O conhecimento
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A RACIONALIDADE CIENTÍFICO – TECNOLÓGICA
CAPÍTULO 1
O CONHECIMENTO
FICHA 1
O CONHECIMENTO COMO CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA.
1
Assinale com verdadeiro ou falso, justificando a sua opção.
a) O conhecimento distingue-se da mera opinião. Verdadeiro.
b) Não pode haver conhecimento sem crença. Verdadeiro.
c) A crença não é condição suficiente do conhecimento. Verdadeiro.
d) Não podemos conhecer uma determinada proposição se esta não for verdadeira.
Verdadeiro.
e) A crença verdadeira não é condição suficiente do conhecimento. Verdadeiro.
f) Não pode haver conhecimento sem justificação do que acreditamos ser verdadeiro.
Verdadeiro.
g) O conhecimento é um palpite correcto. Falso.
h) Os elementos constitutivos – as suas condições necessárias – do conhecimento são a
crença, a verdade e a justificação. Verdadeiro.
i) As condições sem as quais não há conhecimento são as seguintes:
1 – Crença – S acredita que P.
2 – Verdade – P é verdadeira.
3 – Justificação – S tem boas razões ou evidências a favor da crença de que P é verdadeira.
Verdadeiro.
J) «Acredito que Mourinho é treinador do Inter. Logo, sei que Mourinho é treinador do Inter.»
Falso. «Sei que Mourinho é treinador do Inter. Logo, acredito que Mourinho é treinador do
Inter» é que estaria correcto porque a crença é condição necessária do conhecimento, mas
não suficiente.
k) A proposição «Mourinho é treinador do Inter» é verdadeira. Logo, Miguel sabe que é
verdade que «Mourinho é treinador do Inter».
R: Falso. Uma proposição pode ser verdadeira e, contudo, não ser conhecida por um sujeito.
l) «Acredito, tenho a forte convicção de que é verdade que amanhã o Sol vai nascer. Logo, é
verdade que o Sol vai nascer.»
Falso. Não é a força da nossa convicção que torna uma crença verdadeira ou falsa. O que torna
a crença verdadeira é o facto de o Sol nascer. Não é a qualidade intrínseca da minha crença
que a torna verdadeira. Caso contrário, acreditar fortemente que os extraterrestres existem
tornaria essa crença factiva ou verdadeira.
2
Considere os seguintes casos e responda às questões.
a) João não sabe nada de futebol, mas gosta de falar sobre tudo e mais alguma coisa. Certo
dia, na véspera de um jogo entre o Benfica e o Sporting, afirma que o Benfica vai ganhar.
Quando lhe perguntam por que razão acredita nisso, responde: Porque sim!
Acontece que o Benfica ganha ao Sporting. João teve por conseguinte uma crença verdadeira.
Será que podemos dizer que possuía um conhecimento desse facto, que sabia que o Benfica ia
ganhar?
R: Uma crença verdadeira não é sinónimo de conhecimento. Com efeito, haveria
conhecimento ou crença verdadeira justificada se argumentasse dizendo que em 20 jogos do
campeonato o Benfica empatou 4 e não perdeu nenhum, que o Sporting vai jogar sem alguns
titulares importantes, que uma vitória dá um avanço importante na disputa do título, etc. O
caso de João ilustra que o conhecimento não se pode confundir com a simples opinião ou com
palpites, mesmo que correctos.
b) João acredita que vai passar de ano. E, na realidade, essa crença é verdadeira. O seu
professor ainda não lhe disse, mas vai aprová-lo. João acredita que vai passar mais por desejo
de passar do que por uma crença justificada.
Será que podemos dizer que João sabe que vai passar?
R: Não, porque uma crença, apesar de verdadeira, não é por isso necessariamente um
conhecimento. É preciso que haja boas razões para acreditar na verdade da proposição «Vou
passar». Se João argumentasse que teve boas notas e boas participações nas aulas ao longo do
ano e que a nota mais fraca que teve foi 15, então estaria plenamente justificado em acreditar
na verdade da proposição «Vou passar de ano». A justificação é uma condição necessária para
haver conhecimento proposicional.
c) João está a escolher os números do boletim do Euromilhões. Escolhe um certo conjunto de
números. Dias depois, vem a saber que acertou em cheio. Podemos dizer que sabia que ia
acertar na chave afortunada?
R: Não podemos dizer que João sabia que seriam esses os números premiados porque não
podia haver nenhuma razão para julgar que seriam esses os números da sorte. É disso mesmo
que se trata, de números da sorte. A escolha de João foi arbitrária e afortunada. Um palpite
feliz que se revela correcto não é por isso conhecimento. João até poderia dizer que teve essa
intuição da chave afortunada em sonhos, mas, apesar de o conhecimento ser crença
verdadeira justificada, nem toda a justificação serve.
d) Joana acredita que Londres é a capital de Itália. Por que razão não se pode dizer que possui
um conhecimento?
R: A crença é condição necessária do conhecimento porque não faz sentido dizer que P é
verdade e não acreditar que P é verdade. A crença é condição necessária, mas não suficiente,
pela simples razão de que as crenças podem ser verdadeiras ou falsas. A verdade exige a
crença, mas a crença não implica a verdade. Neste caso, João tem uma crença falsa, ou seja,
uma crença que não corresponde a qualquer conhecimento porque na realidade Londres é
capital de Inglaterra.
e) Manuel sabe que Joana está no café. Logo, Joana está no café.
R: Verdadeiro. Não há conhecimento de falsidades, ou seja, o conhecimento é factivo. Se sei
que a Joana está no café, então é um facto que Joana está no café, tal como, se sei que Cavaco
Silva é o presidente da nossa República, é um facto que Cavaco Silva é o presidente da
República Portuguesa. Podemos saber que algo é falso – sei que é falsa a proposição A Terra é
plana –, mas não podemos conhecer falsidades. A proposição João sabe que a Terra é plana
não é conhecimento porque nenhuma crença falsa pode ser conhecimento.
f) Miguel acredita que o seu pai está em casa e espera encontrá-lo quando regressar porque o
seu pai lhe disse que ficaria todo o dia em casa a preparar uma conferência sobre a semântica
estrutural do silêncio para o congresso sobre dialéctica da narrativa. Contudo, teve de se
ausentar para ir à biblioteca do município consultar um livro intitulado As Aventuras da
Narrativa. Ao chegar a casa, não encontra o pai, apesar de ter boas razões para pensar que ele
lá estaria.
O que nos diz esta história sobre as relações entre crença e justificação?
R: Este episódio mostra-nos que ter boas razões ou uma boa justificação para acreditar em
algo não garante que a crença seja verdadeira e que constitua conhecimento.
A julgar pelas impressões dos sentidos, os nossos antepassados tinham boas razões para julgar
que a Terra era imóvel. Mas essa era uma crença falsa. A crença de João estava bem
justificada, era racional acreditar que a proposição «O meu pai está em casa» era verdadeira
mas revelou-se falsa. A crença justificada não é suficiente para haver conhecimento. Assim, é
verdade que o Inter é campeão de Itália e eu não o sei por não estar informado (A verdade
tem de ser acompanhada pela crença); posso acreditar que o Sol é um planeta, mas isso é falso
(acreditar não garante conhecimento) e posso acreditar justificadamente que a Mariana não
vai faltar ao encontro e, contudo, ela ter um acidente que a impossibilita (crença justificada
não garante conhecimento porque pode revelar-se falsa).