O debate acelera a inteligência

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O debate acelera a inteligência Sociedade de Debates da UFSC O argumento é a maneira pela qual tentamos convencer os outros a aceitarem o nosso ponto de vista. A verdade não é única: todos nós a vemos de forma diferente e argumentamos para que essas visões sejam as aceitas por aqueles ao nosso redor. Quando o outro discorda e argumenta de volta, surge o debate. Este nasce em razão da discordância de visões e da existência de argumentos. Um diálogo em que há ideias distintas, mas não há discordância nem argumentos, não é um debate; mas uma discussão ou conversa. O debate é batalha intelectual cuja vitória é de difícil verificação, já que o valor dos argumentos utilizados é subjetivo. Se o debate consiste em argumentar, e a qualidade de um argumento depende não só do interlocutor, mas também do ouvinte, então o vencedor do debate dependerá do ouvinte questionado. Não há debatedor perfeito. Há, no máximo, debatedores muito bem ajustados aos ouvintes. O que torna hábil um debatedor aos olhos de um destinatário específico dependerá deste último. Posto isso, como pode o debatedor se aprimorar, sendo capaz de estruturar seu discurso para atingir tanto um público específico quanto uma generalidade de ouvintes? Para tanto, o debatedor precisa ser inteligente. O conceito de inteligência sempre abrangeu as mais diversas definições, sendo a relevância de um aspecto dependente da perspectiva do estudo. Em uma análise modesta, pode-se dizer que ela é associada à memorização, à sensibilidade, ao controle emocional, à capacidade de uso da lógica, à criatividade e até mesmo à capacidade de planejar. Na prática, um bom debatedor consegue unir todas essas características, adequando seu discurso ao ouvinte e ao tema. Ele é capaz de recordar-se das informações relevantes que acumulou para inserir conteúdo ao discurso. É apto a ter sensibilidade emocional para identificar o destinatário e adaptar as palavras ao seu

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Texto da SdDUFSC na Folha Acadêmica do Curso de Direito da UFSC.

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O debate acelera a inteligência

Sociedade de Debates da UFSC

O argumento é a maneira pela qual tentamos convencer os outros a aceitarem o

nosso ponto de vista. A verdade não é única: todos nós a vemos de forma diferente e

argumentamos para que essas visões sejam as aceitas por aqueles ao nosso redor.

Quando o outro discorda e argumenta de volta, surge o debate. Este nasce em razão

da discordância de visões e da existência de argumentos. Um diálogo em que há ideias

distintas, mas não há discordância nem argumentos, não é um debate; mas uma

discussão ou conversa.

O debate é batalha intelectual cuja vitória é de difícil verificação, já que o valor

dos argumentos utilizados é subjetivo. Se o debate consiste em argumentar, e a

qualidade de um argumento depende não só do interlocutor, mas também do ouvinte,

então o vencedor do debate dependerá do ouvinte questionado. Não há debatedor

perfeito. Há, no máximo, debatedores muito bem ajustados aos ouvintes.

O que torna hábil um debatedor aos olhos de um destinatário específico

dependerá deste último. Posto isso, como pode o debatedor se aprimorar, sendo capaz

de estruturar seu discurso para atingir tanto um público específico quanto uma

generalidade de ouvintes? Para tanto, o debatedor precisa ser inteligente.

O conceito de inteligência sempre abrangeu as mais diversas definições, sendo

a relevância de um aspecto dependente da perspectiva do estudo. Em uma análise

modesta, pode-se dizer que ela é associada à memorização, à sensibilidade, ao

controle emocional, à capacidade de uso da lógica, à criatividade e até mesmo à

capacidade de planejar.

Na prática, um bom debatedor consegue unir todas essas características,

adequando seu discurso ao ouvinte e ao tema. Ele é capaz de recordar-se das

informações relevantes que acumulou para inserir conteúdo ao discurso. É apto a ter

sensibilidade emocional para identificar o destinatário e adaptar as palavras ao seu

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gosto. É criativo ao introduzir novas ideias e, assim, fazer o ouvinte ter diferentes

percepções mesmo sobre um assunto conhecido. É capaz de planejar os elementos

dentro do tempo do seu discurso para apresentá-lo de forma contundente. E, por fim, é

capaz de usar a lógica para ligar todos seus argumentos, tornando a sua exposição

íntegra.

Ainda assim, geralmente se concebe a inteligência como um talento – algo nato

e imutável. O intelecto com o qual você nasce seria o mesmo intelecto com o qual

você morre, somado a um pouco de experiência e cultura. Mas se detalharmos o

conceito nas características mencionadas, não seria a inteligência a mera junção de

habilidades perfeitamente desenvolvíveis através do debate?

O ditado popular ensina que a prática leva a perfeição. Para a inteligência, isso

pode não ser verdade. Debater não tornará sua memória perfeita e tampouco sua

sensibilidade e criatividade isentas de falhas. Mas a prática, com certeza, leva ao

aperfeiçoamento. Quanto mais se utiliza uma ferramenta, mais acostumado se fica com

ela. Esqueça-a em um canto e um dia irá achá-la enferrujada. Utilize-a constantemente

e, quando desejar, irá encontrá-la afiada.