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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Terapia Ocupacional: Uma Visão Dinâmica em Neurologia Letícia Akemi de Araújo Sakamoto Sabino O BRINCAR EM CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN LINS SP 2011

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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Terapia Ocupacional:

Uma Visão Dinâmica em Neurologia

Letícia Akemi de Araújo Sakamoto Sabino

O BRINCAR EM CRIANÇAS COM SÍNDROME DE

DOWN

LINS – SP

2011

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LETÍCIA AKEMI DE ARAÚJO SAKAMOTO SABINO

O BRINCAR EM CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Terapia Ocupacional: Uma Visão Dinâmica em Neurologia, sob a orientação da Professora Doutora Luzia Iara Pfeifer.

LINS – SP

2011

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LETÍCIA AKEMI DE ARAÚJO SAKAMOTO SABINO

O BRINCAR EM CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,

para obtenção do título de especialista em Terapia Ocupacional: Uma Visão

Dinâmica em Neurologia.

Aprovada em _____/_____/_____.

Banca Examinadora

Profª. Doutora. Luzia Iara Pfeifer

Terapeuta Ocupacional, Doutora em Educação pela Universidade Federal de

São Carlos.

________________________________

Profª Mestre Maria Madalena Moraes Sant’Anna

Terapeuta Ocupacional, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela

Universidade Presbiteriana Mackenzie.

________________________________

LINS – SP

2011

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Dedico este trabalho à minha família, minha grande fortaleza,

ao meu querido esposo, meu refúgio, e a todos que

direta ou indiretamente contribuíram para

a minha formação profissional

e também pessoal.

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AGRADECIMENTOS

Aos professores, que muito contribuíram para a minha formação profissional,

pelo enorme valor dedicado ao ser humano. Em especial, agradeço a minha orientadora,

professor Luzia Iara Pfeifer, pelos seus ensinamentos que me deram suporte a este

estudo e pelo exemplo de sabedoria e humildade como profissional e pessoa humana.

Aos meus pais, Osvaldo e Silvia, pelo grande amor e carinho em todos esses

anos, em especial por me ensinar a disciplina, a educação, a fé e a certeza de que sempre

há soluções para qualquer problema na vida.

À minha irmã, Priscila, pelos anos de amor, amizade e companheirismo, em

especial pelo compartilhamento de sua sabedoria como profissional de fisioterapia.

Minha grande amiga e exemplo de dedicação em tudo que faz.

Ao meu esposo, Henrique, pelo amor, carinho, cumplicidade, paciência, amizade

e, em especial, pelos momentos de compreensão quando não me fiz presente. Minha

fonte de alegria e exemplo de sabedoria. Agradeço, também, a toda sua família, Lúcia e

Mauro, pelo grande carinho e amizade durante todos esses anos de convivência.

A todos os meus amigos pelo carinho, força, ânimo e pelos momentos de

descontração. Principalmente às minhas amigas, Juliana, Cibele e Karina, terapeutas

ocupacionais e companheira de pós-graduação, que compartilharam comigo momentos

ricos de aprendizados. Em especial pelos momentos de alegria, que não eram poucos.

Enfim a Deus pelo dom da vida, pela constante presença que me ajudou a

superar os momentos difíceis, e pelo infinito amor que me deu força, ânimo, paciência e

coragem para continuar perseverando nesta caminhada.

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RESUMO

A Síndrome de Down (SD) é uma das alterações genéticas mais comuns em todo mundo. O indivíduo com SD muitas vezes apresenta complicações clínicas que interferem em seu desenvolvimento global, tais como hipotonia e as alterações respiratórias, cardíacas e as sensoriais, principalmente as relacionadas com a audição e a visão. O brincar é a principal atividade da criança e é essencial em seu processo de formação como sujeito, pois facilita o desenvolvimento físico, cognitivo, criativo e a socialização. O presente trabalho tem o objetivo de descrever estudos acerca das atividades lúdicas de crianças com SD e compreender a importância do brincar para o desenvolvimento desta população, além de caracterizar. Foram realizadas buscas de artigos científicos nas bases de dados eletrônicas nacionais Lilacs, Scielo Brasil e Medline, e ainda no Google acadêmico. Dos artigos encontrados foram selecionados apenas dois estudos. O texto A, “Caracterização das habilidades simbólicas de crianças com síndrome de Down” apresentou análise estatística; utilizou como instrumento o Protocolo de Observação Comportamental (PROC); fez comparação entre grupo de crianças com SD e grupo de crianças controle e verificou que crianças com SD apresentaram atraso no desenvolvimento das habilidades simbólicas. O texto Z, “Deficiência mental, imaginação e mediação social: um estudo sobre o brincar” apresentou análise qualitativa; utilizou como instrumento filmagens e diário de campo de situações lúdicas entre crianças com deficiência cognitiva e outros, e concluiu que em crianças com déficit cognitivo explorar a imaginação criativa é fundamental para o seu desenvolvimento. Conclui-se que crianças com SD apresentam atraso na atividade lúdica simbólica e comprometimento na área da linguagem já que certos componentes da linguagem apresentam dependência da construção do simbolismo adquirido em parte pelo brincar. Além disso, foi observado também que o brincar abre possibilidades para que a criança, com ou sem deficiência, se desenvolva em todos os aspectos: motor, sensorial, cognitivo, emocional e social. Concluímos ainda que esse desenvolvimento depende em parte de mediações de outras pessoas, ou seja, depende principalmente do ambiente em que a criança vive e se relaciona.

Palavras Chaves: Síndrome de Down. Atividade lúdica. Desenvolvimento Infantil.

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ABSTRACT

Down Syndrome (DS) is one of the most common genetic disorders worldwide. Individuals with DS often have medical complications that interfere with their overall development, such as hypotonia, respiratory, heart and sensorial disorders, especially those related to hearing and vision. Playing is the main activity of the children and it is essential in their formation process as a subject because it facilitates the physical, cognitive and creative development and socialization. This research aims to describe studies about recreational activities of DS children to understand and characterize the importance of playing for the development of this population. Searches for scientific articles have been performed in national electronic databases Lilacs, Medline and Scielo Brazil, and in Google Scholar. Among the articles found only two were selected. The text A, “Characterization of symbolic abilities of children with Down syndrome” presented as analysis tool the Behavioral Observation Protocol (BOP) that compared a group of children with DS to a control group and found that children with DS showed delayed development of symbolic skills. The Z text, “Mental disability, imagination and social mediation: a study of playing behavior” showed a qualitative analysis, it used videos recorded during daily recreational situation in children with cognitive disabilities and others. They found that exploring creative imagination is essential for the development in children with cognitive deficits. We have concluded that children with DS present delay in symbolic recreational activity and impairment in language since certain components of language show dependence of symbolism construction acquired partially by playing. Furthermore, we also observed that playing activities opens possibilities for children, with or without disabilities, to develop all aspects of motor, sensorial, cognitive, emotional and social abilities. We have concluded that this development depends in part on mediation of other people, mainly depending on the environment in which the child lives and relates itself.

Keywords: Down Syndrome. Recreational activity. Child Development.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIMS: Alberta Infant Motor Scale

APAE: Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

DeCs: Descritores em Ciência da Saúde

GC: Grupo Controle

GSD: Grupo Síndrome de Down

Lilacs: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde.

Medline: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

PROC: Protocolo de Observação Comportamental

Scielo: Scientific Electronic Library Online

SD: Síndrome de Down

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Médias dos escores do PROC inter-grupos.......................................20

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Resumo dos Artigos..........................................................................23

Quadro 2: Comparação entre artigos................................................................24

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................09

2 OBJETIVOS

2.1 GERAL........................................................................................................15

2.2 ESPECÍFICO...............................................................................................15

3 MÉTODO........................................................................................................16

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS......................................................................18

5 DISCUSSÃO...................................................................................................24

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................30

REFERÊNCIAS.................................................................................................32

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1 INTRODUÇÃO

A Síndrome de Down (SD) é uma das alterações genéticas mais comuns

em todo mundo. Independe de raça, sexo e classe social e se deve

especificamente a uma alteração na formação do par de cromossomos 21 que

resulta em um trio, e não em um par de cromossomos (DÉA; BALDIN; DÉA,

2009). No Brasil estima-se que haja em torno de 300 mil pessoas com SD

(ARAÚJO, 2009).

Ainda não é totalmente elucidada a causa exata que propicia a trissomia

do cromossomo 21, porém, a idade materna avançada, com início de gestação

após os 35 anos, assim como exposição à radiação, uso de drogas e

problemas hormonais na gravidez aumentam a probabilidade de ocorrência da

síndrome (FURLAN; MOREIRA; RODRIGUES, 2008).

De acordo com Bissoto (2005), o indivíduo com SD muitas vezes

apresenta complicações clínicas que interferem em seu desenvolvimento

global, tais como hipotonia e as alterações respiratórias, cardíacas e as

sensoriais, principalmente as relacionadas com a audição e a visão.

Apesar de a criança com SD passar pelos mesmos marcos motores de

uma criança de desenvolvimento típico, seu desenvolvimento motor é mais

lento devido, principalmente, à hipotonia muscular (PAZIN; MARTINS, 2007;

SCHWARTZMAN et al, 2003).

Falkenbach, Ruschel e Maróstica (2002) observaram que a exploração

do ambiente e a riqueza de estímulos são fatores de grande importância no

desenvolvimento cognitivo das crianças, pois geram diversas experiências e

situações novas que levam, de forma direta ou indireta, ao aprendizado e à

aquisição de novas habilidades. Da mesma maneira Rogers e Coleman (1992)

concordam que o desenvolvimento do componente motor é de importância

crucial para a exploração do ambiente, pois existe uma relação estreita entre o

desenvolvimento motor e o desenvolvimento cognitivo na criança.

Crianças com SD apresentam atraso no componente motor, e

conseqüentemente a exploração ambiental fica prejudicada. Dessa forma, uma

parcela do atraso cognitivo encontrado em indivíduos com SD pode ser devido

ao prejuízo identificável no processo de desenvolvimento motor, atingindo

dessa forma outras áreas de desenvolvimento da criança com repercussões no

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desenvolvimento global do indivíduo (ROGERS; COLEMAN, 1992). Para

Mastroianni et al (2006) a interação da criança com o ambiente e a experiência

ativa ou mediada por uma pessoa próxima propiciam seu desenvolvimento

cognitivo.

O brincar é essencial para a criança em seu processo de formação como

sujeito (TAKATORI; BOMTEMPO; BENETTON, 2001). É a principal atividade

da criança, não pela frequência em que é realizada, mas pela grande influência

que exerce no desenvolvimento infantil, pois durante a brincadeira a criança

estimula vários aspectos físicos, sensoriais, psicológicos, sociais, cognitivos e

de linguagem, sem a intencionalidade disto (CORDAZZO; VIEIRA, 2007).

No aspecto físico, o brincar atua como elemento essencial no cotidiano

das crianças, pois promove a atividade física necessária para manutenção de

gastos energéticos diários, dessa forma, os jogos sensoriais, as atividades

físicas e exercícios realizados durante o brincar, contribuem para o

desenvolvimento de habilidades perceptivas, motoras, força e resistência, e até

mesmo termorregulação e controle de peso (SMITH, 1982).

Paralelamente, sob o ponto de vista sensório-neural, ocorrem

principalmente estímulos táteis, visuais, auditivos e vestibulares que interagem

entre si de forma imperceptível pela criança durante a realização das

brincadeiras. De acordo com Cordazzo e Vieira (2007), a brincadeira ajuda a

desenvolver as percepções, habilidades motoras, resistência e força sem

intencionalidade, pois a criança brinca por prazer.

Sob o aspecto cognitivo, Pedroza (2005), refere que a manipulação de

regras, estratégias e raciocínio lógico durante o desenrolar dos jogos atuam

como estimuladores no desenvolvimento da criança. Adicionalmente, o autor

avalia que o brincar propicia momentos concomitantes de prazer e também de

desprazer, conhecimentos sobre si próprio, sobre o mundo, favorecendo assim

tomadas de decisões, um raciocínio e a solução de problemas, contribuindo

para o seu desenvolvimento global (PEDROZA, 2005).

Em relação aos aspectos psicológicos, a criança tem a oportunidade de

vivenciar, sob a forma simbólica, seus medos, seus anseios, angústias,

expressar seus sentimentos, agressões e reconstruir situações vivenciadas por

ela própria, além de criar estratégias e repensar suas atitudes (CORDAZZO;

VIEIRA, 2007; PEDROZA; 2005).

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A brincadeira exerce papel essencial no desenvolvimento da

personalidade da criança, seja pela realização de seus desejos, pelo exercício

de sua criatividade e imaginação, seja pela expressão de sua capacidade

comunicativa ou emocional, pois é através da brincadeira que ela constrói

estratégias de superação das dificuldades (PEDROZA, 2005).

Pedrozza (2005) ainda refere que a criança durante a brincadeira pode

remontar situações importantes vivenciadas dando-lhes outro significado por

meio da criatividade, e que também ela se coloca em uma posição ora de

prazer e ora de desprazer, dependendo do jogo ou brincadeira.

Em concordância com essa idéia Takatori, Bontempo e Benetton (2001)

afirmam que o brincar além de facilitar o desenvolvimento físico, cognitivo e

criativo, facilita também a socialização, entretanto, concordam que o mais

importante é que o brincar é uma forma única e pessoal da criança de se

colocar no mundo, revelando a sua singularidade.

A linguagem, por sua vez, é desenvolvida de várias maneiras durante o

processo do brincar, por este ser uma rica fonte de comunicação pelas

crianças. Durante a elaboração e a execução da brincadeira, existe a criação

de diálogos pela criança. Isto ocorre para que haja uma interação entre as

crianças, ou outros indivíduos como pais ou profissionais, participantes da

brincadeira. A criança é levada muitas vezes a explicar os processos da

brincadeira criada aos outros participantes ou criar diálogos com estes ou com

seus próprios brinquedos. Desta forma, o processo do brincar simbólico, ou

faz-de-conta, leva à ampliação do vocabulário e a prática da pronúncia de

palavras e frases (CORDAZZO; VIEIRA, 2007).

Em relação à linguagem, as crianças com SD também apresentam

atraso cronológico na aquisição de habilidades, e da mesma forma que ocorre

com as habilidades motoras, também passa pela mesma seqüência de

aquisição de habilidades de uma criança com desenvolvimento típico

(HORSTMEIER; 1995). Por esse motivo, crianças com SD desenvolvem

predominantemente linguagem não-verbal, com predomínio gestual, para

posterior desenvolvimento de linguagem oral associada à comunicação gestual

(ANDRADE; LIMONGI, 2007).

No ponto de vista do desenvolvimento de habilidades sociais, as

crianças manifestam interações entre si no processo de criação e desenrolar

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dos jogos e atividades lúdicas. Tais interações levam a um processo de

descoberta pela criança das relações que se estabelecem entre as pessoas.

Permite o início do desenvolvimento de componentes de constituição subjetiva

através da inter-relação com o outro, e a conseqüente percepção de diferenças

entre os indivíduos (PEDROZA; 2005). A brincadeira também leva à

apropriação de valores culturais e papéis sociais, seja no campo simbólico

criado pelos participantes, seja no campo das relações sociais fora da

brincadeira propriamente dita (PEDROZA; 2005).

Para Fiaes e Bichara (2009), a brincadeira pode ser um modo, de certa

forma, de a criança treinar acontecimentos que poderá passar na fase adulta,

mas com a vantagem de não correr grandes riscos que na realidade do adulto,

ela sofreria.

A atividade lúdica em crianças com necessidades especiais

desempenha papel importante em todas as esferas de desenvolvimento, como

sugerem Costa e Bentes (2001). Os autores afirmam em seu estudo a

importância que o brinquedo tem como objetivo ajudar na formação e no

amadurecimento da criança. Os aspectos cognitivos, da imaginação e da

criatividade, além do trabalho com a atenção e concentração, são

desenvolvidos durante o processo da brincadeira.

Dessa forma, o relacionamento dentro da sociedade em que o indivíduo

com necessidades especiais está inserido pode ser amplamente influenciado

pelas experiências vivenciadas durante seu processo de desenvolvimento e

aquisição de habilidades.

A aprendizagem e a aquisição de habilidades seguem a mesma via de

desenvolvimento em crianças com necessidades especiais em relação àquelas

que apresentam desenvolvimento típico (VYGOTSKY, 1997). Segundo o autor,

o processo de desenvolvimento global do indivíduo, em suas esferas motora,

sensório-neural, cognitiva e social ocorre de fora para dentro. Ele considera

que os fatores extrínsecos ao indivíduo desempenhem uma via de ação mais

importante no desenrolar desse processo em relação à via contrária de ação,

ou seja, o desenvolvimento de habilidades pura e simplesmente dependente

das condições intrínsecas ao indivíduo. Isso demonstra a importância que o

papel da interação com o ambiente exerce sobre o indivíduo e seu processo de

formação global.

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O estudo de Santos (2008) corrobora para a afirmação da importância

do meio e de atividades assistenciais para o desenvolvimento e aquisição de

habilidades de crianças com SD. Seu estudo envolveu crianças de 12 meses

com SD, e concluiu que em crianças submetidas a maiores períodos de

tratamento fisioterápico houve redução do atraso de desenvolvimento motor

pela escala de Alberta Infant Motor Scale (AIMS).

Dessa forma, para o desenvolvimento das capacidades da criança e

aprendizagem de indivíduos com SD é necessário um ambiente lúdico rico em

estímulos. Falkenbach, Ruschel e Maróstica (2002) sugerem em seu estudo

que o principal fator responsável pelo desenvolvimento global e aquisição de

habilidades de indivíduos com SD desde o nascimento é o fator ambiental, ou

seja o ambiente físico e social em que a criança está inserida.

Solai e Pfeifer (2006) demonstraram de forma objetiva, por meio da

escala lúdica de Knox revisada, que crianças com SD apresentaram atraso em

diversos componentes intrínsecos à brincadeira em relação a crianças sem

déficit de desenvolvimento neurológico, e psicomotor. Os quesitos relativos à

escala que avaliam direção espacial, direção material, participação e faz de

conta apresentaram déficit de 30 a 50% em crianças portadoras de SD em

relação a crianças sem déficit cognitivo ou sensório-motor da mesma faixa

etária.

Outros estudos de Anhão, Pfeifer e Santos (2010) complementam essa

análise, demonstrando que crianças com SD apresentam déficit de habilidades

sociais assertivas, porém tem bom desempenho em habilidades sociais

passivas. Em outras palavras, tem dificuldade em situações sociais que

necessitam de iniciativa, entretanto, não apresentam problemas em situações

sociais passivas, em que o meio exerce papel central, de forma determinante.

Adicionalmente, os autores sugerem que ambientes inclusivos para crianças

com SD contribuem para o seu desenvolvimento de forma global.

Cielinski (1995) e Roach (1998) apud Silva e Dessen (2003) realizaram

estudos onde analisaram os processos de interação familiar entre pais de

indivíduos portadores de SD e seus filhos comparando a núcleos familiares

sem indivíduos com SD. No que diz respeito às relações maternas, referem

que há uma postura mais diretiva entre mães de crianças com SD em relação a

mães de crianças sem atraso de desenvolvimento. Essa postura pode ser

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explicada pela já citada deficiência apresentada por crianças com SD em

atividades sociais assertivas, com uma predominância de relações sociais

passivas. Apesar dessas diferenças entre as posturas de relacionamentos

maternos, Cielinski (1995 apud SILVA; DESSEN, 2003) afirma que a qualidade

da brincadeira não apresenta diferença significativa entre os diferentes grupos.

Roach (1998 apud SILVA; DESSEN, 2003) corrobora com esta afirmação e

adiciona que o uso de brinquedos, a qualidade da brincadeira e a vocalização

durante o processo lúdico não é prejudicada pala atitude diretiva das mães de

indivíduos com SD.

Tendo em vista que a população com SD possui um número significativo

de representação no mundo todo e identificando a importância do brincar no

desenvolvimento em vários aspectos das crianças com ou sem necessidades

especiais, o presente estudo busca levantar, junto à literatura, algumas

características e alguns efeitos das atividades lúdicas encontrados na

população de crianças com SD.

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2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

Descrever dois estudos acerca das atividades lúdicas de crianças com

SD.

2.2 ESPECÍFICO

Compreender a importância das atividades lúdicas para o

desenvolvimento da criança com SD e caracterizá-las.

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3 MÉTODO

Os materiais utilizados nesta pesquisa foram somente artigos de revistas

científicas e as buscas dos mesmos, em um primeiro momento, foi realizada

pesquisa nas bases de dados eletrônicas nacionais Lilacs, Scielo Brasil e

Medline. A pesquisa foi limitada ao idioma português e as palavras-chave

utilizadas na pesquisa dos artigos foram: síndrome de Down e brincar,

síndrome de Down e brincadeira, síndrome de Down e atividade lúdica,

síndrome de Down e lúdico e síndrome de Down e lúdica. Neste caso, essas

palavras poderiam estar em qualquer campo como resumos, títulos, palavras-

chave ou no corpo do texto. Foram encontrados apenas cinco artigos no total,

sendo selecionado apenas um. A exclusão dos demais artigos ocorreu devido a

dois utilizarem o brincar como método e não como objeto de estudo, ou seja,

utilizavam o brincar como meio de interação com as crianças para estudo de

outros aspectos não necessariamente relacionados à brincadeira. Os outros

dois não se referiam à brincadeira, mas somente a SD em outros aspectos.

Como o número de artigos encontrados foi pequeno, em um segundo

momento, a busca foi feita na base de dados do Google acadêmico, utilizando-

se as palavras-chave síndrome de Down e brincar, no idioma português, onde

foram encontrados 1.560 links. Destes, 68 não foi possível localizar, 396 eram

artigos científicos repetidos e apenas 446 eram artigos científicos únicos.

Os artigos foram selecionados de acordo com o título e leitura dos

resumos, e quando necessário com a leitura do texto na íntegra, mediante a

análise ou caracterização do tema brincar em crianças com SD. Da mesma

maneira que ocorreu na seleção de artigos provenientes das fontes anteriores,

foram excluídos os artigos que utilizavam a atividade lúdica estritamente como

método e não como objeto de estudo, ou quando a população estudada não

fosse crianças com SD. Do total dos 446 artigos científicos encontrados, foi

selecionado apenas um artigo.

Os dois artigos escolhidos foram analisados para sistematizar as

características das atividades lúdicas realizadas pelas crianças com SD,

compreendendo sua influência positiva no desenvolvimento neuropsicomotor.

Cabe ressaltar, que esta pesquisa não pode ser considerada como

representante da totalidade dos estudos já realizados com o tema brincar em

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crianças com SD, pois não abrangeu o total de períodicos existentes, mas uma

amostra do que já é conhecido cientificamente. Isto se deve à existência de

outras bases científicas de dados e ainda ao presente estudo analisar apenas

um idioma para pesquisa de artigos.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

De acordo com os critérios de inclusão dos artigos científicos neste

trabalho, foram selecionados ao todo dois estudos. Possivelmente o número

pequeno de artigos encontrados é fruto de que as palavras-chave utilizadas

nesta pesquisa não são cadastradas no Descritores em Ciência da Saúde

(DeCS).

Assim o primeiro artigo traz como título “Caracterização das habilidades

simbólicas de crianças com síndrome de Down” e apresenta em sua autoria

três fonoaudiólogas, Ciciliato e Zilotti, que seguem a carreira clínica, e Mandrá

que segue a carreira acadêmica. O artigo foi publicado na Revista da

Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia em 2010 (CICILIATO; ZILOTTI;

MANDRÁ, 2010).

O objetivo do estudo foi caracterizar as habilidades simbólicas de

crianças com SD. Para isso, selecionou-se 13 crianças com SD em idade entre

12 e 36 meses de duas Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais

(APAE) de duas cidades no interior do estado de São Paulo e 13 crianças com

desenvolvimento típico e idade também entre 12 e 36 meses de uma Escola de

Educação Infantil.

As crianças com SD formaram o grupo síndrome de Down (GSD) e as

crianças com desenvolvimento dentro do esperado formaram o grupo controle

(GC). Os critérios de inclusão das crianças do primeiro grupo foram o

diagnóstico de SD, a frequencia na instituição, a idade entre 12 e 36 meses e

não apresentar nenhuma alteração sensorial auditiva e/ou visual que

pudessem comprometer o desenvolvimento da linguagem. Os critérios para o

segundo grupo foram a idade entre 12 e 36 meses e apresentar

desenvolvimento considerado dentro do padrão da normalidade.

Utilizou-se o Protocolo de Observação Comportamental (PROC) dividido

em quatro partes com pontuação específica para análise de cada um dos

critérios de estudo: formas de manipulação dos objetos (pontuação máxima de

10); nível de desenvolvimento do simbolismo (pontuação máxima de 20); nível

de organização do brinquedo (pontuação máxima de 20); e imitação

(pontuação máxima de 20). Dessa forma, cada uma das crianças obteve

pontuação total que variou de zero a 70 segundo sua performance na

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atividade. Os brinquedos em miniaturas foram utilizados durante a situação do

brincar com duas pesquisadoras, sendo filmadas durante a interação com as

crianças. A análise dos resultados foi feita através das filmagens por três

pessoas diferentes, desconsiderando os cinco minutos iniciais e dez minutos

finais das gravações. A análise do ponto de vista estatístico foi feita pelo

método ANOVA com comparações entre idades e entre grupos utilizados.

Nos resultados, os grupos foram subdivididos de acordo com as idades

para melhor análise. Grupo I para crianças entre 12 e 24 meses e Grupo II para

crianas entre 25 e 36 meses. Dessa forma, por distribuição por faixa etária

entre cada um dos grupos, obteve-se GSD I crianças com SD de 12 a 24

meses, GC I crianças GC de 12 a 24 meses, GSD II crianças com SD de 25 a

36 meses de idade e GC II crianças GC de 25 a 36 meses de idade. Os

resultados foram verificados de acordo com os itens considerados pelo PROC.

No primeiro item da PROC, de manipulação de objetos, as crianças do

GSD I exploraram de maneira rápida e superficial, com poucas ações e

repetitivamente. Crianças GSD II apresentaram desinteresse pelos objetos e

desistência frente obstáculos. Por análise cronológica, as características

apresentadas por GSD I e GSD II foram semelhantes ao GC I.

No segundo item sobre o nível de desenvolvimento do simbolismo o

GSD I apresentou 83% de condutas sensóriomotoras, mas não apresentou

nenhum tipo de esquemas simbólicos contrapondo o GC I que apresentou

100% de uso convencional de objetos e condutas pré-simbólicas. Notaram-se

diferenças ainda, entre GSD II e o GC I e II, onde o primeiro apresentou baixas

condutas pré-simbólicas, ao contrário dos outros dois grupos. Crianças GSD II

não utilizaram da linguagem verbal durante a situação lúdica, enquanto que

todas as crianças GC II utilizaram linguagem verbal para relatar a situação

lúdica.

No terceiro item em relação a imitação, no GSD I, 77% das crianças

apresentaram reação à solicitação de imitações e no GC I todos reagiram à

essas solicitações. No GSD II verificou-se que 86% das crianças reagiram às

solicitações de imitações e no GC II 75% reagiram a essas solicitações. Foi

constatado então, que o GC II apresenta menor porcentagem de imitações e

maior número de iniciativas de interação com os objetos que o GSD II.

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No quarto item sobre a organização dos brinquedos tanto os GSD I e II

como os GC I e II não organizaram os objetos de acordo com o que descreve o

PROC como em grupos e enfileiramentos.

Teste Anova. * Valores significativos (p<0,05) Legenda: GSD I = grupo síndrome de Down I; GSDII = grupo síndrome de Down II; GCI = grupo controle I; GCII = grupo controle II; PROC = protocolo de observação comportamental Fonte: Ciciliato, Zilotti e Mandrá (2010, p.412).

Figura 1. Médias dos escores do PROC inter-grupos

A figura 1 acima, retirado do referido estudo de Ciciliato, Zilotti e Mandrá

(2010), apresenta um gráfico de barras dos resultados obtidos entre os quatro

itens pesquisados. Cada um dos itens está subdividido entre os grupos de

estudo, sendo GSD I representado em preto, GC I em cinza claro, GSD II em

branco e GC II em cinza-escuro.

O texto discute que as crianças com SD de ambas as faixas etárias

apresentaram atraso na aquisição de habilidades relativas aos itens verificados

da PROC e nas brincadeiras simbólicas em relação às crianças do grupo

controle, como já era esperado. Entretanto apresentaram as mesmas

habilidades de um padrão de desenvolvimento normal.

Em relação à manipulação de objetos, houve diferença nas médias inter-

grupos e intra-grupos. Verifica-se então, que apesar de desenvolverem

habilidades com o avançar da idade, as crianças com SD apresentaram

desempenho aquém do esperado para a idade cronológica. As crianças do

GSD também apresentaram maior exploração sensório-motora quando

comparadas às crianças do GC.

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No item da imitação sonora, as crianças com SD obtiveram desempenho

muito semelhante às crianças comparadas dentro do padrão da normalidade,

no entanto não foram encontrados outros estudos para realizar as devidas

comparações.

Foi observado que as atividades da rotina diária como atender telefone,

dar mamadeira à boneca e andar de carro foram representadas mais vezes

pelas crianças com SD, indicando a representação das experiências

vivenciadas no seu dia a dia. Os brinquedos mais utilizados pelas crianças do

GSD foram boneca, mamadeira, potes, panelas, talheres, telefone e bola.

Na análise das filmagens de 30 minutos, observou-se que um tempo de

atenção das crianças em média de cerca de 15 minutos, o que facilitou a

verificação e análise dos resultados.

O estudo concluiu que as crianças com SD apresentam atraso nas

habilidades simbólicas, e ainda confirmou a importância de avaliar essas

habilidades em crianças com alteração de linguagem, pois o simbolismo

precede o desenvolvimento da linguagem, sendo assim, necessário o

diagnóstico e a intervenção fonoaudiológica precoce em crianças com SD.

O segundo artigo traz como título “Deficiência mental, imaginação e

mediação social: um estudo sobre o brincar” e tem a autoria de duas

psicólogas, Pinto e Góes. A publicação deste artigo em questão foi realizada na

Revista Brasileira de Educação Especial no ano de 2006 (PINTO; GÓES,

2006).

O estudo teve por objetivo investigar as relações entre a mediação de

outros (adultos, parceiros) e as ações imaginativas da criança, em termos de

capacidade de transcender o campo perceptual imediato e compor seqüências

de faz-de-conta.

O método escolhido foi a análise qualitativa de 12 crianças que

frequentavam uma instituição de educação especial, numa cidade de porte

médio no interior de São Paulo. Entre os sujeitos escolhidos para a pesquisa,

havia duas crianças com SD nas idades de 5 e 6 anos; três crianças com

paralisia cerebral com 5 anos de idade cada uma; cinco crianças sem

diagnóstico, mas que apresentam desenvolvimento comprometido da

linguagem com idades entre 5 e 6 anos; e duas crianças sem

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comprometimento cognitivo, mas que por outros fatores frequentavam a

instituição.

Foram realizadas filmagens semanalmente durante uma hora nos meses

de maio a junho e agosto a dezembro do ano de 2003. Foram dadas

preferências às situações de brincadeiras simbólicas realizadas pelas crianças.

As filmagens foram transcritas e analisadas juntamente com as anotações do

diário de campo, e documentado por temas. A análise dos dados foi feita

baseando-se na abordagem microgenética ou microeventos, que verifica

detalhes de acontecimentos para a construção dos dados.

Nas análises feitas no resultado, foi citado apenas a criança com SD de

6 anos interagindo com a criança sem déficit cognitivo. Esta por sua vez,

possibilitou que a criança com SD participe da composição simbólica da

brincadeira, compartilhando significados e tomando iniciativas, apesar de não

apresentar verbalização na brincadeira. As autoras defendem que as ações

durante o brincar baseiam-se nas ações vivenciadas pela criança no seu

cotidiano.

As situações relatadas no texto apresentaram como peças-chave a

interação das crianças sem déficit cognitivo e da pesquisadora, as primeiras

atuaram iniciando situações, propondo desafios, oferecendo ajuda e

fornecendo um modelo a ser seguido nas situações de brincadeira, enquanto

que a segunda atuou de forma inespecífica no plano e seguimento dos jogos

apenas encorajando encenações e desprendimento da situação para facilitar o

simbolismo da experiência. Adicionalmente, o texto traz a opinião de que a

grande dependência do outro por estas crianças com deficiência cognitiva não

deve conduzir a expectativas baixas do brincar, mas alertar para medidas

educativas que explorem e promovam esse aspecto importante do

desenvolvimento.

As autoras defendem a necessidade dos ganhos de funções psíquicas

superiores decorrentes dos processos imaginativos advindos pelo brincar, e

que esses ganhos não ocorrem de forma automática. Por esse motivo é

necessária a atuação de terceiros na geração de situações propícias para a

atividade, e afirma a grande importância de profissionais de saúde nas

repercussões favoráveis decorrentes desse processo.

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Como conclusão do referente texto, é exposto que para as crianças com

déficit cognitivo a exploração da imaginação criativa é fundamental para o seu

desenvolvimento. Além disso, afirmam que o estímulo ao desenvolvimento da

ação criadora é um compromisso social para com elas.

O Quadro 1, na sequência, resume os resultados encontrados nos dois

artigos científicos em questão.

Quadro 1 – Resumo dos Artigos

Título Caracterização das habilidades simbólicas de crianças com síndrome de Down.

Deficiência mental, imaginação e mediação social: um estudo sobre o brincar.

Autores Ciciliato, Zilotti e Mandrá. Pinto e Góes.

Ano de publicação 2010 2006

Formação profissional

Fonoaudiologia Psicologia

Palavra-chaves Síndrome de Down

Linguagem infantil

Simbolismo

Desenvolvimento infantil

Cognição

Deficiência mental

Imaginário infantil

Mediação sóciocultural

Objetivo Caracterizar habilidades simbólicas de crianças com SD.

Investigar as relações entre a mediação de outros e as ações imaginativas de crianças.

Método Estatístico;

Instrumento PROC;

Comparação entre grupo de crianças com SD e grupo de crianças controle.

Qualitativo;

Instrumentos: filmagens e diário de campo;

Análises de situações lúdicas.

Resultados Diferenças inter-grupos (entre GC e GSD): manipulação de objetos; nível do simbolismo; e desempenho geral;

Diferenças entre GSDI e GSD II: nível do simbolismo;

Diferenças intra-grupos (idades): manipulação de objetos; nível do simbolismo; e desempenho geral;

Semelhanças: imitação sonora e gestual.

Crianças somente com os próprios recursos: baixa disposição para participar da brincadeira e compartilhar diálogos;

Crianças com mediação: possibilidade de engajar em brincadeiras simbólicas relativamente complexas.

Conclusão Crianças com SD apresentaram atraso no desenvolvimento das habilidades simbólicas.

Crianças com déficit cognitivo: explorar a imaginação criativa é fundamental para o seu desenvolvimento.

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5 DISCUSSÃO

Os artigos encontrados apresentaram algumas semelhanças e algumas

diferenças. O Quadro 2 apresenta de forma concisa uma comparação entre as

concordâncias e discordâncias entre os textos descritos. Verificou-se também

que os artigos selecionados foram publicados em diferentes revistas, e que

apesar de o público alvo abranger profissionais de saúde em ambas as

publicações, aspectos peculiares de cada área de atuação devem ser levados

em conta, demonstrando uma ótica específica para cada estudo apresentado.

O estudo A foi publicado na Revista da Sociedade Brasileira de

Fonoaudiologia, por três fonoaudiólogas, e o estudo Z foi publicado na Revista

Brasileira de Educação Especial, por duas psicólogas.

As palavras-chave foram diferentes entre os textos apresentados. No

texto A as palavras-chave utilizadas foram síndrome de down, linguagem

infantil, simbolismo, desenvolvimento infantil e cognição. No texto Z por sua

vez, foram utilizadas deficiência mental, imaginário infantil e mediação

sociocultural. A semelhança foi percebida em relação ao simbolismo e o

imaginário infantil, referente à brincadeira de faz-de-conta.

Quadro 2 – Comparação entre Artigos

Texto A Texto Z

Semelhanças Tema: simbolismo;

Participantes: crianças com SD (12 crianças);

Coleta de dados: utilização de filmagens;

Conclusão: crianças com SD apresentam atraso nas habilidades simbólicas.

Tema: imaginação criativa;

Participantes: crianças com SD (2 crianças);

Coleta de dados: utilização de filmagens;

Conclusão: crianças com déficit cognitivo (inclui crianças com SD) apresentam baixo enganjamento nas brincadeiras simbólicas.

Diferenças Ponto de vista: estatístico;

Objetivo: caracterização de habilidades simbólicas em crianças com SD;

Método: avaliação através do PROC e grupo controle de crianças sem déficit cognitivo para comparação;

Análise: de acordo com PROC.

Ponto de vista: qualitativo;

Objetivo: Investigar as relações de mediação e ações imaginativas de crianças.

Método: interação mútua de crianças com e sem déficit cognitivo em sessões de brincadeiras livres;

Análise: de acordo com abordagem micro-eventos.

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Os textos trabalham a questão do simbolismo, da brincadeira de faz-de-

conta, que a criança utiliza como estratégia para o seu desenvolvimento.

Segundo Ciciliato, Zilotti e Mandrá (2010) essas habilidades precedem o

desenvolvimento da linguagem, dessa maneira, ao explorar o ambiente

brincando, a criança vai constituindo suas funções simbólicas através de suas

ações.

No entanto, o foco de estudo dos textos foi diferentes, pois o artigo A

enfocou a caracterização das habilidades simbólicas por meio de escalas

quantitativas e objetivas, enquanto que o texto Z enfocou o funcionamento

dessas habilidades de maneira qualitativa, mais precisamente as possibilidades

de elaboração durante a brincadeira simbólica.

Nesse sentido, a brincadeira do faz-de-conta, e todo o plano simbólico

que ela constitui, se torna um meio no qual a criança atua e treina atividades

necessárias para se adaptar ao meio do universo adulto, sem os grandes

riscos inerentes à situação propriamente dita vivenciada na fase adulta,

(FIAES; BICHARA, 2009). Estes autores afirmam ainda que quanto mais a

criança brinca simbolicamente, maior a tendência de formar a habilidade de

flexibilização comportamental para a convivência grupal na vida adulta.

A metodologia apresentada pelo texto A é condizente com o que os

autores propõem como objetivo. Dado que as populações estudadas foram

tanto crianças com síndrome de Down quanto crianças com desenvolvimento

típico, formando respectivamente, o grupo de SD e o grupo controle, com idade

entre 12 e 36 meses, foi possível realizar a comparação dos resultados entre

ambos os grupos, e de maneira mais específica, por faixas etárias separadas

entre o 1º e 2º anos de vida. Esta estratificação por idades é útil em possíveis

vieses que pudessem ocorrer ao englobarmos a totalidade de cada um dos

grupos para comparação intergrupos, e também possibilita uma comparação

intra-grupos demonstrando as aquisições das diferentes habilidades em cada

grupo. Dessa maneira, através de um estudo desenhado nos moldes de caso-

controle, constatou-se o atraso encontrado nas crianças com SD, que era o

esperado pelo seu déficit cognitivo inerente à síndrome.

Assim também aconteceu no segundo estudo, no texto Z, a metodologia

utilizada está de acordo com o objetivo apresentado. As autoras propõem-se a

investigar as relações entre a mediação de terceiros e as ações imaginativas

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de crianças, em especial, de crianças com déficit cognitivo. Especificamente, a

população estudada abrangeu crianças com deficiência mental, entre elas duas

crianças com SD.

A principal diferença entre os textos selecionados foi o tipo de análise: o

texto A utilizou o ponto de vista estatístico para análise de medidas

quantitativas e o texto Z foi analisado tendo como diretriz o estudo qualitativo

das interações verificadas entre as crianças ao decorrer do período do estudo.

De acordo com Pereira (2006), um estudo de análise quantitativa,

especificamente nos moldes de um estudo caso-controle, faz a comparação de

itens, que possam ser avaliados de forma objetiva, relacionados a uma área de

interesse entre indivíduos que possuem certa condição particular e indivíduos

que não a possuem. Neste caso o texto A pode ser considerado uma pesquisa

de análise quantitativa pois faz o estudo das habilidades simbólicas em

indivíduos com e sem diagnóstico de SD.

Segundo Neves (1996), o estudo qualitativo se baseia em descrição e

decodificação por meio de técnicas interpretativas de um sistema complexo de

significados. O Texto Z se enquadra nesta definição, já que apresenta a

descrição e análise de um meio de interações sociais complexas evidenciadas

através da bricadeira entre indivíduos com déficit cognitivo e terceiros.

Os dois artigos utilizaram a filmagem para coletar os dados. Este meio

de documentação, além de facilitar a análise dos resultados, permite que

outras pessoas possam ter acesso às situações de estudos, e torna mais

precisa a avaliação dos comportamentos apresentados pelas diversas crianças

estudadas.

O PROC foi utilizado pelo artigo A como análise objetiva das habilidades

simbólicas. O texto trouxe os resultados divididos em quatro partes, e

subdividiu os grupos tendo como referência as idades: GSD I e GC I crianças

com 12 a 24 meses; GSD II e GC II crianças com 25 a 36 meses. Em relação à

forma de manipulação de objetos as crianças do GSD I exploraram de maneira

rápida e superficial, com poucas ações e repetitivamente, dessa forma, as

características dos GSD I e GSD II foram semelhantes ao GC I, sugerindo que

a idade mental seja importante parâmetro para analisar as habilidades

simbólicas.

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Verificou-se que no nível de desenvolvimento do simbolismo o GSD I

apresentou 83% de condutas sensóriomotoras, mas não apresentou nenhum

tipo de esquemas simbólicos contrapondo o GC I que apresentou 100% de uso

convencional de objetos e condutas pré-simbólicas. Notaram-se diferenças

ainda, entre GSD II e o GC I e II, onde o primeiro apresentou baixas condutas

pré-simbólicas e a não utilização da linguagem verbal durante a situação

lúdica, ao contrário dos GCs.

Quanto ao item relacionado à imitação, no GSD I, 77% das crianças

apresentaram reação à solicitação de imitações e no GC I todos reagiram a

essas solicitações. No GSD II verificou-se que 86% das crianças reagiram às

solicitações de imitações e no GC II 75% reagiram a essas solicitações. A

análise destes resultados pelos autores leva em consideração que o GC II

apresenta menor porcentagem de imitações e maior número de iniciativas de

interação com os objetos que o GSD II.

Em relação à organização dos brinquedos tanto os GSD I e II como os

GC I e II não organizaram os objetos de acordo com o que descreve o PROC

como em grupos e enfileiramentos.

Entretanto foi observado que as atividades da rotina diária como atender

telefone, dar mamadeira à boneca e andar de carro foram representadas mais

vezes pelas crianças, indicando a representação das experiências vivenciadas

no seu dia a dia. Os autores defendem que as ações durante o brincar

baseiam-se nas ações vivenciadas pela criança no seu cotidiano. Tais

comportamentos apresentados pelas crianças do referido estudo tem

importância, segundo Pedroza (2005) pelo fato de durante o brincar, haver uma

apropriação das experiências vividas, onde a criança imita e repete

percepções, impressões e emoções.

Já no texto Z, de visão qualitativa, os dados das filmagens foram

analisados juntamente com as anotações do diário de campo baseando-se na

abordagem microgenética ou micro-eventos, que analisa detalhes de

acontecimentos para a construção dos dados. Essa análise foi feita dando

prioridades nas situações lúdico-simbólicas na interação entre as crianças, e

dessa forma, transcritas ao artigo passagens pertinentes e de importância para

o estudo.

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Nesse processo foi realizado a análise de uma criança com SD de 6 anos,

com nome fictício de José, onde este interage com outra criança que não

apresenta deficiência mental. Esta por sua vez, possibilita que José participe

da composição simbólica da brincadeira, compartilhando significados e

tomando iniciativas, mesmo sem fazer uso de linguagem verbal.

A criança em questão, José, conseguiu através da mediação de outra

criança participar ativamente do momento lúdico simbólico analisado. Se não

fosse essa mediação, provavelmente a criança com SD não teria interagido

tanto como o fez.

Segundo as concepções apontadas por Vygotsky (1997), que defende

que no processo de desenvolvimento global do indivíduo, os fatores externos

ao indivíduo tenham uma ação mais importante em relação aos fatores

internos, ou seja, ocorre de fora para dentro, encontramos no artigo Z a

importância da interação entre o indivíduo com SD e a criança sem déficit

cognitivo. À luz dos referidos conceitos de Vygotsky consideramos a importante

ação externa desempenhada pela parceira de brincadeira da criança com SD

para que haja a criação de situações simbólicas mais complexas, convite e

estímulo na participação da brincadeira e o fornecimento de um modelo a ser

imitado. Dessa maneira o ambiente em que a criança está inserida, está

exercendo uma grande influência no seu desenvolvimento tanto motor, quanto

sensorial, cognitivo e social. Isso demonstra a importância que o papel da

interação com o ambiente exerce sobre o indivíduo em seu processo de

formação global.

Falkenbach, Ruschel e Maróstica (2002) também corroboram com essa

idéia quando sugerem que a aquisição de habilidades de indivíduos com SD e

o seu desenvolvimento global devem-se principalmente ao fator ambiental

desde o nascimento. Portanto, o ambiente físico e social em que a criança está

inserida é o grande responsável pelo seu desenvolvimento como um todo.

As crianças com SD apresentam bom desempenho nas habilidades

sociais quando não necessitam interagir muito, quando a interação é feita

passivamente. De forma contrária, em interações que necessitam de iniciativa

por parte da criança com SD, esse mesmo desempenho cai. Assim, essas

crianças em situações socias passivas, onde o meio exerce um papel

determinante, apresentam bom desempenho, ao contrário das situações

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sociais de iniciativas (ANHÃO; PFEIFER; SANTOS, 2010). Tais informações

são corroboradas pelo estudo Z, que apresenta o sujeito com SD colaborando

para a execução das atividades envolvidas no brincar sugeridas pela criança

sem deficiência cognitiva. No entanto, não há uma postura ativa de José para a

elaboração da brincadeira.

O texto Z ainda traz a opinião de que a grande dependência do outro por

crianças com deficiência cognitiva não deve conduzir a expectativas baixas do

brincar, mas alertar para medidas educativas que explorem e promovam esse

aspecto importante do desenvolvimento. Pedroza (2005) ainda refere que é

necessária a implementação de um espaço de atividades como o brincar no

cotidiano das crianças por parte dos profissionais de educação para que

promovam o desenvolvimento do indivíduo e novas situações de aprendizado

por ambas as partes.

Dado que o simbolismo precede o desenvolvimento da linguagem, o

estudo A concluiu sobre a importância de avaliar as habilidades simbólicas em

crianças com alteração de linguagem, sendo assim, necessário o diagnóstico e

a intervenção fonoaudiológica precoce em crianças com SD. Horstmeier (1995)

e Andrade (2007) referem em seus estudos o atraso característico no

desenvolvimento da linguagem verbal em indivíduos com SD e a decorrente

preferência destas crianças pela comunicação gestual. Dessa forma, é

pertinente a ênfase das autoras do texto A numa intervenção precoce nestes

indivíduos pelo atraso na aquisição da fala inerente à doença.

A mesma ênfase em relação à importância da assistência a crianças com

SD foi dada pelas autoras do texto Z em sua conclusão, ao exporem que a

exploração da imaginação criativa, fundamental para o desenvolvimento global

do indivíduo, é um compromisso social para com elas. Neste sentido, Anhão,

Pfeifer e Santos (2010) ressaltam a importância de ambientes inclusivos para o

desenvolvimento infantil, especificamente em indivíduos com SD, que podem

suprir em parte as limitações apresentadas por eles e auxiliar em seu

desenvolvimento global.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a pesquisa foram encontrados muitos artigos que tratavam da

atividade lúdica em diferentes perspectivas. Diante disso, porém, percebeu-se

o quanto ainda a literatura sobre a brincadeira em crianças com SD é escassa.

Os artigos selecionados foram apenas dois, estes abordaram em sua

discussão o aspecto simbólico da brincadeira, talvez pela tamanha importância

deste tipo de atividade no desenvolvimento das crianças e sua influência

positiva. Adicionalmente, as crianças na faixa etária estudada apresentam em

grande parte do tempo gasto em brincadeiras, o uso de atividades simbólicas.

Apesar dos textos serem de abordagens diferentes, um qualitativo e outro

estatístico, ambos apresentaram semelhanças tanto na metodologia, como nos

resultados e concordância nas conclusões. Isso demonstra que diferentes

linhas de pesquisa podem ser usadas para abordar o tema do brincar em

crianças com SD.

Outro ponto importante é a forma que as autoras coletaram os dados,

através de filmagens. Essa maneira pode ser uma tendência nessas pesquisas

que tem como tema o brincar de faz-de-conta, por facilitar as análise e mostrar

detalhes de situações que acontecem muito rapidamente ou que se estendem

durante muito tempo.

Ao analisar ambos os textos, conclui-se que a criança com SD apresenta

a atividade lúdica simbólica com os mesmos marcos que as crianças

consideradas dentro do padrão da normalidade. Apesar disso, essas crianças

apresentam atrasos, ou seja, permanecem por maior tempo em cada fase de

desenvolvimento.

Além disso, como essas crianças apresentam atraso na atividade lúdica

simbólica, elas também apresentam comprometimento na área da linguagem.

Isto se deve ao fato da primeira preceder a segunda no desenvolvimento da

criança, já que certos componentes da linguagem apresentam dependência da

construção do simbolismo adquirido em parte pelo brincar.

Foi observado também que o brincar abre possibilidades para que a

criança, com ou sem deficiência, se desenvolva em todos os aspectos: motor,

sensorial, cognitivo, emocional e social. Concluímos ainda que esse

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desenvolvimento depende em parte de mediações de outras pessoas, ou seja,

depende principalmente do ambiente em que a criança vive e se relaciona.

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