7/24/2019 O Campo Religioso Ser Ainda Hoje o Campo Das Religies

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"O campo religioso ser ainda hoje o campo das religies?". Entrevista com Pierre

Sanchis

IHU On-ine - Uma !est#o !e tem saltado aos olhos $ a da din%mica

!e tem perpassado o campo das religies no &rasil nas 'ltimas d$cadas.

O senhor poderia (alar para n)s dos movimentos mais vis*veis dessa

din%mica?

Pierre Sanchis- A sua pergunta, como que sem querer, aponta para o que me

parece o problema essencial que atravessa o campo religioso brasileiro

contemporneo. Voc fala, sem mais, do campo das religies. Mas pode

assim querer tratar de religio no singular, uma dimenso da vida social,

muito presente em toda a !ist"ria da sociedade brasileira, ou das institui#esreligiosas, no plural, que cristali$am, na concretude do social, esta dimenso.

%ur&!eim '( distinguia a e)perincia do *agrado, e a religio, que organi$a

socialmente esta e)perincia. A atual verso desta distin#o seria entre

religio e religies institucionais. Aconteceu-me perguntar, num t+tulo de

artigo campo religioso ser( ainda !o'e o campo das religies. /alve$ a+

este'a o movimento mais vis+vel da dinmica religiosa contempornea.

0arado)almente, 'unto com uma tendncia de enfraquecimento e privati$a#o

da religio, alarga-se, e torna-se mais p1blico, o mbito do que se poderia

c!amar certa e)perincia religiosa, mas esta e)perincia vai se tornando

independente das institui#es que, at2 agora, costumavam enquadr(-la. 3sso

no quer di$er que estas institui#es tendam a desaparecer. *em d1vida, pelo

menos algumas delas se enfraquecem4 mas outras 5 ou as mesmas em outros

momentos 5 podem eventualmente se afirmar e fortalecer. que muda, de

modo geral, 2 a rela#o do fiel com a sua institui#o de referncia. 6esta

rela#o, 2 o p"lo do indiv+duo, da sub'etividade at2, da e)perincia pessoal,

que passa a assumir a prima$ia.

IHU On-Line- O de+ate so+re plralismo religioso tem mo+ili,ado os

pes!isadores. O senhor poderia (a,er algns comentrios so+re essa

!est#o?

Pierre Sanchis -7ma questo em parte correlativa 8 min!a resposta anterior.

indiv+duo sente-se mais aut9nomo no comando do seu universo religioso

pessoal na medida em que as ofertas institucionais que o assediam so mais

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variadas. :om facilidade at2 ele poder( compor-se uma identidade plural ou,

se de referncia 1nica, mais relativa e modulada conforme as iniciativas de

suas intui#es, de seus dese'os, de seus sentimentos, emo#es e

e)perincias. 3sso, por um lado, e em certos espa#os sociais. 0or outro lado, a

dimenso do absoluto continua sendo um marcador no campo da religio, e o

encontro generali$ado de religies que con!ece o mundo contemporneo

significa o encontro de absolutos diversos. ;uer di$er, com frequncia, o

confronto de v(rios absolutos. conflito. *abemos o risco que isto significa

em termos de conc"rdia familiar e c+vica, em termos de pa$ mundial. *e !ouver

no mundo de aman!

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dos catolicismos acompan!ou-se logo de uma refle)o te"rica, que me

impun!a con'ugar esta multiplicidade com um esquema de princ+pio unit(rio.

0ensei encontrar, na procura de uma estrutura, o 'eito de combinar 5 sempre

!euristicamente, mas com um proveito real de compreenso - o princ+pio

unit(rio de um catolicismo permanentemente recon!ec+vel com a

multiplicidade de suas reali$a#es !ist"ricas. >stas, resultado das sucessivas e

concomitantes inser#es deste princ+pio em situa#es sociais, econ9micas,

pol+ticas, civili$acionais, enfim religiosas, as mais diversas. 0ara di$-lo numa

palavra, a dimenso de catolicismo, no interior mesmo do cristianismo,

parece-me a constante tentativa 5 a um s" tempo promissora e frustrada 5 de

e)pressar uma ?2

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quotidianas, enfim certa porosidade das identidades que favorece um clima que

poderia c!amar-se, a condi#o de bem definir o termo, de sincr2tico. B pelo

menos com uma c!ave deste tipo que tento analisar a rela#o de cultura e

religio na atual sociedade brasileira.

IHU On-Line- 1oc podia tra3ar para n)s sa trajet)ria pessoal at$ a

antropologia da religi#o?

Pierre Sanchis -%esde a min!a primeira c!egada ao rasil tin!a sido

impressionado pelo tipo de rela#o entre uma cultura, que me parecia de

grande rique$a e originalidade e a e)presso religiosa que, sem tentar l!e

corresponder, era sobretudo reafirmativa de dimenses universais. A

e)perincia da 4issa do 4orro, em *alvador, mais tarde um trabal!o no

:entro de ?orma#o 3ntercultural de 0etr"polis, inspirado nas id2ias de Ivan

Illiche que tentava aculturar ao rasil os volunt(rios, em grande parte

mission(rios, que l!e c!egavam do mundo inteiro, parecerem-me confirmar a

urgncia do estudo desta rela#o dif+cil e delicada entre cultura e religio. B

para ela 5 sem e)clusividade 5 que me voltei quando entrei e)plicitamente na

perspectiva antropol"gica. 7m dos meus trabal!os de Mestrado foi

precisamente sobre a Missa do Morro, a min!a pesquisa de doutorado se deu

em 0ortugal, 8 procura do sentido das ?estas de *antos e das @omarias.

;uando voltei ao rasil, 2 a rivalidade do estamento militar com o estamento

eclesi(stico em torno da gerncia do rasil-0(tria que me pareceu

importante estudar naquela !ora. >nfim, rai$es culturais, tanto afro quanto

portuguesas, bem como embates pol+tico-religiosos atuais, era do rasil e

especialmente do rasil cat"lico que se tratava. %e um modo ou de outro,

continuou assim.IHU On-Line- 2omo voc avalia a sita3#o atal das cincias sociais da

religi#o no &rasil?

Pierre Sanchis -3magino que se possa resumir assim a tra'et"ria recente das

cincias sociais da religio no rasil7m primeiro momento bastante ocupado

por um estudo cl(ssico de sociografia religiosa, em perspectivas ligadas 8s

grandes religies tradicionais, especialmente o catolicismo. C( ento pelo

menos uma obra

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grande problema se generali$ava no cerne mesmo da institui#o oficial

cat"lica, que continuava sendo o centro das aten#es, inscrevia-se a e)istncia

de um

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esses tra#os encontram abrigo e legitima#o. Eembremos das apari#es

mariais e do Movimento :arism(tico na 3gre'a :at"lica, do sufismo no 3sl

brasileiro, do fasc+nio e)ercido pelo budismo ou pela medita#o transcendental,

etc. 0arece que est( sendo procurado um acerto de novo tipo entre a

autonomia

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de uma religio com algumas e)presses culturais dos povos que a recebem,

mas um encontro reformulador de mo dupla entre o ei)o fundamental de uma

religio e o cerne de uma cultura. 3magino que tal f"rmula no esconde nada

dos problemas agudos que ela encerra... > que o e)emplo concreto da Missa

do Morro, situado em perspectiva, por e)emplo, e para citar s" um, com o dos

Agentes de 0astoral 6egros, evidencia o papel da !ist"ria, que teima em

reapresentar ao trabal!o de an(lise problemas aparentemente permanentes,

mas em nova roupagem , com comple)idade crescente, atores rec2m-

afirmados e repercusso mais densa na espessura da vida social.