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O Balanced Scorecard aplicado à recolha de Resíduos Sólidos Urbanos
Bernardo Maria Empis de Vasconcelos Guimarães
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Civil
Júri
Presidente: Prof. Doutor José Alvares Pereira Antunes Ferreira Orientador: Prof. Doutor Rui Domingos Ribeiro da Cunha Marques Vogais: Prof. Doutor João Torres de Quinhones Levy
Dezembro de 2009
I
RESUMO
O mercado dos resíduos sólidos urbanos tem evoluído significativamente nas últimas décadas
levando à criação de novas entidades e de novos modelos de gestão. Contudo, no que tocou ao
utilizador e habitante municipal as alterações nesse sentido foram reduzidas. A recolha continua a
ser feita maioritariamente pelas câmaras municipais e a parcela que o utilizador paga acaba por
ser muito reduzida relativamente aos custos sofridos pela entidade que recolhe. Este facto leva à
entrada de dinheiros públicos no sistema e à criação de enormes ineficiências tanto no serviço
como financeiras. O presente estudo pretende introduzir uma metodologia já experimentada
noutros sectores (o Balanced Scorecard) para reduzir essas ineficiências e preparar estas
entidades para um mercado regulado e independente. Após uma extensa revisão do sector em
Portugal, a metodologia é apresentada e descrita. Focando-se mais na implementação do que na
estratégia da metodologia, é proposto um único grupo de indicadores de desempenho a
implementar nos diferentes tipos de entidades a operar nesta área em Portugal: Empresas
Municipais, serviços municipalizados, empresas de capitais mistos e Câmaras Municipais. De
seguida é exemplificada a aplicação através de 4 entidades, uma de cada tipo. O resultado é uma
proposta implementável e maleável às várias entidades em Portugal.
Palavras-chave: Balanced Scorecard (BSC); Resíduos Sólidos Urbanos; Avaliação de
Desempenho; Entidades Gestoras; Portugal
II
ABSTRACT
The urban solid waste market has been evolving significantly in the last decades, leading to the
creation of new entities and new business models. However, very few things have changed for the
user and municipal inhabitant. The local waste pick-up remains mainly in charge of the local
authorities and the charges attributed to the user are very low compared to the service costs in the
managing entity. This forces the entry of public monies into the system and to the creation of
enormous inefficiencies in the financial and in the service side. The present study pretends to
introduce a well-known methodology in other sectors (the Balanced Scorecard) in order to reduce
those inefficiencies and prepare these entities to a regulated and independent market. Following a
comprehensive revision of the sector in Portugal, the methodology is presented and described.
Focusing rather in the implementation than in the strategy, a sole set of performance indicators is
proposed to implement in the different types of entities in Portugal: municipal companies,
municipalized services, mixed companies and Municipalities. This implementation is then
exemplified through 4 entities, one for each type. The result is an implementable and flexible
proposal for the various entities operating in Portugal.
Keywords: Balanced Scorecard (BSC); Urban Solid Waste; Performance Measurement;
Operators; Portugal
III
AGRADECIMENTOS
Uma dissertação é um trabalho que não se faz sem o apoio tanto das pessoas que nos são mais
chegadas como das pessoas que são especialistas na área de estudo em questão. A busca por
conhecimento é uma viagem que por um lado nos leva ao prazer de conhecer pessoas cultas e
experientes na sua área, por outro nos propõe cada vez mais obstáculos e esforços que não são
possíveis de suportar sem o apoio daqueles que conhecem o nosso percurso mais solitário para
chegar ao destino.
Como não poderia deixar de ser, apesar da distância geográfica com que o apoio foi dado,
atravessando o oceano Atlântico para corrigir vírgulas, gostaria aqui de agradecer profundamente
ao meu professor e orientador, o Prof. Doutor Rui Cunha Marques. Os comentários acertados,
correcções essenciais e orientação estratégica no decorrer do trabalho levaram à conclusão do
projecto “tese”.
Ao IRAR, principalmente na pessoa do Dr. Edgar Carvalho e do Eng.º Miguel Nunes que, ao
apresentarem o sistema e darem o apoio nas questões até por telefone, deram uma enorme ajuda,
não só na descrição do sector como também na compreensão do mesmo e de como é regulado.
À Eng.ª Carla Fernandes dos SMAS de Loures, que esticou os seus dias de trabalho encolhendo
as suas férias para me enviar os dados tão essenciais à finalização dos casos de estudo.
Agradeço também ao Eng.º Carlos Vitória e à Eng.ª Ana Timóteo, pelo fornecimento de todos os
dados que tinham disponíveis na CM VFX num muito curto espaço de tempo e por me receberem
simpaticamente na sede da Divisão de Qualidade Ambiental. Agradeço vivamente ao Eng.º João
Lopes da Tavira Verde, que tomou uma boa parte da sua manhã para não só explicar-me como
funciona a Tavira Verde como também por me mostrar como funciona o seu dia-a-dia nesta
empresa. Essencial também para a recolha de dados foi a Patrícia Fava da EMARP, que no
próprio dia encontrou disponibilidade para me fornecer aqueles dados em falta que não constavam
nos relatórios e contas.
Do foro pessoal, agradeço aos meus colegas de curso e mais chegados amigos, João Nunes de
Almeida, Pedro Fino, Stefano Nigra, Pedro Sanches e António Dominguez, que em Portugal foram
as minhas mãos e braços, tomando parte do seu precioso tempo para me ajudarem.
Neste sentido, deixo aqui uma palavra de agradecimento à Teresa Montalvão, Mariana D’Orey,
Diogo Araújo e José Maria Medeiros, pela presença diária naquele que foi um longo curso e
naquela que foi uma longa dissertação. Ainda neste parágrafo, uma palavra especial à Inês de
Almeida pelos seus apontamentos irrepreensíveis e essenciais para o meu sucesso universitário.
Agradeço à minha família, mãe, pai, irmã e irmão, por me proporcionarem todas as oportunidades
que alguém pode querer, não só para concluir um curso superior, como para ser feliz ao fazê-lo.
IV
Finalizando os agradecimentos pessoais, fica uma palavra muito especial para a Rosarinho
Holstein, que apesar de pouco saber da matéria me ensinou grande parte daquilo que foi preciso
ter e saber para concluir esta tese de dissertação.
A todos os meus outros colegas de curso e amigos, mais e menos chegados, a toda a minha
família mais afastada, e a todo o corpo docente do Instituto Superior Técnico um enorme obrigado
por tudo aquilo que sem saber e mas com esforço fizeram para ajudar neste projecto.
Chego ao fim deste projecto e de todo o Mestrado Integrado com uma forte sensação de
realização pessoal, com a certeza que muito tenho pela frente e que nem um minuto gasto foi
perdido.
V
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO 1
1.1. Introdução 1
1.2. Objectivos 2
1.3. O que é o Balanced Scorecard 2
1.4. Estrutura 3
2. DESCRIÇÃO DO SECTOR DOS RESÍDUOS SÓLIDOS 5
2.1. Introdução e desenvolvimento histórico do sector 5
2.2. Organização do sector 6
2.2.1. Introdução 6
2.2.2. Organização do sector em alta 8
2.2.3. Organização do sector em baixa 14
2.2.4. Regulação do sector de RSU 18
2.2.5. Tarifação 22
2.2.6. Participação de capitais privados 26
2.2.7. Operadores e grandes números 28
3. ESTADO DA ARTE 32
3.1. Introdução 32
3.2. Objectivo dos estudos 33
3.3. Técnicas adoptadas 35
3.4. Aplicação no sector privado 35
3.5. Aplicação no sector público 38
4. APLICAÇÃO DO BALANCED SCORECARD 42
4.1. Estratégia 42
4.1.1. Missão 42
4.1.2. Mapa estratégico 43
4.2. Selecção dos indicadores de desempenho 44
VI
4.2.1. Introdução 44
4.2.2. Perspectiva do Cliente: Como somos vistos pelos nossos clientes? 45
4.2.3. Perspectiva Financeira: Como respondemos às necessidades dos
nossos accionistas? 47
4.2.4. Perspectiva Interna das Operações: Onde devemos concentrar os nossos
esforços? 49
4.2.5. Perspectiva de Inovação e Aprendizagem: Podemos continuar a melhorar e a
criar valor? 54
4.3. Informação contextual 55
4.4. Implementação 56
5. CASOS DE ESTUDO 60
5.1. Introdução 60
5.2. Tavira Verde, EM 60
5.2.1. Breve descrição da entidade 60
5.2.2. Identificação do ano base 62
5.2.3. Metas 64
5.2.4. Resultados anuais 65
5.3. Câmara Municipal de Vila Franca de Xira 66
5.3.1. Breve descrição da entidade 66
5.3.2. Identificação do ano base 67
5.3.3. Metas 68
5.3.4. Resultados anuais 68
5.4. SMAS Loures 69
5.4.1. Breve descrição da entidade 69
5.4.2. Identificação do ano base 70
5.4.3. Metas 70
5.4.4. Resultados anuais 72
5.5. Empresa Municipal de Águas e Resíduos de Portimão (EMARP) 73
5.5.1. Breve descrição da entidade 73
VII
5.5.2. Identificação do ano base 74
5.5.3. Metas 75
5.5.4. Resultados Anuais 76
6. CONCLUSÕES 77
6.1. Síntese Conclusiva 77
6.2. Recomendações para estudos futuros 80
BIBLIOGRAFIA 81
ANEXO – Escala dos indicadores de desempenho 86
VIII
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – Modelo de gestão das entidades a operar em alta em Portugal Continental 9
Quadro 2 – Equipamentos existentes e em construção em Portugal 14
Quadro 3 – Empresas municipais públicas ou público-privadas em Portugal Continental 16
Quadro 4 – Indicadores de desempenho desenvolvidos pelo IRAR para a baixa 21
Quadro 5 - Modelos de gestão utilizados em sistemas de titularidade estatal 26
Quadro 6 – Modelos de gestão de sistemas de titularidade municipal ou intermunicipal 27
Quadro 7 - Caracterização física típica dos RSU 29
Quadro 8 - Resultados da Sociedade Ponto Verde (em toneladas de resíduos de embalagens) 29
Quadro 9 – Indicadores de desempenho e resultados de 2007 para a Tavira Verde 63
Quadro 10 – Metas e resultados para 2008 na Tavira Verde 64
Quadro 11 - Indicadores de desempenho e resultados de 2007 para a C.M. VFX 67
Quadro 12 - Metas e resultados para 2008 na C.M. Vila Franca de Xira 69
Quadro 13 - Indicadores de desempenho e resultados de 2007 para os SMAS de Loures 71
Quadro 14 - Metas e resultados para 2008 nos SMAS de Loures 72
Quadro 15 - Indicadores de desempenho e resultados de 2007 para a EMARP 74
Quadro 16 - Metas e resultados para 2008 na EMARP 75
IX
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Arquitectura do Balanced Scorecard simplificada 3
Figura 2 – Esquema ilustrativo do ciclo de vida dos RSU indiferenciados 11
Figura 3 – Esquema ilustrativo do ciclo de vida dos RSU recicláveis 12
Figura 4 – Comparação das metas do PERSU I com as verificadas no ano projectado 13
Figura 5 – Avaliação do IRAR para uma concessionária multimunicipal 20
Figura 6 – Factura tipo dos SMAS de Loures 23
Figura 7 – Distribuição do modo de tarifação por utilizador em Portugal 24
Figura 8 – Distribuição das tarifas nos utilizadores por município 25
Figura 9 - Totais de embalagens declaradas pelos produtores 30
Figura 10 – Cenário moderado previsto no PERSU II para o encaminhamento dos RSU 31
Figura 11 - Aplicação Interactiva para crianças da EMAC (EM. de Cascais) 31
Figura 12 – Evolução da utilização do BSC e da satisfação dos clientes pela Consultora Bain 32
Figura 13 – Organização original do BSC prevendo objectivos e medidas interligadas 36
Figura 14 – Objectivos estratégicos do BSC para o banco químico. 37
Figura 15 – Mapa estratégico proposta por Robert S. Kaplan no caso do banco químico 39
Figura 16 – BSC para organizações sem fins lucrativos e agências governamentais. 40
Figura 17 – Mapa Estratégico para a implementação do BSC no Hospital Garcia da Horta 41
Figura 18 – Árvore estratégica a aplicar nos organismos estudados 44
Figura 19 – Proposta de implementação de um BSC multi-nível no Hospital Garcia da Horta. 57
Figura 20 – Esquema de implementação do Balanced Scorecard 59
X
LISTA DE ABREVIATURAS
ABC - Activity-Based Costing
AdP - Águas de Portugal
AM - Associação de Municípios
APA - Agência Portuguesa do Ambiente
BSC - Balanced Scorecard
CCAS - Conselho de Coordenação da Avaliação de Serviços
CM - Câmara Municipal
CRM - Customer Relationship Management
EGF - Empresa Geral de Fomento
EIM - Empresa Intermunicipal
EM - Empresa Municipal
EMARP - Empresa Municipal de Águas e Resíduos de Portimão
ERSAR - Entidade Reguladora de Serviços de Águas e Resíduos
EU - União Europeia
FCC - Fomento de Construcciones y Contratas
HPEM - Higiene Pública, Empresa Municipal
INA - Instituto Nacional da Administração
INE – Instituo Nacional de Estatística
INR - Instituto Nacional dos Resíduos
IRAR - Instituto Regulador de Águas e Resíduos
MIRR - Mapa Integrado de Registo de Resíduos
PERH - Plano Estratégico dos Resíduos Hospitalares
PERSU - Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos
PESGRI - Plano Estratégico de Gestão de Resíduos Industriais
RARSARP - Relatório Anual do Sector de Águas e Resíduos em Portugal
REEE - Resíduos de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos
RH - Resíduos Hospitalares
RI - Resíduos Industriais
RIB - Resíduos Industriais Banais
RIP - Resíduos Industriais Perigosos
RSU - Resíduos Sólidos Urbanos
SAP – Sistema de avaliação de performance
SIADAP - Sistema Integrado de Gestão e Avaliação de Desempenho da Administração Pública
SIEG - Serviço de Interesse Económico Geral
SIRER - Sistema Integrado de Registo Electrónico de Resíduos
SMAS - Serviços Muncipalizados de Águas e Saneamento
SPV - Sociedade Ponto Verde
VFX – Vila Franca de Xira
1
1. INTRODUÇÃO
1.1. Introdução
A noção de país evoluído é para as pessoas muito difícil de avaliar. Na maior parte das viagens
efectuadas ao estrangeiro um bom sistema de transportes, bom serviço e bom alojamento ditam a
percepção que qualquer viajante ocasional tem da qualidade de vida dos habitantes daquele país.
Contudo, os verdadeiros problemas de um habitante poderão não ser nenhum desses e residir
dentro de sua casa, que está longe dos olhos de um visitante exterior. Dentro de sua casa os
habitantes de países evoluídos requerem inconscientemente determinados serviços que, apesar
de custosos, aos olhos deles são imprescindíveis. Trata-se neste caso do abastecimento de água,
de saneamento das águas residuais, de electricidade, de aquecimento ou, mesmo junto à porta de
casa, da recolha de resíduos sólidos urbanos.
A existência deste tipo de serviços dependeu de grandes investimentos em infra-estruturas feitos
pelos governos centrais e municipais à medida que estes sistemas foram evoluindo. Desta forma,
estes serviços essenciais nasceram como públicos e agora os habitantes dos países
desenvolvidos querem-nos por direito social.
O problema nasce no forte crescimento da capitação destes serviços aliado à incremental
densidade populacional que se faz sentir nos centros urbanos. Aplicado ao sector dos resíduos
sólidos urbanos, passou a não ser só a forma de os extrair desses centros urbanos, mas também
um problema ambiental e de espaço físico de deposição. Para responder a esta crescente
questão, uma nova rede infra-estrutural foi construída e a articulação entre as infra-estruturas e os
utilizadores passou a ser o novo problema dividido em três vertentes: custos financeiros, custos
ambientais e logística.
Através de regulamentos separou-se o sistema em duas componentes, onde uma trata da
operação das infra-estruturas e a outra toma conta do atendimento ao utilizador (ou utente). Este
processo moroso está neste momento plenamente concluído em Portugal, naquele que foi um
enorme passo na definição deste país como um dos evoluídos.
A forma encontrada para gerir o enorme investimento feito pelo estado em infra-estruturas foram
concessões, criando um mercado semi-liberalizado onde um único regulador tem um papel
preponderante. Esta solução obriga a determinados padrões de eficiência, preço, serviço e
cuidados ambientais que as entidades concessionárias acabam por cumprir, melhorando a
qualidade de gestão em geral deste sector.
2
Os problemas aparecem do lado do utilizador, onde a falta de regulação mais rigorosa, a grande
parcela de gestão pública e a falta de contas e medidas levam a ineficiências graves na gestão das
empresas. O estudo que se propõe vem introduzir uma solução para parte deste sistema
imperfeito, não do ponto de vista regulatório mas do ponto de vista da empresa em si.
1.2. Objectivos
O presente estudo pretende propor uma solução viável para mitigar as ineficiências que se
verificam nas entidades de recolha de resíduos sólidos em Portugal.
Através de uma metodologia aplicada habitualmente a empresas privadas (o Balanced Scorecard),
pretende primeiro identificar-se mutações possíveis à metodologia base para posteriormente criar
uma aplicação que serviria de ponto de partida para muitas outras aplicações nesta área.
Baseando-se na metodologia original, toma-se como objectivo identificar através de uma revisão
extensa da literatura como aplicar este método a empresas que não façam parte da sua área de
actuação, os serviços públicos locais.
Identificadas as alterações passar-se-á a uma fase de criação, onde a metodologia será, de facto,
aplicada de uma forma geral a empresas que actuem neste sector. Passando por todas as fases
de implementação que os seus criadores sugerem, criar-se-á um Balanced Scorecard aplicado ao
sector.
O objectivo final será endereçado no final do estudo, dando como exemplo quatro casos de estudo,
representando cada um um modelo de gestão existente em Portugal: empresas municipais,
serviços municipalizados, empresas semi-privadas e serviços municipais. Estas quatro variantes
diferem principalmente na integração que tanto o lado financeiro como o lado operacional destes
serviços tem na câmara municipal, sendo por vezes difícil avaliar este serviço independentemente
de outros que sejam feitos pela mesma equipa de trabalho ou de gestão.
Pretende-se assim uma solução exequível e estruturada na aplicação prática do Balanced
Scorecard nos serviços públicos locais referidos, diferenciando-se este estudo de qualquer visão
teórica sobre este tema.
1.3. O que é o Balanced Scorecard
Ao contrário da maior parte dos métodos de avaliação de desempenho utilizados nos Resíduos
Sólidos Urbanos, o Balanced Scorecard pretende não só analisar a eficiência do serviço prestado
aos utilizadores como também proteger a sustentabilidade das empresas que o asseguram.
Tratando-se de uma ferramenta de gestão integrada, pretende avaliar e ligar quatro perspectivas
3
de observar o desempenho numa empresa: Finanças, Clientes, Processos Internos e Inovação e
Aprendizagem.
Esta metodologia foi desenvolvida por Robert S Kaplan e David P. Norton em 1992 com o intuito
de criar um sistema de avaliação que integrasse os objectos de estudo de sistemas anteriores.
Uma análise financeira que demonstrasse bons resultados poderia esconder uma organização
deficiente e assim um futuro pouco promissor. Por outro lado, fazer melhorias a nível operacional
ou uma análise “ABC” (Activity-Based Costing) para melhorar a eficiência não quereria
imediatamente significar melhores resultados futuros ou a satisfação dos clientes ou utilizadores.
Assim estes reconhecidos professores da Harvard Business School publicaram uma Introdução ao
Balanced Scorecard que consistia na definição dos objectos de análise e na ligação destes entre
si. Assentando num modelo de gestão por objectivos, o Balanced Scorecard inclui assim medições
tanto nos indicadores financeiros para avaliar desempenhos passados como observa as operações
actuais através da perspectiva dos clientes, processos internos e cuidados na inovação e
aprendizagem dos trabalhadores, relacionando-os tal como demonstra a figura 1.
Perspectiva da Inovação e
Aprendizagem
Perspectiva dos Clientes
Perspectiva dos Processos Internos
Perspectiva Financeira
Visão e Estratégia
Figura 1 - Arquitectura do Balanced Scorecard simplificada Fonte: (Kaplan & Norton,1992)
1.4. Estrutura
O estudo está estruturado em 6 capítulos, dos quais se destacam a organização do sector, a
revisão do estado de arte, a aplicação da metodologia e explicação dos Indicadores de
Desempenho, os casos de estudo e por último as considerações finais, discutindo a exequibilidade
e propondo novas áreas de implementação do Balanced Scorecard e soluções para a melhoria do
sector dos resíduos sólidos em Portugal.
4
O primeiro capítulo, de carácter introdutório, pretende lançar a ideia e os objectivos do trabalho,
introduzindo brevemente o Balanced Scorecard e uma explicação sustentável para a criação do
estudo.
No segundo capítulo é efectuada uma revisão extensa de todo o sector, sendo identificados os
vários intervenientes no mercado dos resíduos sólidos urbanos. Aqui são introduzidos todos os
termos técnicos utilizados no sector e é também revista a legislação existente.
Entrando no mundo da metodologia em si, o terceiro capítulo pretende fazer um levantamento dos
estudos efectuados sobre o Balanced Scorecard e as suas aplicações. Partindo da sua criação e
caminhando no sentido da possibilidade da sua implementação no sector dos resíduos sólidos
descrito anteriormente, pretende encontrar soluções para o problema proposto.
No quarto capítulo aproveita-se toda a investigação feita nos dois capítulos que lhe antecedem:
desenvolve-se um método à medida do sector baseado nos estudos que haviam sido feitos. O
resultado passa por uma proposta de implementação prática nunca antes feita na literatura para
este sector.
Esta proposta terá então de ser exemplificada para mais facilmente ser lida e compreendida pelos
intervenientes deste sector. O capítulo cinco contém quatro casos estudos que se dirigem
especificamente a todos os modelos de gestão existentes em Portugal. Nestes é possível efectuar
uma leitura de quais os dados em falta e quais os procedimentos pelos quais se terá de atravessar
para que esta metodologia seja implementada. Os casos de estudo são feitos em contacto com 4
entidades: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, SMAS de Loures, EMARP (Portimão) e Tavira
Verde. Foram contactadas também outras entidades, nomeadamente a HPEM de Sintra e a
Câmara Municipal de Oeiras, mas logo após contacto inicial, no caso de Oeiras, e após uma
reunião inicial e vários telefonemas, no caso de Sintra, foi demonstrada incapacidade ou
desinteresse em prestar a informação necessária.
No capítulo seis, discutem-se os problemas que poderão ser resolvidos pelo método e quais os
resultados e dificuldades que potencialmente se encontrarão na aplicação do método nos
diferentes tipos de gestão, deixando uma porta aberta para desenvolvimentos que se poderão e
deverão fazer tanto no sector dos resíduos sólidos urbanos como na aplicação do Balanced
Scorecard.
5
2. DESCRIÇÃO DO SECTOR DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
2.1. Introdução e desenvolvimento histórico do sector
Na ausência de gestão sobre o sector dos resíduos, os habitantes das povoações e cidades em
geral transportavam os seus resíduos para lixeiras sem qualquer preocupação ambiental. Com o
crescimento das cidades e da sua densidade populacional, cada vez mais resíduos iam sendo
produzidos e levados para lixeiras a curta distância das cidades, ou em certos casos até mesmo
nos arredores das mesmas. Estas cresceram em número e tamanho, tornando-se insustentável do
ponto de vista ambiental e da saúde pública a ausência de apoio na resolução deste problema.
Ao passar a responsabilidade da limpeza e gestão para os municípios, novas dificuldades se
ergueram, sendo que para arranjar uma solução alternativa às enormes lixeiras eram necessários
níveis de investimento dos quais as câmaras municipais não dispunham.
Assim, com as crescentes pressões da União Europeia, a reforma em toda a Europa acabou por
ter lugar. Foi criada a Agência Europeia do Ambiente (EEA) que iniciou o exercício de funções em
1993 com o intuito de dar apoio e conselho ao tratamento dos resíduos e manutenção da
qualidade do ar em 32 países (que incluem os 27 membros da União Europeia).
Em Portugal foi também nesta altura que se deu início à reforma do sector. A partir da
Administração Central, com uma enorme pressão causada pelas dimensões do problema e da
própria União Europeia, foram encerradas as lixeiras para dar lugar a aterros sanitários e estações
de separação. Posteriormente, já à entrada do novo milénio, foi criado o primeiro Plano Estratégico
de Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU). O PERSU publicado pelo Instituto Nacional de Resíduos
(INR) em 1996 estabeleceu uma ponte entre o passado e o presente, definindo metas para 2000 e
2005 ao nível das infra-estruturas, da sustentabilidade económica e da organização gestionária,
tanto na recolha como na deposição e tratamento. Ao abrigo deste plano criaram-se as
associações intermunicipais para deposição, tratamento, triagem, compostagem e valorização dos
RSU, como é o caso da Valorsul a actuar na Região de Lisboa e da Lipor na Região do Porto.
Resolvido o ponto de vista das responsabilidades surge então um novo problema: Sendo que a
recolha e tratamento seriam serviços públicos geridos pelas câmaras ou por concessões, os
utilizadores ficariam sujeitos e desprotegidos do monopólio natural criado pela distribuição
geográfica das entidades gestoras. Surge então através do Decreto-Lei nº 230/97 o Instituto
Regulador de Águas e Resíduos que visa monitorizar além das águas, a qualidade do serviço aos
utilizadores na recolha dos resíduos sólidos.
6
Com a concretização em grande escala dos objectivos previstos no PERSU, foi então criado um
seguimento, o PERSU II, que visa perseguir uma “optimização global e integrada, e de um cada
vez menor recurso à deposição em aterro através da maximização da reciclagem e (…)
valorização.” Pretende ainda apostar na “prevenção da produção” de resíduos e na redução dos
gases com efeito de estufa emitidos. Estes objectivos serão atingidos mediante uma maior
responsabilização das entidades gestoras e dos cidadãos em geral com horizonte estabelecido de
2007 a 2016. (Pires et al., 2006)
É neste período que se insere esta investigação, onde os intervenientes estão bem definidos e as
responsabilidades e necessidades dos utilizadores assumem um carácter crescente.
2.2. Organização do sector
2.2.1. Introdução
O sector em si surge após definidos os vários tipos de resíduos existentes. Já no Decreto-Lei
239/97 de 9 de Setembro e posteriormente reiterado no Decreto-Lei nº178/2006 de 5 Setembro
resíduos são “quaisquer substâncias ou objectos de que o detentor se desfaz ou tem intenção ou
obrigação de se desfazer (…)”. Esta definição abrange uma enorme quantidade de matéria na qual
os Resíduos Sólidos Urbanos se inserem segundo a seguinte definição também proposta no
Decreto-lei 239/97: “resíduos domésticos ou outros resíduos semelhantes, em razão da sua
natureza ou composição, nomeadamente os provenientes do sector de serviços ou de
estabelecimentos comerciais ou industriais e de unidades prestadoras de cuidados de saúde,
desde que, em qualquer dos casos, a produção diária não exceda 1100 l por produtor.”
Definem-se também outros tipos de resíduos, cuja identificação deriva imediatamente do seu
nome. São estes os resíduos industriais, hospitalares e perigosos.
Os Resíduos Hospitalares (RH) carecem de cuidados adicionais por serem aqueles que mais põem
em risco a saúde pública através das doenças ou bactérias gravemente transmissíveis que possam
ser transmissores. Assim o Decreto-Lei nº 242/96 de 13 de Agosto classifica os Resíduos
Hospitalares em quatro grupos dos quais dois destes são considerados perigosos e os restantes
dois não o são.
Os RH considerados não perigosos (Grupos I e II) consideram-se equiparados a RSU e assim
deverão ser depositados no sistema local de RSU para serem tratados de igual forma. Por sua vez
os resíduos perigosos do grupo III, que perfazem 80% de todos os perigosos, são tratados por via
química e térmica,os restantes 20%, pertencentes ao grupo IV são na maior parte dos casos
incinerados, sendo as cinzas volantes resultantes desta incineração acumuladas e posteriormente
exportadas por não existirem em Portugal locais apropriados para a sua deposição. A pequena
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parte que não é incinerada corresponde aos instrumentos utilizados nos hospitais. Esta parte
poderá ser desinfectada quimicamente ou autoclavada para posteriormente ser deposta como RSU
ordinário. (Levy et al., 2002) Em qualquer dos casos o Decreto-Lei nº 178/2006 de 5 de Setembro
atribui a responsabilidade da correcta gestão e destino final ao produtor.
Muito semelhante à classificação feita para os RH é aquela feita para os Resíduos Industriais (RI).
Estes separam-se entre Resíduos Industriais Perigosos (RIP), Banais ou não-perigosos (RIB) e
Inertes (usualmente considerados RIB). O destino final destes resíduos passa pela sua
valorização, deposição em aterro ou incineração. Em caso de deposição, os Resíduos Industriais
Banais são depositados em aterros para RSU autorizados à excepção daqueles que estão ao
abrigo da área de influência do único aterro especializado neste tipo de resíduos (o CITRI, em
Setúbal). O destino dos RIP é semelhante ao dos banais, sendo porém mais comum a sua
incineração e sendo os aterros para a sua deposição exclusivos e especializados. Existe também
um movimento transfronteiriço significativo com Resíduos Industriais, sendo Portugal
principalmente interessado na exportação por falta de capacidade de tratamento dos mesmos.
(Levy et al., 2002)
A responsabilidade do destino final destes Resíduos é do Produtor por pré-definição podendo esta
ser transferida para outra empresa ou entidade que queira celebrar um contrato de gestão dos
resíduos com a entidade industrial produtora (Instituto dos Resíduos, 2001).
Tanto para os Resíduos Hospitalares como para os Resíduos Industriais foram criados planos
semelhantes ao PERSU nas respectivas áreas. Foi criado o Plano Estratégico dos Resíduos
Hospitalares (PERH) aprovado pelo Despacho Conjunto nº761/99 de 31 de Agosto dos Ministérios
da Saúde e Ambiente para determinar objectivos para 2005 na área dos RH, encontrando-se
consequentemente sob revisão. Os RI têm os seus objectivos traçados através do Plano
Estratégico de Gestão de Resíduos Industriais (PESGRI) elaborado em 1999 e revisto em 2000 e
2001.
A Lista de Resíduos Perigosos aprovada por decisão da Comissão Europeia (Decreto-Lei
nº239/97) define em grande parte aquilo que são considerados os Resíduos Perigosos, que por
sua vez são tratados de forma semelhante aos Resíduos Industriais Perigosos. (Levy et al., 2002)
O sector dos Resíduos Sólidos Urbanos, tal como o sector de águas residuais e abastecimento de
águas, é comummente dividido entre a “alta” e a “baixa”. A baixa é a designação utilizada para a
parcela do sistema que serve directamente o utilizador. No caso dos RSU trata-se da recolha feita
maioritariamente através de camiões e inclui tanto a recolha porta-a-porta como a recolha de
contentores públicos de deposição de resíduos domésticos. Estes camiões depositam os resíduos
directamente nos centros de tratamento ou em estações de transferência pertencentes já às
concessionárias intermunicipais. A alta considera-se todo o sistema que se segue na “vida” dos
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RSU. A partir da deposição por parte das entidades de recolha, a alta engloba a separação e a
valorização, reciclagem ou deposição em aterro ou local apropriado.
Enquanto à actividade em baixa corresponde por vezes a designação de mercado primário, a
actividade em alta pode ser repartida entre o mercado secundário e o mercado terciário. O
mercado secundário corresponde à aceitação dos resíduos provenientes da baixa, à sua triagem,
deposição em aterro, incineração, valorização orgânica e redução. A reciclagem fica a cargo do
mercado terciário. Este engloba a retoma de materiais recicláveis, a reciclagem em si, que consiste
no reaproveitamento e reabilitação de materiais recicláveis, e reintrodução dos materiais no
mercado.
2.2.2. Organização do sector em alta
Seguindo o primeiro PERSU foi necessário definir uma estrutura de destino a dar aos RSU. Neste
entendimento, seria necessário criar uma rede de empresas que dessem o tratamento necessário
aos Resíduos, seguindo os objectivos definidos nesse mesmo PERSU (Lobato Faria et al., 1996).
O resultado foi a criação de sistemas plurimunicipais que gerissem a alta dos resíduos. Existem
neste momento 29 sistemas plurimunicipais que se separam em concessionárias multimunicipais,
Associações de Municípios, concessões municipais celebrados entre Associações de Municípios e
Empresas Privadas e Empresas Intermunicipais.
As quinze concessões multimunicipais existentes são celebradas entre a Administração Central e
as empresas. Estas, por sua vez, são controladas (detendo um mínimo de 51%) indirectamente
pela Águas de Portugal (AdP), empresa composta a 100% por capitais públicos, através da sua
sub-holding a Empresa Geral do Fomento, EGF, S.A. A RESIESTRELA veio em Julho de 2008 tirar
o lugar à excepção existente que era o caso das Águas do Zêzere e do Côa cuja posição
controladora pertencia directamente à AdP. O restante capital accionista pertence aos municípios
abrangidos pelos serviços prestados por essas entidades. A única concessionária que não é
controlada pela AdP é a Braval,S.A. que é controlada pela AGERE, Empresa Municipal de Braga.
A AGERE entrou recentemente numa fase de alienação de capitais públicos, criando assim a
primeira das concessionárias multimunicipais que virá a ser controlada por uma empresa de
capitais mistos. Neste momento é detida em 49% pela empresa Geswater. Ainda que o controle
final se mantenha público, este foi um passo importante na entrada de capitais privados no sistema
em alta.
As Empresas Intermunicipais são o segundo maior grupo destes sistemas plurimunicipais, sendo
um total de oito a operar directamente nesta área. Estas são detidas por Associações de
Municípios e têm em alguns casos capitais privados na sua estrutura accionista. A única Empresa
Intermunicipal que não efectua o serviço por inteiro é a Resíduos do Nordeste. Esta Empresa
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criada pelas Associações de Municípios da Terra Quente Transmontana, da Terra Fria
Transmontana e do Douro Superior decidiu dar a concessão das suas responsabilidades em alta à
FOCSA que é uma empresa privada pertencente à espanhola FCC. A Resíduos do Nordeste tem,
contudo, uma grande influência nessa área pois continua a efectuar a recolha em grande parte da
zona onde a FOCSA actua. A FOCSA é assim responsável pelo aterro e pelo centro de triagem, os
dois equipamentos que existem na zona.
Quadro 1 – Modelo de gestão das entidades a operar em alta em Portugal Continental
Nome Modelo de Gestão Controle / Concessionado por:
ALGAR Concessionária EGF, S.A.
AMARSUL Concessionária EGF, S.A.
BRAVAL Concessionária AGERE, EM de Braga
ERSUC Concessionária EGF, S.A.
REBAT Concessionária EGF, S.A.
RESAT Concessionária EGF, S.A.
RESIDOURO Concessionária EGF, S.A.
RESIESTRELA Concessionária EGF, S.A.
RESIOESTE Concessionária EGF, S.A.
RESULIMA Concessionária EGF, S.A.
SULDOURO Concessionária EGF, S.A.
VALNOR Concessionária EGF, S.A.
VALORLIS Concessionária EGF, S.A.
VALORMINHO Concessionária EGF, S.A.
VALORSUL Concessionária EGF, S.A.
AMBILITAL Empresa Intermunicipal AMAGRA (Associação de Municípios)
AMBISOUSA Empresa Intermunicipal VALSOUSA (Associação de Municípios)
ECOBEIRÃO Empresa Intermunicipal A.M. do Planalto Beirão
ECOLEZÍRIA Empresa Intermunicipal RESIURB (Associação de Municípios)
GESAMB Empresa Intermunicipal AMDE (Associação de Municípios)
RESIALENTEJO Empresa Intermunicipal AMALGA (Associação de Municípios)
TRATOLIXO Empresa Intermunicipal AMTres (Associação de Municípios)
AMAVE Associação de Municípios
AMCAL Associação de Municípios
AMVDN Associação de Municípios
LIPOR Associação de Municípios
RESITEJO Associação de Municípios
ZAGOPE Empresa Privada Construtora A. Gutierrez / A.M. Raia-Pinhal
FOCSA Empresa Privada FCC / AMDSFE, AMTQT e AMTNFT via RDN, EIM
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Sintetizado no quadro 1 está o presente panorama da organização das entidades onde são
depostos os resíduos pelos organismos de recolha.
São seis as Associações de Municípios que decidiram ficar com a responsabilidade da reciclagem,
tratamento e deposição definitiva dos resíduos. Contudo, uma delas decidiu dar a concessão a
uma empresa privada. Assim, enquanto cinco Associações de Municípios estão encarregues das
suas estações de triagem, aterros sanitários ou centrais de valorização energética e orgânica, a
Associação de Municípios Raia Pinhal decidiu concessionar estes equipamentos à empresa
privada ZAGOPE para que a gestão em alta dos RSU ficasse a cargo dela.
Quanto ao funcionamento destas empresas individualmente a principal diferença está no facto de
estarem responsáveis ou não pela recolha selectiva nos concelhos onde operam. Boa parte destas
empresas actua no sector da recolha selectiva em baixa, além das suas responsabilidades em alta.
Na execução das suas tarefas em alta as suas actividades só diferem na inclusão de uma estação
de transferência, na existência de um centro de valorização ou não ou obviamente na quantidade
de Resíduos a processar. Estas empresas operam todas exclusivamente no mercado secundário,
não estando qualquer uma delas encarregadas da reciclagem.
O sistema dos RSU pode também separar-se verticalmente em indiferenciados e recicláveis, ou,
no caso da recolha, em recolha indiferenciada e recolha selectiva. Os resíduos indiferenciados têm
um percurso de vida simples. Passada a recolha, estes “entram” no sistema de entidades
plurimunicipais através das estações de transferência (existentes no caso de se justificar
economicamente) ou directamente nas centrais de tratamento e valorização e aterros. A distinção
entre qual o destino a dar aos resíduos indiferenciados é feita consoante a capacidade da infra-
estrutura pertencente à entidade plurimunicipal encarregue e os resíduos em questão. O sistema
seguido implica também uma separação dos resíduos recolhidos, tal como os recicláveis. Os RSU
são encaminhados consoante a sua composição para a Valorização Orgânica, para a Valorização
Energética ou Incineração ou directamente par aterro. Da Valorização Orgânica, os resíduos que
possam ser aproveitados energeticamente são encaminhados para a Valorização Energética, os
restantes são encaminhados para aterro. Os dejectos da Valorização Energética por sua vez são
imediatamente encaminhados para aterro, sendo porém estudado o aproveitamento das cinzas
resultantes para misturar no betão (Kokalj & Samec, 2006). Apesar de por vezes poder parecer
complexo, na figura 2 fica esquematizado o funcionamento, enaltecendo as entradas e saídas de
cada fase do sistema para os diferentes destinos finais.
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Recolha IndiferenciadaRecolha indiferenciada de resíduos
sólidos urbanos, porta-a-porta ou nos contentores públicos através de
camiões.
AterroDestino final de tudo o que resta das valorizações e de todos os resíduos
que não são elegíveis para a valorização
Valorização OrgânicaProcesso de transformação de resíduos
orgânicos em compostos orgânicos.
Valorização Energética (ou incineração) – processo de
aproveitamento dos resíduos para a produção de energia, calor ou
electricidade.
Estação de Transferência
Ponto de armazenagem entre a alta e a baixa. Existe só quando faz sentido do ponto de vista logístico.
Baixa
Alta
Figura 2 – Esquema ilustrativo do ciclo de vida dos RSU indiferenciados
Os resíduos que são recolhidos selectivamente, ou seja, onde os bens recicláveis são separados
na fonte e depositados nos ecopontos e ecocentros existentes, são encaminhados directamente
para as estações de triagem onde mecânica ou manualmente são separados por fileiras. Estas
fileiras poderão ser tanto as três mais visíveis ao público em geral, como é o caso do vidro, do
papel e das embalagens de metal e de plástico, como também pilhas, pneus, óleos lubrificantes
usados, madeira, equipamentos electrónicos etc. Em 2007 iniciou-se uma nova fileira, os Resíduos
Urbanos Biodegradáveis (RUB) para aumentar a parcela da Valorização Orgânica. Já separados
os resíduos reutilizáveis são então entregues no mercado terciário para a sua reciclagem e
reintrodução no mercado.
O mercado terciário neste momento é composto por várias empresas das quais a mais importante
e antiga é a Sociedade Ponto Verde (SPV), criada em 1996 para pôr em funcionamento o Sistema
Integrado de Gestão de Resíduos e Embalagens. A Sociedade Ponto Verde retoma todas as
embalagens e resíduos de embalagens criando um sistema cíclico de utilização, deposição e
reaproveitamento. O sistema é financiado pelas empresas que compram as embalagens. A SPV,
por sua vez apoia financeiramente (compra as embalagens) os operadores do Mercado
Secundário, fomentando indirectamente a vertente da recolha selectiva. Quanto ao apoio directo, a
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própria SPV é a principal responsável pelas campanhas publicitárias encorajadoras da deposição
dos RSU em Ecopontos por parte dos utilizadores domésticos. A própria estrutura accionista da
SPV revela os interesses por detrás da reutilização dos materiais das embalagens, sendo
composta por entidades fabricantes de embalagens, entidades embaladoras, entidades de
distribuição de embalagens, Câmaras Municipais e outras empresas de peso no sector. A SPV faz
parte da Organização Internacional Pro Europe que criou esta estrutura de mercado terciário que
está neste momento implementada em 31 países. O principal sucesso deste sistema deve-se
também à transferência da responsabilidade dos resíduos para a própria SPV, que livra o produtor
(como preconizado do Decreto-lei 178/2006) deste peso.
Dentro do mercado terciário apareceram já no novo milénio sistemas equivalente ao SIGRE
noutras fileiras, como é o caso do SGPU para os pneus, gerido pela Valorpneu, a SIPAU para as
pilhas gerido pela Ecopilhas, ou o Sistema de Gestão de Resíduos de Equipamentos Eléctricos e
Electrónicos (REEE) gerido pela ERP, entre outros.
Este sistema fomenta assim a reciclagem de outras fileiras que não as embalagens, reduzindo os
níveis de deposição em aterro como previsto nos Planos estratégicos já existentes. Na figura 3 é
ilustrado esquematicamente o funcionamento da recolha selectiva em Portugal.
Recolha SelectivaRecolha selectiva de resíduos sólidos
urbanos, porta-a-porta ou nos ecopontos e ecocentros.
Estação de TriagemApesar de recolhidos selectivamente,
este ponto intermédio serve para a separação dos resíduos pelas
diferentes fileiras.
EmbalagensPapel/ Cartão
PilhasVidro
ReciclagemProcesso de lavagem, autoclavagem e outros tipos de
reaproveitamento de materiais despojados para os preparar para a reutilização.
ReutilizaçãoOs materiais voltam a ser
introduzidos nas mãos dos consumidores para um novo ciclo de
vida. Aterro
RefugoMaterial que não
foi possível reciclar.
Figura 3 – Esquema ilustrativo do ciclo de vida dos RSU recicláveis
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Alcançada a meta temporal do primeiro PERSU, a quantidade de resíduos enviada para aterros
ficava em larga escala aquém dos objectivos (63% alcançados vs. 23% pretendidos) como se pode
ver na figura 4. No final de 2007 muito pouco ou nada se teria alterado, mantendo-se a mesma
proporção de resíduos enviados para aterro, reduzindo a proporção de resíduos incinerados de
21% para 19%, aumentando em 4% para 11% a proporção de valorização orgânica e descendo
para 7% a parcela reciclada. Estes resultados manifestamente aquém dos objectivos devem-se
principalmente às infra-estruturas no terreno que são compostas principalmente por aterros.
Figura 4 – Comparação das metas do PERSU I com as verificadas no ano projectado
A recolha de todos estes dados é feita através do Sistema Integrado de Registo Electrónico de
Resíduos (SIRER), onde as entidades operadoras da alta preenchem o Mapa Integrado de Registo
de Resíduos (MIRR), enviando-o online para a APA. Este Sistema foi criado através do Decreto-Lei
178/2006 e visa monitorizar o destino dado aos resíduos de forma a acompanhar o cumprimento
do PERSU II.
Ao nível das Infra-estruturas existentes para a operação deste sector, o fraco investimento em
centrais de valorização energética e orgânica e em centros de triagem justificam estes dados. Em
Dezembro de 2008 existiam apenas 9 centrais de valorização orgânica em exploração, sendo que
a construção de 12 novas está prevista e 4 já estavam a ser finalizadas. Quanto à valorização
energética, existem duas incineradoras, uma na zona do Porto e outra na zona de Lisboa,
exploradas pela Lipor e pela Valorsul respectivamente. Não estavam previstas quaisquer
construções desse tipo naquela altura, como se pode verificar através do quadro 2. O grande
problema não se prende com a capacidade instalada mas sim com o facto de não haver livre-
trânsito de resíduos entre entidades exploradoras para que um equipamento possa ser utilizado
por outras entidades. Assim, o grande inibidor da pequena evolução no sentido de uma maior
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valorização é a fraca distribuição destes equipamentos pelo país e não a sua capacidade instalada
total.
Quadro 2 – Equipamentos existentes e em construção em Portugal
Infra-estrutura Previstos Obra Exploração Total
Equipamentos de Recolha Indiferenciada
Aterro 6 1 34 41
Valorização Orgânica 12 4 9 24
Valorização Energética 0 0 2 2
Estações de Transferência
1 1 77 79
Equipamentos de Recolha Selectiva
Estações de Triagem 1 0 27 28
Ecocentros 8 0 184 192
Ecopontos N/A N/A 30276 30276
Relativamente ao sector de recicláveis, o principal factor do fraco crescimento não reside na alta
onde existem 27 centros de triagem e com a previsão da construção de um novo em Mirandela,
nem na quantidade de habitantes por Ecoponto existentes, que ascende em média de Portugal
Continental aos 301 utilizando um total de 30276 Ecopontos em exploração. Este número muito
inferior aos 500 previstos no PERSU II poderia sofrer melhorias principalmente caso a adesão à
reciclagem por parte dos utilizadores crescesse conforme o objectivado, mas a verdadeira causa
dos fracos níveis de reciclagem é um elevado défice nessa adesão.
2.2.3. Organização do sector em baixa
Apoiando-se no sistema de empresas plurimunicipais para deposição dos RSU, as entidades
responsáveis pela recolha são aquelas que têm em geral maior exposição pública. O sector de
baixa considera-se toda a parcela do sistema que se prende com a recolha dos resíduos
indiferenciadamente ou selectivamente e a sua deposição nas empresas que actuam em alta. Esta
deposição pode ser efectuada ou directamente nos aterros, num estação de transferência, em
centros de triagem, em centros de valorização orgânica ou energética ou, no caso da recolha
selectiva, directamente nos retomadores.
A organização do sector no sentido dos operadores existentes complica-se bastante, não só
devido à actual falta de regulação estrutural como também devido à quantidade de municípios
existentes e consequente variabilidade geográfica e demográfica. Existem neste momento seis
tipos de entidades que efectuam a recolha dos indiferenciados nos municípios. São eles os
Serviços Municipais, que são meramente divisões de Ambiente das Câmaras Municipais, Serviços
Municipalizados que têm autonomia financeira e administrativa mas não jurídica das Câmaras
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Municipais, Empresas Municipais, ou seja, empresas independentes mas de capitais
maioritariamente ou totalmente municipais, Associações de Municípios, Empresas Intermunicipais
e Concessionárias Multimunicipais. Marginalmente existe um sistema de Concessionária Municipal,
tal como na alta, para o contrato de concessão com a FOCSA no Nordeste Transmontano. Os
municípios da Terra Quente Transmontana alargam o contrato de concessão à baixa, deixando a
Resíduos do Nordeste, EIM directamente tratar da recolha nos restantes municípios. Só o concelho
de Freixo-de-Espada-à-Cinta mantém o serviço de baixa centralizado na própria câmara municipal.
A diferença que existe entre as Concessões Municipais e as Multimunicipais prende-se com o facto
de as concessões terem sido dadas pelas próprias câmaras ou pela Associação de Municípios que
as une e terem sido dadas pelo Estado respectivamente. Outra grande diferença é que as
concessões multimunicipais são atribuídas directamente pelo estado, enquanto as Concessões
Municipais obrigam à realização de um concurso público.
A maior parte da recolha de RSU no país está a cargo das Câmaras Municipais através dos
Serviços Municipais. Em termos de população abrangida, 76% da população vê os seus resíduos
indiferenciados serem recolhidos pela Câmara Municipal, 5% tem este serviço assegurado pelos
serviços municipalizados e os restantes habitantes de Portugal Continental recaem sobre as
Empresas (público-privadas ou não).
Destas empresas, existem apenas duas Concessionárias Multimunicipais, a ERSUC e a RESAT
que juntam sob o mesmo contrato de concessão às suas responsabilidades em alta a recolha de
RSU. A ERSUC contudo não o faz em todos os municípios em que actua em alta, efectuando a
recolha de indiferenciados apenas em Mira, Montemor-o-Velho, Alvaiázere e Estarreja.
Da mesma forma, a Resíduos do Nordeste como Empresa Intermunicipal também recolhe os RSU
na área de responsabilidade do sector em alta (concessionada à FOCSA), excepto nos municípios
pertencentes à Associação de Municípios do Douro Superior, que por sua vez juntamente com a
AM do Vale do Ave constituem as únicas duas Associações de Municípios que efectuam a recolha
indiferenciada nos seus municípios. A outra Empresa Intermunicipal é a ECOBEIRÃO que dos
municípios pertencentes à AM do Planalto Beirão só não recolhe os indiferenciados em Viseu e em
Mangualde.
Quanto às Empresas Municipais, sumarizadas no quadro 3, estas poderão ser separadas em dois
tipos: as compostas por capitais totalmente públicos ou aquelas com uma contribuição privada. Em
qualquer dos casos, o controlo capitalista é sempre da Câmara Municipal onde actua. A criação
destas empresas requer a aprovação de várias entidades. No caso de Alcácer do Sal, o tribunal de
contas não aprovou a recolha de indiferenciados por parte da EMSUAS, empresa detida a 100%
pela Câmara. Desta forma continua a ser a CM de Alcácer do Sal a recolher os indiferenciados,
recolhendo a AMBILITAL os recicláveis e tendo a EMSUAS responsabilidades só ao nível da
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limpeza urbana e manutenção de edifícios. É contudo o objectivo, torná-la responsável pela
recolha de RSU na zona de Alcácer do Sal.
Quadro 3 – Empresas municipais públicas ou público-privadas em Portugal Continental
Entidade Município Estrutura Accionista
AGERE Braga Câmara Municipal 51%, Geswater, SGPS 49%
Águas da Covilhã Covilhã Câmara Municipal 51%, AGS e Hidurbe 49%
EMAC Cascais C.M. Cascais
EMARP Portimão C.M. Portimão
EPMAR Vieira do Minho C.M. Vieira do Minho
Esposende Ambiente Esposende C.M. Esposende
FAGAR Faro Câmara Municipal 51%, AGS 33, Hidurbe 16%
HPEM Sintra C.M. Sintra
INOVA Cantanhede C.M. Cantanhede
MAIAMBIENTE Maia C.M. Maia
Tavira Verde Tavira Câmara Municipal 51%, AGS 37%, Hidurbe 12%
TROFÁGUAS Trofa C.M. Trofa
A forma como estas entidades operam segue um percurso simplificado. A recolha é efectuada por
camiões que organizados por turnos e percursos percorrem todos os contentores do município com
uma frequência que depende da capacidade dos contentores e da produção por parte dos utentes.
Anexamente existe em grande parte dos municípios um serviço de recolha porta-a-porta nas zonas
mais densamente populadas, evitando assim a colocação de demasiados contentores numa via
pública já de si congestionada. Os camiões seguem então para o seu local de deposição já
pertencendo à entidade do mercado secundário que poderá ser uma estação de transferência
(existente caso compense economicamente a construção da mesma) ou directamente nos centros
de triagem, aterros ou centros de valorização. A partir daqui os RSU são da responsabilidade da
alta.
Os resíduos indiferenciados por não poderem ser reaproveitados excepto para a sua incineração
têm um valor económico negativo. A sua deposição em aterro tem custos não só de operação,
como também de investimento imobiliário e até sociais. O destino a dar aos RSU passa assim de
um problema logístico na alta para um problema económico na baixa. Isto significa que
administrativamente a única interface que existe entre as entidades em baixa e as entidades em
alta é um contrato de compra e venda de RSU acordado entre as duas entidades, que segue um
tarifário também contratado. Neste caso o comprador é a entidade de recolha, pois estará pagar
pelo serviço de deposição prestado pela entidade de tratamento.
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O mercado primário inclui a recolha selectiva que em vários casos é gerida pelas mesmas
entidades que efectuam a recolha indiferenciada. Por sua vez, por estar intimamente ligada com a
triagem e consequentemente com os equipamentos utilizados pelas concessionárias
multimunicipais é feita na vasta maioria do território pelas entidades que operam em alta. Desta
forma poupa-se uma etapa no processo administrativo, não sendo necessária a etapa de venda
dos recicláveis. A mesma entidade que está responsável por posteriormente revender os
recicláveis ao mercado terciário também efectua a recolha dos mesmos. No caso de serem
empresas separadas a fazê-lo, o sentido do contrato compra e venda é inverso ao dos RSU. Neste
caso, por haver interesse económico nos recicláveis e reutilizáveis, a compra é feita pela entidade
de mercado secundário que os irá revender já organizados por fileiras aos operadores do mercado
terciário.
A limpeza dos Ecopontos contudo pouco ou nada tem a ver com a alta, sendo a entidade que
usualmente trata da limpeza dos contentores de indiferenciados em grande parte do país a
responsável por isso. Este gesto reflecte-se num abaixamento do preço a final a pagar pela
deposição dos indiferenciados.
Em qualquer um dos sistemas acima descritos em 42% de todos os serviços de recolha selectiva e
indiferenciada são subcontratadas empresas especializadas na recolha para efectuar este serviço.
Isto não retira a responsabilidade social de efectuar o serviço com qualidade e eficácia às
entidades apontadas pelas câmaras como responsáveis (incluindo as próprias câmaras). É
também importante referir que isto não se trata de um contrato de concessão mas sim de um
contrato de prestação de serviços, ou seja, a recolha que é efectuada pelas empresas contratadas
não assume nenhum carácter de direito de exploração, responsabilidade social ou obrigação para
com os utentes. A tarefa das empresas é efectuarem um serviço que a entidade responsável
pagará.
Existem 21 empresas prestadoras de serviços agrupadas muitas vezes em consórcios ou contendo
entre si empresas que pertencem umas às outras como é o caso da maior, a SUMA, que é dona da
SERURB, STL e NOVAFLEX. Outros operadores de carácter importante no mercado são a
CESPA, ECOAMBIENTE, DIAS VERDES e RUMOFLEX, restando apenas 13% do mercado de
prestação de serviços atribuído a empresas de menor escala.
O mercado para estas empresas é de dimensões preponderantes e lucrativo, tendo os contratos
de prestação de serviço durações muito curtas que podem ir de 1 a 7 anos. Sendo contratos curtos
e em certos casos muito abrangentes em termos populacionais, os valores contratados podem ser
muito altos. As empresas prestadoras de serviços terão assim uma grande experiência, permitindo-
lhes serem muito eficientes. Contratando diversos concelhos, a sua facturação anual pode
ascender aos vários milhões de euros anuais, abrangendo mais de 2 milhões de habitantes.
18
2.2.4. Regulação do sector de RSU
A gestão de Resíduos Sólidos Urbanos faz parte dos Serviços de Interesse Económico Geral
(SIEG) (IRAR, 2004). Por não haver hipótese de criar aqui um mercado liberalizado ou mesmo por
ser essencial que estes serviços sejam desempenhados, constituem monopólios naturais.
Tratando-se de um monopólio natural, a regulação do sector é determinante na garantia de
condições aceitáveis para os utilizadores, para o estado (principal investidor) e para o ambiente
pois caso contrário os incentivos a uma melhoria na gestão, ambiente ou qualidade do serviço
seriam nulos. Ademais, com a construção dos aterros sanitários, das centrais de incineração e
outros equipamentos pagos com dinheiros estatais e com a concessão destes mesmos (aprovada
pelo Decreto-Lei nº 379/93), a regulação torna-se no único controlo directo do estado sobre o seu
investimento. Foi também neste sentido que em 1995 se criou a Comissão de Acompanhamento
das Concessões (somente dos sistemas multimunicipais) que emitia pareceres sobre os planos de
investimento e tarifários a praticar pelas mesmas. Mais tarde alargou-se o âmbito da regulação não
só no sentido das reguladas (adicionou-se as concessões municipais à lista de entidades
observadas) como no sentido da regulação em si, que passou a contar também com um processo
de benchmarking. A entidade que ficaria encarregue deste alargamento era o Observatório
Nacional dos Sistemas Multimunicipais e Municipais que nunca existiu, prevendo-se na altura para
breve a criação de um novo sistema.
Com a introdução do Decreto-Lei nº 230/97 criou-se o Instituto Regulador de Águas e Resíduos
(IRAR) que viu os seus estatutos serem aprovados em 1998 sendo posteriormente alterados
através do Decreto-Lei nº 151/2002. Neste momento é uma entidade que se assume como pessoa
colectiva de direito público e que apesar de ter património e gestão financeira próprios, vê o
Conselho Directivo ser aprovado em Conselho de Ministros. Isto demonstra também o facto de
estar sob a tutela do Ministério do Ambiente, não querendo com isto dizer que o próprio IRAR não
tenha a capacidade de “emitir instruções vinculativas” (Decreto-Lei nº 362/98). Os seus poderes
sancionatórios e punitivos são, contudo, reduzidos, optando assim por uma regulação passiva que
no entanto tem tido muito efeito.
O IRAR começou a operar em 2000 mas só a partir de 2002, com a aprovação dos seus actuais
estatutos, foi possível dar início ao processo de regulação. No segmento em alta da gestão de
resíduos sólidos urbanos, o IRAR assume um papel preponderante, dando directamente parecer
sobre as tarifas das concessões multimunicipais. Quanto à modus operandi em si o IRAR utiliza
uma regulação do tipo sunshine que consiste na apresentação dos resultados publicamente,
causando um sentimento de quase vergonha na gestão das empresas quando certos resultados
estão abaixo dos padrões expectáveis. É claro que pressões políticas e sociais também têm um
peso importante na vontade de melhoria, apesar de não existirem ordens directas de desses
grupos.
19
Estes resultados são medidos através de 20 indicadores de desempenho que reúnem em si uma
avaliação extensa da eficiência energética e económica, da qualidade de serviço e da
sustentabilidade ambiental e económico-financeira. As concessionárias são obrigadas a prestar os
dados ao IRAR através das variáveis necessárias para o cálculo destes indicadores, que
posteriormente são publicados no seu relatório anual. A representação dos resultados é, em si, um
dos factores determinantes para a eficácia deste sistema: Dependendo do grau de cumprimento
dos objectivos, é atribuída uma bola verde, amarela ou vermelha ao serviço da concessionária.
Esta representação é clara, concisa e directa, criando imediatamente uma situação de desconforto
pelo facto de ser tornado publica uma má prestação das equipas de gestão. Torna-se assim um
objectivo melhorar os resultados naquele indicador, melhorando assim também o output para os
utilizadores da entidade.
No sentido da defesa dos interesses dos utilizadores, a qualidade de serviço e a acessibilidade dos
utilizadores são os dois parâmetros a analisar. Nesse sentido os 4 indicadores medem a
abrangência do serviço e a qualidade do serviço em si (como sendo a resposta a reclamações
escritas).
Quanto à sustentabilidade da entidade gestora, esta é medida primeiramente do ponto de vista da
infra-estrutura existente, avaliando a quantidade de resíduos recolhidos por tipo e contrapondo-os
com a capacidade de encaixe nos aterros. Em segundo lugar mede-se a sustentabilidade
economico-financeira através de rácios usuais de gestão no balanço anual ou no sentido
operacional, como é o caso do indicador “Rácio de cobertura de custos operacionais”, que mede
qual a percentagem da cobertura dos gastos operacionais através das tarifas aplicadas aos
utentes. As outras três medidas de sustentabilidade recaem sobre a visão operacional da empresa,
mais precisamente as avarias que acontecem, a caracterização dos resíduos e os recursos
humanos que dela fazem parte.
Uma última medida é a sustentabilidade ambiental, que mede o respeito que a empresa tem pelo
ambiente em todas as vertentes: ar, água e terra. Estas medidas compreendem entre outras a
análise aos lixiviados, a qualidade das emissões aéreas e os gastos energéticos totais (incluindo
camiões).
20
Figura 5 – Avaliação do IRAR para uma concessionária multimunicipal Fonte: (IRAR, 2009)
O IRAR actua ainda como regulador no sentido da organização estrutural do sector, procurando
horizontalmente manter uma quantidade aceitável de entidades por área geográfica e mercado e
fomentando verticalmente as sinergias que se podem encontrar em operadores que se alinham na
cadeia de recolha, tratamento e deposição.
Em 2004 publicou o primeiro Relatório Anual do Sector de Águas e Resíduos em Portugal
(RASARP) onde publicou os resultados das suas medições. A representação dos resultados em si
é feita de duas formas: a primeira representação é por indicador, incluindo uma explicação breve
do indicador, os resultados de todas as reguladas concentrados em gráficos de barras e a
definição (e sua justificação) dos intervalos correspondentes à bola verde, amarela ou vermelha,
apresentada na figura 5. A segunda representação é por entidade, onde são sintetizados todos os
indicadores, seus valores de referência, resultados e bolas coloridas de avaliação após uma curta
apresentação da empresa, área de exploração e equipamentos em actividade.
Com a entrada do novo Decreto-Lei nº 207/2006 é proposta a alteração de nome do IRAR para
Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR). Esta alteração dará entrada
assim que for aprovado o novo diploma orgânico do IRAR que lhe dará maior autoridade
principalmente na regulação do sector em baixa. Até este ser aprovado os poderes regulatórios do
IRAR são muito limitados pelo facto de o seu estatuto não lhe dar poder sobre a gestão das
21
Câmaras Municipais, Serviços Municipalizados ou outras entidades públicas. Todos os sistemas
que não se tratem de uma concessão não estão neste momento abrangidos pela regulação do
IRAR. Isto significa a quase totalidade do território português, sendo que somente 15 concelhos
estão ao abrigo deste sistema. Contudo, estas 15 entidades coincidem com aquelas que operam
em alta sendo por essa razão já reguladas.
Com os estatutos actuais não foi assim ainda publicado, nenhum relatório de avaliação ou
comparação por parte do IRAR. Este relatório já está no entanto em processo de criação, estando
os Indicadores de Desempenho a serem neste momento definidos segundo os mesmos
parâmetros que aqueles utilizados na alta. Existe já uma proposta publicada pelo IRAR para os
primeiros 7 Indicadores a avaliar, com valores de referência já investigados, visíveis no quadro 4.
Apenas 4 empresas responderam com a informação necessária.
Quadro 4 – Indicadores de desempenho desenvolvidos pelo IRAR para a baixa
Indicador de Desempenho Valor de referência
Cobertura do Serviço (%) 100%
Preço médio do serviço (€/t) Mínimo que permita atingir a qualidade de serviço expectável
Custos Operacionais unitários (€/t) Mínimo que permita atingir a qualidade de serviço expectável
Reciclagem (%) Valor indicado pela Objectivação da APA para 2008-2011
Avarias em Equipamento Pesado (nº/1000t) 0-0.5 avarias/1000t*ano
Recursos Humanos (nº/1000t) 2.5 empregados/1000t*ano
Utilização de Recursos energéticos (l/t) 6.0 l/t
O maior peso do problema da avaliação do sector em baixa não está contudo na definição dos
Indicadores de Desempenho nem nos estatutos do IRAR. Ao contrário de algumas Empresas
Municipais (principalmente aquelas com capitais privados) que já forneceram os Indicadores
requeridos pelo IRAR para o seu estudo, as câmaras municipais e os serviços municipalizados não
estão ainda organizados de forma a poderem fornecer estes dados. Em certos casos estes dados
nem sequer existem pois não são sequer registados. No caso dos indicadores financeiros não terá
de existir uma medida de activo, passivo ou capitais próprios se a entidade de recolha se tratar
simplesmente de um departamento da câmara municipal ou dos serviços municipalizados que
apresentam as suas contas conjuntas. Quanto aos indicadores de sustentabilidade ambiental ou
qualidade do serviço, é possível que não existam registos de quantos litros de gasóleo são gastos
por percurso ou que não exista sequer uma frequência fixa para a lavagem dos contentores, sendo
a decisão tomada in loco por avaliação do trabalhador do seu estado de salubridade.
Desta forma é também através da regulação que se dará início a uma nova reorganização do
sector, não só por em certos casos se poder descobrir que a gestão da recolha de RSU, por parte
22
das Câmaras ou Serviços municipalizados, é insustentável como directamente através da
regulação de carácter estrutural que IRAR assume.
2.2.5. Tarifação
A tarifação em alta é neste momento regulada pelo IRAR. O valor de referência apontado pelo
IRAR deve “corresponder ao custo mínimo possível para o utilizador que permita o integral
cumprimento dos objectivos de qualidade de serviço (valor de custo-eficácia) numa perspectiva de
longo prazo” (IRAR, 2009). Sendo impossível avaliar convenientemente o cumprimento desta
noção, o IRAR organizou para o RASARP de 2007 os preços médios por percentis, não atribuindo
classificação às entidades reguladas como o faz para os restantes indicadores.
Este aspecto é no sentido da regulação de tarifas pouco importante, pois quanto às concessões
multimunicipais o IRAR tem o poder de interferir na definição das tarifas anuais. Desta forma, a
definição das tarifas é feita mediante uma proposta da concessionária ao Ministério do Ambiente,
do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional (MAOTDR), previamente discutida
com o IRAR. Nesta discussão, o valor resultante baseia-se nos custos operacionais estimados, nos
investimentos propostos para o ano em questão, e na remuneração esperada pelos accionistas
aquando da criação do contrato de concessão, tal como preconizado no Decreto-Lei nº 147/95 de
21 de Junho. Isto significa que os resultados líquidos deverão ser sempre positivos e supondo uma
remuneração pré-contratada para os accionistas da entidade concessionária exploradora. Este é já
um passo importante para a total autonomia financeira do sistema, seguindo um princípio do
consumidor – pagador, retirando a entrada de dinheiro público pelo menos nas concessionárias
multimunicipais.
Para as duas concessionárias municipais (FOCSA e ZAGOPE) as tarifas aplicadas constam no
contrato de concessão bem como as suas actualizações, sendo assim negociadas com o
concedente, não tendo o IRAR qualquer influência.
Em baixa o sistema assume um carácter bastante mais complexo pela dificuldade de avaliar quem
é o consumidor quando a recolha não é efectuada porta-a-porta. Assim, na maior parte dos casos
abrangendo 8.4 milhões de habitantes a tarifa de resíduos sólidos vem indexada à factura de
saneamento ou abastecimento de água mesmo que a entidade responsável não seja a mesma,
como é o caso da HPEM, EM de Sintra que efectua a recolha de RSU e os SMAS Sintra que
abastecem o município de água e efectuam o seu saneamento. A factura é apresentada como um
serviço integrado, onde a parcela de Resíduos Sólidos é usualmente composta por uma parte fixa
cujo valor depende da disponibilidade ou não e do facto de o utilizador ser doméstico ou não
doméstico e um parte variável que é usualmente uma percentagem do preço total pago pelo
consumo de água ou o equivalente em escalão e unidades por escalão ao consumo de água (com
23
um preçário aplicado separadamente aos RSU). Na figura 6 demonstra-se o exemplo de uma
factura deste tipo. Isto significa que não existindo qualquer forma de saber qual a capitação de
resíduos que uma determinada habitação deposita nos contentores, se assume que esta seja
proporcional ao seu consumo de água, não havendo qualquer estudo que demonstre que esta é
uma hipótese acertada.
Figura 6 – Factura tipo dos SMAS de Loures
No caso da remoção porta-a-porta, seria possível medir a quantidade recolhida por morada.
Contudo, este seria um processo moroso, dificultando o trabalho dos cantoneiros de recolha e
além do mais desrespeitante de uma equidade socioeconómica essencial neste tipo de serviços. A
forma como se poderá executar a política do utilizador - pagador tem sido discutida em vários
congressos da OCDE também ao nível da recolha de resíduos. Não só no sentido de avaliar com
mais exactidão a quantidade de resíduos que cada habitação produz, mas também no sentido de
responsabilizar o utente dos custos ambientais que existem no enchimento do aterro. Esta dúvida
aplica-se no entanto com mais importância nos países onde nem sequer existe um sistema de
indexação dos resíduos à factura da água e onde a recolha de RSU é paga juntamente com o
imposto municipal ou outro imposto mais direccionado sem qualquer distinção de qual habitação é
responsável por qual quantidade. O sistema que neste momento vigora na grande parte do
território nacional, apesar de injusto no sentido de não determinar ao certo qual a quantidade
correcta que cada habitação depôs, aponta no mínimo para um zonamento cada vez mais
detalhado dos consumos. Além disso, sendo que as tarifas da alta já são determinadas de forma a
haver resultados líquidos positivos da utilização dos aterros, basta que o mesmo seja feito na baixa
para que o princípio do utilizador pagador seja quase totalmente e individualmente aplicado em
Portugal.
24
Como se verifica na figura 7, além do sistema indexado às águas, o resto do território nacional usa
dois sistemas diferentes: ou não é aplicado qualquer tarifário, vindo no final a ser cobrado muito
indirectamente pelos impostos municipais e em certos casos até centrais, ou o valor é indexado a
outras variáveis que não a água ou saneamento. Neste último caso utiliza-se em 31 municípios
como justificação para um aumento ou diminuição da factura de RSU “as características rurais ou
urbanas do local servido, a frequência de remoção ou o sistema de remoção da área de habitação”
(IRAR, 2009).
Uma forma que já está a ser estudada de medir os consumos pessoais é através dos próprios
Ecopontos ou Ecocentros. Cada utilizador terá a sua própria identificação e ao depositar os
resíduos estes serão pesados e associados à sua conta. Assim saber-se-á quanto é que cada
habitante depositou. O único problema grave deste método, que é também uma das razões de
ainda não ter sido implementado por exemplo em Portimão, é o facto de requerer o cumprimento
ordeiro do depósito de resíduos por parte dos utilizadores. Existe o perigo de os utilizadores
deixarem os resíduos na rua para que não lhes seja imputada nenhuma quantidade de resíduos
depositada, ficando assim só com a parcela fixa a pagar.
Apesar de na grande parte do território haver um pagamento dos serviços de baixa indexado a
factores que experimentam medir cada vez mais fielmente a capitação, existe ainda um grande
défice tarifário neste serviço de remoção de RSU. 70% dos custos totais continuam a ser
suportados pelas autarquias, sendo necessário canalizar verbas de outros departamentos muitas
vezes obtidas através de eventos pontuais (como licenças de utilização de espaço público) para
cobrir este custo fixo e crescente de remoção de RSU (IRAR, 2009).
Figura 7 – Distribuição do modo de tarifação por utilizador em Portugal. Fonte: (IRAR, 2009)
Esta situação é a longo prazo insustentável, levando ao endividamento das câmaras municipais
devido a custos fixos. A tendência é assim um aumento significativo das tarifas que inevitavelmente
terá de ser feita através de uma sensibilização da população e de uma coragem e vontade política
que até ao momento não existiu.
25
As diferenças no território, nos sistemas tarifários e na demografia em cada concelho levam assim
a uma enorme disparidade de tarifários entre as várias autarquias e empresas. Os custos anuais
variam entre os cerca de 200€ e a total isenção, distribuindo-se como demonstrado na figura 8. Isto
causa uma enorme disparidade social em Portugal sendo que como Serviços de Interesse
Económico Geral, com uma caracterização de monopólio é essencial que haja justiça tarifária e
equilíbrio na qualidade de serviço.
Figura 8 – Distribuição das tarifas nos utilizadores por município. Fonte: (CESUR, 2007)
É nesse sentido que se irá seguir, pois tal como são determinados pelo IRAR os tarifários para as
concessionárias, com a aprovação dos seus novos estatutos os seus poderes regulatórios poderão
também regular os tarifários em baixa, atribuindo, mesmo que através de um aumento progressivo
e moroso das tarifas, os custos de remoção dos RSU nos concelhos e deposição em alta aos
habitantes desse concelho.
Assim, o IRAR fará aprovar o projecto de regulamento tarifário que se encontra em fase de
conclusão, cujo âmbito será alargado a todos os serviços de gestão de resíduos ao invés de
somente as concessionárias. Com isto, seguir-se-á o princípio de recuperação de custos
semelhante à proposta para as águas através da Lei nº 58/2005 de 29 de Dezembro. Nesta, as
directrizes a adoptar prendem-se com o “assegurar tendencialmente e em prazo razoável a
recuperação” do investimento inicial, investimentos posteriores, manutenção e renovação de
equipamentos. Aos investimentos juntam-se os custos de operação e pagamento da taxa de
recursos hídricos, assegurando “a eficácia dos serviços num quadro de eficiência de utilização dos
recursos necessários (…)”, deixando ainda uma margem de lucro para garantir uma “adequada
remuneração dos capitais próprios da concessionária”. No seu documento o IRAR acrescenta
custos de financiamento e os custos de tributação ou impostos.
A este princípio descrito na Lei nº 58/2005 juntam-se outros dois aplicáveis aos resíduos sólidos:
Princípio da prevenção e redução da produção através das tarifas, que fomenta de uma forma
geral o decréscimo da deposição dos indiferenciados através de uma menor produção e uma maior
26
separação e o Princípio da transparência, que requer uma justificação clara da definição do valor
da tarifa.
A forma apresentada pelo tarifário em si estará regulamentada de acordo com aquilo que é já
praticado em grande parte dos concelhos nacionais, ou seja, terá uma componente fixa
dependente do facto de o utilizador ser doméstico ou não doméstico e uma componente variável
dependente da quantidade consumida.
Quanto à forma de implementar este novo regulamento, o IRAR, que na altura já se denominará
ERSAR, irá emitir recomendações e pareceres não vinculativos, obrigando, contudo, as entidades
a aprovar os seus tarifários segundo o novo regime.
Este novo regulamento permitirá uma uniformização gradual dos tarifários, uma cobertura total dos
custos por parte dos tarifários, fornecendo autonomia financeira ao sistema ao sobrepor-se a
receios políticos em efectuar aumentos dos tarifários através das câmaras, criando interesses
económicos superiores no sector e consequentemente fomentando a criação de cada vez mais
empresas independentes e uma entrada cada vez mais preponderante de capitais privados no
sistema.
2.2.6. Participação de capitais privados
As parcerias público-privadas, como definidas no Decreto-Lei nº 86/2003 de 26 de Abril
posteriormente revisto e alterado pelo Decreto-Lei nº 141/2006, consistem num contrato entre o
Estado ou qualquer empresa pública de capitais públicos e uma empresa privada para fins de
concessões diversas. Estando o sector dos resíduos integrado nesta definição, é importante
admitir que a entrada de capitais privados é possível e bem-vinda. Como é comprovado também
no sector, o investimento inicial será maioritariamente público ficando a exploração e financiamento
das restantes actividades a cargo do parceiro privado. A responsabilidade do cumprimento do
serviço público mantém-se, todavia, no lado público. No quadro 5 apresentam-se os actuais
modelos de gestão existentes em Portugal para entidades onde a titularidade é estatal.
Quadro 5 - Modelos de gestão utilizados em sistemas de titularidade estatal
Fonte: (IRAR, 2009)
Modelo Entidade Gestora Tipo de Parceria
Gestão Directa
Estado (não existe actualmente qualquer caso)
Sem Parceria
Delegação Empresa pública (existe apenas o caso da EPAL nas águas)
Sem Parceria
Concessão Entidade Concessionária multimunicipal
Parceria Público-Pública (Estado e municípios), podendo evoluir para público-privada (Estado, municípios e entidades privadas)
27
Segundo o Decreto-Lei nº 372/93 o acesso à recolha e tratamento de resíduos sólidos “é vedado a
empresas privadas e a outras entidades da mesma natureza”, tratando-se desta afirmação tanto
para sistemas multimunicipais. Assim, o único acesso possível à exploração destes serviços
públicos será através do contrato de concessão assinado por uma entidade pública com uma
empresa cujos capitais, apesar de poderem ter uma participação privada, deverão ser
maioritariamente públicos. Já nos sistemas municipais, é permitida a concessão a empresas
totalmente privadas. Ambos os casos previstos neste Decreto-Lei podem ser observados no
mercado português através das concessionárias multimunicipais cujo accionista maioritário é a
empresa pública EGF e através das duas concessionárias municipais, a FOCSA e a ZAGOPE
pertencentes na sua totalidade a empresas privadas espanholas e brasileiras respectivamente.
Neste caso, sendo que estas exploram mais do que um município cada uma, o Decreto-Lei nº
147/95 obriga-as a separarem-se por sistemas independentes com “contabilidade própria e
autónoma, por forma a permitir um controlo efectivo da sua gestão”. Ainda ao abrigo do Decreto-
Lei nº 147/95, qualquer funcionário das autarquias locais poderá vir a desempenhar funções numa
dessas empresas concessionárias ou parcerias público-privadas. Tal como no quadro 5,
apresentam-se no quadro 6 os modelos de gestão utilizados em sistemas de titularidade municipal
ou intermunicipal.
Quadro 6 – Modelos de gestão de sistemas de titularidade municipal ou intermunicipal
Modelo Entidade Gestora Tipo de Parceria
Gestão directa
Serviços Municipais Sem Parceria
Serviços municipalizados Sem Parceria
Associação de municípios Parceria público-pública (vários municípios)
Delegação
Empresa municipal, intermunicipal ou metropolitana constituída nos termos da lei comercial
Sem parceria ou com parceria público-pública ou público privada (municípios e entidades privadas)
Entidades empresariais locais (municipais, intermunicipais ou metropolitanas)
Sem parceria ou com parceria público-pública
Junta de freguesia e associação de utilizadores Parceria público-pública (município e junta de freguesia ou associação de utilizadores)
Concessão Entidade concessionária municipal Parceria público-privada
Fonte: (IRAR, 2009)
O Decreto-Lei nº 379/93 de 5 de Novembro vem sumarizar o regime legal das concessões e
estrutura do mercado de resíduos sólidos, estabelecendo as bases para os contratos de
concessão. Baseando-se nos princípios da prossecução do interesse público, do carácter
integrado dos sistemas, da eficiência e da prevalência da gestão empresarial, estabelece entre
outras, as regras de pertença dos equipamentos utilizados e de responsabilidades sociais afectas
à exploração. Desta forma, define a titularidade dos equipamentos como sendo das
concessionárias até ao termo do contrato, voltando a propriedade, mesmo que investimentos ou
28
manutenções privadas tenham sido feitas, para o Estado ou Município (dependendo de se tratar de
um sistema multimunicipal ou municipal).
Como artigo mais relevante, o 10º obriga à realização de concurso público para qualquer
concessão, deixando para trás qualquer perigo de conluio ou aproveitamento de negócio em
detrimento de uma qualidade elevada e eficiente do serviço público.
2.2.7. Operadores e grandes números
Em 2007 foram recolhidos no total 4.698.774 toneladas de resíduos urbanos indiferenciados e
recicláveis em Portugal. Per capita e já incluindo o crescimento da população revela-se na
produção de 1,27 kg por dia por pessoa de resíduos produzidos, mantendo-se ao mesmo nível de
2006, apesar dos apelos e publicidade visíveis e também constantes no PERSU II à redução da
produção na fonte. Estes dados são como referido reportados à APA através do SIRAPA, sistema
do SIRER.
No sentido da separação desta enorme quantidade de resíduos por tipo de deposição, 3.007.215
toneladas foram encaminhadas para aterro. Este valor representa 64% de todos os resíduos
recolhidos e compreende os resíduos directamente encaminhados para aterro e aqueles rejeitados
das duas valorizações enviados directamente para aterro (compostagem e incineração).
A quantidade efectivamente incinerada ascendeu às 845.779 toneladas, correspondendo a 18% do
total de resíduos. Esta é composta não só pelos resíduos recolhidos indiferenciadamente e
encaminhados directamente para incineração como também aqueles que não sendo aproveitados
para valorização orgânica após terem sido para lá encaminhados, são reaproveitados
energeticamente.
Quanto à valorização orgânica, esta foi inferior à energética, registando apenas 11% do total de
Resíduos Urbanos produzidos, ou seja, cerca de 516.865 toneladas. Este valor representa um
enorme acréscimo relativamente aos 6.4% de 2006, principalmente devido à conclusão da
construção de novas centrais de valorização orgânica e da entrada em funcionamento do PERSU
II que visa a diminuição da deposição em aterro de RUB.
Em termos selectivos, recolheram-se apenas 8% do total de resíduos, contrastando com os 10.5%
do ano anterior e correspondendo modestamente a 375.901 toneladas. A grande inovação neste
sector é os RUB, que podem ser valorizados organicamente. Em 2006, 9% de toda a recolha
selectiva deveu-se a esta fileira. Nota-se que o acréscimo em valorização orgânica total é
justificado pelo superior empenho das entidades em criar novas fileiras e novos incentivos a esta
forma de tratar RSU. A recolha selectiva em si decresceu significativamente (quase 4%)
relativamente a 2006. É importante que exista um avanço mas estas taxas de crescimento não
29
consolidadas e, por vezes negativas como se verificou em 2007, não são suficientes para em curto
prazo corrigir a derrapagem nos objectivos a este nível que se deu no primeiro PERSU.
Note-se que da recolha selectiva nem tudo é reciclado, sendo parte encaminhada para aterro e
outra parte valorizada organicamente após passagem pelo centro de triagem. Em 2007, apenas
7% dos resíduos foram reciclados, tendo este número descido de 8% em 2006.
Relativamente à caracterização física dos RSU depositados, estes variam pouco de ano para ano,
sendo que os hábitos de consumo dos habitantes nacionais também não mudam drasticamente
em curtos espaços de tempo. Em Portugal e em 2007 35.9% de todos os resíduos depositados
eram matéria orgânica. Esta pode na grande parte dos casos ser valorizada organicamente,
verificando-se que o problema de não ser superior a parcela de valorização orgânica reside nos
hábitos de deposição dos utilizadores ou na falta de equipamentos existentes para que esta
parcela aumente. Da mesma forma se pode apontar para a parcela de papel que é reciclável na
sua quase totalidade e por ano é deposta mais de duas vezes a quantidade de papel do que o total
dos resíduos recolhidos selectivamente (APA, 2007).
Quadro 7 - Caracterização física típica dos RSU
Componente Matéria
Orgânica Papel/ Cartão Plástico Vidro Têxteis Metal Madeira Finos Outros Total
% 36% 24% 11% 6% 3% 2% 0% 12% 6% 100%
Fonte: APA Online
Observando o quadro 7 pode verificar-se que a quase totalidade dos resíduos pode ser
reaproveitada tanto para valorização como para reciclagem, deixando uma ínfima parte para
aterro.
Quadro 8 - Resultados da Sociedade Ponto Verde (em toneladas de resíduos de embalagens)
Ano/Material Vidro Papel/Cartão Plástico Metal Madeira Total
1998 491 483 280 240 1495
1999 17814 4032 1003 586 42 23477
2000 56617 30332 4236 11720 98 103003
2001 68275 71546 10870 19493 2439 172622
2002 75681 79692 15151 20344 2635 193502
2003 91141 88680 20534 14670 3655 218679
2004 105911 119031 26018 14979 4893 270832
2005 120917 164473 32114 24926 6163 348594
2006 133292 165013 24860 31200 15468 369833
2007 151111 217343 33396 35568 27161 464581
2008 168215 247067 53436 37855 28462 535035
Fonte: SPV Online, 2009
30
A mentalidade de evolução no sentido da reciclagem dos portugueses é passível de se ver nos
resultados da Sociedade Ponto Verde representados no quadro 8. Aqui nota-se uma clara
tendência de crescimento consolidado ao longo dos últimos 10 anos da reciclagem de embalagens
de vidro, cartão, plástico, metal e madeira. O crescimento é impressionante, sendo nos últimos dois
anos (de 2006 para 2007 e de 2007 para 2008) de 25% e 15% respectivamente.
Podemos a partir daqui deduzir que os consumidores têm compreendido as mensagens da
Sociedade Ponto Verde e estão com uma tendência superior para reciclar as embalagens que
utilizam. Contrapondo este facto, no final de 2008 haviam sido declaradas 1.090.882 toneladas de
embalagens e resíduos de embalagens, cerca de 7% mais que no ano de 2007, julgando pelos
dados da figura 9. Isto quer dizer que os resultados positivos não se prendem só com os hábitos
de deposição de RSU dos portugueses, mas também com os seus hábitos de consumo,
aumentando o número de embalagens produzidas industrialmente.
Figura 9 - Totais de embalagens declaradas pelos produtores. Fonte: SPV Online
Com a entrada do PERSU II ou horizontes temporais e as metas ganharam novo fôlego neste
sentido. São propostas três metas temporais tal como as próprias directivas comunitárias indicam
(apesar de desfasadas no tempo): 2009, 2011 e 2016. Fazendo uma visão a longo prazo, torna-se
interessante observar apenas as metas em 2016 num cenário moderado.
Os Resíduos de Embalagens reciclados deverão aumentar substancialmente, atingindo os 55% a
80% já em 2011 com principal peso para o vidro e o cartão. Também os RUB deverão deixar de
ser depositados em aterro, sendo a meta final em Janeiro de 2016 de valorizar organicamente
65%.
Quanto à quantidade de RSU total, o objectivo representado graficamente na figura 10 é decrescer
a variação de produção, chegando a 2016 com um decréscimo anual de 1%. Isto reflectir-se-á
conjuntamente numa encaminhamento total para aterro em 2016 de apenas cerca de 1.000.000
toneladas anuais num cenário moderado, representando 23% do total. Quanto à incineração ou
valorização energética, os objectivos já foram cumpridos em 2006, fixando-se para 2016
igualmente em 21%. As novidades ocorrem principalmente na recolha selectiva de RUB que
deverá ascender aos 9% do total de RSU e no crescimento significativo do Tratamento Mecânico e
31
Biológico, ou seja valorização orgânica de até 27% do total através da compostagem e da digestão
anaeróbia.
Figura 10 – Cenário moderado previsto no PERSU II para o encaminhamento dos RSU. Fonte: (Pires et al., 2006)
No final de 2007 as metas ainda estavam longe de serem alcançadas. Contudo, apesar de o
PERSU II ter sido elaborado em 2006 e consequentemente com dados de 2005, este só entrou em
vigor em 2007. Desta forma é neste momento que se começará a observar melhorias nos
resultados e na caracterização dos encaminhamentos dos RSU, resultantes dos investimentos em
equipamentos e em sensibilização dos utentes.
É importante referir que todas as entidades participantes neste mercado têm não só o interesse
como a responsabilidade de sensibilizar as populações para a separação dos seus resíduos e
depósito em Ecopontos. Observando os sítios na internet das entidades de recolha ou gestão em
alta, verifica-se que existe já uma grande preocupação em sensibilzar os utentes da necessidade
de baixar os níveis de deposição em aterro. Também a apresentação pública dos Ecopontos
assume um carácter cada vez mais apelativo e intuitivo para sua utilização, sendo por exemplo em
boa parte do Algarve chamados de “Ilhas Ecológicas”. Também o investimento na sensibilização
da população mais jovem é patente como se pode ver na figura 11, havendo actividades ou jogos
interactivos que fomentam o cuidado ambiental também ao nível dos Resíduos Sólidos Urbanos.
Figura 11 - Aplicação Interactiva para crianças da EMAC (EM. de Cascais)
32
3. ESTADO DA ARTE
3.1. Introdução
A crescente preocupação dos serviços públicos em melhorar a eficiência dos dinheiros empregues
levou a que em todo o Mundo sistemas de avaliação de desempenho fossem desenvolvidos. Em
Portugal o SIADAP, agora em andamento, visa também segundo um sistema de avaliação de
desempenho pôr em perspectiva qual a eficiência e eficácia dos serviços públicos incluindo os
Ministérios, as Universidades, as Escolas ou, duma forma geral, todos os serviços estatais e todas
as pessoas. Estas avaliações de carácter regulatório e controlador visam manter sob uma gestão
descentralizada o cumprimento dos objectivos e articulação com os trabalhadores. No caso
português, esta está a cargo do Conselho Coordenador da Avaliação de Serviços (CCAS).
Paralelamente, nas empresas privadas surgiu e começou a ser prgressivamente implementado o
Balanced Scorecard, desenvolvido nos Estados Unidos em 1992. Lá, cada vez mais empresas
aderiram a esta metodologia de gestão estratégica, obtendo resultados muito positivos. Na Europa
as empresas privadas começaram também a aderir e a implementar o BSC, conseguindo com este
melhorar a sua eficiência geral. As próprias consultoras começaram a inclui-lo como ferramenta de
trabalho, implementando-o crescentemente, como se verifica na figura 12.
Figura 12 – Evolução da utilização do BSC e da satisfação dos clientes pela Consultora Bain
Fonte: Bain & Co. Online
Assim, após a criação do método por Robert S. Kaplan e David P. Norton (1992), vários artigos
sobre a implementação deste método foram desenvolvidos, inclusive pelos próprios autores. Estes
aproveitaram o sucesso obtido com a sua obra-prima, publicando pequenas melhorias no método e
pormenorizando através de livros algumas componentes que tinham introduzido no seu artigo
inicial. As próprias empresas que haviam implementado o método começaram também elas e
disponibilizar informação, partilhando a sua experiência (Zaman, 2003).
Com a crescente vontade de avaliar o desempenho nos serviços públicos no início do século XXI e
com o Balanced Scorecard a mostrar-se uma metodologia com sucesso, vários autores incluindo
os criadores decidiram cruzar os dois caminhos. A ideia surge em primeiro lugar para organizações
Utilização total Satisfação total
33
sem fins lucrativos e organizações governamentais (onde a componente financeira poderia ter
menos significado e assim desequilibrar o próprio Scorecard), adaptando a metodologia de forma a
dar mais peso aos utilizadores ou consumidores e menos peso ou lucro do ponto de vista
financeiro (Niven, 2003). Nos Estados Unidos é extensa a literatura sobre a avaliação de
desempenho nos serviços públicos baseada no BSC. Surge então a hipótese de aplicar a serviços
públicos em Portugal, onde o Instituto Nacional de Administração (INA) tem um papel importante
com seminários e cursos referentes a esta metodologia. O intuito é conseguir que os indicadores
para o SIADAP sejam cumpridos através de uma metodologia interna, vindo o cumprimento dos
objectivos previstos pelo SIADAP automaticamente do Balanced Scorecard (Simões Pinto, 2008).
3.2. Objectivo dos estudos
Na definição inicial do Balanced Scorecard como metodologia, os seus autores pretendiam a
substituição das metodologias anteriores em detrimento desta única como ajuda à gestão
estratégica de uma empresa. Significa isto que não seriam necessárias análises ABC ou métodos
de Customer Relationship Management (CRM) para que esta ferramenta funcionasse. Este ponto
de vista veio a ser alterado posteriormente por Robert S. Kaplan através do seu artigo “Integrating
Shareholder Value and Activity-Based Costing with the Balanced Scorecard” (2001). Evoluiu-se
então no sentido da harmonização das metodologias anteriormente utilizadas, aproveitando-as
para medir uma das perspectivas individualmente (provado no caso da análise ABC com a
perspectiva interna ou operacional do BSC). Esta evolução vertical dos objectivos dos estudos foi
criada pelos próprios autores e também pelas consultoras e outros institutos que se dedicaram à
propagação e desenvolvimento do Balanced Scorecard, como é o caso do Balanced Scorecard
Institute, nos Estados Unidos. Mesmo na Europa existem dúvidas sobre o funcionamento da
comunicação entre perspectivas, propondo algumas melhorias (Norreklit, 2000).
No sentido horizontal, ou seja, na diversidade de aplicadores do BSC, a evolução também foi
gradual. A própria metodologia foi desenvolvida através de um estudo aplicado a 12 empresas
privadas. Nos Estados Unidos a adesão foi quase imediata para esse ramo. Em 1997 Kurtzman
revela um estudo dizendo que 64% de todas as empresas inquiridas (dentro de um universo
puramente norte-americano) estavam a experimentar algum tipo de método de avaliação de
desempenho balanceada (Kurtzman, 1997). Em 2000, Walsh confirma (Counting for Local
Experience) dizendo que 40 a 60 por cento das grandes empresas americanas o utilizam. Também
na Austrália, 33% das empresas inquiridas num estudo bastante posterior (em 2003) tinham
implementado o BSC (Zaman, 2003). Quer isto dizer que o Balanced Scorecard, como ideia
revolucionária de avaliação de desempenho e ajuda à gestão estratégica que foi no início dos anos
90, veio modificar a forma de avaliação das empresas privadas.
34
Mas será que é assim tão revolucionária? O Balanced Scorecard assemelha-se na sua essência
em grande escala ao “Tableau de Bord”, aplicado por empresas francesas desde há mais de
cinquenta anos (Epstein & Manzoni, 1998). E não só, desde sempre existiu uma tentativa de
balancear operações dentro de uma empresa. A grande questão aqui é que apesar de existirem
várias metodologias aplicadas em empresas europeias, é das escolas americanas que saem os
mais importantes estudos sobre gestão e assim existe um desfasamento inevitável. A aplicação na
Europa também teve sucesso, sendo, contudo, menos pronunciada. Teemu Malmi (2001) esteve
dois anos a pesquisar empresas em seminários e apresentações na Finlândia e apenas encontrou
27. O mesmo autor cita uma tese publicada dois anos antes dizendo que apenas 30% das
empresas Finlandesas utilizavam qualquer tipo de método balanceado de avaliação de
desempenho ou gestão estratégica (Pere, 1999). Também no resto da Escandinávia apenas 27%
de 236 empresas inquiridas responderam afirmativamente à implementação do Balanced
Scorecard (Kald & Nilsson, 2000).
Estes estudos demonstram o intervalo temporal entre empresas americanas e empresas europeias
na implementação da metodologia. Em Portugal o intervalo será ainda maior. Num estudo de 2000
apenas 14% das empresas tinha o BSC implementado e 7% estava a começar a implementar
(Rodrigues & Sousa, 2001). Este estudo, composto pelas 200 maiores empresas portuguesas da
altura das quais apenas 30% responderam, demonstra a pouca propagação do BSC em Portugal e
daí o tardio começo da sua implementação no sector público.
Em 2001 os autores voltaram a publicar um livro, desta vez numa retrospectiva das aplicações da
sua criação. Neste sumarizam diversos casos de estudo aos quais tiveram acesso em três tipos
diferentes de organizações: Empresas privadas, Agências governamentais e organizações sem
fins lucrativos (Kaplan & Norton, 2001).
Sumarizando os artigos editados desde a criação da metodologia, existem mais de mil artigos de
investigação ou aplicação. Estes recaem principalmente sobre a aplicação a empresas privadas,
onde se contavam em Junho de 2005 mais de 830 artigos listados sob a plataforma online
ABI/Inform. Destes, mais de 800 comentam positivamente sobre a aplicação dos diversos
Balanced Scorecard. À mesma data, apenas 47 falavam sobre agências governamentais ou
organizações sem fins lucrativos (Yeung & Connell, 2006).
Relativamente aos serviços públicos locais, não existem estudos criados no sentido de
desenvolver novos métodos que sejam revolucionários na estruturação do problema. Aqueles
existentes para as duas vertentes preconizadas são utilizados frequentemente nos serviços locais.
A questão abordada é quem será no final o principal beneficiário? O utente ou - no caso de ser
uma entidade com capitais privados - o accionista?
35
3.3. Técnicas adoptadas
Diferentes objectos de aplicação justificam a distinção entre duas técnicas distintas em que o
Balanced Scorecard é adoptado.
Na disposição original (Kaplan & Norton, 1992) todas as perspectivas são postas num mesmo
plano, podendo as perspectivas financeira e do cliente serem tidas como uma consequência do
sucesso obtido nas outras. No entanto, com o desenvolver das aplicações, estes vêm a admitir
cedo (Kaplan & Klein, 1995) que a perspectiva financeira é posta no topo. Afinal, a maior parte das
empresas privadas têm como principal objectivo criar valor para os accionistas. Daqui
desenvolvem-se as restantes perspectivas, organizadas por objectivos estratégicos, de forma a
cumprirem com os objectivos delineados na perspectiva financeira. Esta constitui a primeira técnica
adoptada para a implementação desta metodologia. É também a mais extensa pois é esta técnica,
aquela que faz mais sentido para companhias privadas.
A segunda técnica recai simplesmente numa alteração da ordem de importância alocada às
perspectivas. Sendo natural que uma agência governamental ou uma organização sem fins
lucrativos não tenha como principal objectivo o lucro, pode deixar de fazer sentido dar uma
importância maior à perspectiva financeira. Neste caso é dado um maior ênfase em primeiro lugar
à missão e à perspectiva do utente ou utilizador.
Pode organizar-se por estas duas “escolas” a apresentação de um Balanced Scorecard, mas cada
empresa ou cada organização terá de criar o seu à medida. Cada tipo de negócio terá os seus
próprios desafios e cada empresa a sua própria estrutura e objectivo. Daí que as técnicas
adoptadas sejam muitas e muito dispersas dentro e fora do universo do Balanced Scorecard. Ao
identificarmos esta metodologia como aquela utilizada em qualquer empresa, devemos certificar-
nos que as perspectivas são sempre as mesmas quatro e que o principal objectivo destas é o de
facilitar a comunicação entre elas.
Exemplo desta característica mutante da técnica adoptada é a aplicação a empresas
independentes detidas pelo estado ou municípios (Kalagnanam, 2004), onde são postas estas
duas perspectivas no topo do Balanced Scorecard.
3.4. Aplicação no sector privado
Na aplicação do Balanced Scorecard a empresas privadas, é possível encontrar estudos em todo o
mundo. É claro que a principal aplicação e mais imediata se deu nos Estados Unidos, onde a
metodologia foi criada. Os estudos mais importantes neste sentido foram editados pelos próprios
autores que, apercebendo-se das várias fragilidades da sua criação penetraram por uma ajuda à
sua aplicação, deixando para trás o carácter introdutório.
36
Na introdução do Balanced Scorecard os autores começam por expor as diversas perspectivas,
sem qualquer tipo de forma de as orientar a não ser com a afirmação que elas estão interligadas e
que o cerne da questão seria a boa comunicação entre elas (visível na figura 13) (Kaplan & Norton,
1992). A introdução à noção de gestão por objectivos e medidas nas quatro perspectivas é
apresentada, mas é deixada de parte qualquer informação sobre indicadores de desempenho,
relação prática entre as perspectivas e mapas estratégicos.
Figura 13 – Organização original do BSC prevendo objectivos e medidas interligadas. Fonte:
(Kaplan & Norton, 1992)
Daí que logo depois seja editado um novo artigo pelos autores com maiores esclarecimentos. É
introduzida a noção de indicadores de desempenho e é organizada a ideia de estratégia
decomposta em objectivos, indicadores e metas (Kaplan & Norton, 1993).
Pouco tempo depois começam a surgir as primeiras implementações desta estratégia e Kaplan
publica para os seus alunos um caso de estudo onde já se vislumbram alguns objectivos
estratégicos mais precisos e uma melhor orientação das perspectivas (Kaplan & Klein, 1995). Aqui,
ao invés de haver uma comunicação desorganizada entre as perspectivas, existe um esquema em
pirâmide, cujo topo é ocupado pela perspectiva financeira, tratando-se de uma empresa privada
com o objectivo de recolher lucros. A este esquema o autor referia-se na altura como Strategy Tree
ou em português, árvore estratégica (figura 14).
Após um último artigo que, por um lado, fecha a fase de criação e apresentação da metodologia e
por outro sintetiza a ideia de utilizar o BSC não como um sistema de avaliação de desempenho
mas sim como um sistema de gestão estratégica (Kaplan & Norton, 1996), os autores editam um
37
livro que compila toda a informação e introduz alguns casos de estudo de sucesso nas empresas
privadas (Kaplan & Norton, 1996).
Figura 14 – Objectivos estratégicos do BSC para o banco químico. (Kaplan & Klein, 1995)
Tal como os autores tentavam promover a sua metodologia através da apresentação de casos de
estudo de sucesso, outros descobriam pequenas falhas no sistema ou introduziam novas ideias
para serem desenvolvidas através desta metodologia inicial.
As principais críticas são tecidas por Norreklit (2000) e dizem respeito à organização estratégica do
Balanced Scorecard. O facto de este ser organizado de forma descendente pode levar à simples
medição de desempenho ao invés de uma gestão estratégica interdepartamental. Desta forma
propõe formular a estratégia ainda antes de criar o Balanced Scorecard específico à empresa. Do
ponto de vista organizacional exige do Balanced Scorecard a orientação das medidas passo a
passo para cada um dos intervenientes, afirmando que “(…) se assim não for o Balanced
Scorecard não terá sucesso(…)”. Também Paul R. Niven (2002), que mais tarde vem a assumir
uma grande preponderância ao propor o Balanced Scorecard para agências governamentais e
organizações sem fins lucrativos, critica o facto de não ser introduzida nenhuma forma de
comunicação entre as diferentes perspectivas.
Omissões relativamente às linhas de orientação para a comunicação, tecnologia, mundo exterior e
ambiente competitivo, remuneração e motivação dos trabalhadores são identificadas por diversos
autores. Estas críticas podem ser organizadas em três tipos: Críticas conceituais, estruturais e de
gestão (Attadia et al., 2003). Estas definem respectivamente o conceito de Balanced Scorecard,
como metodologia apoiada nas escolas prescritivas de estratégia, a estrutura, no sentido de ser
organizado por perspectivas e a forma como estas se balanceiam e a gestão, ou seja, as falhas na
implementação por omissões de linhas de orientação ou por erros nas mesmas.
38
A resposta a estas críticas aparece, em grande escala, em 2001 com a introdução dos mapas
estratégicos. Através destes os autores propõe uma “arquitectura genérica para descrever uma
estratégia”. Quer isto dizer que fica especificada a corrente de informação e comunicação entre
perspectivas, é trazida a estrutura e objectivos da empresa para dentro do Scorecard e são
finalmente definidas medidas específicas dentro de cada perspectiva (Kaplan & Norton, 2001).
Este estudo não retira, contudo, a importância ao guia de implementação de Niven (2002) que põe,
de uma forma detalhada, todos os processos necessários para a integração de um Balanced
Scorecard numa determinada empresa (quer isto dizer que especifica os intervenientes, as
reuniões necessárias ou até os órgãos a criar para que o Balanced Scorecard tenha sucesso). Tal
como Kaplan e Norton (2001), o autor também utiliza alguns exemplos e casos de estudo. Em
2006 este livro é revisto e é escrita uma segunda edição onde as principais diferenças se
encontram , segundo o autor, “(…) num número de tópicos que ainda eram relativamente imaturos
aquando da primeira impressão(…)” (Niven, 2006).
As publicações importantes que tratam do Balanced Scorecard terminam com um livro dos autores
em 2004 sobre mapas estratégicos. O que em 1995 tinha sido definido no caso de estudo de
Kaplan como árvore estratégica culmina neste estudo aprofundado de como criar mapas
estratégicos, a sua importância e como os implementar. Neste livro, contudo, apesar de existirem
vários casos de estudo (Royal Canadian Mounted Police ou o Ministério da Defesa Britânico), os
resultados são apresentados duma forma qualitativa como “melhorias significativas” ou
“desempenho revolucionário”, dando lugar a mais críticas por falta de praticabilidade na
metodologia (Kaplan & Norton, 2004).
3.5. Aplicação no sector público
O sucesso da metodologia obtido na experiência com as empresas privadas levou à utilização do
BSC também como uma ferramenta de exclusivamente avaliação de desempenho. Esta evolução
alinhada com a crescente necessidade dos governos criarem os seus próprios sistemas de
monitorização levou a que o BSC começasse também a ser aplicado em organismos públicos.
A grande diferença reside, como referido, no objectivo final da existência da organização pública:
satisfazer os interesses dos utilizadores (e não os dos accionistas) em primeiro lugar. Quer isto
dizer, que enquanto qualquer empresa privada pretende satisfazer os clientes para incrementar as
suas vendas, gerar mais lucros e consequentemente remunerar os accionistas, uma empresa
pública ou qualquer organismo público terá como principal fim satisfazer os utilizadores, mesmo
que para isso tenha de obter e injectar novos capitais a partir dos seus accionistas (o estado) com
menor controlo.
39
Figura 15 – Mapa estratégico proposta por Robert S. Kaplan no caso do banco químico. Fonte:
(Kaplan & Klein,1995)
Apercebendo-se disto, e como pioneiro tanto na execução como na consultoria ao Balanced
Scorecard, Kaplan (1999) utiliza o seu acesso privilegiado a todos os casos de estudo para
introduzir esta variante, chegando ao mapa estratégico da figura 15. Neste estudo, Kaplan usa o
exemplo da cidade de Charlotte, no Estado da Carolina do Norte para, tal como havia feito em
1995 (Kaplan & Klein), introduzir uma nova “árvore estratégica”, desta vez com a perspectiva do
cliente no topo.
A ideia de mudar a árvore estratégica, pondo a perspectiva do cliente no topo pode parecer
bastante óbvia, mas do ponto de vista da empresa acaba por não ser. O facto de se manter uma
perspectiva financeira, não ao serviço do utente, mas como forma indirecta de prestar o serviço
com qualidade ao mesmo implica que, de facto, existe um determinado balanceamento entre estas
4 perspectivas. Existe uma necessidade de gestão e de objectivação também na área financeira
apesar de não haver obrigação de gerar lucro.
Em 2001, aquando da introdução dos mapas estratégicos, diversos casos de estudo são
demonstrados pelos autores, apesar de por esta altura já existirem inúmeras aplicações do
Balanced Scorecard em Serviços públicos, principalmente nos Estados Unidos. A propagação
destas aplicações ao resto do mundo foi, no entanto, mais lenta. Apenas em 2007 se regista o
primeiro artigo que fala do Balanced Scorecard aplicado a empresas públicas em economias em
vias de desenvolvimento (Beimann & Johnson, 2007). Aqui são introduzidas algumas empresas
que fogem à noção de serviço público como o conhecemos hoje em Portugal, mas não deixam de
ser detidas pelo estado e de terem objectivos divergentes da noção capitalista de uma empresa
privada.
40
A evolução dos estudos na aplicação a empresas públicas seguiu um caminho muito parecido
daquele seguido pelas empresas privadas, exceptuando os estudos de carácter mais crítico. Em
1999, Kaplan publica o artigo sobre a cidade de Charlotte, que mais tarde junta a outros no livro
que edita em 2001 com Norton. Em 2003 por sua vez, Paul R. Niven edita o primeiro livro com
linhas de orientação para a implementação ao sector das organizações sem fins lucrativos e
agências governamentais. Devido a este livro, dada a clareza e unicidade com que é descrita a
implementação da metodologia a este tipo de entidades, ao BSC aplicado a organizações sem fins
lucrativos e agências governamentais é frequentemente dado o nome de o “BSC de Niven”.
Perspectiva da Aprendizagem e Crescimento
Como nos capacitamos para a mudança e crescimento, satisfazendo as exigências
que nos são colocadas?
Perspectiva FinanceiraComo acrescentamos valor para o cliente mantendo o controlo dos
custos?
Perspectiva ProcessosPara satisfazer os clientes
cumprindo limites orçamentais, em que processos teremos de ser
excelentes?
Perspectiva do clienteQuem definimos como cliente? Como
criamos valor para o nosso cliente?
Visão e Estratégia
Missão
Figura 16 – BSC para organizações sem fins lucrativos e agências governamentais. (Simões Pinto, 2005)
A grande inovação é o facto de serem realmente apresentadas novas perguntas em cada
perspectiva para, a partir de aí, ser definida uma estratégia. Tal como no Balanced Scorecard de
Kaplan e Norton para os serviços públicos ( (2001) a perspectiva do cliente é promovida para o
topo do mapa estratégico e é sublinhada a importância da missão (que será de modo geral uma
missão focada nos utentes ou utilizadores), visível na figura 16. A questão é que nas restantes
perspectivas tudo revolverá à volta do cliente, e não da empresa: na perspectiva interna dever-se-á
questionar como satisfazer o cliente com os mínimos recursos (e não, como manter o nível
operacional sem com isso comprometer os lucros) e na perspectiva financeira impor a questão de
como financiar a empresa para a partir daí poder ter uma gestão eficiente do ponto de vista da
qualidade de serviço. A perspectiva de aprendizagem e crescimento, tal como no Balanced
Scorecard para empresas privadas serve principalmente como ferramenta de melhoria contínua ou
de continuidade na evolução da empresa.
41
Em Portugal a informação mais relevante existente sobre esta matéria é apresentada pelo Intituto
Nacional da Administração (INA) numa iniciativa de conseguir fazer as empresas públicas aplicar o
método de forma a com isso poderem ter uma estratégia interna para responderem aos objectivos
do recente SIADAP (Simões Pinto, 2008).
É comum encontrarem-se aplicações a outros organismos públicos que não os serviços públicos
locais na língua portuguesa. No Brasil existem inúmeros estudos reflectindo tanto a aplicação às
próprias câmaras municipais, como a hospitais, sistemas de transporte, universidades, etc.
Na língua portuguesa, a aplicação aos serviços públicos, ou os estudos aprofundados que a
descrevem limitam-se à aplicação em universidades, hospitais ou mesmo ao serviço policial. A
estratégia mantém-se: identificar quem deverão ser os beneficiários, definir a missão e a partir daí
montar o BSC.
Num estudo referente à aplicação ao Hospital Garcia da Horta nota-se na figura 17 uma evolução
interessante ao género do proposto por Kalagnanam (2004) para entidades detidas pelo estado. A
ideia será colocar como perspectivas ad-hoc do Balanced Scorecard ambas as perspectivas que
comummente se aplicam alternativamente entre empresas públicas e privadas: Financeira e
Cliente (Calhau, 2009).
Figura 17 – Mapa Estratégico para a implementação do BSC no Hospital Garcia da Horta. Fonte:
(Calhau, 2009)
Como se pode ver no mapa estratégico na figura 17 existem duas metas principais distintas:
reduzir défices de exploração e aumentar a qualidade. Desta forma será possível explorar tanto os
interesses dos accionistas como dos principais beneficiários do serviço público, os utentes.
42
4. APLICAÇÃO DO BALANCED SCORECARD
4.1. Estratégia
4.1.1. Missão
Tal como descrito no capítulo anterior, a forma de observar as diferentes perspectivas do Balanced
Scorecard pode ser diferente dependendo da empresa, ou da sua missão.
A missão é uma frase que resume a razão de existência de uma empresa. É especialmente útil
internamente, por um lado par a definição de objectivos, por outro para dar a entender a todos os
empregados transversalmente qual a sua razão de trabalharem. Segundo Niven (2002), a missão
deverá inspirar mudança, ser de longo prazo e ser facilmente comunicável. Para isso dá alguns
exemplos de empresas de sucesso:
Wal-Mart: Dar a pessoas comuns a oportunidade de comprar o mesmo que as pessoas
ricas.
Walt Disney: Fazer as pessoas felizes
Marriott Hotels: Fazer com que as pessoas que estão longe de casa sintam que são
realmente queridas e entre amigos.
No caso em questão, tratando-se da recolha de Resíduos Sólidos Urbanos, importa verificar que
se trata acima de tudo de um serviço público. Desta forma, os interesses dos utilizadores deverão
ser respeitados em primeiro lugar, pois não é aceitável que assim não seja num assunto que tem
que ver com a qualidade de vida e condições de higiene e saúde pública de uma sociedade
desenvolvida. Da perspectiva do habitante de uma cidade, vila ou aldeia ou mesmo de um meio
rural é essencial que os seus resíduos pessoais sejam afastados da sua habitação e do seu dia-a-
dia.
Por outro lado, sendo que os resíduos sólidos em si tem algum valor económico, existe potencial
de gerar receitas na sua recolha e assim é para o estado possível alienar não as suas
responsabilidades, mas as suas tarefas de gestão desta recolha. Ou mesmo que esta gestão não
seja alienada, é do interesse público que a gestão feita pelo estado não seja desregrada
resultando num prejuízo público. Se possível é até do interesse público que esta gestão reduza o
prejuízo do estado.
Deve então resumir-se esta ideia numa só. Esta noção descreve o último fim para a existência da
empresa e é única para cada empresa. Na criação deste Balanced Scorecard é proposta não só
uma metodologia para avaliação de desempenho, como também uma ferramenta de gestão
43
estratégica e assim a definição de uma missão torna-se essencial, ainda que sofra
obrigatoriamente alterações ao ser aplicada a diferentes empresas: “Fornecer à população um
serviço eficaz de remoção de resíduos sólidos urbanos mantendo um nível de remuneração
apropriado para os accionistas de longo prazo”
A esta ideia de missão deverão ser juntados valores. Contudo, estes não são necessários para
criação de um Balanced Scorecard, mas sim para o bom funcionamento da empresa e
entendimento de todos os seis trabalhadores.
Uma outra noção aplicada na estratégia de topo é a visão. Mais uma vez trata-se de um tipo de
comunicação simples que determina o rumo da empresa e as suas metas de longo prazo, juntando
várias ideias num conjunto de frases. Esta visão não é contudo essencial para o bom
funcionamento da empresa nem tão pouco para a criação de um Balanced Scorecard.
4.1.2. Mapa estratégico
Apoiada na missão é assim necessário definir a estratégia da empresa baseada nas perspectivas
do Balanced Scorecard. Sendo que os clientes e os accionistas são os primeiros beneficiários,
deverá ser a partir daqui que é definida a estratégia. Como atingir a missão será uma questão de
aplicar as outras perspectivas ao serviço das duas principais.
O mapa estratégico como introduzido por Kaplan e Norton em 2001 resume num só quadro toda a
organização disposta pelas quatro perspectivas. As entradas do quadro deverão ser objectivos,
cada vez mais detalhados até se chegar às metas. As metas, contudo, são demasiado específicas
para entrarem neste mapa que se resume à definição de todo o processo de causa-efeito das
medidas adoptadas.
Cada perspectiva é organizável por objectivos palpáveis e identificáveis por cada trabalhador.
Desta forma é possível saber qual a razão de se trabalhar e quais as funções independentes da
empresa e do crescimento da mesma. A partir daqui as metas seguem-se, mas têm de ser
organizadas por medidas ou indicadores. A estas medidas dá-se o nome de indicadores de
desempenho que podem ser iguais para todas as empresas que operem da mesma forma.
Todavia, as suas metas deverão ser diferentes, consoante o estado da empresa e as suas
condicionantes exteriores (enquadramento legal, geografia, demografia, no caso da recolha de
RSU).
Esta noção de árvore estratégica é apresentada na figura 18 para o caso em questão,
organizando-a com duas perspectivas principais, tal como o proposto.
44
Satisfação dos Clientes
Independência Financeira
Sustentabilidade a longo prazo
Melhoria no atendimento aos clientes
Melhoria na Qualidade do
serviço
Motivação dos trabalhadores
Redução de custos
Maior eficiência
Melhorar comunicação
Melhoria Contínua
Reduzir reclamações
Melhorar percepção de
serviço
Endividamento estável
Remunerar accionistas
Aumentar conforto
Aumentar salubridade
Reduzir preço
Melhorar Interface
Reduzir custos operacionais
Reduzir custos de deposição
Reduzir circuitos
Reduzir pessoal
Inovação Tecnológica
EmpowermentAumentar Salários
Impor Crescimento
Clie
nte
s
Fin
ança
s
Aprendizagem e Crescimento
Pro
cess
os
Inte
rno
s
Figura 18 – Árvore estratégica a aplicar nos organismos estudados
4.2. Selecção dos indicadores de desempenho
4.2.1. Introdução
Grande parte dos Sistemas de Avaliação de Desempenho assenta sobre Indicadores de
Desempenho. Estes indicadores não são mais do que medidas quantitativas que resultam de uma
simples regra de cálculo entre variáveis. Usualmente são rácios entre variáveis que poderão
comensurar ( [€ investidos/€ dispendidos] = [%]) ou não comensurar (€/ton). Para que sejam
representativos e legíveis universalmente, os indicadores de desempenho deverão estar
claramente definidos e ser mensuráveis. Desta forma qualquer gestor ou regulador com um menor
conhecimento da empresa ou da actividade representada pelo indicador conseguirá compreender
esta medida e avaliá-la através da sua grandeza quantificável. O funcionamento dos indicadores
de desempenho depende também da sua correcta aplicação e definição. É essencial que o objecto
de estudo do indicador esteja claramente definido para que, ao serem agrupados, nenhum
45
indicador apresente dados redundantes ou desprezáveis. Por conseguinte é também respeitada
uma quantidade mínima de indicadores, facilitando a leitura da avaliação de desempenho.
A maneira de os agrupar para que sejam representativos difere porém de sistema para sistema,
sendo possível separar estes sistemas em grupos. O primeiro tipo de sistema identificado
centrava-se em indicadores maioritariamente financeiros. Hoje em dia estes sistemas são
utilizados principalmente a nível nacional ou supranacional, no sentido de avaliar a produtividade
nos sectores ou da população em geral. Para contrapor a perspectiva financeira surgiram então
sistemas centrados exclusivamente na operacionalidade, crendo que, com bons resultados, neste
campo melhores resultados financeiros se seguiriam. Cedo se compreendeu que este sistema só
faria sentido na indústria manufactora, assentando nos quatro pilares que a gerem: custo, tempo,
qualidade e flexibilidade. Como terceiro grupo, os serviços públicos prezam pela escolha de
indicadores que reflictam a eficiência e a eficácia para assim se poder regular e comparar as
empresas ou organizações que intervêm neste sistema naturalmente monopolista.
O Balanced Scorecard surge num último e mais moderno grupo, prezando pela excelência da
gestão das empresas ou organizações. Para avaliar e ajudar na gestão inclui grande parte das
preocupações dos três grupos anteriores. Os indicadores de desempenho dividem-se assim nas
quatro perspectivas que compõem o Balanced Scorecard. Através da escolha de indicadores de
desempenho para cada uma destas quatro perspectivas é possível avaliar integralmente o
cumprimento dos objectivos propostos e assim a qualidade da gestão da empresa, o desempenho
global e a sustentabilidade a longo prazo da mesma.
A escolha dos indicadores de desempenho depende obrigatoriamente das variáveis que compõe o
seu cálculo. As variáveis contêm a informação em bruto e é por conseguinte essencial que
correspondam univocamente àquilo que pretendem calcular. A informação contida nelas deve ser
fácil de obter e ser tão ou mais confiável e precisa quanto a importância das decisões que serão
tomadas indirectamente sobre elas. Isto significa que deverá corresponder ao mesmo espaço físico
e temporal que os indicadores que alimentam.
4.2.2. Perspectiva do Cliente: Como somos vistos pelos nossos clientes?
Tratando-se em cada município de um monopólio, a perspectiva do cliente ou utilizador poderia ser
considerada menos importante, sendo que o seu consumo será certo, quer as suas necessidades
e desejos sejam cumpridos, quer não. Contudo, analisando a satisfação do utilizador do ponto de
vista social, a sua perspectiva é importante para honrar os compromissos que os serviços de
recolha de RSU públicos ou público-privados têm para com eles. O cliente assume assim uma
posição de mero utente ou utilizador. Aos municípios interessará a satisfação do utilizador pois são
os municípios que deverão cuidar dos interesses dos seus habitantes.
46
A satisfação dos utilizadores é difícil de medir, sendo que não existe nenhum contacto directo entre
estes e o prestador do serviço. Desta forma, a avaliação é feita de forma subjectiva ou passiva na
maior parte dos casos.
Definem-se assim 4 indicadores de desempenho que resumem a satisfação dos utentes:
C01 - Resultados de inquéritos
C02 - Qualidade do serviço relativa
C03 - Reclamações recebidas por habitante
C04 - % de reclamações respondidas
A única forma activa de verificar a satisfação dos utilizadores no caso dos RSU é através de
Inquéritos de avaliação ao Serviço. Estes inquéritos podem incluir vários parâmetros, como a sua
percepção da limpeza da rua, da frequência do serviço, do número de contentores existentes na
rua ou a sua experiência no contacto directo com a empresa. Estes inquéritos são no entanto raros
pois obrigam a um custo acrescido por parte da empresa que pode ser evitado.
O segundo indicador apresentado fomenta a comparação com outras câmaras para a auto-
avaliação do serviço. O seu funcionamento depende de uma entidade externa que avalie
comparativamente o serviço em diferentes municípios (através de inquéritos ou
experimentalmente) e o publique num estudo compacto ou num ranking. Apesar de se tratar de um
monopólio, a análise comparativa tem tido um impacto positivo no sector da alta, onde através do
IRAR as várias concessionárias podem ver o seu desempenho comparado com as outras
concessionárias. Este indicador pode então tornar-se bastante importante para avaliar a satisfação
dos utentes, sendo que o serviço de recolha de RSU tem implicações directas na sua qualidade de
vida.
A única forma passiva ou indirecta de avaliar a satisfação dos utentes por parte das entidades de
recolha tem sido através das suas reclamações. A quantidade de reclamações recebidas por
habitante demonstra pelo menos os casos de descontentamento dos utentes com o serviço
impactando na satisfação geral pela negativa. Apesar de indirecta é uma ferramenta significativa,
pois a gestão pode tomar decisões importantes no nível operacional baseada neste indicador.
As reclamações respondidas são um indicador pouco útil na demonstração da satisfação do utente
mas a importância de atingir 100% neste indicador é tal que torna essencial a sua inclusão no
Balanced Scorecard. O facto de a entidade responder aos seus utilizadores em nada afecta nem
em nada avalia a percepção destes sobre a qualidade de serviço. Contudo é para a gestão de uma
empresa imperativo que qualquer reclamação seja respondida para que a percepção do utilizador
dos seus serviços da qualidade dos mesmos não seja afectada por aspectos exteriores à própria
47
recolha. A resposta às reclamações é também um dos indicadores que os reguladores tendem a
incluir nas suas avaliações pois representa a qualidade de serviço pessoal prestado aos
utilizadores. Assim é importante que a equipa de gestão tenha este indicador incluído no seu BSC
para poder avaliar directamente aquilo que terá de enviar para os reguladores.
Neste momento as variáveis utilizadas no cálculo destes indicadores são aplicadas na maior parte
dos casos a toda a empresa. Esta empresa poderá incluir outros serviços além da recolha de RSU.
Assim os indicadores calculados com base nelas também serão representativos de toda a entidade
e não só da recolha de RSU. Uma forma de evitar este problema é sistematizar uma triagem nas
reclamações que se destinam aos diferentes departamentos ou serviços e expandir os inquéritos
dividindo-os nos diferentes serviços prestados. Desta forma será possível avaliar separadamente a
recolha de RSU. As variáveis propostas são as seguintes:
V01 - Total de reclamações recebidas
V02 - Número de habitantes no município
V03 - Grau de satisfação média do cliente
V04 - Posição no ranking de câmaras (x/308)
V05 - Total de reclamações respondidas
4.2.3. Perspectiva Financeira: Como respondemos às necessidades dos nossos accionistas?
Desde uma empresa com capitais privados até aos Serviços Municipais, de cariz totalmente
público, existe sempre um interesse em tornar qualquer actividade rentável, mesmo que esta seja
um serviço público. Numa época em que se discute a criação de parcerias público-privadas ou
mesmo a privatização do sector com vista à criação de monopólios legais e regulados (Massarutto,
2006), é importante observar, desde já, a rentabilidade do serviço de recolha de RSU. Desta forma,
é necessário avaliar o desempenho financeiro das entidades que efectuam a recolha de RSU. Isto
tem de ser feito através da perspectiva dos accionistas ou entidades gestoras dos departamentos
de RSU pois é a estes que interessa a sustentabilidade do seu investimento.
Contudo, tratando-se de um bem considerado essencial na sociedade moderna, é da obrigação
das Câmara Municipais manter os preços a níveis acessíveis para qualquer morador da sua área
de abrangência. Isto implica que exista uma boa parte do orçamento que é coberto por fundos
municipais, o que a longo prazo será uma situação a evitar dada a tendência para a referida
privatização parcial das entidades prestadoras deste serviço (Parcerias Público-Privadas).
Definem-se assim como objectivos para a perspectiva financeira, a independência financeira e a
sustentabilidade dos prestadores destes serviços, utilizando para avaliação do cumprimento dos
mesmos os seguintes quatro indicadores:
48
F01 - Autonomia financeira
F02 - Rendibilidade dos capitais próprios
F03 - Liquidez geral
F04 - Liquidez reduzida
Estes indicadores de desempenho não são mais do que rácios económicos muito utilizados na
gestão das empresas para garantir o seu equilíbrio económico. A escolha destes rácios recai sobre
o tipo de empresas a analisar e o foco principal que uma empresa privada teria aquando da sua
decisão de entrada ou investimento no serviço de recolha de RSU.
A autonomia financeira é calculada pela divisão do capital próprio pelo activo total e representa
consequentemente a capacidade que a empresa tem de se auto-sustentar com capitais
accionistas. Ou seja, revela a percentagem de capital que foi investido pelos accionistas
relativamente a todo o capital em exercício da empresa (activo). Quanto maior for este rácio maior
a estabilidade financeira da empresa. Ao contrário, quanto menor for este, maior a sua
vulnerabilidade e maior o risco que os accionistas estão a correr. O também muito utilizado rácio
de solvabilidade (capitais próprios divididos pelo passivo) tem um significado semelhante sendo
aplicado no sentido da dívida e não no sentido do exercício em si. Contudo sendo o activo mais
simples de calcular neste tipo de empresas, sendo raros os créditos a haver de longo prazo,
devendo-se os de curto prazo principalmente a um número pequeno de utilizadores mal pagadores
e sendo as existências quase nulas para empresas sem recolha selectiva opta-se pela utilização
da Autonomia Financeira.
No sentido de medir o interesse para empregar dinheiro nos serviços de recolha de RSU, os rácios
de rendibilidade assumem o maior papel. Neste Balanced Scorecard utiliza-se a rendibilidade dos
capitais próprios pois sendo calculado através do resultado Líquido dividido pelos capitais próprios
avalia de forma sintética o retorno sobre o investimento. Esta medida é importante não só para
empresas privadas, que estão interessadas em rentabilizar ao máximo o seu investimento, como
também para as câmaras municipais que pretendem melhorar a eficiência dos dinheiros
empregues. Em média o dinheiro empregue pelas câmaras municipais na Região de Lisboa e Vale
do Tejo nos seus serviços públicos poderia ser reduzido em dois terços mantendo o mesmo nível
de serviço e seguindo as melhores práticas (Teixeira & Neves, 2001). A rendibilidade dos capitais
próprios é, assim, muito útil também para medir melhorias na eficiência dos gastos municipais.
A sustentabilidade e autonomia das empresas implicam um bom equilíbrio das suas dívidas
relativamente às suas operações. O conceito de liquidez representa a capacidade de uma empresa
fazer face aos seus compromissos num dado momento. Assim incluem-se dois rácios de liquidez
neste Balanced Scorecard pois os dois em conjunto são necessários para avaliar os diferentes
49
tipos de empresa. Sendo que a liquidez geral inclui as existências no cálculo do numerador, as
empresas com recolha selectiva terão uma liquidez bastante superior àquelas que não a têm pois
as existências resumem-se aos recicláveis que podem ser vendidos às concessionárias de alta. A
Liquidez Geral é essencial para avaliar a saúde da empresa a médio prazo, avaliando a
capacidade de a empresa poder destituir-se. A liquidez reduzida, também denominada de Acid-
Test na literatura da especialidade, por seu lado torna-se importante pois mede a capacidade de
uma empresa pagar todas as suas dívidas no preciso momento, ainda antes de devolver as
existências que tenha em mão.
Para calcular os indicadores acima descritos e completar os rácios financeiros utilizados
enumeram-se as seguintes variáveis:
V06 - Capital próprio
V07 - Activo
V08 - Resultado líquido
V09 - Activo circulante
V10 - Passivo circulante
V11 - Existências
As variáveis utilizadas são mais uma vez difíceis de apurar separadamente à recolha de RSU, pois
seriam necessários órgãos independentes para que fossem necessários balanços independentes.
Desta forma, o mais comum será utilizar directamente os dados financeiros relativos a uma maior
parte e extrair daí duma forma contextual a repercussão que os indicadores têm nos
departamentos de RSU. As variáveis financeiras são, contudo, apesar de pouco representativas,
devido à pouca precisão dos dados, essenciais.
4.2.4. Perspectiva Interna das Operações: Onde devemos concentrar os nossos esforços?
Tanto a perspectiva dos clientes como a financeira pretendem mostrar os resultados daquilo que a
empresa proporciona tanto aos seus utilizadores como aos seus accionistas. A satisfação destes
dois partidos é garantida pela qualidade dos processos internos que a empresa tem de realizar e
os objectivos que tem de alcançar nas suas operações. Os objectivos na perspectiva interna de
operações são a melhoria na qualidade do serviço, melhoria no atendimento aos utentes, a
eficiência dos recursos humanos e a redução de custos totais.
Parte dos indicadores que se listam sobrepõem-se na avaliação do cumprimento destes objectivos.
Apesar de esta sobreposição ir numa primeira instância contra as recomendações a aplicar para
sistemas de avaliação de desempenho, torna-se essencial na avaliação correcta da eficiência
aplicada a diferentes preocupações de uma empresa de recolha de RSU. Isto é, em territórios com
50
geografias difíceis, mas pouco habitados, é provável que sejam recolhidas poucas toneladas mas
que os custos operacionais sejam altos devido aos percursos adoptados pelos camiões de recolha.
É assim necessário avaliar a eficiência dos custos operacionais segundo dois parâmetros: Área e
Quantidade.
Os indicadores operacionais incluem também todos aqueles que apesar de terem exclusivamente
uma repercussão directa na qualidade de serviço aos utilizadores, fazem parte das tarefas da
empresa em si. Desta forma ficam reservados para os utentes exclusivamente os indicadores que
representam a sua satisfação e não aqueles que a fomentam. Os indicadores utilizados para medir
a boa prática dos processos operacionais são os seguintes treze:
P01 - Preço por tonelada
P02 - Método de pagamento
P03 - Cobertura da recolha
P04 - Cobertura porta-a-porta
P05 - Frequência do serviço
P06 - Salubridade do serviço
P07 - Recursos humanos por tonelada recolhida
P08 - Recursos humanos por área do município
P09 - Absentismo
P10 - Custo operacional por tonelada recolhida
P11 - Custo operacional por área do município
P12 - Custo de deposição
P13 - Qualidade do sistema de informação
As decisões de compra do consumidor comum recaem genericamente sobre sete parâmetros:
Qual o produto, que tipo de produto, a marca, o vendedor, a quantidade, o timing e o método de
pagamento (Kotler, 1976 (3ª Edição)). No caso em questão, não podemos falar de decisões, pois
os utilizadores terão na sua área de residência somente um prestador do serviço e a necessidade
básica de o requerer. Terão assim, somente, preocupações relativamente ao serviço prestado.
Estas preocupações prendem-se principalmente com o timing, a qualidade do serviço, a
flexibilidade de pagamento, o atendimento do serviço e o preço, seguindo condizentemente os
princípios da avaliação de desempenho a nível puramente operacional.
Os primeiros seis indicadores terão repercussões directas na satisfação dos utilizadores. Para
qualquer utilizador, quanto mais baixo o preço por tonelada mais ele estará satisfeito e assim
deverá ser o objectivo de qualquer gestão baixá-lo o mais possível, desde que os custos da
recolha estejam cobertos. O problema recai em como apurar a quantidade de resíduos recolhida
por utente ou fogo, sendo que na maior parte dos casos os contentores servem mais de 1 fogo.
51
Daí que surja o segundo indicador que refere o método de pagamento. Na maior parte dos casos
em Portugal, principalmente quando a recolha de RSU está a cargo da mesma entidade que
abastece a água, os encargos com resíduos é apresentada como uma percentagem a acrescer
aos encargos com água, acreditando-se que um utilizador de determinada parte da água
abastecida à comunidade produzirá a mesma parte dos resíduos. Com as dificuldades encontradas
no apuramento do consumo individual do serviço de recolha de RSU, as entidades optaram por
este esquema que é impreciso e injusto. Existem várias hipóteses de ser facturada a recolha de
RSU independentemente da água e surgiram vários estudos nos últimos anos com novas
propostas nesse sentido. Este indicador identifica, contudo, somente se a facturação é
independente ou indexada.
Os restantes quatro que dizem respeito aos utentes avaliam a qualidade do serviço. A cobertura de
recolha identifica a percentagem da população que está abrangida pelo serviço de recolha de
RSU. Este indicador poderá ter um sentido muito dúbio na sua aplicação, pois sendo as pessoas
responsáveis por deixar os resíduos nos contentores, a abrangência dependerá de qual a distância
que se considera máxima para um utilizador percorrer desde a sua habitação até ao contentor. O
IRAR contempla a definição de um máximo de 100 metros (IRAR, 2009), sendo, porém, difícil de
extrair esta informação das entidades gestoras. A tendência e obrigação de atingir os 100% de
cobertura de serviço levam a que no futuro este indicador possa ser alterado para outro que avalie
a distância média desde as habitações até ao contentor, mantendo-se o carácter quantitativo e
criando novos objectivos para melhoria. A cobertura da recolha porta-a-porta é obviamente inferior
à cobertura total dados os elevados custos que se verificariam nas zonas mais rurais onde não se
justificaria a deslocação a cada habitação pela pequena quantidade de resíduos que se recolheria.
É contudo uma medida importante na qualidade de serviço, sendo que quanto maior a
percentagem de habitantes abrangidos maior será também a satisfação geral dos mesmos. A
frequência de serviço é principalmente importante na recolha porta-a-porta, pois desde que exista
capacidade nos contentores públicos os habitantes que não são abrangidos pela recolha porta-a-
porta podem mesmo sem haver serviço em determinado dia depositar lá os seus resíduos sem
terem de os armazenar em casa. A qualidade é afectada também indirectamente na salubridade da
rua sendo bastante mais “limpo” que os contentores de rua (principalmente os de superfície)
estejam vazios e não cheios ou “semi-cheios”. A medida da salubridade em si diz respeito à
frequência da limpeza dos contentores e moloks. A utilização dos contentores para a deposição de
resíduos deixa-os com um odor desagradável. Os líquidos e componentes orgânicos que são
várias vezes depostos como RSU pelos utilizadores domésticos podem apodrecer dentro dos
contentores, sendo necessária uma limpeza frequente dos mesmos.
Os Indicadores que dizem respeito aos Recursos Humanos são muito importantes para avaliar a
eficiência e produtividade dentro da empresa. Com a crescente maquinação dos processos de
52
recolha é natural que seja possível reduzir o número de trabalhadores efectivos mantendo a
mesma capacidade de recolha. No entanto, a área do município influencia grandemente a
quantidade de percursos necessários e consequentemente o número de condutores e equipas de
recolha. Propõem-se por essa razão dois indicadores distintos para a avaliação da eficiência dos
Recursos Humanos: por quantidade e por área. Taxas de absentismo altas são problemas graves
com as quais várias empresas portuguesas lidam pois tem um efeito muito significativo mas
disfarçado na eficiência dos Recursos Humanos. Este indicador torna-se essencial como factor
explicativo dos dois Indicadores anteriores. É também fulcral para um gestor conhecer esta
informação numa avaliação geral do desempenho da empresa, para poder corrigir o problema
rápida e adequadamente.
Criar uma estrutura eficiente nos custos operacionais da empresa é uma tarefa que implica muitas
variáveis tanto na área dos Recursos Humanos como também da maquinaria e material a utilizar.
No entanto são os resultados finais que interessam à gestão de topo e assim resumem-se, tal
como no caso dos Recursos Humanos, aos custos operacionais por Quantidade e por Área. Um
dos factores explicativos que terá maior importância na observação de qualquer um destes dois
indicadores será a localização do centro de recolha (seja este uma estação de triagem ou
entreposto ou a própria concessionária).
Cada município deposita os resíduos recolhidos na concessionária intermunicipal a operar no seu
concelho, quer tenha recolha selectiva quer não. Este é o sistema que está neste momento a
funcionar em Portugal para que as responsabilidades da deposição e da recolha estejam
separadas. Isto faz com que os custos de deposição sejam dificilmente alteráveis pela gestão da
empresa de recolha. Este é o caso para os indiferenciados, pois no caso de produtos recicláveis
estes são vendidos às concessionárias, compensando parcialmente os custos da deposição dos
indiferenciados. O problema reside no facto de em alguns concelhos a recolha selectiva ser
efectuada pela concessionária intermunicipal, ficando a entidade responsável pela recolha sem
“produto” para vender. Assim, actualmente a única hipótese que existe para todas as entidades da
baixa baixarem os custos de deposição é a renegociação das tarifas. No futuro é possível que a
alta trabalhe num mercado livre ao invés do actual sistema de monopólio regulado. Nesse caso as
hipóteses de baixar os custos de deposição para as entidades a operar na baixa aumentam
(Massarutto, 2006).
O último indicador utilizado diz respeito ao Sistema de Informação utilizado na empresa para
comunicação interna, armazenamento de dados e apuramento da facturação. Sistemas
Informatizados que facilitem o contacto dos departamentos entre si facilita a troca de informação e
por conseguinte reduz o tempo de completar uma tarefa em geral. Com o aparecimento de
tecnologias novas diariamente torna-se numa ferramenta importante para impulsionar a eficiência
53
dentro de uma empresa. A sua qualidade baseia-se em três variáveis qualitativas distintas que
juntas se transformam num valor de escala.
A razão de serem tantos indicadores como o total das restantes três perspectivas prende-se com o
facto de ser nesta perspectiva que assentam as soluções e os principais problemas que são
reflectidos nos resultados das outras. É nesta perspectiva que a totalidade das operações em si
são avaliadas e assim é natural que existam vários processos a avaliar. Contudo, é de notar que
ao contrário da maior parte da bibliografia existente na avaliação da recolha de resíduos e apesar
de existirem muitos indicadores, nenhum diz respeito ao ambiente em si ou aos gastos
energéticos. Isto prende-se com o facto de neste caso se prezar por uma gestão eficiente e
economicamente viável, desprezando a poupança do ambiente por esta não trazer benefícios
directos para a gestão da empresa. Com a evolução da tendência de uma maior preocupação com
o ambiente e com a poupança energética poder-se-á considerar um indicador neste sentido, tal
como o IRAR o faz (IRAR, 2009).
As variáveis que calculam todos os indicadores operacionais são as seguintes:
V12 - Receita total
V13 - Toneladas recolhidas
V14 - Discriminação das facturas de água e RSU
V15 - Número de habitantes
V16 - Número de habitantes abrangidos pela recolha de RSU
V17 - Número de habitantes abrangidos pela recolha porta-a-porta
V18 - Quantidade de circuitos
V19 - Frequência média dos circuitos
V20 - Frequência da lavagem dos contentores
V21 - Sistema de informação ou comunicação
V22 - Lag do sistema de informação/comunicação
V23 - Abrangência do sistema de informação/comunicação
V24 - Nº de recursos humanos
V25 - Área do município
V26 - Taxa de absentismo
V27 - Custo total da deposição
V28 - Custo total da recolha
No caso da perspectiva interna de operações, as variáveis já são usualmente dados que se
encontram separados à partida. As entidades têm registos das toneladas recolhidas por cada tipo
de recolha, sabem quais as receitas dos clientes e conhecem os seus custos de deposição
54
detalhadamente. Desta forma seria simples aplicar esta perspectiva pois basta que exista um bom
cruzamento de dados entre os departamentos (o que pode ser fomentado através do Indicador
P13).
4.2.5. Perspectiva de Inovação e Aprendizagem: Podemos continuar a melhorar e a criar valor?
As três perspectivas já definidas permitem avaliar o desempenho da organização através de um
sistema de causa e efeito apresentado em conjunto num único Scorecard. Porém, as exigências
dos stakeholders mudam e a satisfação dos trabalhadores tem de ser assegurada. Na evolução
contínua do mundo exterior e da organização do sector, com o aparecimento constante de novas
tecnologias e novos métodos, com a evolução dos modelos de gestão e com o alcançar dos
objectivos é necessária uma observação exterior cuidada para que os objectivos propostos nas
outras perspectivas não se tornem obsoletos.
Esta perspectiva pretende assim impor critérios de melhoria contínua, de acompanhamento do
mundo exterior, de inovação tecnológica e da manutenção dos níveis de motivação dos
trabalhadores. Assim, o sistema causa e efeito mantém o seu significado ao longo da vida da
empresa. Os cinco indicadores utilizados transmitem estes objectivos ao gestor:
A01 - Acções de formação
A02 - % do orçamento anual dedicado à inovação
A03 - Melhoria contínua
A04 - Número de sugestões dos trabalhadores
A05 - % média de subida dos ordenados
As acções de formação fornecidas ou financiadas pela empresa têm um efeito muito positivo na
produtividade dos trabalhadores. Trabalhadores qualificados são uma mais-valia tanto na gestão
como no nível operacional e existe uma tendência de evoluir nesse sentido. No decorrer dessas
acções existirá também espaço para os trabalhadores se conhecerem melhor e se cruzarem num
ambiente mais relaxado proporcionado pela empresa, tornando-se também por esta razão numa
vantagem para o relacionamento do pessoal o que facilita as operações.
Já a Inovação é uma medida mais difícil de medir, pois é na maior parte dos casos impossível de
caracterizar aquilo que é inovador ou não. As únicas relações directas que podemos extrair do
nível de inovação são o dinheiro que se investiu em pesquisa, na compra de equipamento novo ou
inovador e o investimento feito em reestruturações que visassem uma melhoria na eficiência. Estas
perspectivas serão sempre do foro monetário e assim estão intimamente ligadas com o orçamento.
55
A medida da melhoria contínua baseia-se em dois aspectos. O primeiro testa a aplicação de um
Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) do tipo ISO 9000 a toda a empresa. Este SGQ baseia-se
numa gestão por processos integrando a melhoria contínua no seu ciclo de acompanhamento da
empresa. O segundo aspecto baseia-se no próprio Balanced Scorecard, fomentando o incremento
dos objectivos inicialmente propostos anualmente para que nunca deixe de existir a vontade de
criar mais valor ou de melhorar eficiência.
Quanto aos dois últimos indicadores, estes combinam uma medida da motivação dos
trabalhadores com a preocupação da gestão em os manter motivados. O número de sugestões
dos trabalhadores mede o número de propostas de gestão feitas pelos trabalhadores ao nível
hierarquicamente acima. Estas atitudes provêm na maior parte dos casos de trabalhadores
motivados. Por outro lado, também é necessária uma abertura do nível de gestão
hierarquicamente superior às propostas vindas de baixo, fomentando assim o empenho e
motivação dos trabalhadores. O segundo indicador mede a forma mais antiga e mais directa de
motivar os trabalhadores, ou seja, através do aumento dos seus ordenados.
Para os indicadores indicados, adicionam-se as seguintes variáveis às já existentes.
V29 - # de sugestões dos trabalhadores
V30 - Nº de recursos humanos no ano anterior
V31 - Total de ordenados no ano presente
V32 - Total de ordenados no ano anterior
V33 - Orçamento anual
V34 - Montante dedicado à inovação
V35 - Frequência das acções de formação no nível operacional
V36 - Frequência das acções de formação na administração
V37 - % de incremento nos objectivos do Balanced Scorecard
V38 - Implementação de SGQ (ISO 9000 ou outro nível)
4.3. Informação contextual
Muitas vezes são necessárias explicações para justificar dados extremamente fora do intervalo
aceitável de resultados ou para enaltecer bons resultados quando aparentemente estes não o são.
Estes factores explicativos são utilizados na fase de análise, ou seja, após a apresentação dos
resultados. Esta informação contextual poderá assim depender de políticas de gestão de curto e
médio prazo como também ser mesmo de “contexto” dependendo de objectivos de longo prazo ou
factores externos, como a demografia, geografia, clima ou economia do município em estudo.
56
As mesmas regras que se aplicam às variáveis e aos indicadores também se aplicam à informação
contextual: deverá corresponder univocamente ao indicador que explica, situar-se no mesmo
espaço físico e temporal e ser fácil de obter. Contudo, a precisão não é tão importante tratando-se
de informação qualitativa e não quantitativa.
4.4. Implementação
Apesar de os gestores terem hoje em dia cada vez mais a noção do impacte que a avaliação tem
no desempenho da sua empresa, raramente incluem na sua estratégia um conjunto de processos
para que esta seja feita apropriadamente. Isto é, os gestores criam planos de gestão muito
evoluídos mas continuam a avaliá-los com ferramentas do passado como indicadores financeiros
básicos de curto prazo. Estes gestores falham não só no facto de não terem medidas modernas
que acompanham as suas estratégias mas também no facto de não terem utilizado estas medidas
modernas para avaliar as suas estratégias anteriores. Em outros casos, tanto os processos de
gestão como as medidas são modernas e revolucionárias, recaindo os erros sobre a sua
integração na gestão. A avaliação tem de fazer parte do processo contínuo de gestão e ser
incluída nas tarefas periódicas de tratamento de dados.
A implementação de um sistema de avaliação de desempenho (SAP) assenta assim sobre vários
aspectos importantes que não devem ser descartados. O Balanced Scorecard, dada a sua
facilidade de implementação e leitura, permite uma flexibilidade acrescida quanto à abrangência e
detalhe a incluir no SAP.
Em primeiro lugar é importante definir quem ou qual equipa será considerada como o gestor
responsável pela avaliação da empresa. Em certos casos o Balanced Scorecard é uma ferramenta
exclusivamente utilizada na Administração executiva da empresa. Os resultados dos diversos
indicadores são recolhidos nos diversos departamentos, chegando à administração somente a
responsabilidade de avaliar e decidir quais as medidas a adoptar. Contudo, em empresas grandes
isto poderá representar um problema, dada a diversidade de tarefas que são muitas vezes
realizadas e consequentemente a elevada quantidade de indicadores a calcular. A solução para
este problema poderá passar por criar um Balanced Scorecard multi-nível. Esta metodologia é a
utilizada pela General Motors e consiste na criação de vários Balanced Scorecards, sendo que
cada um corresponde ao seu nível hierárquico. Assim, consoante o nível em que se encontrem, os
indicadores serão mais ou menos detalhados. Isto permite à gestão de topo avaliar a empresa de
uma perspectiva mais abrangente, delegando nos diversos departamentos objectivos macro que
serão então detalhados internamente através dos seus próprios Scorecards. O Balanced
Scorecard está neste caso a servir de ferramenta de trabalho para a gestão da empresa, servindo
como um informe periódico sobre os efeitos da gestão. A recolha de informação terá em qualquer
dos casos (multi-nível ou não) de ser sistematizada dentro dos departamentos e os detentores
57
dessa informação deverão estar habituados a disponibilizá-la ao seu superior periodicamente. No
estudo desenvolvido par ao Hospital Garcia da Horta a porposta da figura 19 é também feita pela
autora, que decide hierarquizar vário Scorecards (Calhau, 2009).
Figura 19 – Proposta de implementação de um BSC multi-nível no Hospital Garcia da Horta.
Fonte: (Calhau, 2009)
Uma alternativa à integração do Balanced Scorecard directamente no dia-a-dia dos gestores é a
criação de uma equipa independente destacada especialmente para a recolha de informação,
tratamento dos dados, organização dos resultados e avaliação dos mesmos. Apesar de parecer
ser mais custoso por obrigar ao destacamento de pessoas especializadas no assunto, pode por
outro lado ajudar na poupança de uma reformulação que seria essencial para que fosse a
administração a avaliar. Esta equipa, ficando exclusivamente responsável pelo BSC, não
necessitaria de tanto investimento na sistematização da disponibilização da informação e pouparia
aos departamentos individuais o tempo de toda a avaliação.
Em segundo lugar é imperativo definir o período de tempo a avaliar e a frequência com que a
informação é compilada e utilizada. Na maior parte das empresas as contas são fechadas pelo
menos anualmente e é elaborado um relatório explicativo da actividade e do negócio. Posto isto,
entende-se que o período máximo de avaliação seja este (um ano) pois para a avaliação de
desempenho é necessária grande parte dos dados utilizados na realização do relatório. No entanto
outros períodos são aceitáveis para o funcionamento do BSC (semestralmente ou trimestralmente)
58
sendo essencial reconhecer quais os indicadores que são passíveis de registar alterações a mais
curto prazo ou a mais longo prazo.
O estabelecimento de qualquer sistema de avaliação de desempenho causa um consumo grande
em tempo e dinheiro que tem de compensar nos resultados que emite. A sua implementação parte
da definição da visão estratégica aplicada a toda a empresa que se resume a uma frase objectiva.
No caso dos serviços públicos em geral esta poderá ser por exemplo “Chegar a todos e com
melhor qualidade de serviço”. Esta visão deverá de seguida ser repartida por objectivos individuais
nas 4 áreas do Balanced Scorecard. Os indicadores de desempenho aparecem a partir destes
objectivos individuais, traduzindo-os em medidas tangíveis. Aquelas medidas que são mais
passíveis de traduzir directamente os objectivos serão os indicadores chave, que permitem definir
imediatamente uma estrutura de avaliação, servindo os restantes indicadores de desempenho
como ajuda ou complementos explicativos. Contudo o número de Indicadores deverá ser reduzido
para que o BSC seja legível e não seja redundante. A forma de transformar os objectivos em
medidas pode ser através de um processo de benchmarking e de uma visão interior da empresa,
ou seja, os objectivos são definidos através das melhores práticas avaliadas num sistema de
benchmarking e os resultados deverão crescer consoante as capacidades da empresa, podendo
as medidas em si representar o nível de cumprimento dos objectivos. Isto significa que cada
resultado deverá ser comparado com o objectivo para ter um significado real e palpável. Com a
inclusão do processo de benchmarking ou comparação com boas práticas surge a questão da
precisão dos dados ou informação. Afinal, as boas práticas no sector poderão não ser um objectivo
absoluto, criando assim uma noção de relatividade que não fornece objectivos precisos. A
definição da precisão dos dados recolhidos no caso da empresa em questão faz parte integral da
implementação do Balanced Scorecard e do processo de benchmarking a efectuar.
A definição de benchmarking é utilizada de duas formas distintas, que podem trazer confusão a
leitores menos experientes. A “benchmarking” poder-se-á chamar todo o processo de investigar as
boas práticas, comparar com a própria empresa e agir em conformidade com as descobertas.
Benchmarking pode ser um processo de gestão por objectivos. O segundo sentido usado pela
palavra “benchmarking” é o de fazer um estudo de mercado para definir quais as melhores práticas
empregadas. A primeira definição é contudo a mais correcta e mais abrangentemente utilizada na
literatura especializada.
Segundo Alessandro Ancarani e Sjovold Froydis (2008), existem dois tipos de processos de
benchmarking: métrico e por processual. O benchmarking métrico baseia-se em indicadores de
desempenho e trata da recolha de dados no mercado, identificando quais aqueles que deverão ser
os ideais (ou correspondentes às melhores práticas) e comparando os dados internos com esses
mesmos. Este benchmarking é tido como pouco eficaz (Ancarani & Sjovold, 2008), pois obriga à
59
inclusão de muito factores explicativos os quais, apesar de ser essencial a sua existência, acabam
muitas vezes por ser usados em demasia e retirar importância aos indicadores. A segunda forma
de benchmarking, por processos, trata da identificação das melhores práticas em termos de
procedimentos e procurar copiá-las. Não é tão utilizado por reguladores pois não existe forma de
regular a qualidade dos processos eficazmente. É contudo mais eficaz do ponto de vista da gestão
de uma empresa, seja ela privada ou pública, pois identificando processos é possível reconhecer
aquilo que é aplicável à própria empresa ou não. Além disso, segue-se uma lógica natural de
causa-efeito enquanto no benchmarking métrico só se analisam efeitos, sem se olhar para o
processo em si.
A medição dos indicadores através do grau de cumprimento de objectivos poderá ser representada
sob várias formas no Balanced Scorecard. Apresentando os dados em percentis, quartis, numa
escala de 1 a 5 ou num código de cores do tipo semáforo haverá maior facilidade na leitura do
Balanced Scorecard para os gestores e poderá por vezes enaltecer os casos mais graves ou cujos
resultados foram mais negativos. O IRAR apresenta os dados num sistema “semáforo”, afirmando
que tem um maior impacto nas empresas avaliadas (IRAR, 2009).
Por último é importante definir a fonte de informação previamente e ter a organização desenhada
para que esta seja fornecida atempadamente. A qualidade e precisão da informação ditarão a
qualidade e eficácia do sistema de avaliação de desempenho sendo imperativo criar rotinas na
recolha da informação para que aquando da recolha periódica dos dados estes já estejam
preparados, compilados e disponíveis no mesmo local.
Verificar todos os aspectos e procedimentos a seguir no Balanced Scorecard depende assim de
uma boa liderança, garantindo boa comunicação interdepartamental, motivação dos trabalhadores
e a divulgação do sistema. Só com um empenho extraordinário da gestão de topo e com uma
motivação eficaz de todos os trabalhadores é que um sistema de avaliação de desempenho
poderá ser eficaz e fornecer dados precisos e decisivos afectando a empresa positivamente no seu
dia-a-dia. O caminho a seguir fica demonstrado na figura 20.
Figura 20 – Esquema de implementação do Balanced Scorecard
60
5. Casos de estudo
5.1. Introdução
Depois de extensamente descrita a metodologia a utilizar, é importante vê-la em acção através de
alguns casos de estudo. Como introduzido, os casos de estudo baseiam-se em 4 entidades a
operar no ramo da recolha de resíduos sólidos urbanos, cada uma com uma diferente estrutura
accionista ou integração na entidade mãe: empresas municipais, empresas semi-privadas, serviços
municipalizados e serviços municipais. Para exemplificar cada um destes tipos de entidades foi
necessário trabalhar com a Empresa Municipal de Águas e Resíduos de Portimão, a Tavira Verde,
EM, os SMAS de Loures e o Departamento de Qualidade Ambiental da Câmara Municipal de Vila
Franca de Xira.
Sendo o BSC algo novo para este ramo, a sua implementação em casos de estudo é feita como
hipótese introdutória não como exemplo. Ou seja, é mostrada uma evolução entre dois anos em
todas as entidades, mas esta não é fruto de um Balanced Scorecard aplicado, mas sim do normal
funcionamento das empresas sem o Balanced Scorecard. Dos casos de estudo analisados é
importante extrair as diferenças entre os vários tipos de entidade e as áreas a actuar, não os
resultados em si, que foram utilizados simplesmente a título exemplificativo de como popular o
Balanced Scorecard e calcular os indicadores.
5.2. Tavira Verde, EM
5.2.1. Breve descrição da entidade
A Tavira Verde é uma empresa municipal de capitais mistos constituída em Fevereiro de 2005. As
suas áreas de negócio são o abastecimento de água em baixa, o saneamento das águas residuais,
a recolha de resíduos sólidos urbanos e recicláveis e a limpeza de jardins e praias. Para executar
estas tarefas a empresa tem a seu cargo a gestão, exploração, manutenção e conservação de
toda a infra-estrutura existente para desempenhar estas funções. A sua área de actuação é a
totalidade do concelho de Tavira e define como sua missão “Satisfazer as necessidades de
abastecimento de água, de recolha de águas residuais e de RSU da população do município de
Tavira, 365 dias por ano, num quadro de sustentabilidade económica, financeira, técnica, social e
ambiental, bem como proporcionar espaços verdes de qualidade.”
É a única empresa das quatro analisadas que tem accionistas privados. Contudo, tal como é
comum nos serviços públicos em Portugal, a maior parte do seu capital está nas mãos do
município de Tavira, detendo uma parcela de 51%. Os restantes 49% são distribuídos entre a
Hidurbe, com 12.25% e a AGS com 36.75%.
61
A empresa conta com 171 trabalhadores dos quais 114 pertencem ao Departamento de Limpeza
Recolha e Jardins. Este Departamento é assim aquele que requer mais trabalhadores entre os 7
existentes:
Administração
Direcção Administrativa, Financeira e Comercial
Direcção de Operação de Redes
Direcção de Limpeza, Recolha e Jardins
Departamento de Qualidade e Segurança
Departamento de Planeamento de Obras
Departamento de Manutenção de Equipamento
É na Direcção de Limpeza, Recolha e Jardins que se baseiam quase todos os dados, sendo que é
nesta que se encontra a recolha os Resíduos Sólidos Urbanos. Contudo, alguns dados (como os
financeiros são recolhidos ao nível da empresa por não estarem disponíveis por departamento,
como seria de esperar.
O município é um dos maiores de Portugal Continental, contando com uma área total de 611km2.
Além deste factor, é também conhecido por ser um município bastante rural e montanhoso. Tavira
conta neste momento com 25542 habitantes segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). A
acrescentar às dificuldades na recolha, importa referir que sofre de uma forte sazonalidade, pois é
limitado a Sul pelo mar e por extensas praias que atraem dezenas de milhares de turistas
produtores de RSU todos os anos especialmente nos meses de Junho a Setembro. A Tavira Verde
conta com um barco que partilha com os bombeiros voluntários de Tavira quando não está a
efectuar a recolha para transportar os resíduos sólidos depostos e resultantes da limpeza de praias
da Ilha de Tavira para terra para serem tratados.
Quanto às operações em si, o ponto de deposição é na Fonte Salgada (a norte da cidade de
Tavira), operado pela Algar, SA. Trata-se de uma estação de transferência e ecocentro, pelo que
toda a deposição é efectuada ali. Contudo, apesar de a gestão e manutenção de contentores de
recicláveis estar a cargo da Tavira Verde, a recolha de recicláveis não está obrigatoriamente. É da
responsabilidade da Algar a recolha de recicláveis, sendo que a Tavira Verde efectua somente a
recolha de indiferenciados. É claro que, caso surjam monstros que sejam recicláveis, estes serão
recolhidos pela Tavira verde, e o mesmo para a limpeza de jardins.
Na recolha, a Tavira Verde conta com um sistema inovador de análise de enchimento dos
contentores. Este sistema analisa constantemente qual o grau de preenchimento dos contentores,
enviando para a central a informação num sistema de semáforos (vermelho, amarelo ou verde).
62
Desta forma só se torna obrigatório para os camiões pararem e recolherem os resíduos de
determinado contentor quando esse der indicação de vermelho ou quando se compreender que
será passível de chegar a vermelho até à próxima recolha. Este sistema permite poupar muitíssimo
tempo na recolha e aumentar a eficiência.
Dos relatórios e contas para ambos os anos (2007 e 2008) foi possível recolher boa parte dos
dados exibidos nos parágrafos seguintes. Estes relatórios descrevem resumidamente as
actividades da empresa e o exercício praticado no próprio ano. A análise financeira também se
encontra neles descrita, pelo que torna mais simples uma visão exterior da empresa. Contudo, por
se tratar de uma empresa com actividades em mais áreas do que a Recolha de Resíduos Sólidos
Urbanos, publica a grande parte dos seus dados como um todo, tendo sido obtidos dados mais
específicos em certas perspectivas através de visitas às instalações e contacto directo. Estas
visitas possibilitaram também o conhecimento do dia-a-dia de uma empresa neste sector e
reconhecer o funcionamento prático da gestão da empresa.
5.2.2. Identificação do ano base
Tal como indicado na metodologia, preenche-se o Balanced Scorecard somente a título
exemplificativo, pois tratando-se de um sistema de gestão estratégica e de avaliação de
desempenho, é muito difícil entender até ao fundo da questão quais os factores que levam aos
resultados patentes.
O primeiro passo será saber qual o estado da empresa no que diz respeito aos Indicadores de
Desempenho, para a partir daí se poderem traçar metas viáveis com o Balanced Scorecard. Só no
segundo ano é que se começará então a avaliar o desempenho, verificando a evolução e o grau de
cumprimento das metas estabelecidas. Para identificar um “ano base” utiliza-se para a Tavira
Verde o ano anterior ao mais recente para o qual se conhecem todos os indicadores, neste caso
2007.
Como se verifica no quadro 9, a partir daqui pouco se pode extrair a não ser uma avaliação base
de qual o estado da empresa para se poder ter um ponto partida para uma evolução anual. Na
informação adicional encontram-se comentários quanto à recolha dos dados e área da empresa à
qual se aplicam. Por exemplo, no caso do preço por tonelada é importante referir que não se trata
de um preço apenas pela recolha de indiferenciados, mas sim por todos os resíduos (e é aliás
assim que vem descriminado na factura, como resíduos). Nos indicadores onde várias variáveis
chegam subjectivamente a um nível de qualidade, é importante referir qual a escala de qualidade.
No anexo I poderá então ver-se a razão de se atribuir determinado nível a esse indicador, ou o que
esse nível significa.
63
Quadro 9 – Indicadores de desempenho e resultados de 2007 para a Tavira Verde
Perspectiva ID Indicador Informação Adicional 2007
Clientes C01 Reclamações recebidas
103,00
C02 Resultados de inquéritos (se existirem)
1 a 5 2,95
C03 Qualidade do serviço relativa Não Existe -
C04 %Reclamaçãoes respondidas
91,26%
Processos Internos
P01 Preço por tonelada RSU/Recicláveis/Monos/Verdes - TVerde e ALGAR
97,99
P02 Método de pagamento Indexado à agua 0
P03 Cobertura da recolha Taxa estimada IRAR 2008 95,80%
P04 Cobertura porta-a-porta
0
P05 Frequência do serviço
18
P06 Salubridade do serviço (limpeza da rua)
0 a 3 1
P07 Qualidade do sistema de informação
1 a 5 4
P08 Recursos humanos por tonelada recolhida
RSU/Recicláveis/Monos/Verdes - TVerde e ALGAR
2,73
P09 Recursos humanos por km2 RSU/Recicláveis/Monos/Verdes - TVerde e ALGAR
0,072
P10 Absentismo Tavira Verde 2420
P11 Custo de deposição por tonelada RSU/Monos/Verdes/Indf 34,25
P12 Custo operacional por tonelada RSU/Recicláveis/Monos/Verdes - TVerde e ALGAR
160,76
P13 Custo operacional por área RSU/Recicláveis/Monos/Verdes - TVerde e ALGAR
4785
Inovação e Aprendizagem
A01 Acções de Formação 1 a 5 3
A02 % do orçamento anual dedicado a inovação
Tavira Verde N/A
A03 Melhoria contínua Medição de Indicadores 2
A04 Número de sugestões dos trabalhadores
Não contabilizado N/A
A05 % média de subida dos ordenados Tavira Verde 2,99%
Finanças F01 Autonomia financeira Tavira Verde 0,21
F02 Rentabilidade Tavira Verde 0,09
F03 Rácio de liquidez (curto prazo) Tavira Verde 1,44
F04 Liquidez reduzida (Acid Test) Tavira Verde 0,73
Nesta avaliação base verifica-se imediatamente que a divisão de resíduos sólidos dá um prejuízo
de mais de 60€ por tonelada. Quer isto dizer que separar os dois serviços não é neste momento
rentável. A única maneira de o fazer rentável é fornecendo mais recicláveis e menos
indiferenciados, pois um tem valor económico enquanto o outro não. Aquilo que se cobra aos
utilizadores não é por enquanto suficiente para cobrir os custos mas é socialmente difícil aumentar
os preços por se tratar de um serviço público essencial para a população.
64
5.2.3. Metas
Quadro 10 – Metas e resultados para 2008 na Tavira Verde
Perspectiva ID Metas 2008
Informação sobre os objectivos
Real 2008
Grau de Cumprimento
Clientes C01 80 Reduzir 20% 119,00 -69,57%
C02 4
Com introdução da cobertura porta-a porta
3,98 98,10%
C03 N/A
Não existe método de comparação
N/A N/A
C04 100% (IRAR, 2009) 92,44% 13,45%
Processos Internos P01 105 Aumentar 5% anualmente 113 214.12%
P02 1
Tendência para a separação no sector
0 0,00%
P03 100% (IRAR, 2009) 95,80% 0,00%
P04 20%
Introdução do sistema: comum no sector
0 0,00%
P05 20 Diminuir contentores cheios 18 0,00%
P06 2 Lavar contentores 2x ao mês. 1,00 0,00%
P07 5
Introduzir sistema central do género CRM
4 0,00%
P08 2,5 (IRAR, 2009) 3,13 -174,99%
P09 0,07
Reduzir em linha com o indicador da quantidade
0,08 -491,65%
P10 2000 Eliminar faltas excepto baixa 1573 201,67%
P11 30 Aumentar parcela reciclável N/A N/A
P12 145
Reduzir 10% anualmente (em linha com o preço)
169,00 -52,28%
P13 4100
P12 mais redução de quantidade
5190 -59,21%
Inovação e Aprendizagem
A01 4
5 200,00%
A02 N/A
N/A N/A
A03 4 Implementar SGQ ISO 9001 4 100,00%
A04 10
Com implementação do SGQ, identificar pioneiros
8 100,00%
A05 5% Bater a inflação em 2% 4,92% 95,90%
Finanças F01 0,2 (IRAR, 2009) 0,17 400,00%
F02 0,1 Aumentar para 10% 0,07 -247,34%
F03 >1,5 (IST, 2007) 1,51 116,67%
F04 >0.8 (IST, 2007) 0,89 59,96%
Com os objectivos bem definidos e observando os indicadores, estabelecem-se as metas por
indicadores. As metas são estabelecidas para o Balanced Scorecard anualmente, pois até no
sentido de fomentar a motivação em geral, é importante que sejam metas atingíveis curto-prazo,
revistas anualmente.
65
As metas são definidas com base nas indicações do RASARP 2007, estado actual da empresa,
informação contextual e outras referências no sector, como são a EMARP de Portimão, a EPMAR
de Vieira do Minho, os SMAS de Castelo Branco ou a AGERE em Braga. Destas indicações
aquelas que têm mais peso serão o estado actual da empresa e a informação contextual, pois são
essas que nos dizem quais são os objectivos viáveis para o ano seguinte. No quadro 10
apresentam-se as metas para a Tavira Verde atingir em 2008, bem como o resultado verificado.
5.2.4. Resultados anuais
Chegando à fase de análise de resultados, é aqui que se verifica qual o grau de cumprimento das
metas e consequentemente se resume todo o exercício da empresa durante o exercício de 2008.
Segundo o mapa estratégico, pode observar-se a relação causa efeito, onde o sucesso numa
perspectiva poderá levar ao cumprimento dos objectivos na outra. Este efeito poderá ter um
desfasamento substancial, pelo que poderá não ser observável em dois anos somente. Por
exemplo, se ao longo de 2008 se melhorou substancialmente o serviço aos utentes, só em 2009 é
que se verificará uma melhoria da percepção geral. Este aspecto explica também a razão de a
implementação custar tanto tempo e dinheiro, pois só produz resultados palpáveis ao fim de um
longo período de tempo (mínimo 5 anos).
Os factores contextuais na análise de resultados deixam neste caso de se prender com a
morfologia do território ou com a demografia do mesmo. Estes factores estão contabilizados na
definição dos objectivos e não deverão ser tomados em conta aquando da análise de resultados.
Os únicos factores explicativos que poderão causar um incumprimento dos objectivos são aqueles
que compreendem eventos inesperados ou catástrofes naturais.
Observando o Balanced Scorecard ao fim do primeiro período de aplicação verifica-se que os
objectivos traçados não foram em grande escala cumpridos. Sendo que este método não foi
aplicado pela empresa, é impossível dar uma justificação para estes resultados. A juntar a este
facto, é importante verificar que não são conhecidos os factores contextuais do exercício de 2008,
a não ser aqueles apresentados no Relatório e Contas, que são muito resumidos e incompletos. O
importante nesta análise póstuma a título exemplificativo é reconhecer a relação causa-efeito das
perspectivas e não dos factores explicativos. Verifica-se que subiram tanto os custos como o preço
médio por tonelada cobrado ao utente. Com preços mais altos é natural que o utente se torne mais
exigente ou que na existência de erros não hesite em apresentar uma reclamação. Isto reflecte-se
no número de reclamações recebidas ter aumentado. Por outro lado, com a implementação da
ISO: 9001, com a especialização dos empregados através de um novo plano de formação feito à
medida das necessidades da empresa e com um aumento das reclamações respondidas, é natural
que a satisfação média dos utentes tenha subido e se tenha atingido o objectivo de chegar ao nível
4 (80% de satisfação média).
66
Outro aspecto a reconhecer deste Scorecard é o facto de o grau de cumprimento de objectivos ser
posto em percentagem e de ser apresentado segundo um código de cores. Anualmente o gestor
tem a possibilidade de reconhecer de imediato quais os objectivos que foram cumpridos, aqueles
que não foram sequer endereçados e aqueles que aliás, até caminharam no sentido oposto.
Terminada a análise, o próximo passo será estabelecer novos objectivos para o ano seguinte. Daí
que uma das variáveis na melhoria contínua seja o incremento anual dos objectivos do Balanced
Scorecard. Desta forma, pegando nos resultados de 2008 estabelecem-se novas metas para 2009,
desta vez com um novo factor explicativo no processo de decisão: o grau de cumprimento dos
objectivos do ano anterior. Quer isto dizer que se os objectivos foram ultrapassados em larga
escala, talvez se tenha procedido a uma prospecção pouco ambiciosa. O contrário no caso de os
objectivos não terem sido atingidos por uma larga margem.
5.3. Câmara Municipal de Vila Franca de Xira
5.3.1. Breve descrição da entidade
A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira (CM VFX) está organizada por vários departamentos
dos quais neste caso se destaca somente o Departamento de Qualidade Ambiental. É este
departamento que trata da recolha de RSU, limpeza de jardins e recolha selectiva em todo o
concelho, depositando os resíduos recolhidos na estação de transferência da RESITEJO. Trata-se
de um concelho maioritariamente rural, com alguma área de agricultura mas com um núcleo
urbano densamente populado. Vila Franca tem 142290 habitantes numa área de 317,7 km2
segundo o INE em 2008.
Tratando-se de um departamento da câmara municipal, os dados financeiros são não só difíceis de
obter como por vezes inexistentes. A tarifa cobrada é retirada da prática comum sem referência a
custos e despesas. Significa isto que em caso de prejuízo será a câmara municipal a pagar e em
caso de lucro o a mesma recebrá. Não existe qualquer sistema de medida de desempenho nem de
medida de custos operacionais. Com a primeira noção de serviço público a única preocupação é a
de efectuar a recolha eficazmente, onde o respeito pela eficiência fica a cargo do responsável do
Departamento. Por sua vez, observando os indicadores de eficiência existentes, verifica-se que a
gestão não fica fora dos padrões habituais, apesar de não existir nenhum SGQ implementado.
A implementação de um Balanced Scorecard a este departamento torna-se, assim como ele está,
em algo impossível na prática, pois não existem dados para o preencher. A implementar, teria de
se seguir toda uma reestruturação da forma como são observados os dados dentro da câmara
municipal, passando a ser obrigatória a discriminação dos dados por departamento.
67
A recolha de dados para a câmara municipal foi feita mediante uma visita ao estabelecimento que
proporcionou não só uma visão interior da organização como o contacto directo com a gestão da
empresa. Daqui se extraíram os dados básicos para a compreensão da CM VFX como um todo.
5.3.2. Identificação do ano base
Quadro 11 - Indicadores de desempenho e resultados de 2007 para a C.M. Vila Franca de Xira
Perspectiva ID Indicador Informação Adicional 2007
Clientes C01 Reclamações Recebidas
158
C02 Resultados de inquéritos (se existirem)
N/A
C03 Qualidade do Serviço Relativa
N/A
C04 %Reclamações respondidas
89%
Processos Internos
P01 Preço por tonelada Indiferenciados e recicláveis 19,45
P02 Método de pagamento
0
P03 Cobertura da recolha
100%
P04 Cobertura Porta-a-porta
0
P05 Frequência do serviço
55
P06 Salubridade do Serviço (limpeza da rua)
0,7
P07 Qualidade do Sistema de informação
1
P08 Recursos Humanos por Tonelada Recolhida
Indiferenciadas e recicláveis 1,20
P09 Recursos Humanos por km2
0,22
P10 Absentismo
N/A
P11 Custo de Deposição por tonelada
22,97€+ 1€ incineração ou 2.5€ aterro
24
P12 Custo operacional por tonelada
N/A
P13 Custo operacional por área N/A
Inovação e Aprendizagem
A01 Acções de Formação 3x por ano 4
A02 % do orçamento anual dedicado a inovação
Não existe orçamento N/A
A03 Melhoria Contínua Não existe nada neste sentido (1 a 5)
1
A04 Número de sugestões dos trabalhadores
N/A
A05 % média de subida dos ordenados
Tabela da Função pública Função Pública
Finanças F01 Autonomia Financeira
N/A
F02 Rentabilidade
N/A
F03 Rácio de Liquidez (curto prazo)
N/A
F04 Liquidez reduzida (Acid Test)
N/A
68
Tal como na Tavira Verde, o ano base utilizado será 2007. Esta hipótese é possível por já existirem
dados para 2008 e assim poder ser apresentado novamente o exemplo da evolução.
Como se verifica no quadro 11 os dados são muito escassos e as medidas são quase inexistentes.
O principal objectivo de qualquer primeiro Balanced Scorecard aplicado neste departamento seria
o de iniciar as medidas, mesmo que estas não fossem positivas ou não contribuíssem par a uma
melhoria na gestão nos primeiros anos.
5.3.3. Metas
O facto de não existirem medidas palpáveis deixa nas metas para o ano uma simples mensagem:
é necessário medir. O Balanced Scorecard assenta acima de tudo na fiabilidade dos dados e na
quantidade de medições passíveis de serem feitas. Essa é a razão de se partir de uma ideia tão
lata como é a missão e subdividi-la até ao nível dos indicadores de desempenho.
5.3.4. Resultados anuais
Num Balanced Scorecard incompleto, muito pouco se poderá extrair dos resultados anuais. Neste
caso, ou foram implementados novos sistemas de medidas, ou os resultados não vão ter qualquer
significado.
Não havendo qualquer plano de pôr em marcha o Balanced Scorecard, um sistema de Gestão da
Qualidade ou outro incentivo à criação de Indicadores de Desempenho Na CM VFX, é natural que
não se tenham verificado quaisquer alterações, facto patente no quadro 12. O exemplo da CM VFX
é um bom exemplo do problema que existe nos organismos públicos em medir a eficiência e até
medir o seu próprio desempenho. O próprio IRAR, ao vir no futuro próximo a ganhar estatuto para
exigir destes organismos o reporte das suas operações através de Indicadores de Desempenho,
terá por um lado muitas dificuldades e por outro um papel determinante na criação de mais
qualidade de gestão, ou pelo menos de algum tipo de acompanhamento.
Na base de um Balanced Scorecard estão as medições de desempenho. Assim, aplicando à CM
VFX o BSC ter-se-ia de separar as contas financeiras da Câmara por departamento, criando um
orçamento independente e contas anuais também independentes. Isto obrigaria a manter os dados
da recolha em separado, criar uma gestão de recursos humanos independente, para a partir de aí
se poder atribuir os custos com pessoal equivalente a cada Departamento. Desta forma haveria
possibilidade de avaliar a eficiência de cada departamento, neste caso do Departamento de
Qualidade Ambiental, publicando eventualmente os seus resultados para conhecimento público o
que hoje em dia é já uma obrigatoriedade social de qualquer organismo público.
69
Quadro 12 - Metas e resultados para 2008 na C.M. Vila Franca de Xira
Perspectiva ID Metas 2008
Informação sobre os objectivos Real 2008 Grau de
Cumprimento
Clientes C01 126 Reduzir 20% 142 50,63%
C02 Medir Criar Inquéritos N/A 0,00%
C03 N/A Não existe método de comparação N/A N/A
C04 100% IRAR 2009 90,14% 13,46%
Processos Internos
P01 30 Aumentar no sentido do equilíbrio social entre concelhos
24,92 51,83%
P02 1 Tendência para a separação no sector
1 100,00%
P03 100% IRAR 2009 100% 100,00%
P04 20% Introdução do sistema na cidade: comum no sector
0 0,00%
P05 60 Diminuir contentores cheios 55 0,00%
P06 1 Lavar contentores uma vez por mês 0,7 0,00%
P07 2 Tornar a informação imediata 1 0,00%
P08 1,1
1,12 84,09%
P09 0,2
0,20 100,00%
P10 Medir
N/A 0,00%
P11 22 Aumentar a parcela de recicláveis 25 -50,00%
P12 Medir
N/A 0,00%
P13 Medir
N/A 0,00%
Inovação e Aprendizagem
A01 5 Planificar a formação 4 0,00%
A02 Medir
N/A N/A
A03 2 Medir indicadores 1 0,00%
A04 Medir Fomentar o empenho dos trabalhadores
N/A 100,00%
A05 N/A N/A Função Pública
N/A
Finanças F01 Medir
N/A 0,00%
F02 Medir
N/A 0,00%
F03 Medir
N/A 0,00%
F04 Medir
N/A 0,00%
5.4. SMAS Loures
5.4.1. Breve descrição da entidade
A definição de serviços municipalizados é algo diferente de qualquer das outras entidades aqui
descritas. Este tipo de organização difere de todas as outras por dispor de autonomia financeira e
70
administrativa, mas não jurídica. Ou seja, insere-se na pessoa pública da câmara municipal mas
tem independência para gerir um orçamento e administrá-lo independentemente. Os Serviços
Municipalizados de Loures cobrem tanto a área do concelho de Loures como do concelho de
Odivelas. A razão para assim ser é o facto de ambas as câmaras terem sido uma só até 2002,
utilizando os SMAS como entidade responsável pelos serviços públicos locais (abastecimento de
água, saneamento de águas residuais e recolha dos resíduos sólidos urbanos). Desde aí que os
SMAS de Loures obtêm fundos de ambas as câmaras municipais para financiar as suas operações
em toda a área. O resultado desta união foi uma população total segundo o INE de 349192
habitantes em 2008 residntes numa área total 194,6 km2.
A deposição de toda a recolha (os SMAS efectuam a recolha de tanto os indiferenciados como os
recicláveis) é feita na Valorsul, na estação de tratamento e triagem de São João da Talha. Focando
as atenções na Divisão de Resíduos Sólidos, esta está separada em três sectores: equipamento,
remoção normal (RSU) e remoção especial (monstros e selectiva). A SMAS Loures efectua tanto
recolha porta-a-porta indiferenciada como selectiva, onde já conta com uma cobertura de 40 mil
pessoas (cerca de 15%). A área dos dois concelhos é bastante extensa e tem uma densidade
populacional considerável, com 330 mil habitantes em cerca de 194 km2, o que torna obrigatória
um alto número de recursos humanos por área.
A recolha de dados para os SMAS Loures foi feita através de uma estreita colaboração com a
direcção da Divisão de Resíduos Sólidos que forneceu praticamente todos os dados. A
disponibilidade dos dados ajuda na tentativa de aplicação de um método destes, apesar de ser
difícil de identificar quaisquer melhorias no desempenho de um ano para o outro.
5.4.2. Identificação do ano base
Também nos SMAS de Loures existe informação para o ano de 2008 e assim o ano base volta a
ser 2007. A informação fornecida é significativamente mais extensa do que para a CM VFX sendo
que se trata de uma organização independente. É contudo de louvar o facto de existir informação
detalhada na divisão de resíduos sólidos.
Apesar de não estar explicitado no quadro apresentado, mais uma vez existe um prejuízo
considerável na recolha de RSU. Para o exercício de 2007 este ascendeu aos €5.958.730,2 e teve
de ser coberto pelas outras áreas dos SMAS, ou seja o abastecimento de água e o saneamento de
águas residuais.
5.4.3. Metas
Com um prejuízo desta dimensão, fará todo o sentido ter metas agressivas e palpáveis. Contudo,
numa empresa desta dimensão (abastece estes serviços para 330 mil pessoas) é quase
71
impossível aplicá-los eficazmente sem um sistema de gestão centralizado ou balanceado como o
Balanced Scorecard.
Quadro 13 - Indicadores de desempenho e resultados de 2007 para os SMAS de Loures
Perspectiva ID Indicador 2007
Clientes C01 Reclamações recebidas 1312
C02 Resultados de inquéritos (se existirem) Não existem
C03 Qualidade do serviço relativa -
C04 % de reclamaçãoes respondidas 91%
Processos Internos P01 Preço por tonelada 60,15
P02 Método de pagamento 0
P03 Cobertura da recolha 100,00%
P04 Cobertura porta-a-porta 16%
P05 Frequência do serviço 280,5
P06 Salubridade do serviço (limpeza da rua) 2
P07 Qualidade do sistema de informação 3
P08 Recursos humanos por tonelada recolhida 1,74
P09 Recursos humanos por km2 1,13
P10 Absentismo 15%
P11 Custo de deposição por tonelada 26,05
P12 Custo operacional por tonelada N/A
P13 Custo operacional por área N/A
Inovação e Aprendizagem A01 Acções de formação 2
A02 % do orçamento anual dedicado a inovação N/A
A03 Melhoria contínua 3
A04 Número de sugestões dos trabalhadores 0
A05 % média de subida dos ordenados N/A
Finanças F01 Autonomia financeira N/A
F02 Rentabilidade N/A
F03 Rácio de liquidez (curto prazo) N/A
F04 Liquidez reduzida (Acid Test) N/A
É interessante verificar no quadro 13 que nos SMAS de Loures o absentismo é medido em
percentagem, ao contrário da forma praticada na Tavira Verde. No caso dos indicadores de
desempenho, fica a cargo do gestor verificar qual aquela medida que para ele terá mais
significado.
Na meta proposta para a recolha porta-a-porta o objectivo de médio prazo será cobrir toda a área
urbana, porém, será mais indicado estabelecer para 2008 somente um aumento de cerca de 30%
sobre os já existentes 16%. O mesmo se poderá dizer para a melhoria contínua, onde o objectivo
72
final deverá ser o de implementar um Balanced Scorecard para gerir toda a empresa. Neste caso,
tratando-se de uma empresa muito grande organizada em várias divisões, será interessante aplicar
um Balanced Scorecard multi-nível, ou seja, um Balanced Scorecard por divisão e um outro que
servisse a administração da empresa. No quadro 14 verificam-se novamente os baixos resultados.
Quadro 14 - Metas e resultados para 2008 nos SMAS de Loures
Perspectiva ID Metas 2008 Informação sobre os objectivos Real 2008 Grau de
Cumprimento
Clientes C01 1050 Reduzir 20% 1048 100,38%
C02 Medir Criar inquéritos Não existe 0,00%
C03 N/A Não existe método de comparação N/A 0,00%
C04 100% IRAR 2009 89% -29,55%
Processos Internos
P01 65 Aumentar cerca10% anualmente 81,60 442,26%
P02 1 Tendência para a separação no sector
0 0,00%
P03 100% IRAR 2009 100% 100,00%
P04 20% Cobrir a área urbana gradualmente 16% -6,23%
P05 300 Aumentar a recolha porta-a-porta 286 28,21%
P06 3
2 0,00%
P07 4 Reduzir o lag de actualização para 0 3 0,00%
P08 2,5 IRAR 2009 1,74 100%
P09 1 Reduzir 10% 1,13 -0,40%
P10 10% Reduzir faltas injustificadas e acidentes de trabalho
0,15 0,00%
P11 25 Aumentar parcela reciclável 28,09 -195,08%
P12 Medir Reduzir 10% anualmente (em linha com o preço)
N/A 0,00%
P13 Medir P12 mais redução de quantidade N/A 0,00%
Inovação e Aprendizagem
A01 3 Tornar as acções anuais 2 0,00%
A02
N/A 0,00%
A03 4 Implementar SGQ ISO 9001 3 0,00%
A04 10 Criar 0 0,00%
A05 Medir
N/A 0,00%
Finanças F01 Medir
N/A 0,00%
F02 Medir
N/A 0,00%
F03 Medir
N/A 0,00%
F04 Medir
N/A 0,00%
5.4.4. Resultados anuais
O exercício de 2008 assemelhou-se em muito àquele praticado excepto num factor determinante
para o bom funcionamento dos SMAS: o preço.
73
Como se pode observar nada se alterou entre o ano de 2008 e o ano de 2007. O facto de não
existir nenhum sistema que obrigue à melhoria contínua, faz com que a empresa não tenha
qualquer tipo de evolução a não ser a necessária para a subsistência e continuidade das
operações. Sendo que não existe a obrigação de fazer lucro incutida por accionistas privados, a
melhoria estratégica não existe e dessa forma reformas grandes deixam de ser comuns a menos
que por obrigação regulatória. Contudo a alteração no preço em 30% supera em muito as metas
que poderiam ser traçadas para numa entidade pública a prestar este tipo de serviço. Isto
significou uma redução do prejuízo anual para 5.063.336.13, ou seja quase 10%.
5.5. Empresa Municipal de Águas e Resíduos de Portimão (EMARP)
5.5.1. Breve descrição da entidade
A EMARP é tida como uma referência no sector, não só em comparação com o Algarve em geral,
como com todo o país. O seu modo de actuação é equilibrado e a sua gestão cuidada faz com que
os resultados sejam visíveis e o serviço seja eficaz.
A EMARP, Empresa municipal, é detida a 100% pela Câmara Municipal de Portimão e efectua o
serviço de abastecimento de águas, saneamento de águas residuais e recolha de resíduos sólidos
para os habitantes do concelho de Portimão. Trata-se de um concelho com zonas urbanas muito
densas e expandidas, e com uma componente rural também importante. Tal como em Tavira, sofre
de uma densidade populacional muito acrescida na altura do Verão, dando-lhe um carácter de
sazonalidade que acaba por influenciar somente na frequência de serviço nas zonas mais perto
das praias nessa altura. A população residente ascende aos 49881 habitantes, ultrapassando as
várias centenas de milhares no Verão. Tendo praias é da sua responsabilidade a recolha dos
resíduos nas praias, não sendo contudo necessária a requisição de serviços exteriores de meios
mecânicos. A área total do concelho é de 182km2.
A recolha selectiva é efectuada pela ALGAR na sua totalidade, ou seja, é também da
responsabilidade da ALGAR a gestão dos equipamentos afectos a essa recolha, incluindo a
limpeza dos contentores. A colaboração é contudo visível entre as duas empresas, sendo que os
pontos de deposição de resíduos são conjuntos, localizados em pequenos ecopontos aos quais
dão o nome de “Ilhas Ecológicas”. Este nome de mercado faz parte do plano geral de
encorajamento à separação de resíduos que tem tido bastante sucesso na zona de Portimão.
Sendo uma empresa tão organizada, publica anualmente um relatório de gestão e contas
muitíssimo completo com inúmeros indicadores de desempenho, informação financeira,
operacional e sobre os seus recursos humanos. Daí foram extraídos grande parte dos dados.
Aqueles que por serem demasiado específicos a este estudo não puderam ser extraídos daí, foram
74
obtidos mediante uma colaboração e comunicação com a própria empresa, que pelo orgulho que
tem em ser uma referência no sector, de bom grado os facultou.
5.5.2. Identificação do ano base
Sendo uma empresa organizada, são já públicos os resultados de 2008 e assim o ano de 2007
apresenta-se como o ano de referência para a criação do quadro 15. É importante verificar que no
relatório de gestão e contas, os valores de referência utilizados pela EMARP são várias vezes os
resultados do ano anterior, demonstrando que existe uma preocupação de desenvolvimento e
crescimento anual.
Quadro 15 - Indicadores de desempenho e resultados de 2007 para a EMARP
Perspectiva ID Indicador Informação Adicional 2007
Clientes C01 Reclamações recebidas
207
C02 Resultados de inquéritos (se existirem)
N/A
C03 Qualidade do serviço relativa
N/A
C04 %Reclamaçãoes respondidas
100%
Processos Internos P01 Preço por tonelada Indiferenciados 155,8
P02 Método de pagamento 0 ou 1 0
P03 Cobertura da recolha
100%
P04 Cobertura porta-a-porta
0
P05 Frequência do serviço 9 circ. X 7 dias 63
P06 Salubridade do serviço (limpeza da rua) 1 a 3 1
P07 Qualidade do sistema de informação Indif. e recicláveis 5
P08 Recursos humanos por tonelada recolhida Indif. e recicláveis 1,74
P09 Recursos humanos por km2
0,39
P10 Absentismo
6%
P11 Custo de deposição por tonelada Indif. e recicláveis N/A
P12 Custo operacional por tonelada Indif. e recicláveis 234,52
P13 Custo operacional por área Indif. e recicláveis 53511
Inovação e Aprendizagem A01 Acções de formação EMARP 5
A02 % do orçamento anual dedicado a inovação
N/A
A03 Melhoria contínua 1 a 5 2
A04 Número de sugestões dos trabalhadores EMARP 1
A05 % média de subida dos ordenados EMARP 2%
Finanças F01 Autonomia financeira EMARP 0,74
F02 Rentabilidade EMARP 3%
F03 Rácio de liquidez (curto prazo) EMARP 4,36
F04 Liquidez reduzida (Acid Test) EMARP 4,15
75
Verifica-se que em boa parte dos indicadores a EMARP está um passo à frente no sentido de ser
uma empresa independente e de ter uma boa gestão. A reduzida taxa de absentismo e o facto de
ter existido pelo menos em 2007 uma iniciativa que fomentava os trabalhadores a proporem
sugestões são indicadores de uma empresa evoluída e com cuidados ao nível dos seus
trabalhadores.
5.5.3. Metas
Quadro 16 - Metas e resultados para 2008 na EMARP
Perspectiva ID Metas 2008
Informação sobre os objectivos Real 2008 Grau de
cumprimento
Clientes C01 150 Reduzir reclamações de culpa própria 169,00 66,67%
C02 Criar
Criar sistema de inquéritos para medir satisfação
N/A 0,00%
C03 N/A
N/A 0,00%
C04 100% IRAR 100,00% 100,00%
Processos Internos
P01 122 Aumentar 10% 115,36 30,91%
P02 1 Discriminar os consumos 0 0,00%
P03 100% IRAR 100,00% 100,00%
P04 10% Iniciar nas zonas urbanas 0% 0,00%
P05 70 Diminuir contentores cheios (10%) 63 0,00%
P06 2 Diminuir maus cheiros (zona quente) 1,00 0,00%
P07 5 Sistema centralizado 5 100,00%
P08 1,5 Introduzir melhorias tecnológicas 2,07 -137,50%
P09 0,35
Reduzir em linha com o indicador da quantidade
0,46 -141,20%
P10 0,05 Voltar a níveis já atingidos 5,60% 33,33%
P11 N/A
N/A N/A
P12 150 Reduzir 10% 170,70 -7,64%
P13 35000
P12 com redução de quantidade de Indiferenciados
38203 11,37%
Inovação e Apredizagem
A01 5 Planificar as acções de formação 5 100,00%
A02 N/A
N/A 0,00%
A03 4 Implementar SGQ ISO:9001 2 0,00%
A04 10
Aumentar participação siginificativamente
0 -100,00%
A05 3%
0,30% -82,69%
Finanças F01 0,6 Baixar o capital empregue 0,74 0,00%
F02 0,04 Através da redução de custos 1,73% -54,42%
F03 3
Baixar o rácio de maneira a fomentar o investimento
5,31 -69,85%
F04 3
Baixar o rácio de maneira a fomentar o investimento
5,53 -120,00%
76
Ao contrário das outras empresas, neste caso o objectivo apresentado no quadro 16 ao nível dos
rácios de liquidez é de os baixar. A questão é que rácios de liquidez muito altos não fomentam o
desenvolvimento pois existirá menos activos circulantes aplicados ou a render e mais em stock.
Quer isto dizer que activos como o dinheiro, dívidas de muito curto prazo a haver ou mesmo
produtos de tratamento de água estão detidos pela empresa sem serem utilizados para investir.
Outro aspecto curioso sobre a EMARP é que apesar de ser uma empresa muito evoluída não tem
a ISO:9001 implementada. Aplica muitas ideias desta norma e faz até um forte acompanhamento
do funcionamento da empresa através de indicadores, mas não tem qualquer tipo de gestão por
processos implementada.
5.5.1. Resultados Anuais
Em quase todos os principais objectivos propostos neste estudo para a EMARP, esta evoluiu
negativamente. Não quer isto dizer que no seu exercício real não tenham existido factores que
justifiquem uma mudança neste sentido, no entanto é interessante verificar como um quadro onde
quase todos os valores são negativos chama à atenção do gestor. Facilmente se verifica que os
rácios de liquidez aumentaram, não existiu ou não resultou o programa de motivação dos
trabalhadores, aumentaram-se o número de trabalhadores e outros indicadores não evoluíram.
Também estes são importantes de observar, pois demonstram estagnação em áreas onde
eventualmente se investiram recursos importantes.
77
6. CONCLUSÕES
6.1. Síntese Conclusiva
O mercado português de resíduos sólidos está a mudar e existem neste momento ainda poucas
entidades na baixa que se tenham apercebido disso. Ao caminharmos num sentido em que faz
sentido explorar o filão da reciclagem, temos ainda uma grande parcela do país que prefere
encarar a recolha de resíduos sólidos urbanos como um serviço público puro e duro com
responsabilidade do estado a qualquer custo. As câmaras municipais continuam a dominar este
mercado, e apesar de terem um papel importante no esforço que se faz para sensibilizar as
populações, no sentido de um ambiente melhorar, fazem-no sem o sentido de negócio que uma
empresa privada pode fazer. Esta perspectiva pode mudar num futuro próximo com um aperto da
regulação à qual entidades públicas poderão não conseguir responder, e é aí que o Balanced
Scorecard tem um papel preponderante.
Na erradicação das lixeiras para dar lugar a um sistema de aterros e aproveitamento de resíduos,
entrou-se num mundo de custos muito elevados na gestão dos resíduos. Por outro lado, o facto de
se conseguir aproveitar tanto as embalagens e os recicláveis como uma boa parcela dos
indiferenciados, trouxe valor económico àquilo que sempre se considerou como “tara perdida”. A
introdução do primeiro PERSU e das gestoras multimunicipais foi uma medida de sucesso e que
cria uma base muito sustentável para que o país tenha uma gestão de resíduos eficaz. Contudo, o
problema reside ainda nas entidades em baixa que não estão ainda organizadas para um sistema
articulado de mercado livre de um bem que agora tem valor se for aproveitável e tem um alto valor
negativo se não o for. Este aspecto ligado à difícil percepção social sobre o tema, faz com que a
gestão de resíduos sólidos urbanos seja uma actividade que dá prejuízo.
Desta forma as sociedades e as entidades devem-se perguntar: Qual o próximo passo? No final,
quem paga? O que tenho eu de fazer? Quem me vai ajudar?
Todas estas perguntas podem ser respondidas, mas a criação de um sistema que as responda a
todas não poderá ser feito sem regulação. E o cumprimento dessa regulação não poderá ser feito
sem uma boa gestão. A ajuda terá de vir do sector privado através de incentivos estaduais ou, pelo
menos, de um apoio central na introdução de medidas que sejam anti-sociais como o aumento dos
preços. O único fim de qualquer empresa privada é o de gerar lucro, e se este negócio não for
lucrativo não existe lugar para essas empresas. Com a falta de capacidade do estado e da maioria
das câmaras municipais para terem uma perspectiva de rentabilidade as empresas privadas são
uma das grandes saídas deste mundo de prejuízo que dão resíduos sólidos. E quando estas
entrarem as únicas duas formas que terão para ficarem no sistema é aquelas que elas conhecem
78
melhor: aumentar receitas e diminuir custos. Assim, a tendência do sector será no sentido ideal de
aumentar os preços do lado do utilizador para que este siga um princípio de utilizador pagador e de
reduzir os custos ao fomentar a separação dos resíduos e consequente aumento da parcela
reciclável no sistema, que tem obviamente um valor positivo.
Qualquer empresa, seja ela pública ou privada poderá acabar por seguir neste sentido. Uma
análise financeira básica analisa estes objectivos, mas o serviço prestado aos utentes tem de ser
salvaguardado neste processo de poupança de custos e aumento dos preços. Torna-se assim
óbvio que entre estas duas perspectivas deste tema delicado tem de haver um balanceamento e
uma comunicação eficaz. Aliando a isto uma estrutura de organização que suporte o cumprimento
daquelas metas, torna-se essencial um sistema balanceado de avaliação de desempenho ou de
gestão estratégica.
O Balanced Scorecard surge, por um lado, através da recente expansão desta “marca” em
Portugal e por outro através do crescimento da necessidade de um sistema eficaz de gestão
interna que vise reformular as empresas para responderem às alterações na regulação que se
aproximam.
A revisão da literatura efectuada demonstra esta tendência e esta moda mundial que é a gestão
estratégica e a avaliação de desempenho. O Balanced Scorecard assume-se como um dos
sistemas maioritários em todo o mundo com um número crescente de empresas a implementar e
de consultoras a propor.
Começando pelas empresas privadas nos Estados Unidos, o Balanced Scorecard cedo evoluiu
para empresas públicas no mesmo país. Durante este tempo a Europa começou a mostrar vontade
de seguir pelo mesmo caminho ao mesmo tempo que a Ásia e a Austrália. Neste momento, o
número de estudos editados é impressionante e descobre-se que com o Balanced Scorecard se
pode melhorar a gestão de qualquer entidade, seja ela pública, privada ou mista.
A base deste sucesso é a fácil integração que ele tem numa empresa. A criação de uma missão é
algo intrínseco à incorporação e a introdução de um mapa estratégico disposto por objectivos
compreensíveis torna a metodologia bastante mais acessível do ponto de vista prático. A criação
deste mapa consiste na distribuição de objectivos que até poderão ter sido previamente definidos
pelas quatro perspectivas que, por sua vez, se encaixam na perfeição em qualquer empresa. O
ponto final de uma implementação eficaz é os indicadores de desempenho, que são úteis em
qualquer empresa e imediatos para calcular.
Por ser simples a sua implementação, torna-se interessante esta metodologia em todos os
sentidos. É facilmente compreensível para qualquer gestor e a sua organização ou componente de
comunicação é atingível seguindo qualquer guia de implementação básico ou o método que este
79
estudo propõe. Os grandes problemas na implementação surgem nas bases utilizadas para a sua
implementação ou no desprezo com que é tratado, minorando qualquer resultado significativo com
um excesso de factores contextuais. A recolha de dados tem de ser muitíssimo cuidada e a fonte
dos dados tem de ser fidedigna. O empenho maior a dar deverá ser nesta área, pois se assim não
for os resultados patentes no BSC não terão significado. É aqui que se poderá reconhecer que
mais empresas terão as suas dificuldades, pois isto obrigará a um investimento em horas de
trabalho de recursos humanos que muitas empresas não estão dispostas a fazer.
Não sendo um estudo que remeta a uma análise comparativa, os resultados obtidos nos casos de
estudo conseguem por sua vez transmitir uma mensagem de em que empresas será mais viável a
implementação do Balanced Scorecard. Por um lado temos a Tavira Verde e a EMARP que
detalham todos os dados para fins internos e os disponibilizam com facilidade. Têm ainda estrutura
e organização para conduzir um inquérito aos clientes, que pode em muitos casos dar uma ajuda
preciosa ao gestor. De todos os casos de estudo, estas são as duas empresas que estão melhor
posicionadas para implementarem um sistema deste género, em parte porque já têm a ISO:9001
implementada. Por outro lado temos a CM de Vila Franca de Xira que apesar de não ter respostas
para quase todos os indicadores, efectua uma gestão eficaz com um número relativamente
reduzido de queixas por habitante.
No final, a entidade estudada onde o Balanced Scorecard é mais necessário será os SMAS de
Loures. O número de habitantes do concelho, os volumes de RSU e os valores que transitam de
mão para mão anualmente obrigam a uma gestão equilibrada e monitorizada centralmente. As
medidas terão de existir e os indicadores de desempenho darão um enorme incentivo à sua
criação. O Balanced Scorecard aparecerá no meio de toda a empresa, podendo ser empregue a
mais do que um nível.
Aplicado à recolha de RSU, o Balanced Scorecard assumirá um papel preponderante na
coordenação entre a sustentabilidade do sistema proposto pelos dois PERSU emitidos e a
satisfação dos munícipes no que toca ao seu bem-estar e condições de saúde e higiene.
Observando os quadros produzidos nos casos de estudo, verifica-se a facilidade de leitura que os
indicadores de desempenho proporcionam e ligando esta leitura ao mapa estratégico, reconhecer-
se-á as relações causa-efeito que existem na observação da gestão de uma empresa.
Agir sobre estas relações tornou-se fácil e isto levará a uma gestão dos resíduos sólidos urbanos
eficaz e sustentável no futuro.
80
6.2. Recomendações para estudos futuros
Apesar de serem cada vez mais os estudos publicados em Portugal sobre o Balanced Scorecard,
ainda existem muitas áreas onde este pode ser implementado. As empresas privadas preenchem a
quase totalidade dos estudos publicados estando a área dos serviços públicos e departamentos
governamentais ainda muito por explorar.
Os estudos que existem na área dos serviços públicos recaem maioritariamente sobre os hospitais
ou as universidades, sendo os serviços públicos locais deixados de parte em grande escala.
Abrindo o mercado ao mundo da avaliação de desempenho em geral, notam-se cada vez mais
estudo efectuados na área do abastecimento de água, sendo que as entidades reguladoras (IRAR,
OFWAT, etc.) ajudam neste sentido ao utilizarem indicadores de desempenho para exercerem as
suas funções.
No mundo dos resíduos sólidos urbanos em baixa, contudo a bibliografia é muito escassa, estando
muito poucos indicadores de desempenho estudados para esta área. A falta de regulação em
Portugal não obriga à recolha dos dados, por parte das empresas, que operam no sector e este é
sem dúvida, um aspecto que terá de evoluir num futuro próximo. A criação de estudos que definam
quais os indicadores de desempenho mais eficazes do ponto de vista de regulação é um ponto que
não só o regulador (IRAR) deveria endereçar, pois todas as empresas terão de ter os seus próprios
mecanismos para atingirem os objectivos que virão a ser propostos.
Se o mundo da avaliação de desempenho está pouco explorado no sentido da recolha de RSU em
Portugal, ainda mais inóspito é o mundo do Balanced Scorecard. Cobrindo este estudo as
entidades a operarem ao nível municipal, falta cobrir todas as empresas prestadoras de serviços
que cobrem uma grande parcela do mercado português. Nestas, devido aos contratos
extremamente rentáveis de curto prazo propostos pelas entidades responsáveis e a pouca
concorrência no sector, o primor pela eficiência é esquecido. Apesar de muito lucrativas, estas
empresas carecem em muitos casos de sistemas de gestão estratégica e o Balanced Scorecard
assume-se neste caso como a alternativa mais imediata da pela sua capacidade de adaptação a
todo o tipo de empresas.
81
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86
ANEXO – Escala dos indicadores de desempenho
C01 - Reclamações recebidas
Escala: Unidades
Mede o número de reclamações recebidas pela entidade referentes a RSU
C02 - Resultado de Inquéritos
Escala: 1 a 5
Mede a média do grau de satisfação do cliente no inquérito submetido pela entidade, adapatada a uma escala de 1 a 5
C03 - Qualidade de serviço relativa
Escala: 1ª a [número total de municípios nesse ano]
Mede a posição da entidade num índice pondereado de todas as câmaras avaliadas pelo utente (ainda não existe)
C04 - % de reclamações recebidas
Escala: Percentagem
Mede a proporção de reclamações respondidas daquelas que foram recebidas para o indicador C01
P01 - Preço por tonelada
Escala: €/ ton
Mede o valor médio pago pelo utente aualmente por cada tonelada de RSU recolhidos
P02 - Método de pagamento
Escala: 0 a 1
Avalia se a factura de RSU é ou não discriminada da factura da água
P03 - Cobertura de recolha
Escala: Percentagem
Mede a percentagem de habitantes que são utentes da recolha de RSU comparados ao número total de habitantes do concelho
P04 - Cobertura porta-a-porta
Escala: Percentagem
Mede a percentagem (relativamente ao total do concelho) de habitantes que usufruem de recolha porta-a-porta
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P05 - Frequência do Serviço
Escala: Circuitos x frequência por semana
Mede a quantidade absoluta de circuitos por semana efectuados pelos camiões de recolha
P06 - Salubridade do Serviço (limpeza da rua)
Escala: 1 a 3
1 - Mensalmente ou menos
2 - Bimensalmente a trimensalmente
3 - Trimensalmente ou mais
Mede a quantidade de vezes por mês que os contentores de rua são lavados
P07 - Qualidade do Sistema de informação
Escala: 0 a 5
0 - Não existe nenhum tipo de comunicação
1 - Intra-mail e telefone
2 - Sistema de entrada de dados mensal centralizado
3 - Recolha de dados diária
4 - Comunicações abrangentes a toda a empresa e imediatas
5 - Sistema centralizado de informação com actualização imediata e abrangência total
Mede a qualidade informática e da capacidade instalada de comunicação dentro da empresa.
P08 - Recursos Humanos por Tonelada Recolhida
Escala: un. / 1000 ton
Mede o número de recursos humanos por tonelada de RSU recolhida, incluindo administrativos
P09 - Recursos Humanos por km2
Escala: Un./ km2
Mede o número de recursos humanos afectos à recolha de RSU (incluindo administrativos) a dividir pela área do município
P10 - Absentismo
Escala: Dias ou %
Mede o absentismo total (incluindo por doença) dentro da empresa
P11 - Custo de Deposição por tonelada
Escala: €/ ton
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P12 - Custo operacional por tonelada
Escala: €/ ton
Mede o custo total do exercicío de recolha de RSU por tonelada recolhida
P13 - Custo operacional por área
Escala: €/ km2
Mede o custo total do exercício de recolha de RSU por área do município
A01 - Acções de Formação
Escala: 1 a 5
1 - Esporádicas
2 - Bianuais ou menos
3 - Bianuais a anuais
4 - Anuais ou mais frequentes
5 - Plano concreto de formação de trabalhadores
Mede a formação total oferecida pela empresa aos seus trabalhadores, sejam eles administrativos ou operacionais
A02 - % do orçamento anual dedicado a inovação
Escala: Percentagem
Mede a percentagem do orçamento anual dedicada às melhorias tecnológicas ou à investigação no sentido inovação
A03 - Melhoria Contínua
Escala: 1 a 5
1 - Não existe
2 - Medição de indicadores
3 - Gestão por processos
4 - SGQ ISO: 9001 implementado
5 - Ferramenta de gestão aplicada, com uma revisão dos objectivos patente
Mede a capacidade da empresa observar o exercício do ano anterior e propor novas metas para o ano seguinte
A04 - Número de sugestões dos trabalhadores
Escala: Unidades
Mede o empowerment dos trabalhadores através do que estes sugerem ao seu superior
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A05 - % média de subida dos ordenados
Escala: Percentagem
Mede a percentagem de subida do ordenado médio de um ano para o outro, no sentido de medir o empenho em motivar os trabalhadores
F01 - Autonomia Financeira
Escala: Sem escala
Mede a capacidade da empresa se auto-sustentar com o capital já investido na mesma
F02 - Rentabilidade
Escala: Percentagem
Mede quais os ganhos anuais líquidos relativamente ao capital investido na empresa
F03 - Rácio de Liquidez (curto prazo)
Escala: Sem escala
Mede a dívida de curto prazo da empresa, avaliando q sua capacidade par anovos projectos ou elasticidade orçamental
F04 - Liquidez reduzida (Acid Test)
Escala Sem escala
Mede a dívida de muito curto prazo, avaliando a dívida apenas financeiramente