O Catolicismo Brasileiro no Golpe Militar de 1964 XX Encontro/PDF/Autores e... · A carta magna...

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Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP UNESP-Franca. 06 a 10 de setembro de 2010. Cd-Rom O Catolicismo Brasileiro no Golpe Militar de 1964 Carlos Roberto Cunha Amorim Introdução Recuperando aspectos decisivos da história brasileira, cenários e personagens marcantes daquele contexto, este trabalho toma para si a tarefa de perscrutar uma instituição fundamental que, em diferentes momentos, esteve envolvida em progressos significativos de nosso passado, quer colocando-se a serviço da manutenção da ordem, quer mobilizando-se em lutas sociais para a transformação da mesma. Analisar o comportamento de setores mais conservadores da igreja católica brasileira após o golpe de 1964 evidencia o caráter complexo, dialético e rico dessa igreja em nosso país. O estudo da igreja católica no Brasil traz à luz seu caráter contraditório, plural e pendular, seu esforço em acompanhar as marchas e contramarchas da história brasileira e as diferenças que em determinados momentos podem ser observados entre esta e a sociedade e, muitas vezes, as diferenças verificadas no próprio corpo do clero. - Capítulo I - Os Conflitos Igreja-Estado no Brasil Desde Pio VII, em mil e oitocentos, estava em curso na Europa uma corrente de pensamento intitulada “Catolicismo Ultramontano”, ou “Ultramonstanismo”, forma de pensamento centrada na reação antimoderna católica, e que alcançaria o seu apogeu justamente durante o pontificado de Pio IX (1846 1878), que entrou para a história como um dos papas mais conservadores do período. Sua gestão ficara marcada pelo Concílio Vaticano I (1870), que decretara a infalibilidade Papal. Por estes e outros motivos, “(...)muito embora a Igreja se houvesse consolidado internamente e expandido qualitativamente, o papado parecia isolado e alvo de crescente hostilidade de todos os que não queriam renegar a civilização moderna 1 ”. Após sua morte, assume 1 AUBERT, R. (org) A Igreja na sociedade liberal e no mundo moderno. Pedro Paulo de Sena Madureira e Júlio Castañon Guimarães (trad.). Petrópolis: Vozes, 1975. p. 10

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Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP – UNESP-Franca.

06 a 10 de setembro de 2010. Cd-Rom

O Catolicismo Brasileiro no Golpe Militar de 1964

Carlos Roberto Cunha Amorim

Introdução

Recuperando aspectos decisivos da história brasileira, cenários e personagens

marcantes daquele contexto, este trabalho toma para si a tarefa de perscrutar uma

instituição fundamental que, em diferentes momentos, esteve envolvida em progressos

significativos de nosso passado, quer colocando-se a serviço da manutenção da ordem,

quer mobilizando-se em lutas sociais para a transformação da mesma. Analisar o

comportamento de setores mais conservadores da igreja católica brasileira após o golpe

de 1964 evidencia o caráter complexo, dialético e rico dessa igreja em nosso país.

O estudo da igreja católica no Brasil traz à luz seu caráter contraditório, plural e

pendular, seu esforço em acompanhar as marchas e contramarchas da história brasileira

e as diferenças que em determinados momentos podem ser observados entre esta e a

sociedade e, muitas vezes, as diferenças verificadas no próprio corpo do clero.

- Capítulo I -

Os Conflitos Igreja-Estado no Brasil

Desde Pio VII, em mil e oitocentos, estava em curso na Europa uma corrente de

pensamento intitulada “Catolicismo Ultramontano”, ou “Ultramonstanismo”, forma de

pensamento centrada na reação antimoderna católica, e que alcançaria o seu apogeu

justamente durante o pontificado de Pio IX (1846 – 1878), que entrou para a história

como um dos papas mais conservadores do período. Sua gestão ficara marcada pelo

Concílio Vaticano I (1870), que decretara a infalibilidade Papal. Por estes e outros

motivos, “(...)muito embora a Igreja se houvesse consolidado internamente e

expandido qualitativamente, o papado parecia isolado e alvo de crescente hostilidade

de todos os que não queriam renegar a civilização moderna1”. Após sua morte, assume

1 AUBERT, R. (org) A Igreja na sociedade liberal e no mundo moderno. Pedro Paulo de Sena Madureira

e Júlio Castañon Guimarães (trad.). Petrópolis: Vozes, 1975. p. 10

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o então arcebispo de Perugia, Gioacchino Pecci, que logo escolheria para si o nome de

Leão e seria o décimo terceiro a usá-lo.

Pecci iria se caracterizar por uma atitude mais positiva face às instituições

liberais, por disposições mais conciliatórias com respeito aos governos, e pela procura

de exercer sua influência de uma forma mais moderna. Afinal de contas já gozava de

uma certa experiência diplomática e já havia servido como Núncio Apostólico na

Bélgica, uma das regiões mais exploradas durante o período (a título de exemplo, uma

das principais reivindicações da classe operária daquele país era a redução da jornada de

trabalho para doze horas diárias2). Leão XIII será então o Papa responsável por um

documento divisor de águas dentro da compreensão da Igreja católica a respeito do

mundo moderno: a Rerum Novarum3.

Buscando minimamente amenizar as injustiças sofridas pelo operariado de sua

época e sensível a algumas mudanças impostas pelo capitalismo. Leão XIII será um

Pontífice voltado para as questões sociais e que “(...)em lugar de ficar apenas na

defensiva contra o liberalismo econômico e o socialismo procurou formular um

pensamento social e econômico de tipo cristão4”.

Porém, são pilares deste pensamento a manutenção do status-quo, o direito

inalienável à propriedade privada, a idéia de manutenção da luta de classes e a

reinstauração dos costumes cristãos. Enfim, a Rerum Novarum ao invés de ter vindo em

auxílio dos pobres e dos operários, como havia se proposto, na verdade tratava da

reorganização do velho discurso da Igreja frente ao novo inimigo que ganhava cada vez

mais força entre o proletariado: o comunismo.

Alguns outros trechos do documento reforçam a tônica do saudosismo medieval

expresso nas palavras de Pio XI por ocasião do aniversário de quarenta anos da

encíclica de seu predecessor:

2 SOARES SOBRINHO, J. E. de M. A concepção e a redação da “Rerum Novarum”. São Paulo: Elvino

Pocai, 1041. p 23 3 LEÂO XIII (Papa). Rerum Novarum (1891) Petrópolis: Vozes, 1950

4 LIMA, Alceu de Amoroso. Memórias improvisadas: diálogos com Medeiros Lima. Petrópolis: Vozes,

1973. p. 25

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(...) De fato, houve já uma ordem social que, apesar de

imperfeita e incompleta, era de algum modo, dadas as

circunstancias e exigências do tempo, conforme à reta razão.

E se essa ordem já de há muito se extinguiu, não foi decerto

por ser incapaz de evolucionar e alargar-se com as novas

condições sociais5.

Atrás desta afirmação, existe a idéia de que a humanidade seguia feliz “(...) a

sua evolução lenta, porém, pacífica e segura, inspirada nos sólidos princípios do

Cristianismo, quando foi ela bruscamente interrompida pela Revolução Francesa.6”

Caberia então à Igreja retornar ao ponto onde a humanidade havia se desvencilhado dos

trilhos que a conduziria a vida eterna, e naquele momento, a melhor forma de realizar

esta tarefa seria apoiar os regimes autoritários de direita, no intento de adquirir um

espaço junto a eles no governo e restabelecer a ordem social. Esta tarefa não caberia

nem ao “socialismo” e nem ao “individualismo7” burguês, uma vez a burguesia no

poder, os trabalhadores seriam reduzidos a uma posição penosa e desprotegida, caberia

pois a Igreja recuperar o seu lugar de influência.

O princípio básico da Igreja Católica é a salvação final, é com base neste

princípio que a Hierarquia exerce a sua influência, o meio, por sua vez, exerce grande

influencia sobre a Igreja, se esta deseja continuar influente, deve acompanhar as

mudanças do meio. Thomas Bruneau analisa este problema em seu trabalho

“Catolicismo Brasileiro em Época de Transição”, dizendo que desde o princípio até o

presente, o objetivo da influência sobre a Igreja é definido principalmente através dos

mecanismos do poder8. O poder é apenas um dispositivo, uma forma da hierarquia

exercer a sua influencia, mas foi, desde o início destas igrejas, um mecanismo central

para elas, sendo ainda hoje, portanto, crucial para a sua definição de influência.

Após encontrar-se cambaleante ao fim do império, a Igreja Católica movida pela

Santa Sé e por este ideal de intervenção concreta na sociedade teria sido a instituição

que mais cresceu no país após a proclamação da República9 e em pouco mais de três

décadas se veria pronta para ajudar a depor a mesma elite oligárquica que lhe derrubou

5 PIO XI (Papa). Quadragésimo Anno. São Paulo: Edições Paulinas, 1969. p.42

6 SOARES SOBRINHO, 1941 p.12

7 Quadragésimo Anno, p. 50

8 BRUNEAU, Thomas. Catolicismo brasileiro em época de transição. São Paulo: Loyola, 1974. p.19

9 BRUNEAU, op. Cit., p.57

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no final do século anterior. Era a revolução de trinta, Getúlio Vargas chegara ao poder e

lá permaneceria por quinze anos, mas com ele estavam reatados os laços entre a Igreja e

o Estado.

Neste momento a Igreja nacional seguia uma linha semelhante a de diversos

outros países da Europa, alinhara se a um governo ditatorial com um discurso

nacionalista e populista;

Entretanto, exatamente porque o vetor do catolicismo ultramontano

apontava para o passado, a sua proposta colheu subsídios naquelas

vertentes políticas que não visavam aos avanços futuros, mas

justamente impedi-los, como foi o caso do fascismo. Assim, ganha

significado e importância a encíclica Quadragésimo Anno, de Pio XI,

em 1931, que acreditava ter encontrado no fascismo italiano o

paradigma da sociedade imaginada pela Igreja.10

No Brasil, este seguimento da Igreja Católica aderira às idéias integralistas, em

um primeiro momento, tanto pela postura de enfrentamento ao comunismo, quanto por

sua aproximação natural dos conceitos de combate à burguesia e fortalecimento do

estado nacional, por exemplo. Ironicamente, as duas maiores lideranças religiosas de

centro-esquerda da segunda metade do século vinte, são originais deste grupo: D.

Helder Câmara e Alceu de Amoroso Lima. Este último explica melhor suas relações

com o integralismo em seu livro Memórias Improvisadas onde nos conta que, pouco

tempo depois de sua conversão em mil novecentos e vinte e oito, o autor esteve muito

próximo de Jackson de Figueiredo, este sim, intelectual de direita. Após a sua morte,

Amoroso Lima herdara-lhe a presidência do centro “Dom Vital” e a direção da revista

“A Ordem”, o que irá influenciá-lo a seguir os rumos de seu antecessor, porém não por

muito tempo. Anos mais tarde defenderá a “cruzada das crianças de 68” com

entusiasmo juvenil. Até este momento, os pensadores da Igreja no Brasil desta época

não tinham lá muitas opções, a grande maioria estava interessada no exercício da

influência em grupos de pressão, como a Liga Eleitoral Católica e a Ação Católica,

criados por D. Leme durante os primeiros decênios do século XX. Nas eleições para

assembléia constituinte de maio de 1933, a LEC viu ser eleita a maioria dos candidatos

que apoiara e no ano seguinte verá a constituição ser promulgada com todas as suas

exigências. A carta magna será proclamada em nome de Deus e a religião será ensinada

10 Cf. MANOEL, Ivan A. O Pêndulo da história: A filosofia católica da história 1800 – 1960) p.98

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nas escolas. O Estado mais uma vez é a força que dá sustentação a esta igreja no Brasil,

porém, já fora lançada as bases de algo que não permitiria mais esta relação por muito

tempo.

Durante toda a Era Vargas a partir de 1930, sua saída e seu retorno em 1951, a

Igreja se manteve estagnada na condição que ela mesma se impôs. Até se ver diante de

um problema lógico que talvez não tivesse previsto, ou pelo menos tinha medo de

prever; a Igreja se mantinha estável enquanto houvesse estabilidade estatal, e se alguma

coisa desse errada neste esquema? Em resposta a esta questão Bruneau afirma: “Não

acho que erraria em afirmar que a Igreja no Brasil, depois da Segunda Grande Guerra,

teve que enfrentar o século XX com um modelo de influência pelo menos cem anos

atrasado11

.” Esta fórmula funcionou muito bem até a década de 30, porém, agora se

encontrava completamente viciado, incapaz de atingir a sociedade por meio da

evangelização, a Igreja se viu limitada a jogos políticos para aprovar algumas leis de

incentivo fiscal e barrar outras como aquelas que tocam em questões como o divórcio,

por exemplo. Este período foi muito mais do que caótico para os representantes da

Santa Sé no Brasil, enquanto se mantinham nas costas do estado para a sua definição de

influência, era uma missão completamente impossível “(...)manter-se a distância

enquanto o Presidente Kubitschek empurrava o país para frente,enquanto Quadros

tergiversava e finalmente abandonara o governo, e enquanto Goulart deixava a ação

derivar para uma crescente radicalização12

.”

Definitivamente, enquanto a democracia brasileira fosse regida pela demagogia

populista, o Estado não seria mais um território seguro para a atuação da Igreja. Por

isto, esta se lançou então na busca por uma nova abordagem da influência, que seria a

promoção e efetivação da mudança social, celebrada timidamente pela Rerum Novarum

há quase um século atrás. Assim começa uma das dedicatórias do livro “As Encíclicas

Sociais de João XXIII13

, editado no Brasil em 1963: “À Conferência Nacional dos

Bispos do Brasil – na vanguarda da transformação social cristã de nossa Pátria com

11 BRUNEAU, 1974, p. 106

12 Idem, p. 115

13 LIMA, Alceu de Amoroso e MESQUITA, Luis José de. (org.) As encíclicas sociais de João XXIII. Rio

de Janeiro: José Olympo Editora, 1963. p.9

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suas extraordinárias mensagens – respeitosa homenagem de Luís José de Mesquita e

Alceu de Amoroso Lima”. Logo adiante, segue-se uma introdução do Cardeal-

Arcebispo de Milão, João Batista Montini, que posteriormente a morte de João XXIII,

assumiria como Santo Pontífice com o nome de Paulo VI:

Ninguém há de contestar que a Encíclica Mater ET Magistra seja um

documento de grande importância, não apenas sob o aspecto religioso,

moral e eclesiástico, mas também e sobretudo, sob o aspecto social,

pela referência direta a questões muito vivas e vastas do nosso tempo,

e pelo objetivo evidente de apresentá-las sob a sua verdadeira luz a

fim de dar lhes uma solução humana.14

É notável que algo havia mudado no seio da Igreja e que esta mudança partira do

Vaticano. Eugenio Pacelli, o Pio XII, o Papa que havia realizado diversas transações

com Hitler, que havia celebrado o fascismo italiano na encíclica Quadragésimo Ano15

e

parabeizado o General Franco pela vitória sobre os comunistas na Espanha16

, partira

para encontrar-se com o seu superior imediato. Em seu lugar fora eleito Ângelo

Giuseppe Roncalli, que logo escolherá para si o nome de João, e seria o vigésimo

terceiro a fazê-lo.

Apesar de cinco anos apenas de pontificado, João XXIII avançará ainda mais do

que seus predecessores na questão social, não somente através das já famosas encíclicas

Mater et Magistra e Pacem in Terris, mas também através de diversas ações concretas

como inaugurar e concluir a primeira fase do Concílio Vaticano II, que contou entre

seus sacerdotes com a presença mais do que marcante de D. Helder Câmara, que

participou das quatro sessões conciliares e se mostrou uma das principais lideranças da

América Latina. Também foi o primeiro Papa a receber um funcionário da Rússia

Comunista, o redator chefe do Pravda, Aleixei Adjubei, genro de Nikita Krushev.

Paralelamente, no Brasil está se desenvolvendo a Teologia da Libertação, teoria

que centra a sua ação na opção preferencial pelos pobres, pelos excluídos. O mais

interessante é que, talvez, um dos principais fatores que conduziram a Igreja Católica a

14 Idem, p. 16

15 Cf. MANOEL, Ivan A. O pêndulo da história: A filosofia católica da história (1800-1960) p.98

16 Idem, ibidem.

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se preocupar cada vez mais com o social e, consequentemente a se aproximar da

esquerda, tenha sido a “radicalização do anticapitalismo romântico doséculo XIX, que

se aproximou do Marxismo e reconheceu nele o mais arguto dos críticos do capitalismo

e da sociedade burguesa”. 17

O não abandono da Santa Sé de suas teses romanizadoras

poderia acarretar no abandono dos fiéis à sua instituição. A maior dificuldade em se

contextualizar este “novo período” da Igreja, reside na quase ausência de estudos aqui

no Brasil capazes de identificar uma evolução no sentido social entre o Concílio

Vaticano I e o Concílio Vaticano II, um período em que muito do ultramontanismo

clássico residia na doutrina e na prática da Igreja, mas que outras práticas, como a

atuação do laicato e seu maior engajamento junto à população e seus problemas,

acabaram por forçar mudanças doutrinárias e até teológicas18

, como por exemplo a

atuação da Ação Católica no Brasil e a importante campanha da revista francesa

“L´Association Catolique”, que muito contribuiu para a redação da Rerum Novarum,

onde foi publicada em 1881 uma carta de Dom Rendu, Arcebispo de Annecy, onde

podia se ler19

:

Os desenvolvimentos da indústria produziram abusos de tal

maneira odiosos, que é preciso volver ao paganismo para encontrar

semelhante desprezo pela humanidade. O que há de mais

surpreendente é que a opinião pública, ou o que assim se

convencionou chamar, não reclama contra uma desordem que avança

contra a sociedade, como uma vaga impelida por uma tempestade, no

meio de um oceano. Tornou se de zelo pela abolição da escravatura...

mas ninguém ousa fazer o mesmo à escravidão mais dolorosa e mais

revoltante da humanidade. Compreendem-se claramente os gemidos

que ela arranca dos desgraçados, mas nada se ousa fazer porque se

conhece o poder dos que os exploram, para deles extrair o ouro.

Torna-se claro uma crescente disparidade entre os setores leigos da Igreja e a

versão romântica do anticapitalismo católico, que buscava a Idade Média como

paradigma, desenvolveu-se uma outra vertente, cujo vetor político seria o avanço em

direção a uma sociedade igualitária.

17 MANOEL. “Ação católica brasileira: marco na periodização da história da igreja Católica no Brasil”,

p.325 in: COUTINHO, S. R. (org). Religiosidades, misticismo e história no Brasil central. Brasília:

CEHILA, 2001. PP. 319 - 329 18

MANOEL, Ivan A. O pêndulo da história: a filosofia católica da história (1800 – 1960) PP. 8-9 19

SOARES SOBRINHO, 1941. p. 19

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O fato é que agora os rumos da Igreja no Brasil já pareciam estar mais do que

definidos, o ultramontanismo estava caducando e agora o Clero caminhava em novas

direções em busca da transformação social, que de fato viria, mas não do jeito esperado.

O Catolicismo Ultramontano no Brasil estava ferido de morte, porém, ainda não estava

morto.

Capitulo II

O CATOLICISMO BRASILEIRO FRENTE AO GOLPE DE 1964

Parte 1 – Populorum Progressio

Como vimos, a Hierarquia da Igreja no Brasil esta envolvida desde o final da

primeira metade século XX em um processo de amadurecimento que precederia as

discussões do Concilio Vaticano II em 1963. Diversas ações do laicato, como a Ação

Católica, já referida anteriormente, se desdobram em variadas organizações como a JOC

(Juventude Operária Católica), a JAC (Juventude Agrária Católica), a JEC (Juventude

Estudantil Católica, para os estudantes secundaristas), a JUC (Juventude Universitária

Católica, para os estudantes de terceiro grau) e finalmente a JIC (Juventude

Independente Católica), esta última, justamente por reunir as mais diversas categorias

que não encaixavam nas demais, acabou não desenvolvendo uma identidade própria, o

que fez com que tivesse uma importância de estudo inferior.

A partir da década de 50, estes setores, principalmente a JUC e a JEC,

começaram o seu irresistível afastamento da doutrina conservadora da Igreja. Também

nesta década, as forças progressistas da Igreja reunidos em torno da liderança do então

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Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro. D. Hélder Câmara, irão conquistar mais uma

significativa vitória, a fundação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

É importante ressaltar que a CNBB não nasceu para enfrentar a Hierarquia e sim para

ser a sua voz, porém, o fato de ter sido presidida por doze anos (justamente até 1964)

por um Bispo preocupado com questões sociais contribuirá e muito com a evolução do

pensamento da esquerda dentro do seio da Igreja. A CNBB foi uma das primeiras

conferências de bispos a surgir no mundo, fruto das inquietações de um Clero que

ansiava por “modernizar-se”, o que ficaria bem claro após o Concílio Vaticano II. Será

centralizadora no sentido uniformizar o discurso da Igreja, porém ira descentralizar a

base da Hierarquia, concedendo aos bispos uma maior soma de recursos e autonomia.

A influência de D. Helder Câmara estava longe de restringir apenas ao

território nacional. Sua personalidade Hábil e carismática exerceu um importante papel

dentro das quatro cessões conciliares em Roma, não como orador, mas sim como

articulador, utilizando-se de uma capacidade aglutinadora em torno de uma proposta

programática em vista dos desafios do mundo moderno e elaborando documentos

documento capazes de conferir maior abertura aos debates, para que visassem a

construção de uma Igreja mais voltada para o social.

Todas estas mudanças não estavam sendo bem vistas aos olhos da parte

conservadora do Clero, no Brasil representado por D. Jaime de Barros Câmara

(Arcebispo do Rio de Janeiro, companheiro por 27 anos de D. Helder), D. Geraldo

Sigaud (Arcebispo de Diamantina), D. João Eugênio Sales da Costa (Arcebispo de Belo

Horizonte), D. Agnello Rossi (Arcebispo de Ribeirão Preto), D. Vicente Sherer

(Arcebispo de Porto Alegre), entre outros. Todos nascidos e criados no berço

ultramontano e ocupando os mais altos cargos eclesiásticos do país. Não iriam assistir

de braços cruzados a ascensão de um pensamento que consideravam pernicioso e

conseqüentemente a contínua redução de seus poderes e influências, inclusive junto ao

Sumo Pontífice. É certo que já há algum tempo ansiavam a retomada do poder, faltava-

lhes um plano.

Até a década de 60, graças a uma aberração eleitoral da constituição de 1946,

era possível eleger o Presidente da República por uma legenda e o vice por outra. Dessa

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forma, em 1960 foi eleito, como representante máximo da nação, o demagogo populista

Jânio Quadros e, para vice, o populista demagogo João Goulart. A diferença básica

entre os dois será o apoio que cada um receberá dos diversos grupos políticos que

pensaram suas candidaturas, se propuseram a dar sustentação a suas campanhas e

posteriormente a seus governos. Deixemos um pouco de lado a história da Igreja para

vermos como se deu este processo.

Em agosto de 1954, o então presidente Getúlio Vargas sairia da vida para

entrar para a História. Com seu ato drástico. Getúlio joga por terra os planos de alguns

grupos, inclusive de militares, que visavam destituí-lo. Criou uma onda de comoção

nacional tão grande que não deixou outra opção aos possíveis golpistas se não

assistirem quietos a posse do então vice-presidente Café Filho. Tudo sairá como havia

planejado o caudilho, menos o fato de que seu vice “não teria coração” para agüentar ate

o final de seu mandato. No dia 03 de novembro de 1955, Café Filho adoece e é

internado no Hospital dos Servidores do Estado, no dia 07 escreve a Carlos Luz, então

Presidente da Câmara, transferindo-lhe o poder, dois dias depois, o Ministro da Guerra,

General Henrique Lott, pede demissão e em seguida chefia um movimento armado

contra o presidente em exercício, obrigando-o a fugir e três dias depois enviar uma carta

á Câmara dos Deputados comunicando a sua renúncia. Detalhe: o Presidente do Senado,

Nereu Ramos, já havia sido empossado como Presidente da República.

O país estava vivendo um verdadeiro caos constitucional, viu a sua Carta

Magna ser “arranhada” por duas vezes e a democracia apanhar sob a constante ameaça

de golpe. É neste clima tenso que toma posse no dia 31 de Janeiro de 1956 o Presidente

Juscelino Kubtschek (JK), com a sua plataforma desenvolvimentalista e com a missão

de consolidar a democracia. JK era uma personalidade ímpar, com certeza um dos

maiores políticos da história de nosso país. Justamente por isso começa a organizar sua

sucessão presidencial dois anos antes da campanha oficial.

Acontece que dos três grandes partidos políticos da época: o PTB, o PSD e a

UDN, dois já haviam ocupado a cadeira presidencial; o PTB com Vargas e o PSD com

Eurico Gaspar Dutra e, agora, com o próprio JK. Justamente a UDN que ultimamente

mais andará ás voltas do poder, tanto por meios lícitos quanto ilícitos, jamais sentara no

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trono. Como constitucionalmente não era permitida a reeleição de um presidente e sem

uma liderança nacional a sua altura para a sucessão, KJ idealiza um acordo nacional

com a UDN de modo que estes pudessem ser contemplados nestas próximas eleições

em 1960, e não criassem problemas para a sua volta no pleito seguinte, em 1964. Tudo

estava dando certo até a intervenção de um outro pretenso candidato a presidente em 64,

Carlos Lacerda, também da UDN.

Lacerda sabia que não tinha projeção nacional para vencer o pleito de 1960,

por isso, projetava-se para o próximo. Em contrapartida, havia uma pessoa que tinha

essa projeção. Aliás, não era uma pessoa, era um fenômeno! Em menos de dez anos

pulara de vereador para governador de Estado de São Paulo, passando por deputado

federal (o mais votado de seu estado) e prefeito da capital paulista. Jânio Quadros, então

no inexpressivo PTN, parecia subir vertiginosamente rumo á Presidência do Brasil;

quem estivesse com ele pegaria carona. Era a chance dos partidos pequenos de

conseguirem um espaço no governo, justamente por isso, PL e PDC se antecipam ás

demais legendas e declaram o seu apoio a Jânio; está ultima, apesar de tê-lo como

candidato oficial, lança um candidato próprio para vice-presidente, fato que trará

conseqüências funestas para a história do país.

Carlos Lacerda consegue melar a candidatura própria da UDN para fazê-la

apoiar o entoa candidato do PTN, cuja vitória era quase certa. Para vice-presidente, a

UDN indicara Milton Campos.

Acuado e sem muitas alternativas, JK organiza então a sua chapa sucessória,

composta por General Henrique Lott para presidente e o “discípulo de Getúlio que

nasceu para ser vice-presidente” (nada mais!), João Goulart. Está montado o cenário

para a crise. As urnas não revelaram nenhuma surpresa, a eleição presidencial

popularizada apenas entre Jânio e Lott, dará Jânio. Porém, as bases janistas, divididas

entre dois candidatos a vice, entregarão a vitória a João Goulart. Após alguns meses de

governo, o “fenômeno” Jânio Quadros, incapaz de segurar as rédeas da nação, renuncia

ao mandato de Presidente das Republica. Justamente em um momento em que seu vice

encontrava em missão diplomática no China comunista. Era o pretexto que os grupos

radicais de direito esperavam para chegar ao poder. Barrar a posse legítima de João

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Goulart seria o mesmo que salvar o país da influência socialista. O próprio Jango era

conhecedor desta delicada situação, ao receber a noticia da renúncia de Jânio, o senador

Barros de Carvalho, também integrante da comitiva que estava na China, quis propor

um brinde ao novo presidente. Jango observou: “Brindemos, antes, ao imprevisível”.

Após muita pressão e negociação, encontrou-se uma saída “diplomática” para a

crise, o novo presidente deveria aceitar a castração de grande parte de seus poderes

políticos pelo Parlamentarismo, através da incômoda figura de um primeiro ministro.

Acreditando assim evitar uma guerra civil, Jango, na verdade, apenas adia mais alguns

anos a inevitável ascensão dos militares ao poder. Como todo povo tem o governo que

merece, é importante ressaltar que o terreno que deu sustentação ao golpe de 64 estava

já sendo preparado desde algum tempo, inclusive pela Igreja, através daquela parte da

claro que andava insatisfeita com os rumos que estavam tomando tanto a Hierarquia

quanto o Governo no Brasil.

Somente em 1963, através de uma consulta popular, João Goulart conseguirá

se livrar do regime parlamentarista que atava as mãos. Começará então uma batalha

para aprovar suas tão esperadas reformas.

Acontece que essas reformas incomodavam muito uma elite intelectual (pelo

seu forte apelo social) e, principalmente, uma elite econômica (por se tratarem de seus

próprios bolsos). Para serem aprovadas, necessitariam de muita negociação e

experimentação na arte política, coisa que o nosso ministro do trabalho acostumado a

vice-presidente e presidente por acaso não saberia fazer. Ainda neste mesmo ano, o

quadro do “tabuleiro de xadrez” volta a se alterar. Ao retornar da segunda sessão do

Concílio do Vaticano II. D. Helder Câmara será chamado a ter uma conversa com o seu

superior na Diocese do Rio de Janeiro. D. Jaime de Barros Câmara pede para que o seu

auxiliar leia o texto dos Atos do Apóstolos, em que Paulo e Barnabé, por divergências

pastoris, resolvem se separar e seguir caminhos diversos. Após a leitura, D. Jaime

explica-lhe que havia solicitado ao Núncio Apostólico, que pedisse a Santa Sé para

transferi-lo para uma arquidiocese, em que ele pudesse fazer a sua própria experiência

como arcebispo de um circunscrição eclesiástica. Em março de 64 (fatídico), Roma

transfere D. Hélder para o que seria praticamente um exílio político, a Arquidiocese de

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São Luis do Maranhão. Porém, antes da nomeação ser publicada, falece o então

Arcebispo de Olinda-Recife. Núncio Lombardi telefona imediatamente para Roma e

sugere que D. Hélder seja transferido para a Arquidiocese que acabara de ficar vacante.

Roma aceita a sugestão. Ironicamente, no momento em que o conservador D. Jaime

tenta livrar-se de D. Hélder, mandando-o para uma região inexpressiva. Este acaba se

tornando o Arcebispo da mesma diocese que projetara nacionalmente anos antes, um

outro bispo de importância ímpar, D. Sebastião Leme.

É claro que o pedido de afastamento de D. Hélder do Rio de Janeiro continha

elementos não previstos pelo “Atos dos Apóstolos”, a não ser que já houvesse membros

da CIA infiltrados entre os seguidores de Jesus. Enfim, depois do terreno limpo, “de

repente”, D. Jaime começa a falar de um tal padre norte-americano chamado Pe. Patrick

Peyton, que realizava diversos milagres pela fé, nas Filipinas. Por providência divina ou

astúcia diabólica, este padre será transferido para o Rio de Janeiro. Em pouco tempo,

“com grandes fanfarras da imprensa, precedida por centenas de milhares de cartazes,

saudada pelos jornalistas conservadores, difundida pela televisão e pelo cinema, entrou

no Brasil a Cruzada pelo Rosário em Família do Pe. Patrick Peyton.20

” Os católicos

progressistas se encontraram em maus lençóis diante dessa situação, apesar do cheiro

de enxofre, a campanha parecia inocente não havia como denunciá-la. Rapidamente

cresceu por todo o país e começou a fazer denúncias frenéticas do perigo comunista. A

Cruzada pelo Rosário em Família se tornara-se o mais vasto quadro de mobilização da

classe média das cidades contra João Goulart.

A campanha torna-se um ponto de aglutinação para os adversários

do Governo, e neste sentido trabalhava com outras organizações, tais

como a CAMDE (Campanha da Mulher Pela Democracia), e um

centro de difusão para a rápida transmissão de ordens de mobilização.

Preparava também o terreno, pela propaganda anti-comunista, para as

grandes mobilizações de março de 1964, o objetivo do seu esforço, as

“marchas com Deus, pela família e pela democracia”21

20 ALVES, Marcio Moreira Alves. A igreja e a política no Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1979 p.

112 21

Idem, p 113

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Segundo consta, estas marchas foram financiadas pelas grandes empresas

norte-americanas e pela CIA. Como resposta a um grande comício da esquerda no Rio

de Janeiro a respeito de suas reformas, a direita colocou nas semanas seguintes mais de

quinhentas mil pessoas nas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro para protestar contra

as reformas. Entre as organizações que estavam por trás destes eventos se encontravam

a Cruzada pelo Rosário em Família, os círculos de operários católicos, o Grupo de

Reabilitação do Rosário, a Associação dos antigos alunos do Sagrado Coração de Jesus

e todas as associações filiadas na Confederação Católica do Arcebispo do Rio de

Janeiro. Após a queda do governo de Jango, a Cruzada perde completamente o

referencial.

O segundo “bispo” a ser “mexido” será o arcebispo de São Paulo D. Carlos

Carmelo de Vasconcelos Mota, que no dia 22 de março de 1964 pediria o seu

afastamento da função. D. Carlos nunca foi propriamente o que podemos chamar de um

“sacerdote progressista”, muito pelo contrário, sabe-se que era amigo e conselheiro de

Adhemar de Barros, então governador de São Paulo. Porém, ao sair, deixaria o lugar

livre para alguém mais alinhado com a ordem que estava prestes a estabelecer.

Como já vimos, a JEC e a JUC também estavam “fugindo do controle” desta

parte do clero comprometida com a estagnação, portando, eles também merecerão uma

atenção especial. O documento de debate do Conselho Nacional da JUC de 1954

intitulava-se “O estudante e a questão social” e já nos indica o rumo que esta juventude

de então estava tomando. As reuniões nacionais de 1957 em Porto Alegre e em Recife

vão se aprofundar ainda mais nessa mesma questão social. Em 1960, no chamado

“Congresso dos Dez Anos” a guinada á esquerda será completa. O então estudante de

sociologia Herbet José de Souza (futuro Betinho) apresenta um documento

completamente diferente de tudo aquilo que já havia sido debatido na JUC até então,

por quase não abordar as questões religiosas, abordando-as de uma forma

completamente diferente da forma convencional:

Propunha aos jucistas participarem numa tripla construção

libertadora: a luta contra o subdesenvolvimento, na qual a reforma

agrária era um objeto tático imediato; a independência em relação ao

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campo de atração do capitalismo, com a tática imediata da luta contra

a “política egoísta dos monopólios”; e a ruptura dos laços coloniais

com as metrópoles desenvolvidas.22

O documento caiu como uma bomba na cabeça da Hierarquia. Principalmente

após a decisão do congresso de participar das eleições para a UNE, juntamente com os

comunistas. Os debates intensificam-se e ganham espaço nos jornais, atraindo a ira

retórica de Gustavo Corção, o principal polemista da direita católica. O dialogo com o

clero, que já estava difícil, ficou ainda pior. Alunos da PUC começaram a ser

perseguidos e ter que responder a inúmeros interrogatórios, ficando a beira da expulsão.

Em 1962, a CNBB se senta para discutir melhor o que estaria acontecendo com a JUC;

a conclusão vem no sentido que suas ações não tinham se mostrado católicas e que

ninguém, nem o movimento e nem seus militares poderiam se opor ás orientações da

Hierarquia. Após este ocorrido, a JUC começa a esvaziar graças ao descontentamento

de seus membros mais radicais irão se organizar no seio da Ação Popular (AP), herdeira

direta da JUC, que também aos poucos se afasta da Igreja, até que em 1966, declara a

sua opção pelo marxismo-leninismo, mesmo ano em que a Juventude Universitária

decreta a morte de sua instituição. Após o Golpe de 64 até o seu fim em 66 os militares

da JUC serão impunemente cassados, presos e torturados. O Alto Clero simplesmente

fará de conta que não sabe o que está acontecendo.

A Ação Católica no Brasil tinha perdido então os seus contornos espirituais

para mergulhar fundo nas questões sociais e no comprometimento com a formação

política, por isso mesmo deveria ser aniquilada, e mesmo as discussões que envolviam a

direção que a Santa Sé apontava com Concílio Vaticano II deveriam ser abafadas, não

em nome de uma “nova ordem”, mas sim, em nome da mesma velha e caduca

Hierarquia, que insistia em não escoar pela latrina da História. Para Márcio Moreira

Alves, “ o que mais impressiona nos ataques contra a Ação Católica é a ausência total

de referências teológicas e o desequilíbrio entre as queixas dos bispos e os textos que

estavam em vias de votar, no mesmo momento, no Concílio.” O autor realçará que todo

o trabalho da JUC, que deu o tom definitivo das últimas realizações da Ação Católica,

era completamente coerente e centrado em aprofundadas questões teológicas, enquanto

22 Idem, p.127

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seus contestadores apenas se contentavam em reprimir a aplicação das teses que

acabavam de votar no Vaticano.

Outro movimento da Ação Católica visado foi o MEB (Movimento da

Educação de Base). Este movimento se originou do SORPE (Serviço de Orientação

Rural de Pernambuco) e do SAR (Serviço de Assistência Rural), instituições criadas e

dirigidas pela Igreja com a intenção de formar sindicalistas e colocá-los á frente dos

sindicatos em formação, com o objetivo de dirimir harmoniosamente os conflitos entre

camponeses e proprietários. Neste momento o numero de sindicatos na região estava

aumentando significativamente e o clero temia a propagação do pensamento de

esquerda entre eles, a exemplo do que havia acontecido recentemente com a Evolução

Cubana. Toda esta movimentação chamou a atenção da CIA, que além de auxiliar na

fundação do SORPE, também se interessaria em fundar cooperativas agrícolas com a

intenção de neutralizar o potencial revolucionário do movimento sindical rural em

Pernambuco. Em última instância, reconhecia-se que era necessário fazer alguma coisa

frente ao sub-desenvolvimento da região, porém temia-se a solução marxista. O SORPE

e o SAR necessitavam então de um instrumento de comunicação de massas para poder

mobilizar o máximo possível de camponeses; o SAR já vinha desenvolvendo uma certa

experiência de educação pelo rádio desde 1949, de alcance limitado e bastante precária

devido a falta de recursos. A CNBB queria expandir o projeto, só faltava financiamento.

Em ocasião da visita a Aracaju do então candidato a presidente Jânio Quadros, D.

Távora, bispo da cidade, apresenta-lhe o projeto e o convence de sua importância. Uma

vez eleito, Jânio assina o decreto nº 50.370, pelo qual o governo financiaria as escolas

radiofônicas sob a direção da CNBB, por cinco anos.

Porém, apesar do Clero e da CIA estarem com “as maiores das boas

intenções”, algo frustrará suas idéias originais. O MEB acabou não sendo “(...) mais um

movimento carregado de tradição, para sustentar, a qualquer preço, o que existe”. Isto

devido a uma série de fatores como;

(...) a novidade do seu campo de ação, o prestígio de que a

secretária-geral, (...) as fontes de financiamento, independentes da

Igreja, o aparecimento de um método de alfabetização imaginado por

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um pedagogo católico, Paulo Freire, capaz de alfabetizar ao mesmo

tempo que abria os alunos para as realidades do mundo, o anuncio da

convocação da Concílio e as esperanças que desertava, a publicação,

em 15 de maio de 1961, da Mater et Magistra, o clima político de

abertura no Nordeste e no Brasil.23

Além disto, o contato com a crescente miséria da região fez com que os

militares fossem perdendo continuamente o interesse em pregar a conciliação das

classes e o respeito a propriedade privada.

De acordo com a argumentação do brasilianista Thomás BRUNEU, as tensões

que estão ocorrendo no seio da Igreja através de movimentos de base, como o MEB,

muito pouco significa se comparados com o que está acontecendo na sociedade e na

política em geral, porém, ela é uma instituição pela sua força e influência, interessa a

todos. Qualquer mudança de abordagem da doutrina e na prática desta instituição é

incapaz de se restringir apenas a uma questão interna, uma vez que se encontra ligada,

de uma maneira extremamente complexa, a todos os outros grupos e estruturas. Não

demorou muito para que as forças comprometidas com o regresso, tanto membros da

sociedade civil, quanto do clero, se esforçassem para desmantelar o MEB, a exemplo do

que já estavam fazendo com a JUC. Em fevereiro de 1964, o governador da Guanabara,

Carlos Lacerda (sempre ele!), mandara confiscar 3000 cartilhas do MEB sob o pretexto

de que se tratava de material subversivo. A direção do movimento foi obrigada a prestar

depoimentos na polícia para se defender. O episódio ganhou repercussão nacional e

expôs o movimento a toda sorte de injúrias. O Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, D.

Jaime Câmara, fez de conta que não sabia nada do que estava acontecendo. Dois meses

depois do golpe, os membros do MEB também foram perseguidos e presos. Passada a

fase repressiva, como o movimento ainda dispunha de recursos do Estado para mais um

ano de atividades, os bispos conservadores resolveram assumir a sua direção.

Como que para contrabalancear a contínua ofensiva aos setores mais

progressistas da Igreja, começaram a se organizar grupos laicos de extrema direita, a

exemplo da Cruzada pelo Rosário em Família e a CAMDE (Campanha da Mulher Pela

Democracia), porém esses grupos, apesar da sua grande importância no contexto do

golpe, terão sua duração muito limitada. A instituição que analisaremos a partir de agora

23 Idem, p. 138

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existe até hoje,e ainda atende pelo nome de Sociedade Brasileira para a Defesa da

Tradição, Família e Propriedade, a TFP.

Fundada em 1960, pelo ex-militante da Ação Católica, Plínio Correia de

Oliveira, a organização comunga da ideologia “integrista”, doutrina nascida na França

no final do século XIX e sustentada politicamente por Pio IX e Pio X. Carrega este

nome pois se acredita ser o “catolicismo integral”, que defendia a imutabilidade e a

intangibilidade da doutrina da Igreja, cada vez mais voltada para o social. No contexto

de sua fundação, a TFP gozava de grande prestígio entre uma parcela reduzida do Clero,

onde pode se contabilizar entre os mais afoitos o bispo da Diamantina-MG, D. Geraldo

Sigaud, e o bispo Campos-RJ, D. Castro Mayer. Gozava também de um apoio

significativo da classe média alta, por ser radicalmente contra a reforma agrária e contra

o comunismo. Por estas e outras razões, torna-se fácil compreender a importância que

ela adquire no contexto do golpe. Veremos na segunda parte deste capítulo como ela se

torna o modelo da Igreja idealizado pelos militares.

Pois bem, poucos dias antes do golpe, os conspiradores de Minas Gerais irão

receber do Arcebispo de Belo Horizonte, D. João Rezende Costa, uma benção para a

“causa de Minas contra o comunismo”. Na madrugada do dia 31 de março para o dia

primeiro de abril de 1964, o exército dormiria janguista para acordar revolucionário.

Logo no dia dois, D. Jaime Câmara abençoará a “Marcha da Vitória”, atribuindo a

derrubada de Jango ao “auxilio divino abtido por nossa mãe celestial, pelo Venerável

Anchieta, pelos quarenta mártires do Brasil e outros santos protetores de nossa pátria.

Parte 2 – Populorum Regressio

Vimos na primeira parte deste capítulo, como as „‟peças pretas‟ se organizaram

diante da oportunidade, talvez única, de barrar as ascensão comunista no Brasil, fazer

minguar a influência recente da Santa Sé com relação a importância que seus últimos

dirigentes vinham atribuindo á questão social e reatar definitivamente os laços entre a

Igreja e o Estado no país. Vimos como que em um período relativamente curto de

tempo, um grupo seleto da Hierarquia ajudou a organizar o golpe contra a nação e, mais

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que isso, deu um golpe dentro de sua própria instituição, contrariando todos os avanços

da doutrina católica nos últimos cem anos. Vejamos agora as conseqüências imediatas

destes acontecimentos.

O governo militar que se instaurara no Brasil se propunha basicamente a

“limpar a área”, afastando o iminente risco de uma revolução comunista no país e, num

segundo momento. “recolocar o país nos trilhos”, o que para os militares significaria

retomar o crescimento econômico da nação. Temos assim duas palavras-chave para

entender para intervenção deste grupo na política nacional: segurança e

desenvolvimento. Em nome da segurança se buscava eliminar todos e qualquer grupo,

pessoa ou idéia que pudesse ser identificados com o consumismo ou demostrassem

enfrentamento ou mesmo deslocamento som relação ao governo. E em nome do

desenvolvimento se forjará uma espécie de “milagre econômico” que, na prática, seria

representado pelo aumento do poder aquisitivo da classe-média em contraposição ao

“esmagamento” das classes sociais menos favorecidas. Estes fatores terão uma

importância decisiva na mudança de abordagem da Igreja a partir de então.

Logo após o golpe, era necessário para aquela parte do clero que visava se

aproveitar da nova situação, continuar as “reformas” iniciadas anteriormente para que o

plano gozasse de êxito. A primeira ação seria ocupar alguns pontos-chave de influencia,

ou seja, a CNBB e algumas Arqui-dioceses importantes. Em outubro de 1964 a CNBB

se reúne no vaticano para eleger a sua nova diretoria. Tementes dos rumos que a

instituição poderia vir a tomar caso continuasse sobre a tutela de D. Hélder Câmara a

maioria opta por uma diretoria conservadora, derrubando-o da Secretaria Geral, porém

apesar de ver sua influencia diminuindo consideravelmente, sua voz estava longe de ser

calada; mesmo ocupando uma secretaria de menos expressão como a de Promoção

Social, D. Hélder inicia uma cruzada internacional que, nos anos seguintes, denunciaria

a tortura e a ditadura no Brasil em todos os cantos do mundo, ao mesmo tempo em que

aqui em seu pais teria de responder a processos de calunia e suportar uma maciça

campanha nacional contra sua pessoa. Como presidente da CNBB, é eleito do

conservador bispo de Ribeirão Preto D. Agnello Rossi, que estava tão alinhado a “nova

ordem”, que apenas um mês depois, seria indicado para ocupar o lugar do Cardeal Mota

em São Paulo. “Ao 51 anos, saído de um bispado sem expressão política, chefiava a

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maior arquidiocese do país e presidia uma CNBB sem D. Hélder na Secretaria Geral”.

Não podemos atribuir estes fatos a nenhuma coincidência, mais sim a uma mão

habituada com as complexas estratégias “jogo de xadrez”.

Apesar dos constantes avanços da Santa Sé no tocante as questões sociais, a

maioria do Clero no Brasil possuía um grande medo do comunismo, uma vez que as

doutrinas marxistas acreditavam ser a Igreja o “ópio do povo”, e, em última instância,

visavam ao seu fim. Por isso, a maior parte da instituição excetuando-se basicamente

aos grupos e pessoas já referidas anteriormente, apenas assistiram ao Golpe, alguns

mais, outros com menos receio. Apesar dos conflitos iniciais envolvendo prisões e

interrogatórios de diversos membros relacionados a Igreja, a maioria esperou por cerca

de dois anos por mudanças positivas na política nacional. O que não aconteceu.

Diversos conflitos começaram a brotar do seio da Igreja, envolvendo

primeiramente aqueles setores relacionados com a CNBB anterior a 64, ou seja, tendo

como personagens principais as figuras de D. Hélder Câmara e D. Waldir Calheiros.

Ouve grande esforço por parte do governo e dos meios de comunicação atrelados ao

regime de denegrir a imagem desses primeiros envolvidos e de situar estes incidentes

apenas nas zonas de influências dos mesmos, ou seja, no nordeste do país. Porém, na

medida em que estes conflitos ganhavam proporções maiores, ao invés dos seus

protagonistas se verem isolados, mais o Clero se unia em torno no ideal de reafirmação

das propostas eclesiásticas pré-golpe. Estes conflitos consistiam basicamente de

resoluções de congressos eucarísticos ou tentativas em rádios locais, em que os

membros do clero, posicionavam favoravelmente aos trabalhadores e aos oprimidos,

denunciando condições inadequadas de trabalho ou abusos patronais de qualquer

natureza, e os militares enxergavam nisto uma perigosa influência comunista. A

Juventude Operária Católica foi uma das poucas instituições derivadas da Ação Católica

que não tinham tido ainda as sua influência minada por ocasião do golpe, até mesmo

por sua inocência e menor importância entre as demais. Justamente por isso, a JOC,

assim como também a ACO (Associação Operária Católica) veriam chegar o momento

em que eram urgente o amadurecimento de seu discurso e de sua linha de ação, uma vez

que eram os operários os que mais sofriam com a condição “desenvolvimentalista”

imposta pelo governo. A linha de discussão de seus congressos passou a ser de

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enfrentamento ao capitalismo e de valorização do homem e de seu trabalho. O

“barulho” em torno dos jovens operários foi tanto que a JOC internacional se viu

obrigada a interfirir, e mandar um de seus assistentes ao Brasil para acompanhar mais

de perto estas questões. Brian Burke, o padre enviado, conseguiu, após varias

discussões, que os jocistas recuassem de suas determinações dizendo que tudo não

passara de um equivoco. Porém, a maioria dos conflitos envolvendo a Igreja e o

governo militar que se instaurou o país não irá se resolver de uma forma pacifica,

mesmo antes da promulgação do Ato Institucional nº05 que aboliu a liberdade de

expressão e o direito a “Habeas Corpus.” Serão diversos os casos envolvendo

membros de Clero em prisões, torturas e até mesmo assassinatos.

Na contra-mão do que o governo talvez tivesse imaginado, após o AI-S, estes

“problemas” não cessaram, muito pelo contrário, aumentaram em quantidade e em

gravidade, envolvendo o laicato, padre e até mesmo bispos. Porém diferentemente do

que acontecia antes do Ato, a maioria destes conflitos não eram noticiados pela

imprensa, e, conseqüentemente, não chegavam ao conhecimento do grande público,

uma vez que a política do governo a ser encobrir estes casos para não causar o repúdio

da comunidade, já que envolviam, muitas vezes, atos bárbaros de violência.

Naturalmente, as fontes sobre estes casos é muito escassa, uma vez que quase não houve

circulação de noticias sobre o assunto e as pessoas envolvidas. Na maioria das vezes,

não se pronunciavam, temendo novas represálias.

Basicamente, teremos dois tipos de publicidade após o AI-5. A primeira é a

continuação da difamação nacional realizada contra D. Hélder Câmara e demais figuras

do clero que poderiam ser relacionadas como “agentes” do comunismo em nosso país.

A segunda é uma publicidade forjada pelos jornais e revistas atrelados ao governo, tais

como o Jornal “O Estado de São Paulo” e a revista “Veja”, que distorciam toda e

qualquer notícia relativa aos encontros da CNBB e resoluções de seus congressos,

tentando mostrar que a Igreja não estava preocupada com a questão social e que os

conflitos que a envolviam eram puramente fruto da subversão de “alguns membros

apenas”, não envolvendo a instituição.

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Em linhas gerais, os conflitos identificados durante este período no Brasil

podem ser classificados de quatro maneiras distintas; 1) Com relação a missão social da

Igreja: á luz do Concílio Vaticano II, a Igreja adotou um discurso voltado para o social.

O desentendimento se dá no sentido em que parte do Clero e do próprio governo

queriam que este discurso não saísse do papel. 2) Defesa institucional: não raras as

vezes, as ações da Igreja em tentar colocar este discurso na prática, os que o faziam

eram acusados de subversão; neste sentido, um padre comunista não é padre, é

comunista. 3) Desenvolvimento: o governo almeja o desenvolvimento econômico,

enquanto a Igreja defende o desenvolvimento humano. As duas formas de

desenvolvimento não são antagônicas, porém, se colocadas frente a frente. A Igreja

optaria pela segunda. 4) Situação Política: o objetivo da Hierarquia nunca foi apoiar

determinado tipo de governo, ela sempre apoiou aquele com que tivesse maior

possibilidade de exercer a sua influência, por isso, a anuência de alguns setores, em um

primeiro momento, ao golpe, porém, depois que tornou-se claro que a sua influência

reduziria-se a um papel figurativo, a Igreja não mais comungou com os idéias

revolucionários. Em linhas gerais, o papel imaginado pelos setores mais conservadores

do clero, juntamente com os militares e os meios de comunicação de massa

reacionários, foi um; e o papel que essa Igreja acabou exercendo foi outro

completamente diferente. Em frente das crescentes disputas pelo espaço de exercício da

influência clerical, tanto a Igreja quanto os setores já citados se encontraram com

objetivos díspares. O (endurecimento) da postura do governo diante dos movimentos

sociais só piorou e muito, a situação. As prisões e torturas envolvendo membros da

Hierarquia chegou a tal ponto que veio a sensibilizar até mesmo membros identificados

com o setores mais reacionários do clero. Aos poucos, o castelo de cartas arquitetado

para da sustentação ao regime foi caindo. Em outubro de 1970, no dia seguinte a uma

proclamação do Papa Paulo VI contra tortura, assumiria a arquidiocese de São Paulo D.

Paulo Evaristo Arns, que em pouco tempo se transformaria em símbolo de tenacidade

da luta contra a tortura. Seu predecessor, D. Agnello Rossi, fora “promovido “ para

trabalhar no Vaticano. Pouco tempo depois assumiria a presidência da CNBB D.

Aluísio Lorscheider, e a secretária geral seria ocupada por seu primo, D. Ivo

Lorscheider os dois comprometidos com a missão social da Igreja. A Hierarquia no

Brasil acabou por voltar-se para a soluções apontadas para o Concílio Vaticano II e

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pelas encíclicas papais, principalmente as de João XXIII. Terminava a aventura

conservadora e começava uma nova fase, mais voltada para a missão profética

- Capítulo III -

“SÓ DEUS SABE”

“Só Deus sabe” os rumos a serem então tomados por esta Igreja, porém, temos

algumas pistas. Após os períodos analisados até agora, mais precisamente entre 1970 e

1978, a Igreja adotou a chamada missão profética. Essa missão vem a casar

perfeitamente com a postura de perseguição que o Estado tem com relação a ela; nas

palavras de BRUNEAU:

O profeta é alguém que recebe a palavra de Deus e explica o

seu sentido e a sua importância nas situações concretas. O profeta é,

antes de tudo, um porta-voz que se sente, além disso, impelido a falar.

Ele não tem possibilidade de escolha, pois a missão de que é

incumbido por Deus, é de transmitir a Sua mensagem e extrair-lhe as

suas aplicações no mundo. Freqüentemente a profecia assume uma

conotação política e revolucionária, pois o profeta apela para uma

ruptura na ordem pré-estabelecida24

.

Não importa o quanto são perseguidos, nem mesmo importa se os seus

objetivos serão alcançados, o que importa é a sua missão. Neste momento a Igreja

transforma-se na única instituição de oposição ao regime militar no Brasil.

Em termos práticos, esta “missão” desenvolveu-se nas chamadas Comunidades

Eclesiais de Base (CEB), que consistem em uma novíssima forma de abordagem da

influência e visam introduzir cada vez mais o laicato na organização eclesial. Diante da

24 BRUNEAU, 1974. p. 400

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opção do Clero de se distanciar do Estado, tornou-se extremamente necessário para a

sua sobrevivência um envolvimento maior com as bases. Frei Beto enxerga neste

fenômeno não só a aproximação da Igreja com o povo, mas também o fenômeno

coincidente de afastamento do Estado e do povo. Segundo a sua óptica, não existiria

então um conflito entre a Igreja e o Estado e sim uma constante defasagem entre um

regime ditatorial excludente e o povo brasileiro. A missão profética seria junto a este

povo, e a Igreja então deveria ser a “voz daqueles que não tem voz “. As CEB‟s é

que seriam essa voz, que “grita no seio da sociedade” por pão, por emprego e por justiça

social. A declaração de 30 de abril de 1963 já clamava por reformas de Base25

. A

revolução de 1964 contou com a conveniência da Igreja, entre outros motivos, em razão

dessas reformas não implementadas. Tanto o consentimento inicial dado ao golpe

quanto a ruptura posterior, seriam então, em última análise, pelo povo. Tal como em

seu nome se legitimou a colaboração entre os dois poderes, também em sua defesa

contra as injustiças e repressão, fundou-se o desentendimento.

As CEB‟s surgiram em 1965, porém, foi apenas a partir do início da década de

70 que elas começaram a tomar corpo, uma vez que se fazia mais urgente a

descentralização política da Igreja, tanto pela necessidade de obter maior inserção

popular, quanto pela necessidade de dificultar a ação repressiva das milícias do governo.

A explosão das CEB‟s pode ser encarada como uma espécie de “reinvenção” da Igreja,

onde a chamada “tomada de consciência” parece ter sido a mola principal.

“Tomam agora consciência de que não tinham consciência nem de grupo, nem

como Igreja... O vazio de consciência do próprio valor (...) fazia com que o padre

ocupasse um lugar enorme. A sua ausência deixava os fiéis desorientados.26

” As

Comunidades de Base, inicialmente propostas como instrumentos de renovação da

estrutura interna da Igreja, seriam depois compreendidas como padrão organizatório

para toda a sociedade. As CEB‟s são essencialmente descentralizadas, dando um ênfase

maior a participação da comunidade, tanto com relação a facilitação da linguagem,

quanto a sua forma de abordagem, mais apoiada nos interesses locais como o trabalho,

25 ROMANO, Roberto. Brasil: Igreja contra Estado. São Paulo: Kairós, 1979. p. 187

26 Alves, 1979. p.159

Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP – UNESP-Franca.

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escolas, transportes, etc. todos os movimentos leigos ligados ás comunidades de base

deviam estar sob a direção da pastoral de conjunto, deixando-se aos leigos as decisões

imediatas, numa situação de co-responsabilidade eclesiástica.

O objetivo presente in nuce nas comunidades de base foi assegurar

na sociedade, entre os indivíduos e grupos cada vez mais secularizados, postas

de lança que permitiriam á Igreja ultrapassar o Estado na corrida rumo ao

domínio das populações marginalizadas pelo processo econômico nacional, no

campo e na cidade. Foi para isso que ela se muniu de instrumental técnico e

humano neste período. Dado que seus recursos financeiros estavam longe de

assegurar autonomia absoluta e porque a ajuda das igrejas estrangeiras não

eram suficiente, os hierarcas, homens realistas, recomendavam que na

“medida do possível” a Igreja procurasse “celebrar convênios com entidades

públicas e cuidar, com grande perspicácia para não perder a independência27

.

Destarte, entendemos as Comunidades Eclesiais de Base como um

redirecionamento nos rumos da Igreja Católica, no tocante a sua abordagem da

influência. Porém, esta abordagem possui um limite de atuação, uma vez que começa a

se defrontar com o ressurgimento dos órgãos do povo, tais como associações de bairros,

sindicatos e partidos políticos. No final da década de 70, com os sinais de desgaste

demonstrados pelo governo militar e o subseqüente clima de abertura política, o

governo anuncia a anistia aos presos políticos, após um grande movimento popular.

Inicia-se a reforma partidária, que acaba com o bipartidarismo, vigente desde 1966,

estabelecendo-se, assim, o pluripartidarismo. Com isso, iriam aumentar ainda mais as

pressões em cima do Clero para que se criasse um partido político para continuar

guiando as bases, afinal de contas, após dez anos de missão profética, atuando através

das comunidades eclesiásticas, nada mais natural para os fiéis do que a continuação

deste trabalho. Porém, não é a isso a que se propõe esta Igreja depois de quase duas

décadas de regime militar. De acordo com sua interpretação, “somente um partido

popular poderá representar de fato os interesses do povo”, porém, esta meta estava

muito distante, pelo menos no que diz respeito a organização das CEB’s naquele

momento. De qualquer forma, não se podia esperar que esta Igreja fizesse o que o

povo devia fazer, sem que ela substituísse o papel das organizações populares e dos

partidos políticos.

27 ROMANO, 1979. p.191

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Afinal, quem foi o primeiro teólogo ou pensador a se inclinar sobre o problema

da separação da Igreja com o Estado? Serpa possível que talvez não tenha sido

justamente o próprio fundador do Cristianismo? No momento em que o inquiriram

sobre se era lícito que se pagassem os impostos para o Estado Romano, “Ele”

aconselhou a seus discípulos a “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Será que o próprio Jesus Cristo já não haveria matado a questão do conflito entre Igreja

e Estado? A intenção de que a Igreja assuma as rédeas da transformação social,a través

da condução política da país é tão injusta quanto antiga, segundo nos conta a Bíblia, o

fundador desta Igreja e razão de sua existência morreu só e abandonado pelo próprio

povo que desejava salvar justamente por isso. Este povo esperava a libertação imediata

dos povos da Galiléia que estavam sob o julgo dos Romanos e esperavam um “messias”

que viesse tirá-los daquela condição política, e não alguém que propusesse a salvar suas

almas. Ainda com relação a isso, temos as palavras de Frei Beto: “A Igreja não pode

ser culpada daquela que ela não se propõe, nem ser acusada de não corresponder ás

expectativas que surgem dos que só vêem um aspecto de sua atuação”

O ideal transformador da Igreja continuará vivo, e, com o tempo, o Brasil verá

que mesmo que não tenha montado um partido político católico, ou ressuscitado

práticas como a Liga Eleitoral Católica, do início do século, o Clero já havia lançado as

sementes daquele que viria a ser o maior partido da esquerda da América Latina, no

momento em que fez questão de desenvolver o espírito crítico das juventudes do campo

e das cidades e, principalmente, dos operários, mesmo depois do golpe, através da JOC

e da ACO, como já vimos. Os desafios enfrentados pela Igreja durante o “interlúdio

espartano” seriam vencidos, e as palavras de D. Hélder poderiam mais uma vez ecoar

entre as multidões sem a interferência incômoda da censura:

Quis o Pai que a Igreja de seu Filho, no Brasil, tivesse a missão

providencial de tentar dizer que a pseudo-ordem implantada era, na verdade,

agravamento das estruturas de servidão.

Quis o Pai que a Igreja do seu Filho em nosso País compreendesse a

impossibilidade de continuar sendo um dos principais esteios de uma ordem social,

que mal encobre desigualdades gritantes e é muito mais uma desordem perigosa e

comprometedora.

Foi a Graça Divina que permitiu á Igreja de Cristo a coragem que o

Evangelho inspira, de denunciar a injustiça e a opressão. A miséria e a fome, com

gritantes pecados sociais.

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Não faltou quem nos acusasse de fugir á nossa missão para fazer política,

quando a Igreja tentava apenas cumprir missão do bem comum, dever evangélico

de lutar, sem ódio, sem violência, mas com decisão e firmeza, por um mundo mais

justo e mais humano.

Não faltou quem acusasse a Igreja de subversiva e comunista... E toda a

nossa subversão era mostrar, com a fé que a Graça Divina nos concede, que, nas

calçadas das grandes cidades, nas ruas dos grandes centros, Jesus Cristo, em

pessoa, catava restos de comida, no lixo, para comer; dormia e dorme ao relento,

debaixo das pontes e viadutos; era preso, e perseguido por ser pobre.

Deus concedeu que a Igreja de Cristo, no Brasil, tivesse a coragem dos

cristãos do início da era cristã, de testemunhar o Evangelho, á custa da própria

liberdade e até da própria vida. Houve perseguições, seqüestros e torturas,

especialmente de trabalhadores e estudantes – homens e mulheres - , sobretudo

líderes sindicais e leigos comprometidos com o Evangelho. (sic)28

- Conclusão -

A Igreja Católica no Brasil é uma instituição que tem merecido atenção do

mundo inteiro. Diversos intelectuais da França, do Canadá e dos Estados Unidos,

apenas para citar alguns exemplos, tem estudado, feito viagens, realizado pesquisas de

campo, examinado jornais e centenas e centenas de horas de fitas gravadas com

entrevistas e depoimentos, para tentar entender como pensa esta parte integrante da

Santa Sé no Brasil. Em contrapartida, a nossa bibliografia sobre o assunto é muito

escassa e se restringe basicamente a um período que equivale a um “boom” da

historiografia que percorre toda a década de 70.

O que pensam estes intelectuais sobre nós, e porque o estudo sobre a Igreja aqui

em nosso país se mostra tão importante? Talvez, seja porque, desde 1500, a Igreja

possuía uma relação ímpar com o Estado (subordinação ao Imperador, não ao Papa/

28 BARROS, R e OLIVEIRA, L. de (org). Dom Helder: o artesão da paz. Brasília: Senado Federal,

Conselho Editorial, 2000 p . 340

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Padroado Régio); durante a Proclamação da República, realizou um processo de ruptura

ímpar na história e, desde então, se viu envolvida com a mais variada sorte de situações,

que muitas vezes visavam minar a sua influência, mas que nunca lograram êxito. Pelo

menos não por muito tempo. Ouso dizer que a Igreja no Brasil se mostra, muitas vezes,

se não como paradigma do mundo, pelo menos de toda a América Latina. Um estudo

sobre este tema, portanto, sempre vem carregado de uma grande responsabilidade.

E com relação ao ultramontanismo, cujas conseqüências inicialmente propus

como objeto de estudo do presente trabalho? Acaso existiu este movimento no Brasil?

Se a resposta a esta pergunta não carecesse das quatro páginas que utilizarei para ela, e

fosse necessário responder com apenas uma palavra, com certeza ela seria: Não! Porém,

como já disse, este tema vem carregado de uma responsabilidade gigantesca e qualquer

resposta pronta poderia comprometer o estudo.

Primeiramente, Catolicismo Ultramontano é aquele que diz respeito à doutrina

conservadora e restauradora da Igreja, que se estende desde 1800 até 1963, por ocasião

do pontificado de João XXIII, que iniciará uma série de reformas na forma de

abordagem do clero. Ultramontanismo significa delegar total poder à autoridade papal,

pois seu poder vai “além da montanhas”. Justamente por isso talvez, possa nos parecer

equivocado analisar o Brasil sobre esta perspectiva, uma vez que aqui o que vigorava

era um total atrelamento da Igreja com a figura do Imperador, que era o Grão Mestre da

Ordem de Cristo, título que lhe era hereditário e fora-lhe concedido pelo próprio Papa.

Quando começamos a contextualizar o ultramontanismo no mundo, por ocasião do

pontificado de Pio VII (1800 – 1823), a situação do padroado régio permanece

inalterada no Brasil e, na prática, a autoridade papal gozava de uma influência limitada,

uma vez que a figura do Imperador se postava entre o Brasil e o Vaticano.

Quando este movimento encontra o seu auge, durante o Concílio Vaticano I, a

Igreja não está simplesmente centralizando a sua doutrina em torno do poder papal, está,

na verdade, uma vez que ela é uma instituição sensível a todas as principais mudanças

da sociedade, anunciando a centralização política dos países europeus e da América

Latina que se viram envolvidos com ditaduras de direita nas décadas seguintes. Dentro

desta óptica, não seria então o ultramontanismo uma causa, e sim uma conseqüência, de

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diversos outros fatores que serão sentidos no mundo todo incluindo o Brasil. Importante

citar aqui, como exemplo, o movimento cultural conhecido como “Romantismo” que,

além de ser completamente místico e idealizador, prega, entre outras coisas, o

escapismo, que em um primeiro momento pode se dar através da consciência (alienação

religiosa, por exemplo) e em segundo momento através da própria morte (diante da

incapacidade de ser feliz já neste mundo). Todas estas características são

completamente congêneres com as idéias da Igreja na Época. Uma outra característica

fundamental para compreender o romantismo é o nacionalismo exacerbado, o que

poderemos observar mais adiante na Itália, na Alemanha e até mesmo no Brasil, durante

a “Era Vargas”.

Dentro deste contexto, o fim do pontificado de Pio XII mais representa o

processo de abertura política vivido no mundo de então do que o fim do

ultramontanismo, que seria apenas uma de suas conseqüências. A eleição de João XXIII

se dá exatamente neste sentido. Analisando, portanto, à luz destas questões, a história

recente de nosso país, é fácil localizar personagens que poderiam ser identificados como

ultramontanos. Diante das resoluções da ordem republicana no Brasil, encontramos na

figura de D. Antônio de Macedo Costa um ilustre exemplo disto. 29

Culto e reacionário,

era a própria encarnação dos ideais conservadores que se armaram diante da iminente

ameaça republicana de mudança, da mesma forma que, na segunda metade do século

XX, um grupo da mesma estirpe também se organizará frente às “ameaças do mundo

moderno”. Seria demasiado equivocado classificá-los como ultramontanos? A meu ver,

continuamos na mesma dicotomia do século XIX entre “catolicismo integral”,

representando a imutabilidade e a intangibilidade da Igreja e “catolicismo social”,

representando as tendências mais modernas. Eis então o Catolicismo Ultramontano! A

contraditória doutrina da Igreja Católica que, em troca de concessões, influência e

território, apoiara os mais brutais líderes de extrema direita do século XX, entre eles;

Franco, Salazar, Mussolini e Hitler, com o objetivo de conduzir o seu rebanho à

salvação final. Foram tantos os paradoxos gerados neste período que após a década de

29 Cf. MANOEL, Ivan A. D. Antônio de Macedo Costa e Rui Barbosa: a igreja católica na ordem

republicana brasileira In: PÒS-HISTÒRIA: Revista de Pós Graduação em História – UNESP. V 5 São

Paulo: Arte e Ciência, 1997. pp. 67-81

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sessenta acontecerá uma reviravolta na forma de pensar da Igreja que agora se mostra

mais uma vez centrada no Espírito Santo e no amor para guiar o “povo peregrino de

Deus”.

No Brasil, após a falência comprovada destes métodos no mundo inteiro, este

grupo enxerga no Golpe Militar de 1964, a oportunidade de “pegar carona” no novo

regime instituído, sendo muitas vezes conivente com prisões e torturas, tanto de leigos,

quanto de membros da Hierarquia, porém, este incidente despertará a maior parte do

clero do país para uma nova forma de abordagem política para a fé cristã.

A Igreja se porta então como uma grande metáfora da própria humanidade,

oscila de um extremo ao outro da história, sem nunca encontrar a Parúsia30

. Mas isto

nada possui de novo, é a eterna contradição humana.

Bibliografia

MANOEL, Ivan A. O pêndulo da história: A filosofia católica da história (1800-1960)

BARROS, R e OLIVEIRA, L. de (org). Dom Helder: o artesão da paz. Brasília: Senado

Federal, Conselho Editorial, 2000

30 Cf. MANOEL, Ivan A. O pêndulo da história: A filosofia católica da história (1800-1960) pp.98

Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP – UNESP-Franca.

06 a 10 de setembro de 2010. Cd-Rom

ROMANO, Roberto. Brasil: Igreja contra Estado. São Paulo: Kairós, 1979

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Sena Madureira e Júlio Castañon Guimarães (trad.). Petrópolis: Vozes, 1975.

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LEÂO XIII (Papa). Rerum Novarum (1891) Petrópolis: Vozes, 1950

LIMA, Alceu de Amoroso. Memórias improvisadas: diálogos com Medeiros Lima.

Petrópolis: Vozes, 1973.

PIO XI (Papa). Quadragésimo Anno. São Paulo: Edições Paulinas, 1969. p.42

BRUNEAU, Thomas. Catolicismo brasileiro em época de transição. São Paulo: Loyola,

1974.

LIMA, Alceu de Amoroso e MESQUITA, Luis José de. (org.) As encíclicas sociais de

João XXIII. Rio de Janeiro: José Olympo Editora, 1963.

MANOEL, Ivan A. O pêndulo da história: A filosofia católica da história (1800-1960)

MANOEL. “Ação católica brasileira: marco na periodização da história da igreja

Católica no Brasil”, p.325 in: COUTINHO, S. R. (org). Religiosidades, misticismo e

história no Brasil central. Brasília: CEHILA, 2001. PP. 319 – 329

ALVES, Marcio Moreira Alves. A igreja e a política no Brasil. São Paulo: Editora

Brasiliense, 1979