalho na minha opinião € tirar prá

mim / o resto é que dança.

Eu sou pOlícia nê e o meu trahalho é só

bandido levar prâ cadeia.

PERGUNTA - Por que vo~ê dá geral nos engraxates?

- Porque eu gosto.

p6 os engraxates nao faz nada prá voce.

pegar

- Não faz nada né / ruas / só que tem uns que chei

ra cola.

Só porque eles cheira cola voce dã geral na cai

xa de le ..•

- Nem todos n€.

- Nem todos / e por causa de que em vez voces dã

geral nos engraxates não vai dar geral naqueles

que tão lá em cima?

Claro que não né / vou morrer de bobeira?

- Tã vendo I tá com medo de morrer.

PERGUNTA - Por que que ele pega o baralho da gente e tem

Page 177: o AVESSO DA LOGICA:

331

que dar dinheiro prâ devolver o baralho.

- Por que vocês pede um dinheiro a gente morou /

e depois vocês 1 prâ liberar o baralho?

- Não tô fazendo essa pergunta prâ você você tam­

bém é polícia.

- Por causa de quê?

- ~ porque você pede um dinheiro prâ liberar o ba

ralho se sua ordem é levar todos eles preso.

- E você leva sô de sacanagem.

Às vez é / às vez a gente tá tentando descolar/

porque tem muitos que a gente chega e vai pegan

do vai logo encostando na parede / encosta em

poste / aí é esse então •..

- Se não tiver o dinheiro leva porrada ...

- Se nao tiver o dinheiro leva porrada e tudobemJ

aí fica prâ próxima.

Sô por causa de que o cara nao tem dinheiro prâ

dar a vocês.

- ~ porque noventa por cento cheira cola / fuma

maconha e faz aviãozinho e eu tô fazendo meu tra

balho certo? O que eu tenho a dizer se eu tô

trabalhando / eu tô tirando o meu / igual a vo­

cês certo?

- Igual a gente.

~ tô tirando o meu igual a voces / o mundo é do

Page 178: o AVESSO DA LOGICA:

332

mais esperto é o que eu tenho prá dizer.

- Por que é dos mais espertos cara?

- Por que é dos mais espertos? Porque se nao fos

se o bobo o esperto não sabia e não vivia certo ...

Quer mais alguma resposta vai perguntar pro de­

legado.

- Pro delegado?

Manda o delegado vir aqui.

PERGUNTA - Por que quando tem assalto ele finge que nao ti

vendo e não dá uma geral no cara forte que ti

armado?

- Não J geral a gente da certo J porque o que ti

forte e ta armado J não é melhor / se ele tem ar

ma pra tocar tiro I a gente também / então nao

é isso / que ele ta com uma arma a gente vai ter

medo dele J e não porque ele é forte / se ele

sabe lutar a gente tem nossa academia também /

que a gente estuda pra lutar / se ele é forte

nao adianta essa fortaleza dele / todo homem tem

um ponto fraco / e sobre o assalto que a senho­

ra falou / a gente nunca assaltou / a gente nao

deixa ele passar / a gente vai que além.

- Encara mesmo o assaltante armado?

- Encara mesmo o assaltante J porque mesmo a gen-

-te pegando ele a gente não leva ele direto pra

delegacia / s6 leva quando a deiegacia ta saben

Page 179: o AVESSO DA LOGICA:

333

do quando nao tá a gente nao leva ele J a gente

leva prá esquina / bate um papo / eles solta um

dinheiro na mão da gente tudo bem / sai fora /

se nao quiser vai pá / porrada / e vai pa dele-

gacia.

PERGUNTA - A pergunta pros assaltantes / por que eles gos­

taI de assaltar e por que a vítima / se a pes­

soa falar ainda dá tiro e ainda mata?

- Porque ele tâ nervoso.

- Porque às vezes a pessoa pode mandar uma respo~

ta que não é agradâvel para o bandido / eles po

dem não gostar da resposta e matar a vítima.

- De repente essa pessoa falando e conversando com

o bandido pode dar alarme pra alguma polícia /

algum policial que tâ passando / civil/na ho­

ra e ele entrar em cana de bobeira J er-tão a ví

tima tem que ficar calado e fazer o que ele tem

que mandar fazer.

PERGUNTA - Quantos assalto voce fez em sua carreira de as-

salto?

- Ah se for prâ contar J nao tã no gibi.

Fez dez / vinte / quinze.

- E pouco.

Eu sou policial.

PERGUNTA - Por que que a policia quando aponta a arma -pra

vocês / voces não pára de assaltar?

Page 180: o AVESSO DA LOGICA:

334

- Ah porque tem que assaltar mesmo.

- Porque às vezes a gente também pode tá armado do

mesmo jeito que os policiais J e esperando uma

reaçio deles I se eles chegar em cima da gente/

a gente chega em cima deles também.

- Se um policial apontar uma arma prá mim / eu co

mo ladrão I se eu for ladrão / eu como ladrão te

nho a minha disposição certo? Então se o cara

fosse ladrão ele não pode ter medo de nada ele

tem que abrir fogo e não parar ferir o policial

antes que o policial ferir ele.

PERGUNTA - Por que que quando eles pegam polícia então e­

les mata / vocês matam?

- Quando os polícia mata os assaltante / os assaI

tante morre / morre.

- Porque quando eles pegam os assaltante eles faz

a mesma coisa com os assaltante / tem oportuni­

dade de pegar um deles / os assaltante faz ames

ma coisa / que se ele pegasse a gente / ia fazer

com a gente.

Ah / antes de matar / gosto de torturar ele pr~

meiro / gosto de arrancar a orelha fora / dar

uma esnetada de faca nele /arrancar o nariz /

a boca / prá ele nao fazer mais nada / prá gen­

te como ladrão.

Mas você queria que acontecesse isso com voce ma

Page 181: o AVESSO DA LOGICA:

335

landro1

Não I mas eu sou ladrão não vou dar mole a pOlícial

dá mais mole do que o ladrão I porque o ladrão

tá sempre no sapatinho escondidinho I tu nao sa

be p6 I o ladrão tá passando J tu nao sabe quem

é o ladra0 I tu que é polícia / a gente conhece

de qualquer jeito I de costa I de frente / de

lado / tá fardado certo / e tu polícia I o la-

drão pode dar um lance / você I mais rápido que

tu / dá um lance no bandido J a parada é essa I

valeu I brigado.

PERGUNTA - Fica nervoso na h.ora do assalto?

- Fica.

Ãs vezes fica porque a vítima não tá J nao quer

fazer o que o bandido tá mandando fazey I nao

quer atender o pedido que eles tavam querendof~

zer aí fica nervoso.

- Só isso?

- Só.

PERGUNTA - Você fica nervoso na hora do assalto?

- Se eu vê / se a área é sujeira / eu fico I mas

se for uma área limpeza I eu nao vou me desespe

rar / prá quê? Prá eu ficar desesperado I é rril

vezes pior prá mim J certo?

PERGUNTA - Você assaltaria mesmo que a pessoa tivesse arma

da a outra pessoa que vai assaltar tivesse arma

Page 182: o AVESSO DA LOGICA:

336

da7

- Assaltaria.

Assaltaria porque eu tamb€m estaria armado e na

turalmente a gente dá sempre uma geral nele n€/

se eu sentisse alguma coisa / se eu sentisse aI

guma reaçao de arma J pegava a arma dele / se

não a unica solução era queimar logo ele.

- Eu como sou ladrão e ladrão cabeça / eu saco que

se eu for assaltar um cara / eu saco logo ele

se ele tiver com arma / se ele tiver com arma eu

boto o ferro na cara dele / mando ele botar a

mão prá cima / e ji vou tirando logo o rev6lver

da cintura dele / e nisso eu já vou dando logo

umas bula / prá ficar tudo certo / ele treme nas

base e não fazer nada / depois a gente vai le­

vando o ferro dele I s6 isso.

PERGUNTA - Pergunta pra vítima J o que ela sentiu / o que

você sentiu quando foi assaltada?

Eu fiquei com medo na hora que ele tava com o ca

no assim apontado pra mim nê / aquele carrão /

aí tremi nê / aí s6 foi falando nê / passo tudo

nê / passo dinheiro passei re16gio / aí eu pas-. ~

se1 ne.

- Eu quando eu fui assaltado / aí ele colocou o

rev6lver na minha cabeça / eu mandei levar tudo

menos a minha vida.

Page 183: o AVESSO DA LOGICA:

337

PERGUNTA - O que fez depois que foi assaltado?

- Fiquei nervoso na hora.

PERGUNTA - Depois você seguiu caminho ou foi na polícia?

- Eu nao sei se eu ia na polícia / não sei se eu

ia prá casa / mas aí eu fiquei com medo de ir ã

polícia / ele podia tá escondido me vigiando né /

e me esperar na esquina e tombar.

PERGUNTA - Mas você não foi na polícia não?

- Eu / eu não.

- Eu também nao ia na polícia / às vezes eu ia na

polícia / ele podia ficar me escoltando prá de­

pois quando sair de lá / ele me pegar na hora

que eu ia prá casa / aí eu não fui também fui ..

direto pra casa.

PERGUNTA - Tô perguntand.o I por que que não dá awaento pro

pessoal/na hora de dar aumento tá sempre le­

vando um pouquinho / e por que que na hora de

pagar nao paga o serviço?

- Por causa de que que nao dá aumento?

- Também tô puto prá falar esse neg6cio ai.

- (Repete a pergunta).

- E porque eu não dó aumento na hora / porque nao

tá no dia certo / eu s6 dó quando sai o índice/

quando sai o novo salário / quando sai o salá­

rio certo / aí eu dou naquela data que saiu /

Page 184: o AVESSO DA LOGICA:

338

eu não dou antes porque ...

- Prá não tirar do seu nolso nê?

- Muitas empregadas falta.

PERGUNTA - Patrão por que que a gente tá trabalhando o Sr.

não larga do pé da gente?

Porque tem muitos empregados que sao muito ir­

responsável.

PERGUNTA - Como é que é ficar sentado na cadeira o dia to­

do sem fazer nada?

Não / ficar sentado na cadeira é bom e ruim sa­

be / ficar sentado na cadeira / é só cuidar dos

papéis / porque se não cuidar já sabe / né /vai

pro beléleu.

PERGUNTA - Por que o Sr. gosta de ser assaltado?

- Eu não gosto de ser assaltado / eu gosto de as­

saltar.

PERGUNTA - Por que o Sr. cria uma briga quando um engraxa­

te cobra Cz$l,OO prâ engraxar seu sapato?

- Não eu não arrumo briga / eu nunca arrumei / por

que eu acho que o engraxate / ele tá trabalhan

do / e ele tã cobrando o que ele acha que ele

merece sabe / não o que eu quero pagar J se eu

tô a fim de engraxar o sapato J tudo bem sabe /

se eu não tô J não vou engraxar / porque um ba­

rão / dois barão / nao é dinheiro prá dono de

Page 185: o AVESSO DA LOGICA:

339

firma j e que tem duas três firma j um barão /

aposto que não & dinheiro pri engraxar um sapa­

to j um barão hoje em dia / em dólar ...

- Quando você for engraxar um sapato comigo eu vou

te cobrar cinco conto.

ué pode cobrar / se eu tiver eu dou dez.

- Eles brigam por causa de um cruzado?

- Brigam mesmo.

- Nem todos / é todos / é todos?

- Feriado lã no Lgo. do Machado j fiz uma graxa lã

pro português lã / aí quanto é? mil cruz.

Ah / não pago I não sei o que / aí eu fui lã /

chamei o guarda / oh só que merda que deu / eu

chamei o guarda prâ ele j aí o guarda veio e fa

lou obrigação tua é perguntar antes de engraxar/

eu vou no mercado antes de eu comprar eu pergun

to o ~reço / não levo aí / você tem que pagar

o preço que ele cobrar / não que você quer.

- Mas é todos.

- Tã obrigando? Não tô obrigando.

- O cara é cheio de grana mesmo?

~ português.

- Ah / português e filho da puta/tem que pegar bra­

sileiro.

Mas é todos? Mas é todos?

Page 186: o AVESSO DA LOGICA:

340

- Tem um patrão... Igual a ele.

- Mas ~ todos, mas ~ todos?

- Nem todos / alguns.

- Então / eu sou um desses que não sou pão duro /

derrepententemente você tâ falando isso aqui na

nossa presença / mas fora da nossa presença /

ha ...

- Mas não acontece nada disso.

Textos recolhidos em 24/05/89

História do Edivandro.

A policia pega os menor na rua / se tiver roubando J ele

vai / se tiver roubando / mata / às vez os menor tamo de

bobeira / na rua / assim / igual a gente / às vez a gente

guarda nossa caixa de engraxate né / ai aonde que a gente

guardamo / vamos supor J num botequim J ai fecha J a gente

fica nê / andando à toa n~ J até o outro dia apanhar a cai

xa de engraxate / aí eles vão / perguntam o que a gente tá

fazendo / ah / nós tamo andando que a nossa caixa tá presa/

às vez / ele leva a gente preso pra Funabem / sem a gente

fazer nada / então ai eu acho uma viol~ncia / chega lá e­

les bate na gente / ai depois eles chega e fala / então va

mo lá pro Juiz / se vocês disser pro Juiz que eu bati em

voces / eu mato voc~s J isso eu acho uma viol~ncia / só cer

to?

Page 187: o AVESSO DA LOGICA:

341

História do Jorge A.

Eu acho que nenhum cidadâo brasileiro / como nós deve ser

preso perambulante / n~ rua / entendeu? A não ser se ti­

ver roubando / que desde o momento / se a pessoa tã andan­

do na rua sem material / e por causa de que ele tã necessi

tado / né / de andar / tã preocupado com alguma coisa / ou

tã esperando alguma coisa abrir / prã apanhar aquele obje­

to que ele precisa / prã que é seu material de trabalho /

aí eles não pode levar ninguém preso / sem tã roubando /sem

roubar nada / vocês são adulto j a gente somo tudo menor /

moro 1 eles acham que menor são assim 1 mais bagunceiro /

mais pivetado / entendeu / mais esperto 1 aí / eles acham

que o menor nao tem compromisso / só os adultos.

Textos recolhidos em 30105/89

Os textos seguintes foram obtidos em entrevistas

duais com as professoras.

Entrevista com a Professora A.

indivi-

(Qual é a tua posição com relação a tão falada vio­

lência na escola?).

Violência cOleça lá fora 1 eu vejo como um todo /

não e um problema específico dos meninos ou dessa escola /

é um problema geral / é um problema que D país ti passando

e as pessoas se tornam violentas / até sem querer / por cau

sa da situação toda que tã. acontecendo / então vai gerando

um processo dentro das pessoas de angústia / de medo 1 de

Page 188: o AVESSO DA LOGICA:

342

terror e um quer comer o outro I mesmo um quer ser melhor

que o outro pri poder sohreviver a essa loucura que ti .. ai

fora I então eles trazem a coisa lá de dentro I agora tem

também aquela violencia específica J de guerra de menino I

guer-a de quadrilha mas eu acho que isso é uma I é como se

fosse uma conseqüência.

(pra você da onde vem a violência ela vem de den-

tro da escola?).

Não eu acho que ela vem de fora J vem da situação

que ti acontecendo hoje em dia I dos problemas que aconte­

cem I é um problema social J ela não brota dentro da esco­

la I pode ser que exista J existe I ti I tipos de violên-

cia dentro da escola I como aquele professor que rejeita o

aluno I que diz ah esse aluno é burro I não posso ficar com

ele na sala de aula I ah isso é uma forma de violência lmas

eu estou me referindo a essa violência de modo geral I es-

sa violência que tá pairando no ar I é I agora eu acho que

existe também uma violência dentro da escola por parte de

professor com professor I diretor com professor I profes­

sor com aluno I aluno com aluno I mas aí é uma coisa mais

específica I talvez s~ja assim um problema de relacionamen

to de engajamento no grupo I mas eu acho que o momento a­

tual I ajuda prá isso.

(Você já foi assaltada?).

. -Eu ]a.

(O que que você sentiu? O que que você sentiu?).

Eu no início I a primeira vez que eu fui assalta-

Page 189: o AVESSO DA LOGICA:

3.+3

da / eu nao fiz nada / eu deixei levar / não fiquei nervo­

sa / fiquei calma / depois me me deu uma tremedeira / é /

eu chorei assim / porque eu fiquei angustiada / nervosa /

depois passou / tudo bem / e recentemente eu quase que fui

assaltada com / mas esse foi com revólver / iam levar o

carro mas eu tive assim J uma presença de espírito / nao

sei se foi por causa de convivência que eu tenho aqui com

os meninos / talvez se não tivesse esse relacionamento com

eles aqui / porque a gente aprende dia a dia / eu teria me

posicionado de outra maneira / e quando o cara veio prâ ci

ma de mim / eu conversei com ele / com a linguagem que eu

conheço aqui da escola / entende / e o cara ficou parado

e ficou tipo assim / abobalhado / que ele não esperava

minha parte aquela reação / e eu sei que no fim / ele

da

-nao

levou o carro que nao teve como / eu levei um papo com ele/

fui saindo com a chave do carro / ele foi saindo / quer di-

dizer fico cal.ma / -zer eu nao vou te que eu que eu nao Sln

to / ah / - tenho medo / / lógico / que eu nao eu nao eu que

eu se eu pressentir que vai ter um assa.lto no ônibus / eu

caio fora / se eu presentir que eu tô andando na rua e vai

vindo na minha direç~o / eu vou saiT f~ra mas eu sinto me-

do.

(O que que voce sente com relação à pessoa que tâ

te assaltando? Depois / hoje mesmo voc~ pensando naquele

primeiro e nesse último que que você sente com relação a

eles? E como é que é conviver e como é que é conviver com

os meninos daqui sabendo que eles ..• ).

E muita necessidade / é roubar mesmo prâ ter di-

Page 190: o AVESSO DA LOGICA:

344

nheiro / prã fazer suas coisas / entende / porque a gente

conversa com e~es e se vê que nem sempre o menino rouba po~

que quer comprar maconha. com o dinheiro / que der do roubo

ou prã comprar roupa I nem sempre e pra isso até pouco te~

po conversanco com o Paulo / que você conhece e ele tava

conversando comigo / e disse / D. Angela é impossível/eu

tô trabalhando e o salârio não dã sabe / eu tava com vonta

de era de roubar um Banco mesmo / ganhar uma grana botar

na poupança / poder comprar uma casa / comer melhor então

o que ele quer da vida eu também quero.

(Mas qual é o teu sentido com relação ... ).

Eu não sei te explicar direito / eu sinto é I co-

mo voce fica revoltada com essa situação / porque você nao

é revoltada dele tã assaltando não / é revoltada com o país

com a situação que estã que tã levando ele a fazer isso /

porque não tem condições prã ele / ele nao tem como estu-

dar / ele não tem como trabalhar ou qu~ndo ele trabalha -e

ele I nao é bem remunerado / ele é mal tratado aí fora por

todo mundo / então fica difícil prâ ele / fica difícil prá

gente I que tem uma situação melhor / imagina prâ esses m~

ninas / então eu fic~ com pena / realmente / na hora a ge~

te fica com aquela raiva / aquele medo / mas depois voce

fica pensando e te dã assim aquele nó na garganta / puxa j

esses meninos o que eles têm o que eles esperam da vida né/

e as vezes voce se vê / como o que / que eu posso fazer /

eu vejo que eu não posso fazer nada entendeu? Quer dizer

não posso fazer nada em termos / eu ~osso é ser assim ami-

ga / conversar tentar auxiliar no que eu posso / no que eu

Page 191: o AVESSO DA LOGICA:

345

tiver condições I mas prá solucionar a situação eu me sin-

to um coeS j desculpe o termo j o que que eu posso fazer

numa situação tão difícil I e os meninos J a gente ve que

passam em ... ~ uma situação brabíssima e no fundo voce ve

que sao pessoas hoas I se você conversar com eles e voce

conhecer a realidade desses meninos / você passa a ver de

outro / de outra maneira e analisar de outra maneira.

Entrevista com a Professora C.

(Corno ~ que voce se posiciona com relação ao que

vem se chamando aqui na escola de violência, quer dizer, a

violência dentro da escola?).

Ih J olha isso ~ bem difícil/porque isso nao -e

urna realidade que eu viva dentro de turma não / sabia? E

eu não sei se por defesa minha né / eu ou / por eu estar nrui

to / corno é uma classe de alfabetização I eu tS muito mais

tempo com eles e o trabalho é muito mais de pique / eu não

tenho um trabalho de quadro e caderno / eu tenho um traba­

lho é de jornal revista I ~ escrita e montar páginas e pá­

ginas prá colocar em ~ural então não sei se por isso eu me

sinto enquanto profissional da escola / não percebo isso /

quer dizer / então quando tem que / é levantado isso / eu

não I na escola da violência I eu tento ajudar / eu tento

participar mas não é algo que eu viva dentro da minha sa­

la / normalmente quando surge uma situação de violência co

mo surgiu por exemplo J que os alunos queriam colocar ca­

deado no portão né / e que nós sabemos que um cadeado lá

Page 192: o AVESSO DA LOGICA:

346

no portão nao é solução prá terminar com a violência / eu

acho que isso é um paliativo mas eu acho também que deixar

de colocar é não mostrar prá eles que o cadeado nao funcio

na / é você deixar com que eles pensem sempre que o proble

ma da violência na escola se resume a um cadeado / então

eu fui a favor e até coloquei isso todas às vezes / que a

escola tinha que ter um cadeado sim / até prá discutir com

ele depois / que o cadeado não resolve / não resolve que o

cadeado é só um símbolo que não vai resolver nada e eu a-

cho que cada vez mais a gente tem que trabalhar com eles na

turma a violência / só que violência não é da escola / -e

do grupo aonde eles atuam né / então fica muito difícil eu

acho que o nosso trabalho é muito de formiga em relação /

é muito uma formiga em relação ao formigueiro que é a vio­

lência nesse município / sabe nesse estado.

(Você já foi assaltada?).

Já.

(E o que que voce sente pela pessoa que te assal-

tou?).

Odio.

(Odio I e como ê que voce tá se relacionando de-

pois de ouvir os relatos deles dentro da escola principal­

mente dentro da pesquisa? Onde eles falam de situações de

assalto / cerno ê que você ficou ali no meio?).

Nada I vou te dizer / eu não sei se você foi as­

saltada mas ser assaltada é uma agressão de momento / hoje

quando eu penso no assalto eu não sinto o mesmo ódio que

Page 193: o AVESSO DA LOGICA:

347

eu tive naquele momento J naquele dia / naquele momento /

entio eu olho pri eles e meio que nao acredito que aquilo

aconteça / é eles confiam e·m mim J eles gostam de mim.

(Pois é J mas eles chegaram a falar coisas bem ... ).

Mas eu consigo entender o lado deles no momerro em

que eu nio estou sendo assaltada J no momento em que eles

estio dizendo porque que eles assalta / eu entendo o que

que leva / leva o aluno a assaltar até agredir fisicamente /

eu entendo tudo isso / só que eu nao fui assaltada por um

deles J entendeu? Até no dia em que mexeram no meu carro

aqui na escola J o meu sentimento nio foi de raiva / nao

foi de ódio J meu sentimento foi de migoa / nio foi de rai

va pelo indivíduo J foi de mágoa J tanto que quando eu che­

guei na sala eu disse a eles que eu estava decepcionada . po.!.,

que eles / não sei nem se o meu discurso foi um discurso /

é / se era esse o caminho J mas era mui to o que eu tava sen

tindo / eu disse prá eles que eu nio sabia quem foi / que

eu não queria nem saber porque eu estava muito decepciona­

da mesmo com eles.

(Mas voc~ acha que foi coisa da tua turma?).

Nio / mas eu sei que / eu sei que nao foi da mi­

nha turma mas eu sei que eles conhecem quem fez e eu sabia

que o recado ia chegar.

Entrevista com a Professora L.

(E o que você acha / eles colocaram algumas ques-

Page 194: o AVESSO DA LOGICA:

348

tões na discussão que a gente teve com eles sobre a ques-

tão do preconceito de serem negros? Serem pobres / serem

analfabetos / como é que você vê essa coisa do preconceito?).

Olha alguns tem uns que colocam / mas tem outros

que até não / que eles diz assim / ah professora / no dia

de hoje o interessante é a gente GANHAR o dinheiro / que

esse negScio de saber ler e escrever / isso é bobagem / vê

o que que vocês tão ganhando / e estudou tanto / quer di­

zer / que não é prá todos que eles colocam esse preconcei-

to não.

(~as você como é que voce vê esse preconceito?).

O preconceito deles? Até certo ponto a gente ve

como uma coisa que já tá dentro da nossa geraçao / entendeu?

Ãs vezes você diz assim / ah porque eu não tenho preconce~

to / aí de repente eu prá mim eu assumo tudo / de repente

vem uma criança suj a / porca / com o nariz escorrendo / den

tro você às vezes nem quer / mas dentro de você / você já

tá botando os bofes prá fora / então o preconceito é ames

ma coisa / você diz ass im / eu não porque eu não tenro /TQaS

achn que já ti no sangue / sabe / esse negScio de precon-

ceito / já muita coisa tá no sangue / porque muito precon-

ceito - eles diz / - de um preconceito pra que que e ser po-

bre / - ... eles diz / ah ..

que as vezes porque voce ve que o neg~

cio ..

pobre / tem crio lo ...

cheio de dinheiro e ser porque al

e vive com umas louras aí e tudo mais / quer dizer / o ne­

gScio é ter dinheiro / não sei até que ponto surge o negS-

cio do preconceito.

Page 195: o AVESSO DA LOGICA:

349

(E com relaçio i viol~ncia na escola?).

Violência na escola tem que tomar uma direção I

nê?

(O que você acna?) .

Ah J eu nao sei nem te explicar porque / porque es

se negócio de violência tá ... Não sei como te explicar so

bre violência I porque eles sempre foram agressivos né leu

lembro quando eu vim prá cá I na minha turma tavam com vin

te e tantos alunos I aí a Valéria foi dar uma aula na mi­

nha sala I então me botaram até prá uma sala grande I en­

tão chegou a hora que ela tava dando aula I eles começaram ..• 1

surgiu urna briga tão grande que ela ficou até passando mal

e um quase matou o outro j porque guentou ele pela gargan­

ta I então / mas era assim urna briga de aluno prá aluno I

mas agora a violência não tá tanto assim / tá de aluno gran­

de prá pequenos.

CAí agora tá com o problema en1..ão na escola?).

Não sei se é de agora se ~o é I isso eu não sei

te explicar.

(E você acha que vem de onde essa violência?).

Prá mim essa violência já tá no sangue deles I ho

je em dia / acho que todo mundo é violento I voce tá numa

condução I você tá num ônibus / voce tâ num trem / de re­

pente um pisa no outro J um aborrece I sai urna violência I

então essa violência deles muitas já tão dentro e depois

que surgiu essa guerra aí no morro I taaóêm aí J que um fi

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350

ca com medo do outro tamhém nê J tudo é violência / eu a-

cho que a violência tá neles / tá na / no / dentro da esco

. la pe la mane ira de serem tratados / acho que a violência tá

em toda parte J nao sei te expricar esse problema da vio­

lência / como diz o ditado I violência gera violência / tá 4'

aI.

(Você já foi assaltada?).

Dentro da escola?

(Não / você já foi assaltada?).

Na minha vida? Já fui aqui perto da escola / me

tiraram o relógio J nem sei se foi aluno da escola / quan­

do tava lá na Passarela.

(E ar como é que voce se sentiu?).

Sabe que eu quando eu sou assaltada / engraçado /

eu me reajo / eu me coloco mais do lado do assaltante / eu

só virei assim pra ele e disse assim / faça bom uso do re­

lógio J e uma vez também já fui dentro do ônibus e levaram

meu gravador / aí tava até com umas músicas de igreja / di

go / antes de voce usar J você usa as músicas que tão

dentro / quer dizer qúe eu fico danada porque é o suor / e

tudo no momento J eu não consigo assim me reagir com tanta

revolta não / até certo ponto também / sei lá / se eu ti­

vesse também .•• Uns são por safadeza / outros já tem aqu~

le instinto mesmo de roubar / né? Tem uma garotinha que

aparece aqui na escola J que a menina acho que tem seis /

sete anos e rouba prâ caramba né J uma menina que vem às ve

Page 197: o AVESSO DA LOGICA:

35 I

zes com a Solange e outros é porque J é por necessidroe me~

mo J talvez se eu me encontra.sse do lado deles eu sei lá se

eu também faria o mesmo?

(E vem ca a gente aqui tem alunos que sao assal­

tantes. Como é que você vê isso / corno você lida com is­

so?).

Ah / eu lido até bem sabe / às vezes de repente

quando ele me dã um presente eu pergunto / você tirou de

quem? O Michel mesmo me deu uma caneta muito legal e ou­

tro dia um colega pegou me deu uma régua bonita / aí eu

disse / você tirou de de quem? Aí veio um aluno atrás e

disse assim / ele tirou da sala da Kátia / aí eu tive que

devolver.

(Se nao voce não devolveria / voce ace i taria o pr~

sente?).

E J ele nao sabendo / nao me disse de quem / eu per

gtmtei de quem é / a caneta tá comigo até hoje / eu ia sair

procurando da onde ele tirou a caneta? Não tinha nem como.

(E que relação que você vê entre esse problema /

essa questão do assalto coisa e tal ... E a questão da es­

cola?).

Eu acho que aqui dentro da escola todo mundo tem

ê I todo mundo ê igual que aqui não estamos / eu não tô a­

qui pra ver a qualificação / se um é trabalhador / se ou­

tro é assaltante / se ele ta aqui pra aprender dentro de

sala de aula / ~odos eles são iguais / apesar que a gente

coloca o erro / a gente conversa muito ~obre isso né / po~

Page 198: o AVESSO DA LOGICA:

352

que nao se deve assaltar I importante de se trabalhar / tu

do isso € colocado pri eles / mas eles leu vejo o tempo

de sala de aula como um todo / eu nao vou dizer I aquele é

assaltante j você não faz isso J você nao senta perto dele

porque ele rouha / não.

(A problemitica I a questão de se ter uma socieda

de com assaltante I de se gerar assaltante?).

Isso aí é o sistema ..

nao somos nos.

(Tem alguma relação com a escola? Você ve alguma

relação com a escola?).

Isso aí já ê o sistema I a nossa sociedade faz mui

to com que as pessoas sejam atê assaltante / porque esses

assim / esses pobre coitado sao muito visados porque eles

enfeiam nossa sociedade nê J porque os grandes assaltantes

eles não enfeiam a sociedade e tão aí nas alta roda~ junto

na roda de todo mundo / mas esses assim eles enfeiam reali

dade I a sociedade J então eles tem que ficar a aargem I

mas porque talvez a gente ainda possa mudar o comportamen­

to deles e depois de adulto I você "ai conseguir alguma coi

sa I ê pior I então eu acho I eu na minha opinião / eu a-

cho essa escola muito vilida e acho que deveria ser um sis-

tema I assim de liberdade I mas não uma liberdade.com. 1i-

bertinagem I uma liberdade que fizesse visar a eles a im­

portância e o porque / pri eles daqui pensar em 1Ielhor / é

isso meu objetivo que eu sempre trabalhei J traball~ava em

cadeia / trabalhei com uma pastoral penal I aí eu via mui-

to aquilo J e quando eu vi esse projeto me interessei a

Page 199: o AVESSO DA LOGICA:

353

vim prá cá / mas eu pensei que fosse mais fácil/se voce

entende/brincar com eles / ele querer em alguma coisa / mas

eles já tão muito muito enfatizado naquela realidade da vi

da deles.

ePrá você em que a leitura e escrita pode ajudar

na vida?).

Até certo ponto pode ajudar muito né I porque é o

que eu digo a eles / você vai tirar um documento e vai en­

caixar seu dedo / tão óom você saber que você sabe alguma

coisa se você I se urna pessoa quer enganar vocês / até mes

mo prá eles quando sao presos / ou qualquer coisa / eles

sabem muita co ••• Porque dentro da realidade da vida /sem

saber ler escrever / as vez eles ê mais inteligente mais vi

vo que a gente mesmo I e às vezes / eu quando eu vim práqui/

eu pensei que eu ia ensinar mas eu aprendo mais que ensi­

no / com essa idade toda eu aprendo muita coisa / porque e

les são muit:o espertos / mas agora dentro ch realidade mesmo/

a escrita é muito importante prâ eles / vão tirar uma car­

teira I eles vê uma manchete do jornal/que tá acontecen­

do no morro deles porque toda ... O Roger mesmo com esse

negócio lá do morro e1e sempre traz o jornal prâ mim / e

diz professora lê aí I olha o que tá acontecendo lá no mor

ro / então eu tenho que ler prá ele / então eu digo prâ e­

le / não é tão bacana você aprender a ler você mesmo / vai

pegar seu jornal e ler/tudo isso é importante prâ eles.

Page 200: o AVESSO DA LOGICA:

354

Entrevista com a Professora AP.

(Como é que você se posiciona com relação ã vio­

lência na escola?).

Eu acho que primeiro a gente tem que entender a

violência I eu acho que a violência na escola ela é decor-

rente da cidade I do país I do mundo I né I a violência I

- -ela eu acho que nao so a escola I mas como toda a cidade I

eu acho que todo mundo ta pensando como a gente vai conti­

nuar a viver com a violência né I a violência deles a gen­

te sabe de onde é que vem I mais ou menos a gente tem uma

idéia do porque eles se agridem I porque é que eles cantam

gritos de guerra das quadrilhas dos morros de onde eles

saem I porque é que a bola da escola tem o negócio da fa­

lange vermelha né I isso tudo vem da comunidade I vem de

onde a escola esta agora I a escola precisa trabalhar essa

violência junto com eles I ter a consciência da violência

que praticam.

(Como é que voce ve a violência na cabeça deles?

Sera que eles sentem o que é a violência da mesma forma que

-?) voce ..

Não eu acho que a violência pra eles é como I co­

mo se fosse pra alguns ta I tem alguns que já são I já tão

dentro dessa máquina geradora de violência e tudo mais I pra

alguns eu digo I os menores I aqueles que não estão assim I

tão envolvidos J eles vêem como se vissem um filme violentol

e aí eles assistindo aquilo porque não fazer I porque se a

Page 201: o AVESSO DA LOGICA:

355

moda é a violência J lá onde eles viyem a violência é a mo

da J a violência ê o que manda.

(Você j â conviveu de alguma forma com o internato?).

Assim em que termos.

(Na Funabem, LBA sei l~ internatos que tem por aí/

voce já teve alguma convivência na vida?].

~ J já J com internato já I mas não assim grandes.

(E como é que você sentiu es~a coisa do internato?).

Como assim? Se é válido?

(Sentiu o que poderia significar prá eles J eles

falaram muito sobre isso na tua turma.).

Sobre C. de Acolhida ou sobre Padre Severino J Fu

nabem? Eles tem ojeriza J eles tem medo / eles não gostam.

(Você já viu / você já sentiu alguma coisa que vo

ce possa até avaliar o que eles sintam? Eles chamavam o

tempo todo esses internatos de 'colégio.).

~ porque eles chamam de colégio interno / Marqui­

nhos aquele menino da turma da Valéria que desapareceu/prá

onde é que ele foi J ele foi prã um colégio interno J essa

ligação de chamar um internato essas instituições de colé­

gio / em comparaçao ao colégio I então prá eles isso aqui

nao é um colégio.

(Você acha que eles sentem essa esc01a de uma ou­

tra forma 7) •

Sentem de outra forma porque eles nao sentem a es

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356

cola como eles sentem os col~gios.

(Praque voc~ acha que pri eles a leitura e a es­

crita poderiam contribuir? pri eles mesmos.).

- -Eles sempre pensam pra eles / o que eles pensam e

que vao aprender a ler escrever pri não ser burro I a gen-

te trabalhar.

(Voc~ avalia que a leitura e escrita possam con-

tribuir efetivamente pri vida deles?).

Eu acho j acredito.

(De que forma?).

Eu acho que pri poder até / na coisa do trabalhol

até na coisa do viver sabendo mais das coisas I porque e-

les sentem gosto de chegar e me contarem que foram na bi­

blioteca I e chegaram lá I tia eu li um livro todinho de

ponta a ponta / amanhã eu vou lá outra vez I já ê um jeito

diferente I já dá um gosto diferente I voce sel li I a ge~

te I tudo que a gente v~ I a gente l~ I não sel e como -e

que seria se a gente não soubesse ler eu nao me imagino.

Entrevista com a Professora S.

(Voc~ ji foi assaltada?).

Eu confundo roubo com assalto.

(Tanto faz.).

Não / mas tem o roubo que voce j tiram da sua boI

sa e voc~ não vê I não tem uma história assim?

Page 203: o AVESSO DA LOGICA:

357

(S mas voc~ ji foi uma dessas coisas?).

Já / já / já.

(E o que que voce sentiu com relação a pessoa que

f . ?) ez 1SS0. •

Raiva / é assim a minha reaçao / é em situações as

sim / pelo menos nessa situação eu não trabalhava ainda /

nisso que eu trabalho / não meX1a com essas pessoas que ho

je eu mexo / que elas mexem muito comigo J mas a minha re~

ção é de dar de volta a agressão J agredí-Io da mesma for­

ma que ele me agrediu.

(Então eu te pergunto como ~ que voc~ sentiu os

relatos que eles fizeram sobre assalto?).

Eu ouvi a maioria deles / né / eu acho que eu ou-

vi todos / se não me engano / e isso prâ mim hoje ê muito

natural/hoje um cara me assaltar pedindo ou me agredindo/

eu acho que eu vou ser tranquila / talvez até vã falar.

(Mudou voc~ o fato de ter ouvido?).

Mudou J mudou muito.

Entrevista com a Professora J.

(Quer dizer / a gente com a pesquisa lã na sala /

pintou muito a questão do preconceito / e como é ~Je vace

v~ essa questão? Do AnalfaBeto J que e negro / que é as­

saltante / que é pobre / favelado / como ê que você?).

Essa até é uma questão muito difícil I eles tem

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358

at~ j uma vez eu ji ouvi aqui na escola / eles t~m precon­

cei to de ser menino de rua J en tendeu? Tinha até aluno meu

que não queria ~ aparecer em reportagem / nada disso / po~

que se não iam falar que eles eram meninos de rua / tem is

so / o lance do negro / ~ um preconceito que existe na so­

ciedade né / o racismo / sabe / isso ~ uma coisa que eles

tamb~m / por estar na sociedade / eles tamb~m são envolvi­

dos por esse preconceito / n~ / aquele lance de que voc~ e

branco e de repente branco ~ quem tem o dinheiro / negro e

quem nao tem / é sempre assim / entendeu? E de repente e­

les estão sempre querendo chegar ã classe dos brancos / que

prâ eles é a classe do pessoal mais favorecido.

(E como ~ que você vê a questão da viol~ncia na

escola? Como é que voce se posiciona com relação a isso?).

Quer dizer a violência / eu acho até que um pouco

da falta de limite / uma coisa que sempre existiu na esco-

la / entendeu? Você não dã limite / inão compreensívelj

Quer dizer mas / tirando por aqui entendeu? A questão -e

falta de limite mesmo / de falar em liberdade / entendeu?

Porque quer dizer / liberdade sempre depende de um outro

n~ J não existe outro' sozinho / sempre tã sendo influencia

do por um outro né / então eu acho que acabam não entenden

do o limite e acabam extrapolando / virando at~ uma liber­

tinagem mesmo / então eu acho necessário limite / entendeu?

Você ter regras / porque a sociedade ~ assim / se não ti-

vesse regra todo mundo ia se matar / todo mundo / entendeu?

Ia ser uma coisa estranha.

Page 205: o AVESSO DA LOGICA:

359

(E de onde vem essa viol~ncia? Voc~ acha que vem

de onde essa viol~ncia que eles passam aqui / que eles vi­

vem aqui?).

Eu acho que é o reflexo de uma sociedade violenta

onde que tew virias assassinos J ar de um dia pro outro is

so tudo é reflexo do que eles vivem no morro / na rua em

tuoo quanto é lugar.

(E as coisas que eles contaram / que eles falaram?

Os assuntos que eles conversaram na turma pintou a questão

da guerra na favela / no morro / Anselmo contou aquela hi~

tória depois a questão do assalto / do filhinho de papai /

do pobre que assalta / como é que e tratado na delegacia /

foi o que surgiu na tua turma / como é que voce ve essas

coisas que eles falaram / esses textos que eles produziram?).

Eu acho que é o reflexo do que acontece na reali­

dade com eles o que eles vivenciaram então eles tendem a

trazer isso pri sala de aula J e / quer dizer / faz parte

da história de vida de cada um / da imagem que cada um faz

em relação ao mundo.

(E o que voc~ acha desses assuntos? Qual é a tua

poslçao com relação a essas questões?).

De que isso realmente existe / entendeu? Esse lan

ce por exemplo do branco que tem mais privilégios do que o

negro / essas coisas J essas coisas que realmente existem/

tão aí no mundo que todo mundo sofre J entendeu? Tanto e­

les como eu como qualquer pessoa J ti vendo isso aí.

CPri voc~ em que a leitura e a escrita pode con-

Page 206: o AVESSO DA LOGICA:

360

tribuir na vida desses meninos?).

Eu acho que em crescimento / entendeu? Dele come

çar a ter uma visão diferente do mundo a ter uma VIsao crí

tica do mundo que tá acontecendo dele poder nerceber com

outros olhos / entendeu? E poder at~ ter um pouco de rnalí

cia no que acontece / então eu acho que a escrita tamb~m /

a questão at~ de você ler de se aprnfundar de conhecimento

geral/entendeu? Que dizer de você ter uma nova visão do

mundo você / ver de outra forma / tentar compreender tudo

que ê passado prá você I entendeu por outras pessoas na VI

da.

(E a escola, ela contribui de que forma?).

De repente desenvolvendo essa crítica / entendeu?

Transformar o aluno de repente numa pessoa crítica mesmo

do mundo / dele avaliar o que que é bom prá ele o que nao

ê bom prá ele / entendeu? Tem a questão da malícia mesmo/

tentar compreender/saber/eu acho que o professor como a es

cola / nê / eu acho que vai facilitar esse aprendizado/ es

sa mudança de comportamento dele.

Entrevista com a Professora V.

(Você já foi a algum internato?).

Já nos jardins da Funabem.

(Mas você conviveu com. essas crianças internadas?).

Não.

Page 207: o AVESSO DA LOGICA:

(Viu essas crianças internadas?).

Vi / eu via.

361

(O que você sentia quando via? O que achava daquilo?)

Péssima / aquelas crianças tudo de cabeça raspa-

da com a mesma roupa / aquela roupa cinzenta que eles usa­

vam na época / sei lá / estranho e ruim prá eles.

(Como é que você vê questão da família pros meni-

nos?).

Como é que eu vejo a questão da família / sei lá/

complicado porque mesmo os que moram no morro que têm pa­

e mãe / a mae e o pai bebem / não tem emprego / ou então

tem muita violência / no morro e aí eles ficam nervosos /

por isso não tem salário vivem de biscate / então fica com­

plicado prá eles que têm um monte de filhos morar em um lu

gar pequenininho / que ainda por cima tem tiroteio i noite

toda / e ele tem que sobreviver J e a questão da família

passa assim de uma violência / que passa com outros meios/

a família também passa / acho que tem muita violência no

meio da família / pai batendo / todo mundo batendo.

(E essa questão dessas brigas deles que não aca-

bam?) .

Então acho que tem haver com isso / ainda um dia

veio uma mãe aqui do morro falar com a gente / começa tiro

teia sete horas da noite vai até o dia clarear J então o

pai chega cansado do trabalho quer dormir não pode dormir

porque tem tiroteio / as crianças tem que ficarem enfiadas

Page 208: o AVESSO DA LOGICA:

362

dentro do mesmo barraco com eles / prá criança I não quer

saber se tem tiroteio I eles estão lá fazendo bagunça / bri

gando / o pai fica nervoso I a mae fica nervosa / taca mão

nas crianças mesmo / chega aqui eles t~m que reproduzir /

é isso mesmo / é violência.

(Para voc~ em que a leitura e a escrita podem con

tribuir na vida desse aluno?).

Acho que pode contribuir no sentido que é mais um

instrumento prá leitura do mundo I que eles já l~em o mun-

do de várias formas / eu acho que a leitura e a escrita -e

mais um instrumento de leituras desse mundo de sobreviv~n-

cia I desse mundo I faz a criança ou adulto ou indivíduo

ingressarem num outro grupo / no grupo dos que sabem ler /

dos que escreve J eu acho que é uma outra etapa / vão ter

outras dificuldades / vão ter outros problemas I mas assim

voc~ está dando mais um instrumento de vida prá eles / as-

sim como um emprego / um prato de comida / como uma roupa/

um remédio I prá mim tá I assim / um cara que va1 ser in­

cluído em um outro grupo / grupo dos que sabem ler e vai

ter que brigar também nesse grupo / vai ter que / aqueles

que sabem ler / é já I que veio de uma família que convive

com a leitura e a escrita há mais tempo e tem esses que o

espaço da leitura está reservado a escola porque a família

dele não lida com isso / mas ele sabendo ler e escrever há

uma modificação nele no indivíduo.

(E a escola7).

No que pode contribuir a escola na vida desse ga-

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roto? Eu acho que a escola tem o papel de a meu ver nao

estou falando dessa escola específica / estou falando de

escola / - mim / de socializar / papel de lidar pra tem o com

/ de - aprender interagir fundamental regras voce a no grupo

mente isso e de também informar / é mais um lugar de info~

mação e dessa integração com o grupo onde você vai ter ou­

tras regras e seus deveres / esse exercício mesmo de lidar

cem os limites com seus limites I mais de relacionamentos

e a parte de informação.

-? ) ce ve ..

-(Essa escola aqui pra esses meninos corno e que vo

Acho que essa escola para esses meninos ela exis-

te malS corno um espaço / de um espaço / tem meninos que tr~

balham / aqueles que são crianças mas que trabalham / mas

aqui eles tem o espaço de serem crianças / tem os meninos

que aqui tão fugindo da marginalidade / tão tentando sair

da marginalidade / tentando não entrar na marginalidade e

também acesso ao saber J eles tentam aprender / que vai ser

necessário na vida deles e essa história prá mim também es

sa coisa do grupo mesmo / dã palpite na vida do grupo / mo

dificar / interagir / ·socializar as coisas / os problemas.

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A N E X O VIr REGISTRO FOTOGRÁFICO DO MOMENTO

DA PESQUISA

Inauguração da Escola

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~6S

Inauguração da Escola

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Momento da Pesquisa

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Momento da Pesquisa

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Momento da Pe squis a

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Nome dos

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Banca Examinadora

Iv z.

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Dissertação apresentada aos Senhores:

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f'ltlfíddf:;tr;~~://#/;;'/ SaIiii ra Nélhid deMe-Squi ta

V i s t o e p c r In i t i d a a i JlI P r c s são

Rio de Janeiro 23 / 04 / 90

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