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O caráter terapêutico da escrita: Práticas de letramento em um hospitalpsiquiátrico

Leda Verdiani TfouniAnderson de Carvalho Pereira

Filomena Elaine de Paiva AssoliniMilena Sarti

Alessandra AdorniUniversidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP, Brasil

Resumo: Procurou-se investigar práticas de escrita em um trabalho de alfabetização em umhospital psiquiátrico, através do método de análise do discurso. Levou-se em conta o caráterterapêutico da escrita e também a situação de asilamento psiquiátrico. Relata-se o trabalho comletramento desenvolvido durante três meses junto aos internos do hospital. Durante o trabalho,foram privilegiados os eventos que mostravam o envolvimento entre escrita e subjetividade. Atravésdas possibilidades de reconstrução das histórias desses moradores, pode-se contribuir para resgatarlugares da memória apagados pela patologia, e proporcionar, na materialidade discursiva, areconstrução de suas verdades.

Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Sujeito. Escrita.

The therapeutic effect of writing: Literacy practices in a mental health hospitalAbstract: We investigated literacy practices in a study carried out in a mental health hospital.Both the therapeutic character of writing and the psychiatric institutionalization were considered.The double interdiction to writing was also taken into account, namely: the marginal positiontowards its singular uses, as well as the stigmatization of those who live under the sign of insanity.During the study , were privileged those events that showed an especial involvement betweenwriting and subjectivity. Thus, through the reconstruction of inmate stories, we could contribute tothe recovery of memories effaced by the pathology, and give them the possibility to reconstructtheir truth, within the discourse materiality.

Keywords: Literacy. Writing. Subject.

El carácter terapéutico de la escrita: Práctica de la escrita en un hospitalpsiquiátrico

Resumen: Se buscó investigar prácticas de escrita en un trabajo de alfabetización en un hospitalpsiquiátrico, a través del método de análisis del discurso. Se ha considerado el carácter terapéuticode la escrita, y también la situación de asilamiento psiquiátrico. Se relata el trabajo con “escrita”(el proceso socio histórico de adquisición de la escrita) desarrollado durante tres meses junto alos internos del hospital. Durante el trabajo, fueron privilegiados los eventos que mostraban elenvolvimiento entre escrita y subjetividad. A través de las posibilidades de reconstrucción de lashistorias de esas personas, se puede contribuir para rescatar lugares de la memoria borrados porla patología, y proporcionar, en la materialidad discursiva, la reconstrucción de sus verdades.

Palabras clave: Alfabetización. Letramiento. Sujeto. Escritura.

Disponível em www.scielo.br/paideia .

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IntroduçãoFoi quase custoso.A frase, dita por um morador do hospital,

exprime em poucas palavras o desafio encarado portodos os envolvidos neste trabalho. Mas do que trataeste desafio aqui compartilhado? Este artigo relata oprocesso e alguns resultados obtidos durante umtrabalho de alfabetização de adultos num hospitalpsiquiátrico de Ribeirão Preto-SP1, a partir do conceitode letramento.

Melhor dizendo, tem-se aqui o relato de umtrabalho de alfabetização de adultos realizado comparticipantes cujas capacidades motoras e cognitivasestão comprometidas, devido ao quadro de doençamental e à medicação, com um diferencial, que é aconsideração da história de institucionalização decada participante, marcada pelo isolamento e, comisso, pela perda de contato com as práticas sociaisda escrita.

Partindo desse duplo eixo, a proposta dotrabalho era, tendo como base a perspectiva discursivade letramento, possibilitar que ocupassem lugaresdiscursivos novos, ou já apagados da memória, atravésda introdução de práticas de escrita em seu cotidiano.Tratou-se de um uso motor, cognitivo e, principalmentesubjetivo do suporte gráfico da palavra, entendidaenquanto substrato simbólico a ser decifrado por todosos participantes, através do uso de portadores de textoque fizessem sentido dentro do pano de fundo de suasexperiências subjetivas, como por exemplo, bilhetes,crachás, etc.

Ora, sabe-se que os usos sociais e históricosda escrita são marcados por maneiras conflituosas,ligadas a interesses diversos, ao mesmo tempo emque singularizados por diversos grupos. Dentro dessaconsideração, que já sobe à proa do conceito deletramento, que aqui serviu como suporte paraindagações e práticas, considerou-se que o asilamentode uma população num hospital psiquiátrico emergecomo um dos efeitos dessa complexa rede socialtramada pelos usos da escrita, sobretudo enquantomecanismo jurídico. Como afirma Tfouni (1992b,2005, 2006) as práticas escritas não estão homo-geneamente distribuídas na sociedade. Existemformações discursivas que dependem, para ma-

terializar-se lingüisticamente, do uso da escrita, e elasnão estão ao alcance de todos, nem de qualquer um,pois dependem de intrincada rede de relações depoder. Deste modo, muitos são excluídos das práticasletradas, mesmo sabendo ler e escrever, porque nãocompartilham o conhecimento necessário paraacessar o modo de funcionamento dessas práticas,enquanto outros o são devido a condições adversas,sócio-econômicas, educacionais, ou psíquicas, comoé o caso analisado aqui.

Encarar a possibilidade de trabalhar com essapopulação foi remexer os percalços ideológicos queafetam todos, quando se admite a possibilidade detrabalhar com uma clientela já tão estigmatizada peloaparato social. Assim, o propósito maior deste artigo,que traz ecos de um trabalho anteriormente realizadoem uma instituição similar (Tfouni & Seidinger, 1997),foi mostrar como é possível desenvolver um trabalhoque tem como suporte a consideração de que aescrita, ao mesmo tempo que tão arraigada numa redesocial complexa - em que populações asiladas sãocolocadas às margens no que se refere às pos-sibilidades de seus diversos usos - também é umrecurso para que se resgatem as particularidades dosujeito que escreve, esteja ele em posição de prestígioou não.

Dentro desse propósito mais amplo, o trabalhoaqui relatado contribuiu para o resgate de aspectosda subjetividade dos moradores através dos diversosusos cotidianos da escrita. Para não perder de vistaesse objetivo, foi necessário considerar a demandado grupo que iria ser atendido, bem como o suporteteórico que guiava o trabalho.

A demanda por um trabalho que articulassepráticas de leitura e escrita no contexto de um hospitalpsiquiátrico levou em conta o caráter terapêutico quea escrita tem quando circula em meio às diversaspráticas sociais. Por conta dessa consideração, optou-se por trabalhar com as diversas maneiras deintroduzir ou resgatar o uso do código escrito, do pontode vista discursivo (e não normativo), tendo em vista,não o nível de escolarização ou o tempo de

1 Hospital Psiquiátrico de Ribeirão Preto

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escolaridade dos moradores, mas atentando-se paraos aspectos subjetivos, remetendo-os à história devida e à memória discursiva de cada um.

No decorrer das atividades propostas, asmaneiras pelas quais os moradores se apropriavamdessas práticas foram valorizadas, particularmenteas apropriações singulares que faziam do códigoescrito, o que reforçou aquilo que teoricamente jáera considerado enquanto entendimento teórico sobrea escrita: seu papel de estruturadora do convívio sociale, assim, como um recurso terapêutico a partir deonde se poderia abrir espaço para que os moradoresparticipantes das atividades propostas pudessemescrever parte de sua própria história. O ponto departida para essa prática foi o conceito de letramento,que será apresentado a seguir.

O conceito de letramentoO processo de letramento vem sendo pes-

quisado desde os anos de 1980, e a ampla circulaçãodessas investigações atravessa a literatura científicasobre o tema. Para este trabalho, foi fundamental oconceito de letramento proposto por Tfouni (1992a,1992b, 2001, 2005, 2006). A autora, que é filiada àAnálise do Discurso de “linha” francesa, AD,desenvolve há mais de vinte anos pesquisas sobre otema, tendo procurado em seus estudos separar edistinguir letramento de alfabetização.

Tfouni aborda o letramento como “(...) umprocesso de aquisição de um sistema escrito por umasociedade” (1992b, p. 7). Ou seja, é o processo deestar exposto aos usos sociais da escrita que, cumpreressaltar, não se restringem às práticas de leitura eescrita stricto senso, pois este processo, cujanatureza é sócio-histórica, afeta tanto alfabetizadosquanto não-alfabetizados, sujeitos com baixa ou altaescolaridade. Nesse sentido, para ser investigado, oletramento precisa ser remetido às transformaçõesque ocorrem em uma sociedade quando suasatividades passam a ser permeadas por um sistemade escrita cujo uso é generalizado.

Como decorrência disto, pode-se afirmar queem uma sociedade letrada as práticas sociaisencontram-se inevitavelmente baseadas no letra-mento, sendo que a escrita passa a funcionar como

mediadora entre estas e o sujeito. Dessa forma, pode-se então, falar em práticas sociais letradas, queestão mergulhadas em atividades discursivas,denominadas por Kleiman (1995) de eventos deletramento.

Essa visão, portanto, contrapõe-se radical-mente às concepções teóricas que tomam oletramento como sinônimo de alfabetização e/oupostulam uma separação radical entre os usos oraise os usos escritos da língua. Estas teorias que sãodenominadas de a-históricas por Tfouni (2006),entendem que o uso escrito da língua seria superiorao uso oral, sendo que a primeira modalidade (usoescrito) pode ser definida por um raciocínio abstrato,descontextualizado e lógico e a última (uso oral) temuma definição que se relaciona a um raciocínioemocional, contextualizado e ambíguo. Alguns autores,cujas formulações são conhecidas como “teorias dagrande divisa”, preconizam a separação radicalentre esses dois tipos e, muitas vezes, utilizam-se determos como “pré-lógicos” e/ou “primitivos” para sereferir às pessoas que não fazem uso escrito dalíngua, havendo aí uma idéia de inferioridade, de déficite de um uso ideal a ser alcançado por todos osusuários de uma língua. Dentres estes autores,destacam-se Heath (1986) e Olson (1986).

Oposta a essa visão, a proposta de letramentotrazida por Tfouni (2001) procura mostrar que essaseparação entre uso oral e língua escrita é produtode um efeito ideológico, pois de acordo com a autora,existem tanto “características orais no discurso escritoquanto traços de escrita no discurso oral” (Tfouni,2001, p. 42).

Essa interpretação das duas modalidades seriaconstituinte de uma sociedade considerada letrada,pois atingiria todos os sujeitos, alfabetizados ou não,com maior ou menor grau de escolaridade e dealfabetização.

Sendo assim, investigar práticas discursivas deuma sociedade, ou de um grupo de sujeitos, implicaincorporar a desigualdade e aceitar que essas práticasnão estão à disposição de todas as pessoasigualmente, ou seja, o acesso que essas pessoas com

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maior grau de letramento têm a algumas delas ébastante diferente daquelas com baixo grau2.

Os sujeitos, portanto, relacionam-se diferen-temente com a escrita e, de acordo com o seu graude letramento poderão ou não construir arquivos, nosentido dado por Pêcheux (1997) e acessar ossocialmente disponíveis.

Assim como Tfouni (1994), considera-se aquique as práticas sociais letradas “(...) influenciam todosos indivíduos de uma sociedade, é claro que de maneiradesigual” (Tfouni, 1994, p. 1). Sendo assim, existeum conhecimento sobre a escrita que as pessoasdominam mesmo sem saber ler e escrever, que éadquirido desde que estejam inseridas em umasociedade letrada. Conseqüentemente, pessoas quevivem em sociedades letradas não podem serchamadas em hipótese alguma de iletradas, mesmoque não dominem o sistema de escrita destasociedade e, em decorrência, sejam não-alfabetizadas.Isso ocorre, porque, para pessoas que vivem em umasociedade letrada, “a exposição às práticas sociaisembasadas direta ou indiretamente no uso da escritaé inevitável” (Tfouni, 1994, p. 1).

É preciso ainda destacar que a abordagem só-cio-histórica de letramento, tal como é proposta porTfouni (2001, 2006) incorpora um “continuum”, o quepossibilita falar em graus de letramento e reconhecerque existem características lingüístico-discursivas que,embora apontadas como exclusivas da escrita, po-dem estar presentes no discurso oral de analfabetos,ou de sujeitos com baixo grau de letramento, ou pou-ca ou nenhuma escolaridade. Ao se constatar isso,reconhece-se ao mesmo tempo a interpenetração dosdiscursos orais e escritos, e a existência de discursosdiversos que, por serem produtos sócio-históricos, ins-talam lugares discursivos diferentes e determinamtambém relações diferentes entre sujeito e sentido.

Outro ponto importante a ser salientado é que noprocesso de letramento encaixa-se o de alfabetização.

Nessa perspectiva, Tfouni (2001, 2006) escla-rece que existem letramentos de natureza variada,inclusive sem a presença de alfabetização.

A filiação de Tfouni à Análise do Discurso de“linha” francesa permitiu-lhe refinar os conceitos deautoria propostos por Foucault (1969) e Orlandi eGuimarães (1988).

Tfouni (2001, 2006) considera o autor comouma posição discursiva, diferente da de escritor e denarrador (Maingueneau, 1989). O autor é uma posi-ção de sujeito a partir da qual ele consegue estruturarseu discurso (oral ou escrito) de acordo com um prin-cípio organizador contraditório, porém necessário, vis-to que existe, no processo de produção de um textoum movimento de deriva e dispersão de sentidos ine-vitável, que o autor precisa “controlar” (Tfouni, 2001,2005), a fim de dar ao seu discurso uma unidade apa-rente com começo, meio e “fechamento” (termo deGallo, 1995).

Para Tfouni (2005, 2006), o trabalho de auto-ria situa-se naquilo que Pêcheux (1997) descreveucomo:

(...) uma divisão discursiva entre doisespaços: o da manipulação de significaçõesestabilizadas, normatizadas por uma higienepedagógica do pensamento e o de trans-formações de sentido, escapando a qualquernorma estabelecida a priori, de um trabalhode sentido sobre o sentido, tomados norelançar infinito das interpretações (p. 51).

A autora interpreta as colocações do autorafirmando que o sujeito ocupa a posição de autorquando retroage sobre o processo de produção desentidos, procurando “amarrar” a dispersão que estásempre virtualmente se instalando, devido àequivocidade da língua.

O conceito de autoria proposto por Tfouni(2001, 2006) fortalece sua concepção de letramentoe abre possibilidades e caminhos para investigar-seos níveis de letramento, implícitos no “continuum”.

É possível também, com base nesses postu-lados, dizer que não é pelo fato de os textos seremorais ou escritos que se estabelecerá o grau deletramento do sujeito que os produziu.

O conceito de autoria pode, portanto, ser usadopara fundamentar o processo de letramento e sua

2 Tfouni (2001) afirma que nas sociedades letradas não existe oiletramento, que equivaleria à ausência total de conhecimentosobre as práticas escritas, e propõe a noção de graus deletramento para descrever os diferentes níveis nos quais seencontram os sujeitos nessas sociedades.

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relação com o continuum. E será também o focodeste artigo.

MétodoUtilizou-se o método indiciário, proposto pela

Análise do Discurso de filiação francesa (Pêcheux,1988, 1997), que preconiza a não-transparência dosdados, ou seja: é preciso interpretar indícioslingüístico-discursivos para se atingir a formaçãodiscursiva que aloca o sujeito do discurso em umadeterminada posição diante da ideologia.

O trabalho de intervenção com esses adultosteve a duração de três meses, com três encontrossemanais de uma hora e meia cada.

Participantes

Participaram do estudo 18 adultos internos emum hospital psiquiátrico de Ribeirão Preto, além detrês alfabetizadores, todos com curso superiorcompleto, sendo um aluno de doutorado, outro alunodo mestrado do Programa de Pós-graduação emPsicologia da FFCLRP-USP, e o terceiro formadoem Letras.

Material

Foi utilizado, como material de coleta de dados,um diário de anotações, além de um caderno paracada alfabetizando, lápis, borracha, papel sulfite,pincel atômico, papel pardo e revistas diversas.

Procedimentos de coleta de dados

Em primeiro lugar, vale ressaltar que osprocedimentos que serão descritos a seguir serviam,não como tarefas objetivas a serem cumpridas pelosparticipantes, mas sim como ponto de partidaorganizador do trabalho que seria realizado em cadaencontro. A cada dia um leque enorme de conteúdosera trazido pelos participantes do grupo, e servia comosubstrato principal em cima do qual os alfabetizadorestrabalhavam as atividades de leitura e escrita.

Utilizou-se, como “gatilho” para o processo,de um alfabeto elaborado em cartolina e fixado naparede da sala de aula – espécie de metáfora daintrodução do mundo letrado no ambiente onde otrabalho se desenvolveria. Ao mesmo tempo, esterecurso serviu para indiciar o caráter econômico da

escrita, visto que, a partir de um conjunto finito erelativamente pequeno de grafemas, pode-se produzirtoda e qualquer escrita, numa infinitude de enunciados.

Em seguida, foram introduzidos para os alunosjogos de fichas contendo as letras do alfabeto, queserviriam de apoio concreto para suas escritasiniciais. A primeira atividade proposta remetia àescrita do próprio nome, com o auxílio dessas fichas.

Depois que todos tinham escrito seus nomesem tiras de papel sulfite, elas foram coladas na parede,e para cada um deles foi pedido que procurasse oseu nome e o personalizasse com a colagem de umafigura, ou fazendo um desenho.

Num segundo momento, foi proposta aelaboração de crachás, para que cada participantepudesse se identificar com o próprio nome, e com osdos colegas. A cada encontro, todo participanteprocurava identificar o seu crachá, e, deste modo,realizavam uma atividade de leitura dos nomes dosoutros. Essa prática tornou-se um ritual de início nosencontros, uma vez que todos os participantes,inclusive os alfabetizadores, assim que chegavam àsala procuravam o seu crachá. Ainda com essareferência, foi proposta aos participantes umaatividade de grupo, onde todos circulavam pela salae, através do nome no crachá, iam identificando oscolegas com os quais compartilhavam aquelasatividades de leitura e escrita; aquelas práticasletradas.

Até então, o trabalho era realizado com o usode folhas de sulfite, as fichas e lápis. O passo seguinteconsistiu na distribuição de cadernos a cadaparticipante, que o personalizava escrevendo seu nomena capa. A inauguração da primeira página do cadernodeu-se com a proposta de uma atividade que consistiaem preencher lacunas em um texto que falava davida particular de cada um: 1) Meu nome é...; 2) Nasciem ...; 3) Eu sou (profissão) ... .

Seguiu-se outra atividade, estreitamenteconectada com essa: foi proposta a escrita do nomedo pai e da mãe de cada participante.

Quando o uso do caderno já estava familiarentre os participantes, propôs-se, pela primeira vez,o trabalho de escrever um texto em grupo. Osalfabetizadores serviriam apenas como centro deorganização do texto, transpondo para o código escrito

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aquilo que era construído oralmente pelos partici-pantes do grupo. Tanto o tema, como as frases queconstituiriam o texto deviam ser trazidas por eles. Otexto foi sendo construído aos poucos e conciliandoos conteúdos que cada um trazia.

ResultadosDurante a escrita do nome de cada um, notou-

se que o morador S. queria escrever seu nomecompleto. Apresentava bastante dificuldade, por nãoconhecer as letras, mas era nítida sua vontade deaprender a escrever o próprio nome, o que o estimulavaa primeiro trabalhar com as fichas e depois tentarescrever com o lápis. A primeira vez que escreveuseu nome completo, sorriu e disse à alfabetizadora queo acompanhava nessa atividade: “Senhora Milena, éa primeira vez que eu escrevo o meu nome desde ainfância.”, e ficou parado olhando o nome escrito nafolha sulfite. Tal fato nos remete à noção de que apalavra escrita, em sua materialidade lingüística, podeagir no resgate da subjetividade. S. olhou para o seunome escrito e se identificou, como se olhasse para arepresentação de si próprio como um sujeito social ejurídico: um sujeito que tem um nome reconhecido pelosoutros e comprometido ao Outro. A esse respeito, Lacan(1998) afirma que a linguagem, com sua estrutura, pré-existe à entrada no simbólico: “Também o sujeito, sepode parecer servo da linguagem, o é ainda mais deum discurso em cujo movimento universal seu lugar jáestá inscrito em seu nascimento, nem que seja sob aforma de seu nome próprio” (Lacan, 1998, p. 498).

Com relação à atividade de preenchimento delacunas onde os internos deveriam escrever seunome, o local de nascimento e a profissão, pôde-seperceber que esses enunciados desencadearam aconstrução de proto-narrativas autobiográficas(Perroni, 1979)3. Atente-se para o fato de que o verbona frase 3 (“minha profissão é ...”), que identificavaa profissão de cada um, está deliberadamente notempo presente, com a intenção de marcar umaidentidade profissional que talvez já estivesse apagadadevido à longa permanência em internação, e àmedicação. Ao mesmo tempo, com esta atividade,procurou-se substituir, no eixo paradigmático, o rótulode “louco”, “doente mental” ou “asilado”, por umoutro, que resgatasse a singularidade dos sujeitos, no

caso, pedaços de sua identidade, na forma do nome,lugar de nascimento e profissão.

Alguns, com maior dificuldade, primeiro“escreviam” utilizando as fichas, para posteriormenteescrever no caderno. Estas escritas, assim comotodas as outras produzidas durante as atividades, eramfixadas na parede e, em todo início de encontro, eramlidas, numa atividade ao mesmo tempo de leitura ede retomada da história das escritas de cada um noprocesso.

Deste modo, a cada encontro, diversosconteúdos emergiam e cada participante trabalhavacom sua própria história, independente do que eraproposto inicialmente como atividade, o que mostraque propor atividades neste processo é bem diferenteda imposição de tarefas que caracteriza o contextopedagógico da escola tradicional. Cada participantetinha um envolvimento particular com a tarefa, e faziaum uso singular da escrita, o que acarretava umaabertura constante à memória discursiva de cada um,memória esta onde os significantes adquiriam umcaráter peculiar e único.

O texto em grupo, mencionado na descriçãodos procedimentos de coleta de dados, foi o momentoculminante do processo, pois, além de já trazer comobase uma estrutura narrativa plena, coroava todo otrabalho de escrita atrelado ao conceito de letramentodo qual se falou no início deste artigo.

Eis o texto coletivo construído pela orques-tração de várias vozes heterogêneas, numa profusãode frases pronunciadas pelos moradores, as quaisforam organizadas pelos alfabetizadores no eixosintagmático:

Texto – A FAZENDA

“A Fazenda é um lugar bom de morar. Nela,nós trabalhamos com a terra. Lá tem muitacriação: porco, gado, galinha. Lá tinha muitopeixe. Nós tomávamos muito café, leite eágua de coco. Existe uma dificuldade quandovocê fica doente porque é longe. Mas, quemtem a sua fazenda que se vire por lá”.

3 Proto-narrativas são narrativas embrionárias, que não se constituemainda como narrativas plenas, mas já incluem alguns elementosdestas, como personagens, lugar, algum tipo de ação, etc.

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Atente-se ao final do texto para o que seconsiderou como um gesto de autoria (Tfouni, 2005).A inserção de “Existe uma dificuldade quando vocêfica doente porque é longe” muda o rumo dasignificação, pois o objeto do discurso, que antes erafazenda, passa a ser doença. Acompanhando essemovimento de deslizamento metafórico, pode-se verque o tempo dos verbos percorre três momentosdistintos: começa no presente, passa para o passadoimperfeito, e volta a ser usado no presente no finaldo texto. Essas alternâncias no discurso indiciam umatomada gradativa de consciência da realidadepresente.

Sabe-se que o tempo verbal privilegiado pelanarrativa em geral é o passado. É o que afirmam, porexemplo, Labov e Waletzky (1967), que, aosalientarem aspectos formais e estruturais dasnarrativas, referem-se a ela como uma seqüência deeventos recapitulados, com o verbo no passado. Noentanto, o início deste texto está no presente, comose os fatos relatados ainda estivessem acontecendopara o sujeito-narrador. Conforme a associação livrese desenrola, no entanto, o passado vem substituir opresente. Em seguida, quase como se fosse umaaceitação, seguem-se os enunciados: “Existe umadificuldade quando você fica doente, porque élonge. Mas, quem tem a sua fazenda que se virepor lá”. Nota-se aí o efeito terapêutico da escrita,que se manifesta por um desligamento do passado euma reparação, no presente (através do discurso eda organização da escrita), das memórias erecordações que causam sofrimento. Percebe-se aícomo o discurso da escrita (aquele que é organizadocom começo, meio e finalização) propicia aemergência da subjetividade, e também possibilita quepequenos gestos de autoria possam ser concretizados,como a produção desse texto, que é coletivo, masque diz respeito a cada um.

Tfouni (2005) entende o lugar de autoria comoaquele em que o sujeito aceita e detém a deriva(possibilidade de os enunciados tornarem-se outros)e controla a dispersão, relançando esses enunciadosna cadeia significante, através de movimentos deretroação ao “já dito”, que desnaturalizam o efeitode transparência da linguagem por meio de diversasmanobras discursivas.

Conforme a mesma definição, a inserção de“Existe uma dificuldade quando você fica doenteporque é longe” quebra a expectativa do rumo dasignificação através da introdução de um outro objetodiscursivo: como já foi dito acima, onde se falava defazenda, passa-se a falar de doença . Essemovimento de substituição permite que se levante umquestionamento acerca da transparência dalinguagem, e de uma certa naturalização de sentidos,que ocorre porque até então havia uma referênciaao significante “fazenda” como um espaço coletivoque se encontrava marcado por significantesestereotipados desta região do sentido, como “café”,“porco”, “gado”.

A inserção do trecho destacado aponta que osignificado de “fazenda”, já firmado no código dalíngua, através do efeito de evidência ideológico, ésubvertido pelo fluxo de significação que se materializaem “quem tem a sua (...) que se vire por lá”. Essasubversão é assegurada porque o sentido de fazenda,naturalizado pelos sentidos já dados socialmente, ésubvertido por um significado que ganha eco na maneiraparticular, por exemplo, pela qual esses moradoreslidam com as dificuldades mais gerais de sua condiçãode saúde mental, e, ao mesmo tempo, com asdificuldades em utilizar a escrita naquele momento.Esse recorte mostra ainda que, para ser possível falarde conflitos, traumas e experiências desagradáveis, énecessário muitas vezes que o sujeito se desloque parauma outra posição discursiva. Tfouni e Carreira (1996)comentam, a esse respeito, que a narrativa tornapossível que o sujeito fale de si de maneira disfarçada.O que ocorre neste pequeno texto é que, para falar doaqui e agora, das condições adversas da internação, osujeito desloca o tempo do verbo para o passado, ecoloca o cenário em outro lugar - na fazenda.

Note-se que o afunilamento deste fluxo dasignificação - que é operado no momento em que osignificante “doença” é introduzido - produz-se àrevelia dos sujeitos, visto que na cadeia manifestaeles pretendem falar das dificuldades de quem moraem uma fazenda distante em caso de doença. Noentanto, eles estão ao mesmo tempo falando sobresua própria doença e sobre o confinamento no hospital,“longe” de tudo. Estão falando da “dificuldade”que é viver confinado, quando já se teve a experiênciade viver livre e solto no espaço de uma fazenda.

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Nesse movimento da significação, no qual ostempos verbais se alternam juntamente com osobjetos discursivos, nota-se que, à medida que asassociações são feitas, produzindo (escrevendo)coletivamente o texto, o estereótipo sobre fazendavai sendo substituído por uma visão subjetiva.

O gesto de autoria está em, ao mesmo tempoconter a deriva dos sentidos e subverter o significadojá naturalizado do significante “fazenda”, remetendo-o a outra dimensão do sentido, ou seja, o de umaabertura dos sentidos possíveis de se ligarem a essesignificante. Assim, a circulação desses significantespassa a configurar um processo de ressignificação,no qual os sentidos são retomados e relançados demaneira inconsciente, numa abertura controlada àderiva incessante (Pêcheux, 1997). SeguindoPêcheux (1988), pode-se propor que o processo acimadescrito é efeito do trabalho da ideologia, numamaneira de naturalizar os sentidos através da tentativade apagar a memória sócio-histórica do dizer e apossibilidade de os enunciados tornarem-se outros,processo esse que ocorre, no caso analisado, atravésde um movimento de retroação do discurso, que rumapara a singularidade da significação.

São estes formatos que abrem o sentido de“fazenda” para as dificuldades mais diversas queesses moradores já encontraram na sua trajetória,inclusive as dificuldades que encontram no dia-a-diado hospital, as quais se cruzam, não por acaso,naquele momento em que trabalham com a escrita.

Como se vê, o sentido se abre, ao mesmo tempoem que se afunila e se fecha mais uma vez, porqueas dificuldades com a escrita, que aparentemente sãodificuldades com a parte gráfica da escrita, tiram dorecalque os percalços e os enfrentamentos de cadaum ao reescrever a própria história, a partir de umoutro lugar, que é o lugar de autoria.

DiscussãoIl n’est personne qui ne soit personnellement

concerné par la verité (Lacan, 1966, p. 405)4.

Dentro desta discussão, pode-se estabeleceraliança com a epígrafe acima. Com Lacan (1998),

foi possível refletir sobre a relação entre sujeito everdade, ressaltando a impossibilidade de o sujeitoescapar da maneira pela qual a verdade o concerne.No caso deste trabalho, os moradores ocupavam aposição discursiva atravessada pelo discurso acercada loucura e do asilamento. Essa maneira de opsicanalista francês entender as agruras do verbo“ser” aponta para o que pode ser feito, respeitandoas condições de uma situação, e também para o queé possível ser feito, a partir das possibilidades.

Não se é o que se diz, ou o que se pretende,ensina dessa maneira Lacan (1998), mas sim o que émostrado em atos. Estes, após causarem algum tipode vertigem, impõem-se pela significação que os atra-vessa e da qual se faz uso.

Neste momento, ponderando sobre os cami-nhos percorridos por este trabalho, é importante apon-tar que as produções de linguagem desses morado-res deram sinais marcados simbolicamente pelo res-surgimento de suas verdades num espaço insti-tucionalizado em que essas verdades, muitas vezes,são rotineiramente abafadas.

O processo de alfabetização neste trabalhoserviu menos a favor de um ensino formal de habili-dades de ler e escrever do que ao enfoque dos as-pectos discursivos e terapêuticos da escrita.

A abordagem nele empregada privilegiou aescrita como um produto cultural, o que implicou tri-lhar um objetivo que transcendeu os padrões da alfa-betização na escola: em detrimento da codificação edecodificação de sinais gráficos, o relevante foi cons-truir um espaço onde os moradores pudessem, ao longodo processo de reconstrução da subjetividade atra-vés das práticas de leitura e escrita, ocupar uma po-sição discursiva que se diferenciasse da ocupada poreles, enquanto pacientes, dentro de uma instituiçãopsiquiátrica.

Mas o que isto tem a ver com os resultadosconseguidos com o trabalho desenvolvido? Encara-se, a partir de agora, essa relação, por diversas pers-pectivas. Essas atividades foram desenvolvidas juntoaos moradores, considerando-se o que era possívelfazer diante da situação peculiar em que se encon-travam.

Partiu-se desse comprometimento, pautado naspossibilidades encontradas, instituiu-se outro espaço

4 Tradução nossa: Não há ninguém que não seja pessoalmenteconcernido pela verdade.

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109Tfouni, L.V., Pereira, A.C.,Assolini, F.E.P., Sarti, M. & Adorni A.(2008). O caráter terapêutico da escrita

para o verbo escutar; em sua dupla voz: ativa e passi-va. Esta escuta, que trilhava o caminho de dar voz àsdificuldades dos moradores permitiu que esses sujei-tos se sentissem autorizados a escutar sua própria voz.Essas possibilidades estão marcadas inicialmente pelainiciativa em se abrir o espaço institucional para a es-cuta (e assim o desenvolvimento) deste trabalho.

Em seguida, já em contato semanal com osmoradores, tais possibilidades alcançaram aquilo queda produção de linguagem foi possível escutar, en-quanto se lidava com esse propósito de abrir-lhes umespaço e um lugar subjetivo para trabalharem com aprópria escrita.

No espaço hospitalar, em que foi dado espaçopara a escrita, há, relembrando Foucault (1980), um su-til mecanismo de controle e de silenciamento do corpo,procurando criar uma docilidade regrada pela obediên-cia sem discussão, através de um olhar que é direcionadopara a tentativa de institucionalização da “loucura”.

No entanto, esse isolamento imposto atravésde uma escrita asséptica e racional, retorna, comodescreve de Certeau:

[essa voz que é calada] volta a aparecer foradessa escritura transformada em meio e emefeito da produção. Ela renasce ao lado, vindode um além das fronteiras atingidas pelaexpansão da empresa escriturística. Umaoutra coisa ainda fala, e ela se apresenta aossenhores sob as figuras diversas do não-trabalho: o selvagem, o louco, a criança, atémesmo a mulher, depois, recapitulando muitasvezes as precedentes, sob a forma de umavoz ou dos gritos do Povo excluído da escrita(...) (Certeau, 1994, p. 252).

Contrariamente à assepsia imposta pelas leisescriturais dominantes, instalou-se a polifonia, querompe o silenciamento ao qual está exposta estapopulação asilada, polifonia essa que abre apossibilidade para ser atingida a unidade imagináriado corpo (perdida para esses moradores em virtudeda patologia), em função do resgate de fatosmemoráveis comprometidos com a singularidade dasexperiências de vida de cada um.

Com este debate, sinaliza-se, por exemplo, quenão foi dada tanta importância, dentro dos limites do

trabalho, em buscar detalhes nos protocolos dosmoradores acerca da veracidade dos acontecimentosque relatavam, mas antes em apontar-lhes aimportância do encadeamento da escrita em seuformato de unidade (começo, meio e fim), do pontode vista do imaginário e da autoria.

Marcou-se, deste modo, o caráter de interaçãosocial da escrita, a necessidade em apontar para osmoradores a existência de um código, ao qual se estásubmetido, e que é preciso respeitar, que é o códigoda língua?

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Artigo recebido em 01/08/2006.Aceito para publicação em 09/06/2007.

Endereço para correspondência:Leda Verdiani Tfouni. Rua Maria Octavia P.

Villa, 71. CEP 14021-047. Ribeirão Preto-SP, Brasil.E-mail: [email protected]

AgradecimentosÀs agências de fomento CAPES, FAPESP,

CNPq e aos profissionais do Hospital Santa Terezade Ribeirão Preto-SP.

Leda Verdiani Tfouni é Professor Titular daFaculdade de Filosofia, Ciências e Letras de RibeirãoPreto da Universidade de São Paulo.

Anderson de Carvalho Pereira é mestre edoutorando pelo Programa de Pós-graduação emPsicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letrasde Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo,bolsista FAPESP.

Filomena Elaine de Paiva Assolini éProfessor Doutor da Faculdade de Filosofia, Ciênciase Letras de Ribeirão Preto da Universidade de SãoPaulo.

Milena Sarti é mestre e doutoranda peloPrograma de Pós-graduação em Psicologia daFaculdade de Filosofia Ciências e Letras de RibeirãoPreto da Universidade de São Paulo, bolsista CAPES.

Alessandra Adorni é mestranda peloPrograma de Pós-graduação em Psicologia daFaculdade de Filosofia Ciências e Letras de RibeirãoPreto da Universidade de São Paulo.