O Cristianismo Como Projeto Civilizatório

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    O Cristianismo como projeto civilizatório

    Frei Betto

    Adital

    Conferência na Academia Brasileira de Letras – Colóquio "Sociedade e Espiritualidade” – 15 demaro de !1#

    $ Brasil % um pa&s de matri' crist() *er+unte,se a um -omem ou mul-er do po.o como % a sua.is(o de mundo e/ certamente/ se escutar0 uma resposta tecida em cate+orias reli+iosas)

    $ cristianismo/ em sua .ers(o católica/ c-e+ou ao nosso pa&s de raos dados com o pro2etocoloni'ador portu+uês) 3nte+rar,se 4 ci.ili'a(o/ tal como a conceia a *en&nsula 3%rica/ eratornar,se crist(o) Esta a osess(o mission0ria de Anc-ieta anular as con.ic6es reli+iosas os

     po.os ori+in0rios da terra rasilis/ consideradas idólatras/ para introdu'ir o cristianismo se+undoa teolo+ia europeia ocidental/ em uma a+ress(o 4 cultura ind&+ena)

    $s coloni'adores trou7eram os africanos como escra.os) Estes tin-am que se sumeter ao atismo para entrar no inferno aqui na 8erra/ so a promessa de que/ em dóceis 4 .ontade e aos per.ersos capric-os dos rancos/ -a.eriam de merecer o *ara&so celestial como recompensa)*re+a.a,se 9esus crucificado 4 sen'ala/ para que se resi+nasse aos atro'es sofrimentos/ e oSa+rado Cora(o de 9esus 4 casa +rande/ para que arisse seus cofres 4s oras da 3+re2a)

    A flauta e a hóstia consagrada

     :o in&cio do s%culo ;;/ um padre destinado a catequi'ar uma aldeia do ;in+u ficou indi+nado

    ao constatar que o ritual reli+ioso centra.a,se numa flauta tocada pelo 7am(/ cu2a m

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    $s orientais se equi.ocam por confessionali'ar a pol&tica/ como se as pessoas se di.idissementre crentes e n(o crentes ou adeptos da min-a f% e os demaisD) $ra/ o marco di.isor da popula(o mundial % a in2ustia que se+re+a dos il-6es de -aitantes)

    *or sua .e'/ os ocidentais cometem +ra.e erro ao pretender impor a todos os po.os/ pela fora e pelo din-eiro/ seu paradi+ma ci.ili'atório fundado na acumula(o da rique'a/ no consumismo ena propriedade pri.ada acima dos direitos -umanos)

    Cristianismo à imagem e semelhança do capitalismo

    ?uitos de nós/ presentes nesta sala da Academia Brasileira de Letras/ somos fil-os e fil-as dos%culo ;;/ e nascemos em fam&lias católicas) Fomos ati'ados e crismados/ fi'emos a *rimeiraComun-(o/ aprendemos a re'ar e a ter de.o(o a santos e santas)

    Esse cristianismo se casa.a perfeitamente com a moral ur+uesa que di.orcia.a o pessoal dosocial/ o pri.ado do p

    8odas as na6es escra.ocratas da modernidade eram crist(s) Eram crist(s as na6es que promo.eram o +enoc&dio ind&+ena na Am%rica Latina) H crist(o o pa&s que cometeu o mais+ra.e atentado terrorista de toda a -istória/ ao calcinar mil-ares de pessoas com as omasat=micas de iros-ima e :a+asaIi) Eram crist(os os +o.ernos que defla+raram as duas +randes

    +uerras do s%culo ;;) $stenta.am o t&tulo de crist(s as ditaduras que/ no s%culo passado/ proliferaram na Am%rica Latina/ patrocinadas pela C3A) S(o crist(os os pa&ses que maisde.astam o meio amiente) Como s(o crist(os os que mais produ'em porno+rafia e aastecem onarcotr0fico) S(o crist(s muitas na6es/ como o Brasil/ na qual a desi+ualdade social % +ritante)

    e que diaos de cristianismo estamos falando> Certamente n(o daquele que refletiria a pr0ticae os .alores testemun-ados por Cristo)

    Jesus veio fundar uma religio!

    Fomos educados na ideia de que 9esus .eio fundar uma reli+i(o ou uma 3+re2a) 3sso n(o condi'

    com o que di'em os e.an+el-os de ?ateus/ ?arcos/ Lucas e 9o(o/ as principais fontes sore a pessoa de 9esus)

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    Em todos os quatro e.an+el-os a pala.ra 3+re2a ecclesia/ em +re+oD aparece apenas duas .e'es/e assim mesmo em um

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    Ele .eio nos alertar o mundo que eus quer tem esse perfil/ essas caracter&sticasQ ?undo noqual n(o -0 e7clu&dos/ famintos/ in2ustiados) ?undo no qual a solidariedade reina sore acompetiti.idade e a reconcilia(o sore a .in+ana)

    Esse pro2eto de eus/ anunciado por 9esus/ tem a sua centralidade/ n(o em eus/ mas no ser -umano/ ima+em e semel-ana de eus) Só na rela(o com o pró7imo se pode amar/ ser.ir ecultuar eus)

    $s mission0rios que coloni'aram a Am%rica Latina queimaram ind&+enas/ como o caciqueatueK/ em Cua/ por cultuarem outro deus que n(o o dos crist(os) $ra/ 9esus n(o pre+ou aosfariseus e saduceus um outro eus/ diferente daquele cultuado pelos 2udeus no 8emplo de9erusal%m) *re+ou que o ser supremo para o ser -umano % o ser -umano) Em ?ateus !5/ J1,#/9esus se identifica com o faminto/ o sedento/ o imi+rante/ o desnudado/ o enfermo e o prisioneiro) E frisa que ser.e a eus quem lierta o pró7imo de um mundo que produ' essasformas de opress(o e e7clus(o)

    *ortanto/ o que 9esus .eio introdu'ir entre nós n(o foi uma 3+re2a ou uma no.a reli+i(o) Foi um

    no.o pro2eto ci.ili'atório/ aseado no amor ao pró7imo e 4 nature'a/ e na partil-a dos ens da8erra e dos frutos do traal-o -umano) Rma no.a ci.ili'a(o em que todos seriam inclu&dosco7os/ ce+os/ -ansenianos/ mendi+os e prostitutas) E na qual a .ida/ dom maior de eus/ seria por todos desfrutada em plenitude)

    Como alcanar tal pro2eto ci.ili'atório> 9esus acentuou nitidamente que para isso % precisorenunciar/ como .alores ou meta de .ida/ o ter/ o pra'er e o poder/ simoli'ados nos episódiosdas tenta6es sofridas por ele no deserto Lucas / 1,1JD) E ao contr0rio do que se sup6e/ quemo fa' encontra o que todo ser -umano mais anseia/ a felicidade ou/ nos termos do E.an+el-o/ a em,a.enturana/ e7plicitada por 9esus em oito .ias que imprimem sentido altru&sta 4s nossas.idas ?ateus 5/ J,1!D) 0 que ser solid0rio com os e7clu&dos/ como o om samaritanocompassi.o/ como o pai do fil-o pródi+o despo2ado/ como a .i