O Debate Criação X Evolução da Escola

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O Debate Criao X Evoluo na EscolaHaller Elinar Stach SchnemannCentro Universitrio Adventista de So Paulo

I- O Debate Histrico Julho de 1925, a pequena cidade de Dayton, Tennessee, tornou-se palco de um julgamento famoso na histria dos Estados Unidos. Conhecido popularmente como o "julgamento do macaco", o caso Scopes versus Estado de Tennessee trouxe fama para a pequena cidade relacionando-a como emblema da grande polmica entre os segmentos religiosos protestantes mais conservadores e as correntes liberais e secularizadas da sociedade estadunidense. O julgamento se instalou quando um 'professor' de cincias foi acusado de ensinar a evoluo na escola da localidade. O professor acusado foi condenado pela corte do condado, alguns anos aps sem muito alarde ele foi absolvido, devido a justificativa de erro na conduo do processo que resultou em sua condenao. Este episdio tm sido focalizado no debate entre Cincia e Religio, como um fato da oposio Religio s verdades cientficas, principalmente, quando estas, como no caso da teoria da evoluo, pe em xeque algumas crenas firmemente estabelecidas, como a Criao Especial e a Queda. Normalmente, o "julgamento do macaco", relembrado quando existe a vitria de movimentos religiosos sob movimentos anti-religiosos. Muito citado, pouco compreendido, este "julgamento" smbolo da arena onde o debate pr ou contra a religio tem sido muito importante: a escola. O "julgamento do macaco" ganhou grande destaque nos jornais da poca. De um modo geral a grande impressa estadunidense satirizou o evento como um bizarro comportamento dos sulistas, visto como ridiculamente conservadores. Boa parte das manchetes e charges dos jornais ironizavam sobre o 'atraso' intelectual da tentativa de proibir o ensino de evoluo nas escolas pblicas dos estados do Sul estadunidense. Antes que o evento fosse esquecido, em 1958, o filme Inherit the Wind, relembra o episdio dando um novo flego para a polmica desconhecida da nova gerao. Como costuma acontecer, a verso cinematogrfica deu alguns coloridos ao julgamento que no correspondiam aos fatos histricos do evento. No filme, os religiosos so apresentados como fanticos, belicosos, desejosos de linchar o acusado, um simples professor promovendo o ensino da evoluo, alm de serem incentivados por um pregador fantico. A considerao do caso importante para uma reflexo atual, quando desejamos focalizar o debate criao X evoluo no contexto escolar. O episdio foi armado com o intuito de testar a fora das leis proibindo o ensino da evoluo nas escolas pblicas do Sul dos Estados Unidos. Aps a Primeira Guerra Mundial, o movimento fundamentalista protestante marcou uma definida oposio as idias que foram identificadas por muitos lderes como sendo as causadoras da horrvel guerra europia. Vrios lderes afirmavam que o expansionismo alemo estava fundamentado em Nietzsche e na doutrina evolucionista. Esta idia, no fundo equvoca, cooperou para dar a fora a cruzada fundamentalista, que conseguiu que a partir da dcada de 20 que vrios estados do Sul proibissem o ensino da evoluo nas escolas pblicas. O Estado de Tennesse promulgou esta lei em 1925. Esta foi considerada a mais abrangente das leis anti-evoluo que estavam sendo aprovadas pelos legislativos estaduais. A ACLU - American Civil Liberties Union- contrrio a qualquer proibio legal que tivesse motivao religiosa decidiu organizar um teste da fora da lei anti-evolucionista. George W. Rappelyea, membro da ACLU no Tennessee e editor de um jornal local ofereceu apoio legal para aqueles que ousassem desafiar a lei. O jovem John T. Scopes aceitou o desafio. Em pouco tempo, foi

2formulado uma queixa contra Scopes, e comeou o famoso julgamento, que tornou por doze dias a pequena Dayton, Tennessee, a localidade mais importante dos Estados Unidos. O promotor da causa fundamentalista foi William Jennings Bryan, que j havia participado do governo do presidente Woodrow Wilson. Destacou-se como um dos grandes defensores do movimento fundamentalista e favorvel as leis de proibio do ensino da evoluo. Do lado oposto, estava Clarence Darrow, conhecido advogado e feroz combatente do movimento fundamentalista, que aceitou defender gratuitamente ao jovem Scopes. O julgamento durou alguns dias, porque vrias testemunhas foram alistadas para o debate. O caso no foi centrado sobre Scopes, mas realmente sobre o valor da Bblia em oposio ao valor do conhecimento cientfico, no caso a evoluo. O resultado foi a condenao de Scopes a multa por desobedincia a Butler Act, a lei anti-evoluo. Este acontecimento no foi uma vitria do fundamentalismo. Aps isto nenhum outro estado mais aprovou leis contra o ensino de evoluo, na realidade apenas, Mississipi e Arkansas, mantiveram a fora de lei similares por muitas dcadas. O debate do tema parecia ter sido encerrado, pelo constrangimento dado aos fundamentalistas pela grande imprensa, pela tentativa de barrar por fora de lei o ensino de evoluo na escola pblica. A partir da dcada de 60 o debate Criao x Evoluo ganhou novas foras nos Estados Unidos. A fundao do movimento do Criacionismo Cientfico , junto a publicao da obra Genesis Flood, em 1961, deu uma nova diretriz ao debate. Na dcada de 80 e 90, surgiram nos Estados Unidos novas controvrsia sobre o ensino nas escolas pblicas do tema das Origens nos cursos de Cincias. A situao, agora estava inversa, poderia ser ensinada a Criao Especial no curso de Cincias, ou este um tpico religioso? Os casos ocorreram em Louisiana, Arkansas e at na California. Apesar de algumas vitrias iniciais o movimento criacionista perdeu o direito de igualdade de tratamento para a Criao e Evoluo, nos cursos de Cincias, por deciso da Corte Suprema dos Estados Unidos, em 1991. Mesmo assim, aps este ano o movimento Criacionista Cientfico ainda obteve algumas vitrias parciais, em mbito das juntas educacionais dos condados. A controvrsia entre Evoluo e Criao tem encontrado um espao privilegiado na Escola. Qual a razo desta controvrsia estar na escola? Qual a implicao e a postura que a escola crist deve ter neste tema? Este tema deve ser estendido para a escola pblica aqui no Brasil? Na tentativa, de responder estas questes precisamos considerar a histria do movimento criacionista nos Estados Unidos, e seus reflexos no Brasil. II - As relaes entre Criacionismo e Fundamentalismo. impossvel estudar corretamente o Criacionismo sem compreender o Fundamentalismo. Esta palavra est carregada de sentido pejorativo, sendo usada como sinnimo de radicalismo ou atraso intelectual, aplicando-se muito freqentemente aos islmicos. No entanto, o Fundamentalismo em sua acepo original um movimento essencialmente cristo protestante e estadunidense que marca o pensamento cristo diante essencialmente do sculo XX. O Fundamentalismo surge progressivamente a partir de um sentimento de ameaa que invade a vida religiosa nos Estados Unidos no fim do sculo XIX e incio do sculo XX. Na Europa o sculo XVIII marcado pelo Iluminismo. O Iluminismo o movimento filosfico, cientfico, histrico, artstico e at teolgico a favor da Razo humana, em oposio ao papel da religio revelada e eclesistica no domnio da vida humana. A oposio do Iluminismo no era a qualquer tipo de religio, mas essencialmente quelas que pretendiam ter verdades reveladas, como no caso do Cristianismo. O conceito de Deus do Iluministas foi denominado de Desmo, caracterizado por retomar o deus racional dos gregos como causa primeira, e se afastando do Deus testa, isto , pessoal da tradio judaco-crist. As idias iluministas chegaram aos Estados Unidos e foram

3decisivas para a Independncia e a elaborao da Constituio. A marca fundamental da Constituio dos Estados Unidos a separao entre Igreja e Estado. Princpio defendido pelos iluministas e por uma parte dos protestantes menores na formao inicial dos Estados Unidos, como batistas e quakers. (Johnson, 1999) Apesar da presena do Iluminismo nos Estados Unidos, a principal caracterstica deste perdo foi a forte presena de movimentos religiosos reavivacionistas, que colaboraram para manter o pensamento bblico tradicional como uma importante fora poltica e intelectual. Enquanto, a Teologia europia, principalmente a da Alemanha centralizava-se nos problemas textuais e histricos da Bblia, a teologia nos Estados Unidos voltava-se mais intensamente para as questes da experincia religiosa subjetiva e pessoal. Os movimentos reavivacionistas so o produto mais importante desta teologia prtica. De um modo geral este movimentos foram muito intensos, sendo que apenas a questo da abolio da escravatura provocou uma pausa de cerca de duas dcadas nos reavivacionistas. No perodo ps guerra civil, o movimento reavivacionista esteve centralizado na figura do grande pregador Moody, e sua teologia excessivamente individualista e subjetiva. Ao mesmo tempo o surgimento da Teologia do Evangelho Social, que apresenta uma viso de nfase social e no individual na religio recebe vigoroso ataque do segmento que se organiza em torno dos "fundamentos da verdadeira f crist". Estes "fundamentos" foram crenas percebidas pelos conservadores como sendo essenciais para manter a genuinidade e integridade da f crist, diante da fora do liberalismo intelectual. Comea em torno disto se organizar um movimento em que v no desenvolvimento da alta e baixa crtica grandes ameaas as verdades bblicas. Uma importante fora contra as crenas bblicas veio das idias darwinistas da origem das espcies, por um processo de evoluo naturalista. Assim, o movimento de oposio ao liberalismo religioso, que aceitava parcialmente o Evolucionismo, foi organizado naquilo que denominaram de Fundamentalismo. O ataque evoluo biolgica, passou a ser a bandeira de proa do Fundamentalismo e ficou conhecido como Criacionismo. ( Numbers, 1992). O Fundamentalismo protestante embora possa ter crenas muito diferentes entre si, podemos afirmar que seu matiz central a crena que "a Bblia o seu prprio interprete". Esta premissa apresentada no Fundamentalismo, como sendo um conceito que pode ser compreendido a partir da leitura da prpria Bblia. No entanto, de uma perspectiva da Filosofia, est sendo assumido a priori alguns elementos que so trazidos pela filosofia do Senso Comum. Este dado significativo, pois indica a aceitao de uma epistemologia ingnua, que no se ajusta as epistemologias contemporneas. Tomando "a Bblia como seu prprio intrprete", o Fundamentalismo defende categoricamente no apenas a Criao, como tambm exige que esta Criao siga com rigor, o apresentado no texto bblico, isto uma Criao em uma Semana Literal. Entendendo-se que todas as obras foram feitas em seis dias, uma vez que o stimo dia constitui-se em um "sbado" e este se reveste de um carter moral e espiritual indispensvel para o crescimento da Humanidade. O Criacionismo no segue apenas a lgica da defesa da idia de Deus, como Criador, questo que no negado essencialmente pelo Evolucionismo, mas insiste que Deus criou conforme a narrativa bblica. O Criacionismo deve e precisa ser reconhecido no apenas como um movimento que tenta defender o papel do conceito de Deus no conhecimento cientfico, mas verdadeiramente, como um movimento que tenta defender a veracidade da Bblia como revelao divina para o homem, apresentando um Deus Criador e que revela a Sua Criao. Por esta razo, o Criacionismo tem centrado seu ataque em todos os aspectos da evoluo biolgica ou de qualquer outra cincia que possa por em xeque a literalidade da Bblia.. As consideraes e bandeiras do Criacionismo esto organizados em duas vertentes bsicas. A primeira, defende rigorosamente que todo o conhecimento necessrio est na Bblia, e o conhecimento cientfico, essencialmente, uma oposio

4ao conhecimento revelado. Este grupo se manifesta intensamente em grupos radicais, que negam qualquer possibilidade de que a cincia sobretudo as sociais, possam estabelecer verdades confiveis. A outra vertente, defende que existe uma harmonia entre a Cincia e a Bblia, uma vez, que a natureza - objeto de estudo da Cincia e a Bblia teriam o mesmo Autor- Deus, assim todas as incompatibilidades seriam aparentes ou decorrentes do equvoco do conhecimento cientfico ou eventualmente da interpretao de algum texto bblico, usado fora de seu contexto. Este segundo grupo apresenta uma atitude mais integradora, e boa parte deste reconhecem o valor do conhecimento das cincias, pelos menos o das cincias naturais. (Brand, 1996). Em suma, o Criacionismo um movimento essencialmente religioso, que deseja opor-se no a cincia em si, mas a todo conhecimento que reduza o papel da Bblia na definio de verdades. Os grandes defensores do Criacionismo, normalmente tem se organizado em sociedade criacionistas, para organizar uma viso de mundo compatvel com a Criao bblica, e algumas poucas destas sociedade tem realmente desenvolvido o que se poderia chamar de pesquisa cientfica a partir do modelo criacionista. O maior destaque deste modelo o Geoscience Research Institute, mantido pela IASD, no Estado da Califrnia, EUA. At a dcada de 1920, o Criacionismo assumia plenamente sua origem e proposta religiosa. Quando aps a Segunda Guerra Mundial, a separao entre Estado e Igreja nos Estados Unidos passou por um intenso processo de secularizao, o movimento criacionista reorganizou-se como a proposta de um Criacionismo cientfico, onde as bandeiras do movimento passaram a ser defendidas por especialistas em cincias e no mais por religiosos que se opunham evoluo. importante, porm, ressaltar que a motivao intrnseca do Criacionismo religiosa, na defesa dos valores da f crist e da Bblia. III - A Cincia na Escola - ensino do pensamento cientfico ou do pensamento materialista? O papel relevante que as Cincias possuem hoje no currculo escolar, pode obscurecer o fato de que at talvez um sculo atrs, o papel atribudo as Cincias fosse muito menor. O aumento do conhecimento cientfico nos ltimos 150 anos, principalmente associado ao desenvolvimento tecnolgico e ao emprego nos empreendimentos de poder, quer capitalista, ou comunista, tornou a Cincia um aspecto central do ensino. Hoje presente no currculo de, provavelmente, qualquer pas. O ensino de Cincias passa a merecer um lugar de destaque visto como um elemento fundamental na capacitao do educando para o trabalho, bem como a importncia de construir a racionalidade do pensamento moderno. Calcado em uma tica positivista e materialista, o ensino de Cincias passou a ser visto como um elemento fundamental na superao do conhecimento religioso - normalmente tido como superticioso e obscuro. A Cincia, a aplicao da racionalidade ao estudo experimental da Natureza, foi percebido como estabelecendo um novo paradigma para o sucesso da Humanidade. verdade que as duas grandes guerras do sculo XX colocaram em dvida a possibilidade da Cincia ser sempre bem empregada, mas no erradicou o sentimento de confiana na Cincia e de sua superioridade em relao Religio. O pensamento da Evoluo segue uma trajetria quase paralela a expanso da Cincia a ponto de alguns confundirem os dois conceitos. A palavra Evoluo, significa literalmente "progredir, aperfeioar", visto como o antnimo da palavra "involuo". O surgimento de idias evolucionistas so bastante antigas, remontando pelo menos os atomistas na Antiga Grcia, em tempos mais recentes podemos falar que a "evoluo" comea a ser um conceito usado a partir do sculo XVIII. Os Iluministas viam a possibilidade do uso da razo, sobrepujando a f na revelao, como fonte de evoluo social e do ser humano. A crena no progresso da Humanidade, isto evoluo j est presente bem claro no pensamento filosfico do sculo XVIII. Algumas destas evidncias podem ser ricamente

5encontrados no campo da Filosofia em autores como Hegel, Feuerbach, Hume, Kant, Marx, entre outros... A primeira influncia destes conceitos foi a prpria Teologia, em especial a alem, que assume o conceito de uma evoluo religiosa, de coleo de tradies diferentes, na composio da Bblia, e a desconfiana quanto a experincia objetiva da Revelao. Hume, por exemplo, prope que a religio teria surgido a partir do medo dos primeiros seres humanos em relao as foras irracionais e assustadoras da natureza, a qual sua vida estavam completamente sujeitos. Hegel, concebe a realidade dialeticamente em um movimentos de tese, anttese e sntese, onde esta sntese constitui o sentido da Histria e do desenvolvimento humano. Enfim, a idia de Evoluo social antecipa em parte as idias da Evoluo biolgica que logo so desenvolvidos, por cientistas como Lamarck, e depois Darwin. A proposta da Evoluo biolgica proposta de Darwin, era bem mais elaborada do que a de Lamarck, e progressivamente foi ganhando aceitao no meio acadmico, mas especificamente o que props Darwin? As propostas de Darwin podem ser sintetizadas da seguinte forma: (1) a grande diversidade de seres vivos resultado de processos naturais, na interao do ser vivo com o ambiente, (2) as mudanas so gradativas e lentas, e aquelas que no so teis para o ser vivo, so eliminadas pelo processo de seleo natural, (3) estes processos podem explicar toda a variedade de vida existente na Terra. (Ratzsch, 1996). Se a proposio 3 verdadeira, ento Deus est dispensando como explicao necessria para a origem da vida. A proposio 3 passou a ser um elemento importante para um grupo crescente de cientistas, que reconheciam no materialistmo, a nica possibilidade de construo do pensamento cientfico. Assim, a evoluo passou a ser vista para este como uma demonstrao fundamental, da "dispensabilidade" de Deus, nos processos biolgicos a serem estudados pela Cincia. Progressivamente o ensino de Cincias, incorpora no apenas os conceitos e descobertas da Fsica, Qumica ou Biologia, mas passa a trabalhar com pressupostos evolucionista na formao da vida e do Universo. Progressivamente, nas aulas de Cincias, boa parte das idias materialistas so passadas como sinnimo de Cincia. A forma do ensino tradicional de Cincias, pode ser visto da seguinte forma: as grandes descobertas cientficas estavam aguardando para serem 'descoberta', os cientistas responsveis pela 'descoberta' cooperara para retirar a humanidade da ignorncia. De certa forma, ridiculariza o pensamento anterior como no-cientfico (Brand 1996). O ensino de Evoluo, notadamente nos cursos de Biologia, Histria e Geografia, tem marcado por apresentar a palavra evoluo de forma vaga e imprecisa, mas sempre presumidos como vlidos e cientficos. Na Biologia atual, evoluo est mais para simples mudana, de que mudanas para melhor. O sentido da evoluo na Histria, muitas vezes, percebido como um fluxo de acontecimentos na formao de uma civilizao, cada vez mais complexa, embora esta no seja uma garantia de sobrevivncia. A evoluo passa em muito momentos a ter um sentido estrito de mudana, e em outras ocasies trata deste conceito como sendo necessariamente de um aperfeioamento inevitvel ao qual a "Natureza" estaria sujeita. O ensino de Cincias passa a ocupar um espao de endoutrinamento anti-religioso muitas vezes. Na realidade, quando as diversas descobertas cientficas e experincias so colocadas descontextualizdas da perspectiva histrica e social, acaba produzindo uma "obviedade" da verdade cientfica, que no havia sido descoberta ainda pelo conhecimento no cientfico, justamente pelos obstculos da religio. Um exemplo, que ilustra bem est situao a questo do Geocentrismo X Heliocentrismo no sculo XVI e XVII. Normalmente, a colocao deste episdio a religio demonstrada como se opondo ao conhecimento cientfico. De fato, o caso de Galileu foi mais que um simples

6confronto entre cincia e religio. (Brand, 1996, Rossi, 1992). A proposta geocntrica defendida pelos religiosos e astrnomos at o sculo XVI, no consistia em uma tese religiosa, mas cientfica, ainda que validada pela Teologia, fato normalmente obscurecido nos textos do ensino de Cincias... Outra constatao, porm, que os psiclogos da educao tem feito, que apesar do ensino cientfico ser ministrado desde as sries iniciais as crianas, estas de um modo geral, mesmo aps a concluso do ciclo bsico de educao formal ainda, costumeiramente mantm, posies muito mais prximas do senso comum, do que o pensamento cientfico. (Gardner, 1994). Um exemplo bsico desta situao, identificar a baleia, como "peixe" ao invs, de mamfero, devido ao seu habitat, ser aqutico e no terrestre. Outro aspecto pode ser visto como atribuindo intencionalidade no funcionamento de um rgo. A questo levantada pelos educadores tm demonstrado, que embora seja possvel ensinar as crianas a pensarem cientficamente, isto , estabelecendo hiptese, e realizando experimentos para verificar estas hipteses, de um modo geral, o educando recebe a informao cientfica, com o mesmo grau de arbitrariedade, que recebe qualquer outra informao. Evidentemente, este processo impede a correta compreenso do conceito. Alm do mais, medida em que o conceito cientfico est mais distante do "senso comum", mais dificilmente ele compreendido. Este aspecto no se restringe apenas ao conhecimento cientfico das Origens, mas a todos os segmentos da cincia. Este um aspecto importante, porque o Ensino de Cincias, mais do que levar o aluno a crer na Evoluo ou na Criao, precisa levar o aluno a compreender a essncia do conhecimento experimental e da observao sistemtica, e por extenso, seus limites e competncias. A preocupao expressada por muitos evolucionistas que o ensino de Cincias em um vis criacionista pode impossibilitar o progresso do conhecimento cientfico, carece de uma fundamentao slida. Primeiro, que na avaliao do conhecimento cientfico entre educandos de nvel mdio, no se encontrou co-relao entre a abordagem evolucionista ou criacionista no ensino de Cincias e o baixo nvel de compreenso. Segundo,a maior partes destes ataques, partem de cientistas ateistas ou agnsticos, que vem a cincia, como um campo de defesa, da suas ideologias particulares, o que evidentemente, tambm, um uso equivocado. O uso da Cincia como uma ferramenta ideolgica quer para difundir o Materialismo ou o Criacionismo, no nos parece adequado. Embora, no exista cincia neutra, a fora do uso da cincia, esta em sua possibilidade de maior objetividade vm pela discusso cientfica e no pelo trabalho do cientista em si. (Popper, 1993). Assim, a recusa prvia de uma discusso honesta sobre o trabalho cientfico empobrece as Cincias e o seu ensino. O ensino de Cincias deve ser capaz de estabelecer no educando a noo do 'fazer' cincia. Elaborar o conhecimento cientfico, no com base em "mitos" modernos, mas sim no manuseio correto do pensamento e do instrumental cientfico na busca da verdade. O ensino de Cincias que permita a compreenso histrica do pensamento do cientista e como ele pode interpretar os resultados de seu experimento so fundamentais, para a formao da mentalidade cientfica abrangente e crtica. IV - A Batalha das Origens Crer que Deus est do seu lado em uma guerra uma fator fundamental para a agresso ao oponente. Crer que o oponente est ao lado do diabo um fator consequente do primeiro. Tomamos, esta idia em um sentido figurado, a medida em que o debate da Criao X Evoluo, tem sido uma batalha entre fundamentalistas cristos e atestas. Supor que todo evolucionista est do lado do diabo, e que todo o criacionista est ao lado de Deus, tem produzido uma batalha intensa, sobretudo, nos Estados Unidos, mas acima de tudo, uma guerra onde quase todos os idelogos de ambos os lados demonstram pouco conhecimento da causa que combatem, principalmente tomando

7como critrio a Filosofia da Cincia, o campo onde se insere com propriedade este debate. Em nossa opinio a apologia parece estar na base do erro. Embora todo pesquisador, no fundo, seja um apologista, identificamos um tipo de apologia a priori, marcado pelo maniqesmo, que normalmente rejeita qualquer reconhecimento de erros em sua argumentao para averiguar mais intensa a questo debatida. A literatura de livros criacionistas combatendo a Evoluo, e livros evolucionistas combatendo a Criao, mostram um constante mal-uso da cincia, da filosofia da cincia, e da prpria lgica. Estes abusos so feitos porque cada um tem certeza de que "Deus est do seu lado", e portanto, sendo o seu lado verdadeiro, tudo vlido para provar sua tese. H falsas provas desenvolvidas por ardorosos evolucionistas, como tambm por apaixonados criacionistas. Consideramos fundamental para evitar que este ciclo se perpetue, esclarecer alguns dos equvocos usados por ambos os lados na "guerra das origens" para em seguida propor um papel construtivo sobre as Origens no ensino escolar confessional e, qui, no pblico, tambm. Crticas equivocadas dos Criacionistas a Evoluo (1) Evoluo uma mera teoria - no fato; (2) Evoluo no pode ser provada; (3) Evoluo no " falsificvel"; (4) Grande quantidade de fatos anmalos que a evoluo no pode explicar; (5) Processos evolutivos no so observveis; (6) Cincia no pode investigar as origens; (7) Evoluo no pode ser reproduzida ou repetida. (Ratzsch, 1996) Crticas equivocadas dos Evolucionistas ao Criacionismo (1) Se h uma referncia a um conceito sobrenatural fere-se o limite da cincia; (2) Criacionistas so todos iguais, tm conceitos ultrapassados e no entendem o processo evolutivo, por esta razo discordam da evoluo; (3) A Bblia, por ser um livro religioso, no pode ser usado como fonte de idias para a cincia; (4) Criacionistas no compreendem o funcionamento das regularidades e desejam voltar ao Deus-das-brechas. (5) O Conceito de Deus intrinsecamente uma idia religiosa. (Ratzsch, 1996) A apresentao da comparao anterior permite nos perceber um terreno comum na confuso. 1) Definir o que cincia e o que no , constitui-se num exerccio bastante desafiante e no fundo impossvel de ser feito precisamente. A tentativa de limitar cincia ao puramente o factual, por um lado, ou somente dentro do naturalismo, traar limites indevidos. A Cincia uma forma de conhecimento, com um centro metodolgicos bem definido: a experimentao e a observao rigorosas. No entanto, a extenso do conceito de rigor pode ser aplicado de diversas formas. Alm do que muito difcil de definir corretamente o que cincia. Muitas coisas nas reas de fronteiras podem ser acusados de pseudocincia, sem isto ser um ttulo cabvel. Alm disso, a acusao de certas idias como pseudocincia, como o criacionismo cientfico, no invalidam necessariamente seus posicionamentos, por no serem estritamente cientficos.

82) Evitar que crenas to fundamentais como a existncia de Deus ou no, e Deus se revelar, ou no, levam a posicionamentos desfavorveis a formao das habilidades cientficas do educando, ao mesmo tempo, que produzem intolerncias. A atitude de alguns evolucionistas que consideram que quem entende a evoluo no pode ter dvidas sobre elas ( Daniel Denett), apresenta j por si s, uma posio intolerante e prconceituosa, inaceitvel em uma sociedade pluralista como a nossa. 3) O fato de a Cincia ter um compromisso na busca da verdade deve evitar se utilizar dela para defender questes j previamente estabelecidas, mesmo que possam ser indiscutivelmente verdadeiras para aquele que prope, antes o uso na confeco dos dados deve aceitar os rigores do mtodo, e saber quando se sai do mbito estritamente cientfico, para o filosfico e perceber o valor do debate, procurando refletir de modo construtivo e no destrutivo sobre as diferenas. 4) Grande parte do debate s ocorre, porque os oponentes no estabelecem um dilogo coerente de modo a possibilitar uma compreenso mtua e a correo de definies prconceituosas. Desta forma poderiam perceber que h muito terreno comum entre as duas abordagens da cincia do que diferenas, afastando assim a presuno que se o outro entendesse seu lado, inevitavelmente mudaria de lado, erro presente tanto entre evolucionistas como criacionistas. V. O Ensino de Cincias, de Religio e Origens de forma positiva. O tema das Origens, complexo em sua natureza, pode estar presente na Escola? Como abordar? Se pensarmos, no caso da Escola Crist precisamos considerar alguns fatos importantes e que so importantes para serem considerados, mesmo para o ensino noconfessional. A proposta do ensino de Cincias, oferecer ao educando a compreenso da racionalidade dos processos encontrados na Natureza. Esta previsibilidade e possibilidade de estudo, constatada e assumida por qualquer um que deseja "fazer cincia". O ensino de Cincias deseja apresentar as teorias, que permitem o uso positivo da Natureza para o ser humano, ao mesmo tempo que apresenta como estas teorias foram formuladas, pois na sua formulao demonstrvel, ainda que transitria, que resiste a grande fora da Cincia, para a produo de tcnicas e procedimentos favorveis, ainda que a Cincia no tenha de ter um carter utilitrio para ser cincia. A proposta do ensino de Religio, oferecer ao educando a compreenso do Sagrado e do Transcendente. No caso da Escola Crist, a mediao entre o finito e Infinito, feito atravs da Bblia, considerado como texto sagrado por excelncia, por ser baseado em revelaes divinas e na inspirao dos seus escritores. O estudo sistemtico e minucioso constitui o guia mais seguro para que o Sagrado e o Infinito Deus, possa ser compreendido...Esta compreenso segue de deveres religiosos: adorao e deveres morais: compromisso com o outro. O ensino da Bblia assim deve no buscar tambm nenhuma posio prvia ( os famosos textos-provas), mas sim no aprendizado do texto enquanto revelador do Infinito, como um convite para o ser humano compreender aquilo que O transcende, o Seu Criador. As Origens apresentam um campo de interseco entre a Cincia e a Religio seja qual for a abordagem que for seguida. Interseco no significa igualdade. Assim h posicionamentos Criacionistas, que pertencem exclusivamente ao mbito da Religio e dentro deste aspectos devem ser entendidos. Por outro, lado h posicionamentos Criacionistas, que pertencem ao mbito da Cincia e que precisam ser entendidos dentro deste referencial. Tomamos um exemplo, o Dilvio um posicionamento religioso do Criacionismo. A crena em catstrofes ou uma grande caststrofe como explicao da atual paisagem terrestre pertence ao mbito da Cincia, e neste mbito deve ser considerado... Talvez as

9diferenas sejam tnues, mas importante as estabelecermos. Apenas na seqncia desta distino, se a Arca de No, ainda existe, e se um dia for encontrada, em nada a descoberta provaria a veracidade do Dilvio. Mesmo, que os modelos geolgicos possam ser explicados em algum momento por uma nica catstrofe, que no momento no o podem, ainda isto no provaria a veracidade do Dilvio, porque este evento pertence ao mundo da religio, enquanto razo de ser: destruir a humanidade pecaminosa, e dar uma segunda chance, a humanidade. Este aspecto s faz sentido no mbito da religio. Insistir em ensinar a Semana da Criao em cincias um equvoco. A Semana da Criao no pode ser provada pela cincia. Esta questo pertence ao universo religioso, a demonstrao da impossibilidade de vida surgir a no ser da vida, pertence ao conhecimento da cincia. A vida como portadora de desgnio, ao mesmo tempo sujeito a eventos casuais, pertence a cincia. Como construir um ensino de Cincia e um ensino de Religio bblica, que coopere para o crescimento intelectual e espirtual do educando? Necessitamos primeiramente ter uma correta compreenso da Cincia e da Teologia. Ambos so conhecimentos humanos. A Cincia se debrua sobre a natureza e tenta compreend-la. A Teologia se volve para os textos sagrados e procura interpret-los fielmente. As afirmaes de ambos tende a ser por um lado permanentes enquanto mtodo, e so transitrias quanto a contedos. O reconhecimento de que no a religio sem Teologia, fundamental, para evitar o equvoco fundamentalista que existe uma leitura da Bblia, que no seja teolgica, e portanto, fora do texto. Assim, ao mesmo tempo em que o ensino de Cincias, deve buscar o desenvolvimento do uso correto do mtodo de compreenso da natureza, que requer uma permanente abertura aos problemas ainda no-resolvidos, tambm, o ensino de Religio, no caso da escola crist, tendo como objeto de estudo a Bblia, deve conduzir a uma compreenso da verdade bblica em seu sentido histrico e depois na aplicao para os contextos atuais. A elaborao de um ensino de Origens, que respeite a Cincia e a Teologia, podem assim construir, um ambiente favorvel para o desenvolvimento do educando e desta forma tambm auxiliar na despolitizao do tema, e fortalecer a busca da verdade neste campo. O tema das Origens s faz sentido quando deixa de se uma bandeira ideolgica, e passar a ter um sentido pessoal dos compromisso decorrentes de como percebemos e cremos ser a origem da humanidade, e em certo sentido, a origem pessoal. A histria da vida pessoal, dos traumas , das fantasias, e do cultivo da memria, s fazem sentido, quando ela nos ajudam a ser pessoas mais felizes e mais integradas, assim o ensino do tema das Origens s faz sentido se traz um significado pessoal ao educando, fora disto um guerra com pouca razo de ser, a no ser a prpria paixo dos belingerantes, na demarcao de um poder. Em suma, a presena do ensino do Criacionismo na Escola s faz sentido, quando ele respeitando e construindo os saberes cientfico e religioso, permitir uma viso integrada do conhecimento, ao mesmo tempo que humilde suficiente para reconhecer todas as suas limitaes, mas oferecer o principal que a viso integradora da vida para o educando, onde o debate Criao X Evoluo, no apresenta em si mesmo nenhuma relevncia. Portanto, ao mesmo tempo em que o estudo de Origens no neutro, a mera endoutrinao prejudicial. Acima de tudo consideramos que o Fundamentalista cristo no ensino do Deus Criador, no confie demasiadamente na cincia para firmar os seus crentes, afinal a f necessita ser construida em outra base - a relao de obedincia Deus.

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