O Cão - apcse.com.pt · “Nossa, esse cachorro é bárbaro!” Se um Cão da Serra da Estrela...

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Jornal da Associação P Jornal da Associação P ortuguesa do Cão da Serra da Estrela ortuguesa do Cão da Serra da Estrela Setembro – 2004 N.º 6 NESTE NÚMERO: 3 Editorial • Dieta durante a gestação • 4 Exposição Canina Mundial Rio de Janeiro 2004 • 5 Especial da Raça em Azeitão • 6 Especial da Raça em Sintra • 7 Shalom • 8 À conversa com... o criador de Cães da Serra da Estrela Henrique Mendes Brites • 10 Cardiomiopatia dilatada em cães • 12 A propósito de cardiomiopatia dilatada • 13 Europeia Barcelona 2004.• Clube Sueco do Cão da Serra da Estrela promove Exposição • 14 Se o Meu Cão Falasse... PATROCINADOR OFICIAL DA APSCE NUTRAGOLD ®

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OO C ã oC ã oJ o r n a l d a A s s o c i a ç ã o PJ o r n a l d a A s s o c i a ç ã o P o r t u g u e s a d o C ã o d a S e r r a d a E s t r e l ao r t u g u e s a d o C ã o d a S e r r a d a E s t r e l a

Setembro – 2004 N.º 6

NESTE NÚMERO:3 Editorial • Dieta durante a gestação • 4 Exposição Canina Mundial Rio de Janeiro2004 • 5 Especial da Raça em Azeitão • 6 Especial da Raça em Sintra • 7 Shalom• 8 À conversa com... o criador de Cães da Serra da Estrela Henrique Mendes Brites• 10 Cardiomiopatia dilatada em cães • 12 A propósito de cardiomiopatia dilatada• 13 Europeia Barcelona 2004.• Clube Sueco do Cão da Serra da Estrela promoveExposição • 14 Se o Meu Cão Falasse...

3PATROCINADOR OFICIAL DA APSCE

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Canil da Quinta de S. Fernandodo Cão da Serra da Estrela

Cachorros com Registo L.O.P. e Afixo reconhecido pelo FCIdescendentes de campeões e das melhores linhas da Serra da Estrela

de Suzette Preiswerk da Mota VeigaQuinta de S. Fernando – Caixa Postal 16

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O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela – Setembro 2004 – N.º 6 3

Caros amigos,

Aqui estamos nós outra vezpara vos apresentar mais umnúmero do jornal O Cão, quepretendemos venha servir dealguma forma a todos aquelesque estão ligados ao nosso Cãoda Serra da Estrela.

Queremos deixar um agrade-cimento a todos os que colabo-raram nesta edição, aos anun-ciantes e em especial ao Sr.Artur Ferreira e ao Sr. CarlosNeto, sócios-gerentes da em-presa BIO 2, patrocinadora ofi-cial da nossa Associação, semcujo contributo seria mais difí-cil concretizar este projecto.

Estamos no fim de mais ummandato. As eleições para oscorpos sociais da APCSE, terãolugar em Fevereiro de 2005, edesde já apelamos para a parti-cipação de todos os associados.

Termino lembrando-vos que aAPCSE necessita da vossacolaboração.

Rui Rosa

Editor ia l

Ficha TécnicaA nossa CapaPROPRIEDADE

Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela

Estrada Nacional, 37 Boavista2560-426 Silveira

Tel./Fax: 261 933 278TM: 937 771 986

[email protected]

DIRECÇÃO

Rui RosaJoão Costa

José Almeida

CORPO REDACTORIAL

Paula ReisHelena Costa

Fátima CalamoteJoão Costa

José AlmeidaRui Rosa

Marco Lopes

COLABORADORESDESTE NÚMERO

Rui RosaPaula Reis

Mário Santos

Fernanda L. L. CardosoManuela ParaísoJosé P. Sales Luís

Vítor VeigaRui Garção

«Max»

GRAFISMO E PAGINAÇÃO

Abertino [email protected]

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

LIGRATE – Atelier Gráfico, Lda.MOINHOS DA FUNCHEIRA-AMADORA

TIRAGEM

5 000 exemplares

FOTO DA CAPA

O Cão da Serra da Estrela, o pastor e o rebanho – uma

solidariedade a três

3

Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade

dos seus autores

Idealmente a cadela deve estar nopeso ideal antes da gestação. Todasas cadelas obesas devem diminuir

de peso antes da gestação para poderemaumentar a taxa de concepção e diminuiros riscos de distocia e diminuição da lac-tação. A gestação não é uma boa alturapara emagrecer. Durante as três primeirassemanas de gestação uma cadela em boascondições físicas vai aumentar pouco ouquase nada de peso.

O consumo de uma dieta de manuten-ção de alta qualidade é perfeitamente sufi-ciente, a não ser que a cadela esteja dema-siado magra. Cadelas que estejam dema-siado magras e que fiquem grávidasdevem comer uma ração de crescimentoou ração tipo performance para corrigirrapidamente o peso.

Às três semanas de gestação muitascadelas sofrem uma perda de apetite quepode persistir durante uma semana.

Náuseas e vómitos, ocasionalmente,podem acompanhar esta perda de apetite.O apetite normal pode retornar pela quar-ta semana de gravidez. Há cadelas quepodem ter pouco apetite durante toda agravidez. Um exame físico e bioquímicodetalhado deve ser efectuado para descar-tar qualquer problema médico subjacente.

Se não existir qualquer problema,podemos juntar alho em pó, ou misturarcomida de lata juntamente com a raçãoseca, para aumentar a palatibilidade eassim estimularmos o apetite.

Se com tudo isto não conseguirmos,poderá ser necessário forçar a alimenta-ção, colocando pequenas bolas de comidade lata no fundo da boca.

Durante a segunda parte da gestação,aumentam as necessidades energéticas,assim como as necessidades em proteínase hidratos de carbono. Tudo isto conse-gue-se pelo aumento da administração de

uma ração de manutenção de alta quali-dade.

A quantidade de comida necessária nafase final da gestação aumenta em propor-ção com o número de cachorros e cresci-mento. Um aumento médio de 40% noconsumo de comida, acompanha umaumento de peso de 20-55%. Devido aoaumento do tamanho do útero aumenta apressão abdominal. É melhor alimentar acadela com comidas mais frequentes emenor quantidade, do que dar duas refei-ções por dia e com quantidades excessi-vas. A maior parte das cadelas deixam dese alimentar 24 a 48 horas antes do parto.

A administração adicional de vitami-nas e suplementos a cadelas gestantes estácompletamente contra-indicado. A suple-mentação com cálcio ainda é bastantefrequente, mas completamente desneces-sária.

Ainda que as necessidades em cálcioaumentem durante a gestação, estas sãosatisfeitas pelo aumento da quantidade deração ingerida. Um excesso de cálcio nadieta, para além do que é fornecido peladieta de alta qualidade, suprime a parato-hormona e aumenta o risco de a cadelasofrer uma hipocalcemia pós-parto. Oscriadores não devem, portanto, adicionarcálcio à dieta de uma cadela grávida.

Suplementação de vitaminas pode serbastante problemático; um excesso devitamina A está associado normalmenteao aparecimento de defeitos congénitos: omais frequente é a fenda palatina. Umexcesso de vitamina D pode complicar acapacidade de mobilização do cálcio dacadela. A suplementação com ácidos gor-dos Omega 3 maximiza o desenvolvimen-to cerebral e da retina dos fetos.

* Director Clínico do Hospital Veterinário do Porto

Dieta durante a gestação

MÁRIO SANTOS*

O Cão

“Nossa, esse cachorro é bárbaro!”

Se um Cão da Serra da Estrelapudesse escolher onde gostariade passar uns dias no mês de

Abril, seria pouco provável que a opçãofosse o Rio de Janeiro. Calor, dia enoite, humidade, quase sem uma ara-gem. A juntar a isso, nove horas de voopara lá e outras nove para cá, mais umasquantas de espera nos aeroportos, sem-pre dentro de transportadoras; e, comose isso não bastasse, um pesadelo semar condicionado chamado Rio Centro,onde se realizou a Exposição CaninaMundial 2004. Não é o sonho de ne-nhum Serra da Estrela, mas foi a aven-tura em que se lançaram duas famíliasde “viciados” na raça: nós, da Ponta daPinta, e os nossos colegas da Casa deLoas, acompanhados pelos nossos ami-gos Serras. Na bagagem, a perspectivade alguns dias de férias e sobretudo aesperança de um título mundial para oscães.

De Portugal, partiram cinco exem-plares, todos da variedade de pêlo com-prido. Um deles, Tutankhamon daPonta da Pinta, ficou no Brasil, nasmãos de Valquíria Lemos, uma criadorade Porto Alegre que levou ao Mundialuma fêmea adulta criada em Portugal,chamada “Kirra”. Um sexto exemplar,“D’Ouro da Costa Oeste”, de 2 meses,viajou também para o Rio, destinado aum jovem casal carioca, Marcela Camp-bell e Alexandre Lopes; estes, já pro-prietários de uma cadela adulta prove-niente de um canil brasileiro, agorainactivo, empreenderam o desafio decomeçar a criar Serras. O Mundial noRio de Janeiro proporcionou assimoportunidade para a raça ser relançadanaquele país (onde é ainda desconheci-da pela esmagadora maioria das pesso-as), com estes novos criadores, de duascidades diferentes, a comprometerem-se

em desenvolver, em cooperação, umtrabalho de beneficiamento da varieda-de de pêlo comprido. Os primeirosfrutos rebentaram já, com o nascimen-to, em Agosto, da primeira ninhada dacriadora de Porto Alegre.

Nas duas exposições, agrupadas nomesmo fim-de-semana, de 15 a 18 deAbril, a raça foi avaliada por juízes por-tugueses. Luís Pinto Teixeira julgou aInternacional do Rio de Janeiro, en-quanto Carla Molinari teve a seu cargoo julgamento da Exposição Mundial.Foram eles o garante de que, ao contrá-rio do que tem acontecido em recentesExposições Mundiais e Europeias (emque os julgamentos do Cão da Serra daEstrela têm sido entregues a estrangei-ros desconhecedores da raça), a avalia-ção não iria ser aleatória. Durante osjulgamentos, foi com surpresa que seviu juntar-se à volta dos ringues váriaspessoas interessadas pelos Serras e seouviu, nas finais em que eles participa-ram, calorosas ovações do público – omesmo público que, nas ruas deCopacabana ou em todos os lugarespor onde os nossos patudos amigos sepassearam, ficou visivelmente fascina-do por estas “que coisas mais lindas”,grandes, peludas e afáveis.

Uma nota ainda para a calamitosaorganização, a cargo do CBKC, malpreparada, sem rigor, conhecimento ouprofissionalismo, e a evidenciar uma

tendência comum a algumas entidadesoficiais brasileiras (como, por exemplo,a polícia de trânsito carioca e o aero-porto internacional do Rio): meter amão no bolso dos turistas. Pareceinconcebível, mas para regressarmos acasa com os títulos de CampeõesBrasileiros, a que os nossos cães tive-ram direito, fomos forçados, nósestrangeiros, a pagar por eles – e o tri-plo do valor que os expositores brasi-leiros teriam que desembolsar!

Foi apropriada a selecção musicalque o avião da TAP em que viajámospara o Rio escolheu para a altura dodesembarque: Lou Reed, “Walk on theWild Side”, e também “Wild World”.Um aviso. Não fossem os passageirosesquecer-se do que os esperava...

Eis os resultados:

O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela – Setembro 2004 – N.º 64

MANUELA PARAÍSO

Exposição Canina Mundial Rio de Janeiro 2004

Marcela Campbell, nova viciada na raça, no meio do clã da Ponta da Pinta (com Cheyenne, Baden Baden e tutankhamon, deitado)

e Fátima Calamote, da Casa de Loas, com o Max e a Barroca

Baden Baden da Ponta da Pinta, Vencedor Mundial 2004Barroca da Quinta da Cerdeira,

Vencedora Mundial 2004

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O: A

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O: E

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O: E

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O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela – Setembro 2004 – N.º 6 5

APCSE

Especial da Raça em Azeitão4

No passado dia 4 de Abril, decorreu a 1.ªEspecial da raça Cão da Serra da Estreladeste ano, que contava para as classificações

do Campeonato Interno da Associação Portuguesado Cão da Serra da Estrela (APCSE), e integrada na1.ª Exposição Canina Nacional da Costa Azul.

A APCSE esteve representada com um stand paradivulgação da raça, nos dois dias de eventos.

No sábado, dia anterior à Especial, houve umconcurso denominado «A Criança e o Cão», onde osSerras da Estrela estiveram representados por doisexemplares.

A Especial, organizada pela APCSE e com oapoio da ração NutraGold – Bio 2, contou com a pre-sença de 61 exemplares, sendo 16 da variedade depêlo curto e 45 de pêlo comprido. Os julgamentosestiveram a cargo do juiz Dr. Rui Gonçalves, comis-sariado por Elvira Cansado e Catarina Quintino.

O Cão da Serra da Estrela foi a raça mais repre-sentada em toda a exposição, com maior número deinscrições em catálogo.Os resultados foram os seguintes:

Variedade de Pêlo CompridoClasse de Cachorros Cães – 1.º / Melhor Cachorro – CONDE DA SERRA DE

SINTRA – Cr./Pr.: António Altavilla.Cadelas – 1.º – LADY DA SERRA DE SINTRA – Cr./Pr.:

António Altavilla.

Classe de JunioresCães – 1.º – RAMSES DA PONTA DA PINTA – Cr.:

Manuela Paraiso & Rui Garção; Pr.: EduardoCoimbra Pereira.

Cadelas – 1.º / Melhor Fêmea / Prémio de Raça –ERIKA DA COSTA OESTE – Cr./Pr.: Rui Rosa.

Classe IntermédiaCães – 1.º / RCAC – VAGNER DA CASA REDONDA –

Cr.: Rui Oliveira; Pr.: M. João Miranda.

Cadelas – 1.º / RCAC – SHEILA JÚNIOR DA SERRA DE

SINTRA – Cr./Pr.: António Altavilla.

Classe AbertaCães – 1.º / CAC – BADEN BADEN DA PONTA DA

PINTA – Cr./Pr.: Manuela Paraíso & RuiGarção.

Cadelas – 1.º / CAC – JANA DE SABUESTRELA – Cr.:Rui Laranjo; Pr: Manuela Paraíso & Rui Garção.

Classe de CampeõesCães – 1.º / CCC / Melhor Macho – CAJU DO VALE

DO JUÍZ – Cr./Pr.: Edgar Dolgner.Cadelas – 1.º / CCC – GABY DO SERTÓRIO – Cr.:

Manuel Coito; Pr.: Rui Rosa.

Variedade de Pêlo Curto

Classe de CachorrosCadelas – 1.º / Melhor Cachorro – ASSE D’ASSE DE

SÃO LOURENÇO DE ERMEZINDE – Cr.: M.Clotilde Soares; Pr.: João Direito.

Classe de JunioresCães – 1.º – BOLONIODALP – Cr./Pr.: Manuel Rocha.Cadelas – 1.º / Melhor Fêmea – C’GARDUNHA

D’ALPETRATÍNIA – Cr./Pr.: João Silvino.

Classe IntermédiaCães – 1.º / CAC / Melhor Macho / Prémio de Raça

– ADRO D’ALPETRATÍNIA – Cr/Pr.: João Silvino.Cadelas – 1.º / RCAC – AFA D’ALPETRATÍNIA – Pr.:

João Silvino.

Classe AbertaCães – 1.º / RCAC – LUPO – Pr.: Marco Lopes.Cadelas – 1.º / CAC – TRÓIA – Pr.: Ana Sabugueiro.

Além das classificações já referidas, esta raça con-seguiu ainda, vários lugares no pódio, durante asgrandes finais:

1.º Jovem Promessa Fêmea – ERIKA DA COSTA

OESTE.1.º Melhor Cachorro do 2.º Grupo – CONDE DA

SERRA DE SINTRA.2.º Melhor Exemplar das Raças Portuguesas – ERIKA

DA COSTA OESTE.1.º Melhor Par – EBANO & SEQUOIA DA PONTA DA

PINTA.2.º Melhor Grupo de Criador – Canil da Ponta da

Pinta.

Juiz analisa exemplar de pêlo comprido

Fêmea de pêlo curto em prova

FOT

O: A

PSC

E

FOT

O: A

PSC

E

O Cão

O Cão

Exposição Internacional do CBKCJuiz: Luís Pinto Teixeira

Fêmeas Classe Jovens1.º, CJC, Melhor Jovem da Raça:

CHEYENNE DA PONTA DA PINTA; cr.prop. Manuela Paraíso e Rui Garção.

Fêmeas Classe Aberta1.º, CAC, CACIB: BARROCA DA QUINTA

DA CERDEIRA; cr. Henrique MendesBrites, prop. Fátima Calamote e JoséAlmeida.

2.ª: KIRRA; cr. José Fernando Paradela,prop. Valquíria Dias da Costa Lemos.

Machos Classe Aberta1.º, CAC, CACIB, Melhor da Raça: BADEN

BADEN DA PONTA DA PINTA; cr. prop.Manuela Paraíso e Rui Garção.

2.º, RCAC, RCACIB: MAX DA QUINTA DA

CERDEIRA; cr. Henrique MendesBrites, prop. Fátima Calamote e JoséAlmeida.

Exposição MundialJuiz: Carla Molinari

Fêmeas Classe Jovens1.º, CJC, Melhor Jovem da Raça, Jovem

Campeã Mundial 2004: CHEYENNE

DA PONTA DA PINTA; cr. prop.Manuela Paraíso e Rui Garção.

Fêmeas Classe Aberta1.º, CAC, CACIB, Melhor Fêmea da Raça,

Campeã Mundial 2004: BARROCA DA

QUINTA DA CERDEIRA; cr. HenriqueMendes Brites, prop. FátimaCalamote e José Almeida.

2.ª, RCAC, RCACIB: KIRRA; cr. José Fer-nando Paradela, prop. Valquíria Diasda Costa Lemos.

Machos Classe Jovens1.º, CJC, Jovem Campeão Mundial 2004:

TUTANKHAMON DA PONTA DA PINTA;cr. Manuela Paraíso e Rui Garção;prop. Valquíria Dias da Costa Lemos.

Machos Classe Aberta1.º, CAC, CACIB, Melhor da Raça,

Campeão Mundial 2004: BADEN

BADEN DA PONTA DA PINTA; cr. prop.Manuela Paraíso e Rui Garção.

2.º, RCAC, RCACIB: MAX DA QUINTA DA

CERDEIRA; cr. Henrique MendesBrites, prop. Fátima Calamote e JoséAlmeida.

No conjunto das duas exposições,conquistaram ainda os títulos deCampeão Brasileiro, respectivamente,em fêmeas, em machos e em jovens:

– Barroca da Quinta da Cerdeira;– Baden Baden da Ponta da Pinta;– Cheyenne da Ponta da Pinta.

O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela – Setembro 2004 – N.º 66

Especial da RAPCSE (Texto e fotos

No largo da feira de S. João das Lampas – Sintra, no dia 24de Julho, integrada na 23.ª Exposição Canina Nacionalde Sintra, a Associação Portuguesa do Cão da Serra da

Estrela (APCSE) organizou mais uma especial da raça, com o jáhabitual apoio da ração NutraGold – Bio 2, patrocinadora destaAssociação.

No mesmo recinto, a APCSE montou um stand de informa-ção e venda de artigos referentes ao Cão da Serra da Estrela.

Notou-se um grande interesse por parte do público que mos-trou conhecer a raça, sendo frequente as pessoas que referiamserem proprietárias de um exemplar e colocaram questões, queforam prontamente esclarecidas .

Mais uma vez, a raça Cão da Serra da Estrela, foi a mais repre-sentada em toda a exposição, com 36 exemplares.

Os julgamentos estiveram a cargo do juiz Dr. Victor Veiga.Como habitualmente em todas as especiais organizadas pela

APCSE, as classificações contavam para o apuramento dos cãesmais pontuados do ano, do Campeonato Interno da Associação.

As classificações da Especial de Sintra, foram as seguintes:

Variedade de Pêlo Comprido

Classe de Cachorros Cães – 1.º – LUBANGO DA PONTA DA PINTA – Cr./Pr.: Manuela

Paraíso e Rui Garção.Cadelas – 1.º / Melhor Cachorro – GAJABOA DA COSTA OESTE –

Cr./Pr.: Rui Rosa.

Classe de Juniores Cães – 1.º – RAMSÉS DA PONTA DA PINTA – Cr.: Manuela Paraiso

& Rui Garção; Pr.: Eduardo Coimbra Pereira.Cadelas – 1.º – ERIKA DA COSTA OESTE – Cr./Pr.: Rui Rosa.

Classe IntermédiaCães – 1.º – PLÁTANO DA PONTA DA PINTA – Cr.: Manuela Paraíso

& Rui Garção.

Classe AbertaCães – 1.º / CAC – RAMBO DA QUINTA DA CERDEIRA – Cr./Pr.:

Henrique Mendes Brites.Cães – 2.º / RCAC – BEIRÃO DA QUINTA DE S. FERNANDO –

Cr./Pr.: Suzette Veiga.Cadelas – 1.º / CAC – CAROCHINHA DA SERRA DE SINTRA – Cr.:

António Altavilla; Pr: Manuela Paraíso & Rui Garção.

MELHOR CACHORRO: Gajaboa da Costa Oeste

CÃES: CAC – Rambo da Quinta da Cerdeira; RCAC – Beirão da Quinta de S. Fernando

CADELAS: CAC – Carochinha da Serra de Sintra; RCAC – Triana da Quinta da Cerdeira

MELHOR MACHO / MELHOR DA RAÇA: Igor da Serra de SintraMELHOR FÊMEA: Barroca da Quinta da Cerdeira

Cadelas – 2.º / RCAC – TRIANA DA QUINTA DA CERDEIRA – Cr./Pr:Henrique Mendes Brites.

Classe de CampeõesCães – 1.º / CCC / Melhor Macho / Melhor da Raça – IGOR DA

SERRA DE SINTRA – Cr.: António Altavilla; Pr.: Rui Rosa.Cadelas – 1.º / CCC / Melhor Fêmea – BARROCA DA QUINTA DA

CERDEIRA – Cr.: Henrique Mendes Brites; Pr.: FátimaAlmeida e José Ameida.

Variedade de Pêlo Curto

Classe de Cachorros Cadelas – 1.º / Melhor Cachorro – HIERACITE – Cr.: Ana

Sabugueiro; Pr.: João Silvino Costa.

Classe de Juniores Cães – 1.º / Melhor Macho / Melhor da Raça – ABEL DE S.

LOURENÇO DE ERMEZINDE – Cr.: Clotilde Soares; Pr.: JoãoSilvino Costa.

Cadelas – 1.º / Melhor Fêmea– EUEMIADALP – Cr.: João Direito;Pr.: João Silvino Costa.

Classe IntermédiaCães – 1.º / RCAC – ADRO D’ALPETRATÍNIA – Cr/Pr.: João Silvino

Costa.

Classe AbertaCães – 1.º / CAC / Melhor Veterano – MONDEGO – Cr./Pr.:

Duarte Leal e Teresa Azevedo Gomes.Cadelas – 1.º / CAC – LAGOAH – Cr./Pr.: João Silvino Costa.

O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela – Setembro 2004 – N.º 6 7

O Cão

Raça em SintraTexto e fotos)

MELHOR CACHORRO: Hieracite

CÃES: CAC – Mondego; RCAC – Adro d'Alpetratínia

MELHOR MACHO / MELHOR DA RAÇA: Abel de S. Lourenço de ErmezindeMELHOR FÊMEA: Euemiadalp

Este cão é o Shalom.Tem nove anos. Quando foi fotografado

tinha apenas oito, mas, aos meus olhos,não mudou nada entretanto.

É um cão divertido, meigo, rezingão egrande companheiro. Adorava o dono eandou mais de um ano a olhar interrogati-vamente para o seu lugar à mesa quandoele, depois de uma longa doença, nos deixou.Então o Shalom adoptou um bichinho defeltro que havia sobre a mesa de cabeceirado dono. Levava-o para a sala e deitava-secom ele, lavando-o conscienciosamente...até que o desfez por completo.

É muito amigo dos seus amigos, quecuidam dele e o levam a passear. Quandoum deles chaga manifesta a sua alegria comsaltos, corridas e brincadeiras de cão.

Na rua porta-se lindamente, exceptoquando vê cães grandes ou algum dos seusinimigos, que elegeu não sabemos bemcomo. Aí é preciso força, autoridade epresença de espírito para o impedirmos dese lançar em rixas inglórias.

Com alguma relutância, nesses casos,acaba por obedecer.

Como se pode ver pela foto, é um beloanarquista risonho e de olhos doces.

Fernanda Lima Lopes Cardoso Sócio n.º 311 da APCSE O

Cão

Shalom

«O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra de Estrela» inicia, nestenúmero, um conjunto de entrevistas a várias personalidades que, de forma vincada e reconhecida, defendem a raça nacional do Cão da Serra da Estrela.Henrique Brites é, porventura, um dos mais conhecidos criadores e um apaixonado do Cão da Serra da Estrela. É ele o nosso entrevistado de hoje.

O Cão – Quando começou a sua paixão pelosCães?

Henrique Mendes Brites (HMB) – Bom…,sempre gostei muito de cães. Eu teria sete ou oitoanos e já pedia aos meus pais que me deixassem terum cachorrinho. Ao fim de algum tempo conse-gui autorização e alguém nos deu um, o qual, vima saber que era um cão de caça (Podengo Portu-guês de Pelo Cerdoso), sendo utilizado, com nossaautorização, por um nosso vizinho que era caça-dor. Quando este morreu arranjei outro, que era oPiloto.

Quando casei comecei a caçar ao coelho, e apósalgum tempo dediquei-me à caça da perdiz, para oque arranjei outro tipo de cães, tais como Pointer,Braço Alemão e mais tarde Epagneul Bretão.A idade avançava e as pernas – essenciais para estetipo de caça – já não ajudavam muito. Esta últimaraça caçava mais devagar, o que me ajudava bas-tante. Como este passatempo enraizei mais aminha paixão e admiração pelos cães.

O Cão – Porquê criador de cães da raça CãoSerra da Estrela e quando começou?

HMB – Há cerca de doze anos deixei de exercera actividade de comerciante e resolvi fazer algunsmelhoramentos numa quinta que há muitos anoshavia comprado e que durante muito tempo estevepraticamente abandonada, devido, especialmente,às dificuldades de mão-de-obra na agricultura etambém porque a minha actividade comercial

contribuíra para tal abandono. Comprei umacadela com LOP ao canil da Vila Aradas, nestaminha cidade da Guarda. Mais tarde o proprietá-rio deste canil viu a cadela e ficou muito admiradoao constactar que ela reunia condições para parti-cipar em exposições caninas, com possibilidade deficar bem classificada. Entusiasmou-me e levámosa cadela a uma exposição a Tomar, na qual ganhouum CAC.

Isto foi, para mim, um «vírus» que apanhei, poisaliado à minha grande paixão pelos Serra daEstrela, vi oportunidade de me tornar criador des-tes cães de que eu tanto gostava e admirava.Comprei um macho, algumas fêmeas e fiz umpequeno canil. Registei o afixo Da Quinta daCerdeira (nome da minha quinta) no ClubePortuguês de Canicultura e dediquei-me à criação.Comecei a participar em exposições caninas,ganhando muitas vezes “O Melhor Cachorro”, o“Melhor Júnior”, o ”Melhor da Raça”, e a paixãopelos Serra da Estrela, que já existia há muitotempo, ganhou tamanhas raízes que hoje me éimpossível viver sem eles.

O Cão – O que vê no Cão da Serra da Estre-la, para justificar a sua preferência pela Raça?

HMB – Vou contar-lhes duas pequenas histó-rias (pequenas, autênticas e comovedoras).

Há cerca de quarenta anos comprei uma quintaa seis quilómetros da cidade da Guarda, chamada«Quinta da Cerdeira». Passados alguns anos con-tratei um casal jovem para a tratar. Ele pediu-mepara lhe arranjar, para lá, um cão, ao que eu acedi,muito contente, por ter oportunidade de arranjarum Serra da Estrela, cão que por excelência seimpunha para guardar uma quinta. Era uma cadela.

Acontece que passado um ano o caseiro se des-pediu e a cadela, fiel ao lugar onde tinha sido cria-da, ali ficou sozinha, dia e noite, guardando oterritório onde havia passado a sua juventude.

Escusado será dizer que todos os dias eu lhe leva-va a comida.

Era uma cadela que sabia guardar, e de quemaneira! A linha telefónica Guarda-Covilhã pas-sava na quinta, e os guardafios, que tinham de fis-caliza-lá quando havia avarias, iam munidos de umgrande «cacete» para se defenderem dela.

Num dia de inverno (naquela altura muitorigorosos quanto ao frio que fazia) ela teve umaninhada. Quando as crias tinham cerca de doismeses, veio um enorme nevão que interrompeu otrânsito nas estradas. Além da muita neve quehavia caído fizeram-se sentir temperaturas tão bai-xas (cerca de 8 e 10 graus negativos) que impossi-bilitavam a descongelação da neve. Recordo-meperfeitamente que estive sem poder levar-lhecomida durante quatro ou cinco dias, julgando atéque eles tivessem morrido à fome, pois ela já nãodava leite.

Quando o tempo o permitiu, lá fui levar-lhecomida, mas sempre receando o pior. Qual o meuespanto quando, ao chegar à casota que os acolhia,vi, por cima da neve, portanto fora da casota, umosso com alguma carne (uma perna). A neveensanguentada e eles, felizes da vida derriçando nacomida com grande apetite. Tratava-se, sem dúvi-da, de UMA MÃE SERRA DA ESTRELA!

Mais tarde, numa outra ninhada, de cerca demês e meio, aconteceu o seguinte:

Eu tinha feito, junto à casa, umas enxertias emvideiras bravas (bacêlo) que havia plantado no anoanterior para poder fazer uma latada. Quandoentra a Primavera é preciso saber se os excertospegam. Para quem não está dentro do assunto,devo dizer que o enxerto consiste em cortar obacelo bravo rente ao chão, introduzir um garfomanso (pua), de uma determinada variedade, bemapertada com ráfia, fazendo, de seguida, um mon-tículo de terra que tape o enxerto totalmente,esperando que da pua, furando a terra que a cobre,apareça um ou mais bropes, o que significa que oexcerto pegou.

O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela – Setembro 2004 – N.º 68

À conversa com... o criador de Cães da Serra da Estrela Henrique Mendes Brites

FOT

O: J

. A.

Henrique Britesna sua sala de

trabalho na Quintada Cerdeira,

junto à Guarda.Trata-se, também,de uma magnífica

sala de troféus e um autêntico

«santuário» ao Cãoda Serra da Estrela

FOT

O: A

. C.

Pois um belo dia já a maior parte dos excertosestavam pegados e, ao levar-lhes comida, verificoque eles na brincadeira tinham danificado grandeparte deles. Fiquei de tal maneira furioso queperdi as estribeiras. Peguei numa giesta seca queencontrei ali perto e bati com ela, tanto na mãecomo nos filhos, berrando e correndo atrás delespara continuar a baterlhes. Em resumo perdi acabeça: furioso, arrependi-me e fui embora sabeDeus como.

Durante quase uma semana continuei a trazer--lhes comida, mas os cachorros tinham desapare-cido. Ela, a mãe, olhava para mim, para a comida,muito triste, muito meiga, lambendo-me as mãos,como que agradecendo. Mas não tocava na comi-da: esta, no entanto, desaparecia...

Um dia, intrigado, deixei-lhe a comida, despe-di-me dela com meiguices, entrei no carro e vimembora. Só que parei o carro a uma distancia de200 a 300 metros e resolvi espreitá-la. Qual o meuespanto quando, quase de imediato, a vejo atraves-sar a estrada com comida na boca, desaparecendopara dentro de um pinhal novo, com cerca de seteou oito anos, muito cerrado, regressando para vol-tar a fazer o mesmo por duas ou três vezes até aca-bar a comida!

Fiquei a saber que ela tinha levado para lá oscachorros onde estiveram cerca de oito ou dezdias, fugindo assim à tirania do dono que tãocruelmente os havia tratado (então já arrependi-díssimo)!

Tentei no dia seguinte, com a ajuda de outrapessoa, recolher os cachorros, mas eles fugiam denós, talvez recordando os maus-tratos a que oshaviam submetido. Desgostoso e arrependido milvezes de os ter maltratado, regressei a casa pensan-do no que havia de fazer.

Lembrei-me então de pedir, a um amigo quetinha um talho, umas aparas de carne e alguns

ossitos pequenos (que foram muitos). Fui ter coma cadela, mostrei-lhe o saco com eles, chamei-a eencaminhei-me para o pinhal onde ela esconderaos cachorros. Tentando aproximar-me o mais pos-sível deles, despejei o saco no chão e, falando coma cadela, – digo falando porque eles, SERRAS DA

ESTRELA, nos entendem. E isto só quem sente umagrande paixão e admiração por estes nossos amigoso sabe – dizia eu, falando e acariciando-a commeiguices, disse-lhe: — isto fica aqui para ti e paraos teus filhotes. Despedi-me dela com ternura, emais uma vez arrependido de os ter tratado tãocruelmente.

Qual o meu espanto!!!No dia seguinte, quando voltei para trazer mais

comida, a cadela e os seus filhotes estavam emcasa, junto do lugar onde tinham nascido!

Ela, junto de mim, gemia de contente e lambia--me as mãos; os cachorros brincavam junto demim. Foi a mãe que lhes disse que podiam voltar?Foi a mãe que compreendeu o que eu lhe disserano dia anterior?

De facto, os cães não falam mas que entendeme são os mais fiéis amigos do seu dono, ainda quenum momento de desespero e de irritação os tra-temos de uma maneira que eles não merecem.Além do mais, o SERRA DA ESTRELA sabe perdoar eesquecer, bastando para isso uma palavra meiga euma carícia.

Foi assim que nasceu a minha paixão e admira-ção pelo CÃO SERRA DA ESTRELA.

O Cão – Que prémio ou prémios lhe causa-ram maior prazer e onde os conquistou?

HMB – Prémios foram muitos! Alegria, satisfa-ção e prazer quando se conquista um 1.º lugar é ofruto de muito trabalho, dedicação, e de conseguircriar bons exemplares.

O que me causou maior alegria foi o que con-quistou uma cadela de nome MORANGA, agoracom cerca de dez anos, convidada pelo ClubePortuguês de Canicultura a fazer parte integrantedos cães apurados para a final dos «campeões doscampeões» de 1997, que se realizou no PavilhãoRosa Mota, na cidade do Porto.

Foram 58 campeões de beleza, seleccionados aolongo do ano de 1997. De todos estes foram apu-rados oito cães para disputarem a final. Ela estavaentre eles.

De entre os oito cães seleccionados, a juiz SteffyKirschbichler, de nacionalidade austríaca, atribuiuo título de Campeão dos Campeões 1997 àMoranga, cadela da Serra da Estrela, propriedadedo Canil Quinta da Cerdeira (Note-se que foi estaa primeira vez, na história do Campeão dos Cam-peões, que este troféu foi ganho por um exemplarde uma raça nacional).

Este foi o dia mais feliz da minha vida, no quediz respeito à canicultura.

O Cão – O Cão é o órgão oficial da AssociaçãoPortuguesa do Cão da Serra da Estrela, de que ésócio prestigiado. Qual a sua opinião sobre aAPCSE e o que acha que deveria ser melhorado?

HMB – A APCSE tem vindo, nestes últimos anos,especialmente durante a vigência da actual direc-ção, a desenvolver uma actividade digna de louvor.

Entre muitas coisas positivas, saliento a obten-ção do entendimento mútuo – que não fora con-seguido durante muitos anos – da APCSE com aLICRASE, o que se reputa de muito importante,pois que tanto uma como outra são instituições quedefendem os interesses do Cão da Serra da Estrela.

Quanto ao que há para ser melhorado, tudo oque disser respeito ao Cão Serra da Estrela, serásempre bem-vindo, por exemplo uma sede para aAssociação. Sei que a actual direcção está lutandoe sonhando com isso, mas também sei que osrecursos financeiros não o permitem por enquan-to. A tarefa não é simples, extravasa o mero esfor-ço dos dirigentes e carece da acumulação de mui-tas boas-vontades dos associados, ou de algumbenemérito. Esperemos que num futuro próximoisso possa ser uma realidade.

Ouvíamos,embevecidos,históriasentiusiásticasde amor aoCão da Serrada Estrela

O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela – Setembro 2004 – N.º 6 9

a Serra da Estrela Henrique Mendes Brites

Aspecto do Canil da Quinta da Cerdeira[num dia chuvoso e cinzento...]

Documentos da paixão de uma vida...

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O Cão

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A cardiomiopatia dilatada é uma patologia cardíaca associada a uma predisposição genética,mais comum em cães de grande porte, e que pode comprometer o bem estar e a longevidade do paciente. Não é necessariamente uma doença do cão idososendo em média aos 6 anos que aparece commais frequência. Estão descritos casos desde idades jovens como 1 ou 2 anos.Há uma progressiva perda de contratibilidade do músculo cardíaco que é acompanhada por uma também progressiva dilatação das cavidades cardíacas. Este processo conduz a uma insuficiência cardíaca que embora progressiva aparece quase sempre do ponto de vista clínico de forma abrupta e grave.Embora o prognóstico e a perspectiva sejam a médio/longo prazo maus, a medicação tende na maior parte dos casos a equilibrar o pacientepor um período de tempo razoavelmente importante, sendo mantida qualidade de vida considerável boa.Os Serra da Estrela têm sido frequentementerelacionáveis com esta patologia, o que motivoueste artigo que pretende ser informativo e de divulgação a público interessado.

1. IntroduçãoA cardiomiopatia dilatada (CMD) é uma

patologia cardíaca caracterizada por uma perda eredução progressiva da capacidade contráctil porparte do músculo cardíaco (miocárdio) geral-mente acompanhada por perda de espessura domesmo músculo e gradual dilatação das váriascavidades cardíacas (aurículas e ventrículos).

É uma doença evolutiva e invariavelmentefatal. Durante um período grande, por vezes deanos, os mecanismos de compensação naturaispermitem camuflar a sua existência e são com-patíveis com uma situação, ainda que subjecti-vamente, considerável como normal.

A descompensação deste equilíbrio dá-sehabitualmente de forma agudizada e abrupta erequere acompanhamento médico. Embora osucesso da terapêutica médica instituída nestaaltura não exclua alguns insucessos e mortes depacientes, na maior parte dos casos permiteencontrar novo equilíbrio que é compatívelcom o readquirir de uma nova qualidade devida sempre e definitivamente sob medicação.

Infelizmente este novo equilíbrio é tambémtransitório pois o processo evolutivo associadoà doença mantém-se impedindo que a certaaltura a medicação permita controlá-lo.

Frequentemente a designação dada às CMDinclui a adjectivação de idiopáticas querendocom isso dizer que não são consequência deoutras patologias. Por exemplo algumas lesõesde válvulas cardíacas podem determinar o apa-recimento de uma CMD mas neste caso consi-derável secundária. É às CMD idiopáticas quenos referiremos nesta apresentação.

2. Causas e grupos de maior risco As causas subadjacentes às CMD não são bem

conhecidas embora várias tentativas de explica-ção a nível bioquímico e molecular tenham

sido contempladas ao longo dos tempos.Particularmente a deficiência em alguns amino-ácidos como a Taurina e a L-carnitina foramassociados a alguns casos de CMD.

O que parece ser indiscutível é a existênciade predisposição genética traduzida por ummecanismo complexo de transmissibilidadeatravés de formas poligénicas (necessidade deconjugação de vários genes) com característicasde dominância mas com baixa penetrância(sendo dominantes e presentes geneticamentenem sempre se expressam da mesma forma noindivíduo). Estas características concorrem paraque a patologia possa rapidamente ganharexpressão em grupos de risco e geneticamentefechados, como permite a utilização de repro-dutores que se mantêm aparentemente nor-mais mas portadores da doença. Este facto podeainda ser mais complexo se a ele associarmos aconstatação de por vezes a expressão da doençapoder ser tardia na vida do paciente.

A CMD foi primeiramente ligada aos cães deraça Doberman e Boxer e depois ao CockerSpaniel Inglês. Mais tarde incluíu grande partedas raças de grande porte (Pastor Alemão, PastorBelga, Setter etc.) e particularmente as raçasgigantes (Terra Nova, Dogue Alemão, Montanhados Pirinéus, S. Bernardo, Irish Wolfhound,Dogue de Bordéus etc.). Está também descritaem gatos, particularmente em Siameses,Abissínios e Birmaneses mas é considerada maisrara. Além do Cocker Spaniel Inglês está descritaem algumas raças de menor porte como oCaniche associado à pelagem dourada.

Nas raças nacionais foi encontrada em várioscasos na raça Serra da Estrela (representou 26%da casuística apresentada num trabalho em1998 (Sales Luis et. al, 1998) e referida tambémnoutros artigos ( Lobo et. al, 2002).

Os cães de Água do Algarve apresentam umaforma distinta de CMD de expressão autossó-mica recessiva sempre associada a mortes muitoprecoces (2 a 32 semanas de vida).

Embora não se possa considerar haver pre-disposição de sexo considerada significativa averdade é que quase todos os Autores apontam

para uma maior prevalência de casos no sexomasculino o que coincide também com a nossaexperiência.

3. Sintomas e diagnósticoComo já foi referido, durante muito tempo a

doença vai progredindo em equilíbrio com opróprio paciente e nesta fase a maior parte dasvezes não há queixas e inclusivamente a tole-rância ao exercício é considerável normal.Durante esta fase a detecção da doença deforma segura não é fácil, mas hoje em dia estãoconsideradas duas formas de a avaliar nos gru-pos de risco. Por um lado os electrocardiogra-mas (ECG) sob a forma de Holter, ou seja regis-tados continuamente por períodos de 24 horasou mais que permitem detectar algumas arrit-mias relacionáveis com a doença. A presença deextrasístoles ventriculares e arritmias supraven-triculares podem fazer prever a doença emcurso embora nem sempre sejam específicas.Particularmente nos Doberman e menos fre-quentemente nos Boxer estas arritmias são maiscomuns. Por outro lado a ecocardiografia temmétodos quantitativos que permitem avaliar acapacidade contráctil do ventrículo esquerdo(Fracção de encurtamento sistólico) e quecomeçam a estar alterados antes do início dossintomas. É uma forma mais segura e concretade prever a doença permitindo iniciar terapêu-ticas mais precoces, atrasando o quadro clínico

Fig 1ECG de cão com CMD. Existem várias alterações rítmicas que se caracterizam por frequência

cardíaca superior a 200 puls/ / min., fibrilhação auricular e extrasístoles supraventriculares

Cardiomiopat iaem

JOSÉ PAULO SALES LUÍS

Professor Associado com Agregação

O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela – Setembro 2004 – N.º 6 11

mas não impedindo também a evolução dadoença. Pode ajudar também a caracterizarmais precocemente os reprodutores em relaçãoà presença desta doença. A alteração deste para-mêtro não é exclusiva das CMD mas na maiorparte dos casos está relacionada com ela.

Os sintomas aparecem depois, normalmentede forma brusca. As constatações mais frequen-tes incluem tosse e dispneia, intolerância aoexercício, anorexia, ascite (vulgo barriga deágua), desmaios, posição ortopneica para facili-tar a respiração (pescoço estendido, relutânciaem se deitar enrolado) e síncope ou morte súbi-ta. À auscultação há grandes alterações compresença eventual de sopro, taquicárdia exube-rante e grande arritmia. O exame ecocardiográ-fico permite confirmar a patologia. Permiteainda verificar se há presença de líquido pleurallivre, que é uma complicação possível e queexige drenar o tórax. O Rx normalmente tra-duz-se num grande aumento da imagem cardí-aca que está dilatada mas é menos específicoque a ecocardiografia. Esta dilatação pode atin-gir numa fase inicial mais exuberantemente ocoração direito e/ou esquerdo mas numa faseavançada acaba sempre por ser bilateral.

O que acontece nesta fase, de uma formasimplista, é que um coração que foi dilatando eperdendo força de contracção lentamente, derepente entra em falência pela arritmia instalada.Esta arritmia traduz-se sempre por uma arritmiaauricular (fibrilhação) associada a extrasístolessupra ou ventriculares e a um aumento de fre-quência brutal que atinge mais de 200 pulsaçõespor minuto quando em raças grandes ela deve-

ria ser de 100 a 120 . Em imagem temos umcoração muito grande e dilatado, cheio de san-gue, com muito pouca força de contracção, abater muito depressa e descoordenadamente, oque se traduz numa bomba muito pouco efi-ciente. A quantidade de sangue lançada nacorrente sanguínea é baixa e por outro lado osangue que retorna ao coração não tem escoa-mento acumulando-se e dando origem a ascites,edemas do pulmão ou acumulações de líquidopleural. É nesta fase que é urgente intervirmedicamente para repor alguma eficiência notrabalho cardíaco.

Esta falência ocorre em idades muito varia-das mas é em média aos 6-7 anos que ela é maisfrequente. No entanto ela pode ocorrer emcasos tão jovens como 1-2 anos de idade atécasos descritos com 14 anos de idade. Não éportanto um patologia associável ao envelheci-mento como muitas outras patologias cardíacas.

A caracterização da gravidade da situação dopaciente nesta fase deve basear-se emparte nos sintomas apresentados, massobretudo nos dados do ECG que ava-liam o tipo de arritmia (Fig. 1) e naobservação e quantificação através doecocardiograma da dilatação e capacidadecontráctil do ventrículo esquerdo (Figs.2 e 3).

Esta quantificação é expressa em per-centagem e corresponde à fracção deencurtamento sistólico ou seja à capaci-dade que o ventrículo esquerdo tem dereduzir o seu diamêtro quando se con-trai. Os valores normais são considera-dos de 30 a 50% embora nas raças gigan-tes valores superiores a 25% sejam acei-táveis. Quando estes valores diminuem

são associáceis a uma CMD. De forma geralconsideram-se situações ligeiras com valores de20 a 25% , de gravidade mediana com valores de15 a 20% e graves com valores inferiores a 15%.A tolerância em relação a raças de menor pesodeve ser um pouco menor (ou seja devem tervalores um pouco mais altos). O registo destesvalores pode ter interesse no seguimento clínicode um paciente para comparação com valoresobtidos mais tarde.

4. Terapêutica e prognósticoA terapêutica envolve normalmente uma

medicação considerável pesada e que incluivários tipos de fármacos com acções distintas.

Por um lado é importante impor uma maiorforça de contracção ao miocárdio o que se podeconseguir pela utilização de um grupo de drogasdesignadas genericamente como digitálicos ououtras de efeitos paralelos. Embora sejam deimportância capital na medicação até porquealém do efeito referido colaboram em ritmizar ediminuir a frequência cardíaca, é preciso algumcuidado pois podem induzir perturbação gastrointestinal e quando sobredosados podem repre-sentar um risco.

Por outro lado é preciso libertar o trabalhocardíaco da excessiva carga de líquídos que elenão consegue gerir e que se acumulam patolo-

gicamente em diferentes departamentos doorganismo (ascite, derrame pleural, pulmão,membros etc.). Os vários fármacos de acçãodiurética têm aqui cabimento. A necessidadedestes diuréticos e a sua dosagem varia muitode caso e de situação para situação e requere porisso alguma atenção do clínico assistente.

Outro grupo de medicamentos têm aindaacção sobre a vasculatura periférica contribuin-do para diminuir a pressão arterial contra a qualo coração deve trabalhar e melhorando o apor-te de oxigénio ao miocárdio. Acabam por terum efeito benéfico no próprio trabalho cardíaco.

Os agentes ritmizantes são também deimportância capital pois uma das condiçõesbásicas para o sucesso da intervenção médica écontrolar a frequência cardíaca excessiva e orga-nizar do ponto de vista rítmico o trabalho car-díaco. Há vários tipos de arritmias e por isso aselecção dos anti-arrítmicos varia também decaso para caso.

Nos casos relacionáveis com carências deTaurina ou L-carnitina, estes devem ser suple-mentados. São os casos de melhor prognósticopois nestas situações há regressão da patologiaembora o paciente fique dependente de fazeressa suplementação. Infelizmente estes casossão os mais raros. Nos gatos e nos CockerSpaniel Inglês está descrita como sendo maisfrequente a carência em Taurina e nos Boxerem L-carnitina.

Nas situações em que há líquido pleural acu-mulado é muitas vezes preciso drenar o tórax.Em ascites muito exuberantes o mesmo podeter que ser feito a nível da cavidade abdominal.

Há uma série de recomendações que se suge-rem para estes pacientes e que podem incluirdietas adequadas, alguma restrição em sal,repartição do alimento diário por pequenasrefeições, doseamento da actividade física e vigi-lância mais apertada por parte do proprietário.

Estes cães tanto pela situação clínica comodecorrendo da própria medicação tem dificul-dade em engordar o que deve ser entendidopelo dono e embora contrariado não deve serem si uma meta a atingir.

(Conclui na página seguinte)

Fig. 3Ecocardiograma em modo M de um cão com CMD que permite

fazer o estudo da contratibilidade através da leitura da fração de encurtamento sistólico. Neste caso estava diminuída, sendo

ainda constatável a presença de líquido pericárdico

Fig. 2Ecocardiograma em modo M de cão com CMD fazendo um corte

que permite avaliar a grande dilatação da aurícula esquerda

di latadacães

Médico Veterinário. da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa.

O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela – Setembro 2004 – N.º 612

A avaliação da resposta à medicação permitemuitas vezes numa primeira impressão traçarum prognóstico de evolução. Os dois paramê-tros mais concretos são a regularização da fre-quência cardíaca e o grau de recuperação dacontratibilidade cardíaca avaliada pela fracçãode encurtamento sistólico. É frequente perpe-tuarem-se algumas arritmias como a fibrilhaçãoauricular. A adaptação da medicação à evoluçãode cada caso deve exigir uma revisão periódicamesmo quando aparentemente está tudo acorrer bem.

Apesar disto a doença sendo evolutiva tenderápara definitivamente descompensar. O tempomédio de sobrevivência pós início de medicaçãoé de 10 a 15 meses em média mas pode ir deperíodos tão curtos como 2 meses até períodosde 2-3 anos.

5. Conclusão As CMD nos cães de raças grandes e gigantes

nomeadamente nos Serra da Estrela, represen-tam a patologia cardíaca mais frequente. A pre-disposição genética, a gravidade da situação, e adificuldade em padronizar os portadores e pre-ver com antecipação a existência da doença têmconcorrido para que ela ganhe expressão nal-guns grupos de cães.

O exercício de nas raças de risco tentardetectar o mais precocemente possível a doen-

ça tem interesse no atraso que se pode conse-guir em relação à evolução de cada caso e à eli-minação como reprodutores dos casos positi-vos. As grandes questões a este propósito rela-cionam-se com o aparecimento nem sempreprecoce da doença e com a falibilidade dos exa-mes que se podem utilizar e que nem sempresão absolutamente específicos.

A evolução das formas medicamentosas deapoio a estes pacientes têm evoluído mas conti-nuam a não conseguir travar a evolução fatal doquadro clínico, apesar de permitirem contempo-rizar com a doença, com qualidade de vida acei-tável por períodos de tempo frequentementesignificativos.

A perspectiva futura pode residir numa mel-hor compreensão da expressão genética dadoença de forma a poder detectá-la à priori poresse meio e quem sabe vir a tratá-la através deintervenção a nível genético.

BIBLIOGRAFIA

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CALVERT , A. (1992) – Up date: Canine dilated cardiom-

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FOX, P.; SISSON, D.; MOISE, S. (1999) – Textbook of

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LOBO, L. L.; PEREIRA, R. (2002) – Cardiomiopatiadilatada canina. Revista Portuguesa de Ciências Veteri-

nárias, 97, pp. 151-157.

SALES LUÍS, J. P.; CARVALHO, A. P. (1998) – Cardio-miopatia dilatada idiopática em canídeos a propó-sito de 23 casos (1995/98). O Médico Veterinário, 56,pp. 5-14.

VOLLMAR, A. C. (2000) – The prevalence of cardiomy-opathy in the Irish Wolfhound: a clinical study of500 dogs. J. American Animal Hospital association, 36,pp. 125-132.

Há alguns anos, fomos alertados por umveterinário para um problema grave, deorigem genética, que ele já havia detec-

tado em alguns Cães da Serra da Estrela, seuspacientes. Cardiomiopatia dilatada. Nuncatínhamos ouvido falar dessa doença e não ima-ginávamos que pudesse haver uma patologia deforo cardíaco associada à raça.

Decidimos consultar o Prof. Dr. Sales Luís,especialista em cardiologia veterinária, que con-firmou, pela sua prática clínica, a existênciadum número significativo de Serras afectadospor esta patologia. Num estudo que efectuouem 1998, a percentagem de exemplares da raçaentre os cães com cardiomiopatia dilatada estu-dados era de 26%. Um artigo da autoria do Dr.Luís Lima Lobo e da Dra. Raquel Pereira, doHospital Veterinário do Porto, publicado em2002 na Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias,refere igualmente a observação de vários exem-plares atingidos pela doença.

Depois de um quebra-cabeças chamado dis-plasia da anca, que tira o sono a qualquer cria-dor responsável, a cardiomiopatia dilatada asso-ciada ao Cão da Serra da Estrela é francamentepreocupante. Primeiro, porque a esmagadoramaioria dos criadores, proprietários e mesmomuitos veterinários desconhecem a sua inci-

dência na raça, o que leva a que animais afecta-dos ou em estado subclínico possam ser utiliza-dos na reprodução, com o risco de transmissãodos genes desta patologia à sua prole. Segundo,porque os exames de despiste não garantemque um animal, à data aparentemente isento dadoença, não virá numa fase posterior a ser afec-tado por ela. Terceiro, porque actualmente nãohá forma de detectar se um Serra da Estrela éportador dos genes que determinam a CMD eassim retirá-lo da reprodução. Não devemosser alarmistas – a cardiomiopatia dilatada existeem muitas raças populares, como o Boxer, oCocker Spaniel e principalmente o Dobermann–,mas temos de abrir os olhos para um problemasério e concreto que as opções por trabalhar emconsanguinidade poderão agravar.

Há no entanto uma luz ao fundo deste longotúnel: nos Estados Unidos, a Fundação Ameri-

cana do Pinscher e Dobermann estabeleceurecentemente um protocolo com a MorrisAnimal Foundation. Esse protocolo visa identi-ficar o conjunto de genes responsável peladoença no Dobermann, criar marcadores deADN que permitam detectar os animais porta-dores e, a longo prazo, conceber um tratamen-to genético que elimine esses genes. Apesar dese saber que a cardiomiopatia dilatada é desdehá muito estudada nos Doberman e que com oSerra da Estrela estamos abaixo do ponto zero,o exemplo americano poderá estimular, para anossa raça, uma junção de esforços entre aAPCSE e a LICRASE, criadores, veterináriose instituições diversas nacionais e parcerias noestrangeiro, para se proceder à recolha de amos-tras genéticas do maior número possível deexemplares da raça e a partir daí efectuar umestudo que permita identificar os genes que ori-ginam a CMD nos Serras. Com o texto que oProf. Sales Luís escreveu para inclusão nesteboletim e noutras publicações, dá-se o primei-ro passo para que muitas mais pessoas saibamda existência deste doença e da sua expressão noCão da Serra da Estrela. Os passos seguintes,conducentes no limite à erradicação da doençana raça, só não os daremos se, como o avestruz,preferirmos enterrar a cabeça na areia.

A propósito de cardiomiopatia dilatadaMANUELA PARAÍSO E RUI GARÇÃO

Cantinho da Poesia

Cão da Serra da Estrela

Donde vem tua beleza,Ó Cão da Serra da Estrela?(Feitiço que se revelaNo seio da Natureza,Nas maresias da serraDesta portuguesa terra...)Donde vem tua beleza?

A.C.

(Conclusão da página anterior)

Depois de um quebra-cabeças chamado displasia da anca, que tira o sono a qualquer criador responsável, a cardio-miopatia dilatada associada ao Cão da Serra da Estrela é francamente preocupante.

O Cão

O Cão

O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela – Setembro 2004 – N.º 6 13

AExposição Canina Europeia Barce-lona 2004 realizou-se em Barcelo-na nos dias 4, 5 e 6 de Junho.

Em catálogo havia 25 exemplares da raçaCão da Serra da Estrela, sendo sete davariedade de pêlo curto e dezoito da depêlo comprido.Foram analisados e julgados pelo juiz por-tuguês João da Paula Bessa.As classificações foram as seguintes:

Variedade de pêlo curto

Melhor cachorro – ABEL DE S. LOURENÇODE ERMEZINDE – Cr.: Maria Clotilde V.M. Soares; Pr.: João Silvino Venâncio Costa.

Campeã da Europa Júnior – fêmea – THEIA– Cr.: João Oliveira Direito; Pr.: Canilda Fonte Santa Associação.

CAC, CACIB, Campeão da Europa 2004 –machos – ADRO D’ALPETRATÍNIA –Cr./Pr.: João Silvino Venâncio Costa.

CAC, CACIB, Campeã da Europa 2004 –fêmeas – ROSNA – Cr.: Heinz-DieterWeger; Pr.: Francisco Brandão deMello.

Variedade de pêlo compridoMelhor cachorro – ULKA DA QUIN-

TA DE S. FERNANDO – Cr.:Suzette Veiga; Pr.: Gerald Andre.

Campeão da Europa Júnior – machos– RAMSES DA PONTA DA PINTA –Cr.: Manuela Paraíso & RuiGarção; Pr.: Eduardo Pereira.

Campeã da Europa Júnior – fêmea –ERIKA DA COSTA OESTE – Cr./Pr.:Rui Rosa.

CAC machos – BADEN BADEN DA PONTADA PINTA – Cr./Pr: Manuela Paraíso &Rui Garção.

CAC fêmeas – SHEILA JUNIOR DA SERRADE SINTRA – Cr./Pr.: António Altavilla.

Campeão da Europa 2004 – CACIB machos– PACO DA COSTA OESTE – Cr./Pr.:Rui Rosa.

Campeã da Europa 2004 – CACIB – fêmeas– GABY DO SERTÓRIO – Cr.: AlbertoCoito; Pr.: Rui Rosa.

Foi com prazer que aceitei o convite para julgara Exposição Monográfica do Serra da Estrelano passado dia 22 de Maio de 2004.

Trata-se da mais importante prova de campeonatodesta raça, coincidindo este ano com as comemora-ções do 20.º aniversário do Clube Sueco, facto quecontribuiu para uma maior dimensão do evento,acrescendo, em responsabilidade, a minha actuaçãode juiz. Fui amavelmente recebido pelo Dr. JoséAfreixo, que me dispensou grande apoio e me con-duziu a uma pequena cidade a sul de Estocolmo,onde se iria realizar a Exposição, da responsabilidadedo Clube Sueco do Cão da Serra da Estrela. À chega-da, fomos cordialmente recebidos pelos responsáveisdaquele Clube, esperando-nos um churrasco ao ar livre,com muitos associados do Clube e expositores, o qual seprolongou pela noite dentro.

No dia seguinte e apesar da noite anterior ter atingidobaixa temperatura, o Sol foi uma presença constante,desenrolando-se os julgamentos entre as onze da manhãe as três da tarde, sem interrupção para almoço.

O local da exposição era muito agradável, constituídopor um amplo relvado junto a um parque de campismo,com vista para um imenso lago que banha a periferia dapequena cidade de Jönköping. Os julgamentos decorre-ram a bom ritmo, com uma participação de 42 exemplares,da variedade de pêlo comprido e representados em todasas classes.

Na sua grande maioria, os exemplares eram de expo-sitores suecos, ainda que também estivessem representa-

dos alguns estrangeiros, nomeadamente vindos da Holanda,de Inglaterra e da Finlândia.

Pude apreciar um efectivo de Serras de qualidademédia, ainda que um pequeno número tivesse poucatipicidade. Em geral, as fêmeas mostraram melhores qua-lidades do que os machos e as classes de Cachorros eAberta mostraram maiores tipicidade e qualidade, sendo aClasse de Juniores aquela que se mostrou mais irregular.

Muitos dos exemplares não apresentavam gancho,embora vários aparentassem tê-lo, mostrando-se, tam-bém, as orelhas pouco repuxadas e nem sempre bemimplantadas.

Impressionaram-me os três machos da ClasseCachorros, com afixo Li’l Folks, pela sua tipicidade ehomogeneidade, sendo todos de origem finlandesa, bemcomo a homogeneidade do grupo de Criador holandêsde afixo Karabas .

Na Classe Intermédia destacou-se uma fêmea demuito nível – Karabas Genamalax Gankax Gamgami –,vinda da Holanda, que mostrou grande equilíbrio etipicidade e que veio a obter a «Reserva de Best InShow».

Na Classe Aberta, a fêmea finlandesa Finuch Li’lFolks Quena foi digna de nota pela sua qualidade,tanto pela colocação de orelhas como pelas angula-ções e amplitude de movimentos. Também na ClasseAberta saiu um imponente macho, criado na Suécia,de magnífica estrutura, o Zoian’s Alvito, que veio asagrar-se vencedor do «Best In Show» da exposição.

De notar o excelente estado de pelagem dos exem-plares e o aspecto bem conservado dos veteranos, tudodenotando o grande cuidado que os suecos dispensamaos animais.

O dia terminou com um excelente jantar comemora-tivo do aniversário do Clube, onde se reuniram muitosdos expositores, num ambiente simpático e acolhedor, eonde se trocaram impressões sobre a raça, nomeada-mente sobre as cores previstas no novo Standard da Raça,recentemente aprovado pelo Clube Português de Cani-cultura.

Penso que depois destes esclarecimentos, deixarão deexistir dúvidas sobre as cores, terminando com as inter-pretações erradas de alguns juizes ingleses e suecos.

Esta jornada foi para mim uma grata experiência, sen-tindo-me honrado pela oportunidade que me foi dada,para, dentro do possível, contribuir para o melhoramentodo Cão da Serra da Estrela.

Clube Sueco do Cão da Serra da Estrela promove Exposição VITOR VEIGA

O Cão

Europeia Barcelona 2004APCSE

Concorrentes de pêlo curto Concorrentes de pêlo comprido

O Cão

O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela – Setembro 2004 – N.º 614

A APCSE esteve presente na PETFIL – 2.º Salão dos Animais de Estimação,nos dias 24, 25 e 26 de Setembro.Junto ao espaço destinado à Associação, muito público mostrou-se interessado pela raça, referindo muitas vezes que “Tenhoum cão igualzinho a este”. É notório o agrado geral pela raça.A APCSE tentou esclarecer dúvidas,dar conselhos e ajudar nas questõescolocadas sobre a raça. Os visitantes puderam adquirir artigosalusivos ao Cão da Serra da Estrela que a APCSE dispõe para venda.

A APCSE leva a efeito, no dia 5 de Dezembro de 2004, mais uma Especial da Raça Cão da Serra da Estrela, englobada na ExposiçãoNacional da Batalha – Exposalão.Também nesta Especial os exemplarespontuam para as classificações finais docampeonato interno desta Associação.As inscrições deverão ser enviadas ao Clube Português de Canicultura, até dia 20 de Novembro.

EM DEFESA DO PATRIMÓNIO NACIONAL

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DO CÃO DA SERRA DA ESTRELAFundada em 03/12/1986

PROPOSTA PARA SÓCIO

N.º _________________________

Nome _____________________________________________________________________ Contribuinte n.º ________________Residência ______________________________________________________ Código Postal _______ - ____ _______________Telef. ____________________ Profissão ______________________________Data de nascimento _____/_____/________ Nacionalidade ____________________________ Estado civil___________________É sócio de outro Clube de Canicultura? Qual? __________________________________________________________________Tem afixo reconhecido pela F.C.I.? Qual? __________________________________

Caso o pedido de admissão seja aprovado, aceito incondicionalmente os Estatutos e os Regulamentos, e junto envio:Jóia de 10 Euros Quota anual de 10 Euros

Referente a ___________________________________________________ Data _____/_____/________

O Proponente: ______________________________________ O Proposto: __________________________________________

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Hoje querofalar-vos de umsector da cani-cultura que nosinteressa mui-to, pois estádirectamenteligado à nossasobrevivência.Trata-se, nemmais nem me-

nos, dos senhores Veterinários. De facto, temos de ter muito cuidado com

estes senhores, pois, se dermos de caras comalgum menos escrupuloso, é morte certa.

A propósito, vou-vos contar uma históriaque pode elucidar o que disse. Passa-se comum cão São Bernardo – um belo exemplar,meu parente, talvez mais próximo do quemuitos criadores pensam.

Um dia, a sua dona foi dar com ele muitoprostrado e sem aquela maneira brincalhonadele, pois era um daqueles cães que não con-seguia parar de brincar durante todo o dia;era um cão que adorava a sua família huma-na; o seu objectivo era vê-la feliz. A dona, aovê-lo naquele estado, procurou, pelo terreno,razões para o que estava acontecer, encon-trando parte de uma ratazana ensanguentada.De imediato procurou o veterinário habitual.

Uma senhora veterinária (?!) – assistentetalvez, pois o médico veterinário quase ne-nhum cliente o vê – deu uma injecção ao cãoe mandou-o para casa. O cão, para o seu cére-bro pensante, não tinha nada, mesmo tendo adona alertado para o facto da ratazana mortano quintal.

Durante cerca de quatro a cinco dias ofilme foi o mesmo, o meu amigo piorava dedia para dia. Entretanto houve uma assisten-

te que teve a ideia genial de fazer análises aosangue do meu amigo. O veneno para ratosnão é detectado em análises de sangue. Seráque a assistente, ou estagiária ou lá ou queseja, não deveria saber? Nesse dia colocaramo cão a soro e não fizeram mais nada (o meuamigo já apresentava mazelas na pele, hema-tomas, indicação mais uma vez de veneno deratos). A dona, vendo que aquilo não podiacontinuar, ligou para o meu dono, pedindoajuda. O meu dono imediatamente foi buscaro cão a essa clínica e levou-o ao veterinárioque assiste no nosso Canil. Foi logo diagnos-ticado o mal e tentou-se combater o venenodos ratos. Infelizmente, passados três dias oSão Bernardo veio a falecer. A intervenção donosso veterinário foi eficaz, mas tardia, pois oveneno já estava muito espalhado pelosórgãos do meu amigo.

O outro veterinário, mesmo depois desaber o que tinha acontecido, ainda teve acoragem de cobrar 250 euros por despesas.Deveria ter vergonha, pois o meu amigomorreu devido à falta de profissionalismodeste senhor, que tem duas clínicas ondenunca põe os pés, sendo estas geridas porestagiarias, assistentes, ou lá o que são!

Por favor nunca ponham o vosso animal deestimação neste tipo de clínicas, pois maistarde ou mais cedo vão arrepender-se.Tentem que os vossos animais de estimaçãosejam assistidos por verdadeiros veterinários,que estejam no campo, que sujem as mãos,que não se importem com o estado em quenos encontramos. Desconfiem de veteriná-rios muito limpinhos, muito aprumados,muito ausentes, muito não me toques…

MaxCão da Serra da Estrela

Se o meu cão

falasse...

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ADAGIÁRIO

«A um cão morto ninguém dá pontapés»O Cão

O Cão – Jornal da Associação Portuguesa do Cão da Serra da Estrela – Setembro 2004 – N.º 6 15

Cachorros ocasionalmente disponíveis

Tel. / Fax:261 933 278

Tlm:919 100 812969 044 430

www.costaoeste.cjb.net – [email protected]

Cão de Água Português

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Campeão

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da Suécia

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Criadora:

Ana Vitória Ruivo

Proprietária:

Mercedes Geraldes– Afixo Monte do Catula –

Quinta do Rosal

Estrada de Mem-Martins, 240

2725-383 MEM-MARTINS

Tel. 934 586 776

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Canil Casa de Lôas de FÆtima Calamote e JosØ Almeida

Criação de Cães da Serra da Estrela

Rua Vale de Nogueira, 13 – 1685-559 CANEÇASTel.s 937 265 072 / 937 288 355

Não nos limitamos a criar...

...amamos o que fazemos!

[email protected] – www.casadeloas.com.pt