O Desejo de Educar e de Ser Professor · Anexo IX - Questionário de sensibilidade estética -...

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O Desejo de Educar e de Ser Professor - Relatório de Estágio Profissional - Relatório de Estágio Profissional apresentado para a obtenção do 2º Ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário ao abrigo do decreto lei nº 74/2006 de 24 de Março e do decreto lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro. Professor Orientador: Professor Doutor José Mário Cachada Ricardo de Jesus Porto, Setembro de 2016

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O Desejo de Educar e de Ser Professor

- Relatório de Estágio Profissional -

Relatório de Estágio Profissional apresentado para a obtenção do 2º Ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário ao abrigo do decreto lei nº 74/2006 de 24 de Março e do decreto lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro.

Professor Orientador: Professor Doutor José Mário Cachada

Ricardo de Jesus

Porto, Setembro de 2016

II

de Jesus, R. J. S. (2016). O Desejo de Educar e ser Professor. Porto: R. Jesus.

Relatório de estágio profissionalizante para a obtenção do grau de Mestre em

Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, apresentado à

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Palavras-chave: EDUCAÇÃO FÍSICA, ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO ESTÉTICA.

III

“Educar para compreender matemáticas ou uma tal disciplina é uma coisa; educar para a compreensão

humana é outra.”

(Morin, 2002, p.99)

V

Dedicatória

Agradeço à família e amigos a imprescindível ajuda, sem vocês não teria sido possível…

MUITÍSSÍMO GRATO

VII

Agradecimentos

Neste longo caminho percorrido pelo mundo da Educação quero agradecer e

evidenciar todos aqueles que direta ou indiretamente estiveram presentes

neste percurso.

Ao professor orientador Doutor José Mário Cachada, quero agradecer além do

reconhecimento pela orientação e direcionamento técnico do percurso

desenvolvido em todo o estágio realizado, a proximidade afetiva motivadora de

todo o meu empenho no mesmo.

À professora cooperante Paula Águas pelo sua amizade e profissionalismo ao

longo do EP.

Aos professores e funcionários da FADEUP, bem como, as restantes

instituições pela qual passei, que me acompanharam antes e durante o

MEEFBS continuando desta forma a usufruir de uma formação para me tornar

um bom profissional da educação.

Aos professores e funcionários do AESH, nomeadamente o professor Doutor

Eduardo Santos, o professor Hugo Silva, a professora Deolinda Barros, a

professora Ana Bento e o professor João Magalhães.

Aos meus colegas de MEEFBS em especial ao André Cabral e ao Diogo Lopes

pelos laços de amizade consolidados.

Aos meus amigos, em especial ao André Oliveira, ao António Oliveira (in

memoriam) e à Sara Pereira sem estes a resiliência teria sido mais dolorosa.

E finalmente aos meus pais pelo amor e pela educação transmitida.

Juntamente com as pessoas acima supracitadas quero agradecer de forma

emocional e também racional, sem vocês não teria sido possível.

O meu sincero obrigado.

IX

Índice Geral

Dedicatória ........................................................................................................ V

Agradecimentos ............................................................................................. VII

Índice Geral ...................................................................................................... IX

Índice de Figuras ........................................................................................... XIII

Índice De Tabelas .......................................................................................... XV

Índice de Anexos ......................................................................................... XVII

Resumo ......................................................................................................... XIX

Abstract ......................................................................................................... XXI

Lista De Abreviaturas ................................................................................ XXIII

1. Introdução .................................................................................................. 1

2. Dimensão Pessoal ........................................................................................ 3

2.1. Reflexão Auto Bibliográfica ........................................................................................... 3

2.2 Expectativas do Estágio Profissional ............................................................................ 6

3. Enquadramento da Prática Profissional..................................................... 9

3.1. Enquadramento Legal .................................................................................................... 9

3.2. Enquadramento Institucional ...................................................................................... 11

3.3. Enquadramento Funcional .......................................................................................... 12

3.3.1. Breve Caracterização da Escola ......................................................................... 12

3.3.2. Caracterização da turma (6ºH) ............................................................................ 14

4. Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem ............................ 17

4.1. Conceção ....................................................................................................................... 18

4.2. Preparação, a base e sustentação do processo ..................................................... 20

4.2.1. Planeamento .......................................................................................................... 20

4.3. Realização ..................................................................................................................... 24

4.3.1. O inicio do (Des)envolvimento relacional com os alunos ................................ 25

4.3.2. Pormenores das Modalidades Coletivas Lecionadas ...................................... 34

4.3.2.1. Voleibol ................................................................................................................ 34

4.3.2.2. Basquetebol ........................................................................................................ 43

4.3.2.3. Futsal ................................................................................................................... 49

4.3.2.4. Andebol ................................................................................................................ 51

4.3.3. Pormenores na lecionação das Modalidades Individuais ............................... 54

4.3.3.1. Atletismo .............................................................................................................. 54

4.3.3.2. Ginástica de Solo ............................................................................................... 64

X

4.3.3.3. Ginástica de Aparelhos ..................................................................................... 68

5. Participação na Escola e Relações com a Comunidade ......................... 71

5.1. Introdução ...................................................................................................................... 71

5.2. Desporto Escolar .......................................................................................................... 72

5.2.1. Corta-mato .............................................................................................................. 72

5.2.2. Mega-Sprinter ........................................................................................................ 73

5.2.3. XVIII Torneios Desportivos Inter-Escolas Matosinhos .................................... 75

5.3. Atividades do AESH ..................................................................................................... 77

5.3.1. Cicloturismo ............................................................................................................ 77

5.3.2. II Sarau do AESH .................................................................................................. 78

5.4. Projetos do Núcleo de Estágio ................................................................................... 80

5.4.1. Workshop de Malabarismo realizado na EBSH ............................................... 80

5.4.2. Manhãs “D” ............................................................................................................. 81

5.4.2.1. Manhã D .............................................................................................................. 81

5.4.2.2. II Manhã D ........................................................................................................... 82

5.4.3. Pintura Mural do Pavilhão Gimnodesportivo ..................................................... 85

5.5. Projetos “Individuais” .................................................................................................... 86

5.5.1. Ligação com o Edulink.......................................................................................... 86

5.5.2. Projeto de Teatro Escolar para o II Sarau da AESH ....................................... 87

5.5.3. Workshop de Malabarismo realizado na Escola Secundária Gaia Nascente

............................................................................................................................................. 88

5.5.4. Semana da Leitura – Interdisciplinaridade ........................................................ 90

5.5.5. Tutoria realizada a um aluno ............................................................................... 91

5.6. Conclusão ...................................................................................................................... 93

6. A educação Estética nas aulas de Educação Física ............................... 95

6.1. Introdução ...................................................................................................................... 96

6.2. Revisão da Literatura ................................................................................................... 98

6.3. Metodologia ................................................................................................................. 101

6.3.1. Amostra ................................................................................................................. 101

6.3.2. Instrumentos de recolha ..................................................................................... 101

6.4. Apresentação e discussão dos resultados ............................................................. 107

6.5. Considerações finais .................................................................................................. 124

7. Conclusões e perspetivas futuras .......................................................... 127

8. Referências Bibliográficas ...................................................................... 129

9. Anexos ................................................................................................... XXV

Anexo I - Questionário individual do aluno ..................................................................... XXV

XI

Anexo II - Questionário de sensibilidade estética ........................................................ XXVI

Anexo III - Questionário de apreciação estética na avaliação diagnóstica da corrida

de velocidade ..................................................................................................................... XXIX

Anexo IV - Questionário de sensibilidade estética na modalidade de atletismo –

visão lateral ......................................................................................................................... XXX

Anexo V - Questionário de sensibilidade estética na modalidade de atletismo - visão

traseira ................................................................................................................................ XXXI

Anexo VI - Questionário de apreciação estética na modalidade de basquetebol com

o exercício 3X1 ................................................................................................................. XXXII

Anexo VII- Questionário de apreciação estética na modalidade de basquetebol com

o exercício 3X3 ................................................................................................................ XXXIII

Anexo VIII - Questionário de sensibilidade estética - ginástica – avião ................. XXXIV

Anexo IX - Questionário de sensibilidade estética - ginástica - salto em extensão

............................................................................................................................................. XXXV

Anexo X - Questionário sobre práticas culturais ........................................................ XXXVI

XIII

Índice de Figuras

Figura 1 - Cartaz com trabalhos realizados pelos alunos .................................................. 29

Figura 2 - Parte da unidade didática da modalidade de voleibol ...................................... 35

Figura 3 - Parte da avaliação diagnóstica da modalidade de voleibol ............................. 36

Figura 4 - Parte do plano de aula nº10 - modalidade voleibol .......................................... 37

Figura 5 - Parte do plano de aula nº5 - voleibol .................................................................. 39

Figura 6 - Parte da avaliação diagnóstica de basquetebol ................................................ 44

Figura 7 - Parte de um plano de aula da Modalidade de basquetebol ............................ 47

Figura 8 - Parte do registo da avaliação sumativa da modalidade de basquetebol ...... 48

Figura 9 - Parte do plano de aula nº88 – modalidade de andebol ................................... 52

Figura 10 - Parte do plano de aula nº32 da modalidade atletismo ................................... 57

Figura 11 - Avaliação sumativa – atletismo .......................................................................... 58

Figura 12 - Folha de registo da avaliação sumativa – corrida velocidade ...................... 61

Figura 13 - Parte do plano de aula nº77 ............................................................................... 62

Figura 14 - Parte do plano de aula nº83 ............................................................................... 63

Figura 16 - Frequência de resposta relativa à dedicação a manifestações culturais

como participantes ................................................................................................................. 107

Figura 17 - Frequência de resposta relativa a manifestações culturais - espectador . 108

Figura 18 - Frequência de resposta relativa à visualização de programas televisivos 109

Figura 19 - Frequência de resposta relativa à escola de perspetivas na corrida de

velocidade................................................................................................................................ 114

Figura 20 - Frequência de resposta da seleção das categorias nas três perspetivas. 115

Figura 21 - Percentagem de seleção de categorias em duas perspetivas ................... 116

Figura 22 - Apreciação estética da prestação em dois momentos ................................. 119

Figura 23 - Prevalência de categorias da apreciação estética do salto em extensão 121

Figura 24 - Prevalência de categorias da apreciação estética do avião no banco sueco.

................................................................................................................................................... 122

Figura 25 - Pontuação atribuída na apreciação estética da coreografia de grupo ...... 123

Figura 26 - Prevalência de categorias da apreciação estética da coreografia de grupo.

................................................................................................................................................... 124

XV

Índice De Tabelas

Tabela 1 - Estatísticas descritivas (média, desvio padrão, minino e máximo).

Comparação entre dois momentos de avaliação e três modalidades ........................... 110

Tabela 2 - Frequência de ocorrência das categorias em três modalidades em dois

momentos de avaliação. ....................................................................................................... 111

Tabela 3 - Comparação da apreciação estética entre dois tipos de perceção ............. 117

Tabela 4 - Comparação da apreciação estética de dois momentos de avaliação ....... 118

Tabela 5 - Comparação entre autoavaliação e heteroavaliação - ginástica ................. 120

Tabela 6 - Comparação entre autoavaliação e heteroavaliação – avião no banco sueco

................................................................................................................................................... 122

XVII

Índice de Anexos

Anexo I - Questionário individual do aluno ......................................................................... XXV

Anexo II - Questionário de sensibilidade estética ............................................................ XXVI

Anexo III - Questionário de apreciação estética na avaliação diagnóstica da corrida de

velocidade ............................................................................................................................... XXIX

Anexo IV - Questionário de sensibilidade estética na modalidade de atletismo – visão

lateral ........................................................................................................................................ XXX

Anexo V - Questionário de sensibilidade estética na modalidade de atletismo - visão

traseira .................................................................................................................................... XXXI

Anexo VI - Questionário de apreciação estética na modalidade de basquetebol com o

exercício 3X1 ......................................................................................................................... XXXII

Anexo VII- Questionário de apreciação estética na modalidade de basquetebol com o

exercício 3X3 ........................................................................................................................ XXXIII

Anexo VIII - Questionário de sensibilidade estética - ginástica – avião ..................... XXXIV

Anexo IX - Questionário de sensibilidade estética - ginástica - salto em extensão ... XXXV

Anexo X - Questionário sobre práticas culturais ............................................................ XXXVI

XVIII

XIX

Resumo

O Estágio Profissional é o espaço por excelência onde é possível por em

prática tudo quanto foi absorvido ao longo da formação inicial da profissão

docente. Assume-se assim como o culminar de uma etapa importante no

percurso do estudante e futuro professor, reclamando deste modo uma reflexão

crítica e exaustiva de todo o processo. Este documento tem como principal

objetivo retratar todo o caminho percorrido, sustentado na reflexão crítica das

vivências decorrentes enquanto estudante estagiário durante o ano letivo

2015/2016 na Escola Básica da Senhora da Hora, em Matosinhos. Tendo este

documento um carácter pessoal são evidenciados pormenores que considero

relevantes para a minha aprendizagem enquanto estudante estagiário. O

relatório está organizado em seis capítulos: o primeiro capítulo diz respeito à

introdução do documento onde se contextualiza o mesmo; o capitulo seguinte

“Dimensão Pessoal” é pautado pela descrição do meu percurso pessoal e

profissional, bem como, as expectativas relativas ao estágio profissional; de

seguida, no terceiro capítulo procurou-se contextualizar o estágio profissional

através do enquadramento da prática profissional que compreende o

enquadramento legal, institucional e funcional; No quarto capítulo abordou-se

de modo exaustivo e reflexivo todo o desenvolvimento do estágio recorrendo às

reflexões realizadas ao longo do ano, bem como, à literatura emergente. No

capítulo seguinte espelhou-se toda a envolvência no projeto educativo e na

comunidade escolar durante este trajeto, através da participação ativa nas

atividades curriculares e extracurriculares da escola, bem com, na sugestão e

criação de novas atividades lúdico-desportivas; o sexto capítulo compreende o

estudo de investigação-ação centrado em questões da sensibilização estética

dos alunos no Desporto, através da inclusão desta componente em três

modalidades lecionadas: basquetebol, atletismo e ginástica. O leitor poderá

então ficar a par das vivências didático-pedagógicas e de todas as relações

efetivadas que permitiram que o ato de educar as crianças e jovens através do

desporto fosse realizado com o sucesso desejado.

Palavras-chave: EDUCAÇÃO FÍSICA, ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO

ESTÉTICA.

XXI

Abstract

The professional internship is an important opportunity to introduce into the

practice the knowledge acquired during the teaching professional education

process. In sense of this, it is the most important stage in the undergraduate

student journey, i.e. the future teacher, that require a critical and extensive

reflection about the academic process. This document aims to describe all the

academic process and journey, based on a critical reflection of the experiences

as a trainee during the school year 2015/2016 in the Basic School Senhora da

Hora, in Matosinhos. Since the personal characteristic of this work, it was

highlighted some information that are thought to be relevant to my learning

process as a trainee. The present report is organized into six chapters: the first

chapter presents the introduction of the work, with its contextualized; the next

chapter, "Personal Dimension", contains the description of my personal and

professional journey, as well as my expectations concern the professional

internship; in the third chapter, it was tried to present the professional internship

through the framework of professional practices, comprising the legal,

institutional and functional framework; in the fourth chapter, it was introduced,

with quite details and in a reflective mode, all the stages that comprised the

development of the internship, by the use of the reflections realized throughout

the year, and also by the use of the existent literature. The next chapter

showed the trainee involvement in the educational project and in the school

community during the internship, through the active involvement in mandatory

and also in extracurricular activities in the school, as well as given suggestions

and creating new recreational and sports activities; the sixth chapter comprises

the action-research study, focused on students aesthetic awareness in sports

by the inclusion this subject split into three different sports modalities:

basketball, athletics and gymnastics. Reader can then know and understand the

didactic-pedagogical experiences and also the relationships experienced that

allowed the process of “educating youth by sports” was carried out as desired.

Keywords: PHYSICAL EDUCATION, PROFESSIONAL INTERNSHIP,

AESTHETIC EDUCATION

XXIII

Lista De Abreviaturas

AESH - Agrupamento de Escolas da Senhora da Hora

EE - EstudanteEstagiário

EF - Educação Física

EP - Estágio Profissional

FADEUP - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

MAPJ - Modelo de Abordagem Progressiva ao Jogo

MCJI – Modelo de Competência nos Jogos de Invasão

MEC - Modelo de Estrutura do Conhecimento

MEEFBS- Mestrado em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário

MED - Modelo de Educação Desportiva

MID - Modelo de Instrução Direta

PC - Professora Cooperante

PO - Professor Orientador

RE - Relatório de Estágio

UD - Unidade Didática

1

1. Introdução

O relatório de estágio (RE) faz parte da unidade curricular estágio

profissional (EP), integrada no 2º ciclo de Ensino da Educação Física nos

Ensinos Básicos e Secundário (MEEFBS) da Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto (FADEUP). Este documento apresenta a minha

visão/perspetiva do EP que realizei, evidenciando todas as experiências que

considero relevantes documentar. Este documento foi realizado e orientado

pelo professor Doutor Orientador José Mário Cachada (PO).

O EP é o palco principal dando oportunidade aos professores

estagiários de iniciar o seu desenvolvimento profissional, por meio das suas

experiências e análise reflexiva da prática (Marcelo, 2009). De acordo com as

normas orientadoras do EP, este “tem como objetivo integrar no exercício da

vida profissional de forma progressiva e orientada, em contexto real,

desenvolver as competências profissionais que promovam os futuros docentes

com um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos desafios e

exigências da profissão” (Matos, 2015, p.3).

Decorre do anteriormente exposto que, este documento assume um

papel reflexivo, com o objetivo principal de retratar as aprendizagens e

vivências que decorreram no EP enquanto Estudante Estagiário (EE) no

presente ano letivo 2015/2016.

Para tal, este RE apresenta a seguinte estrutura: O primeiro capítulo

refere-se à dimensão pessoal, onde é descrito um pouco do meu percurso

pessoal e profissional, bem como, as minhas expectativas relativas ao EP

enquanto EE. O segundo capítulo compreende o enquadramento da prática

profissional, neste estão contidos o enquadramento legal, institucional e

funcional. Com o objetivo de dar a conhecer o contexto em que este EP se

insere, são aqui também abordados os aspetos relacionados com a escola

cooperante bem como a turma que ficou a meu cargo. O terceiro, quarto e

quinto capítulos são o cerne de todo o relatório uma vez que compreendem as

três grandes áreas de desempenho: Organização e Gestão do Ensino e da

Aprendizagem; o Desenvolvimento Profissional e a respetiva Participação na

Escola e Relações com a Comunidade. Aqui a abordagem assentará em tudo

quanto foi realizado desde a conceção até à avaliação, passando pela

2

realização e avaliação. Para tal, recorri sempre que necessário a todos os

momentos de reflexão que integraram a construção da minha identidade

profissional. E foi precisamente nesse processo que me senti sensibilizado

para a inclusão da "componente estética" nas aulas de Educação Física (EF)

como forma de potenciar o envolvimento dos alunos na referida disciplina e que

levou à necessidade da realização de uma pesquisa mais aprofundada acerca

da educação estética nas aulas de EF, temática apresentada através da

realização de um estudo de investigação-ação que decorreu durante a

lecionação do segundo período, com o intuito de desenvolver a componente

estética através da disciplina de EF mais precisamente através de desportos

coletivos e individuais (atletismo, basquetebol, ginástica) de modo a avaliar o

desenvolvimento, evolução e aprendizagem e o seu impacto/relação nos

alunos nas aulas de EF.

Por fim, no último capítulo, serão retratados os aspetos principais de

todo este processo, bem como, as perspetivas de um futuro que está quase a

“virar” presente.

Ser professor não é tarefa fácil, o desejo de o ser existe mas é preciso

bem mais do que desejo, as competências didático-pedagógicas são vitais para

que o desenvolvimento da profissão possa ser de excelência. As relações com

a comunidade escolar exige sempre muitíssima responsabilidade, disciplina,

dedicação, esforço, organização e resiliência para atingir os objetivos

educacionais.

A realização deste EP e tudo o que este englobou desde a

aprendizagem até à superação profissional permitiu-me aproximar do meu

desejo: de educar e de ser Professor.

3

2. Dimensão Pessoal

2.1. Reflexão Auto Bibliográfica

Gostaria de começar por transmitir as razões que me trouxeram até

aqui. Não somente a esta fase em que é necessário conceber o meu RE mas

sobretudo uma reflexão do meu percurso de vida, os caminhos que percorri até

chegar aqui.

O meu nome é Ricardo Jorge Sousa de Jesus, nasci no Porto, como

costumo dizer de uma forma irónica “decidi vir cá nascer”. Contudo, por razões

económicas e profissionais dos meus familiares passei por várias cidades, tais

como Coimbra, Leria, Ponta Delgada, Oradea (Roménia) e, vim “desaguar” ao

Porto à cerca de 20 anos. O que quero com isto transmitir é que não me sinto

única e exclusivamente de uma cidade, de um país ou de um território mas sim

de um planeta em constante movimento tal com o Homem. Aquilo que sou hoje

é o resultado de uma mistura de influências dos lugares por onde já passei

através dos cinco sentidos humanos.

Gostaria também de retroceder um pouco no tempo e começar por

relatar alguns momentos marcantes da minha infância, com o intuito de

argumentar a minha chegada ao 2º Ciclo em Ensino de Educação Física nos

Ensinos Básico e Secundário. As imagens que recordo da minha infância são

imagens muito diferentes da nossa sociedade atual. As horas livres eram

vividas nas ruas a brincar com os amigos, hoje trocadas por experiências em

torno da televisão, internet, jogos em formato tecnológico repleto de informação

e de efeitos audiovisuais. Neste sentido em relação à televisão Savater (2010,

p.99) afirma que, “o mal não é que transmita mitologias falsas e outros

embustes, mas o facto de desmistificar vigorosamente e de dissipar sem

contemplações as brumas cautelares da ignorância que costumam rodear as

crianças para que estas continuassem a ser crianças.” As atividades lúdicas no

nosso desenvolvimento enquanto crianças não deverão passar por um

relacionamento acentuado com a televisão. A descoberta do conhecimento

deverá ser através do corpo e de todos os seus sentidos. Felizmente desde

4

cedo que adquiri um estilo de vida saudável, a geração dos anos oitenta de um

modo geral não teve a mesma infância que as gerações seguintes. As corridas,

os jogos de futebol, as “pedaladas” na bicicleta, os jogos tradicionais como o

peão, a carica, etc., fizeram com que fosse fisicamente ativo em grande parte

dos meus dias, juntamente com familiares e amigos.

Na escola primária conheci e experimentei a natação, uma vez que fez

parte das atividades desportivas, outra das quais a patinagem. O desporto de

um modo mais formal apareceu aos 10 anos de idade com a iniciação no

andebol no Clube Académico de Leiria, no desporto escolar pratiquei andebol,

na equipa do Colégio Conciliar de Maria Imaculada situado em Leiria. Apesar

da experiência com esta modalidade ter sido relativamente curta, despertou e

alimentou a minha paixão pelo desporto, oferecendo-lhe significado positivo.

Depois do andebol não me filiei em nenhuma modalidade em especifico,

contudo, mantive sempre o contacto enquanto praticante de vários Desportos.

Na escola, básica e secundária, a EF era uma das disciplinas que sentia

mais apreço e entusiasmo. Contudo, as disciplinas relacionadas às artes

também fizeram parte do meu leque de disciplinas prediletas. O resultado

nessas mesmas disciplinas era claramente superior em relação às demais.

Os hábitos saudáveis e a prática de exercício físico na minha

adolescência, das amizades que me faziam acompanhar num lazer coletivo

carregado de dispêndio de energia, amizade e emoção fez-me aumentar o

amor pelo Desporto. O meio social, em que estive e me encontro envolvido,

fez-me de certo modo iniciar a prática da corrida de resistência com

regularidade bem como o convívio com atletas (de diversas modalidades)

assim como formadores e professores.

Assim de forma bastante sucinta posso dizer que o exercício físico a

partir da maior idade tem sido para mim um enorme escape à sociedade onde

vivo e também aos problemas/desafios que vou defrontando nesta sociedade

barbárie que apenas se preocupa com os bem-sucedidos. O exercício físico, o

Desporto e as artes, nomeadamente as circenses, são os dois pilares da minha

escolha pela via da educação. O gosto por educar e o contacto com públicos

diversos maioritariamente infantis começou com as artes circenses (o teatro de

rua, o malabarismo, o palhaço) que entraram na minha vida à cerca de 12 anos

e nunca mais saíram.

5

A experiência do trabalho com crianças e jovens a partir da animação

circense ampliou o meu gosto pela educação, a relação com os jovens, criaram

em mim um desejo pelo ato de educar, de construir um mundo melhor e com

resiliência talvez modificá-lo, sempre suportado com a ajuda de todos os que

tentam de forma digna por em prática a palavra Educação. Paulatinamente

senti a certeza que o meu futuro gostaria de ser ao lado dela, o desejo de

educar e ser professor de EF desenvolveu-se. Estou plenamente de acordo

com Mayor (2002, p.11) quando afirma que “A educação é a «força do futuro»

porque constitui um dos instrumentos mais poderosos para realizar a

modificação.”

A ligação destas duas áreas (educação através do desporto/ artes

circenses) fascina-me e motivou-me a obter mais formação, pois considero

serem uma ferramenta extremamente forte para utilizar na formação das

crianças e jovens. As atividades circenses como por exemplo o malabarismo

necessitam de um movimento pensado, refletido, treinado para que exista

sucesso em qualquer performance realizada. Essas atividades podem ser

utilizadas nas aulas de EF desenvolvendo valores estéticos fulcrais para o

desenvolvimento da sociedade atual de forma a estabelecer hiérarquias sobre

estes.

Deste modo, fazia todo o sentido envolver-me na área do Desporto na

vertente de ensino pelo que decidi ingressar na licenciatura em EF e desporto

no Instituto Superior da Maia, atual Instituto Universitário da Maia. Após a

conclusão da licenciatura na Roménia na cidade de Oradea através do

programa Erasmus, achei que a minha formação enquanto professor precisava

de ser melhorada, decidi que queria candidatar-me ao 2º Ciclo em Ensino de

Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, na FADEUP, por ser uma

faculdade de referência. Considerei que seria uma ótima opção para ampliar os

meus estudos na área da Educação tendo como base o Desporto, para

posteriormente, transportar para o terreno em que atuo sempre com o desejo

de estar próximo da escola. Paralelamente à minha formação na área do

Desporto, continuo a contactar quase que diariamente com crianças e jovens

através das artes circenses e teatro tanto no palco como na formação.

6

2.2 Expectativas do Estágio Profissional

Neste capítulo, apresento as expectativas para o estágio profissional no

âmbito do 2º ciclo em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário que foi realizado no Agrupamento de Escolas da Senhora da Hora

(AESH) mais precisamente na Escola Básica da Senhora da Hora (EBSH). A

presença da professora cooperane (PC) foi uma mais-valia, nomeadamente a

sua vasta experiência quer como docente como PC. Assim a sua ajuda foi

essencial para que encontrasse o caminho mais acertado, bem como, no

acompanhamento diário, de modo a esclarecer todas as dúvidas possíveis na

minha prática pedagógica e no meu envolvimento com a escola. Novidade foi a

relevância que as tarefas burocráticas têm no dia-a-dia do professor.

Nomeadamente planeamentos, regulamentos, reuniões etc. Apesar de

acreditar na necessidade vital de todos os procedimentos enquanto EE senti

apenas uma vontade imensa de conhecer os alunos e toda a comunidade

escolar em ação, com os professores de EF e os alunos em constantes

“tranfers” de aprendizagem significativas.

Um dos meus objetivos foi fazer parte integrante do sistema educativo

de forma positiva, isto é, em que o papel da disciplina de EF interpretada por

mim enquanto EE fosse capaz de fazer desenvolver não só a nível motor mas

também criar um desenvolvimento moral, pessoal e social, ético, estético de

modo a que exista um desenvolvimento humano acompanhado de

aprendizagens significativas em todos os alunos. O objetivo foi educar e

transformar o futuro destas crianças, investindo para uma maior equidade

social em termos éticos e morais. Educar através da EF não será apenas

transformar o físico, concomitantemente deverá obter um papel no

desenvolvimento pessoal, social e moral dos alunos. Segundo Rosado &

Ferreira (2011), a filosofia e os valores inerentes à EF e ao Desporto, apesar

de na maioria das vezes, se expressem, de modo despercebido, representam

mais do que o domínio das habilidades desportivas e de desenvolvimento

físico. São um projeto de educação integral de educação cívica, ética, de

desenvolvimento de competências de vida com aplicações fora dos muros do

Desporto e da atividade física. Segundo Freire (1996, p.37) "É por isso que

7

transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é

amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: "

o seu caracter formador".

Sendo um EE e tendo vivenciado de forma mais tácita e realista, em

primeiro plano com todos os procedimentos para um verdadeiro

desenvolvimento como profissional espero estar debruçado mais

“realisticamente” na verdadeira aprendizagem de ser Professor, com a

existência da ajuda de profissionais com experiência elevada na área

educacional desportiva, como por exemplo a PC, professora Deolinda Barros,

professora Ana Bento, professor João Magalhães, apaziguando toda a

ansiedade e clarificando todos os passos necessários para uma aprendizagem

eficiente no dia-a-dia. Esta reflexão sobre as minhas expectativas de EP traz

no meu entender um reforço para a consciencialização extremamente

importante que o professor tem na sua profissão, “A educação é sempre uma

tentativa de resgatar o semelhante da fatalidade zoológica ou da limitação

nauseante da mera experiência pessoal” (Savater, 2002, p.30). Educar para um

futuro melhor é sem dúvida o caminho que não será fácil, mas o desejo de o

conseguir é o primeiro passo para tal objetivo ser comprido. A sociedade só

existe devido ao processo de transmissão. É através da passagem dos hábitos

de fazer, construir e sentir, das pessoas mais velhas para as mais novas que

se processa a comunicação. Caso não se processasse a transmissão dos

ideais, esperanças, expectativas, padrões e opiniões daqueles irão

desaparecer mais cedo para aqueles que por cá andaram mais tempo a vida

social não sobrevivia (Formosinho, Boavida & Damião, 2013).

Urge a vontade de ensinar os mais novos, para que estes possam

construir ou melhor reconstruir de forma espantosa o futuro de amanhã, numa

força coletiva unida, transparente, justa, repleta de comportamento de valores

moldados inicialmente através da escola (professores) e mais tarde ensinados

pelos antigos alunos repletos de valores éticos, morais e estéticos que

permitam a sociedade ao invés de se desenvolver que evolua.

Para Llosa (2012, pp. 64-65) “agora somos todos cultos de alguma

maneira, ainda que não tenhamos lido nunca um livro, nem visitado uma

exposição de pintura, ouvido um concerto nem adquirido algumas noções

8

básicas dos conhecimentos humanísticos, científicos e tecnológicos do mundo

em que vivemos.”

O excesso de informação faz acreditar que as crianças, jovens e adultos que

são capacitados de uma intelectualidade cultural, sendo estes capazes de

opinar sobre qualquer tema que de forma lisonjeira passou pelos seus ouvidos,

olhos etc.

9

3. Enquadramento da Prática Profissional

3.1. Enquadramento Legal

O enquadramento legal faz parte do planeamento e elaboração do RE.

Este deverá ser assimilado pelo EE e deverá estar sempre presente antes,

durante e após do EP. Deste modo, o EE tem que estar elucidado sobre as leis

que estão definidas pelos seus superiores hierárquicos, por forma a ter

presente todas as burocracias basilares que se deve reger.

Assim, de forma a obter entendimento sobre os códigos que regulam e

norteiam a vida “profissional” do EE realizei um estudo que se incidiu nas

Normas Orientadoras do EP do Ciclo de Estudos Conducentes ao Grau de

Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da

FADEUP e pelo Regulamento da Unidade Curricular EP do Ciclo de Estudos

conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos

Básicos e Secundário da FADEUP aprovado pela Comissão Cientifica

constituída pela Professora Doutora Isabel Mesquita, Professor Doutor Ramiro

Rolim, Professora Doutora Paula Batista, Professora Doutora Paula Queirós e

presidida pelo Diretor do Curso, Professor Doutor Amândio Graça revisando

por último a estrutura e funcionamento do EP consideram os princípios

decorrentes do Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de março e o Decreto-lei nº

43/2007 de 22 setembro.

A habilitação como docente é obrigatória para a lecionação das aulas

como referencia o Artigo 3º do Decreto-lei nº 43/2007 de 22 fevereiro “A

habilitação profissional para a docência num determinado domínio é condição

obrigatória, o grau de mestre só alcança quem consegue a aprovação completa

das unidades curriculares que estão integradas no plano de estudo do

Mestrado, assim como a aprovação da defesa do relatório da unidade curricular

referente à prática de ensino supervisionada.” No Regulamento de Estágio

mais precisamente no Artigo 4º a prática de ensino supervisionada (PES) visa

“a integração no exercício da vida profissional de forma progressiva e orientada

em contexto real na escola cooperante fazendo deste modo desenvolver as

competências profissionais evoluindo o pensamento critico e reflexivo de forma

a se tornarem relevantes para o desempenho do seu papel enquanto EE.”

10

As competências da formação que o EE deverá alcançar vão ao

encontro da sua perfeita integração (com todos os erros/aprendizagens) no seu

desempenho profissional, estas estão inseridas no Artigo nº14 no Decreto-Lei

nº 4/2007. “A formação educacional geral, as didáticas específicas, a iniciação

à prática profissional, uma formação cultural social e Ética, formação em

metodologias de investigação educacional bem como a formação na área da

docência sempre com suportado por um pensamento critico.” Todas estas

formações aliadas às didáticas específicas juntamente com a iniciação à

prática profissional reúnem sem dúvida um enorme leque de modo a que o EE

possa experienciar uma vivência profissional com pouquíssima distância do

que esta profissão é na realidade.

A orientação da prática de ensino supervisionada é realizada por um

professor da FADEUP, denominado por PO e por uma professora da escola

cooperante, estes dois professores, PO e a PC tiveram o papel importante de

acompanhar e complementar todo o processo de ensino-aprendizagem do EE

de forma planeada, organizada e sempre com uma ética constante para que o

meu EP fosse um exemplo para toda a comunidade escolar, servindo esta e

aos seus superiores hierárquicos para um reavivar dos valores intrínsecos da

EF.

No que diz respeito às atividades letivas e não letivas que o EE deve

realizar, estas estão dependentes da EC, em consonância com a PC e o PO,

assim o EE poderá estar inserido no Projeto Educativo de Escola, no projeto

Curricular da Escola, o projeto de departamento que está conectado com o

grupo de EF, o projeto Curricular de EF, bem como o projeto do Desporto

Escolar. O EP é constantemente uma Prática de Ensino Supervisionada aliado

às formações que decorreram na FADEUP colmatando esta formação contínua

com a realização do RE.

Deste modo, o estágio supervisionado trata-se de um esforço coletivo

entre a FADEUP a EC, intermediado pelo PO, PC e o EE, cujo objetivo

principal deverá passar por conseguir inserir-se no coletivo (Escola) e procurar

a partilha, cooperação, transmissão de conhecimentos carregados por

reflexões que determinam um pensamento crítico e que de alguma forma lhe

proporcione autonomia de forma contextualizada ao contexto da escola

11

oferecendo respostas válidas aos alunos em cooperação com os professores

da EC.

3.2. Enquadramento Institucional

O EP no que diz respeito ao Enquadramento Institucional está

introduzido no 2º Ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino

de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da FADEUP, na

unidade curricular de EP referente aos 3º e 4º semestres do ciclo de estudos

em questão.

Segundo o Artigo 9.º do Regulamento da Unidade Curricular Estágio

Profissional o EP “funciona durante os terceiro e quarto semestres do 2º ciclo

de estudos, com início no dia 1 de Setembro e prolongam-se até ao final do

ano letivo das escolas básicas e secundárias onde se realiza o EP.”

Segundo as “Normas Orientadoras do Estágio Profissional” (Matos,

2015), este deverá incluir 3 áreas de desempenho, como referido na introdução

do presente RE, sendo elas:

Área 1 – “Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem”,

Área 2 – “Participação e Relações com a Comunidade”,

Área 3 – “Desenvolvimento Profissional”.

A Área 1 é caracterizada pelo percurso que o EE tem que realizar no

que toca ao processo de ensino-aprendizagem, ou seja, são todas as tarefas a

executar durante o ano letivo, no que diz respeito à intervenção no seio da

turma. Está relacionado com o processo de ensino-aprendizagem, da conceção

ao planeamento à realização da prática pedagógica e à avaliação do processo

de ensino-aprendizagem.

No que concerne à Área 2 esta engloba todas as atividades, sejam ou

não letivas realizadas pelos EE, utilizando estratégias de intervenção

orientadas por objetivos pedagógicos eficazes no processo educativo de cada

aluno na aula de EF, efetivando a integração do EE na escola de forma a

dinamizar a comunidade escolar e que esta contribua para um conhecimento

12

do meio regional e local da escola tendo em vista a realização de ações

promotoras de práticas sociais com relevância educativa.

Relativamente à Área 3, esta área está reservada ao desenvolvimento

profissional fornecendo ao EE uma experiência na área da investigação

científica, permitindo adotar hábitos de investigação, reflexão e ação.

3.3. Enquadramento Funcional

Em termos funcionais o EP trata-se de um projeto de formação que tem

como objetivo formar um professor profissional competente. A competência é

uma construção pessoal, vivida em situação, refletida e temporalmente viável

(Jonnaert, 2002).

A realização do EP decorreu na EBSH pertencente ao AESH em

Matosinhos. O NE foi constituído por mim, Ricardo de Jesus e pela minha

colega Teresa Correia, sob a orientação do PO e da PC.

As vivências que alimentaram a minha experiência enquanto EE foram

postas em prática com a lecionação da turma 6ºH, constituída por 25 alunos.

3.3.1. Breve Caracterização da Escola

A EBSH está localizada na Rua Quinta do Viso da freguesia de Senhora

da Hora, fazendo jus ao seu nome dado em homenagem à santa padroeira

desta localidade. Esta escola pertence ao concelho de Matosinhos, distrito do

Porto. Foi inaugurada no ano letivo 1977/1978. Entre os anos 2002 e 2003, a

escola foi demolida e foram inauguradas as suas novas instalações.

Esta é uma escola que abrange 2º e 3º ciclo, do 5º ao 9º ano de ensino e

possui apoio a crianças com necessidades educativas especiais e a crianças

economicamente menos favorecidas.

Este é um estabelecimento de ensino público, e como tal, funciona no

regime oficial, respondendo por isso, em todas as suas instâncias ao Ministério

da Educação. Os órgãos de gestão do agrupamento, mais precisamente o

conselho executivo são constituídos pelo Doutor Alberto Jorge Graça,

presidente do Conselho Geral, a Doutora Isabel Pina, diretora do AESH, a

subdiretora professora Elsa Lino e os três adjuntos: o Doutor João Tondela,

professora Judite Vale e o professor Paulo Amaral. O coordenador do

13

departamento das expressões tecnologias é o professor Doutor Eduardo

Santos.

A escola encontra-se situada numa zona residencial com uma população

ainda em crescimento. Nas imediações podemos encontrar dois bairros sociais.

O bairro de São Gens e o bairro do Seixo, bem como algumas Cooperativas

Sociais. Esta é uma zona que tem todas as classes sociais sendo a escola

abarcada por todas as classes.

Tendo em conta o panorama desportivo, no meio envolvente onde a

escola se situa existem inúmeros clubes e modalidades desportivas nos seus

arredores. Modalidades como futebol, futsal, andebol, ténis, basquetebol,

ballet, ténis de mesa, entre outros.

No que toca às modalidades mais praticadas na zona, destaca-se

naturalmente o futebol entre outros. Podemos encontrar clubes de futebol como

o Padroense Futebol Clube, o Sport Clube Senhora da Hora, o Leça do Bálio

Futebol Clube, o Custóias Futebol Clube, a modalidade de futsal é

representada pelo Atlético Desportivo Polenenses, o andebol com o Sport

Clube de Infesta e o Padroense Futebol Clube, o voleibol com Sport clube de

Infesta. A modalidade de basquetebol é representada pelo clube reconhecido

na formação dos mais jovens com o Guifões Sport Clube. O voleibol com o

Real Clube Senhorense. E para terminar o Rolar Matosinhos com a modalidade

de patinagem artística. No que toca ao desporto adaptado não existe qualquer

trabalho desenvolvido o que demonstra que a inclusão no desporto não está

assim tão avançada quanto isso, pois não existe qualquer tipo de formação

desportiva para as necessidades educativas especiais na localidade a não ser

através da disciplina de EF nas escolas.

Hoje, a EBSH escola pertence ao AESH, e desse agrupamento fazem

parte as seguintes escolas: EBSH, Escola Básica da Barranha, Escola Básica

de S. Gens, Escola Básica dos 4 Caminhos e a Escola Secundária da Senhora

da Hora (ESSH) sendo esta a “sede” do AESH.

A EBSH é uma escola agradável, sustentada de uma boa arquitetura

com espaços físicos para desenvolver/integrar as crianças e jovens num

ambiente positivo através da EF e do Desporto Escolar. Possui um corpo

docente disposto a trabalhar para ajudar as crianças nos processos de ensino/

aprendizagem com transmissão de valores adequadas ao meio em que e está

14

inserida. A EBSH é um estabelecimento de ensino em que se cruzam crianças

de diferentes níveis sociais, económicos e crianças portadoras de deficiências

sem que sejam verificados grandes conflitos e violência entre os mesmos,

existindo uma aceitação para as diferenças culturais, sociais, etc.

3.3.2. Caracterização da turma (6ºH)

A caraterização da turma foi algo fundamental para prevenir ou antecipar

comportamentos durante as aulas de EF, foi uma mais-valia para o professor,

de forma a “adaptar” o processo educativo e as respetivas metodologias. É

fundamental que o professor possa conhecer melhor os seus alunos.

Para a caracterização da turma realizei um questionário (Anexo I) que

serviu como ferramenta para saber um pouco mais dos alunos pelos quais fui

responsável durante o ano letivo 2015/2016.

Defini a caraterização com um levantamento de dados acerca de cada aluno

pertencente à turma do 6ºH.

Assim sendo, para esta caraterização, englobei no questionário os

seguintes temas:

1. Identificação dos Alunos: Este item tem como principal objetivo

fornecer informações pessoais sobre o aluno.

2. Percurso Escolar: Este item permitiu-me saber um pouco do

percurso académico de cada aluno, bem como as suas preferências

escolares, ou seja, as disciplinas preferidas, aquelas que têm mais

dificuldades bem como a sua motivação para a EF ou até mesmo o

gosto pela disciplina.

3. Percurso Desportivo: O conhecimento das práticas desportivas

extracurriculares dos alunos ajudou-me a conhecer em que níveis se

encontravam os alunos, conseguindo facilmente distinguir o

desenvolvimento motor dos alunos com afinidade e prática desportiva

dos que não realizavam qualquer atividade físico-desportiva.

4. Historial Médico: Este item teve o objetivo de identificar

possíveis problemas de saúde para que pudesse interferir na prática das aulas

de EF.

15

5. Expectativas sobre o Professor: O último item compreendeu

informações acerca do modo como os alunos gostariam que o seu professor de

EF atuasse.

Todos estes indicadores foram úteis e serviram como guia para as

minhas primeiras atuações como agente educativo, só assim consegui tratar os

alunos com maior equidade para que estes desfrutem igualdade de

oportunidades para atingir o sucesso, existindo uma adaptação mais

personalizada/pormenorizada tanto a nível didático como pedagógico e

socioafetivo.

Neste parágrafo realço algumas respostas obtidas no questionário aos

alunos do 6ºH que me causaram impacto positivo e que de certa forma foram

uma enorme ajuda na fase inicial de estágio. Constatei uma turma motivada

para a prática da aula de EF, existindo na sua maioria ligação com o Desporto.

As modalidades mais praticadas pelos alunos do 6ºH são: o futebol, natação,

dança, ballet, karaté, ciclismo e o andebol. Em relação ao historial médico dos

alunos, esta turma apresentava alguns problemas menores que não

impossibilitaram a prática com assiduidade nas aulas de EF. Na pergunta sobre

as expectativas sobre o professor em relação ao seu contacto com a turma os

alunos evidenciaram as características de “amigo”, “justo”, “criativo”, com maior

realce seguindo de “compreensivo” e “exigente”.

A análise destes dados contribuiu para conhecer mais

aprofundadamente os alunos e associar eventuais particularidades ou

características dos alunos para que a sua relação com a disciplina de EF e com

o Desporto, para que seja mais personalizado o processo educativo, atendendo

assim aos pormenores/vivências específicas de cada aluno.

Com o papel de professor da turma do 6ºH fez parte do meu objetivo

desenvolver o nível motor dos meus alunos, incutir estilos de vida saudáveis,

uma vez que é consensual na literatura que a infância é uma janela importante

de oportunidade para a aquisição de estilos de vida saudáveis que são

habitualmente mantidos até à idade adulta (Malina, Bar-Or & Bouchard, 2004),

esta etapa é então a ideal para intervenções de educação que visem a sua

implementação. Incutir estilos de vida saudáveis para que no futuro os alunos

possam vivenciar e procurar bem-estar e saúde através do Desporto e do

16

exercício físico nas suas vidas futuras. Sinto também uma obrigação de

aumentar o gosto pela EF e pelo desporto de forma ética e estética fazendo

desenvolver nos alunos um pensamento crítico sobre o que observam e

experienciam nas aulas de EF para que futuramente esta

observação/reflexão/experiências também possam ser transferidas para outras

áreas tanto pessoais/ profissionais na vida adulta dos alunos.

17

4. Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

O professor tende cada vez a necessitar de uma panóplia de

competências maior para que no seu papel de docência possa desempenhar

em contexto letivo ou não letivo a sua atividade de forma decente, digna e

eficaz. Sendo a escola uma organização cada vez mais complexa, expressa

através da multiplicação das tarefas que o professor tem de desempenhar, este

deve aprofundar não apenas os seus saberes didático-pedagógicos, mas

também a capacitação de um vasto leque de competências que permitam

aumentar a qualidade das aprendizagens dos alunos.

A etimologia da palavra competência, do latim competentia, significa

idoneidade, aptidão, capacidade, etc. Neste sentido, a palavra competência

remete-nos para um individuo com um conjunto de capacidades e aptidões

adequadas para alguma coisa, ou seja, que tem condições para desempenhar

alguma tarefa. O sociólogo Perrenoud (2000) associa competência à

capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de

situação. Roldão (2008) considera que há competência quando, mediante uma

situação se é capaz de mobilizar diversos conhecimentos, selecioná-los e

integrá-los adequadamente perante um problema, questão, objeto cognitivo ou

estético, etc. Nesta perspetiva, um professor pode ter todo o conhecimento

técnico da sua área de especialidade, ou seja, o saber que é necessário, mas,

no entanto, não ser suficientemente capaz de colocar esse conhecimento em

prática. No que diz respeito ao ensino propriamente dito, um professor é

competente quando além de cumprir o objetivo de ensinar as matérias

estipuladas, consegue proporcionar uma formação holística, no sentido de

promover ações que provoquem mudanças positivas nos alunos. Por outras

palavras, um professor que demonstra competência consegue ir mais além do

conteúdo, da matéria a lecionar procurando também transmitir atitudes e

valores, a fim de ser influenciador de futuros cidadãos socialmente adequados

às futuras exigências do mundo em que está inserido.

O EP é a etapa da formação de professores, que se traduz no primeiro

contacto com a realidade profissional, sob a forma de experiências práticas que

lhe possibilitam o desenvolvimento de potencialidades, para que possa crescer

profissionalmente, ao longo da sua carreira (Graça & Mesquita, 2011). Esta é

18

assim uma fase ideal para a adoção de uma postura reflexiva quer nas

atividades letivas como nas não letivas, de modo a serem profissionais

conscientes das suas fragilidades e potencialidades e desta forma

desempenharem as funções que lhe são destinadas através de uma ação

multidimensional em sintonia com a realidade, com o progresso, com a

globalização do mundo.

As três áreas de desempenho contempladas no EP servem como guia

de desenvolvimento da competência profissional em conjunto com uma

reflexão sobre as suas práticas educativas e analisando os seus efeitos,

(Schon, 2000, p.32) considera que “o nosso pensar serve para dar nova forma

ao que estamos fazendo, enquanto ainda o fazemos”

Assim este capítulo tem como objetivo demonstrar o desenvolvimento

das minhas competências profissionais decorridas durante o EP, evidenciando

uma postura reflexiva, crítica sobre os processos educativos em que estive

envolvido, construindo assim um professor mais racional alimentado pela

emoção do desejo de ensinar e ser professor através da reflexão, do diálogo

com profissionais da educação, do meio desportivo e através pesquisa

científica.

4.1. Conceção

A escola não é uma instituição que é distante para o EE, que deseja

alcançar a sua profissionalização enquanto professor, mas a realidade de cada

escola inicialmente é certamente algo desconhecido para este. Apesar de em

Portugal as escolas apresentarem um perfil semelhante entre elas, ou seja, as

suas infraestruturas poderão dar a entender alguma paridade, têm em si

particularidades, nomeadamente a sua cultura própria, influenciada pela

comunidade que rodeia e que a frequenta. Sem o conhecimento desta cultura

de escola dificilmente o professor saberá ser um profissional eficaz pois não

sabe os valores que nela estão enraizados.

Desde o início do EP transmiti à PC uma enorme vontade em produzir,

realizar, educar e criar projetos educativos aliciantes com vista a aumentar a

qualidade de ensino da escola e evidenciar a EF como uma disciplina impar

das restantes. A PC demonstrou desde a primeira reunião alguma abertura

19

para a realização de alguns dos meus sonhos enquanto EE e futuro professor

de EF.

As diretrizes descritas nos programas nacionais, regidas pelo Ministério

da Educação e da Ciência, serviram de guião para que o projeto educativo do

AESH fosse realizado e transferido para mim enquanto EE. Sendo que este é

documento aberto, flexível e dinâmico, é por isso, passível de reformulações,

de forma a adequar-se ao contexto em que está inserido. Além disso, foi

disponibilizado o regulamento interno do AESH, com vista a dotar a instituição

de ensino público de referenciais que orientem a sua organização e

funcionamento. Ainda neste capítulo são evidenciadas as partilhas de

responsabilidades e todos os mecanismos associados à comunidade educativa

de modo a tornar a escola mais dinâmica e atuante. Foram também cedidos os

critérios de avaliação específicos, com vista a orientar os EE e os restantes

professores para a avaliação dos alunos, com o intuito de existir uma

uniformização da intervenção de todos os professores.

A organização e profissionalismo demonstrado pelo grupo de EF foi sem

dúvida um alívio para mim, enquanto EE. As reuniões do grupo de EF

capacitaram-me de uma pró-atividade sustentada através da possibilidade de

tecer opiniões sempre que achava pertinente.

Deste modo, enquanto EE fiquei a conhecer o grupo de professores que

iriam sustentar o Plano Anual de Atividades (PAA), o Regulamento Interno (RI),

o Roulement dos espaços de aula e por último o PEE .

É evidente que para um eficaz funcionamento do processo de ensino-

aprendizagem todos os documentos acima referidos foram de extrema

importância. Deste modo, realizei uma análise cuidada tendo como base os

conteúdos programáticos referentes ao 6º ano de escolaridade.

Conclui este processo inicial com a caracterização da turma 6ºH através

da caracterização individual de cada aluno com o “Questionário Individual do

Aluno” (anexo 1) permitindo-me estar capacitado de iniciar o processo de

planeamento para a turma em questão.

20

4.2. Preparação, a base e sustentação do processo

Sendo EE e com a enorme responsabilidade de ser o professor de uma

turma, senti a necessidade primária de realizar um estudo detalhado sobre o

regulamento interno com vista a compreender a organização e funcionamento

da EBSH para que as decisões e partilha de responsabilidades se contemplem

de forma dinâmica. Este regulamento coloca todos os seus intervenientes a par

do regulamento interno do AESH e das suas escolas.

Também o planeamento anual de atividades foi examinado com rigor no

sentido de obter uma participação consciente e apoiar os projetos e atividades

que estão planificados e, que a escola acredita solenemente ser uma mais-

valia para a comunidade escolar, fomentando a cultura de escola através da

interação com a comunidade escolar e comunidade envolvente.

O conhecimento sobre o regulamento interno da escola bem como o

planeamento das atividades a realizar foi sem dúvida um grande passo para

que a minha integração enquanto EE fosse ajustada à comunidade escolar e

envolvente, tomando uma consciência do meio escolar onde estive inserido.

4.2.1. Planeamento

Segundo Bento (2003, p.8), “o planeamento significa uma reflexão

pormenorizada acerca da direção e do controlo do processo de ensino numa

determinada disciplina”. Para o mesmo autor o planeamento constitui a esfera

também da decisão na qual o professor determina quais os efeitos a alcançar

no ensino e onde serão despendidos o tempo e as energias. O planeamento

permitiu-me enquanto EE realizar uma planificação dos objetivos e das

estratégias do processo de ensino-aprendizagem de modo a colocar em prática

todos os conhecimentos de ensino absorvidos. Assim, este planeamento visou

a preparação para a futura realização de forma racional enquanto EE.

O planeamento anual foi realizado segundo as normas estabelecidas a

nível nacional, nele estão incluídos conteúdos programáticos a lecionar nos

vários ciclos. Este documento escolar descrimina as modalidades desportivas a

serem lecionadas nos vários períodos assim como o número de aulas que

21

compõe cada modalidade sendo também neste documento evidenciado os

espaços disponíveis para a lecionação das aulas. Compreendo que o

planeamento anual de Escola é um instrumento vital para que a escola se

processe com autonomia, nele devem constar os objetivos, as formas de

organização e de programação de atividades e a identificação dos recursos

humanos e materiais envolvidos. Este planeamento foi sofrendo algumas

alterações no decorrer do EP devido à falta de segurança observada no ginásio

nº2 consequência da deterioração do telhado. Aquando de más condições

climatéricas, por vezes chovia no pavilhão.

A realização dos Modelos de Estrutura do Conhecimento (MEC) de

Vickers (1990), tendo como base a extensão, sequência e objetivos da matéria

a lecionar para cada modalidade, adaptada ao nível dos alunos, foram sem

dúvida excelentes modelos para que existisse melhor organização e

planeamento no processo de ensino-aprendizagem. Este documento

descrimina as habilidades táticas e técnicas das várias modalidades/conteúdos

a serem lecionados. As tarefas propostas pelo professor devem ser planeadas

para permitirem um carácter de autonomia aos alunos. Devem conter um

padrão de criatividade e possibilidade de escolha que permitam uma maior

autonomia (Rink, 2004). As elaborações dos vários MEC permitiram-me agilizar

todo o processo de ensino das várias modalidades e obter/ transmitir um

melhor conhecimento sobre estas.

Durante a fase inicial do EP estes modelos não foram elaborados

atempadamente, a ansiedade e o mundo novo à volta bem como as inúmeras

tarefas a realizar não permitiram que todas as tarefas fossem atempadamente

finalizadas antes do início da lecionação de cada unidade didática (UD) no

primeiro período. Com o avançar do EP a sua elaboração foi mais eficaz sendo

possível a sua realização antecipada, fundamental para a preparação das

aulas.

Outro tipo de planeamento realizado foi a elaboração da UD, esta está

incluída no módulo 4 do MEC de cada modalidade lecionada ao longo do ano

letivo. As unidades temáticas ou didáticas são fundamentais no processo

pedagógico de ensino, estipulando etapas claras e distintas no ensino-

aprendizagem, sendo planificadas pelo professor na organização do seu ensino

e servindo como base para a preparação das aulas (Bento, 2003).

22

As UD realizadas foram sustentadas pela informação contida nos MEC

relativa à extensão e sequência de conteúdos sendo deste modo planeados os

objetivos de cada modalidade.

A elaboração da UD foi sendo cada vez mais rigorosa devido à

experiência e reflexões realizadas sobre a mesma. Deste modo, o número

reduzido de aulas para cada modalidade e o número de conteúdos propostos a

serem lecionados foram racionalmente mais bem conseguidos, para que o

tempo ideal de aprendizagem de cada conteúdo fosse mais realista e eficiente.

As categorias transdisciplinares e os conceitos psicossociais, que fazem

parte dos conteúdos planeados para as UD, estiveram implícitos sem existir

registos nos planos de aula (PA). Apesar de não existir qualquer referência a

estas categorias, estas fizeram parte das UD. Refletindo sobre o assunto penso

que poderia ter referido e especificado estes conteúdos nos planos de aula,

assim estariam realçados e poderiam ter permitido um olhar mais atento ao

desenvolvimento destas categorias transdisciplinares e conceitos psicossociais

e, desta forma perceber quais os conteúdos mais desenvolvidos nos alunos ao

longo da lecionação das aulas de EF.

O PA está intimamente relacionado com a UD existindo assim uma

transferência dos conteúdos estipulados na UD para o PA de modo a obter

uma rigorosa e eficaz adequação dos conteúdos inicialmente estipulados e,

transferi-los posteriormente para um eficaz processo de ensino-aprendizagem

aula após aula.

Assim, o PA surge após a conclusão do MEC e da UD, este é elaborado

de forma a adequar os conteúdos estipulados às necessidades dos alunos. À

imagem do que aconteceu com os planeamentos anteriores (MEC e UD’s), a

estrutura do PA foi também concebida e elaborada em consonância com a PC.

O PA ficou dividido por três fases (inicial, fundamental e final). A fase

inicial compreende os exercícios planeados para a ativação geral escolhidos de

acordo com a modalidade a ser praticada, preparando os alunos para a parte

fundamental. A fase seguinte, a fundamental, é considerada a parte principal

da aula, onde serão cumpridos os principais objetivos e conteúdos. A terceira e

última parte, denominada fase final tem como principal objetivo o retorno à

calma bem como o esclarecimento de dúvidas aos alunos. Além disso, sempre

que o professor ache pertinente deverá ser o momento para um balanço da

23

aula(s) realizadas, apontando os aspetos que correram menos bem e aqueles

que foram realizados corretamente.

Penso que as categorias transdisciplinares e os critérios psicossociais,

bem como os conceitos fisiológicos deveriam estar presentes nos PA, mas

apenas tomaram o seu lugar na aula.

Durante o segundo período, no planeamento didático-pedagógico foi

também evidenciada a importância da educação estética (EE), através da

tentativa de ampliação da sensibilidade dos alunos para esta questão, bem

como, a realização do estudo de investigação-ação, abordado detalhadamente

no capítulo 6.

Todos os PA realizados tiveram o objetivo principal de instruir os alunos

para que aprendam mais sobre cada modalidade lecionada, bem como, a

importância da prática de exercício físico e do desporto, de forma a evoluir no

conhecimento sobre o mesmo.

Devido a minha inexperiência, interroguei-me durante o EP sobre quais

os melhores exercícios para cumprir os objetivos comportamentais

preestabelecidos de modo a conseguir efetivamente o que foi planeado. A PC

em conjunto com a minha colega de estágio e os professores da EBSH de EF

foram de extrema importância para que exista uma pré validação, de forma a

estar mais confiante e seguro do eficaz processo de ensino-aprendizagem nas

aulas. Assim procuraram sempre que pertinente elucidar-me sobre

determinados exercícios e consequências dos mesmos. As discussões e

reflexões realizadas pelo grupo de EF sobre os atos didático-pedagógicos mais

eficazes nas várias areas de ação permitiram que enquanto EE pudesse

abordar as diversas modalidades e planear exercícios apelativos aos alunos de

modo a cativa-los para as aprendizagens, entusiasmando-os para a prática

onde o próprio edifica o seu conhecimento a sua inteligência e personalidade,

bem como, os seus valores morais e sociais (Pádua, 2009).

Todos os intervenientes acima referidos ajudaram a aprimorar, a

desenvolver conhecimentos relativos à planificação e lecionação das aulas

sendo estas enfatizadas nas reflexões realizadas ao longo do EP .

Senti durante o avançar do EP um desenvolvimento na consistência na

realização do PA. O planeamento realizado em consonância rigorosa com as

24

diretrizes a nível nacional e adaptadas à turma do 6ºH estiveram sempre

presentes durante o EP.

O planeamento realizado durante o EP foi mutíssimo importante para

que o processo de ensino-aprendizagem fosse mais eficaz. No decorrer do EP

este foi vital para que existisse uma evolução nas variadíssimas experiências e

redução ou, até superação das dificuldades/desafios encontrados no decorrer

do EP como que se de um guião se tratasse onde o improviso consciente

poderá pertencer ao professor/ator.

Hoje, estou com uma visão mais ciente de toda a adaptação necessária

para realizar o planeamento, de modo contextualizado, mas nunca esquecendo

as diretrizes a nível nacional que um professor se deve reger.

4.3. Realização

Após da construção do planeamento, para que uma linha de orientação

pedagógica e didática possa existir no processo de ensino aprendizagem

adequado aos alunos do 6º H, iniciei a lecionação das aulas com a vontade de

ser o mais competente possível, adequando o planeamento à realidade das

primeiras aulas lecionadas. Nesta fase, é suposto que o EE “conduza com

eficácia a realização da aula, atuando de acordo com as tarefas didáticas e

tendo em conta as diferentes dimensões da intervenção pedagógica” (Matos,

2015, p. 5). A companhia amistosa e o apoio prestado a nível pedagógico e

didático pela PC, o NE e os restantes professores do grupo de EF da EBSH

foram sem dúvida um ótimo conforto para mim enquanto EE no papel de

professor de EF. Além disso permitiram a partilha de conhecimentos que se

tornaram uma ajuda importantíssima para o desenvolvimento da lecionação

das aulas. O estabelecimento destas relações é um ponto fulcral para uma

formação completa uma vez que a formação deve fornecer o conhecimento, as

metodologias, as práticas ciêntifícas e pedagógicas essenciais, bem como,

uma formação pessoal e social que permita uma adequação eficaz ao exercício

da profissão docente (Campos, 2002).

A lecionação das aulas acompanhada de um comportamento reflexivo

sistemático fez-me crescer enquanto professor. A prática reflexiva ajuda o

profissional a libertar-se de comportamentos impulsivos e rotineiros (Alarcão,

25

1996). Pensar, refletir sobre o ato de educar é um grande passo para o

progresso da aprendizagem para estar o mais próximo possível do professor

competente, permitindo assim debruçar-se sobre a sua capacidade de agir e

projetar uma melhoria da sua prática profissional.

Neste capítulo será dada evidência ao meu desejo de ensinar e de

aprender durante o EP. Mais objetivamente trata-se de uma proeminência dos

momentos que recordo e quero destacar. Para tal, vou recorrer a excertos de

algumas reflexões de aula e bibliografia ajustada com o objetivo de esclarecer

o leitor de todo o processo percorrido para efetuar com eficácia os objetivos

definidos na etapa “Realização” e “Avaliação” englobada na área de

desempenho 1 (Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem).

4.3.1. O inicio do (Des)envolvimento relacional com os alunos

A fase inicial do EP aquando da lecionação das primeiras aulas e no

envolvimento enquanto professor com a escola e a sua comunidade, foi vivida

de algumas incertezas e ansiedades. Estar com o papel de professor a lecionar

numa escola, a exercer uma das profissões mais importantes do planeta que

tem como objetivo educar a sociedade é natural que o nervosismo estivesse

sempre presente sendo este diminuído à medida que o EP avançava. Segundo

Nóvoa (2009, p.41), “Não há respostas feitas para o conjunto de dilemas que

os professores são chamados a resolver numa escola marcada pela diferença

cultural e pelo conflito de valores”. O autor quer com isto afirmar que é

necessário olhar para o papel do professor de modo distinto, com uma visão

renovada que transcenda os problemas palpáveis. Assim o professor tem em

mãos a complexa tarefa de contribuir para a aprendizagem dos alunos, mas,

também para que estes atinjam uma maturidade, uma atitude critica e reflexiva

ao longo do seu percurso escolar e que a transponham para as suas vidas

futuras, tanto no plano pessoal, social e profissional. Nesta perspetiva parece

evidente que tal como afirma Edgar Morin (2002) o trabalho pedagógico deve

levar em consideração a interdisciplinaridade dos conteúdos, contextualizando

e globalizando o conhecimento. É necessário promover a interligação dos

conhecimentos das diferentes áreas de estudo para a compreensão da

complexidade do mundo.

26

A tarefa que tive pela frente de educar uma turma do 6ºH com vinte

cinco alunos para que estes se preparem para a vida adulta obtendo uma

relação afincada com o Desporto com recordações vividas de forma entusiasta

permitiu-me desenvolver, enquanto pessoa e enquanto futuro professor, uma

atitude responsável e consciente. Deste modo, tentei concretizar de forma

competente todas as tarefas que planeei ao longo do EP, procurando ao

mesmo tempo transmitir para os meus alunos e alargando a toda a

comunidade escolar, um comportamento ético e moral de excelência que

permita o desejo de aprender. Os dois excertos das reflexões que se seguem

demonstram o desejo dos alunos do 6ºH em saber mais sobre a EF e o

Desporto simultaneamente com um comportamento correto necessário para

que as aprendizagens sejam significativas.

“Os alunos do 6º ano da turma H revelaram interesse durante toda a

aula, demonstrando a devida atenção nos assuntos tratados na mesma.”

(reflexão da aula nº1)

“Os alunos do 6º ano da turma H mais uma vez apresentaram máximo

interesse na aprendizagem dos conteúdos abordados.” (reflexão da aula

nº3)

A união da turma foi evidenciada todas as semanas, desde o início até

ao final do ano letivo, existindo um grito de “guerra” (grito da turma) para que

estes se sintam num grupo “familiar” e com um objetivo comum a todos:

desenvolver conhecimentos de forma entusiasta em relação à EF e ao

desporto que permita transmitir todos os valores que lhes estão agregados

como o espírito desportivo, a camaradagem, o respeito pelo adversário, o

trabalho em equipa ou mesmo a superação individual e coletiva necessária

para que o esforço não seja em vão alimentando-o a resiliência que permitirá

compreender os sacrifícios necessários para se tornar um futuro adulto

educado. Esta atividade começou a ser realizada na terceira aula como se

pode ler no excerto da reflexão da mesma.

“Para terminar a aula pedi aos alunos para a necessidade de criarem um

grito de turma para que a união de toda a turma seja uma constante.”

(reflexão da aula nº3)

27

Uma vez que, os alunos interpretam as (re)ações dos professores e

conferem um sentido afetivo à própria aprendizagem, ao conhecimento que

circula e à sua imagem enquanto pessoa e estudante (Tassoni & Leite, 2013),

procurei um relacionamento muito próximo com os alunos, criando uma

afetividade que me permitiu conhecer um pouco mais cada um deles, para que

conseguisse motivá-los em todas as aulas no sentido de existir o máximo

empenho e dedicação dos alunos.

“A motivação facilita o sucesso. Por sua vez, a conquista do sucesso

reforça a motivação. É um círculo virtuoso”. (Estanqueiro, 2010, p.11). Viciana

et al., (2003) sugerem que para uma melhoria do desempenho do professor em

sala de aula, deverá existir uma predominância de feedback positivo sobre o

negativo, beneficiando o enriquecimento do processo ensino-aprendizagem. O

reforço positivo foi um aspeto que tive em atenção na lecionação das aulas,

permitindo que os alunos tomassem consciência dos exercícios realizados,

mas, mantendo os níveis de motivação elevados. Deste modo, possibilitei que

olhassem para o erro como um desafio e não como um problema, transmitindo

um ambiente de aula orientado para os alunos para o cumprimento da tarefa. A

apresentação da tarefa deve conduzir a uma prática estruturada, onde os

alunos buscam uma proeficiência do desempenho das tarefas de aula a

realizar (Mesquita & Graça, 2009).

Este processo foi facilitado devido às características naturais da

disciplina de EF, que lhe confere uma especificidade que além de a distinguir

das restantes disciplinas permite uma maior proximidade entre o aluno e o

professor e que serve na relação professor/aluno. O meu comportamento na

ativação geral dos alunos foi também ele tácito e motivador, quis sempre que

os alunos estivessem empenhados na realização das tarefas para que o

aquecimento corporal fosse sempre realizado com eficácia e evitasse possíveis

lesões que felizmente não aconteceram em todo o ano letivo.

“As “ligações emocionais” e a gestão das emoções destacam-se como

aspetos nucleares da gestão de ambientes de aprendizagem” (Rosado &

Ferreira, 2011, p.190). Acredito então que este envolvimento próximo com os

alunos possibilitou um aumento na motivação dos mesmos e

consequentemente um maior empenho nas tarefas a realizar facilitando a

aprendizagem dos conteúdos planeados.

28

Momentos de descontração foram realizados no início do EP, para que

esta relação professor-aluno fosse desenvolvida e evoluísse e contribuísse

para o meu duplo objetivo: educar e ser professor. Nesta fase inicial, as

aprendizagens foram muitas, mas sempre controladas pela PC, para que

enquanto EE conseguisse assimilar e aprender o caminho a seguir.

Neste excerto da reflexão seguinte coloquei em clara evidência que eu

enquanto professor estarei presente para ensinar e surpreender os meus

alunos, demonstrando a minha proatividade.

“No início da aula tive o prazer de oferecer à turma um trabalho sobre o

voleibol (junção de trabalhos individuais de todos os alunos sobre regras

e curiosidades da modalidade de voleibol em formato de cartaz através

de colagens), de forma a alimentar o conhecimento e gosto na

modalidade e a necessidade óbvia de existir um maior conhecimento

tanto a nível de regras como da própria história deste desporto.”

(reflexão da aula nº 10)

Procurei aglomerar num cartaz os trabalhos realizados pelos alunos com

a cultura desportiva do voleibol (figura 1). Todos os alunos demonstraram

entusiasmo com o regalo. Com estes momentos, o professor poderá permitir

que os alunos desenvolvam de forma positiva a relação com o desporto e ao

mesmo tempo conseguir transferir o conhecimento do mesmo.

29

Figura 1 - Cartaz com trabalhos realizados pelos alunos

A compreensão foi também um aspeto que procurei colocar em prática

de forma cuidada. O professor tem a necessidade de conhecer os alunos e ser

sustentado com um poder de compreensão para com os mesmos, adaptando

assim o planeamento para que a as aprendizagens sejam um sucesso.

Penso que a modalidade de atletismo no passado escolar/desportivo

não foi desenvolvida/apreendida da melhor forma para a maioria dos alunos da

turma do 6ºH, como não se tratasse de um desporto! A sintonia entre o

divertimento (o desejo consciente dos alunos) e a aprendizagem (desejo

inconsciente dos alunos) não estiveram nivelados.

Apesar do Modelo de Instrução Direta (MID) ter sido a base para a

lecionação das minha aulas sendo este caracterizado “por centrar no professor

a tomada de praticamente todas as decisões acerca do processo de ensino-

aprendizagem” Mesquita & Graça, 2009, p.48), estas obtiveram também, a

influência do Modelo de Educação Desportiva (MED) que se define como uma

“forma de educação lúdica e critica das abordagens descontextualizadas,

procurando estabelecer um ambiente propiciador de uma experiência

desportiva autêntica” (Mesquita & Graça, 2009, p.59). Achei pertinente por em

prática a filosofia deste modelo americano onde a inclusão está bem patente,

permitindo uma competição saudável e com a autonomia cedida pelo professor

e concretizada inteiramente pelos alunos sendo o “professor” um mero

“observador”, atribuidor de tarefas a todos os alunos, através de varios papéis

de responsabilidade (árbitros, capitães, atletas) e deste modo a aula flui

através do comprometimento dos alunos face aos papéis que lhes foram

atribuídos. As reflexões abaixo supracitadas realçam claramente esse

comprometimento positivo:

“Os alunos estiveram bastante interessados e motivados na palestra

mostrando desta forma vontade de compreender as regras da “Corrida

das Quatro Estações” e quais as suas funções a desempenhar para

além de atletas.” (reflexão da aula nº11)

“Esta aula foi muitíssimo positiva, mais uma vez os alunos realizaram a

aula contentes, sendo esta modalidade desconsiderada por grande parte

dos alunos. Sinto que a competição e as aulas de atletismo devem andar

30

de mãos dadas, para que a motivação e realização das tarefas seja

plausível, deste modo poderemos obter uma aprendizagem significativa

em todos os alunos.” (reflexão da aula nº26)

Com o objetivo de premiar a turma pelo excelente comportamento de

aula durante a lecionação do primeiro período, numa das aulas de ginástica

realizei moldagem de balões como forma de agradecimento pelo empenho

prestado em todas as aulas. Penso que a retribuição era necessária, devido à

faixa etária desta turma e a infantilidade associada, permitindo este gesto

amadurecer uma vez mais a relação professor-aluno. Não basta só exigir e

impor é também necessário premiar os bons comportamentos e atitudes para

que estas sejam entendidas como boas condutas pelos alunos. Este sentido de

dar (professor) e receber (alunos) penso que foi sempre vivenciado nas aulas

de EF de modo reciproco.

A pontualidade foi um aspeto que dei especial relevo enquanto EE, uma

vez que tive sempre o cuidado de preparar cada aula com o tempo suficiente

para que o “palco principal” estivesse pronto atempadamente. Assim, aquando

da chegada dos alunos estes sentiam que um trabalho prévio já fora realizado,

comprometendo-os naturalmente para a realização das tarefas e conseguindo

com isso maior tempo útil de aula para as aprendizagens significativas,

conforme exposto nas reflexões seguintes:

“A minha pontualidade é sempre exímia, chegando ao local onde vou

lecionar a aula, sempre vinte minutos antes para que possa preparar a

aula com os materiais necessários para a execução da mesma, neste

caso: a rede e os sinalizadores. Sinto que esta tarefa do professor é uma

mais-valia para aumentar o tempo útil de aula, no sentido em que os

alunos possam desfrutar da aula com mais atividade física. “ (reflexão da

aula nº13)

“Todo o material necessário para o início da aula foi colocado

previamente antes do início da mesma. Desta forma organizei doze

minicampos de voleibol (rede, sinalizadores e bolas).” (reflexão da aula

nº 19)

31

Relativamente ao clima de aula, utilizei estratégias para que este fosse

sempre favorável a aprendizagens, tentando evitar distrações fora da tarefa

que influenciem o tempo de aula. Para impedir isto, a partir da aula número

dezoito coloquei os alunos a realizar exercícios, quando estes se

movimentavam do exterior para o interior dos ginásios, através da realização

de mini-tarefas (por exemplo a respiração de retorno à calma, rotação de

braços, andar em bicos de pé etc.). O objetivo foi colocar os alunos sempre

focados e concentrados quando estes se deslocavam de um espaço de aula

para outro. Várias vezes disse a todos os meus alunos “a diversão nas aulas

de EF está presente na prática dos exercícios” e, não nas conversas paralelas

sem qualquer relação com o planeamento didático-pedagógico realizado. Na

reflexão que se segue é evidenciado este pormenor que se tornou uma ajuda

importante para mim enquanto EE, evidenciando o rigor, disciplina,

organização, etc.

“No caminho para o ginásio nº1 decidi colocar os alunos a realizar uma

respiração de retorno a calma com a elevação e descida dos membros

superiores em simultâneo com a respiração. Assim, todos os alunos

realizaram o percurso de uma forma mais pacífica, sem grandes

alvoroços.” (reflexão da aula nº 18)

Fiz uso de uma ficha de autoavaliação semanal em que os alunos

tinham que se autoavaliar no final de cada aula, essencialmente relativo ao seu

comportamento psicossocial para que estes tomassem consciência do seu

comportamento durante as aulas de cada e em cada semana assumissem para

com os colegas e professor evidenciando assim a tomada de consciência do

comportamento realizado na aula. Com o decorrer das aulas achei que deveria

parar com a utilização da ficha de autoavaliação e, preferi substituir por

pequenas reuniões, de curta duração, uma no início da aula, de forma a

esclarecer os alunos sobre o que se vai aprender e no final para discutir alguns

comportamentos menos corretos ou incorretos dos alunos bem como saber

quais as dúvidas dos alunos nos exercícios realizados na aula.

Os valores estéticos estiveram também eles presentes nas aulas de EF

desde o início. Na EF não se trata pois apenas de educar para o cuidado do

corpo, como modelação do corpo, mas para a radicalidade de ser(es) em corpo

32

(Lacerda, Graça & Pereira, 2014). Estas noções sobre a importância da

estética no Desporto estiveram mais conscientes a partir da aula da unidade

curricular de Tópicos lecionada pela Professora Doutora Teresa Lacerda no dia

dois de novembro. Esta aula fez-me repensar na EF e a sua relação com a

estética. Foi a partir daqui que procurei incutir valores estéticos em todas as

aulas de EF, alimentando desta forma os alunos com a organização e

disposição do material sempre com uma imagem arquitetónica muito cuidada.

A reflexão realizada no dia seguinte à aula lecionada pela professora Doutora

Teresa Lacerda demonstrou o efeito imediato que esta obteve no decorrer do

meu EP:

“A apreciação estética da minha parte obteve destaque devido à aula

do dia anterior com a professora Teresa Lacerda. Apesar de ter uma

forte ligação com as artes e de dar importância à estética e sustentar o

gosto pela imagem, pela arte, este recordar do gosto pela “Belo” foi

decisivo. Assim decidi colocar as bolas em cada campo no cume do

respetivo sinalizador, ao invés de as entregar antes do exercício

pretendido (jogo 1x1). Deste modo consegui uma imagem bastante

bonita, organizada, criando uma maior vontade aos alunos de

participarem nela transferindo valores que por vezes não são

explanados em palavras, feedbacks ou gestos.” (reflexão da aula nº19)

Os alunos tiveram em alguns momentos a oportunidade de demonstrar o

seu talento “desportivo” por exemplo, na aula de ginástica um grupo de cinco

alunas presenteou a turma com a dança que haviam apresentado no I Sarau

Cultural do AESH no ano letivo 2014/15. Desta forma pude desenvolver os

valores estéticos dos alunos colocando a turma no final da aula (últimos cinco

minutos), como apreciadores dos movimentos gímnicos executados pelo grupo

de alunas. A reciprocidade dos alunos ao apreciarem a performance das

alunas é esplanada na reflexão que se segue:

“...coloquei os alunos todos reunidos, sentados aplaudindo inicialmente

as “artistas” que iriam apresentar a sua coreografia. Todos os alunos e

professores da turma do 6ºH ficaram bastante deslumbrados com a

performance das alunas, todos os espectadores presentes bateram

33

palmas como forma de agradecimento e elogio ao espetáculo

presenteado pelas cinco alunas.” (reflexão da aula nº21)

A música também esteve presente como elemento estético nas aulas de

ginástica que considerei ter sido realizada num “estilo militarista”, foi sem

dúvida uma ajuda para a concentração máxima nas tarefas a realizar pelos

alunos e serviu também como forma de controlar/motivar a turma, caso estes

não obtivessem o comportamento devido para a prática da aula. As seguintes

reflexões são o espelho do que acabo de transmitir:

“A ativação geral ao som da música escolhida por uma aluna da turma

foi uma mais-valia, todos os alunos realizaram os exercícios motivados,

por vezes os exercícios são exigentes, e a música acaba por ser um

relaxe mental/corporal para todos. Apenas permito a música porque o

comportamento da turma é exemplar.” (reflexão da aula nº 24)

“A exercitação dos conteúdos são uma constante, fazendo lembrar a

ginástica de Ling, a atitude do professor e a música presente na aula são

então os moderadores para que não seja tão “militarizada”. (reflexão da

aula nº 30)

Paulatinamente a estética foi ficando mais consciente nos meus PA, nas

várias modalidades lecionadas. Os alunos entraram para as aulas de ginástica,

com influências da ginástica de Ling, como se de atletas se tratassem

realizando uma “fila indiana” organizada. Nas duas reflexões que se seguem é

enaltecido este rigor e disciplina vivenciado por mim e pelos alunos do 6ºH nas

aulas de ginástica ao longo do ano letivo:

“A aula começou com a entrada de todos os alunos em fila indiana no

ginásio nº2“. (reflexão da aula nº 27)

“Esta aula iniciou-se como já é costume, com a rotina de aula, uma fila

indiana à porta do ginásio número dois, todos os alunos aguardam pelo

professor em fila indiana e também por ordem numérica”. (reflexão da

aula nº 33)

Em jeito de conclusão, enquanto intercalava pensamentos atuais com os

excertos das reflexões realizadas ao longo do primeiro período quis salientar os

34

pormenores passados que realçaram a minha presença não apenas na turma

em específico, mas também na escola. O workshop de malabarismo realizado

no primeiro período de aulas foi uma excelente forma de me evidenciar não

como mais um EE mas sim como um possível professor competente. Quanto

mais multifacetado for o professor, mais diversidade educativa consegue

proporcionar aos seus alunos. Chego à conclusão de que não é o aluno que se

adapta à escola ou a nós: somos nós, educadores, que traçamos estratégias

diferentes para alcançar todos. Acredito que estas vivências aqui realçadas me

permitiram uma maior confiança pessoal começasse a aparecer de forma mais

consistente, comecei a sentir que não era visto como um mero “estagiário”,

mas sim alguém pró-ativo e com vontade de fazer, participar e desenvolver a

escola de forma positiva.

4.3.2. Pormenores das Modalidades Coletivas Lecionadas

Aqui vou tentar elucidar o leitor com alguns exemplos didático-

pedagógicos que foram desenvolvidos durante as aulas, de forma dinâmica e

agilizada, nomeadamente, nas modalidades coletivas lecionadas: voleibol

(primeiro período), basquetebol (segundo período), futsal e andebol (terceiro

período). Será evidenciado o modelo de ensino que esteve na base da

lecionação das aulas: o MID. Contudo, existiu sempre influência dos seguintes

modelos de educação: o Modelo de Abordagem Progressiva ao Jogo (MAPJ)

utilizado nas aulas de voleibol, o Modelo de Competência nos Jogos de

Invasão (MCJI) na lecionação das aulas de basquetebol. As modalidades de

futsal e andebol basearam-se unicamente pelo MID.

Optei por ilustrar sempre que pertinente com figuras, que fazem parte de

documentos pertencentes à planificação e avaliação dos alunos, aproximando

o leitor do trabalho didático-pedagógico realizado durante o EP.

4.3.2.1. Voleibol

Todas as modalidades coletivas (e individuais) iniciaram-se com a

avaliação diagnóstica (realizada na primeira aula). Esta avaliação permitiu-me

verificar o nível de (pré)conhecimento que os alunos tinham. A avaliação

diagnóstica tem como objetivos gerais diagnosticar, prognosticar e projetar as

aprendizagens dos alunos (Araújo, 2007). Sustenta assim, um planeamento

35

mais real enquadrado com os conhecimentos dos alunos para que estes

possam evoluir nesse mesmo conhecimento. Através dos conteúdos que foram

planeados na UD pude constatar se estes estavam em consonância com o

conhecimento dos alunos. A PC foi sem dúvida importante neste processo

através do seu conhecimento alcançado através dos longos anos de prática

enquanto professora de EF.

A figura 2 mostra parte da UD mais precisamente os conteúdos relativos

às habilidades motoras que foram selecionadas para lecionação na modalidade

de voleibol. Este planeamento seguiu o sugerido por Vickers (1990), permitindo

que existisse uma clara consciência de quando se introduz, exercita ou se

consolida um conteúdo a lecionar. Possibilitou-me obter uma linha orientadora

sólida para que todos os objetivos planeados fossem realizados com um

desenvolvimento progressivo dos conteúdos a lecionar.

Figura 2 - Parte da unidade didática da modalidade de voleibol

Legenda: AD - Avaliação Diagnóstica; I/E – Introdução/Exercitação; E – Exercitação; C – Consolidação

O leitor poderá agora analisar a figura 3 parte da avaliação diagnóstica

de voleibol, esta foi realizada com o Jogo 1x1 (em campo reduzido) existindo

uma adaptação do nível dos alunos (a turma encontrava-se no nível I - jogo

estático segundo o Modelo de Abordagem progressiva ao Jogo, isto é, não

existe compreensão tática nem domínio técnico que permitam a realização das

ações (Mesquita & Graça, 2009).

36

Figura 3 - Parte da avaliação diagnóstica da modalidade de voleibol

Legenda: 0 – Não Realiza; 1 – Realiza

Após a avaliação diagnóstica os conteúdos planeados estavam de

acordo com toda a turma encontrando-se na Etapa I. A reflexão que se segue

pertencente à avaliação diagnóstica, é explícita em relação ao envolvimento da

maioria dos alunos com a modaliadade de voleibol sendo caracterizada pela

falta de conhecimento sobre a mesma:

“Um dos primeiros aspetos a referir é o facto que todos os alunos são

capazes de executar o passe; no entanto, a maior parte da turma não é

capaz de executar corretamente este conteúdo, apresentam movimentos

bastante rudimentares.” (reflexão da avaliação diagnóstica)

A lecionação da modalidade de voleibol obteve exercícios que estiveram

adaptados à realidade dos alunos do 6ºH permitindo que estes adquirissem

uma aprendizagem consistente com exercícios acima do seu nível de

conhecimento. Vygotsky (1978) refere que o professor deve ser capaz de

proporcionar aos seus alunos tarefas ligeiramente acima do seu nível de

desenvolvimento, de modo a possibilitar os alunos a evoluir. Os alunos nesta

fase de aprendizagem, através da relação social e dos objetivos apresentados,

37

foram conduzidos a resolver problemas de intervenção sobre a bola e

deslocamentos no sentido de melhorar a sua performance no que concerne à

sua a relação com bola, Acredito que nesta turma foi uma boa estratégia para

uma aprendizagem eficiente, sendo que os exercícios propostos foram

essencialmente sobre a forma de jogo reduzido estando sempre em evidência

as transformações do campo, obtendo desta forma mais noções do terreno do

jogo. Segundo Mesquita & Graça (2009), o MAPJ enfatiza o desenvolvimento

de competências para jogar, sendo o ensino da técnica subordinado ao ensino

da tática.

Na figura 4 pode-se constatar parte do PA mais precisamente o primeiro

exercício da parte fundamental da aula que retrata perfeitamente a tipologia de

exercícios que esteve patente nas aulas de voleibol vivido através de

competição saudável também presente no final das aulas, evidenciada pelos

alunos através do êxtase que se sentia nesses momentos.

Figura 4 - Parte do plano de aula nº10 - modalidade voleibol

No início das aprendizagens tentei sempre não evidenciar os erros de

uma forma minuciosa. No início da aprendizagem é necessário criar um clima

de confiança e de desdramatização do erro e do insucesso (Anderson, 1989).

Se os alunos forem confrontados com críticas por parte do professor ou

colegas, tenderão a evitar expor-se ao risco e a jogar pelo seguro, através de

uma falta de empenho. Além disso, procurei ensinar a técnica base não a

sobrepondo ao conhecimento tático necessário para que os alunos possam

38

aprender a jogar a modalidade de forma coletiva sem esquecer as dimensões

sociais associadas.

O MAPJ enquadra-se perfeitamente para concretização destes objetivos.

Mesquita & Graça (2009) consideram que este modelo acentua a necessidade

de o praticante aceder e compreender o jogo (dimensão cognitiva), oferece a

todos oportunidades de prática e de participação equitativa (dimensão social) e

legitima a aquisição de competências táticas, técnicas e físicas na prática do

jogo (dimensão motora).

O tempo utilizado por mim na instrução dos exercícios de aula,

oferecendo tempo aos alunos para a compreensão do mesmo juntamente com

a importância atribuída ao que é necessário para ter sucesso dos alunos nas

tarefas da aula, este ponto de vista é enaltecido na reflexão seguinte pois

acredito que esta compreesão do que é necessário realizar quando existem

vários papéis a desempenhar pelos alunos na aula é sem dúvida vital para que

esta tenha êxito.

“Após o aquecimento reuni todos os alunos no centro do ginásio nº1

para proceder à explicação do primeiro exercício, reforçando todas as

componentes críticas.” (reflexão da aula nº7)

As componentes críticas realizadas nos PA e transferidas aos alunos

através da comunicação oral penso serem uma ótima forma para que estes

obtenham consciência dos objetivos de cada exercício como se observassem

uma imagem clara do que é suposto aprender. Tornaram-se uma enorme ajuda

tanto para os alunos na sua aprendizagem como para mim enquanto EE. Os

conteúdos de ensino devem ser vistos como uma relação entre os seus

componentes, matéria, ensino e o conhecimento que cada aluno já traz

consigo. Pois não basta apenas a seleção e organização lógica dos conteúdos

para transmiti-los. Antes os conteúdos devem incluir elementos da vivência

prática dos alunos para torná-los mais significativos, mais vivos, mais vitais, de

modo que eles possam assimilá-los de forma ativa e consciente (Libâneo,

1994).

O aquecimento geral para as aulas de voleibol foi realizado de forma

muito idêntica na grande maioria das aulas, com a realização de exercícios que

vão ao encontro da melhoria da relação com bola, de forma a conseguir desde

39

o momento da ativação geral aprendizagens que foram significativas para a

evolução dos alunos nas questões técnico-táticas. O meu objetivo ao ter

realizado exercícios incluindo contéudos da modalidade no aquecimento geral,

prende-se no facto de querer aproveitar o pouco tempo que a aulas de EF

contêm (apenas 35 minutos úteis). Os exercícios da parte fundamental também

eles seguiram sempre a mesma estrutura, desta forma os alunos obtiveram o

conhecimento prévio de como as aulas se iriam realizar e otimizar. As

progressões realizadas em cada exercício proposto foram facilmente

entendidas pelos alunos. O excerto da reflexão e a figura 5 que se seguem são

um bom espelho disso:

“...todos os alunos já conhecem as rotinas a realizar na aula destinadas

a modalidade do voleibol, o que demonstra que as regras dos exercícios

já estão interiorizadas por todos.” (reflexão da aula nº13)

Figura 5 - Parte do plano de aula nº5 - voleibol

“Verifiquei nesta aula algumas dificuldades na relação com bola por

parte de alguns alunos”, deste modo, decidi coloca-los individualmente a

exercitar o auto-passe para que exista um maior conhecimento de como

controlar a bola, apesar das componentes críticas terem sido

transmitidas em forma de “feedback”, estes alunos irão necessitar de

mais tempo de exercitação.” (reflexão da aula nº10)

40

De acordo com o excerto acima citado, as dificuldades encontradas ao

longo do período com os alunos com menos afinidade ou menos prática com o

desporto naturalmente surgiram. Sempre que tal acontecia estes alunos eram

colocados “à parte” dando-lhes maior foco, através da demonstração e

feedbacks sempre acompanhada com uma mensagem positiva para que os

alunos olhem para as dificuldades não como problemas encontrados, mas sim

como desafios possíveis de alcançar através da vontade e do esforço. Além

disso, procurei demonstrar sempre os exercícios, como estes deveriam ser

corretamente executados (movimento completo, velocidade correta,

contextualizada na situação em que vai ser utilizada, realizada de diferentes

ângulos), destacando a informação mais importante (pontos críticos reforçados

e acentuados, marcando-se os tempos e os ritmos de execução) (Graça &

Mesquita, 2011).

O feedback teve sempre presente, como um comportamento de reação

da minha parte (verbal/gestual) ao desempenho dos alunos, intervindo no

processo de aprendizagem com a função de avaliar a prestação, de a

descrever, de a prescrever ou de interrogar o aluno sobre o que fez ou como

fez (Januário, 1996). A reflexão que se segue realça os feedbacks fornecidos

aos alunos como instrumentos motivadores para a prática, existindo desta

forma uma fidelização e sucesso na disciplina de EF.

“A atenção atribuída e os feedbacks cedidos aos alunos menos

entendidos na modalidade foram colocados em prática de uma forma

motivadora, mostrando sempre o lado positivo da sua evolução nas

aprendizagens, não deixado de lado os feedbacks para a alteração dos

aspetos menos bem conseguidos, de algum pormenor do conteúdo,

como por exemplo no serviço por baixo, a inclinação do corpo

ligeiramente a frente.“ (reflexão da aula nº16)

Ao longo das aulas reparei que a quantidade de exercícios planeados

era exagerada e que os alunos não assimilavam tão bem os conteúdos, pelo

que decidi diminuir esse número optando assim por aumentar o tempo de cada

exercício, contribuindo desta forma para o aumento da exercitação sem

paragens. Além disso, permitiu-me diminuir a quantidade de instruções

41

fornecidas e aumentar os feedbacks. Este reparo está bem explícito no excerto

que se segue:

“Hoje senti que talvez a elaboração de menos exercícios no

planeamento da aula possa aumentar a relação com bola dos alunos

(objetivo fulcral para a grande maioria da turma), isto é, manter os

alunos em contacto contínuo com a prática da modalidade, diminuindo

desta forma a instrução para um novo exercício substituindo essa

instrução por emissão de feedbacks.” (reflexão da aula nº13)

As experiências ao acaso também aconteceram mais precisamente na

modalidade de voleibol, sendo estas realizada durante a sua lecionação, como

podemos constatar no excerto dessa reflexão:

“Hoje a rede de voleibol estava um pouco mais alta no centro do campo

pois a professora Ana Bento que havia lecionado uma aula de voleibol,

também ela lecionada ao 6º ano de escolaridade. Apesar de ter tido

tempo suficiente para colocar mais baixa a rede achei pertinente deixar

estar a rede um pouco mais alta para de certo modo aperceber-me quais

os alunos que não teriam problema em realizar o passe em apoio nessa

zona em que a rede estava mais alta. Apenas dois pares de alunos não

frequentaram a zona da rede mais alta, o domínio técnico para o

exercício proposto não seria o mais adequado.” (reflexão da aula nº28)

O EP é um “lugar” de formação profissional e pessoal que pode e deve

viver de experiências também elas não planeadas, nesta situação guiei-me

pela intuição e obtive um resultado interessante, permitindo-me uma avaliaçao

formativa de modo a constatar se os contéudos a lecionar estão a ser

alcançados/ensinados, sempre com a concordância da PC em que a sua vasta

experiência permitiu dizer se seria possível aplicar ou não a estratégia

pretendida por mim.

Existiu sempre da minha parte uma grande proximidade com os alunos

como já referi anteriormente alimentada pelo “amor” que tenho pelas crianças

tornando-me em todas as aulas um professor caloroso, a relação próxima foi

também ela sustentada pela colocação de voz que consigo projetar para o

público-alvo. Está qualidade permiti-me manter o contacto mesmo que esteja

42

distante dos alunos. A paixão de ensinar, de estar com os alunos, de estar a

realizar o EP num contexto real fez-me emocionar algumas vezes nunca

esquecendo os meus objetivos de ser um exemplo e de educar através da EF.

A reflexão seguinte demonstra a relação positiva que mantive com os alunos e

que deu aso a um empenho nas tarefas dos mesmos:

“Acredito que todo o rigor e empenho exigido pelo professor nas aulas,

acompanhado sempre de uma mensagem positiva estão cada vez mais

clarividentes quando visualizo a resposta de todos os alunos,

observando cada vez mais uma turma organizada no desempenho das

suas funções. Os alunos cumprem o seu papel mostrando a autonomia

na execução dos exercícios.” (reflexão da aula nº31)

Por vezes a minha colocação de voz foi conotada como negativa pela

PC para que não elevasse tanto a voz na lecionação das aulas. Foi um dos

aspetos a controlar durante o primeiro período. Por vezes ao repreender ou

aquando de algumas instruções ou feedbacks mais entusiastas atingia um

volume elevado demonstrando a minha vontade e o meu acreditar que estes

conseguiam desenvolver as capacidades cognitivas que permitissem

compreender o movimento motor a realizar no exercício. Acredito que esta

postura possa transmitir uma imagem de insegurança. Contudo, quando me

apercebia deste sentimento do aluno procurava explicar que a minha

intervenção era no sentido positivo e entusiasta para que este melhorasse

alguns aspetos menos positivos e contrabalançava com um momento de

descontração e afeto para que este compreendesse a minha atitude. Penso

que este aspeto foi sendo sanado ao longo do ano letivo e que todos os alunos

compreenderam a minha forma de estar/ser. A estratégia utilizada por mim

para que a voz não fosse tão elevada foi realizada através da substituição de

feedbacks à turma (a todos os alunos) sendo estes substituído por breves

reuniões para falar dos aspetos mais importantes de aula/exercício, apesar

disso o feedback mais realizado neste EP foi sem dúvida o feedback

personalizado a cada aluno, indo ao encontro das dificuldades ou êxitos do

mesmo. A reflexão seguinte retrata as reuniões realizadas nas aulas e a

eficácia dos alunos no regresso ás tarefas a realizar na aula:

43

“Nesta aula tentei ao máximo controlar a minha voz. Sempre que obtive

a necessidade de fornecer algum feedback global à turma, reuni os

alunos em menos de cinco segundos e após feedbacks os alunos

regressaram rapidamente ao exercício em questão”. (reflexão da aula

nº31)

Após onze aulas destinadas à lecionação da modalidade de voleibol os

alunos realizaram a avaliação sumativa. Avaliar é mais do que “dar notas”. Na

escola, é necessário valorizar a dimensão formativa da avaliação. Os

professores não ensinam para avaliar, mas avaliam para ensinar melhor e

garantir a qualidade das aprendizagens. A avaliação não se encerra em si

mesmo, é um meio e não um fim (Estanqueiro, 2010). Assim, os alunos

poderão demonstrar a evolução do conhecimento sobre o voleibol, a

exercitação dos vários conteúdos permitiu que estes desenvolvessem

principalmente a relação com bola e despertarem a noção do jogo coletivo

como algo positivo. Penso que os ganhos motores na modalidade de voleibol

neste período vão permitir que os alunos estejam preparados com noções

teóricas e práticas para que as aprendizagens possam progredir no próximo

ano letivo.

No final da lecionação da modalidade de voleibol fiquei muito satisfeito

com a evolução dos alunos. A turma desenvolveu capacidades não apenas

técnicas como também evoluiu nos aspetos táticos, obtendo as primeiras

noções do jogo coletivo, das regras do jogo e da cultura desportiva da

modalidade.

A realização do MEC foi sem dúvida uma excelente ajuda para que a

familiarização com a modalidade fosse desenvolvida bem como aspetos mais

didáticos fossem fortalecidos.

4.3.2.2. Basquetebol

A segunda modalidade coletiva a ser lecionada foi o basquetebol,

durante o segundo período. A realização do MEC, das unidades didáticas bem

como, as avaliações diagnósticas tiveram o objetivo de obter conhecimento

sobre a modalidade e da relação didático-pedagógica que se deveria

enquadrar para o desenvolvimento dos alunos seguindo tal como na

44

modalidade de voleibol, o modelo da Vickers (1990). A situação do jogo, em

campo reduzido 3x3, foi realizado pelos alunos com o objetivo principal de

diagnosticar o comportamento motor nos aspetos técnicos e táticos de forma a

enquadra-los numa das formas básicas de jogo de acordo com o proposto no

MCJI. Após a avaliação diagnóstica pude verificar que, a maioria dos alunos,

apenas realizava o passe e receção com as duas mãos. Os aspetos mais

táticos não eram do conhecimento dos alunos, apenas os alunos com alguma

ligação aos desportos coletivos demonstraram alguma cultura tática, mas

insuficiente para a prática “eficaz” do jogo. A turma situou-se assim na forma

básica de Jogo I segundo o MCJI. Pode-se constatar na figura 6 que consegui

nesta avaliação diagnóstica de basquetebol comparativamente com a de

voleibol (Figura 3) mais informações que detalham os conhecimentos que os

alunos têm acerca da modalidade. Este facto deveu-se à experiência adquirida

anteriormente o que me permitiu ser mais eficiente.

Figura 6 - Parte da avaliação diagnóstica de basquetebol

Legenda: 1 – Realiza; 2 – Não Realiza; √ - Boa execução; √√ - Muito Boa execução

As aulas de basquetebol foram sempre realizadas com o objetivo de

fazer evoluir os alunos nos conteúdos planeados na UD acompanhada de uma

educação estética que será realçado no estudo de Investigação-Ação

enfatizado no Capítulo 6 deste RE.

45

O MCJI no basquetebol obteve uma grande influência nas aulas que

lecionei, permitiu-me que as aulas fossem vivenciadas em ambientes

autênticos de jogo, existindo uma compreensão do jogo tático e a tomada de

decisão necessária para que este possa fluir para situações de Jogo real.

Tavares (2013, p. 166) afirma que “as formas de jogo modificadas inscrevem-

se no universo cultural dos grandes jogos (o basquetebol, o futebol, o andebol)

e apesar das modificações introduzidas, devem poder ser entendidas como

verdadeiros jogos preservando o conceito essencial do jogo de referência”. Em

consonância com este modelo um dos exercícios utilizados foi o ataque

organizado 3x2, este realizado na grande parte das aulas para que os alunos

possam ter tempo de raciocínio na tomada de decisão e desenvolver noções

táticas. A utilização apenas de metade do campo para a realização do jogo 3x2

e 3x3 também ela foi sustentada nas aulas de basquetebol. Este modelo

mantém as características essenciais do jogo de basquetebol, faculta uma

redução muito significativa da complexidade das situações de jogo, proporciona

a cada jogador mais tempo, mais espaço e mais oportunidades para tomar

decisões e intervir ativamente no jogo (Tavares, 2013). Durante a realização

destas situações mantive uma proximidade com os alunos de modo a enviar

feedbacks constantes para que atingissem os objetivos como se pode constar

no excerto seguinte:

“Enviei uma quantidade grande de feedbacks, utilizando como base as

palavras-chave descritas na componente crítica do plano de aula, o

questionamento foi também foi utilizado com o objetivo de despertar os

alunos para a reflexão sobre os sistemas táticos e técnicos sobre o jogo

de basquetebol, deste modo o aluno poderá abarcar todo o

conhecimento com um raciocínio construtivista.” (reflexão da aula nº 41)

Face às dificuldades sentidas pelos alunos nos jogos coletivos, houve a

necessidade de simplificar os exercícios propostos, para que técnica e

táticamente fossem desenvolvidos fornecendo um comportamento motor

adequado para cada situação. Neste sentido, a realização do ataque

organizado 3x1 foi o exercício de eleição. A reflexão a seguir apresentada

ilustra o que acabei de transmitir:

46

“Esta aula obteve um novo exercício, a realização do 3x1 com o objetivo

de aumentar a identificação do espaço livre bem como objetivo de cortar

para o cesto sempre com uma noção jogo coletivo bem patente no meu

discurso.” (reflexão da aula nº47)

Na lecionação desta modalidade optei como estratégia integrante, a

criação de equipas aproximando do proposto no MED. As equipas realizavam

“treinos” com os exercícios propostos, acompanhados por feedbacks do

professor e, pelo questionamento que segundo Harvey & Goudvis (2000) é a

chave para a compreensão.

Os Jogos entre as equipas foram sempre realizados no final das aulas,

permitindo aos alunos uma maior proximidade tácita com o jogo de

basquetebol de forma autêntica e muito próxima da realidade deste desporto

acompanhada pelos meus feedbacks como demonstra a reflexão seguinte:

“A compreensão do jogo de basquetebol começa a ser mais visível nas

equipas, mas a necessidade de por vezes dar feedbacks é vista por mim

como imprescindível para que as aprendizagens no jogo sejam

desenvolvidas e consolidadas.” (reflexão da aula nº 44)

Como podemos constatar na figura 7 foram impostas algumas regras

para facilitar a influência do jogo e, deste modo, os alunos (equipas) pudessem

ter mais tempo para a tomada de decisão, de forma a tomarem perceção das

ações a realizar ao invés de reações inconsciente. Aspetos como a criação de

oportunidades de finalização foram sempre evidenciados de modo a como

afirma Graça et al. (2013, p.167) “conservam o objetivo de jogo e elementos da

relação de cooperação e oposição, das formas parciais de jogo”, de forma a

permitir o sucesso dos alunos na efetivação do cesto.

47

Figura 7 - Parte de um plano de aula da Modalidade de basquetebol

De forma a dar continuidade às influências do MCJI que decidi optar na

lecionação destas aulas na penúltima aula realizei uma atividade designada “a

Taça do 6ºH”, permitindo que as equipas jogassem entre elas evidenciando a

competição, durante toda a parte fundamental da aula. A autonomia mais uma

vez foi cedida aos alunos permitindo que estes se organizem através dos

respetivos capitães.

A avaliação Sumativa foi realizada na última aula sendo esta destinada

ao jogo 3x3 tal como na avaliação diagnóstica, em campo reduzido, todas

equipas foram avaliadas técnica e taticamente como se pode verificar na figura

8. Os alunos continuaram o jogo após os registos efetuados durante a

avaliação sumativa, o fornecimento de feedbacks e questionando cedido aos

alunos, permitiu ao mesmo tempo que as equipas realizassem um jogo lúdico,

dando a liberdade de os alunos decidirem as regras do jogo após a avaliação

diagnóstica. Curiosamente o jogo foi jogado com as mesmas regras que a

48

avaliação sumativa, sendo desta forma demonstrada a ligação positiva dos

alunos com os exercicios/modaliadde lecionada.

Figura 8 - Parte do registo da avaliação sumativa da modalidade de basquetebol

Legenda: 1 – Realiza; 2 – Não Realiza; √ - Boa execução; √√ - Muito Boa Execução

A vertente lúdica aplicada nesta aula permitiu aproveitar “...a inclinação

das crianças para o jogo, para lhes ensinar muitas coisas” Savater (2010, p.99)

e, nomeadamente aumentar o seu gosto pelo Desporto: como retratado na

reflexão que se segue:

“O jogo foi também ele vivido de forma lúdica e com o intuito principal de

os alunos se divertirem e aumentar o gosto pela modalidade. Obtendo a

possibilidade de obter comportamentos que não poderiam realizar

durante o decorrer do segundo período.” (reflexão da avaliação

sumativa)

A avaliação sumativa comparada com a avaliação diagnóstica fez-me

perceber que os alunos evoluíram nas suas capacidades técnicas e táticas do

jogo de basquetebol compreendendo melhor o jogo na sua prática.

49

4.3.2.3. Futsal

O futsal foi a terceira modalidade desportiva coletiva a ser lecionada, tal

como nas modalidades anteriores todos os preparativos em relação ao

planeamento relacionado com a didática e também com a pedagogia foram

realizados antecipadamente utilizando o MID, como base para a lecionação

das aulas, em que o professor realiza o controlo administrativo, determinando

explicitamente as regras e as rotinas de gestão e ação dos alunos (Mesquita &

Graça, 2009).

Após a avaliação diagnóstica constatei que existiam dois grupos

diferentes de alunos em relação ao conhecimento sobre a modalidade. O

primeiro grupo dos rapazes que demonstraram prazer na prática do futsal,

demonstrando as capacidades técnicas e também o conhecimento tático e o

grupo das raparigas que não tinham qualquer relação com a prática do futsal

ou mesmo interesse para a aprender mais ou praticar a modalidade. A reflexão

que se segue retrata a desmotivação que existiu para a prática da modalidade

de futsal por parte de alguns alunos:

“Esta aula destinada à avaliação diagnóstica de futsal obteve por parte

de alguns alunos alguma desmotivação para a realização da mesma. O

pouco interesse demonstrado pela modalidade e a falta de capacidades

técnico-táticas desses alunos ajudou à natural desmotivação para

demonstrar as possíveis capacidades/conhecimentos da modalidade de

futsal.” (reflexão de aula da Avaliação Diagnóstica)

Na tentativa de captar a atenção da turma para esta modalidade, tanto

dos alunos com menor relação com a prática de futsal como na tentativa de

alimentar mais ainda o gosto dos alunos já vinculados a este desporto, estes

apreciaram no final da avaliação diagnóstica um vídeo sobre a história, regras

e conhecimentos gerais. O meu objetivo ao ter planeado a visualização do

vídeo alusivo ao futsal foi alimentar os alunos com imagens cativantes desta

modalidade, este continha também curiosidades que certamente alguns não se

esquecerão. Penso que o resultado foi positivo, a motivação para a

aprendizagem do futsal foi “injetada”, mas senti que não foi suficiente.

50

A adaptação didático-pedagógica necessária para o ensino desta

modalidade à turma do 6ºH fez com que formasse dois grupos de alunos

distintos. Assim consegui que as aprendizagens fossem construídas e

ensinadas a dois grupos de diferentes níveis, o que me permitiu personalizar

toda a interação didático-pedagógica. A base dos exercícios manteve-se para

os dois grupos ao longo das aulas de modo a lecionar todos os conteúdos

planeados na UD. Cada grupo teve o espaço compreendido de 20x20 metros

(metade de um campo de futsal) para a aprendizagem da modalidade.

Por vezes o planeamento realizado para as aulas sofreu alterações por

situações momentâneas e que necessitam de uma decisão também ela

momentânea permitindo assim que o EE com a devida permissão da PC altere

o PA sem modificar quaisquer dos objetivos planeados. Um dos aspetos

essenciais num professor competente é a criatividade e a capacidade que este

tem de desenvolver uma abordagem criativa aos programas, proporcionando

formas diferenciadas de planeamento, desenvolvendo a sua docência nas

condições e circunstâncias com que se depara (Bento, 2003).

A observação sistemática aos alunos dos dois grupos acabou por se

incidir mais pormenorizadamente no grupo com menos habilidades técnico-

táticas. Isto deve-se à minha enorme vontade de despertar nesse grupo o

gosto pela prática da modalidade, e também fornecer-lhes as habilidades

técnicas e táticas que permitam os alunos obterem a vontade de mostrar os

seus dotes no futuro, para que não aconteça como no início da lecionação da

modalidade de futsal.

Numa das aulas, o número reduzido de alunos, que poderia ser

encarado como negativo face ao planeado, permitiu-me refletir acerca da

questão da quantidade de alunos por turma que existe nas escolas.

Atualmente, as turmas têm entre vinte e cinco e trinta alunos, o que dificulta a

relação professor-aluno, não conseguindo o professor por vezes focar-se numa

dificuldade de aprendizagem de um ou de outro aluno. O maior envolvimento

com o aluno e o tempo disponível para ensinar a cada aluno realizando as

correções necessárias poderá alterar de forma positiva a aprendizagem nas

das aulas de EF. O espelho disto encontra-se tratado no excerto seguinte:

51

“Na aula, foi interessante verificar o grupo de alunos com menos

capacidades desenvolvidas na modalidade de futsal, estando estes em

menor número permitiu-me aumentar significativamente o número de

feedbacks direcionados individualmente para cada aluno. O tempo

atribuído para a instrução, feedback, questionamento, demonstração foi

sem dúvida muito maior do que nas aulas anteriores. Penso que a

necessidade de os professores obterem uma turma com menor número

de alunos fará com que exista uma melhoria significativa na lecionação

dos conteúdos previamente programados.” (reflexão da aula nº 90)

Paulo Freire (1989, p.165) “acreditava que como prática estritamente

humana jamais pude entender a educação como experiência fria, sem alma,

em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser

reprimidos por uma espécie de ditadura racionalista. Nem tampouco jamais

compreendi a prática educativa como uma experiência a que faltasse rigor em

que se gera a necessária disciplina intelectual”. Se o objetivo da escola é

educar mais precisamente ensinar os conteúdos que estão planeados, o tempo

e dedicado à lecionação desses conteúdos e a relação próxima com cada

aluno deveria ser no meu entendimento melhor aproveitado, permitindo os

alunos pensar mais e melhor e aprender com entusiasmo.

A penúltima aula foi destinada à avaliação sumativa, que teve como

propósito ajuizar do progresso realizado pelo aluno no final de uma unidade de

aprendizagem, no sentido de aferir resultados já recolhidos por avaliações de

tipo formativo e obter indicadores que permitam aperfeiçoar o processo de

ensino (Ribeiro & Ribeiro, 1999), foi realizada através da utilização dos

mesmos exercícios da avaliação diagnóstica (jogo 3x3 em campo reduzido).

Permitiu uma comparação que expressa as desenvolvimento/evoluções dos

alunos como bastante positivos, permitindo-me concluir que as aulas de futsal

foram úteis para os alunos aprofundarem os seus conhecimentos sobre a

modalidade.

4.3.2.4. Andebol

A modalidade de andebol apesar de contar já com um número reduzido

de aulas (apenas quatro) teve a agravante de perder a última aula devido a

outras atividades que surgiram para o último dia de aulas dos alunos. Devido

52

ao pouco tempo destinado à aprendizagem da modalidade de andebol, o

modelo adotado foi o MID, o aprofundamento de contéudos não foi possivél ser

tão longo como as restantes modalidades coletivas mas através deste os

alunos puderam desenvolver as suas capacidades motoras, sociais e

cognitivas e aprender mais sobre este desporto através da execução de alguns

exercicios que permitissem oferecer uma panóplia de funções em campo,

experienciando a técnica e a tática necessária para uma aprendizagem inicial

desta modalidade. O objetivo principal foi então oferecer aos alunos a

oportunidade de praticar, conhecer mais um desporto coletivo, permitindo

aumentar as experiências desportivas. A história e regras do andebol foram

transmitidas aos alunos na primeira aula permitindo sustentar algum

conhecimento sobre a cultura da modalidade.

O exercício “Passa e Vai Cíclico” foi realizado nas três aulas permitindo

os alunos conhecer as várias funções táticas basilares acompanhadas da

técnica necessária como podemos verificar na figura 9 do PA nº 88 e na

reflexão da mesma. Aqui as habilidades técnicas foram realizadas em função

do contexto tático em que o aluno está inserido no exercício.

Figura 9 - Parte do plano de aula nº88 – modalidade de andebol

53

“Este exercício na sua prática obteve uma variabilidade imensa de

exercícios analíticos (receção, passe, posição defensiva, remate em

apoio, etc) permitindo uma futura adaptação a contextos táticos que

permitam aos alunos compreender o jogo.” (reflexão da aula nº88)

As poucas aulas lecionadas permitiram aos alunos desenvolver as

capacidades cognitivas que permitissem aprender técnicas básicas

necessárias para a aprendizagem da modalidade de andebol. A experiência de

realizar o jogo mais próximo da realidade do jogo formal fez parte da aula

número noventa e três como se pode ler na reflexão da mesma:

“No final da aula, após todos os alunos realizarem as várias funções

(defesa passivo, defesa ativo, passador, atacante, guarda redes) realizei

o jogo 3x2, que apesar de não constar no plano de aula, achei oportuno

aproximar os exercícios progressivamente estando estes cada vez mais

próximos da realidade.” (reflexão da aula nº93)

Nesta aula senti necessidade de aplicar o “jogo 3x2”, permitindo aos

alunos desenvolver a ação no jogo com todas as imprevisibilidades que este

sustenta, não contendo apenas certos movimentos mais analíticos, específicos

como no “Passa e Vai”.

A oportunidade de oferecer mais um jogo desportivo coletivo durante

três aulas aos alunos do 6ºH foi agarrada por mim com a permissão da PC. Os

alunos puderam assim aumentar o leque de experiências desportivas. O futsal

que seria a modalidade coletiva de eleição no último período letivo a ser

lecionada foi substituído pelo andebol, permitindo os alunos vivenciarem o

desporto de uma forma mais ampla aumentando o leque de Desportos

coletivos vivenciados sustentado pelas aprendizagens alcançadas.

Apesar das poucas aulas lecionadas, a realização do MEC foi efetivada

contribuindo para que o planeamento e conhecimento da lecionação da

modaliadade de andebol fosse mais eficaz. A avaliação diagnóstica e somativa

não foram realizadas sendo a avaliação formativa, a avaliação que abarcou a

totalidade das aulas sem qualquer tipo de registo, mas que me permitiu no

54

papel de professor perceber o que seria mais essencial para o tempo reduzido

previamente planeado para as aulas da modalidade de andebol (três aulas).

4.3.3. Pormenores na lecionação das Modalidades Individuais

Aqui vou tentar esclarecer o leitor com alguns exemplos didático-

pedagógicos que foram desenvolvidos durante as aulas na lecionação das

modalidades individuais, de forma dinâmica e agilizada tal como foi realizado

para as modalidades coletivas, sendo o atletismo (lecionado nos três períodos

letivos), ginástica de solo (no primeiro período) e ginástica de aparelhos (no

segundo período). Será evidenciado também o modelo de ensino que esteve

na base da lecionação das modalidades individuais: o MID. Contudo, existiu

sempre influência do MED na lecionação das aulas de atletismo.

Tal como nas modaliades coletivas, optei também por ilustrar sempre

que pertinente com figuras, que fazem parte de documentos pertencentes à

planificação e avaliação dos alunos, aproximando o leitor do trabalho didático-

pedagógico realizado durante o EP.

4.3.3.1. Atletismo

A modalidade de atletismo foi lecionada ao longo de todo o EP seguindo

todo o planeamento tal como nas modalidades coletivas. Os conteúdos

lecionados abrangeram tal como nas outras modalidades lecionadas, aspetos

relacionados a cultura desportiva, as habilidades motoras, os conceitos físicos

e psicossociais propostos por Vickers (1990). As habilidades motoras

lecionadas no primeiro período estiveram na sua base a noção de tempo, ritmo

e espaço dando enfase à corrida de resistência. No segundo período as

habilidades motoras lecionadas estiveram inseridas na corrida de velocidade,

focando conteúdos como a velocidade de reação para que a corrida de 40

metros com partida de pé fosse realizada de forma eficaz. O terceiro período

obteve a lecionação de duas disciplinas: o salto em altura e o salto em

comprimento.

Esta modalidade foi lecionada seguindo o MID, sendo em algumas aulas

influenciada pelo MED desenvolvido por Siedentop (2002) que tem como

objetivo fundamental formar alunos desportivamente competentes, cultos e

entusiastas. Segundo Pereira (2015, p.52) “este modelo foi idealizado como

55

uma resposta à inquietude do autor por descobrir formas mais educativas de

apresentar o desporto no currículo escolar, de moldá-lo num contexto

apropriado e de permitir qua as atividades desportivas tivessem maior

significado e valor para os alunos”.

Vou evidenciar alguns momentos relativos à lecionação das aulas de

atletismo durante o EP demonstrando algumas particularidades que acho

relevantes na minha realização didático-pedagógica seguindo

cronologicamente as disciplinas do atletismo anteriormente referidas.

No primeiro período a corrida de resistência em relação aos aspetos

motores foi lecionada tendo como objetivo principal ensinar noção de tempo,

ritmo e espaço, permitindo o menor desgaste físico possível logo com a

máxima eficácia na realização dos exercícios propostos aos alunos.

Na avaliação diagnóstica, foi realizado o teste Cooper. Após a

verificação dos resultados da turma pude constatar que metade da turma

estava com resultados aqum das expectativas, aspeto também enfatizado pela

PC. Nesse sentido, optei nas primeiras aulas por realizar exercícios em que os

alunos não se sobressaíssem individualmente, através da criação de cinco

grupos homogéneos, desenvolvi as capacidades aeróbias objetivadas para a

lecionação das aulas.

Para trabalhar as habilidades motoras anteriormente referidas (a noção

de tempo, ritmo e espaço), foram realizados exercícios que dessem enfâse a

estes aspetos de modo lúdico-desportivo. Com estes consegui premiar tanto os

alunos com mais capacidades desenvolvidas para a corrida de resistência

como os alunos com menos apreço/relação pela modalidade. Os alunos com

as capacidades motoras mais desenvolvidas na corrida de resistência

obtiveram uma postura respeitosa para com os colegas do seu grupo que ainda

não tinham tanta regularidade/apetência na a prática da corrida de resistência.

Os exercícios postos em prática fizeram-me acreditar que a criação de

grupos/equipas homogéneas poderia ser uma boa forma de os motivar para a

prática da corrida de resistência onde a resiliência tanto dos mais

capacitados/apetência com menos capacitados sofriam de um esforço coletivo

substancial para o sucesso dos resultados.

Tal como já referi, também realizei exercícios desenvolvidos sob a

influência do MED, evidenciando a competição saudável através das equipas

56

difundindo a filiação que promove a integração, no imediato, dos alunos em

equipas e, consequentemente, o desenvolvimento do sentimento de pertença

ao grupo (Hastie, 1998). Permitindo desta forma que os alunos obtenham

vários papéis de responsabilidade (árbitros, capitães e atletas), tornando-me

assim enquanto professor um “observador atento” das ações realizadas e

atuando sempre que fosse necessário. As equipas foram pré elaboradas por

mim com base no conhecimento prévio através da avaliação diagnóstica aos

alunos (teste Cooper).

A próxima reflexão faz-me ressaltar a aula positiva que considero ter

sido realizada para que os alunos aumentassem o gosto e o conhecimento

necessário desta modalidade por vezes tão criticada e repreendida pelos

alunos.

“Nos diálogos que fui tendo com os alunos no decorrer da aula, todos

demonstraram um grande interesse e entusiasmo pela aula que estava a

ser praticada. Um dos alunos por exemplo disse-me que adoraria repetir

a aula que estava a decorrer. Fiquei muito surpreendido com a aula que

preparei, confesso que temi que os alunos pudessem ter imensas

dificuldades em executar todos os papéis que lhe facultei, mas eles

responderam de forma muito positiva para minha total satisfação.”

(reflexão da aula nº11)

O pedido deste aluno foi concedido por mim sendo a aula seguinte com

o mesmo planeamento e a realização do mesmo exercício com ligeiras

alterações não influênciando a base do mesmo. A turma do 6ºH ficou muito

contente e motivada por poder praticar mais uma vez o “jogo das quatro

estações”. Os papéis de responsabilidade atribuídos aos alunos foram

evidenciados na reflexão que se segue:

“O papel dos alunos foi crucial para que a aula decorresse como

pretendido pelo professor. Deste modo terminei mais uma aula de

atletismo muitíssimo contente com o sentimento da tarefa estar

cumprida.” (reflexão da aula nº14)

57

A ativação geral das aulas obteve sempre o objetivo duplo,

primeiramente realizar o aquecimento corporal dos alunos e em simultâneo

desenvolver a técnica de corrida para que os alunos pudessem desenvolver as

capacidades coordenativas e condicionais, conscientizando-os sempre do

movimento mais correto na corrida de resistência. Assim pude alimentar os

alunos com conteúdos técnicos que são verdadeiramente importantes para

uma boa performance na corrida de resistência sendo também evidenciado o

aquecimento corporal necessário como podemos ver na figura 10.

Figura 10 - Parte do plano de aula nº32 da modalidade atletismo

A corrida com o percurso do corta-mato a realizar no primeiro período

também foi exercitada nas aulas de atletismo para que os alunos se pudessem

preparar e ambientar com percurso.

Evidenciei aqui alguns exercícios, momentos, reflexões que culminaram

numa avaliação sumativa positiva. A realização do teste Cooper na avaliação

sumativa permitiu verificar que onze dos alunos melhoraram a sua performance

na realização do mesmo, como podemos ver através da ficha de avaliação

sumativa na figura 11.

58

Figura 11 - Avaliação sumativa – atletismo

O empenho de todos os alunos foi fantástico na aula de avaliação sendo

a contabilização do tempo de prova destinado aos alunos atribuindo assim uma

autonomia à turma sendo o meu papel de observador/ controlador averiguando

assim se o planeado para a aula está a ser realizado pelos alunos.

O segundo período obteve como principal objetivo motor a

aprendizagem da corrida de velocidade, a avaliação realizada através da

exercitação da corrida de velocidade de 40 metros com partida de pé foi

realizada na avaliação diagnóstica e sumativa permitindo-me constatar e

comparar as aprendizagens alcançadas pelos alunos.

59

A primeira aula de atletismo destinada à avaliação diagnóstica da corrida

de velocidade com a distância de 40 metros ( com a partida de pé) permitiu-me

verificar que a grande maioria dos alunos não eram sustentados por

conhecimentos que permitisse obter melhores resultados.

A lecionação do atletismo neste segundo período foi também o palco de

uma educação estética realçada no Capítulo 6 deste RE permitindo que os

alunos desenvolvam a apreciação, a observação, que distingam o belo do feio

e que de certa forma este rigor na análise do movimento através do Desporto

seja transferido para fora deste, tornando os alunos pensadores e críticos

sobre o que observam à sua volta.

Esta corrida de curta distância obteve da minha parte um realce sobre os

aspetos da técnica de corrida, uma vez que os alunos se encontram numa

idade ideal para desenvolver estas competências e posterior técnica eficiente

de corrida. As aulas foram repletas de feedbacks alusivos à técnica necessária

para uma melhoria significativa da performance/conhecimento dos alunos.

Numa das aulas os alunos puderam realizar a prova e estarem completamente

focados nos feedbacks realizados por mim, tais como: o olhar dirigido para a

frente, coordenação dos membros superiores com os membros inferiores de

forma intercalada, elevação dos joelhos, na partida atacar o chão com o pé

mais forte e sair em velocidade. Deste modo permiti que os alunos

apreendessem conhecimentos técnicos necessários para que a velocidade de

corrida seja realizada com o objetivo de a tornar eficaz, permitindo que a

tomada de consciência na realização das corridas fosse o fundamental, não

contendo apenas no pensamento dos alunos a passagem pela meta final.

A transmissão de feedbacks também foi realizada pelos alunos

permitindo que exista um processo de ensino-aprendizagem entre os alunos. O

meu papel quando os alunos trocavam conhecimentos foi o de verificar se os

conteúdos estavam a ser bem transmitidos. Este exercício foi muito bem

conseguido pois os alunos focaram-se precisamente nas componentes críticas

determinantes para o comportamento motor correto. A reflexão seguinte dá

enfase a este aspeto:

“Penso ter sido uma aula muito positiva todos os alunos questionaram-

se sobre a sua corrida e tentaram desenvolver a técnica com um bom

60

tempo de exercitação, a autonomia também emergiu na aula pois a

organização dos exercícios foi inteiramente dos alunos...” (reflexão da

aula nº56)

As componentes críticas do PA foram transformadas em feedbacks e

entregues aos alunos em papel A4, para que os alunos possam ler/ absorver o

comportamento correto a realizar na prova, realizando assim corridas não

somente a pensar simplesmente na chegada à meta, mas fazendo os alunos

pensar conscientemente nas várias fases da corrida e ajustar o comportamento

motor a ser realizado.

Este evidenciar das componentes críticas no formato de papel foi sem

dúvida interessante de analisar pois os alunos demonstraram vontade de ler e

de realizar o comportamento motor necessário para uma corrida de velocidade

eficaz. Na reflexão seguinte refleti acerca desta estratégia de ensino:

“Todas as equipas obtiveram uma folha A4 com os comportamentos

chave para a realização da corrida de forma eficaz. Assim, os alunos

competiram individualmente representado o seu grupo e quando

estavam em espera realizavam a observação e transmitiram os

feedbacks ao aluno que competiu da sua equipa. (reflexão da aula nº62)

A avaliação diagnóstica quando equiparada com a avaliação sumativa

(ambas com a realização da corrida de 40 metros com a a partida de pé como

instrumento de avaliação) permitiu-me verificar que as aulas lecionadas como o

MID sob a influência do MED fez alcançar nos alunos melhorias significativas.

Na avaliação sumativa de atletismo com a corrida de velocidade de 40 metros,

parte dela representada na (figura 12), constatou-se que apenas dois alunos

não obtiveram melhorias no tempo da realização da prova, o que me deixou

muitíssimo contente quando apreciei tais resultados.

61

Figura 12 - Folha de registo da avaliação sumativa – corrida velocidade

O terceiro período foi destinado à lecionação de duas disciplinas do

atletismo: o salto em comprimento e o salto em altura. O meu conhecimento

em relação a estas duas disciplinas foi naturalmente desenvolvido antes da

realização do EP através das aulas de atletismo durante a licenciatura com o

professor Doutor José Barros (ex-selecionador da seleção portuguesa de

atletismo) e, no mestrado de ensino com o professor Doutor Ramiro Rolim.

Também as conversas realizadas com a professora Deolinda Barros que

através do grau de parentesco com o professor Doutor José Barros

possibilitaram-me uma transmissão de conhecimentos importantes para uma

lecionação das aulas.

Os diálogos com profissionais experientes permitiram que os alunos

obtenham não apenas sucesso na aprendizagem da modalidade, mas também

o adquirir gosto pela modalidade. Algo que parece vir a ser desenvolvido nos

alunos do 6º H desde o primeiro período através de exercícios competitivos

entre equipas e distribuição de papéis, com uma autonomia cedida aos alunos

sempre observada e controlada por mim enquanto professor.

62

As duas últimas modalidades foram lecionadas com base no MID. O

salto em comprimento e o salto em altura obtiveram cada uma a duração de

seis aulas. A realização de uma folha A4 com as componentes criticas

transformadas em feedbacks para que os alunos tomem conhecimento do

comportamento motor correto, acompanhado pelos meus feedbacks

personalizados a cada um dos alunos foi também parte integrante das aulas de

atletismo respetivas ao salto em comprimento. Exercícios específicos para um

aperfeiçoamento na execução do salto em comprimento obtiveram o seu lugar

nas aulas não apenas na parte fundamental da aula como também na ativação

geral dos alunos como se pode verificar na figura 13.

Figura 13 - Parte do plano de aula nº77

Todas as aulas obtiveram também a exercitação do salto na sua

totalidade aproximando os alunos da avaliação sumativa como se pode constar

na figura 14.

63

Figura 14 - Parte do plano de aula nº83

Os alunos obtiveram um envolvimento interessante com esta

modalidade, penso que o facto dos materiais necessários para a realização das

aulas (cordas, sinalizadores, régua, vassoura, etc.) foram sem dúvida um fator

entusiasta para uma maior motivação dos alunos na sua experiência com esta

modalidade. Algumas das aulas devido às condições climatéricas não foram

realizadas no ambiente indicado (pista de velocidade e a caixa de areia), mas

sim no ginásio nº1 onde evidenciei as capacidades condicionantes e

coordenativas necessárias para que os alunos possam evoluir na prática do

salto em comprimento, para que atingissem melhores resultados na realização

da avaliação sumativa, acompanhado sempre pelo comportamento motor

correto com exercícios vigorosos como poderemos ler na reflexão que se

segue:

“Esta aula não foi realizada no espaço exterior pois as condições

climatéricas não permitiram a lecionação da aula na pista do salto em

comprimento para a caixa de areia. O espaço utilizado para a lecionação

da aula foi o ginásio nº1 utilizando apenas metade do espaço. Neste

sentido utilizei o máximo de estações para que a aula obtivesse o

máximo de intensidade nos exercícios realizados.” (reflexão da aula

nº77)

A avaliação sumativa permitiu-me verificar uma melhoria significativa no

pensamento sobre o comportamento que o corpo deve tomar para a correta

execução do salto em comprimento. Os alunos aumentaram significativamente

a distância alcançada nesta avaliação comparando com a avaliação

64

diagnóstica. O comportamento motor consciente foi verificado por mim quando

avaliei os alunos permitindo deste modo acreditar que este foi acompanhado

por um raciocínio sobre quais as ações a tomar para que o salto fosse

realizado com sucesso. A reflexão da avaliação sumativa remete para as

palavras acima escritas:

“A grande maioria dos alunos da turma do 6ºH durante este 3º período

demonstrou uma enorme relação com a modalidade e vontade de

realizar todos os exercícios a lecionados durante todas as aulas.

Acredito que todos os alunos desenvolveram o seu comportamento

motor sendo estes evidenciados quando comparada a avaliação

diagnóstica com a avaliação sumativa.” (reflexão da avaliação sumativa)

4.3.3.2. Ginástica de Solo

A ginástica foi o desporto lecionado durante o primeiro e segundo

período com as modalidades: ginástica solo e ginástica de aparelhos.

O MID foi a base para a lecionação para as aulas de ginástica. Graça &

Mesquita (2009, p.48), sobre a ação do professor no MID afirmam que “o

professor realiza o controlo administrativo, determinando explicitamente as

regras e as rotinas de gestão e ação dos alunos, de forma a obter a máxima

eficácia nas atividades desenvolvidas pelos alunos”.

Sendo a ginástica uma modalidade passível de muitos acidentes ou

lesões, a aplicação deste modelo foi uma estratégia preventiva que me

possibilitou reduzir situações que pudessem proporcionar comportamentos fora

da tarefa e que estes dessem aso a algum ferimento por parte de algum aluno.

O primeiro período destinado à lecionação de ginástica de solo

começou, a par com todas as outras modalidades lecionadas, com a avaliação

diagnóstica. Os conteúdos avaliados na avaliação diagnostica permitiram-me

compreender que conhecimento é que os alunos traziam do anterior ano letivo

relativamente a esta modalidade. Apesar da grande maioria dos alunos estar

familiarizado com os conteúdos a serem lecionados, as noções corporais dos

mesmos não me pareceram satisfatórias como se pode ler no excerto da

reflexão seguinte:

65

“Senti que a noção corporal dos alunos não é uma mais-valia para a

modalidade de ginástica de solo, deste modo aproximei-me dos alunos

que não realizavam o exercício correto, como por exemplo na execução

da rotação dos ombros este era substituído pela rotação dos cotovelos.“

(reflexão da aula nº10)

Neste sentido dei uma enorme importância à ativação geral para que

esta noção corporal fosse desenvolvida de forma positiva. É com base nesta

noção que as crianças são capazes de dominar os seus movimentos. O

esquema corporal é a representação que cada um faz do seu próprio corpo e

que lhe serve de ponto de referência no espaço. Isto significa que, o esquema

corporal é na sua essência o conhecimento do corpo, a noção exata do

individuo em relação ao seu próprio corpo, bem como, a sua ocupação no

espaço, quer das suas partes como do todo. Uma criança que se sinta à

vontade significa que ela domina o seu corpo, utiliza-o com desenvoltura e

eficácia, proporcionando-lhe bem-estar, tornando fáceis e equilibrados seus

contatos com os outros (Meur et al., 1989). Assim, com este foco direcionado

para o controlo e conhecimento corporal de cada aluno, verifiquei melhorias

significativas no decorrer da lecionação das aulas fazendo parte das reflexões

de aula realizadas ao longo a lecionação da modalidade de ginástica de solo

acrescentando-me uma motivação para continuar a educar através do

Desporto, como é possível ler no excerto da reflexão que se segue:

“A ativação geral dos alunos no início da aula foi realizada como já é

costume. Denoto bastante evolução em todos os alunos no aquecimento

corporal localizado, transmitindo-me uma maior noção corporal, algo que

não era verificável no início do ano letivo. Todos estes aspetos são

prazerosos para quem leciona. Observar a evolução dos alunos é sem

dúvida um prazer inigualável.” (reflexão da aula nº30)

Todos os alunos no início, no decorrer e até ao final das aulas foram

levados a ter uma “atitude militar”. O meu papel de professor constou de um

comportamento autoritário, não permitindo grandes distúrbios comportamentais

dos alunos fora da tarefa. A entrada na sala de aula (ginásio nº2) foi sempre

66

realizada pelos alunos em “fila indiana” transmitindo deste modo aos alunos o

rigor que seria exigido nesta modalidade desportiva.

O espaço de aula para a lecionação das aulas de ginástica era reduzido

e a facilidade de comunicação entre os alunos por vezes não foi do meu

agrado, existiram assim alguns castigos fornecidos aos alunos com por

exemplo: trocar de estação o aluno que teve um comportamento fora da tarefa,

de modo a não prejudicar o trabalho do grupo que estava nessa estação. Este

tipo de castigos resultou bem, uma vez que, os alunos ao realizarem

autonomamente os grupos em que queriam exercitar os conteúdos de aula,

logicamente não se querem sair desse mesmo grupo de trabalho.

Os feedbacks bem como a demonstração da minha parte no decorrer de

todas aulas estiveram em evidência permitindo desta forma uma

exemplificação correta dos exercícios propostos.

No início e no final das aulas de ginástica, neste caso de solo os alunos

tiveram a tarefa de colocar o material necessário para a realização da aula bem

como a arrumação do mesmo, regra essa sempre cumprida corretamente

demonstrando a autonomia existente na turma.

Com o decorrer das aulas a aprendizagem por pares surgiu sendo deste

modo o militarismo imposto nas aulas mais suave, permitindo aos alunos a

troca de feedbacks para a realização do exercício gímnico mais correto sempre

acompanhado da observação exigente que tive enquanto professor com a

turma.

“A música fez parte desta aula, o muitíssimo bom comportamento da

turma leva a que certos mimos possam ser permitidos por mim no papel de

professor. Acredito que este aspeto nas aulas é muitíssimo motivador para

todos os alunos, a exigência na aula de ginástica é elevada. A exercitação dos

conteúdos são uma constante, fazendo lembrar a ginástica de Ling, o professor

e a música são então os moderadores para que esta não seja tão “militarizada”.

(reflexão da aula nº30)

Algumas aulas foram lecionadas com a audição de música clássica e

Jazz transmitindo mais uma vez o rigor e a concentração necessária para a

prática da aula de ginástica de solo. Senti que os alunos ao som da música

ficavam mais concentrados na preparação para a realização dos vários

67

exercícios permitindo assim uma evolução do comportamento motor mais

rápido.

O grupo de raparigas, que tinha ligação com a Dança Contemporânea,

numa das doze aulas lecionadas, realizou uma demonstração da performance

realizada no “I sarau do AESH”. Em consonância com a PC esta vontade das

alunas foi deliberada. Obtivemos assim um “show” de cinco minutos no final da

aula repleto de movimentos harmoniosos que culminaram num alvação de

palmas de todos os presentes.

“Quando faltavam dez minutos para terminar a aula cinco alunas

decidiram demonstrar a coreografia de dança contemporânea que

tinham elaborado nos tempos livres, assim, decidi no final da aula

realizar um miniespectáculo realizado pelo grupo de dança

contemporânea da turma. Deste modo, coloquei os alunos todos

reunidos, sentados aplaudindo inicialmente as “artistas” que iriam

apresentar a sua performance de dança. (…)

“Todos os alunos e professores da turma do 6ºH ficaram bastante

deslumbrados com a performance das alunas, todos os espectadores

presentes bateram palmas como forma de agradecimento e elogio ao

espetáculo presenteado pelas 5 alunas.” (reflexão de Aula nº 21)

Estes alunos paulatinamente foram apresentados com certos momentos

mais lúdicos com objetivo principal de os motivar para a prática correta dos

exercícios propostos. As aulas penso terem sido muito gratificantes, o esforço

dos alunos notável nas aulas ao realizar os exercícios gímnicos pedidos.

Também foi gratificante para mim enquanto EE e fez-se denotar quando

comparada a avaliação diagnóstica com a avaliação sumativa.

Na reflexão da última aula de ginástica de solo lecionada no final do

primeiro período refleti de forma metafórica comparando a turma a um presente

de natal. Durante as aulas de ginástica de solo os alunos surpreenderam-me

imenso tanto com o comportamento responsável como pela resiliência de

ultrapassar as dificuldades/desafios que foram apresentadas aos mesmos bem

como na avaliação sumativa.

68

4.3.3.3. Ginástica de Aparelhos

A ginástica de aparelhos foi a modalidade lecionada no segundo período

e permitiu dar continuidade ao trabalho realizado na lecionação das aulas de

ginástica de solo durante o primeiro período. A educação estética esteve

presente durante a totalidade das aulas e é evidenciada no capítulo 6 deste

RE.

A entrada na sala de aula (no Ginásio nº2) por parte dos alunos foi mais

uma vez evidenciada por mim para que as regras de funcionamento das aulas

de ginástica de aparelhos fossem cumpridas com o rigor desejado. Na primeira

aula, comuniquei aos alunos, quais os comportamentos a ter em conta para

que a aula se iniciasse rapidamente e de forma organizada como podem ler no

excerto da reflexão seguinte:

“A aula iniciou com a transmissão de algumas mudanças sobre as

regras de funcionamento de aula para este segundo período. A partir do

da próxima aula a turma terá de realizar uma apresentação em fila

indiana (“militarizada”) para a aula dar inicio, neste sentido todos os

alunos terão de realizar uma fila por ordem crescente, do aluno mais alto

para o aluno mais baixo, com uma postura corporal correta, após o “Bom

dia” do professor em frente a essa fila, todos os alunos respondem ao

mesmo tempo da mesma forma.” (reflexão da aula nº40)

O uso de vestuário personalizado para os alunos do 6ºH foi requisitado

por mim, uma t-shirt branca seria o elo de ligação entre eles, apesar de ter sido

exigido, existiram sempre alunos que não cumpriam as regras do vestuário

para a realização da aula. Acredito que este facto advém da importância que os

pais dão à disciplina de EF, pois os alunos apesar de transmitirem o vestuário

que necessitam para a prática da aula, por vezes estes não traziam o vestuário

pedido por mim.

Nas primeiras aulas a minha ajuda foi indispensável para agilizar o início

da aula, de modo a que os marteirais necessários para a lecionação da aula

(colchões, minitrampolins, bock’s, plinto, sinalizadores etc.) fossem colocados

para a prática dos exercícios gímnicos. Com a experiência aula após aula dos

alunos, estes dispostos em pares conseguiram realizar essa tarefa, sendo esta

69

realizada após a ativação geral da turma. A reflexão que se segue retrata de

forma clara como foi realizada esta regra de funcionamento de aula:

“Organizei os alunos rapidamente em cinco filas indianas e dois a dois

em cada grupo trouxeram o respetivo material (boques, trampolins,

minitrampolins etc.) para a estação que lhe foi imposta. Os reajustes do

material foram realizados por mim enquanto os alunos traziam os

colchões. A realização de cinco grupos e cinco estações penso ter sido

muito bem conseguida.” (reflexão da aula nº60)

As folhas A4 com as componentes críticas estiveram mais uma vez em

evidência nas aulas de EF, foram cedidas aos cinco grupos de alunos

existentes da turma, cada estação continha uma folha A4 com os

comportamentos que o professor queria ver nos alunos. Assim, aqueles que

estavam em modo de espera para realizar o exercício poderiam não apenas

observar o exercício do colega como também ler os comportamentos chave

para a correta realização do exercício gímnico, refletindo sobre os mesmos,

permitindo uma racionalização antes durante e após a realização do exercício,

esta importância sobre a troca de feedbacks entre os alunos também foi alvo

de reflexão da minha parte:

“A colocação das folhas com os comportamentos chave para leitura dos

alunos em tempo de espera no início de cada estação foi sem dúvida

uma excelente forma de fornecer feedbacks e de aumentar o seu

número na aula sem que este seja transmitido apenas de forma oral.

Penso que é essencial para os alunos esta permanente comunicação do

que é realmente importante para cada exercício acompanhado

coerentemente com o movimento motor.” (reflexão da aula nº63)

Todas as aulas foram bastante vigorosas, a utilização do material

necessário para a realização da aula penso ter excitado os alunos durante as

aulas. A música acredito ter sido também outro elemento que ajudou para que

os alunos vivessem a aula mais intensamente.

O rigor das aulas de ginástica exigido desde o primeiro período foi bem

aceite pelos alunos, os desastres que acontecem nas aulas de ginástica por

vezes levam a mazelas que não queria correr o risco que ocorressem e, nesse

70

sentido obtive este comportamento mais militarista que foi sendo suavizado

com algumas situações em que a educação estética esteve a ser aplicada.

Devido à organização exigida e o rigor implementado nas aulas o sucesso foi

visível na maioria dos alunos quando se visualiza a avaliação diagnóstica e

sumativa de ginástica de aparelhos.

71

5. Participação na Escola e Relações com a Comunidade

"Para além das ideias que nos são próprias, há

ideias que “pairam” no mundo e “entram” na cabeça das

pessoas quando elas deixam de ter tanta credibilidade

em si próprias" (Silva, 2006, p.40).

5.1. Introdução

A escola é o palco dos professores na sociedade. Estes têm em mãos a

“matéria-prima bruta” para a construção do pilar da sociedade: o ser humano.

O professor de EF concretamente é responsável por uma dimensão

social – a cultura corporal. Deste espera-se que através de atitudes

pedagógicas, não se centre apenas na mecanização do conhecimento, mas

que leve os alunos a modificar a conceção do mundo, difundindo novas

maneiras de pensar. Contudo, o professor de EF, devido à sua curta e

conturbada história ainda procura nas suas instituições conquistar o respeito

profissional e social. A EF é obrigada a viver assim entre a luz e a sombra,

entre a contradição dos termos, “faz falta”, mas “vale pouco” (Graça, 2014).

Assim, os profissionais desta área ainda são vistos muitas vezes como

entertainers, encarados como responsáveis por divertir os alunos ao passo que

os professores das outras disciplinas responsáveis pelo desenvolvimento

intelectual e transmissão de conhecimento.

Neste sentido, cabe ao professor de EF ser proactivo e inserir-se na luta

pela socialização da cultura, não se cingindo apenas à transmissão de

conhecimentos, mas à criação de condições para que os alunos tenham novas

experiências e aprendam a pensar por eles mesmos. Assim, o professor de EF

deverá ser um organizador e criador de recursos em sintonia com os colegas

72

das outras áreas e a comunidade escolar em geral, envolvendo todos os

alunos em atividades curriculares e extracurriculares, no espaço escolar ou fora

deste. Deste modo, possibilitará em simultâneo a difusão de conhecimento,

atitudes e valores bem como, a formação de cidadãos críticos éticos e

participativos no contexto em que estão inseridos.

Neste capítulo será apresentado o meu envolvimento na EBSH,

demonstrando o meu contributo e participação na comunidade escolar.

Procurei junto da minha colega de estágio e dos professores da escola sempre

que possível realizar e participar, em atividades lúdico-desportivas que

proporcionassem aos alunos experiências novas, aumentassem o gosto pelo

desporto, bem como, na promoção de uma vida saudável e ativa. Assim, serão

aqui descritas tanto as atividades planeadas pelo NE e aquelas em que estive

ativamente envolvido.

5.2. Desporto Escolar

5.2.1. Corta-mato

O corta-mato, competição inserida no programa do desporto escolar, foi

sem qualquer dúvida um evento verdadeiramente fantástico, que envolveu toda

a comunidade escolar.

Através do ambiente festivo vivido nesse dia foi possível unir os alunos

ao desporto, mais precisamente ao atletismo. Todo o evento foi planeado com

a devida antecedência na reunião sobre o corta-mato com todos os professores

do grupo de EF da EBSH. As tarefas para cada elemento do grupo de EF

foram destinadas pormenorizadamente para que cada professor(a) soubesse

qual a sua função e nada fosse deixado ao acaso. Para tal, foi necessário um

grupo coeso e com vontade de realizar um verdadeiro evento Desportivo.

Como EE senti na reunião destinada ao planeamento do corta-mato que

existiu uma enorme importância dada ao evento a realizar no dia dezassete de

dezembro de pelos professores de EF do EBSH. Estes tipos de atividades

desportivas são essenciais para aproximar todos os alunos ao desporto e à EF.

Uma imagem vale mais do que mil palavras e certamente as vivências repletas

de valores estéticos e experiências motoras e sociais que ficarão presentes nas

memórias de todos os alunos.

73

A presença da atleta Olímpica Fernanda Ribeiro, a

terceira atleta nacional a conseguir o ouro olímpico, depois de Carlos

Lopes e Rosa Mota foi sem dúvida muito importante para os alunos. Através da

minha rede de contatos ligados ao atletismo consegui que o núcleo de estágio

se apresentasse com a presença de uma atleta de patamares olímpicos. A

Academia Fernanda Ribeiro deslocou-se assim à escola e realizou uma sessão

de autógrafos, acompanhada com algumas atividades (lançamento do dardo,

do disco e corrida de barreiras) para que os alunos da EBSH aprofundassem o

conhecimento sobre as várias disciplinas que o atletismo oferece.

Apesar de nem todos os alunos conhecerem o percurso desportivo desta

atleta e da importância que teve para o desporto nacional e internacional da

modalidade de atletismo, a sua presença foi para eles uma grandíssima

surpresa e responderam com um enorme agrado à sua presença associado ao

seu sucesso desportivo. O convite para treinar na academia Fernanda Ribeiro

esteve disponível para todos os alunos da EBSH aumentando assim o leque de

opções para os alunos começarem ou mudarem a formação desportiva

necessária para que definitivamente o desporto possa ser uma mais-valia para

os alunos.

5.2.2. Mega-Sprinter

A EBSH também aderiu de braços abertos ao projeto Mega-Sprinter

concebido pela Federação Portuguesa de atletismo e a Direção Geral de

Educação no projeto relativo ao desporto Escolar e realizado no Estádio

Municipal da Póvoa de Varzim. Foram realizadas três provas neste evento: o

salto em comprimento, Corrida de 1000 metros e a corrida de velocidade de 40

metros.

Professores como a nossa PC, a professora Ana Bento, a professora

Deolinda Barros e os estudantes estagiários foram destacados para

acompanharem os alunos que ficaram selecionados através das provas que

realizaram antecipadamente na EBSH e na ESSH pertencentes ao AESH.

O Mega-Sprinter foi e é um excelente meio para a promoção não

somente do atletismo, mas também do desporto enaltecendo todas as suas

propriedades intrínsecas a ele mesmo. Enquanto EE acredito que o desporto

Escolar é um elemento importante para a transformação da própria escola,

74

tornando-a mais ativa, mais solidária, mais cooperativa dignificando o

verdadeiro valor do desporto aumentando também a dimensão cultural do

mesmo. O desenvolvimento social dos desportistas tem menos a ver com a

prática em si mesma e mais com a filosofia das organizações desportivas, a

qualidade dos processos de orientação do treino, natureza do envolvimento

parental e das experiências e dos recursos individuais dos participantes (Smith

& Smoll,2002).

A chegada ao Estágio Municipal da Póvoa de Varzim teve para os

professores e estudantes estagiários algum impacto, a organização esteve a

um nível de exclência e, os comentários à chegada fizeram-se ouvir. As

bancadas estavam ocupadas pelos pais, convidados, professores, alunos

(atletas) que permitiram um dia Desportivo exemplar. Esta organização

desportiva foi vista por mim como um excelente instrumento de

desenvolvimento humano que não somente coloca os alunos em movimento

como os patenteou com uma plenitude estética repleta de ética praticada pelos

seus intervenientes.

A minha tarefa cingiu-se em primeiro lugar, no acompanhamento dos

alunos às respetivas provas, em segundo lugar ao fornecimento de

instrução/feedbacks necessários para uma melhor performance nas provas e

em último lugar e não menos importante que as anteriores motivar os alunos

para a realização de uma prova com sucesso.

Sendo a escola o único veículo difusor e promotor de atividades físicas à

maioria das crianças e jovens acredito que estas atividades extracurriculares

podem e devem proporcionar aos alunos o que é o desporto praticado com o

seu verdadeiro significado, repleto de fair-play, promovendo a igualdade de

oportunidades.

Com atividades desportivas altamente organizadas é possível tornar a

escola mais unida, colocando desta forma todos os alunos, pais e professores

mais próximos dos seus objetivos educacionais.

Infelizmente, só os alunos com resultados que permitiram a classificação

para o Megasprinter estiveram presentes. Acho pertinente que os alunos que

não obtiveram uma classificação suficiente para chegar à fase seguinte (final) e

tenham desempenhado as aulas de EF até então com empenho, dedicação,

desejo de aprender mais sobre o desporto deveriam ser participantes ativos

75

neste projeto do desporto escolar fazendo-o evoluir na transmissão de valores

ético-desportivos na sociedade.

5.2.3. XVIII Torneios Desportivos Inter-Escolas Matosinhos

Foi com um enorme prazer que aceitei o convite do professor Doutor

Eduardo Santos, logicamente autorizado pela PC em participar no XVIII

Torneio Desportivo Inter-Escolas Secundárias do concelho de Matosinhos

realizado no pavilhão Municipal da Senhora da Hora.

Este evento foi da responsabilidade dos professores de EF e das

direções das escolas: Escola Básica e Secundária do Padrão da Légua,

Secundária Abel Salazar, Escola Secundária de Augusto Gomes, Escola

Secundária da Boa Nova, Escola Secundária Gonçalves Zarco e ESSH, e

conta com a participação de alunos destas escolas pertencentes ao Concelho

de Matosinhos e também com o apoio da respetiva Câmara Municipal de

Matosinhos com a cedência do Espaço. Foi na semana de onze a quinze de

Abril de 2016 que decorreram os XVIII Torneios Desportivos Inter-Escolas

Secundárias do Concelho de Matosinhos.

Nos dias 12, 13 e 14 de abril fui parte integrante deste projeto desportivo

escolar, não somente como treinador principal da equipa feminina e masculina

de futsal da ESSH como estive também envolvido em questões logísticas

inerentes ao acompanhamento de alunos neste tipo de evento.

A experiência enquanto treinador da equipa feminina e masculina da

ESSH foi muito gratificante para mim enquanto EE, apesar de não conhecer os

alunos que estava a dirigir (os atletas pertenciam à ESSH). Com o obstáculo de

não conhecer os alunos, consegui rapidamente através da relação efetivada

com as duas equipas criar 2 grupos bastante fortes e coesos de modo a

alcançar o melhor resultado possível neste XVIII torneio desportivo Inter-

Escolas secundárias do concelho de Matosinhos. Assim, a fraca ligação com

os alunos foi rapidamente quebrada, sentindo um ambiente bastante agradável

com estes alunos.

A equipa feminina apresentou menos qualidades técnicas e táticas, o

que não nos permitiu chegar à final, ficando assim pela meia-final. Quero deixar

aqui bem claro o empenho e esforço de todas as alunas. O esforço do

momento não permitiu, no entanto, o sucesso classificativo da prova, deste

76

modo fiz chegar a informação ao professor Eduardo Santos, que existindo uma

prática frequente destas alunas na escola (desporto escolar da modalidade de

futsal) poderiam rapidamente progredir e obter melhores resultados no futuro.

A equipa masculina esteve presente na final, alcançando em todos os

jogos não somente resultados positivos, como também demonstrou uma

excelente conduta desportiva, representando de forma muito positiva o nosso

agrupamento.

Parafraseando o professor Doutor Eduardo Santos acerca da

participação do NE neste torneio: “acredito que todo o empenho, o denodo, a

jovialidade, a alegria e o profissionalismo demonstrados foram decisivos para

os resultados obtidos”.

O esforço da minha parte foi enorme, a minha vontade de conseguir o

melhor resultado possível foi levado a cabo exaustivamente. Apesar da minha

inexperiência como treinador, a minha instrução e feedbacks fizeram parte

integrante de todos os jogos aliada a uma boa disposição que senti obrigatória

transmitir e que resultou numa falta de voz nos dias seguintes devido ao

esforço durante os Jogos para que todos os feedbacks fossem percebidos

pelos alunos de forma clara.

Em relação aos resultados obtidos, a equipa feminina de futsal da

Escola Secundaria da Senhora da Hora alcançou o 3º lugar e a equipa

masculina de futsal alcançou o 2º lugar no XVIII Torneio desportivo Inter-

Escolas Secundárias do Concelho de Matosinhos, feito inédito até à data, o

que me deixou muito feliz. Apenas as finais foram realizadas no pavilhão da

Bataria, todos os outros jogos foram realizados no pavilhão Municipal da

Senhora da Hora.

Este tipo de torneios desportivos intraescolas ajudam no meu entender a

divulgar, incentivar e proporcionam a prática desportiva de forma organizada e

sistemática, aos alunos envolvidos. Contudo, acredito que este tipo de Torneios

deveria ser melhor desenvolvido no sentido de abarcar mais alunos e

professores das escolas que nele participaram bem como serem realizados de

forma sistemática.

77

5.3. Atividades do AESH

5.3.1. Cicloturismo

O AESH tem como umas das suas preocupações fundamentais a

promoção de hábitos de vida saudáveis junto da comunidade escolar. Dentro

dos vários projetos realizados pelo agrupamento, com base nesta

preocupação, o departamento de expressões e tecnologias, coordenado pelo

professor Doutor Eduardo Santos realizam anualmente um cicloturismo, aberto

à comunidade escolar, mais especificadamente aos familiares, amigos e

professores do AESH.

Este evento consiste na realização de um passeio de bicicleta no

concelho de Matosinhos. O percurso delineado tem cerca de 30Km e permite

uma confraternização intensa entre toda a comunidade escolar, consolidando

os laços que esta deve ter mas que na minha perspetiva deveriam ser mais

frequentes.

Neste evento foram me destacadas algumas funções:

Preparação e posterior distribuição das t-shirts e dorsais a todos os

participantes;

Acompanhamento dos participantes durante todo o evento com o intuito

de garantir a segurança dos mesmos;

Ajuda na distribuição do reforço alimentar a meio do evento.

O evento teve início às 8:30h com a concentração de todos os

participantes, polícia, carros de apoio, etc. Após a distribuição do material,

partimos por volta das 9:00h, como estava previamente estabelecido, sem

ocorrerem por isso atrasos. Durante a realização do percurso procurei cumprir

a função que me estava destinada, reorganizando os participantes sempre que

necessário de modo a que as regras de segurança fossem cumpridas. Para tal,

necessitei de percorrer todo o plutão por diversas vezes. Além disso, mantive

sempre uma postura divertida, onde se fez notar a boa disposição e sentido de

humor, proporcionando um convívio alegre e divertido a todos os participantes.

O intervalo para um reforço alimentar foi realizado na praia de Angeiras

com a imprescindível ajuda dos funcionários. Prontifiquei-me para ajudar na

entrega do reforço alimentar e encaminhei também alguns participantes à casa

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de banho mais próxima que ficava a 200 metros. Após a contagem de todos os

participantes, regressamos à estrada. No final do percurso, alguns alunos

precisaram de alguma motivação para terminar o percurso e, foi nesse sentido

que fiquei com o grupo que estava mais longe da meta procurando dar-lhes

algum apoio e força para que os alunos chegassem ao final do percurso.

O percurso terminou no Parque do Carriçal na Senhora da Hora onde se

realizou um almoço-convívio demonstrando à cidade da Senhora da Hora a

vontade que o AESH tem em continuar a desenvolver projetos que evidenciem

hábitos de vida saudáveis, acompanhado de uma ética profissional excecional

que sem dúvida fez enaltecer este AESH onde me senti muitíssimo integrado.

Após este convívio de cerca de 1 hora e 30 minutos a contagem de todos os

alunos foi realizada novamente para que o regresso à EBSH fosse realizado.

Para terminar este evento, procedemos à entrega de lembranças aos

participantes, cedidas já na EBSH pela loja “Bicicletas Coelho” (esteve

encarregue de dar apoio técnico às bicicletas).

Penso que a envolvência neste evento permitiu-me ter uma ideia mais clara

do que é necessário para realizar uma atividade desportiva com dimensões

maiores das anteriormente relatadas, uma vez que envolveu todo o

agrupamento teve obviamente uma logística maior e a necessidade de uma

organização cuidada e rigorosa para que tudo decorresse sem incidentes e,

para que quaisquer imprevistos fossem solucionados rapidamente. Por outro

lado, possibilitou-me cimentar a consciencialização da importância destas

atividades extracurriculares que contribuem para o desenvolvimento social,

formando crianças e jovens para um convívio saudável com os outros,

transmitindo valores básicos e triviais de bem viver em sociedade e

consequentemente orientando os jovens para caminhos saudáveis, criando

uma base para um crescimento físico e mental adequados.

5.3.2. II Sarau do AESH

O sarau realizou-se no dia três de Junho na ESSH. Após a receção e

acomodação de todos os alunos, os últimos ensaios começaram pelas 17h00

com todos os grupos de alunos a realizarem as suas performances de forma

organizada. Enquanto os últimos ensaios aconteciam, fui chamando aluno a

aluno para que os pudesse caracterizar (de palhaço) de modo a que estes

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sentissem mais a personagem que iriam representar, o espelho da sala de

ginástica da ESSH foi uma excelente ajuda para que existisse uma melhoria

significativa das expressões e movimentos a utilizar na personagem de

palhaço. As magias já estavam consolidadas, os treinos realizados neste dia

permitiram que se aprimorassem alguns pormenores que considerei

importantes e que são eficazes.

Foi também realizado um jantar comunitário antes de iniciar o sarau, em

que cada aluno trouxe uma “multa”. Este momento permitiu que os alunos

descontraíssem e deste modo aliviasse o nervosismo que estava a sentir por

serem uma das figuras principais desse dia.

Às 21h00 o sarau deu início conforme planeado. Todos os grupos

estavam ansiosos por proporcionar um bom espetáculo a todos os

espectadores (familiares, amigos, professores, alunos, funcionários etc. Foi

com enorme entusiasmo que participaram neste II sarau realizado pelo AESH.

O meu papel neste dia foi de motivar, descontrair e organizar todos os

alunos para que as várias performances fossem realizadas atempadamente e

com sucesso. Penso que esta atividade com as crianças fez desenvolver e

evoluir o seu amor pela escola, não apenas para os que participaram nas

performances como também para todos os pais, alunos, amigos e professores

que apreciaram o espetáculo, aproximando assim toda a comunidade.

Quando o Sarau já havia terminado e apenas organizadores/professores

estavam presentes no local, as congratulações foram cedidas pela Diretora da

Escola Isabel Pina, pela PC e pelo professor Nuno Claro (professor de teatro)

em relação à minha envolvência, dinamismo e profissionalismo demonstrado a

todos os professores/alunos, comunidade escolar e pais que esteve presente

nesta festividade. Mais um dia em que foi enfatizada a EF e a facilidade da sua

permeabilidade com as várias disciplinas, desta vez com a área circense.

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5.4. Projetos do Núcleo de Estágio

5.4.1. Workshop de Malabarismo realizado na EBSH

O Workshop realizado no dia 15 e 16 de Dezembro no interior da EBSH,

mais precisamente no átrio (em frente à porta principal) onde se deslocam

alunos e professores para aceder as salas de aulas, secretaria, bar de alunos e

professores etc. com o objetivo de durante estes dois dias (9 horas no total)

desenvolver nos alunos que apreciaram e experienciaram competências ao

nível da manipulação de objetos nomeadamente, bolas, arcos, lenços, massas,

rola-bola, entre outros ao som de música Jazz envolvendo os alunos num

ambiente propício a aprendizagens significativas e aumentando a relação

destes com o desporto, com a arte circenses. Uma vez que para a grande parte

dos alunos estas atividades eram novas, os conteúdos transmitidos foram

básicos, permitindo-lhes uma iniciação ao malabarismo. Procurei transmitir ao

mesmo tempo valores estéticos, artísticos e desportivos evidenciando

claramente a disciplina de EF, premiando mais uma vez a facilidade que esta

tem em estar em contacto com os alunos e de os Educar através do movimento

e das relações tácitas.

O contacto realizado com mais de 169 alunos da EBSH permitiu

estimulá-los para as artes circenses aumentando através do contacto com o

malabarismo, com vários objetos e acompanhado de música circense. Esta

atividade foi muito importante para a minha integração na escola, pois a

visibilidade que o Workshop teve permitiu o apreço de todos os professores

ficando as ligações profissionais mais coesas e a laços profissionais dando aso

a outros projetos como por exemplo a “Pintura do Mural do Pavilhão

Gimnodesportivo” e a “Semana da Leitura” e permitindo ao mesmo tempo

mostrar a disponibilidade e vontade de educar que sinto.

Existiram vários momentos em que todo o material do workshop (bolas,

arcos, massas, lenços, rola-bola etc.) esteve a ser utilizado em simultâneo, ou

seja, estavam todos em movimento, fazendo valer a quantidade de

participantes que o workshop conteve.

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5.4.2. Manhãs “D”

5.4.2.1. Manhã D

Este foi o segundo projeto idealizado por mim e aprimorado e

desenvolvido pelo NE em consonância com a PC com vista a ser realizado na

EBSH na manhã do dia 17 de fevereiro durante o segundo período de aulas.

Este projeto com o nome: “Manhã D” teve como principal objetivo trazer

à escola atletas e técnicos especializados de três modalidades (Judo, Hóquei

em campo e Rugby) que não estão contempladas no planeamento curricular da

disciplina de EF com o objetivo de aumentar a panóplia de desportos

experienciados pelos alunos e de deste modo instrui-los mais e melhor sobre o

desporto e as suas várias e distintas modalidades. Nesta manhã os alunos

tiveram a oportunidade de experimentar as modalidades acima mencionadas

através de várias atividades lúdico-desportivas.

Para dirigir a atividade de Judo tivemos a presença do atleta Mirco

Cabral da Federação Portuguesa de Judo por intermédio do PO.No hóquei em

campo contamos com a experiência do técnico Hugo Santos da federação

portuguesa para desenvolver a atividade. A presença deste foi possível devido

ao meu contacto com uma ex-atleta a Mónica Santos (atleta

internacionalizada). Por fim, juntamente com a minha colega de estágio foram

contactadas duas alunas da FADEUP e atletas do Sport Rugby Club do Porto

(Ana Carvalho e Catarina Ribeiro) para orientarem a formação de rugby.

A vontade de ensinar e o profissionalismo de todos os convidados

esteve bem patente, demonstrando assim muitíssima experiência e paixão

pelas modalidades, proporcionando a todos os alunos uma experiência única,

familiarizando os alunos com desportos menos populares.

Conseguimos (NE) incluir nesta atividade onze turmas, cinco turmas

experienciaram o Hóquei em Campo e quatro turmas experienciaram o Judo e

o Rugby. Acredito que o objetivo de promover o desporto e ampliarmos

horizontes culturais desportivos dos alunos pertencentes à escola foi, com esta

atividade, muitíssimo bem conseguido.

Os professores da Escola EB 2,3 da Senhora da Hora apreciaram

imenso a iniciativa do NE para este dia, o enaltecimento do desporto e da EF

esteve bem presente nesta manha.

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5.4.2.2. II Manhã D

Dado o sucesso alcançado no evento“Manha D realizado no dia 17 de

fevereiro na Escola EB 2,3 da Senhora da Hora, o NE decidiu realizar um

segundo evento no 3º período, denominado II Manhã D.

Neste evento, procuramos proporcionar aos alunos uma manhã diferente

e divertida onde pudessem experienciar mais uma vez três matérias

alternativas, contempladas nos programas de EF: Patinagem, Ténis e Ténis de

mesa. O plano traçado para a realização do mesmo foi semelhante ao do

primeiro evento mas ao invés de participarem apenas os alunos que teriam

aula de EF nessa manhã, alguns alunos que estavam em lazer no espaço para

o recreio da escola foram convidados a participar.

Para permitir que os alunos que participaram neste evento não

coincidissem com os mesmos do primeiro, procuramos escolher um dia da

semana diferente. O NE juntamente com os professores de EF da EBSH

chegaram à conclusão que o melhor dia para a atividade seria dia 5 de Maio,

desta forma a minha turma principal (6ºH) participou nas várias formações

desportivas realizadas.

Em relação à seleção das modalidades, na II Manhã D considerei

importante, enquanto EE, que se envolvesse os clubes próximos do AESH,

com o intuito de que caso fosse do agrado dos alunos as modalidades que

iriam experimentar, estes pudessem dar continuidade à prática da mesma junto

dos respetivosclubes. Conciliando este aspeto, a EBSH tem incluído como

modalidade do desporto escolar a modalidade: ténis, mas poucos alunos

aderiram a esta. Por isso achei que seria pertinente que a modalidade de ténis

fosse escolhida para este evento e suscitasse nos alunos o “bichinho” por este

desporto e os entusiasmasse a participar para o próximo ano letivo nesta

modalidade, no desporto escolar orientado pelo professor João Magalhães.

Através de emails, telefonemas e principalmente da vontade de ajudar o NE, o

professor Doutor Eduardo Santos entrou em contacto com o formador André

Lancha representante da Academia de Ténis da Senhora da Hora (que já

anteriormente tinha demonstrado interesse em realizar formação nas escolas

do AESH) e recebeu uma resposta positiva para a sua participação na II Manhã

D.

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O segundo desporto selecionado para a II Manhã D foi o ténis de mesa.

A escola tem material suficiente para a prática desta modalidade, mas

raramente é utilizado pelos professores para a lecionação ou atividades

extracurriculares. Através de um amigo, Sérgio Barbosa formador de ténis de

mesa no Clube Desportivo da Realidade, portador de uma doença

degenerativa (Esclerose Múltipla) transmitiu não apenas conteúdos importantes

para a aprendizagem da modalidade como também sensibilizou os alunos

através da sua incapacidade, que na realidade, não o impossibilita de continuar

a trabalhar com a modalidade.

Por fim, faltava ao NE uma modalidade para realizar no ginásio 1

(pavilhão multidesportos). Numa reunião do grupo de EF surgiu um assunto

acerca dos patins que o AESH tem em sua posse. Posto isto, entrei em

contacto com um amigo, Mestre André Oliveira, professor na Escola de

Patinagem do Norte que se mostrou prontamente interessado em participar na

II Manhã D com a modalidade de Patinagem promovendo desta forma o

desporto e a escola que representa.

Mais uma vez este projeto mostrou a vontade imensa de ensinar e o

profissionalismo de todos os formadores convidados, demonstraram muitíssima

experiência na área da Educação Desportiva proporcionando a todos os alunos

vivências positivas através das várias modalidades.

Os formadores conseguiram adaptar a sua intervenção às diferentes

turmas, umas com mais alunos e outras com menos, umas turmas com mais

predisposição para a prática de atividade física e outras com menos. O que é

de realçar é que todas as turmas saíram das atividades lúdico-desportivas com

um sorriso no rosto, transmitindo entusiasmo e alegria na experiência

proporcionada.

Penso que poderá ser possível existir mais atividades deste nível

concebidas, planeadas e realizadas pelos professores de EF nas escolas

oferecendo formações e conhecimentos aos alunos sobre modalidades menos

exploradas nas escolas, sem custos associados. Os alunos com menos

afinidade com o desporto poderão assim, estar mais nivelados com os alunos

que já tem uma forte relação com o desporto, pois o conhecimento sobre a

prática do mesmo estará mais nivelada, deste modo, não existirá tanta

discrepância entre alunos.

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Considero crucial evidenciar o amigo e treinador Sérgio Barbosa que

mesmo com a sua doença degenerativa (Esclerose Múltipla) com a sua

locomoção através da cadeira de rodas conseguiu não apenas realizar a

formação como também transmitir a todos os alunos que o visualizaram a

resiliência e a força de vontade que supera quaisquer atrocidades que nos

possam acontecer.

Ao nível do planeamento para o evento, foram aproveitados todos os

documentos realizados para a Manhã D, uma vez que, estavam bem-

apresentados e consistentes. A edição de imagem ficou como sempre ao meu

encargo. Existiu apenas a necessidade de modificar as modalidades e definir

os espaços destinados a cada modalidade. Idealmente, se não chovesse, a

patinagem ficaria no ginásio nº 1, o ténis de mesa no ginásio nº 2 e o ténis no

exterior. Contudo, o plano B foi colocado em prática (por causa da chuva), a

formação da modalidade ténis de mesa realizou-se no ginásio nº2, mas a

patinagem e o ténis tiveram que partilhar o ginásio nº1. Inevitavelmente

existiram muitas bolas espalhadas e poder-se-ia tornar perigoso para os alunos

que estavam a praticar patinagem, mas a atenção redobrada dos professores e

as instruções aos alunos fizeram com que nada de grave acontecesse, a

integridade física dos alunos foi assegurada.

O ambiente foi repleto de festividade, as bancadas ao contrário da

“Manha D” estavam em maior número engrandecida pela curiosidade dos

alunos que estiveram presentes.

Os projetos relativos às “Manhas D’S” tiveram intuito de aumentar a

panóplia de desportos conhecidos e experienciados de forma tácita pelos

nossos alunos e deste modo instruí-los mais e melhor sobre o desporto. Pelos

feedbacks transmitidos pelos alunos participantes, estes dias foram

inesquecíveis, pois a maioria deles nunca tinham experienciado as

modalidades que lhes havíamos proporcionado.

No final deste projeto acredito que o objetivo de promover o desporto e

ampliar os horizontes culturais desportivos aos alunos pertencentes à escola foi

cumprido com êxito. Os professores de EF da EBSH apreciaram mais uma vez

este projeto das “Manhas D’S”, o enaltecimento do desporto e da EF esteve

bem patente nestas duas manhãs. Acredito que este tipo de projetos poderá

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ser uma das ferramentas que a disciplina de EF poderá utilizar para alimentar o

gosto pela EF e pelo desporto na escola.

5.4.3. Pintura Mural do Pavilhão Gimnodesportivo

Este projeto idealizado por mim e concebido através das ligações

interpessoais realizadas entre a professora Rosário Almeida e eu enquanto EE

foi posto em prática pelo NE com o objetivo de realizar através do trabalho

conjunto do departamento de expressões e tecnologias, mais precisamente

com a vontade concreta em realizar uma pintura mural na fachada principal do

pavilhão Gimnodesportivo da Escola Básica da Senhora da hora, este obteve o

intuito de promover a disciplina de EF e ampliar os horizontes estético-

desportivos dos alunos.

Através deste projeto penso que a escola ficou mais atrativa no sentido

não só estético, mas também desportivo, evidenciado assim pela beleza da

pintura do mural da escola, incutindo aos alunos a alegria da disciplina de EF.

Esta alegria é evidenciada nos desenhos colocados na parede com varias

modalidades desportivas como o atletismo, basquetebol, patinagem, voleibol,

karaté e futebol com as siglas da instituição que permitiu a realização da

pintura do mural da frente do pavilhão Gimnodesportivo, com cores alegres e

algumas situações cómicas.

Senti a necessidade de oferecer mais vida ao pavilhão gimnodesportivo

onde lecionei no presente ano letivo. Com o trabalho árduo entre a disciplina de

Educação Visual e EF foi possível por este projeto em prática. Todas as

burocracias necessárias para a autorização deste projeto foram tratadas com a

Doutora Isabela Pina, professor Doutor Eduardo Santos e logicamente a PC

estando eu enquanto EE em sintonia com todos os intervenientes.

Este projeto foi iniciado no dia sete de junho com a passagem de todos

os desenhos para a parede a lápis realizada por mim e pela professora Rosário

com a ajuda dos alunos e dos funcionários do pavilhão gimnodesportivo (a

senhora Conceição Oliveira e o senhor Vítor Lopes), para que no dia nove de

junho os melhores alunos de educação visual e EF fossem premiados com a

participação nesta atividade. Esta ideia de distinguir os melhores alunos foi da

Doutora Isabel Pina, o objetivo foi o de prestigiar os melhores alunos. A minha

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turma (6ºH) também fez parte desta experiência Estético-desportiva dando

deste modo seguimento ao estudo de Investigação-Ação.

Assim no dia nove de junho este projeto serviu de instrumento para que

os alunos desenvolvessem o gosto pelas artes e pela EF. A partir das 9:20 até

as 13h15 e da parte da tarde das 16h00 até às 18h00 todos os alunos de

mérito foram convidados a participar, a música e a festividade do último dia de

aulas esteve bem presente neste dia. Todos os alunos que participaram e

visualizaram o mural sentiram-se envolvidos de forma positiva neste projeto

Estético-desportivo. Penso que este tipo de atividades deveriam ser uma rotina

na escola, o embelezamento da escola preconizada pelo departamento de

Expressões artísticas e realizada pelos alunos, aumenta a relação afetiva pela

escola e dos seus intervenientes.

Foi sem dúvida uma excelente ajuda para que os alunos olhem para a

escola com mais afeto, que sintam que esta lhes pertence e que a podem

construir a sua beleza de forma personalizada.

Também os alunos com necessidades educativas especiais e alguns

professores com as suas respetivas turmas no seu último dia de aulas

aceitaram o meu convite para a participação e visualização na pintural mural do

pavilhão, o que me deixou deverás contente, fazendo deste modo evidenciar

positivamente a disciplina de EF e a sua multidisciplinariedade.

5.5. Projetos “Individuais”

5.5.1. Ligação com o Edulink

O edulink é uma plataforma de serviço educativo com o objetivo de

ajudar as escolas na atividade formativa, pedagógica e administrativa. Permite

a criação de sistemas de informação específicos para a gestão de conteúdos

digitais das escolas do ensino básico e secundário baseado no conceito de

Cloud Computing. Este sistema de informação serve simultaneamente como

portal informativo da escola e espaço colaborativo da comunidade educativa.

Permite a gestão de informação de processos pedagógicos e administrativos

através da organização e hierarquização da comunidade online. Sendo uma

ferramenta simplificadora das tarefas do quotidiano, inclui um conjunto de

módulos úteis para os professores, alunos e encarregados de educação,

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possibilitando o acesso em tempo real à situação pedagógica e ao progresso

das aprendizagens dos alunos.

A minha participação ativa e pró-ativa nesta plataforma cingiu-se às

seguintes tarefas:

Captação e edição de fotografias e vídeos com o intuito de melhorar

o aspeto estético dos documentos audiovisuais do grupo de EF

colocados nesta plataforma;

Redação de notícias relativas às atividades desenvolvidas na EBSH;

Assim, os olhares mais atentos dos pais, professores e alunos que tem

possibilidade de aceder à internet (apesar do avanço tecnológico na sociedade

nem todos têm conhecimento e/ou poder de compra para aceder à internet)

poderão observar com alguma proximidade as várias atividades desportivas

realizadas pela AESH sendo deste modo o valor Estético-Desportivo das

imagens enaltecido por algum profissionalismo da minha parte.

5.5.2. Projeto de Teatro Escolar para o II Sarau da AESH

A minha participação no Teatro Escolar, com o percursor do mesmo,

professor Nuno Claro iniciou-se em Abril. A minha vontade de dar a conhecer

aos alunos um pouco mais sobre o mundo das artes circenses através do

malabarismo e da magia que já tinha sido posta em prática no workshop de

malabarismo realizado no primeiro período teve continuidade com o meu

envolvimento no II Sarau da EBSH. As conversas iniciadas desde o final do

primeiro período entre mim, o professor Nuno e a PC na sala de professores da

escola permitiram-me intervir num mundo que estou familiarizado devido à

atividade profissional como palhaço, que exerço à cerca de 10 anos.

Acredito que a interdisciplinaridade entre a EF e outras disciplinas, neste

caso em específico com a área teatral implementada na EBSH possa permitir

educar os alunos de forma ampla, motivando-os para a expressão dramática,

incentivando-os para o trabalho em grupo, desenvolvendo a autoconfiança e a

autoestima, aumentando o espirito crítico e a autocrítica bem como, a

autonomia e, claro desenvolvendo o sentido artístico, fazendo desenvolver os

valores estéticos que estão naturalmente associados à disciplina de EF. Assim,

enquanto EE através das relações pessoais e profissionais pude aumentar

paulatinamente a ligação entre o Departamento de Expressões e Tecnologias.

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A partir da data referida ficou planeado duas vezes por semana (terças e

sextas-feiras) lecionar as aulas a dois grupos de alunos diferentes (nove em

cada grupo) que voluntariamente frequentavam as aulas de Teatro, das 14:30

às 16:00.

O meu objetivo no início deste projeto era essencialmente cativar alguns

alunos que conheci quando realizei o Workshop de malabarismo no primeiro

período de forma a juntamente com o grupo de teatro desenvolver uma

performance para ser apresentada no Sarau dia 3 de Junho. Devido à falta de

tempo dos alunos mais capacitados para o malabarismo, eu e o professor

Nuno Claro decidimos criar subgrupos de alunos, permitindo uma maior

envolvência entre o professor e o aluno criando um ambiente pedagógico mais

eficaz para a aprendizagem das artes circenses. A personagem palhaço e arte

da magia foram fundidas nas aulas lecionadas para as várias performances a

serem apresentadas no II Sarau da AESH. Foram assim desenvolvidas várias

performances com mágicos para apresentar nos intervalos de cada atuação

principal.

Os alunos nas aulas mostraram um comportamento exemplar, o tema

magia e a personagem do Palhaço foi do agrado de todos, a energia positiva e

a motivação estiveram presentes em todas as aulas, possibilitando um

ambiente propício à aprendizagem. Com um número reduzido de alunos em

cada grupo foi-me permitido desenvolver um ótimo trabalho conseguindo

realizar as aulas cumprindo todos os objetivos que estavam propostos, todo o

planeamento foi previamente realizado por mim e pelo professor Nuno Claro.

Todos os alunos estiveram muitíssimo bem, momentos de magia foram

vividos por todos os convidados presentes neste II Sarau do AESH.

Presentearam da minha parte uma vontade enorme de cumprir os objetivos

delineados culminando com os parabens cedidos pela Diretora da Escola,

Doutora Isabela Pina, que fez questão de me agradecer por todo o empenho e

tempo despendido por mim para que o II Sarau do AESH fosse um sucesso.

5.5.3. Workshop de Malabarismo realizado na Escola Secundária Gaia

Nascente

O meu colega de curso do 2º ciclo conducente ao grau de mestre em

Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário, Ricardo Sá, por

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quem tenho um enorme apreço e consideração pediu-me que realizasse um

Workshop de malabarismo na Escola Secundária Gaia Nascente onde está a

realizar o seu EP. Prontifiquei-me a estar disponível caso a data coincidisse

com a minha disponibilidade enquanto estudante e trabalhador. A data

coincidiu justamente no dia em que fui convidado para realizar a performance

de palhaço na “Semana da Leitura” no dia 16 de março, mas o horário permitiu

que realizasse o workshop na Escola Secundária Gaia Nascente no final dessa

manhã.

Ótima experiência esta, realizada no pavilhão da escola, onde partilhei

conhecimentos sobre algumas técnicas do malabarismo aos vários alunos

presentes (cerca de 80 alunos). Os materiais utilizados foram bolas de ténis

disponibilizadas pelo NE da Escola Secundária Gaia Nascente. Não verifiquei

nenhum aluno com o conhecimento suficiente para uma possível relação com

objetos de manipulação de nível superior como os arcos, as massas ou rola-

bola. Mas, nesta fase de adaptação as bolas são objetos de excelência para

entender os movimentos básicos para a aprendizagem do malabarismo.

O workshop durou aproximadamente 1 hora e 30 minutos sendo este

tempo intercalado com instrução e feedbacks aos alunos que experienciavam

pela sua primeira vez o malabarismo. Como se de um treino desportivo se

tratasse, o conhecimento teórico e prático foi desenvolvido pela grande maioria

dos alunos.

Após esta atividade uma longa conversa com o meu colega Ricardo Sá

refletindo sobre o EP. Esta experiência de realizar uma atividade com um NE

diferente e neste caso também numa escola cooperante diferente pensamos

ser uma vantagem para o crescimento do EE podendo influenciar o seu futuro

enquanto professor. Uma vez que, a cultura de escola é díspar de escola para

escola, realizar esta atividade permitiu-me ver um contexto diferente e adaptar-

me a ele. Deste modo, a escola pode e deve ser um espaço mutável a nível de

quem educa, sem ao mesmo tempo perder qualquer tipo de estabilidade. Com

a minha intervenção na verdade “nada mudou” nesta escola, mas, se estas

atividades acontecessem de forma sistemática poderia também ser uma

excelente ferramenta para aproximar os alunos tanto às artes circenses como

da EF e do desporto.

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5.5.4. Semana da Leitura – Interdisciplinaridade

No segundo período, a propósito das ligações estabelecidas com a

professora Lídia Rodrigues que lecionava a disciplina de português, também

ela professora da turma do 6ºH fui convidado pela mesma em participar na

Semana da Leitura, realizada no dia 16 de Março de 2016. Esta atividade foi

concebida pelo departamento de Português.

A minha função consistiu basicamente em realizar uma performance

como palhaço e declamar poemas, sozinho e acompanhado de alunos do 6ºH.

Assim, comecei por dar as boas vindas a todos os convidados e realizei

algumas magias de bolso. De seguida, declamei o primeiro poema e

acompanhei os restantes oradores (alunos) ao palco, participando com eles em

alguns dos poemas. Por fim, encerrei este evento com a declamação de mais

um poema.

Este evento contou com a presença dos encarregados de educação da

turma do 6ºH, professores e funcionários.

A interdisciplinaridade, posta em ação nesta atividade, penso que foi

importante, uma vez que permitiu a junção de duas áreas distintas: as artes

performativas e a arte de declamação de poemas acompanhadas pelas

disciplinas de Português e EF. “... a finalidade da interdisciplinaridade é de

ampliar uma ligação entre o momento identificador de cada disciplina de

conhecimento e o necessário corte diferenciador.” (Paviani, 2008, p.41). A

estética do movimento da minha personagem acompanhada pela leitura correta

dos poemas, previamente treinados, permitiu um momento bastante agradável,

através da união de duas áreas conseguimos trazer algo inovador, abrir

horizontes e transcender uma disciplina que nem sempre é do agrado dos

alunos.

No final senti necessidade de marcar o momento com um breve discurso

enaltecendo a atividade educativa em questão, sublimando a sustentada

interdisciplinaridade, fruto das boas relações entre profissionais. Com esta

atividade tive a noção exata de como podemos unir esforços com todas as

áreas de conhecimento, mesmo aquelas que à partida parecem improváveis, e

utilizar essa arma como ferramenta para destruir as barreiras entre as várias

áreas e poder motivar os alunos e tornar a aprendizagem em momentos

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agradáveis e divertidos, que ficará certamente na memória de todos os

intervenientes.

5.5.5. Tutoria realizada a um aluno

A professora Carla Pereira, diretora de turma do 7ºA, entrou em contacto

com a PC e posteriormente comigo acerca da possibilidade de realizar tutoria

num aluno que apresentava alguns problemas sociais e pessoais, ao qual

aceitei sem hesitação e com uma enorme vontade, uma vez que seria um

enorme desafio para mim.

Este aluno tinha dois grandes problemas a resolver: um primeiro diz

respeito à vontade imensa de não frequentar a escola, refletindo-se isso no seu

insucesso escolar e o segundo relacionado com um distúrbio alimentar. Devido

ao seu excesso de peso, acredita que se saltar refeições poderá perder peso.

Além disso apresenta uma situação familiar complicada, que o impede ter o

acompanhamento familiar que uma criança com estas características

necessita. Neste sentido, tentamos em conjunto realizar uma intervenção junto

do aluno, cujo plano passava por uma interação pedagógica da minha parte.

Foi a partir do dia vinte e seis de abril que iniciei a tutoria com o objetivo de

acompanhá-lo de forma sistemática e planeada até ao final do ano letivo,

sendo este planeamento realizado por mim e pela professora Carla Pereira.

Em conversa com a professora Carla concluímos que uma estratégia

que poderia resultar seria a lecionação de aulas de malabarismo contribuindo

assim para o seu desenvolvimento, não apenas de habilidades motoras tais

como: coordenação, concentração, perceção sinestésica, perceção espacial,

equilíbrio, força de reação, ritmo etc., mas também habilidades cognitivas, isto

é: influenciar alguns dos seus comportamentos/pensamentos menos corretos.

Ensinar como fazer malabarismo a este aluno e simultaneamente tentar

levá-lo a um bom porto no que concerne aos seus problemas foi bastante

desafiador. Contudo, acredito que foi uma parte integrante e deveras

importante para o crescimento pessoal e social deste. Enquanto EE também

me fez desenvolver a sensibilidade que acredito ter para com as injustiças

socias que infelizmente existem, pois cada vez mais acredito que os “mal

sucedidos” na sociedade são injustiçados pelas fragilidades que carregam.

92

Procurei que durante as sessões com este aluno tivesse sempre a

presença de amigos/colegas mais próximos deste, de modo a que a

aproximação fosse facilitada e que não o fizesse sentir que estaria a ser

apenas para ele, incluindo-o deste modo no meio escolar e, não salientando a

diferença. Através das relações sociais postas em prática, através do respeito a

valores éticos e morais, da solidariedade entre os participantes, da

honestidade, o desenvolvimento das sessões foi nitidamente mais fácil,

tornando o trabalho necessário para a aprendizagem do malabarismo mais

fluido e a possibilidade de intervenção positiva entre mim e o aluno em

questão. Assim, todas as sessões obtiveram um excelente ambiente propício

para a aprendizagem do malabarismo, com os alunos empenhados nas suas

tarefas.

As relações com os seus colegas/amigos pareceram ser muito

saudáveis em todas as sessões. Ele mostrou ser portador de uma enorme

timidez, acredito que este tipo de intervenção através de atividades lúdicas

poderá ser uma solução mais eficaz e, talvez o desiniba em relação às suas

vontades. A tristeza de não estar inserido numa equipa de futsal foi sinalizada

por mim enquanto seu tutor. Senti realmente essa vontade, o aluno sonha em

estar incluído numa equipa e fazer parte de um clube Desportivo.

O otimismo demonstrado na primeira conversa que tive com o aluno

permitiu-me confirmar as palavras da professora Carla “O aluno é bom menino

mas muito frágil emocionalmente”. A confiança e determinação deste nas suas

certezas infantis não serão favoráveis para o seu desenvolvimento pessoal e

social e naturalmente para o seu sucesso escolar. Estas sessões com o

malabarismo foram surpreendentes para ele e para mim enquanto seu tutor,

pois o aluno demonstrou uma excelente progressão a nível técnico na prática

do malabarismo, acompanhado de um comportamento exemplar.

Assim, aconselhei o aluno a praticar desporto, o futsal para este é o

desporto que mais lhe agrada, achei pertinente numa das conversas com a

professora Carla Pereira frisar a necessidade vital de uma abordagem cuidada

com os pais para que o desporto possa ser parte integrante da sua vida.

Nas cinco sessões de tutoria realizadas com este, estas foram na sua

maioria realizadas ao ar livre ao som de música ambiente (jazz e clássica) com

a aprendizagem do malabarismo através de vários objetos clássicos (bolas,

93

arcos, massas, rola-bola), apenas na última aula usufruímos do ginásio nº1

(interior), pois a situação climatérica não era favorável. Na última sessão obtive

sete alunos, um deles com trissomia 21, a Inês que ao invés de realizar a sua

aula de motricidade coma professora Deolinda Barros, envolveu-se com a

sessão de malabarismo e não a quis abandonar. Nestas sessões foram

realizados jogos, com a prática de exercícios mais analíticos acompanhados

pelos meus feedbacks a todos os participantes.

Em todas as sessões exigi um comportamento ético e moral

responsável, transmitindo desta forma a todos os alunos, funcionários e

professores que nos visualizaram as sessões um comportamento exemplar,

responsabilizando os alunos pela educação que podem e devem transferir aos

colegas de escola através do comportamento exemplar.

O malabarismo esteve também a ser utilizado num sentido terapêutico

de forma a prevenir o sedentarismo e obesidade. A participação dos vários

colegas e amigos do aluno nas sessões de tutoria aumentaram de sessão para

sessão, demonstrando que os seus laços sociais na escola existem, a minha

observação durante as varias sessões diz-me que este aluno não apenas

demonstra obter fortes relações sociais como também através do esforço

realizado conseguiu demonstrar mais capacidades do que qualquer dos seus

colegas no que se refere à aprendizagem do malabarismo, acredito que o

desporto lhe pudesse trazer mais confiança e conhecer outras realidades além

da escolar e familiar.

Na memória deste espero hoje, que esteja presente que não basta ser

um bom menino. Para fazer valer esse bom menino são necessárias as ações

que o lhe permitam sustentar o bom menino que é através do cumprimento das

regras, das ações conscientes acompanhada por uma alimentação também ela

consciente.

5.6. Conclusão

Concluindo, penso que todas as atividades realizadas ao longo do ano

letivo em que estive envolvido (idealizadas ou não por mim) cumpriram o

objetivo: aproximar os alunos da escola e especialmente da EF. Além disso

permitiram-me estabelecer relações fortes com toda a comunidade escolar,

alunos, professores, funcionários e encarregados de educação.

94

Assim, ao longo do ano letivo, procurei ter uma atitude sempre ativa na

escola, não me cingindo às minhas atividades de lecionação, criando um

impacto positivo em toda a comunidade escolar. Todo este esforço por fazer

parte integrante do corpo docente da escola permitiu-me compreender o poder

que o professor tem em melhorar a cultura de escola, através de atividades

extracurriculares que contribuem não só para evoluir a educação e modo como

atuamos, mas, também que são uma ferramenta poderosa para a transmissão

de valores e condutas aos alunos, sem que estes muitas vezes se apercebam

podemos marcar positivamente as suas vidas.

95

6. A educação Estética nas aulas de Educação Física

“O estético, que emerge na pluridade não pode ser desconsiderado, na medida

em que traz o estranho, o inovador e atua decisivamente contra os aspectos

restritivos da normalização moral, apontando um novo horizonte compreensivo

para a questão renunciável da exigência ética na educação.”

(Nadja Hermann, 2005, p.16)

Resumo

A necessidade de transmitir valores estéticos na verdade intrínsecos à

natureza do homem e logicamente à disciplina de EF e ao desporto deverão

ser planeados e concretizados para que os jovens possam alimentar o seu

desejo pelo Belo e verdadeiramente obter uma aprendizagem Holística. O

desporto e a EF podem e devem, deste modo, ser percursores, principalmente

nas idades mais baixas da criação do desejo, incentivando o aluno à educação

estética primeiramente na disciplina de EF para, posteriormente, se transferir

para outras áreas. Este estudo tem como objetivo proporcionar experiências

estéticas nas aulas de EF a alunos do 6ºano de escolaridade, enquanto

praticantes e observadores e verificar o seu efeito na construção/mudança da

sua sensibilidade estética.

96

6.1. Introdução

“Diferentes dos corpos dos animais, que nascem prontos ao fim de um

processo biológico, os nossos corpos, ao nascer, são um caos grávido de

possibilidades, à espera da Palavra que fará emergir, do seu silêncio, aquilo

que ela invocou. Um infinito e silencioso teclado que poderá tocar dissonâncias

sem sentido, sambas de uma nota só, ou sonatas e suas incontáveis

variações... A este processo mágico pelo qual a Palavra desperta os mundos

adormecidos se dá o nome de educação.”.

Rubem Alves (1994, p.44)

Rubem Alves (1994) reflete neste excerto sobre a palavra educação e

relaciona-a com a subjetividade humana e intelegência que nos distância dos

animais e da sua vida pré-estabelecida após o nascimento. O Homem

necessita dessa “palavra”, para se tornar realmente Homem. A necessidade de

encaminhar todas as crianças para um bom porto de modo a que consigam

apreciar o mundo à sua volta de forma crítica é vital. Contudo, Llosa (2012,

p.193) chama a atenção para o fato de, devido à mudança de valores e

interesses das sociedades atuais, ser possível que, a “curto ou a longo prazo,

emirja um mundo sem valores estéticos em que as artes e as letras - as

humanidades - terão passado a ser pouco mais do que formas secundárias do

entretenimento, sem maior influência na vida social”.

A palavra estética tem origem grega, “aisthesis”, remetendo para

perceção ou sensação. Atualmente tem como objeto formal a reflexão sobre a

beleza (Patrício, 1993), constituindo-se como um valor bem presente no centro

emocional do homem, mesmo que por vezes inconsciente. Deste modo, este

aspeto não deverá ser descurado no processo educativo. A escola tem que

assumir a educação destes valores na sua plenitude e em todos os ciclos de

estudos, articulando-os em todas as disciplinas.

As aulas de EF, através do seu vínculo natural com o desporto poderão

e deverão ser um dos principais palcos para educar a sensibilidade estética

dos alunos. O movimento dos corpos e a sua expressão, as características

97

intrínsecas de cada desporto no contexto da sua especificidade técnico-táctica,

as relações de cooperação e oposição, os materiais e o espaço arquitetónico

onde se realizam as atividades desportivas devem possibilitar às crianças e

jovens a construção do seu mundo. Deste modo, devemos encorajar o

desenvolvimento daquilo que é individual em cada ser humano, assumindo

neste processo a educação estética um papel fundamental.

Estes valores estéticos devem ser estimulados pelos professores no

sentido de desenvolver um jovem com um pensamento crítico, numa sociedade

repleta de valores efémeros e fragmentados. Sem a educação estética perder-

se-á provavelmente o respeito pelo Belo, pelo Homem, pela Humanidade.

A literatura emergente acerca da educação estética por meio da EF é

escassa. Contudo, os estudos disponíveis apontam para um descuido

frequente para a importância da exploração, da espontaneidade, da

originalidade e da liberdade (Lacerda & Gonçalves, 2009). A EF ainda sofre as

pressões de uma visão racional da educação formal, excluindo ou

marginalizando fortemente quase tudo o que pertence à dimensão sensível da

corporalidade do ser. Tal “pré-conceito”, dentre outros fatores, advém da rutura

entre corpo e alma, da intensa valorização da razão, da forma de se ver as

relações sociais somente na esfera da política e economia, e também da

felicidade posta em uma dimensão contrária ao corpo e à sua sensibilidade

(Bittencourt, Lara, & Teixeira, 2007).

Posto isto, pretendemos com este estudo responder às seguintes

questões:

Será a estética um dos valores da EF?

Será possível ensinar os conteúdos da EF promovendo a educação

estética?

Dever-se-á de forma planeada envolver conteúdos estéticos nas aulas

de EF?

98

6.2. Revisão da literatura

A investigação científica poderá permitir compreender onde se encontra

a estética na EF e como os valores estéticos se podem tornar uma componente

sólida e percetível a todos os professores, auxiliando-os na missão de educar

os alunos de forma holística. No final do século passado Hugo Lovisolo (1997)

declarava que as pedagogias residem mais no desenvolvimento de coisas

interiores do que em interiorizar coisas exteriores. Afirmava ainda que o

processo educativo seria o de desenvolver uma personalidade original, criativa,

autêntica e expressiva. Neste sentido, sensibilidade, sentimentos e emoções

devem estar no centro da cena pedagógica.

Em contrapartida as questões da saúde parecem ser dominantes, e

mesmo prevalecer, nas preocupações dos investigadores, devido ao aumento

substancial de doenças não transmissíveis que necessitam de um controlo,

prevenção e tratamento para reduzir as epidemias dos novos tempos. Deste

modo, a importância do valor estético é muitas vezes deixada para trás.

Contudo, segundo Schiller (1995), pensador do séc. XVIII, já assumia que a

formação da sensibilidade é uma das necessidades mais prementes da

educação, não apenas porque ela vem a ser o meio de tornar o conhecimento

melhorado e eficaz para a vida.

Neste sentido, “nada do que é humano se deve ignorar em educação”

(Patrício, 1993, p.115). Será vital para a “saúde pública interior”, educar o

mundo para que se acredite no belo, e que este seja apreciado acompanhado

de um raciocínio critico por parte das próximas gerações. Só deste modo será

possível não cessar a criatividade, a sensibilidade e todos os outros aspetos

inerentes ao valor estético. O descuido sobre estas questões poderá levar a

que a estética seja engolida pelo utilitarismo exacerbado presente na

sociedade moderna.

A literatura especializada na área da estética e da sua relação tácita com

o desporto, naturalmente com o seu laço natural com a EF, carece de um

aprofundamento, ou seja, de um questionamento constante.

Para Ruben Alves (1995), a educação dos sentidos como

desenvolvimento da sensibilidade, representa um vislumbramento que vem

sendo clareado por pesquisadores de diferentes áreas: psicologia, sociologia,

99

pedagogia, filosofia e EF, que veem o ser humano como capaz de sentir e é

por meio dos sentidos que se processa o seu pleno desenvolvimento numa

relação consigo mesmo, com os outros homens e com a natureza. Assim, o

homem expressa-se através dos sentidos, daquilo que vê, toca, ouve, saboreia

ou cheira (Alves, 1995).

Contudo, em Portugal, algumas reflexões têm sido realizadas neste

sentido. Garcia e Lemos (2003) procuraram no seu trabalho fazer uma revisão

acerca do modo como os sistemas educativos em Portugal e no Brasil abordam

o valor da estética na disciplina de EF. Concluíram que há um afastamento

entre os grandes valores que marcam hoje o nosso mundo e as atividades

desenvolvidas na EF, uma vez que, esta parece excluir o valor estético das

suas principais preocupações. Posto isto, Ávila da Costa, McNamee e Lacerda

(2015) realizaram um ensaio no qual esboçaram uma reflexão crítica à

educação como um intermediário cultural para a humanização e exploraram a

EF como um projeto educacional estético-ético no que respeita ao

desenvolvimento da sensibilidade humana através do desporto. Os autores

defendem a necessidade de existir uma abordagem educativa que não se

concentre apenas na transmissão intelectual de conhecimento, mas também na

construção de cidadãos globais. Especificamente na EF, afirmam que, os

professores devem não apenas concentrar-se nos aspetos técnicos e táticos do

desporto, mas procurar em simultâneo aprofundar os aspetos estéticos da

atividade que conduzirá ao desenvolvimento tanto da criatividade como do

exercício de liberdade como experiência da humanização. Ainda nesta esta

linha de pensamento, Lacerda e Gonçalves (2009) numa revisão da literatura

acerca da importância da educação estética e da sua relação com a dança,

evidenciaram a relevância social e cultural que o desporto adquiriu na

contemporaneidade, pelo que não pode negligenciar uma das dimensões do

ser humano, a sensibilidade.

As autoras supracitadas pensam que o desporto deve ser usado para o

desenvolvimento de uma atitude estética, através da realização de

experiências estéticas, tanto ao nível da prática como da observação e, deste

modo, contribuir para o desenvolvimento da sensibilidade sensorial/perceção e

consequentemente o sentido crítico.

100

Apesar dos esforços destes e de outros investigadores, chamando a

atenção para a importância da educação estética nas escolas, em termos

práticos pouco ou nada se tem feito nesse sentido. O ensino infelizmente está

estruturado pela racionalidade-instrumental, dando pouco ou mesmo nenhum

realce à racionalidade estético-expressiva (Garcia & Lemos, 2003).

Concretamente, na EF, esta é alimentada por demasiadas hipérboles, utopias

que na realidade não passam de palavras que não são postas em ação.

Deste modo, é urgente incluir nos conteúdos programáticos a educação

estética dotando os alunos para a sua sensibilidade. Só deste modo será

possível incutir a criança a apreciar o belo, de modo constante e consciente. Só

através da aquisição desta sensibilidade é possível absorver todas as

sensações e sentimentos que a EF pode proporcionar em cada aluno.

Segundo Foucault (1995), temos que criar a nós mesmos como uma

obra de arte, ou seja, todas as nossas ações não deverão cingir-se a um gesto

físico ou mental mas realizadas num equilíbrio racional e emocional. Neste

sentido, as ações motoras realizadas na EF e no desporto, o gesto físico na

sua singularidade não tem o mesmo peso quando é transbordado com

simbolismo, com valores estéticos e éticos. Contudo, para sentir e apreciar este

lado, é necessário (trans)formar o homem num homem sensível. É claro que

não é fácil, na modernidade liquida que atravessamos, em que a solidez das

coisas, vem sendo interpretada como uma ameaça, sem compromissos a longo

prazo (Bauman, 2006), desafiar os professores a implementar este paradigma

de modo permanente e eficaz. Contudo, se alguns esforços forem realizados

neste sentido, existe ainda a possibilidade de articularmos estas questões nas

nossas escolas.

Assim, este estudo teve como principal objetivo proporcionar

experiências estéticas nas aulas de EF a alunos do 6ºano de escolaridade,

enquanto praticantes e observadores e, procurar aferir o efeito dessas

experiências na construção/mudança da sua sensibilidade estética.

101

6.3. Metodologia

Neste estudo servimo-nos de métodos qualitativos e quantitativos para

respondermos com rigor ao objetivo proposto. Para tal, foram realizados vários

procedimentos tais como aplicação de questionários de sensibilidade estética e

visualização de fotos e vídeos com enfâse nas questões estéticas.

6.3.1. Amostra

A amostra foi composta por 25 alunos (11 raparigas e 14 rapazes) do

6ºano de escolaridade, com média de idade de 11,7 anos, de uma escola

básica do Grande Porto. Achamos pertinente esta faixa etária uma vez que os

alunos se encontram numa fase transitória da infância para a adolescência,

ideal para a introdução do significado do valor da estética nas suas vidas.

6.3.2. Instrumentos de recolha

A recolha da informação processou-se em diversas fases ao longo do 2º

período durante as aulas de EF, através da utilização de diversos questionários

que procuraram auscultar a sensibilidade estética dos alunos. A elaboração

dos questionários (anexo 2-10) contou com a colaboração de um perito em

estética do desporto da FADEUP. Além disso, recorremos a fotografias, vídeos

e textos que auxiliassem os questionários.

1. Questionário diagnóstico de sensibilidade estética

Após definição dos objetivos do estudo procedemos à elaboração do

primeiro questionário (anexo 2) com o intuito de ter uma noção exata de como

se encontravam os alunos no início do estudo, antes de qualquer intervenção.

Neste questionário, os alunos eram induzidos a apreciar esteticamente três

imagens de diferentes modalidades (basquetebol, atletismo e ginástica de

aparelhos), que seriam lecionadas durante o estudo. Os alunos teriam então

que avaliar as imagens segundo uma escala de Likert de 1 a 5 (em que 1

correspondia a ‘muito feia’ e 5 a ‘muito bela’). Além disso, tinham que escrever

um pequeno texto onde descrevessem as razões da sua avaliação. Este

questionário foi aplicado no início e no fim do estudo.

102

2. Questionário de apreciação estética na avaliação diagnóstica da

corrida de velocidade (ao vivo)

Aquando da avaliação diagnostica da modalidade de atletismo foi

aplicado um questionário de apreciação estética relativo à corrida de

velocidade (40 metros), conteúdo que iria ser lecionado nas aulas desta

modalidade. Após visualizarem o desempenho dos seus colegas em três

perspetivas (frente, lado e trás), os alunos tinham que selecionar aquela que

mais lhes agradava (esteticamente) e esclarecer o motivo da sua escolha

(Anexo 3).

3. Questionário de apreciação estética da corrida de velocidade, plano

lateral e da retaguarda (em vídeo)

Durante a lecionação da modalidade de atletismo com a corrida de

velocidade de 40 metros com a partida de pé foram aplicados dois

questionários (Anexo 4 e 5), baseados na visualização de dois vídeos em

planos distintos (lateral e traseiro). Neste, os alunos tinham que avaliar cada

colega numa escala de likert de 1 a 5 (em que 1= muito feia e 5 = muito bela) e

apontar os colegas que tiveram aspetos que mais realçaram o movimento em

questão.

4. Questionário de apreciação estética do basquetebol – jogo 3x3

Durante a lecionação da modalidade de basquetebol os alunos

visualizaram vídeos relativos aos jogos das diferentes equipas (formadas

previamente pela turma) e apreciaram-nos esteticamente, numa escala de likert

de 1 a 5 (em que 1= muito feia e 5 = muito bela). No questionário era ainda

solicitado a justificação qualitativa da apreciação efetuada (Anexo 6).

5. Questionário de apreciação estética no basquetebol – jogo 3x1 (em

vídeo)

Durante a lecionação da modalidade de basquetebol os alunos

visualizaram vídeos relativos aos jogos das diferentes equipas (formadas

previamente pela turma) e apreciaram-nos esteticamente, numa escala de likert

de 1 a 5 (em que 1= muito feia e 5 = muito bela). No questionário era ainda

solicitado a justificação qualitativa da apreciação efetuada (Anexo 7).

103

6. Questionários de apreciação estética – ginástica

Durante a lecionação da disciplina de ginástica artística foram aplicados

dois questionários (anexo 8 e 9) de sensibilidade estética, baseados na

visualização de fotos e vídeos em planos distintos de três exercícios: avião

num sueco e salto em extensão no minitrampolim. Neste, os alunos tinham que

avaliar cada colega numa escala de likert de 1 a 5 (em que 1= muito feia e 5 =

muito bela) e apontar os colegas que tiveram aspetos que mais realçaram o

movimento em questão.

7. Entrevista acerca da apreciação estética de uma coreografia de

turma

Os alunos na última aula visualizaram um vídeo que continha uma

coreografia realizada com a turma toda e foi realizada uma entrevista semi-

estruturada no sentido de darem a sua opinião relativamente ao que tinha

visualizado (os alunos avaliaram cada colega numa escala de likert de 1 a 5 e

dar a sua justificação pela avaliação atribuída). As respostas foram gravadas

em áudio e transcritas posteriormente.

Procedimento de análise

Uma vez que estudo apresenta métodos de análise qualitativos e

quantitativos, a análise das informações recolhidas foi realizada em três

etapas: organização dos dados, análise estatística e análise do conteúdo

1. Organização dos dados

Inicialmente foi criada uma base de dados com as respostas

quantitativas usando o software Excel. De seguida, foram transcritas as

respostas qualitativas, bem como a gravação das entrevistas para que

posteriormente fosse realizada uma análise do conteúdo.

104

2. Análise estatística

A estatística descritiva bem com a estatística inferencial foi analisada

com o recurso ao software SPSS versão 21. Estas tiveram um carácter

meramente ilustrativo, com o intuito de compreender melhor as tendências

relativamente a variáveis que são, evidentemente qualitativas.

Uma vez que a amostra era menor que 30 sujeitos, foi utilizado o teste não

paramétrico de Wilcoxon para verificar a existência de diferenças entre: o

questionário inicial e o questionário final de sensibilidade estética; o

questionário inicial e final de apreciação estética do exercício 3x1 na

modalidade de basquetebol e; a perceção de execução e a perceção visual na

corrida de velocidade na modalidade de atletismo. O valor de significância foi

colocado em 5%.

3. Análise do conteúdo

Para tratar a informação qualitativa optamos por realizar uma análise de

conteúdo, o que nos permitiu chegar a uma categorização com base no

proposto por Bardin (2004). Deste modo, foi possível condensar a informação

facilitando a interpretação da mesma e fornecendo resultados mais claros.

Neste sentido, procuramos inicialmente definir as categorias à priori de

análise. Uma vez que o objetivo do estudo é compreender se ao

proporcionarmos experiências estéticas nos alunos nas aulas de EF,

contribuímos para o desenvolvimento da sua sensibilidade estética, as

categorias foram definidas à priori, de acordo com um referencial teórico da

estética do desporto e ajustadas a uma primeira leitura da informação obtida

nos questionários. As categorias definidas para este estudo foram as

seguintes:

1. Corpo

Esta categoria voltada para os aspetos relacionados com a

corporalidade, subdividiu-se em duas categorias: movimento e relação

corpo-aparelho.

105

1.1. Movimento

Foram categorizados no “movimento” todas as respostas que davam

enfâse aos movimentos corporais nomeadamente: gestos, posições e

particularidades/expressão dos movimentos

Ex.: “vê-se no corpo e na cara das pessoas ao vento parece que as bochechas

vão mais para trás”.

1.2. Relação corpo-aparelho

Esta subcategoria inclui todo o conteúdo que remetesse para uma fusão

entre o corpo e o aparelho, cuja apreciação estética focasse a relação

positiva ou negativa do corpo com o objeto desportivo.

Ex.: “… estavam quase todas esticadas e tinham uma excelente chamada no

trampolim.”

2. Técnica-tática

Esta categoria que se relaciona com o domínio das estruturas motoras e

componentes estratégicas do desporto subdividiu-se em três

subcategorias: dificuldade, excelência e perfeição.

2.1. Dificuldade

Nesta subcategoria foram abrangidas as respostas que remontavam

para a complexidade do movimento.

Ex.: “aquilo requer muita força e equilibro”.

2.2. Excelência

Esta subcategoria incorpora todas as respostas associadas com

adjetivações transcendentes.

Ex.: “fazer o avião muito bem e com uma técnica incrível”.

2.3. Perfeição

A subcategoria “perfeição” hospedou todas as respostas relacionadas

com a eficácia e beleza da execução do exercício/movimento.

Ex.: “Existiram pessoas com muita agilidade e também muita elegância”

106

3. Gosto pelo desporto

Esta categoria abarca todas as respostas que nos remetem para uma

paixão pelo desporto ou modalidade apreciada.

Ex.: “gosto muito da imagem porque o basquetebol é o meu desporto favorito”.

4. Esforço/superação

Nesta categoria consideramos toda a informação que nos remetia para a

ultrapassagem de dificuldades/limites.

Ex.: “a imagem está a demonstrar o verdadeiro esforço dos atletas”.

5. Colaboração/oposição

Na categoria “colaboração/oposição” consideramos as respostas que

estavam associadas à entreajuda e comunicação entre alunos,

individualidade, trabalho em equipa, etc.

Ex.: “porque eles comunicaram entre si e a jogada foi muito boa”; “não estavam a

trabalhar em equipa”.

6. Envolvimento ambiental

Incluímos nesta categoria as respostas que continham informações sobre o

espaço físico, os materiais utilizados e o entusiasmo de terceiros.

Ex.: “estava tudo muito confuso porque não havia muito espaço”.

7. Vitória/derrota

Esta categoria contemplou as respostas relativas a: performance,

rendimentos, resultados, pontuações, etc.

Ex.: “todos os movimentos que eles fizeram dava para ver melhor quem vai

ganhar”.

8. Espetáculo

Nesta categoria foram abrangidos todos os conteúdos informativos que

remontavam para emoção, impacto visual, profissionalismo, entusiasmo do

espectador como se estive a assistir a um evento desportivo organizado.

107

Ex.: “uma corrida muito interessante com emoção”.

6.4. Apresentação e discussão dos resultados

1. Caracterização do grupo de estudo

De modo a caracterizar e a compreender melhor a nossa amostra foi

aplicado um questionário relativamente aos seus interesses em manifestações

artísticas e culturais tanto como espectador como executante (Anexo 10). É

certo que o contacto com práticas culturais promove a educação estética, pelo

que entendemos que o conhecimento desta informação nos poderia permitir

estabelecer algumas relações.

Figura 15 - Frequência de resposta relativa à dedicação a manifestações culturais como participantes

Relativamente à sua dedicação a manifestações culturais a figura 16

mostra que a leitura, a par com as artes plásticas, são as categorias mais

apontadas pelos alunos (14%), seguida da dança (12%) e da leitura de

revistas/jornais e da fotografia (11%). A música, o canto, a escrita, o teatro e o

artesanato são as manifestações menos mencionadas (<10%).

Artesanato 6%

Dançar 12%

Musica 9%

Canto 8%

Escrita 8%

Artes Plásticas 14%

Teatro 7%

Fotografia 11%

Literatura 14%

Leitura Revistas/jornais

11%

Dedicação a Manifestações Culturais - Participação

108

A figura 17 mostra que os inqueridos enquanto espectadores

despendem mais tempo a ver televisão ou vídeo (20%) e a ouvir música (20%).

As atividades desportivas são a terceira categoria mais referenciada (15%),

seguida do cinema (13%) e da visita a museus, exposições e monumentos

(11%). Os concertos e a ópera foram as categorias menos apontadas (6%).

Figura 16 - Frequência de resposta relativa a manifestações culturais - espectador

Como as crianças passam um elevado número de horas a ver televisão

achamos pertinente questioná-los acerca da frequência com que assistiam

programas de caracter artístico ou cultural (figura 18). Relativamente a este

comportamento não parece haver nenhum tipo de programa televisivo que se

destaque muito. Contudo, os programas desportivos foram aqueles que

obtiveram uma maior percentagem (15%), seguidos das notícias/entrevistas

(14%).

TV/Video/DVD 20%

Música 20%

Dança/Teatro 9%

Cinema 13%

Concertos/Opera 6%

Atividades desportivas

15%

Museus/Exposições/Monumentos

11%

Desfile de moda

6%

Manifestações Culturais - Espectador

109

Figura 17 - Frequência de resposta relativa à visualização de programas televisivos

2. A sensibilidade estética dos alunos – antes e depois da intervenção

Com a vista a auscultar a sensibilidade estética dos alunos foram

aplicados dois questionários, um no início do estudo e outro no final.

Os resultados da estatística descritiva relativamente à apreciação

estética de imagens de três modalidades (basquetebol, atletismo e ginástica)

mostram que foi atribuída uma maior pontuação no final do estudo

relativamente ao momento inicial (p<0.05) em todas as modalidades (tabela 1).

Uma vez que, as opções de escolha incidem na beleza da imagem (muito feia

a muito bela), estes resultados parecem indicar que houve um refinamento na

capacidade de apreciação estética, ou seja, os alunos foram capazes de ‘ler’

nas imagens de outro modo, reconhecendo-lhe maior valor estético. Assim, é

possível que as experiências estéticas proporcionadas a estes alunos lhe

tenham permitido ampliar a sua perceção, afinando os sentidos, aguçando a

sensibilidade, elaborando a linguagem, a expressão e a comunicação.

Desportivos 15%

Música 9%

Dança 10%

Ópera 5%

Teatro 7%

Cinema 13%

Científicos 9%

Documentários 11%

Noticias/entrevista 14%

Desfiles de

moda 7%

Visualização de Programas Televisivos

110

Tabela 1 - Estatísticas descritivas (média, desvio padrão, minino e máximo). Comparação entre dois momentos de avaliação e três modalidades

Modalidade Média ± Desvio

padrão

Mín. Máx

.

Z Valor de

prova

Basquetebol Momento 1 4.28±0.74 3.00 5.00

-2.266 0.023* Momento 2 4.76±0.52 3.00 5.00

Atletismo Momento 1 3.12±1.01 1.00 5.00

-3.288 0.001** Momento 2 4.12±0.88 1.00 5.00

Ginástica Momento 1 4.32±0.69 3.00 5.00

-3.419 0.001** Momento 2 4.92±0.28 4.00 5.00

*p<0.05;

**p<0.01

Na tabela 2, podemos observar a frequência de ocorrência das

categorias de análise relativas às respostas abertas. Os resultados mostram

que os alunos na modalidade de basquetebol no 1º momento evidenciaram as

categorias do corpo-movimento e do gosto pelo desporto e, no 2º momento, o

corpo-movimento e a colaboração/oposição. No atletismo, de forma

semelhante ao que sucedeu no basquetebol, também o corpo-movimento foi

dos aspetos mais evidenciados nos dois momentos, seguido do

esforço/superação no 1º momento e do gosto pelo desporto no 2º momento.

Na ginástica a Técnica-tática – dificuldade e o gosto pelo desporto foram

as categorias mais reportadas no 1º momento. No 2º momento, as categorias

mais referenciadas foram o corpo-movimento e o esforço/superação.

111

Tabela 2 - Frequência de ocorrência das categorias em três modalidades em dois momentos de avaliação.

Categorias Basquetebol Atletismo Ginástica

Mom 1 Mom 2 Mom 1 Mom 2 Mom 1 Mom 2

Corpo Movimento 12 (29%) 13 (18%) 7 (28%) 13 (34%) 3 (7%) 10 (23%)

Relação corpo-aparelho 0 (0%) 3 (4%) 0 (0%) 1 (3%) 1 (2%) 3 (7%)

Técnica-tática Dificuldade 3 (7%) 0 (0%) 2 (8%) 1 (3%) 13 (31%) 2 (5%)

Excelência 1 (2%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 3 (7%) 1(2%)

Perfeição 3 (7%) 11 (15%) 2 (8%) 4 (11%) 4 (10%) 6 (14%)

Gosto pelo desporto 12 (29%) 10 (14%) 3 (12%) 7 (18%) 12 (29%) 7 (16%)

Esforço/superação 3 (7%) 3 (4%) 6 (24%) 6 (16%) 3 (7%) 12 (28%)

Colaboração/oposição 3 (7%) 15 (21%) 2 (8%) 3 (8%) 2 (5%) 0 (0%)

Envolvimento ambiental 0 (0%) 3 (4%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%)

Vitória/derrota 1 (2%) 10 (14%) 3 (12%) 2 (5%) 0 (0%) 1 (2%)

Espetáculo 3 (7%) 4 (6%) 0 (0%) 1 (3%) 1 (2%) 1 (2%)

112

De um modo geral podemos considerar que as dimensões do corpo,

nomeadamente o movimento é a dimensão estética mais apreciada pelos

alunos, independentemente da modalidade e do momento de avaliação

(exceção para a ginástica no 1ºmomento). Uma vez que o desporto e a EF se

expressam a partir do corpo em movimento, Lacerda (2002, p.227) afirma que

“o corpo desportivo é capaz de se metamorfosear pelo movimento e pelas

alterações morfológicas, é um corpo que faz da epiderme o palco das suas

melhores representações: da força à velocidade ou à amplitude de

movimentos, do esforço à coragem ou à superação, da criatividade ao estilo ou

à emoção”. Merleau-ponty (1999) define um olhar expressivo sobre o corpo,

configurando uma linguagem sensível que é expressa nos movimentos. Por

exemplo, um aluno elegeu a imagem como muito bela “Acho esta imagem

brutal, os jogadores estão a uma distância do chão incrível. Têm ambos uma

abertura de pernas fantástica só para encestar a bola de basquetebol no

cesto.” E outro como feia, “acho que é feia porque as três raparigas são

esqueléticas e cheias de músculos é horrível numa mulher”.

Por outro lado, os resultados obtidos poderão estar associados às

características do questionário aplicado, uma vez que este se serviu do auxílio

de imagens de profissionais do desporto e não dos participantes do estudo. A

análise de imagens com uma elevada técnica de execução pode remeter os

alunos a ver outros aspetos visíveis e invisíveis do ser, do conhecimento e da

cultura tais como as associadas às categorias esforço/superação “Esta imagem

é bela porque o homem tem que ter muita força para passar aquele objeto com

uma mão” e gosto pelo desporto “Gosto muito da imagem porque o

basquetebol é o meu desporto favorito”. Deste modo, o sentido das nossas

escolhas contribui para a subjetividade. Esta atividade, com base na

visualização de imagens com um elevado nível técnico permitiu a elaboração

do juízo estético que contém uma atividade crítica e reflexiva (Lacerda &

Gonçalves, 2009).

A sensibilidade dos alunos, os gostos pessoais, as preferências, as

rejeições, os desejos, vão sendo configurados por meio dessa estrutura

subjetiva na qual correlacionamos o tempo, o corpo, o mundo, as coisas e os

outros.

113

3. Intervenção realizada ao longo do 2º período

Com o intuito de desenvolver a sensibilidade estética nas aulas de EF foi

realizado ao longo do 2º período, paralelamente aos conteúdos programáticos

previamente definidos, uma proposta didática que abrangesse aspetos da

educação estética. Neste sentido, todas as aulas foram planeadas com um

duplo objetivo: cumprir a lecionação das unidades didáticas pré estipuladas, os

seus objetivos e funções e acrescentar uma vertente educacional com enfâse

nos valores estéticos, que permitissem aos alunos a

construção/desenvolvimento de um sentido estético do desporto. “Trabalhar

com o ensino do movimento humano sem pensar na dimensão estética é limitá-

lo à cópia, imitação e repressão dos sentimentos de ser e estar no mundo”

(Raffaelli, 2013, p.6).

3.1. Apreciação estética da corrida de velocidade – atletismo – três

perspetivas (ao vivo)

Durante a lecionação da modalidade de atletismo foi realizada uma

atividade com os alunos. Estes teriam que visualizar os restantes colegas na

execução da corrida de velocidade, durante a avaliação diagnóstica, em 3

perspetivas: frontal, lateral e traseira (anexo X). Após a visualização tinham que

eleger a perspetiva que mais lhes agradava e justificar a sua escolha. A figura

19 mostra que os alunos escolheram as perspetivas frontais (48%) e laterais

(44%) como preferenciais. A escolha destas perspetivas pode estar

influenciada pelas suas experiências televisivas na visualização dos eventos

desportivos.

114

Figura 18 - Frequência de resposta relativa à escola de perspetivas na corrida de velocidade.

Na figura 20 podemos observar que dos que elegeram a categoria

frontal, 54% justificaram a sua resposta remetendo para o corpo – movimento,

34% para a vitória/derrota e 8% para o esforço/superação. Na perspetiva

lateral, 70% dos alunos a sua opção para a categoria vitória/derrota, 20% para

a categoria movimento e 10% para o espetáculo. Por fim, na perspetiva

traseira, selecionada por apenas dois alunos, justificaram a sua resposta como

sendo associada ao corpo – movimento. Uma vez mais aqui a categoria corpo

– movimento teve em destaque como justificação para as suas avaliações,

principalmente no plano frontal. O facto de estarem a visualizar o desempenho

desportivo de frente permite-lhes realçarem aspetos relativos à expressividade

corporal como por exemplo: “vê-se o corpo dos corredores e a cara está ao

vento parece que as bochechas vão mais para trás” ou; “dá para ver mais

movimentos e pode-se ver a cara”. Na perspetiva lateral a justificação poderá

dever-se primeiro à relação próxima que os alunos desenvolvem com a

televisão, desde tenra idade, nomeadamente no que diz respeito às

transmissões televisivas da modalidade de atletismo somos muitas vezes

induzidos a ver este plano. Além disso, numa corrida de velocidade o plano

lateral permite-nos ver com maior clareza as questões relacionadas com a

competição, nomeadamente que atletas se encontram em melhor posição, por

Frontal 48%

Lateral 44%

Retaguarda 8%

115

exemplo: “Porque consigo ver melhor a maneira como os corredores

correspondem, e se tem uma boa posição”. Neste sentido, é natural que os

alunos foquem as suas atenções para esta categoria: “Porque conseguia ver

melhor os resultados e os movimentos”.

Figura 19 - Frequência de resposta da seleção das categorias nas três perspetivas.

3.2. Apreciação estética da corrida de velocidade – atletismo – visão

lateral e à retaguarda (vídeo)

Os resultados desta intervenção mostram que independentemente da

perspetiva analisada parece existir uma tendência para os alunos atribuírem

mais significado às categorias relacionadas com a técnica-tática (perfeição e

dificuldade) seguido da categoria corpo – movimento (figura 21).

38

54

8

0

70

20

0

10

0

100

0 0 0

20

40

60

80

100

120

Vitória/derrota Movimento Esforço/superação Espectaculo

%

Frontal Lateral Retaguarda

116

Figura 20 - Percentagem de seleção de categorias em duas perspetivas

Quando os alunos visualizaram um vídeo nas duas perspetivas, a sua

atenção voltou-se predominantemente para categorias relacionadas com a

técnica e tática (perfeição e dificuldade). Apesar de, como afirma Cunha e Silva

(1999) todos os desportos serem potenciais portadores de qualidades estéticas

sabemos que existem modalidades que contêm em si fatores que contribuem

para o alcance de uma performance estética, tais como a patinagem artística, a

ginástica, a natação sincronizada, etc. que remontam naturalmente para uma

sensibilidade artística, componente elementar na avaliação das mesmas e,

outras que apelam mais às qualidades técnicas ou à vitória/derrota como é o

caso do atletismo: “foi porque tiveram um excelente arranque e uma boa

posição de partida”. Por outro lado, o facto de estarem a visualizar um vídeo e

não o desempenho ao vivo (como foi o caso da atividade anterior) poderá ter

levado a uma observação que se confinou apenas a selecionar as categorias

técnica-tática (dificuldade e perfeição): “Existiu uma pessoa que não teve

atenta e a partida não foi bem executada”; “porque quando ele arrancou parou

e olhou para trás”.

0

17

31

36

7

5

2

2

8

14

29

43

2

2

0

2

0 10 20 30 40 50

Gosto pelo desporto

Corpo: Movimento

Técnica-tática: Dificuldade

Técnica-tática:Perfeição

Técnica-tática: Excelencia

Esforço/Superação

Envolvimento ambiental

Vitória/ Derrota

Perspetiva lateral Perspetiva à retaguarda

117

3.3. Apreciação estética da corrida de velocidade – perceção de execução/visualização

Os alunos foram levados a avaliar a sua performance enquanto

realizavam a corrida de velocidade de 40 metros, tendo em consideração a sua

perceção enquanto executavam o movimento e após a realização do mesmo,

através da visualização de um vídeo sobre o seu desempenho.

Os resultados da tabela 3 mostram que não existem diferenças

significativas entre a perceção de execução e a perceção de visualização

(p=0.226), apesar de haver uma tendência para os alunos pontuarem melhor

aquando da execução comparativamente com a visualização (4.14 e 3.86,

execução e visualização, respetivamente). O facto de não existirem diferenças

substanciais entre a perceção da execução e da visualização poderá indicar-

nos que os alunos têm noção dos movimentos que executam (corretos ou

incorretos, belos ou feios).

Deste modo, o fato de eles executarem o exercício, avaliarem essa

execução e posteriormente visualizarem a sua performance e voltarem a

avaliá-la leva-nos a crer que a experiência do corpo é um campo criador de

sentidos e significados do movimento, uma vez que a perceção não é apenas

uma representação mental, mas um acontecimento de corporeidade, de

existência, como afirmou Merleau-Ponty (1999, p.497) “das coisas ao

pensamento das coisas, reduz-se a experiência”.

Tabela 3 - Comparação da apreciação estética entre dois tipos de perceção

Tipo de perceção Média ± Desvio

padrão

Mín. Máx

.

Z Valor de

prova

Execução

Visualização

4.14±0.83

3.86±0.45

2.00

3.00

5.00

5.00 -1.210 0.226

ns

ns – não significativo

3.4. Apreciação estética do jogo 3x3 – basquetebol

Durante a lecionação da modalidade de basquetebol, a turma foi dividida

em 4 equipas que se mantiveram ao longo das aulas. Neste sentido, aquando

da realização do exercício do jogo 3x3 os alunos tiveram que avaliar a

prestação das equipas (anexo 9) relativamente à sua beleza numa escala de

likert de 1 a 5 (em que 1=muito feia e 5=muito bela). Esta avaliação foi

118

realizada em dois momentos no início e final da lecionação da modalidade. Os

resultados mostram que foi atribuído uma maior pontuação no 2º segundo

momento relativamente ao primeiro em todas as equipas (p<0.05), atribuindo-

lhes deste modo um maior valor estético à prestação das mesmas.

Tabela 4 - Comparação da apreciação estética de dois momentos de avaliação

Equipas Média ± Desvio

padrão

Mín. Máx. Z Valor de

prova

Equipa 1 Momento 1 3.46±0.59 2.00 4.00

-2.070 0.038*

Momento 2 3.79±0.72 2.00 5.00

Equipa 2 Momento 1 4.33±0.70 3.00 3.00

-2.179 0.029*

Momento 2 4.75±0.44 4.00 4.00

Equipa 3 Momento 1 3.38±0.77 2.00 2.00

-2.299 0.022*

Momento 2 3.88±0.45 3.00 3.00

Equipa 4 Momento 1 3.74±0.62 2.00 2.00

-2.803 0.005*

Momento 2 4.42±0.58 3.00 3.00 *p<0.05

Estes resultados confirmam a hipótese colocada inicialmente acerca do

efeito da implementação de conteúdos de educação estética no

desenvolvimento da sensibilidade estética dos alunos de forma planeada e

intencional. A dimensão estética na EF mostra-se como uma possibilidade de

esta na escola seja incluída em qualquer atividade, correndo toda a cultura

corporal de movimento, deitando por terra a ideia de que só pode ser

desenvolvida nas práticas corporais que envolvem maior expressão, como

dança ou ginástica.

3.5. Apreciação estética do exercício 3x1 – basquetebol

Durante a realização do exercício de situação de jogo 3x1 os alunos

efetuaram uma apreciação estética da prestação dos seus colegas em dois

momentos distintos (figura 22). Das categorias extraídas podemos verificar que

as categorias relacionadas com a técnica e tática (perfeição e dificuldade)

foram as mais evidenciadas pelos alunos nos dois momentos de avaliação,

aumentando a prevalência no 2º momento comparativamente com o 1º

momento. Além disso, no 1º momento também foram mencionadas as

119

categorias colaboração/oposição (14%) e esforço/superação (8%). No 2º

momento 5% dos alunos também evidenciaram a colaboração/oposição e

outros 5 % a excelência.

Figura 21 - Apreciação estética da prestação em dois momentos

Uma possível justificação para os resultados obtidos no exercicio 3x1

poderá estar relacionado com a importância dos conteúdos técnico-tácticos

necessários para uma realização eficaz do ataque 3x1 evidenciados pelo

EE/”investigador”. A apreciação requisitada aos alunos na observação do

exercicio encaminhou os alunos a destacarem as categorias acima

supracitadas. Exemplo disso são os excertos que se seguem: “As feras do

basquetebol passaram o necessário e cortaram para o cesto como os

Vitoriosos e os basquetebolistas.”, “todas as equipas estiveram bem em

relação ao posicionamento, da forma como lançaram ao cesto (se passaram e

cortaram para o cesto)”, “Passes muito rápidos sem chance para a defesa,

desmarcações incríveis”, “fizeram passes muito longos e não lançaram para o

cesto a 45º”.

A técnica ou a táctica realizada eficazmente foi assim sempre

identificada como bela ou muita bela sobrepondo-se às restantes categorias

evidenciadas pelos alunos, como por exemplo o esforço/superação,

colaboração/oposição, gosto pelo desporto, entre outras. A relação entre a

0

0

61

22

5

2

5

2

0

2

1

1

49

15

6

8

14

0

1

3

0 20 40 60 80

Gosto pelo desporto

Corpo: Movimento

Técnica-tática: Dificuldade

Técnica-tática:Perfeição

Técnica-tática: Excelencia

Esforço/Superação

Colaboração /Oposição

Envolvimento ambiental

Vitória/ Derrota

Espetáculo

%

Momento 1

Momento 2

120

excelência da execução motora tanto individual como coletiva e a apreciação

estética dos alunos como bela foi sempre muito próxima. A excelência dos

movimentos do corpo são assim apreciados com uma conotação positiva e o

contrário também se verifica. Deste modo, existe uma ligação entre o “bom” e o

“belo” e o “mau” e o “feio”.

3.6. Apreciação estética do salto em extensão no mini-trampolim –

autoavaliação vs heteroavaliação

No decurso das aulas de ginástica os alunos executaram

individualmente um salto em extensão no mini-trampolim, esses saltos foram

filmados com o objetivo de posteriormente serem realizadas auto e

heteroavaliações dos mesmos.

Os resultados da tabela 5 mostram que não existem diferenças

significativas (p=0.405) entre as auto-avaliações comparativamente com a as

heteroavaliações do salto em extensão no mini-trampolim. Parece existir

alguma sintonia entre a perceção estética do salto dos alunos relativamente a

eles próprios e a perceção estética dos colegas. Isto leva-nos a acreditar que

as noções estéticas são partilhadas entre os alunos desta turma, ou seja, os

valores e significados estéticos foram apreendidos de forma semelhante pelos

alunos.

Queremos com isto dizer que ao terem experiênciado as mesmas

atividades com foco na educação estética criou-se uma homogeneidade no

significado estético atribuído à visualização do video do salto em extensão no

mini-trampolim. “A Estética não se refere ao objeto mas à atitude que tomamos

em relação aos objetos.” (Ferreira, 2007, p. 17).

Tabela 5 - Comparação entre autoavaliação e heteroavaliação - Ginástica

Tipo de avaliação Média ± Desvio

padrão

Mín. Máx

.

Z Valor de

prova

Autoavaliação

Heteroavaliação

4.39±0.94

4.26±0.54

1.00

3.00

5.00

5.00 -0.832 0.405

ns

ns – não significativo

121

Na figura 23 podemos verificar que as categorias apontadas pelos

alunos como justificação para a apreciação estética realizada aos vídeos do

salto em extensão no minitrampolim estão maioritariamente relacionadas com

questões técnico-táticas (dificuldade 40% e perfeição 37%). Os aspetos

relacionados com o corpo (movimento e relação corpo-aparelho) foram

apontados por cerca de 20% dos alunos. Apenas 2% dos alunos justificaram

com a categoria excelência.

As restantes categorias disponíveis (gosto pelo desporto,

esforço/superação, colaboração /Oposição, envolvimento ambiental, vitória/

derrota e espetáculo) não foram mencionadas por nenhum aluno.

A conexão entre os alunos, na apreciação do vídeo do salto de extensão

no minitrampolim, relativamente à conotação do belo como um comportamento

motor adequado (técnica do salto) é evidente. O uso de slow motion e música

minimalista na reprodução do vídeo poderá ter influenciado as respostas dos

alunos uma vez que, ao utilizar este tipo de edição (slow motion) os aspetos

técnicos ficam mais destacados e os alunos não contornaram estas questões,

focando a sua observação essencialmente neste aspeto.

Figura 22 - Prevalência de categorias da apreciação estética do salto em extensão

3.7. Apreciação estética do avião no banco sueco – autoavaliação vs

heteroavaliação

40%

37%

12%

9%

2%

Técnica-tática:Dificuldade

Técnica-tática:Perfeição

Corpo: Movimento

Corpo: Relação Corpo-aparelho

Técnica-tática:Excelencia

122

No final da exercitação do exercicio de ginástica “avião no banco sueco” os

alunos executaram-no individualmente para que fossem fotografos com o

objetivo de posteriormente serem realizadas uma auto e heteroavaliações das

mesmas. Os resultados mostram que não existem diferenças significativas

(p=0.131) entre as auto-avaliações comparativamente com a as

heteroavaliações no avião no banco sueco (tabela 6).

Tabela 6 - Comparação entre autoavaliação e heteroavaliação – avião no banco sueco

Tipo de avaliação Média ± Desvio

padrão

Mín. Máx

.

Z Valor de

prova

Autoavaliação

Heteroavaliação

3.79±0.78

3.50±0.93

3.00

2.00

5.00

5.00 -1.512 0.131

ns

ns – não significativo

Figura 23 - Prevalência de categorias da apreciação estética do avião no banco sueco.

A figura 24 mostra a justificação apontada pelos alunos na apreciação

estética realizada às fotografias do avião no banco sueco. Podemos verificar

que as categorias selecionadas estão essencialmente ligadas a questões

técnico-táticas (perfeição 60% e dificuldade 18%). O corpo – movimento

também é uma categoria evidenciada, sendo apontada por 16% dos alunos. As

60% 18%

16%

3% 3%

Técnica-tática:Perfeição

Técnica-tática:Dificuldade

Corpo: Movimento

Gosto pelo desporto

Técnica-tática:Excelencia

123

categorias gosto pelo desporto e excelência são as menos apontadas (3%). As

restantes categorias disponíveis (esforço/superação, colaboração /oposição,

envolvimento ambiental, vitória/ derrota e espetáculo) não foram mencionadas

por nenhum aluno.

3.8. Apreciação estética da coreografia da turma – ginástica de solo

No final da lecionação das aulas de ginástica os alunos realizaram uma

coreografia de grupo envolvendo a turma toda, que foi registada em formato de

vídeo. Os resultados da sua apreciação encontram-se expostos na figura

seguinte (figura 25). A grande maioria dos alunos atribuiu a classificação de 4

pontos (“Belo”), apenas um aluno classificou como “muito belo” (5) e quatro

alunos consideraram a coreografia “indiferente” (3).

Figura 24 - Pontuação atribuída na apreciação estética da coreografia de grupo

Como justificação para as avaliações atribuídas à coreografia os alunos

na sua maioria consideraram importante a colaboração/oposição (50%),

seguida do gosto pelo desporto (14%). 11% dos alunos considerou a relação

corpo-aparelho ou a dificuldade como sendo as categorias com maior

significado para a classificação concedida e, 7% dos inquiridos consideram que

o esforço/superação ou o envolvimento ambiental justificam a classificação

dada (figura 26). O facto de a avaliação em causa ser baseada numa

performance de grupo poderá ter aumentado a importância dada à categoria

colaboração/oposição, uma vez que visualmente a combinação harmoniosa e

sintonizada de movimentos de um grupo remete-nos para o “belo”.

0

1

2

3

4

5

6

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213141516171819202122232425

Esca

la d

e Li

kert

Alunos

124

Figura 25 - Prevalência de categorias da apreciação estética da coreografia de grupo.

6.5. Considerações finais

Este estudo teve como principal objetivo aferir se a inclusão da

componente estética nas aulas de EF, de modo planeado, é capaz de

sensibilizar os alunos para a mesma.

Os resultados mostram que os alunos associam a estética

essencialmente às seguintes categorias: técnico-tática e corpo-movimento,

independentemente da modalidade, tanto em modalidades individuais como

coletivas. Isto poderá dever-se ao modo como os jovens configuram a sua

noção de estética devido a aquisições anteriores, ou seja, o aluno constrói o

seu ideal de beleza com base no conhecimento prévio. Contudo, ao longo das

intervenções foram sendo destacadas outras categorias tais como:

colaboração/oposição e gosto pelo desporto. Estes resultados sugerem assim

que o ideal de perfeição incorpora a necessidade de uma harmonia entre o

corpo e a alma. Lipovetsky (1994, p.136) afirma que no desporto “os limites são

ultrapassados na perfeição estética dos comportamentos”.

Neste sentido, podemos afirmar que “a aprendizagem desportiva pode

contribuir para a educação estética pela vivência da beleza e da harmonia do

movimento corporal” (Matos, 2014, p. 180). Por outro lado, dado a unanimidade

dos resultados obtidos no que concerne à eleição de categorias que remontam

50%

14%

11%

11%

7%

7%

Colaboração /Oposição

Gosto pelo desporto

Corpo: Relação Corpo-aparelho

Técnica-tática:Dificuldade

Esforço/Superação

Envolvimento ambiental

125

para a boa execução técnico-tática avaliada maioritariamente como bela

podemos inferir que o professor poderá servir-se da educação estética aos

alunos como ferramenta para desenvolver o conhecimento na disciplina de EF.

Concluindo educar através da sensibilidade estética parece ser crucial

para o desenvolvimento harmonioso do ser humano. Schiller (1995, p.56) no

seu ideal refere-se à educação dos sentimentos como sendo “a necessidade

mais urgente do nosso tempo, não somente por ser um meio de tornar

ativamente favorável à vida o conhecimento aperfeiçoado, mas por despertar

nela mesma o aperfeiçoamento do saber”.

127

7. Conclusões e perspetivas futuras

Foi através das experiências vivenciadas no decorrer do EP que

aprimorei o pensamento reflexivo e crítico que me permitiu atuar de forma

ajustada e pertinente perante o desafio proposto de ser EE na Escola Básica

da Senhora da Hora e, que me fizeram evoluir enquanto futuro professor de

EF.

O meu objetivo foi tentar ser o mais competente possível distinguindo a

importância da disciplina de EF e da sua clara evidência na educação das

crianças e jovens da sociedade moderna.

O EP demonstrou ser uma experiência única e enriquecedora sendo

esta enaltecida através da relação tácita com os alunos, os funcionários e

logicamente os professores. Acredito que todas as relações estabelecidas com

a comunidade escolar desencadearam num maior e melhor crescimento

enquanto futuro professor que desejo ser.

Os desequilíbrios/dúvidas sempre equilibrados/esclarecidos pela PC e

PO permitiram-me obter uma visão mais clarificada de todas as minhas ações,

tanto a nível pedagógico como didático, para que estas estivessem

enquadradas com as necessidades. Sem estes seguramente as dificuldades

teriam sido mais evidentes.

Tentei ao máximo criar uma simbiose entre o meu eu e o papel de

professor que desempenhei, pois acredito que as experiências profissionais

podem e devem ser alimentadas pelas vivências de cada pessoa/professor.

Deste modo pareceu-me impossível separar o lado pessoal do profissional. No

meu caso propriamente dito, a facilidade de relacionamento e a minha

experiência com as áreas circenses foram sem dúvida uma mais-valia

enquanto EE, pois permitiram-me desde o início do EP demonstrar o meu

desejo de educar e Ser Professor na Escola Cooperante e no AESH onde

estive inserido.

Por outro lado, o estudo de Investigação-ação permitiu-me desenvolver

um trabalho didático-pedagógico enriquecedor, pois para além dos vários

conteúdos a serem lecionados, a componente Estética fez parte integrante de

todas as aulas. Esta experiência permitiu ampliar os horizontes Estético-

desportivos dos alunos e do EE através da pesquisa e investigação realizada e

128

posta em prática. Penso e acredito que desenvolvi nos alunos uma visão mais

ampla e não uma visão estereotipada muito frequente nas crianças e jovens.

Deste modo, foi possível evidenciar a individualidade de cada aluno

despoletando nestes, uma influência perceptível da noção da estética

associada positivamente às práticas desportivas desenvolvidas em aula.

Elemento a ter em conta em futuras planificações de aula.

Perspetivando o futuro e sabendo que o meu desejo de ser professor

está ainda distante em Portugal, pretendo aumentar o meu conhecimento nas

áreas que remontam para a Educação através do desporto, com o intuito de

conseguir o mais rápido possível alimentar o sonho de ser professor. Penso

que estas experiências aliadas ao desejo pela busca incessante de

conhecimento permitem manter a chama acesa de uma educação digna e

capaz de formar cidadãos à altura dos desafios da sociedade atual.

Considero que enquanto existirem profissionais que se preocupem em

adequar a sua atuação às exigências/realidade de cada aluno/escola e que

procurem atualizar continuamente o seu conhecimento científico a educação

prosperará e sobreviverá!

129

8. Referências Bibliográficas

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supervisão. Porto: Porto Editora.

Alves, R. (1995). O corpo e as palavras. In H. Bruhns (Ed.), Conversas com

quem gosta de ensinar. São Paulo: Ars Poetica.

Anderson, L. M. (1989). Implementing instructional programs to promote

meaningful, self-regulated learning. In J. Brophy (Ed.), Advances in

research on teaching (Vol. 1, pp. 311-342). Grenwich; Connecticut: JAI

Press inc.

Araújo, F. (2007). A avaliação e a gestão curricular em educação física: um

olhar integrado. In J. A. Diniz (Ed.), Boletim da Sociedade Portuguesa de

Educação Física (Vol. 32, pp. 121-133). Lisboa.

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9. Anexos

Anexo I - Questionário individual do aluno

XXVI

Anexo II - Questionário de sensibilidade estética

XXVII

XXVIII

XXIX

Anexo III - Questionário de apreciação estética na avaliação diagnóstica da corrida de velocidade

XXX

Anexo IV - Questionário de sensibilidade estética na modalidade de atletismo – visão lateral

XXXI

Anexo V - Questionário de sensibilidade estética na modalidade de atletismo - visão traseira

XXXII

Anexo VI - Questionário de apreciação estética na modalidade de basquetebol com o exercício 3X1

XXXIII

Anexo VII- Questionário de apreciação estética na modalidade de basquetebol com o exercício 3X3

XXXIV

Anexo VIII - Questionário de sensibilidade estética - ginástica – avião

XXXV

Anexo IX - Questionário de sensibilidade estética - ginástica - salto em extensão

XXXVI

Anexo X - Questionário sobre práticas culturais

XXXVII

XXXVIII

XXXIX