O Cemitério das Polacas O Cemitério que quase só tem túmulos de mulheres.

23
O Cemitério das Polacas O Cemitério que quase só tem túmulos de mulheres

Transcript of O Cemitério das Polacas O Cemitério que quase só tem túmulos de mulheres.

O Cemitério das Polacas

O Cemitério que quase só tem túmulos de

mulheres

A comunidade judaica visita seus mortos no domingo entre o Rosh

Hashaná (Ano Novo) e o Yom Kipur (dia do Perdão). Seguindo esta tradição, anualmente visito o

Cemitério Israelita de Inhaúma. Beatriz Kushnir

As chamadas “polacas" que vieram para o Brasil prostituir-se , tinham uma forma de solidariedade muito peculiar: uniam-se em fundações de ajuda

mútua, como forma de autoproteção, “(…) já que não podiam frequentar os espaços da comunidade judaica nas cidades onde conviviam”, explica a matéria. Escrito

pela professora e pesquisadora Beatriz Kushnir, a matéria revela que grande parte destas moças está

enterrada no cemitério de Inhaúma (RJ). Explica ainda que prostitutas e suicidas deveriam, segundo preceitos judaicos, ser enterrados junto ao muro dos cemitérios - reforçando assim a condição de “párias” da sociedade.

Chegada das polacas ao porto do Rio de Janeiro data de 1867

Fugindo da miséria , das guerras na Europa, sem dinheiro para o famoso dote, chegaram ao Brasil, onde eram chamadas

de “ polacas”

Algumas ganharam status e tinham até escravas negras

Sem meios de subsistência, eram forçadas a se prostituirem

Polacas em dia de festa

Mesmo assim, as polacas “conseguiram manter-se judias” apesar de rejeitadas pela colônia judaica. Elas

tinham a sua própria sinagoga. E como prostitutas, essas mulheres não tinham direito de ser enterradas.

Como forma de resistência e sobrevivência para continuarem suas tradições, religião e cultura, as

polacas judias criaram a sua própria associação, em 1906, chamada Associação Beneficente Funerária e

Religiosa Israelita, com sede num terreno no Cemitério de Inhaúma. Há quem diga ser este o

primeiro cemitério judaico no Rio de Janeiro, que hoje abriga cerca de 700 lápides de prostitutas e parentes.

Documento da Instituição da ASSOCIAÇÃO BENFICENTE FUNERÁRIA e RELIGIOSA

ISRAELITA

Sala de purificação dos corpos

Cemitério de Inhaúma

Frente da Sinagoga da Rua Afonso

Cavalcanti nº 171

Primeira presidente Associação Beneficente Funerária e Religiosa

Israelita.

Última presidente da Associação Beneficente Funerária e Religiosa Israelita.

Seu nome era Rebeca, e o nome de guerra era Beca

POLACAS escravas brancas no RJ

Algumas constituíram famílias

O cemitério foi o único resquício do que sobrou da vida dessas mulheres

“O cemitério é a única coisa que sobrou, além das histórias familiares, mas muitas das famílias não revelam.

Algumas mulheres conseguiram se salvar porque se casaram e

constituíram família. A história oral se perde porque elas já morreram”...

Uma lápide do cemitério judeu em Inhaúma

As prostitutas eram pelo TORAH, consideradas impuras e não podiam ser enterradas nos

cemitérios judeus, por isso construíram seus próprios cemitérios

As prostitutas , de acordo com o Torah, deveriam ser enterradas

junto ao muro do cemitério

Termos iídiches que deram a palavras até hoje usadas

Expressões usadas pelas polacas judias deram origem a palavras hoje muito populares no Brasil. Quando suspeitavam que um cliente

tinha doença venérea, diziam ein krenke (“doença”, em iídiche), que acabou se

transformando em “encrenca”. E, quando a polícia dava incertas nos bordéis, elas gritavam sacana (“polícia”) – que virou “sacanagem”.