O Cinema Hollywoodiano na década de 1950

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Trabalho Final História dos Estados Unidos Docente: Carlos Alberto Sampaio Barbosa Discente: Dalmo Alexsander Noturno

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“Se ainda houvesse alguma dúvida acerca da influência que o cinema exerce sobre as fantasias do povo norte-americano, ela teria sido eliminada quando Grace Kelly casou com o Principe Rainier e o casamento foi acompanhado acompanhado por um número maior de correspondentes que os dos que fizeram a reportagem dos desembarques do Dia D na França.” (ROSENBERG, WHITE: 1957, 298)

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Trabalho Final

História dos Estados Unidos

Docente: Carlos Alberto Sampaio Barbosa

Discente: Dalmo Alexsander

Noturno

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“Se ainda houvesse alguma dúvida acerca da influência que o cinema exerce sobre as

fantasias do povo norte-americano, ela teria sido eliminada quando Grace Kelly casou com o

Principe Rainier e o casamento foi acompanhado acompanhado por um número maior de

correspondentes que os dos que fizeram a reportagem dos desembarques do Dia D na França.”

(ROSENBERG, WHITE: 1957, 298) É assim que em 1957 Bernard Rosenberg e David Manning

White iniciam o capítulo sobre cinema do livro “Cultura de Massa”. Seguindo tal perspectiva de

analise, o teórico Ismael Xavier, alega que o cinema Hollywooodiano tem por objetivo controlar

tudo, isto é, a partir da concepção de cinema como um produto de fábrica, produzindo um

ilusionismo com gêneros narrativos de leitura fácil e de popularidade, caminha para o controle

total da realidade com o objetivo primordial sempre de “parecer verdadeiro”, anulando a ideia da

representação. Mas essa ideia de cópia da realidade vem acompanhada com a ideia de

monumentalidade, levando a naturalização do sobrenatural, num mergulho no mundo dos

sonhos. Logo não importa se a “realidade” oferecida foi fabricada ou falsa, desde que muita

gente tenha se satisfeito com ela. Mas o problema básico de Hollywood segundo Xavier não é

em torno da fabricação, mas sim no método e os interesses dos donos das industrias, possuindo

um grande caráter discursivo (propaganda, crítica, literatura) apto a veicular os princípios e

valores materializados nesta produção, tendo um aspecto importante desde o momento da

implantação, nas primeiras décadas do século.

A delimitação do presente trabalho, o cinema na década de 1950 nos Estados Unidos,

começaremos descrevendo seus antecedentes. Na década de 1940, foi um período que utilizou do

cinema como propaganda de guerra como em “Os carrascos também morrem” (1943) de Fritz

Lang, “Trinta segundos sobre Tóquio” (1944) de Mervyn LeRoy e “Por que lutamos” (1942) de

Frank Capra, ao mesmo tempo em que sofria pressões de para produção de filme pró-soviéticos

como “Missão em Moscou” (1943) de Michael Curtiz e “A Estrela da Morte” (1943) de Lewis

Milestone. Mas não foram somente filmes sobre a guerra que foram utilizados para a difusão de

tal discurso, mas também musicais, como “A canção da vitória” (1942) também de Curtiz, em

que se adotava um tom militante simbolizado pelo animo da nação ao entrar na Segunda Guerra

Mundial, contando com caráter patriótico, sentimental e agressivo.

Além de se mostrar bastante eficiente como máquina de propaganda de guerra, o cinema

do período apresenta uma ampla variedade de estilos. Mas nada se impactou tanto a industria

como a criação do Comitê de Atividades Antiamericanas do Congresso (HUAC) em 1947,

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encarregado de investigar a infiltração de simpatizantes do comunismo no cinema e, como

consequência, mais de 250 membros de Hollywood foram proibidos de exercer tal função. Numa

reação submissa, com Hollywood aterrorizada por investigações, vários estúdios produziram

filmes anticomunistas como “My Son John” (1952) de Leo McCarey e “Anjo do Mal” (1953) de

Samuel Fuller.

Num contexto social do período do pós guerra as pessoas ficaram mais ocupadas, já que

contavam com o retorno dos veteranos de guerra, fazendo com que o sustento das famílias e a

busca por um bom emprego fosse considerado mais importante do que ir ao cinema. E Já que o

cinema era algo para entretenimento, a televisão se mostrava mais barata para a mesma função. E

a indústria televisiva, ao reconhecer a competição com os estúdios de cinema, começaram a criar

séries com os temas mais populares do cinema.

Apesar de tantos impactos o cinema se manteve, mesmo com a fechamento de estúdios,

optando por filmes épicos e monumentalizantes como “Os Dez Mandamentos” (1956) de Cecil

B. DeMille e “Ben-Hur” (1959) de Willian Wyler. A partir dai foram criadas novas tecnologias

experimentais como o CinemaScope e o cinema 3D, sempre na intenção de oferecer ao público

um entretenimento novo, mesmo em gêneros tradicionais como no filme “Assim Caminha a

Humanidade” (1956) de George Stevens. Mas tais intenções atraíram o público por pouco

tempo, ao passo que a televisão garantia tal diversão a longo prazo, logo é nesse momento em

que a televisão se transforma na forma de entretenimento dominante nos Estados Unidos. Mas o

mundo e o cinema estavam prestes a mudar, na década de 1960, diretores americanos começam a

se deixar influenciar por diretores europeus e numa reação às reviravoltas sociais e politicas, uma

nova era de violência cinematográfica e produções liberais estava começando a se erguer. A era

de ouro de Hollywood acabava, mas o cinema aguardava seu corajoso e incerto futuro.

Mas no período do pós-guerra, década de 1950, o cinema estadunidense é marcado por

ajudar a estereotipar vários tipos nacionais, sublinhando muitas vezes traços óbvios e muitas

vezes ilusórios da sua personalidade. Como trata o sociólogo Siegfried Kracauer, tais concepções

refletem hábitos nativos de pensamento, encarando o outro de um posição decididamente

subjetiva. O autor afirma que os filmes de de Hollywood possuem um grande caráter comercial,

destinados ao consumo de massa, isto é, evitando questões controvérsias. Sendo obrigada, pelo

interesse do lucro, a a adivinhar as tendências de massa existente e fazer os seus produtos

moldados a tal tendencia. A partir dessas colocações Kracauer alega que o público também

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determina de que maneira determinados estrangeiros irão ser retratados nos filmes, logo, é difícil

uma nação simpatizante do povo estadunidense seja apresentada de maneira desfavorável e uma

nação impopular sendo retratada como benevolente. No período do pós guerra os estúdios,

inspirados pelo desejo de esclarecimento da população sobre a guerra, passaram a combinar o

entretenimento e a informação, criando a ideia de que Hollywood estava na luta pela verdade e

pela democracia.

Assim Kracauer fala sobre o elemento que pode mudar qualquer verdade, o tempo, pois a

partir dai nos apresenta como a visão de um determinado tipo nacional pode mudar em diferentes

períodos. Como o desaparecimento de alemães do cinema no período da Segunda Guerra

Mundial, o desaparecimento dos russos e dos ingleses no período do pós guerra. Tal só pode ser

explicado por fatores que influem na produção comercial do filme, pois como o autor afirma,

Hollywood é tão sensível aos riscos econômicos que se abstêm, quase que automaticamente, de

tocar no que quer que seja controvertido. Nisso vemos um divisão que seria uma zona de

confiança para o imaginário estadunidense: os povos “in-group”, povos que pertencem a

“família” dos Estados Unidos; e os povos “out-group”, aqueles que não pertencem. Logo muitos

personagens nacionais nos filmes são mais projeções do que retratos. Mas defende que as

industrias cinematográficas de outras democracias são muito semelhantes a dos Estados Unidos,

fazendo filmes para o entretenimento de massas, com isso, o retrato de de estrangeiros são

determinados pelos desejos e exigências politicas do publico, sendo um anseio de auto

afirmação.

Hollywood pode ser considerado uma caricatura também, e não um reflexo, segundo a

antropóloga Hortense Powdermaker, pois ele é uma caricatura das tendências contemporâneas

que marcam o cinema. Os problemas da indústria cinematográfica não são só dela, mas sim de

características do mundo moderno da civilização ocidental. Citando o poeta Wystan Hugh

Auden, que chamou a tal época como “A Idade da Ansiedade”, afirmando que o homem se

tornou cada vez mais solitário, num mundo cada vez mais difícil de se compreender. A autora

defende, que nos estúdios de Hollywood, a confusão e a ansiedade são maiores que na sociedade

que a cerca, todos possuem medo, a ansiedade toma conta de todos desde o diretor até o

assistente. Muitas pessoas sentem se frustradas e devido as pressões sociais não expressam seus

ressentimentos e é nos filmes que encontram conforto e incentivo para as suas fantasias. Nessa

sociedade sua população é consumida pela obsessão de encher o tempo com mais atividades e

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seu espaço com objetos, mesmo assim não avaliam somente objetos, mas também pessoas, como

no cinema, “quanto mais caro for, melhor será”. Nisso os grandes gastos se justificam devido a

ideia de diminuir a ansiedade, e com isso, constrói-se a concepção de pouca importância ao

artista e sim de contar história e influenciar a imaginação, a arte só é arte quando atinge o maior

numero de pessoas, ou seja, dá lucro.

Powdermaker em seguida analisa o poder dos meios de comunicação e seu poder de

manipular ideias, opiniões e emoções do público. Em que cada vez um numero maior de pessoas

precisa para formular sua opinião, vendendo mais que produtos, vendem concepções. Nisso a

autora compara Hollywood como um regime totalitário, mesmo sua base sendo econômica, mas

sua filosofia se assemelha e de um estado totalitário, impedindo as pessoas de pensar e ao utilizar

bases emocionais e conservando seu poder.

A partir de tais ideias, partimos para analises mais especificas como a como a ideia da “a

boa moça má” apresentada por Martha Wolfenstein e Nathan Leites, num estudo psicológico do

cinema que mostra uma das maiores problemáticas da vida amorosa na cultura ocidental era a

dificuldade de escolher entre uma moça boa boa e uma moça má, sendo que a primeira

simbolizava as mulheres que “servem” para o casamento e a segunda surge para satisfazer os

impulsos sexuais. Os filmes estadunidenses produziram a imagem da “boa moça má”, ou seja, a

incerteza perante seu caráter e não esconde sua aparente maldade, mas que no final o herói vê

que sua impressão era errada. Wolfenstein e Leites consideram tal concepção como um reflexo

melodramático da moça popular estadunidense, em que há uma cultura em que se considera o

poder de atração de uma mulher é um risco, devido a moral puritana que veda a sociedade da

década de cinquenta dos Estados unidos.

No estudo do filme “The Next Voice You Hear” por Frederick Elkin, demonstra como

Hollywood retrata Deus, a religião e o estilo de vida da sociedade estadunidense. Considera o

filme como um “parábola moderna”, revelando a ligação extremamente forte entre a religião e a

cultura dos Estados Unidos, sendo que a religião mostrada no filme sugere um Deus amistoso e

sociável. Apresentando ao seu público um estilo de vida e de moral que deve ser adotado, mas

que não é raro nos Estados Unidos, revelando características como: a relação familiar é a relação

normal na sociedade; a mulher, como dona de casa e mãe, tem o papel mais importante da

família; o marido tem um bom emprego e é respeitado; o sistema econômico e politico é um bom

sistema e outras verdades construídas. Vendendo e disseminando um estilo de vida através do

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cinema. Tal filme apresenta um grande caráter tranquilizador pois Deus é o nosso Pai, que vela

por todos os seus filhos e sanciona o modo de vida da classe média estadunidense. Com todos

nossos problemas enfrentados em nossa vida, num mundo desequilibrado, que pode explodir em

uma nova guerra mundial, compreendemos por qual razão tal sociedade se firmou numa

concepção religiosa e vendia tal discurso através do cinema.

Mas devemos ter em mente que desde sua origem, como conjunto de colônias, os Estados

Unidos passaram por transformações extraordinárias, se tornando “a primeira nação do mundo”

como afirma o analista politico conservador Benjamin J. Wattenberg. Hoje tem um pouco mais

de 300 milhões de habitantes que representam praticamente todas as nacionalidades e grupos

étnicos do mundo, suas transformações são gigantescas tanto no aspecto econômico, tecnológico,

cultural, demográfico e social. Sendo frequentemente os precursores da modernização que acaba

alcançando outras sociedades. Mesmo assim mantem sua ideia de continuidade, pois os Estados

Unidos preserva ainda um conjunto de valores centrais que podem ser assimilados aos valores

dos primeiros anos da nação, logo, mesmo de inconscientemente, acreditam como se sua história

fosse um destino manifestado por Deus. A tarefa que o país sempre tem por prioridade é garantir

que os valores da liberdade, democracia e oportunidade seja protegidos rumo ao futuro prospero

prometido. Sendo uma sociedade repleta de valores e de crenças, mesmo que indiretamente, as

segue sempre, ao ser simbolo da democracia e do sistema capitalista, na batalha ideológica da

confusão que foi o século XX, utilizou amplamente o cinema para difundir suas ideias e

discursos, vemos assim a razão para ser tão voltado as massas. Se utilizando de um meio que se

consolidou como dominante desde o inicio do século XX.

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