O CORPO E A CRIATIVIDADE: PERCURSOS DE UM PROFESSOR ... · vontade de sentir tudo aquilo que nos é...

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ISSN 2176-1396 O CORPO E A CRIATIVIDADE: PERCURSOS DE UM PROFESSOR/ARTISTA/PESQUISADOR Pedro Gottardi 1 - FURB Carla Carvalho 2 - FURB Eixo Educação, Arte e Movimento Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este trabalho analisou processos de criação, sendo o corpo o foco deste estudo. Buscou-se explorar suas possibilidades e perceber o quanto ele potencializa o processo de criação, estimulando e proporcionando experiências no fazer arte. Assim, nesta pesquisa, o corpo é o lugar - lugar para o desenvolvimento do ato criador, em que se discute os estados corporais a partir das diferentes linguagens da arte. Esta pesquisa, de abordagem qualitativa, teve como proposta a reflexão de um professor/artista/pesquisador, que investigou suas práticas de arte enquanto as produziu. Adotou-se como base a metodologia de Pesquisa Educacional Baseada em Artes PEBA (DIAS; IRWIN, 2013) e buscou-se, junto à pesquisa, favorecer o diálogo entre a prática e a formação do docente, tendo como referência Marina Abramović para mergulhar em um processo criativo intenso e visceral. Como resultado, aponta-se a relevância do processo criativo na ação do professor de arte, pois sua ação não se encerra no ensino, mas na relação que ele estabelece com a arte, com ele mesmo. Nesse processo, o docente compreende sua construção pessoal, artística e estética. Observou-se, também, que o professor, como mediador cultural, pode buscar alternativas para suas práticas pedagógicas, não focado em um único processo metodológico mas em um processo de criação que passa pela experiência. Palavras-chave: Corpo. Processos de criação. PEBA. Introdução O corpo... 1 Acadêmico do curso de Artes Visuais da Universidade Regional de Blumenau FURB. Artista Plástico. Ator. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID. Integrante do Grupo de Pesquisa em Formação de Professores e Práticas Educativas. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná UFPR. Professora do Departamento de Artes e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional de Blumenau - FURB. Integrante do Grupo de Pesquisa em Formação de Professores e Práticas Educativas. E-mail: [email protected].

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ISSN 2176-1396

O CORPO E A CRIATIVIDADE: PERCURSOS DE UM

PROFESSOR/ARTISTA/PESQUISADOR

Pedro Gottardi1 - FURB

Carla Carvalho2 - FURB

Eixo – Educação, Arte e Movimento

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Este trabalho analisou processos de criação, sendo o corpo o foco deste estudo. Buscou-se

explorar suas possibilidades e perceber o quanto ele potencializa o processo de criação,

estimulando e proporcionando experiências no fazer arte. Assim, nesta pesquisa, o corpo é o

lugar - lugar para o desenvolvimento do ato criador, em que se discute os estados corporais a

partir das diferentes linguagens da arte. Esta pesquisa, de abordagem qualitativa, teve como

proposta a reflexão de um professor/artista/pesquisador, que investigou suas práticas de arte

enquanto as produziu. Adotou-se como base a metodologia de Pesquisa Educacional Baseada

em Artes – PEBA (DIAS; IRWIN, 2013) e buscou-se, junto à pesquisa, favorecer o diálogo

entre a prática e a formação do docente, tendo como referência Marina Abramović para

mergulhar em um processo criativo intenso e visceral. Como resultado, aponta-se a relevância

do processo criativo na ação do professor de arte, pois sua ação não se encerra no ensino, mas

na relação que ele estabelece com a arte, com ele mesmo. Nesse processo, o docente

compreende sua construção pessoal, artística e estética. Observou-se, também, que o

professor, como mediador cultural, pode buscar alternativas para suas práticas pedagógicas,

não focado em um único processo metodológico mas em um processo de criação que passa

pela experiência.

Palavras-chave: Corpo. Processos de criação. PEBA.

Introdução

O corpo...

1 Acadêmico do curso de Artes Visuais da Universidade Regional de Blumenau – FURB. Artista Plástico. Ator.

Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID. Integrante do Grupo de Pesquisa

em Formação de Professores e Práticas Educativas. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Professora do Departamento de Artes e

do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Regional de Blumenau - FURB. Integrante

do Grupo de Pesquisa em Formação de Professores e Práticas Educativas. E-mail: [email protected].

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Antes de mais nada precisamos marcar a importância do corpo para a elaboração desta

pesquisa. Vamos abordar de uma forma poética o corpo, pois é nele onde as experiências se

dão. No corpo, nascem nossas ideias, ou melhor dizendo, nossos pensamentos e nossas

emoções. Nele, sentimos arrepios, calor, frio... Lugar onde nossa imaginação nos leva ao

espaço ou nos traz a uma realidade injusta, mas, ao mesmo tempo, viva, com esperança e

vontade de sentir tudo aquilo que nos é permitido como sujeitos curiosos ou não e cheios de

emoção.

Neste trabalho, refletimos sobre os processos de criação, sendo o corpo o tema e o

suporte deste estudo, para determinar o quanto ele potencializa o processo de criação,

estimulando e proporcionando experiências no seu conjunto. A pesquisa, de abordagem

qualitativa, teve início no segundo semestre de 2016 e trata do processo criativo de um

professor/artista/pesquisador, que investiga suas práticas de arte enquanto as produz.

Buscamos, dessa forma, relatar as potencialidades do corpo sensibilizado por meio de

um processo criativo de um professor/artista/pesquisador. Partimos da compreensão de que,

quando o corpo é estímulado, o expomos em uma situação de estado corporal que é resultado

de um espaço e tempo. O corpo, quando disposto nesse processo criativo, impulsiona novos

sentidos, permitindo o sujeito se sensibilizar por meio de múltiplos estados criativos, em que

são exploradas novas vivências.

Trabalhamos conceitos da arte performática com Cohen (2009) e Melin (2008) e

temos, como alicerce no processo criativo, a artista Marina Abramović. A artista permite ter a

experiência de um novo, o novo que foi reelaborado pelo professor/artista/pesquisador. Para

isso, reconhecemos que, no campo da educação em artes, precisamos de uma metodologia que

dê conta da reflexão sobre esse sujeito. Esta investigação, assim, tem como metodologia a

Pesquisa Educacional Baseada em Artes (PEBA) de Dias e Irwin (2013). Ela possibilita o

encontro com a pesquisa viva e possui como recurso para coleta de dados a arte no seu

processo de elaboração (DIAS; IRWIN, 2013).

Os encontros entre professor/artista/pesquiados e a produção da artista Marina

Abramović possibilitaram a construção de uma nova experiência e contemporizaram a

reflexão e a apropriação em um processo que envolve o corpo não somente como tema, mas

como lugar de criação onde as coisas acontecem. Para Ostrower (2007), o processo criativo

permeia a construção do novo a partir do novo. Nesse sentido, acreditamos que o novo é um

lugar que existe na relação com o processo, com a autoria, com o contexto. Na arte, parte-se

de que o novo é sempre relativo, é processo, considerando quem o produz e quem o frui.

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Percebemos a relevância do processo criativo na ação do professor de artes, pois sua

ação não se encerra no ensino, mas na relação que ele estabelece com a arte, com ele mesmo.

Nesse processo, o docente compreende sua formação pessoal, artística e estética. Partimos do

pressuposto de que um bom professor de artes é o sujeito que compreende a arte, vive arte,

como artista ou como fruidor, que pesquisa a linguagem e sua relação com sua constituição

profissional. Desse modo, entendemos que a experiência passa pelo seu corpo, por sua ação,

para, nessa relação, ampliar seu repertório artístico, sensível e estético para tecer diálogos

com seus estudantes. Falamos aqui de um processo de constituição docente3. Por esse motivo,

lançamos como objetivo desta pesquisa discutir, em um processo de formação docente, a

potência criativa de corpos dispostos em situação de espaço e tempo em uma poética artística.

Nesta pesquisa, o corpo é o lugar para o desenvolvimento do ato criador. A proposta é

dispor o corpo em relação de espaço e tempo, produzindo um estado corporal norteado por

diferentes linguagens de arte, buscando elementos contemporâneos para a construção da

produção artística na prática do ensino da arte e, com isso, explorar diversos caminhos no

percurso. Pensamos que os resultados podem ser apresentados de diferentes formas, sem a

preocupação única de um produto final. E, assim, compreender o processo e vislumbrá-lo.

O intuito é pesquisar possíveis práticas que possam nortear as linguagens das artes, em

que a dança, a música, o teatro e as artes visuais se atravessem e façam nascer aquilo que é

mais orgânico no sujeito. Por esse motivo, o corpo é o ponto de partida para o ato de criação.

Buscamos que esses encontros, esses atravessamentos e essas investigações venham a

contribuir com a formação do professor e, com isso, provocar processos de mediação cultural

nos contextos escolares.

Dentro do exposto, buscamos os pensamentos artísticos de Marina Abramović para

mergulhar em um processo criativo intenso e visceral. Marina Abramović possui estímulos no

processo de criação, pois o corpo da artista é imagem provocadora de sentidos. A artista busca

expor seu corpo e objetos em suas performances com a finalidade de sensibilizar o

espectador, sendo o corpo seu principal motivador e disparador da reflexão. Ele permite

questionar o espaço e o tempo na execução/exposição de suas obras (performances).

Trazendo para o contexto educacional, observamos que o estado do corpo é resultado

de um processo construído pelo sujeito, porém este estado é oportunizado pela mediação, pelo

3 A pesquisa envolve uma investigação com estudantes e como eles percebem seus corpos em processo de

criação. Apresenta-se aqui a pesquisa com foco na ação do professor que faz arte e pesquisa seu processo,

enquanto pensa sua ação docente.

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processo de mediação cultural, pensado e elaborado quando o professor/artista/pesquisador

compreende seu papel nos momentos de aproximação com a arte e de provocação do ato

criador. Dentro dessa pretensão, Martins, Picosque e Guerra (1998) discutem que o professor

deve sempre buscar alternativas para suas práticas pedagógicas, não importando o ponto de

partida - leitura, contextualização e produção -, mas sim o processo de criação. Isso permite

que a prática pretendida possa ter diferentes caminhos na sua execução e se torne essencial no

processo do ensino da arte na atual conjuntura da educação.

A partir da PEBA, podemos compreender a relação entre a transversalidade das

linguagens da arte. Os apontamentos de Ostrower (2007) mostram-nos a importância de

conhecer os processos de criação; e Marina Abramović provocou-nos a olhar novas

dimensões da arte, para a elaboração dos estados geradores, criativos, entendidos como lugar

da experiência. Ao sentir-se em um espaço e tempo no fazer arte, o professor coloca-se no

lugar do artista e percebe-se em formação, em processo de educação estética. Ele passa,

assim, a compreender seu papel de mediador cultural.

Processos de criação e docência

Compreendemos o papel do professor como de mediador cultural, sujeito que lida com

a cultura, a “[...] mediação com a cultura, entendida como um campo expandido para

experiências estéticas” (MARTINS, 2014, p. 17). Nesse sentido, entendemos o professor

como um sujeito que lida com a experiência artística no seu fazer. Nesse processo, ele

pesquisa a arte e a docência. Por esse motivo, utilizamos aqui os termos

professor/artista/pesquisador, pois é nessa relação que se dá o processo de um mediador que

compreende seu papel docente colado no seu lugar artístico e no seu papel de pesquisador.

O processo criativo é o fator de estímulo independente para cada sujeito. Ostrower

(2007) explica que criar é basicamente formar, transformar, modificar, dar um novo sentido.

Assim sendo, no processo de criação, precisamos de materiais diversos e ferramentas que nos

auxiliam no desenvolvimento. Existe uma relação entre o sujeito e o novo no processo de

criação que pode acontecer por meio de diversos estímulos. Quando falamos em criatividade,

logo imaginamos imagens belas, obras simbólicas - a arte focada na área visual. No entanto, é

preciso reconhecer esses vícios no ensino de artes, compreender como o processo criativo

acontece e que necessariamente ele não é exclusivo da área visual. O resultado da produção

artística é por si só um conjunto de elementos, fatores e estímulos, que foi produzido a partir

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da sensibilização do sujeito. Como afirma Ostrower (2007, p. 166): “Criar pode ser tão difícil

ou tão fácil como viver. E do mesmo modo necessário”.

Ostrower (2007) justifica como processo de criação tudo aquilo que transformamos e

damos um novo significado. A sensibilização é um dos fatores mais fortes na criação, ela irá

potencializar a ação de criar. A autora aponta que, normalmente, os processos são intuitivos e

se interligam com a nossa sensibilidade. A sensibilidade é a arte de sentir, de produzir aquilo

que se sente necessidade. Logo, se usarmos o corpo em função da criatividade, este poderá

estimular ainda mais o processo de criação, pois os resultados pretendidos estarão interligados

com o corpo sensibilizado na produção. Quando o corpo transpira junto à obra, temos um

novo lugar - lugar que esta pesquisa pretende analisar, justificado pelo estado encontrado.

Este que foi gerado a partir do tempo e do espaço.

Quando colocamos o espaço e o momento em função do corpo no processo criativo,

estes poderão levar o corpo a uma nova disposição. Essa disposição que sensibilizou o corpo

influenciará na produção artística do sujeito, pois este pode se encontrar em um novo estado

para o desenvolvimento do ato criador. Toda arte essencialmente precisa da sensibilidade do

sujeito - sem ela poderemos encontrar uma barreia no processo de criação. Por mais que o

processo seja intuitivo, sem a sensibilidade, o propulsor do processo, dificilmente podemos

dar início ao ato de criar. Com a intuição ativa, é preciso reconhecer que cada sujeito participa

de uma determina cultura, que possui “n” experiências, as quais influenciam suas produções.

O sujeito em determinado momento precisa apropriar-se de vivências e torná-las experiências

(LARROSA BONDÍA, 2002) para conhecer a si próprio.

A função criativa de construir e desconstruir o novo é a melhor maneira de descrever o

processo criativo, cada qual na sua individualidade e com suas experiências. Quando surgem

novas alternativas, permite-nos “[...] entender que o processo de criar incorpora um princípio

dialético. É um processo contínuo que se regenera por si mesmo e onde o ampliar e o

delimitar representam aspectos concomitantes, aspectos que se encontram em oposição e

tensa unificação [...]” (OSTROWER, 2007, p. 26). O criador possui várias referências que

auxiliam no seu processo de criação. Ostrower (2007) evidencia os múltiplos níveis do ser

sensível, cultural, do sujeito. Estes estão sempre interagindo, para se construir o novo e logo o

desconstruir e alimentar uma nova experiência.

O mundo contemporâneo permite a união das linguagens. Martins, Picosque e Guerra

(1998) citam a performance, a qual combina todas as linguagens, bem como o videoclipe.

Essa possibilidade de unir as linguagens da arte torna-se fruída, poética e conhecedora, pois

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os processos de ensinar-aprender em arte não ocorrem de forma estática, mas sim em

movimento.

Para Larrosa Bondía (2002, p. 21), o que garante a aprendizagem é a experiência. Não

uma experiência qualquer, mas uma experiência que move o sujeito que, de fato, o mobiliza.

“A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não que se passa, não o

que acontece ou o que nos toca”. Isso faz a diferença na relação com a qual pensamos a

formação docente, a constituição do professor de arte que se faz professor e artista na relação

com a arte e se faz pesquisador da linguagem e/ou pesquisador na educação, na medida em

que está imerso no contexto, vive a experiência e é tocado por ela.

Martins (2014) discute a mediação cultural como encontro, como possibilidade de

estar entre. Quando aproximamos esses aportes teóricos, dispomos de uma nova experiência

em relação à pesquisa. Ao atravessar a teoria e a prática, na experiência, temos um outro

resultado do lugar docente, uma provocação que pesquisa em arte explora. Nesse processo,

percebemos a relação de um professor/artista/pesquisador que, tocado pela experiência, se

percebe no processo criador e pesquisador de sua linguagem. Professor em processo de

pesquisa, artista em processo de pesquisa, pesquisador discutindo a arte e a docência.

Performance: lugar de partida

Marina Abramović é provocadora na arte da performance e mostra-nos a diversidade

dos elementos construídos em suas produções, em que seu corpo é a imagem e sempre estará

em função da produção. O encontro com o seu interior, o corpo dilatado no espaço, possibilita

a artista trabalhar com o universo contemporâneo e permite que possamos nos apropriar de

sua linguagem para alcançar novos estados no processo de criação. No conceito de dilatação

corporal, Cohen (2009) traz em sua pesquisa a expressão “Corpo extenso” para desvendar a

relação do corpo junto às ações de uma performance.

A performance relaciona diversas linguagens artísticas. Para Cohen (2009, p. 28,

grifos do autor), “[...] a performance é antes de tudo uma expressão cênica”. O autor

conceitua performance como expressão cênica pelo pressuposto de que o teatro é seu

percursor, pois possui a condição básica da arte cênica, onde estão presentes o ator, o texto e a

plateia. Cohen elucida que a performance

[...] advém de artistas plásticos e não de artistas oriundos do teatro. Para citar alguns

exemplos, Andy Warhol, Grupo Fluxos [...], numa classificação topológica, que a

performance se colocaria no limite das artes plásticas e das artes cênicas, sendo uma

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linguagem híbrida que guarda características de primeira enquanto origem e da

segunda enquanto finalidade. (COHEN, 2009, p. 30).

A performance atravessa as diversas linguagens das artes. Cohen trata a performance

como uma linguagem, ou melhor, uma nova linguagem oriunda dos desdobramentos das artes

para criar um novo conceito de arte.

Como Cohen parte do princípio de que a performance é uma expressão cênica, logo

teatral, sem a ação de uma atuação ela não poderá ser conceituada como performance.

Contudo, para Melin (2008, p. 8), “[...] performance nas artes visuais contempla uma série

infindável de trabalhos, ampliando sobremaneira o seu conceito”. O que nos provoca aqui é o

lugar ou o não lugar da performance, em relação à possibilidade de enquadramento, de

tentativa de dizer é deste ou daquele contexto que nos referimos somente. Assim, o

importante é que ambos autores discutem esse atravessamento em potencial, bem como a

utilização de outras linguagens artísticas como a dança e a música nas performances.

Marina Abramović, atuante, nascida em Belgrado, em 1946, trabalha com diversas

mídias e possui uma sede em Nova York. Abramović ficou conhecida pela maneira em que

utiliza o seu corpo. Ela é considerada a percursora das performances. Abramović sempre

manteve a relação com o corpo no seu processo de criação. Melin (2008, p. 19) descreve que,

“[...] sem dúvidas, não apenas na década de 1970 – ela mantém até o presente essa postura -,

uma das artistas a levar seu corpo aos limites físicos mais extremos para deixá-lo, conforme

prefere sempre assinalar, preparado para a experiência espiritual plena”.

Dentro da linguagem da artista, identificamos três fatores: 1) corpo em função da arte,

estado dilatado no espaço; 2) objetos em função da arte, os objetos dialogando com o

observador e ambiente; 3) corpo e objeto em função da arte se relacionando, estado dilatado e

ambiente dialogando com espaço.

Em um de suas primeiras performances, em 1973, ao exemplo de Rhythm 104,

Abramović estende a mão sobre uma superfície e utiliza uma série de vinte facas para

esfaquear entre os seus dedos em um ritmo que se acelera, indo e voltando (Figura 1). O

sacrifício e a mente são os principais fatores que a artista trabalha nessa performance, o

impacto visual é pleno. Um tipo de experiência ainda não vivenciada por um indivíduo

globalizado-culturalizado, que o leva a um novo estado, mesmo ao conhecer a ação; leva-o a

potencializar o sensível.

4 Rhythm 10. Disponível em: <https://blogs.uoregon.edu/marinaabramovic/category/rhythm-series/>. Acesso em:

11 nov. 2016.

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Figura 1 - Performance de Marina Abramović Rhythm 10

Fonte: Uoredon.edu (2015).

Polêmicas fazem parte da arte de Abramović. Usar o corpo como forma de expressão,

seja qual for a forma, sempre causou muito incomodo. Segundo a artista: “Me expor por

expor, se não afeta ninguém, quem se importa [...]”, a performance “[...] transmite uma

energia concreta e abre a consciência. A salvação está na simplicidade”, em entrevista ao El

País (MANTILLA, 2014).

Abramović mostra-nos o quanto o corpo em ação eleva o lado sensível e proporciona

momentos de criação, potencializando, transformando, possibilitando o novo. Esse corpo faz

parte da obra, sem ele o resultado não poderia ser sentido, por mais que, em algumas ocasiões,

as performances podem remeter a um extremo, mas que fazem sentido como arte, como

provocações estéticas.

PEBA: da metodologia ao processo

A metodologia da pesquisa, baseada na Pesquisa Educacional Baseada em Artes

(PEBA), possibilitou um olhar intenso sobre o professor/artista/pesquisador, sujeito desta

pesquisa que, nesse processo, se reconhece como sujeito imerso em um processo criativo

(Figura 2). A PEBA é uma pesquisa viva, intensa, que possibilita ao

professor/artista/pesquisador olhar-se como sujeito que faz parte da pesquisa.

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Figura 2 - Registro do processo

Fonte: Acervo dos autores.

A pesquisa viva reconhece a troca de conhecimentos e considera o processo muito

mais importante do que os resultados. O a/r/tografo é o mediador cultural que medeia as ações

pedagógicas nas interações ao mesmo tempo que olha com cuidado seu processo

investigativo. A/r/tógrafos podem usar as formas qualitativas de coletar dados das ciências

sociais (levantamentos, coleta de documentos, entrevistas, observação participante, etc.) e,

frequentemente, também se interessam por histórias de vida, lembranças e fotografias. Como

acontece com qualquer pesquisa qualitativa, há possibilidade de recolher-se uma grande

quantidade de dados (DIAS; IRWIN, 2013).

Em uma pesquisa qualitativa, reconhem-se as diferentes possibilidades na coleta de

dados. Suas ações buscam diferentes contextos que podem ser analisados isoladamente. Essas

experiências podem ser vistas e analizadas nas produções artísticas, por isso a metodogia da

PEBA abarca as referências do processo artístico, pois elas fazem parte do contexto da

pesquisa, elas influenciam o processo de pesquisa e fazem parte do contexto social e da vida

dos sujeitos, tornando-se essencial analisar essa dimensão no processo da pesquisa.

Segundo Dias e Irwin (2013, p. 29): “Artistas entendem o poder da imagem, do som,

da performance e da palavra, não separados para produzir significados adicionais. Explorar

ideias, questões e temas artisticamente origina maneiras de produzir significado, pessoal e

coletivamente”. Nessa perspectiva é que buscamos compreender e discutir o processo criativo

de um professor que é também pesquisador, e nesse caso, busca significados que dialogem

com o que ele pensa sobre arte, sobre contextos educacionais e investigativos.

A metodologia da PEBA aponta algumas tendências, e, para que a pesquisa atinja seu

objetivo, busca-se a apropriação da tendência na perpectiva performativa. O relevante dessa

perpectiva é que identificamos a relação com o corpo na narrativa autoetnográfica. Relação

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que é chave para aqueles que pretendem pesquisar a experiência performativa relacionada à

música, às artes cênicas, às artes visuais ou à docência. Esse campo de estudos serve para

reconsiderar o sentido da pesquisa nas artes – e das próprias práticas artísticas - e pode ter

importantes repercussões para a pesquisa sobre as relações na escola (DIAS; IRWIN, 2013).

Essa tendêndia permite a discussão do corpo, aproximando as reflexões da pesquisa,

junto aos conceitos explorados pela artista Marina Abramović. Dias e Irwin (2013) destacam

que a pesquisa têm por objetivos tocar o espectador, evocar emoções e proporcionar

perpectivas alternativas de ver o mundo. Percebemos nesse processo que, quando os sujeitos

encontram o estado gerado de um ato físico, de origem corporal, eles elaboram e reelaboram

produções artísticas que transpiram seus sentimentos, suas necessidades, suas reflexões sobre

o mundo. Observamos com isso a relevância de pensarmos, em um primeiro momento, sobre

a ação do professor, sobre a constituição desse professor/artista/pesquisador.

O encontro com seu eu interior, sensibilizado pelo corpo de um sujeito, pode alcançar

um estado sensível devido à mediação por parte de um a/r/tógrafo, que busca experimentações

na pesquisa e preocupar-se com o processo criativo, sendo este o mais importante. O encontro

com a produção é um desafio, e o resultado não será o mais importante. Segundo Dias e Irwin

(2013, p. 57, grifos dos autores): “O desafio é ir além da produção de textos e imagens

impactantes e chegar a mobilizar a nós mesmos e a outros à ação, de maneira que o efeito da

pesquisa - da participação nela – seja melhorar nossa vida.”

Ao possibilitar novas vivências, estimular uma nova ação, manifestamos nossas

emoções que possibilitam a transformação do processo criativo. A PEBA propõe o processo

da experiência a partir da vida, trazendo à tona a sensibilidade, buscando uma experiência em

que serão lançadas as linguagens das artes: música, artes cênicas, literatura, dança e artes

visuais, que, nesse momento, se atravessam. A PEBA promove um conjunto de sensações e

emoções que aguçam o processo imaginativo e provoca o processo criativo.

O corpo estimulado promove um novo estado. Quando esse estado for alcançado, um

novo será experimentado. Assim, a pesquisa viva é uma metodologia significativa para a

pretenção do presente projeto de pesquisa em artes. Dias e Irwin (2013, p. 147) expõem que:

“A pesquisa viva é um compromisso de vida com as artes e a educação por meio dos atos de

pesquisa. Estes atos são formas teóricas, práticas e artísticas de criar significado através de

formas recursivas, reflexivas, responsivas, mas resistentes de compromisso”.

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A pesquisa viva acontecendo

Partimos, aqui, para o processo vivido por um professor/artista/pesquisador que

buscou na prática e na investigação artística elementos para sentir a experiência do processo

de criação (Figura 3), de forma a experienciar situações de sensibilização, nesse caso a

sensibilização do corpo na produção artística.

A a/r/tografia é uma metodologia de corporificação, de compromisso

contínuo com o mundo, que interroga, mas que celebra o significado. A

a/r/tografia é uma prática viva pessoal, política e/ou profissional. [...] Seu

rigor procede de sua contínua disposição refletiva e reflexiva ao engajamento,

análise e aprendizagem. (DIAS; IRWIN, 2013, p. 147)

Figura 3 – Professor/artista/pesquisador - um ato performático no processo

Fonte: Acervo dos autores.

Como já mencionado, compreendemos a experiência como algo que nos passa, nos é

vivido, de modo a sensibilizar o corpo para que o processo criativo seja explorado com mais

intensidade. O sujeito encontra, assim, relações corporais no ato de criar em potencial,

tornando a experiência visceral. Nesse processo, compreendemos que, quando sensibilizamos

o corpo, temos a possibilidade de encontrar locais sensíveis que podem ser sentidos

visceralmente durante o ato criador, que transforma, modifica, altera, que possibilita novos

significados para o novo que já não é mais novo. Isso permite um processo criativo vivo e

latente.

Trouxemos para este artigo o processo vivido pelo professor/artista/pesquisador, pois,

durante o processo de elaboração da pesquisa, ele se percebeu sujeito de pesquisa. A

metodologia da pesquisa do desenvolvimento da prática parte das seguintes etapas:

provocação corporal e exploração do espaço em um processo criador.

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O primeiro passo foi a escolha de uma música para ouvir durante a provocação

corporal. Para essa prática, foram escolhidas as músicas Pedrinha miudinha, Orixá e História

pro sinhozinho, cantadas por Maria Bethânia5, por uma questão de gosto dos autores.

A provocação corporal, cujas variações de movimentos expressados pelo corpo foram

sempre múltiplas, foi experienciada em etapas, a saber: relaxamento do corpo: de olhos

fechados, deitado no chão e parado, o corpo é sensibilizado em sentir o que toca; movimentos

leves: nesse momento entra a música, o corpo começa a se desprender do chão, gerando

pequenos movimentos; movimentos médios: o corpo procura novos lugares, expande-se e

procura pontos de apoio nos pés e mãos; movimentos altos: nesse momento, o corpo entra em

dilatação total, já não há suporte fixo, percebe-se um descontrole do movimento, que pode ser

leve ou intenso. Nesse percurso, percebemos que o corpo volta ao repouso e se faz a

exploração do espaço.

Na exploração do espaço, é possível perceber os materiais disponibilizados, quando se

cria relações com eles. Internamente a imaginação começa a tomar conta do imaginário em

um processo em que o sujeito se encontra sensibilizado corporalmente. O lugar proporciona a

curiosidade, os olhos ficam atentos, pois já não é mais o mesmo, após o início da prática. O

tempo já passou, o que possibilita estar em um novo lugar e, assim, o corpo dilatado nesse

espaço permite conhecer os materiais dispostos, criando relações com eles.

Nesse processo de criação são utilizados os recursos disponíveis. Por se tratar de uma

pesquisa que tende ao processo criativo na área visual, foram utilizadas ferramentas e

materiais plásticos, além da escolha da música. Os materiais escolhidos para o processo

foram: jogo de aquarela 12 cores, lápis 2B, borracha e papel canson 224 m/g².

A produção aconteceu a partir dos estímulos gerados no corpo. Esse corpo que se

dilatou, que estava em processo de criação. Por estar sensibilizado, houve recordações de

estados corporais que se estenderam no local. Todo o percurso envolveu a criação; a música,

por exemplo, permitiu ao corpo movimentos contínuos e equilibrados. Não houve resultado

final, mas sim a experiência do processo, da pesquisa viva acontecendo.

Desde a primeira etapa até o final, utilizamos conceitos de Abramović, a qual expõe

sobre energia concreta, aquela que é sentida pelos poros e emanada no ambiente. Assim, essa

energia também participou do processo criativo do sujeito, pois cada movimento foi resposta

de um novo que gera um novo lugar, conforme aborda Ostrower (2007).

5 Pedrinha miudinha, de Domínio Público; Orixá, de Jorge Portugal; e História pro sinhozinho, de Dorival

Caymmi, cantadas por Maria Bethânia no álbum Pirata.

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Assim sendo, o resultado da produção artística não é importante para esta pesquisa,

mas sim a experiência de passar por todas as etapas, permitindo uma explosão estésica no

fazer arte em todo o processo (Figuras 4 e 5).

Figura 4 - Corpo dilatado, técnica mista

Fonte: Acervo dos autores.

Figura 5 - Corpo dilatado, técnica mista

Fonte: Acervo dos autores.

Percebemos, nesse sentido, a pesquisa viva acontecendo em determinado espaço e

tempo. Podemos fazer desta pesquisa viva uma analogia com a performance, em que a mesma

apresentação, ou processo, produzirá sentidos e imagens diferentes a cada nova realização.

Considerações desse processo

O corpo é pouco investigado em processos criativos dentro de contextos escolares.

Nossa provocação é pensar esse corpo, o corpo do professor, o corpo do estudante. Como esse

corpo é pensado nas aulas de arte? Como o professor se percebe professor/artista/pesquisador

em arte e na educação? Percebemos, com esta pesquisa, que há muito a investigar...

Acreditamos na potência do corpo como lugar de discussão da arte e do processo criativo, do

estudante e do professor. Por isso, pensamos que este estudo pode ser ampliado nas

linguagens das artes, principalmente na arte visual, pois sua potência não é exclusiva da arte

cênica.

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Identificamos que, quando potencializamos o corpo, podemos ter encontros em

potencial com o fazer arte, independentemente da linguagem. Isso quer dizer que

conseguimos sentir visceralmente esse fazer, o que nos possibilita dialogar sobre maneiras de

se sensibilizar em um ato criador, em um processo criativo. O corpo sente, transpira, irradia,

se movimenta. O que permite ter múltiplas experiências, transformando o novo em novo. O

professor, nesse sentido, coloca-se em processo de criação, para perceber e sentir o processo.

Ostrower (2007) auxilia-nos a compreender o processo criativo. Ela nos mostra o caminho,

onde algo novo sempre será algo que já foi. O ato de criar sempre estará em movimento,

como um ciclo, que se transforma em cada nova etapa alcançada em experiências que o

imaginário cria no poetizar.

Martins, Picosque e Guerra (1998) relatam-nos a importância de atravessarmos as

linguagens da arte, pois esse atravessamento garante o contato e a experimentação com o

fazer arte de uma maneira poética no processo de criação. Aqui abrimos espaço para incluir o

mediador cultural que, segundo Martins (2014), proporciona esses encontros e relata a

importância do professor/artista/pesquisador, por estar entre a pesquisa e a educação.

Marina Abramović possibilitou-nos o suporte visual, a pesquisa em arte para

percebermos que suas performances provocam o nosso processo de criação em uma pesquisa

viva. Conseguimos, por meio de suas experiências, experimentar novos cominhos e, assim,

reconfigurá-los dentro de possíveis práticas do ensino da arte. Essa aproximação com

Abramović sensibilizou-nos ao ponto de praticar a pesquisa em si. Por ser uma provocadora,

por questionar o que é arte, por encontrar atravessamentos em seu próprio corpo, ela nos

conduz por um caminho de experimentações que sempre serão questionáveis na arte. A artista

fragmenta seu corpo e apresenta-nos o mais orgânico de um corpo que se dilata no espaço,

preenchendo todas as lacunas da vida.

A PEBA resultou em uma nova inquietação, aquela que nos faz encontrar novos

caminhos, pois este artigo não é seu final, mas sim o início de uma nova pesquisa. Com a

PEBA brotou o conhecimento, aquele que está simbolicamente representado por letras, fotos,

pinturas, desenhos, expressões, olhares, movimentos, questionamentos, experimentações e

uma dilatação corporal que se encontra em estado de êxtase. O corpo encontra-se em

comunhão, reverberando energias, para dar origem ao espaço e tempo do processo de criação.

Beber dessa fonte é “literalmente” mágico, pois contribui como aporte teórico na produção de

práticas, enquanto se questiona como o corpo pode potenciar o processo criativo.

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Para concluir, a prática é a experiência da experiência, em consumo durante a

pesquisa. Ela nos apresenta as sensações de um corpo sensibilizado, bem como comprova a

potencialização do corpo no processo criativo, por esse motivo Larrosa Bondía (2002) aponta-

nos a experiência como necessidade. A prática promove o conhecimento, bem como a

exploração de vivências ao professor/artista/pesquisar, que investiga seu próprio lado criativo,

concebendo o diálogo entre a prática e sua formação docente.

REFERÊNCIAS

COHEN, Renato. Performance como linguagem. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 2009.

DIAS, Belidson; IRWIN, Rita L. (Orgs.). Pesquisa Educacional Baseada em Arte:

A/r/tografia. Santa Maria: UFSM, 2013.

LARROSA BONDÍA, J. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista

Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, jan./abr. 2002. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf>. Acesso em: 12 mar. 2017.

MANTILLA, Jesús Ruiz. Entrevista com Marina Abramović: “Eu estou farta do ambiente

econômico que rodeia a arte”. El País, Madrid, 28 maio 2014. Disponível em:

<http://brasil.elpais.com/brasil/2014/05/27/eps/1401205816_492745.html>. Acesso em: 4

nov. 2016.

MARTINS, Mirian Celeste. Entre nuvens de tempos vividos. In: MARTINS, Mirian Celeste.

(Org.). Pensar juntos mediação cultural: (entre)laçando experiências e conceitos. São

Paulo: Terracota, 2014. p. 15-18.

MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, Maria Terezinha Telles. Didática

do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.

MELIN, Regina. Performance nas artes visuais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

UOREDON.edu. Marina Abramović - Rhythm series (1973-74). Disponível em:

<https://blogs.uoregon.edu/marinaabramovic/files/2015/03/ARTSTOR_103_4182200148084

5-tobdie.jpg>. Acesso em: 2 maio 2017.