O CHAMADO PARA O DISCIPULADO - Editora Cultura Cristã · PDF fileHá um defeito...

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© Todos os direitos são reservados. Palavra Viva – 4º tri 2011 Apoio didático Lição 12 CAMINHOS MISSIONÁRIOS DA IGREJA PARTE 2 O CHAMADO PARA O DISCIPULADO Há um defeito fatal na vida da igreja cristã do século 20: a falta de discipulado genuíno. Discipulado significa deixar tudo para seguir a Cristo. No entanto, para muitos supostos cristãos de hoje talvez até a maioria acontece que, embora haja muita conversa sobre Cristo e muita atividade, poucos estão de fato seguindo o próprio Cristo. Em certos círculos isto significa pouquíssimas evidências de verdadeiro cristianismo. Muitos que o chamam com fervor de “Senhor, Senhor” não são cristãos (Mt 7.21). Tal fato não deve nos surpreender, porque Jesus disse que isso aconteceria. Mas devemos lamentar. No grande Sermão do Monte, proferido pouco antes da crucificação, Jesus comparou os cristãos nominais (não convertidos) às mulheres que esperavam a chegada do noivo para a festa de casamento. No entanto, estavam despreparadas e foram deixadas de fora. Não foram salvas. Em outro texto, comparou os cristãos nominais a um homem que recebeu um talento para investir, mas falhou e, no dia do acerto de contas, foi condenado pelo senhor. Jesus disse: “Lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 25.30). Numa terceira comparação, ele caracterizou tais pessoas como incapazes de alimentar os famintos, dar água aos sedentos, abrigar e vestir os necessitados, curar os enfermos e visitar os presidiários. Tais pessoas chamavam Jesus de “Senhor”. Consideravam-se genuinamente convertidas. Contudo, não eram cristãs, por isso pereceriam. Precisamos enxergar onde estas verdades se aplicam às nossas igrejas. Precisamos perguntar o que significa ser cristão e se os fracassos acima são retratos de nós mesmos. Graça Cara Há muitas razões pelas quais a situação que expus acima é comum nas igrejas de hoje. A primeira razão é uma teologia defeituosa que tem descido sobre nós como uma neblina espessa. Esta teologia separa a fé do discipulado e a graça da obediência. Ensina que Jesus pode ser recebido como Salvador sem ser recebido como Senhor. Este é um defeito comum em tempos de prosperidade. Nos dias difíceis, principalmente diante da perseguição, aqueles que estão em processo de se tornar cristãos avaliam com cuidado o preço de ser discípulo, antes de tomar a cruz e seguir o Nazareno. Os pregadores não os iludem com falsas promessas de vida fácil ou indulgência para o pecado. Nos bons tempos, porém, na prosperidade, o preço não parece tão alto e as pessoas tomam o nome de Cristo sem que se submetam à transformação radical de vida, implicada na verdadeira conversão. Nestes tempos, os pregadores frequentemente iludem o povo com uma fé “fácil” – um cristianismo sem cruz para aumentar o número de membros das igrejas, sem levar em conta se as pessoas são ou não regeneradas. Dietrich Bonhoeffer, o clérigo alemão martirizado por sua oposição a Hitler e ao nazismo, chamou esta teologia errônea de “graça barata”. Ele disse: “Graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, batismo sem disciplina eclesiástica, comunhão sem confissão, absolvição sem

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Apoio didático – Lição 12

CAMINHOS MISSIONÁRIOS DA IGREJA PARTE 2

O CHAMADO PARA O DISCIPULADO

Há um defeito fatal na vida da igreja cristã do século 20: a falta de discipulado genuíno.

Discipulado significa deixar tudo para seguir a Cristo. No entanto, para muitos supostos cristãos de

hoje – talvez até a maioria – acontece que, embora haja muita conversa sobre Cristo e muita atividade,

poucos estão de fato seguindo o próprio Cristo. Em certos círculos isto significa pouquíssimas

evidências de verdadeiro cristianismo. Muitos que o chamam com fervor de “Senhor, Senhor” não são

cristãos (Mt 7.21).

Tal fato não deve nos surpreender, porque Jesus disse que isso aconteceria. Mas devemos

lamentar.

No grande Sermão do Monte, proferido pouco antes da crucificação, Jesus comparou os

cristãos nominais (não convertidos) às mulheres que esperavam a chegada do noivo para a festa de

casamento. No entanto, estavam despreparadas e foram deixadas de fora. Não foram salvas. Em outro

texto, comparou os cristãos nominais a um homem que recebeu um talento para investir, mas falhou e,

no dia do acerto de contas, foi condenado pelo senhor. Jesus disse: “Lançai-o para fora, nas trevas. Ali

haverá choro e ranger de dentes” (Mt 25.30). Numa terceira comparação, ele caracterizou tais pessoas

como incapazes de alimentar os famintos, dar água aos sedentos, abrigar e vestir os necessitados, curar

os enfermos e visitar os presidiários. Tais pessoas chamavam Jesus de “Senhor”. Consideravam-se

genuinamente convertidas. Contudo, não eram cristãs, por isso pereceriam.

Precisamos enxergar onde estas verdades se aplicam às nossas igrejas. Precisamos perguntar o

que significa ser cristão e se os fracassos acima são retratos de nós mesmos.

Graça Cara

Há muitas razões pelas quais a situação que expus acima é comum nas igrejas de hoje. A

primeira razão é uma teologia defeituosa que tem descido sobre nós como uma neblina espessa. Esta

teologia separa a fé do discipulado e a graça da obediência. Ensina que Jesus pode ser recebido como

Salvador sem ser recebido como Senhor.

Este é um defeito comum em tempos de prosperidade. Nos dias difíceis, principalmente diante

da perseguição, aqueles que estão em processo de se tornar cristãos avaliam com cuidado o preço de

ser discípulo, antes de tomar a cruz e seguir o Nazareno. Os pregadores não os iludem com falsas

promessas de vida fácil ou indulgência para o pecado. Nos bons tempos, porém, na prosperidade, o

preço não parece tão alto e as pessoas tomam o nome de Cristo sem que se submetam à transformação

radical de vida, implicada na verdadeira conversão. Nestes tempos, os pregadores frequentemente

iludem o povo com uma fé “fácil” – um cristianismo sem cruz – para aumentar o número de membros

das igrejas, sem levar em conta se as pessoas são ou não regeneradas.

Dietrich Bonhoeffer, o clérigo alemão martirizado por sua oposição a Hitler e ao nazismo,

chamou esta teologia errônea de “graça barata”. Ele disse: “Graça barata é a pregação do perdão sem

arrependimento, batismo sem disciplina eclesiástica, comunhão sem confissão, absolvição sem

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Apoio didático – Lição 12

CAMINHOS MISSIONÁRIOS DA IGREJA PARTE 2

confissão pessoal. Graça barata é graça sem discipulado, graça sem cruz, graça sem o Jesus Cristo

vivo e encarnado.”

O contraste é a “graça cara”.

Graça cara é o tesouro escondido no campo; para obtê-lo, o homem alegremente vai e vende tudo o que

tem. É a pérola de grande valor; para comprá-la, o mercador vende todos os seus bens. É o reinado

soberano de Cristo, pelo qual o homem arranca o olho que o faz tropeçar; é o chamado de Cristo,

mediante o qual o discípulo larga sua rede e o segue. Graça cara é o evangelho que deve ser buscado

incansavelmente, o dom que deve ser pedido, a porta na qual devemos bater. Tal graça é cara porque

nos chama a seguir, e é graça porque nos chama para seguir Jesus Cristo.1

Um escritor americano reiterou idêntica situação. O pastor e escritor devocional de Chicago,

A. W. Tozer, declarou:

A doutrina da justificação pela fé – uma verdade bíblica e um alívio abençoado contra o legalismo

estéril e o esforço humano fútil, em nosso tempo, tem caído em más companhias e interpretada por

muitos de tal forma que priva os homens do conhecimento de Deus. Todo o processo de conversão tem

se tornado mecânico e desprovido de espiritualidade. Atualmente, a fé pode ser exercitada sem

compromisso com a vida moral e sem nenhuma restrição à carne. Cristo pode ser “recebido” sem que

se desenvolva na alma humana nenhum amor especial por Ele. O homem é “salvo”, mas não tem fome

e sede de Deus. De fato, é especialmente instruído a estar satisfeito e é incentivado a se contentar com

pouco.2

Não é só a falsa teologia que estimula esta carência fatal de discipulado. O erro se deve

também à ausência do que os antigos escritores devocionais chamavam de “vida de autoexame”.

Muitos ocidentais vivem em ambiente tragicamente irracional. A vida é frenética, e nossos

contatos com outras pessoas são demasiado impessoais para que haja verdadeira reflexão. Mesmo na

igreja somos mais animados a participar de comissões, projetos e atividades do que a examinar nosso

relacionamento com Deus e seu Filho Jesus Cristo. Desde que estejamos engajados nas atividades da

igreja, poucos questionam se nossa confissão de fé é genuína ou espúria. Os sermões, porém, devem

sugerir que os membros de uma igreja podem de fato não ser salvos, mesmo pertencendo à igreja. Os

professores devem enfatizar que para que a pessoa seja reconhecida por Jesus no juízo final, é preciso

segui-lo de forma pessoal, com perseverança e abnegação.

Na ausência deste ensino, milhões ficam à deriva, supondo que, devido a uma confissão verbal

feita a dez, vinte ou trinta anos atrás, e desde que não fizeram nada terrível até então, são cristãos; na

verdade, porém, podem estar longe de Cristo, desprovidos da graça e correndo o risco de perecer na

eternidade.

O discipulado segundo Jesus, James Montgomery Boice, Editora Cultura Cristã