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O DIÁLOGO ENTRE A POESIA NEGRA AFRICANA E A POESIA BRASILEIRA NEGRA

Autora: Gilda Mariano 1

Orientadora: Profª Drª Evely Vânia Libanori2

RESUMO:

O projeto “O Diálogo entre a Poesia Negra Africana e a Poesia Brasileira Negra”, objetiva, a partir do Método recepcional, de Regina Zilberman, Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar, verificar que a poesia é um gênero textual válido para a formação intelectual de leitores adolescentes. Tendo em vista que a poesia é um gênero textual que agrada aos alunos pela linguagem poética, pelo estilo e pelo fato de ser um texto curto e em versos, o contato do aluno com o texto propicia-lhe uma proposta de leitura instigante. O corpus selecionado para essa proposta de trabalho foram poemas do escritor africano Léopold Sedar Senghor e do brasileiro Luiz Gama. Sob essa perspectiva de estudo, o presente artigo apresenta os resultados da intervenção pedagógica realizada com os alunos da segunda série do ensino médio do período noturno, do Colégio Estadual Tomaz Edison de Andrade Vieira, de Maringá-PR.

Palavras-chaves: Poesia afro-brasileira, método recepcional, leitura, identidade poética.

1. INTRODUÇÃO

O trabalho com a Literatura no Ensino Médio sempre foi motivo de dificuldades para

os professores, uma vez que formar leitores, uma das metas que permeia o fazer pedagógico,

não é tarefa fácil. Os resultados obtidos com este projeto de intervenção pedagógica

demonstram que há muito que debater e dinamizar a prática docente. A leitura pode e deve ser

ensinada, como qualquer outro conteúdo. No entanto, é necessário um método eficiente, além

da dedicação do professor a esse trabalho. O método proposto pelas Diretrizes Curriculares de

1 Professora da Rede Pública Estadual, graduada em Letras Anglo Portuguesas e Literaturas, Especialista em literatura brasileira. E-mail: [email protected].

2 Professora Doutora da graduação e pós-graduação em Letras, área de Teoria da Literatura, da Universidade Estadual de Maringá-PR. E-mail: [email protected]. Maringá – PR.

Língua Portuguesa para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio (2008)

respaldado na Estética da Recepção é um caminho válido para tornar as aulas de leitura mais

coerentes, práticas e receptivas, uma vez que a Estética da recepção significa a ênfase na

atividade do leitor. O leitor é a instância decisiva para que a Literatura comunique seus

sentidos. O autor é o responsável pela existência do texto, do poema, do conto. Mas os efeitos

estéticos não são dados pelo autor sempre e exclusivamente. O leitor é convocado a colaborar

com o sentido do texto. Segundo Bordini e Aguiar:

A literatura não se esgota no texto. Complementa-se no ato da leitura e o pressupõe, prefigurando-o em si, através de indícios do comportamento a ser assumido pelo leitor. Esse, porém, pode submeter-se ou não a tais pistas de leitura, entrando em diálogo com o texto e fazendo-o corresponder a seu arsenal de conhecimentos e de interesses. O processo de recepção textual, portanto, implica a participação ativa e criativa daquele que lê, sem com isso sufocar-se a autonomia da obra (Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar,1993,p.86).

Através do Método recepcional o contato com o aluno ocorreu de forma efetiva,

propiciando-lhe condições para uma leitura prazerosa, que foi construída gradativamente. Os

textos foram apresentados de acordo com as expectativas dos alunos e aos poucos eles foram se

apoderando dos textos e dos livros e descobriram que a leitura é prazer, fruição, e não algo

maçante.

Ao trabalhar com a poesia afro-brasileira na perspectiva do Método recepcional

retoma-se a magia, o sentimental, o lúdico, partindo da realidade dos alunos, daquilo que eles já

conhecem para chegar a leituras mais complexas. Constroem-se assim sentidos para este novo

olhar para poesia e leitura, proporcionando ao aluno a percepção de que há poesia no mundo e

na vida.

Portanto, ler poesias é antes de tudo apoderar-se de um universo mágico, capaz de

seduzir o aluno. A linguagem da poesia também cria fascínio, com a estrutura em versos, com

rimas, estrofes ou não. E o aluno deverá ser capaz de ler nas entrelinhas, perceber as mazelas

sociais, os sentimentos de amor ou de ódio e como o eu lírico lida com isso. Esta foi a proposta

deste trabalho, formar leitores que apreciem a leitura, que descubram o belo, e tirem da

invisibilidade a poesia e os poemas de poetas afro-brasileiros e poetas de modo geral. Os alunos

puderam compreender que escrever poesias não é tarefa apenas para poetas consagrados, que

eles também podem produzir desde que se apropriem das estruturas básicas. Os alunos

entraram em contato com textos poéticos, fazendo leituras em princípio de forma lúdica e

gradativamente através da interação, troca de ideias, declamações, pesquisas, o que tornou uma

forma agradável de descobrir o prazer da leitura. O trabalho com o gênero literário em questão:

poesia na sala de aula oportunizou o trabalho e a aprendizagem da escrita de diversos textos.

Ao professor coube não só a instrumentalização dos aspectos formais do texto, mas sim

proporcionar ao aluno condições e oportunidades para se desenvolver enquanto cidadão do

mundo, ultrapassando as fronteiras das práticas escolares. É no contexto escolar que o professor

deve voltar-se para formar alunos com criatividade e sensibilidade e não poetas, como afirma

Ligia Marrone Averburck:

Não se trata, portanto, de que a escola assuma responsabilidade de fazer poetas, mas de desenvolver no aluno (leitor) sua habilidade para sentir a poesia, apreciar o texto literário, sensibilizar-se para a comunicação através do poético e usufruir da poesia como uma forma de comunicação com o mundo. (AVERBURCK, 1986, p. 67)

O projeto obteve o seu sucesso ao oportunizar aos alunos um mundo novo da

leitura. Nesse mundo novo, os olhares poéticos dos alunos se encontram, se chocam, se afinam,

de forma que eles construam e reconstruam sentidos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Literatura no Ensino Médio é um desafio ao professor de Língua Portuguesa,

que deve mostrar ao aluno o que é a linguagem poética. O desafio é fazer os alunos entenderem

que a carga informativa que existe em todo o texto está também na Literatura, mas de forma

polissêmica. Formar leitores não é, pois, uma tarefa fácil para o professor, tendo em vista que o

aluno deverá ser leitor pela vida toda e que seu contato e sucesso com a leitura do mundo

dependem de sua habilidade e eficácia enquanto leitor.

Para Marisa Lajolo (1986) ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o

sentido de um texto. É a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir

relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de

leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-

se contra ela, propondo outra, não prevista.

Consoante a Lajolo, Geraldi (2008, p.91) afirma: “Creio não trair a autora citada se

disser que a leitura é um processo de interlocução entre o leitor/autor mediado pelo texto.

Encontro com o autor, ausente, que se dá pela sua palavra escrita”. “A leitura, por sua vez, é

entendida como um processo de interlocução entre leitor/texto/autor. O aluno-leitor não é

passivo, mas o agente que busca significados”. (Fonseca e Geraldi, p.107, 2006)

Pautando-se nas afirmações de Lajolo, Geraldi, Bordini e Aguiar, trabalhou-se

inicialmente com as expectativas de nossos alunos antes de efetuar a leitura dos textos, o que é

denominado de "horizonte de expectativas" na Estética da recepção. Essas expectativas podem

ou não se confirmar perante o texto apresentado ao aluno. Seguindo o Método recepcional no

ensino de literatura, o professor precisa colocar em prática alguns conceitos básicos:

receptividade, concretização, ruptura, questionamento e assimilação. Assim, inicialmente, o

professor precisa propor atividades para determinação do horizonte de expectativas dos alunos.

O segundo passo é o do atendimento do horizonte de expectativas, proporcionando-lhes

experiências com os textos poéticos que satisfaçam as suas necessidades de leitores iniciantes

ou não, contrariando ou não o tema e as estratégias utilizadas.

A próxima etapa foi da ruptura do horizonte de expectativas, mantendo-se apenas

um dos itens contemplados na fase inicial do atendimento às expectativas que pode ser o tema,

tratamento, a estrutura ou a linguagem e rompendo com os demais de maneira que o aluno

perceba estar ingressando num novo tempo, sem, no entanto sentir-se inseguro ou rejeitando a

experiência. Os textos dessa etapa devem apresentar maior complexidade aos alunos. Na

próxima etapa fez-se a análise comparativa de leitura questionando-se o horizonte de

expectativas. A última etapa contempla a ampliação de expectativas e uma nova visão de

mundo onde o aluno leitor sente-se agente de seu processo de leitura. Segundo Maria da Glória

Bordini e Vera Teixeira de Aguiar:

Tendo percebido que as leituras feitas dizem respeito não só a uma tarefa escolar, mas ao modo como vêem seu mundo, os alunos, nessa fase, tomam consciência das alterações e aquisições, obtidas através da experiência com a leitura. Cotejando seu horizonte inicial de expectativas tornaram-se maiores, bem como sua capacidade de decifrar o que não é conhecido foi aumentada (AGUIAR E BORDINI, 1993, p. 90-91).

Através do Método recepcional, o professor oportuniza ao aluno que ele passe a se

ver como agente do processo de leitura e aprendizagem, determinando ele próprio a

continuidade do processo num constante enriquecimento cultural e social. O aluno assumirá o

seu papel ativo de leitor, efetuando leituras compreensivas e críticas. Será capaz de questionar

as leituras realizadas em seus próprios horizontes de expectativas assim como as do professor,

da escola, da comunidade familiar e social. Ao avaliar, o professor deverá olhar o processo de

cada leitura do aluno, a capacidade do mesmo de comparar ideias, contrastar opiniões. E,

paralelamente, o professor deverá perceber se o aluno consegue enxergar o trato artístico com a

linguagem.

O professor precisa ter em mente que o Método recepcional é essencialmente

social, pois permite aos alunos e professor uma interação e troca de experiências. Assim, juntos

vão construindo sentidos para os textos, e a interação entre leitor autor e obra acontece. É um

trabalho gradativo e contínuo com a literatura, em que o trabalho com o texto poético leva

sempre a outros textos, construindo e reconstruindo. Essa proposta de trabalho objetivou a

ensinar e aprender, ao propor novos desafios que partam da experiência tanto de educadora,

quanto de leitora. Objetivo ainda buscar estratégias que levem os alunos a encontrar sentido e

prazer na leitura e a constante ampliação dos seus horizontes de expectativas. Ao avaliar,

observou-se o processo de leitura de cada aluno, sua capacidade de comparar e contrastar todas

as atividades realizadas, sua atuação e a do grupo, apoderando-se de uma leitura mais complexa

que a inicial em termos estéticos e ideológicos. Segundo Aguiar e Bordini (1993, p. 85) “a

atividade de leitura fundada nos pressupostos teóricos da estética da recepção deve enfatizar a

chamada “obra difícil” uma vez que nela reside o poder de transformação de esquemas

ideológicos passíveis de crítica.”

É necessário ter a clareza de que o Método recepcional é notadamente social, pois

propicia a professores e alunos uma interação e troca de experiências. E juntos vão construindo

sentidos para textos poéticos, interagindo enquanto leitores com a obra e autores. É um trabalho

permanente, em que a atividade realizada com um texto sempre provoca o desejo de entrar em

contato com outros textos, construindo e reconstruindo sentidos.

O trabalho realizado no ensino noturno com os alunos do segundo ano do Ensino

Médio revelou a precariedade no tocante à leitura. Isso porque a maioria dos alunos apresenta

defasagem das séries anteriores, alguns são repetentes ou retornaram após anos de desistência;

outras vezes, estão no período noturno porque precisam trabalhar. E cabe aos educadores a

realização de um trabalho que vá de encontro aos anseios desta clientela, geralmente,

adolescentes e com pouca leitura.

Compete ao professor conhecer a história dos alunos para poder melhor realizar seu

trabalho na formação de leitores. E criar alternativas que amenizem as dificuldades de leitura a

fim de oportunizar um ensino de leitura mais prazeroso. Por esse motivo, escolheu-se trabalhar

com poesia, por ser um texto curto na maioria das vezes e de fácil leitura. Entende-se que o

aluno por hipótese é capaz de ler qualquer tipo de texto, escrito em qualquer época, desde que o

professor o prepare para isso. É evidente que a poesia em si predetermina a recepção, pois

oferece orientações ao leitor, por meio das estruturas, linguagem, ou seja, as "pistas" marcadas

textualmente. Sabemos que cada aluno tem sua própria experiência ao entrar em contato com a

obra.

Para Zilberman (1989) a Estética da Recepção é importante para o trabalho do

professor porque valoriza o leitor nas leituras e interpretações realizadas na escola. A Estética

da Recepção é importante, pois, para que se encontre a identidade de um povo, é essencial que

as vozes de seus sujeitos sejam levadas em consideração. Assim haverá uma maior interação

entre obra e leitor, haverá mais condições de identificação, de pertencimento e de apropriação

tanto da cultura quanto da leitura.

Segundo Regina Zilberman (1989), Jauss entende que o horizonte de expectativas

que o leitor tinha ao iniciar a leitura se modifica ao interagir com a obra. A natureza artística da

obra assim como seu contexto histórico e social deve ser levada em consideração. O texto

responde a novas questões em épocas distintas, explicita sua historicidade. O texto é uma

resposta às perguntas feitas pelo leitor (hermenêutica). Sendo objeto de recepções sucessivas, o

dialogo entre a obra e os leitores se transforma. Para o leitor, mesmo que as obras sejam

diferentes e escritas em épocas distintas, são vistas como atuais e relacionadas umas às outras.

Há um horizonte comum de expectativas, significados, recordações e antecipações literárias.

Zilberman (1989) afirma que, para Jauss, a literatura pré-forma a compreensão de

mundo do leitor, repercutindo em seu comportamento social, a arte não existe para confirmar o

conhecido e sim para contrariar expectativas.

O leitor adolescente necessita ser seduzido pela literatura, e o professor deve

proporcionar-lhe, enquanto leitor mais experiente, condições para que conheça o contexto de

produção dos textos que serão lidos. O grau de dificuldade das atividades proposta deve partir

de forma gradativa, para ir capacitando o leitor para as diversas leituras.

Sob esse aspecto, é essencial destacar que o professor deve olhar a poesia como

um instrumento valioso para trabalhar com o leitor adolescente, que ainda é imaturo na maioria

das vezes e sem paciência para trabalhar com textos longos.

3. METODOLOGIA

Optou-se por trabalhar com os alunos por meio de uma oficina e tendo como

referencial teórico o Método recepcional. Seguindo a linha de pesquisa de Bordine & Aguiar,

trilhamos os cincos passos que compõem o método:

1 – Determinação do horizonte de expectativas;

2 – Atendimento dos horizontes de expectativas;

3 – Ruptura do horizonte de expectativas;

4 – Questionamento do horizonte de expectativas;

5 – Ampliação do horizonte de expectativas;

A primeira unidade didática produzida foi a determinação do horizonte de

expectativas dos alunos do segundo ano do Ensino Médio do período noturno, com quatorze

alunos, do Colégio Estadual Tomaz Edison de Andrade Vieira – Ens. Fundamental, Médio e

Eja. A turma contou com seis meninas e oito meninos.

Foram realizadas atividades para sondar os horizontes de expectativas da turma e

perceber o que já sabiam ou conheciam sobre poesias, quais eram suas expectativas em relação

à temática proposta. Iniciou-se com a aplicação de um questionário com perguntas abertas para

que os alunos pudessem ter mais liberdade para expor suas ideias como leitores ou não de

textos poéticos. As perguntas que foram apresentadas:

1 - Você costuma ler o quê? Recorda-se de algum livro que tenha lido e que marcou algo em

sua vida?

2 - Durante sua vida escolar no ensino fundamental de que maneira foi feito o trabalho com a

literatura?

3 - Você vai a bibliotecas com que frequência?

4 - O que você costuma ler fora da escola? O que você gosta de ler? Por quê?

5 - Gosta de ler poesias? Por quê?

6 - Já participou de algum trabalho com declamação de poesia? Gostou da experiência?

7 - Durante sua vida escolar você leu poesias com frequência? Os professores costumam

trabalhar com poesias em suas aulas?

8 - Que assunto você gostaria que aparecesse nos poemas? Por quê?

9 - Conhece poesias de autores negros brasileiros? Gosta dos temas abordados por eles? Por

quê?

Apesar de já ter sido explicado anteriormente o projeto em questão, os alunos ficaram

interessados, mesmo sabendo que não seria atribuída nota aos mesmos.

A maioria dos alunos mostraram-se arredios e afirmaram não se interessar tanto por

poesia, mas concordaram que quando estão apaixonados ou tristes sentem-se mais dispostos a

leitura de poesias. As alunas, no entanto, mostraram-se favoráveis ao trabalho com poesias

porque através delas podem extravasar seus sentimentos, seja por meio da leitura ou escrita.

Em geral verificou-se que os alunos e alunas veem a poesia como algo prazeroso e de fácil

leitura.

Quanto à ideia de que alunos do ensino noturno não costumam ler com frequência

não é totalmente verdadeira, seis alunos incluindo meninos e meninas lembravam-se de livros

que tinham lido na 5ª ou 6ª série, porém, relataram que a medida em que avançaram para as

séries seguintes a cobrança por trabalhos de diversas disciplinas fez com que diminuíssem a

leitura de livros literários. Nove alunos afirmaram que costumam ler livros de aventuras, gibis,

poesias, piadas e livros religiosos. Quanto à frequência a bibliotecas a maioria disse que

frequenta a biblioteca somente no horário das aulas e com os professores para realizar

pesquisas. Sobre o trabalho dos professores com poesias em suas aulas, a maioria disse que os

professores trabalham, mas em grande parte com poesias do livro didático. Quando

questionados se já tinham participado de algum trabalho com declamação de poesia disseram

que na 5º e 6º série os professores trabalharam mais a declamação de poesias e jograis e que à

medida que foram para outras séries o trabalho deixou de ser realizado. Questionados sobre

quanto à temática que gostariam de ver nas poesias os alunos disseram não prestar muita

atenção na letra das poesias, sobretudo quando elas são melosas e só falam de amor, saudades

etc... Mas confessaram que apreciam poesia que falam de temáticas sociais relacionadas à

violência, fome, drogas, miséria etc. Porém, as alunas afirmaram apreciar poesias que falam de

suas inseguranças, amor, solidão, saudades, raiva entre outras. A turma disse também que gosta

do ritmo da poesia, da figura de linguagem e de poemas sem rimas. Quando questionados sobre

a poesia de poetas negros africanos ou brasileiros todos disseram não conhecer nenhum poeta

da etnia negra. Mas achavam que realmente há algo errado, pois o Brasil é um país

miscigenado por negros, indígenas, brancos e que deveriam conhecer e ler poesias de todos.

Pode-se concluir através da análise dos questionários que o trabalho realizado na

escola com leitura envolve muita cobrança por meios de provas, o que faz com que os alunos

não gostem dessa leitura. Por outro lado eles se mostram dispostos a ler, desde que não haja

cobranças e obrigatoriedade. Para os adolescentes o ato de ler está ligado ao prazer, eles não

relacionam leitura à busca de conhecimentos.

Partindo, então, da ideia que os alunos tinham sobre poesia, procurou-se num

primeiro momento atender suas expectativas. De forma lúdica, a professora projetou algumas

imagens que retratavam algumas cidades da África do Sul para que os alunos identificassem

onde ficavam aquelas cidades. A maioria disse que eram cidades norte americanas, européias,

menos africanas. Em seguida fez uma breve exposição sobre as contradições do Continente

africano que não é só pobreza, mas que existe muito progresso também.

Em seguida, sob o som da música negra africana “Les Tambours du Burundi – Burundi

Black”, apresentou-se o primeiro texto poético: “Estou Só” de Léopold Sedar Senghor.

Escolheu-se a temática solidão, porque que atendia os anseios dos adolescentes. O trabalho

com a poesia num primeiro momento foi realizado para que os alunos lessem e se

reconhecessem enquanto leitores e dialogassem com a poesia. A professora distribuiu as

questões para que os alunos explorassem seus conhecimentos quanto ao gênero poético. As

questões distribuídas foram as seguintes:

1 – Ao ler o poema que sensações ele provocou em você? Por quê?

2 – Na primeira estrofe o eu-lírico apresenta-se como? Que relações ele faz de seus sentimentos

com a natureza?

3 – Há, na linguagem literária, sobretudo, a exploração da repetição que, no caso, não consiste

em simples repetição, mas num expediente usado com funcionalidade para se obter algum

efeito expressivo. Tomando como referência o texto em questão, as repetições que ocorrem

servem para que no poema? Por quê?

4 – Observe nas repetições "Estou só na planície/ E na noite". O verbo Estar imprime ao verso

um estado circunstancial provoca que efeito? Por quê?

5 – No 12º verso o eu-lírico afirma "sou a solidão dos postes telegráficos". O uso do verbo ser

no verso imprime um estado permanente, o que você pode inferir disto? Por quê?

6 – Como se organiza o poema quanto à forma, há rimas? Quais?

7 – Quantas sílabas poéticas há no poema?

Ainda nesse segundo passo de atendimento aos horizontes de expectativas

trabalhou-se com a poesia de Senghor já mencionada “Estou só”. As atividades propostas

visavam fazer com que os alunos se reconhecessem enquanto sujeitos leitores e que se

identificassem com a temática também. Não desvincular o prazer do conhecimento foi um dos

objetivos constantes desse trabalho, fazer com que os alunos despertassem o gosto pela leitura

de poesias. O Método recepcional no trabalho com os alunos do período noturno facilitou a

compreensão da poesia, uma vez que ele levou em conta a realidade de cada um, dos

conhecimentos ou não sobre poesias e o que eles tinham como expectativas em relação a este

gênero poético. Os alunos se mostraram receptivos às atividades propostas, pois a maioria

apresentou bons resultados.

Quanto à ruptura dos horizontes de expectativas dos alunos, a professora

apresentou mais dois textos de Senghor, Máscara Negra a Pablo Picasso e Mulher Negra do

mesmo autor. Seguindo o propósito do trabalho com a poesia negra africana e poesia brasileira

negra optou-se pela apresentação do livro Poemas, de Senghor. A professora destacou a

importância do gênero e a descoberta de certa forma de uma nova poética que está híbrida da

ancestralidade dos alunos enquanto brasileiros, e que muito se deve ao povo negro pela sua luta

e contribuição para com este país. Trabalhou-se neste passo com o poema Máscara Negra de

Senghor. Iniciou-se o trabalho levando os alunos para o laboratório de Informática para que

pesquisassem a importância das máscaras para o povo africano em especial. A respeito do autor

anteriormente, os alunos já tinham pesquisado sobre ele. A professora explicou a importância

de Léopold Sedar Senghor e suas lutas contra toda forma de preconceito e exclusão do povo

negro na África do Sul (enquanto colônia francesa). Também explicou sua valorosa

contribuição como poeta renomado no mundo das letras.

Em seguida, a professora distribuiu cópias do poema para que os alunos fizessem uma

leitura silenciosa e o reconhecimento dos aspectos formais do texto e análise. Foi elaborado um

questionário para servir como ponto de partida para os alunos e que vem a seguir:

1- O título do poema sugere o que a você? É uma homenagem? Por quê?

2 - O autor faz uma referência no título a Pablo Picasso. Quem é ele?

3- Nas três primeiras linhas que sensações visuais e sensoriais revelam o poema? Por quê?

4 - As descrições feitas durante o poema descrevem uma mulher. Como ela se apresenta? Que

imagem o eu-lírico nos sugere? Por quê?

5 - No verso “As patenas das faces, o desenho do queixo cantam o mudo acorde”, que figura de

linguagem o verso nos apresenta e o que você pode inferir dele? Por quê?

6 - Que relação você faz do título com o verso “Rosto de máscara cerrado ao efêmero, sem

olhos sem matéria”. Justifique.

7 - As máscaras são temas constantes de textos poéticos africanos e também fazem parte de sua

cultura. Vocês, em algum momento, percebem que esse poema se assemelha a uma pintura de

paisagens africanas negra? Por quê?

Trabalhou-se também a declamação da poesia, foi solicitado que os alunos

decorassem o poema nas oficinas. A maioria dos alunos participou ativamente. A professora

auxiliou nas dificuldades que os alunos apresentaram quanto à expressão corporal, impostação

de voz, sintonia na declamação em grupo. Os alunos apresentaram-se na classe e o resultado foi

bom, pois contou com a participação de todos.

Ainda neste passo a professora trabalhou o texto Mulher Negra de Senghor, e

enfocou o papel da mulher nas poesias dos poetas brasileiros que em geral apresentam-na

branca e suas qualidades como tal são cantadas em muitos poemas. Foram questionados se

conheciam algum poema que enaltecesse a beleza da mulher negra e eles responderam que não

conheciam. Foram distribuídas cópias do poema para os alunos fizessem uma leitura individual

e depois coletiva. A ruptura do horizonte de expectativas dos alunos já estava ampliada pela

leitura dos textos poéticos anteriores. O trabalho com a Estética da recepção proporcionou um

impulso maior quanto à análise da estrutura formal, compreensão e interpretação da poesia. O

leitor em contato com o texto pode confirmar ou não suas expectativas, de acordo com sua

visão de mundo. E segundo Aguiar e Bordini:

(...) o texto pode confirmar ou perturbar esse horizonte, em termos das expectativas do leitor, que o recebe e julga por tudo o que já conhece e aceita. O texto, quanto mais se distancia do que o leitor espera dele por hábito, mais altera os limites desse horizonte de expectativas, ampliando-os. Isso ocorre porque novas possibilidades de viver e de se expressar foram aceitas e acrescentadas às possibilidades de experiência do sujeito. Se a obra se distancia tanto do que é familiar que se torna irreconhecível, não se dá aceitação e o horizonte permanece imóvel. (Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini, 1993, p. 87).

A partir da Estética da Recepção os alunos aprofundaram seus conhecimentos dentro

da temática proposta pelo projeto e que era a de mostrar a poética afro-brasileira e as leituras de

autores diversos em geral. A professora trabalhou para a consecução dessa etapa com as

seguintes questões:

1 – Nos dois primeiros versos o eu-lírico apresenta a mulher de que forma?

2 - Considere o verso “E eis que no coração do Estio e do Meio-Dia eu te descubro, Terra

prometida, do alto de uma garganta calcinada”. Como se chama o recurso retórico dos trechos

sublinhados?

3 – No poema há várias passagens indicadoras de que o ser poético se refere a um cenário

africano. Mencione algumas delas.

4 - As referências que o ser poético faz à mulher enaltecendo suas qualidades são as mesmas

que você costuma ler em outros textos poéticos não africanos? Por quê?

5 – Considere a última estrofe “Mulher nua, mulher negra / Eu conto a tua beleza que passa

forma que gravo no Eterno Antes que o Destino cioso te reduza a cinzas para alimentar as

raízes da vida”. A que destino se refere o eu lírico? Explique a imagem aí sugerida

6 – Quanto à forma do poema: ele possui rimas ou são versos livres? Exemplifique.

7 – Quanto ao ritmo do poema como ele se apresenta?

8 – A leitura global do texto permite a você fazer quais reflexões? Por quê?

Após o trabalho do texto Mulher Negra de Senghor, os alunos já estavam bastante

envolvidos e familiarizados com os textos poéticos. E as atividades propostas para o trabalho

com este poema obtiveram boa aceitação e participação por parte dos alunos.

O momento de questionar os horizontes de expectativas foi realizado através de um

debate ao som da música “Canto das Três Raças de Clara Nunes”. Em foco estava o poema de

Luiz Gama, “Quem Sou Eu?”. Anteriormente os alunos já haviam realizado pesquisa sobre o

poeta negro brasileiro. O trabalho foi recebido com muito entusiasmo por parte da turma que

sabia do valor da poética de Luiz Gama, de suas lutas contra o preconceito racial contra os

negros da época. Analisaram a temática, buscaram no dicionário as palavras que não entendiam

e que foram muitas. Ficaram surpresos com a audácia do poeta ao desconstruir a forma irônica

e preconceituosa com a qual os brancos denominavam os poetas negros especialmente Luiz

Gama. “Se negro sou, ou sou bode/Pouco importa. /O que isto pode?”, são versos que, para os

alunos, representam a ironia do poeta para com seus oponentes. Os alunos trabalharam o ritmo,

a linguagem poética empregada, a sonoridade dos versos, a temática empregada. Após a análise

do poema todos questionaram seus horizontes de expectativas iniciais e consideraram que

aquilo que eles haviam idealizado nem sempre se confirmou. O que eles esperavam ao iniciar

os trabalhos com os textos em questão se concretizou? A temática dos textos poéticos

trabalhados serviu para dar visibilidade aos poetas negros e sua poética? Houve uma

compreensão maior a respeito da busca da identidade dos poetas negros brasileiros quanto ao

seu estilo e individualidade? De todos os textos trabalhados como se deram o tema, a

construção das poesias e o uso da linguagem empregada? Como foi empregada a sonoridade

nos poemas? Algum explorou mais a sonoridade? Qual? E quanto ao ritmo e vocabulário?

Verificaram alguma semelhança entre os textos trabalhados? A ideia que possuíam sobre

poema e poesia foi alterada? O debate proporcionou aos alunos uma reflexão sobre os poemas

trabalhados? A professora fez então uma síntese a respeito das respostas que a turma deu aos

questionários e entregou o resultado bem resumido do questionário que eles tinham respondido

inicialmente. E assim os alunos puderam fazer uma reflexão sobre o progresso que

apresentaram ou não no decorrer dos trabalhos em relação à temática proposta e o que

precisariam ainda melhorar.

Para concluir esta etapa de ampliação dos horizontes de expectativas, a professora

solicitou aos alunos que fizessem uma avaliação oral sobre os textos trabalhados e apontassem

o que mais apreciaram e quais as dificuldades encontradas. Os alunos afirmaram que as

dificuldades encontradas foram em relação à entonação e impostação vocal. Mas salientaram

que no decorrer dos trabalhos de declamação a dificuldade foi sanada. E como pontos positivos

afirmaram que foi prazeroso ler poesia e outros textos. E também gostaram muito de pesquisar

outros poetas africanos na Internet. Escolheram os melhores poemas segundo suas expectativas.

A classe preparou em grupo uma declamação de poesias de poetas negros africanos e afro-

brasileiros. Houve também a declamação de textos elaborados pelos alunos que também

fizeram parte da declamação. O fundo musical ficou por conta de som de música negra

escolhida por eles na Internet. Os trabalhos foram apresentados na sala de aula com a presença

de alunos de outras salas.

Após apresentação da oficina de declamação os alunos expuseram seus trabalhos no

mural da escola. Os alunos divulgaram os trabalhos realizados e incentivaram seus colegas a

frequentarem mais a biblioteca e consequentemente lerem mais.

Durante os trabalhos realizados, as cinco etapas do Método recepcional: determinação,

atendimento, ruptura, questionamento e ampliação do horizonte de expectativas foram

cumpridas. O resultado desse trabalho é que os procedimentos didáticos que nortearam a leitura

do texto literária poderão viabilizar muitos outros. O trabalho realizado pela professora no

Grupo de Trabalho em Rede – GTR 2011, na qual foi tutora recebeu muitas sugestões dos

cursistas e incentivos ao trabalho proposto. Várias cursistas afirmaram para a tutora que já

estavam implementando o projeto de intervenção pedagógica em suas escolas. Esse cenário

fortaleceu ainda mais a prática da professora.

A professora PDE em questão foi convidada pelo Núcleo Regional de Ensino de

Maringá e outras entidades, para apresentar uma oficina sobre o projeto realizado, no IX

Encontro do Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnicorracial do Paraná nos dias 26

e 27 de julho de 2012. A oficina foi muito bem recebida e trabalhada pelos participantes. A

professora PDE concluiu que, com o Método recepcional, o professor poderá criar e recriar

novas maneiras didáticas e estratégias metodológicas para tornar suas aulas mais agradáveis e

prazerosas. Fica a critério de cada um elaborar as adaptações dos conteúdos conforme a

situação apresentada pelos alunos.

4.AVALIAÇÃO DA PROPOSTA DE AVALIAÇÃO

A intervenção realizada foi avaliada conforme os objetivos propostos para a formação

dos alunos do Ensino Médio Noturno, no tocante à literatura: leitura e escrita. Foi necessário

repensar as formas de avaliação da leitura, tornando-a mais prazerosa e com parâmetros

amplos. Apresentar a poesia como algo para interação entre autor, texto, leitor e nada de fazer

sínteses, resumos ou pretextos para se estudar gramática. A avaliação nas oficinas foi realizada

gradativamente e cada passo conquistado significava uma reflexão sobre o que os alunos

aprenderam e o que dificultou a aprendizagem. A avaliação foi contínua durante a

implementação do projeto e contou com a participação ativa de todos os alunos envolvidos.

A professora valorizou a interação, a reflexão e a interação do aluno com a obra poética.

E durante o processo avaliativo observou-se a participação dos alunos, seu crescimento e

aprofundamento de sua visão de mundo e da apropriação da temática proposta, bem como

ampliação do horizonte de expectativas da leitura de um modo geral. Portanto, a avaliação foi

contínua e diagnóstica, tendo como referência o progresso do aluno como leitor das obras

literárias poéticas. Valorizou-se o seu gosto, fruição e a ampliação de seu horizonte de

expectativas, e não somente a somatória do seu desempenho em atividades pontuais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizando as reflexões acerca de uma prática de leitura do texto literário voltado

para a participação mais efetiva do aluno-leitor, verifica-se que a Estética da recepção é um

meio que facilita a melhoria das aulas de leitura, na medida em que parte da realidade do aluno.

Ela propõe paulatinamente a ruptura de alguns aspectos e o avanço destes na construção de

uma leitura mais aprofundada, sob a orientação do professor. O Método recepcional quando

bem utilizado, por ser dinâmico e bem definido, facilita o trabalho docente e a apreensão do

conhecimento e a participação dos alunos.

Percebe-se que a poesia é uma tipologia a ser considerada nas aulas de leitura, uma

vez que há uma boa aceitação por parte dos alunos adolescentes ou não. As alunas mostraram-

se mais receptivas no trato com a poesia, mas por outro lado, os alunos também se engajaram

no trabalho e não deixaram nada a desejar.

Ao escolher o Método recepcional, acertou-se porque ele dá a segurança necessária

para que se possa motivar os alunos e tornar as aulas mais dinâmicas. Os textos foram bem

selecionados e ao gosto dos alunos, o que garantiu a participação de todos os envolvidos no

projeto.

O trabalho com a poesia de poetas negros proporcionou aos alunos um novo olhar

para o texto poético, o desejo de ler e conhecer quem está escrevendo, olhar para a diversidade

de autores que fazem parte da história literária. Portanto, foi possível trabalhar com a poesia

proporcionando aos alunos um novo olhar poético. Isto porque através da poesia o professor

pode conhecer os sentimentos, o pensar e o agir dos alunos. E esse foi o intuito: fazer com que

eles pudessem refletir sobre ser negro e o modo de viver e sentir a poesia, aproximando-se da

realidade e da subjetividade da alma negra brasileira e africana.

Durante as atividades desenvolvidas, percebeu-se como é importante a mediação

do professor e um bom método para a condução dos trabalhos. O processo de leitura de poesias

tem, pois, que ser ativo para que não caia na monotonia. E o Método recepcional envolve os

alunos tornando-os autônomos e eles gradualmente vão ampliando seus horizontes de

expectativas e tornando-se agentes de seus conhecimentos. Ao aumentar suas necessidades de

leitura passam a frequentar a biblioteca, pesquisar na Internet, enfim, tornam-se independentes.

Os trabalhos realizados proporcionaram novos conhecimentos não só a estes

alunos, mas a todos os participantes do projeto de intervenção através do GTR. Durante a

tutoria os cursistas afirmaram estar aplicando o projeto em suas escolas. A professora PDE

continuará aplicando o projeto em outras turmas e socializando-o com outros docentes para que

o Ensino Público seja realmente uma referência em qualidade.

A leitura de poesias de autores negros e de outros poetas se tornou um hábito entre

os alunos que querem produzir, ler, sejam as poesias do livro didático ou dos livros que a

biblioteca oferece. E o Método recepcional trouxe, sem dúvida, uma motivação maior aos

alunos, fazendo com que o saber científico seja assimilado naturalmente e com propriedade.

Portanto, a poesia não tem território, mas tem história e esta deve ser respeitada e

compreendida pela comunidade escolar. Ela tem que ser sentida e encantar pela beleza de sua

forma, sua linguagem, ritmo, rimas ou não. Cada uma delas vem carregada de mistérios que só

o leitor com sua realidade e capacidade de recepção poderá ou não desvendar.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, Vera Teixeira de e Bordini, Maria da Glória. Literatura e Formação do Leitor:

alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhin. São Paulo: Ática, 2008.

GAMA, Luiz. Primeiras trovas burlescas e outros poemas. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. 4.ed.São Paulo: Ática, 2006.

LAJOTO, Marisa, e Outros. Leitura em crise na Escola: As alternativas do professor. Porto

Alegre. Mercado Aberto, 1986.

LAZZARO, Lívia. A estética da recepção: colocações gerais. Hans Robert Jauss com

colocações feitas no debate entre os demais alunos e o professor. In: Recepção; PUC/RJ, prof.

Luiz Antônio Coelho. Pesquisa Cientifica – 1º Sem, Rio de Janeiro, 2002. Disponível em:

HTTP://wwwusers.rdc.puc-rio.br/imago/site/recepcao/index.html, às 21:51 do dia 06/08/2011.

Les Tambours du Burundi - Burundi Black, Disponível em http://www.youtube.com/watch?

v=iyTYWFuMV_0&NR=1. Acesso em 06/08/2011

PARANÁ, Secretaria de Estado da educação. Diretrizes Curriculares de Língua portuguesa

para os anos Finais do Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Curituba, 2008.

SENGHOR, Sédar Léopold. Poemas. Grifo Edições, 1969

ZILBERMAN, Regina. Estética da Recepção e História da Literatura. São Paulo:

Ática,1989.

7. ANEXOS

Estou só

Estou só na planície E na noite Com as arvores retorcidas de frio,Que, de cotovelos pelo corpo, se estreitam umas Contra as outras.

Estou só na planície E na noite,Com os gestos de patético desespero das árvores,Que as folhas abandonaram em busca das ilhas de eleição. (....) (Senghor, 1969, p.150)

Máscara negra A Pablo Picasso

Ela dorme e repousa sobre a candura da areia.Dorme Koumba Tam. Verde Palma vela a febre dos cabelos, acobreia a curva fronte.As pálpebras cerradas, dupla raça e fontes seladas.Esse fino crescente, esse lábio mais negro e quase pesado – ou o sorriso da mulher cúmplice?As patenas das faces, o desenho do queixo cantam o mudo acorde.Rosto de máscara cerrado ao efêmero, sem olhos sem matériaPerfeita cabeça de bronze, com sua pátina de tempoSem vestígio de pintura, nem rubor nem rugas, nem de lágrimas nem de beijos.O rosto qual Deus te criou antes mesmo da memória das idades.Para me comover a carne.Adoro-te, ó beleza, com meu olhar monocórdio! (Senghor, 1969, p. 24)

Mulher Negra

Mulher nua, mulher negraVestida de tua cor que é vida, de tua forma que é beleza!Á tua sombra cresci; a doçura de tuas mãos me cobria os olhos.E eis no coração do Estio e do Meio-Dia eu te descubro, Terra prometida, do alto de uma garganta calcinada.E tua beleza me fulmina em pleno coração, como o clarão de uma águia.Mulher nua, mulher obscura Sazonado fruto de carne firme, sombrios êxtases de negro vinho, boca que liriza os meus lábios, Savana de puros horizontes, savana que estremeces às férvidas carícias do Vento Leste. (Senghor.1969, p. 24)

QUEM SOU EU?

Quem sou eu?Quem sou eu? Que importa quem?Sou um trovador proscrito,Que trago na fronte escritoEsta palavra – ninguém! ( A.E.Zalmar – Dores e flores)

Amo o pobre, deixo o rico,Vivo como o Tico-tico;Não me envolvo em torvelinho,Vivo só no meu cantinho;Da grandeza sempre longeComo vive o pobre monge.Tenho mui poucos amigos,Porém bons, que são antigos,Fujo sempre à hipocrisia,À sandice, à fidalguia;Das manadas de Barões?Anjo Bento, antes trovões.Faço versos, não sou vate,Digo muito disparate,Mas só rendo obediênciaÀ virtude, à inteligência:Eis aqui o GetulinoQue no plectro anda mofino.Sei que é louco e que é patetaQuem se mete a ser poeta;Que no século das luzes,Os birbantes mais lapuzes,Compram negros e comendas,Têm brasões, não – das Kalendas;E com tretas e com furtosHão de chamar-me TareloBode, negro, Mongibelo;Porém eu que não me abaloVou tangendo o meu badaloCom repique impertinente,Pondo a trote muita gente.Se negro sou, ou sou bodePouco importa. O que isto pode?Bodes há de toda castaPois que a espécie é muito vasta…Há cinzentos, há rajados,Baios, pampas e malhados,Bodes negros, bodes brancos,

E, sejamos todos francos,Uns plebeus e outros nobres.Bodes ricos, bodes pobres,Bodes sábios importantes,E também alguns tratantes(....) (Luiz Gama, ed. 2000, p. 113)

Produção dos Alunos:

Ah, se eu fosse

Sou Zeca jogador de futebolO time nem lembro seu nomeMas, o que isso importa?Sou famoso, gosto disso!Outro dia fui confundidoCom o rei PeléFiquei todo cheio de orgulho.Só que a menina dos meusSonhos não me quer!

Gostaria de ser um bem-te-viSó para cantar ao seu redorOh, menina eu sou um jogadorMas, de sonhos e ilusões...

A vida sem você é comoJogar sem bola, sem gramadoE sem esperanças!Menina, eu sou um jogador De sonhos e ilusões. (Ronaldo G. Ferreira)

Amor

Em algum lugar distante perdiO meu amorToda noite olho para a escuridãoE não o encontro.

Onde será que está o meu amor?Perdido em qual lugar?Vejo-te em meus sonhosNeles você está belo e amoroso

Ontem o procurei pela imensidãoDo infinito, mas tu te escondesteAfinal, nunca nos encontramosO que me prende a ti é o teu perfumeTalvez nos encontremos um dia

As flores do meu jardim são testemunhasDo meu sofrimento..E o orvalho frio da manhãSó aumenta meu sofrer! (Karine B. Barros)

Recursos:. Pen drive com sons tribais africanos;. Laboratório de Informática – Internet;. Dicionário;. Jornais;. Revistas;. Lápis, retalhos de tecido;. Tintas coloridas;. Livro de Poesia: Primeiras Trovas Burlescas Luiz Gama;. Livro – Poemas de Léoplod Sédar Senghor;. Textos impressos com os poemas trabalhados;. Mural;

Ah, se eu fosse

Sou Zeca jogador de futebolO time nem lembro seu nomeMas, o que isso importa?Sou famoso, gosto disso!Outro dia fui confundidoCom o rei PeléFiquei todo cheio de orgulho.Só que a menina dos meusSonhos não me quer!

Gostaria de ser um bem-te-viSó para cantar ao seu redorOh, menina eu sou um jogadorMas, de sonhos e ilusões...

A vida sem você é comoJogar sem bola, sem gramadoE sem esperanças!Menina, eu sou um jogador De sonhos e ilusões.

Amor

Em algum lugar distante perdiO meu amorToda noite olho para a escuridãoE não o encontro.

Onde será que está o meu amor?Perdido em qual lugar?Vejo-te em meus sonhosNeles você está belo e amoroso

Ontem o procurei pela imensidãoDo infinito, mas tu te escondesteAfinal, nunca nos encontramosO que me prende a ti é o teu perfumeTalvez nos encontremos um dia

As flores do meu jardim são testemunhasDo meu sofrimento..E o orvalho frio da manhãSó aumenta meu sofrer!