o DESENHO INFANTIL COMO FORMA DE REPRESENTA«AO...

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ALINE CABRERA PARAISO o DESENHO INFANTIL COMO FORMA DE REPRESENTA«AO GRAFICA Monografia apresentada ao Curso de Pos • Graduacao em Psicopedagogia, da FacuJdade de Ciimcias Humanas, letras e Artes da Universidade Tuiuti do Parana, como requisito parcial a oblencao de titulo de Especialisla em Psicopedagogia. Orientadora; Margaret Maria Schroeder CURITIBA 2004 , , "

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ALINE CABRERA PARAISO

o DESENHO INFANTIL COMO FORMA DE REPRESENTA«AO GRAFICA

Monografia apresentada ao Curso de Pos •Graduacao em Psicopedagogia, daFacuJdade de Ciimcias Humanas, letras eArtes da Universidade Tuiuti do Parana,como requisito parcial a oblencao de titulode Especialisla em Psicopedagogia.

Orientadora; Margaret Maria Schroeder

CURITIBA

2004

,, "

SUMARIO

1.INTRODU~Ao 1

2. FUNDAMENTA~Ao TE6RICA 4

2.1. BREVE HIST6RICO DO DESENHO INFANTIL 4

2.2. AS FASES DO GRAFISMO 9

3.0 OLHAR DO PROFESSOR 18

3.1. 0 PAPEL DOS PAIS 22

4. OBSERVA~Ao E ANALISE DOS DESENHOS DE CRIAN~AS 24

CONSIDERA~OES FINAIS 36

REFERENCIAS 38

RESUMO

No presente documento relata-se a importancia do estfmulo narepresentac;ao grafica, no desenvolvimento infanti1. Primeiramente, se feznecessario a registro de urn breve historico quanta ao desenho infantil,propriamente dito e aos estudos ja realizados sobre os desenhos e suaimportancia no desenvolvimento infantil. Ha uma especifica980 de cada etapa dodesenvolvimento do grafismo em paralelo ao desenvolvimento infantil, para que 0leitor se situe quanta as possibilidades e condic;6es da crianc;a em cada fase.Destaca-se 0 papel importante que desempenham os pais e os profissionais daeducac;ao, propondo urn novo olhar diante das atuac;6es das crianc;as, valorizandoas resultados e incentivando 0 progresso neste processo. Relata-se tambem aobservac;ao e analise de atividades de registro grafico de criancas de uma escolade educa9ao infanti!. Percebe-se ao final do trabalho a importancia do estimulopara 0 desenvotvimento do grafismo para as crianyas na idade pre-escolar, vistaque crianvas motivadas e com oportunidades em executar tais atividades au obrasproduzem resultados diferenciados das que nao possuem 0 mesma incentivo.

INTRODUC;Ao

Assim como uma pessoa 56 aprende a expressar-se oralmente se conviver

com falantes, a crianya desenha porque vive em urna cultura que tern na atividade

grafica urna de suas formas de expressao. 0 desenvolvimento do grafismo e

marcado pelas intera90es sociais, 0 que equivale a afirmar a sua constitui9ao

social.

"Desiaca-sa a importancia da arte no processoeducativo para 0 desenvolvimento da crianc;a como sujeifoque se expressa e se jnsere no mundo. A/em desseconhecimento, e imprescindivel que 0 docente compreendacomo aconleee 0 desenvolvimento da crianc;a nos aspectoscognitiv~, afetivo, motor e social; perceba a imporlancia dodesenho deniro do contexte da pre-esee/a e, a partir destespontes, refliia sobre e questione sua pratica pedag6gica eseupapeldemediador". (REILY, 1984, p. 78).

Neste trabalho pretendeu-se focalizar a contribuiy80 do estimulo e do

preparo do professor ou dos proprios pais no desenvolvimento do grafismo da

crian9a. A participa9ao do outro e reconhecida no brincar, na narrativa e na

escrita. No desenho, quando e lembrada, geralmente assume forma negativa,

como uma influencia nociva.

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Muitas vezes S8 faz necessaria a constru~ao de urn novo olhar sobre 0

desenvolvimento do desenho. A OP9ao metodo16gica de olhar para encontros

grupais procurou justa mente mostrar 0 quanta 0 Dutro participa do processo

gratico.

E fundamental, enfim. que exista urn conhecimento sobre a atividade

grafica enquanto processo que envolve pessoas em continua intera<;13o e

possibilita desenvolvimento e aprendizagem.

o desenho infantil e de suma importancia no desenvolvimento infanti!.

Sendo a desenho a primeira forma de registro de urna crianyB e a linguagem

especifica dela, muito S8 utiliza deste para analisar, avaliar, camparar e questionar

resultados.

Para Valsassina (1988, p. 37): 0 desenho e a pintura sao uma linguagem

da qual ela S8 serve para exprimir 0 que sente e sa be do mundo que a rodeia; por

isso, a arte infantil e uma arte particular, com uma evoluC;80 e valores pr6prios.

Nestas circunstancias, creio ser a arte infantil um dos fatores que contribui como

fonte de informa<,;:ao dos sentimentos e necessidades da crian<,;:a, para uma futura

integra<';:8o na vida. A crian<,;:anao imita, cria!

Assim, deixar a crianc;a agir livremente sera 0 papel do educador, sempre

pranta a estimula-Ia, falando e campreendendo a sua propria linguagem.

Par sua vez, cabe aos pais a valorizac;ao desta obra, criando 0 habito de a

considerar um objeto valioso.

Visto que, e esta representac;ao grafica que muito ira falar pel a crianc;a,

seus desejos serao expressos par este grafismo, como garantir 0 estimulo e bons

resultados?

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o objetivo principal deste documento e busear elementos que contribuam,

facilitem e estimulem a crianc;;:a para que a mesma alcance bons resultados no

desenvolvimento do grafismo. Bern como, especificamente:

Estimular a crianC;;:8 em seu desenvolvimento gratica.

Analisar e avaliar 0 desenvolvimento do grafismo de crianc;;:as na fase

pre~escolar.

Perceber as dificuldades encontradas pelas crianC;;:8s no momento de

seus registros.

Desenvolver criterios para se obter quaJidade incentivando a

criatividade.

Orientar pais e profissionais da area da educac;;:ao quanta a forma de

estimulo e motivac;ao para a obtenc;;:ao de bons resultados na representac;;:ao

grafica.

o objetivo das analises aqui apresentadas nao foi anular 0 papel do

processo de maturidade das crianc;;:as, porque olhando para os seus desenhos,

verificou-se, durante um periodo, uma grande diferenciac;ao, no sentido de um

progressivo abandono das garatujas em direc;ao it representac;ao figurativa,

mudanc;a da qual certamente participaram fatores de maturidade. Contudo,

pretendeu-se privilegiar, nas analises, a dimensao social das dinamicas da

atividade de desenho, iste e, a constituic;;:ao do desenho nas relac;6es sociais e a

explorac;;:ao dos recursos materiais culturalmente disponiveis.

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2. FUNDAMENTACAO TEORICA

2.1. BREVE HISTORICO DO DESENHO INFANTIL

Segundo Cardoso (1988, p. 52): Se 0 desenho da crian~a chama a nossa

atenc;ao sobre cria<,(oes que nao sao apenas 0 reflexo, nem do saber nem da

inteligencia, mas, sobretudo uma traduc;c3o dos seus afetos, fica-nos a certeza de

que hi! na crianc;a valores essenciais que e preciso descobrir e compreender.

Entretanto, ha uma grande preocupa93o das professoras em delimitar

aquila que elas consideram atividade pedag6gica e seu papel docente. Existe a

ideia de que apenas a professora pode ordenar situac;oes de aprendizagem. Neste

sentido, aprendizagem nao e considerada intercambio, mas uma rela~o linear. 0

desenho acaba adquirindo func,;:aoquase que exclusiva de treino motor e perdem-

S9 suas caracteristicas de atividade promotora de desenvolvimento cognitivo,

afetivo e social.

Oesenhar e uma necessidade humana, nasce com a instinto de

representar, simbolizar a mundo. Deixar marcas pessoais e uma forma

fundamental de comunicac,;:ao humana nasce com 0 ser humano.

Oesenhar e registrar 0 Iudico, a artistico au a cientifico atraves de lin has,

pontos e manchas. Oai a desenho ser um eficiente meio de comunicac,;:ao

enquanto expressa ideias graficamente. Individuos de diferentes origens e valores

sociais tem no desenho uma indispensavel e importante ferramenta para a

comunicac,;:ao.

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"0 ata de desenhar esta presente em quase lodas asatividades humanas. Origina/mente, urn simples esboqo podevir a ser mais urn dos inumeros objetos que comp6em apaisagem urbana. Muitas vezes parecendo pr%ngamentosde a/guma (acu/dade humana. A roupa, por exemplo, e umaextensaa da pele enquanto as rodas prolongam os pes e ascomputadores determinadas fungoes do cerebro",

(MCLUHAN:1969, p. 54)

o interesse pelo desenho infantit data dos fins do seculo passado. A

principia relacionados com as primeiros trabalhos da psicologia experimental, as

estudos sabre 0 desenho diversificaram-se rapidamente e disciplinas tao

diferentes como a psicologia, a pedagogia, a sociologia e a estatica beneficiaram-

S8 com esta contribui9ao. Primeiro descobre-se a originalidade da infancia, depois

a innUEmcia das ideias de Rousseau (DERDIK:1989, p.37) em pedagogia levam a

distinguir diferentes eta pas no desenvolvimento grafrco da crian9a. No momenta

atual os estudos sobre os desenhos infantis benefrciam-se da contribui9ao,

consideravel em psicologia infantil, da obra de Piaget, e prosseguem no sentido de

uma elucida9ao dos mecanismos da expressao infantil, expressao que nao e mais

grafrca e plastica apenas, mas tambem gestual e musical.

As concep90es relativas a infancia modifrcaram-se progressivamente: a

crian9a nao e mais aquela "maquete" de adulto, aquele adulto miniaturizado que

queriam ver nela. A descoberta de leis proprias da psi que infantil (DERDIK:1989,

p.39), a demonstra9ao da originalidade de seu desenvolvimento, leva ram a admitir

a especificidade desse universo. Nesse sentido, e inegavel que os psicologos

contribuiram amplamente para a coloca9ao de conceitos basicos que permitissem

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a abordagem da mentalidade infantil. A maneira de encarar 0 desenho evoluiu

paralelamente: antes era considerado unicamente em rela<;ao com a arte adulta,

as desenhos infantis apareciam como fracassos, quando muito como exercicios

destinados a preparar a futuro artista. Durante muito tempo, 56 S8 reteve do

grafismo infantil as particularidades que diziam respeito a inabilidade motara,

atribuindo as sucessos ao acaso.

A criatividade, 0 fazer algo novo e de novo, 0 produzir qualquer coisa

inedita, tanto quanta experiencia individual, representa uma vivemcia interior e

traduz-se numa certa forma de manifestac;ao.

o desenho como possibilidade de brincar, 0 desenho como possibilidade de

falar, de registrar, marca a desenvolvimento da infemcia, porem em cada estagio, 0

desenho assume um carater proprio. Ha estagios da representaltao grafica e

levando-se em consideraltao estes e que muitas vezes se observam falhas, seja

no estimulo dado a crianlta neste momento, na percepltao quanto as reais

dificuldades da crianlta, no processo de execultao, de orienta9ao por parte dos

pais e professor, na qualidade desta representa9ao, enfim, ha uma necessidade

de se aprimorar estes resultados ja que 0 desenho e uma forma de expressao,

linguagem e comunicaltao.

Estes estagios definem maneiras de desenhar que sao bastante similares

em todas as crianltas, apesar das diferenltas individuais de temperamento e

sensibilidade. E e atraves da observaltao destes estagios e dos registros das

crianltas em cada etapa que podemos fazer a leitura de diversas situaltoes

relevantes no desenvolvimento de cad a uma destas crianltas.

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Esta maneira de desenhar propria de cada idade varia, inclusive, muito

pouco de cultura para cultura. Todo 0 desenvolvimento da crian9a deve ter, como

ponto de partida, a experimenta<;ao e a sensibiliza<;ao.

Para Stabile (1984, p.7S): Oesde a pre -escola e importante apresentar as

crianc;as propostas de trabalho que enriqu8<;am seu conhecimento de forma

bastante concreta. Essas propostas de atividades de percep9ao: amostragens,

conversas, explica96es, pesquisas, experimentay6es, vivencias e varios Quiros

recursos que facilitem a aprendizagem.

Quanta mais a crianya vivencia sensorialmente as coisas que tern para

aprender, mais facil sera para sla formar seus conceitos cognitivamente.

As atividades artisticas tarnbam devem ser precedidas de explica96es para

que a crian9a saiba colorir, pintar, usar cola, etc. Ela precisa saber manusear os

materiais com seguran9a, para criar e se expressar livremente.

Quem desenha supera os limites fisicos, desde a sua limita9ao corporal ate

o limite do proprio material para dar vazao a este universe interior que existe nele.

Trabalhar com atividades que desbloqueiam 0 imaginario significa fazer explodir

as estruturas fixas e estereotipadas que transformam 0 universe cotidiano, que

criam urn passado, um presente, urn futuro e uma dinamica criativa irreversivel.

Desenhar nao e semente copiar formas, figuras, nao e simplesmente

propor9ao, escala. A vi sao parcial de urn ebjeto nos revelara um conhecimento

parcial desse mesmo objeto. Desenhar objetos, pessoas, situa96es, animais,

emo90es, ideias, sao tentativas de aproximac;:ao com 0 mundo.

Desenhar e conhecer e apropriar-se. A crian9a que tern bastante

oportunidade de desenhar, certamente ira explorar uma maior quantidade de tipos

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variados de grafismo. A percep<;ao S9 torna aguQada. A partir dos rabiscos e que,

futuramente, iraQ surgiu certas formas basicas.

Sugerir urn tema naG e suficiente para desenvolver todo 0 potencial da arte

de desenhar. Ha quest6es especificas a serem trabalhadas integradas aos temas,

como exercicios para 0 desenvolvimento da observac,;:ao, tecnicas, linguagem para

representar, enquadramento, propon;ao, expressividade do tra<;o, tipo de linha,

etc.

o que fascina e atrai as crianc:;as para as aulas de artes plasticas, musica

au dramatiza<;ao e a oportunidade de S9 manifestar segundo seu mundo interior.

Auto-expressando-se, a crian<;a se encaminha para urn ajustamento pessoal e

obtem seguran<;a no relacionamento social. 0 prod uta artistico infantil tem valor

nao pela sua beleza e conteudo, mas simples mente porque e uma expressao

natural e espontanea.

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2.2. AS FASES DO DESENVOLVIMENTO GRAFICO

Para poder planejar com adequa9ao as atividades de autoMexpressao da

crian~ e importante que 0 professor conheya sua evoluC;:30 grafica. 0

desenvolvimento gn3fico aconteee passando per diferentes fases evolutivas. Para

melhor compreendermos, podemos estabelecer urn paralelo entre as fases

evolutivas do grafismo segundo Lowenfeld (1977, p.44) e as dais primeiros

estagios do desenvolvimento mental da crian9a segundo Jean Piaget. Lembrando

que 0 mais importante nao e a idade cronologica, mas 0 tipo de desenvolvimento

que a crianya apresenta.

Estagia sensoria-motor I RABISCAc;:AO (0 a 2 anas)

Nao tern habilidade adquirida

Percebe 0 meio com simplicidade e subjetividade

Imitayao crescente

Pesquisa do movimento

Repetic;:ao, criac;:ao de habitos

Curiosidade e explorac;:ao de materiais diversos

Coordenac;:ao motora grossa

Reflexa de suc9ao (leva tudo a boca)

A crianc;:a ainda nao percebe que e 0 lapis que risca 0 papel, pois esta mais

preocupada com os movimentos, sons e explorac;:oes que pode fazer com os

materiais novos que esta conhecendo. Eo inicio da fase evolutiva do grafismo, a

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que Lowenfeld (1977, p.91) chama de rabisca~ao. 0 estimulo por parte dos pais jil

tern grande impotancia neste momento, pais quanta maior a oportunidade da

crian<;a em ter cantata com diferentes materiais, maior sera seu interesse pela

representa<;ao grafica.

Observando 0 exemplo de urn registro realizado par uma crianga de 1 ana e

5 meses:

Foto: Aline

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Nesta fase ha tres categorias principais:

1-Garatuja desordenada: ainda muito proxima da rabiscac;ao. as trac;os dos

desenhos variam muito, ora fraco e concentrados, ora fortes e dispersos pelo

papsl. Com a treino aparecem ensaios repetidos, sem intenc;ao, significado au

expressao. E a explorac;ao do movimento circular feito com todo 0 brayo, que varia

do tamanho de urn pequeno ponto ate 0 c[rculo que ocupa a folha toda.

2-Garatuja controlada: a crianc;a controlando urn pouco mais seus

movimentos, trans forma os pequenos circulos em pessoas e animais, dando-Ihes

cabelas, olhos e algumas partes do corpo como bra90s e pernas. A atividade

grafica vai ganhando forma, pais para a crianc;a aquila que desenhou carneya a ter

sentido. 0 desenho deixa de ser simples expressao motora e come9a a

representar coisas de sua realidade, normal mente, figura humana. 0 desenho

pode representar uma pessoa ou animal. A crianc;a as diferencia, dando names

aos desenhos. Quando isso nao acontece espontaneamente, nao se deve

questiona-Ia a respeito, pOiS as vezes seu desenho volta a ser pure treino grafico.

Neste exemplo a prefessora sugeriu um tema, Aranha. 0 mesmo foi tema

de projeto da turma e tiveram varias oportunidades de visualizar de perto

diferentes taman has e tipos de aranhas e registrar a que observaram. Este foi a

registro de uma crianc;a de 3 anos e 5 meses:

12

~o

3-Garatuja intencional: Aparecem Qutros elementos nos desenhos al8m da

figura humana, quase compondo uma cena. 0 desenho pareee feito de rabiscos,

mas tern urn significado. Enquanto desenha a crianc;a fala e conta hist6rias,

explicando seus rabiscos de diversas maneiras. Devemos incentiva-Ia a esse

pensamento imaginativ~, aumentando suas referemcias a partir de seu desenho e

enquanto 0 executa. No final dessa fase a crianga comec;ara a misturar aos seus

desenhos uma escrita ficticia tra<;ada em forma de pequenos elementos parecidos

com os nOSSDS signos, au mesma realiza a copia da escrita. E uma imitac;ao de

nossa escrita que para elas dizem au comunicam algo.

Fato: Aline

No exemplo a seguir a crian9a possui 4 anos:

13

((\~",'.v~'"("I"

'-

Foto: Aline

1-Fase pre-esquematica (entre 4 e 5 anos): A crian9a come9a a

Neste estagio ha duas fases:

representar coisas de sua realidade e a exprimir sua fantasia, desenhando varios

objetos ou 0 que imagina deles. Os trabalhos tornam-se mais completos, uma vez

que elas ja conhecem 0 valor representativo do desenho e come9am a utiliza-Io

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como expressao do pr6prio pensamento, da forma como veern, contam au agem.

o desenho da figura humana e bastante completo e variado em suas formas. A

crianc;:a ate 05 cinco anos utiliza as cores como quem brinca, ora com uma, ora

com Dutra, sem qualquer preocupac;ao. NaG usa as cores da realidade, mas

aquelas de que mais gosta.

Este registro foi realizado par uma crianc;a de 4 anos e 9 meses:

Fate: Aline

2-Fase esquematica (entre 5 e 6 anos): E a conquista do conceito da forma.

Os desenhos revelam entao, urn realismo logico, com maior organiza98.0 espacial,

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e realismo descritivD, cheia de detalhes. As figuras S8 relacionam urnas com as

outras e as eaisas possuem lugar certo. Alguns recursos graficos sao utilizados

como notas musicais, simbolos, gotas, letras, ...com a presen9a constante de

novos elementos que sao colocados com inten9<3o.

Este registro foi realizado por uma crianc;a de 6 anos e 3 meses que teve

como tema cavalos. Nesta turma cavalos foi urn tema explorado plasticamente de

varias maneiras.

Atraves da modelagem com argila, releitura de obras de arte de artistas que

ilustraram ests tema, construiram cavalos com bloeos 16gi005 e sucatas, enfim

tiveram varias oportunidades de representar cavalos, inclusive atraves do

desenho. Este encaminhamento facilitou a visualizac;:ao de detalhes e

proporcionou uma representac;:ao grafica mais rica como mostra 0 desenho a

seguir:

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Foto: Aline

Ha que S8 considerar que todas as crianc;as passam par estas fases do

grafismo e devem ser respeitadas. Aquelas com maior estimulaC;8o, que

ingressam na escola aos 2 au 3 anos superam estas fases com tranqOilidade

passando de uma para Dutra antes mesma de conclulr a Dutra. Porem as que VaG

para a escola mais tarde, com 7 anos, e nao tiveram a mesma estimulaC;8o

passam pelas mesmas fases, 56 que mais tardiamente. Sendo que nem sempre

isso pode vir a prejudicar 0 seu desenvolvimento.

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E sempre muito importante que 0 professor respeite a individualidade de

cada crianc;a, sem comparar as trabalhos das mesmas, sem privilegiar mais urn do

que as Qutros au ainda exagerar nas criticas esquecendo de fazer apontamentos

positiv~s. E tambem trabalhando e valorizando 0 campo perceptivomotor, au seja,

esquema corporal, orientac;ao espacial, orientac;ao temporal, coordenac;ao motora

visomanual, coordena9ao fina, recorte, colagem, perfurac;oes, alinhavQs,

dobraduras, pinturas, desenho, modelagem, tecelagem, construc,;:ao com bloeas de

madeira, trac;ados.

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3. 0 OLHAR DO PROFESSOR

o ser humane tern que aprender varias linguagens e 0 desenho expressivo

e uma dessas formas de linguagem. A escola, para ajuda-Io nesse trajeto, deve

compreender a evoluc;ao desse desenvolvimento.

Quando nao existe a compreensao de que, alem de a obra do artista ser

determinada pelo contexto historico-cultural, ninguem pinta au desenha aquila que

ve, mas 0 que aprendeu aver, aconteee 0 tratamento enviesado da produ<;ao

graFica.

Seria interessante que 0 professor pudesse ter acesso a hist6ria da arte e

as obras dos grandes artistas, para uma vi sao mais ampla ace rca das inumeras

possibilidades de utilizac;:ao do desenho.

E fundamental que 0 professor esteja motivado para poder transmitir

dinamismo e entusiasmo aos seus alunos. Cabe ao professor analisar 0 aluno,

pesquisar suas tendemcias e ir ao encontro dos seus interesses. Assim ele nao ira

aborrece~lo com obriga<;6es e conceitos que ainda nao pode incorporar.

o olhar que 0 professor dirige ao desenho da crian<;a ap6ia-se muitas vezes

nas concep<;6es que ele tem sobre 0 desenho enquanto linguagem, ideias

constituidas na sua pr6pria hist6ria e experiencia com a linguagem. Ap6ia-se

tambem em seus conhecimentos sobre as possibilidades do grafismo infantil,

no~6es adquiridas durante a sua forma<;ao e ao longo de sua experiencia

profissional.

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Todo esse conhecimento traduz-se em expectativas com a produc;ao

infantil, que definem 0 dialogo que 0 professor estabelece com a crianc;:a sabre

seus desenhos, interac;ao que pode ser marcada pelo incentiv~, pela advertencia,

pela indiferenc;a.

Segundo Stabile (1984, p.8?): 0 professor jamais deve far~ar seus alunas a

realizarem urn trabalho que nao queiram, au mesma insistir para que 0 fac;am de

urna maneira diferente da que sles querem. Em nada ajuda dirigir a mao da

crian~ para acertar 0 tra90 au corrigir desproporc;6es: e exatamente atraves da

despropon;;:ao que podemos descobrir 0 que tern maior valor emocional para a

crian9GI.

Ha desenhos dificeis de serem entendidos, pOis nos primeiros anas nao ha,

nem deve haver, intem;ao realista nos trabalhos. A abordagem do professor deve

ser cautelosa, para melhor entender 0 desenho do aluno sem magoa-lo.

o mais importante e estimular a produc;ao sem fazer comparac;6es ou

grandes elogios. Urn resultado muito valorizado adquire para a crianc;a urn peso

muito grande. Ela 0 repetira com frequemcia, para obter 0 mesmo sucesso,

deixando de lado novas possibilidades e tentativas que a fariam progredir

graficamente. E atraves das possibilidades em estar registrando que a crianc;a

criara 0 que podemos chamar de estilo proprio para 0 desenho, ou seja, a

criatividade estara sendo explorada dentro destas possibilidades e assim a crianc;a

fara representac;6es cad a vez rna is proprias, com qualidade e principalmente com

essencia.

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Os primeiros desenhos lnfantis naD apresentam formas multo definidas.

Sao garatujas, rabiscos nos quais 56 a propria crianc;a consegue enxergar as

figuras par ela intencionada. Mas tudo e significativD.

E importante que 0 professor saiba 0 que observar nestes desenhos como:

ProporC;30: desenhos pequenos demais pod em denotar timidez au

tristeza.

Firmeza: a peg ada firme no lapis costuma caracterizar seguranc;a.

Corpo: uma postura descontraida mostra se a crianc;aesta a vontade

no ambiente.

lntensidade: trac;o forte pode indicar seguranga; alegria gera trac;os

amplos e desenvoltos.

Cores: tons vivos costumam refletir riqueza emocional.

Temas: retratam realidades, desejos OU sonhos.

RepetiC;30: a escolha recorrente de urn tema pode indicar urn conflito.

E grande a responsabilidade do professor na construyao de urn ambiente

favoravel ao desenvolvimento do desenho infantil. E aconselhavel, ao professor,

que ofereya as crianl1as 0 contato com diferentes tipos de desenhos e obras de

artes, que elas fa9am a leitura e releitura de suas produl1oes e escutem a de

outros e tam bern que sugira a crianl1a desenhar a partir de observal1oes diversas

(cenas, objetos, pessoas, animais, ... ) para que possamos ajuda-Ia a nutrir-se de

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informa~6es e enriquecer 0 seu grafismo. Assim elas poderao reformular suas

ideias e construir novas conhecimentos.

E certa que 0 prazer encontrado pel a crianc;a no desenho deixara de existir

S9 nao forem permitidas as explorac;oes de suas func;oes expressivas e as

realizac;;:6es de seu potencial criativo. Precisamos repensar as expectativas que

temas do desenho da crianc;a, assim como 0 dialogo que estabelecemos com ela

a respeito da sua prodUC;30 grafica. Alern disso, precisamos discutir as

oportunidades concretas para 0 fazer artistico na Educac;:ao Infantil.

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3.1.0 PAPEL DOS PAIS

E importante destacar 0 quanta 0 papel dos pais e fundamental no

desenvolvimento nao 56 do grafismo infantil, mas em todo processo motor e de

desenvolvimento de seu filho. Esta pratica pelos pais contribui para desenvolver a

motivac;:ao, ousadia, paciemcia, determina9ao, capacidade de supera980 e

habilidade para criar.

o estimulo quando vindo de casa, par parte dos pais, e sempre visivel e

muito valida, pais as crian9as possuem urn interesse e desenvolvimento na

maioria das vezes diferenciado. Alem das passagens de urn estagio para outro

acontaeer de forma mais tranqOila, as resultados apresentados sao de maior

qualidade quando comparados aqueles de crian~s que nao receberam estimulo

nenhum.

E. importante proporcionar materiais alternativos como lapis de cor, giz, giz

de cera, canetas, tintas, diferentes papeis ou suportes, bem como momentos para

que esta pratica acontec;:a e que envolvam a crianc;:a naquela situac;:ao. Nao

havendo cobranc;:as nem obrigatoriedade para tal atividade. A mesma devera

acontecer de forma prazerosa, no tempo que a crianr;a desejar.

Os comentarios realizados pel os pais tambem tem grande valia para as

crianr;as, pois servirao de incentivo e motivar;ao para buscar 0 diferente e 0 algo a

mais. Ouvir 0 que a crianc;:a tem para falar ou contar a respeito de seu registro faz

parte deste estimulo que vem de casa, e acrescentar observar;6es positivas s6

tendem a ajuda~la neste processo.

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Se educadores e pais estiverem "afinados" quanta a este olhar e ao Quvir,

certamente poderao contribuir muito com esta fase do desenho infantil, pais as

registros acontecem e suas marcas com intencional ou nao, VaG fazendo parte da

construc,;:c3o da historia destas crianc;as.

Nas pr6ximas paginas estao alguns exemplos desta hist6ria que a propria

crian<;a constr6i e seus comentarios aC9rca de suas observac;oes e percepc,;:oes.

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4. OBSERVAgAO E ANALISE DOS DESENHOS DE CRIANgAS

A observa'tao e analise dos desenhos toi realizada em turmas de Educac;;ao

Infantil do maternal a pre3, au seja, de crianc;;as de 3 a 6 anos de idade. Em uma

escola particular de Curitiba e foi organizada atraves dos seguintes temas:

1. a explora9ao dos materiais;

2. a mediac;ao da professora na produc;;ao gr<3fica atraves da fala;

3. a fala da crianc;a durante a produc;ao grafica.

Estes temas procuram delinear condic;oes de produ9ao do desenho a partir

do emprego dos materia is utilizados durante 0 desenhar e das relayoes entre a

crianc;;a e a professora.

Existe uma relac;ao intensa das crian9as com as materiais empregados na

atividade grafica. Elas manipulam-nos para desenhar, pintar, furar 0 papal, riscar,

contornar 0 pr6prio corpo. Em certos momentos, os materiais tornam-se objeto de

disputa, em outros, estao a servi~o do jogo simb6lico. E as marcas graficas no

papel conseguem registrar poucos desses movimentos, que acontecem durante 0

desenhar, na intera\=ao das crian~as entre si e com os materiais.

Foi observada a utiliza~ao dos materiais como lapis de cor, giz, giz de cera

e caneta hidrocor, sobre papel sulfite de diferentes espessuras e tamanhos.

As atividades observadas ocorreram de diversas formas e em diferentes

momentos e foram orientadas pelas professoras, com temas ou livres.

A seguir 0 registro de uma crianc;a de 4 anos e 5 meses que desenhou

livremente sobre 0 papel, se preocupando com as cores e seu uso de acordo com

a realidade:

o material marca muito 0 processo grafico, pois esta presente 0 tempo

todo. Enquanto a crianc;a desenha, sua produc;ao esta sendo exposta, bem como

ados colegas, alem disso, todas as crianc;as olham, criticam, avaliam, sugerem,

ajudam e chegam mesmo a atuar como co-autoras.

Enquanto desenha, a crianc;a fala. Espontaneamente nomeia a sua

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Fete: Aline

26

produc;ao, au responde a pergunta de alguem. A crianc;a chega a alterar seu

grafismo em func;ao de algumas palavras. Algumas vezes a pr6pria respirac;ao

interfere neste processo.

Requisitar e/au permitir a execuC;:8o pelo Qutro significa que a crianc;a

reconhece que ha determinados trac;os que nao can segue fazer e a colega, slm. A

crianc;a aprende com quem desenha urn carro, par exemplo, ate que possa naD 56

dispensar esta ajuda, como passar adiante 0 que aprendeu, ja internalizado. E isto

ela faz com muito orgulho e seguranc;a.

No proximo exemplo registrado per uma crian9CI de 6 anos houve urn

dialogo entre ela e uma col ega que estava trabalhando ao seu lado. A colega

disse que nao conseguia produzir tal desenho e que aquele estava muito mais

bonito que 0 dela. A crianc;:a que fez este registro responde: E so treinar!

A professora intervem dizendo que muita observar;ao tambem ajudaria. E

sugeriu para a col ega ao lado que folheasse um livro, ou revista e conversasse

sobre as caracteristicas do animal que ela estava desenhando:

Fala: Aline

Ha tambem aquela colabora~o que consiste de pistas que 0 outr~ fomece

e que possibilitam ao pr6prio autor caminhar na direc;ao que pretende atingir. E

uma forma de auxilio diferente da anterior porque a erianc;a que reeebe as pistas

tem a iniciativa do processo de registro na tentativa de conseguir desenhar 0 que

deseja.

No exemplo a seguir a professora observa 0 aluno de 6 anos e 10 meses e

questiona sobre 0 tamanho da eabec;a do eavalo com relaC;ao ao corpo que 0

mesmo desenha.

Ele para 0 que esta fazendo, olha e diz que nao sa be como fazer.

28

A professora sugere que ele pegue a foto de urn cavalo que ha na sala,

vista que este era tema de urn projeto da turma, e observe detalhadamente 0

tamanho e forma da cabeC1ae do restante do corpo.

A crianv8 entao diz: E 0 meu desenho esta com a cabec;a pequena e

pareee uma bola. 0 cavalo tern a cabec;a maior e tern uma ponta para frente (se

referindo a parte da boca e focinho):

Foto: Aline

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A professora tambem fornece modelos e pistas, mas sua ajuda diferencia-

S8 da dos colegas devido a intencionalidade pedagogica e a focalizac;:ao de

conhecimentos cobrados.

FreqOentemente, as crianC;8s avaliam a produc;:ao dos companheiros, desde

o grafismo em 5i ate a adequa~o de nomeac;oes e comentarios sabre 0 proprio

desenho. Sem qualquer puder, apontam falhas, defeilos e lacunas. Nas

observac;oes realizadas, 0 elogio tam bern aconteee, embera raramente.

No proximo exemplo urna crianc;a de 6 anos e 6 meses registra urna girafa

e urn colega ao lado diz: Nossa! Mas que pernas curias tern esla girafaf A girafa

de verdade tern as pernas compridas.

A crian<;a que desenha olha, da risada e concorda, mas prefere naa mexer

no desenho, pois ja havia terminado:

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Folo: Aline

Quando a crianc;:a aponta lapsos no desenho alheio, mostra sua visao

acerea do objeto que esta sendo representado, apoiando-se em suas vivencias e

noc;:Bss sobre 0 mundo para examinar 0 desenho alheio e poder dizer, por

exemplo, que determinada figura nao esta corretamente representada.

Ha disputas entre as crianc;:as, em relac;ao a quem slas consideram que

sabs au nae desenhar determinados elementos. 0 pedido de ajuda a

determinados colegas e freqOente porque as crianc;:as percebem quem, na turma,

recebe mais elegies da professora, por desenhar de maneira figurativa.

Enquanto desenha, a crianc;a fala. Nomeia sua produyao quando uma

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pessoa pergunta 0 que e e tambem sem que haja qualquer indagayao a esse

respeito. Quando alguem pergunta a crianya "0 que voce esta desenhando?", a

crianc;a geralmente nomeia as marcas no papel, atribuindo-Ihes significado no

momento em que e feito 0 questionamento. A pergunta "0 que voce desenhou?n

ou "0 que esta desenhando?" Pode ou nao coincidir com os mementos de

nOmea9aO que a crianya faz. Quando nao ha esta coincide!ncia, geralmente a

crianc;a e lev ada a dar significado ao desenho para satisfazer seu interlocutor.

Entretanto, mesmo podendo atrapalhar 0 processo grafico, esse tipo de

como signo grafico.

questionamento leva a crianya a pensar sobre sua produyao e sobre 0 desenho

No proximo exemplo a professora pergunta para a crianya (de 3 anos e 2

meses) 0 que ela desenha e a mesma responde que sao aranhas:

Fata: Aline

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Nao existe apenas 0 falar antes, durante au ao termino da atividade grafica

porque estes momentos naD sao isolados. 0 enunciado verbal organiza e e

organizado pelo desenho. Falar a respeito da prodU(;ao grafica e tambem pensa-

la. A lingua gem verbal tern fun<{8o de planejar a elabora«c3o do grafismo, a crian<;a

pode "ver" seu produto, verbalizar 0 que pretende desenhar e mante-Io ou

modifica-Io antes au depois de iniciar sua execw;ao. A fala e tambem construtora

do desenho, muitos detalhes graficos sao verba is, que aparecem apenas

oralmente. No caso da garatuja, cnde 0 adulto ve samente urn emaranhado de

rabiscos, e quase como se houvesse dais desenhos: 0 que esta no papsl e 0 que

a criam;a verbaliza.

Neste exemplo, a aluna (5 anos e 9 meses) realiza 0 desenho comentando

que esta se desenhando em urn parque. Ao final conta que neste parque ela e

uma amiga se encontram e caminham e brincam juntas. Observe que a amiga nao

aparece no desenho:

Fete: Aline

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Em algumas ocasioes, ao inves de apenas nomear elementos isolados, as

crianyas contam pequenas hist6rias a partir dos desenhos, unindo as figuras

representadas no papel. A linguagem oral, mediante 0 desenho, cria situa~6es que

ultrapassam as elementos graficos. Esta narra9ao, essencialmente verbal, imp6e

urn can:iter de texto grafico ao conjunto de figuras produzidas, e a palavra que vai

unir esses elementos, integrando-os.

Houve pouquissimos momentos em que as crianyas desenvolveram

narra90es a partir dos desenhos. As perguntas das professoras sabre a produyao

das crianc;as privilegiaram a nomear;ao de elementos isolados. Geralmente 0

adulto pergunta "0 que e isso?", 0 que talvez provoque respostas fragmentadas.

Se a indaga~o fosse "Gonta para mim 0 que voce desenhou?" Poderia haver

maior possibilidade de surgirem narrativas, mesmo que pequenas, porque essa

pergunta conduz ao quando, onde, quem e p~r que. Entretanto, a professora esta

interessada em saber se 0 aluno faz urn desenho reconhecivel e nao na hist6ria

que poderia ser desenvolvida a partir do grafismo. Tambem pode acontecer que a

crian<;a nao queira con tar nada com 0 desenho, mas esteja experimentando os

materiais, descobrindo suas possibilidades, seus efeitos sobre a folha de papel. A

significa~ao pontualmente explicitada e uma exigencia do adulto.

Eo caso do exemplo abaixo, 0 qual 0 aluno (4 anos e 10 meses) realiza 0

desenho pelo simples prazer em desenhar:

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Foto: Aline

No presente estudo, as momentos de observac;ao fcram extremamente

validos quanta a riqueza de material para analise. Aqui, privilegiou-se 0 resultado

de algumas produg6es graficas. No decorrer das atividades, as professoras

participaram de form as diferentes, e distintas fcram suas observaQ6es a respeito

dos alunos e suas representa90es. As professoras ora entusiasmavam-se com

cada conquista grafica das crian9as, ora estavam voltadas para as "imperfei90esll

dos desenhos infantis. Uma grande diferenc;a entre as ayaes da professora e as

dos colegas reside no tato de que a primeira pretende ensinar formalmente 0

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desenho. Par essa pratica, a professora distancia-se da participa~ao do colega,

mas ao mesma tempo aproxima-se, pelo fato de essa atuayao ser contradit6ria e

promotora de tensao, ao encorajar e constranger 0 desenvolvimento. A crianga

sente-se valorizada quando ha comentarios acerca dos registros, mesma que ela

necessite melhora-[o, pais percebe a preocupa<;ao e 0 interesse pelo que esta

fazendo.

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CONSIDERAt;:OES FINAlS

Diversos autores que dedicaram-se a estudar 0 desenvolvimento do

desenho infantil parecem concordar que 0 desenho nasee do movimento da

crianC;:8, do lapis como extensao do corpo. Destas garatujas iniciais VaG surgindo

relayoes entre ge5to e resultado grafico. A forma vai emergindo, organizando-se

em urn suporte qualquer, recombinando-se, numa intenC;:8o representativa com

liberdade e espontaneidade.

Embasados no referencial leorieo apresentado, e colhendo subsidios na

observa98o e analise concluiu-se que tada crianc;:a independente do ponto que S8

encontra em seu desenvolvimento deve ser considerada, acima de tude como urn

individuo. A expressao procede da crianC;:8 e constitui urn reflexo desta. Uma

crianC;:8 expressa seus pensamentos, sentimentos e interesses nos seus desenhos

e nas suas pinturas e mostra 0 conhecimento do seu meio nas suas express6es

criadoras.

A escola deve ten tar estimular cada aluno, para que se identifique com suas

proprias experiencias e ajuda-Io a desenvolver ao maximo os conceitos que

expressam os seus sentimentos, as suas emo~6es e a sua propria sensibilidade

estetica. Nunca nos deveriamos dar par satisfeitos com a resposta estereotipada,

com 0 desenho frio au automatico. A crian~a pode ser insensivel aos seus

pr6prios sentimentos, no entanto e mais importante estimular e tornar mais

significativa uma relayao entre a crianya e seu meio do que impor um conceito

adulto sabre 0 que e importante e bela.

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o professor deve reconhecer que as experiencias de aprendizagem das

crianc;:as nenhuma utilidade tern para a crianc;:a, pais 0 que S8 torna importante no

processo educativ~ e aprendizagem infantil.

Urn desenho pode proporcionar a oportunidade do desenvolvimento

emocional e 0 grau em que isso e conseguido esta em relac;ao direta a intensidade

com que 0 autor S8 identifica com sua obra. Embora isso na~ seja facilmente

medido as fases de auto-identificac;ao variam entre urn baixo nivel de

envolvimento, com repetic;6es estereotipadas e urn alto nivel em que 0 criador esta

sinceramente empenhado em retratar as coisas que sao significativas e

importantes para ale e, sobretudo ele proprio aparece retratado. E aqui que existe

a melhor oportunidade para a descarga emocional.

Deve~se incentivar a autoconfianya e a criayao propiciando atividades

bastante variadas, que motivem novos temas e descartando as tecnicas dirigidas

ou os enfeites que s6 valorizam 0 produto final.

Visto que 0 oulro e participante alivo do processo grafico, pode-se pensar

nas implicayoes trazidas pela sua presenya. Se por um lado pode representar

retrocesso, constrangimento, por outr~, tambem pode representar papel

fundamental para 0 desenvolvimento do desenho, fornecendo ajuda, valorizando e

possibilitando avanyo.

E fundamental entender que interferir na linguagem do desenho nao s6

gera mudanyas no produto em si, mas tambem promove comportamentos tao

almejados e festejados pelos educadores. S6 assim se estara formando cidadaos

criativos, autonomos, curiosos, solidarios, cooperativ~s, tolerantes, criticos,

abertos e felizes.