O Candeeiro 2ª edição

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Pressionado pelas dificuldades encontradas no Semiárido pernambucano, João Rodrigues, em 1974, partiu para São Paulo em busca de realizar o sonho de melhorar as condições de vida. Para ele, as principais barreiras enfrentadas como educação, trabalho e água foram determinantes para alçar voo do seu lar, em João Alfredo, para aquela cidade que nunca havia nem visitado. Ao chegar à terras paulistanas, o agricultor trocou as ferramentas do campo pelas da construção civil, além de ter trabalhado no setor metalúrgico e também como vigia noturno. Mas seu João não foi o único. Sua esposa, dona Josefa Margarida da Silva, o acompanhou na viagem. Após 10 anos vivendo por lá, João soube pelo então sogro que havia um terreno à venda na sua terra natal e de imediato ele retornou com a esposa. Mas eles não voltaram sozinhos, trouxeram também uma companhia: a filha de 10 meses chamada Paula Rodrigues da Silva. Mesmo sendo proprietário da sua terra, isso não foi suficiente para convencer João a permanecer em Pernambuco, pois alguns problemas ainda persistiam e isso o fez retornar a São Paulo. Para o agricultor, essas idas e vindas se justificavam também pelos períodos de estiagem que sua região enfrentava. “Quando estava na cidade grande ou até mesmo em minha terra, era difícil prever a chuva. A seca às vezes castigava por muito tempo”, relembra. Nesse momento, quando João viajou pela segunda vez, a sua família tinha crescido. Desta vez, ele já não contava somente com a companhia de dona Josefa e da filha, a família se completava com a chegada de Lucas Rodrigues da Silva, filho que o casal adotou no momento em que João partia novamente para São Paulo. “A saudade da família foi grande e não aguentei passar muito tempo distante dela e voltei de uma vez para Pernambuco”, comenta o agricultor. Decidido a educar seus filhos e proporcionar uma vida diferente da que tinha quando jovem, João fez um concurso público para trabalhar como agente de limpeza na prefeitura de João Alfredo, em 1997. Sem muitas esperanças o agricultor foi surpreendido pelo resultado positivo. Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1238 Dezembro/2013 Com melhores condições para produzir, João permanece no Semiárido junto à família João Alfredo Cisterna enxurrada armazena 52 mil litros Ampliação de criação de aves é plano para 2014 Gado complementa renda de João e sua família

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Com melhores condições para produzir, o agricultor João permanece no campo junto à família. Essa é a história de um agricultor que vive no Semiárido de Pernambuco, no município de João Alfredo. João superou várias dificuldades e hoje vive bem com a família.

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Page 1: O Candeeiro 2ª edição

Pressionado pelas dificuldades encontradas no Semiárido pernambucano, João Rodrigues, em 1974, partiu para São Paulo em busca de realizar o sonho de melhorar as condições de vida. Para ele, as principais barreiras enfrentadas como educação, trabalho e água foram determinantes para alçar voo do seu lar, em João Alfredo, para aquela cidade que nunca havia nem visitado.

Ao chegar à terras paulistanas, o agricultor trocou as ferramentas do campo pelas da construção civil, além de ter trabalhado no setor metalúrgico e também como vigia noturno. Mas seu João não foi o único. Sua esposa, dona Josefa Margarida da Silva, o acompanhou na viagem. Após 10 anos vivendo por lá, João soube pelo então sogro que havia um terreno à venda na sua terra natal e de imediato ele retornou com a esposa. Mas eles não voltaram sozinhos, trouxeram também uma companhia: a filha de 10 meses chamada Paula Rodrigues da Silva.

Mesmo sendo proprietário da sua terra, isso não foi suficiente para convencer João a permanecer em Pernambuco, pois alguns problemas ainda persistiam e isso o fez retornar a São Paulo. Para o agricultor, essas idas e vindas se justificavam também pelos períodos de estiagem que sua região enfrentava. “Quando estava na cidade grande ou até mesmo em minha terra, era difícil prever a chuva. A seca às vezes castigava por muito tempo”, relembra.

Nesse momento, quando João viajou pela segunda vez, a sua família tinha crescido. Desta vez, ele já não contava somente com a companhia de dona Josefa e da filha, a família se completava com a chegada de Lucas Rodrigues da Silva, filho que o casal adotou no momento em que João partia novamente para São Paulo. “A saudade da família foi grande e não aguentei passar muito tempo distante dela e voltei de uma vez para Pernambuco”, comenta o agricultor.

Decidido a educar seus filhos e proporcionar uma vida diferente da que tinha quando jovem, João fez um concurso público para trabalhar como agente de limpeza na prefeitura de João Alfredo, em 1997. Sem muitas esperanças o agricultor foi surpreendido pelo resultado positivo.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1238

Dezembro/2013

Com melhores condições para produzir, João permanece no Semiárido junto à família

João Alfredo

Cisterna enxurrada armazena 52 mil litros Ampliação de criação de aves é plano para 2014 Gado complementa renda de João e sua família

Page 2: O Candeeiro 2ª edição

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

“Não esperava passar na prova, mas apesar de ter

passado, nunca atuei como gari, pois fui direcionado

para trabalhar como fiscal de feira”, afirma João.

Mesmo trabalhando na prefeitura de sua cidade, João

afirma que o salário não era suficiente para manter os

dois filhos e a esposa. O agricultor, que morava no

sítio apostou na criação e comercialização de galinhas

para aumentar a renda. “Além da galinha, que sempre

foi o meu foco, criei também boi e cabra. Na

agricultura, plantei muito milho, feijão, fava e

mandioca para consumo próprio”, comenta João.

Para ajudar nesses novos trabalhos no campo, João ganhou no final dos anos 1990 uma cisterna

de 8 mil litros de um político da região. Segundo dona Josefa, a cisterna não suportou as raízes do

pé de carambola e acabou rachando. “O problema dela foi de construção, quando ela foi feita não

utilizamos placas de cimento como foi usado na de 16 mil litros. Apesar disso ela serviu bastante”.

Naquela época, João e sua família contavam também com a água de um pequeno barreiro que fica

aos fundos da sua propriedade. No entanto, o reservatório estava quase sem uso porque estava

cada vez mais raso. Mesmo nessas condições, em um período de estiagem, na época do governo

Jarbas Vasconcelos, uma Frente de Emergência de Combate à Seca foi mobilizada na região e

então limparam o barreiro transformando-o em um reservatório de uso comunitário.

Com o passar dos anos, João finalmente recebeu, em

2008, uma cisterna de placas de cimento de 16 mil litros

por meio do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), da

Articulação do Semiárido (ASA), e executado pela

Associação de Agricultores e Agricultoras de Bom Jardim

(Agroflor). Nesse caso, a grande vantagem era a

resistência do reservatório, além da forma como a família

foi envolvida na construção e dos cursos que eles

participaram para cuidar da água que seria acumulada na

cisterna.

Com água para beber, cozinhar e tomar banho garantida, chega em 2013 à propriedade de João a

cisterna de 52 mil litros do tipo enxurrada. Ela ampliou as expectativas do agricultor quanto à

produção agrícola e, principalmente, quanto à criação de galinhas e de capão. O reservatório foi

fruto do Programa Uma Terra para Duas Águas (P1+2) da Articulação do Semiárido (ASA), também

executado pela Agroflor, que tem como objetivo

promover o desenvolvimento rural dos agricultores e

agricultoras do Semiárido brasileiro.

Com a nova realidade, João Rodrigues começa a planejar

2014 com mais esperança. “Com a cisterna enxurrada, -

em janeiro do ano que vem, penso em fazer minha horta e

plantar tomate, alface, coentro e couve. Tudo isso para o

meu consumo, mas se sobrar também pretendo

comercializar”, comenta entusiasmado o agricultor.

Realização Patrocínio

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