O cuidado integral em Lucas 15

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Faculdade Refidim Pós-Graduação Lato Sensu em Aconselhamento Cristão Teologia do Cuidado Prof.: Ms. Egon Wutzke Aluno: Joary Jossué Carlesso ATITUDES DE CUIDADO EM LUCAS 15 Como cuidador, Jesus recebia os pecadores e comia com eles, havia o encontro de Jesus com os marginalizados. Receber e comer juntos era algo significativo: representava cuidado, acolhimento, comunhão, partilha, presença, atenção e interesse para com o próximo. Porém os fariseus, religiosos da época, murmuravam descontentes com a atitude do Senhor. Em resposta à murmuração, Jesus propõe três parábolas sobre perdidos e achados, para mostrar-lhes o valor das pessoas “perdidas”. Na parábola da ovelha perdida, Jesus demonstra o cuidado do pastor com uma ovelha que se perdeu do seu rebanho. Seus ouvintes estavam familiarizados com o caso tratado, pois a ovelha era um bem econômico para as pessoas da época. Apesar de ter outras noventa e nove, ele não se acomoda, pois considerava a ovelha valiosa. Então ele deixa as demais em segurança, porém, em sentido de urgência, vai em busca da perdida até encontrá-la. Notamos aqui o cuidado do pastor no sentido de ir em busca da ovelha, isto é, não deixa-la à mercê dos perigos. O cuidado de Deus é manifesto na valorização, no dar importância, se interessar e se ocupar em trazer de volta quem se perdeu, aquele que se encontra desamparado. É o contrário do que faziam muitos religiosos da época (segundo Lucas 10), que passavam se largo diante dos problemas dos outros para não se comprometer. E, quando a ovelha é achada ocorre uma festa de celebração. Jesus continua o sermão contando a parábola da dracma perdida. Alguns comentaristas sugerem que a dracma fazia parte do dote da mulher, e, se assim fosse, representava sua liberdade e seus direitos, pois as servas e concubinas não possuíam dote. A preocupação dela não era apenas com o valor monetário, mas com o valor simbólico ou sentimental. Por isso ela empreende todos os esforços necessários (varre a casa, acende a candeia e procura) para achar a moeda. Após encontrar, comemora também com uma festa. O cuidado nesta parábola é representado pelo valor conferido a esta dracma. Para o cuidado acontecer, é necessária a valorização do outro como sujeito, como um ser que precisa e tem direito ao cuidado. A seguir, Jesus ocupa a maior parte do capítulo 15 para contar a parábola do filho pródigo. Pródigo significa aquele que dissipa os seus bens. Foi exatamente o que fez o filho mais moço da história ali relatada. Ele pega sua parte da herança, vai para uma terra distante, gasta tudo dissolutamente e quando a fome chega começa a

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Análise textual de Lucas 15 na ótica da teologia do cuidado.

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Faculdade Refidim

Pós-Graduação Lato Sensu em Aconselhamento Cristão

Teologia do Cuidado

Prof.: Ms. Egon Wutzke

Aluno: Joary Jossué Carlesso

ATITUDES DE CUIDADO EM LUCAS 15

Como cuidador, Jesus recebia os pecadores e comia com eles, havia o

encontro de Jesus com os marginalizados. Receber e comer juntos era algo

significativo: representava cuidado, acolhimento, comunhão, partilha, presença,

atenção e interesse para com o próximo. Porém os fariseus, religiosos da época,

murmuravam descontentes com a atitude do Senhor. Em resposta à murmuração,

Jesus propõe três parábolas sobre perdidos e achados, para mostrar-lhes o valor das

pessoas “perdidas”.

Na parábola da ovelha perdida, Jesus demonstra o cuidado do pastor com uma

ovelha que se perdeu do seu rebanho. Seus ouvintes estavam familiarizados com o

caso tratado, pois a ovelha era um bem econômico para as pessoas da época. Apesar

de ter outras noventa e nove, ele não se acomoda, pois considerava a ovelha valiosa.

Então ele deixa as demais em segurança, porém, em sentido de urgência, vai em

busca da perdida até encontrá-la. Notamos aqui o cuidado do pastor no sentido de ir

em busca da ovelha, isto é, não deixa-la à mercê dos perigos. O cuidado de Deus é

manifesto na valorização, no dar importância, se interessar e se ocupar em trazer

de volta quem se perdeu, aquele que se encontra desamparado. É o contrário do que

faziam muitos religiosos da época (segundo Lucas 10), que passavam se largo diante

dos problemas dos outros para não se comprometer. E, quando a ovelha é achada

ocorre uma festa de celebração.

Jesus continua o sermão contando a parábola da dracma perdida. Alguns

comentaristas sugerem que a dracma fazia parte do dote da mulher, e, se assim fosse,

representava sua liberdade e seus direitos, pois as servas e concubinas não possuíam

dote. A preocupação dela não era apenas com o valor monetário, mas com o valor

simbólico ou sentimental. Por isso ela empreende todos os esforços necessários (varre

a casa, acende a candeia e procura) para achar a moeda. Após encontrar, comemora

também com uma festa. O cuidado nesta parábola é representado pelo valor conferido

a esta dracma. Para o cuidado acontecer, é necessária a valorização do outro como

sujeito, como um ser que precisa e tem direito ao cuidado.

A seguir, Jesus ocupa a maior parte do capítulo 15 para contar a parábola do

filho pródigo. Pródigo significa aquele que dissipa os seus bens. Foi exatamente o

que fez o filho mais moço da história ali relatada. Ele pega sua parte da herança, vai

para uma terra distante, gasta tudo dissolutamente e quando a fome chega começa a

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padecer necessidades. Ao se tornar agregado de um criador de porcos, ele trabalha ele

deseja comer o que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada. Aqui ocorre o

primeiro descuido ou descuidado. Ele começa a sofrer. Então ele cai em si e lembra

do cuidado do seu pai para com os empregados, que dava-lhes alimento farto. Em

seguida, se arrepende de seus erros e decide retornar ao lar. Quando seu pai o viu ao

longe, se compadeceu, correu ao seu encontro, o abraçou e o beijou. Aqui o cuidado

é manifesto na compaixão, misericórdia, ternura e afeto do pai – que simboliza

Deus.

O cuidado acontece também na recepção do filho. O pai usou todas as

estratégias para que o filho chegasse e permanecesse em casa. Mandou os servos

trazerem a melhor roupa e o calçado – cuidado com a saúde e a dignidade do filho.

Colocou o anel no dedo – cuidado com a autoestima – pois o anel representava sua

filiação, ele não deveria se sentir um escravo. E o bezerro cevado serviu como

alimento para o filho – cuidado do corpo – e também como prato principal da festa

de boas vindas, para que o filho não se sentisse um estranho dentro de casa.

O capítulo continua mostrando o descuido do irmão mais velho. Para ele

pouco importava o bem estar do irmão. Sua atitude, de não participar da festa, revela

ciúmes, amargura e indiferença para com o sofrimento alheio. O pai demonstra o

cuidado com o mais velho quando sai da festa para conciliá-lo. Apesar do egoísmo,

o filho mais velho tinha sempre o pai com ele, e tudo o que o pai tinha era dele.

Enquanto o irmão mais velho trata o mais novo como “esse teu filho”, o pai o trata

como “esse teu irmão”. O pai diz a ele: “era preciso que nos regozijássemos e nos

alegrássemos, porque esse teu irmão estava morte e reviveu, estava perdido e foi

achado”. Jesus finaliza assim a parábola dando a entender que os fariseus não

deveriam ser hostis ou indiferentes com os pecadores, que Jesus veio buscar e salvar.

A indiferença hostil é a causa do descuido, mas o amor incondicional é a

motivação do cuidado integral.

Pr. Joary Jossué Carlesso

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