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O Colecionador de Paisagens DOSSIÊ EDUCATIVO

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O Colecionadorde Paisagens

DOSSIÊ EDUCATIVO

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Edição: Fundação ”la Caixa”

Conceção dos conteúdos e redação de textos: Albert Gumí e Xavier Erra Desenho: Whads/Accent

© da edição 2008, Fundação ”la Caixa”

© dos textos, os autores

© das fotografias, Lluís Salvadó

© das fotografias, os autores

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O Colecionador de Paisagens 3

Para apreciar totalmente o espetáculo O colecionador de paisagens e, sobretudo, para o aproveitar pedagogicamente, preparámos este dossiê com uma série de sugestões, jogos, reflexões e trabalhos pensados para serem feitos com os vossos alunos.

Trata-se de um dossiê para partilhar. Experimentem usá-lo em diferentes áreas — artes plásticas, música, psicomotricidade, educação física— e adaptá-lo ao nível dos vossos alunos e à vossa maneira de fazer as coisas. Não se pretende que apliquem todas as propostas, quando os caminhos se cruzam cada pessoa escolhe uma ou várias direções.

A música é efémera. Por isso a forma como a vivemos está muito relacionada com o momento concreto em que a ouvimos ou criamos. Para realizar as atividades deste guia didático é necessário que consigamos criar um ambiente mágico na aula: que joguemos com o tom da nossa voz, com o efeito surpresa, com a descoberta de um som... Deste modo, viver a música será uma experiência significativa para os nossos alunos. A imagem, pelo contrário, perdura no tempo. No entanto, deixemos espaço para a observação e para a descoberta, para falar do que vemos. E façamos também da experiência do trabalho plástico um momento especial.

O segredo está mais em como fazemos as coisas do que nas próprias coisas que fazemos. Por isso, se conseguirmos verdadeiramente tornar as nossas aulas de música ou de artes plásticas (ou de qualquer outra matéria) num ato comunicativo cheio de sensibilidade, estaremos a aproximar as crianças da própria essência da arte: comunicar uma coisa com uma intenção e uma vontade especiais, através de um meio que pode ser a música, a pintura… ou inclusivamente a nossa voz no espaço da aula semanal.

Apresentação

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O Colecionador de Paisagens 5

Apresentação do espetáculo _______________________________ 6

A noite ___________________________________________________ 8

Abrimos uma janela .............................................................................................................. 9A «caixa das coisas que fazem sons de noite» ................................................................... 10Escutar os sons da natureza – Ouvir música ....................................................................... 13A cor na pintura – A cor na música ...................................................................................... 13

O sol mostra a paisagem ____________________________________ 16Olhar - escutar ....................................................................................................................... 17

Chegam as pessoas _________________________________________ 19Estamos rodeados de sons ................................................................................................... 20

Pintura - música - gesto ........................................................................................................ 21

Baile de sombras chinesas .................................................................................................... 23

A canção do espetáculo ........................................................................................................ 24

A paisagem transforma-se __________________________________ 25Um ponto que passeia pela folha – Uma criança que passeia pelo espaço ..................... 26

A meteorologia transforma a paisagem ............................................................................. 27

Anexo ____________________________________________________ 31Conteúdo do CD de suporte ao guião ................................................................................. 31

Ilustrações ............................................................................................................................. 32

Ilustração: 1- Desenho do flamingo ..................................................................................... 33

Ilustração: 2.a- Cinco instrumentos - Violino ....................................................................... 34

Ilustração: 2.b - Cinco instrumentos - Violoncelo ................................................................ 35

Ilustração: 2.c - Cinco instrumentos - Flauta ........................................................................ 36

Ilustração: 2.d - Cinco instrumentos - Clarinete .................................................................. 37

Ilustração: 2.e - Cinco instrumentos - Piano ........................................................................ 38

Ilustração: 3 - Cinco desenhos do flamingo ......................................................................... 39

Ilustração: 4 - Rio num vale - Hércules Seghers ................................................................... 40

Ilustração: 5 - A Dança do Casamento - Pieter Bruegel o Velho ........................................ 41

Programa do espetáculo ...................................................................................................... 42

Índice

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6 O Colecionador de Paisagens

Neste momento, enquanto leem estas palavras comodamente sentados, é muito provável que O Colecionador de Paisagens se encontre perdido por qualquer ravina, montanha ou recanto de um rio. A paisagem é a sua peculiar inspiração. Olha e escuta. Olhar serve-lhe para traçar num desenho aquilo que vê ou para apreciar o modo como os pintores falaram sobre a tela. Escutar os sons da natureza, enquanto caminha em silêncio, ajuda-o a descobrir a música dos composi-tores que também aí aguçaram o ouvido.

Tudo isto é o que iremos ver e ouvir no espetáculo O Colecionador de Paisagens, no qual a pin-tura e a música avançam de mãos dadas pelo caminho das artes cénicas. No decorrer do espetá-culo veremos como grandes pintores de diferentes épocas se atreveram a trabalhar o género da paisagem, desde Brueguel até Emil Nolde.

Ao mesmo tempo, iremos escutar diversos sons que se podem distinguir num mesmo local du-rante o dia e a noite: os pássaros noturnos, o vento, o vai e vem dos homens que trabalham… e poderemos perceber como estes sons naturais são absorvidos por instrumentos que os transfor-mam em música de compositores extraordinários, como Stravinsky ou Béla Bartók.

O espetáculo, apesar de durar pouco menos de uma hora, colocar-nos-á no meio de um local durante a noite e durante o dia que se lhe segue. Assim, notaremos como a paisagem muda de pele, tanto pelo aparecimento do sol, como das pessoas ou da impetuosa meteorologia.

Este pedaço de vida foi dividido em quatro partes que, na realidade, se unem continuamente. No guião os vários capítulos são aproveitados para ir apresentando o espetáculo juntamente com as atividades que considerem pertinentes.

Apresentação do Espetáculo

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O Colecionador de Paisagens 7

A noiteO colecionador de paisagens abre a janela para contemplar a noite e, juntamente com a música, vão entrando as estrelas para ocupar o sítio que lhes corresponde. Neste momento, o colecionador não consegue evitar fazer girar a lua sobre o seu dedo.

Pouco depois, os primeiros pássaros da manhã começam a cantar e o nosso protagonista tenta caçar um deles. Felizmente, os pássaros conseguem fugir e ele tem de se conformar com um pequeno troféu: uma pena, que faz dançar pelo ar.

O sol mostra a paisagem

De repente, alguém acende a luz, a pouco e pouco, aumentando a intensidade; ninguém a consegue parar, é o sol, que deixa à vista tudo aquilo que estava oculto sob o escuro manto da noite: a paisagem, uma paisagem ainda quieta e composta.

Chegam as pessoas

O barulho das pessoas, que vão povoando o espaço atarefadas com trabalhos e preocupações, vai aumentando até se tornar num barulho contínuo: num ritmo de foice, de galopes e de ro-das de carroça.

Depois do trabalho, num canto debaixo das árvores, alguns camponeses participam num ca-samento e, atraído pela música, o colecionador une-se à celebração para dançar e cantar com eles.

A paisagem transforma-seO excesso da festa dá lugar à sesta. Mas o colecionador, que não pára quieto, distrai-se fazendo equilíbrios contra o vento. E o vento dá lugar à chuva (pressente-a) e a chuva, ao mesmo tempo, avisa da chegada da trovoada. E a trovoada, sem cerimónias, descompõe a paisagem.

Quando a trovoada se afasta, o colecionador recupera os sentidos.

Começa a guardar as coisas… fez-se noite e é tempo de se retirar.

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8 O Colecionador de Paisagens

A noite

Pintura desta parte do espetáculo:

Os pintores naturalistas de todas as épocas

preocuparam-se em descrever cientificamente

pormenores da paisagem, tais como as plantas ou

os animais. Nos retratos de aves destacaram-se

zoólogos e ilustradores como Nicolas Robert

(1610-1684) ou Jacques Barraband (1767-1809),

que chegou a ser conhecido como o pintor de pássaros

de Napoleão Bonaparte.

John James Audubon (1785-1851) é o autor do

Flamingo que veremos no espectáculo, uma gravura

colorida à mão que faz parte do delicioso livro Birds

of America (conseguiu publicá-lo depois de vender aos

ingleses estampas sobre florestas americanas).

A sua determinação era pintar todas as aves da

América do Norte. Para o conseguir, começou a

navegar pelo rio Mississípi acompanhado de um

assistente, as suas pinturas e… uma arma.

Para desenhar as aves, disparava-lhes um tiro tentando

não as despedaçar e depois, com a ajuda de arames,

mantinha-as de pé em posturas naturais. Audubon,

ao contrário dos seus contemporâneos, procurava

colocar os pássaros no meio de paisagens fieis à

realidade.

Músicas desta parte do espetáculo:

Em 1913 Claude Debussy escreveu o ballet A Caixa de

Brinquedos para a sua filha a quem chamava Chouchou.

«O sonho da caixa» é o prelúdio, onde a música

descreve como os brinquedos descansam esperando

o momento de sair para o exterior. Quando Arnold Schönberg trabalhava na sua obra Pierrot Lunaire

disse: «Apercebo-me de que estou a avançar para uma

nova forma de expressão». Não se enganou. Uma

voz recita a meio caminho entre a fala e o canto, e os

instrumentos desenham sons enigmáticos nos quais as

notas não são importantes, mas sim a cor do próprio

som. O timbre é tudo e as notas não são nada», dizia o

próprio músico.

O compositor francês Olivier Messiaen era um

apaixonado pelos pássaros (aliás, no seu cartão de

visita não dizia que era músico, mas ornitólogo). Todas

as manhãs ia para o bosque escutar o canto dos

pássaros. Em 1940, quando estava preso num campo

de concentração, escreveu a obra Quarteto para o Fim

do Tempo inspirado nas suas recordações.

Do fragmento que vão ouvir escreveu: «Entre as 3 e

as 4 da manhã, o despertar dos pássaros; um melro

ou um rouxinol solista improvisa…».

Xavier Montsalvatge era um homem com um

aguçado sentido de humor. «O melro» faz parte de uma

série de pequenas peças para piano que intitulou Cinco

Pássaros em Liberdade. Parece que o título original era

Cinco Pássaros Enjaulados, mas depois reparou que os

pássaros que tinha musicado (rouxinol, pardal, tentilhão

e cuco, além do melro) eram pássaros selvagens e,

evidentemente, preferiu mudar o título…

«O sonho da caixa» de A caixa de Brinquedos, de Claude Debussy«Uma Pálida Lavadeira», núm. 4 de Pierrot Lunaire, de Arnold SchönbergQuarteto para o Fim do Tempo núm. 1, de Olivier Messiaen«O melro» para piano solo, de Xavier Montsalvatge

Desenhos naturalistas de pássaros dos séculos XVI ao XIX

John James Audubon. Flamingo, 1838. Aguarela Coleção da New York Historical Society

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O Colecionador de Paisagens 99A noite

Abrimos uma janela

Abrir uma janela quer dizer abrir os olhos e desobstruir as orelhas. Dirigir o olhar para um lugar concreto, descobrir um som no meio de outros sons. Abrir uma janela quer dizer abrir os nossos sentidos e estimular a curiosidade. Aprender a olhar em vez de ver, aprender a escutar em vez de ouvir. Abrir uma janela também quer dizer penetrar num novo mundo. Um mundo cheio de imagens e de sons. O mundo de O Colecionador de Paisagens. Mas…por onde começar?

Esta primeira atividade foi teatralizada para sugerir uma possível maneira de trabalhar as diversas ideias que vos vamos propor ao longo deste dossiê educativo. Não temos dúvidas de que com a vossa experiência saberão adaptar estas sugestões às características do grupo de crianças que têm e, também, ao vosso modo de trabalhar.

Para que serve uma folha em branco? Para que serve o silêncio?Mostramos uma folha em branco às crianças e perguntamos-lhes: Olhem… O que é isto? (realcem com o tom de voz a palavra olhem) Uma folha em branco…

– Para que serve uma folha em branco?

Anotem as respostas dos vossos alunos. De certeza que entre elas aparecerá a ideia de desenhar ou pintar. Então, façam um desenho simples na folha, mas façam-no às escondidas e olhem para ele sem o mostrar às crianças.

– Fiz um desenho fantástico! (e as crianças pedem imediatamente para ver o desenho)

– Ah! Claro! A folha pode servir para desenhar, mas também para que vocês possam ver o que eu desenhei.

Mostrem-lhes o desenho.

– Sim, a folha em branco serviu-nos para DESENHAR e para OLHAR para o que desenhámos. A folha em branco é um espaço vazio que podemos encher de imagens.

– E agora muita atenção! ESCUTEM… o que é isto? (realcem a palavra escutem) Neste momento não façam nada. Esperem em silêncio absoluto. De certeza que as crianças vão perguntar…

– O que é o quê?

Repitam e enfatizem a palavra escutem (se for necessário, fazendo todos os gestos que considerarem adequados para centrar a atenção, como, por exemplo, ampliar com a mão o pavilhão da orelha).

– Escutem… Que som é este? Nada? Então, o que é isto?

– O silêncio!

– E para que serve o silêncio? (esperamos aqui todas as respostas possíveis dos vossos alunos: para enchê-lo de sons, de ruídos, para falar, para tocar música…). Fiquemos com a ideia da música e aproveitem o momento para escutar esta pequena melodia, num grande silêncio:

c CD1 «O Sonho da Caixa», de Debussy

O silêncio serviu-nos para ESCUTAR a música. O silêncio é um espaço vazio que podemos encher com sons…

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10 O Colecionador de Paisagens

A «caixa das coisas que fazem sons de noite»

A noite é um bom momento para aguçar o ouvido. A escuridão (que ajuda a potenciar os sentidos que não são visuais) e a falta do ruído diurno permitem distinguir um mundo de sons que estimula a imaginação.

Para criar uma paisagem sonora da noite necessitamos de instrumentos. Podemos encontrar estes instrumentos entre os que temos na escola (percussões Orff), mas também podemos acrescentar outros instrumentos menos ortodoxos que nos podem ajudar a evocar este ambiente sonoro noturno que vos propomos.

Por isso necessitamos da… «caixa das coisas que fazem sons de noite»

Devemos ter uma caixa (ou uma mala de viagem, um cesto, um baú ou qualquer outro recipiente que vos pareça útil) para poder guardar os objetos que encontrarmos suscetíveis de ser tratados como instrumentos para fazer os sons próprios da noite. Cada criança pode trazer de casa um objeto sonoro tal como ele é. Qualquer coisa que possa fazer um som relacionado com a noite… Uma lata vazia de chocolate em pó, duas colheres de madeira, uma frigideira velha, uma caixinha de madeira… Então cada uma das crianças tem de explicar como é o som que acha que ele pode produzir e fazer uma pequena demonstração ao resto da turma. A imaginação ao poder! Levem vocês próprios os exemplos mais estrambólicos que encontrarem na vossa casa e, sem preconceitos, deixem-se levar por sonoridades díspares e especiais que vos possam transportar para as horas em que a lua brilha.

A estes instrumentos inalterados também podemos juntar outros um pouco mais trabalhados. Têm aqui algumas propostas.

Sino vaso

Procurem um vaso de barro (sem rachas!). Arranjem uma corda grossa (meio metro aproximadamente) e façam-lhe um nó bem grande a, mais ou menos, três quartos do seu comprimento.

Passem um extremo da corda pelo buraco do vaso (na base, por onde sai a água excedente) e já podem segurar o vaso pendurado pela parte comprida da corda (ou pendurá-lo nalgum sítio). Se lhe baterem com uma baqueta vão-se surpreender com o som de sino que vai fazer (de noite ouve-se de muito longe).

Maraca de lata

Esvaziem uma lata de bebida e encham-na com um punhado de qualquer material sonoro (pedrinhas, arroz, lentilhas…). Tapem o buraco e já temos a maraca caseira (de noite até ouvimos os animais que rastejam).

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O Colecionador de Paisagens 1111A noite

Reco-reco de garrafa

É tão simples como pegar numa garrafa de água de plástico vazia (das que têm a superfície muito ondulada) e esfregar a parte lateral com um pauzinho. Não parece um animal noturno que se

esconde muito rapidamente?

Reco-reco de espiral de caderno velho

Podem fazer a mesma coisa com a espiral de um caderno velho, mas tentem encontrar algum recipiente que faça de caixa de ressonância, porque senão pode produzir um som demasiado suave. Parece-se com o som plácido das cigarras ao entardecer.

Trompa de embalagem

Arranjem uma embalagem vazia de chocolate em pó. Procurem um tubo cilíndrico de um ou dois centímetros de diâmetro e de uns vinte ou trinta de comprimento (um pedaço de pau de vassoura, um fragmento de mangueira de plástico…).

Façam um buraco na parte lateral da embalagem, perto da base, e introduzam aí o tubo de pressão. Para fazer soar a nossa trompa têm de fazer vibrar os lábios como se estivessem a tocar uma trombeta ou trompa de verdade. Não nos faz lembrar o

uivo noturno dos lobos?

Pau de chuva

Arranjem um tubo um pouco comprido e largo que seja cilíndrico (como os tubos para guardar mapas). Preguem-lhe uma boa quantidade de pregos com a ponta para dentro e encham-no com uma ou duas mãos cheias de sementes (arroz, lentilhas…), ou de pedrinhas, ou de massa um pouco grossa (como a da sopa!).

Tapem os dois extremos do tubo e as sementes ao deslocarem-se de um lado para o outro chocam com os pregos fazendo o som da água (e de noite diz-nos onde está o rio!).

Também podem juntar à “caixa das coisas que fazem sons de noite” instrumentos étnicos um pouco estranhos que tiverem em casa e não souberem o que fazer com eles.

E com todos os instrumentos da caixa podem criar pequenas composições fazendo misturas com os objetos sonoros e jogando com eles, juntamente com instrumentos de lâminas Orff: podem estabelecer diálogos com pares de instrumentos, ou então ir sobrepondo um instrumento após outro até se atingir uma rica textura sonora noturna; Podem ainda explicar alguma história de animais noturnos ilustrando-a com pequenas intervenções instrumentais. Há imensas possibilidades abertas para a criação!

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Chamariz de pássaro (chapim comum)Flauta pequena com dois buracos para poder reproduzir o seu canto típico: ti-ti-pú.

Xirimia de Ibiza Instrumento feito por um camponês de

Ibiza. Na parte superior da cana há um corte que faz com que uma das

partes fique separada do resto e ao soprar produza uma vibração

como a dos tubos simples dos clarinetes. Aliás, este

instrumento terá sido precursor do

clarinete.

Rã grandeA rã é oca por dentro, e isso cria a caixa de ressonância necessária para que ao raspar o seu lombo, —sempre para a frente!—, se produza o som profundo do coaxar da rã.

Mocho de barroOcarina originária da América do Sul, de som grave e profundo como o dos mochos.

Percussão de crocodiloO instrumento tem umas placas de madeira que, ao agitá-lo, produzem o som de um chicote. Em Portugal existe um instrumento tradicional semelhante chamado trécula

Maraca de cinco bolasAs pequenas bolas têm dentro delas sementes muito leves, por isso o som resultante é suave, como uma cigarra noturna.

Chamariz de pássaro (pica-pau) Acordeão de borracha com dois biséis nos extremos.

Chamariz de pássaro (pardal comum)Bolsa de couro com guizo.

Faz-se soar dando pancadinhas na bolsa que,

assim, envia ar para um bisel.

Rã pequenaComo tem a caixa de ressonância mais pequena, o som é mais agudo.

12 O Colecionador de Paisagens

A nossa «caixa das coisas que fazem sons de noite»

Nós também fizemos uma «caixa das coisas que fazem sons de noite»: para criar a paisagem sonora da noite que vão escutar na primeira parte do espectáculo utilizámos estes instrumentos e chamarizes de caça:

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O Colecionador de Paisagens 1313A noite

Escutar os sons da natureza – Ouvir música

“Devemos ouvir com atenção, para poder reconhecer os sons da natureza que nos rodeia e para descobrir músicas que nos recordam pássaros ou que nos fazem sonhar enquanto dormimos.”

Para começar, podemos tentar encontrar quantos pássaros há na faixa 2 do CD e também se podemos reconhecer alguns (talvez um cuco?); depois, no número 3 iremos ouvir um fragmento musical que imita sons de pássaros com um clarinete e um violino.

c CD 2 Cantos de Pássaros (Ordem de aparecimento: francelho, cuco, pisco) c CD 3 Fragmentos de clarinete e violino do Quarteto para o Fim do Tempo, de Messiaen

Nos dois fragmentos seguintes, podemos reconhecer sons da noite? Na faixa 4 podemos procurar animais (talvez um grilo? Um mocho? Uma rã?). Podemos imaginar como é esta noite e descrevê-la com palavras ou desenhos, ou então deixar-nos levar pelo som e descontrairmo-nos deitados no chão. Nesse momento, voltamos ao número 1 para ouvir de novo como Debussy compôs uma música para imaginar personagens dormindo placidamente. Se ainda estivermos descontraídos e deitados, até é possível que nos embrenhemos tanto na música que acabemos por adormecer!

c CD 4 Gravação de sons noturnos c CD 1 Fragmento inicial de «O Sonho da Caixa», de Debussy

A cor na pintura – A cor na música Esta atividade é dedicada à cor, quer pictórica, quer musical. Mais adiante, talvez levemos os nossos alunos a observarem as cores que predominam no quadro de Seghers (suaves tonalidades de terra, verde, azul…) e na paisagem de Bruegel (vivo contraste de manchas brancas, vermelhas, negras… entre suaves tonalidades de verde e terra). Agora é o momento de descobrir que a música também utiliza uma paleta de cores, mas neste caso sonora. Cada instrumento tem uma cor sonora diferente.

Em primeiro lugar ouviremos um fragmento da peça «O melro» de Montsalvatge, que originalmente é para piano solo, mas aqui podemos ouvi-la numa versão em que a melodia passa do clarinete para a flauta e, a seguir, para o piano e, depois, é tocada juntamente pelo violino e pelo violoncelo.

c CD 5 Fragmento de «O melro», de Montsalvatge Neste momento damos às crianças a silhueta desenhada de um dos pássaros protagonistas do espetáculo —o flamingo—, e cada um dos alunos terá de a pintar como se tivesse uma plumagem exuberante de cinco cores: amarelo, vermelho, verde, azul e cor de laranja.

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14 O Colecionador de Paisagens

Já temos o flamingo pintado com cinco cores, tal como ouvimos a música com os cinco instrumentos que tocavam conjuntamente.

Como já dissemos, devemos fazer com que as crianças entendam que cada um dos instrumentos é como uma cor da paleta de um pintor, e que estas cores diferentes se mostram todas ao mesmo tempo, num mesmo fragmento musical. Mas que agora as diferenciamos, e por isso ouvimos a mesma peça interpretada por cada um dos instrumentos em separado, com o acompanhamento do piano.

Antes de ouvir, atribuímos uma cor a cada instrumento. Por exemplo, colocamos a imagem destes instrumentos num lugar visível da aula e assim as crianças veem continuamente a cor que atribuímos a cada instrumento.

Entretanto, aproveitamos a ocasião para apresentar os instrumentos do espetáculo.

Ah! E também os músicos que os tocam!

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Alumne:

El colo

r a la pin

tura – El co

lor a la m

úsica

Làmina: 3- Ciuc dibuixos de flam

enc

La nit

O Colecionador de Paisagens 15A noite

Portanto, escutamos os instrumentos em separado.

c CD 6 Fragmento de «O melro», de Montsalvatge, interpretado ao piano c CD 7 Fragmento de «O melro», interpretado ao violino (com acompanhamento de piano) c CD 8 Fragmento de «O melro», interpretado ao violoncelo (com acompanhamento de piano) c CD 9 Fragmento de «O melro», interpretado à flauta (com acompanhamento de piano) c CD 10 Fragmento de «O melro», interpretado ao clarinete (com acompanhamento de piano)

Depois de ouvir atentamente e de entender que cada instrumento tem atribuída uma cor, propomos o seguinte jogo:

Deem a cada criança uma segunda folha com a silhueta de cinco flamingos seguidos. Depois, façam as crianças escutarem, pela ordem que vocês quiserem, os cinco instrumentos em separado. A cada instrumento corresponde um flamingo que terá de ser pintado com a cor que lhe foi atribuída: se escutarem primeiro o clarinete, pintarão o primeiro flamingo

de cor verde.

Se escutarem depois o violino, pintá-lo-ão de amarelo.

Se as crianças identificaram cada som com um instrumento e, portanto, com uma cor, terão os cinco flamingos pintados na ordem cromática correta.

É como ter observado o quadro, primeiro em conjunto e depois em pormenor.

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16 O Coleccionador de Paisagens

O sol mostra a paisagem

Músicas desta parte do espetáculo:

Maurice Ravel era um apaixonado pela cor

instrumental, por isso compôs uma peça chamada

Bolero , na qual um só tema (bem, na realidade, dois

temas) passa por todas as cores dos instrumentos

da orquestra sinfónica (isso é exatamente o mesmo

que faziam os pintores da sua época, como Monet

quando pintou a catedral de Rouen, com todas

as cores com que a luz impregnava a fachada em

diferentes momentos). No «Nascimento do Dia» do

seu ballet Daphnis et Chloé a música faz-nos evocar

um sol que vai crescendo até chegar a uma explosão

de luminosidade radiante…

Conhecemos o compositor Igor Stravinsky pelos seus

grandes ballets, como Sagração da Primavera, Fogos

de Artifício ou O Pássaro de Fogo. São obras escritas

para uma grande massa orquestral e que nos

surpreendem pela sua enorme e penetrante energia.

No entanto, Stravinsky era um artista que tinha mil

maneiras diferentes de se expressar através da música

e ouvimo-lo aqui com um andante delicado, simples,

repousado, contemplativo…

Pinturas desta parte do espetáculo:

Sabemos pouco de Hércules Seghers, um pintor de

que só conhecemos 11 quadros (gravados a água-

forte conhecem-se mais). Nasceu em 1589 (ou talvez

em 1590) na cidade de Haarlem (ou talvez não).

O que nos interessa dele é o facto de se encontrar

exatamente no centro da época dourada do

paisagismo holandês (a grande contribuição deste país

para a história da arte). Há quem diga que, depois

da sua morte, as suas gravuras foram vendidas aos

comerciantes de óleos para embrulhar a manteiga e

o sabão. Seja como for, não se deve dar demasiada

importância a isso. Provavelmente o artista conseguiu

algum prestígio em vida como pintor e a prova disso é

que Rembrandt, sim senhor, Rembrandt, tinha em seu

poder oito quadros de Seghers!!

Consta-nos que fazia esboços ao ar livre e que depois,

já no seu ateliê, pintava as telas transformando-as em

paisagens de forma fantasiosa.

Fragmento da gravura de Michael Maier, intitulada «Sol indiget lunâ tu gallus gallinâ», do livro alquimista Atalanta fugiens (1618)Rio num vale (1626), de Hércules Seghers

«Nascer do Dia» da suite Daphnis et Chloé, de Maurice Ravel«Andante» da Suite para orquestra de câmara núm. 1, de Igor Stravinsky

Hércules Seghers. Rio num vale, 1626 (pormenor) Óleo sobre madeira, 30 × 53,5 cmRijksmuseum. Amsterdão

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O Coleccionador de Paisagens 17O sol mostra a paisagem

Olhar-escutar

Em primeiro lugar, vamos observar a reprodução de uma paisagem e depois ouvir uma melodia.

No fim, perguntamos se se parecem uma com a outra e qual a sensação que nos produzem…

Apagamos a luz…

Sugerimos que mostrem aos vossos alunos o quadro Rio num vale (1626), de Hércules Seghers, de acordo com as seguintes recomendações:• Antes de começar a aula, preparem o projetor e certifiquem-se de que tudo funciona corretamente.

• Se for possível, peçam aos alunos para se sentarem em semicírculo para poderem ver

bem a imagem e para se poderem ver bem uns aos outros.

• Proponham-lhes que estabeleçam um diálogo entre todos eles sobre as imagens e

expliquem-lhes que o professor não vai dizer nada, vai ser apenas moderador. Portanto

será bom que os professores se coloquem entre a imagem e os alunos.

• Projetem a imagem e peçam aos alunos para a observarem atentamente e em silencio

durante uns minutos.

• Façam a pergunta: O que é que se passa aqui? E peçam aos alunos que levantem

a mão para pedir a vez e falar sobre a imagem. Como moderadores, não devem

proporcionar nenhuma informação, devendo apenas ordenar as intervenções.

• Não sejam favoráveis a nenhuma interpretação. Em princípio, ninguém se engana

se aquilo que disser for baseado na sua observação. Se a relação entre aquilo que o

aluno diz e a imagem não ficar suficientemente clara, façam-lhe outra pergunta: O que é que vês ali que te fez dizer isso? Esta

segunda pergunta convida o aluno a refletir sobre as suas primeiras impressões, a examinar a imagem com mais atenção e a

procurar razões para ilustrar as suas ideias e argumentos.

Carregamos no PLAY

Agora ouvimos um fragmento musical.

c CD 11 «Andante» da Suite para orquestra de câmara núm. 1, de Igor Stravinsky

Sugerimos também que…

• Antes de começar a aula, certifiquem-se que os reprodutores de música e o CD funcionam corretamente.

• A disposição das crianças em semicírculo facilita o diálogo e, também, que o professor veja bem todos os alunos.

• Manter a escuridão ou a penumbra pode facilitar a concentração e o SILÊNCIO. Enfatizem a necessidade de silêncio

absoluto.

• Carreguem no play e ouçam a peça.

• Depois da audição da peça, tentem descobrir com os alunos tudo o que ela sugere em diferentes âmbitos: ritmo, volume

sonoro, carácter, os instrumentos que se podem reconhecer na peça… Podem fazer um jogo para encontrar adjetivos,

situações, personagens ou objetos que ajudem para falar dela… Deixem as crianças expressarem as suas opiniões em

liberdade. Para isso, evidentemente, podemos voltar a escutar pequenos fragmentos, apontar ideias ou fazer desenhos no

quadro…

Hércules Seghers. Rio num vale (1626) Óleo sobre madeira, 30 × 53,5 cm Rijksmuseum. Amsterdão

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18 O Coleccionador de Paisagens

¡Agora tudo ao mesmo tempo!

Sim, agora observamos a imagem e ouvimos a música ao mesmo tempo, e pensamos se as duas coisas combinam ou são dissonantes. Animem as crianças para que cada uma delas expresse a sua impressão pedindo-lhes sempre que argumentem as suas respostas. No fim, fazemos-lhes a pergunta talvez mais importante: o que é que sentem quando ouvem esta música e olham para esta imagem? Esperamos as respostas das crianças e, se for necessário, conduzimo-las para a ideia de tranquilidade, de calma.

Efetivamente, uma das coisas mais importantes que podemos descobrir é aprender a olhar e escutar o que se passa no nosso interior. E nisso, a música e a pintura —como as outras artes— podem ajudar-nos muito.

O colecionador de paisagens, nas suas viagens, olha e escuta aquilo que vê e aquilo que ouve. Depois, senta-se tranquilamente e olha e escuta o que se passa no seu interior…

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O Coleccionador de Paisagens 19Chegam as pessoas

Chegam as pessoas

Músicas desta parte do espetáculo:

Joan Saura e Xavier Maristany são dois músicos

catalães que colaboraram em muitos espectáculos de

dança, por isso a sua música é frequentemente muito

rítmica. Por outro lado, sabem criar peças muito

divertidas a partir de pequenos motivos musicais que

se repetem, combinam, variam ou sobrepõem.

Do menor motivo, tiram o máximo proveito;

é o segredo dos minimalistas.

Sons de canções populares da Hungria ou da

Roménia, ritmos sincopados e festivos, sabor do

bulício camponês, sorrisos de crianças a jogar na

praça.

Tudo isto e muito mais encontramos na música de

Béla Bartók.

Cantemos juntos! É uma canção criada expressa-

mente para o espetáculo. Possui uma estrutura em

que um refrão fácil de recordar se repete três vezes.

Esperemos que, no mínimo, à terceira já não falte

nenhum cantor!

Pintura desta parte do espetáculo:

Pieter Bruegel o Velho. o regresso do rebanho, 1565 (pormenor). Óleo sobre madeiraKunsthistorishes Museum, Viena

A história do género da paisagem começa

aproximadamente no século em que Pieter Bruegel

viveu, o século XVI. Pieter, iniciador de toda uma

estirpe de artistas, deixou de pintar cenas bíblicas

com paisagens por trás e ao longe para pintar

paisagens com cenas bíblicas ao longe. Do mesmo

modo que deixou de retratar homens relevantes e

ricos para descrever a gente humilde do campo.

Em A Dança do Casamento (1566), os protagonistas

são os lavradores, gente anónima. E claro, a natureza

torna-se a paisagem que os acolhe. A cena cheia de

vida tem lugar num prado com árvores e os campo-

neses parecem sentir-se como em casa (reparem

que escavaram umas valas para se poderem

sentar e transformar o chão em longas mesas).

O quadro está cheio de movimento, de danças

de cores, de pormenores descritivos da maneira de

ser dos homens e das mulheres na sociedade. Se

os procurarem, no meio da festa vão encontrar os

músicos, a noiva que dança com um diadema na

cabeça e um vestido negro, a mesa com a manta e a

coroa onde se guarda o dinheiro, um par a dar um

beijo, alguém que observa tudo com serenidade,

outro que já está a sair da festa…

Fragmentos de diversos quadros de Pieter Bruegel, o VelhoA Dança do Casamento (1566) de Pieter Bruegel, o Velho

«Quarteto» de Kolbe Bazar, de Joan Saura e Xavier Maristany«Allegro robusto» de 10 peças Para Crianças, de Béla Bartók«Cânone» de 10 peças de Para Crianças, de Béla Bartók«Parnas Tanc» de 44 duos para dois violinos, de Béla Bartók«Bagpipes» de 44 duos para dois violinos, de Béla Bartók«¡Cantemos juntos!» de Albert Gumí

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20 O Coleccionador de Paisagens

Estamos rodeados de sons

Como referimos anteriormente, o nosso protagonista olha e escuta. Ao olhar, consegue descobrir a luz, as formas e as cores das paisagens que visita. Ao escutar, descobre imensos sons que nascem nestas paisagens: sons de pássaros, sons de ventos, sons longínquos de um grupo de camponeses que está a trabalhar no campo… Está rodeado de sons!

Propomos umas quantas atividades para descobrir alguns dos sons que nos rodeiam, para abrir os sentidos e para reconhecer e dar um sentido especial ao que soa à nossa volta…

Deem a cada criança uma folha em branco e um lápis ou lápis de cor. O objetivo da primeira atividade é fazer com que cada uma delas desenhe ou escreva (será decidido pelos professores de acordo com o nível do grupo) aquilo que ouve quando toda a turma está em silêncio absoluto.

É necessário determinar um espaço de tempo (uns quantos minutos serão suficientes) para estar em silêncio absoluto e desenhar tudo o que escutamos.

O que é que escutamos? Talvez ouçamos a voz do professor e os risos dos alunos das aulas do lado, talvez uma mota na rua, talvez o som de um lápis que caiu acidentalmente ao chão (seria interessante que nós próprios provocássemos algum som fortuito se vemos —perdão, se escutamos— que não há sons suficientes à nossa volta). Quando terminarmos, comentamos o que anotámos ou desenhámos. Há coincidências? Tivemos tempo de registar tudo o que ouvimos? Talvez não tenha havido nenhum som ou talvez não tenhamos reparado suficientemente nos sons longínquos?

Então, de todos os sons que ouvimos, temos de escolher algum que possa ser reproduzido pelos nossos alunos (o lápis, os risos…) e brincar com ele. Por exemplo, podemos fazer um jogo de imitação: os professores compõem um pequeno ritmo dando pancadinhas suaves com o lápis na mesa e as crianças repetem todas ao mesmo tempo com os seus lápis. Ou podemos experimentar sobrepor diferentes sons obtidos a partir de objetos que podemos encontrar na aula (uma cadeira, um cesto de papéis, um copo para lápis…). Ou podemos estabelecer um diálogo de perguntas e respostas… feito com risos! Em definitivo, trata-se de tornar o ruído do lápis ou da gargalhada em música e trabalhá-lo com os nossos alunos.

De facto, quando damos uma intenção determinada a um RUÍDO, tornamo-lo num SOM. E quando organizamos um SOM (ou um grupo de sons), tornamo-lo MÚSICA. Talvez não seja necessário que os nossos pequenos alunos entendam este processo, mas já o podem começar a viver na primeira pessoa.

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Pieter Brueghel o Velho A Dança do Casamento, 1566Institute of Arts, Detroit.

O Coleccionador de Paisagens 21Chegam as pessoas

Outra maneira de propor a mesma atividade consiste em sugerir à turma que se levante do assento em silêncio absoluto, tentando não fazer nenhum ruído… e escutar todos os sons que se fizeram tentando não produzir nenhum. Poderemos repetir alguns destes sons? Poderemos fazer música com eles? Por exemplo, há peças fantásticas (destas de partitura e sala de concertos) escritas para quarteto de cadeiras! Outra atividade poderá ser uma tarefa para fazer em casa e mostrar na aula seguinte: pedimos às crianças para escolherem um som que as tenha surpreendido, agradado, impressionado, as-sustado, incomodado, etc. Em suma, que procurem algum som que lhes tenha parecido especial por algum motivo e falem disso com os colegas da turma. Ou seja: que cada criança se torne num «colecionador de paisagens sonoras»!

Vimos que estamos rodeados de sons muito peculiares durante a maior parte do dia? Então, questionemo-nos se se trata de sons que podemos recriar ou reproduzir ou imitar na aula. Há alguns de que não gostamos? Porquê?

De todos eles, escolhemos aquele de que gostamos mais e o mais feio, e reproduzimo-los um depois do outro. Fazem um contraste curioso, não fazem?

Por outro lado, reparamos também que cada uma das vozes dos meninos e das meninas da turma é diferente, única e especial. Mas… qual é o colega que tem a voz mais grave ou a mais aguda? Ou qual é o que fala mais alto ou mais baixo?

Façamos um jogo para dizer as mesmas palavras com vozes muito díspares. O que grita pode também falar baixo? Até onde pode chegar a força da voz daquele que normalmente tem um tom mais suave? Pode-se criar música somente com palavras? Podemos repeti-las, combiná-las, fazer jogos pronunciando-as de forma forte e suave, procurar as que têm sonoridades musicais (cochicho, repique, gongo…) ou simplesmente dizê-las ritmicamente (como se fosse um rap).

Há montes de sons que nos rodeiam, que nos acompanham, que inclusivamente levamos con-nosco. São sons com os quais podemos brincar a fazer música!

Pintura – música – gesto

Vamos ouvir uma peça de Béla Bartók intitulada «Allegro robusto».Propomos aos nossos alunos, tal como já devemos ter feito anteriormente, ouvirem o que se passa dentro deles enquanto a música toca…

c CD 12 «Allegro robusto», de Béla Bartók

O que sentimos é muito diferente do que sentíamos enquanto escutávamos a melodia de Stravinsky ou víamos o quadro de Seghers. Muito provavelmente, no nosso interior sentimos alegria, vontade de nos mexermos…

Portanto, vamos também relacionar esta música com uma imagem, uma pintura que é muito mais animada e buliçosa que a de Seghers.

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22 O Coleccionador de Paisagens

Observemos o quadro A Dança do Casamento, de Pieter Bruegel, repetindo o exercício de ob-servação que propusemos na página 17.

Também podemos observar o quadro enquanto ouvimos a peça de Bartók e, se não houver comentários, podemos fazer perguntas como: O que é que representa a cena? Quem são os protagonistas? Em que paisagem tem lugar a ação? É um quadro silencioso como o de Seghers? Onde estão os músicos do quadro? Como é a música que estão a tocar nele? É forte ou piano? Tem um ritmo bem marcado ou é suave?

Da mesma forma que o quadro de Seghers foi comentado pausadamente, o quadro de Bruegel pede-nos ação, pede-nos uma encenação mais ativa. Esta é a nossa proposta:

Dividimos a nossa turma em grupos. Cada grupo dispõe de uma reprodução da pintura de Bruegel (sugerimos que a imprimam em formato A3). Devem observá-la com atenção e escolher uma das personagens ou um dos pares que aparecem nela.

Com a nossa ajuda, e sem que os outros grupos deem por isso, cada grupo pratica a postura estática de alguns dos camponeses que abundam na festa.

Quando todos já tiverem trabalhado (em segredo) a gestualidade escolhida, o primeiro grupo coloca-se diante do resto da turma para iniciar o jogo de observação. Projetem a imagem e ponham a música de Béla Bartók. Enquanto dura a composição, o grupo que atua representa (em pares ou individualmente) as personagens que escolheram. É importante que tentem ser muito fiéis à postura dos camponeses que imitam. Têm de permanecer quietos, petrificados para evocar o movimento parado (como sucede no quadro). Durante a

audição, os espectadores devem descobrir cada uma das personagens representadas

na pintura. E, como sempre, e isso é o mais importante, devem

fazê-lo todos em SILÊNCIO!!

Quando acabar a música, os alunos têm de pedir a sua vez com a mão no ar, para dizerem, de maneira ordenada, quais foram as personagens que os seus colegas representaram. Além disso, se acharmos conveniente, podemos tirar fotografias de cada uma das cenas para depois fazer uma recriação da pintura de Bruegel com os nossos alunos como protagonistas.

Com o que fizemos até agora, já temos uma imagem (estática) e uma música. Ao mesmo tempo descobrimos coisas do quadro e da peça de Bartók… Agora temos de criar o movimento!

Vamos fazê-lo a partir das posturas de dança que extraímos do quadro. Com estas posturas, fazemos uma pequena coreografia para toda a turma. Ensaiamo-la e, com a música do «Allegro robusto» de Bartók, transformamo-la numa dança inspirada na pintura

de Bruegel.

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O Coleccionador de Paisagens 23Chegam as pessoas

Baile de sombras chinesas

Com o brilhante quadro de Bruegel ainda podemos fazer mais coisas, por exemplo, um jogo de sombras chinesas:

Em primeiro lugar mostramos a pintura (a do exercício anterior) e pedimos aos alunos para escolherem uma ou duas personagens que aparecem nela.

As crianças terão de desenhá-las tentando reproduzir todos os seus gestos. Devem fazê-lo numa cartolina negra de tamanho A4, tentando dar às figuras a maior dimensão possível. Explicamos-lhes que as vamos utilizar para criar sombras chinesas e que, portanto, o mais importante é o perfil, sem demasiado pormenor.

Seguidamente devem recortar as figuras —ajudamo-los se a idade dos alunos assim o aconselhar. Para fazer dançar as personagens temos de as articular de forma simples: partimos as figuras em duas partes pelas zonas onde der jeito para reproduzir o movimento do corpo, por exemplo pela anca ou pelas articulações dos braços, ou pelo pescoço… A seguir sobrepomos as duas partes (o mínimo possível para evitar deformar excessivamente a fisionomia) e fazemos-lhes um buraquinho para poder passar um atache de metal para encadernar.

Já sabemos que se lhes acrescentarmos um pau fininho (por exemplo, o pau das espetadas) podemos fazer os bailarinos dançar, mas propomos também outra possibilidade…

Procuramos um caixilho de madeira o maior possível, como o caixilho de uma janela ou de um quadro ou o umbral de uma porta que durante uns dias possa ficar inutilizada… e vamos armando nele uma rede construída com as figuras unidas com elásticos (como os das pastas que se vendem em qualquer retrosaria). Fazemos buracos nas cartolinas para poder passar os elásticos e ao mesmo tempo colocamos laços no caixilho de madeira para o poder segurar.

Quando tivermos tudo unido, podemos pôr a dançar todas as figuras puxando por um dos elástico (dependendo de onde puxarmos dançarão de uma maneira ou de outra).

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24 O Coleccionador de Paisagens

A canção do espectáculo

Estão convidados para aprender a canção que fala sobre o quadro de Bruegel e que poderão cantar com o colecionador e os músicos no dia em que vierem assistir ao espetáculo.

Temos a música gravada com a voz e a versão instrumental para cantar conjuntamente com a letra e a partitura.

c CD 13 Cantemos juntos!, de Albert Gumí c 14 Cantemos juntos!, versão instrumental

Cantemos juntos

Albert Gumí

Vamos cantar, que a festa começou(la la ra la la la la la la la)

Vamos dançar, não sejas preguiçoso

(la la ra la la la la la la la)

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O Coleccionador de Paisagens 25El paisatge es transforma

Músicas desta parte do espetáculo:

Ao fugir de Pan, a ninfa Syrinx transformou-se numa

cana. Cansado, arquejante e zangado, Pan arrancou

a cana e o seu bufo ressoou no tubo produzindo

um doce som de flauta. Por isso os gregos chamam

Syrinx à flauta de pastor ou flauta de Pan.

Claude Debussy compôs esta peça para flauta solo

em 1913 e nela escutamos sons de ninfas de outros

mundos…

Hanns Eisler foi discípulo de Schönberg, de quem

herdou a vontade de se expressar de um modo

inovador. Compôs as 14 Maneiras de Descrever a

Chuva em 1941 para um documentário de cinema

realizado em 1928 e que mostrava múltiplos efeitos

antes, durante e depois da chuva na cidade de

Amsterdão.

Dmitri Schostakovitch compôs uma seleção de

sete romances para soprano, violino, violoncelo e

piano em 1967 sobre poemas de Alexander Blok.

O poema da quinta peça («A Tempestade») começa

com umas palavras que nos ilustram como é a

música que o acompanha:

«Oh, com que raiva a terrível tempestade

grita e explode atrás dos

vidros das janelas!...»

Para acabar, Debussy devolve-nos à calma da noite. O

«Clair de lune» da sua suite Bergamasque é a única

peça do espetáculo anterior ao século XX (foi escrita

em 1890, embora tenha sido publicada em 1905).

Talvez não tenhamos dado por isso mas praticamente

tudo o que vamos ouvir foi escrito nos últimos cem

anos…

Pintura desta parte do espetáculo:

O Romantismo recuperou o género da paisagem

do sótão da história da arte e revitalizou-o

novamente. E os expressionistas alemães, Emil e Ada

Nolde foram, no princípio do século passado, os

continuadores desta paixão.

Inverno, o quadro de Nolde em que um caminhante

se encontra no meio da neve, debaixo de chuva,

pode-nos fazer lembrar os panoramas românticos com

homens reencontrando a natureza e reencontrando-se

a si próprios.

A cena do solitário sob a chuva parece descrita a

partir da experiência pessoal com inquieta emoção.

E com esta confusa imagem (desvanecida pela

pincelada enérgica) Emil Nolde aproxima-se do limite

de um bosque cheio de incógnitas: a abstração.

Outros pintores penetraram então nele.

A paisagem transforma-se

Inverno (1907) d’Emil Nolde

«Syrinx» para flauta transversal, de Claude Debussy«14 Maneiras de Descrever a Chuva», op. 70, de Hanns Eisler«A Tempestade» de Sete Romances, op. 127, de Dmitri Schostakovitch«Clair de Lune» da Suite Bergamasque, de Claude Debussy

Emil Nolde. Inverno, 1907Stiftung Seebüll Ada und Emil Nolde

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26 O Coleccionador de Paisagens

Um ponto que passeia pela folha

Um dia, o pintor Paul Klee disse, «Um desenho é um ponto que vai passear…».

Um ponto que passeia

Sugerimos que façam passear por um papel o ponto de que o pintor falava. E vamos fazê-lo ouvindo uma melodia para flauta transversal do compositor Claude Debussy.

É necessário que as crianças disponham de uma folha (se for de tamanho A3, muito melhor) e de um utensílio que permita variar a intensidade do traço em função da força com que se aperta (um lápis de cera é uma boa solução).

Devemos dar-lhes as instruções seguintes: • Em primeiro lugar, devem marcar um ponto sobre o deserto branco do vosso papel (podem começar onde quiserem, não

é preciso ser no meio).

• Quando ouvirem a música de Debussy, o vosso ponto começará a passear… Desloquem o vosso ponto e ele vai-se tornar

numa linha. Esta linha não tem de representar nenhuma figura nem personagem. É uma linha livre.

• No entanto, a linha deve seguir a melodia. Portanto, é a música que dita o ritmo; o percurso (tal como os ratos hipnotizados

pelo flautista de Hamelín); a intensidade da linha (mais grossa ou mais fina em função de apertarem mais ou menos); pode ficar

uma linha reta e dura ou curva ou sinuosa; pode ficar contínua ou descontínua…

• Estão preparados? Então vamos começar a fazer com que o nosso ponto passeie enquanto ouvimos a música!

c CD 15 Syrinx, para flauta transversal, de Claude Debussy

Quando acabarmos (quando tiver acabado a peça de Debussy), penduramos os vários desenhos na parede da aula e comentamo-los. Observamos a relação com a música de Debussy.

Se um desenho é um ponto que vai passear…,não acham que uma melodia é uma nota que vai passear?

Uma criança que passeia

Como vimos, a música necessita do espaço e do tempo, e nós agora também necessitamos dos próximos minutos e da sala que utilizamos para a aula de

psicomotricidade ou educação física para conseguir que este ponto se torne numa criança que se desloca pelo espaço:

Vamos necessitar de uma corda de uns 8 ou 10 metros no mínimo

Quando voltarmos a reproduzir uma peça gravada de Debussy, uma das crianças desenha uma linha no chão (caminhando e deixando um rastro com a corda), sempre de acordo com a melodia. Atrás dela, os colegas deslocam-se seguindo o caminho marcado pela corda e o espírito da música. É como uma espécie de dança livre que segue o traço da melodia sim-bolizada pela corda.

Uma criança que passeia pelo espaço

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Para fazer a música, necessitamos de:- Pequenas percussões (reco-reco, clava,

maraca…)- Instrumentos de «A caixa das coisas que

fazem sons de noite»- Pandeiros (com pele de couro, não de

plástico)- Xilofones (que tocamos com as baquetas

viradas)- Um ou uns quantos paus de chuva- Metalofones com baquetas suaves- Um prato pendurado ou gongo- Tambores ou um piano

O Coleccionador de Paisagens 27A paisagem transforma-se

A meteorologia transforma a paisagem

No espetáculo, como poderemos comprovar, chega um momento em que rebenta uma tempestade. A música de Schostakovitch descreve-nos de forma fantástica a força do vento e da chuva. É uma composição de música descritiva. Nós, na aula, também podemos fazer música descritiva.

Portanto, fazemos de compositores e intérpretes da nossa própria música. Não necessitamos de partitura. Unicamente de uma boa organização de equipa, bastante compenetração e um pouco de concentração e de memória. O que têm a seguir é um exemplo de guião para fazer a música. Qualquer variação vossa ou proposta pelos alunos será fantástica.

Preparamos a composição a partir de uma proposta: A meteorologia transforma a paisagem

A partir deste momento, podemos começar a montar a pequena peça musical enquanto vamos distribuindo os instrumentos. Dependendo do grau de concentração dos nossos alunos, podemos ensaiar cada nova secção que vamos juntando à peça e depois retiramos os instrumentos para evitar que os alunos os toquem enquanto fazemos as outras seções. Depois ligamos as diversas seções da peça.

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O vento, entretanto, mantém-

se, e ouve-se cada vez mais

forte.

Começa-se a ouvir o

som suave do vento

Pouco a pouco ouvem-se as primeiras gotas da chuva que repicam no telhado e nos vidros.

A chuva faz regatos à volta da nossa casa…

28 O Coleccionador de Paisagens

Sons de guiro, maracas, clavas, instrumentos de «a caixa das coisas que fazem sons de noite” imitando animais que se movem na escuridão. Podemos fazer pares de instrumentos que dialoguem independente- mente uns dos outros. O efeito será um pouco selvagem.

Esfregando circularmente com as unhas sobre a pele de um grupo de pandeiros obtemos um som muito parecido com o vento suave. Um aluno faz de líder e os outros tentam seguir-lhe o ritmo. Os sons da noite desaparecem, os animais pressagiam que se aproxima alguma coisa…

As gotas de chuva podem conseguir-se com xilofones que tocamos com a baqueta ao contrário para conseguir um som mais leve.

Podemos ir buscar alguma das ilustrações com a finalidade de nos dar um som exótico (podemos imaginar que a casa onde estamos está situada em algum país longínquo). Exemplos de possíveis afinações: podemos ir buscar os FA e os SI, e ficamos com um pentatónico chinês: DO RE MI SOL LA. Mas também podemos experimentar outros tipos de terras longínquas: MI FA SOL SI DO (Pelog da Indonésia), RE MI FA LA SI (Hirajosi do Japão), MI FA LA SI DO (Kumoi do Japão)…

Uma criança começa a fazer uma melodia livre dando pancadas muito suaves, pouco depois junta-se-lhe outra criança e pouco a pouco vão-se juntando as outras até se conseguir uma textura de gotas misturadas que nos indica que já chove com força.

Podemos começar a criar sons de água com um ou alguns paus de chuva. As gotas de chuva fundem-se com o som dos regatos, que agora podemos criar com metalofones.

Para conseguir este efeito, podemos fazer frases que subam e desçam pelo metalofone (com a mesma afinação que os xilofones) tocando muito suavemente com a baqueta mole (um som líquido). Quando os metalofones e os paus de chuva já estiverem a produzir estes sons de água, os xilofones podem começar a desaparecer.

Estamos em casa, acaba

de cair o sol, há uma

grande tranquilidade e

ouvem-se ao fundo sons

de animais noturnos…

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Chegam raios e trovões

Volta a calma…

Final

Ouvem-se sons de

alarme!

O Coleccionador de Paisagens 29A paisagem transforma-se

Podemos fazer o raio com um prato pendurado ou um gongo. Pensamos que estes dois instrumentos podem oferecer muitas sonoridades. Por isso, deixamos as crianças experimentarem com as baquetas e as diferentes formas de tocar (forte, suave, com a baqueta virada, em diferentes partes do prato, raspando…). Propomos que os encarregados de fazer o som do raio descubram no mínimo três tipos de raios diferentes. O trovão que segue o raio pode ser obtido fazendo rufar os tambores ou com um cluster na zona grave do piano, pisando o pedal de ressonância (ou com os dois instrumentos juntos: primeiro soa o cluster e depois rufam os tambores in crescendo e diminuendo).

Existe a possibilidade de que um maestro marque com o gesto a intensidade e a dura- ção do rufar dos tambores.

No meio da grande trovoada, enquanto tocam os instrumentos de água (paus de chuva e metalofones) e os raios e os trovões nos fustigam, ouvimos sons que nos avisam de perigos. Podemos produzi-los com sinos (como o sino vaso), com todo o tipo de assobios, com corneta (a trompa de pote), com um ou uns quantos triângulos repicando com força…

Depois desta grande tensão, uma indicação pode fazer com que todos deixem de produzir o som da trovoada. Nesse momento pode permanecer ainda o murmúrio dos regatos (desta vez feitos possivelmente só com o metalofone). E sobre este murmúrio podemos voltar a ouvir alguns sons noturnos, tal como no princípio. Passada a tempestade, os animais voltam a mover-se na escuridão.

Qualquer som proposto pelos alunos (desde um som de crótalo até um toque num prato) pode fechar a nossa composição.

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30 O Coleccionador de Paisagens

Experimentemos a «Paisagem sonora meteorológica» com a vozHá culturas em todo o mundo que mantêm a tradição de imitar os sons da natureza com a voz. São culturas que vivem em contacto com a terra, com a floresta, com o céu azul e a noite estrelada. Uma destas culturas é a dos aborígenes da Austrália. Dizem que de noite, em redor de uma grande fogueira no meio das grandes planícies, fazem jogos que consistem em cantar como os pássaros ou reproduzir o som suave do vento ou imitar o ruído de uma serpente quando se arrasta para se esconder dentro do seu refúgio…

Nós também podemos fazer as nossas «paisagens sonoras meteorológicas» tomando como ponto de partida a nossa voz. Para isso, podemos dividir a turma em três grupos. A cada um dos grupos é atribuído um tipo de sons meteorológicos. Cada membro do grupo escolhe um som entre os possíveis e imita-o com a sua voz. Depois de escolher os sons e fazer os ensaios, cada grupo atreve-se a misturá-los, repeti-los, sobrepô-los ritmicamente, fazer diálogos, criar com eles texturas de desvario ou de tranquilidade… de forma que o resultado seja uma pequena composição de sons.

O educador pode ir de grupo em grupo ajudando a encaminhar as ideias das crianças e fazendo um pequeno esquema que sirva de partitura para não se esquecerem do que criaram. Quando a pequena composição estiver terminada, cada um dos grupos interpreta-a para os colegas.

Um último passo pode ser propor a cada criança que entre os instrumentos da aula escolha um que, na sua opinião, possa reproduzir o som que ela fazia. Se houver sons que nos pareçam impossíveis de ser reproduzidos por qualquer dos instrumentos, podemos fazê-los com a voz. Com os instrumentos escolhidos (misturados, se for necessário, com a voz), podemos tentar voltar a interpretar a nossa pequena obra.

E agora… duplo salto mortal!Tudo isto que temos trabalhado até agora pode ser enriquecido com a linguagem da pintura: transformemos uma paisagem pintada segundo os sons meteorológicos. Para o fazer é necessário ter ensaiado previamente a composição sonora (quer com instrumentos, quer com a voz)

Os intérpretes devem colocar-se em círculo e no centro ficam uma, duas ou três crianças que não tenham participado nem ouvido o ensaio musical (alguma criança que tenha estado doente na sessão anterior ou que se encontrava a fazer outra atividade ou mesmo algum colega de outra turma).

No chão há um grande papel ou tela de aproximadamente um metro quadrado (papel branco para embalar, por exemplo) e tinta líquida com pincéis.

Em primeiro lugar, o nosso convidado deve pintar uma paisagem simples com uma só condição: deve haver um caminho e um homem que caminhe sobre ele (como sucede no quadro de Emil Nolde que verão no espetáculo).

Depois da criança ter criado a imagem, é-lhe explicada uma segunda condição: deve transformar esta paisagem com o pincel de acordo com o que vai sentindo. É neste momento que todo o grupo inicia a partitura meteorológica, bem concentrado.

O pintor (ou pintores) fica rodeado de uma sonoridade que estimulará os seus sentidos. A pin- celada será conduzida pelos factos narrados, as sensações e o estado psicológico provocado (que é o mesmo que em boa medida tinha alterado Emil Nolde quando pintou as suas paisagens).

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Anexo

Conteúdo do CD de suporte ao guião

c CD1 «O Sonho da Caixa», de Claude Debussy c CD 2 Cantos de pássaros (ordem de aparecimento: francelho, cuco, pisco) c CD 3 Fragmento de clarinete e violino do «Quarteto para o Fim do Tempo», de Olvier Messiaen c CD 4 Sons noturnos da natureza c CD 5 Fragmento de «O melro», de Xavier Montsalvatge (versão para cinco instrumentos) c CD 6 Fragmento de «O melro», interpretado ao piano c CD 7 Fragmento de «O melro», interpretado ao violino (com acompanhamento de piano) c CD 8 Fragmento de «O melro», interpretado ao violoncelo (com acompanhamento de piano) c CD 9 Fragmento de «O melro», interpretado à flauta (com acompanhamento de piano) c CD 10 Fragmento de «O melro», interpretado ao clarinete (com acompanhamento de piano) c CD 11 «Andante» da Suite para orquestra de câmara núm. 1, de Igor Stravinsky c CD 12 «Allegro robusto», de Béla Bartók c CD 13 «Cantemos juntos!», de Albert Gumí c CD 14 «Cantemos juntos!», versão instrumental c CD 15 «Syrinx», para flauta transversal, de Claude Debussy

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Ilustrações

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Ilustração: 1 – Desenho do flamingo

A cor na pintura – A cor na músicaA noite

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A cor na pintura – A cor na música

Ilustração: 2.a. - Cinco instrumentos – Violino

A noite

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A cor na pintura – A cor na música

Ilustração: 2.b. - Cinco instrumentos – Violoncelo

A noite

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A cor na pintura – A cor na música

Ilustração: 2.c - Cinco instrumentos – Flauta

A noite

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Ilustração: 2.d - Cinco instrumentos – Clarinete

A noite A cor na pintura – A cor na música

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A cor na pintura – A cor na música

Ilustração: 2.e. - Cinco instrumentos – Piano

A noite

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A cor na pintura – A cor na música

Ilustração: 3 - Cinco desenhos do flamingo

A noite

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Ilustração: 4 - Rio num vale– Hércules Seghers

Olhar-EscutarO sol mostra a paisagem

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Ilustração: 5 - Pieter Bruegel o Velho – A Dança do Casamento (1566)

Pintura-Música-GestoChegam as pessoas

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Programa do espetáculo

A noite• «O Sonho da Caixa» (do ballet A Caixa de Brinquedos,

de Claude Debussy

• «Uma Pálida Lavadeira» (núm. 4 de Pierrot Lunaire), de Arnold Schönberg

• «Liturgia de Cristal» (núm. 1 do Quarteto para o Fim do Tempo), de Olivier Messiaen

• «O Melro» (de Cinco Pássaros em Liberdade), de Xavier Montsalvatge

O sol mostra a paisagem

• «Nascer do Dia» (da suite de Daphnis et Chloé), de Maurice Ravel

• «Andante» (da Suite para orquestra núm.1), de Igor Stravinsky

Chegam as pessoas• «Quarteto» (do espetáculo de dança Kolbe Bazar), de Joan Saura

• e Xavier Maristany

• «Allegro Robusto» (de 10 peças de Para Crianças), de Béla Bartok

• «Cânone» (de 10 peças de Para Crianças), de Béla Bartok

• «Parnas Tanc» (de 44 duos para violinos), de Béla Bartok

• «Bagpipes» (de 44 duos para violinos), de Béla Bartok

• «Cantemos juntos!», canção de Albert Gumí

A paisagem transforma-se• «Syrinx» para flauta, de Claude Debussy

• Introdução (de 14 Maneiras de Descrever a Chuva), de Hanns Eisle

• «A Tempestade» (de Sete Romances op. 127), de Dimitri Shostakovitch

• «Clair de lune» (da Suite Bergamasque), de Claude Debussy

Guião e direção artística:

Albert Gumí e Xavier Erra

Ator: Manolo Alcántara

(Manuel Sebastián)

Flauta: Jordi López (Sergi Gili)

Clarinet: Jordi Cornudella

(Naüm Monterde, Miquel Ramos)

Violino: Laia Rius (Cristina Serra,

Claudia Farrés)

Violoncelo: Eva Gumà (Maria Bou,

Andrea Peirón)

Piano: Claudia Gómez (Carmen Vidal)

Coreografia: Manolo Alcántara

Arranjos musicais: Albert Gumí

Cenografia: Xavier Erra

Vestuário: Rosa Solé

Iluminação: Joaquín Guirado

Desenho de som: Daniel Cherta

Construção da cenografia:

Josu González, Mario Herrero

Edição do vídeo: Videostudi

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