O conhecimento e a realidade cientifica e tecnológica

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Filosofia 11º ano – 4º teste de avaliação Março 2009-03-15 IV- O conhecimento e a realidade cientifica e tecnológica 1-Descrição e interpretação da actividade cognoscitiva 1.2. Análise Comparativa de duas teorias do conhecimento 1. Explica a relação que David Hume establece entre impressões e ideias. Tudo o que ocorre na nossa mente mais não é do que percepções. No entanto compreendemos que existe uma diferença entre sentir e pensar. Segundo Hume, esta diferença é explicada porque existem duas classes de percepções: as impressões e as ideias. Estas duas percepções distintas (sentir e pensar) constituem todo o conteúdo da nossa mente. As impressões são os resultados imediatos da estimulação dos nossos sentidos pelos objectos exteriores, que consistem em imagens não interpretadas da nossa consciência. São por isso caracterizados pela sua intensidade e vivacidade. Assim, sentir é lidar com impressões, as quais tanto podem incluir as nossas sensações externas (ex. audição e olfacto), como os nossos sentimentos internos (ex. emoções e desejos). -» Correspondem aos dados de uma experiência presente e actual. As ideias são conteúdos mentais subjectivos que podem ser simples (memória) ou complexos (imaginação), sendo por isso menos vividas ou intensas. As ideias complexas consistem na imaginação uma vez que, o nosso pensamento recorre à imaginação para combinar ideias simples, formando as ideias complexas. Assim, o pensar é uma questão de ideias uma vez que, quando pensamos ou imaginamos algo estamos a lidar com ideias e não directamente com impressões. -» São como que marcas deixadas pela impressão, uma vez estas desaparecidas (as impressões) Conclusão: Quando pensamos, ainda que não estejamos a lidar directamente com impressões, todas as nossas ideias são cópias das nossas impressões, ou seja, não há ideias que não sejam precedidas por Conteúdo mental: Percepções

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Filosofia 11º ano – 4º teste de avaliação

Março 2009-03-15

IV- O conhecimento e a realidade cientifica e tecnológica

1- Descrição e interpretação da actividade cognoscitiva

1.2. Análise Comparativa de duas teorias do conhecimento

1. Explica a relação que David Hume establece entre impressões e ideias.

Tudo o que ocorre na nossa mente mais não é do que percepções. No entanto compreendemos que existe uma diferença entre sentir e pensar. Segundo Hume, esta diferença é explicada porque existem duas classes de percepções: as impressões e as ideias. Estas duas percepções distintas (sentir e pensar) constituem todo o conteúdo da nossa mente.

As impressões são os resultados imediatos da estimulação dos nossos sentidos pelos objectos exteriores, que consistem em imagens não interpretadas da nossa consciência. São por isso caracterizados pela sua intensidade e vivacidade. Assim, sentir é lidar com impressões, as quais tanto podem incluir as nossas sensações externas (ex. audição e olfacto), como os nossos sentimentos internos (ex. emoções e desejos). -» Correspondem aos dados de uma experiência presente e actual.

As ideias são conteúdos mentais subjectivos que podem ser simples (memória) ou complexos (imaginação), sendo por isso menos vividas ou intensas. As ideias complexas consistem na imaginação uma vez que, o nosso pensamento recorre à imaginação para combinar ideias simples, formando as ideias complexas. Assim, o pensar é uma questão de ideias uma vez que, quando pensamos ou imaginamos algo estamos a lidar com ideias e não directamente com impressões. -» São como que marcas deixadas pela impressão, uma vez estas desaparecidas (as impressões)

Conclusão: Quando pensamos, ainda que não estejamos a lidar directamente com impressões, todas as nossas ideias são cópias das nossas impressões, ou seja, não há ideias que não sejam precedidas por impressões. Deste modo, a impressão é a origem de todas as ideias, a experiência é a origem do conhecimento.

2.

Conteúdo mental: Percepções

Impressões: Caracterizam-se pela sua intensidade e vivacidade Ideias: São cópias das impressões;

menos vívidas e intensas

Sensações externas: auditivas, visuais, tácteis, olfactivas e gustativas

Sentimentos internos: emoções e desejos

Simples (memória): ideia de cavalo, de coisa com asas, etc..

Complexas (imaginação): ideia de cavalo alado, etc..

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2. Justifica a importância das impressões na teoria do conhecimento de Hume

Qualquer ideia tem origem numa impressão e deve poder relacionar-se com a impressão correspondente, ou seja, todas as ideias são cópias das impressões não havendo, por isso, ideias que não sejam precedidas por impressões. A origem e o fundamento das nossas ideias e crenças só podem encontrar-se nas nossas impressões. É por isso que um cego de nascença não tem ideia do que seja a cor azul ou outra cor qualquer. Assim, não existem ideias que não tenham sido formadas através da experiência.

Exemplo: Se uma pessoa incapaz de experimentar alguns tipos de sensações, deixará de ter ideias a ela correspondentes. Por exemplo, um cego não pode ter ideias sobre as cores, porque não tem experiências delas. Assim, existem implicações óbvias quanto à origem das nossas ideias e ao tipo de conhecimento que podemos alcançar. A origem e o fundamento das nossas ideias e crenças só pode encontrar-se nas nossas impressões. É por isso que um cego de nascença não tem a ideia do que seja a cor azul ou outra cor qualquer. Isto significa que não há ideias que não tenham sido formadas a partir da experiência; todas elas têm, portanto, uma origem empírica.

Quem não sente não pode conceber a ideia que lhe corresponde

3. Caracteriza, distinguindo, relações entre ideias e conhecimentos de factos

Relações entre ideias é um conhecimento que consiste na análise dos elementos de uma proposição, ou seja, consiste em estabelecer relações entre as ideias que esta contém. As “relações entre ideias” são proposições cuja verdade pode ser conhecida pela simples inspecção lógica do seu conteúdo (conhecimento a priori). As relações de ideias se negadas implicam contradição, referindo-se sempre a verdades necessárias. Embora todas as ideias tenham o seu fundamento nas impressões, podemos conhecer sem necessidade de recorrer às impressões, isto é, ao confronto com a experiência. São conhecimentos tautológicos (as proposições não dão novas informações sobre o mundo porque o predicado diz, implicitamente, o mesmo que o sujeito). (ex. qualquer verdade matemática, deduções lógicas…) -» Chegamos a conclusões por nós próprios

O conhecimento de facto implica um confronto das proposições (do que dizemos) com a experiência. As questões de facto se negadas não implicam uma contradição e referem-se sempre a verdades contingentes (as suas verdades podem ser falsas). Assim, os conhecimentos de facto são proposições cujo valor de verdade tem de ser testado pela experiência (conhecimento a posteriori), ou seja, temos de “inspeccionar” o mundo dos factos para verificar se elas são verdadeiras ou falsas. (por ex. este martelo é pesado é uma ideia cuja verdade não pode ser decidida à priori). -» Conhecimento Substancial do mundo, rege-se por impressões.

4. Distingue ideias objectivas de ideias falsas

O empirismo rege-se por um critério de verdade fundamental: Pode-se justificar uma crença como verdadeira, se esta tiver uma ideia/impressão que lhe corresponda. Assim: uma ideia objectiva é uma crença verdadeira devidamente justificada, ou seja, que tem uma impressão/ideia que lhe corresponda; e uma ideia falsa é uma crença que não é devidamente justificada, ou seja, não tem uma impressão/ideia que lhe corresponda (não obedece ao critério de verdade empirista).

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P.s. Ao analisarmos uma crença temos que ter em conta a nossa razão pode associar ideias provenientes de diferentes impressões e conceber uma ideia composta ou complexa de algo inexistente. Mas, todos os constituintes dessa ideia começaram por ser impressões. Por esta razão, Hume patenteia a preocupação de analisar as nossas ideias complexas para: determinar as ideias simples que as constituem; verificar se essas ideias simples têm ou não uma impressão que lhes

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corresponda; concluir se são ideias falsas de coisas que não existem na realidade, por não se fundamentarem numa impressão correspondente. Exemplo: A ideia complexa de uma cavalo alado (impressão de cavalo+ser com asas). Esta ideia é resultado do trabalho de combinação da mente e é falsa por não existir qualquer impressão que corresponda ao dito animal.

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5. Justifica que, para Hume, a causalidade é uma mera conjunção constante

Todos nós fazemos inferências causais baseando-nos em em certas regularidades da natureza observadas no passado. Por exemplo: quando observamos um certo evento A, observamos que se lhe seguiu um certo evento B. Assim, inferimos que B é causado por A, pois observamos uma conjunção constante, uma causalidade, entre A e B. Deste modo, uma conjunção constante acontece quando verificamos que sempre que ocorre uma causa, ocorre o efeito. – RELAÇÃO DE CAUSALIDADE

6. Apresenta a origem da ideia de causalidade

Uma conjunção constante acontece quando verificamos que sempre que ocorre uma causa, ocorre o efeito. No entanto, isto não implica que tal se verifique no futuro. Isto só aconteceria se existisse uma conexão necessária, ou seja, se a causa produzisse inevitavelmente o efeito. Assim, a nossa crença de que há conexões necessárias remonta da observação de conjunções constantes, ou seja, ao observarmos repetidamente uma conjunção constante entre certos eventos ou objectos gera-se em nós a expectativa, hábito mental, de que o mesmo irá ocorrer inevitavelmente no futuro (conexão necessária). -» Acreditamos que o futuro é igual ao passado

7. Explica como, para Hume, a causalidade é uma ficção criada pela razão

A nossa crença de conexão necessária gera um hábito mental que leva a nossa mente a projectar no mundo a conexão necessária entre causa e efeito, ou seja, esta conexão não existe na realidade mas sim apenas na nossa mente. Portanto, a causalidade, que supostamente nos permite compreender muito do que acontece no mundo, não passa de uma mera ilusão, ou seja, a causalidade é uma ficção criada pela razão. Sendo assim, uma vez que o empirismo defende que as causas e os efeitos não podem ser conhecidos pela razão, só pela experiência, esta nossa conexão necessária não é um conhecimento pois vai para além da experiência (não podemos fazer a impressão de algo que ainda não aconteceu).

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P.SS.-» Hume é céptico quanto à possibilidade de termos conhecimento das relações causais que estão na base das ciências empíricas.

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8. Explicita a crítica de Hume à indução

O principio da indução é um principio que afirma que a natureza é uniforme, ou seja, é acreditar na uniformidade da natureza o seu curso não vai ser alterado radicalmente e que as regularidades observadas no passado continuarão ou tenderão a verificar-se no futuro. Com isto, concluímos, que as inferências indutivas pressupõem o principio da indução, uma vez que, fazemos generalizações e previsões na natureza. Este principio não pode ser justificado nem a priori nem a posteriori:

Sem consultar a experiência não podemos saber se a natureza é uniforme: quando recorremos apenas ao pensamento, não encontramos a menor contradição na ideia de que a natureza não é uniforme. -» não se pode justificar este principio a priori

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No entanto, qualquer tentativa de justificar empiricamente este principio resultará numa petição de principio, ou seja, a justificação seria ela própria uma generalização baseada na experiência. Por outras palavras, qualquer tentativa de justificar a posteriori o principio da indução consistirá num argumento indutivo a favor desse principio. Contudo, é inaceitável justificar a indução através de uma inferência indutiva, já que a credibilidade da indução é aquilo que está em causa. -» não se pode justificar a posteriori

Assim, se não é possível justificar o princípio da indução nem a priori nem a posteriori, ele é injustificável. Se todas as inferências indutivas o pressupõem, também elas são injustificáveis. Tanto na ciência como na vida quotidiana, as inferências indutivas nunca têm o menor fundamento. Fazemo-las apenas por uma espécie de instinto ou hábito.

1.As inferências indutivas pressupõem o princípio da indução.

2.Não se pode justificar este princípio a priori.

3.Não se pode justificar este princípio a posteriori.

4.Logo, nenhuma inferência indutiva é justificável.

9. Justifica o cepticismo moderado de Hume

Hume não é um céptico mas sim um céptico moderado. O cepticismo afirma que devemos abandonar as nossas crenças intuitivas na existência do mundo exterior ou na existência de relações causais reais. No entanto, este filósofo afirma que se abandonasse-mos tais crenças tal tornaria a nossa vida impossível, pondo em causa o nosso instinto de sobrevivência. Devemos então confiar que a nossa percepção não nos engana por questões práticas pois, existe algo mais forte do que qualquer especulação filosófica a indicar-nos que não devemos abandonar essas crenças. No entanto, a nossa capacidade de conhecimento tem limites, pelo que devemos moderar sempre as nossas opiniões e ponderar cuidadosamente as nossas decisões.

10. Explica o argumento céptico de Hume acerca da realidade do mundo exterior.

O argumento céptico de Hume acerca da realidade do mundo exterior, afirma que não podemos justificar a nossa crença na realidade do mundo exterior. Perguntar se o mundo exterior (tudo o que não faz parte dos nossos conteúdos mentais como, por exemplo, sentimentos, pensamentos, ideias, recordações, etc.) é real é perguntar se os objectos que percepcionamos têm uma existência independente da nossa percepção.

Segundo Hume, na nossa mente apenas temos percepções, sendo elas a origem do nosso conhecimento do mundo. No entanto a percepção de um objecto e o próprio objecto não são a mesma coisa. Por exemplo: as nossas percepções de uma árvore são diferentes consoante nos aproximamos ou nos afastamos dela (ao longe parece-nos mais pequena do que ao perto), no entanto não nos acreditamos que a própria árvore mude de tamanho à medida que nos afastamos ou nos aproximamos dela.

Ainda assim, acreditamos que as percepções representam os objectos exteriores, no sentido em que são causadas pelos próprios objectos mas, não podemos saber se estas percepções são causadas pelo objectos exteriores uma vez que só temos acesso à nossa própria percepção, que se encontra na nossa mente. Logo, iremos estabelecer uma conexão necessária entre os conteúdos da nossa mente e a existência de objectos exteriores. Assim, o problema da realidade do mundo exterior é que as crenças em tais conexões não têm justificação, ou seja, existe um conflito entre o nosso instinto natural e a razão: Instintivamente acreditamos no mundo exterior mas, racionalmente, devíamos suspender a nossa crença nesta realidade dado que não conseguimos provar a sua existência.

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11. Apresenta uma objecção ao empirismo de Hume

Hume conclui que a crença na realidade de conexões causais não tem justificação racional, dado que apenas observamos conjunções constantes. Contudo há ainda algo que carece de explicação, as próprias conjunções constantes que observamos na natureza. Tal só pode ser explicado pela resposta mais plausível de todas, que é: as conjunções constantes ocorrem precisamente porque há conexões causais reais na natureza. Contudo, Hume, afirma que se não tivermos uma prova irrefutável da existência de tais conexões causais, não devemos aceitar que tal crença está racionalmente justificada.

Critica: Não se deve pensar que uma crença só está racionalmente justificada se tivermos a seu favor uma prova irrefutável, uma vez que é perfeitamente racional aceitar entre várias explicações disponíveis, a que parece mais plausível – Argumento a favor da melhor explicação ou Abdução -. No entanto, não se podem excluir logicamente todas as outras explicações alternativas. Assim, uma vez que não é irracional aceitar a explicação mais plausível, a nossa crença na realidade das conexões causais e do mundo exterior está racionalmente justificada, apesar de não haver uma demonstração lógica irrefutável a seu favor.

12. Compara a ideia de Deus nas teorias de Descartes e David Hume

Descartes refere que a ideia de Deus consiste numa crença fundacional, isto é, constitui uma intuição racional que se impõe ao nosso pensamento de uma forma absolutamente clara e evidente, pelo que se torna impossível duvidarmos racionalmente dela. Este principio é, então, usado por este racionalista como uma verdade inabalável e que constitui a base de todo o nosso conhecimento e garante a verdade de todas as outras ideias que concebemos clara e distintamente. É, portanto, um alicerce fundamental do conhecimento.

Contudo, sob o ponto de vista de Hume, a ideia da existência de Deus constitui uma ideia complexa, isto é, que resulta da combinação de várias ideias simples, que têm origem na experiência (são cópias de certas impressões), como a bondade, a inteligência e sabedoria. Este, segundo o critério de verdade empírico, não pode ser tomado como uma crença indubitável e verdadeira, uma vez que não pode ser justificada com base na nossa percepção, visto que não há nenhuma impressão sensível que lhe corresponda directamente e que fundamente e autentique a sua veracidade. A ideia da existência de Deus corresponde, portanto, a uma ideia abstracta que não apresenta quaisquer boas razões que nos levem a confiar na sua credibilidade. Assim, podemos concluir que, enquanto que segundo Descartes esta é uma crença indubitável/fundacional e um alicerce de todo o nosso conhecimento, para Hume esta pode não passar de uma mera ilusão criada pela nossa imaginação, não sendo merecedora da nossa confiança.

13. Distingue, no que respeita ao problema da origem e da possibilidade do conhecimento, o racionalismo de Descartes do empirismo de Hume

As teorias do conhecimento de ambos os filósofos assemelham-se na medida em que procuram um fundamento e uma justificação infalível para o conhecimento. Diferem quanto ao fundamento e natureza da justificação encontrados.

Descartes -» é possível obtermos um conhecimento certo e imune ao erro (confiança nas nossas faculdades mentais) com base no cogito e na correcta utilização das nossas faculdades (cujo bom funcionamento é garantido por Deus). Considera, portanto, ter chegado a uma justificação infalível, sendo que todas as crenças básicas são de natureza a priori (valoriza o pensamento e o raciocínio dedutivo).

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Hume -» Considera que a justificação por si encontrada nem sempre é infalível, pelo que admite que todo o conhecimento que ultrapasse o que os sentidos nos permitem legitimamente justificar (confiança limitada na nossa capacidade de conhecimento). Refere que apenas o conhecimento a posteriori é substancial (reconhece o a priori -» limita a relação de ideias), concluindo que as crenças básicas são de natureza empírica. Valoriza a experiência e o raciocínio indutivo. Admite que alguns argumentos cépticos são insuperáveis.

2. Estatuto do conhecimento Cientifico

2.1. Conhecimento vulgar e conhecimento científico

Senso Comum

O senso comum ou conhecimento vulgar corresponde a um vastíssimo, mas pouco organizado corpo ou conhecimento essencialmente constituído por crenças, hábitos e técnicas que, embora raramente acompanhadas de uma justificação racional (que garante os factos alegados), são amplamente partilhadas pelos seres humanos, ou seja, admitidas como verdadeiras durante um certo período de tempo. Este caracteriza-se, sobretudo, por ser um conhecimento ou carácter essencialmente prático, dado que, tende a reflectir as necessidades humanas mais imediatas. Surge a partir de generalizações que são formuladas com base na experiência (prática) e na percepção directa, pelo que recorrem, na maior parte das vezes. É uma fundamentação assente nas informações sensoriais e na regularidade da observação de certos acontecimentos (hábito) – confiança ingénua na percepção; pode surgir também da popularização dos c.c. -. Por este motivo, podemos classificá-lo como subjectivo e particular, sendo que uma vez surgindo como consequência ou experiencias pessoais ou testemunhos de outrem (isolados) não podem ser tomados como um conhecimento universal.

O senso comum, tal como foi referido, carece de explicação e boas razões que o fundamentem, dado que cada individuo vai admitindo como verdades as ideias de uma maioria – este é transmitido de geração em geração -. Este facto conduz, portanto, ao conformismo, desfavorecendo a autonomia e espírito critico, e revela a autoridade da tradição sobre uma comunidade. Na realidade, uma crença deste tipo dificilmente consegue resistir a um exame critico mais minucioso que lhe seja aplicado, o que demonstra a sua falibilidade, resultante de um carácter essencialmente acrítico. Assim, concluímos que neste tipo de saber, predomina e é favorecida a descrição de algo em detrimento da sua explicação e uma grande falta ou sistematização e organização, já que se limita a “coleccionar” factos bastante dispersos que, por vezes, são até contraditórios entre si.

Crítica ao processo de justificação das crenças do senso comum

Como foi referido anteriormente, as crenças deste tipo são raramente acompanhadas de uma justificação racional que as fundamente, já que a maior parte dos indivíduos as adquire através da influência da comunidade em que se inserem e da educação social que recebem. Assim, desde que nascemos somos levados a admitir como verdades todas as ideias amplamente aceites por uma maioria. Este tipo de conhecimento acrítico, carente de bons processos de justificação (dado que se apoiam em experiências pessoais e na nossa percepção) afigura-se, assim, muito superficial e falível, dado que dificilmente resistem à aplicação de um exame critico mais minucioso e, ainda que correctas, de uma maneira geral, quem as possui não sabe explicar porquê. Assim, podemos concluir, que o carácter acrítico do senso comum pode ser bastante perigoso, na medida em que nos conduz ao conformismo,

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desfavorecendo o pensamento autónomo e espírito crítico, já que leva à criação de dogmas e preconceitos, dado que, na maior parte das vezes, as comunidades/indivíduos limitam-se a adquirir determinadas ideias que razões as fundamentam.

Conhecimento Cientifico

A ciência, embora tenha um alcance limitado, é considerada a forma mais bem sucedida do conhecimento humano, dado que, até hoje, conseguiu construir um conhecimento rico e extremamente bem fundamentado sobre a estrutura e o funcionamento da realidade. Esta é um procedimento objectivo e sistemático que tem como objectivo a descoberta e explicação padrões e regularidades dos fenómenos, desenvolvendo, para tal, hipóteses e formulando leis e teorias, sempre susceptiveis de revisão.(as expectações são, então, enunciadas sob a forma de leis). Este tipo de conhecimento surgiu a partir da ampla informação empírica (em que assenta o senso comum) e a necessidade pela procura de justificações racionais que explicassem o observado. A ciência tem, portanto, elevados valores teóricos e explicativos os quais, posteriormente, perante as necessidades da vida humana, tiveram aplicações práticas. São estas duas caracteristicas, conjuntamente com o elevado grau de sistematização destas, que permitem distinguir o conhecimento cientifico.

A ciência, ao contrário do senso comum, diz-se sistemáticamente organizado porque as teorias ou leis encontradas e não fralsificadas completam-se entre si, pelo que concluimos que esta actividade não se limita a acumular ideias de forma contraditória. É construido um conhecimento soibre o mundo coerente e fiável (bem fundamentado). O conhecimento cientifico é também caracterizado como objectivo uma vez que procura explicar a realidade segundo leis e teorias que sejam o mais abrangentes/amplas possivel, ou seja, faz a interpretação do mundo baseada num alicerce uniforme (o que lhe confere um carácter universal), e também porque submete todas as teorias encontradas a testes conclusivos/à experimentação, os quais estão acessiveis e podem ser controlados por todos os observadores (testes públicos). O limite do conhecimento cientifico encontra-se, portanto, na possibilidade de refutação de uma teoria/lei, ou seja, caso esta não possa ser submetida a testes experimentais /empiricos controlados que comprovem a sua veracidade, estas não podem ser consideradas ciêntificas (conhecimento sob o ponto de vista cientifico.

Teorias e leis -» Ficha de Trabalho

Explanandum -» o que se pretende explicar. Pode ser um acontecimento particular (algo que ocorreu numa ocasião especifica) ou uma lei ou regularidade geral (que se manifestam de forma sistemática).

Explanans -» informação apresentado para responder ao pedido de experiência