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Apoio didático – Lição 12
CAMINHOS MISSIONÁRIOS DA IGREJA PARTE 2
O CHAMADO PARA O DISCIPULADO
Há um defeito fatal na vida da igreja cristã do século 20: a falta de discipulado genuíno.
Discipulado significa deixar tudo para seguir a Cristo. No entanto, para muitos supostos cristãos de
hoje – talvez até a maioria – acontece que, embora haja muita conversa sobre Cristo e muita atividade,
poucos estão de fato seguindo o próprio Cristo. Em certos círculos isto significa pouquíssimas
evidências de verdadeiro cristianismo. Muitos que o chamam com fervor de “Senhor, Senhor” não são
cristãos (Mt 7.21).
Tal fato não deve nos surpreender, porque Jesus disse que isso aconteceria. Mas devemos
lamentar.
No grande Sermão do Monte, proferido pouco antes da crucificação, Jesus comparou os
cristãos nominais (não convertidos) às mulheres que esperavam a chegada do noivo para a festa de
casamento. No entanto, estavam despreparadas e foram deixadas de fora. Não foram salvas. Em outro
texto, comparou os cristãos nominais a um homem que recebeu um talento para investir, mas falhou e,
no dia do acerto de contas, foi condenado pelo senhor. Jesus disse: “Lançai-o para fora, nas trevas. Ali
haverá choro e ranger de dentes” (Mt 25.30). Numa terceira comparação, ele caracterizou tais pessoas
como incapazes de alimentar os famintos, dar água aos sedentos, abrigar e vestir os necessitados, curar
os enfermos e visitar os presidiários. Tais pessoas chamavam Jesus de “Senhor”. Consideravam-se
genuinamente convertidas. Contudo, não eram cristãs, por isso pereceriam.
Precisamos enxergar onde estas verdades se aplicam às nossas igrejas. Precisamos perguntar o
que significa ser cristão e se os fracassos acima são retratos de nós mesmos.
Graça Cara
Há muitas razões pelas quais a situação que expus acima é comum nas igrejas de hoje. A
primeira razão é uma teologia defeituosa que tem descido sobre nós como uma neblina espessa. Esta
teologia separa a fé do discipulado e a graça da obediência. Ensina que Jesus pode ser recebido como
Salvador sem ser recebido como Senhor.
Este é um defeito comum em tempos de prosperidade. Nos dias difíceis, principalmente diante
da perseguição, aqueles que estão em processo de se tornar cristãos avaliam com cuidado o preço de
ser discípulo, antes de tomar a cruz e seguir o Nazareno. Os pregadores não os iludem com falsas
promessas de vida fácil ou indulgência para o pecado. Nos bons tempos, porém, na prosperidade, o
preço não parece tão alto e as pessoas tomam o nome de Cristo sem que se submetam à transformação
radical de vida, implicada na verdadeira conversão. Nestes tempos, os pregadores frequentemente
iludem o povo com uma fé “fácil” – um cristianismo sem cruz – para aumentar o número de membros
das igrejas, sem levar em conta se as pessoas são ou não regeneradas.
Dietrich Bonhoeffer, o clérigo alemão martirizado por sua oposição a Hitler e ao nazismo,
chamou esta teologia errônea de “graça barata”. Ele disse: “Graça barata é a pregação do perdão sem
arrependimento, batismo sem disciplina eclesiástica, comunhão sem confissão, absolvição sem
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Apoio didático – Lição 12
CAMINHOS MISSIONÁRIOS DA IGREJA PARTE 2
confissão pessoal. Graça barata é graça sem discipulado, graça sem cruz, graça sem o Jesus Cristo
vivo e encarnado.”
O contraste é a “graça cara”.
Graça cara é o tesouro escondido no campo; para obtê-lo, o homem alegremente vai e vende tudo o que
tem. É a pérola de grande valor; para comprá-la, o mercador vende todos os seus bens. É o reinado
soberano de Cristo, pelo qual o homem arranca o olho que o faz tropeçar; é o chamado de Cristo,
mediante o qual o discípulo larga sua rede e o segue. Graça cara é o evangelho que deve ser buscado
incansavelmente, o dom que deve ser pedido, a porta na qual devemos bater. Tal graça é cara porque
nos chama a seguir, e é graça porque nos chama para seguir Jesus Cristo.1
Um escritor americano reiterou idêntica situação. O pastor e escritor devocional de Chicago,
A. W. Tozer, declarou:
A doutrina da justificação pela fé – uma verdade bíblica e um alívio abençoado contra o legalismo
estéril e o esforço humano fútil, em nosso tempo, tem caído em más companhias e interpretada por
muitos de tal forma que priva os homens do conhecimento de Deus. Todo o processo de conversão tem
se tornado mecânico e desprovido de espiritualidade. Atualmente, a fé pode ser exercitada sem
compromisso com a vida moral e sem nenhuma restrição à carne. Cristo pode ser “recebido” sem que
se desenvolva na alma humana nenhum amor especial por Ele. O homem é “salvo”, mas não tem fome
e sede de Deus. De fato, é especialmente instruído a estar satisfeito e é incentivado a se contentar com
pouco.2
Não é só a falsa teologia que estimula esta carência fatal de discipulado. O erro se deve
também à ausência do que os antigos escritores devocionais chamavam de “vida de autoexame”.
Muitos ocidentais vivem em ambiente tragicamente irracional. A vida é frenética, e nossos
contatos com outras pessoas são demasiado impessoais para que haja verdadeira reflexão. Mesmo na
igreja somos mais animados a participar de comissões, projetos e atividades do que a examinar nosso
relacionamento com Deus e seu Filho Jesus Cristo. Desde que estejamos engajados nas atividades da
igreja, poucos questionam se nossa confissão de fé é genuína ou espúria. Os sermões, porém, devem
sugerir que os membros de uma igreja podem de fato não ser salvos, mesmo pertencendo à igreja. Os
professores devem enfatizar que para que a pessoa seja reconhecida por Jesus no juízo final, é preciso
segui-lo de forma pessoal, com perseverança e abnegação.
Na ausência deste ensino, milhões ficam à deriva, supondo que, devido a uma confissão verbal
feita a dez, vinte ou trinta anos atrás, e desde que não fizeram nada terrível até então, são cristãos; na
verdade, porém, podem estar longe de Cristo, desprovidos da graça e correndo o risco de perecer na
eternidade.
O discipulado segundo Jesus, James Montgomery Boice, Editora Cultura Cristã