O conhecimento

4
A RACIONALIDADE CIENTÍFICO – TECNOLÓGICA CAPÍTULO 1 O CONHECIMENTO FICHA 1 O CONHECIMENTO COMO CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA. 1 Assinale com verdadeiro ou falso, justificando a sua opção. a) O conhecimento distingue-se da mera opinião. Verdadeiro. b) Não pode haver conhecimento sem crença. Verdadeiro. c) A crença não é condição suficiente do conhecimento. Verdadeiro. d) Não podemos conhecer uma determinada proposição se esta não for verdadeira. Verdadeiro. e) A crença verdadeira não é condição suficiente do conhecimento. Verdadeiro. f) Não pode haver conhecimento sem justificação do que acreditamos ser verdadeiro. Verdadeiro. g) O conhecimento é um palpite correcto. Falso. h) Os elementos constitutivos – as suas condições necessárias – do conhecimento são a crença, a verdade e a justificação. Verdadeiro. i) As condições sem as quais não há conhecimento são as seguintes: 1 – Crença – S acredita que P. 2 – Verdade – P é verdadeira. 3 – Justificação – S tem boas razões ou evidências a favor da crença de que P é verdadeira. Verdadeiro. J) «Acredito que Mourinho é treinador do Inter. Logo, sei que Mourinho é treinador do Inter.» Falso. «Sei que Mourinho é treinador do Inter. Logo, acredito que Mourinho é treinador do Inter» é que estaria correcto porque a crença é condição necessária do conhecimento, mas não suficiente.

description

O conhecimento como crença verdadeira justificada

Transcript of O conhecimento

A RACIONALIDADE CIENTÍFICO – TECNOLÓGICA

CAPÍTULO 1

O CONHECIMENTO

FICHA 1

O CONHECIMENTO COMO CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA.

1

Assinale com verdadeiro ou falso, justificando a sua opção.

a) O conhecimento distingue-se da mera opinião. Verdadeiro.

b) Não pode haver conhecimento sem crença. Verdadeiro.

c) A crença não é condição suficiente do conhecimento. Verdadeiro.

d) Não podemos conhecer uma determinada proposição se esta não for verdadeira.

Verdadeiro.

e) A crença verdadeira não é condição suficiente do conhecimento. Verdadeiro.

f) Não pode haver conhecimento sem justificação do que acreditamos ser verdadeiro.

Verdadeiro.

g) O conhecimento é um palpite correcto. Falso.

h) Os elementos constitutivos – as suas condições necessárias – do conhecimento são a

crença, a verdade e a justificação. Verdadeiro.

i) As condições sem as quais não há conhecimento são as seguintes:

1 – Crença – S acredita que P.

2 – Verdade – P é verdadeira.

3 – Justificação – S tem boas razões ou evidências a favor da crença de que P é verdadeira.

Verdadeiro.

J) «Acredito que Mourinho é treinador do Inter. Logo, sei que Mourinho é treinador do Inter.»

Falso. «Sei que Mourinho é treinador do Inter. Logo, acredito que Mourinho é treinador do

Inter» é que estaria correcto porque a crença é condição necessária do conhecimento, mas

não suficiente.

k) A proposição «Mourinho é treinador do Inter» é verdadeira. Logo, Miguel sabe que é

verdade que «Mourinho é treinador do Inter».

R: Falso. Uma proposição pode ser verdadeira e, contudo, não ser conhecida por um sujeito.

l) «Acredito, tenho a forte convicção de que é verdade que amanhã o Sol vai nascer. Logo, é

verdade que o Sol vai nascer.»

Falso. Não é a força da nossa convicção que torna uma crença verdadeira ou falsa. O que torna

a crença verdadeira é o facto de o Sol nascer. Não é a qualidade intrínseca da minha crença

que a torna verdadeira. Caso contrário, acreditar fortemente que os extraterrestres existem

tornaria essa crença factiva ou verdadeira.

2

Considere os seguintes casos e responda às questões.

a) João não sabe nada de futebol, mas gosta de falar sobre tudo e mais alguma coisa. Certo

dia, na véspera de um jogo entre o Benfica e o Sporting, afirma que o Benfica vai ganhar.

Quando lhe perguntam por que razão acredita nisso, responde: Porque sim!

Acontece que o Benfica ganha ao Sporting. João teve por conseguinte uma crença verdadeira.

Será que podemos dizer que possuía um conhecimento desse facto, que sabia que o Benfica ia

ganhar?

R: Uma crença verdadeira não é sinónimo de conhecimento. Com efeito, haveria

conhecimento ou crença verdadeira justificada se argumentasse dizendo que em 20 jogos do

campeonato o Benfica empatou 4 e não perdeu nenhum, que o Sporting vai jogar sem alguns

titulares importantes, que uma vitória dá um avanço importante na disputa do título, etc. O

caso de João ilustra que o conhecimento não se pode confundir com a simples opinião ou com

palpites, mesmo que correctos.

b) João acredita que vai passar de ano. E, na realidade, essa crença é verdadeira. O seu

professor ainda não lhe disse, mas vai aprová-lo. João acredita que vai passar mais por desejo

de passar do que por uma crença justificada.

Será que podemos dizer que João sabe que vai passar?

R: Não, porque uma crença, apesar de verdadeira, não é por isso necessariamente um

conhecimento. É preciso que haja boas razões para acreditar na verdade da proposição «Vou

passar». Se João argumentasse que teve boas notas e boas participações nas aulas ao longo do

ano e que a nota mais fraca que teve foi 15, então estaria plenamente justificado em acreditar

na verdade da proposição «Vou passar de ano». A justificação é uma condição necessária para

haver conhecimento proposicional.

c) João está a escolher os números do boletim do Euromilhões. Escolhe um certo conjunto de

números. Dias depois, vem a saber que acertou em cheio. Podemos dizer que sabia que ia

acertar na chave afortunada?

R: Não podemos dizer que João sabia que seriam esses os números premiados porque não

podia haver nenhuma razão para julgar que seriam esses os números da sorte. É disso mesmo

que se trata, de números da sorte. A escolha de João foi arbitrária e afortunada. Um palpite

feliz que se revela correcto não é por isso conhecimento. João até poderia dizer que teve essa

intuição da chave afortunada em sonhos, mas, apesar de o conhecimento ser crença

verdadeira justificada, nem toda a justificação serve.

d) Joana acredita que Londres é a capital de Itália. Por que razão não se pode dizer que possui

um conhecimento?

R: A crença é condição necessária do conhecimento porque não faz sentido dizer que P é

verdade e não acreditar que P é verdade. A crença é condição necessária, mas não suficiente,

pela simples razão de que as crenças podem ser verdadeiras ou falsas. A verdade exige a

crença, mas a crença não implica a verdade. Neste caso, João tem uma crença falsa, ou seja,

uma crença que não corresponde a qualquer conhecimento porque na realidade Londres é

capital de Inglaterra.

e) Manuel sabe que Joana está no café. Logo, Joana está no café.

R: Verdadeiro. Não há conhecimento de falsidades, ou seja, o conhecimento é factivo. Se sei

que a Joana está no café, então é um facto que Joana está no café, tal como, se sei que Cavaco

Silva é o presidente da nossa República, é um facto que Cavaco Silva é o presidente da

República Portuguesa. Podemos saber que algo é falso – sei que é falsa a proposição A Terra é

plana –, mas não podemos conhecer falsidades. A proposição João sabe que a Terra é plana

não é conhecimento porque nenhuma crença falsa pode ser conhecimento.

f) Miguel acredita que o seu pai está em casa e espera encontrá-lo quando regressar porque o

seu pai lhe disse que ficaria todo o dia em casa a preparar uma conferência sobre a semântica

estrutural do silêncio para o congresso sobre dialéctica da narrativa. Contudo, teve de se

ausentar para ir à biblioteca do município consultar um livro intitulado As Aventuras da

Narrativa. Ao chegar a casa, não encontra o pai, apesar de ter boas razões para pensar que ele

lá estaria.

O que nos diz esta história sobre as relações entre crença e justificação?

R: Este episódio mostra-nos que ter boas razões ou uma boa justificação para acreditar em

algo não garante que a crença seja verdadeira e que constitua conhecimento.

A julgar pelas impressões dos sentidos, os nossos antepassados tinham boas razões para julgar

que a Terra era imóvel. Mas essa era uma crença falsa. A crença de João estava bem

justificada, era racional acreditar que a proposição «O meu pai está em casa» era verdadeira

mas revelou-se falsa. A crença justificada não é suficiente para haver conhecimento. Assim, é

verdade que o Inter é campeão de Itália e eu não o sei por não estar informado (A verdade

tem de ser acompanhada pela crença); posso acreditar que o Sol é um planeta, mas isso é falso

(acreditar não garante conhecimento) e posso acreditar justificadamente que a Mariana não

vai faltar ao encontro e, contudo, ela ter um acidente que a impossibilita (crença justificada

não garante conhecimento porque pode revelar-se falsa).