O Barão 5

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Chávez A morte de Hugo Chavez trouxe a tona uma série de discussões acerca da importância de uma figura tão polêmica quan- to a que o ex-presidente Venezuelano representa- va. Nessa edição, aborda- remos as mudanças que o líder da revolução boliva- riana levou a seu país e questionamos algumas das críticas sobre os 14 anos que esteve no poder. (pág. 6) Viet-land Caminhar pelas ru- as do Vietnam é uma ex- periência única. Reúne cheiros, sabores, pessoas e climas, reúne a história de um povo ímpar neste mundo, que muito tempo luta pelo seu espa- ço de terra onde estes possam crescer, cultivar e descansar. O estudante Akira Pinto descreve suas percepções e experiências em um intercâmbio no Vietnam. (pág. 7) Quinta Página Nossa quinta página (só na teoria), vem especi- almente recheada nessa edição. Confira uma char- ge com o Dom Odilo se rendendo às novas tecno- logias e ache 13 palavras escondidas no caça pala- vras. Confira também uma oportunidade única de aprender espanhol em Buenos Aires. Aproveite e fique por dentro das insti- tuições do curso! (pág. 8) Memórias Em um mundo em constantes e imediatas mudanças, podemos bus- car muito do que somos em nossas lembranças. A lembrança retratada na crônica de Lucas Sorgini é como um álbum de fotos descrito em palavras so- bre o Velho Geova, seu avô. Uma história de me- mórias, vividas por uns, escritas por outros e lem- bradas por todos. (pág. 10) Abaixo o Golpe! Há pouco mais de três meses da nomeação da terceira colocada nas eleições diretas para a reitoria da PUC-SP, permanecemos em uma situação crítica. Cartazes foram tirados, paredes foram pintadas e árvores foram cortadas. Houve até uma tentativa de decreto contra manifestações e eventos públicos sem autorização prévia. Ainda assim, o movimento não se cala. (pág. 3) O Papa é bem pop Habemus um papam mais carismático. Mas conseguirá o argentino lidar com a evasão de fiéis da igreja católica? Leia I, Francisco I na página cinco e tire suas próprias conclusões. Saiba mais sobre o que tem sido dito do novo papa nas redes sociais por to- do o mundo. (pág. 5) BARAO Jornal dos alunos de Relações Internacionais da PUC-SP São Paulo, 18 de março de 2013

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Jornal dos estudantes de Relações Internacionais da PUC-SP - 5ª edição.

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Chávez

A morte de Hugo Chavez trouxe a tona uma série de discussões acerca da importância de uma figura tão polêmica quan-to a que o ex-presidente Venezuelano representa-va. Nessa edição, aborda-remos as mudanças que o líder da revolução boliva-riana levou a seu país e questionamos algumas das críticas sobre os 14 anos que esteve no poder. (pág. 6)

Viet-land Caminhar pelas ru-as do Vietnam é uma ex-periência única. Reúne cheiros, sabores, pessoas e climas, reúne a história de um povo ímpar neste mundo, que há muito tempo luta pelo seu espa-ço de terra onde estes possam crescer, cultivar e descansar. O estudante Akira Pinto descreve suas percepções e experiências em um intercâmbio no Vietnam. (pág. 7)

Quinta Página Nossa quinta página (só na teoria), vem especi-almente recheada nessa edição. Confira uma char-ge com o Dom Odilo se rendendo às novas tecno-logias e ache 13 palavras escondidas no caça pala-vras. Confira também uma oportunidade única de aprender espanhol em Buenos Aires. Aproveite e fique por dentro das insti-t u içõ es d o c urs o ! (pág. 8)

Memórias Em um mundo em constantes e imediatas mudanças, podemos bus-car muito do que somos em nossas lembranças. A lembrança retratada na crônica de Lucas Sorgini é como um álbum de fotos descrito em palavras so-bre o Velho Geova, seu avô. Uma história de me-mórias, vividas por uns, escritas por outros e lem-bradas por todos. (pág. 10)

Abaixo o Golpe! Há pouco mais de três meses da nomeação da

terceira colocada nas eleições diretas para a reitoria

da PUC-SP, permanecemos em uma situação crítica.

Cartazes foram tirados, paredes foram pintadas e

árvores foram cortadas. Houve até uma tentativa de

decreto contra manifestações e eventos públicos sem

autorização prévia. Ainda assim, o movimento não

se cala. (pág. 3)

O Papa é bem pop Habemus um papam mais carismático. Mas

conseguirá o argentino lidar com a evasão de fiéis da

igreja católica? Leia I, Francisco I na página cinco e

tire suas próprias conclusões. Saiba mais sobre o que

tem sido dito do novo papa nas redes sociais por to-

do o mundo. (pág. 5)

BARAO Jornal dos alunos de Relações Internacionais da PUC-SP

São Paulo, 18 de março de 2013

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São Paulo, 18 de março de 2013

Bem vindos a 2013

Ao longo de vários anos a PUC-SP foi vista como uma universidade única, não só entre Pontifícias mas também entre inúmeras instituições de ensino superior. Sempre fo-mos um ponto de referência política e intelectual no Brasil e no mundo: foco de resistência ao se colocar enquanto van-guarda por abrigar os perseguidos pela ditadura militar e defensora de eleições democráticas para a reitoria, onde to-da a comunidade participava. Desse modo, nossa faculdade sempre foi sinônimo – embora a alcunha de Pontifícia Uni-versidade Católica – de práticas e pensamentos críticos li-vres, plurais e laicos – essenciais na própria concepção de universidade.

Portanto, é de se observar suspeitosamente alguns episódios que se passaram nos últimos tempos dentro do edifício da rua Monte Alegre: desde o caso do decreto da “reitoria” – como se por força de lei divina – proibindo toda e qualquer manifestação pública dentro do campus sem a prévia autorização até o escrutínio desconfiado contra o pro-fessor de jornalismo da universidade, Leonardo Sakamoto, por conta de possíveis posições favoráveis ao aborto.

Soma-se ao quadro as várias reuniões a portas fecha-das com representantes do Conselho Comunitário de Segu-rança, Guarda Civil Metropolitana, Polícia Militar e outras instituições que tem como razão de existência a repressão, visando, como disse a própria Anna Cintra, ajudar a “reitoria” com os conhecimentos que são angariados por lá. Quais seriam esses conhecimentos? Talvez as ações promo-vidas pela Secretaria de Segurança Pública possam ajudar a nos esclarecer.

Desse modo, observa-se que setores específicos – muitos dos quais participaram de lutas políticas pelo acesso e manutenção de uma educação de alta qualidade e pela de-fesa de valores e instituições democráticos na sociedade bra-sileira – estão dando um passo atrás na continuação de um projeto positivo de universidade, fomentando e defendendo princípios reacionários fortemente negativos aos avanços políticos, institucionais e sociais que caracterizaram a PUC-SP e o Brasil. E, pior, o fazem a partir da utilização de meca-nismos autoritários, os quais você pode compreender o fun-cionamento no artigo Ledo Engano, na página 3 do jornal.

Assim, a comunidade puquiana se vê cada vez mais coagida não só pelo rompimento do pacto democrático que ocorreu com a nomeação da última colocada nas eleições de agosto de 2012, mas também pelas próprias ações da “reitoria”: declarações vexatórias, difamação de cursos, falta de diálogo com a comunidade, perseguição a professores, limitações da liberdade de expressão e transformação, dos meios de comunicação institucional em ferramentas apolo-géticas da gestão.

O que esperamos, afinal, é que a PUC-SP possa cami-nhar continuamente como foco de alta agitação intelectual e crítica, livre de amarras ideológicas e muito menos religio-sas. Para isso, a reitoria e a própria instituição mantenedora da faculdade teriam que se postar a cargo de carregar tais responsabilidades tão importantes para a sociedade brasilei-ra e para a manutenção da universidade. O que não está acontecendo.

Colaboradores de março,

fechando o verão...

Akira Pinto Medeiros, Ana Carolina Go-

doy, João Fernando Finazzi, Maria

Shirts, Maria Luiza Lomando Rocha, Lu-

cas Sorgini e Thais Adabo de Camargo

Quer fazer parte da equipe d’O Barão?

Participe de nossas reuniões sema-nais e produza textos acadêmicos,

resenhas, desabafos, charges..

Todas as quintas!!

Às 18h30 no CARI

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Ledo engano Por Maria Shirts e Thais Adabo

A greve, na PUC-SP, começou no dia 13 de novem-

bro do ano passado. Foi o estopim de uma crise institucio-

nal, que estourou depois do desrespeito de uns para com a

nossa tradição democrática.

Para aqueles que ingressaram agora, ou que ainda

não entenderam nada, explicamos: nossa universidade foi

alvo, na primeira quinzena do mês de novembro, de mais

uma atitude autoritária da igreja. Neste caso, a interferência

foi nas eleições para reitor da universidade.

A cada quatro anos alunos, professores e funcioná-

rios têm o privilégio de escolher o representante da faculda-

de. As últimas eleições aconteceram em agosto de 2012 e

teve como vencedor o ex-reitor Dirceu de Mello, da faculda-

de de Direito, que dirigiu a PUC-SP de 2009 a 2012.

Apesar de ser o mais votado, Dirceu não pôde assu-

mir suas atividades na reitoria, visto que a autoridade mor

da instituição, Dom Odilo Pedro Scherer, escolheu outra

pessoa para ocupar este cargo, a professora Anna Maria

Marques Cintra -- mesmo após a mesma assinar um termo,

no Roda Viva (debate entre os reitoráveis organizado por

estudantes da PUC-SP), se comprometendo a respeitar a

escolha da comunidade nas eleições diretas, não assumindo

o cargo se não tivesse sido a primeira colocada.

Antes que eu provoque qualquer desentendimento,

já ressalvo que sim, Dom Odilo – cardeal e arcebispo me-

tropolitano de São Paulo – pôde, legalmente, escolher a An-

na Cintra. Isso porque pouco todos os candidatos à reitoria

integram uma lista-tríplice para, por fim, serem escolhidos

pela “última instância” da universidade – Dom Odilo, por-

tanto.

Apesar da sua prática ser legal (no que se refere aos

termos da lei), chocou a maioria a comunidade. Afinal, o

cardeal rompeu com um processo tradicional da nossa uni-

versidade; as eleições, que ocorrem desde os anos 80 na

PUC-SP (quando o Brasil vivia uma ditadura, imaginem só),

nunca foram desrespeitadas. Quer dizer, nunca antes na

história dessa universidade, os eleitores foram tão ignora-

dos.

A resposta da comunidade não poderia ter sido ou-

tra: em Assembleia Geral com mais de 2 mil estudantes or-

ganizada no dia da nomeação da Professora Anna Cintra, foi

deliberada a ocupação da reitoria e “cadeiraço” no pátio da

cruz.

Termo de comprometimento da candidata a não assumir a reitoria caso não fosse a primeira colocada — Reprodução.

Thais Adabo

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São Paulo, 18 de março de 2013

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No lugar de aulas dentro das salas, foi organizado um

calendário geral de greve, que se estendeu por todos os

campi que levam o nome da PUC, que contou com uma sé-

rie de atividades com filmes, debates, encenações e discus-

sões sobre o que entendemos por democracia e laicidade na

Universidade. Marilena Chaui, Marijane Lisboa, Ruy Braga

e Léon Kossovitch, entre muitos outros, fizeram parte das

atividades de greve. O professor da USP Jorge Luiz Souto

Maior e o Filósofo Vladimir Safatle participaram do ato Es-

tadual pela Democracia e Autonomia Universitárias organi-

zado por alunos da PUC-SP foi que teve como ponto de par-

tida o Masp e puxou uma passeata até a o campus Consola-

ção da PUC-SP.

Baseados no documento assinado pela Professora, o

CA 22 de Agosto, com o apoio de outros Centros Acadêmi-

cos, entrou com um recurso na justiça pelo afastamento da

mesma do cargo de reitora da PUC-SP. No recurso, os estu-

dantes afirmam que a nomeação de Anna Cintra, mesmo

legal, violou artigos do estatuto e do regimento geral da uni-

versidade, segundo os quais os funcionários e professores

devem zelar pelo patrimônio moral da universidade.

O Conselho Universitário (Consun, um dos órgãos

deliberativos da universidade), após reunião no dia 28 de

novembro, deliberou a favor desse recurso e não homologou

a professora como reitora da Universidade, recusando a sua

nomeação, portanto. Em lugar de Anna Cintra, o Consun

nomeou o Prof. Marcos Masetto como reitor interino da

PUC-SP. Apesar dessas movimentações, advogados da Fun-

dação SP (a mantenedora da PUC) apresentaram um recur-

so perante a justiça a favor da Profa. Anna Cintra, que pôde

retornar ao cargo onde continua até hoje, embora o proces-

so ainda esteja em curso.

Deparamo-nos com uma “reitoria” muda. O único

canal de diálogo aberto foi um e-mail da “reitoria de fato”,

onde a Profa. Anna Cintra, pretendia “viabilizar e acelerar

nossas conversações”, depois que foi impedida no mesmo

dia de entrar no prédio da reitoria por um cordão de alunos.

Sobre os protestos e sobre a greve, recebemos respostas

unicamente através da mídia, em entrevistas com a equipe

da chapa "A PUC vale a pena" e D. Odilo. “A escolha é de

quem pode escolher”, afirmou Anna Cintra na primeira en-

trevista que deu ao Estadão, demonstrando sua complacên-

cia à escolha do cardeal. Em nosso entendimento: “manda

quem pode, obedece quem tem juízo”.

Os dias se passaram, a PUC começou a se esvaziar e o

movimento entrou em recesso em dezembro. Sem os

“baderneiros” para colocarem em risco a ordem da “tão sa-

grada Pontifícia”, a reitoria pôde começar uma limpeza do

campus Perdizes.

Em 2013, a “reitoria” muda resolveu tentar calar os

alunos. Com o Ato da Reitoria Nº 13/2013, apelidado cari-

nhosamente como AI-Cintra, ficava decretado que nenhum

manifestação ou evento público poderia ser organizado nas

dependências da Universidade sem autorização prévia da

Pró-Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias da PUC-

SP. Felizmente, o ato serviu apenas para demonstrar a ina-

bilidade política de uma reitoria golpista despreparada, já

que foi revogado dias após seu decreto.

Cartazes foram tirados, paredes foram pintadas e ár-

vores foram cortadas. Quem voltou às aulas agora em feve-

reiro se deparou com uma PUC-SP livre de protestos e ma-

nifestações. Ledo engano. Novos cartazes foram e estão sen-

do feitos, Assembleias Estudantis já aconteceram e continu-

arão acontecendo, queiram os golpistas ou não. O movi-

mento continua.

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São Paulo, 18 de março de 2013

Arte feita por estudantes durante a Greve

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5 O Barão — Jornal dos alunos de Relações Internacionais da PUC-SP

São Paulo, 18 de março de 2013

I, Francisco I Por Maria Shirts

Há algo de podre no Reino do Vaticano. Na

verdade, sempre houve. Não à toa, o anterior

pontífice abriu mão do cargo alegando cansaço; ficou

muito claro que, em realidade, Bento XVI desistiu do

exercício dados os contínuos (e, diga-se de passagem,

ininterruptos) escândalos do clérigo.

Nos últimos dias ainda falaram em sauna gay

que teria custado €58 milhões. Montante mais do que

significativo, considerando ainda o rombo na conta

bancária da Santa Sé: US$ 18.4 milhões, segundo co-

municado do próprio Vaticano*

Me surpreende alguém ainda desejar assumir

o comando dessa instituição – falida e desmoralizada,

ao meu ver (e acredito que ao de muitos). Entretanto,

status é status e, entre os seus praticantes, nada mais

simbólico e poderoso do que assumir esse posto.

Pensando por esse lado, o negócio ficou bom

para Jorge Mario Bergoglio, agora conhecido com I,

Francisco I. O argentino (!!) ganhou o cetro e o título

de novo papa, surpreendendo multidões e já arrasan-

do corações com o seu semblante humilde e carismá-

tico.

Não era para menos. Parece que finalmente a

Igreja Católica entendeu que, para solucionar o pro-

blema de deserção de fiéis (principalmente dos lati-

nos) que acontece em progressão geométrica, cairia

bem um papa “hermano” e “do bem”. Afinal, o

Ratzinger (ou Bento XVI) tinha toda a pinta Darth

Vader, o que dificulta a tarefa de cooptar católicos –

ou mesmo convencê-los a assim permanecerem.

Fofo, ou não, o semblante de vovô que anda de

transporte público caiu por terra quando toda a im-

prensa soltou a nota de que tal jesuíta teria caguetado

colegas à ditadura militar de seu país, auxiliando por-

tanto nos seus sequestro, torturas e mortes.

Verdade, ou não, sugiro que fiquemos com as

orelhas em pé. Afinal, o novo papa foi no mínimo

omisso no que diz respeito às atrocidades do regime

argentino, já disse Clóvis Rossi em artigo [altamente

recomendável] na Folha do dia 14.

Pois é... sempre haverá algo de podre no Reino

do Vaticano.

1. http://bit.ly/Wf85kJ 2. http://bit.ly/ZxRDKa

*http://bit.ly/11av0jY

A repercussão nas redes sociais²

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6 O Barão — Jornal dos alunos de Relações Internacionais da PUC-SP

São Paulo, 18 de março de 2013

Chávez e os avanços sociais da revolução bolivariana

Por Akira Pinto Medeiros

No último dia 5 recebi uma notícia um tanto quanto

esperada, mesmo que eu não quisesse acreditar. A morte

de Hugo Chávez foi informada, a mim, via telefone, na for-ma de um “furo” jornalístico – isso obviamente se eu fosse

algum redator chefe de algum jornal ou meio de comunica-

ção. O fato é que, após essa notícia, as pessoas ao meu re-

dor começaram a discutir sobre a importância do ex-

presidente venezuelano em níveis nacional e internacional, além de levantarem juízos de valor sobre suas políticas.

Não sei ao certo o que me ocorreu com essa notícia.

Não posso dizer que me emocionei como na morte de Os-

car Niemeyer. Mas certamente me senti incomodado com

os discursos que tentavam “demonizar” Chávez. Me empe-nhei então na dura batalha de buscar fatos que fossem ine-

gáveis aos críticos, para que essas pessoas pudessem se

solidarizar mais com a morte do líder venezuelano do que

com a do músico brasileiro “Chorão”. Ou, ao menos, res-

peitassem as manifestações populares que tomaram as ru-

as de Caracas nos dias seguintes ao pronunciamento de sua morte.

O governo de Hugo Chávez está no poder há 14 anos.

Para que isso acontecesse, o líder da revolução bolivariana

precisou alterar a constituição do país para que plebiscitos

pudessem mantê-lo no poder. Tal ato é tido por muitos como uso do poder em benefício próprio. De qualquer for-

ma, a oposição não foi capaz de barrar tal proposta no Con-

gresso e tampouco conseguiu ganhar alguma das 3 eleições

que mantiveram o ex-presidente no poder.

Não acredito que seja possível negar os avanços soci-ais proporcionados pelo governo de Hugo Chávez. Quem

tenta fazê-lo cai em juízos de valores e acaba por evocar a

suposta censura da mídia no país e até mesmo a falta de

oposição política. Em um vídeo disponibilizado no Youtube

o político britânico George Galloway do Partido Trabalhis-ta argumenta contra esta ideia ao dizer que 30 partidos

juntos não foram capazes de ganhar uma eleição de Chá-

vez. Ele foi, sem dúvida, um dos políticos mais votados do

mundo. O argumento de censura praticada contra a mídia

é também rebatido quando Galloway indica que 95% das

emissoras de TV venezuelanas são privadas e apoiam o principal líder da oposição, Henrique Capriles.

Argumentar isso e ser declaradamente de esquerda é

quase um pleonasmo, mas admitir a importância do líder

venezuelano e de suas conquistas sociais sendo um ex-

presidente estadunidense, democrata e liberal é realmente diferente. E quem fez isso? Jimmy Carter, declarando mais

de uma vez a legitimidade do sistema eleitoral do país sul-

americano e a importância de Chávez na história da Améri-

ca do Sul e do mundo. Carter, que é fundador do The Car-

ter Center (ONG dedicada a direitos humanos, manuten-ção de paz e fiscalização de eleições pelo mundo), afirmou

que Chávez trabalhou para a autonomia e independência

dos governos da América Latina. Criou novas formas de

integração regional com o mesmo empenho com o qual

retirou milhões de nacionais venezuelanos da pobreza,

além de dar identificações que permitiram acesso a servi-ços de saúde e educação.

Galloway finaliza seu discurso indicando os resulta-

dos das políticas de Chávez. A Venezuela era, antes dele,

um país onde grande parte da população não tinha acesso

à educação pelo simples motivo de não terem documentos. Hoje, o país tem a 5ª maior população de estudantes uni-

versitários do mundo, a frente dos Estados Unidos e Noru-

ega. Fontes oficiais confirmam o posicionamento do britâ-

nico ao indicar a diminuição de lugares pobres em 39%,

59% de redução dos lugares em extrema pobreza, diminui-ção da dívida pública proporcional ao PIB em 11%, dimi-

nuição da inflação em 21% e aumento do salário mínimo

em mais de 100% após os 14 anos do governo de Chávez.

Esses resultados foram alcançados sem a existência de ne-

nhuma política de xenofobia ou expansão territorial e sim com políticas de integração regional.

La Venezuela bolivariana en datos y no en juicíos de valor, disponível em: http://bit.ly/WvoyQv

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7 O Barão — Jornal dos alunos de Relações Internacionais da PUC-SP

São Paulo, 18 de março de 2013

A dura lição de independência do Vietnam Por Akira Pinto Medeiros

Caminhar pelas ruas do Viet-nam é uma experiência única. Reúne cheiros, sabores, pessoas e climas, reú-ne a história de um povo ímpar neste mundo, que há muito tempo luta pelo seu espaço de terra onde estes possam crescer, cultivar e descansar.

Entrar no país que derrotou a “América” não é complicado. Exige apenas um visto, custa um pouco caro e dura no máximo 1 mês caso a viagem seja para turismo. Na realidade, o mais importante para ir ao Vietnam deve ser a vontade e a cabeça livre de expectativas. Durante o tempo que estive “cercando” o país nas estradas do Laos, Camboja e Tailândia encon-trei diversos turistas que já haviam passado pelas terras de Ho Chi Minh. As referências eram as mais polariza-das possíveis, de forma que metade dos viajantes dizia as mil maravilhas e outra metade tentava de qualquer jeito me fazer desistir da ideia.

Após 31 horas dentro de um ônibus (apertado como uma lata sardi-nha) que saiu de Vientiane (capital do Laos) eu cheguei em Hanói (capital vietnamita). Ao cruzar a fronteira tudo mudou. Não haviam mais resquícios do “imperialismo local” que a Tailân-dia exerce sobre seus vizinhos. Ali era Viet-land (terra do povo; viet = povo vietnamita), onde tudo transpira o viet-people e não há perdão para turistas desavisados.

Foram 14 dias percorrendo os caminhos da República Popular do Vietnam e muita história explorada. Nota-se rapidamente que o povo em si

é guerreiro. Observações mostraram que a brincadeira dos homens sempre possui um certo caráter de luta, mes-mo estes sendo grandes anfitriões. A história do país que até antes da guer-ra americana (termo usado por eles para se referir a guerra do Vietnam) era resumida pelos relatos dos explo-radores franceses é, na realidade, mui-to mais vasta, e mostra o caráter de guerra e orgulho do povo. Os museus são capazes de fazer qualquer turista se curvar à força do povo que resistiu aos impérios Mongol, Chinês, Francês, Japonês e Estadunidense. Não me es-queço do mapa que demonstrou a ex-tensão do império Mongol no seu auge e que evidenciava o fato do Vietnam não ter sido controlado por Gengis-Khan. O alto número de museus espa-lhados pelas maiores cidades faz com que seja preciso delimitar preferências quando o tempo é curto. Mas um fato que despertou curiosidade, interesse e me levou um pouco para fora dos de-bates sobre a guerra foi o alto número de referencias literárias espalhadas. De certo o povo não é apenas

“briguento” mas também possui um alto grau de cultura, que por sua vez não se restringe à cultura local mas se expande aos grandes pensadores do ocidente. De certo os Vietnamitas co-nhecem muito bem o ocidente, en-quanto nós pouco sabemos sobre o sudeste asiático.

A impressão final feita sob as escadarias do enorme e impactante mausoléu com arquitetura soviética de Ho-Chi Minh é a de que, na realidade, o comunismo implantado no país não era o mesmo daquele presente na Uni-ão Soviética. O comunismo esteve pre-sente nesta sociedade desde muito antes. Quer dizer, o Vietnam de hoje abriga uma nação que cresceu com os ideais de Marx antes mesmo deste existir. Não aconteceu por acaso e os mais de 3 milhões de heróis nacionais (título dado a todos os que morreram na guerra americana) provaram sua independência ideológica e cultural ao mundo. A única certeza no entanto é a de que a propaganda é muito bem usa-da pelo partido.

Por Akira Pinto Medeiros

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8 O Barão — Jornal dos alunos de Relações Internacionais da PUC-SP

São Paulo, 18 de março de 2013

Quinta Página Por Ana Carolina Godoy e Maria Luiza Lomando Rocha

Por M

aria Luiza Lomando R

ocha

CARI Barão Existe um mundo de ativida-des fora da sala de aula que podem engrandecer as experiências leva-das por cada um ao longo de quatro anos de curso. Venha fazer parte do seu CA. Organize atividades acadê-micas, projetos sociais, festas e muito mais!

Reuniões todas as quartas, às 18h30 no Espaço Físico!

Atlética do Ursão O Ursão convoca todos a par-ticiparem das atividades da atléti-ca!! Venha nos ajudar a construir a melhor atlética possível!!

Participe dos treinos!!

http://on.fb.me/YkhWFf

Reuniões todas as sextas, às 18h no Corredor de RI!

BateRI Tum tá, tum tum tum tá! Existe uma batida que coloca o co-ração de todos os alunos de RI no mesmo compasso. Essa batida tem um nome e pode ser o seu nome!!

Ensaios sábados, às 13h no Monumento das Bandeiras!

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9 O Barão — Jornal dos alunos de Relações Internacionais da PUC-SP

São Paulo, 18 de março de 2013

1. Estado

2. Weber

3. Poder

4. Direitos Humanos

5. Política Externa

6. Paz de Westfália

7. Hegemon

8. Soberania Nações Unidas

9. Barão do Rio Branco

10. Apátrida

11. Sistema

12. Anárquico

13. Easter Egg

Palavras - cruzadas

Por Ana Carolina Godoy

El Español en el Marco de Las Relaciones Internacionales

No próximo dia 2 de abril acontecem as inscrições pa-ra a turma de julho do programa de imersão no idioma espa-nhol “El Español en el Marco de las Relaciones Internaciona-les”. A próxima viagem será de 14 de julho a 4 de agosto.

Destinado aos alunos de RI da PUC-SP, o programa completou 10 anos no mês de janeiro e já recebeu em suas duas turmas anuais a mais de 320 alunos. Sua proposta úni-ca, criada levando em consideração as necessidades dos alu-nos de RI, combina aulas de espanhol, visitas guiadas e ou-tras atividades cujo objetivo é apresentar a história do país de uma forma dinâmica e divertida. Conhecer a Praça de Maio para aprender sobre independência argentina, desco-brir as origens do tango percorrendo ruas de San Telmo, sur-preender-se com a divertida história da “República de La Boca”, desvelar os mistérios do peronismo e entender o que acontece no confuso sistema político local. Estas são algumas das possibilidades oferecidas ao longo da estadia de três se-

manas em Buenos Aires, uma cidade verdadeiramente cati-vante.

O certificado é reconhecido pelo a Asociación de Cen-tro de Idiomas (SEA), uma entidade sem fins de lucro que congrega as mais importantes escolas de idioma da Argenti-na. Os alunos aprovados no curso obtém equivalência com relação à prova de proficiência, além de vivenciar uma verda-deira imersão na cultura local que permite crescer profissio-nalmente e se divertir ao mesmo tempo.

Quer saber mais? Entre em contato com a coordenação do curso e solicite o programa completo, valores e instruções para a inscrição. Na página do Facebook estão disponíveis fotos, depoimentos de alunos que participaram do programa e dicas da cidade.

Contato: [email protected]

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10 O Barão — Jornal dos alunos de Relações Internacionais da PUC-SP

São Paulo, 18 de março de 2013

“Já te contei aquela vez em que...” Por Lucas Sorgini

Era 26 de Novembro, nascia ele com seus claros olhos azuis e cabelos louros, fazendo jus aquele quase-verão italiano de 1920. Filho do se-gundo casamento de um filho de pu-tana que bebia demais e de uma Santa Mama, como ele mesmo dizia. E por conta daqueles olhos azuis, eu, de cri-ança, nunca precisei de livros de con-tos, eu tinha um vô. Um Nono que sabia histórias muito melhores. Me-lhores por que eram reais, da antiga Itália, do Egito e da Segunda Grande Guerra; de postos de gasolina e avi-ões, da filha gostosa do governador da Líbia e também sobre como é ser um prisioneiro italiano que fala árabe na Inglaterra.

Vivera tanto que mudara, foi Giovanotto, depois Hanna, John, e finalmente, Giovanni. Na minha cabe-ça sempre fora o Velho Giova, dentro de seu Santana preto, que para mim sempre brilhou como um Cadillac, desfilando rumo ao interior, passando por aquelas estradas que sobem e des-cem beiradas por árvores. Olhando à direita, via já as cercas de concreto, e como que se tivesse nascido com essa visão na cabeça, eu sabia, logo, dali a 500 metros, veria o trevo, veria a cur-va à direita, para depois encarar a grande subida de um asfalto liso, as-sistido por Ipês brancos. Ah sim, lá estava ela, imponente, feita de tijolos aparentes, telhas e fortes janelas e portas de ferro. Não importava quan-tos anos eu tivesse, sempre viria algu-ma tranquilidade ao coração. Um ho-mem teimoso e sem estudo algum construiu o paraíso de uma criança, quem diria?

O Velho Giova, então, descia do carro, dava aquela fungada peculiar e mexia os lábios como se tivesse geleia presa nos dentes, arrumava os gran-des óculos bifocais e ia logo abrindo o

porta-malas. Dali em diante o veria, todo dia, durante todo o mês de julho, sentado na sua “cadeira de diretor” logo na primeira porta da varanda, com o rádio ligado, tocando, provavel-mente, qualquer coisa relativa a Pava-rotti, Bocceli, Giuseppe Verdi, e as mais variadas peças da música italia-na; aquela que ele dizia ser a melhor música do mundo, o que não seria à toa: um general inglês haveria dito a ele certa vez: “o inglês é a língua mais bela do mundo, mas o italiano, é a língua dos anjos”.

Óbvio, não seria pra sempre assim, o tempo nunca deixa.

"Eu sou seu pai? E avô deles?", a expressão envergonhada, sem graça e confusa logo se imprime nos olhos que já tiveram mais brilho. A voz não mais enérgica, que parece guardar ainda tantas cansonetas, se desculpa e tenta achar um caminho pra concertar a situação; teria sido um pai e avô ausente? Não mesmo. Mas a desco-berta é diária e cíclica. O corpo sobra saudável enquanto a doença consome a mente, sentado na varanda, se es-quece aos poucos das coisas, se esque-ce que está doente, se esquece da vida e do tempo, embaralha o que ainda sobra das lembranças. Do alto dos seus 91 anos, a doença o obriga a pen-sar como um indigente, como se nem tivesse trabalhado a vida inteira, e de fato, para a mente falha e doente, não trabalhou. “Minha família me largou aqui / Preciso trabalhar, como vou viver? / Eu ando estropiado / Me aju-da, por favor / Eu estou preocupado, não sei o que fazer” quando não raro, seguidas de um suspiro e um choro de quem não aguenta mais, e depois de tranquilizado, um “obrigado” sussur-rado. Ele chorando. Choro eu. Me dis-

seram que não o seria, mas sofre, so-fre o mesmo sofrimento, todo dia, por que vive todo dia o mesmo dia. Um dia em uma casa que não conhece, com pessoas que nunca viu, com lem-branças que nem tem.

É nessas horas que sempre alguém evoca os velhos e batidos chavões; mas prefiro deixar o ralo “Carpe Di-em” para as tatuagens nas peles que não pensam em nada mais além de seus 20 e poucos anos. E essa é exata-mente a pergunta. A efemeridade é tanta que me deixa sem reação... Pra que todos os planos então? Vá, estu-de, trabalhe, transpire, faça seu pé de meia, quem sabe uma família. Não te falo que não vivas, muito pelo contrá-rio; sugiro que faças tudo com Tesão, e que se ele não existe, então não vale a pena. Faças tudo com Tesão, por que esse tal de Tesão é tudo que pode ser extraído de qualquer coisa, e o final é o mesmo para todos – não me faça cara feia – a morte vale a pena na medida em que existe quem a viva.

Prometo ao espelho todos os dias, que serei, sentirei e depois, até mudarei; e que terei Tesão nessas vol-tas. E do mesmo jeito, espero o mes-mo de você.

Lucas Sorgini