O crédito fundiário como uma alternativa de acesso à terra: a experiência do Assentamento Cajá...

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O Povoado de Cajá dos Negros está situado no município de Batalha, região da Bacia Leiteira de Alagoas e há mais de quinze anos foi reconhecido como uma comunidade remanescente de quilombo. É neste povoado que começa a luta por acesso a terra das 15 famílias que hoje compõem o Assentamento Cajá dos Negros. Existia no povoado Cajá dos Negros uma associação comunitária que começou a perceber a dificuldade das famílias em viver sempre trabalhando para grandes fazendeiros da região. O senhor Cícero Leite da Silva, de 50 anos, que nasceu e nunca saiu da região era um desses moradores. Ele conta que chegou a passar 5 anos trabalhando em uma fazenda, mas que sempre quis mesmo foi trabalhar em sua própria terra. Ele percebeu que muitos outros também tinham esta vontade e foi aí que começou a luta das 22 famílias que faziam parte da associação para conseguir seu pedaço de chão. Eles montaram um projeto e foram atrás de um grande fazendeiro da região que se dispôs a vender a terra para o grupo desde que recebesse tudo em dinheiro. No início, o grupo apresentou a proposta ao INCRA, mas, não deu certo, pois este órgão não pagava o terreno em dinheiro e sim em títulos e o fazendeiro não aceitou vender. Os associados resolveram então apresentar seu projeto a Secretaria de Agricultura do estado. Porém, para conseguir o projeto de Crédito Fundiário pela secretaria o grupo não podia ter dívidas em nenhum banco, precisava estar fora do serviço de proteção ao crédito e tinha que ter toda a documentação em dias. Com isso, muitos dos associados ficaram fora do critério e somente 15 famílias continuaram no projeto. Durante este tempo de espera o grupo manteve os contatos com o dono das terras, que prometeu que só venderia se fosse para eles, apesar das várias intimidações que sofreu por parte de outros fazendeiros da região. Seu Antônio Carlos, um dos assentados, conta que muita gente procurava o dono da terra o aconselhando a não vender. Muita gente dizia que isso não ia dar certo, que a gente era um bando de preguiçosos, diz seu Antônio. Isso por conta de vários assentamentos que não deram certo na região. Alagoas Ano 5 | nº 28| Março | 2011 Batalha- Alagoas Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas O Crédito Fundiário como uma alternativa de acesso a Terra Experiência do Assentamento Cajá dos Negros 1 Família de seu Cícero, ao lado seu Antônio Carlos

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O Povoado de Cajá dos Negros está situado no município de Batalha, região da Bacia Leiteira de Alagoas e há mais de quinze anos foi reconhecido como uma comunidade remanescente de quilombo. É neste povoado que começa a luta por acesso a terra das 15 famílias que hoje compõem o Assentamento Cajá dos Negros.

Existia no povoado Cajá dos Negros uma associação comunitária que começou a perceber a dificuldade das famílias em viver sempre trabalhando para grandes fazendeiros da região.

O senhor Cícero Leite da Silva, de 50 anos, que nasceu e nunca saiu da região era um desses moradores. Ele conta que chegou a passar 5 anos trabalhando em uma fazenda, mas que sempre quis mesmo foi trabalhar em sua própria terra.

Ele percebeu que muitos outros também tinham esta vontade e foi aí que começou a luta das 22 famílias que faziam parte da associação para conseguir seu pedaço de chão. Eles montaram um projeto e foram atrás de um grande fazendeiro da região que se dispôs a vender a terra para o grupo desde que recebesse tudo em dinheiro.

No início, o grupo apresentou a proposta ao INCRA, mas, não deu certo, pois este

órgão não pagava o terreno em dinheiro e sim em títulos e o fazendeiro não aceitou vender. Os associados resolveram então apresentar seu projeto a Secretaria de Agricultura do estado.

Porém, para conseguir o projeto de Crédito Fundiário pela secretaria o grupo não podia ter dívidas em nenhum banco, precisava estar fora do serviço de proteção ao crédito e tinha que ter toda a documentação em dias. Com isso, muitos dos associados ficaram fora do critério e somente 15 famílias continuaram no projeto.

Durante este tempo de espera o grupo manteve os contatos com o dono das terras, que prometeu que só venderia se fosse para eles, apesar das várias intimidações que sofreu por parte de outros fazendeiros da região. Seu Antônio Carlos, um dos assentados, conta que muita gente procurava o dono da terra o aconselhando a não vender.

Muita gente dizia que isso não ia dar certo, que a gente era um bando de preguiçosos, diz seu Antônio. Isso por conta de vários assentamentos que não deram certo na região.

Alagoas

Ano 5 | nº 28| Março | 2011Batalha- Alagoas

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

O Crédito Fundiário como uma alternativa de acesso a TerraExperiência do Assentamento Cajá dos Negros

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Também durante este período o grupo conheceu muitas pessoas envolvidas nesta questão da terra e estabeleceu novas parcerias para a conquista do seu projeto. Foi através de uma destas parcerias com a Federação dos Trabalhadores da Agricultura, a FETAG que o grupo conseguiu avançar nesta caminhada.

Em 2008, finalmente o projeto foi para aprovação da câmara, mas foi aí que mais um problema surgiu para o grupo. A empresa que assinou o projeto não era credenciada para o crédito fundiário e novamente eles tiveram que refazer sua proposta. Três meses depois de apresentar novamente o projeto, finalmente o crédito foi liberado e, em maio de 2008, as primeiras famílias começaram a ocupar o terreno.

Cada família recebeu o financiamento de quase 40 tarefas de terra, e além do crédito fundiário ainda conquistaram o direito ao PRONAF tipo A, a partir de onde tiveram como construir suas casas e garantir os animais para produção. Cada família teve acesso, além da casa, a 5 vacas, 02 bois de serviço, o carro de bois,o arado e o material para cerca.

Ao todo são mais ou menos 660 tarefas, sendo que destas 100 são reserva ambiental. O parcelamento da terra é pago em grupo, já o do PRONAF é por conta de cada família.

Após três anos assentadas, nenhuma das famílias saiu para trabalhar em nenhum outro lugar. Hoje, a maior produção e a principal fonte de renda é o leite de gado, mas eles também trabalham na roça no período de inverno e produzem milho e feijão. Mantém ainda uma produção em torno de 250 tarefas de palma e capim para alimentação animal.

Dentro da área do assentamento existem 8 barragens que garantem o abastecimento dos animais e a produção e cada família também possui uma cisterna de placa que garante a água para consumo humano. Na parceria com a FETAG eles recebem assistência técnica e capacitações para melhorar a produção.

Com a produção e venda de uma média de 400 litros de leite por dia os assentados garantem não só o sustento da família, mas também o pagamento da tão sonhada terra e já efetivaram a primeira parcela.

E tudo pode ficar ainda melhor, conta seu Cícero, pois com a doação do Governo Federal de um quite para inseminação artificial, um tanque de resfriamento de leite com capacidade para 2000 litros e uma forrageira o grupo vai poder avançar ainda mais na produção e poder vender seu produto diretamente para o governo.

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largura tarja superior 2ª página 4cm

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Alagoas

ARTICULAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO

Leite de gado: principal produção do assentamento

Preparo da palma para alimentação animal

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