O desenvolvimento comunitário pode descrever

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 O desenvolvimento comunitário pode descrever-se como um processo que possibilita o surgimento de condições que contribuem para o progresso económico e social, através da participação dos cidadãos da sua comunidade, partindo de um intento de mudança comunitária com vista à evolução da própria comunidade como um todo e de cada cidadão a ela pertencente em particular. Os modelos de desenvolvimento comunitário focam-se principalmente nos procedimentos democráticos, na cooperação voluntária, na liderança, na ajuda -mútua e na formação dos agentes locais.  As instituições locais (associações, clubes…) contrib uem para o sucesso deste desenvolvimento, sendo “mobilizadoras”, colaborando a nível local para a organização da população. O associativismo que daí resulta assegura a participação activa dos cidadãos no planeamento e implementação de planos de acção, sendo que todo este processo implica o envolvimento de líderes situacionais da comunidade. No que respeita à liderança, recordemos as palavras de José Mourinho (o Special One): “Para mim, liderar não é mandar, para mim liderar é guiar”. E ainda as de Peter Drucker (já denominado „Pai da Gestão) ao reforçar a importância das parcerias: “Um líder eficaz quer parceiros fortes; encoraja-os, pressiona-os, aliás, orgulha- se deles”. A criação de novos recursos requer uma motivação elevada por parte de quem é parte deste processo, de modo a promover o debate profundo so bre as necessidades da comunidade, na demanda da procura de alternativas de solução para os problem as encontrados. A promoção do empoderamento de pessoas e comunidades depende ainda de profissionais autónomos, ponderados e reflexivos, capazes de questionar as suas práticas e de se empenharem na sua inovação. O desenvolvimento comunitário é também um trabalho de equipa, de toda uma comunidade. Para reflectirmos sobre a essência do estar e sentir em equipa, deixo-vos aqui uma pequena história citada por Luís Lourenço (2010), de Binney, Wilke e Williams (2009): “Certa noite, vindo de um concerto, encontrámos um amigo nosso músico que nos perguntou: „De onde é que vêm? “. Ao que nós respondemos: “Estivemos num concerto de uma orquestra famosa”. Ele olhou - nos e fez nova pergunta: “E eles tocaram em conjunto ou apenas ao mesmo tempo?”.  Toquemos em conjunto. NOVOS DISCURSOS PSICOLÓGICOS The word which we most often use to talk about the quality without a name is the word “alive”. There is a sense in which the distinction between something alive and something lifeless is much more general, and far more profound, that the distinction between living things and nonliving things, or between life and death. Things which are living may be lifeless; nonliving things may be alive... Christopher Alexander, “The Timeless Way of Building” O objectivo deste artigo é examinar como o recente modelo da psicologia positiva (Seligman & Csikszentmhihalyi, 2000) pode entrecruzar-se elegante e eficazmente com o paradigma da

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O desenvolvimento comunitário pode descrever-se como um processo que possibilita o surgimento decondições que contribuem para o progresso económico e social, através da participação dos cidadãos dasua comunidade, partindo de um intento de mudança comunitária com vista à evolução da própriacomunidade como um todo e de cada cidadão a ela pertencente em particular.Os modelos de desenvolvimento comunitário focam-se principalmente nos procedimentosdemocráticos, na cooperação voluntária, na liderança, na ajuda-mútua e na formação dos agentes locais. As instituições locais (associações, clubes…) contribuem para o sucesso deste

desenvolvimento,sendo “mobilizadoras”, colaborando a nível local para a organização da população.O associativismo que daí resulta assegura a participação activa dos cidadãos no planeamento eimplementação de planos de acção, sendo que todo este processo implica o envolvimento de líderessituacionais da comunidade.No que respeita à liderança, recordemos as palavras de José Mourinho (o Special One): “Para mim,liderar não é mandar, para mim liderar é guiar”. E ainda as de Peter Drucker (já denominado „Pai daGestão‟) ao reforçar a importância das parcerias: “Um líder eficaz quer parceiros fortes; encoraja-os,pressiona-os, aliás, orgulha-se deles”. A criação de novos recursos requer uma motivação elevada por parte de quem é parte deste processo,de modo a promover o debate profundo sobre as necessidades da comunidade, na demanda da procurade alternativas de solução para os problemas encontrados.A promoção do empoderamento de pessoas e comunidades depende ainda de profissionais autónomos,ponderados e reflexivos, capazes de questionar as suas práticas e de se empenharem na sua inovação.O desenvolvimento comunitário é também um trabalho de equipa, de toda uma comunidade. Parareflectirmos sobre a essência do estar e sentir em equipa, deixo-vos aqui uma pequena história citadapor Luís Lourenço (2010), de Binney, Wilke e Williams (2009):“Certa noite, vindo de um concerto, encontrámos um amigo nosso músico que nos perguntou: „De onde éque vêm? “. Ao que nós respondemos: “Estivemos num concerto de uma orquestra famosa”. Ele olhou -nos e fez nova pergunta: “E eles tocaram em conjunto ou apenas ao mesmo tempo?”.  Toquemos em conjunto. 

NOVOS DISCURSOS PSICOLÓGICOS

The word which we most often use to talk about the quality without a name is the word “alive”.There is a sense in which the distinction between something alive and something lifeless is muchmore general, and far more profound, that the distinction between living things and nonlivingthings, or between life and death. Things which are living may be lifeless; nonliving things maybe alive...

Christopher Alexander, “The Timeless Way of Building”

O objectivo deste artigo é examinar como o recente modelo da psicologia positiva (Seligman &Csikszentmhihalyi, 2000) pode entrecruzar-se elegante e eficazmente com o paradigma da

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psicologia comunitária, no sentido de potenciar ambos: levar a uma psicologia positiva aplicada,que veja mais longe do que o intra-individual, e se dedique abertamente ao estudo e intervenção junto das comunidades e instituições, mobilizando-se assim para ser parte activa e útil nasmudanças sociais e no restabelecimento da justiça social; caminhar para uma psicologia decomunitária que vá cada vez mais para além do modelo científico de resolução de problemas e da

identificação de necessidades das pessoas, grupos e comunidades (Levine, Perkins, & Perkins,2005), e concretize verdadeiramente o seu desígnio dos últimos anos: avançar de umaperspectiva de défice para uma centrada nas forças, agenciamento e empowerment daspopulações, em busca da libertação e do bem-estar colectivo (Nelson & Prilleltensky, 2005).Pretende-se, por conseguinte, que sejam modelos ou teorias verdadeiramente “vivos” (Cronen,1995) propulsionadores de

 

desenvolvimento comunitário, e suportados em narrativas, nãosobre sofrimento ou necessidades, mas sobre “territórios de dádiva e de vida” (Hoffman &Kinman, 2008).

Citando Martín-Baró, num posicionamento tido já em 1986, uma psicologia da libertação deverá,entre outros aspectos, estar menos preocupada com o seu estatuto social e científico, e mais

preocupada com os problemas das pessoas em necessidade; ser uma psicologia mais conscientedas virtudes e forças das pessoas na busca da mudança; e ser uma nova forma de conceber alibertação como um processo histórico e colectivo (Martín-Baró, 1989). Associada à significativae intensa palavra “libertação”, que nos transporta de volta a Paulo Freire (2008), Montero (2005),ao reflectir sobre o futuro da psicologia comunitária, sublinha o desígnio de caminhar para obem-estar das populações – tema especialmente caro à psicologia positiva, ainda que até aomomento sobretudo perspectivado num entendimento subjectivo e intra-individual (Diener &Biswas-Diener, 2008; Huppert, Baylis, & Keverne, 2006).

Ambos estes subdomínios da psicologia têm vindo recentemente a pretender mudar a atençãoconferida às variáveis psicológicas, para dar apreço a dinâmicas económicas, sociais, políticas e

contextuais, assim introduzindo novos discursos científicos na relação com a vida social (Layard,2005). Se considerarmos que a ideologia dominante se manifesta na linguagem (Meyer, 2001),podemos reconhecer que as mudanças valorativas são visíveis e a ideologia pode estar atransformar-se: a entrada duma linguagem positiva e emancipatória das populações, reforçadorade uma adjectivação esperançada e de auto-eficácia e auto-determinação é, cada vez mais, umsinal do caminho feito pelas ciências sociais e humanas no sentido de uma investigação justa etransformadora.

Se a sociedade se preocupa hoje com os valores que levaram a um caos económico, que dizer doimpacto dos valores que subjazem à ciência? Em muitas instâncias, os valores colectivos como a justiça social, a solidariedade, a gratidão, a generosidade... recebem uma atenção mínima. Se a

ciência psicológica os descarta, preferindo antes estudar a depressão, a ansiedade, o crime, aviolência ou o medo, acabamos com uma maior visibilidade destes últimos em detrimento dosanteriores e, em consonância, com uma visão denegrida da humanidade em geral. Naspopulações consideradas marginais, como as que vivem em pobreza, este fenómeno ganha aindamais e doloroso impacto (Lott, 2002; Moreira, 2003; Neto, 1996).

Por detrás da ciência estão sempre posições morais. Por detrás destas, estão sempre diferentespráticas. De acordo com Kekes (1993, cit. in Nelson & Prilleltensky, 2005), valores são

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“benefícios causados pela humanidade que os seres humanos dedicam uns aos outros... Comoforma de ilustração, poderemos dizer que o amor e a justiça são bens morais” (p. 44). Aoinvestigar e intervir na comunidade com uma perspectiva transformadora, e ao escolher o centrode gravidade da intervenção e dos estudos empíricos, podemos fazer aumentar ou diminuir osbens morais.

Neste particular, o paradigma da psicologia positiva veio expandir algo que era terreno próprioda psicologia comunitária: uma acepção clara de valores e o reconhecimento da impossibilidadede uma ciência neutra. Quando hoje, contra ventos e marés, dentro do mainstream conservadorda psicologia (Seligman, comunicação pessoal, 2009), se critica a abordagem da psicologiapositiva, reconhece-se ainda assim a sua relevância só ao falar dela, e reforça-se a ideia de que éinevitável tomar posições em ciência. Quando a psicologia positiva se dedica ao estudo dafelicidade, ou do que faz a vida merecer ser vivida (Csikszentmhihalyi & Csikszentmhihalyi,2006) está a ser sensível aos valores e a posicionar-se numa dança dialéctica entre o bem e o mal,o belo e o feio, o saudável e o doente, o justo e o injusto... criando condições para uma práticareflectida (Freire, 2008; Freire & Horton, 2002).

Enquanto investigadores, tomamos posições claras quando respondemos às questões: “O quedecido estudar  – a patologia de uma população ou indivíduo, ou as condições da excelência das pessoas e das comunidades?”; “Quem decido conhecer com o meu estudo – os estudantesuniversitários, tão acessíveis aos investigadores académicos, e tão bem posicionados em termosde poder social, ou as populações marginalizadas, sem voz e sem qualquer tipo de soberania?”;“Que perguntas faço: sobre o que dá vida, mesmo nas piores circunstâncias, a alguma pessoa ougrupo, ou sobre as causas da fragilidade ou da patologia desses mesmos alvos?”; “Como decidoquestionar  –  dando voz directa aos intervenientes, ou quantificando e transformando os „sujeitos‟de investigação em números, de forma distanciada e desumanizada?”; “Como intervenho: paraalém da falsa distinção entre descritivo e prescritivo, escolho melhorar (aumentando o bem-estar,

numa posição centrada no “perito”) ou escolho transformar (promovendo o bem-estar ao mesmotempo que mudo as relações de poder, eliminando a opressão, em verdadeira colaboração esolidariedade) (to “ameliorate” or “transform”, tal como diferenciam Prilleltensky & Nelson,1997)?” (Marujo & Neto, 2008).

As psicologias positiva e comunitária, em paralelo com outros modelos não deficitários deintervenção dentro dos sistemas humanos (Cooperrider, 2004; De Shazer, 1991; 1994), podemser considerados movimentos críticos e corajosos em relação ao status quo da psicologia,intentando um horizonte de representação da mudança e dos seres humanos baseado nas forças eno positivo, e na reflexão sobre mudanças de segunda-ordem – que mais do que criar alteraçõesdentro do sistema, procuram transformar o sistema e os seus pressupostos (Rappaport, 1977).

Como resultado, estes dois braços da psicologia têm vindo a convidar, implícita ouexplicitamente, a uma transformação nos valores dos investigadores, na sua ética e na suaresponsabilidade social. Têm aberto as possibilidades e as escolhas sobre novos tópicos deconversa, inquirição e acção.

Recentemente, Mihaly Csikszentmhihalyi (2006, p. 5), um dos fundadores da psicologia positiva,afirmava:

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“A perspectiva da psicologia positiva está direccionada para ser correctiva quer, por um lado, doposicionamento de neutralidade valorativa das abordagens experimentais quer, por outro, dasvisões orientadas exclusivamente para a patologia que permearam muita da psicologia clínica”.Estas influências históricas, culturais e morais estão a impactar com intensidade a psicologia,permitindo-nos entrar em novos tipos de diálogo com os proponentes das teorias, dos métodos e

das práticas interventivas (Marujo, Neto, Caetano, & Rivero, 2007; Oishi, 2007; Snyder &Lopez, 2007).

A atenção aos oprimidos e a luta pela inclusão, integração, libertação e reequilíbrio nadistribuição de poder (Machado, 1984) tem sido uma das mais fascinantes bandeiras dapsicologia comunitária (Levine, Perkins, & Perkins, 2005). Ser psicólogo, enquanto identidadepessoal e profissional (Nelson & Prilleltensky, 2005), pode significar – significa frequentemente – fazer parte dos detentores de poder, pelo que estes novos discursos propõem a possibilidade delibertar os profissionais de paternalismos tradicionalmente utilizados através da observação,classificação, diagnóstico, definição e imposição de propostas de mudança, levandoos assim apôr fim a uma actuação com base em práticas de hegemonia e opressão (Cobb, 1993; Gergen,

Hoffman, & Anderson, 1996). Ao trabalhar com populações desfavorecidas e marginais aopoder, ainda é mais urgente tomar consciência do tipo de práticas implementadas e de teoriassubjacentes, pelo ainda maior risco de criação de dependências e menorização das populações, asquais assumem, por regra, por expectativas antecipadas de apoio, e por óbvia resposta ao sistemaque estimula dependências e fragilidades, a posição de vítimas.

Nesta mudança de valores, linguagem e posicionamento moral dos cientistas, académicos epráticos, o actual reenquadramento das vítimas – de qualquer tipo de situação – comosobreviventes, foi um dos muitos sinais da mudança recente no discurso e da transformação emtermos dos valores. Veja-se a propósito a aplicação desta mudança linguística nas situações deviolência doméstica (Teles, 2008). Como desenvolveremos em seguida, temos vindo a propor

avançar ainda mais, e intervir numa perspectiva narrativa de “Supervivência” – entendida comoo reconhecimento das extraordinárias forças e virtudes inerentes a viver numa posição social,económica, cultural, entendida como deficitária e marginal. O segmento da população que viveem situações socialmente injustas, e que é ainda muitas vezes rotulado como desonesto ouaproveitador do sistema (que o oprime) – tal como acontece com as populações beneficiárias doRendimento Social de Inserção – merece um entendimento e um olhar de admiração e apreço,por conseguir, tantas vezes, mais do que sobreviver, ser inspirador de uma extraordinária eheróica capacidade de Supervivência. É preciso celebrar cada acto de heroísmo, por mais banal(Cronen & Lang, 1995; Zimbardo, 2007).

O PROJECTO V.I.P. – VALORES, INFLUÊNCIAS E PROJECTOS

Blake saw that if your myth-created ideology was hierarchical, you couldn‟t function outside thathierarchy.

 Northrup Frye

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A antítese do valor da igualdade está bem patente no conceito VIP  – sinónimo das pessoasrealmente importantes, que têm privilégios especiais, no fundo os que já têm tanto e, por isso,merecem ainda mais. Foi esta a ideia inspiradora do título do programa desenvolvido, com o

apoio do Instituto de Acção Social – Rendimento Social de Inserção – da Região Autónoma dosAçores, em conjunção com Câmaras Municipais (Ribeira Grande) e Santas Casas daMisericórdia da mesma região. A concepção de que todos somos e  – merecemos ser – VIP (Very Important Person), juntou-se aos três pilares que pretendíamos desenvolver com este projecto dePsicologia Positiva Comunitária: os Valores (dos profissionais, investigadores e académicosenvolvidos, e das populações a viver em pobreza), as Influências (positivas, recebidas etransformadas por cada um, quer fosse profissional, quer beneficiário do RSI), e os Projectos(numa concepção clara de uma psicologia e de uma intervenção avessa ao olhar deterministasobre o passado, e que tem, isso sim, os olhos postos no futuro, portanto idealizando, ecolectivamente sonhando, outras possibilidades) (Marujo & Neto, 2008). Estas linhas estruturaissuportaram acções conjuntas práticas, sempre feitas em formato de comunidade e em conversa

dinâmica – fossem elas uma intervenção num bairro de realojamento para optimizar a qualidadedas relações e o surgimento de soluções conjuntas num momento de crise e conflito entre osmoradores, ou acções junto de grupos de mulheres domésticas sem outro projecto de vida quenão a maternidade, ou intervenções junto de grupos de jovens para quem era relevante potenciara estabilidade no projecto escolar através de acções pela arte ou da consciência e protecçãoambiental da maravilhosa ilha de S. Miguel.

O projecto iniciou-se com o repensar do papel dos profissionais no terreno, para que actuassemde forma verdadeiramente colaborativa e apreciativa, através da expansão de narrativas,possibilidades emocionais e escolhas comunicacionais e comportamentais dos próprios. Aconscientização proposta por Paulo Freire (2008) fazia igualmente sentido na perspectiva do

reconhecimento dos valores e influências vividos pelos profissionais, e na forma como sesentiam libertos ou presos a modelos psicológicos e valorativos deterministas, classificadores epatologizadores das populações. A reflexão inicial sobre o tipo de linguagem utilizada para falarcom e sobre as populações com as quais trabalhavam, levou a um reconhecimento de um papelde opressores e de definidores autoritários da mudança. Mesmo nos momentos em que deveriahaver “negociação”, inerentes ao recebimento do RSI, o que os profissionais verificaram sob assuas práticas foi a sua (até aí pouco consciente) imposição de metas de mudança às famílias,metas tantas vezes não percebidas ou não reconhecidas como relevantes por aqueles que asdeviam concretizar. Conceitos como “resistência”, “família desestruturada”, “agressivo” ou“alcoólico” foram escrutinados pelos próprios que os utilizavam, avaliando o impacto em simesmos, naqueles a quem se referiam, bem como na relação mútua estabelecida. As próprias

populações puderam partilhar as suas narrativas sobre as palavras que costumavam ouvir sobresi, vindas dos profissionais, e trabalhou-se o conceito de discurso, não como mero descritor daexperiência, mas como ponto de partida para a construção da realidade (Gergen, 2001, 2004;Gergen & Gergen, 2005). Desenvolveram-se conversas em grupo sobre o poder da linguagem e onosso próprio poder na sua escolha – quer envolvendo profissionais, quer a populaçãobeneficiária de RSI. Abriram-se perspectivas sobre a liberdade de escolha na linguagem usada eexperimentaram-se formas diferentes de descrever ou nomear pessoas e fenómenos.Trabalharam-se as palavras que queríamos usar, as que queríamos ouvir, as que nos orgulhavam

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e as que nos desvalorizavam; as que nos marcavam positivamente e as que nos feriam; as quenos davam desânimo ou esperança; as de passado e as relativas ao futuro. Introduziu-se nessaaltura o modelo do Inquérito Apreciativo (Coopperider, 2004; Cooperrider & Whitney, 2005;Whitney & Cooperrider, 2000), e a importância e poder das perguntas colocadas.

Deixam-se exemplos de interacções apreciativas transformadoras ao nível do acto de fala(Pearce, 1994) utilizadas no projecto, quer das destinadas aos profissionais, quer à populaçãoalvo de intervenção: “Qual o momento em que se sentiu mais vivo, realizado, feliz, no trabalhocom estas populações?”; “Qual o momento em que se sentiu mais orgulhoso e entusiasmado porfazer parte desta comunidade?”; “O que tem posto de melhor de si neste trabalho?”; “O que maisadmira em si como mãe/pai/ser humano?”; “Quem vê de fora a sua família, que pontos altos eforças identifica? O que mais os une e os faz felizes?”; “Se encontrasse a lâmpada do Aladino,quais os 3 desejos que pedia para o futuro do trabalho com esta comunidade?”; “Se encontrasseessa lâmpada, quais os desejos que pedia para a sua família/comunidade onde vive?”). Estasquestões, todas elas baseadas no modelo de David Cooperrider (2004), foram ponto de partidapara novas conversas, sempre que possível em contexto de grupo, comunidade, vizinhança.

Começando com entrevistas dois a dois, como o modelo do Inquérito Apreciativo prevê, passou-se depois nalgumas das comunidades e grupos a momentos usando o World Cafe (Brown &Isaacs, 2005), e mantendo o questionamento apreciativo como forma de identificar o melhor dopassado e caminhar conjuntamente para os sonhos de futuro. Nesta metodologia, osintervenientes – no caso, as populações de pobreza, os responsáveis pelas áreas da saúde,educação, formação profissional, os coordenadores de serviços do Instituto de Acção Social, osprofissionais no terreno, professores, jornalistas... – reuniram-se em redor de múltiplas mesas,como em esplanada, sendo que cada mesa tinha um tema ou questão positiva e materiais quepermitissem expressões múltiplas, e o uso do hemisfério direito e do esquerdo (toalhas de papel,canetas e lápis de muitas cores para desenhar ou escrever, e sempre comida e bebida). Adinâmica activa da metodologia, que implica viagens entre mesas e o máximo de “polinização”

de pessoas e ideias, permite um modelo de conversas transformadoras, entre pessoas dediferentes posições sociais que assim trabalham ao mesmo nível de poder, num formato de“rizoma” e não de verticalidade na intervenção (Hoffman & Kinman, 2008). Daqui partiramideias de futuro a trabalhar em conjunto, com responsabilidades partilhadas na concretização dasmudanças desejadas por todos.

A relevância da forma de colocar questões – também já abordada por Paulo Freire, que no seulivro de 1985 com Faundez nos fala em “Aprender a Questionar”, serve a concepção de que asconversas são transformadoras e, quando positivas e centradas no futuro, permitem uma“consciência iluminada” –   porque “iluminista” – das forças e virtudes individuais e sociais, e ummaior poder sobre a forma de moldar o destino e transformar a realidade.

A fase seguinte do projecto foi manter vivas as conversas em comunidade, aumentar – no sentidode densificar – as relações e as redes sociais, e fazê-lo numa perspectiva apreciativa emobilizadora de emoções positivas (falar do melhor, dos sonhos, das excepções aos problemas,comer junto com outras pessoas, ter conversas significativas e com resultados práticos, rir emconjunto, re-experimentar emoções positivas já vividas em momentos altos e bons da vida –  alegria, entusiasmo, orgulho numa meta atingida...) aumenta a esperança e o optimismo sobre o

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futuro (Fredrikson, 2006, 2009). Um clima de optimismo ecológico (Ornelas, 2007) mantémacordada a confiança na capacidade de cada um em transformar a sua vida.

A mudança de expectativa – por exemplo, de passar de estar à espera do pior, na pessoa dosprofissionais, antecipando a reprodução intergeracional da pobreza, para passar a ver e falar das

forças e histórias de sucesso já vividas e, portanto, dos avanços já conseguidos por todos – é umfactor essencial para conseguir mobilizar a esperança. Assim se aumenta a probabilidade, juntode psicólogos, assistentes sociais, animadores comunitários..., de renegar construçõeshegemónicas de destino e inevitabilidade sobre as populações desfavorecidas (Montero, 2005). Omesmo acontece nas próprias populações oprimidas, que através desta intervenção se descobremcom uma força muitas vezes nunca anteriormente reconhecida (Marujo & Neto, 2007).

A par de muitas outras acções criativas e comunitárias, que acompanharam este processo demodificação da linguagem, acções essas, sempre que possível, construídas conjuntamente com aspopulações, e de acordo com as suas metas sonhadas e com base nas suas maiores competências,potencialidades, virtudes e recursos, o projecto VIP, que vai no seu 6º ano e está ainda em

implementação, invoca a liberdade para converter aceitação silenciosa e descontentamento tristecom a vida numa vocalização, não apenas dolorosa, como defendia Freire (2008), mas sobretudofortalecida, apreciativa e mobilizadora. Daí que, através do projecto, profissionais e comunidadetenham vindo a trabalhar intencionalmente juntos em formas de aumentar as emoções positivasnas suas vidas, em rir mais, em treinar um discurso colectivo apreciativo e esperançado, rico em palavras “gordas de boas emoções”, numa perspectiva e linguagem de “dádiva” e descoberta dasforças que os mobilizam contra a adversidade e os fortalecem. Continuar a questionar “quais sãoas dádivas e potencialidades que esta pessoa pode trazer para a comunidade”? “Quais as dádivase potencialidades que a comunidade pode dar a esta pessoa?” ou “Como superar osimpedimentos que nos limitam nestas dádivas?” (Hoffman, 2009; Kinman, 2001) ajuda acomunidade a ultrapassar melhor os exigentes desafios das suas existências. Nunca negando ou

esquecendo o negativo, cuida-se que a proporção do que se partilha de bom sobre a vida sejasempre triplamente mais elevada que o que se narra sobre o sofrimento, para que estacomunidade possa florescer (Fredrickson & Losada, 2005).

O impacto destas escolhas metodológicas em termos de saúde física e mental está comprovado(Fredrickson, 2006, 2009) e esse fortalecimento beneficiará uma população já de si enfraquecidaem termos de saúde e com menos longevidade que os menos oprimidos socialmente ou quepartilham posições de poder social superior (Marujo & Neto, 2008).

A avaliação da eficácia do programa está entretanto a realizar-se mantendo o mesmo tipo deideologia e metodologia positiva, nomeadamente através do uso do Inquérito Apreciativo

(Coghlan, Preskill, Tzavaras, & Catsambas, 2003). Os resultados vão no sentido esperado deempowerment das populações e capacitação para auto-eficácia na construção do destino pessoal ecolectivo (Marujo & Neto, 2008).

Um estudo qualitativo, dando voz a 1200 famílias beneficiárias do RSI e representativo dapopulação de todas as ilhas do arquipélago, permitiu preparar um documento –  “Álbuns defamília: de viva voz” (Marujo & Neto, 2007) – que pretendeu manter vivas as conversastransformadoras em comunidade, partindo das respostas das famílias e daí construindo uma  pool

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de questões positivas e centradas nas soluções eficazes para a vida. A partir desta lista depossíveis questões tem-se tentado manter as comunidades participativas e os diálogosgenerativos, por forma a dar continuidade a uma verdadeira libertação esperançada face à vida dacomunidade e ao seu desenvolvimento.

CONCLUSÕES E DESCOBERTAS

Why no colour? Even in those darkest corners, there is never a purity of the degenerate. Beautyis always right before the eyes, glaring at us. What effort, what discipline we all must make toensure that this beauty is not acknowledged. Open those blinded eyes... for there is no true effortin looking for it, those gifts of life are everywhere around us.

Chris Kinman

Este projecto faz sentido dentro da concepção de que as formas de vida são criadas, recriadas emantidas pela comunicação, e que é nela que as identidades são socialmente construídas(Cronen, 1995). Assim, a descoberta mais profunda que temos vindo a fazer é a do poderextraordinário da linguagem para transformar e para propulsionar o desenvolvimento comunitário. Em consonância, o maior desafio é o de como colocar as questões que realmentelibertam, fazem sentido e promovem bem-estar em cada comunidade, caminhando emsimultâneo para uma ciência social que se defina em termos de “capacidade geradora”, isto é,capacidade para orientar os pressupostos da cultura, colocar as questões fundamentais relativas àvida social actual, e fornecer novas e inovadoras alternativas para uma intervenção social que

gere vida, suporte as potencialidades da existência e estimule uma revolução positiva em tornode conversas e mudanças significativas (Gergen, 1982, 1991; Ludema, Cooperrider, & Barrett,2001).

Naturalmente que toda a intervenção comunitária é feita de paradoxos, inevitáveis e atédesejáveis para um avanço crítico da ciência e da prática. No programa aqui brevemente descrito,e mais detalhado noutra publicação (Marujo & Neto, 2008), sentimos naturalmente essesdesafios, que levam a todos os intervenientes a continuar ainda mais as conversas e levantarainda mais e novas questões. Um dos desafios colocados implica o reconhecimento de quedesenvolver o bem-estar pode ser considerado recomendável (Huppert, Baylis, & Keverne, 2006)mas, como refere Etzioni (2001), pode também ser facilmente distorcido numa orientação de

apoio social e serviço com as características tradicionais, orientação essa mais baseada numaperspectiva de caridade do que de justiça social (Montero, 2005). Manter-nos alerta para esterisco, sobretudo potenciando os factores que mostram ser facilitadores de intervenções realmente justas, participadas e colaborativas, é um dos horizontes da continuação do projecto. Ainda,evitar impor

 

modelos definidos à priori e exteriores sobre bem-estar ou felicidade, mas simajudar cada comunidade a descobrir qual é o seu, ou os seus, é uma das orientações do trabalhodos profissionais.

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É regra deste projecto que todas as práticas e actividades desenvolvidas sejam feitas de igualforma por todos os participantes, seja qual for a posição de poder ou função no grupo. Ahumanização e aproximação que advém desta igualdade coloca-nos a todos numa posição maisequilibrada para fazer convites mútuos a mudanças – as mudanças que todos construímos edesejamos – e para conseguir balancear a manutenção de uma perspectiva crítica com uma

perspectiva apreciativa (Ludema, Cooperrider, & Barrett, 2001), mantendo a capacidade deresolver problemas ao mesmo tempo que todos nos tornamos em especialistas em soluções,excepções e sucessos. Assim, acreditamos ter uma “ciência mais humana” (Polkinghome, 1983)e conseguir, como dizia Harry Aponte (1994, p. 11, cit. in Smith, 2005), “servir, nuncacolonizar”.

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Cursos de Python

Python é uma linguagem de programação de alto nível, interpretada,imperativa, orientada a objetos, de tipagem dinâmica e forte. Foi lançada por Guido van Rossumem 1991. Atualmente possui um modelo de desenvolvimento comunitário, aberto e gerenciadopela organização sem fins lucrativos Python Software Foundation. Apesar de várias partes dalinguagem possuírem padrões e especificações formais, a linguagem como um todo não éformalmente especificada.

A linguagem foi projetada com a filosofia de enfatizar a importância do esforço do programadorsobre o esforço computacional. Prioriza a legibilidade do código sobre a velocidade ouexpressividade. Combina uma sintaxe concisa e clara com os recursos poderosos de suabiblioteca padrão e por módulos e frameworks desenvolvidos por terceiros.

Grandes organizações que usam a linguagem incluem Google, Yahoo! e NASA. A linguagemtem sido embarcada como linguagem de script em diversos softwares, como em programas deedição tridimensional como Maya, Autodesk Softimage, TrueSpace e Blender. Programas deedição de imagem também a usam para scripts, como o GIMP. Para diversos sistemasoperacionais a linguagem já é um componente padrão, estando disponível em diversasdistribuições Linux. O Red Hat Linux usa Python para instalação, configuração e gerenciamentode pacotes

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1.2.5 Crescimento endógeno: o conhecimento, o capital humano e o capital social

como motores do crescimento O crescimento endógeno corresponde à endogeneização do progresso técnico,entendido como o aumento da eficiência na utilização dos fatores convencionais deprodução, assentando sua base conceitual na consideração do aumento do estoque deconhecimentos como sendo o verdadeiro motor do crescimento per capita,prioritariamente à acumulação de capital físico ou humano.

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O conhecimento é um bem público, portanto apresenta simultaneamente ascaracterísticas da não rivalidade – o seu consumo por um agente não afeta aquantidade disponível para os outros agentes, e da não exclusão – nenhum agentepode excluir os demais de consumi-lo ao mesmo tempo.

A característica da não rivalidade associada ao conhecimento, o torna uma potencialfonte de rendimentos crescentes à escala e de crescimento per capita.

Imagine-se que um dado produtor afeta uma dada quantidade de recursos à produçãode conhecimento novo, tendo em vista a produção de um dado bem. Para produzir umadada quantidade deste último, ele necessitará, para além dos recursos gastos aproduzir o conhecimento novo, de dadas quantidades de outros inputs (trabalho,capital, etc.). Se agora considera-se que, num momento subseqüente, N produtoresterão acesso gratuito ao conhecimento criado pelo produtor pioneiro, então a produçãopoderá ser multiplicada por N apenas multiplicando por esse mesmo fator N asquantidades utilizadas de capital, trabalho, etc., mas sem necessidade de se afetar

recursos adicionais a criar novos conhecimentos. Este resultado decorrepotencialmente do caráter não rival do conhecimento mas exige ainda que ele,conhecimento, apresente tendencialmente a característica da não exclusão, a fim depoder ser utilizado por outros produtores que não o pioneiro, [grifo nosso]. (SILVA eSILVA, 2002, p. 178).

A explicação para a origem do aumento do estoque de conhecimento conduz àconsideração que o conhecimento não é um bem público puro, apresentando em certamedida uma característica de exclusão parcial. Isso se deve a que as empresasprivadas investem em pesquisa e

 

desenvolvimento (P&D) tendo como incentivo acapacidade de se apropiarem com exclusividade, mesmo que temporariamente, dos

benefícios decorrentes da geração e utilização do conhecimento novo. Assim, aexplicação para o aumento do estoque de conhecimento passa pela consideração dealgum grau de exclusão, a qual deverá ser temporária, pois, para o conhecimento defato atuar como motor do

 

desenvolvimento pressupõe-se a difusão e disseminação doseu domínio e uso.

Uma outra perspectiva é considerar que o aumento do estoque de conhecimento é umprocesso decorrente da existência de externalidades. Alfred Marshall (Principles ofeconomics, 1890), cuja contribuição para a teoria econômica será abordada com maiordetalhamento no capítulo 2 deste trabalho, item 2.1.1, enfatizou a idéia de que, emboracada produtor, isoladamente, tivesse a percepção da existência de rendimentos

marginais decrescentes do seu investimento em fatores produtivos e pudesse aindaignorar os efeitos positivos que o seu investimento poderia gerar para os outrosprodutores, em nível agregado e como resultado das ações simultâneas de todos osprodutores, aconteceriam efeitos externos sobre a produtividade de cada produtor, demodo a superar os rendimentos marginais decrescentes. A natureza não rival doconhecimento aliada à sua difusão, o caracteriza como importante fonte deexternalidades positivas.

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Nos modelos de crescimento endógeno, o conhecimento é visto como objeto de umadifusão instantânea por todos os agentes de um sistema econômico, desde quandonão existam barreiras jurídicas, a exemplo da propriedade intelectual e de patentes.Apesar de reconhecer-se o conhecimento como o motor do aumento da eficiência e docrescimento econômico, sua difusão, no entanto, ainda não é um processo automático

e democrático, dessa forma, as condições existentes que possibilitam uma efetivaapropriação de conhecimento novo por um número cada vez maior de agenteseconômicos passam a ser uma parte relevante da explicação do diferenciado edesigual nível de crescimento econômico de países e regiões.

Dois desafios teóricos se colocam na formulação de um modelo de crescimentoendógeno, o primeiro é a compatibilização de retornos crescentes com concorrênciaperfeita e o segundo é a formulação de modelos de crescimento endógeno comconcorrência monopolística. Os recentes esforços de pesquisa, segundo Clemente eHigachi (2000), deram origem a três tipos de

 

modelos:

de sppilovers, que explicam o crescimento por meio das externalidades positivas daacumulação de capital humano e conhecimento. A Teoria do Crescimento Endógeno,que emergiu a partir dos artigos de P. Romer (1986) [Increasing returns and lon-rungrowth] e R. E. Lucas Jr. (1988) [On the mecanics of economic development], introduzincentivos para firmas ou indivíduos investirem não apenas em capital físico, mastambém em inovações e na acumulação de capital humano;

lineares, conhecidos como AK, que preservaram a importância do processo de acumulação de capital para o crescimento, mas introduziram novos fatores endógenos,acumulação de capital humano e conhecimento;

os que consideram a inovação tecnológica como a fonte básica do crescimento,tratando a inovação como resultado deliberado da busca de poder de monopóliotemporário ou permanente. [...] estes modelos buscam capturar algumas das fontesmais profundas do crescimento econômico: as inovações de processo e de produto.(CLEMENTE e HIGACHI, 2000, p. 197).

O modelo de Romer fundamenta-se em externalidades positivas, spillovers, tomandocomo suposição que o conhecimento tecnológico é a única forma de capital (capital depesquisa). À diferença do capital físico, o conhecimento tecnológico constitui-se em umbem público puro, não sujeito à rivalidade e à excludência em seu consumo. Assim, umconhecimento novo criado por uma empresa apresenta um efeito externo sobre as

possibilidades de produção de outras empresas. Neste modelo, o pressuposto básico éque o crescimento econômico de longo prazo origina-se nas externalidades positivasdecorrentes da acumulação de conhecimento tecnológico.

Como analisa Clemente e Higachi (2000), o modelo de Lucas apresenta uma estruturasimilar à do modelo de Romer. A diferença básica é que o investimento em capitalhumano proporciona as externalidades positivas, através de aumentos no níveltecnológico. Lucas considera o capital humano como um fator acumulável e como a

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fonte primária de crescimento. O capital humano pode ser definido como a soma dehabilidades dos indivíduos.

“A acumulação de capital humano é uma atividade social envolvendo gr upos depessoas em uma forma que não tem contrapartida na acumulação de capital físico.

Desde que se incorpore aos indivíduos, o capital humano é apropriado por eles”(CLEMENTE e HIGACHI, 2000, p. 200).

Uma crítica que se faz aos modelos acima é que eles não conseguem, de acordo comClemente e Higachi, [...] capturar a idéia schumpeteriana de que a fonte do crescimentoeconômico é a inovação tecnológica endógena, endógena não por causa dasexternalidades positivas do capital de pesquisa ou humano, mas porque resulta dabusca do lucro do monopólio [...]. (CLEMENTE e HIGACHI, 2000, p. 205).

Uma outra vertente de modelos de crescimento endógeno, os neoclássicos-schumpeterianos, inspiram-se na idéia de Schumpeter de que a principal fonte de

crescimento econômico é a inovação introduzida pelas empresas. A inovação éconsiderada como resultado de esforços de P&D em que as empresas empenhamrecursos, razão pela qual os usuários deveriam pagar um preço suficiente para cobrirseu custo de produção e ter o direito de monopólio do uso da inovação.

Desse modo, o avanço tecnológico torna-se parcialmente apropriável, o que gera umincentivo a inovar, o que, aliado às externalidades positivas do processo de inovação esua difusão, daria sustentação a um crescimento ilimitado.

Clemente e Higachi, distinguem dois tipos de modelos de crescimento endógenobaseados na inovação: o de crescente variedade de produtos e o de aumento da

qualidade de produtos.No primeiro tipo, novos produtos são agregados à função de produção ou de utilidade,ao mesmo tempo em que se supõe retornos crescentes dinâmicos de escala oupreferência pela variedade. [...] a fonte de crescimento se encontra em um aumento dadivisão do trabalho na economia. [...] o aumento do estoque de capital usado naprodução dos bens finais se manifesta por meio do crescimento do número de insumosintermediários, e não da quantidade ou da qualidade de cada insumo. Por sua vez, oaumento do número de bens intermediários é identificado com a maior divisão dotrabalho em toda a economia e com o uso crescente de métodos de produção queaumentam a produtividade. [...]

No segundo tipo [...], os novos bens são de qualidade superior e substituem os antigos.O modelo [...] se propõe a captar aspectos de destruição criadora [conceito deSchumpeter]. Em contraste com o modelo [anterior], a mudança técnica não semanifestaria como aumento do número de bens intermediários, mas como umaelevação da produtividade que os bens intermediários permitem na produção dos bensfinais. Cada inovação seria, assim, um aperfeiçoamento do setor intermediário. Em

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suma, a fonte do crescimento econômico consiste na melhoria da qualidade dos bensintermediários. (CLEMENTE e HIGACHI, 2000, p. 215).

A partir da abordagem evolucionária-schumpeteriana, as intervenções econômicas dogoverno podem ser justificadas não em função de buscar suprir as falhas de mercado,

mas diante da possibilidade de dotar os sistemas econômicos de competitividade,atuando o governo, neste sentido, e face às economias externas de naturezatecnológica, na definição de políticas de desenvolvimento regional.

As características dos processos de aprendizagem tecnológica, decorrentes danatureza parcialmente apropriável, cumulativa, tácita e específica em termos espaciaisdas inovações, são razões sólidas para a adoção de políticas que promovamprocessos evolucionários ao nível regional [...]. (MELO, 2001, p. 70).

Sobre a formulação teórica original de Schumpeter a respeito do papel da inovação noprocesso de

 

desenvolvimento econômico e o efeito de destruição criadora, esta será

abordada de modo mais específico e detalhado no capítulo 2 desta tese, item 2.1.2.Em desenvolvimento teórico mais recente, Tenani (2003), argumenta que não háoutra maneira de um país crescer de forma sustentada, senão por meio da acumulaçãoconjunta dos dois insumos de produção: capital físico, por meio de poupança einvestimento, e capital humano, pela educação; em decorrência afirma que capitalhumano e investimento em educação não estão ligados apenas ao campo social, mastambém ao campo econômico.

O crescimento baseado apenas apenas na acumulação de capital físico enfrenta difícilrestrição econômica: é sujeito a retornos decrescentes de escala e, por isso, tende a se

extinguir, uma vez que não é possível alocar os mesmos insumos de produção,indefinidamente, de maneira cada vez mais eficiente. A médio prazo, a produtividademarginal desses insumos diminui, exaurindo-se o crescimento econômico, que podetornar-se insuficiente até mesmo para compensar a depreciação do capital e ocrescimento da população.

Daí que, reitera Tenani (2003), sem o acúmulo de capital humano, não existecrescimento econômico sustentado. A dinâmica que surge da interação entre poupançae educação tem por efeito a influência mútua entre a produtividade do capital humano ea do capital físico, resultando em que a lei dos rendimentos decrescentes deixa de serum fator limitante para o processo de crescimento econômico. Portanto, países que

possuem um sistema educacional mais produtivo, gerando mais capital humano e maisqualificado, tendem a crescer mais rapidamente, no médio e longo prazos.

Um paradigma emergente no campo dos estudos relacionados com as questões docrescimento e do

 

desenvolvimento, que surge nos anos 1980, é representado pelateoria do capital social.

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Segundo Kliksberg (1999), o Banco Mundial considera a existência de quatro formasbásicas de capital:

o capital natural, constituído pela dotação de recursos naturais de um país ou região;

o capital construído, aquele gerado pelo ser humano, incluindo as infra-estruturas, osbens de capital, os capitais financeiro e comercial, etc.;

o capital humano, determinado pelos níveis de nutrição, saúde e educação da população; e

o capital social, recentemente “descoberto”, que pode vir a constituir -se em valiosaferramenta de análise do crescimento e do desenvolvimento de base local ouregional.

Alguns estudiosos atribuem às duas última formas de capital [humano e social] uma

participação majoritária no desenvolvimento econômico das nações verificado em finsdo século XX, indicando que nelas existem chaves decisivas para o progressotecnológico, a competitividade, o crescimento sustentado, o bom governo e aestabilidade democrática, [tradução livre nossa]. (KLIKSBERG, 1999, p. 87).

Não existe ainda, conforme Kliksberg, uma definição de consenso sobre o capitalsocial, conceito de recente exploração que se encontra em um estágio de delimitaçãode sua identidade. Apesar das atuais imprecisões, é voz corrente entre os estudiososdas teorias do

 

desenvolvimento, que ao investigar-se o capital social se estaráincorporando ao espectro de conhecimentos dessas teorias, um ampliado número deimportantes variáveis que até o momento não tinham sido objeto de enquadramento no

âmbito convencional de tais teorias.

“Por capital social se entende o conjunto de normas, instituições e organizações quepromovem a confiança e a cooperação entre as pessoas, nas comunidades e nasociedade em seu conjunto [...]” [tradução livre nossa], (DURSTON, 1999, p. 103).

Segundo John Durston (2000), o paradigma do capital social, e o neoinstitucionalismoeconômico no qual se baseia em parte, coloca que: as relações estáveis de confiança,reciprocidade e cooperação podem contribuir para três tipos de benefícios: reduzir oscustos de transação, produzir bens públicos e facilitar a constituição de efetivasorganizações de base local, de atores sociais e de sociedades civis saudáveis,

[tradução livre nossa]. (DURSTON, 2000, p.7).

Durston (2000), refere-se às formulações fundadoras do conceito de capital social, sereportando a P. Bourdieu e James Coleman como sendo os que mais cedoexpressaram-se sobre tal conceito, as quais coincidiam nos aspectos de que o capitalsocial é um recurso, ou via de acesso a recursos que, quando combinado com outrosfatores, permite para as pessoas que o possuem alcançar determinados benefícios; eque esta forma de capital se fundamenta nas relações sociais.

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Capital social “... é o agregado dos recursos reais ou potenciais ligados à posse deuma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de reconhecimentomútuo” [tradução livre nossa], (BOURDIEU, 1985, apud DURSTON, 2000, p. 8).Compreende os recursos sócio-estruturais que constituem um ativo de capital para oindivíduo e facilitam certas ações de indivíduos que se encontram no interior dessa

estrutura. ... [o capital social] é produtivo, possibilitando o alcance de certos fins quenão seriam alcançáveis na sua ausência, [tradução livre nossa]. (COLEMAN, 1990,apud DURSTON, 2000, p. 8).

John Durston (2000), destaca o economista neoinstitucionalista Douglas North comoum dos inspiradores do conceito de capital social. Mesmo ele não falandoexplicitamente de capital social e sim de instituições, Durston analisa que quase todo omarco teórico do capital social se faz presente nas obras de North e, por isso,considera que ele deve figurar entre os principais fundadores do marco teórico docapital social. As instituições são “conjuntos de normas e valores que facilitam aconfiança entre os atores” [tradução livre nossa], (NORTH, 1990, apud DURSTON,

2000, p. 8).Em entrevista à Revista VEJA de 26 de novembro de 2003, o professor Douglas North,vencedor do Nobel de Economia em 1993, declarou que as nações prosperam quandoseus governantes se guiam por duas preocupações fundamentais: garantir acompetição entre as empresas e fortalecer as instituições. As nações que assim nãoprocederem tenderão a permanecer em situação de atraso econômico e social. Nestesentido, competição e instituições constituem-se em fatores de desenvolvimento maisimportantes que riquezas naturais, clima favorável ou agricultura.

Segundo North, nenhum país consegue crescer de forma consistente por um longo

período de tempo sem que antes desenvolva de forma sólida suas instituições. Porinstituição ele entende uma legislação clara que garanta os direitos de propriedade eimpeça o não cumprimento dos contratos firmados, um sistema judiciário eficaz,agências regulatórias firmes e atuantes.

Nesse contexto, North comenta que o papel do governo deve se restringir a criar regraseconômicas que garantam a estabilidade, e incentivar a competição para tornar ainiciativa privada mais eficiente. Ele refere-se ainda à questão dos custos de transação,entre os quais estão os gastos com impostos, seguros e operações no sistemafinanceiro. Esses custos fazem crescer o preço final dos produtos e serviços, mas, paraNorth, são inevitáveis e decorrem do grau de profissionalização que caracteriza as

trocas comerciais em uma nação moderna. Sua sentença conclusiva é que a naçãoque não possuir ou constituir instituições fortes não irá abandonar a condição de atrasoe de pobreza.

Outro autor influente no desenvolvimento do conceito de capital social, indicado porDurston (2000), foi Mark Granovetter. Abordando o tema em uma perspectiva desociologia econômica Granovetter, comentado por Durston, analisou que: os atoreseconômicos não são átomos isolados, suas interações econômicas estão embedded

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(incrustadas, enraizadas, imersas, imbricadas) nas relações, redes e estruturas sociais.O conceito de embeddedness e suas diversas implicações faz parte atualmente doconceito de capital social, em relação à racionalidade dos objetivos não econômicosdos indivíduos e em relação à idéia central de que as relações sociais constituemativos econômicos importantes dos indivíduos e dos grupos, [tradução livre nossa].

(DURSTON, 2000, p. 8).Em sua síntese analítica da contribuição dos autores considerados precursores naintrodução do conceito de capital social no escopo teórico dos estudos sobre ocrescimento e o

 

desenvolvimento, Durston (2000) menciona Robert Putnam como oautor mais citado no debate recente sobre capital social, o qual é considerado poroutros autores como um revisionista que apenas prolonga o conceito original de capitalsocial.

Conforme Albagli e Maciel (2003), foi Robert Putnam que, de fato, popularizou oconceito de capital social. “Em seu estudo seminal sobre a Itália, Putnam procurou

explicar as diferenças de engajamento cívico e de governos regionais efetivos entre oCentro-Norte e o Sul italianos, a partir de seus diferentes estoques de capital social”(ALBAGLI e MACIEL, 2003, p. 425).

Putnam afirma que a superação dos dilemas da ação coletiva e do oportunismocontraproducente daí resultante depende do contexto social mais amplo em quedeterminado jogo é disputado. Para ele, a cooperação voluntária é mais fácil numacomunidade que tenha herdado um bom estoque de capital social sob a forma deregras de reciprocidade e sistemas de participação cívica. [...] Aqui o capital social dizrespeito a características da organização social, como confiança, normas e sistemas,que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações

coordenadas. (PUTNAM, 2002, p. 177).Putnam relaciona várias das formas existentes de capital social, a exemplo daconfiança, à qual Albert Hirschman denominou de recursos morais, ou seja, aquelesrecursos cuja oferta aumenta com o uso, em vez de diminuir, e que, ao contrário, seesgotam se não forem utilizados.

Uma das características específicas do capital social, entendido como confiança,normas e cadeias de relações sociais, é que ele geralmente se constitui em um bempúblico, ao contrário do capital convencional que é tipicamente de caráter privado.Neste sentido, o capital social normalmente deve ser gerado como um subproduto de

atividades sociais.As normas, mesmo que não tenham força legal, constituem-se em regras quefortalecem a confiança social, sendo observadas e seguidas porque resultam naredução dos custos de transação, facilitando a cooperação.

Os sistemas de participação cívica, conforme Putnam, representam uma intensainteração horizontal, se revelando uma forma essencial de capital social: “quanto mais

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desenvolvidos forem esses sistemas numa comunidade, maior será a probabilidade deque seus cidadãos sejam capazes de cooperar em benefício mútuo [...]” (PUTNAM,2002, p. 183).

Se os sistemas horizontais de participação cívica ajudam os participantes a solucionar

os dilemas da ação coletiva, então quanto mais horizontalizada for a estrutura de umaorganização mais ela favorecerá o desempenho institucional na comunidade em geral.A afiliação a grupos horizontalmente organizados (como clubes desportivos,cooperativas, sociedades de mútua assistência, associações culturais e sindicatos)deve estar positivamente relacionada com o bom desempenho governamental. ... [Ocapital social portanto], corporificado em sistemas horizontais de participação cívica,favorece o desempenho do governo e da economia [e do turismo em particular], e nãoo oposto: sociedade forte, economia forte; sociedade forte, Estado forte. (PUTNAM,2002, p. 185-186).

Putnam afirma que os estoques de capital social tendem a ser cumulativos e a reforçar-

se mutuamente, resultando em equilíbrio social com elevado níveis de confiança,reciprocidade, participação, civismo e bem-estar coletivo, caracterizando a comunidadecívica. Além da comunidade, tanto o Estado quanto o mercado funcionam e interagemmelhor em contextos cívicos. Tais contextos conformam as regiões cívicas, queapresentam como traços distintivos: densa rede de associações locais, ativaparticipação nos negócios comunitários, modelos de política igualitários, confiança eobservância das leis.

A pesquisa realizada por Putnam (2002), deixou para ele duas lições e uma certeza. Aslições de que: o contexto social e a história condicionam profundamente o desempenhodas instituições; a história institucional costuma evoluir lentamente.

E a certeza de que “para a estabilidade política, para a boa governança e mesmo parao desenvolvimento econômico, o capital social pode ser mais importante até do que ocapital físico ou humano [...]” (PUTNAM, 2002, p. 192).

Em relação à análise econômica, o conceito de capital social encontrou espaço não sóno pensamento institucionalista, como já anteriormente abordado, no qual integra, emcerta medida, o conceito de instituição, o qual não se restringe às estruturas maisformalizadas, tais como governo, regime político e legislação de modo amplo, mastambém as relações e estruturas informais, normas e valores inscrustados nos hábitose costumes de uma população. (ALBAGLI e MACIEL, 2003, p. 429).

Também a corrente evolucionária, que enfatiza o papel da inovação e do aprendizadopara a dinâmica econômica, já analisada neste trabalho, contempla questões deinterface com o conceito de capital social, desde quando, a capacidade de inovar nãose traduz apenas por um somatório de técnicas e produtos teoricamente disponíveis nomercado, mas sim: [...] pela capacidade de uma sociedade, nas relações entre seusagentes, movimentos, organizações e instituições, de: (1) empenhar-se nas escolhasque lhe são mais adequadas dentre as disponíveis e acessíveis; e (2) aplicar os

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resultados de suas opções como e onde serão mais produtivos social eeconomicamente. (FREEMAN, 1991; NEWBY, 1992, apud ALBAGLI e MACIEL, 2003,p. 430).

Albagli e Maciel, listam alguns aspectos que podem ser considerados como benefícios

econômicos do capital social:

[...] maior facilidade de compartilhamento de informações e conhecimentos, devido arelações de confiança, espírito cooperativo, referências sócio-culturais e objetivoscomuns;

confirmação de ambientes propícios ao empreendedorismo, o que contribui para apromoção do dinamismo, da competitividade e da sobrevivência sustentada de países,regiões, organizações e indivíduos; a geração de trabalho e renda; e o“empoderamento” de segmentos sociais excluídos;

melhor coordenação e coerência de ações, processos de tomada de decisão coletivos, bem como maior estabilidade organizacional, o que também contribui paradiminuir custos;

maior conhecimento mútuo, ampliando a previsibilidade sobre o comportamento dosagentes, reduzindo a possibilidade de comportamentos oportunistas e propiciando ummaior compromisso em relação ao grupo [...]. (ALBAGLI e MACIEL, 2003, p. 430).

As autoras mencionam ainda, que existem evidências da existência de uma forterelação entre capital social e a formação de aglomerações territoriais produtivamenteinovadoras. Isto ocorreria de modo mais especial nos chamados “arranjos produtivos

locais”, por envolverem não apenas empresas, mas outros tipos de atores, comoorganismos governamentais, associações, instituições de pesquisa, educação etreinamento, etc.

Comparando aglomerações produtivas italianas e brasileiras, as autoras demonstram,no entanto, que capital social e arranjos produtivos não se vinculam, ainda, de formaautomática.

A capacidade de gerar empreendimentos sistematicamente articulados não dependesimplesmente de confiança e interação, mas de um conjunto de fatores: por issodistinguem-se três itálias e vários brasis ... [Os] fatores mais relevantes são: nível

educacional; densidade de relações de aprendizado interativo; sentimento depertencimento; nível de inclusão ou de polarização social; identidade entre interessesindividuais e coletivos; lideranças locais; relação Estado/sociedade. (ALBAGLI eMACIEL, 2003, p. 431-432).

Entretanto, o capital social, conforme as autoras, “... pode ser um f ator de interaçãocooperativa para o desenvolvimento local e, portanto, deve ser considerado uma peça

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importante – mas não a única – na mobilização de arranjos produtivos locais”(ALBAGLI e MACIEL, 2003, p. 432).

Duas questões relevantes devem ser ainda explicitadas. Uma se refere à pertinênciada intervenção governamental para estimular o capital social, outra trata do

direcionamento dos rumos do

 

desenvolvimento local, se com o predomínio de umabase endógena ou de uma base exógena.

A respeito da primeira questão, conforme as autoras, se argumenta, de um lado, que ocapital social pode ter condições mais favoráveis ao seu desenvolvimento se houver aintervenção de políticas públicas que promovam processos decisórios participativos,encoragem atividades voluntária e comunitárias e proporcionem condiçõessocioeconômicas igualitárias, em relação ao emprego, à renda e à inclusão social. Poroutro lado, argumenta-se que tal intervenção pode caracterizar um movimentoimpositivo, de “cima para baixo”, contrário ao movimento de “baixo para cima”, maiscondizente com um processo de formação e consolidação do capital e da coesão

sociais, fruto dos padrões históricos de construção da dinâmica sócio-cultural de umterritório e sua comunidade.

Quanto à segunda questão, citando Barquero (1999), as autoras analisam que: adensidade das relações e instituições locais, que ao final expressam a densidade docapital social, contribui [...] para a capacidade de a comunidade dispor de estratégiaspróprias e exercer controle sobre os caminhos do

 

desenvolvimento local, não atuandocomo receptora passiva de interesses externos, [o mesmo se aplica à escolha eutilização do modelo de inovações tecnológicas para o

 

desenvolvimento].(BARQUERO, 1999, apud ALBAGLI e MACIEL, 2003, p. 435).