O BULLYING NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL · 3 Leila Maria Haynes Dos Santos O BULLYING NO...
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAO CAMPUS I
CURSO DE PEDAGOGIA
Leila Maria Haynes Dos Santos
O BULLYING NO CONTEXTO DA EDUCAO INFANTIL
Salvador
2009
2
Leila Maria Haynes Dos Santos
O BULLYING NO CONTEXTO DA EDUCAO INFANTIL
Monografia apresentada como requisito parcial para obteno
da graduao em pedagogia do Departamento de Educao da
Universidade do Estado da Bahia, sob a orientao da Professora Doutora Isnia Freire.
Salvador
2009
3
Leila Maria Haynes Dos Santos
O BULLYING NO CONTEXTO DA EDUCAO INFANTIL
Monografia apresentada como requisito parcial para
obteno da graduao em Pedagogia do
Departamento de Educao da Universidade do
Estado da Bahia
Orientadora: Prof. Dra. Isnaia Freire.
Data de aprovao: ____/ ____/ _____
Banca Examinadora:
________________________________________________
Prof. Dra. Isnaia Junquilho Freire Presidente da Banca Examinadora
Universidade do Estado da Bahia Orientadora
_______________________________________________
Prof. Ms. Vicente Carolino Filho
Universidade do Estado da Bahia
________________________________________________
Prof. Ms. Marcos Santana
4
Dedico este trabalho a todos: jovens, adultos e principalmente
crianas, que vivenciam ou vivenciaram situaes de bullying no
mbito escolar.
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, o mestre dos mestres, por conduzir meus passos e me carregar no colo
nos momentos difceis.
Aos meus pais, Jandira e Alberto que esto sempre ao meu lado e que hoje realizam junto
comigo o sonho da graduao.
s minhas irms Llian e Liliane, minhas maiores amigas, pelo amor, pacincia, confiana e
disponibilidade.
minha querida orientadora, professora Isnia Freire, no tenho palavras para agradecer
diante de tudo que aprendi e do quanto cresci durante este perodo de orientao.
Ao professor Vicente, pela pessoa maravilhosa, singular, que domina a palavra como ningum
e que muito me ajudou no incio deste trabalho.
Ao mestre Marcos Santana por ter gentilmente aceitado meu convite.
Ao querido amigo Diego que me ajudou na traduo do resumo.
Dr Valdira, Sandra, Ademilson, Aridalva, Arinalva, Bernadete, Las, Gilda, Dr Caio, Dr
Maria Ivonildes, Dr Graa, Dr Socorro e a todos os tios e tias, primos e primas. pela fora.
Vnia (por tudo),Aline, Anlia, Simone, Tairone, e a todos os companheiros de sala pelos
momentos inesquecveis
Eu no chegaria aqui sem o amor e o apoio de vocs.
6
Alma Aprisionada
Estou aqui,
Dentro desta caixa escura
Silenciada.
Ouo o meu silencio!
O sentido da minha existncia a minha prpria
inexistncia.
Sou alma aprisionada, condenada a um corpo sem
vida, embora no esteja morto.
Dilacerado por uma fora destrutiva.
Mascarada pela indiferena, pela diferena.
No perteno a minha escola
No perteno ao meu grupo
No perteno a minha rua
No perteno a lugar nenhum.
Humilhada.
Sepultada viva...
Ou morta,
Mas, antes, esquartejada.
Talvez vingue a minha fraqueza
Talvez vingue a fraqueza de cada um deles.
(Liliane Laura)
7
RESUMO
O presente trabalho refletiu e discutiu acerca das prticas agressivas, bullying, no contexto da
educao infantil. O bullying um termo ingls que exprime atitudes agressivas entre iguais,
que acontece de forma repetida e sem um motivo que o justifique. Um fenmeno que sempre
ocorreu nas escolas, mas que ganhou relevncia devido a sua correlao com eventos trgicos.
Este estudo, caracterizado pelo mtodo misto, envolveu crianas de 4 e 5 anos de duas escolas
de educao infantil, sendo uma da rede pblica e outra da rede particular de ensino, ambas
localizadas na cidade de Salvador, Estado da Bahia. Os procedimentos metodolgicos
utilizados para a pesquisa foram: observaes que enfocaram os episdios agressivos entre os
pr-escolares e o comportamento adotado pelas professoras diante destes; entrevistas
individuais feitas aos alunos, que mostrou o mal-estar destes em relao escola e as
entrevistas feitas s respectivas professoras que, por sua vez, explicitaram suas percepes
diante das relaes pessoais de seus alunos e da agressividade presente nestas relaes.
Verificou-se aps a anlise dos dados que o bullying est presente entre as crianas
pesquisadas na forma direta e que os tipos mais comuns so: o verbal, o fsico e o psicolgico.
Demonstra-se tambm entre os resultados que as professoras observadas esto despreparadas,
para tratar do bullying: identificar, diagnosticar e intervir em episdios. Por fim, os dados
apontam para a necessidade de programas de capacitao que possibilitem a essas professoras
avaliar e intervir nestes episdios com mais propriedade e eficcia.
Palavras-chave: Bullying; Agressividade infantil; Violncia escolar.
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RESUMEN
Esta obra refleja y habla acerca de las prcticas de agresin y de acoso en el contexto de la
educacin infantil. el bullying es una palabra inglesa que expresa actitudes agresivas entre
iguales , lo que ocurre en varias ocasiones y sin motivo que lo justifique. Un fenmeno que
siempre ha ocurrido en las escuelas y que ha cobrado importancia debido a su correlacin con
los trgicos acontencimientos. Este estudio que se caracteriza por el mtodo mixto , aplicado a
nios de 4 a 5 aos a partir de dos escuelas primarias , una red publica y otro por las escuelas
privadas ; ambas situadas en la ciudad de Salvador , Bahia. Los procedimientos
metodolgicos utilizados por la investigacin fueron las observaciones que se centran en
episodios agresivos entre los pre-escolares y como se enfrentan los maestros a estas
situaciones y tambin a las entrevistas realizadas a los estudiantes , que mostraron su
inquietud hacia la escuela , y la entrevista a los profesores que a su vez comentaron sus
percepciones sobre las relaciones personales de los estudiantes ante los episodios
de agresiones Se encontr despus de haber analizado los datos que el bullying est presente
en los nios entrevistados de forma directa y que los tipos ms comunes son : verbal , fsico ,
psicolgico . Tambin se ha demostrado entre los resultados observados que los maestros no
estn preparados para hacer frente a la intimidacion ; para identificar , diagnosticar e
intervenir en esos casos. Por ltimo, los datos ponen en relieve la necesidad de programas de
capacitacin que permitan a los docentes de evaluar e intervenir en estos episodios con ms
autoridad y eficacia .
Palabras clave: Bullying, Agresividad infantil, Violencia escolar.
9
SUMRIO
1 INTRODUO ........................................................................................ 11
2 REFERENCIAL TERICO..................................................................... 13
2.1 Significado Do Termo...................................................................................... 13
2.1.1 Bullying X Assdio Moral...........................................................................................15
2.2 Breve Histrico Acerca Do Fenmeno Bullying................................ 17
2.3 O Bullying No Brasil.......................................................................................... 18
2.4 Bullying E Educao Infantil..................................................................... 19
2.5 O Cenrio Do Bullying..................................................................................... 22
2.5.1 Vtima do bullying................................................................................................... 23
2.5.2 Agressor no Bullying............................................................................................... 24
2.5.3 Bullying / assistente.................................................................................................. 25
2.5.4 Testemunhas do Bullying......................................................................................... 25
2.5.5 Bullying e a Diferena de Gnero............................................................................ 25
2.5.6 Professores e o Bullying........................................................................................... 27
2.5.7 Possveis Causas do Bullying................................................................................... 28
2.5.8 Conseqncias do Bullying....................................................................................... 30
2.5.9 Papel da Escola......................................................................................................... 31
2.5.10 Papel dos Pais....................................................................................................... 33
3 METODOLOGIA...................................................................................... 36
3.1 Tipo de Estudo.......................................................................................... 36
3.2 Local da Pesquisa...................................................................................... 36
3.3 Populao.................................................................................................. 37
10
3.4 O Contexto do Estudo.............................................................................. 39
4 APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS.................... 42
5 CONSIDERAES FINAIS.................................................................... 63
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................ 66
APNDICE A ENTREVISTAS COM CRIANAS............................... 69
APNDICE B ENTREVISTAS COM AS PROFESSORAS................. 72
APNDICE C OBSERVAES DA ESCOLA PBLICA................... 74
APNDICE D OBSERVAES DA ESCOLA PARTICULAR.......... 79
11
1 INTRODUO
O presente trabalho monogrfico aborda o tema O bullying no contexto da educao
infantil, tratando das questes que permeiam o cotidiano de crianas envolvidas direta ou
indiretamente em comportamentos agressivos nas escolas.
O termo bullying representa inmeras formas de agresses entre iguais, como afirma
Constantini (2004, p.69): Trata-se de um comportamento ligado agressividade fsica,
verbal ou psicolgica e no est presente somente nas escolas. Essas agresses podem ser
identificadas em todos os ambientes em que existem relaes interpessoais como, famlias,
academias de ginsticas, escritrios e, ultimamente, em sites de relacionamentos da internet, o
cyberbullying. Porm, a discusso que desenvolveremos aqui ser especificamente sobre as
prticas do bullying no mbito da educao infantil.
Este estudo justifica-se por tratar-se de um suporte terico tanto para profissionais da
educao como para os pais e estudantes de Pedagogia, principalmente por ser um assunto
que carece de estudos mais aprofundados aqui no Brasil, visto que a maioria das pesquisas
no traz dados suficientes sobre os pr-escolares.
Grande parte dos profissionais de educao que se encontra nas salas de aula
atualmente e estudantes dos cursos de formao de professor ainda no conhece o fenmeno
bullying. Outros profissionais, por sua vez, no admitem a ocorrncia dessa prtica ou as
minimiza, tratando-o como uma simples brincadeira ou at acreditando que essas situaes
servem para fortalecer a criana ou adolescente. Essas atitudes, aliadas desinformao dos
pais aumentam o perigo das condutas agressivas entre os alunos.
Assim, a prtica do bullying atinge as crianas de faixas etrias mais baixas em escolas
de todo o mundo. Esse um problema ainda maior porque, na educao infantil, essas
mesmas atitudes agressivas quase nunca so vistas com seriedade por educadores e pais e
porque so raros pesquisadores que buscam trabalhar neste mbito. Com tudo isso, numa
tentativa de comear a mudar essa realidade torna-se necessrio pensar: Como o bullying se
manifesta entre crianas da educao infantil? E quais so os tipos mais comuns?
12
Acreditamos que a sociedade em geral e, principalmente, os educadores devem tomar
conscincia da violncia implcita que acontece dentro da escola, um lugar onde a
convivncia pacfica e o respeito s diferenas deveriam ser o seu lema. Assim, temos como
objetivos do nosso estudo:
Informar a educadores e pais acerca deste problema para que estes possam buscar
meios de combater esta prtica, a fim de melhorar as relaes sociais e conseqentemente o
desenvolvimento cognitivo de seus alunos e filhos dentro da escola. Consideramos ainda
relevante: - Identificar como o bullying se manifesta entre as crianas da educao infantil.
- Identificar possveis causas, conseqncias e formas de preveno.
No prximo captulo, fizemos uma reviso de literatura. Iniciamos com uma
explanao sobre o bullying, de uma forma geral, e em seguida, tratamos mais
especificamente do bullying na educao infantil. No terceiro captulo, destacamos o processo
metodolgico da pesquisa. Tudo que foi feito no intuito de alcanarmos os objetivos do nosso
estudo monogrfico. O captulo quarto apresenta e discute os resultados da pesquisa a partir
das observaes e entrevistas. Este contribui para responder s questes que nos
impulsionaram a pesquisar o assunto. O ltimo captulo reporta-se s consideraes sobre as
percepes diante da prtica do bullying entre crianas da educao infantil, bem como a
sugestes para futuros trabalhos.
Enfim, esperamos que este estudo, que ocorreu durante o primeiro semestre de 2009
contribua para o entendimento de professores e pais acerca do fenmeno bullying. Esperamos
ainda que, a partir dos trabalhos de pesquisadores nacionais e internacionais aqui citados
perceba-se a seriedade desse problema, alm das conseqncias de curto e longo prazo que
podem ocorrer tanto na vida das vtimas quanto na dos agressores, mas tambm de todos os
que participam, ainda que indiretamente, do fenmeno. Finalmente, ensejamos ainda que essa
pesquisa auxilie a promover debates e discusses a respeito do tema e a buscar uma nova
postura diante de suas manifestaes
13
2 REFERENCIAL TERICO
A violncia um problema que afeta a sociedade como um todo. O Brasil
considerado hoje um dos pases mais violentos do mundo, com ndices altssimos. Os
modelos violentos, a que esto expostas as crianas, esto em todos os lugares: nas ruas, nas
casas, na poltica, nos programas de televiso, nos filmes, nos desenhos animados, nos jogos
eletrnicos, no esporte, na internet, na escola, criando uma nova conscincia que naturaliza
tais condutas dentro das relaes sociais, como afirma Crio (2001, p. 94) Una de las
mayores dificultades para la construccin de la convivencia pacifica es la violncia. Y est
presente en la escuela, incluso en la escuela infantil..
Neste captulo, buscando alcanar nveis mais elevados de compreenso acerca dessa
violncia especfica, revisaremos o conceito de bullying e suas particularidades: histrico,
origem, cenrio, a diferena do bullying entre meninos e meninas focando, principalmente, os
pr-escolares centrados em pesquisas e trabalhos bibliogrficos de grandes estudiosos.
2.1 SIGNIFICADO DO TERMO
O termo ings bullying deriva do verbo bully, que significa, enquanto adjetivo, brigo,
valento, tirnico e enquanto verbo ameaar, assustar, altratar, oprimir etc. Essa terminologia
tem sido usada em muitos pases. Na Noruega e na Dinamarca chama-se mobbnig; na Sucia,
mobbning; na Itlia, prepotenza; na Espanha intimidacin; no Japo, yjime e em Portugal
como maus-tratos entre pares (Fante 2005). No Brasil, o termo utilizado mesmo o bullying.
Convm salientar que refutamos o estrangeirismo, porm utilizaremos essa expresso porque
at este momento, especialistas no conseguiram encontrar um termo correspondente na
variante do portugus brasileiro para design-lo, e defendem-se alegando no haver uma
palavra consensual que possa conceituar todo o conjunto de agresses, conforme esclarece
Fante (2005, p.28): uma das dificuldades encontrada pela maioria dos pesquisadores
quanto a encontrar termos, em seus idiomas, que correspondam ao sentido da palavra
bullying E diz ainda (2008, p.35) No Brasil, tivemos dificuldade para encontrar um termo
equivalente que expresse o fenmeno com a mesma amplitude do termo ingls. No entanto,
pode-se entend-lo como: colocar apelidos constrangedores, ofender, humilhar, discriminar,
excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar,
14
dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences, etc. Segundo Alves
(2005), o bullying a forma escolar da tortura.
Assim, o bullying toda atitude agressiva entre pares que pode ser fsica ou
psicolgica, praticada sempre com a inteno de humilhar e de ferir. Ele ocorre de forma
continuada e sem que o agressor tenha um motivo para isso. Segundo Fante (2005, p. 28)
Alguns pesquisadores consideram ser necessrios no mnimo trs ataques contra a mesma
vtima durante o ano para sua classificao como bullying.
De acordo com Costantini (2004, p. 69) o bullying, uma ao de transgresso
individual ou de grupo, que exercida de maneira continuada. Para Middelton-Moz e
Zawadski (2007 p.18): a crueldade freqente e sistemtica, voltada deliberadamente a
algum, por parte de uma ou mais pessoas, com a inteno de obter poder sobre o outro ao
infligir regularmente sofrimento psicolgico e/ou fsico. Para Chalita (2008): A definio
mais fcil para bullying uma agresso alma, um ato de covardia que se faz repetidamente
contra uma criana, um adolescente, contra um jovem.
Fante (2005, p. 21) afirma, por sua vez, que o bullying se apresenta de forma
velada, por meio de um conjunto de comportamentos cruis, intimidadores e repetitivos,
prolongadamente contra a mesma vtima, e cujo poder destrutivo perigoso comunidade
escolar e sociedade como um todo, pelos danos causados ao psiquismo dos envolvidos.
Mas, j foi mostrado neste estudo, citando a prpria Fante, que o bullying no se resume a
uma agresso psicolgica ele caracteriza tambm a agresso fsica, uma forma explcita de
violncia que causa problemas no somente no psiquismo do indivduo. Como tambm
afirma Constantini:
[...] verdadeiros atos de intimidao preconcebidos, ameaas, que,
sistematicamente, com violncia fsica e psicolgica, so repetidamente impostos a
indivduos particularmente mais vulnerveis e incapazes de se defenderem, o que os
leva no mais das vezes a uma condio de sujeio, sofrimento psicolgico,
isolamento e marginalizao. (Constantini, 2004 p.69)
Portanto, podemos entender o bullying como uma violncia caracterizada por sua
natureza repetitiva e por desequilbrio de poder, (Fante 2005, p.28) que resulta em srios
prejuzos, fsicos e principalmente psicolgicos, e que no ficam apenas no mbito escolar. E
importante ressaltar mais uma vez que o bullying no e no pode ser considerado uma
http://pt.shvoong.com/tags/bullying/
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brincadeira prpria da infncia, mas sim, uma violncia que ainda que acontea na mais
terna idade causam danos, tanto da vtima como nos agressores.
2.1.1 Bullying X Assdio Moral
O assdio moral um termo traduzido do frans, Le harclement moral muito
confundido com o bullying. Trata-se tambm de um assunto que no novo, mas que teve
notoriedade apenas no final do sculo XX. Porm, existem caractersticas que os
particularizam.
Apesar de alguns autores, como Dagostim (2008), defenderem que O assdio moral
a melhor definio para o bullying. no podemos restrigi-lo violncia psicolgica, embora
essa forma de violncia cause, muitas vezes, maiores danos vtima. Segundo Lopes Neto
(2004), assdio moral no seria a melhor traduo para o bullying porque Alm de bullying
ser mais consagrado, no s assdio moral, mas igualmente fsico. O autor ainda traz
exemplos para enfatizar sua afirmao Alm disso, pode incluir roubo, pagamento de
pedgio (quando, por exemplo, uma criana precisa dar a outra, diariamente, certa quantia
para no ser agredida). (Lopes Neto, 2004). Outra diferena entre o bullying e o assdio
moral que enquanto o bullying se caracteriza por ocorrer entre iguais o assdio moral ocorre
dentro de uma hierarquia, de forma assimtrica, a exemplo de um chefe que assedia seu
subordinado, como explica Lima (2001):
[...] quando algum em posio de poder (patro, chefe, professor,
mdico, psicoterapeuta, etc.) usa de palavras e/ou aes ambguas (pouco claras de
sentido, sutis) que no so imediatamente percebidas como sendo agressivas ou
destrutivas, porque outras mensagens , emitidas simultaneamente com elas se
confundem e, por isso mesmo, terminam por atingir o moral, a auto-estima e a
segurana de outrem. (Lima, 2001)
Portanto, para Lima (2001) O assdio moral, por definio, um tipo particular de
abuso de poder que acontece de modo sofisticado e sutil de uma pessoa sobre outra, tomada
como vtima.
No caso da escola o assdio moral pode ocorrer nas relaes entre professores e
alunos. conhecido tambm como assdio vertical que pode ser descendente (quando o
professor assedia o aluno) e ascendente (quando o aluno assedia o professor). Mas, autores de
16
diversos pases, a exemplo dos Estados unidos, denominam o assdio moral tambm como
bullying, esse o caso de Middelton-Moz e Zawadski (2007). Para elas o fenmeno pode
acontecer em qualquer empresa ou ambiente de trabalho e o bully pode ser uma pessoa ou um
grupo ou at mesmo todo um departamento (Jane e Mary 2007, p.111). As autoras utilizam o
mesmo termo, bullying, para as agresses entre iguais, neste caso, trabalhadores:
Aqueles que so bullies no local de trabalho muitas vezes consideram atos
inocentes por parte de colegas de trabalho como hostis e pessoalmente ameaadores,
e buscam se vingar de ataques percebidos por meio de intimidao ou meios fsicos.
( Middelton-Moz e Zawadski, 2007, p. 26)
E agresses que acontecem dentro de uma hierarquia:
Os chefes que so bullies podem preparar seus alvos para o fracasso,
dando-lhes tarefas demais, de menos, ignorando-os ou atribuindo-lhes
responsabilidades para as quais no esto qualificados, o que resulta em acusaes
de que seu desempenho profissional inadequado e pode vir a causar a perda do
emprego. (Middelton-Moz e Zawadski, 2007, p. 111)
Vale ressaltar, ainda, que em alguns pases europeus, diferente da Frana, utiliza-se o
termo mobbing para definir o abuso de poder entre adultos no local de trabalho.
Independente da nomenclatura, o que todos os autores concordam que o assdio
moral no trabalho coloca os trabalhadores expostos s situaes de constrangimentos e
humilhaes que acontecem de forma repetitiva durante o exerccio de suas funes.
O agressor pode se mostrar de vrias formas: engraado, sacrstico, arrogante, duro,
egosta ou mesmo brincalho. Porm, uma pessoa sem tica que comete abuso de poder para
se sentir mais forte do que realmente . E que pode chegar a cometer violncias alm da
moral, sexual por exemplo.
J o alvo, geralmente tem medo de enfrentar o agressor e de perder o emprego por
isso, a princpio sofre em silncio e quando no aguentam mais o deixa. Isso acontece em
grande parte quando j esto muito abalados psicologicamente.
Contudo, o assdio, assim como o bullying, traz conseqncias danosas para a vtima e a
melhor forma de combat-los no se calar. No caso do trabalhador, deve procurar a Delegacia
Regional do Trabalho ou o Ministrio Pblico e denuciar ou ainda mover uma ao contra o
criminoso.
17
2.2 BREVE HISTRICO ACERCA DO FENMENO BULLYING
O bullying sempre existiu, segundo Nogueira (2005) O bullying escolar, ou
violncia entre pares, um fenmeno antigo e prejudicial, que pode deixar marcas profundas
na vida de um escolar. Contudo, o interesse pelo estudo sistemtico teve incio somente nos
anos 70 com pesquisas na Escandinvia, primeiro na Sucia, seguido da Noruega, com os
trabalhos do professor Olweus (1991), pesquisador da Universidade de Bergen. Olweus foi o
primeiro pesquisador a relacionar as atitudes agressivas ao bulliyng por observar o grande
nmero de suicdios entre estudantes. Ele foi o primeiro tambm a diferenciar o que seriam
brincadeiras prprias de crianas das condutas agressivas e da violncia vividas por estudantes
dentro das escolares primrias e secundrias de seu pas, dando para isso, uma nova
interpretao. Olweus (1991) criou, a partir de sua pesquisa, uma proposta de interveno que
foi colocado em prtica em toda a Noruega com o apoio do governo. (Pereira, 2002; Fante,
2005).
O projeto de interveno foi adaptado e utilizado tambm em diversos estudos e em
vrios pases, como Itlia, Frana, Espanha, Portugal e, inclusive, no Brasil, pela Associao
Brasileira Multiprofissional de Proteo Infncia e Adolescncia. (ABRAPIA). Algumas
das principais caractersticas desse projeto eram: desenvolver regras claras contra o bullying
nas escolas, conscientizar a comunidade escolar sobre o problema, buscar a efetiva
participao dos professores e pais dos alunos e prover apoio e proteo s vtimas.
Atualmente, o bullying vem sendo reconhecido como um causador de danos e tratado
com seriedade. Diversos pesquisadores em todo o mundo tm direcionado seus estudos para
esse fenmeno que cresce de forma preocupante por atingir estudantes de todos os anos de
escolaridade.
Na Europa e na Amrica do Norte, pesquisas e programas de combate ao bullying j
so desenvolvidos h algumas dcadas, com o intuito de esclarecer o assunto, conscientizar
todos aqueles que participam, direta ou indiretamente, do mbito escolar e dar apoio s
vtimas. Em pases europeus como Espanha, Itlia, Alemanha e Grcia, alm de legislao
especfica, existem aes desenvolvidas de forma integrada. No Brasil, as pesquisas vm
crescendo, assim como o interesse dos profissionais de educao e da populao em geral.
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2.3 O BULLYING NO BRASIL
O tema bullying chegou ao Brasil no final do ano de 1999 e incio do ano 2000 (Fante
e Pedra, 2008) e o enfrentamento do problema ainda est no comeo. Embora no exista uma
pesquisa de mbito nacional que fornea indicadores da realidade brasileira (Fante e Pedra,
2008, p.49) existem programas educacionais de combate e preveno ao bullying e, entre
eles, podemos destacar trabalhos importantes, como os desenvolvidos pela Associao
Brasileira Multiprofissional de Proteo Infncia e a Adolescncia (ABRAPIA), e o Centro
Multidisciplinar de Estudos e Orientaes sobre o bullying Escolar (CEMEOBES),
considerados referncias nacionais.
Em 2002, a ABRAPIA desenvolveu o Programa de Reduo do Comportamento
Agressivo entre Estudantes, buscando esclarecer as comunidades escolares sobre a
existncia do bullying e desenvolvendo aes para diminuir o problema em onze escolas do
Rio de Janeiro, onde o programa foi colocado em prtica.
O CEMEOBES tem como presidente a pesquisadora Clo Fante, considerada uma das
pioneiras no combate ao bullying escolar. Em 2006, promoveu o Primeiro Frum Brasileiro
Sobre bullying Escolar, ocorrido em Braslia, onde fica a sede do Centro e implementou o
Programa Educar Para Paz em uma Escola Municipal, com alunos de todo o ensino
fundamental entre 2002 e 2004, em So Paulo. Apesar disso, o bullying ainda tratado, na
maioria das escolas do pas, como um fenmeno natural, brincadeira de criana,
principalmente na Educao Infantil.
Outro problema que mesmo o bullying sendo encontrado em toda e qualquer escola
do mundo, no estando restrito a nenhum tipo especfico de instituio, ainda existem escolas
brasileiras que no conhecem o fenmeno bullying, entre as que conhecem, existem as que
no admitem a ocorrncia dessa prtica entre seus alunos e outras que agem como se fosse
algo normal. Isso dificulta que medidas antibullying sejam tomadas. Como explica Fante
(2005), O bullying uma forma de violncia que cresce no mundo e o maior problema para
combat-lo est no fato das pessoas banalizarem os casos.
Em outro momento Fante diz ainda:
H pouca conscientizao do fenmeno nos meios educacionais e os
profissionais desse setor esto despreparados para lidar com uma violncia velada
como o bullying. Muitos diretores negam a ocorrncia do problema em suas escolas,
19
principalmente os que administram instituies privadas. Outros educadores dizem
que esse tipo de relao baseada na submisso sempre existiu, e que acham normal
encontrar nas escolas os grupos que dominam e os que se deixam dominar. H
professores que se convertem em agressores com uma postura de autoritarismo e
intimidao para controlar a classe e no so poucos os que se referem aos alunos por
apelidos. Esse despreparo dos mestres ocorre porque, tradicionalmente, nos cursos de
formao acadmica e nos cursos de capacitao, so treinados com tcnicas que
unicamente os habilitam para o ensino de suas disciplinas, no sendo valorizada a
necessidade de lidarem com o afeto e muito menos com os conflitos e com os
sentimentos dos alunos. Os professores deveriam ser preparados para educar a
emoo de seus alunos (Fante 2005).
Essa crtica de Fante (2005) se aplica tambm, e principalmente, s escolas e
professores da educao Infantil. Pois ainda mais difcil que estes profissionais admitam
que exista o bullying neste espao ou atentem para o problema por se tratar de crianas muito
pequenas. Mas as agresses que antes apareciam na adolescncia so detectadas, hoje, entre
crianas, e cada vez mais cedo. Casos de bullying podem ser identificados at mesmo em
crianas de 3 e 4 anos (Fante e Pedra 2008), ainda no ensino infantil. Por isso, a negao da
existncia desta violncia nestas instituies apenas contribui para a continuidade do
problema.
Segundo pesquisas da ABRAPIA (2002), a prtica do bullying no est restrita ao
tipo de instituio: pblica ou privada, da rea rural ou urbana, primria ou secundria. E essa
resistncia, por parte da direo e dos professores, faz com que a escola deixe de ser um
ambiente saudvel e prazeroso para tornar-se um lugar em que a criana vitimada no deseja
estar, posto que a violncia que a atinge considerada, por quem deveria proteg-la, como algo
natural, como uma brincadeira.
2.4 BULLYING E EDUCAO INFANTIL
Ao se falar em bullying entre crianas de 4 e 5 anos preciso ter muito cuidado e
inicialmente, discernir o que prprio da criana dessa faixa etria do que est fora dos
padres que so esperados pelas mesmas.
De acordo com os estgios de Piaget (1982), crianas de quatro e cinco anos esto na
fase pr-operatria. Porm, nesta idade, ela j comea a abandonar o egocentrismo e
comea a socializar-se, mostrando tambm maior consistncia em seus sentimentos em
relao a objetos e pessoas, ou seja, no gostar ou no no gostar. Nesse perodo aparecem os
conflitos e podem-se identificar alguns comportamentos de discriminao, provocaes ou
20
mesmo a adoo de outros comportamentos agressivos que so praticados, por exemplo, de
forma repetida e com o mesmo alvo.
Uma pesquisa feita em uma escola de Servilha (Espanha) com crianas de 4 a 6 anos
comprovou a existncia do bullying na educao infantil, o que muitos pesquisadores
defendem, assim como Ortega e Manks (2005) e Fante (2008), que se mostra preocupada com
o envolvimento dessas crianas de to pouca idade e as evidncias de prejuzos sofridos pelas
mesmas. Porm, algumas caractersticas diferenciam esta pesquisa realizada por Ortega e
Manks (2005) das demais feitas com crianas maiores e adolescentes, a exemplo dos tipos de
agresses utilizadas pelas crianas de educao infantil que possuem na grande maioria a
forma direta.
Ainda referindo-nos a essa pesquisa foi destacado que os agressores so sempre os
mais rejeitados e as vtimas, por sua vez, no aparecem como as crianas mais fracas,
contrastando mais uma vez com as pesquisas geralmente realizadas. Esta pesquisa foi baseada
em outra, feita pela prpria Manks no Reino Unido, repetindo seus resultados. E de acordo
com Ortega e Manks (2005, p. 453) Estas diferencias se relacionan com la instable
naturaleza del proceso de agresion / victimizacin, durante los aos preescolares.
E dizem ainda que:
Es possible que la ms poderosa razn de la escasez de envestigacin
relativa a estos aos sobre el fenmeno bullying sea de caracter metodolgico, ya
que hasta el momento los instrumentos exploratrios ms comunes han sido los que
requieren . Sin embargo, la edad, o factor psicoevolutivo, Es, a su vez, uma importante variable em estos estdios, lo que aconseja no descuidar su
investigacin em aos preescolares.( Ortega y Manks, 2005, p. 453).
Essa colocao de Ortega e Manks (2005) , talvez, a mais cabvel em relao falta
de trabalhos neste mbito, visto que de grande importncia, principalmente, por se tratar dos
primeiros anos escolares e em alguns casos, do incio das condutas agressivas.
As pesquisas em escolas sobre o bullying so feitas na grande maioria em escolas de
sries iniciais e ensino fundamental, os resultados mostram o nmero cada vez maior de
crianas e jovens envolvidos com esse fenmeno, um exemplo a pesquisa feita pelo
CEMEOBES em 2007, mostrou que a mdia de envolvimento entre alunos de escolas
brasileiras era de 45% acima dos ndices mundiais (Fante e Pedra, 2008, p. 51). Mas, onde se
origina essas agresses? Ser que elas s comeam a existir quando a criana chega a esta
21
fase? Com certeza elas no aparecem do nada, estas prticas acontecem bem antes, muitas
vezes antes das crianas chegarem escola, dentro de suas famlias. Talvez, no sejam
percebidas ou no tenha sido dada a devida ateno.
Segundo a psicologia comportamental os comportamentos agressivos podem ser
percebidos desde os primeiros anos de vida das crianas. Estes comportamentos nem sempre
so negativos, alguns psiclogos consideram normal, uma forma de defesa desenvolvida pela
criana. Para Zaguri (2004, p.104), a agresso infantil compreendida como um
desconhecimento das regras sociais. Porm, o que pontuamos o tipo de agressividade que
foge da perspectiva adaptativa natural da criana e mesmo que ainda no incio das relaes
sociais das crianas muito cuidado deve ser tomado e intervenes devem ser feitas pelos
adultos responsveis por estas. E isso deve acontecer mesmo muito cedo como nos mostram
Fante e Pedra:
Entre os 2 e os 3 anos, as crianas precisam ter algum que intervenha a fim de conter adequadamente o impulso e a nsia que o provoca. Caso isso no
acontea, esse tipo de comportamento passa a fazer parte do seu repertrio
comportamental. Uma vez adotado esse comportamento, muitas crianas passam a
desempenh-lo em suas relaes sociais, atravs de atitudes intimidatrias, abusivas
e agressivas, como forma de manipular e conseguir seus intentos. (Fante e Pedra, 2008, p. 99)
As condutas agressivas so aprendidas pelas crianas por meio da observao e imitao
de outras pessoas e evidente que existem atitudes e condutas agressivas que acontecem nas
classes de educao infantil, assim como nas demais, que no so de forma espontnea, como
uma simples reao. Sendo interessante ser estudado at que ponto uma criana da educao
infantil tem a intencionalidade em suas atitudes por exemplo. De acordo com Constantit i
(2004, p. 69/70) essa falta de respostas que facilita a formao e a consolidao de
modelos de comportamentos, os quais, de fato rotulam quem vtima e quem agressor.
Atitudes que passam despercebidas pelos adultos, que podem anteceder o bullying
propriamente dito e trazer, conseqentemente, problemas futuros, tanto para as vtimas quanto
para os agressores, dentro e fora da escola.
Apesar das pesquisas sobre o bullying estarem crescendo no pas, como j foi dito, tratar
deste fenmeno na educao infantil algo ainda delicado. Por se tratar de crianas pequenas,
professores e pesquisadores do fenmeno muitas vezes excluem as salas de pr-escolares dos
estudos iniciando suas pesquisas no ensino fundamental. Mas, no porque pouco se faz
pesquisas em escolas de educao infantil que se pode afirmar que ele no exista entre
22
crianas dessa idade. Fante e o psiclogo Pedra (2008, p.45), afirmam que O comportamento
bullying pode ser identificado em qualquer faixa etria e nvel de escolaridade. Entre os 3 e os
4 anos de idade podemos perceber o comportamento abusivo, manipulador, dominador e, por
outro lado, passivo, submisso e indefeso. Isso deixa claro a importncia do estudo dirigido a
crianas nesta fase que vivenciam essa violncia ainda de forma quase oculta. Como afirma
Constantini (2004, p.70) ocupar-se desse fenmeno importante para uma ao preventiva
acerca do possvel desenvolvimento de comportamentos anti-sociais no futuro.
Por outro lado, o termo bullying, como conhecido aqui no Brasil, assusta certos
professores que acreditam ser um termo forte ou pesado para tratar de crianas pequenas,
mas muito comum escutar estes mesmos professores referindo-se a determinados alunos
como agressivos ou violentos. E o que o bullying, seno um conjunto de agresses? Talvez
se o Brasil j tivesse um termo prprio para designar tais atitudes, agressivas, isso no fosse
ainda um assunto quase que restrito a pesquisadores, porque o que acontece uma
desinformao a respeito do fenmeno por parte at mesmo dos profissionais da educao.
Inmeras pessoas, inclusive educadores assemelham o bullying somente prtica suicida das
vtimas, mas, pesquisas demonstram que o suicdio s a ponta do iceberg: uma resultante
de todo sofrimento vivido pelas vtimas no limite da exausto emocional que acabam com a
prpria vida e outras, antes, voltam escola e matam outras pessoas (Fante e Pedra, 2008).
Esses casos so considerados poucos, apesar da sua importncia, quando comparados a todas
as vtimas de bullying escolar em todo o mundo. Enfim, com o conhecimento aprofundado
desse assunto o profissional de educao ser capaz de fazer muito no dia-a-dia dos
estudantes a fim de evitar que casos extremos como esses cheguem a acontecer.
2.5 O CENRIO DO BULLYING
No mbito escolar todos so atingidos, negativamente, pelo bullying. Fazem parte
desse cenrio, corredores, banheiros, ptio, refeitrios, quadra de esportes e at mesmo a sala
de aula. E todos so atores, ou seja, esto envolvidos direta ou indiretamente nessa situao de
violncia: a vtima, o agressor, o bullying/assistente, as testemunhas e o professor.
23
2.5.1 Vtima do bullying
So pessoas ou grupo de pessoas que sofrem constantemente a violncia, cometida
por um ou mais alunos. Segundo Lopes Neto:
Os alunos-alvo so crianas ou adolescentes que so, sistematicamente,
discriminadas, humilhadas ou intimidadas por outros colegas. Geralmente, eles tm
poucos amigos, procuram se isolar do grupo e so identificados por algum tipo de
diferena fsica ou comportamental. Alm disso, tm dificuldades ou inabilidades
que os impedem de buscar ajuda, so desesperanados quanto a sua aceitao no
grupo e tendem a um comportamento introvertido. (Lopes Neto 2005)
Outra razo para que a vtima se cale a vergonha que sente em contar para algum o
que vem sofrendo ou ainda por conformismo. A vtima tambm se sente culpada, acredita que
tem motivos para sofrer tal violncia, mas, o que acontece que estas so escolhidas sem
nenhum critrio, depende apenas da inteno do agressor que sente prazer em humilhar,
ofender, intimidar, agredir quem lhe est prximo.
De acordo com Fante (2005, p. 72) existem trs tipos de vtimas:
- Vtima tpica: um indivduo (ou grupo de indivduos), geralmente pouco socivel,
que sofre repetidamente as conseqncias dos comportamentos agressivos de outros e que no
dispe de recursos, status ou habilidades para reagir ou fazer cessar essas condutas
prejudiciais.
- Vtima provocadora: aquela que provoca e atrai reaes agressivas contra as quais
no consegue lidar com eficincia.
- Vtima agressora: aquela que reproduz os maus-tratos sofridos.
Para Lopes Neto (2004), criana que sofre o bullying muitas vezes, chegam escola com uma
auto-estima muito abalada, geralmente introvertida, muito tmida, pouco estimulada na
famlia, e quase sempre o bode expiatrio da famlia e por isso, tem dificuldades de se
colocar e conquistar seu espao dentro do grupo.
24
2.5.2 Agressor no Bullying
Agressor ou bullie aquele que s pratica o bullying. Visa obter o reconhecimento e a
ateno e apresenta dificuldades para se colocar no lugar do outro. O que o agressor quer
ver sua vtima mal, usando para isso, os mais diversos meios para humilh-lo, intimid-lo,
atorment-lo ou feri-lo.
Lopes Neto (2004), afirma que os motivos que levam o agressor a esse tipo de
comportamento so os mais distintos e esto relacionados com as experincias deste em sua
famlia e/ou comunidade, pois, j chegam escola com uma bagagem de ensinamentos.
E acrescenta ainda:
H a questo da famlia que tem uma relao de afeto muito pobre. Essas
crianas vivem em um ambiente onde no h uma troca de afeto muito grande entre
os membros da famlia. Obviamente, no conseguem desenvolver esse afeto no
ambiente escolar com os colegas. Assim, est sempre numa posio arredia, de
pouco sentimento e amizade, pouca habilidade para desenvolver amizade. (Lopes
Neto 2004).
Por isso o bullie tambm tratado como uma vtima por alguns estudiosos que
tambm acreditam que a violncia praticada na escola se trata de uma reproduo do que a
criana ou adolescente vivencia na prpria famlia e que, portanto, assim como a vtima
necessita ser escutado e tratado. O prprio Lopes Neto (2004) um desses estudiosos, para
ele, os autores de bullying podem se tornar lderes entre os alunos por disseminarem o medo
e estarem repetindo seu modelo familiar, em que a afetividade pobre ou a autoridade
imposta por meio de atitudes agressivas ou violentas.
Mesmo tendo esses maus exemplos em casa o agressor quando chega escola para
praticar sua violncia contra seus colegas ele tem conscincia de que est fazendo algo errado
e do mal que est causando, pois, a maioria dos agressores pratica sua violncia longe da
presena dos adultos, na hora do recreio, em banheiros, ptios, corredores, refeitrios. Porm,
existem agressores que praticam a violncia dentro da prpria sala de aula e na presena do
professor. Eles agem como uma espcie de lder e acabam por atrair imitadores.
25
2.5.3 Bullying / assistente
Pessoas amigas do bullie e que fazem parte do seu grupo. So aquelas que riem e
apiam suas atitudes violentas. O apoio dos assistentes dispensado ao agressor faz com que
ele se sinta superior sua vtima e uma ameaa para as testemunhas.
Alguns destes estudantes, para pertencer ao grupo do bullie, acabam obedecendo s
leis ditadas por esse lder e chegam a abdicar da educao que recebem em casa e de seus
valores. Ou seja, passam a ter um comportamento que no tinham antes, imitando as atitudes
do agressor at como uma forma de defesa para se manterem no grupo e no se tornarem uma
vtima ou mesmo por simpatizarem com as atitudes do bullie, embora tenha sido educado
dentro de uma famlia onde essas atitudes so condenadas.
2.5.4 Testemunhas do Bullying
Testemunhas, aquelas que no praticam nem sofrem, mas, presenciam as situaes de
bullying e tm conhecimento dos envolvidos. As testemunhas so a maioria dos alunos. Elas
no interferem diretamente, mas tambm so contaminados por viverem em meio a essa
violncia. Existem dois tipos de testemunhas: A testemunha participante, aquela que est a
favor do intimidador e aquele no-participante que indiferente ou s vezes a favor da vtima,
mas amedrontado pela situao. (Constantini 2004, p. 73).
bastante comum, testemunhas tornarem-se bullies assistentes, mesmo as no-
participantes. Estas costumam fazer por medo de se tornarem as prximas vtimas.
2.5.5 Bullying e a Diferena de Gnero
O bullying mais associado ao comportamento masculino, mas, ele ocorre tanto entre
meninos quanto entre meninas, porm ocorre de forma distinta.
Os meninos reproduzem desde cedo a cultura de que homem no chora, que quanto
mais valente melhor e visam as vtimas fisicamente mais fracas que eles para seus fins. Agem
sozinhos ou em grupo que junto com ele diverte-se ao ver o sofrimento da vtima.
Acreditando que assim sero respeitados pelos outros.
26
As manifestaes entre os meninos agressores so mais explcitas, o bullying na forma
direta, por isso que se pensa que mais comum entre meninos. So geralmente agresses
verbais e fsicas, buscando se auto-afirmar.
J entre as meninas, a violncia quase sempre feita de forma dissimulada e por isso
mais difcil de ser detectada. O bullying entre meninas o que pode-se chamar de sutil.
uma agresso social, sem confronto direto, caracterizada por levar a vtima ao isolamento
social. Muitas vezes as agresses praticadas pelas meninas so invisveis aos olhos dos
adultos. Os tipos mais comuns so: difamao, intimidao, excluso, ameaa, humilhao,
critica, calunia. Alm disso, as agressoras recusam-se a socializarem-se com a vtima e no
permitem que outras meninas o faam. Ou seja:
Elas tendem a espalhar boatos maliciosos, intimidar (sussurrando insultos
ou rindo em grupos, alto o suficiente para que seus alvos escutem), destruir a
reputao de outra, dizer a outras para que deixem de gostar de uma menina de
quem querem se vingar. (Middelton-Moz e Zawadski, 2007, p.23/24).
Outro meio utilizado atualmente, principalmente entre meninas, o cyberbullying.
Trata-se da ocorrncia do bullying pelo uso das tecnologias de comunicao como e-mails,
redes sociais da internet, celulares. Nesta prtica o agressor est sempre no anonimato o que
dificulta sua identificao. Apesar de relativamente novo o bullying na rede mundial de
computadores j fez muitas vtimas e com conseqncia extremas.
Assim como no cyberbullying, entre as meninas tambm h grande dificuldade de se
identificar uma bullie, diferente dos meninos. De acordo com Lopes Neto (2005, p. 03) entre
os agressores observa-se um predomnio entre os meninos, enquanto que, no papel de vtima,
no h diferena entre os gneros. Esta concluso talvez se deva ao fato dos meninos
praticarem a forma direta do bullying, como j foi visto e por serem os nicos a admitem que
so bullies. No entanto, entre as bullies tem crescido muito a violncia fsica. Elas copiam as
atitudes dos meninos, buscando posturas semelhantes para demonstrar poder dentro de seus
grupos.
Elas tendem a usar a excluso social como principal arma, em lugar de
agresso emocional ou fsica direta, embora estudos indiquem que tambm elas tm
se tornado cada vez mais agressivas fisicamente na ltima dcada. ( Middelton-Moz
e Zawadski, 2007, p.23/24)
27
Por todas essas caractersticas peculiares o bullying feminino considerado por
alguns estudiosos como sendo at mais destrutivo que entre os meninos. Porm, no se deseja
com isso aliviar a forma direta do bullying tampouco o sofrimento das vtimas masculinas.
2.5.6 Professores e o Bullying
O professor, apesar da sua condio, ou seja, no ser igual aos seus alunos dentro da
hierarquia que existe na escola e do bullying ocorrer entre iguais, aparece neste trabalho como
um dos atores do bullying por entendermos que dentro do cenrio escolar, este, tem um papel
de extrema importncia. O professor pode exercer trs papis: o professor que ignora as
condutas de bullying, o professor que recrimina e o professor que refora tais condutas.
Alguns pesquisadores tambm j se dedicam ao estudo do professor vtima e autor do
bullying em sua relao com seus alunos, um destes Dan Oweus (1993). Os professores
autores seriam aqueles que comparam, constrangem, criticam, menosprezam, humilham
(Fante e Pedra 2008), ou seja, professores que so diretamente responsveis pela baixa auto-
estima e baixa capacidade cognitiva de seus alunos.
Alm disso, estudos da ABRAPIA (2002-2003) demonstraram que aqui no Brasil os
estudantes identificaram a sala de aula como o local de maior incidncia desse tipo de
violncia, 60,2%, enquanto, em outros pases, ele ocorre principalmente fora da sala de aula,
no horrio de recreio. Isso nos faz pensar em um problema srio que ainda acontece aqui no
Brasil: grande o nmero de professores que no tm conscincia da existncia do fenmeno
ou se tm no do a devida importncia.
A maioria dos professores desconhece a relevncia do bullying (Fante e Pedra, 2008,
p. 54), em muitos casos, no se do conta desses comportamentos, mostram-se indiferentes a
essas prticas ou at mesmo, involuntariamente, as incentivam, quando deveriam repudi-las
e escutar o que a vtima tem a dizer, valorizando seu relato.
A ignorncia do professor sobre o assunto mais um agravante para a continuidade
dessa violncia. Lopes Neto (2005) afirma que desde que comeou a dar palestras sobre
bullying, em colgios, escuta de muitos professores que eles foram at precursores de apelido
28
ou de certas brincadeira que desdobraram-se em atos de bullying e que muitas vezes eles
tambm no se apercebiam das conseqncias disso. Em suma,
O bullying est relacionado ao desenvolvimento de baixa auto-estima, ao
isolamento social e depresso. Influencia a capacidade produtiva da vtima e pode
lev-la at a cometer suicdio, enquanto o agressor pode ser levado a adotar
comportamentos de risco durante a fase adulta, como alcoolismo, dependncia de
drogas e at mesmo o uso da violncia explcita. (Lopes Neto, 2005)
Por isso, reafirmamos que nenhum tipo de agressividade deve ser encarado como
brincadeira de criana, nem mesmo na Educao Infantil.
2.5.7 Possveis Causas do Bullying
A compreenso do comportamento agressivo da criana deve ser explicada dentro do
contexto em que ela se encontra. As crianas de 4 e 5 anos, geralmente, fazem parte de dois
grupos sociais, a famlia e a escola. Por sua vez, elas refletem na escola com seus
companheiros atitudes que imitam de seus familiares, professores, alm de personagens de
televiso.
Baseando-nos neste pensamento, acreditamos que as principais causas da
agressividade nas escolas de educao infantil podem ser: pessoais, familiares, os meios de
comunicao e a prpria escola.
Pessoais: crianas com dficit de ateno e hiperatividade (TDAH), impulsividade, distrbios
comportamentais, com problemas de auto-estima, depresso, stress.
Familiares: Crianas que sofrem maus-tratos, que tem pais permissivos ou opressores, que
sofrem abusos, que tem uma famlia desestruturada.
Mdia: a mdia reproduz a violncia de forma acrtica e apresenta para as crianas a violncia
como se essa fosse a forma de resoluo de poder aceita socialmente, criando novos padres e
valores.
Desse modo, muito comum ver no recreio as crianas reproduzindo as falas e atos das
personagens de filmes que no deveriam ser vistos por elas e utilizando-se destes para
29
provocar e at humilhar seus colegas com a ajuda da mdia que utiliza de esteretipos
negativos de uma parcela da populao.
Para exemplificar como a mdia pode influenciar, negativamente, nos valores que
ainda esto sendo formados em nossas crianas, trazemos um caso real que aconteceu em uma
escola de educao infantil do Estado da Bahia.
Joo, uma criana de quatro anos brinca no ptio com seus colegas e prope que
brinquem de Tropa de Elite. Ele se autonomeia Capito Nascimento e escolhe os outros
policiais: aponta para alguns colegas, brancos, e os escolhe como policiais e os negros seriam
os ladres. Um menino negro briga para ser policial e se senta um pouco afastado muito
aborrecido com a escolha e Joo diz, naturalmente: no, porque o preto que o ladro e
todos concordam com ele e o menino se conforma. Depois Joo diz ainda: o branco polcia
e o preto ladro, as meninas no pode brincar. E brincam sem que nenhuma interveno
seja feita pela professora. Durante todo esse tempo, pode-ser ver atitudes de violncia e se
escutar muitos palavres. At mesmo um saco foi utilizado para representar uma das cenas
onde o policial mata um suposto bandido por asfixia. S ento a brincadeira encerrada.
Neste exemplo, percebemos que Joo no tem a inteno de magoar seus colegas
negros. Mas, seus valores j esto sendo corrompidos e pode-se perceber que para esta criana
est determinado que os negros sejam sempre os ladres. Outra criana poderia utilizar-se
disso para humilhar ou discriminar seus colegas.
Ultimamente, assistir programas sensacionalistas como Boco e Na Mira, virou
moda entre as crianas, alm, dos prprios desenhos que trazem a violncia de maneira
explcita. Toda essa violncia produzida pela mdia televisiva levada para dentro da escola e
reproduzida como simples brincadeira. E as crianas, principalmente do sexo masculino
aprendem, nestes programas que o uso da fora fsica o far superior, um poderoso e
respeitado lder.
Alm da televiso existem as msicas, especialmente na cidade de Salvador, onde os
pagodes fazem sucesso entre as crianas com suas letras que vulgarizam a mulher e que
incitam a violncia a exemplo da msica do grupo Parangol Deso a madeira, cujo refro
no passa da mera repetio dessa frase. A partir da aparecem apelidos depreciativos, lutas
de brincadeiras, mas que machucam etc.
30
Ainda assim, vale a pena esclarecer que o problema da agressividade infantil no deve
ser ligado exclusivamente programas de televiso, letras de msicas ou a jogos eletrnicos,
ainda que violentos, como mostra Middelton-Moz e Zawadski, (2007, p. 70): O problema
existe quando a televiso o modelo de comportamento mais contundente na vida da criana
e/ou as aes de seus cuidadores do sustentao ao comportamento agressivo e
intolerncia.
Escola: Condicionada pelas prprias estruturas escolares e seus mtodos pedaggicos as
escolas muitas vezes provocam nos estudantes vivncias muito negativas.
As escolas contribuem para ocorrncia de abuso psicolgico sobre crianas
e adolescentes, ao admitirem a existncias de relaes conflituosas entre os alunos
(bullying) e os tratamentos humilhantes e desrespeitosos entre o corpo discente e
docente. Outra forma de violncia -muito naturalizada- a violncia das precrias
condies estruturais existentes nas escolas que, de forma simblica, afeta a
formao de identidade e auto-estima juvenil e sua capacidade de projeo de futuro. (Assis e Avanci, 2006, p.64)
Ser alvo de bullying definitivamente atinge e, por vezes, letal.
2.5.8 Conseqncias do Bullying
As conseqncias nas vidas tanto de quem sofre quanto de quem pratica o bullying so
muitas e podem ser muito graves, tanto no momento em que se sofre e/ou pratica quanto no
futuro dessas pessoas.
A concluso que Fante (2005) chegou de que: As conseqncias da conduta
bullying afetam todos os envolvidos e em todos os nveis, porm especialmente a vtima, que
pode continuar a sofrer seus efeitos negativos muito alm do perodo escolar. Para
Constantini (2004, P.74): essa condio tem conseqncias a curto e longos prazos:
ansiedade, ausncia de auto-estima, depresso e transtorno comportamental, a ponto de
abandonar a escola... Pode-se identificar tambm, a falta de amigos, a timidez, as
dificuldades de aprendizagem, queda do rendimento escolar, etc.
Alguns desses efeitos danosos perduram mesmo muito depois dos episdios de
bullying terem acontecido. Inmeros adultos, vtimas na educao infantil, ainda sofrem ao
recordar de suas vivncias escolares. E sobre isso esclarece Fante:
31
[...] Dependendo da intensidade do sofrimento vivido em conseqncia do
bullying, a vtima poder desenvolver reaes intrapsquicas, com sintomatologias
de natureza pscicossomtica: enurese, taquicardia, sudorese, insnia, cefala, dor
epigstrica, bloqueios dos pensamentos e do raciocnio, ansiedade estresse e
depresso, pensamentos de vingana e de suicdio, bem como reaes extrapsqicas,
expressas por agressividade, impulsividade, hiperatividade e abuso de substncias
qumicas. (Fante, 2005, p.80).
Segundo Pereira (2002, p. 25), as provveis conseqncias sofridas pelos agressores:
[...] podem ser: vidas destrudas; crena na fora para soluo dos
problemas; dificuldade em respeitar a lei e os problemas que da advm, compreendendo as dificuldades na insero social; problemas de relacionamento
afetivo e social; incapacidade ou dificuldade de autocontrole e comportamentos anti-
sociais.
Portanto, a violncia traz graves implicaes na vida, futura tambm, de todos que a
vivenciam no mbito escolar, vtimas e agressores de forma mais agravada, mas tambm pelas
testemunhas que presenciam e vivem em constante medo. E alm dos prejuzos sociais e
psicolgicos tem tambm como conseqncia o prejuzo financeiro que atinge a famlia pelos
gastos com possveis servios mdicos e psicolgicos e a escola com programas de
conscientizao.
2.5.9 Papel da Escola
Conforme j mencionamos, a violncia praticada por crianas dentro da escola um
reflexo do que acontece na sociedade como um todo. Mas, a responsabilidade de proteger
seus alunos dessa violncia dos educadores e profissionais da educao. A escola no pode
limitar-se ao ensino sistemtico simplesmente, mas tambm funcionar como produtora de
comportamentos sociais. Segundo Constantini:
O adulto no papel de educador tem grande responsabilidade na ao de
combate a esse fenmeno. Sua funo seria, de um lado, chamar a ateno do
agressor com firmeza em relao ao respeito ao outro, convivncia social e s
regras ligadas a esta; de outro, desenvolver todas as prticas e estratgias
pedaggicas que favoream a educao voltada para as relaes e para os
enfrentamentos entre os membros do mesmo grupo- classe. (Constantini 2004, p.70)
Assim, obrigao da escola tambm oferecer a seus alunos um lugar onde possa se
desenvolver livre de violncia. Para isso, ela no pode fechar os olhos para essa realidade,
preciso modificar a prpria estrutura e seus mtodos pedaggicos, reorganizar currculo,
formar o professorado, estabelecer regras de convivncia claras para evitar o bullying, criar
32
programas de interveno antibullying, para que tenham xito na erradicao das condutas
violentas, e estar sempre vigilante.
Realizar tambm um trabalho conciso que proporcionasse s testemunhas e vtimas,
principalmente, um desenvolvimento autocrtico positivo, como a auto-estima e a capacidade
de se impor, de defender o prprio ponto de vista para que ela consiga enfrentar seu destino
(Constantini 2004, p. 73).
Mas, os agressores tambm devem ter na escola trabalhos voltados para eles, com
atividades que busquem desenvolver comportamentos de autocontrole e de tolerncia, de
sentimentos altrustas e de educao social e cvica, como a empatia, a compreenso a
solidariedade e o respeito s regras, seria til para evitar cair em caminhos perigosos
(Constantini 2004, p. 73).
Contudo, a escola no pode trabalhar sozinha. Segundo Crio (2001, P.94) En las
aulas de Educacin Infantil est presente tambin la violncia familiar o domstica, que
existe en algunos hogares y afecta a los nios pequeos condicionando negativamente su
adaptacin social y escolar. Por isso, para que o trabalho realizado na escola tenha xito
necessrio a fundamental colaborao da famlia. Atividades como reunies peridicas para
lev-los a refletir sobre o modo como esto educando seus filhos deve ser um dos primeiros
passos seguido de orientaes acerca do que podem e devem fazer para manter seus filhos
afastados do bullying.
Outras aes contra a violncia desenvolvidas pelos profissionais da educao podem
ser: polticas educacionais contra a violncia escolar, programas de mudanas na organizao
escolar, programas de formao do professorado, programas de atividades para serem
desenvolvidas em salas de aula, estratgias de aes especficas contra a violncia j instalada
na escola.
Com essas atuaes a escola pode promover a cooperao e o entendimento de todos.
Educando para uma convivncia pacfica escolar.
33
2.5.10 Papel dos Pais
na famlia que a criana forma sua personalidade. A famlia o primeiro grupo
social da criana quem deve estabelecer o que certo e errado em suas relaes sociais.
Mas, existem certos comportamentos, dos pais, com relao aos filhos que podem favorecer o
desenvolvimento de alvos e de agressores de bullying, pois, as crianas levam para a escola
muito do que vem e aprendem em casa. (Lopes Neto 2006). Sobre isso, afirma Souza
Pereira:
O ideal de famlia seria aquela em que predominasse o amor, o carinho, a
afeio e o respeito. Mas nem sempre isso acontece. Nesses casos, muitas crianas e
jovens se desvirtuam e passam a reproduzir o que aprendem com seus familiares.
Seja reproduzindo a violncia sofrida em casa, seja reproduzindo formas de uma
educao deturpada, em que se combate a violncia com violncia. (Souza Pereira,
2009, p. 53)
Estas situaes de violncia nas famlias podem gerar atitudes agressivas em crianas.
De acordo com Lopes Neto (2005), as agresses escolares, muitas vezes so causadas por:
famlias destrudas, problemas com drogas, conflito de casal, falta de cuidado, falta de afeto,
abandono, abusos, ausncia de regras, a falta de superviso e de controle dos filhos, a falta de
comunicao, brigas freqentes, como analisa Lopes Neto:
Famlias desestruturadas, com relaes afetivas de baixa qualidade, em que
a violncia domstica real ou em que a criana representa o papel de bode
expiatrio para todas as dificuldades e mazelas so as fontes mais comuns de autores
ou alvos de bullying. (Lopes Neto, 2005)
Estes tambm podem ser talvez, o motivo ou os motivos pelos quais os pais demoram
tanto a perceber o que est acontecendo com seu filho e no vm as mudanas que ocorrem no
comportamento destes quando esto envolvidas com o bullying. Muitas vezes, essa notcia
dada pelos prprios professores que percebem a mudana no desenvolvimento escolar da
criana. Contudo, depois desse primeiro contato com a escola os pais devem tomar algumas
medidas: primeiro, dar importncia quando chega ao seu conhecimento o que a criana passa
na escola; ficar a favor do filho e oferec-lo todo seu apoio para que sinta-se seguro; ar a
devida importncia e no banalizar as atitudes agressivas ou agir como se fosse algo natural,
fazendo com que a criana se acostume; no utilizar suas vivencias passadas para convencer o
filho da normalidade da situao que est vivendo; no incentivar os filhos a responder as
agresses com outras agresses a exemplo se te bater bata tambm.
34
Em suma, imprescindvel a participao dos pais na vida escolar do filho e na
continuidade do trabalho iniciado pela escola. No se pode isentar da responsabilidade nem os
pais das vtimas nem dos agressores de manter uma relao estreita com a escola. Melhor
ainda seria se todos os pais fizessem isso, j que todos dentro da escola so atingidos
negativamente pelo bullying.
Para que os pais possam ter eficcia na educao de seus filhos ante o fenmeno da
violncia Crio (2001, p.205) apresenta algumas atitudes a serem seguidas:
-Por supuesto, tienen que evitar y rechazar, ante SUS hijos, cualquier
manifestacin de violncia.
-No deben ser demasiado permsivos en todo lo que relaciona a los nios con la violencia: falta de respeto, destruiciones, agresiones, violencia verbal, etc.
-Es importante ayudar a los noos a distinguir lo que est bien y lo que est mal.
-Que aprendan a solucionar los conflictos que surgem entre ellos por medio del
dilogo y acudiendo a las personas mayores.
Ainda de acordo com Crio (p.206), se os pais desejam educar para a convivncia
devem tambm:
-Observar: ver cmo est va la convivencia de sus hijos.
-Valorar los conocimientos, sentimentos y conductas de los pequeos acerca de la
convivencia.
-Sacar consecuencias para mejorar las enseanzas y los resultados (siempre se
puede y debe mejorar.
Contudo que foi exposto, neste captulo, pode-se perceber que a presena do bullying
nas escolas extremamente prejudicial, em particular na educao infantil, fase onde ele se
propaga cada vez mais (Fante e Pedra, 2008), trazendo conseqncias negativas, fsicas e
psicolgicas, a todos os envolvidos e que, portanto, precisa urgentemente ser afastado das
escolas. No se pode permitir que crianas, no incio da escolaridade, encontrem uma escola
que entende as condutas violentas como algo normal dentro da sociedade e no busca meios
de revert-las.
Por conseguinte, preciso que as famlias se unam aos profissionais de educao para
fortalecer os projetos de combate se estes existirem ou cri-los se for o caso e
conseqentemente buscar o apoio do governo para projetos maiores, pondo em campo uma
real estratgia de preveno contra a agressividade que envolva estudantes, professores e pais
35
num contnuo conforto relacional (Constantini 2004, p 60), educando todos para convivncia
pacfica dentro e fora da escola baseado no respeito mtuo.
No captulo as seguir, apresentaremos a metodologia utilizada na realizao da pesquisa de
campo.
36
3 METODOLOGIA
Este estudo busca analisar o comportamento relacional entre as crianas no ambiente
escolar de educao infantil e conhecer as condutas agressivas que diferem daquelas
consideradas normais entre crianas pequenas. Mais precisamente, as agresses repetitivas
conhecidas como bullying.
3.1 TIPO DE ESTUDO
Nesta pesquisa, a coleta e anlise de dados sero feitas, primeiramente atravs das
observaes, que o ponto de partida da investigao social (Lakatos e Marconi, 1991).
Esses registros sero organizados em quadros e figuras previamente elaboradas. Utilizou-se
tambm de entrevistas semi-estruturadas feitas s crianas e feitas s professoras, obedecendo
a uma abordagem mista. A escolha desses instrumentos ocorreu por consider-los os meios
mais eficazes para demonstrar a realidade vivenciada nas relaes entre as crianas e,
principalmente, as situaes de agressividades entre as mesmas. Alm de ser, no caso da
entrevista, uma possibilidade de ouvir opinies e sentimentos das crianas em relao escola
seus colegas e professora, bem como, possibilitarmos que as professoras pudessem se
expressar sobre o fenmeno bullying.
3.2 LOCAL DA PESQUISA
O trabalho foi desenvolvido no espao educativo de duas escolas de educao infantil
do Municpio de Salvador, sendo uma pblica e uma particular e abrangeu o perodo de um
ms e meio.
Inicialmente, a escola escolhida para realizao das investigaes foi uma escola
pertencente rede pblica de ensino. Mas, posteriormente percebeu-se a necessidade de se
buscar outra escola, privada, tambm de educao infantil e com alunos da mesma idade para
37
verificar suas relaes interpessoais e as condutas agressivas e compar-las aos dados
encontrados na escola pblica.
A escolas pblica de mdio porte, crianas so separadas por idade, do grupo 2 ao
grupo 5.
A escola particular, por sua vez de pequeno porte e as crianas de 4 e 5 anos
convivem no mesmo espao.
Diante de pesquisas anteriormente feitas, em outros estados do pas, que apontaram o
ambiente de sala de aula como o local de maior incidncia de prticas de bullying, esse foi
primeiramente o local escolhido para a observao em ambas as escolas, mas tambm
observamos as crianas em seu momento de recreao diria.
3.3 POPULAO.
Os sujeitos da pesquisa so crianas com idade entre 4 e 5 anos da educao infantil.
Perfazendo um total de 45 crianas.
Na escola pblica foram 2 turmas observadas: o grupo 4 e o grupo 5. No grupo 4 com
14 crianas sendo 6 meninas e 8 meninos e no grupo 5 com 17 crianas sendo 8 meninas e 9
meninos.
Na escola particular uma turma nica com 14 crianas sendo 6 de 4 anos e 8 de 5 anos.
Destas, 5 so meninas e 9 meninos. E as observaes aconteceram de segunda a quinta-feira,
durante 4h dirias.
A fim de preservar o nome das crianas que participaram da pesquisa e que esto
diretamente envolvidos em episdios de bullying identific-las-emos atravs da letra C,
seguido de um nmero como mostram os quadros a seguir
38
LISTA DE IDENTIFICAO DAS CRIANAS
ESCOLA PBLICA
CRIANA IDADE SEXO
C1 5 anos Feminino
C2 5 anos Masculino
C3 5 anos Masculino
C4 5 anos Feminino
C5 5 anos Feminino
C6 5 anos Feminino
C7 4 anos Feminino
C8 4 anos Feminino
C9 4 anos Masculino
C10 4 anos Feminino
C11 4 anos Masculino
C12 4 anos Feminino
C13 4 anos Masculino
C14 4 anos Feminino
C15 5 anos Masculino
C16 4 anos Masculino
C17 5 anos Masculino
C18 5 anos Feminino
C19 4 anos Masculino
C20 5 anos Masculino
C21 4 anos Feminino
C22 5 anos Feminino
C23 4 anos Feminino
C24 4 anos Feminino
C25 4 anos Masculino Quadro 1: Lista de identificao das crianas da escola pblica
LISTA DE IDENTIFICAO DAS CRIANAS
ESCOLA PARTICULAR
CRIANA IDADE SEXO
C1 5 anos Feminino
C2 5 anos Masculino
C3 5 anos Masculino
C4 5 anos Feminino
C5 5 anos Feminino
C7 4 anos Feminino
C8 4 anos Feminino
C9 4 anos Masculino
C10 4 anos Feminino
39
C11 4 anos Masculino
C12 4 anos Feminino
C13 4 anos Masculino
C14 4 anos Feminino Quadro 2: Lista de identificao das crianas da escola particular
No caso das professoras, utilizaremos a letra P, seguido dos nmeros 1,2 e 3, como ver-
se no quadro logo abaixo:
LISTA DE IDENTIFICAO DAS PROFESSORAS
PROFESSORA ESCOLA GRUPO
P1 Pblica 5
P2 Pblica 4
P3 Particular 4 e 5 Quadro 3: Lista de identificao das professoras
3.4 O CONTEXTO DO ESTUDO
A pesquisa se iniciou com a busca pelo maior nmero de bibliografia nesta rea e o
estudo destas obras, as mesmas que se encontram no referencial terico.
A partir da foram escolhidas, aleatoriamente, as escolas. A nica preocupao foi a de
que se tratasse de escolas de educao infantil. Pois, baseou-se no que dizem os pesquisadores
do bullying de que este fenmeno acontece em toda e qualquer escola. A partir da, iniciou-se
o processo de conversao com as diretoras e as professoras das escolas seguido das visitas
dirias.
As observaes foram feitas durante as atividades das crianas, dentro da sala de aula e
na hora do recreio. Durante estes dias observou-se a relao que estas mantinham entre si e as
atitudes agressivas registradas em uma tabela previamente elaborada.
Na escola pblica iniciaram-se os trabalhos com a observao que foi feita da seguinte
forma: a pesquisadora posicionou-se no fundo da sala de onde pde ver toda a sala, inclusive
a professora, porm, sem qualquer interveno, tanto no grupo 4 como no grupo 5. Alm
40
disso, durante o recreio a pesquisadora ficava sentada a certa distncia ou perto das
professoras para que as crianas brincassem e interagissem naturalmente sem perceber que
eram observadas.
Logo no primeiro dia foi fornecida pelas professoras uma lista com os nomes das
crianas. Estas que inicialmente mostravam-se curiosas com o passar das horas j estavam
agindo normalmente como se nossa presena no as perturbasse mais.
No segundo dia, as professoras ainda ajudavam com os nomes das crianas, porm na
segunda semana a pesquisadora j conhecia todas as crianas por seus respectivos nomes.
Durante as semanas de observaes, as visitas eram dirias divididos em 2 dias para
cada grupo, segunda e tera para o grupo 5 e quarta e quinta para o grupo 4, durante 4 horas
por dia.
As entrevistas feitas na escola pblica foram facilmente aceitas pelos educadores e
executadas na segunda semana de observao com xito, porm apenas com o grupo 5. Elas
aconteceram em dois dias durante o recreio da forma mais natural possvel. A todas as
crianas foi perguntado se gostavam da escola e as que disseram no, eram levadas a contar
os motivos. Todas as crianas que disseram gostar da escola se limitaram a responder:
porque sim ou porque eu gosto.
Na escola particular tambm foi fornecido pela professora a lista dos nomes das
crianas com as suas respectivas idades e assim como na escola pblica as observaes foram
feitas durante quatro dias na semana. As observaes aconteceram de segunda a quinta-feira,
durante 4h dirias.
Durante as observaes, tanto na escola pblica quanto na privada, as condutas
agressivas foram registradas em quadros, constando a categoria de anlise, o nome do
agressor e da vtima, alm da freqncia e das reaes de testemunhas e professores. Os
quadros passaram por alguns reparos a partir das necessidades observadas em campo a
exemplo das reaes das testemunhas e das professoras sendo essa a razo pela qual no
existem esses itens nas primeiras ilustraes.
As entrevistas com as professoras aconteceram no final do processo de observao. De
maneira informal, foi permitido que as professoras falassem sobre as relaes interpessoais de
41
seus alunos da educao infantil e de suas condutas agressivas. As entrevistas foram feitas a
partir de questes definidas previamente deixando-se, porm em aberto a possibilidade das
professoras expressarem-se livremente sobre a problemtica abordada. As entrevistas
envolvendo separadamente, as trs professoras dos grupos observados.
Desse modo, aliar as observaes com as entrevistas semi - estruturadas permitiu-nos
retratar a realidade do problema, enfatizando a complexidade natural da situao e
evidenciando a inter-relao dos seus componentes.
42
4 APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS
A proposta desse trabalho contribuir com o debate sobre o fenmeno bullying que
cresce em todo o mundo e que ainda to pouco conhecido no Brasil, apesar crucial,
principalmente entre crianas pr-escolares.
Neste captulo, relataremos e discutiremos inicialmente o que foi observado das
relaes entre alunos da escola pblica e particular, durante a pesquisa de campo e que o
foco de nossa pesquisa. Em seguida, faremos um quadro comparativo desses resultados.
Fsica
14%
Psicolgica
14%
Material
10%
verbal
62%
verbal
Fsica
Psicolgica
Material
Figura 1- Forma de bullying na escola Pblica
Fsica
28%
Material
9%
Psicolgica
23%
Verbal
40%
Verbal
Fsica
Psicolgica
Material
Figura 2- Forma do bullying na Escola Particular
Com relao forma de bullying identificada, verifica-se nos grficos que em ambas
as escolas se manifesta, predominantemente, a forma direta e o tipo de agresso
principalmente a verbal, seguida da agresso fsica, psicolgica e material.
Chamamos ateno para dois aspectos: primeiro, os episdios de agresso psicolgicas
representados nestas escolas, por exemplo, nas categorias isolar e excluir e que como vimos
no captulo 2 podem causar grandes danos psicolgicos, ainda maiores do que as agresses
Forma do bullying na Escola Pblica: Direta
Forma do bullying na Escola Particular: Direta
43
fsicas; as agresses materiais que apesar de terem os percentuais mais baixos (10% e 9%)
nas duas escolas percebido com uma certa freqncia, o que mostra o crescimento dessa
categoria entre os pequenos.
Tomar Merenda
1%Colocar apelidos
32%
Chutar
1%
Excluir das
brincadeiras
6%
Quebrar
pertence
2%
Gritar no ouvido
1%
Beliscar
1%
Discriminar racialmente
1%
Intimidar/Ameaar
1%
Isolar nos trabalhos em
grupo
4%
Tomar objetos
6%
Bater
24%
Insultar
19%
Empurrar
1%
Colocar apelidos
Bater
Insultar
Tomar objetos
Excluir das
brincadeirasIsolar nos trabalhos
em grupoQuebrar pertence
Gritar no ouvido
Empurrar
Intimidar/Ameaar
Discriminar
racialmenteBeliscar
Tomar Merenda
Chutar
Figura 3- Tipos de bullying identificados na Escola Pblica
Empurrar
9%
Excluir das
brincadeiras
13%
Bater
15%
Discriminar
racialmente
2%
Tomar objetos
6%
Insultar
6%
Colocar apelidos
35%
Fazer chicana
4%Quebrar pertence
2%
Chutar
2%
Beliscar
2%
Intimidar/ameaar
2%
Colocar apelidos
Bater
Excluir das
brincadeirasEmpurrar
Insultar
Tomar objetos
Discriminar
racialmenteFazer chicana
Chutar
Quebrar pertence
Beliscar
Intimidar/ameaa
r
Figura 4- Tipos de bullying identificados na Escola Particular
As referidas figuras mostram a predominncia da categoria, colocar apelidos, em
relao aos outros tipos de bullying identificados entre as crianas das duas escolas.
Tipos de bullying identificados na Escola Pblica
Tipos de bullying identificados na Escola Particular
Tipos de bullying identificados na escola
particular
44
Chamamos ateno neste estudo para estes apelidos maldosos e depreciativos que
esto diretamente ligados s caractersticas fsicas das crianas e que atinge nestas escolas,
principalmente, as crianas negras e gordas, dentro e fora da sala de aula.
As crianas negras sofrem ainda com a discriminao racial, outra categoria, dentro
do espao escolar. So a todo momento excludas de atividades, jogos e brincadeiras pelo
nico motivo de serem negras. Tambm tm que enfrentar aqueles que no querem toc-los
nem mesmo na fila para lavar as mos ou irem merendar, por exemplo.
O que foi visto nestas escolas vm ratificar a pesquisa realizada pelo INEP (2009) em
junho desse ano que trouxe dados alarmantes sobre o preconceito nas escolas brasileiras,
sendo os negros e os deficientes os principais atingidos.
Diante disto, no podemos deixar de mencionar mais uma vez sobre a importncia do
trabalho que deve ser desenvolvido com as crianas desde a educao infantil para a
construo de valores, do respeito ao outro e s diferenas, pois, como tambm j dissemos os
problemas comeam muito cedo e a essa fase da vida educacional deve ser dada a mesma
importncia que se d s demais.
Outro assunto pertinente e que destaca-se neste estudo a freqncia em que estes
tipos de agresses acontecem em ambas escolas e como pode verificar-se nos depoimentos
das crianas (quadro ). Durante as observaes verificamos que as condutas agressivas
realmente acontecem diariamente nas escolas observadas, mesmo em momentos que deveriam
ser de descontrao. Um desses episdios aconteceu em plena festa de So Joo que ocorreu
com a participao de familiares, o que no impediu que os agressores magoassem, mais uma
vez as suas vtimas. Neste dia, uma criana foi criticada por um colega que dizia que estava
horrorosa com a roupa e maquiagem que usava, roupa e maquiagem tpicas de festas
juninas que o agressor tambm usava. Depois do acontecido a criana no brincou mais, no
comeu e no sorriu. Ficou sentada perto da me durante toda festa no participando nem
mesmo da quadrilha que havia ensaiado por semanas. Quando sua me perguntou-lhe porque
no queria danar, a criana respondeu que estava feia. E mesmo com comentrios da me e
da professora de que estava bonita a criana no aceitou danar, permanecendo sentada.
45
A atitude dessa criana confirma o que dizem os pesquisadores sobre as vtimas,
normalmente elas no contam o que acontece na escola, por terem dificuldades ou
inabilidades que as impede de buscar ajuda (Lopes Neto, 2005). Elas, acreditando no que o
agressor diz, passam a culparem-se pelo seu sofrimento e vo isolando-se dos colegas, o que
facilita novos ataques em virtude do seu medo.
Testemunha
39%
Vtima
29%
Vtima/Agressora
13%
Agressor
19%
Testemunha
Vtima
Agressor
Vtima/Agressora
Figura 5- Atores do bullying na Escola Pblica
Agressores
29%
Vtimas
29%
Testemunhas
21%
Vtimas /
agressoras
21%
Agressores
Vtimas
Vtimas / agressoras
Testemunhas
Figura 6- Atores do bullying na Escola Particular
Os atores do bullying como j visto no captulo 2 so: as vtimas, os agressores, as
vtimas/agressoras e as testemunhas, estas envolvidas indiretamente. Os grficos demonstram
que na escola pblica os papis esto distribudos como em salas de alunos maiores, onde os
papis so mais estveis.
Porm, na sala observada da escola particular, apenas 29% das crianas no esto
envolvidas diretamente em episdios de bullying existindo um nmero grande envolvidas
diretamente nesses episdios, reforando o que diz Calhau (2007): Caso exista na classe um
agressor em potencial ou vrios deles, seu comportamento agressivo influenciar nas
atividades dos alunos, promovendo interaes speras, veementes e violentas. Esta
explicao do autor torna clara a necessidade da implantao de um projeto antibullying nesta
Atores do bullying na Escola Pblica
Atores do bullying na Escola Particular
46
escola, envolvendo professores, funcionrios, alunos e pais, em particular nestas escolas onde
encontramos um grande numero de vtimas e agressores como veremos a seguir.
C22
5%
C3
7%
C9
9%
C18
4%
C16
9%
C11
10%C17
18%
C12
4%
C20
2%
C15
32%
C15
C17
C11
C16
C9
C3
C22
C18
C12
C20
Figura 7- Autor da agresso na Escola Pblica
C6
41%
C9
23%
C14
13%
C4
11%
C5
4%
C8
4%
C3
4%
C6
C9
C14
C4
C5
C3
C8
Figura 8- Autor da agresso na Escola Particular
Conforme mostram os grficos, alguns autores das agresses tm um percentual
bastante elevado, como: C15 que chega a ser autor de 41% dos episdios, mesmo contendo
um nmero bem maior de crianas nestas salas. Este dado mostra um carter particular do
bullyi, os autores praticam seus atos de forma intencional e repetitiva, como afirma Pereira
(2002, p.18): a intencionalidade de fazer mal e a persistncia de uma prtica a que a vtima
sujeita o que diferencia o bullying de outras situaes ou comportamentos agressivos. E
isso foi visto tambm entre os autores pr-escolares.
Porm, consideramos relevante ratificar que embora a criana agressora deva ser
responsabilizada por seus atos ela no deve ser, contudo, tratada como o vilo da escola, mas
sim, como algum que tambm necessita de ajuda e de cuidados para conseguir trabalhar a
Autor da agresso na Escola Pblica
Autor da agresso na Escola Particular
47
agressividade e interromper o bullying enquanto este ainda no est de fato instalado ou
enquanto for cedo.
C1
11%
C8
9%
C3
8%
C18
6%
C23
5%
C10
7%
C5
7%C2
24%
C12
3%C11
3%
C9
3%
C13
4%C19
4%C20
6%
C2
C1
C8
C3
C5
C10
C20
C18
C23
C19
C13
C12
C11
C9
Figura 9- Alvo da agresso na Escola Pblica
C14
29%C7
24%
C2
20%
C5
7%
C10
7%
C3
5%C4
5%C8
3%
C14
C7
C2
C5
C10
C3
C4
C8
Figura 10- Alvo da agresso na Escola Particular
Referente s vtimas, podemos notar nos grficos que existem tambm algumas com
percentuais muito altos e que se destacam das demais, a exemplo das crianas C2 (24%) da
escola pblica e C7 (24%) da escola particular, que segundo Fante (2005) so consideradas
vtimas tpicas.
Destacamos ainda a criana C3 da escola pblica que se encontra com o mesmo
percentual nas duas categorias anteriormente apresentadas e a criana C14, da escola
particular que tambm se destaca na