O Caldeirao Negro - as Aventur - Lloyd Alexander

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Caldeirao Negro - as Aventur - Lloyd Alexander

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    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando por dinheiro epoder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel."

  • Ttulo originalThe Black Cauldron

    Capa

    Ps Imagem Design

    RevisoUmberto de Figueiredo

    Neusa Peanha

    Editorao EletrnicaAbreus System Ltda.

    2003

    A376cAlexander, LloydO caldeiro negro / Lloyd Alexander . Rio de Janeiro: Objetiva, 200323 I p. (As Aventuras de Prydain; v. 2) ISBN 85-7302-507-7Traduo de: The black cauldronI. Literatura infanto-juvenil. 2. Literatura inglesa. I. Ttulo.

    CDD 028.5

  • O mesmo tipo de lirismo e humor potico, sedutores e fantsticos, queencontramos em O Livro dos Trs ilumina esta narrativa; mas aqui as conotaes somais verdadeiramente hericas. O envolvimento do leitor intenso medida que a aose desdobra, de maneira emocionante, conduzindo a um desenlace culminante de tragdiae triunfo. A leitura deste livro uma experincia maravilhosa e engrandecedora.

    The Horn Book Magazine

  • ndice Nota do AutorCaptulo ICaptulo IICaptulo IIICaptulo IVCaptulo VCaptulo VICaptulo VIICaptulo VIIICaptulo IXCaptulo XCaptulo XICaptulo XIICaptulo XIIICaptulo XIVCaptulo XVCaptulo XVICaptulo XVIICaptulo XVIIICaptulo XIXCaptulo XX

  • Nota do Autor

    As pginas a seguir destinam-se, espero, a fazer um pouco mais do que ser apenas umacontinuao s Crnicas de Prydain. E o que acontece depois? sempre uma perguntaurgente, e o presente livro tenta responder a ela. Apesar disso, por uma questo de direito,O Caldeiro Negro deve se manter como uma crnica independente. Certas questes,anteriormente apenas sugeridas, aqui so mais plenamente reveladas; e, ao mesmo tempoem que ampliei a histria, tambm tentei aprofund-la.

    Se um fio de tom mais sombrio entrelaa a trama do tecido habitualmente alegre ebem-humorado, porque os acontecimentos tm grave e importante significado no spara a Terra de Prydain, mas tambm para o prprio Taran, o Porqueiro-Assistente.Embora Prydain seja um mundo imaginrio, no , essencialmente, muito diferente danossa Prydain verdadeira, onde humor e desgosto, alegria e tristeza, so estreitamenteentretecidos. As escolhas e decises com que se defronta um Porqueiro-Assistente,freqentemente confuso, no so mais fceis que aquelas que ns mesmos temos quefazer e tomar. Mesmo em um reino de fantasia, crescer no algo que se consiga fazersem pagar um preo.

    Os leitores que estiverem se aventurando por este reino pela primeira vez tambmdevem estar advertidos de que, primeira vista, a paisagem pode se parecer com a doPas de Gales, e que os habitantes podem evocar heris das antiqssimas lendas de Gales.Essas foram minhas razes e inspirao. Mas o resto um trabalho de imaginao,semelhante apenas em esprito, no em detalhe.

    Os leitores que j fizeram jornadas com Taran podem ficar tranqilos de que edigo isto sem revelar nenhuma surpresa Gurgi, a despeito de arrepios e tremoresassustadores, e de grandes temores por sua pobre cabea mimosa, fez questo departicipar dessa nova aventura, do mesmo modo que o impetuoso Fflewddur Fflam e odesapontado Doli, do Povo Formoso. Quanto Princesa Eilonwy, Filha de Angharad, no seprecisa nem perguntar!

    Fiquei feliz ao descobrir que Taran, a despeito de seus defeitos, conquistou algunscompanheiros fiis alm das fronteiras de Prydain: Beverly Bond, cuja coragem nuncavacilou; Zay Borman, que temerariamente visitou os Pntanos de Morva durante umatempestade; Carl Brandt, que tinha certeza de que Prydain existia antes de ter sidodescoberta; Ann Durell, desde o comeo; Max Jacobson, meu severo amigo e melhorcrtico; Evaline Ness, que dotada da viso mais esclarecida; Louise Waller, que ajudou acapinar os dentes-de-leo. E Evan e Reed, Kris e Mike, Fleur, Suzy e Barbara, Peter, Liz eSusie, Michael, Mark, Gary e Diana. E seus respectivos pais. A eles afetuosamente dedicoestas pginas.

    Lloyd Alexander

  • CAPTULO I

    O Conselho em Caer Dallben

    O outono havia chegado rpido demais. Nos reinos mais ao norte de Prydain muitasrvores j estavam sem folhas e, em meio a seus galhos, restavam apenas as silhuetasesfarrapadas de ninhos vazios. Ao sul, do outro lado do rio Grande Avren, as montanhasprotegiam Caer Dallben dos ventos, mas, mesmo ali em seu abrigo, a pequena fazendaestava se recolhendo.

    Para Taran, o vero estava chegando ao fim antes de ter comeado. Naquela manh,Dallben o havia incumbido da tarefa de dar banho na porca oracular. Tivesse o velhofeiticeiro ordenado que ele capturasse um guidainte, feliz da vida, Taran teria sado atrsde uma das perversas criaturas. De todo jeito, ele encheu um balde no poo e seencaminhou penosa e relutantemente para o cercado de Hen Wen. A porca branca,geralmente vida por um banho, naquele dia guinchou nervosamente e rolou sobre ascostas na lama.

    Ocupado com o esforo e a faina de levantar Hen Wen e faz-la se pr de p, Tarannem reparou no cavaleiro at que ele puxou as rdeas do cavalo junto do cercado.

    Voc a! Menino porcario! O cavaleiro que o olhava com ares de superioridadeera um rapazinho, apenas alguns anos mais velho que Taran. O cabelo dele era de coramarelo tostado, os olhos negros profundos nas rbitas, em um rosto plido e arrogante.Embora de excelente qualidade, suas roupas tinham sido muito usadas e a capa estavadeliberadamente arranjada de maneira a esconder as vestimentas pudas. At a prpriacapa, Taran reparou, tinha sido cuidadosa e meticulosamente cerzida. Ele estava montadonuma gua ruana, um cavalo de batalha esguio e nervoso, de plo branco mesclado devermelho e preto, e crina amarela, com a cabea comprida e estreita, cuja expresso erato mal-humorada quanto a de seu dono.

    Voc a! Menino porcario repetiu ele , isto aqui Caer Dallben?O tom do cavaleiro e sua atitude irritaram Taran, mas ele controlou o temperamento

    e gentilmente fez uma mesura. respondeu. Mas eu no sou um menino porcario acrescentou. Sou

    Taran, o Porqueiro-Assistente. Um porco um porco retrucou o desconhecido , e um menino porcario um

    menino porcario. Corra e v avisar a seu senhor que estou aqui ordenou ele. Diga-lhe que o Prncipe Ellidyr, Filho de Pen-Llarcau...

    Hen Wen aproveitou esta oportunidade para rolar numa outra poa de lama. Pare com isso, Hen! gritou Taran, correndo atrs dela. Largue esta porca ordenou Ellidyr. Voc no me ouviu? Faa o que eu mandei

    e trate de andar depressa.

  • V avisar Dallben o senhor, se quiser! gritou Taran por cima do ombro,tentando impedir Hen Wen de chafurdar na lama. Ou espere eu acabar de fazer meutrabalho.

    Cuidado com a sua impertinncia respondeu Ellidyr ou levar uma boa surrapor causa disso.

    Taran ficou vermelho de raiva. Deixando que Hen Wen fizesse o que lhe agradasse,caminhou rapidamente at a cerca e saltou para o outro lado.

    Se eu levar respondeu furioso, jogando a cabea para trs e encarando Ellidyrbem no rosto , no vai ser de suas mos.

    Ellidyr deu uma gargalhada zombeteira. Antes que Taran pudesse saltar para o lado,a mana mergulhou em sua direo. Ellidyr, inclinando-se na sela, agarrou Taran pelo peitodo gibo. Taran se debateu e esperneou em vo. Por mais forte que fosse, no conseguiase libertar. Foi esmurrado e sacudido at seus dentes chocalharem. Ento Ellidyr esporeoua mana para sair a galope, arrastou Taran pelo relvado at o chal e ali, enquanto asgalinhas batiam em debandada, correndo em todas as direes, o atirou com violncia nocho.

    A comoo trouxe Dallben e Coll para fora. A Princesa Eilonwy saiu correndo da copa,com o avental esvoaando e uma panela ainda na mo. Com um grito alarmado, ela correupara junto de Taran.

    Ellidyr, sem se dar ao trabalho de desmontar, gritou para o feiticeiro de barbasbrancas.

    O senhor Dallben? Eu trouxe seu menino porcario para levar uma surra por suaimpertinncia.

    Isso besteira! exclamou Dallben, sem se perturbar com a expresso furiosade Ellidyr. Se ele insolente uma coisa e, se deve ser castigado com uma surra, outra. Qualquer que seja o caso, no preciso de sugestes suas.

    Eu sou um Prncipe de Pen-Llarcau exclamou Ellidyr. Sim, sim, eu sei interrompeu Dallben, com um aceno da mo magra. Tenho

    pleno conhecimento de tudo isso e estou ocupado demais para ser incomodado com isso.V dar de beber a seu cavalo e aproveite para tambm esfriar um pouco a cabea. Serchamado na hora em que sua presena for necessria.

    Ellidyr estava a ponto de responder, mas o olhar severo do feiticeiro o fez segurar alngua. Ele virou a ruana e com os calcanhares a incitou a seguir na direo do estbulo.

    Enquanto isso, a Princesa Eilonwy e o corpulento e careca Coll tinham estadoajudando Taran a se levantar.

    Voc j devia saber, meu rapaz, que no se deve brigar com estranhos disseColl em tom bem-humorado.

    Isso verdade acrescentou Eilonwy. Especialmente se estiverem a cavalo evoc a p.

    Da prxima vez que me encontrar com ele Taran comeou a dizer. Quando voltarem a se encontrar interrompeu Dallben , voc, pelo menos, vai

    se conduzir com o maior comedimento e dignidade possveis, os quais, admito, podem noser muito grandes, mas voc ter que se virar com eles. Agora, trate de ir. A Princesa

  • Eilonwy poder ajud-lo a se arrumar e ficar um pouco mais apresentvel do que est nomomento.

    Completamente arrasado, Taran seguiu a garota de cabelos dourados at a copa.Ainda se sentia irritado e humilhado, mais pelas palavras de Ellidyr do que pela surra quelevara; e no estava nada satisfeito com o fato de que Eilonwy o tivesse vistoesparramado no cho aos ps do arrogante prncipe.

    Como foi que aquilo aconteceu? perguntou Eilonwy, pegando um pano mido epassando no rosto de Taran.

    Taran no respondeu, mas tristemente submeteu-se a seus cuidados.Antes que Eilonwy acabasse, uma figura cabeluda, coberta de folhas e gravetos,

    surgiu, de repente, na janela e, com grande agilidade, com os ps e as mos trepou nopeitoril da janela e entrou.

    Que pesar e tristeza! lamuriou-se a criatura, inclinando-se ansiosamente paraTaran. Gurgi v pancadas e cacetadas dadas pelo forte lorde! Pobre coitado do senhorbondoso! Gurgi est com pena dele.

    Mas h notcias! Gurgi prosseguiu rapidamente. Boas notcias! Gurgi tambmv o prncipe, de todos, o mais poderoso, em cavalgada! Sim, sim, com grandes galopadasno cavalo branco e com espada preta, que alegria!

    Como que ? exclamou Taran. Est falando do Prncipe Gwydion? No podeser...

    Mas disse uma voz s suas costas. Gwydion estava no umbral da porta.Com um grito de surpresa, Taran correu para junto dele e apertou-lhe a mo. Eilonwy

    deu um grande abrao no alto guerreiro, enquanto Gurgi, feliz da vida, batia com as mosno assoalho. Da ltima vez em que Taran o vira, Gwydion estivera vestindo os trajescerimoniais de um prncipe da real Casa de Don. Agora, estava vestido com roupas muitosimples: uma capa cinza com capuz e um gibo sem nenhum tipo de adorno. A espadapreta, Dyrnwyn, estava embainhada ao longo de seu quadril.

    Que bom ver todos vocs disse Gwydion. Gurgi parece to faminto comosempre, Eilonwy mais linda do que nunca. E voc, Porqueiro-Assistente acrescentou, orosto curtido pelo sol e marcado por finas rugas se abrindo num largo sorriso , est umpouco pior do que de costume. Dallben me contou como se machucou desse jeito.

    Eu no procurei briga declarou Taran. Mas, apesar disso, uma briga o encontrou observou Gwydion. Creio que

    assim que devem ser as coisas com voc, Taran de Caer Dallben. Mas isso no temimportncia disse ele, dando um passo atrs e, atentamente, examinando Taran com osolhos salpicados de verde. Deixe-me olhar para voc. Voc cresceu desde a ltima vezem que nos encontramos. Gwydion balanou a cabea, de cabelos longos e desalinhados,com fios prateados como plos de lobo, com aprovao. Espero que tenha adquiridotanta sabedoria quanto ganhou altura. Veremos. Agora devo fazer os preparativos para oconselho.

    Conselho? exclamou Taran. Dallben no falou nada sobre um conselho. Elenem disse que o senhor estava vindo para c.

    A verdade acrescentou Eilonwy que Dallben no tem dito grande coisa, a

  • respeito de coisa nenhuma, para ningum. Vocs a esta altura j deveriam saber comentou Gwydion que das coisas

    que sabe Dallben conta muito pouco. Sim, vai haver um conselho, e convoquei outraspessoas para virem se reunir conosco aqui.

    Eu j tenho idade para participar de um conselho de homens interrompeu Tarananimadamente. J aprendi muita coisa; combati a seu lado, eu...

    Calma, calma disse Gwydion. Ns j concordamos que voc deverparticipar. Embora chegar idade viril ele acrescentou em voz baixa, com um trao detristeza possa no ser tudo que voc acredita que seja. Gwydion ps as mos sobreos ombros de Taran. Nesse meio tempo, trate de se aprontar. Muito brevemente serincumbido de sua misso.

    Como Gwydion havia previsto, durante o resto da manh chegaram muitos novosvisitantes. Um grupo de cavaleiros logo apareceu e comeou a montar acampamento nocampo de restolhos alm do pomar. Os guerreiros, Taran observou, estavam armados parabatalha. Seu corao deu um salto. Sem dvida, aquilo tambm tinha a ver com o conselhoconvocado por Gwydion. A cabea de Taran girava cheia de perguntas e ele correu emdireo ao campo. Mas no havia coberto nem metade do caminho quando parou, derepente, tomado por grande surpresa. Dois vultos familiares vinham cavalgando pelocaminho. Taran correu ao encontro deles.

    Fflewddur! gritou, enquanto o bardo, com sua bela harpa pendurada no ombro,levantava a mo para saud-lo. E Doli! realmente voc?

    O ano de cabelos flamejantes desmontou de seu pnei. Sorriu largamente, por uminstante, depois amarrou sua carranca habitual. Ele no escondeu, contudo, o brilho deprazer em seus olhos redondos e vermelhos.

    Doli! Taran bateu nas costas do ano. Nunca pensei que fosse voltar a v-lo.Isto , realmente ver voc. No depois que adquiriu o poder de se tornar invisvel.

    Hummm! fungou o ano, vestido num gibo de couro. Invisvel! J vivi tudoque queria dessa histria. Voc se d conta do esforo que necessrio? terrvel! Fazmeus ouvidos zumbirem. E isso no a pior parte. Ningum pode .ver voc, de modo queleva pises nos dedos dos ps, ou uma cotovelada no olho. No, no, isso no para mim.No suporto mais isso!

    E voc Fflewddur exclamou Taran, enquanto o bardo desmontava , sentimuito sua falta. Sabe de que vai tratar o conselho? por isso que est aqui, no ? E Dolitambm?

    Eu no sei de nada a respeito de conselhos resmungou Doli. O Rei Eiddilegme ordenou que viesse para c. Como uma deferncia especial para Gwydion. Mas possolhe dizer agora, neste instante, que preferiria estar em casa, no reino do Povo Formoso,cuidando de minha vida.

    No meu caso disse o bardo , aconteceu de Gwydion estar passando por meureino, assim, por puro acaso, me pareceu, embora agora esteja comeando a pensar queno era. Ele sugeriu que talvez eu pudesse apreciar vir fazer uma visita a Caer Dallben.Disse que o bom e velho Doli estaria por aqui, de modo que claro que partiimediatamente.

  • Eu havia desistido de ser bardo prosseguiu Fflewddur , e havia meacomodado, muito satisfeito, voltando vida de rei. Francamente, vim apenas para agradarGwydion.

    Diante dessas palavras, duas cordas de sua harpa partiram-se com um sonoroting. Fflewddur calou-se imediatamente e pigarreou.

    Pois bem, sim acrescentou ele , a verdade o seguinte: eu estavaabsolutamente infeliz. Teria aproveitado qualquer desculpa para sair daquele castelo mido,deprimente, por algum tempo. Voc disse que vai haver um conselho? Estava na esperanade que fosse um festival de colheita e que fossem precisar de mim para cuidar doentretenimento.

    Seja l o que for disse Taran , estou feliz por vocs dois estarem aqui. Eu no estou reclamou o ano. Quando eles comeam a falar sobre o bom e

    velho Doli isso e o bom e velho Doli aquilo, cuidado! para fazer alguma coisadesagradvel.

    Enquanto eles se encaminhavam para o chal, Fflewddur olhou ao redor cominteresse.

    Ora, mas que surpresa, estou vendo o estandarte do Rei Smoit ali? Est aquitambm a pedido de Gwydion, no tenho dvida.

    Justo naquele momento um cavaleiro aproximou-se a meio galope e chamou o nomede Fflewddur. O bardo deu um grito de prazer.

    Aquele Adaon, filho do Chefe dos Bardos, Taliesin disse para Taran. CaerDallben, de fato, hoje est recebendo uma grande honra!

    O cavaleiro desmontou e Fflewddur se apressou para apresentar seus amigos a ele.Adaon, Taran reparou, era alto, com cabelos negros, lisos, que lhe desciam at os

    ombros. Embora tivesse linhagem e porte nobre, vestia os trajes de um guerreiro comum,sem nenhum ornamento exceto um broche de ferro, de formato curioso, no colarinho. Seusolhos eram cinzentos, estranhamente penetrantes, luminosos como uma chama, e Taranpercebeu que muito pouco podia escapar ao olhar atento e perspicaz de Adaon.

    Em boa hora, afinal, tenho a oportunidade de conhec-los, Taran de Caer Dallben eDoli do Povo Formoso disse Adaon, trocando um aperto de mos com cada um deles. O nome de vocs no desconhecido entre os bardos do norte.

    Ento o senhor tambm um bardo? perguntou Taran, fazendo uma mesuracom grande respeito.

    Adaon sorriu e sacudiu a cabea. Muitas vezes meu pai me pediu que eu me apresentasse para o exame de

    admisso, mas eu preferi esperar. Ainda h muito que tenho a esperana de aprender e,em meu corao, no me sinto pronto. Um dia, quem sabe, talvez esteja.

    Adaon virou-se para Fflewddur. Meu pai envia suas saudaes e pergunta como tem se sado com a harpa que ele

    lhe deu. Pelo que vejo, precisa de reparos acrescentou, com uma risada amistosa. verdade admitiu Fflewddur , de fato, tenho problemas com ela de vez em

    quando. No posso me impedir de... aah, acrescentar um pouquinho de cor aos fatos, amaioria dos fatos precisa tanto de um pouco de cor. Mas toda vez que fao isso ele

  • suspirou, olhando para as duas cordas partidas o resultado este. Alegre-se e no desanime disse Adaon, dando uma gostosa gargalhada. Suas

    galantes narrativas merecem todas as cordas de harpa de Prydain. E vocs, Taran e Doli,devem prometer me contar mais sobre suas famosas faanhas. Mas, primeiro, devo ir aoencontro de Lorde Gwydion.

    Pedindo licena aos companheiros, Adaon montou e seguiu adiante.Fflewddur o observou, enquanto se afastava, com uma expresso de afeto e

    admirao no olhar. Se Adaon est aqui, no pode ser uma questo de pequena importncia

    comentou Fflewddur. Ele um dos homens mais bravos que conheo. Isso e mais, poistem o corao de um verdadeiro bardo. Algum dia, ele certamente ser o maior de nossosbardos, pode escrever o que digo.

    E mesmo verdade que nossos nomes so conhecidos por ele? perguntouTaran. E tem havido canes falando de ns?

    Fflewddur sorriu radiante. Depois da batalha com o Rei Cornudo, sim, de fato, eu compus uma coisinha. Uma

    modesta homenagem. Mas um prazer saber que se tornou conhecida. Assim que euconsertar essas pobres infelizes dessas cordas, ficarei encantado em cantar para vocs.

    Pouco depois do meio-dia, quando todos tinham repousado da jornada, Coll osconvocou para se reunirem nos aposentos de Dallben. Ali, havia sido colocada uma mesacomprida, com cadeiras dos dois lados. Taran reparou que o feiticeiro tinha at feitoalgumas tentativas para arrumar a desordem de antiqssimos livros que atravancavam oaposento. O Livro dos Trs, o pesado tomo que era repleto dos mais ntimos segredos deDallben, havia sido posto cuidadosamente no alto de uma prateleira. Taran lanou um olharrpido para cima, quase temeroso, certo de que continha muito mais do que Dallbenjamais quisera revelar.

    O resto do grupo havia comeado a entrar quando Fflewddur segurou o brao deTaran e o puxou para um canto, enquanto um guerreiro de barba escura passavarapidamente por eles.

    De uma coisa voc pode estar certo disse o bardo, falando baixinho , Gwydionno est planejando um festival de colheita. J viu quem est aqui?

    O guerreiro moreno estava mais ricamente vestido do que qualquer outra pessoa dogrupo. Seu nariz adunco parecia um bico de falco, os olhos semicerrados pareciamsonolentos, velados pelas plpebras pesadas, mas eram penetrantes. Somente paraGwydion ele ofereceu uma mesura; ento, sentando-se mesa, lanou um olhar frioavaliando os outros ao seu redor.

    Quem ele? sussurrou Taran, sem ousar encarar aquele personagem orgulhosoe de porte rgio.

    o Rei Morgant de Madoc respondeu o bardo , o mais corajoso lder deguerra de Prydain, mais do que ele somente o prprio Gwydion. Jurou fidelidade eobedincia Casa de Don. Dizem que certa vez salvou a vida de Gwydion. Eu acreditonisso. J vi aquele sujeito em combate. puro gelo! Absolutamente destemido! Se Morgantfor participar nisso, alguma coisa muito interessante deve estar sendo planejada. Ah, oua.

  • o Rei Smoit. Sempre se pode ouvi-lo antes de se poder v-lo.Uma alta e sonora gargalhada ressoou fora do aposento e, um momento depois, um

    gigantesco guerreiro de cabelos vermelhos apareceu ao lado de Adaon. Era muito mais altoque todo mundo no aposento, e a barba ruiva chamejava ao redor de um rosto tomarcado por cicatrizes de velhos ferimentos que era impossvel dizer onde uma comeavae outra acabava. Seu nariz tinha sido quebrado e achatado entre as mas do rosto; atesta proeminente quase se perdia num emaranhado desgrenhado de sobrancelhas; e opescoo parecia to grosso quanto a cintura de Taran.

    Que grande urso! comentou Fflewddur com uma pequena gargalhada afetuosa. Mas um homem que no tem um gro de maldade. Quando os lordes dos cantrevesdo sul se insurgiram contra os Filhos de Don, Smoit foi um dos poucos que se manteveleal. Seu reino o Cantreve de Cadiffor.

    Smoit parou no meio do aposento, atirou sua capa para trs e enfiou os polegares noenorme cinturo de bronze que se estirava quase a ponto de explodir, cingindo-lhe a amplacircunferncia.

    Ol, Morgant! rugiu ele. Quer dizer que eles tambm o chamaram, no ? Smoit farejou o ar com ferocidade. Sinto o cheiro de derramamento de sangue no vento! Smoit se encaminhou com passadas largas para o austero lder de guerra e deu-lhe umaforte palmada no ombro.

    Trate de ter cuidado replicou Morgant, com um fiapo de sorriso que mostravaapenas as pontas de seus dentes , para que no seja o seu.

    R! R-r-r! O Rei Smoit rugiu numa sonora gargalhada e bateu com aspalmas das mos nas coxas macias. Essa foi boa! Ter cuidado para que no seja omeu! No se preocupe, seu pingente de gelo! Eu tenho mais que de sobra! Ele avistouFflewddur. E mais um velho camarada! bramiu, correndo para o bardo e envolvendo-onum abrao apertado com tamanho entusiasmo que Taran ouviu as costelas de Fflewddurestalarem. Meu pulso! exclamou Smoit. Meu corpo e meus ossos! Cante umacano para nos alegrar, seu tolo arranhador de harpa!

    Os olhos dele cravaram-se em Taran. Mas o que isso, o que isso? Ele agarrou Taran com uma fortssima mo

    coberta de plos ruivos. Um coelho esfolado? Uma galinha depenada? Ele Taran, o Porqueiro-Assistente de Dallben respondeu o bardo. Eu gostaria que fosse o cozinheiro de Dallben! exclamou Smoit. Mal forrei

    minha pana!Dallben comeou a bater na mesa pedindo silncio. Smoit se encaminhou para seu

    lugar depois de dar mais um abrao em Fflewddur. Pode no haver um gro de maldade nele comentou Taran com o bardo , mas

    eu acho que mais seguro t-lo como amigo.Agora todo o grupo estava reunido ao redor da mesa, com Dallben e Gwydion numa

    das cabeceiras, Coll na outra. O Rei Smoit, transbordando de sua cadeira, estava sentado esquerda do feiticeiro, bem defronte ao Rei Morgant. Taran se espremeu entre o bardo eDoli, que resmungou muito contrariado porque a mesa era alta demais para ele. Sentado direita de Morgant, estava Adaon e, ao lado dele, Ellidyr, que Taran no tinha mais visto

  • desde aquela manh.Dallben se levantou e ficou parado, silenciosamente, por um momento, e todos

    viraram-se em sua direo. O feiticeiro puxou um tufo de barba. Estou velho demais para ter boas maneiras disse Dallben e no tenho

    inteno de fazer um discurso de boas-vindas. O assunto que temos a tratar aqui urgente e o abordaremos imediatamente.

    H pouco mais de um ano, como alguns dentre os senhores tm bons motivospara se recordar prosseguiu Dallben, olhando de relance para Taran e seuscompanheiros , Arawn, Lorde de Annuvin, sofreu uma sria derrota quando o ReiCornudo, seu paladino, foi morto. Durante algum tempo, o poder da Terra da Morte estevecontido. Mas em Prydain o mal nunca est distante.

    Nenhum de ns tolo a ponto de acreditar que Arawn aceitaria uma derrota semreagir continuou Dallben. Eu tinha esperanas de poder ter um pouco mais de tempopara meditar sobre a nova ameaa de Annuvin. Infelizmente, esse tempo no serconcedido. Os planos de Arawn tornaram-se demasiado evidentes. A respeito deles, voupedir a Lorde Gwydion que fale.

    Ento Gwydion, por sua vez, se levantou. A expresso de seu rosto, sria, fechada. Quem j no ouviu falar dos Nascidos do Caldeiro, os guerreiros mudos e

    imortais que servem o Senhor de Annuvin? Esses guerreiros so os corpos roubados dosmortos, postos numa infuso no caldeiro de Arawn para dar-lhes novamente vida. Elesemergem implacveis como a prpria morte, tendo perdido a memria de sua humanidade.Na verdade, no so mais homens e sim armas assassinas, para sempre escravos deArawn.

    Neste trabalho odioso prosseguiu Gwydion , Arawn tem se dedicado a espoliaras sepulturas e os dlmenes de guerreiros mortos em combate. Agora, por toda parte emPrydain, tm ocorrido estranhos desaparecimentos, homens que somem, subitamente, paranunca mais serem vistos; e os Nascidos do Caldeiro aparecem onde, nunca antes,nenhum havia sido visto. Arawn no tem andado ocioso. Conforme agora descobri, seusservos ousam atacar os vivos e carreg-los para Annuvin, para engrossar as fileiras desuas hostes imortais. Desse modo, a morte gera a morte; o mal gera o mal.

    Taran foi sacudido por um calafrio. L fora, a floresta chamejava colorida decarmesim e amarelo. A temperatura estava agradvel, como se um dia de vero tivesseperdurado alm de sua estao, mas as palavras de Gwydion gelaram-no como um ventofrio, repentino. Ele recordava-se bem demais dos olhos baos, sem vida, e das faceslvidas dos Nascidos do Caldeiro, de seu silncio espectral e espadas impiedosas.

    Vamos ao que interessa, vamos parte carnuda dessa histria! exclamouSmoit. Por acaso somos coelhos assustados? Devemos temer esses escravos doCaldeiro?

    Haver carne de sobra para todos mastigarem respondeu Gwydion com umsorriso sinistro. Eu os advirto, antecipadamente: nenhum de ns jamais partiu para umamisso mais perigosa. Peo-lhes sua ajuda, porque pretendo atacar a prpria Annuvin parame apoderar do caldeiro de Arawn e destru-lo.

  • CAPTULO II

    A Descrio das Tarefas

    Taran teve um sobressalto em sua cadeira. O aposento estava no mais total e absolutosilncio. O Rei Smoit, que estivera prestes a dizer alguma coisa, permaneceu boquiaberto.S o Rei

    Morgant no mostrava nenhum sinal de espanto; mantinha-se sentado imvel, osolhos semicerrados, uma expresso curiosa no rosto.

    No existe nenhuma outra alternativa declarou Gwydion. Embora os Nascidosdo Caldeiro no possam ser mortos, temos que impedir que suas fileiras aumentem.Entre o poder de Annuvin e nossa prpria fora, o equilbrio delicado demais. medidaque adquire novos guerreiros para servi-lo, Arawn estende as mos, aproximando-as cadavez mais de nossas gargantas. Tampouco me esqueo dos vivos, perfidamenteassassinados e condenados a uma servido ainda mais prfida.

    At o dia de hoje prosseguiu Gwydion , somente o Grande Rei Math e algunsoutros tinham conhecimento do que tenho em mente. Agora que todos os senhores meouviram, esto livres para ir ou para ficar, como preferirem. Se escolherem voltar paraseus cantreves, no considerarei menor sua coragem.

    Mas eu considerarei! gritou Smoit. Qualquer frouxo de estmago fraco esangue ralo que tiver medo de apoi-lo ter que se haver comigo!

    Smoit, meu amigo respondeu Gwydion com firmeza, mas afetuosamente ,esta uma escolha que deve ser feita sem persuaso de sua parte.

    Ningum se moveu. Gwydion olhou ao redor e depois balanou a cabea comsatisfao.

    Os senhores no me desapontam declarou. Eu havia contado com cada umdos que esto aqui presentes para se incumbir de tarefas que explicarei mais tarde.

    O entusiasmo de Taran levou a melhor sobre seu medo dos Nascidos do Caldeiro.Teve dificuldade para engolir sua impacincia e no perguntar a Gwydion, ali, naquelemesmo instante, qual seria sua tarefa. Pelo menos naquela ocasio, sabiamente controloua lngua. Em vez dele, foi Fflewddur quem se levantou de um salto.

    claro! exclamou o bardo. Percebi a coisa inteira imediatamente!Naturalmente, o senhor vai precisar de guerreiros, para ir buscar aquele repugnantecaldeiro. Mas vai precisar de um bardo para compor os cnticos de vitria. Eu aceito!Encantado!

    Eu o escolhi observou Gwydion, no sem delicadeza , mais por sua espadaque por sua harpa.

    Como assim? perguntou Fflewddur. Sua testa se franziu de desapontamento. Ah, sim, compreendo acrescentou ele, alegrando-se. Sim, pois bem, no nego ter uma

  • certa reputao nesse campo. Um Fflam sempre valente! Abri meu caminho aespadadas com a derrubada de milhares ele lanou um olhar rpido e preocupado para aharpa , bem, ahh, digamos numerosos inimigos.

    Espero que continue sempre assim, disposto a cumprir com entusiasmo suastarefas depois que elas lhe forem atribudas disse Gwydion, puxando uma folha depergaminho do bolso do gibo e abrindo-a sobre a mesa.

    Nosso encontro se realiza em Caer Dallben, no apenas por motivos de segurana prosseguiu ele. Dallben o feiticeiro mais poderoso de Prydain e aqui estamos sobsua proteo. Caer Dallben o nico lugar que Arawn no ousa atacar, mas tambm omais adequado para iniciarmos nossa jornada para Annuvin. Com um dedo, ele traouuma rota, seguindo para noroeste, partindo da pequena fazenda. O Grande Avren ficaraso nesta estao disse ele , e pode ser atravessado sem dificuldade. Depois datravessia, o avano fcil atravs do Cantreve Cadiffor, reino do Rei Smoit, at a Florestade Idris, que fica ao sul de Annuvin. De l, poderemos seguir rapidamente para o PortoEscuro.

    Taran prendeu a respirao. Como todos no grupo, tinha ouvido falar sobre o PortoEscuro, as montanhas gmeas que guardavam a passagem do sul, dando acesso Terrada Morte. Embora no fosse monumental como o Monte Drago, ao norte de Annuvin, oPorto Escuro era traioeiro, com seus rochedos pontiagudos e fendas como alapesescondidos.

    uma passagem difcil continuou Gwydion , mas a menos guardada, comoColl, Filho de Collfrewr, lhes contar.

    Coll se ps de p. O velho guerreiro, com a cabea careca brilhante e mosenormes, parecia que preferiria dar combate a discursar em um conselho. Mesmo assim,sorriu largamente para o grupo e comeou a falar.

    Ns vamos entrar, por assim dizer, pela porta dos fundos de Arawn. O caldeirofica numa plataforma no Saguo dos Guerreiros, que fica imediatamente depois do PortoEscuro, como me recordo muito bem. A entrada do Saguo tem guardas, mas existe umportal nos fundos que fechado com pesados ferrolhos. Um homem poderia abri-lo paraos outros se, como Doli, pudesse se mover sem ser visto.

    Eu lhe disse que no iria gostar resmungou Doli baixinho para Taran. Essenegcio de me tornar invisvel! Um dom! uma maldio! Veja s aonde vai me levar.Hummm! O ano fungou com irritao, mas no emitiu nenhum outro protesto.

    um plano ousado observou Gwydion , mas, com companheiros ousados,pode ser bem-sucedido. Quando chegarmos ao Porto Escuro, ns nos dividiremos em trsbandos. O primeiro ser composto por Doli, do Povo Formoso, Coll, Filho de Collfrewr,Fflewddur Fflam, Filho de Godo, e por mim. Conosco estaro seis dos mais fortes evalorosos guerreiros do Rei Morgant. Doli, depois de se tornar invisvel, entrar primeiropara abrir os ferrolhos e nos dizer como os guardas de Arawn esto posicionados. Entons penetraremos pelo portal e apanharemos o caldeiro.

    Ao mesmo tempo, a um sinal meu continuou Gwydion o segundo bando,composto pelo Rei Morgant e seus cavaleiros, atacar o Porto Escuro, aparentementecom um grande nmero de homens, para gerar confuso e desviar o maior nmero de

  • tropas de Arawn possvel.O Rei Morgant assentiu e, pela primeira vez, tomou a palavra. Sua voz, embora de

    tom gelado, era compassada e corts. Regozijo-me com o fato de que finalmente decidamos fazer um ataque direto

    contra Arawn. Eu, pessoalmente, j teria me incumbido de fazer isso, mas tinha aobrigao de esperar pela ordem de Lorde Gwydion.

    Mas, agora, devo dizer o seguinte prosseguiu Morgant. Embora seu plano sejasensato, o caminho que escolheu no adequado para uma retirada rpida caso Arawndecida vir ao seu encalo.

    No existe outro caminho que seja mais curto para voltar a Caer Dallben respondeu Gwydion , e para c que o caldeiro deve ser trazido. Temos que aceitar orisco. Contudo, se estivermos sofrendo uma perseguio muito intensa, iremos nosrefugiar em Caer Cadam, a fortaleza do Rei Smoit. Com este objetivo, peo ao Rei Smoitque esteja a postos com todos os seus guerreiros perto da Floresta de Idris.

    Qu? rugiu Smoit. Vai me impedir de ir a Annuvin? Ele esmurrou a mesacom o punho. Vai me deixar chupando os dedos? Deixar Morgant, aquele lcio de barbasnegras, sangue frio e escamas escorregadias, cobrir a sua retaguarda!

    Morgant no deu sinal de ter ouvido a exploso de Smoit Gwydion sacudiu a cabea. Nosso sucesso depende de surpresa e de rapidez de movimentos, no de nmero

    de homens. Voc, Smoit, deve ser nosso mais firme apoio, caso nossos planos no corrambem. Sua misso no menos importante.

    O terceiro bando esperar por ns nas proximidades do Porto Escuro, paraguardar nossos animais de carga, nossa retirada em segurana e para nos servir de acordocom as nossas necessidades; eles sero Adaon, Filho de Taliesin, Taran, de Caer Dallben,e Ellidyr, Filho de Pen-Llarcau.

    A voz de Ellidyr elevou-se rpida e furiosamente. Por que devo ser deixado para trs? No sou melhor que um menino porcario?

    Ele inexperiente, verde como uma ma. Inexperiente! gritou Taran, levantando-se de um salto. Eu enfrentei os

    Nascidos do Caldeiro com o prprio Gwydion. O senhor passou por um teste melhor queesse, Prncipe Capa Remendada?

    A mo de Ellidyr voou para a espada. Eu sou um filho de Pen-Llarcau e no engulo insultos de... Silncio! ordenou Gwydion. Nesta aventura arriscada a coragem de um

    Porqueiro-Assistente pesa tanto quanto a de um prncipe. Eu o estou avisando, Ellidyr,controle seu gnio agressivo ou abandone este conselho.

    E voc acrescentou Gwydion, virando-se para Taran , retribuiu a raiva comum insulto infantil. Pensei que soubesse se comportar melhor. Alm disso, vocs doisestaro sob as ordens de Adaon e, na minha ausncia, obedecero a ele.

    Taran corou e sentou-se. Ellidyr, tambm, voltou a ocupar seu lugar, o rosto furiosoe ameaador.

    Vamos encerrar nossa reunio disse Gwydion. Eu falarei com cada um devocs mais tarde e mais demoradamente. Agora, tenho assuntos a tratar com Coll.

  • Amanh, ao raiar do dia, estejam prontos para cavalgar rumo a Annuvin.Enquanto o grupo comeava a deixar o aposento, Taran se aproximou de Ellidyr e

    estendeu a mo. Nesta misso no devemos ser inimigos. Fale apenas por si mesmo respondeu Ellidyr. Eu no tenho nenhum desejo de

    servir ao lado de um insolente menino porcario. Sou filho de um rei. Voc filho dequem? Ento voc combateu contra os Nascidos do Caldeiro ele zombou. E comGwydion? No perdeu a oportunidade de tornar isso conhecido.

    O senhor se gaba de seu nome rebateu Taran. Eu me orgulho de meuscompanheiros.

    Sua amizade com Gwydion no nenhuma proteo, no que me diz respeito declarou Ellidyr. Ele que prefira voc tanto quanto quiser. Mas, trate de me ouvir bem,em minha companhia voc vai ter que se defender sozinho.

    E vou me defender sozinho retrucou Taran, a raiva crescendo. Trate de sedefender com a mesma ousadia com que fala.

    Adaon havia se aproximado deles. Devagar, amigos ele deu uma risada. Eu pensei que a batalha fosse contra

    Arawn, no entre ns. Ele falava baixo, mas sua voz tinha um tom firme, de autoridade,quando se virou para olhar de Taran para Ellidyr. Guardamos a vida uns dos outros, napalma aberta de nossas mos, no em punhos cerrados.

    Taran baixou a cabea. Ellidyr, puxando a capa remendada e cobrindo-se com ela,saiu do aposento pisando duro, sem dizer uma palavra. Quando Taran estava sepreparando para seguir Adaon, Dallben o chamou de volta.

    Vocs so um belo par de cabeas quentes comentou o feiticeiro. Estivetentando avaliar qual de vocs dois o mais confuso. No fcil ele bocejou. Tereique meditar a respeito disso.

    O que Ellidyr falou verdade disse Taran com amargura. De quem eu soufilho? No tenho nome, exceto o que o senhor me deu. Ellidyr um prncipe...

    Ele pode ser prncipe observou Dallben , apesar disso no uma pessoa toafortunada quanto voc. o filho mais moo do velho Pen-Llarcau, das terras do norte;seus irmos mais velhos herdaram o pouco que havia da fortuna da famlia e, mesmoisso, j se foi. Ellidyr tem apenas seu nome e sua espada, embora eu admita que ele usaambos de uma forma que no nada sbia.

    Contudo prosseguiu Dallben , essas coisas costumam acabar por secorrigirem sozinhas. Ah, antes que eu me esquea...

    Com a bata esvoaando ao redor das pernas delgadas, Dallben se encaminhou paraum enorme ba, destrancou-o com uma chave antiqssima e levantou a tampa. Debruou-se sobre ele e comeou a remexer l dentro.

    Confesso que tenho um certo nmero de arrependimentos e apreenses declarou que, francamente, no poderiam interess-lo; de modo que no o preocupareicom eles. Por outro lado, h uma coisa que tenho certeza de que vai interess-lo. Etambm o sobrecarregar, j que estamos falando nisso.

    Dallben se endireitou e se virou. Nas mos estendidas para Taran, havia uma espada.

  • O corao de Taran saltou em seu peito. Agarrou a espada avidamente, as mostremendo tanto que quase a deixou cair. A bainha e o punho no tinham nenhumornamento; a arte de sua feitura estava na proporo e no equilbrio. Embora fossemuitssimo antiga, o metal brilhava lmpido e imaculado, e, exatamente, sua absolutasimplicidade tinha a beleza da verdadeira nobreza. Taran fez uma profunda mesura paraDallben e gaguejou agradecimentos.

    Dallben sacudiu a cabea. Se voc deve me agradecer ou no disse ele , algo que ainda deveremos

    ver. Use-a com sabedoria acrescentou ele. Eu s espero que voc no venha a ternenhum motivo para us-la.

    Quais so seus poderes perguntou Taran, os olhos faiscando. Conte-meagora, para que eu...

    Seus poderes? respondeu Dallben com um sorriso triste. Meu queridomenino, isto um pedao de metal batido com martelo at assumir uma forma muitopouco atraente; melhor teria sido se fosse uma podadeira ou um arado. Seus poderes?Como todas as armas, apenas os que possui aquele que a empunha. Quais podero ser osseus poderes realmente no sei dizer.

    Agora, vamos nos despedir disse Dallben, pondo uma mo sobre o ombro deTaran.

    Taran reparou, pela primeira vez, como era velhssimo o rosto do feiticeiro, e comoestava preocupado e aflito.

    Prefiro no ver nenhum de vocs antes de partirem prosseguiu Dallben. Essetipo de separao uma coisa de que quero me poupar. Alm disso, mais tarde suacabea estar cheia de outras preocupaes e voc esquecer qualquer coisa que eu possalhe dizer. Trate de ir, e veja se consegue persuadir a Princesa Eilonwy a cint-lo com estaespada. Agora que tem a espada suspirou ele , suponho que faria bem em observar asformalidades.

    Eilonwy estava guardando tigelas e pratos de barro quando Taran entrou correndo nacopa.

    Veja! exclamou ele. Dallben me deu isto! Cinte-a em mim, quero dizer, porfavor, cinte-a. Diga que sim, que vai cint-la. Eu quero muito que voc seja a pessoa afaz-lo.

    Eilonwy virou-se para ele com surpresa. Sim, claro que vou respondeu ela, corando , se voc realmente... Eu quero! exclamou Taran. Afinal acrescentou ele , voc a nica

    garota em Caer Dallben. Ento por isso! rebateu Eilonwy. Eu sabia que havia alguma coisa errada

    quando voc comeou a ser todo gentil e educado comigo. Muito bem, Taran, de CaerDallben, se este seu nico motivo, pode ir procurar outra pessoa e, pouco me importaquanto tempo vai demorar para encontr-la, mas quanto mais tempo levar, melhor! Elaatirou a cabea para trs e, furiosamente, comeou a enxugar uma tigela.

    Ora, mas o que fiz de errado agora? perguntou Taran, confuso. Eu pedi, porfavor, no pedi? Cinte-a em mim suplicou ele. Prometo contar a voc o que

  • aconteceu no conselho. Eu no quero saber respondeu Eilonwy. No poderia estar menos

    interessada... conte, o que aconteceu? Aaah, ande, me d logo essa coisa.Com destreza ela afivelou o cinto de couro ao redor da cintura de Taran. No pense que vou cumprir todos os rituais da cerimnia e fazer discursos sobre

    ser corajoso e invencvel declarou Eilonwy. Para comear, no creio que eles seapliquem a Porqueiros-Assistentes e, alm disso, eu no os conheo. Pronto disse ela,dando um passo para trs. Devo admitir acrescentou Eilonwy , a espada realmentefica muito bem em voc.

    Taran desembainhou a espada e a empunhou erguida ao alto. Sim exclamou ele , esta uma arma para um homem e um guerreiro! Ora, mas agora basta dessa histria! exclamou Eilonwy, batendo o p com

    impacincia. O que houve no conselho? Ns vamos partir para Annuvin cochichou Taran, todo entusiasmado. Ao raiar

    do dia. Para arrancar o caldeiro de Arawn, em pessoa. O caldeiro que ele usa para... Por que voc no me disse isso imediatamente? exclamou Eilonwy. No terei

    nem metade do tempo de que preciso para arrumar minhas coisas. Quanto tempoficaremos fora? Tenho que pedir a Dallben que tambm me d uma espada. Voc acha queeu vou precisar...

    No, no interrompeu Taran. Voc no compreende. Esta uma tarefa paraguerreiros. No podemos ter o trabalho e a preocupao de levar uma garota. Quando faleins estava querendo dizer...

    O qu? bradou Eilonwy. E esse tempo todo voc me deixou pensar que...Taran, de Caer Dallben, voc me deixa mais furiosa do que qualquer pessoa que eu jamaistenha conhecido. Guerreiro, pois sim! No me importa se voc tiver cem espadas! Porbaixo de toda essa pose voc um Porqueiro-Assistente e, se Gwydion est disposto alev-lo, no h nenhum motivo por que no possa me levar! Aaah, saia da minha copa,fora daqui! Com um grito, Eilonwy agarrou um prato.

    Taran curvou os ombros e fugiu correndo, enquanto a loua de barro espatifava-se ssuas costas.

  • CAPTULO III

    Adaon

    Ao raiar do dia, os guerreiros se prepararam para partir. Apressadamente, Taran selouMelynlas, o potro cinzento de crina prateada, cria do cavalo de batalha de Gwydion, a guaMelyngar. Gurgi, infeliz como uma coruja molhada por ser deixado para trs. ajudou acarregar os alforjes. Dallben havia mudado de idia sobre no ver ningum e estavapostado, silencioso e pensativo, na soleira da porta do chal, com Eilonwy a seu lado.

    No quero mais falar com voc! gritou ela para Taran. Depois da maneiracomo se comportou. Aquilo a mesma coisa que convidar as pessoas para um banquete,depois botar os convidados para lavar a loua! Mas, de qualquer maneira, adeus! Isto acrescentou ela no conta como falar.

    Com Gwydion na liderana, os cavaleiros puseram-se em marcha em meio neblinaque subia da terra em redemoinhos. De p nos estribos, Taran levantou-se na sela, virou-se e acenou despedindo-se, todo orgulhoso. O chal branco e os trs vultos tornaram-sepequeninos. O campo e o pomar ficaram para trs, enquanto Melynlas cavalgava a trotelargo para o meio das rvores. A floresta se fechou s costas de Taran e ele noconseguiu mais ver Caer Dallben.

    Com um relinchar assustado, subitamente, Melynlas empinou. Enquanto Ellidyrcavalgara e ganhara terreno, avanando atrs de Taran, seu cavalo de batalha espichara opescoo e, com malevolncia, dera uma mordida no pescoo do garanho. Taran agarrou-se s rdeas e quase caiu.

    Mantenha a distncia de Islimach disse Ellidyr, com uma gargalhada brutal. Ela morde. Somos muito parecidos, Islimach e eu.

    Taran estava pronto para responder furioso, quando Adaon, que tinha visto o quehavia acontecido, se aproximou emparelhando sua gua baia com a gua de Ellidyr.

    Tem toda razo, Filho de Pen-Llarcau disse Adaon. Seu cavalo carrega umfardo difcil. Da mesma forma que seu dono.

    Que fardo eu carrego? exclamou Ellidyr, com irritao. Na noite passada eu sonhei com todos ns relatou Adaon, pensativamente,

    manuseando o broche de ferro em sua garganta. Voc, eu vi com um monstro negro,cruel, montado sobre seus ombros. Cuidado, Ellidyr, para que ele no o devore acrescentou, a delicadeza de seu tom de voz suavizando a dureza de seu conselho.

    Poupem-me, de meninos porcarios e de sonhadores eu s quero distncia! retrucou Ellidyr e, com um grito, incitou Islimach a avanar mais para a frente na coluna.

    E eu? perguntou Taran. O que seu sonho disse de mim? Voc respondeu Adaon, depois de um momento de hesitao estava

    dominado pelo pesar e pelo luto.

  • Que motivo tenho eu para sentir pesar? perguntou Taran, surpreendido. Estou orgulhoso de servira Lorde Gwydion e existe uma chance de que eu possa vir aconquistar muita honra, muito mais do que lavando porcos e capinando ervas daninhas!

    J marchei em muitos exrcitos para o campo de batalha respondeu Adaon emvoz baixa , mas tambm plantei sementes e colhi os frutos com minhas prprias mos.E aprendi que h mais honra em um campo bem arado do que em um campo embebido desangue.

    A coluna havia comeado a se mover mais rapidamente e eles aceleraram a marchade seus cavalos de batalha. Adaon cavalgava com facilidade e maestria; de cabeaerguida, com um sorriso franco no rosto, ele parecia estar bebendo os panoramas e ossons da manh. Enquanto Fflewddur, Doli e Coll acompanhavam a marcha de Gwydion, eEllidyr, sempre mal-humorado, seguia atrs da tropa do rei Morgant, Taran manteve-se aolado de Adaon, na trilha coberta de folhas cadas.

    Enquanto conversavam para amenizar os rigores da jornada, Taran no demoroumuito para perceber que havia muito pouco que Adaon j no tivesse visto ou feito. Jhavia velejado muito alm da Ilha de Mona, chegando at ao mar do norte; haviatrabalhado no torno de oleiro, lanado redes com os pescadores, tecido panos nos tearesde camponeses; e, como Taran, tinha trabalhado duro debruado sobre uma forja embrasa. Estudara profundamente os costumes e tradies da floresta, e Taran ouviumaravilhado enquanto Adaon lhe falava dos hbitos, do temperamento e da natureza dascriaturas dos bosques, de texugos ousados e de cautelosos arganazes e gansos voando sobo luar.

    H muita coisa para ser conhecida observou Adaon e, sobretudo, muito paraser amado, seja na virada das estaes ou no formato de um seixo de rio. De fato, quantomais encontramos para amar, mais acrescentamos capacidade de amar de nossocorao.

    O semblante de Adaon estava radiante sob os primeiros raios de sol, mas um tomde tristeza e saudade havia surgido em sua voz. Quando Taran perguntou qual era oproblema, Adaon no respondeu imediatamente, como se quisesse guardar para si seuspensamentos.

    Meu corao ficar mais leve quando nossa misso estiver cumprida respondeuAdaon, finalmente. Arianllyn, minha noiva, me espera nos domnios do norte e, quantoantes o caldeiro de Arawn estiver destrudo, mais depressa poderei voltar para junto dela.

    Quando chegou o fim do dia, eles haviam se tornado bons amigos. Ao anoitecer,quando Taran se juntou a Gwydion e seus companheiros, Adaon acampou com eles. Jtinham feito a travessia do Avren e estavam bem avanados no caminho, rumo sfronteiras do reino do Rei Smoit. Gwydion estava satisfeito com o progresso, embora osadvertisse que a parte mais difcil e mais perigosa da jornada ainda estava por vir.

    Todos estavam felizes e animados, exceto Doli, que detestava andar a cavalo e,asperamente, declarou que poderia andar mais depressa se estivesse a p. Enquanto oscompanheiros descansavam em um arvoredo protegido, Fflewddur ofereceu sua harpa aAdaon e insistiu para que cantasse. Adaon, confortvel mente sentado com as costasapoiadas numa rvore, posicionou o instrumento no ombro. Por um instante ficou

  • pensativo, a cabea baixa, ento suas mos delicadamente tocaram nas cordas.A voz da harpa e a voz de Adaon uniram-se uma outra, como se num tranado,

    tecendo harmonias que Taran nunca antes havia ouvido. O rosto do homem alto estavaerguido em direo s estrelas e seus olhos cinzentos pareciam ver muito longe, paraalm delas. A floresta havia silenciado; os sons noturnos tinham se calado.

    A cano de Adaon no era uma balada de guerreiro e sim uma cano de paz,quietude e profunda felicidade, e, enquanto Taran ouvia, seus ecos ressoavam uma vezaps a outra em seu corao. Ele desejou que a msica continuasse, mas, quase queabruptamente, Adaon parou de cantar e, com um sorriso sbrio, devolveu a harpa aFflewddur.

    Os companheiros se agasalharam em suas capas e foram dormir. Ellidyr permaneceuafastado deles, estendido no solo junto aos cascos de sua ruana. Taran, com a cabeaapoiada na sela, a mo sobre a espada nova, estava impaciente para que amanhecesse eansioso para retomar a jornada. Contudo, quando ia adormecendo, recordou-se do sonho deAdaon e sentiu a proximidade de uma sombra como o adejar de uma asa negra.

    No dia seguinte os companheiros atravessaram o Rio Ystrad e comearam a rumarpara o norte. Com muitos brados de reclamao rude pelo fato de ser impedido departicipar na incurso de busca do caldeiro, o Rei Smoit obedeceu Gwydion e se separouda coluna, para cavalgar rumo a Caer Cadarn para aprontar seus guerreiros. Mais tarde, amarcha da coluna tornou-se mais lenta, medida que as agradveis pradarias tornavam-segradualmente ngremes, transformando-se em colinas. Pouco depois do meio-dia, oscavaleiros entraram na Floresta de Idris. Ali, as folhas de relva, marrons, mimadas esecas, eram afiadas como espinhos. Carvalhos e amieiros, outrora familiares, pareciamestranhos a Taran; as folhas mortas agarravam-se aos galhos emaranhados e os troncosenegrecidos se projetavam do solo como se fossem ossos carbonizados.

    Depois de bastante tempo, finalmente a floresta tornou-se menos densa edesapareceu para revelar paredes verticais de penhascos dentados. Gwydion fez sinalpara que o grupo prosseguisse. Taran sentiu um aperto na garganta. Por um instantegelado teve medo de incitar Melynlas para subir a encosta pedregosa. Ele sabia, sem queGwydion tivesse dito uma palavra, que o Porto Escuro de Annuvin no estava muitodistante.

    Trilhas estreitas, que subiam debruadas sobre gargantas profundas, agoraobrigavam a companhia a seguir em fila indiana. Taran, Adaon e Ellidyr tinham estadoseguindo em marcha lenta no final da coluna, mas Ellidyr bateu com os calcanhares nosflancos de Islimach e forou passagem, deixando Taran para trs.

    Seu lugar na retaguarda, menino porcario gritou ele. E seu lugar onde merecer ficar gritou Taran, dando rdeas a Melynlas para

    competir pela dianteira.Os cavalos se chocaram; os cavaleiros lutaram, joelho contra joelho. Islimach

    empinou e refugou freneticamente. Com a mo livre, Ellidyr agarrou a rdea de Melynlaspara obrigar o garanho a frear. Taran tentou virar a cabea de sua montaria, mas, emmeio a uma cascata de seixos, Melynlas escorregou da trilha e deslizou para a encostangreme. Taran, arremessado para fora da sela, agarrou-se s rochas para amortecer a

  • queda.Melynlas, de andar mais seguro que seu dono, recuperou o equilbrio numa salincia

    de rochedo abaixo da trilha. Taran, esparramado de cara no cho contra as pedras, tentouem vo, valendo-se de ps e mos, escalar a encosta para voltar trilha. Adaondesmontou imediatamente, correu para a beira da encosta e tentou agarrar as mos deTaran. Ellidyr tambm desmontou. Ele afastou Adaon para o lado e agarrou Taran por baixodos braos. Com um impulso violento, levantou Taran como se fosse um saco de batatas,trazendo-o de volta para a segurana da trilha. Encaminhando-se cuidadosamente paraonde estava Melynlas, Ellidyr ps o ombro debaixo da cilha da sela e com um imensoesforo fez presso para cima. Com toda sua fora, pouco a pouco, ele levantou Melynlasat o garanho conseguir alcanar a encosta e escal-la, saindo da salincia.

    Seu tolo! gritou Taran para Ellidyr, correndo para Melynlas e ansiosamenteexaminando o cavalo de batalha. Ser que seu orgulho expulsou todo o bom senso desua cabea? Melynlas, viu aliviado, estava ileso. A contragosto, ele olhou para Ellidyrcom espanto e no sem alguma admirao. Nunca vi tamanha faanha de fora admitiu Taran. Ellidyr, pela primeira vez, pareceu ficar confuso e assustado.

    Eu no tinha a inteno de fazer voc cair comeou a desculpar-se. Entoatirou a cabea para trs e, com um sorriso zombeteiro, acrescentou: Minhapreocupao por seu cavalo de batalha, no por sua pele.

    Eu tambm admiro sua fora, Ellidyr disse Adaon em tom spero. Mas vergonhoso que a tenha provado assim. O monstro cruel cavalga montado na mesma selaque voc. At agora, neste instante, posso v-lo.

    Um dos guerreiros de Morgant, ouvindo o clamor, tinha dado o alarme. Um momentodepois, Gwydion, seguido pelo Rei Morgant, aproximou-se a p pela trilha. Atrs delevinham correndo o agitado Fflewddur e o ano.

    Seu menino porcario no soube ser sensato e quis me ultrapassar, forando apassagem disse Ellidyr para Gwydion. Se eu no o tivesse resgatado de l com seucavalo de batalha...

    Taran, pronto para responder, cerrou os lbios com fora e assentiu. Percebeu aexpresso de surpresa no rosto zangado de Ellidyr.

    No temos vidas para desperdiar declarou Gwydion , contudo, voc arriscouduas. No posso abrir mo nem sequer de um nico homem, caso contrrio, mandariavoc de volta para Caer Dallben, neste instante. Mas eu o farei, se isto acontecer de novo.E, voc tambm, Ellidyr, ou qualquer outro desta companhia.

    O Rei Morgant se adiantou. Isto demonstra o que eu temia, Lorde Gwydion. Nosso caminho difcil, mesmo

    que ainda no estejamos com o fardo do caldeiro. Depois que nos apoderarmos dele,recomendo-lhe com insistncia que no volte para Caer Dallben. Seria mais aconselhvellevar o caldeiro para o norte, para o meu reino.

    Tambm sou de opinio prosseguiu Morgant que um bom grupo de meusguerreiros deveria ser despachado para guardar nossa retaguarda. Em troca disso, ofereoa estes trs disse ele, apontando para Taran, Adaon e Ellidyr um lugar entre meuscavaleiros quando eu atacar. Se interpreto corretamente a expresso no rosto deles, creio

  • prefeririam isso a esperar em reserva. Sim! exclamou Taran, apertando o punho da espada. Deixe-nos participar do

    ataque!Gwydion sacudiu a cabea. O plano ser executado como eu determinei. Agora tratem de montar depressa,

    pois ns j perdemos tempo demais.Os olhos do Rei Morgant faiscaram. Suas ordens sero cumpridas, Lorde Gwydion. O que aconteceu? sussurrou Fflewddur para Taran. No me diga que, de

    alguma forma, no foi culpa de Ellidyr. Ele um criador de casos, isso evidente paramim. No consigo imaginar em que Gwydion estava pensando quando decidiu traz-loconosco.

    A culpa foi to minha quanto dele respondeu Taran. No me comporteimelhor que ele. Deveria ter controlado minha lngua. Com Ellidyr ele acrescentou , istono fcil de fazer.

    Sei como suspirou o bardo, olhando de relance para sua harpa. Eu tenhouma dificuldade semelhante.

    Durante o dia seguinte inteiro o grupo prosseguiu com a maior cautela, pois revoadasde guidaintes, os temveis pssaros mensageiros de Arawn, agora podiam ser vistosrecortados em silhueta contra as nuvens. Pouco antes do crepsculo, a trilha conduziu auma descida em direo a um rio raso, cercado por vertentes cobertas de vegetaorasteira e pinheiros. Ali, Gwydion ordenou uma parada. Adiante erguiam-se os sinistrospenhascos do Porto Escuro, suas encostas gmeas fulgurando coloridas de carmesim luz do sol que morria.

    At ali, o grupo no havia se deparado com os Nascidos do Caldeiro. Taranconsiderava isso afortunado, mas Gwydion franziu o cenho, com inquietao.

    Tenho mais medo dos Nascidos do Caldeiro quando eles no podem ser vistos declarou Gwydion, depois de chamar os guerreiros para se reunirem ao seu redor. Quase acreditaria que eles desertaram de Annuvin. Mas Doli trouxe notcias que eugostaria de no ter que lhes dar.

    Ele me mandou ficar invisvel e correr adiante, foi isso o que ele fez resmungou Doli furibundo, em voz baixa, para Taran. Quando entrarmos em Annuvin,terei que faz-lo de novo. Hummm! Minhas orelhas j me parecem um enxame deabelhas!

    Estejam atentos, todos vocs prosseguiu Gwydion , os Caadores de Annuvinesto circulando por a.

    Eu enfrentei os Nascidos do Caldeiro exclamou Taran audaciosamente. Esses guerreiros no podem ser mais terrveis que eles.

    Voc acredita nisso? respondeu Gwydion com um sorriso sombrio. Pois paramim so to temveis quanto os outros. Eles so impiedosos como os Nascidos doCaldeiro, sua fora ainda maior. Circulam a p, mesmo assim so muito rpidos, dotadosde uma enorme resistncia. Fadiga, fome e sede no significam nada para eles.

    Os Nascidos do Caldeiro so imortais observou Taran. Se esses guerreiros

  • so homens mortais, podem ser mortos. Eles so mortais respondeu Gwydion , embora eu me recuse a cham-los de

    homens. So os mais vis dos guerreiros, homens que traram seus camaradas; assassinosque mataram pelo prazer de matar. Para satisfazer sua prpria crueldade, voluntariamenteescolheram o reino de Arawn e juraram fidelidade a ele com um juramento de sangue quenem mesmo eles podem renegar.

    Sim acrescentou Gwydion , eles podem ser mortos. Mas Arawn os forjou demodo a se tornarem uma fraternidade de matadores e deu-lhes um terrvel poder.Vagueiam em pequenos bandos e, entre os membros desses grupos, a morte de umhomem s aumenta a fora de todos os outros.

    Afastem-se deles advertiu Gwydion. No dem combate se for possvelevitar. Pois quanto mais deles matarem, mais os outros ganham fora. Ao mesmo tempoque o nmero deles se reduz, a fora deles aumenta.

    Agora vamos nos esconder ordenou ele e dormir. Nosso ataque tem que serhoje noite.

    Inquieto, Taran teve dificuldade para se obrigar a fechar os olhos. Quando o fez, foipara pegar num sono leve e intranqilo. Acordou sobressaltado, tateando para agarrar aespada. Adaon, j desperto, o advertiu com um sinal para que se mantivesse em silncio.A lua j estava alta, fria e fulgurante. Os guerreiros do squito do Rei Morgant moviam-secomo sombras. Houve um ligeiro tilintar de couraas, o sussurro de uma espada sendodesembainhada.

    Doli, tendo se tornado invisvel, havia partido rumo ao Porto Escuro. Taran encontrouo bardo prendendo sua amada harpa mais firmemente aos ombros.

    Duvido que realmente v precisar dela admitiu Fflewddur. Mas, por outrolado, nunca se sabe o que se precisar fazer. Um Fflam est sempre equipado!

    Ao lado dele, Coll havia acabado de enfiar um elmo cnico, bem ajustado. Ver o velhoguerreiro corajoso, e o capacete mal parecendo bastar para proteger-lhe a cabea careca,subitamente, encheu Taran de tristeza. Ele se abraou a Coll e desejou-lhe boa sorte.

    Bem, meu garoto disse Coll, piscando o olho para ele , no se preocupe.Estaremos de volta antes que voc perceba. Depois, seguiremos direto para Caer Dallben ea misso estar cumprida.

    O Rei Morgant, protegido por uma pesada capa negra que o cobria totalmente,deteve-se ao lado de Taran.

    Eu teria ficado honrado por contar com voc entre meus homens declarou. Gwydion falou-me um pouco a seu respeito e, pude observ-lo, pessoalmente. Sou umguerreiro e sei reconhecer quem tem tutano.

    Aquela era a primeira vez que Morgant lhe dirigia a palavra diretamente e Taranficou to confuso, tomado de surpresa e prazer, que no conseguiu nem sequer gaguejaruma resposta antes que o lder de guerra se afastasse caminhando a passadas largas paraseu cavalo.

    Taran avistou Gwydion montado em Melyngar e correu at ele. Deixe-me ir com o senhor suplicou novamente. Se fui bastante homem para participar do conselho e vir at aqui, sou bastante

  • homem para cavalgar com seus guerreiros. Voc ama tanto assim o perigo? perguntou Gwydion. Antes de se tornar um

    homem acrescentou ele com delicadeza , voc aprender a odi-lo. Sim, e tambm, atem-lo, da mesma forma que eu. Ele se inclinou e apertou a mo de Taran. Mantenha o corao valente. Sua coragem ser posta prova muitas vezes.

    Desapontado, Taran se afastou. Os cavaleiros desapareceram alm das rvores, e obosque pareceu vazio e desolado. Melynlas, atado entre os outros cavalos de batalha,relinchou queixosamente.

    Esta noite vai ser longa comentou Adaon, olhando atentamente para os cumesameaadores do Porto Escuro, logo alm das sombras. Voc, Taran, montar oprimeiro turno de guarda; Ellidyr o segundo, at a lua descer.

    De modo que assim ter mais tempo para sonhar comentou Ellidyr, com umagargalhada de escrnio.

    No vai encontrar briga com meus sonhos esta noite replicou Adaon comafabilidade , pois eu vou dividir o turno de guarda com ambos. Durma bem, Ellidyr acrescentou , ou, se no dormir, pelo menos mantenha-se calado.

    Raivosamente, Ellidyr se embrulhou na capa e se atirou no solo perto de Islimach. Aruana relinchou e baixou o pescoo, esfregando o focinho em seu dono.

    A noite estava fria. A geada havia comeado a reluzir na juna seca e uma nuvemrastejou encobrindo a lua. Adaon desembainhou a espada e aproximou-se da franja dasrvores. A luz branca refletia-se em seus olhos tornando-os fulgurantes como o brilho dasestrelas. Ele se manteve em silncio, de cabea erguida, alerta como um animal bravio dafloresta.

    Acha que eles j entraram em Annuvin? sussurrou Taran. Logo devem estar chegando l respondeu Adaon. Gostaria tanto que Gwydion tivesse me deixado ir com ele comentou Taran

    com uma certa amargura. Ou com Morgant. No deseje isso replicou Adaon rapidamente. O rosto dele tinha uma expresso

    preocupada. Por que no? perguntou Taran, surpreendido. Eu teria ficado orgulhoso de

    acompanhar Morgant. Depois de Gwydion, ele o maior senhor de guerra em Prydain. um homem valente e poderoso concordou Adaon , mas estou preocupado

    com ele. Em meu sonho, na noite antes de partirmos, guerreiros cavalgavam lentamenteem crculo ao redor dele, e a espada de Morgant estava quebrada e chorava sangue.

    Talvez isso no tenha nenhum significado sugeriu Taran, tanto para tranqilizarAdaon quanto a si mesmo. Sempre acontece... que seus sonhos sempre se realizam?

    Adaon sorriu. Existe verdade em todas as coisas, se voc souber compreend-las bem. Acabou no me contando o que sonhou a respeito dos outros comentou Taran.

    De Coll ou do bom e velho Doli... nem de si mesmo, j que estamos falando nisso.Adaon no respondeu, mas tornou a se virar e olhou na direo do Porto Escuro.Desembainhando a espada, Taran se encaminhou preocupado para a orla do arvoredo.

  • CAPTULO IV

    A Sombra do Porto Escuro

    A noite se passou lentamente e estava quase na hora do turno de guarda de Ellidyr, quandoTaran ouviu um farfalhar em meio aos arbustos. Ele levantou a cabea abruptamente. Osom parou. Ento ficou incerto de realmente t-lo ouvido. Prendeu a respirao e esperou,de espada em punho e tenso.

    Adaon, cujos ouvidos eram to aguados quanto seus olhos, tambm percebera orudo e, em um instante, estava ao lado de Taran.

    Houve, pareceu a Taran, uma centelha de luz. Um galho se partiu com um estalo alipor perto. Com um grito, Taran girou a espada para o alto e saltou naquela direo. Derepente, um raio de luz dourada ofuscou seus olhos e um grito estridente de indignaogolpeou-lhe os ouvidos.

    Baixe esta espada! exclamou Eilonwy. Toda vez que vejo voc, estsacudindo esta espada por a ou apontando-a para algum.

    Taran recuou pasmo de espanto. No instante em que o fez, um vulto escuro puloupassando por Ellidyr, que se levantou de um salto, de espada desembainhada e assobiandono ar.

    Socorro! Socorro! uivou Gurgi. Lorde raivoso vai machucar a pobre cabeamimosa de Gurgi com espadadas e cutiladas! Ele fugiu subindo rapidamente at quase ametade de um pinheiro, e da segurana de seu poleiro sacudiu o punho cerrado para oespantadssimo Ellidyr.

    Taran puxou Eilonwy para o abrigo do arvoredo. Seus cabelos estavam desgrenhados,a bata rasgada e manchada de lama.

    Mas o que voc fez? exclamou ele. Quer que todos ns sejamos mortos?Apague essa luz! Ele tomou-lhe a esfera luminosa e a revirou em vo.

    Ah, voc nunca vai aprender como usar minha bola comentou Eilonwy comimpacincia. Ela tomou de volta a bola dourada, segurou-a entre as mos em concha, e aluz desapareceu.

    Adaon, reconhecendo a garota, ansiosamente ps a mo sobre o ombro dela. Princesa, Princesa, no deveria ter-nos seguido. claro que ela no deveria concordou Taran furioso. Ela tem que voltar

    imediatamente. uma tola, descuidada... Ela uma intrusa e uma indesejada aqui declarou Ellidyr, aproximando-se deles.

    Ele virou-se para Adaon. Pelo menos desta vez o menino porcario demonstra bomsenso. Mande esta tolinha de volta para suas panelas.

    Taran girou nos calcanhares. Controle a sua lngua! Eu engoli seus insultos contra mim pelo bem de nossa

  • misso, mas no admito que ofenda outra pessoa.A espada de Ellidyr ergueu-se de um salto. Taran levantou a sua. Adaon colocou-se

    entre eles e estendeu as mos espalmadas. Basta, basta ordenou. Esto assim to ansiosos para derramar sangue? E devo eu ouvir reprovaes de um menino porcario? retrucou Ellidyr. Devo

    deixar que uma criada de copa me custe a cabea? Criada de copa! berrou Eilonwy. Ora, pois bem, posso lhe dizer...Enquanto isso, Gurgi havia descido cautelosamente da rvore e se deixado cair de

    modo a ficar de p atrs de Taran. E isto! Ellidyr gargalhou amargamente, gesticulando para Gurgi. Esta... coisa!

    Ser isto o monstro negro cruel que tanto o preocupou, sonhador? No, Ellidyr, no murmurou Adaon, quase com tristeza. Este Gurgi, o guerreiro! exclamou Gurgi, ousadamente, por cima do ombro de

    Taran. Sim, sim! O esperto e valente Gurgi, que a seu senhor vem se juntar para nodeixar que sofra feridas doloridas!

    Fique calado ordenou Taran. J causou bastante problema. Como conseguiram nos alcanar? perguntou Adaon. Vocs esto a p. Bem, na verdade, no respondeu Eilonwy , pelo menos, no viemos a p o

    caminho todo. Os cavalos s fugiram ainda h pouquinho. Qu? exclamou Taran. Vocs tiraram cavalos de Caer Dallben e os

    perderam? Voc sabe perfeitamente bem que so nossos prprios cavalos declarou

    Eilonwy , os cavalos que Gwydion nos deu no ano passado. E no os perdemos. Foi maiscomo se eles tivessem nos perdido. Ns s paramos para deix-los beber gua e ostolinhos saram galopando. Estavam assustados, suponho. Acho que no estavam gostandode estar to perto de Annuvin, embora deva lhe dizer, sinceramente, que no me incomodanem um pouco.

    De qualquer maneira concluiu ela , voc no precisa se preocupar com eles. Altima coisa que vimos, foi que estavam rumando direto para Caer Dallben.

    E voc far o mesmo disse Taran. E eu no farei! gritou Eilonwy. Pensei a respeito disso por muito tempo,

    depois de vocs partirem, todo o tempo que levaram para atravessar os campos. E tomeiminha deciso. No importa o que todo mundo diga, justia justia. Se voc pode terpermisso para participar numa misso, eu tambm posso. E isso e pronto, muitosimples.

    E foi Gurgi, o sabido, quem encontrou o caminho! acrescentou Gurgi todoorgulhoso. Sim, sim, com fungadas e farejadas! Gurgi no deixa a doce Princesa partirsozinha, aah, no! E amigos, o leal Gurgi no deixa ficar para trs acrescentou em tomde censura para Taran.

    J que vieram to longe disse Adaon , podem esperar Gwydion. Embora amaneira como ele vai lidar com um par de fujes como vocs possa no lhes agradarnada. Sua jornada acrescentou, sorrindo para a princesa imunda parece ter sido maisdifcil que a nossa. Agora, descansem e comam.

  • Sim, sim! exclamou Gurgi. Lambiscos e petiscos para o valente e famintoGurgi!

    muito gentil e atencioso de sua parte respondeu Eilonwy, com um olhar deadmirao para Adaon. Muito mais do que se pode esperar de um certo Porqueiro-Assistente.

    Adaon foi at o estoque de provises, enquanto Ellidyr se afastava a passadas largaspara seu posto de guarda. Taran sentou-se cansadamente num pedregulho, a espadaatravessada sobre os joelhos.

    No que estejamos passando fome observou Eilonwy. Gurgi se lembrou detrazer a mochila de comida. Sim, e esta tambm foi um presente de Gwydion, de modoque ele tinha todo o direito de traz-la. Sem sombra de dvida uma mochila mgica prosseguiu ela, parece nunca se esvaziar. A comida realmente muito nutritiva, tenhocerteza, e maravilhosa de comer quando se precisa. Mas a verdade , para falarfrancamente, que completamente insossa. Este quase sempre o problema com coisasmgicas. Elas nunca so exatamente o que se espera que sejam.

    Voc est zangado, no est? continuou Eilonwy. Eu sempre percebo. Vocfica com uma cara que como se tivesse engolido uma vespa.

    Se voc tivesse parado para pensar nos perigos respondeu Taran , em vez desair s carreiras sem saber o que estava fazendo.

    E o que voc pensa que para achar que pode falar a respeito disso, Taran, deCaer Dallben? retrucou Eilonwy. Alm disso, no acredito que esteja assim tozangado como quer parecer, no depois do que disse para Ellidyr. Foi maravilhosa amaneira como imediatamente partiu para cima dele, pronto para lutar por minha causa.No que precisasse fazer isso. Eu poderia ter cuidado muito bem dele sozinha. E no estouquerendo dizer que no seja gentil e atencioso, na verdade, voc realmente . s quenem sempre se lembra de ser. Para um Porqueiro-Assistente, voc se sai espantosamentebem...

    Antes que Eilonwy pudesse concluir, Ellidyr deu um grito de advertncia. Subitamenteum cavalo e um cavaleiro irromperam em meio ao arvoredo. Era Fflewddur. Atrs delegalopava o pnei de plo longo de Doli.

    Ofegante e com os cabelos amarelos espetados em todas as direes, o bardodesmontou apressadamente do cavalo de batalha e correu para Adaon.

    Aprontem-se para partir! exclamou ele. Levem as armas. Ponham os cavalosde carga em marcha. Vamos para Caer Cadarn... Ele avistou Eilonwy. Grande Belin! Oque voc est fazendo aqui?

    Estou cansada de ouvir esta pergunta respondeu Eilonwy. O caldeiro! exclamou Taran. Vocs o apanharam? Onde esto os outros?

    Onde est Doli? Aqui, onde mais estaria? retrucou asperamente uma voz. Um instante depois

    Doli tremeluziu diante dos olhos deles, montado no que parecera ser uma sela vazia. Elesaltou pesadamente para o cho. Nem parei para me tornar visvel de novo. Eleapertou a cabea entre as mos. Ai, meus ouvidos!

    Gwydion deu ordens para que nos retiremos imediatamente prosseguiu o bardo

  • com grande agitao. Ele e Coll esto com Morgant. Eles nos alcanaro se puderem. Seno, todos ns nos reuniremos em Caer Cadarn.

    Enquanto Ellidyr e Adaon apressadamente desamarravam os animais, Taran e o bardocarregavam e atavam os fardos de armas.

    Fique com estes ordenou Fflewddur, pondo um arco e uma aljava de flechasnas mos de Eilonwy. E vocs, armem-se bem.

    O que aconteceu? perguntou Taran temeroso. O plano falhou? O plano? perguntou Fflewddur. O plano funcionou perfeitamente. No poderia

    ter sido melhor. Morgant e seus homens cavalgaram conosco at o Porto Escuro... ah,aquele Morgant! Que guerreiro! Parece no ter nervos. de uma frieza impressionante.Voc poderia ter imaginado que ele estava indo para um banquete. O bardo sacudiu acabea de cabelos espetados. E, l estvamos ns, bem na soleira da porta de Annuvin!Ah, vocs ouviro canes relatando isso, podem escrever o que estou dizendo.

    Pare com esse falatrio ordenou Doli, apressando-se com os cavalos de cargaagitados. Sim, o plano era bom exclamou furibundo. Teria sido perfeito, to fcilquanto passar manteiga no po. S houve uma coisa errada. Perdemos nosso tempo earriscamos o pescoo por nada!

    Ser que um dos dois poderia falar claramente? explodiu Eilonwy. No estouinteressada em canes nem em manteiga! Contem-nos logo de uma vez! Onde est ocaldeiro?

    Eu no sei respondeu o bardo. Ningum sabe. Vocs no perderam o caldeiro! exclamou Eilonwy com um pequeno soluo,

    espalmando a mo sobre a boca. No! Ah, mas que bando de idiotas! Grandes heris!Eu sabia que deveria ter ido com vocs desde o princpio.

    Doli parecia a ponto de explodir. As orelhas dele tremiam; ergueu-se nas pontas dosps, de punhos cerrados.

    Mas ser que voc no compreende? O caldeiro desapareceu! Sumiu! No estaval!

    Isto no possvel! exclamou Taran. No me diga que no possvel retrucou Doli com aspereza. Eu estava l.

    Sei o que vi. Sei o que ouvi. Eu entrei primeiro, exatamente como Gwydion ordenou.Encontrei o Saguo dos Guerreiros. Absolutamente sem nenhuma dificuldade. Na verdade,no havia guardas. Ah-ah!, pensei com meus botes, isso vai ser mais fcil que assobiar.Entrei quieto e despercebido, poderia t-lo feito bem vista, em plena luz do dia. E porqu? Porque no havia nada a guardar! A plataforma estava vazia!

    Arawn mudou o caldeiro de lugar interrompeu Taran. H um novoesconderijo; ele o trancou em algum outro lugar.

    Voc no acha que eu tenho a inteligncia com que nasci? retrucou Doli. Esta foi a primeira coisa que me veio cabea. De modo que sa para procurarnovamente, teria dado uma busca at nos aposentos do prprio Arawn se tivesseprecisado. Mas no tinha dado nem seis passos quando esbarrei num par de guardas deArawn. Ou melhor, eles esbarraram em mim, os imbecis grosseires resmungou Doli,esfregando um olho arroxeado. Eu os segui durante algum tempo. A essa altura, j tinha

  • ouvido o bastante.Deve ter acontecido alguns dias atrs. Como ou quem, no sei dizer. Nem Arawn

    sabe. Podem imaginar como est furioso! Mas, quem quer que tenham sido, eles chegaraml antes de ns. E fizeram bem seu trabalho. O caldeiro desapareceu de Annuvin!

    Mas isto maravilhoso! exclamou Eilonwy. Nossa tarefa est cumprida eno nos custou nada alm de uma jornada.

    Nossa tarefa est longe de estar cumprida declarou a voz grave de Adaon. Elehavia acabado de pr os fardos num dos cavalos de carga e viera se postar ao lado deTaran. Ellidyr tambm estivera ouvindo atentamente.

    Perdemos a glria de lutar por ele disse Taran. Mas a coisa importante que Arawn no est mais com o caldeiro.

    No assim to fcil advertiu Adaon. Isso uma derrota dolorosa paraArawn; ele far tudo que estiver ao seu alcance para recuperar o caldeiro. Mas isto no tudo. O caldeiro perigoso por si s, mesmo fora do alcance de Arawn. E se tiver cadoem outras mos igualmente perversas?

    Exatamente as palavras do prprio Gwydion concordou Fflewddur. De algumamaneira, a coisa tem de ser encontrada e destruda sem demora. Gwydion planejar umaoutra expedio de busca de Caer Cadarn. Parece que nosso trabalho apenas comeou.

    Montem seus cavalos de batalha ordenou Adaon. No podemos sobrecarregar nossos animais de carga; a Princesa Eilonwy e Gurgi

    montaro na garupa de nossos cavalos. Islimach s aceita ser montada por mim disse Ellidyr. Ela foi treinada para isso desde que era uma potrinha. Isso seria de se esperar, sendo seu cavalo de batalha comentou Taran.

    Eilonwy montar comigo. E eu levarei Gurgi comigo na garupa de Lluagor disse Adaon. Agora, vamos

    andando, depressa.Taran correu para Melynlas, com um salto montou nele e puxou Eilonwy para sua

    garupa. Doli e os outros apressaram-se para montar. Mas, no instante em que o faziam,gritos ferozes irromperam ao redor deles e houve um sbito zunido de flechas.

  • CAPTULO V

    Os Caadores de Annuvin

    Os cavalos de carga relincharam de terror. Melynlas empinou, enquanto as flechaschocalhavam entre os galhos das rvores. Fflewddur, de espada em punho, girou suamontaria e investiu contra os atacantes.

    A voz de Adaon ressoou acima do rudo contnuo. So os Caadores! Batam-se spara repeli-los, evitem-nos!

    Inicialmente, Taran teve a impresso de que as sombras tinham adquirido vida.Disformes, elas arremeteram contra ele, tentando arranc-lo da sela. Taran brandiu aespada cegamente. Melynlas escoiceou furiosamente, tentando se libertar do assdio dosguerreiros.

    O cu havia comeado a clarear em nesgas escarlates. O sol, nascendo sombreadopelos pinheiros negros e rvores sem folhas, encheu o bosque com uma luz sinistra.

    Taran agora podia ver que os atacantes eram em torno de uma dzia. Vestiamgibes e perneiras feitos de peles de animais. Traziam longos faces enfiados nos cintose, do pescoo de um dos guerreiros pendia uma trompa curva de caa. Enquanto oshomens redemoinhavam ao seu redor, Taran prendeu a respirao horrorizado. Cada umdos Caadores tinha uma marca de fogo carmesim na testa. A viso daquilo encheu Tarande pavor, pois sabia que o smbolo devia ser uma marca de poder de Arawn. Ele lutoucontra o medo que gelava seu corao e consumia-lhe as foras.

    As suas costas, Taran ouvi Eilonwy gritar. Ento foi agarrado pelo cinto e arrastadopara fora da sela de Melynlas. Um Caador caiu e rolou com ele pelo cho. Bem seguropelo homem, Taran no conseguia usar a espada. O Caador levantou-se abruptamente eenfiou um joelho contra o peito de Taran. Os olhos do guerreiro faiscaram; ele arreganhouos dentes num sorriso horrendo, enquanto levantava um punhal.

    A voz do Caador congelou em meio a um grito de triunfo e, de repente, ele tomboupara trs. Ellidyr, vendo a situao desesperada de Taran, havia descido a espada numgolpe poderoso. Empurrando o corpo sem vida para o lado, ele puxou Taran, pondo-o de p.

    Por um instante os olhos deles se encontraram. O rosto de Ellidyr, sob umemaranhado de cabelos amarelos tostados, manchados de sangue, tinha uma expresso deescrnio e orgulho. Ele parecia a ponto de falar, porm, sem dizer uma palavra, virou-serapidamente e correu de volta para o combate.

    No arvoredo houve um momento repentino de silncio. Ento um longo suspiro sepropagou como a ondulao de um tremor entre os guerreiros, como se cada homemtivesse tomado flego. O corao de Taran se contraiu, enquanto se recordava daadvertncia de Gwydion. Com um rugido, os Caadores retomaram o ataque com umaferocidade ainda maior, arremessando-se, em um mpeto de fria, contra os companheiros

  • que resistiam com dificuldade.Montada na garupa de Melynlas, Eilonwy encaixou uma flecha na corda de seu arco.

    Taran correu para junto dela. No os mate! gritou. Defenda-se, mas no os mate!Justo nesse instante, um vulto peludo e folhudo irrompeu dos arbustos. Gurgi havia

    agarrado uma espada quase to grande quanto ele. Com os olhos fechados bem apertados,ele bateu os ps, gritou e brandiu a espada ao seu redor como se fosse uma segadeira.Furioso como um vespo, correu para trs e para a frente entre os Caadores, pulandopara cima e para baixo, a espada sempre em movimento.

    Enquanto os guerreiros saltavam para os lados, Taran viu um deles agarrar-se ao are sair voando de cabea para baixo. Um outro Caador dobrou-se para a frente e caiu,esmurrado por punhos invisveis. Ele rolou pelo solo, numa tentativa de escapar aos golpes,mas, to logo conseguiu se levantar, um guerreiro gritando e se debatendo foiarremessado contra ele. Os Caadores golpearam com suas armas, s para t-lasarrancadas de suas mos e atiradas longe, nas moitas de arbustos. Diante dessa carga,eles recuaram assustados.

    Doli! exclamou Taran. Doli!Adaon aproveitou este momento para avanar rapidamente. Ele agarrou Gurgi e o

    puxou para cima da garupa de Lluagor. Sigam-me! gritou Adaon. Ele fez girar sua montaria e saiu em disparada

    deixando para trs os guerreiros atordoados.Taran saltou para o dorso de Melynlas. Com Eilonwy agarrada a seu cinto, debruou-

    se bem sobre a crina prateada do cavalo. As flechas passavam voando por ele, enquantoMelynlas avanava a toda a velocidade. Ento o garanho deixou para trs o arvoredo edisparou por terreno aberto.

    Com as orelhas coladas cabea, Melynlas galopou ultrapassando uma fileira dervores. Folhas secas voaram em redemoinhos sob o bater violento dos cascos, enquantoo garanho seguia a toda a velocidade para a crista marrom de um morro. Por ummomento Taran arriscou lanar um olhar rpido para trs. Mais abaixo, um grupo deCaadores tinha se separado do bando e com largas passadas seguia a trilha doscompanheiros que fugiam. Eram rpidos, exatamente como Gwydion advertira. Com seusgibes de peles eriadas, mais pareciam animais selvagens que homens, medida que seespalhavam em um arco largo pela encosta, Enquanto corriam, chamavam uns aos outrosaos berros, com um estranho grito, sem palavras, que ressoava quase como se viesse dospenhascos ameaadores do prprio Porto Escuro.

    Gelado de pavor, Taran incitou Melynlas a acelerar mais. Chumaos de relva subiramalto entre os troncos de rvores cadas e galhos mirrados. Mais adiante, Lluagor galopavadescendo pelo declive de uma margem.

    Adaon os conduzira a um leito de rio. Havia gua escura em algumas poas rasas,mas a maior parte do rio estava seca, e as ribanceiras de argila nas margens erguiam-secom altura suficiente para oferecer esconderijo. Adaon refreou Lluagor e lanou um olharrpido para trs, para se assegurar de que todos o haviam seguido, ento fez sinal paraque os companheiros avanassem. Eles partiram em marcha rpida. O leito do rio fazia

  • meandros, em meio a altos pinheiros e olmos dilapidados, mas, pouco tempo depois, obarranco das margens se aplainou e uma floresta de vegetao esparsa tornou-se a nicacobertura de que dispunham.

    Embora Melynlas no tivesse reduzido a velocidade, Taran viu que a marcha estavacomeando a se fazer sentir nos outros cavalos. O prprio Taran estava louco por umdescanso. O pnei de plo longo, de Doli, avanava com dificuldade em meio s rvores; obardo havia exigido tanto de sua montaria que a deixara espumando. O rosto de Ellidyrestava plido mortalmente e ele sangrava muito de um ferimento na testa.

    At onde Taran podia dizer, eles no haviam parado de avanar para oeste e, emboraseus picos no pudessem mais ser vistos, o Porto Escuro ficara a alguma distncia paratrs. Taran havia esperado que Adaon pudesse ter retomado o caminho que haviam usadoantes, com Gwydion, mas agora sabia que estavam longe dele e seguindo para mais longeainda.

    Adaon os conduziu para uma moita fechada e fez sinal para que desmontassem. No podemos nos arriscar a ficar aqui por muito tempo advertiu ele.

    Existem poucos esconderijos que os Caadores de Arawn no possam descobrir. Ento vamos ficar aqui, resistir e enfrent-los! exclamou o bardo. Um Fflam

    nunca recua! Sim, sim! Gurgi vai enfrent-los tambm! concordou Gurgi, embora ele mal

    parecesse conseguir levantar a cabea. S vamos enfrent-los se formos obrigados disse Adaon. Eles agora esto

    mais fortes que antes e no vo se cansar com a mesma rapidez que ns. Deveramos oferecer resistncia agora exclamou Ellidyr. esta a honra que

    ganhamos por seguir Gwydion? Permitir que eles sigam nossos rastros e nos persigamcomo se fssemos animais? Ou ser que tem medo demais deles?

    No tenho medo deles retrucou Taran , mas no desonra evitar dar-lhescombate. Isto o que o prprio Gwydion ordenaria.

    Eilonwy, embora exausta e desgrenhada, no perdera o uso da lngua afiada. Aah! Calem-se, vocs dois! ordenou. Ficam se preocupando tanto com honra

    quando seria muito melhor se estivessem pensando numa maneira de voltar para CaerCadam,

    Taran, que estivera agachado, encostado numa rvore, levantou a cabea queestivera descansando nas mos. De longe veio um grito longo, tremulante. Uma outra vozrespondeu, depois outra,

    Eles esto desistindo da caada? perguntou Taran. Conseguimos deix-lospara trs?

    Adaon sacudiu a cabea. Duvido muito. Eles no nos perseguiriam at to longe s para nos deixar escapar.

    Adaon saltou rapidamente na garupa de Lluagor. Temos que cavalgar atencontrarmos um lugar mais seguro para descansar. No teramos muita esperana sedeixssemos que nos alcanassem agora.

    Enquanto Ellidyr encaminhava-se para a cansada Islimach, Taran o segurou pelobrao.

  • Combateu bem, Filho de Pen-Llarcau disse em voz baixa. Creio que lhe devoa vida.

    Ellidyr se virou para ele com o mesmo olhar de desprezo que Taran vira no arvoredo. uma pequena dvida respondeu. D mais valor a ela do que eu.Eles partiram novamente, penetrando mais profundamente na floresta, to rpido

    quanto suas foras permitiam. O dia tornara-se opressivo, carregado de umidade efriagem. O sol estava fraco, envolto por nuvens cinzentas, esfiapadas.

    O progresso deles tornou-se mais lento no emaranhado da vegetao rasteira e asfolhas molhadas faziam atolar os cavalos que avanavam com dificuldade. Doli, queestivera debruado sobre sua sela, endireitou-se abruptamente. Olhou ao redor com grandeateno. O que ele viu, fosse l o que fosse, fez com que ficasse estranhamente radiante.

    H gente do Povo Formoso por aqui declarou, quando Taran cavalgou at juntodele.

    Tem certeza? perguntou Taran. Como voc sabe?Embora procurasse atentamente, no podia ver nenhuma diferena entre aquele

    trecho de floresta e o outro por onde haviam acabado de passar. Como eu sei? Como eu sei? retrucou Doli rispidamente. Como voc sabe

    como deve engolir seu jantar?Ele bateu os calcanhares nos flancos do pnei e, rapidamente, seguiu adiante,

    ultrapassando Adaon, que parou surpreendido. Doli desmontou e, depois de examinar vriasrvores, correu rapidamente para as runas de um enorme carvalho oco. Enfiou a cabeadentro do buraco e comeou a gritar o mais alto que podia.

    Taran desmontou tambm. Com Eilonwy seguindo em seus calcanhares, ele correuat a rvore, temeroso de que a fadiga e a tenso do dia tivessem finalmente levado oano ao desatino.

    Ridculo! resmungou Doli, tirando a cabea do buraco da rvore. No possoestar assim to enganado!

    Ele curvou-se, baixou a cabea, observou bem de perto o solo nas vizinhanas e fezclculos incompreensveis usando os dedos.

    Tem que ser! exclamou. O Rei Eiddileg no permitiria que as coisasdeixassem de funcionar e se deteriorassem a este ponto.

    Com essas palavras, deu uma poro de chutes furiosos nas razes das rvores.Taran tinha certeza de que o ano furibundo teria trepado e entrado no prprio buraco notronco da rvore se este tivesse sido maior.

    Vou dar queixa disso berrou Doli , sim, a Eiddileg, pessoalmente! Isto semprecedentes! Impossvel!

    No sei o que voc est fazendo disse Eilonwy, passando rapidamente bemperto do ano e se aproximando do carvalho , mas se nos contar o que poderamosajud-lo.

    Como o ano havia feito, Eilonwy enfiou a cabea no buraco oco do tronco e oexaminou.

    No sei quem est a embaixo gritou , mas ns estamos aqui em cima e Doliquer falar com vocs. Pelo menos poderiam responder! Esto me ouvindo?

  • Eilonwy deu as costas para o tronco e sacudiu a cabea. Eles so mal-educados, sejam l quem forem. Isto pior que algum fechar os

    olhos para no deixar que voc possa v-los!Uma voz fraca, mas muito clara, se elevou da rvore. Vo embora disse.

  • CAPTULO VI

    Gwystyl

    Doli apressadamente empurrou Eilonwy para o lado e tornou a enfiar a cabea no tronco dervore. Comeou a gritar novamente, mas a madeira morta abafava o som a tal ponto queTaran no conseguiu ouvir nada da conversa, que consistiu principalmente em longos efuriosos discursos do ano, seguidos por b