O Contexto Europeu de Formação e Atuação Na Passagem

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    O contexto europeu de formao e atuao na passagemdo sculo XIX para o XX

    Umberto Cerasoli JniorDoutorando em Artes Cnicas/USPrea de Concentrao: Pedagogia do TeatroOrientador: Armando Srgio da SilvaMembro do Centro de Pesquisas em Experimentao Cnica do Ator, da ECA/USP

    Resumo: este artigo tem como objetivo apresentar o modelo de atuao e formao do ator adotadona Europa no final do sculo XIX, para contextualizar o ambiente teatral contra o qual os principaisrenovadores teatrais do sculo XX se insurgiram. Na parte final, destacamos, sucintamente, ascontribuies que Franois Delsarte, milie Jacques-Dalcroze e o Teatro Oriental ofereceram para

    essa renovao.Palavras-chave: renovao teatral, teatro sculo XIX

    Title: The european context of action and training in the passage of the 19th to the 20th CenturyAbstract: this article aims to present the model of performance and training of the actor adopted inEurope at the end of the 19th Century, in order to contextualize the theatrical atmosphere againstwhich the main othernormative theater of the 20th Century protested. In the end, we stand out,

    briefly, the contributions that Franois Presena, milie Jacques Dalcroze and the Oriental Theateroffered for this renewal.Key-words: renewal theater, theater 19th Century

    Ttulo: El contexto europeo de formacin y actuacin en el pasaje del siglo XIX al siglo XXResumen: este artculo tiene como objetivo presentar el modelo de actuacin y formacin del actor,adoptado en Europa a fines del siglo XIX, para entender el contexto del ambiente teatral contra elcual los principales renovadores teatrales del siglo XX se opusieron. En el final de este artculo,destacamos, de modo sucinto, las contribuciones que Franois Delsarte, milie Jacques-Dalcroze yel Teatro Oriental ofrecieron para esta renovacin.Palabras-clave: renovacin teatral, teatro del siglo XIX.

    J foi dito a respeito das transformaes operadas na passagem do sculo XIX para o

    modificaes que a modernidade produziu sobre a vida em sociedade.1 Influenciadas por esse

    ambiente, as correntes modernas de teatro alteraram profundamente o modo de fazer e pensar essa

    arte no ocidente. Em pouco mais de 60 anos, propostas de renovadores como Konstantin

    Stanislvski, Vsevolod Meyerhold, Gordon Craig, Adolphe Appia, Antonin Artaud, Jacques

    Copeau, Erwin Piscator, Bertolt Brecht, Luca Ronconi e Jerzy Grotowski reformularam

    completamente a prtica teatral e a forma do teatro se relacionar com o texto, com o espao e com o

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    s e estudiosos

    teatrais de todo o mundo.

    Este artigo pretende apresentar alguns paradigmas que baseavam o trabalho do ator na

    Europa, na passagem do sculo XIX para o sculo XX, assim como abordar as condies de

    produo teatral e formao dos atores nesse perodo para, em seguida, apresentar o movimento de

    renovao que levou constituio de um novo conjunto de paradigmas para a arte do ator. No

    nossa inteno comparar esses dois momentos da histria do teatro, at mesmo porque, como cada

    poca possui sua forma prpria e particular de criar e produzir, seria um erro olhar para o passado a

    identificar algumas caractersticas do modelo de atuao e formao do ator nesse momento de

    grandes transformaes.

    1.1. O modelo europeu de atuao e formao do ator na passagem do sc. XIX para o XX

    Na Europa do final sculo XIX, o modelo dominante de atuao era caracterizado pelo

    representar. Dentro desse modelo, a interpretao baseava-se em um conjunto limitado de cdigos,

    poses e gestos que correspondiam a determinados sentimentos e situaes. Assim, para cadasentimento ou estado que o intrprete desejasse representar, havia um gesto ou pose correspondente.

    Tais cdigos foram definidos pelos atores mais experientes e por suas companhias, sendo

    transmitidos de gerao a gerao. Dessa forma, segundo esta tradio de interpretao, bastava o

    Como lembra Nicolau Evreinoff (Apud ASLAN, 1994, p. 135), na Rssia, no tempo de

    Pedro, o Grande, o ator colocava o pblico a par de seu estado afetivo e depois se exprimia com

    clera rasgava as vestes, ia e vinha como uma

    Para a historiadora do teatro Odete Aslan (1994), nesse perodo, o escasso nmero de

    ensaios e a alta rotatividade dos espetculos incitavam os atores a basearem suas interpretaes em

    esteretipos. Outro recurso bastante em voga, ainda segundo essa historiadora, era o apelo

    inspirao. Exteriorizavam-se at a histeria, abandonando-se ao gesto eslavo do sofrimento,

    , p. 72).

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    Quanto ao modelo de produo teatral vigente na poca, pode-se dizer que, em diversos

    casos, a produo teatral foi baseada em companhias teatrais familiares e itinerantes. Sobre esse

    modelo, Grotowski (2007, p. 222) lembra que nas companhias da Europa central e oriental,

    [...] o pai e a me eram atores, o velho tio era o diretor, mesmo se na realidade asua funo se limit -se

    necessrio. O sobrinho era ator e, quando se casava, a mulher tambm tornava-se atriz; sedepois chegava um amigo, se unia famlia teatral. Essas famlias tinham um brevssimo

    perodo de ensaios, mais ou menos cinco dias, para preparar uma novidade. Assim os atoresdaquele tempo tinham desenvolvido uma memria prodigiosa: aprendiam o texto comgrande rapidez e em poucos dias eram capaz de diz-lo de cor. Mas, visto que s vezes seconfundiam, era necessrio o ponto.

    Outra caracterstica marcante desse teatro foi a especializao dos papis segundo tipos

    pr-estabelecidos: o vilo, o heri, o gal, a dama centro, etc. Assim, no interior das companhias

    representao do seu papel-tipo. Essa especializao do trabalho do ator segundo papis dramticos

    permitia

    montagens, fato decisivo para a sobrevivncia das companhias que dependiam da constante

    renovao dos repertrios para atrair pblico e fazer bilheteria. Entretanto, essas montagens, se bem

    observadas, quase sempre giravam em torno das mesmas personagens e das mesmas situaesdramticas no passando, em sua grande maioria, de variaes sobre temas e situaes

    recorrentes.

    J no que se refere organizao das companhias teatrais, pode-se dizer que quase sempre

    estavam organizadas hierarquicamente de forma vertical a partir do seu primeiro-ator, normalmente

    ocupante do posto de maior destaque nas companhias. A esse ator cabia, por direito, a representao

    dos papis principais e, quando este ator obtinha alguma fama e reconhecimento junto ao pblico,

    tornava- posio que lhe garantia uma srie de regalias e privilgios,dentro e fora de cena.

    No teatro europeu de ento, grandes vedetes movimentavam a cena teatral e garantiam o

    sucesso comercial de suas companhias. Personalidades como Sarah Bernhardt, Julia Bartet,

    Mounet-Sully e Rjane (na Frana); Ellen Terry e Henry Irving (na Inglaterra); Eleonora Duse (na

    fama e popularidade.

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    a nfase da atuao estava na declamao dos papis, a interpretao destes grandes atores estava

    quase que inteiramente baseada no poder de arrebatamento carismtico de suas personalidades em

    passou a ser a principal responsvel pelo sucesso ou fracasso de uma bilheteria. Neste ponto, vale

    observar que o pblico aflua aos teatros para apreciar mais o desempenho espetacular que o

    que propriamente para apreciar esta ou aquela montagem deste ou daquele texto teatral em

    especfico.

    A preponderncia da vedete em cena e o papel de destaque que ocupava dentro das

    companhias contribuem para explicar a elevada dose de exibicionismo e narcisismo presente em

    suas interpretaes, outra caracterstica marcante da poca. Essas qualidades peculiares das vedetes

    marcavam o teatro de ento e constituam o grande chamariz das produes, o diferencial das

    montagens mais badaladas.

    Por fim, resta observar que, dada a natureza da personalidade da vedete ser completamente

    rebelde ideia de submeter-se disciplina predeterminada por uma direo externa, a arte do

    monstro sagrado fazia com que ele fosse quase sempre o seu prprio diretor. Muitas vedetes eram,

    inclusive, elas mesmas as proprietrias de suas companhias.J no que se refere formao do ator na Frana, Odete Aslan destaca a existncia de duas

    para os papis clssicos da Comdie-Franaise

    -

    , p. 3):

    As marcaes eram simples: levantar-se, dar trs passos frente para proferiruma fala diante do ponto (Dullin reconhecia ter aprendido tudo na escola do Melodrama).As personagens correspondiam a tipos convencionais. Em suma, era preciso somente dizer

    Assim, dentro desse modelo de formao, ao aprendiz no havia outra sada seno escolher

    entre o respeito a uma tradio instituda e formalizada ou a aventurar-se no empirismo mais

    desenvolvido. Em ambas as escolas, entretanto, a nfase da formao recaia sobre o poder de

    persuaso da oratria e sobre o refinamento da gestualidade do ator. Tambm aqui ficou evidente a

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    influncia do modelo de interpretao adotado pelas vedetes sobre a formao dos jovens atores,

    que se dedicavam a uma aprendizagem por espelhamento dos grandes nomes do teatro da poca.

    Como vimos at aqui, o grande modelo de atuao vigente na Europa do final do sculo

    XIX era o da representao

    personagens-tipo estereotipadas e exteriorizadas. Com os holofotes direcionados sobre a figura do

    ator-vedete, sua forma de atuao, alm de reforar ainda mais o estilo de representao

    um modelo baseado nos valores romnticos da inspirao, do talento e da genialidade, ou seja, em

    existia, de organizador da cena.

    No que se refere ao grau de domnio tcnico do ator sobre o seu instrumento de trabalho, o

    oficio do ator, enquanto artista criador, estava longe de se equiparar ao do pintor, ao do arteso ou

    ao do escultor, pois, como descrito acima, sua criao estava baseada em valores pouco objetivos e

    controlveis. Pode- (pelo

    menos no sentido que hoje adquiriu a conotao da palavra artista) era de pouca relevncia. Mesmo

    ao Teatro cabia um papel menor dentro das Artes, quase sempre subalterno Literatura.2

    1.2. A necessidade de renovao do teatro e o ator como sua especificidade

    A partir do fim do sculo XIX, o teatro comeou a dar sinais da necessidade de expandir

    seus horizontes, de buscar novos rumos e de se reinventar. Outros aspectos do teatro, que no os

    literrios, comearam a ser valorizados, assim como se multiplicaram as interpretaes sobre a

    origem do teatro. A arte teatral passou ento a buscar uma realizao que atendesse a seus

    elementos primitivos, da forma mais integral possvel. Adolphe Appia, Gordon Craig, Vsevolod

    Meyerhold, Alexander Tairov e tantos outros foram paladinos dessa exigncia de reforma; todos

    eles inspirados pelo que se convencionou chamar de teatro teatral. Como observa Bornhein (1992,

    p. 15):

    Os novos ideais faziam vacilar as prprias bases do realismo. O que essesautores combatem precisamente a ideia de iluso cnica, tudo aquilo que pretende fazerdo palco a prpria realidade; lutar por um teatro teatral lutar por algo que aceita o teatro

    trabalho do ator, a utilizao dos elementos cnicos e sobretudo a concepo do espetculodeveriam obedecer a critrios radicalmente novos; critrios que derivariam das exignciasespecificas da arte teatral, das dimenses propriamente cnicas do teatro.

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    Nesse sentido, Appia (1911, p. 156), refletindo sobre as dimenses propriamente teatrais

    -

    m texto literrio e s

    nesta qualidade se dirige aos nossos olh -se concepo de teatro como o resultado

    da soma de todas as artes envolvidas na produo da cena, foi um dos primeiros pensadores do

    fenmeno teatral a definir o teatro como

    princpio, isto , aos fatores de qualquer maneira primordiais: a presena do corpo criando o Espao

    e o Tempo vivos e a instaurao da msica nesse corpo para operar a modificao esttica que

    , p. 161).

    1.3 A reao dos Renovadores

    Durante o sculo XX, propostas de renovadores como Stanislvski, Meyerhold, Craig,

    Copeau, Grotowski, Brecht e Artaud surgem como resposta ao convencionalismoque dominava os

    palcos de ento e se apresentam como uma reao contra seus princpios tradicionais e contra as

    banalidades e o exibicionismo em voga. Como observa Jean-Jacques Roubine (1988, p. 170), as

    grandes teorias da representao do sculo XX apoiaram-se, no Ocidente, quase sempre na rejeioda interpretao tradicional e todos os esforos, desde Stanislvski, visavam a essa necessria

    reformulao da tcnica da arte do ator.

    Odete Aslan (1994, p. 47), analisando o novo modelo de formao do ator proposto no

    sculo XX, observa que:

    Ante as deficincias de ensino, todos os homens de teatro tiveram a mesmareao: criar um grupo de trabalho para experimentar em seu mbito mtodos de

    reeducao teatral. AEscola do Vieux-Colombierde Jacques Copeau [na Frana], oEstdiode Stanislvski no Teatro de Arte de Moscou, e o Laboratrio de Grotowski em Opole[Polnia] surgiram do mesmo desgosto em relao aos modelos de formao existentes, domesmo desejo de retirar-se momentaneamente para dedicar-se pesquisa, da mesmanecessidade de refugiar-se em um falanstrio para evitar as ms ambies.

    Ao enfatizar e desenvolver o trabalho tcnico do ator, estas propostas de formao

    proporcionaram uma nova atitude do ator para com sua profisso, pois em comum portavam a

    rejeio aos valores romnticos que orientavam o trabalho do ator de seu tempo. O primado da

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    disciplina e no treinamento do aparelho psicofsico do ator.

    1.4. Precursores

    Essas propostas de renovao, entretanto, apoiaram-se em teorias e prticas disponveis em

    seu tempo para se consolidarem. Como observa Matteo Bonfitto, em seu livro O Ator Compositor,

    trs nomes foram fundamentais para se lanar as bases que permitiram a emergncia de um novo

    ator: Franois Delsarte, milie Jacques-Dalcroze e os Teatros Orientais.

    Delsarte (1811-1871) teve um papel fundamental na histria das artes cnicas, no como

    realizador de obras, mas como responsvel pela transformao da percepo e das categorias

    utilizadas para pensar e realizar o trabalho artstico. Movido pela necessidade de descobrir como as

    pessoas agem, movem-se e falam em todas as situaes emocionais de suas vidas, Delsarte dedicou

    anos de sua vida a uma minuciosa observao em parques, trens e em diferentes ambientes

    profissionais, at infe

    espiritual corresponde a uma funo do corpo; a cada grande funo do corpo corresponde um ato

    espiritual. A partir dessa correspondncia, possvel pensar que todas as qualidades espirituais

    invisveis se tornam visveis atravs do homem, ou seja, todas as qualidades subjetivas encontramno corpo uma expresso correspondente e so passveis de serem fisicamente codificadas (no a

    partir de clichs, mas de cdigos corporais). Com isso, ele desloca o pensar sobre o homem e,

    consequentemente, sobre o ator, do polo da representao ao polo da expresso um deslocamento

    que estar na base de futuras elaboraes sobre o trabalho do ator, entre as quais a do prprio

    Stanislvski, pois, como observa Bonfitto: Com a passagem da representao expresso,

    concretizada por Delsarte, no somente materializa-se a dimenso dos processos interiores, como

    tambm passa-se a constatar a sua ligao com a dimenso fsica do homem. A conexo interno-externo concretiza-se enfim .

    Dalcroze (1865-1950), adotando a conexo elaborada por Delsarte, desenvolve sua

    Eurtmicae aprofunda a reflexo sobre as possibilidades expressivas do homem e do ator a partir de

    um elemento que estar no cen

    da relao entre o corpo e a msica, tornando-se assim um elemento produ

    (BONFITTO, 2002, p. XIX).

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    Durante o sculo XX um aspecto do teatro oriental influencia de maneira decisiva o

    trabalho de artistas como Stanislvski, Meyerhold, Brecht, Copeau, Grotowski, Eugenio Barba e

    Peter Brook, e esse aspecto o tico. Segundo Bonfitto (2002, p.

    trabalhos] entre a percepo e a tica evidente. Tais criadores mostraram como, sem a atitude

    As conexes entre a dimenso interior e exterior na expresso humana, entre a tica e a

    percepo e a importncia do ritmo, forneceram instrumentos que contriburam para o surgimento

    de sistemas e teorias essenciais construo de um ator mais consciente dos elementos e da

    complexidade do seu ofcio. Tais referncias foram, portanto, fundamentais para a construo de

    um novo olhar sobre o trabalho do ator.

    Inevitavelmente, a partir do momento em que um novo teatro precisasse de um novo ator,

    o vedetismo teria de ser revisto. Como observa Roubine (1998, p. 204), em funo das novas

    exigncias e paradigmas do teatro no sculo XX:

    O ator de hoje portanto, logicamente menos espetacular, porm maisvirtuosstico. capaz de representar a frio, de desmontar e desmascarar o seu personagem.D prioridade reflexo, mais do que ao instinto. Representa com ironia, mais do que comemoo. Essas suas virtudes so diametralmente opostas s da vedete, que se impem

    justamente atravs de seu phatos. Levado s ultimas consequncias, esse ator novo um

    ator sem rosto e sem voz o que no quer dizer sem personalidade. Ele domina tcnicaspouco familiares s vedetes, cuja arte sobretudo uma estilizao da dico e umavocalizao. Tcnicas acrobticas do corpo, trabalho com mscara facial (Grotowski) ourepresentao com verdadeiras mscaras, explorao dos diversos registros da voz e, demodo mais geral, de tudo aquilo que poderamos chamar a teatralidade do corpo. Era paraessa direo que Artaud sonhava conduzir o ator de seu tempo; era nessa direo queMeyerhold havia, embora por pouco tempo, se engajado. Era tambm nesse sentido queBrecht fazia trabalhar os seus atores do Berliner Ensemble, e Ariane Mnouchkine faztrabalhar os do Thtre du Soleil. Sejam as tcnicas adotadas novas (Grotowski) outradicionais (o circo, a commedia dell'arte, etc.), em todos os casos trata-se de prticascoletivas que excluem o individualismo e o narcisismo inerentes atuao da vedete. Poisaqui o multifacetado virtuosismo que esta sendo desenvolvido no constitui por si s umafinalidade. Trata-se de fazer do ator um instrumento eficiente. Instrumento disponvel para

    as experincias mais variadas e audaciosas. Capaz de fazer aparecer todas as formas deteatralidade.

    Referncias

    APPIA, Adolphe.A obra de arte viva. Trad. Redondo Jnior. Lisboa: Arcdia, 1911.

    ASLAN, Odete. O ator no sculo XX.So Paulo: Perspectiva, 1994.

    BONFITTO, Matteo. O Ator Compositor. So Paulo: Perspectiva, 2002.

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    BORNHEIN, Gerd. O sentido e a mscara. So Paulo: Perspectiva, 1992.

    GROTOWSKI, Jerzy. In: FLASZEN, Ludwik; POLLASTRELLI, Carla (Orgs.). O TeatroLaboratrio de Jerzy Grotowski 1959-1969. So Paulo: Perspectiva: SESC So Paulo; Pontedera,It: Fundazione Pontedera Teatro, 2007.

    MARX, Karl. O manifesto do Partido Comunista.Petrpolis: Vozes, 1988.

    ROUBINE, Jean-Jacques. Linguagem da encenao teatral 1880-1980. Rio de Janeiro: JorgeZahar, 1998.

    1crescimento dos grandes centros urbanos, repercutiram diretamente sobre o caminho que a Arte tomou no sculo XX.

    No campo teatral, podemos citar o impacto da inveno do cinema, que tomou do teatro a prerrogativa de apresentar ammesis da realidade, como a fotografia tomou da pintura o registro da realidade. O uso da iluminao eltrica nosteatros, como se sabe, tambm transformou profundamente a relao entre a cena e a sala de audincia. A ampliaodos equipamentos culturais e a estabilizao dos teatros pblicos e privados alavancaram a atividade teatral, que ganhouem escala e em grau de profissionalizao tcnica de seus artfices, inclusive os intrpretes. O mesmo podemos dizer arespeito da criao de escolas para a formao de atores em toda a Europa e sobre a instituio de companhias estveis

    por todo o mundo. Todas essas mudanas repercpoucos, o teatro e o ofcio do ator se equiparassem s demais artes no que diz respeito ao nvel de sofisticao tcnica.2 No pretendemos afirmar que os atores fossem desprovidos de tcnica, pois, para contradizer essa ideia, bastariaobservar o alto grau de elaborao tcnica dos grandes atores da poca. Chamamos a ateno para o fato de que omodelo de atuao apoiava-se quase sempre em valores subjetivos, pouco controlveis e quase sempre merc da

    personalidade de cada ator. H muitos registros que descrevem atuaes extraordinrias de muitas vedetes, mas htambm o registro de que muitas destas atuaes tiveram dificuldade de se repetir ou de se manter no tempo. Outroponto que destacaelaboradas que fossem, sofriam por serem incapazes de serem transmitidas: como ensinar um jovem ator a se inspirar, aser talentoso?