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Universidade de Lisboa Faculdade de Letras Departamento de Linguística Geral e Românica O Disfarce da Voz em Fonética Forense Raïssa Gillier Mestrado em Linguística Área de Especialização – Linguística Portuguesa Ano de 2011

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Letras

Departamento de Linguística Geral e Românica

O Disfarce da Voz em Fonética Forense

Raïssa Gillier

Mestrado em Linguística

Área de Especialização – Linguística Portuguesa

Ano de 2011

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Letras

Departamento de Linguística Geral e Românica

O Disfarce da Voz em Fonética Forense

Raïssa Gillier

Mestrado em Linguística

Área de Especialização – Linguística Portuguesa

Dissertação orientada por:

Professor Doutor Fernando Martins

Ano de 2011

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AGRADECIMENTOS

É uma árdua tarefa agradecer o que muitas vezes não pode ser agradecido apenas com

palavras… Contudo, não posso deixar de mencionar algumas pessoas que se

destacaram ao longo desta ‘viagem’.

Em primeiro lugar, agradeço aos meus pais, a quem dedico este trabalho, por fazerem

de mim quem hoje sou e, ainda, pelo apoio incondicional que sempre me prestaram!

Agradeço ao meu orientador, Professor Doutor Fernando Martins, a disponibilidade e

prontidão que sempre demonstrou para resolução de problemas e esclarecimento de

dúvidas.

Um especial agradecimento vai para os vários Informantes que se disponibilizaram a

participar no estudo e pacientemente aceitaram a repetitiva, e por vezes aborrecida,

tarefa de leitura. Este trabalho não seria possível sem a vossa colaboração.

Quero agradecer muito à Gabriela e ao João, com quem tanto tenho aprendido, o

enorme apoio que me deram, a compreensão demonstrada e o bom humor. É

gratificante trabalhar convosco! A todos os outros membros do CLUL com quem me

relaciono diariamente e que me proporcionam momentos de partilha de

conhecimento e de boa disposição.

À Carla, Catarina e Filipa, um obrigado muito especial por terem estado sempre

presentes nesta etapa, por saberem respeitar o meu espaço e ausências e por me

aturarem nos momentos de maior tensão. Mas toda a alegria vivida, as gargalhadas

soltadas e disparates feitos são o maior motivo de agradecimento. Enfim, por todo o

tempo que passámos juntas!

Por fim, a todos aqueles que não foram mencionados e que, de alguma forma,

contribuiram para este trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho tem por objectivo estudar quatro tipos de disfarce da voz, de

forma a averiguar as consequências, que deles advêm, em dois parâmetros acústicos

utilizados na Identificação de Falantes – F0 e formantes. Com este propósito, foram

gravados oito indivíduos que leram um conjunto de frases em cinco condições de

produção: voz normal, subida de F0, descida de F0, máscara à frente da boca e

palhinha entre os incisivos.

A análise dos dados relativos à Voz Normal serve, por um lado, para verificar a eficácia

dos parâmetros na distinção de falantes e, por outro, como ponto de comparação para

observar a influência dos disfarces nos vários parâmetros acústicos.

Os resultados obtidos demonstram que (i) estes parâmetros (F0 e formantes) são

eficientes para a discriminação de indivíduos; (ii) os disfarces não actuam de forma

idêntica; (iii) nem todos os disfarces são eficazes, pois alguns não alteram as

frequências dos parâmetros; (iv) a robustez de cada parâmetro está directamente

relacionada com o tipo de disfarce; (v) o factor falante desempenha um papel

importante na performance do disfarce; (vi) o efeito do disfarce não é homogéneo

entre as várias vogais; (vii) mesmo no disfarce mais intrusivo, é possível recuperar

marcas específicas de cada falante através dos triângulos vocálicos.

Em suma, pretende-se (i) aprofundar conhecimentos sobre a robustez dos parâmetros

de identificação de falantes face ao disfarce; (ii) contribuir para o desenvolvimento dos

estudos na área da Fonética Forense e da Acústica Forense; (iii) colmatar a inexistência

de trabalhos neste âmbito para o Português Europeu.

Palavras-chave:

disfarce, F0, formantes, Fonética Forense, Acústica Forense

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ABSTRACT

The present research aims to study four types of voice disguise in order to investigate

its influence on two acoustic parameters, often employed in Speaker Identification –

F0 and formants. To reach this goal, eight individuals were recorder and each of them

read a set of sentences in five different ways: normal voice, raising fundamental

frequency, lowering fundamental frequency, mask on mouth, use of bite block (straw).

Normal Voice data was analyzed to investigate, on the one hand, the efficiency of the

acoustic parameters to discriminate individuals and, on the other hand, to be the term

of comparison of each disguise in order to verify the influence of disguises on the

parameters.

The results reveal that (i) these acoustic parameters (F0 and formants) are efficient to

differentiate different speakers; (ii) disguises do not act in the same way; (iii) disguises

are not all efficient seeing that some of them do not affect the parameter’s values; (iv)

the strength of each acoustic parameter is directly related with the type of disguise; (v)

speaker factor perform an important role on disguise performance; (vi) disguise’s

effect is not homogeneous between vowels; (vii) it is possible to check speaker

specifics on vowel chart even in the stronger disguise.

The present research is expected to (i) expand knowledge about the robustness of

speaker identification parameters’ in presence of voice disguise; (ii) contribute to the

development of work in Forensic Phonetics and Acoustic Phonetics; (iii) end up the

inexistence of studies for European Portuguese in this field.

Key words:

disguise, F0, formants, Forensic Phonetics, Acoustic Phonetics

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ÍNDICE

RESUMO .................................................................................................................................... i

ABSTRACT ................................................................................................................................. ii

LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................................... v

LISTA DE TABELAS ................................................................................................................... vii

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1

2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO ............................................................................................... 4

2.0. Introdução ..................................................................................................................... 4

2.1. Teoria acústica da produção de fala ................................................................................ 4

2.1.1. Fonte ....................................................................................................................... 5

2.1.2. Filtro ........................................................................................................................ 5

2.2. Caracterização acustico-articulatória das vogais ............................................................. 6

2.2.1. Classificação articulatória ........................................................................................ 6

2.2.2. Classificação acústica ............................................................................................... 7

2.3. Fonética forense ............................................................................................................. 9

2.3.1. Caracterização ......................................................................................................... 9

2.3.2. Fonética Acústica ................................................................................................... 12

2.3.3. Factores condicionantes ........................................................................................ 13

2.4. Identificação de falantes............................................................................................... 14

2.4.1. Parâmetros perceptivos ......................................................................................... 16

2.4.2. Parâmetros acústicos ............................................................................................. 18

2.5. Disfarce ........................................................................................................................ 20

3. METODOLOGIA ............................................................................................................... 25

3.0. Introdução ................................................................................................................ 25

3.1. Desenho Experimental .............................................................................................. 25

3.2. Informantes .............................................................................................................. 27

3.3. Materiais – Corpus .................................................................................................... 28

3.4. Recolha dos Dados ....................................................................................................... 29

3.4.1. Requisitos éticos .................................................................................................... 29

3.4.2. Gravações .............................................................................................................. 29

3.5. Tratamento dos Dados ................................................................................................. 30

3.5.1. Análise Espectrográfica .......................................................................................... 30

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3.5.2. Análise Estatística .................................................................................................. 32

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS .................................................................................... 33

4.0. Introdução ................................................................................................................... 33

4.1. Voz normal ................................................................................................................... 33

4.1.1. Triângulos vocálicos: variação intra e inter-falante ................................................. 33

4.1.2. Frequência fundamental (F0) ................................................................................. 39

4.1.3. Formantes ............................................................................................................. 41

4.1.4. Eficácia dos parâmetros acústicos na distinção de falantes .................................... 42

4.1.5. Informante versus Vogais ....................................................................................... 44

4.2. Disfarce – variação dos parâmetros acústicos ............................................................... 47

4.2.1. Voz Normal versus Disfarce(s) ................................................................................ 47

4.2.2. Disfarce versus Informante .................................................................................... 54

4.2.3. Disfarce versus Vogais............................................................................................ 61

4.2.4. Triângulos vocálicos – Comparação de VN com o(s) Disfarce(s) .............................. 64

4.2.4.1. VN versus D1 ................................................................................................... 64

4.2.4.2. VN versus D2 ................................................................................................... 68

4.2.4.3. VN versus D3 ................................................................................................... 71

4.2.4.4.VN versus D4.................................................................................................... 74

4.2.4.5. Considerações finais ....................................................................................... 77

5. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 80

5.1. Conclusões ................................................................................................................... 80

5.2. Limitações do estudo.................................................................................................... 84

5.3. Perspectivas futuras ..................................................................................................... 85

BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................... 86

ANEXO 1 ................................................................................................................................. 91

ANEXO 2 ................................................................................................................................. 93

ANEXO 3 ................................................................................................................................. 95

ANEXO 4 ................................................................................................................................. 97

ANEXO 5 ................................................................................................................................. 99

ANEXO 6 ............................................................................................................................... 101

ANEXO 7 ............................................................................................................................... 102

ANEXO 8 ............................................................................................................................... 103

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Espectrograma do enunciado Minha querida, eu tentei informar que não esqueço ainda dos documentos que levaste, portanto eu agradecia que os devolvesses (gravação X). .. 11 Figura 2 – Espectrograma do enunciado Minha querida, eu tentei informar que não esqueço ainda dos documentos que levaste, portanto eu agradecia que depois (que) os devolvesses (gravação K). ........................................................................................................................... 11

Figura 3 - Localização da medição de F2 da vogal [ɛ] em VN, na frase Eu digo cadela, Paulo. ... 31

Figura 4 - Triângulo vocálico do Informante 1. ........................................................................ 34 Figura 5 - Triângulo vocálico do Informante 2. ........................................................................ 34 Figura 6 - Triângulo vocálico do Informante 3. ........................................................................ 34 Figura 7 - Triângulo vocálico do Informante 4. ........................................................................ 34 Figura 8 - Triângulo vocálico do Informante 5. ........................................................................ 34 Figura 9 - Triângulo vocálico do Informante 6. ........................................................................ 34 Figura 10 - Triângulo vocálico do Informante 7........................................................................ 35 Figura 11 - Triângulo vocálico do Informante 8. ...................................................................... 35 Figura 12 - Valores médios da frequência fundamental de cada Informante............................ 39 Figura 13 - Valores médios de F1, F2, F3 e F4 de cada Informante. .......................................... 41 Figura 14 – Média de F1 por vogal, para cada Informante. ...................................................... 45 Figura 15 - Média de F2 por vogal, para cada Informante. ....................................................... 45 Figura 16 - Média de F3 por vogal, para cada Informante. ....................................................... 46 Figura 17 - Média de F4 por vogal, para cada Informante. ....................................................... 46 Figura 18 - Comparação de VN com D1 ................................................................................... 49 Figura 19 - Comparação de VN com D2. .................................................................................. 49 Figura 20 - Comparação de VN com D3. .................................................................................. 49 Figura 21 - Comparação de VN com D4. .................................................................................. 50 Figura 22 – Distribuição de F0 segundo o Informante em VN, D1, D2, D3 e D4. ....................... 54 Figura 23 – Distribuição de F1 segundo o Informante em VN, D1, D2, D3 e D4. ....................... 54 Figura 24 - Distribuição de F2 segundo o Informante em VN, D1, D2, D3 e D4. ........................ 55 Figura 25 - Distribuição de F3 segundo o Informante em VN, D1, D3 e D4. .............................. 55 Figura 26 - Distribuição de F4 segundo Informante em VN, D1, D2, D3 e D4. ........................... 55 Figura 27 – Valores médios de F0 de cada Informante em VN e D2. ........................................ 59 Figura 28 – Distribuição dos valores de F1 e F2 de cada vogal em VN e D1. ............................. 61 Figura 29 - Distribuição dos valores de F1 e F2 de cada vogal em VN e D2. .............................. 61 Figura 30 - Distribuição dos valores de F1 e F2 de cada vogal em VN e D3. .............................. 62 Figura 31 - Distribuição dos valores de F1 e F2 de cada vogal em VN e D4. .............................. 62 Figura 32 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 1 ................................................................ 64 Figura 33 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 2 ................................................................ 64 Figura 34 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 3 ................................................................ 65 Figura 35 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 4 ................................................................ 65 Figura 36 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 5 ................................................................ 65 Figura 37 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 6 ................................................................ 65 Figura 38 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 7 ................................................................ 65 Figura 39 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 8 ................................................................ 65

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Figura 40 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 1 ................................................................ 68 Figura 41 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 2 ................................................................ 68 Figura 42 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 3 ................................................................ 68 Figura 43 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 4 ................................................................ 68 Figura 44 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 5 ................................................................ 68 Figura 45 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 6 ................................................................ 68 Figura 46 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 7 ................................................................ 69 Figura 47 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 8 ................................................................ 69 Figura 48 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 1 ................................................................ 71 Figura 49 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 2 ................................................................ 71 Figura 50 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 3 ................................................................ 71 Figura 51 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 4 ................................................................ 71 Figura 52 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 5 ................................................................ 71 Figura 53 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 6 ................................................................ 71 Figura 54 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 7 ................................................................ 72 Figura 55 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 8 ................................................................ 72 Figura 56 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 1 ................................................................ 74 Figura 57 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 2 ................................................................ 74 Figura 58 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 3 ................................................................ 74 Figura 59 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 4 ................................................................ 74 Figura 60 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 5 ................................................................ 74 Figura 61 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 6 ................................................................ 74 Figura 62 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 7 ................................................................ 75 Figura 63 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 8 ................................................................ 75

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Valores médios de F1 e F2 das vogais (Delgado-Martins, 1973) ................................. 8 Tabela 2 - Resultados do teste t-student na comparação dos valores de F0 entre os Informantes. ........................................................................................................................... 40 Tabela 3 - Resultados do teste de análise de variância (ANOVA).............................................. 43 Tabela 4 - Resultado do teste da análise de variância (ANOVA) para cada género. .................. 44 Tabela 5 – Resultado do teste ANOVA..................................................................................... 48 Tabela 6 - Resultado do teste t-student na comparação entre VN e Disfarce(s). ...................... 57

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende contribuir para o desenvolvimento do conhecimento

sobre o disfarce da voz no âmbito da Fonética Forense. Trata-se, portanto, do estudo

do disfarce numa perspectiva linguística com aplicações para o Reconhecimento de

Falantes.

A Fonética Forense é uma área recente que tem vindo a expandir-se,

progressivamente, face às necessidades actuais. O aumento de casos que envolvem

escutas ou gravações telefónicas, nos últimos anos, destacam a importância da

Fonética para a identificação de indivíduos em ambiente forense.

A tarefa do reconhecimento de vozes é realizada nas mais diversas situações do

quotidiano, o que demonstra que um trecho de fala contém informação não linguística

relacionada com características pessoais dos falantes. O objectivo da Fonética Forense

consiste em procurar esses traços individuais da voz de cada falante que permitam

distingui-lo dos restantes indivíduos. Neste sentido, procuram-se correlatos acústicos

das características anatómicas do aparelho fonador dos indivíduos, uma vez que as

diferentes fisionomias do tracto vocálico deixam marcas específicas do falante no sinal

acústico. Assim, parâmetros relacionados com a fonte (F0) da produção sonora e os

filtros (formantes) que moldam essa fonte de energia são relevantes para a distinção

de falantes.

Contudo, os estudos fonéticos sobre a voz e a fala como ‘ferramenta’ discriminadora

de identidade são recentes, pelo que há, ainda, um longo percurso a explorar sobre as

potencialidades da voz, apesar dos grandes avanços que têm sido feitos nos últimos

anos. Para o Português Europeu, até ao momento, não é conhecido nenhum trabalho

neste sentido. Por outro lado, em casos forenses, é comum o infractor disfarçar a sua

voz para não ser reconhecido. Embora a investigação exploratória no domínio do

disfarce não seja muito abrangente, alguns trabalhos (Reich et al., 1976; Rose &

Simmons, 1996; Künzel, 2000; Zhan e Tan, 2007) demonstraram que parâmetros

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acústicos como a frequência fundamental, a banda formântica ou a duração dos

segmentos são alterados na presença do disfarce.

A necessidade de aprofundar conhecimentos sobre os vários tipos de disfarce e quais

as consequências, que deles advêm, na análise para a identificação do falante são o

ponto basilar que motiva este estudo. O desenvolvimento da investigação no domínio

da Fonética Forense e da Acústica Forense, bem como o contributo do presente

estudo para as instituições judiciais são, também, aspectos pertinentes que justificam

este trabalho. Por último, o presente trabalho visa colmatar a inexistência de estudos

no campo da Fonética Forense para o Português Europeu, servindo como ponto de

partida para trabalhos futuros.

Deste modo, destacam-se os seguintes objectivos: (i) verificar a eficiência de cada

parâmetro na distinção entre falantes, na voz normal; (ii) averiguar se os disfarces

causam alterações nos vários parâmetros acústicos; (iii) verificar se os diferentes

disfarces produzem todos o mesmo efeito nos parâmetros acústicos; (iv) aferir se

todos os parâmetros são, igualmente, afectados por cada disfarce; (v) apurar se

existem parâmetros resistentes ao disfarce; (vi) observar se o efeito do disfarce é

homogéneo entre as vogais; e (vii) constatar se o factor falante tem alguma influência

na performance do disfarce.

Tendo em vista os objectivos mencionados, no segundo capítulo, descreve-se a teoria

acústica da produção de fala (2.1.); caracterizam-se as vogais do Português Europeu do

ponto de vista articulatório e acústico (2.2.); faz-se a descrição das principais questões

formais relacionadas com a Fonética Forense (2.3.); abordam-se alguns parâmetros

perceptivos relevantes para a Identificação de Falantes e descrevem-se estudos sobre

pistas perceptivas no reconhecimento de indivíduos (2.4.); finalmente, o último ponto

diz respeito ao disfarce da voz (2.5).

No terceiro capítulo, faz-se a descrição detalhada das questões metodológicas. Traça-

se a elaboração do desenho experimental, no que diz respeito às questões de partida e

hipóteses subjacentes ao presente trabalho (3.1.), a selecção dos Informantes (3.2.) e

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dos materiais (3.3.); e explicitam-se os detalhes da recolha e tratamento dos dados

(secções 3.4. e 3.5.).

No quarto capítulo, são analisados e discutidos os resultados deste trabalho. Num

primeiro momento, descrevem-se os dados relativos à voz normal (secção 4.1.),

através da análise dos triângulos vocálicos (4.1.1.), F0 (4.1.2.) e formantes (4.1.3.), de

forma a testar a eficiência dos parâmetros acústicos na distinção de falantes (4.1.4) e a

relação entre falantes e vogais (4.1.5.). Na segunda parte deste capítulo (4.2.), faz-se a

comparação dos parâmetros acústicos entre a voz normal e os disfarces (4.2.1);

analisa-se a interacção entre o disfarce e o falante (4.2.2.), bem como a relação entre o

disfarce e as vogais (4.2.3.); por último, verificam-se as consequências produzidas por

cada disfarce nos triângulos vocálicos (4.2.4.).

Finalmente, no quinto capítulo, apresentam-se as conclusões deste trabalho e

confirmam-se ou infirmam-se as hipóteses delineadas (5.1.); listam-se as limitações do

estudo (5.2.) e sugerem-se linhas a desenvolver em trabalhos futuros (5.3.).

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2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.0. Introdução

Neste capítulo, abordam-se, do ponto de vista teórico, algumas questões relevantes

para a Fonética Forense e são referidos vários trabalhos que servem de suporte para a

fundamentação teórica. Em primeiro lugar, apresenta-se a teoria acústica da produção

de fala (2.1) e faz-se a caracterização acustico-articulatória das vogais (2.2.); de

seguida, tratam-se os tópicos mais pertinentes da Fonética Forense, no que diz

respeito à área do Reconhecimento de Falantes (2.3.); posteriormente, descrevem-se

algumas características perceptivas e acústicas da voz que permitem identificar

falantes (2.4.); por fim, o último ponto é inteiramente dedicado à questão do disfarce

da voz (2.5.).

2.1. Teoria acústica da produção de fala

A teoria acústica da produção de fala estabelece uma relação entre a articulação dos

sons e as suas propriedades acústicas. Esta teoria foi desenvolvida por Fant em 1960

na obra Acoustic theory of speech production e é, geralmente, conhecida como teoria

fonte-filtro. Segundo esta, os sons de fala são o resultado da combinação de uma fonte

de energia sonora e de filtros que moldam o som produzido pela fonte. A fonte sonora

pode ser de dois tipos distintos: periódica ou aperiódica. Na primeira, a fonte sonora

corresponde às cordas vocais, ao passo que na segunda, a fonte sonora é o tracto

vocal. O filtro corresponde às várias configurações das cavidades supraglotais. Os sons

resultam, portanto, da relação entre um sistema de fontes sonoras e de filtros, mas o

mecanismo da fonte geradora é independente do processo de filtragem (Stevens,

2000). Isto é, as propriedades acústicas dos filtros não influenciam as propriedades da

fonte. Desta forma, é possível tratar separadamente cada uma das ‘fases’ responsáveis

pela produção da fala. No âmbito deste trabalho, as seguintes considerações serão

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feitas apenas para as cordas vocais como fonte e a cavidade supraglotal oral como

filtro.

2.1.1. Fonte

A fonte de energia acústica é produzida pela vibração das cordas vocais, situadas na

laringe. Devido à pressão do fluxo do ar vindo dos pulmões, as cordas vocais fazem

movimentos sucessivos de abertura e fechamento (vibração). Este sistema mecânico

tem frequências naturais de vibração, aproximadamente entre os 100Hz e 300Hz para

um adulto (Stevens, 2000). É, portanto, a velocidade a que as cordas vocais abrem e

fecham durante a fonação que determina a frequência fundamental do fluxo de ar

glotal (Lieberman & Blumstein, 1988). A frequência de vibração das cordas vocais é

determinada, essencialmente, pela forma e pela massa das mesmas. Assim, quanto

maiores forem as cordas vocais de um adulto, menor será a faixa da frequência

fundamental. Adicionalmente, qualquer falante pode alterar a frequência natural de

vibração das cordas vocais – por exemplo, um aumento da rigidez das cordas vocais

traduz-se no aumento da frequência fundamental (Stevens, 2000). Na verdade, as

mudanças na frequência fundamental têm também uma finalidade linguística e são

usadas na comunicação entre falantes para diferenciar uma frase declarativa de uma

interrogativa ou para estabelecer diferenças de significado nas línguas tonais, por

exemplo.

2.1.2. Filtro

As cavidades supraglotais actuam como um sistema de filtragem, suprimindo a energia

de algumas frequências e amplificando outras. As frequências nas quais há um máximo

de concentração de energia, que são ressonâncias do tracto vocálico, chamam-se

formantes. Durante a produção de uma vogal, as partículas do ar expelido dos

pulmões vibram no tracto vocálico. As frequências de vibração das partículas de ar são

determinadas pela configuração do tracto vocálico que, por sua vez, está dependente

dos movimentos e posições dos vários articuladores (língua, lábios, maxilar, etc.).

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Assim, a forma e tamanho do tracto vocálico determinam as frequências dos

formantes (Lieberman & Blumstein, 1988). Na literatura, é comum recorrer à vogal

schwa para exemplificar o efeito do filtro no som produzido pela fonte. O recurso a

esta vogal prende-se com o facto de esta ser relativamente simples do ponto de vista

da sua caracterização articulatória, isto é, não há protrusão dos lábios, a língua está

em posição de repouso e o véu palatino não permite a passagem do ar para a cavidade

nasal. Num tracto vocal de posição neutra com um comprimento de 17,5cm, a sua

área acústica seria equivalente a um tubo fechado num lado (glote) e aberto no outro

(lábios) o que resultaria num primeiro formante de 500Hz, o segundo de 1500Hz e o

terceiro de 2500Hz. Desta forma, são as alterações na forma do tubo que originam

diferentes configurações do tracto vocálico, e consequentemente diferentes

frequências de ressonância, que dão origem aos vários sons vocálicos.

2.2. Caracterização acústico-articulatória das vogais

2.2.1. Classificação articulatória

Os sons vocálicos são produzidos com vibração das cordas vocais e sem constrições à

passagem do ar no tracto vocálico. A posição dos vários articuladores, como os lábios e

a língua, determinam a produção das diferentes vogais. A identidade das vogais é,

essencialmente, caracterizada segundo três parâmetros: a altura do dorso da língua, o

movimento da raiz e dorso da língua e a posição dos lábios. A descrição dos diferentes

movimentos e posições que os articuladores executam é feita em função da posição

neutra dos mesmos que corresponde à vogal schwa. Relativamente à altura do dorso

da língua, a vogal pode ser alta ( [i], [ɨ] e [u] ), média ( [e], [ɐ] e [o] ) ou baixa ( [ɛ], [a]

e [ɔ] ). Nas vogais altas, o dorso da língua eleva-se em relação à sua posição neutra,

nas vogais médias, o dorso da língua mantém-se na sua posição neutra e, nas vogais

baixas, o dorso da língua baixa em relação à sua posição neutra (Mateus et al., 2005).

O movimento de elevação ou abaixamento do dorso da língua tem uma relação directa

com a abertura da cavidade oral, pelo que as vogais podem, também, ser

caracterizadas através deste critério. Assim, podem ser classificadas em vogais

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fechadas ( [i], [ɨ] e [u] ), médias ( [e], [ɐ] e [o] ) ou abertas ( [ɛ], [a] e [ɔ] ). No que diz

respeito ao movimento de avanço ou recuo da língua, as vogais dividem-se em

anteriores ( [i], [e] e [ɛ] ), centrais ( [ɨ], [ɐ] e [a] ) ou posteriores ( [u], [o] e [ɔ] ). Nas

vogais anteriores, o dorso da língua avança em relação à sua posição neutra, nas

vogais centrais o dorso da língua mantém-se na sua posição neutra e nas vogais

posteriores o dorso da língua recua em relação à sua posição neutra (Mateus et al.,

2005). Por último, a posição dos lábios estabelece um traço distintivo relativo ao

arredondamento dos lábios que permite dividir as vogais em arredondadas ( [u], [o] e

[ɔ] ) e não arredondadas ( [i], [ɨ], [e], [ɐ], [ɛ] e [a] ).

Existem, também, as vogais nasais ( [ĩ], [õ], [ũ], [ẽ] e [ɐ̃] ) que se distinguem das vogais

orais pelo facto de o fluxo de ar proveniente dos pulmões passar não só na cavidade

oral, mas também na cavidade nasal, provocando ressonância nasal. Restam, ainda, as

semivogais ( [w] e [j] ) que são idênticas, do ponto de vista articulatório, às vogais [u] e

[i], respectivamente. No entanto, as semivogais diferenciam-se das vogais, pois são

produzidas com menor intensidade.

2.2.2. Classificação acústica

As características acústicas das vogais estão directamente relacionadas com as suas

propriedades articulatórias. Quer isto dizer que, tal como os vários articuladores se

movem e posicionam de forma a produzir sons diferentes, as características acústicas

de um segmento modificam-se de acordo com as diferentes configurações do tracto

vocálico. O sinal acústico produzido na fonte passa nas cavidades supraglotais que

adoptam diferentes formas e volumes segundo a posição dos articuladores. Se se

pensar na classificação articulatória das vogais [u] e [i], por exemplo, verifica-se que a

posição da língua e dos lábios é diferente em cada vogal, o que origina diferentes áreas

no tracto vocálico. Cada uma destas áreas actua como uma caixa de ressonância com

frequências naturais próprias (formantes). Retomando a posição dos articuladores na

vogal ‘neutra’ schwa, cujos valores dos formantes são 500hz, 1500hz e 2500hz para F1,

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F2 e F3, respectivamente, facilmente se verifica que a passagem para outra vogal cria

novas áreas de ressonância, devido à nova configuração do tracto vocálico e,

consequentemente, novos valores dos formantes. As frequências destes formantes são

a identidade acústica das vogais, ou seja, cada vogal tem uma configuração formântica

específica que permite distinguí-las entre si. O primeiro e segundo formantes (F1 e F2)

são os responsáveis pela determinação da qualidade da vogal, pois F1 está relacionado

com o movimento articulatório de elevação e abaixamento da língua e F2 relaciona-se

com o movimento de avanço e recuo da língua. A relação entre o movimento da língua

e estes formantes permite estabelecer a ligação entre os traços articulatórios e

acústicos das vogais. A relação de F1 com a elevação/abaixamento da língua é

proporcionalmente inversa, isto é, as vogais baixas caracterizam-se por terem um F1

alto e as vogais altas por terem um F1 baixo. Em relação a F2, as vogais anteriores

caracterizam-se por terem valores elevados de F2 e as vogais posteriores por terem

valores baixos de F2.

Os vários trabalhos de Delgado-Martins foram o salto impulsionador na investigação

da fonética acústica do Português Europeu (PE). Em Delgado-Martins (1973), são

analisadas e estudadas as características formânticas das vogais orais tónicas do

Português Europeu. Neste artigo, a autora descreve os valores médios de frequência

do primeiro e segundo formantes de cada vogal (Tabela 1) e, simultaneamente,

estabelece o triângulo vocálico do PE.

Tabela 1 - Valores médios de F1 e F2 das vogais (Delgado-Martins, 1973)

F1 F2

[i] 293,58 2343,53

[e] 403,19 2083,94

[ɛ] 501,10 1893,21

[ɐ] 511,30 1602,07

[a] 626,04 1325,77

[ɔ] 530,70 993,91

[o] 425,53 863,59

[u] 315,00 677,80

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A disposição dos valores de F1 e F2 em ordenada e absissa, respectivamente,

determinam o triângulo vocálico de uma língua em geral ou de um falante em

particular. Este é de grande relevo porque permite observar, através da sua

configuração, marcas específicas de cada indivíduo. Contudo, importa realçar que não

existem valores fixos para os formantes das vogais. Na verdade, os valores dos

formantes de um segmento são influenciados pelo contexto fonético em que se insere.

O fenómeno da coarticulação, isto é, a influência que um segmento exerce nos

segmentos adjacentes, altera os valores dos formantes de um mesmo segmento em

contextos fonéticos diferentes. Por outro lado, os formantes estão directamente

relacionados com as características fisiológicas do tracto vocal, pelo que as diferentes

fisionomias do tracto de cada indivíduo potenciam diferenças nos valores dos

formantes (variação inter-falante).

Existem, ainda, outros parâmetros que contribuem para a definição acústica das vogais

como a duração, a intensidade, a energia ou o F0 intrínseco da vogal que não cabe

abordar neste trabalho, já que não foram objecto de estudo.

2.3. Fonética forense

2.3.1. Caracterização

A Fonética Forense é uma ciência que corresponde à utilização de conhecimentos,

teorias e métodos fonéticos com finalidades judiciais. O carácter forense pode, na

verdade, ser aplicado a qualquer área da Linguística, mas o crescente aumento de

casos judiciais que envolvem escutas ou gravações telefónicas sublinham a relevância

da Fonética na identificação de falantes em ambiente forense. O caso Augustynek1

(Kredens & Góralewska-Lach, 1998) é um exemplo da resolução de um caso com base

em provas linguísticas que demonstra a importância da Fonética e do contributo de

outras áreas da linguística na resolução do mesmo. A utilização de pistas fonéticas 1 Em 1994, o centro de Cracóvia, Polónia, foi alvo de várias ameaças de bomba. Durante dez dias, telefonemas anónimos ameaçavam explodir bombas deixadas no centro da cidade, caso não fosse paga uma elevada quantia de dinheiro.

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como a média da frequência fundamental, os traços articulatórios, a duração dos

segmentos, as marcas de hesitação, as frequências dos formantes das vogais ou a

qualidade da voz e o recurso a pistas morfológicas, dialectais e sintácticas permitiram

concluir que o autor das gravações e o suspeito eram o mesmo indivíduo.

O principal objecto de estudo da Fonética Forense relaciona-se com o reconhecimento

de falantes, embora outras áreas como a autenticação de gravações ou a identificação

do conteúdo de uma gravação (Rose, 2002) estejam também incluídas nas linhas de

investigação da Fonética Forense. Aparentemente, a noção de reconhecimento de

falantes através da voz parece simples, mas diferentes situações, como ser

reconhecido por alguém pelo telefone ou aceder à conta bancária através do

reconhecimento automático de voz, demonstram que existem vários tipos de

reconhecimento de falantes.

A tarefa do reconhecimento de falantes pode ser definida como qualquer processo de

decisão que usa algumas características do sinal de fala para determinar se uma

pessoa em particular é o falante de determinado enunciado (Atal, 1976; apud Rose,

2002). Existem duas tarefas dentro do reconhecimento de falantes – a verificação e a

identificação – que se relacionam com problemas e pressupostos específicos. Segundo

Nolan (1983), a verificação consiste na comparação de uma amostra de fala de um

indivíduo com amostras de referência do mesmo sujeito, de forma a verificar se existe

correspondência. A tarefa de verificação pode ter aplicações em bancos ou sistemas de

segurança, por exemplo, em que é necessário confirmar a identidade de determinado

falante. A identificação consiste, ainda segundo Nolan (1983), na atribuição (ou não)

do enunciado de um sujeito desconhecido a um indivíduo de uma população de que

estão disponíveis amostras de referência. Geralmente, é na identificação que recai o

tipo de reconhecimento que o contexto forense envolve. A verificação e identificação

têm em comum a comparação de duas amostras de fala com o objectivo de averiguar

se pertencem ou não ao mesmo indivíduo.

Observem-se, a título exemplificativo, os espectrogramas seguintes (Figuras 1 e 2)

provenientes de um caso forense real com disfarce de voz (nasalidade). O primeiro

espectrograma pertence ao infractor, cuja identidade se desconhece (gravação X) e o

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segundo diz respeito ao suspeito (gravação K). Este é um caso que exemplifica a tarefa

de identificação, uma vez que se pretendia confirmar se o suspeito era o mesmo

sujeito que o autor da gravação X.

Figura 1 – Espectrograma do enunciado Minha querida, eu tentei informar que não esqueço ainda dos

documentos que levaste, portanto eu agradecia que os devolvesses (gravação X).

Figura 2 – Espectrograma do enunciado Minha querida, eu tentei informar que não esqueço ainda dos

documentos que levaste, portanto eu agradecia que depois (que) os devolvesses (gravação K).

Para além das diferentes aplicações de cada tarefa, existem outras diferenças entre a

identificação e verificação de falantes que as distingue. Rose (2002) aponta como

principais distinções as propriedades de referência do conjunto de falantes envolvidos

que assenta na distinção entre conjuntos abertos versus fechados e conjuntos

conhecidos versus desconhecidos. Num conjunto fechado, sabe-se que o falante a ser

identificado está entre a população de referência de falantes, enquanto que num

conjunto aberto, o falante pode ou não estar incluído nessa população. Esta distinção

entre conjuntos abertos e fechados não é relevante para a verificação já que se

assume que o indivíduo, cuja identidade é reclamada, está inserido no conjunto de

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referência dos falantes. Por outro lado, na verificação o conjunto é conhecido, ao

passo que na identificação o conjunto pode ser conhecido ou desconhecido.

Dentro do reconhecimento de falantes distinguem-se três tipos de reconhecimento:

naïve – reconhecimento perceptivo; semiautomático – utilização da tecnologia, como

os espectrogramas, por peritos treinados; automático – utilização de sistemas

computadorizados na associação de vozes e falantes. O reconhecimento

semiautomático e automático envolve a aplicação de técnicas analíticas, quer

humanas quer automáticas, ao contrário do reconhecimento naïve que é

desempenhado por pessoas comuns sem treino específico. Baseado nesta distinção, o

reconhecimento de falantes pode categorizar-se em duas classes distintas:

reconhecimento técnico e reconhecimento naïve (Nolan, 1983). Esta categorização,

proposta por Nolan, permite diferenciar o reconhecimento de falantes baseado na

habilidade humana inata de reconhecer vozes de técnicas especializadas, quer sejam

perceptivas, visuais ou electrónicas.

2.3.2. Fonética Acústica

Foi já referido, anteriormente, que a Fonética Forense utiliza os recursos e métodos

fonéticos tradicionais para o reconhecimento de falantes. Como tal, vários parâmetros

são analisados para obter o máximo de informação individual sobre determinada voz,

de forma a poder relacioná-la com um indivíduo em particular. Na verdade, não existe

um conjunto de parâmetros definido e a escolha dos mesmos é, na generalidade,

ditada pela especificidade de cada caso. Ao longo dos anos, várias foram as tendências

para manter a análise perceptiva separada da análise acústica, mas a actual

abordagem centra-se na conjugação dos dois tipos de análise. De facto, o recurso

tanto à análise perceptiva como à acústica é indispensável uma vez que cada uma, por

si só, revela-se em muitos casos insuficiente. A utilização de parâmetros acústicos na

fonética forense é extremamente importante, pois a Fonética Acústica permite fazer

uma análise quantitativa e precisa dos traços perceptivos que caracterizam uma voz.

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Desta forma, a análise forense deve contemplar a análise de parâmetros perceptivos e

acústicos que, em conjunto, permitem fazer uma descrição mais rigorosa da voz.

2.3.3. Factores condicionantes

Como tem vindo a ser dito, a principal tarefa da Fonética Forense assenta na extracção

das principais características de uma voz que permitam relacioná-la e atribuí-la a

determinado falante. No entanto, esta tarefa está longe de ser uma tarefa simples,

pois existem vários factores condicionantes que dificultam a análise e tornam a

identificação de falantes numa tarefa bastante complexa. Em primeiro lugar, a

principal dificuldade do reconhecimento de falantes relaciona-se com o facto de não

existirem traços no sinal de fala que veiculem, exclusivamente, a informação

discriminadora do falante (Figueiredo, 1994), ao contrário do que sugere o termo

voiceprint introduzido por Kersta (1962; apud Nolan 1983) na década de sessenta. No

início dos estudos forenses da voz, alguns investigadores interpretaram o termo

voiceprint como sendo uma forma gráfica de representação da voz com um valor de

identidade individual e exclusivo semelhante ao termo fingerprint. Porém, o sinal de

fala é, principalmente, determinado pela mensagem linguística, pelo que as

informações inerentes ao falante veiculam-se indirectamente no sinal acústico

produzido por cada indivíduo. Esta é uma das principais diferenças que distingue a

identificação de falantes de outras técnicas, como a análise de impressões digitais ou o

ADN, que assentam na identificação de pessoas a partir de características intrínsecas a

cada indivíduo. O carácter variável das emissões de fala demonstra bem que, ao

contrário de outros traços individuais anteriormente referidos, a voz não é um

‘instrumento’ com propriedades fixas e inalteráveis. De facto, a variação intra-falante é

muitas vezes um dos factores que mais dificultam a identificação de falantes. São

várias as circunstâncias que contribuem para a impossibilidade de produzir dois

enunciados idênticos. Factores como o contexto social (formal versus informal), o

contexto situacional (presença de stress psicológico ou estado emocional), entre

outros, contribuem para a variabilidade dos parâmetros de identificação. Apesar da

variação intra-falante ser constante e dificultar a tarefa de comparação entre duas

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amostras de fala, essa variação não impossibilita a identificação, já que o pressuposto

de base é o de que a variação inter-falante é superior à variação intra-falante. A

variação intra-falante é uma limitação relacionada com a produção de fala, mas

existem outros problemas e limitações de ordem técnica. Uma das limitações técnicas

mais frequentes no contexto forense diz respeito à banda telefónica. A banda

telefónica tem um limite de frequências entre os 300Hz e os 3400Hz, pelo que todos os

parâmetros inerentes ao falante que se situem fora dessas frequências não são

captados, apesar de poderem ser reconstituídos pelos ouvintes. Assim, o espectro das

consoantes fricativas ou os formantes mais altos das vogais não podem ser usados

como parâmetros de identificação (Jessen, 2008). Por outro lado, a má qualidade das

gravações, a presença de eco ou barulho de fundo dificultam em muito a tarefa do

perito. Outra agravante está relacionada com a reduzida duração das amostras. Por

um lado, quanto mais reduzida for a gravação menos representativa é do padrão de

fala de um indivíduo e, por outro lado, se a amostra for muito reduzida pode não

conter os segmentos que são mais ricos em características dependentes do falante

(Jessen, 2008).

2.4. Identificação de falantes

Todos os seres humanos são dotados de capacidades para reconhecer indivíduos

apenas através da voz nas mais variadas situações do dia-a-dia. Um telefonema

anónimo ou uma personalidade famosa a discursar na rádio são apenas exemplos que

demonstram a capacidade humana de reconhecer vozes. Quando ouvem uma frase, os

indivíduos percebem o seu conteúdo linguístico e, ao mesmo tempo, reconhecem a

identidade do falante, mesmo sob várias condições adversas como a presença de ruído

de fundo ou várias pessoas a falar em simultâneo. A capacidade dos indivíduos para

reconhecer vozes sugere que estes armazenam informação detalhada sobre as vozes

das pessoas que conhecem ao longo da vida (Hollien & Schwartz, 2001), da mesma

forma que armazenam informação sobre particularidades físicas das pessoas, como

traços faciais ou a cor do cabelo. Neste sentido, o tempo de contacto com uma voz, a

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familiaridade do ouvinte com a voz (Amino & Arai, 2008) ou a própria habilidade do

ouvinte são preponderantes na tarefa do reconhecimento de vozes. Por outro lado,

mesmo sem conhecer o enunciador de uma frase, o ser humano possui a capacidade

de lhe atribuir algumas características gerais como o sexo, a idade ou o estado

emocional. Assim, quando se ouve alguém falar, e não se tem informação visual sobre

o falante, os indivíduos podem reconstruir algumas características físicas ou

emocionais a partir de pistas acústicas.

A identificação do sexo de um falante é relativamente acessível, pois a separação entre

o sexo feminino e o masculino assenta na diferença da frequência fundamental (F0)

que, geralmente, é mais elevada nas mulheres (200Hz, em média (Stevens, 2000)) do

que nos homens (120Hz, em média (Stevens, 2000)). Ainda assim, a distinção entre o

sexo feminino e o masculino não é sempre evidente, já que valores de F0 que se

aproximem muito dos limites da gama de frequências associadas a cada sexo podem

ser difíceis de discriminar. Vários estudos demonstram que existem outras pistas para

identificar o sexo do falante para além de F0. Schwartz (1968, apud Figueiredo, 1994)

observou que é possível determinar o sexo do falante sem utilizar pistas com fonte

glotal. A partir de consoantes fricativas não vozeadas, Schwartz verificou que o ponto

de concentração de energia é mais elevado nas mulheres, consequência do menor

tamanho do tracto vocálico feminino. As diferenças entre os dois sexos estão,

também, associadas a questões ritmico-temporais (Kaiser, 1940; apud Figueiredo,

1994). Khuen e Moll (1976) sugerem que o facto de as mulheres falarem mais rápido

do que os homens deve-se, uma vez mais, ao menor tamanho do tracto vocálico

feminino que provoca movimentos mais rápidos entre os articuladores. Lasse et al.

(1979) realizaram um estudo sobre a relação entre pistas acústicas e a identificação do

peso e altura dos falantes e verificaram que existem pistas perceptivas que reflectem

características físicas como o peso e altura dos indivíduos. Neste estudo, verificou-se

também que o tamanho do enunciado não tem influência na avaliação de peso/altura.

Estes resultados sugerem a existência de uma relação entre F0 e altura/peso; no

entanto, Künzel (1989) realizou um estudo para averiguar esta associação e não

encontrou nenhuma correlação entre estes factores. Shipp & Hollien (1969) revelam

que, no seu estudo, houve um elevado acerto entre a idade dos participantes, que

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abrangia uma gama de 70 anos, e a idade estimada pelos informantes. Todos estes

estudos demonstram que a voz é um ‘instrumento’ extremamente rico, transportador

de pistas perceptivas que podem revelar muitas informações sobre o falante.

2.4.1. Parâmetros perceptivos

O facto de os seres humanos serem capazes de associar vozes a indivíduos significa

que cada voz tem marcas individuais que os permite reconhecer falantes. Dito de

outro modo, para além do conteúdo linguístico de um continuum sonoro existe,

também, informação linguística e extra-linguística relacionada com aspectos

individuais do falante que se veiculam simultaneamente no sinal acústico. A

informação linguística está relacionada com o contexto linguístico do falante e a

informação extra-linguística relaciona-se com as características anatómicas do tracto

vocálico do falante. Neste sentido, o sinal de fala deve ser entendido como uma função

complexa que envolve não apenas traços anatómicos mas também factores sócio-

culturais (Figueiredo, 1994).

A produção linguística dos falantes é reflectora de marcas sócio-culturais, na medida

em que cada falante se expressa através de uma língua particular, exibindo traços

dialectais e sociolectais que o caracterizam. As variáveis sociológicas como o contexto

social ou a educação e a localização geográfica contribuem, portanto, para a

caracterização de um falante. O factor social e dialectal não constitui, por si só, um

parâmetro de identificação, já que as marcas dialectais e sociolectais são partilhadas

por comunidades linguísticas e não exclusivamente por um só falante. A este nível, a

noção de idiolecto é bastante interessante, pois Baldwin (1979; apud Nolan, 1983)

sugere que, mesmo numa comunidade dialectal, cada indivíduo continua a ter a sua

forma preferida de pronunciar as palavras. Segundo o mesmo autor, a combinação das

inúmeras alternativas de pronunciação das palavras dá origem a uma forma particular

de falar, isto é, um idiolecto. Mas, ainda que os traços dialectais e sociolectais não

sejam, em exclusivo, determinantes para a identificação de um falante, estes são

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relevantes para o modelo forense, pois contribuem para a descrição do perfil da voz do

falante.

Outro domínio que fornece pistas para a identificação do falante é a qualidade da voz.

À qualidade da voz atribuem-se duas componentes: a componente orgânica e a

componente de setting articulatório (Laver, 1980). Estas duas componentes

distinguem-se, essencialmente, pelo facto de a primeira não poder ser controlada pelo

falante, ao passo que a segunda é deliberadamente controlada por cada indivíduo.

Segundo Laver, a primeira componente está relacionada com a fisiologia e anatomia

do tracto vocálico de cada falante em particular. A anatomia do falante condiciona a

sua qualidade da voz através da dimensão, massa e geometria dos órgãos vocálicos,

pelo que o tamanho do tracto vocálico ou o volume da cavidade nasal, por exemplo,

contribuem para a qualidade da voz de um falante. A segunda componente diz

respeito a configurações articulatórias habituais que cada indivíduo adopta quando

fala, pois, de acordo com Laver, cada falante tende a usar configurações específicas do

seu tracto vocálico na sua forma natural de falar. Na obra The phonetic description of

voice quality, Laver (1980) faz a descrição da qualidade da voz distinguindo dois tipos

de settings - os supralaríngeos e os fonatórios – sendo que estes são descritos como

‘desvios’ da configuração neutra do tracto vocálico. Assim, segundo Laver, alterações

na configuração neutra do tracto vocálico supralaríngeo resultam em mudanças

longitudinais, latitudinais ou velofaríngeas do tracto vocálico. As alterações do eixo

longitudinal resultam em quatro tipos de deslocamento dos órgãos da sua posição

neutra. Os dois primeiros implicam movimentos verticais da laringe, ou seja, o

levantamento e abaixamento da laringe. O terceiro tipo de modificação envolve a

protrusão dos lábios e o quarto implica a retracção e levantamento do lábio inferior.

Os settings latitudinais envolvem tendências quase permanentes para manter um

efeito constritivo ou expansivo na área de secção transversal nalgumas posições ao

longo do comprimento do tracto vocálico. Essas tendências podem ser originadas pela

acção de vários órgãos nomeadamente os lábios, a língua, a faringe e o queixo. As

mudanças velofaríngeas do tracto vocálico dizem respeito à nasalidade, pelo que o

autor distingue dois settings que dão origem à voz nasal e voz não-nasal. Por último, os

settings fonatórios estão relacionados com o comportamento da laringe que permite

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categorizá-los em cinco modos de vibração da laringe (falsete, sussurro, creak,

harshness e breathiness) para além da voz modal.

2.4.2. Parâmetros acústicos

Os parâmetros de identificação de falantes descritos no ponto anterior (contexto

social/dialectal e qualidade da voz) são, geralmente, obtidos através de uma análise

perceptiva. Porém, alguns eventos são melhor captados acusticamente. A frequência

fundamental (F0) é considerada por muitos autores um dos parâmetros mais

importantes em fonética forense, sobretudo porque é considerado um parâmetro

robusto, uma vez que pode ser extraído mesmo em gravações de má qualidade (Rose,

2002). Tal como se demonstrou através da teoria fonte-filtro (2.1.), a produção de sons

vocálicos envolve a vibração das cordas vocais que actuam como fonte. A frequência

fundamental é o correlato acústico da frequência de vibração das cordas vocais que é

determinada pelo tamanho das mesmas - massa e comprimento. Quanto maiores

forem as cordas vocais mais baixos são os valores de F0. As diferenças da frequência

fundamental, relacionadas com o tamanho das cordas vocais, permitem distinguir (na

maioria dos casos) a voz masculina da voz feminina pois, geralmente, as mulheres têm

as cordas vocais mais pequenas do que os homens. A frequência fundamental revela,

portanto, características específicas do falante uma vez que as dimensões das cordas

vocais variam de indivíduo para indivíduo. No entanto, os valores de F0 de um falante

não são invariáveis. São, aliás, vários factores que contribuem para as mudanças da

frequência fundamental. Vários estudos demonstram que alterações do estado

emocional provocam variações em F0. Ghiurcau et al. (2010) realizaram um estudo,

testando cinco tipos de emoções (alegria, aborrecimento, medo, raiva e neutro) e

verificaram que, à excepção do ‘aborrecimento’, todas as outras emoções se afastam

do padrão de frequência fundamental do estado neutro, manifestando um aumento

nos valores de F0. Neste sentido, sabe-se, também, que a presença de stress

psicológico influencia os valores da frequência fundamental. Apesar das dificuldades

para simular o stress psicológico em laboratório, alguns autores conseguiram induzir o

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stress através da execução de tarefas em tempo limitado. Hecker et al. (1968; apud

Figueiredo 1994) observaram que os valores médios de F0 sobem sob a presença de

stress, embora nalguns participantes do estudo se tenha observado o efeito contrário.

Outras alterações das frequências de F0 estão relacionadas com diferenças temporais

entre duas amostras que implicam sempre variações neste parâmetro. Garrett &

Healey (1987; apud Romero, 2001) observaram que o valor médio de F0 varia ao longo

do dia (manhã, início de tarde e fim de tarde). Outros autores estudaram as variações

de F0 em intervalos de tempo maiores e os resultados convergem todos no mesmo

sentido, demonstrando que a frequência fundamental sofre alterações entre dois

pontos temporais. Segundo Romero (2001), o índice de variabilidade de F0 será tanto

maior quanto maior for a duração do intervalo temporal. Por último, factores

relacionados com a ingestão de álcool, consumo de substâncias psicotrópicas ou

estado de saúde (gripes ou depressões) podem ter um efeito considerável nas medidas

de F0. Todos estes factores, que podem, potencialmente, influenciar a frequência

fundamental, demonstram que deve haver um controlo destas variáveis quando se

comparam duas gravações. Outros parâmetros relacionados com F0 são o jitter e o

shimmer que correspondem às microperturbações da frequência (jitter) e da

amplitude (shimmer) (Figueiredo, 1994). A utilização destes parâmetros pode ser

relevante para o contexto forense, porque estas perturbações estão associadas à

qualidade de voz.

Outro parâmetro acústico frequentemente analisado no contexto forense é o padrão

formântico das vogais. Como foi descrito na teoria acústica de produção de fala (2.1.),

os formantes são o resultado de diferentes áreas de ressonância do tracto vocálico.

Teoricamente, o número de formantes é infinito (Rose, 2002) mas apenas os primeiros

são tidos em conta devido às condições em que é obtida a gravação no contexto

forense (má qualidade ou limitação da banda telefónica, por exemplo). F1 e F2 têm

uma relação directa com os movimentos da língua (avanço/recuo e

elevação/abaixamento) e são os principais responsáveis pela qualidade da vogal, como

foi já referido no ponto 2.2. A relação de F1 e F2 com a identidade da vogal restringe,

em parte, a variação inter-falante, já que as variações de F1 e F2 só podem existir

dentro dos limites impostos pelo sistema vocálico de cada língua. Contudo, as

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frequências de F1 e F2 das vogais fornecem informação relevante para a identificação

de falantes na medida em que os valores destes formantes denotam as tendências

articulatórias de cada indivíduo, como a retracção permanente da língua. Por outro

lado, as frequências dos formantes são determinadas pelo tamanho e pelas diferenças

nas várias secções do tracto vocálico do falante (Jessen, 2008). Para além de F1 e F2,

existem outros formantes superiores, como F3 e F4, que não têm uma acção directa na

identidade da vogal, mas estão relacionados com as características anatómicas do

tracto vocálico de cada falante. Acredita-se que os formantes superiores reflectem as

ressonâncias de cavidades relativamente fixas, como a laringe, que geralmente são

pouco afectadas pelas mudanças na configuração do tracto vocálico, aquando da

produção dos diferentes sons (Rose, 2002). O facto de os formantes superiores serem

reflectores das características específicas de cada indivíduo torna-os um parâmetro

robusto para a identificação de falantes, no entanto, como foi referido, as

circunstâncias em que são obtidas as gravações inviabilizam, muitas vezes, a sua

utilização.

2.5. Disfarce

A presença do disfarce é, sem dúvida, um dos factores que mais dificulta a tarefa do

perito forense, dado que o disfarce pode distorcer a voz e produzir uma enorme

variação dos parâmetros tais como F0, frequência dos formantes, banda formântica e

duração dos segmentos, o que afecta significativamente a identificação do falante

através dos espectrogramas. A problemática do disfarce de voz começa na sua própria

definição. Em contraste com o processo normal de produção de fala, vários factores

como estados patológicos específicos (gripes ou estado psicológico, por exemplo)

podem modificar as características gerais do tracto vocálico e as suas propriedades

acústicas e, de alguma forma, camuflar a identidade do falante. Estas situações,

embora actuem como um disfarce, não são controladas pelo indivíduo. Por disfarce

entende-se a acção deliberada de um falante que altera a sua voz, discurso ou língua

com o propósito de esconder a sua identidade. Note-se que a detecção de muitas

formas de disfarce pressupõe o conhecimento do comportamento vocal do falante

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sem disfarce, que muitas vezes é inexistente em situações forenses (Künzel, 2000). A

título exemplificativo, Künzel (2000) imagina uma gravação desconhecida que contém

a voz de um indivíduo, cuja qualidade é extremamente nasal. Sem referências da

forma normal de fala do mesmo indivíduo, a voz da gravação pode ser entendida como

um disfarce, mas pode ser, efectivamente, a qualidade de voz do falante.

O disfarce de voz pode ser classificado em deliberado versus não-deliberado e

electrónico versus não-electrónico (Rodman, 2000). O disfarce deliberado-electrónico

corresponde à utilização de aparelhos electrónicos para alterar a voz, enquanto o não-

deliberado-electrónico inclui as distorções e alterações na voz provocadas pelas

propriedades dos canais de transmissão ou limitações da banda telefónica, por

exemplo. O disfarce não-deliberado-não-electrónico diz respeito às alterações já

comentadas anteriormente que resultam de estados involuntários, como estado

emocional, doenças, consumo de álcool ou drogas. Por fim, o disfarce deliberado-não-

electrónico é o que se enquadra na definição de disfarce antes apresentada,

correspondente à distorção da voz através de alterações na configuração do tracto

vocálico ou na forma de fonação tal como produção de falsetes ou bloqueio das fossas

nasais. É neste último tipo de disfarce que incide o presente trabalho. Künzel (2000)

apresenta os tipos de disfarce mais frequentes no contexto forense e classifica-os em

quatro categorias distintas, segundo o aspecto em que incidem. O autor categoriza os

diferentes tipos de disfarce em: alterações de voz (levantamento e abaixamento de

pitch2, voz chiada, rouquidão artificial e voz sussurrada), características de ressonância

(objecto no tracto vocálico, ressoador adicional – ex. caneca perto da boca,

hipernasalidade e lenço à frente da boca), língua (mudança de dialecto e simulação de

um sotaque estrangeiro) e a forma de falar (redução ou exagero na variação do pitch e

mudanças no tempo de fala). A lista apresentada por Künzel não é exaustiva, mas

demonstra bem a multiplicidade de formas possíveis para camuflar a identidade de um

falante. Assim, percebe-se facilmente que muitos dos disfarces apresentados

provoquem alterações significativas nos parâmetros acústicos do sinal de fala,

nomeadamente nos valores da frequência fundamental, nas frequências dos

2 O pitch é o correlato perceptivo da frequência fundamental.

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formantes, na banda formântica ou na duração dos segmentos, o que dificulta ou

impossibilita, muitas vezes, a identificação do falante. Por outro lado, alguns disfarces

serão mais eficazes do que outros, isto é, determinados disfarces provocarão mais

modificações no sinal acústico do que outros. Da mesma forma, certos parâmetros

acústicos podem ser afectados por um tipo de disfarce mas podem ser impermeáveis a

um outro tipo. A eficácia do disfarce está, também, relacionada com o indivíduo que o

efectua. Dito de outro modo, nem todos os falantes são igualmente aptos para

efectuar um tipo de disfarce, já que a habilidade para disfarçar a voz está dependente

do poder de manipulação dos órgãos vocais, pelo que o mesmo disfarce pode ser

eficaz para um falante e ineficaz para outro.

A literatura sobre o disfarce de voz não é muito extensa. É necessário, por um lado,

estudar as várias possibilidades de disfarce e, por outro lado, é preciso alargar a

análise aos vários parâmetros acústicos. No entanto, alguns trabalhos demonstram

que a presença do disfarce interfere nos parâmetros acústicos.

Reich et al. (1976) testaram o efeito de seis tipos de disfarce (imitação da voz de um

velho, rouquidão, hiper-nasalidade, diminuição do tempo de fala e disfarce à escolha)

na identificação de falantes através da análise espectrográfica. Os resultados

revelaram que a presença do disfarce interfere na identificação de falantes, pelo que a

taxa de correcta identificação decresce significativamente. Os autores afirmam que,

embora todos os disfarces interfiram na identificação do falante, alguns são mais

eficazes que outros. A nasalidade e a diminuição no tempo de fala foram os disfarces

menos eficazes. A justificação para a ineficácia destes disfarces prende-se com o facto

de, no caso da nasalidade, o espectro gerado durante a fonação nasal ser fortemente

dependente das características anatómicas do falante. A diminuição no tempo de fala,

apesar de aumentar a duração das vogais e das palavras, provoca poucas alterações

nas frequências dos formantes e na banda formântica. Segundo os autores, a fraca

percentagem de correcta identificação nos disfarces da imitação da voz de um velho e

rouquidão deve-se, possivelmente, às alterações da fonte laríngea.

Rose & Simmons (1996) estudaram a influência de alguns tipos de disfarce no padrão

formântico das vogais. Neste estudo, são abordados os disfarces relativos à imitação

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de um sotaque regional, imitação da voz de um comentador político, colocação de um

lenço à frente da boca e imitação de uma voz feminina. Os autores concluem que o

primeiro e segundo formantes apresentam sempre diferenças consideráveis,

independentemente do disfarce usado. Relativamente a F3 e F4, os autores afirmam

que a existência de diferenças depende do tipo de disfarce. Na imitação do

comentador político e da voz feminina, F3 e F4 apresentaram diferenças substanciais

contudo, na colocação do lenço à frente da boca ou na imitação de um sotaque, F3 e

F4 não diferiram consideravelmente. Ainda neste artigo, os autores mencionam que o

disfarce que envolvia uma alteração no tipo de fonação (falsete) teve de ser excluído

porque não podia ser adequadamente analisado pelo computador, dado que o

formant tracker3 confundia as harmónicas com os formantes. Esta constatação é

bastante interessante uma vez que demonstra as limitações impostas pelo disfarce na

utilização de uma ‘ferramenta’ de análise para medição dos formantes.

Num outro estudo sobre o disfarce da voz, Künzel (2000) testa os efeitos de três

disfarces (aumento de F0, descida de F0 e desnasalização apertando o nariz) na

frequência fundamental. Os resultados sugerem que é possível recuperar a frequência

fundamental natural de um falante, com uma margem de erro aceitável, se o disfarce

consistir na descida de F0 ou na desnasalização. Contudo, se o disfarce envolver a

subida de F0 os dados não permitem inferir, com precisão, a frequência fundamental.

O autor observa, ainda, que houve um decréscimo no tempo de fala particularmente

nos disfarces que envolvem a subida e descida de F0. Adicionalmente, observa-se um

aumento do número e duração das pausas que pode ser explicado como consequência

da configuração inabitual dos órgãos articulatórios que exige mais concentração e

esforço na articulação por parte do falante.

Zhang & Tan (2007) estudaram o efeito de dez tipos de disfarce na performance de um

sistema automático de reconhecimento de falantes. Os disfarces testados foram o

aumento de F0, a descida de F0, a rapidez e o abrandamento de elocução, o sussurro,

a nasalidade, uma máscara à frente da boca, o uso de um bite block (lápis), um objecto

3 O formant tracker é uma ferramenta disponível em vários softwares de análise acústica da voz que localiza, automaticamente, os formantes nos espectrogramas.

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na boca (pastilha elástica) e um sotaque estrangeiro. Os autores concluíram que, em

comparação com a voz normal, a taxa de correcta identificação diminui

substancialmente na presença de qualquer disfarce, à excepção do sotaque

estrangeiro. Contudo, os disfarces que mais degradaram a eficiência do sistema de

reconhecimento de falantes foram a máscara à frente da boca, a subida de F0 e o

sussurro. Em segundo lugar, os disfarces relativos à pastilha elástica, descida de F0 e

nasalidade foram os que tiveram mais influência no desempenho do sistema.

Constatou-se que o sistema automático de reconhecimento de falantes é eficiente nos

restantes disfarces, uma vez que o seu efeito não é significativo. Neste estudo

demonstrou-se, ainda, que a variação inter-falante existe não só na voz normal, mas

também no disfarce. Assim, a extensão da variação inter-falante difere para cada tipo

de disfarce, já que alguns falantes estão mais aptos para determinados disfarces. Neste

sentido, os autores verificaram que um determinado disfarce não é eficaz para todos

os indivíduos.

Depois de abordadas as principais questões relacionadas com a Fonética Forense e

reunidas algumas perspectivas que servem de suporte teórico no contexto da

Identificação de Falantes, pode proceder-se à análise exploratória dos dados, a fim de

compreender a influência do disfarce na voz.

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3. METODOLOGIA

3.0. Introdução

Neste capítulo são apresentados todos os detalhes metodológicos. Em primeiro lugar,

descreve-se o desenho experimental e propõem-se as hipóteses subjacentes a este

trabalho (3.1.); em segundo lugar, caracterizam-se os Informantes que participaram no

estudo (3.2.); de seguida, descreve-se a elaboração dos materiais utilizados (3.3.) e faz-

se a descrição da recolha de dados (3.4.); por último, no ponto 3.5., explica-se como

foram tratados os dados relativamente à análise espectrográfica (3.5.1) e estatística

(3.5.2).

3.1. Desenho Experimental

É indiscutível que os seres humanos são capacitados para a identificação de vozes e

que, mesmo sem visualizar o emissor de um trecho de fala, são capazes de lhe atribuir

algumas características físicas ou psicológicas (Lasse et al., 1979; Shipp & Hollien,

1969). Estes factos demonstram que, para além do seu conteúdo linguístico, um

continuum sonoro possui informação inerente ao falante nele codificada.

O Reconhecimento de Falantes assenta na premissa de que o sinal acústico produzido

por um indivíduo contém marcas específicas do mesmo que se veiculam

indirectamente no sinal de fala. A assunção de que cada falante imprime traços

individuais em qualquer produção discursiva baseia-se no facto de o sistema produtor

dos sons de fala - combinação de uma fonte de energia sonora e de filtros que moldam

o som produzido pela fonte (Fant, 1960) - estar directamente relacionado com as

características anatómicas do aparelho fonador de cada falante. Desta forma, assume-

se que parâmetros acústicos como a frequência fundamental (F0) ou os formantes das

vogais fornecem informação particular sobre os indivíduos, visto que dependem da

configuração fisiológica e estrutural do tracto vocálico de cada sujeito.

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Porém, no contexto forense, são vários os casos em que o infractor utiliza estratégias

para camuflar a voz, de forma a ocultar a sua identidade e, consequentemente, não

ser reconhecido. O recurso ao disfarce da voz levanta uma questão que serviu de

ponto de partida para este estudo: será que os parâmetros acústicos são

suficientemente robustos na tarefa de reconhecimento de falantes na presença do

disfarce? Nesta linha de pensamento, colocam-se outras questões, não menos

importantes, tais como:

Os disfarces actuam todos da mesma forma?

Haverá disfarces mais eficientes do que outros?

Os vários parâmetros acústicos são igualmente afectados na presença de um

disfarce em particular?

Haverá um padrão de mudança dos parâmetros acústicos associado a cada

disfarce?

Serão alguns parâmetros mais robustos do que outros?

No decurso da investigação surgiram, ainda, outras questões que importa averiguar:

Será que o factor falante tem alguma influência na execução do disfarce?

Serão todas as vogais igualmente permeáveis ao disfarce?

O principal objectivo deste trabalho é, portanto, estudar a influência do disfarce nos

seguintes parâmetros acústicos: F0, F1, F2, F3 e F4. Partindo da análise dos referidos

parâmetros nas vogais [u], [o], [ɔ], [i], [e], [ɛ] e [a] produzidas em diferentes

condições, pretende-se, num primeiro momento dedicado à análise da Voz Normal, (i)

descrever os vários parâmetros acústicos, abordando a variação intra e inter-falante; e

(ii) verificar a eficiência de cada parâmetro na distinção entre falantes. Na segunda

parte da análise, procura-se (iii) averiguar se os disfarces causam alterações nos vários

parâmetros acústicos, através da comparação dos dados da Voz Normal com os dados

dos disfarces testados; (iv) verificar se os diferentes disfarces produzem todos o

mesmo efeito nos parâmetros acústicos; (v) aferir se todos os parâmetros são,

igualmente, afectados por cada disfarce; (vi) apurar se existem parâmetros resistentes

ao disfarce; (vii) observar se o efeito do disfarce é homogéneo entre as vogais; (viii)

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constatar se o factor falante tem alguma influência na performance do disfarce; e (ix)

observar as alterações produzidas pelo(s) disfarce(s) nos triângulos vocálicos.

Antes de descrever o procedimento metodológico, são apresentadas as hipóteses

subjacentes a este estudo, considerando os objectivos anteriormente descritos e

tendo em vista os resultados de trabalhos anteriores (secção 2.5.).

Hipótese 1: A presença do disfarce interfere sempre nos parâmetros

acústicos, embora determinados disfarces provoquem mais

modificações no sinal acústico do que outros (Reich et al., 1976).

Hipótese 2: A influência de um tipo de disfarce não é homogénea entre os

diversos parâmetros acústicos (Rose & Simmons, 1996; Künzel,

2000).

Hipótese 3: Cada parâmetro acústico não é igualmente afectado pelos vários

disfarces (Künzel, 2000), pelo que o mesmo parâmetro pode ser

alterado por um tipo de disfarce mas ser impermeável a outro

(Rose & Simmons, 1996).

3.2. Informantes

A amostra formada para as gravações é constituída por oito pessoas, quatro do sexo

masculino e quatro do sexo feminino, inseridas na faixa etária dos 20-25 anos. Todos

os Informantes são falantes da variedade standard do Português Europeu e naturais da

zona de Lisboa. No que diz respeito à formação académica, apenas dois Informantes

possuem conhecimentos linguísticos, pois frequentam o 1º ano do curso de Línguas,

Literaturas e Culturas. Os restantes Informantes são formados em áreas diversas,

distintas da Linguística, pelo que não detêm nenhum tipo de conhecimento linguístico

específico.

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3.3. Materiais – Corpus

O corpus utilizado é composto por 28 frases (vide Anexo 6). A elaboração do mesmo foi

feita com base nalguns critérios específicos, na tentativa de ser o mais uniforme

possível.

Em primeiro lugar, escolheram-se para a análise todas as vogais orais tónicas do

Português Europeu ( [u], [o], [ɔ], [i], [e], [ɛ] e [a] ) com excepção da vogal [ɐ]. Esta não

foi tida em consideração, uma vez que, devido às suas restrições fonológicas, não

ocorre em todos os contextos segmentais. Posteriormente, foram seleccionadas

palavras com três sílabas que contivessem cada uma das vogais mencionadas em

sílaba tónica intermédia. A escolha da sílaba tónica foi motivada pelo facto de,

geralmente, ser esta a sílaba com maior duração e com mais energia, propiciando uma

maior estabilidade, já que a quantidade de informação disponível é maior (mais

duração) e os formantes das vogais são mais visíveis (mais energia).

Em segundo lugar, foi tido em conta o contorno fonético das vogais relativamente à

consoante que ocupa a posição de ataque na sílaba tónica. Assim, foram escolhidas

quatro consoantes orais vozeadas com base no modo de articulação: duas fricativas

([z] e [v]) e duas oclusivas ([b] e [d]). No que diz respeito ao ponto de articulação, os

segmentos seleccionados classificam-se em consoantes dentais ([d] e [z]), bilabial ([b])

e labiodental ([v]). Importa referir que a selecção destas consoantes em particular não

obedeceu a nenhum critério específico, visto que o foco deste trabalho não incide na

influência exercida por cada consoante nos segmentos vocálicos. Estas foram

escolhidas com o intuito homogeneizar o efeito da coarticulação progressiva e de

modo a contextualizar as vogais a analisar.

Por último, todas as palavras foram integradas na frase Eu digo …, Paulo., de forma a

manter o mesmo ritmo e intensidade em todas as frases. Optou-se por manter o

mesmo contorno prosódico a fim de evitar variações entoacionais que poderiam ter

influência nos parâmetros acústicos analisados.

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3.4. Recolha dos Dados

3.4.1. Requisitos éticos

Todos os Informantes leram a Declaração de Objectivos (vide Anexo 7) e assinaram o

Termo de Aceitação (vide Anexo 8), expressando o consentimento na utilização dos

dados nos termos descritos no documento.

3.4.2. Gravações

A recolha dos dados foi feita através de gravações de voz realizadas no Laboratório de

Fala do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, uma vez que este dispõe de

uma sala com tratamento acústico próprio - sem eco ou ruído. Este ambiente de

gravação, embora artificial, foi escolhido no sentido de se obter uma boa qualidade do

sinal e sem interferências de qualquer tipo. Foi utilizado um gravador Marantz PMD

670 e um microfone Sennheiser ME 62 com bandolete de suporte (tipo auricular) que

permite manter sempre a mesma distância entre a boca e o microfone para todos os

Informantes. As gravações foram efectuadas com uma frequência de amostragem de

44100Hz, 16-bit, Mono.

Todos os Informantes foram gravados em sessões individuais. As frases que

constituem o corpus surgiram num monitor, frente ao qual os Informantes ficaram

sentados. A passagem das frases foi feita pela investigadora de modo a poder

controlar a eventual necessidade de repetição de leitura.

Cada Informante leu o conjunto de 28 frases (ver ponto 3.3.) sob cinco condições

diferentes:

1 - Voz normal (VN);

2 - Subida de F0 (D1);

3 - Descida de F0 (D2);

4 - Máscara (D3);

5 - Palhinha (D4).

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No decurso da análise dos dados, cada condição será referida como VN, D1, D2, D3 e

D4. Os disfarces mencionados foram escolhidos tendo em vista o tipo de influência

provocado por cada um. D1 e D2 têm uma acção directa na manipulação da fonte

sonora (cordas vocais); D3 e D4 incidem nos filtros do tracto vocálico, já que D3

funciona como um filtro adicional e D4 actua como limitador da acção do filtro. VN

actua como uma condição neutra, servindo como condição de controlo.

Antes de cada sessão, foram dadas instruções ao Informante sobre a forma de

produção das frases pretendida em cada Condição. Foi, também, explicado aos

Informantes que o tema do presente trabalho era o disfarce da voz. Assim, durante a

execução da tarefa, nas Condições 2 e 3, solicitou-se aos Informantes que imaginassem

uma situação fictícia de um telefonema anónimo em que tinham de disfarçar a voz,

segundo as instruções fornecidas, para não serem reconhecidos. Na Condição 1, foi

pedido aos Informantes que produzissem as frases de forma mais natural possível,

usando o seu modo de falar normal e a sua qualidade vocal. Na Condição 2, pediu-se

aos Informantes que produzissem as frases com uma voz aguda. Na Condição 3,

solicitou-se a produção das frases com uma voz grave. Na Condição 4, foi pedido aos

Informantes que produzissem as frases de forma natural com uma máscara à frente da

boca. Finalmente, na Condição 5, pediu-se aos Informantes que produzissem as frases

de forma natural com uma palhinha colocada horizontalmente entre os dentes

incisivos.

3.5. Tratamento dos Dados

3.5.1. Análise Espectrográfica

Os ficheiros foram segmentados e convertidos para uma frequência de amostragem de

11025Hz através do programa Adobe Audition, versão 3.0. Procedeu-se à redução da

frequência de amostragem para 11025Hz, que corresponde à visualização de

frequências entre os 0 e 5500Hz no espectrograma produzido pela SpeechStation –

programa usado na medição dos formantes - para que a medição das frequências dos

formantes fosse feita de forma mais precisa, uma vez que com uma frequência de

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amostragem de 44100Hz o espectro encontra-se mais comprimido, dificultando a

localização dos formantes a medir. Deve salientar-se que a redução da frequência de

amostragem não acarreta consequências nos parâmetros acústicos.

O valor de F0 das vogais foi extraído, automaticamente, através do programa Praat,

versão 5.1.23. Para a medição das frequências dos formantes das vogais utilizou-se o

programa SpeechStation2.

Os formantes foram medidos através da técnica de Linear Predictive Coding (LPC), em

banda estreita (512 pontos), order 12 nas Condições 1, 3, 4 e 5 e order 10 na Condição

2. A medição dos formantes foi feita no núcleo vocálico, pois este é o ponto mais

estável do segmento (Figura 3). Foi escolhida a técnica de análise espectral LPC, em

detrimento da Fast Fourier Transform (FFT), dado que representa a combinação da

forma espectral da fonte glotal e a forma espectral imposta pelo tracto vocálico, sendo

assim mais apropriada para a medição dos formantes4. Através da técnica de auto-

correlação para encontrar as frequências dos componentes proeminentes, a LPC

apresenta a forma global do espectro, independentemente das frequências específicas

das harmónicas, fornecendo uma representação precisa dos filtros do tracto vocálico.

Optou-se por fazer a análise em banda estreita porque esta fornece informação

frequencial mais detalhada sobre os formantes, ao contrário da banda larga que

destaca a informação temporal sobre cada impulso glotal. Por fim, foi necessário medir

os formantes das vogais produzidas na Condição 2 em order 10, pois em order 12 não

era possível identificar correctamente os formantes, já que eram, também, visíveis as

harmónicas. Importa, ainda, referir que nalguns casos não foi possível medir o valor de

F3 e F4, pois os formantes não eram legíveis.

Figura 3 - Localização da medição de F2 da vogal [ɛ] em VN, na frase Eu digo cadela, Paulo.

4 Deve referir-se que a LPC é considerada uma boa técnica de análise de fala, com resultados precisos, desde que não se incluam segmentos nasais.

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3.5.2. Análise Estatística

Os dados obtidos foram analisados através do programa de estatística SPSS 18. A

análise estatística efectuada assentou na aplicação de dois testes paramétricos: teste

t-student para comparação de médias e teste ANOVA para análise da variância. Antes

de se efectuar qualquer um dos testes, verificou-se se os dados em análise satisfazem

os requisitos impostos por estes testes. O primeiro requisito é cumprido, já que a

variável dependente (F0 e formantes) é sempre quantitativa; observou-se, através dos

testes Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk, se a distribuição da variável dependente

(F0 e formantes) segue a normalidade; e, por último, confirmou-se a homogeneidade

de variância através do teste de Levene. Nalguns casos, as variáveis dependentes

representam distribuições afastadas da normalidade ou não se verifica

homogeneidade da variância devido, em parte, ao reduzido tamanho da amostra e à

variabilidade dos parâmetros entre os Informantes. Nas situações em que uma das

condições não é cumprida, realizou-se o teste não-paramétrico Kruskal-Wallis para

confirmar ou rejeitar o resultado dos testes paramétricos.

Como os testes referidos anteriormente (t-student e ANOVA) são testes de hipóteses,

implicam a existência de uma hipótese nula (H0) e de uma hipótese alternativa (Ha).

Designa-se por hipótese nula a hipótese da não diferença, a que é sujeita ao teste, por

oposição à hipótese alternativa que é a hipótese da diferença (Martinez & Ferreira,

2008). A rejeição ou aceitação da hipótese nula é feita em função do nível de

significância estabelecido, a que é directamente comparável uma probabilidade de

significância (p-value). Se o p-value for inferior ao nível de significância, então rejeita-

se a hipótese nula, caso contrário não existe evidência estatística para o fazer

(Martinez & Ferreira, 2008).

Neste trabalho, considerou-se que se rejeita a hipótese nula a partir de um valor de

significância de p < 0,05.

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33

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.0. Introdução

Este capítulo está dividido em duas secções, correspondentes à descrição dos dados da

voz normal (4.1.) e à comparação da voz normal com os disfarces (4.2.).

Na primeira parte (4.1.), faz-se a caracterização da voz normal, abordando, num

primeiro momento, a variação intra e inter-falante através da descrição dos triângulos

vocálicos (4.1.1.); posteriormente, descrevem-se os dados relativos à frequência

fundamental (4.1.2.) e aos formantes (4.1.3.); partindo dos dois últimos pontos,

verifica-se a eficácia de cada parâmetro na distinção de falantes (4.1.4.); e, por último,

analisa-se a relação entre as variáveis informante e vogais, de forma a testar a

influência do factor informante nas frequências das vogais (4.1.5.).

Na segunda parte (4.2.), faz-se a comparação dos parâmetros acústicos da voz normal

com os dos disfarces, com o intuito de constatar as alterações provocadas pelo(s)

disfarce(s) nos vários parâmetros (4.2.1.); testa-se a interacção entre disfarce e

informante (4.2.2.); verifica-se a influência do(s) disfarce(s) nas vogais (4.2.3.); por fim,

apresentam-se os triângulos vocálicos relativos a cada disfarce, no sentido de se

averiguar as modificações dos mesmos, comparativamente aos triângulos vocálicos da

voz normal (4.2.4.).

4.1. Voz normal

4.1.1. Triângulos vocálicos: variação intra e inter-falante

A partir das frequências de F1 e F2 das vogais estudadas, foi construído o triângulo

vocálico de cada Informante (Figuras 4 a 11). Os vários pontos que o constituem

resultam da conjugação das frequências de F1 em ordenada e de F2 em abcissa. Em

cada triângulo estão representadas as sete vogais em análise ( [u], [o], [ɔ], [i], [e], [ɛ] e

[a] ), apresentadas com cores distintas para a melhor visualização dos dados.

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Figura 4 - Triângulo vocálico do Informante 1. Figura 5 - Triângulo vocálico do Informante 2.

Figura 6 - Triângulo vocálico do Informante 3. Figura 7 - Triângulo vocálico do Informante 4.

Figura 8 - Triângulo vocálico do Informante 5. Figura 9 - Triângulo vocálico do Informante 6.

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Figura 10 - Triângulo vocálico do Informante 7. Figura 11 - Triângulo vocálico do Informante 8.

Legenda:

[i] [e] [ɛ] [a] [ɔ] [o] [u]

A observação dos vários triângulos vocálicos permite verificar que cada vogal não

corresponde a um ponto único, mas antes a uma área de localização. A dispersão dos

valores das vogais é consequência de diversos factores entre os quais se destacam,

para o presente estudo, o factor individual e o contexto fonético. Desta forma, a

variação das frequências dos segmentos está relacionada com o fenómeno da

coarticulação, isto é, a existência de quatro pontos distintos para cada vogal é, não

exclusivamente, o resultado da produção da mesma vogal em contextos fonéticos

diferentes. Por outro lado, a variação intra-falante desempenha, também, um papel

importante na variação dos valores de F1 e F2 de cada segmento, pois a extensão da

variabilidade das frequências das vogais depende de cada falante. Se se observarem, a

título exemplificativo, os pontos correspondentes às vogais [u], [i] e [a], verifica-se que

a disposição dos mesmos é distinta entre os indivíduos. Constate-se que os pontos

relativos à vogal [i] do Informante 3 (Figura 6) estão muito concentrados, formando

quase um ponto único, ao passo que no Informante 4 (Figura 7) os pontos estão mais

dispersos; a distribuição da vogal [a] nos Informantes 5 e 8 (Figuras 8 e 11) é variável,

quase exclusivamente, ao nível de F2, visto que os pontos apresentam

aproximadamente os mesmos valores no plano de F1; pelo contrário, as frequências

desta vogal variam tanto em F1 como em F2 no Informante 7 (Figura 10); a distribuição

dos valores da vogal [u] é mais uniforme no Informante 1 (Figura 4) do que no

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Informante 2 (Figura 5). Assim, a inexistência de valores invariáveis deve-se não só à

influência dos segmentos adjacentes à vogal, mas também à variação intra-falante,

caso contrário a variação das frequências de um mesmo segmento seria igual em todos

os Informantes.

Por outro lado, a distribuição das vogais no espaço acústico não é semelhante entre os

Informantes. As diferentes configurações dos triângulos vocálicos, produto das

diferenças entre os falantes relativamente às frequências de F1 e F2 das vogais, são o

reflexo das características anatómicas do tracto vocálico de cada indivíduo e, ainda,

das tendências articulatórias adopta quando fala. Neste sentido, o triângulo vocálico

fornece pistas importantes para a identificação de falantes, uma vez que permite

apontar marcas específicas dos indivíduos, relacionadas com a localização das vogais, a

faixa de variação de F1 e F2, a dimensão do polígono, as distâncias acústicas, a

organização dos segmentos ou a própria localização do triângulo no espaço acústico.

Observe-se, assim, que no Informante 1 (Figura 4), existe uma separação demarcada

entre as vogais anteriores e os restantes segmentos e que os valores de F1 e F2 das

vogais anteriores média e baixa são muito próximos. No Informante 2 (Figura 5), a

proximidade das vogais posteriores alta e média forma um cluster, que se encontra

ligeiramente afastado do continuum gerado pela localização dos outros segmentos. O

triângulo vocálico do Informante 3 (Figura 6) é bastante compacto, uma vez que as

distâncias acústicas entre as vogais são pouco demarcadas. Relativamente ao

Informante 4 (Figura 7), a proximidade das vogais central e posteriores forma um

continuum separado das vogais anteriores, cujas distâncias acústicas são mais

acentuadas. O Informante 5 (Figura 8) e o Informante 6 (Figura 9) apresentam

triângulos vocálicos semelhantes do ponto de vista da sua configuração, assim como

no que diz respeito à divisão, não muito acentuada, entre as vogais anteriores e as

restantes. Contudo, os dois indivíduos apresentam alguns traços distintos, visto que o

polígono do Informante 5 é mais expandido, as distâncias acústicas entre os

segmentos são superiores às do Informante 6, bem como a extensão da variação intra-

falante. A disposição dos valores de F1 e F2 das vogais do Informante 7 (Figura 10) dá

origem a uma configuração específica do triângulo acústico. A distribuição das vogais

anteriores é bastante coesa, na medida em que as distâncias acústicas são reduzidas;

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as vogais posteriores alta e média estão dispostas de forma circular, o que constitui

uma característica deste falante; as vogais central e posterior baixa formam um pólo

afastado dos outros segmentos, que dá origem à organização dos segmentos em três

grupos: vogais anteriores, vogais central/posterior baixa e vogais posteriores

média/alta. Por último, as distâncias entre os segmentos são relativamente uniformes

no Informante 8 (Figura 11), embora haja uma proximidade acentuada entre as vogais

posteriores alta e média.

Tomando como referência as vogais correspondentes aos extremos de constrição do

tracto vocálico, que equivalem aos ‘vértices’ do polígono ( [u], [a] e [i] ), é possível

estimar a faixa de variação de F1 e F2 de cada indivíduo. O intervalo entre as vogais [i]

e [u] corresponde, respectivamente, ao valor mínimo e máximo de F2 e a distância

entre as vogais [i]/[u] e [a] está relacionada com o valor mínimo e máximo,

respectivamente, de F1. Desta forma, a gama de variação de F1 e F2 é proporcional às

distâncias entre os vértices do triângulo acústico, pelo que quanto menor for a

distância entre si, menor será a faixa de variação desse parâmetro (F1 ou F2). Quer isto

dizer que os polígonos com dimensões reduzidas têm também uma faixa de variação

de F1 e F2 reduzida. A observação dos vários triângulos vocálicos permite verificar que

a faixa de variação de F1 e F2 não é homogénea entre os indivíduos. Constate-se, por

exemplo, que entre os Informantes 2 e 3, a variação de F1 e de F2 é superior no

Informante 2, ou que entre os Informantes 4 e 6, a gama de variação de F2 é

claramente maior no Informante 4, apesar da faixa de variação de F1 ser próxima entre

os dois falantes.

No que diz respeito à dimensão dos triângulos vocálicos, comprova-se que esta é

menor nos Informantes 3, 5, 6 e 8 do que nos restantes. Consequentemente, a gama

de variação de F1 e F2 é menor nestes indivíduos do que nos Informantes 1, 2, 4 e 7.

Por outro lado, a localização do triângulo no espaço acústico também não é

semelhante entre os dois grupos. Os polígonos das Figuras 6, 8, 9 e 11 situam-se,

tendencialmente, na zona superior direita, resultado dos valores relativamente baixos

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dos dois primeiros formantes, ao contrário dos das Figuras 4, 5, 7 e 10 que são mais

expandidos, tanto no plano de F1 como de F2.

A divisão entre os Informantes 3, 5, 6, 8 e Informantes 1, 2, 4 e 7, motivada pelas

diferenças na dimensão e localização dos triângulos, está relacionada com o sexo dos

indivíduos, já que ao primeiro grupo pertencem todos os Informantes do sexo

masculino e ao segundo correspondem os Informantes do sexo feminino. As diferenças

verificadas entre os dois géneros estão associadas, não exclusivamente, ao tamanho

do tracto vocálico, pois quanto maior for o comprimento do mesmo, menores serão as

frequências das vogais. Uma vez que o tracto vocálico masculino é, geralmente, maior

do que o feminino, é natural que os triângulos vocálicos dos Informantes do sexo

masculino apresentem dimensões mais reduzidas do que os do sexo feminino,

consequência dos baixos valores dos formantes.

Desta forma, a variação inter-falante é mais um factor que justifica a inexistência de

valores invariáveis de F1 e F2 para as vogais. Existem, pelo contrário, zonas de

incidência para cada segmento que os distingue entre si. Neste sentido, confrontando

os vários triângulos vocálicos, verifica-se que cada vogal ocupa sempre a mesma

posição relativamente à forma do triângulo. Ou seja, a área de cada vogal pode diferir

de falante para falante no espaço acústico, bem como a distância acústica entre as

vogais, mas a sua posição relativa é igual em todos os Informantes. Importa ainda

esclarecer que, apesar de as frequências das vogais diferirem consoante os indivíduos,

a variação só existe dentro de determinados limites, caso contrário a vogal perderia as

suas características acústicas, e consequentemente a sua identidade, deixando de ser

entendida como tal.

A análise efectuada centrou-se, primordialmente, na descrição da variação intra e

inter-falante, relativamente a F1 e F2, através da visualização dos triângulos vocálicos.

Porém, é necessário, por um lado, fazer uma descrição mais aprofundada do que a

análise visual e, por outro lado, é preciso estender a análise aos outros parâmetros.

Dado que para o modelo forense é a informação particular de cada falante que é

relevante, permitindo distinguir os indivíduos entre si, de agora em diante, a análise

centrar-se-á exclusivamente na variação inter-falante.

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4.1.2. Frequência fundamental (F0)

O gráfico da Figura 12 reúne os valores médios da frequência fundamental de cada

Informante, possibilitando visualizar as diferenças de F0 entre os falantes. Pode

observar-se que o Informante 5 é o que apresenta o valor mais baixo de F0 (94Hz) e

que o valor mais elevado (212Hz) pertence ao Informante 2, o que demonstra que a

frequência fundamental oscila entre 94Hz e 212Hz entre os indivíduos.

Figura 12 - Valores médios da frequência fundamental de cada Informante.

À excepção dos Informantes 3, 5 e 8, que apresentam valores próximos de F0 em torno

dos 100Hz, os valores médios da frequência fundamental são bastante diversos nos

restantes falantes. No entanto, pode constatar-se que há uma clara separação entre os

Informantes que origina dois grupos distintos: num grupo, a média de F0 situa-se entre

os 160Hz e 212Hz (Informantes 1, 2, 4 e 7) e, no outro grupo, a média localiza-se entre

os 94Hz e 124Hz (Informantes 3, 5, 6 e 8). Tal como foi mencionado anteriormente, a

divisão em dois conjuntos é motivada pelo contraste de género, já que ao primeiro

correspondem todos os Informantes do sexo feminino e, no segundo conjunto, estão

incluídos os Informantes do sexo masculino, sendo que a média de F0 de cada grupo é

de 186Hz e 103Hz, respectivamente. Verifica-se, portanto, que a frequência

fundamental é um parâmetro relevante na distinção de indivíduos de sexos opostos,

visto que o valor médio de F0 de cada sexo é consideravelmente diferente.

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Para averiguar se a frequência fundamental é um parâmetro proeminente na distinção

de falantes, independentemente do sexo, realizou-se um teste t-student que compara

os valores de F0 de cada par possível de Informantes. Na Tabela 2 são apresentados os

resultados do teste para cada par testado, através do valor de t e do valor de

significância (p).

Tabela 2 - Resultados do teste t-student na comparação dos valores de F0 entre os Informantes.

Informante 1 2 3 4 5 6 7 8

1 t - -17,9 49,111 -13,32 63,667 27,84 -15,5 48,926 p - 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

2 t - - 38,22 11,219 40,082 27,442 8,989 38,869 p - - 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

3 t - - - -53,83 1,766 -22,97 -63,2 -2,521 p - - - 0,000 0,089 0,000 0,000 0,018

4 t - - - - 52,958 38,448 -3,429 61,036 p - - - - 0,000 0,000 0,002 0,000

5 t - - - - - -20,28 -67,8 -3,514 p - - - - - 0,000 0,000 0,002

6 t - - - - - - -34,62 28,714 p - - - - - - 0,000 0,000

7 t - - - - - - - 60,129 p - - - - - - - 0,000

8 t - - - - - - - - p - - - - - - - -

Os resultados indicam que, à excepção do par 3-5 (células marcadas a cinzento), todos

os pares testados são distintos entre si (p < 0,05). Dito de outro modo, o valor de F0 de

cada indivíduo difere significativamente quando comparado com outro falante. Apesar

de os sujeitos serem estatisticamente divergentes em relação a F0, o valor da

diferença não é igual em todos os pares. Ou seja, ainda que os falantes sejam distintos

entre si, o grau da diferença não é idêntico para todos os Informantes. Observe-se, a

título exemplificativo, que o valor de significância é igual (p < 0,000) em todos os pares

que contrastam o Informante 1 com os outros indivíduos. Todavia o valor de t varia

consoante o par de comparação. Assim, as diferenças são mais acentuadas no par 1-5

(t = 63,67) do que no par 1-4 (t = -13,32), por exemplo. Quer isto dizer que o

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Informante 1 está mais próximo do Informante 4 do que do Informante 5 em relação

ao valor médio de F0, tal como se pode observar no gráfico da Figura 12. A diferença

do valor de t entre os dois pares assinalados é, maioritariamente, definida pelo sexo

dos Informantes: no par 1-4, os indivíduos são ambos do sexo feminino, ao passo que

o par 1-5 é composto por Informantes do sexo masculino e feminino. Neste sentido,

pode observar-se que os pares que apresentam resultados mais significativos, isto é,

valores mais elevados de t, são os pares constituídos por Informantes de sexos

opostos, já que os valores médios de F0 do sexo masculino e do feminino são

claramente distintos (Figura 12). Ainda assim, as diferenças de F0 também são

expressivas entre falantes do mesmo sexo, dado que, exceptuando um par, os

resultados do teste são estatisticamente significativos para todos os pares testados,

pelo que se pode afirmar que F0 é um parâmetro eficaz na distinção de falantes.

4.1.3. Formantes

No sentido do que se observou a partir dos triângulos vocálicos (ponto 4.1.1.), e tal

como sucede com a frequência fundamental, os valores dos formantes variam de

acordo com o falante. Na Figura 13 são apresentados os valores médios de F1, F2, F3 e

F4 de cada Informante, de forma a poder visualizar as diferenças entre si no conjunto

dos formantes.

Figura 13 - Valores médios de F1, F2, F3 e F4 de cada Informante.

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O gráfico demonstra que as frequências dos formantes não são uniformes entre os

indivíduos. Constata-se que os valores mais baixos de qualquer um dos formantes

dizem respeito aos falantes do sexo masculino (Informantes 3, 5, 6 e 8) e que os

valores mais elevados correspondem aos sujeitos do sexo feminino (Informantes 1, 2,

4 e 7). O facto de os valores de F1, F2, F3 e F4 serem sempre mais baixos no sexo

masculino do que no feminino evidencia a relação existente entre a dimensão

(comprimento) do tracto vocálico e as frequências dos formantes. Assim, tal como F0,

os valores dos formantes permitem distinguir indivíduos de sexos opostos. Por outro

lado, a variabilidade entre os Informantes não é semelhante nos quatro parâmetros

acústicos (F1, F2, F3 e F4). A variação inter-falante verifica-se em todos os formantes,

mas quanto mais elevado for o formante, maior variabilidade existe entre os sujeitos,

já que a variação aumenta à medida que os valores são mais altos. Constate-se que as

frequências de F1 são muito próximas entre os indivíduos, porém os valores de F2 são

mais distintos entre os falantes, uma vez que há um aumento nas distâncias das

frequências. A diferença nos valores dos formantes é ainda mais notória em F3, pois a

separação entre os indivíduos é ampliada, verificando-se que as distâncias entre os

falantes variam numa extensão de 500Hz. Ainda assim, é em F4 que se registam as

maiores diferenças entre os indivíduos, visto que a dimensão da variabilidade deste

formante é superior aos restantes. Observe-se que a distância entre os Informantes 2 e

3, por exemplo, é de 250Hz em F3, mas que em F4 aumenta para 700Hz. Assim, as

diferenças entre os indivíduos são mais acentuadas em F3 e F4, ao contrário de F1 e

F2, cujos valores não são tão díspares. Desta forma, pode afirmar-se que a variação

inter-falante é mais elevada nos formantes altos (F3 e F4) do que em F1 e F2.

4.1.4. Eficácia dos parâmetros acústicos na distinção de falantes

No sentido de se verificar a eficácia de cada parâmetro na distinção de falantes, foi

realizado um teste de análise da variância (ANOVA), cujos resultados são apresentados

na Tabela 3. O valor de F juntamente com o valor de significância (p) demonstram a

eficiência de cada variável na discriminação de sujeitos. Quanto mais elevado for o

valor de F, mais variação do parâmetro existe entre os Informantes.

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Tabela 3 - Resultado do teste de análise de variância (ANOVA).

Variável F Sig.

f0 456,422 0,000

f1 0,652 0,711

f2 0,638 0,722

f3 33,673 0,000

f4 37,914 0,000

Os baixos valores de F para F1 e F2, assim como os valores de significância (0,711 e

0,722), demonstram que estes dois parâmetros não variam muito entre os

Informantes, pelo que não são estatisticamente significativos para a discriminação de

falantes. Contudo, importa referir que F1 e F2 não são significantes, apenas, quando

analisados individualmente, pois a conjugação de ambos demonstra ser um parâmetro

relevante na distinção entre indivíduos, como se verificou na análise dos triângulos

vocálicos (ponto 4.1.1.). Em contrapartida, F3 e F4 apresentam valores elevados de F.

Quer isto dizer que estes parâmetros diferem consideravelmente entre os falantes,

sendo, por isso, eficientes na discriminação de indivíduos. No que diz respeito a F0, o

resultado do teste ANOVA indica que este é o parâmetro que apresenta a maior

variação inter-falante, como se pode observar através do valor de F (456,422) e de

significância (0,000). Porém, estes resultados podem estar relacionados com o facto de

o teste ter sido realizado sem fazer separação entre os Informantes do sexo masculino

e feminino. Recorde-se que, tal como se verificou através do gráfico da Figura 10,

existe uma diferença acentuada nos valores da frequência fundamental de indivíduos

de sexos opostos. Assim, é necessário testar a variável F0 em função do sexo dos

Informantes, de forma a perceber se o resultado obtido está relacionado com a

diferença de género ou se, pelo contrário, F0 continua a ser um parâmetro relevante

para a discriminação de falantes. Os resultados do teste da análise de variância

(ANOVA) para cada género são apresentados na Tabela 4. Adicionalmente, foram

testadas todas as outras variáveis (F1, F2, F3 e F4) em função do sexo do Informante.

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Tabela 4 - Resultado do teste da análise de variância (ANOVA) para cada género.

Variável F Sig.

f0 feminino 46,11 0,000

masculino 188,51 0,000

f1 feminino 0,281 0,839

masculino 0,047 0,986

f2 feminino 0,006 0,999

masculino 0,069 0,976

f3 feminino 8,545 0,000

masculino 3,777 0,024

f4 feminino 4,813 0,009

masculino 0,843 0,484

À excepção de F4 para o sexo masculino, os resultados do teste em função do género

dos Informantes mantêm-se idênticos aos do primeiro teste ANOVA (Tabela 3). Deste

modo, verifica-se que F0 continua a ser um parâmetro eficaz na discriminação de

falantes do mesmo sexo, no sentido do que apontam os resultados obtidos com o

teste t-student (Tabela 2). À semelhança do anterior teste ANOVA, F1 e F2 não são

suficientemente distintos entre os indivíduos, tal como seria esperado. Da mesma

forma, F3 e F4 para o sexo feminino mantêm resultados que ilustram a variação inter-

falante. No entanto, F4 revela-se não significante para a distinção dos indivíduos do

sexo masculino, como se pode constatar através do valor de F (0,843) e de significância

(0,484). Por último, os valores de F de F0, tanto para o sexo masculino como para o

feminino, continuam a ser os mais elevados de todas as variáveis, revelando que, no

conjunto dos parâmetros testados, este é o mais robusto para a distinção de falantes.

4.1.5. Informante versus Vogais

Nos gráficos das Figuras 14 a 17 são apresentados os valores médios de F1, F2, F3 e F4

de cada vogal e para cada Informante. Pode observar-se que os valores dos formantes

das vogais variam consideravelmente consoante o falante, tal como se verificou no

ponto 4.1.3.. A representação das frequências de cada vogal por formante e falante

demonstra a existência da interacção Informante versus Vogal. Caso não existisse

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nenhuma relação entre as variáveis apontadas, as linhas correspondentes a cada vogal

seriam paralelas.

Figura 14 – Média de F1 por vogal, para cada Informante.

Figura 15 - Média de F2 por vogal, para cada Informante.

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Figura 16 - Média de F3 por vogal, para cada Informante.

Figura 17 - Média de F4 por vogal, para cada Informante.

A comparação dos gráficos permite verificar que a distribuição das linhas

correspondentes a cada vogal não é semelhante nos quatro formantes. Em relação a

F1 e F2 (Figuras 14 e 15), as linhas estão relativamente separadas entre si, o que

demonstra que os valores destes formantes variam de acordo com a vogal. Desta

forma, F1 e F2 determinam o espaço acústico de cada vogal, sendo, portanto, os

formantes responsáveis pela qualidade da vogal. Por outro lado, nos gráficos

correspondentes a F3 e F4 (Figuras 16 e 17), as linhas que representam as vogais estão

praticamente todas sobrepostas, tornando difícil a localização de uma vogal em

particular. Assim, F3 e F4 não são preponderantes para a identificação da vogal, ao

contrário de F1 e F2, mas estão relacionados com as características individuais de cada

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falante. Note-se que, apesar de as linhas estarem sobrepostas, estas não são rectas, o

que indicaria a inexistência de variação inter-falante. Neste sentido, os valores de F3 e

F4 das várias vogais tendem a ser muito próximos em cada indivíduo, embora a

concentração das vogais seja maior nalguns Informantes do que noutros. Os diferentes

picos, formados pela concentração dos valores das vogais, demonstram a variação

entre os falantes, pois a localização dessas áreas de concentração é diferente para

cada sujeito, ainda que os Informantes 5 e 6 apresentem uma distribuição próxima.

Constata-se, ainda, que a tendência para uma certa uniformização dos valores das

vogais é superior em F4 (Figura 17), o que sugere que quanto mais elevado for o

formante menos divergente será o valor do mesmo.

A análise dos gráficos anteriores (Figuras 14 a 17) complementa os resultados obtidos

no teste ANOVA (Figura 5). Justifica-se, assim, o facto de F1 e F2 não serem

significantes na distinção de falantes, dado que estes são os formantes responsáveis

pela determinação da identidade da vogal, pelo que a variação entre os indivíduos

nunca pode ser em grande escala. Pelo contrário, F3 e F4 demonstram ser pouco

variáveis em função da vogal, de forma que a significância destes parâmetros para a

discriminação de sujeitos está relacionada com as diferenças anatómicas do tracto

vocálico dos indivíduos.

4.2. Disfarce – variação dos parâmetros acústicos

4.2.1. Voz Normal versus Disfarce(s)

Nesta secção, pretende-se averiguar se a presença dos disfarces estudados acarreta

alterações nos parâmetros acústicos. Para o efeito, realizou-se um teste de análise de

variância ANOVA, cujos resultados são apresentados na Tabela 5, que integra todos os

Informantes e todas as condições de produção (voz normal e disfarces). Este teste é o

ponto de partida para perceber se existem diferenças, em cada variável, no conjunto

dos dados da voz normal e dos disfarces.

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Tabela 5 – Resultado do teste ANOVA.

Variável F Sig.

f0 37,423 0,000

f1 13,828 0,000

f2 4,036 0,009

f3 4,928 0,003

f4 4,507 0,005

Pode observar-se que existem alterações significativas em todos os parâmetros nas

diferentes condições de produção, como demonstram os valores de significância (p <

0,05), embora as modificações de cada variável não sejam homogéneas entre si. O

valor de F (37,423) e de significância (0,000) indicam que F0 é o parâmetro mais

afectado no conjunto dos dados. F1 é o formante que sofre mais alterações, visto que

apresenta o valor mais elevado de F (13,828), seguido de F3, F4 e F2, cuja proximidade

dos valores de F (4,928, 4,507 e 4,036, respectivamente) e de significância (0,003,

0,005 e 0,009, respectivamente) demonstra que a variabilidade destes formantes é

idêntica no conjunto das cinco condições de produção.

Uma vez que foram detectadas diferenças em todos as variáveis, é necessário fazer

uma análise mais pormenorizada para, em primeiro lugar, apurar quais os disfarces

que alteram os parâmetros acústicos e, em segundo lugar, aferir se todos os

parâmetros se modificam na presença do mesmo disfarce.

Nas Figuras 18, 19, 20 e 21 são apresentados os valores médios de F0, F1, F2, F3 e F4

da voz normal e de cada disfarce. Os gráficos permitem, por um lado, observar as

alterações que ocorrem nos parâmetros acústicos, através da comparação de VN com

D1, D2, D3 e D4, e, por outro lado, fazer uma caracterização geral de cada disfarce.

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Figura 18 - Comparação de VN com D1

Figura 19 - Comparação de VN com D2.

Figura 20 - Comparação de VN com D3.

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Figura 21 - Comparação de VN com D4.

No que diz respeito a D1 (Figura 18), as frequências de F0, F1, F2, F3 e F4 são

significativamente mais elevadas do que em VN. Apesar de existir um aumento

generalizado dos valores de todos os parâmetros acústicos, em F1 e F2 o aumento não

é tão significativo como em F0, F3 e F4. Pode afirmar-se, portanto, que a presença de

D1 potencia um aumento das frequências de todos os parâmetros acústicos.

Relativamente a D2 (Figura 19), não é possível apontar uma tendência tão evidente

como em D1, já que nem todos os parâmetros se alteram. Comprova-se um

decréscimo dos valores de F2 e F4, ainda que a diminuição destes seja mais visível em

F4 do que em F2. Contudo, F0, F1 e F3 não sofrem praticamente nenhuma alteração na

presença deste disfarce. Estes resultados são, de certa forma, inesperados, pois, para

além de D2 não apresentar uma tendência tão marcada e linear na mudança dos

parâmetros como D1, praticamente não se verificam alterações em relação a F0. De

facto, era esperado que F0 fosse o parâmetro mais afectado em D1 e D2, uma vez que

ambos os disfarces envolvem a manipulação da frequência fundamental, embora o

façam em direcções opostas (subida e descida, respectivamente). Deste modo,

esperar-se-ia que D1 e D2 apresentassem um padrão de mudança semelhante, isto é,

seria expectável que ambos os disfarces afectassem os mesmos parâmetros acústicos,

ainda que o fizessem de forma diferente. Previa-se, assim, que a presença de D2 se

reflectisse na descida dos valores de todos os parâmetros acústicos, tal como D1

potencia a subida dos mesmos, mas que tivesse, sobretudo, um impacto visível em F0.

Contrariamente ao esperado não se verificam mudanças em F0, sendo que as

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mudanças mais marcadas se registam na descida dos valores de F2 e F4, como foi já

referido.

Os resultados obtidos por Künzel (2000) aproximam-se, em parte, do que se constatou

relativamente às diferenças entre D1 e D2, no que diz respeito a F0. O autor verificou

que, apesar de ambos os disfarces produzirem alterações na frequência fundamental,

na descida de F0 é possível recuperar o seu valor natural, ao passo que na subida de F0

não é possível determinar, com precisão, os valores da frequência fundamental dos

indivíduos. Estes dados sugerem que as transformações de F0 não são tão efectivas na

descida como na subida da frequência fundamental.

Por outro lado, Zhan & Tan (2007) constataram que, embora a subida de F0 tenha sido

mais eficaz, a descida de F0 também surge no grupo dos disfarces que mais

degradaram a eficácia do sistema de reconhecimento automático de falantes.

Tendo em vista os resultados dos experimentos dos autores mencionados, dever-se-

iam ter registado modificações na frequência fundamental não só em D1, mas também

em D2, embora de menor dimensão. Ainda a respeito de D1, é interessante fazer um

paralelismo com uma das questões metodológicas observadas em Rose & Simmons

(1996). Os investigadores afirmam que tiveram de excluir um dos disfarces (falsete),

pois não era possível analisar os formantes automaticamente, através do formant

tracker, dado que eram confundidas as harmónicas com os formantes. Recorde-se que

a análise de D1 foi efectuada com uma ligeira alteração dos valores de order no

programa de análise espectrográfica, uma vez que, no sentido do que verificaram Rose

& Simmons, não era possível distinguir os formantes das harmónicas. Estes dados

demonstram que os disfarces que implicam a elevação de F0 condicionam, logo à

partida, os recursos de análise, estando subjacente a ideia de que são potencialmente

eficazes.

No que concerne a D3 (Figura 20), os valores de qualquer um dos parâmetros

permanecem praticamente iguais aos registados em VN, pelo que se pode concluir que

este disfarce não é eficaz na alteração destes parâmetros acústicos.

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Contrariamente a estes resultados, a máscara à frente da boca demonstrou ser um

disfarce bastante invasivo para o sistema de reconhecimento automático de falantes,

pois surge entre os três disfarces mais destabilizadores da performance do sistema

(Zhan & Tan, 2007).

Na investigação levada a cabo por Rose & Simmons (1996), as conclusões sobre o

disfarce do lenço à frente da boca - equivalente a D3 - são coincidentes com os dados

apresentados na Figura 20, no que diz respeito a F3 e F4. Porém, relativamente a F1 e

F2, os resultados não apontam no mesmo sentido, já que os autores afirmam que

estes formantes apresentam diferenças consideráveis comparativamente à voz

normal.

Por último, F0 e F1 não são alterados na presença de D4 (Figura 21), visto que os seus

valores se mantêm idênticos aos de VN, mas verifica-se uma ligeira descida nos valores

de F2, F3 e F4.

O resultado da análise comparativa entre VN e D1, D2, D3 e D4 vai ao encontro do que

tem sido apontado na literatura relativamente às diferenças entre os diversos

disfarces. Tal como demonstram alguns estudos (Reich et al., 1976; Zhang & Tan, 2007;

Rose & Simmons, 1996), determinados disfarces são mais eficazes do que outros, na

medida em que a sua influência é mais destabilizadora do conjunto dos parâmetros

acústicos. Desta forma, conclui-se que D1 é o mais eficiente, dado que afecta

significativamente todos os parâmetros, ao contrário de D3 que revelou ser ineficaz, já

que a sua presença não implica nenhuma modificação dos mesmos.

Adicionalmente, constata-se que o efeito produzido em cada parâmetro acústico

depende do disfarce utilizado. Quer isto dizer que o mesmo parâmetro é afectado em

função de alguns disfarces, mas permanece inalterável na presença de outros. Assim, a

robustez de um parâmetro acústico está dependente do próprio disfarce. Tendo em

vista esta linha de pensamento, F0 não é um parâmetro sólido em relação a D1, mas é

robusto quando se trata de D2, D3 e D4, visto que não existem mudanças significativas

dos valores da frequência fundamental nestes disfarces. A robustez de F1 verifica-se,

apenas, em D3 e D4, pois as frequências deste formante são alteradas em D1 e D2.

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Uma vez que os valores de F2 são modificados em D1, D2 e D4, este parâmetro é

eficiente unicamente na presença de D3. F3 é eficaz com respeito a D2 e D3, mas não o

é relativamente a D1 e D4, dado que estes disfarces modificam as suas frequências,

embora as alterações sejam de maior magnitude em D1. Finalmente, F4 demonstra

não ser um parâmetro robusto em D1, D2 e D4, apesar de as transformações

produzidas por este último não serem tão significativas como nos dois primeiros (D1 e

D2), mas é eficaz em relação a D3 porque as transformações provocadas por si são

praticamente inexistentes.

Deste modo, conclui-se que, à semelhança do que verificaram outros autores, cada

parâmetro não é modificado de forma idêntica pelos vários tipos de disfarce. Reich et

al. (1976) constataram que as frequências dos formantes e a banda formântica não são

afectados no disfarce da diminuição do tempo de fala, embora haja um aumento da

duração das vogais e das palavras, uma vez que o próprio disfarce incide nestes

parâmetros. Contudo, neste estudo fica por esclarecer a influência específica dos

disfarces analisados em cada um dos parâmetros utilizados pelos autores. Ainda que se

afirme que os formantes e a banda formântica não foram afectados, não é certo que

todos os restantes parâmetros tenham sofrido alguma modificação. Da mesma forma,

fica por saber se os disfarces considerados mais eficazes (rouquidão e imitação da voz

de um velho) produziram modificações apenas nos parâmetros relacionados com a

fonte ou se estes foram os mais afectados, entre outros.

O trabalho de Rose & Simmons (1996) aponta, também, no sentido de que a robustez

de um parâmetro depende do disfarce utilizado. Os autores verificaram que na

presença de quatro tipos de disfarce, os dois primeiros formantes (F1 e F2)

apresentam sempre alterações significativas. Porém, F3 e F4 são modificados apenas

em dois dos disfarces (imitação do comentador político e voz feminina), uma vez que

se mantêm inalterados nos disfarces relativos à colocação do lenço à frente da boca e

à imitação de um sotaque.

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4.2.2. Disfarce versus Informante

Após averiguar as alterações, no conjunto dos parâmetros acústicos, produzidas por

cada disfarce, importa analisar o efeito do disfarce em função de cada Informante. Os

gráficos que se seguem representam a distribuição dos valores de F0 (Figura 22), F1

(Figura 23), F2 (Figura 24), F3 (Figura 25) e F4 (Figura 26) para cada Informante,

relativamente a VN, D1, D2, D3 e D4.

Figura 22 – Distribuição de F0 segundo o Informante em VN, D1, D2, D3 e D4.

Figura 23 – Distribuição de F1 segundo o Informante em VN, D1, D2, D3 e D4.

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Figura 24 - Distribuição de F2 segundo o Informante em VN, D1, D2, D3 e D4.

Figura 25 - Distribuição de F3 segundo o Informante em VN, D1, D3 e D4.

Figura 26 - Distribuição de F4 segundo Informante em VN, D1, D2, D3 e D4.

No que diz respeito ao disfarce, os gráficos permitem comprovar que D1 é o mais

invasivo entre os quatro disfarces testados. A eficiência de D1, que se traduz no

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aumento dos valores de todos os parâmetros, é visível nos gráficos pelo afastamento

da linha que lhe corresponde de VN.

Da mesma forma, confirma-se, novamente, que o mesmo parâmetro acústico não é

influenciado de igual modo pelos vários disfarces, isto é, cada parâmetro pode ser

alterado na presença de um disfarce específico, mas pode ser impermeável a outro.

Assim, F0 é fortemente afectado na presença de D1, enquanto os restantes disfarces

não parecem causar grandes distorções neste parâmetro. Contrariamente a F0, a

variabilidade dos restantes parâmetros acústicos não se deve exclusivamente a um

disfarce. Verifica-se, então, que F1, F2 e F4 apresentam variações na presença dos

quatro disfarces, embora a magnitude e direcção da mudança não seja igual para

todos os disfarces. F3 é o parâmetro menos afectado, uma vez que, à excepção de D1,

as linhas relativas a cada disfarce se encontram praticamente sobrepostas,

demonstrando a inexistência de variabilidade deste parâmetro.

Ainda que existam tendências gerais associadas a cada disfarce relativamente ao tipo

de modificação dos parâmetros, a variação inter-falante existe não só na voz normal,

mas também na presença do disfarce, como demonstram os gráficos apresentados

anteriormente (Figuras 22 a 26). Desta forma, existe uma relação entre disfarce e

Informante, pois as mudanças produzidas por cada disfarce num parâmetro específico

não são semelhantes entre os falantes. Observe-se que, em relação à frequência

fundamental (Figura 22), o aumento de F0, em D1, não é tão elevado nos Informantes

2 e 5 como nos restantes; para a maioria dos indivíduos não há oscilação dos valores

de F0 entre VN, D2, D3 e D4, mas nos Informantes 1, 6 e 8 as frequências divergem

nestas quatro condições de produção. No que diz respeito a F1 (Figura 23), o

Informante 2 destaca-se dos demais falantes, uma vez que é o que apresenta a maior

subida e descida dos valores em D1 e D2, respectivamente. Apesar de as frequências

de F2 (Figura 24) serem idênticas entre os Informantes 2, 4 e 7 em VN e D1, o mesmo

não se verifica nos restantes disfarces. O Informante 2 apresenta valores distintos para

D2 e D4, ao passo que nos Informantes 4 e 7 as frequências de F2 são próximas nos

referidos disfarces, embora a variação seja mais elevada no Informante 7.

Relativamente a F3 (Figura 25), os Informantes 1 e 4 têm valores muito aproximados

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de VN, D2, D3 e D4, contudo distinguem-se quanto às frequências de D1, dado que

estas são muito mais elevadas no Informante 4 do que no Informante 1. Por último,

também os diversos valores de F4 (Figura 26) entre os indivíduos, nas várias condições

de produção, ilustram a variação inter-falante. O Informante 2 é o único falante cujos

valores de D2 se afastam consideravelmente dos de VN; da mesma forma, o

Informante 4 isola-se dos restantes indivíduos, visto que apresenta frequências

distintas entre VN e D3, o que não se verifica nos outros Informantes.

Para verificar, estatisticamente, as diferenças entre os Informantes relativamente a

cada disfarce, realizou-se um teste t-student. Através deste teste, faz-se a comparação

de cada parâmetro entre VN e D1, D2, D3 e D4, para cada Informante individualmente.

Os resultados do teste são apresentados na Tabela 6, através do nível de significância

de cada parâmetro.

Tabela 6 - Resultado do teste t-student na comparação entre VN e Disfarce(s).

Disfarce/Parâmetro 1 2 3 4 5 6 7 8

VN-D1

f0 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

f1 0,042 0,000 0,037 0,012 0,012 0,000 NS 0,000

f2 NS NS NS NS NS NS NS NS

f3 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,028

f4 NS NS 0,000 0,000 0,000 0,000 NS 0,000

VN-D2

f0 0,000 0,040 0,001 NS NS 0,000 0,023 0,000 f1 NS NS NS NS NS NS NS NS f2 NS NS NS NS NS NS NS NS f3 0,013 NS NS NS NS NS NS NS

f4 NS 0,000 NS 0,000 0,027 NS NS 0,000

VN-D3

f0 NS NS NS NS NS NS NS 0,011

f1 NS NS NS NS NS NS NS NS

f2 NS NS NS NS NS NS NS NS

f3 NS NS NS NS NS NS NS NS

f4 NS NS NS NS NS NS NS NS

VN-D4

f0 0,000 NS NS NS NS 0,000 NS 0,002

f1 NS NS NS NS NS NS NS NS

f2 NS NS NS NS NS NS NS NS

f3 NS NS 0,021 NS NS NS NS NS

f4 NS NS NS NS NS NS 0,025 0,011 Legenda: NS = não significativo.

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Os resultados do teste confirmam a existência da interacção entre disfarce e

Informante, já que o efeito do disfarce não é igual para todos os indivíduos. Assim,

verifica-se que a presença de D1 não é significativa no Informante 7 em F1, nem nos

Informantes 1, 2, e 7 em F4. Na comparação de VN com D2, os Informantes 4 e 5 não

apresentam variabilidade de F0, ao contrário dos restantes Informantes, cujos valores

de significância demonstram que houve alteração da frequência fundamental; em

relação a F3, os valores não diferem na maioria dos falantes, à excepção do Informante

1, dado que o resultado do teste é significativo (p = 0,013); há um equilíbrio na

variação de F4, pois em 50% dos Informantes não se registam alterações significativas,

mas nos restantes 50% houve mudanças nas frequências deste parâmetro. Em VN-D3,

o Informante 8 distingue-se dos restantes falantes, uma vez que é o único indivíduo

que apresenta variabilidade nas frequências de F0; nos restantes parâmetros, os

resultados não são significantes para nenhum Informante. No contraste de VN-D4, os

resultados confirmam a variação dos valores em função do falante, pois só se registam

alterações de F0 nos Informantes 1, 6 e 8; não existem mudanças nos valores de F3 de

qualquer indivíduo, à excepção do Informante 3; e, em relação a F4, as alterações são

significativas apenas nos Informantes 7 e 8.

Por outro lado, apesar de existirem alterações significativas do mesmo parâmetro em

vários Informantes, a magnitude da mudança não é igual para todos os falantes, como

se pode constatar através do nível de significância. Para exemplificar, observe-se que,

embora os valores de F4, em VN-D2, sejam significativos nos Informantes 2, 4, 5 e 8, o

grau de alteração deste parâmetro não é igual entre si, pois os níveis de significância

demonstram que a mudança é superior nalguns indivíduos do que noutros. Assim, a

modificação dos valores de F4 foi mais elevada nos Informantes 2, 4 e 8 (p = 0,000) do

que no Informante 5, que é o que apresenta a menor variação das frequências (p =

0,027) nas duas condições de produção.

Mesmo quando o nível de significância é igual entre os Informantes, tal não significa

que as alterações dos parâmetros acústicos sejam homogéneas entre si. Os dados

apresentados na Tabela 6 indicam que a variação de F0 entre VN e D1 é significante (p

= 0,000) para qualquer falante. Contudo, as mudanças entre as duas condições de

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produção não são semelhantes nos vários indivíduos, como se verificou através do

gráfico da Figura 22. A alteração das frequências de F0 é mais elevada no Informante 3

do que no Informante 2, por exemplo, uma vez que no primeiro o aumento é de cerca

de 300Hz, ao passo que no segundo é de 70Hz, aproximadamente.

Ainda a respeito de F0, importa averiguar isoladamente o efeito de D2 na frequência

fundamental, em função de cada Informante. O teste t-student (Tabela 6) indica que

houve alterações significativas de F0 em VN-D2 em todos os sujeitos, à excepção dos

Informantes 4 e 5. Porém, o gráfico VN versus D2 (Figura 19) contraria estes

resultados, visto que os valores de F0 se mantêm praticamente idênticos nas duas

condições de produção. Para compreender melhor este fenómeno, de seguida são

apresentados os valores médios de F0 de VN e D2 de cada Informante (Figura 27).

Figura 27 – Valores médios de F0 de cada Informante em VN e D2.

A descida dos valores da frequência fundamental efectua-se apenas nos Informantes 2,

5 e 7, pois nos restantes Informantes regista-se um aumento ou manutenção dos

valores de F0. Assim, houve uma alteração nos valores de F0, comprovada pelos

resultados significativos do teste t-student (Tabela 6), mas essa mudança traduz-se no

aumento da frequência fundamental. O facto de a maior parte dos Informantes não ter

sido capaz de alterar a sua frequência fundamental em D2 - pretendia-se uma descida

dos valores de F0 - levanta uma questão interessante relativamente ao desempenho

de cada indivíduo em disfarçar a voz. De facto, os disfarces que envolvem a alteração

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do número de vibrações das cordas vocais por segundo, como D1 e D2, pressupõem

alguma ‘habilidade’ individual para executar essas mudanças.

Estes resultados revelam que, à luz do que foi apontado por Zhang & Tan (2007), existe

uma relação entre disfarce e Informante, demonstrando que a execução do disfarce

está dependente do desempenho de cada indivíduo. Consequentemente, nem todos

os tipos de disfarce são eficientes para todos os Informantes, já que alguns falantes

são mais aptos para determinados disfarces (Zhang & Tan, 2007). Neste sentido,

apesar de D1 ter sido eficiente para todos os sujeitos, D2 revelou-se eficaz apenas para

os Informantes 2 e 7. D2 não é considerado eficaz para o Informante 5 pois, embora se

tenha registado uma descida nos valores de F0 (Figura 27), os resultados do teste t-

student (Tabela 6) indicam que essa alteração não é estatisticamente significativa.

Por fim, a Tabela 6 permite cimentar algumas observações relativas ao(s) disfarce(s).

Em primeiro lugar, confirma-se que alguns disfarces não são eficientes. À excepção de

F0 no Informante 8, nenhum parâmetro foi significativamente alterado em D3, pelo

que os resultados não são significativos (NS). Desta forma, D3 não é um disfarce eficaz,

já que a utilização do mesmo não modifica nenhum dos parâmetros analisados.

Em segundo lugar, o mesmo disfarce não influencia de forma igual todos os

parâmetros acústicos. Recorde-se que na comparação de VN-D1, apesar de os

resultados serem significativos na maioria dos parâmetros, F2 não é significativo em

nenhum dos Informantes. Ainda que o gráfico da Figura 18 demonstre que, no

conjunto dos dados, os valores de F2 são mais elevados em D1 do que em VN, o

aumento das frequências não é significativo a nível estatístico. Por último, tendo em

vista o número de resultados significativos em todos os Informantes em D1, verifica-se

que este é, efectivamente, o disfarce que provoca mais alterações nos parâmetros

acústicos e, consequentemente, o disfarce mais eficaz.

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4.2.3. Disfarce versus Vogais

Nesta secção, pretende-se testar o efeito do disfarce nas vogais para apurar se todos

os segmentos são igualmente afectados ou se, pelo contrário, existem alguns mais

permeáveis ao disfarce do que outros. Os gráficos que se seguem apresentam os

valores médios de F1 e F2 de cada vogal relativamente a D1 (Figura 28), D2 (Figura 29),

D3 (Figura 30) e D4 (Figura 31), no conjunto dos Informantes. Em cada gráfico, são

também apresentados os valores médios dos referidos parâmetros em VN, de forma a

poder observar as alterações produzidas por cada disfarce.

Figura 28 – Distribuição dos valores de F1 e F2 de cada vogal em VN e D1.

Figura 29 - Distribuição dos valores de F1 e F2 de cada vogal em VN e D2.

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Figura 30 - Distribuição dos valores de F1 e F2 de cada vogal em VN e D3.

Figura 31 - Distribuição dos valores de F1 e F2 de cada vogal em VN e D4.

Relativamente a D1 (Figura 28), pode verificar-se que todas as vogais foram afectadas,

tanto em F1 como em F2. No entanto, a influência do disfarce não é semelhante entre

os vários segmentos, uma vez que alguns são mais afectados que outros. Da mesma

forma, o efeito do disfarce também não é idêntico em cada um dos formantes, isto é,

as vogais que sofrem maior influência do disfarce em F1 não são necessariamente as

mesmas que em F2. Assim, em F1 o aumento das frequências é mais elevado nas

vogais abertas ( [ɛ], [a], [ɔ] ) do que nas restantes, pelo que a interferência do disfarce

é maior nas três vogais referidas. Em relação a F2, são as vogais anteriores ( [i], [e], [ɛ] )

que sofrem maior influência do disfarce, dado que são estas que registam o maior

aumento dos valores. Deste modo, conclui-se que a vogal anterior baixa ( [ɛ] ) é a mais

vulnerável a D1, pois as suas frequências são alteradas de forma significativa, tanto em

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F1 como em F2, ao passo que a mais resistente é a vogal posterior média ( [o] ), visto

que é a que sofre menos modificações no conjunto dos dados.

No que diz respeito a D2 (Figura 29), o efeito do disfarce é relativamente homogéneo

entre as vogais. Porém, tal como em D1, o primeiro e segundo formantes não são

igualmente afectados por este disfarce. Apesar de se registar uma ligeira descida nas

frequências de F1 das vogais central e posterior baixa ( [a] e [ɔ] ), a presença de D2 é

praticamente insignificante neste formante. Por outro lado, todas as vogais

apresentam uma descida mais acentuada dos valores de F2, ainda que não exista

grande disparidade entre os segmentos. No conjunto dos dados, a vogal anterior alta (

[i] ) é a mais vulnerável ao disfarce, pois é a que apresenta a maior variação do valor

de F2 entre VN e D2.

Na presença de D3 (Figura 30), não se regista praticamente nenhuma alteração das

frequências das vogais. Embora se observe um decréscimo superfluo na frequência de

F2 da vogal [i], os segmentos apresentam valores semelhantes aos de VN quer em F1,

quer em F2.

Por último, as frequências de F1 das vogais não são modificadas na presença de D4

(Figura 31). Porém, a presença do disfarce é visível em F2, ainda que não seja idêntica

para todas as vogais, como se verificou nos disfarces anteriores. Assim, à semelhança

do que sucede com D1, os segmentos mais permeáveis a D4 são as vogais anteriores (

[i], [e] e [ɛ] ). A influência de D4 nas vogais é algo surpreendente, pois esperava-se que

este disfarce tivesse um impacto de maior relevo, dadas as limitações impostas por si.

Devido ao facto de os movimentos do maxilar serem quase inexistentes, os lábios

estarem estirados e os movimentos da língua ficarem mais limitados, como

consequência da colocação da palhinha entre os dentes incisivos, esperar-se-ia que os

segmentos mais afectados fossem as vogais abertas e arredondadas, tanto no plano de

F1 como de F2.

Em suma, constata-se que quando os disfarces interferem nas frequências dos

formantes, as vogais não são afectadas de forma homogénea. Dito de outro modo, há

segmentos que são mais permeáveis ao disfarce do que outros. Da mesma forma, a

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influência do disfarce também não é idêntica entre os formantes, uma vez que os

segmentos que sofrem maior interferência do disfarce variam em função do formante.

Por outro lado, a permeabilidade das vogais depende do tipo de disfarce, já que as

frequências de uma vogal podem ser alteradas por um disfarce, mas serem

impermeáveis a outro.

4.2.4. Triângulos vocálicos – Comparação de VN com o(s) Disfarce(s)

Nesta secção, pretende-se averiguar em que medida é que as alterações nas

frequências dos formantes (F1 e F2), provocadas por cada disfarce, afectam a

configuração dos triângulos vocálicos. Consequentemente, procura-se verificar se as

características individuais dos falantes são preservadas mesmo na presença do

disfarce. Assim, são apresentados os triângulos vocálicos de cada Informante

relativamente a D1 (Figuras 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38 e 39), D2 (Figuras 40, 41, 42, 43,

44, 45, 46 e 47), D3 (Figuras 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54 e 55) e D4 (Figuras 56, 57, 58, 59,

60, 61, 62 e 63). De forma a poder constatar as mudanças impostas por cada disfarce,

apresentam-se simultaneamente os triângulos vocálicos de VN para cada Informante.

Ao contrário dos triângulos apresentados no início da análise (ponto 4.1.1.) que

continham quatro pontos para cada vogal, estes são constituídos pelo valor médio de

cada segmento, uma vez que o foco de atenção recai na comparação de VN com os

disfarces.

4.2.4.1. VN versus D1

Figura 32 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 1 Figura 33 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 2

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Figura 34 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 3 Figura 35 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 4

Figura 36 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 5 Figura 37 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 6

Figura 38 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 7 Figura 39 - Triângulo vocálico VN-D1, Informante 8

Legenda:

VN D1

No que diz respeito ao Informante 1 (Figura 32), pode verificar-se que o disfarce incide

sobretudo nas vogais anteriores. O agrupamento formado pelas vogais anteriores

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média e baixa e o afastamento da vogal anterior alta, característicos deste indivíduo,

não são conservados em D1. Há, pelo contrário, uma ‘inversão’ na disposição destes

segmentos, uma vez que a vogal [e] se aproxima de [i] e a vogal [ɛ] fica isolada. Por

outro lado, o disfarce altera também a relação entre as vogais posteriores média e

alta, dado que em D1 a vogal [o] é mais recuada que [u]. Contudo, a distribuição das

vogais central e posterior baixa é preservada, assim como o espaço acústico que gera a

divisão entre os segmentos central/posteriores e anteriores.

No Informante 2 (Figura 33), o disfarce provoca transformações significativas na

configuração do triângulo vocálico, pelo que nenhum traço individual do falante é

conservado. Observa-se, por um lado, o alargamento considerável da dimensão do

polígono e, por outro lado, uma reestruturação na organização dos segmentos. Assim,

o cluster existente em VN, marca específica deste indivíduo, não é mantido no

disfarce; devido à estandardização dos valores de F1, o traço de avanço/recuo é o

único traço distintivo entre os segmentos [i] e [e]; a relação entre as vogais baixas

obedece a um novo padrão que consiste na uniformização das distâncias acústicas

entre si e no alinhamento das vogais anterior e posterior no plano de F1; por último, a

separação das vogais anteriores dos restantes segmentos não se verifica em D1, sendo

criada uma nova divisão entre as vogais altas/anterior média e baixas/posterior média.

Relativamente ao Informante 3 (Figura 34), o triângulo vocálico é alargado devido,

essencialmente, ao aumento dos valores de F2 das vogais anteriores. Apesar de o

padrão de distribuição das vogais anteriores se manter em D1, a disposição dos

restantes segmentos é bastante alterada. O disfarce gera um cluster, formado pelas

vogais [o] e [u], que não se verifica em VN; o traço distintivo de avanço/recuo é

suprimido relativamente às vogais [a] e [ɔ], dado que estas estão alinhadas no plano de

F2; e a distância acústica entre a vogal central e as vogais anteriores é ampliada.

No Informante 4 (Figura 35), a faixa de variação de F1 é aumentada em D1 e,

consequentemente, a dimensão do triângulo vocálico é alargada. Por outro lado, o

acentuado aumento dos valores de F1 das vogais baixas origina uma separação, que

não é característica deste falante, entre as vogais baixas e os restantes segmentos.

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Em relação ao Informante 5 (Figura 36), o disfarce provoca o alargamento do polígono,

essencialmente ao nível das vogais baixas. Apesar de os valores dos segmentos

posteriores alto e médio permanecerem idênticos aos de VN, o aumento das

frequências de F1 das vogais baixas gera uma divisão entre as vogais baixas e

médias/altas, inexistente em VN; a disposição das vogais anteriores também é

afectada, pois há uma aproximação das vogais [i] e [e] relativamente aos valores de F1;

e a distância acústica entre as vogais central e posterior baixa é aumentada.

No Informante 6 (Figura 37), o aumento das frequências dos segmentos dá origem ao

deslocamento do triângulo vocálico no espaço acústico. Embora a configuração geral

do polígono não seja afectada, o disfarce cria dois clusters ( [i]/[e] e [ɛ]/[a] ). Assim,

gera-se uma nova divisão entre as vogais posteriores alta/média e central/posterior

baixa. Contudo, a separação entre as vogais anteriores e os restantes segmentos

continua presente em D1.

No Informante 7 (Figura 38), a alteração das frequências das vogais anteriores altera

consideravelmente a configuração do triângulo vocálico. O aumento da faixa de

variação de F2, bem como das distâncias acústicas entre as vogais, dão origem ao

alargamento do polígono. Por outro lado, verifica-se que o disfarce modifica a

organização dos segmentos no triângulo vocálico, sobretudo ao nível das vogais baixas.

O traço distintivo de altura é praticamente suprimido em relação às vogais baixas

devido à aproximação dos valores de F1 destes segmentos. Ainda assim, pode

observar-se que a separação entre os segmentos posteriores médio/alto e

central/posterior baixo, existente em VN, é mantida também em D1.

Finalmente, no Informante 8 (Figura 39), o disfarce causa a deslocação do polígono no

espaço acústico, resultado do aumento das frequências, maioritariamente, de F1.

Verifica-se também que há uma aproximação das vogais médias às vogais altas

relativamente ao eixo de F1 e, ainda, um estreitamento do triângulo vocálico.

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4.2.4.2. VN versus D2

Figura 40 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 1 Figura 41 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 2

Figura 42 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 3 Figura 43 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 4

Figura 44 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 5 Figura 45 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 6

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Figura 46 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 7 Figura 47 - Triângulo vocálico VN-D2, Informante 8

Legenda:

VN D2

Os resultados obtidos para D2 são, de certo modo, condicionados, uma vez que a

maioria dos indivíduos não efectuou a descida da frequência fundamental, como

pretendido com este disfarce. Constatou-se que, à excepção dos Informantes 2, 5 e 7,

os restantes falantes mantiveram ou aumentaram os valores de F0 em D2 (cf. Figura

27). Desta forma, pode observar-se que não há alterações significativas nos triângulos

vocálicos dos Informantes 1, 3 e 8 (Figuras 40, 42 e 47), pelo que as marcas indivíduais

de cada falante permanecem inalteráveis, relativamente à configuração e localização

do polígono.

No entanto, os triângulos vocálicos dos Informantes 4 e 6 apresentam algumas

modificações comparativamente a VN. No Informante 4 (Figura 43), há uma

diminuição das frequências, essencialmente de F1, das vogais posteriores e anteriores

alta e baixa. O aumento do valor de F1 da vogal central causa um maior

distanciamento entre esta e a vogal [ɔ], bem como a ampliação do intervalo acústico

entre a vogal central e as vogais anteriores. Por outro lado, o traço distintivo de altura

é suprimido relativamente às vogais anteriores média e baixa, dando origem a uma

nova disposição das vogais anteriores. Relativamente ao Informante 6 (Figura 45), o

disfarce tem um grande impacto nas vogais posteriores e central, dado que as

distâncias acústicas entre estes segmentos são, praticamente, elididas. As distâncias

entre as vogais anteriores também são reduzidas, mas de forma menos significativa.

Como resultado das alterações das frequências dos segmentos, a faixa de variação de

F1 e F2 é reduzida, dando origem ao encolhimento do triângulo vocálico. Ainda assim,

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observe-se que a divisão entre as vogais anteriores e os restantes segmentos

permanece em D2.

As modificações observadas nos triângulos vocálicos dos Informantes 4 e 6 estão,

provavelmente, relacionadas com a alteração dos movimentos e posições dos

articuladores. No entanto, estes resultados não são tidos em conta, visto que se

pretendia a modificação da fonte e não dos filtros.

No que diz respeito ao Informante 2 (Figura 41), o disfarce provocou o encolhimento

do triângulo acústico, resultado da diminuição das frequências de F1 e F2 de todos os

segmentos; consequentemente, também a faixa de variação de F1 e F2 é reduzida; e a

redução da distância entre as vogais [a] e [ɔ] origina um cluster inexistente em VN.

Porém, pode verificar-se que alguns traços específicos deste falante são mantidos,

visto que o cluster formado por [o] e [u] continua presente, assim como a distância

entre este e a vogal posterior baixa, e a disposição das vogais anteriores ( [i], [e] e [ɛ] )

não é modificada.

No Informante 5 (Figura 44), a presença do disfarce manifesta-se no decréscimo das

frequências das vogais, maioritariamente no plano de F2, embora a redução dos

valores dos formantes não seja significativa. Desta forma, não há alterações

substanciais das características do triângulo vocálico deste falante.

Por último, é no Informante 7 (Figura 46) que se registam as maiores alterações

provocadas pelo disfarce. Embora a dimensão e localização do polígono não sejam

modificadas, a disposição de alguns segmentos é alterada, desfazendo algumas marcas

particulares deste indivíduo. A diminuição e aumento do valor de F2 das vogais [i] e

[e], respectivamente, gera a aproximação destes segmentos, ao passo que em VN as

distâncias entre [i], [e] e [ɛ] são semelhantes; o agrupamento formado pelas vogais

central e posterior baixa, existente VN, é desfeito; os segmentos [o] e [u] são distintos,

apenas, a partir das frequências de F1, pois o disfarce aproxima-os no plano de F2.

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4.2.4.3. VN versus D3

Figura 48 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 1 Figura 49 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 2

Figura 50 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 3 Figura 51 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 4

Figura 52 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 5 Figura 53 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 6

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Figura 54 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 7 Figura 55 - Triângulo vocálico VN-D3, Informante 8

Legenda:

VN D3

No que diz respeito a D3, pode constatar-se que, no conjunto dos Informantes, este

disfarce não acarreta modificações substânciais na configuração dos triângulos

vocálicos. Tal como tinha já sido observado através da análise comparativa entre VN e

D3 (Figura 20), os valores de F1 e F2 não sofrem alterações na presença deste disfarce.

Assim, no Informante 1 (Figura 48), as posições das vogais permanecem inalteradas,

embora a vogal [ɛ] apresente um maior desvio dos que as restantes que, ainda assim,

não é relevante. Mantém-se, pois, a proximidade das vogais anteriores média e baixa,

bem como o afastamento demarcado das vogais anteriores dos restantes segmentos.

Pelo contrário, as alterações provocadas por D3 são mais visíveis no Informante 2

(Figura 49). A diminuição dos valores de F2 vogais anteriores alta e média provocam a

redução da faixa de variação de F2. Por outro lado, a distância acústica entre as vogais

[i]/[e] e [ɛ] é reduzida, alterando uma marca particular deste indivíduo que consiste no

isolamento de [ɛ] dos restantes segmentos. Regista-se, ainda, um ligeiro decréscimo

dos valores de F1 das vogais baixas [a] e [ɔ], mas a distância acústica entre si não é

afectada. Do mesmo modo, não houve nenhuma modificação relativamente aos

segmentos posteriores alto e médio, pelo que se mantém o cluster característico deste

falante.

No Informante 3 (Figura 50), a influência do disfarce é praticamente inexistente,

apesar de haver uma modificação nas frequências das vogais posteriores alta e média,

que reduz a distância acústica entre si e as aproxima no plano de F2.

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Relativamente ao Informante 4 (Figura 51), não se verificam alterações substanciais no

triângulo acústico, uma vez que os valores de F1 e F2 dos segmentos não se afastam

muito dos de VN. Porém, é alterado um traço específico do falante, respeitante à

relação entre as vogais posteriores alta e média, dado que em VN estas estão

alinhadas no eixo de F2, ao passo que em D3 não.

O efeito de D3 não se manifesta no Informante 5 (Figura 52), pois as frequências de F1

e F2 das vogais são idênticas às de VN. Deste modo, todas as características do

polígono são preservadas na presença deste disfarce.

Da mesma forma, também a influência de D3 no Informante 6 (Figura 53) é supérflua.

Ainda que as frequências das vogais oscilem ligeiramente entre VN e D3, não há

alterações na configuração do triângulo vocálico.

Com respeito ao Informante 7 (Figura 54), pode observar-se que, à semelhança do

Informante 6, as ligeiras modificações nos valores dos formantes das vogais não

condicionam a configuração do polígono, pelo que as marcas específicas deste sujeito

são preservadas. Ainda assim, há uma mudança superficial nos segmentos anteriores

médio e baixo, pois a distância acústica entre si é reduzida devido à aproximação dos

seus valores de F1.

Finalmente, no Informante 8 (Figura 55), a presença do disfarce reflecte-se na redução

das frequências de F2 das vogais anteriores e, ainda, na perda do traço distintivo de

avanço/recuo entre as vogais posteriores média e alta. Contudo, o disfarce não

acarreta transformações substanciais nas características do triângulo vocálico, visto

que a sua configuração geral e a disposição dos segmentos não são modificadas.

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4.2.4.4.VN versus D4

Figura 56 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 1 Figura 57 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 2

Figura 58 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 3 Figura 59 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 4

Figura 60 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 5 Figura 61 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 6

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Figura 62 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 7 Figura 63 - Triângulo vocálico VN-D4, Informante 8

Legenda:

VN D4

No que diz respeito ao Informante 1 (Figura 56), não se verificam transformações

consideráveis nas frequências das vogais. Para além do ligeiro aumento dos valores de

F1 das vogais posteriores alta e média, o disfarce potencia um aumento mais

significativo da frequência de F1 da vogal [ɛ], enfraquecendo a proximidade existente

entre as vogais anteriores média e baixa. Ainda assim, pode afirmar-se que as

características do triângulo vocálico deste falante são preservadas, na medida em que

a configuração do polígono não é alterada e o agrupamento formado pelos segmentos

[e] e [ɛ], característico deste indivíduo, é mantido, embora não seja tão coeso como

em VN.

Pelo contrário, no Informante 2 (Figura 57), a presença de D4 acarreta modificações

significativas na disposição dos segmentos. Em primeiro lugar, o decréscimo das

frequências de F2 das vogais anteriores e de F1 das vogais central e posterior baixa

originam a redução da faixa de variação de F1 e F2 e, consequentemente, a diminuição

da dimensão do polígono. Neste sentido, também as distâncias acústicas entre os

segmentos são afectadas, pelo que com o disfarce é suprimido o intervalo entre as

vogais [ɔ] e [o]/[u]. Por outro lado, perde-se o traço distintivo de avanço/recuo entre

as vogais [a] e [ɔ], dado que os valores de F2 destas são semelhantes, assim como as

vogais anteriores média, baixa e posterior baixa se aproximam no plano de F1. Desta

forma, a única marca que permanece intacta diz respeito ao cluster formado pelas

vogais [o] e [u], já que os restantes traços individuais não são conservados em D4.

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No Informante 3 (Figura 58), a dimensão do polígono é reduzida, resultado da

diminuição e aumento das frequências de F2 das vogais anteriores e posteriores,

respectivamente, e da redução do valor de F1 da vogal central. Apesar de o disfarce

não comprometer a configuração geral do triângulo vocálico, a aproximação das

frequências de F1 das vogais [o] e [u] gera um cluster que não é característico deste

indivíduo.

Relativamente ao Informante 4 (Figura 59), a presença do disfarce desfaz uma marca

particular do falante, relativa ao alinhamento das vogais posteriores média e alta no

plano de F2. Em adição, são aumentadas as distâncias entre alguns segmentos,

nomeadamente entre as vogais anteriores alta e média e entre as vogais posteriores

média e baixa. Ainda assim, a divisão entre as vogais anteriores e os restantes

segmentos é preservada e a configuração geral do triângulo vocálico não é afectada.

No Informante 5 (Figura 60), apesar da redução generalizada das frequências de F2 dos

segmentos, à excepção da vogal [u] cujos valores se mantêm idênticos aos de VN, não

há alterações na configuração do triângulo vocálico, pelo que as marcas individuais do

falante continuam presentes em D4.

No Informante 6 (Figura 61), à semelhança do que sucede com o Informante 5, não há

grande discrepância nas frequências das vogais entre VN e D4. No entanto, o disfarce

provoca uma alteração na disposição das vogais posteriores, pois o traço distintivo de

avanço/recuo é eliminado, sendo que estas ficam alinhadas no eixo de F2. Ainda que a

mudança dos valores destas vogais não seja muito acentuada, esta é bastante

significativa, pois dá origem a uma configuração do triângulo vocálico diferente da de

VN.

No que diz respeito ao Informante 7 (Figura 62), não há modificações significativas na

configuração do triângulo vocálico. Embora a redução dos valores de F1 das vogais

central e posterior baixa elida o intervalo acústico que as separa das vogais

posteriores, pode observar-se que a organização dos segmentos permanece idêntica à

de VN.

Por último, no Informante 8 (Figura 63), o disfarce provoca a redução da faixa de

variação de F2, devido ao aumento das frequências do segundo formante das vogais

posteriores e decréscimo dos valores do mesmo formante nas vogais anteriores.

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Embora a configuração do triângulo vocálico se mantenha semelhante a VN, as

distâncias entre as vogais anteriores e central são uniformizadas, pelo que o ligeiro

afastamento das vogais anteriores dos restantes segmentos é suprimido. Por outro

lado, e à semelhança do que acontece no Informante 3, a influência de D4 é mais

visível nas vogais posteriores média e alta, uma vez que há uma aproximação das

mesmas no plano de F2.

4.2.4.5. Considerações finais

No conjunto dos dados, verificou-se que as modificações dos triângulos vocálicos

provocadas pelos disfarces consistem na ampliação/redução das faixas de variação de

F1 e F2, aumento/diminuição da dimensão do polígono, deslocação do triângulo no

espaço acústico, alteração das distâncias acústicas entre as vogais e reorganização dos

segmentos.

De modo geral, as alterações produzidas por D1 traduzem-se na expansão da gama de

variação de F1 e F2, provocando a ampliação do triângulo vocálico, e/ou na deslocação

do polígono no espaço acústico, como resultado do aumento generalizado das

frequências de F1 e F2. No que diz respeito a D2, a presença deste disfarce resulta na

diminuição das faixas de variação de F1 e F2, originando o encolhimento do triângulo

vocálico. Contudo, os dados relativos a D2 não correspondem, na sua totalidade, ao

solicitado, visto que apenas três Informantes realizaram, efectivamente, a descida da

frequência fundamental. Neste sentido, alguns dos resultados obtidos não são tidos

em consideração, já que não podem ser entendidos como decorrentes da presença

deste disfarce. Relativamente a D3, observa-se que este não acarreta distorções na

configuração dos triângulos acústicos. Por último, o efeito de D4 causa a redução, não

muito acentuada, da dimensão do polígono, embora não se verifique nenhum tipo de

alteração nalguns Informantes. Assim, de entre os quatro disfarces analisados, D1 é o

que causa mais modificações na configuração do triângulo vocálico, ao passo que D3 é

o que menos interfere nas características do polígono.

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Todavia, importa frisar que, como se demonstrou no ponto 4.2.2., existe uma

interacção entre as variáveis falante e disfarce, pelo que o efeito do(s) disfarce(s) não é

semelhante para todos os indivíduos. Apesar de haver tendências gerais associadas a

cada disfarce (aumento global das frequências dos formantes, por exemplo), tal não

significa que essas se verifiquem em todos os sujeitos. Desta forma, as transformações

que um disfarce em particular provoca no triângulo vocálico não são necessariamente

idênticas em todos os falantes.

Por outro lado, a variabilidade dos parâmetros acústicos é uma constante, visto que

existem sempre diferenças entre dois enunciados produzidos pelo mesmo falante nas

mesmas condições (variação intra-falante). Deste modo, ainda que um disfarce como

D3 não produza modificações nos triângulos vocálicos, as frequências dos formantes

não são exactamente iguais entre as duas condições de produção (VN e D3).

Adicionalmente, a extensão da variação intra-falante difere consoante os indivíduos,

sendo que nalguns falantes a variabilidade é maior do que noutros.

O triângulo vocálico é uma ‘ferramenta’ relevante para o Reconhecimento de Falantes,

na medida em que espelha as características anatómicas do tracto vocálico dos

indivíduos e as tendências articulatórias que adoptam enquanto falam, permitindo

fazer uma caracterização do falante. Neste sentido, toda a informação que é possível

extrair dos triângulos vocálicos, desde a sua configuração à organização interna dos

segmentos, constitui pistas extremamente importantes para a identificação do falante.

Assim, a tarefa do perito consiste em procurar as marcas específicas do indivíduo, que

permitam identificá-lo, e verificar através da comparação dos triângulos vocálicos se

esses traços individuais estão presentes nas duas amostras em análise. Porém, deve

salientar-se que, embora a análise e comparação do triângulo vocálico seja um método

valioso para a identificação, este não deve constituir uma prova única, mas deve antes

ser utilizado em conjunto com outros parâmetros acústicos e/ou outras pistas

linguísticas.

No que diz respeito à comparação de VN com D1, D2, D3 e D4, constata-se que,

mesmo na presença do disfarce, são preservadas algumas marcas individuais de cada

sujeto. Ainda que o(s) disfarce(s) provoque(m) alterações nos parâmetros acústicos,

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79

em vários casos permanecem intactos alguns traços específicos dos falantes, tais como

a configuração do polígono, a conservação de clusters, a manutenção das distâncias

acústicas ou a própria organização dos segmentos. No entanto, nalgumas situações a

presença do disfarce não permite recuperar nenhuma marca particular, como se

verifica no Informante 2 em D1 (Figura 33).

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80

5. CONCLUSÃO

Após a análise e discussão dos resultados, interessa agrupar as principais conclusões obtidas

com o presente trabalho, de forma a poder responder às questões de partida e confirmar ou

infirmar as hipóteses estabelecidas no ponto 3.1.

5.1. Conclusões

No que diz respeito à voz normal, a análise dos triângulos vocálicos permite demonstrar que

não existem valores fixos para as frequências das vogais, resultado do fenómeno da

coarticulação e da variação intra e inter-falante. Assim, a cada vogal corresponde um espaço

de dispersão no triângulo, que é determinado pelo sistema vocálico de cada língua. Neste

sentido, apesar de as zonas de incidência de cada vogal não serem idênticas para todos os

indivíduos, a variação dos segmentos é limitada, pois a sua posição relativa no triângulo

vocálico é aproximada dentro da mesma área para todos os falantes, desde que se

mantenham os mesmos factores de produção.

Por outro lado, as variadas configurações dos triângulos acústicos dos Informantes,

resultantes das dissemelhanças nos valores dos formantes das vogais, evidenciam as

diferenças entre os sujeitos relativamente às características anatómicas do tracto vocálico e

às tendências articulatórias adoptadas aquando da produção de fala. Desta forma, a

disposição dos segmentos, as distâncias acústicas entre as vogais, a faixa de variação de F1 e

F2, bem como a dimensão e localização do triângulo no espaço acústico permitem apontar

marcas específicas de cada falante e, consequentemente, distinguir os indivíduos entre si.

Os valores de F0 permitem verificar que este é um parâmetro relevante para a distinção de

indivíduos de sexos opostos, uma vez que a média da frequência fundamental é mais

elevada no sexo feminino do que no masculino. Do mesmo modo, a comparação dos valores

médios de F0 dos vários Informantes demonstra que a frequência fundamental é, também,

um parâmetro eficaz na distinção de falantes do mesmo sexo.

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As frequências de F1, F2, F3 e F4 estabelecem, também, a separação entre Informantes de

sexos distintos, pois os valores dos formantes dos indivíduos do sexo masculino são mais

baixos do que os do sexo feminino. Da mesma forma, as frequências dos formantes

possibilitam a distinção entre falantes do mesmo sexo, dado que os valores diferem entre si,

embora a variação inter-falante seja superior nos formantes mais elevados (F3 e F4).

O facto de os valores dos formantes da mesma vogal não serem uniformes entre os

Informantes confirma a existência da relação falante/vogal. Porém, a variação entre os

indivíduos não é proporcional em todos os formantes. A menor variação inter-falante de F1

e F2 prende-se com o facto de estes formantes serem os responsáveis pela determinação da

identidade da vogal. Pelo contrário, as frequências de F3 e F4 são pouco variáveis em função

das vogais, mas são consideravelmente distintas entre os indivíduos, demonstrando que

estes parâmetros estão relacionados com as características anatómicas de cada falante.

Assim, a eficiência dos parâmetros na distinção de falantes é, por ordem de relevância, F0,

F4, F3, F1 e F2. Ainda que, individualmente, F1 e F2 apresentem resultados pouco

significativos, quando utilizados em conjunto são parâmetros satisfatórios para a

discriminação de indivíduos, como demonstram os triângulos vocálicos.

Em relação ao disfarce, pôde constatar-se que os diferentes disfarces não têm

consequências idênticas. Nos disfarces que envolvem a manipulação de F0, D1 traduz-se no

aumento das frequências de todos os parâmetros, ao passo que a influência de D2 é,

apenas, visível no decréscimo das frequências de F2 e F4. Os restantes parâmetros não são

afectados por D2, visto que F0, F1 e F3 mantêm valores semelhantes aos de VN.

Relativamente aos disfarces com recurso ao uso de um objecto, D3 não provoca alterações

em nenhum dos parâmetros acústicos e as modificações causadas por D4 manifestam-se

apenas em F2, F3 e F4, através da descida dos valores destes formantes. Deste modo,

infirma-se a primeira parte da Hipótese 1, que previa que a presença do disfarce interferiria

sempre nos parâmetros acústicos, visto que D3 não afecta nenhum dos parâmetros.

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No entanto, a segunda parte da Hipótese 1, que afirmava que determinados disfarces

provocam mais modificações no sinal acústico, é válida, pois D1 afecta todos os parâmetros,

enquanto D2 e D4 interferem apenas em F2/F4 e F2/F3/F4, respectivamente.

Neste sentido, confirma-se também a Hipótese 2, que afirmava que a influência de um tipo

de disfarce não seria homogénea entre os vários parâmetros acústicos. De facto, os

diferentes parâmetros não são igualmente afectados pelo mesmo disfarce, uma vez que este

pode modificar todos os parâmetros acústicos (D1), mas pode ter o foco de alteração

centralizado apenas nalguns parâmetros em particular (D2 e D4).

A análise do efeito dos disfarces em cada parâmetro, individualmente, demonstrou que F0 é

alterado apenas em D1, pois, nos restantes disfarces, os valores da frequência fundamental

mantêm-se idênticos aos de VN; F1 não é alterado na presença de D3 e D4, mas sofre

modificações em D1 e D2; as frequências de F2 permanecem invariáveis apenas em D3, dado

que D1 potencia o aumento dos valores deste formante e o valor das frequências diminui

em D2 e D4; a modificação de F3 ocorre através do aumento das frequências em D1,

diminuição das mesmas em D4 e manutenção dos valores em D2 e D3; por fim, F4 não é

alterado em D3, mas verifica-se o aumento das frequências em D1 e a descida dos valores

em D2 e D4.

Desta forma, confirma-se a Hipótese 3, que afirmava que cada parâmetro acústico pode ser

afectado por um tipo de disfarce, mas ser impermeável a outro, visto que o mesmo

parâmetro não é alterado por todos os disfarces.

Assim, conclui-se que os disfarces não actuam todos da mesma forma e que há,

efectivamente, disfarces mais eficazes do que outros. No conjunto dos disfarces estudados,

D1 é o disfarce mais eficiente, pois potencia um aumento das frequências de todos os

parâmetros, ao passo que D3 demonstrou ser ineficaz, visto que a sua presença não acarreta

modificações em nenhum dos parâmetros acústicos. Por outro lado, uma vez que cada

parâmetro não é igualmente afectado por todos os disfarces, conclui-se que a sua robustez

está directamente relacionada com o tipo de disfarce utilizado.

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83

Verificou-se que a variação inter-falante existe não só na voz normal, mas também no

disfarce, pelo que a variabilidade dos vários parâmetros em função do disfarce está

dependente de cada indivíduo. Existe, portanto, uma relação entre disfarce e falante, uma

vez que as mudanças produzidas pelos disfarces não são idênticas entre os Informantes,

sendo que um parâmetro pode ser alterado num indivíduo e permanecer inalterado noutro.

Desta forma, a eficiência do(s) disfarce(s) está relacionada com o desempenho de cada

falante na performance do disfarce, sobretudo naqueles que implicam a manipulação dos

articuladores do aparelho fonador, como D1 e D2. Consequentemente, ainda que todos os

Informantes tenham sido capazes de efectuar D1, D2 não foi bem conseguido pela maior

parte dos indivíduos, já que não conseguiram produzir o abaixamento de F0.

Averiguou-se, ainda, que a influência do(s) disfarce(s) não é homogénea entre as vogais e

que o efeito do disfarce em função da vogal não é semelhante em F1 e F2. A presença de D1

manifesta-se em todas as vogais, mas o aumento das frequências de F1 é mais elevado nas

vogais baixas ( [ɛ], [a], [ɔ] ), ao passo que, em F2, os segmentos mais afectados são as vogais

anteriores ( [i], [e], [ɛ] ). Em D2, há uma ligeira descida nos valores de F1 das vogais baixas [a]

e [ɔ], embora a interferência do disfarce seja quase insignificante neste formante. Ainda que

todas as vogais sofram uma descida nas frequências de F2, é na vogal [i] que o impacto do

disfarce é mais relevante. Com respeito a D3, não houve alterações significativas nas

frequências de F1 e F2, apesar de o valor de F2 da vogal [i] diminuir superficialmente.

Quanto a D4, registam-se modificações consideráveis apenas nas frequências de F2 das

vogais anteriores ( [i], [e], [ɛ] ).

Por fim, a confrontação dos triângulos vocálicos de VN com D1, D2, D3 e D4 demonstra que

D1 é o disfarce que causa mais modificações no formato do triângulo vocálico, enquanto que

D3 é o que menos interfere nas características do polígono. Apesar de a presença do(s)

disfarce(s) se reflectir nos triângulos vocálicos, verificou-se que são preservadas algumas

marcas individuais de cada falante, tais como a configuração do triângulo vocálico, a

tendência de localização das vogais, a manutenção de clusters, a não alteração das distâncias

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acústicas entre as vogais ou a preservação da organização interna dos segmentos. A

recuperação dos traços específicos de cada indivíduo no disfarce é extremamente

importante, pois é através destes que se podem relacionar duas amostras de fala e,

consequentemente, associá-las ao mesmo falante. Contudo, num caso em particular, o

disfarce é tão invasivo que não é possível estabelecer a ligação entre os dois triângulos, já

que no polígono correspondente ao disfarce não é mantida nenhuma característica do

Informante.

Por outro lado, as alterações do triângulo vocálico provocadas pelo disfarce não são

idênticas em todos os indivíduos, uma vez que existe uma relação entre o disfarce e o

falante. Assim, o mesmo disfarce pode resultar na deslocação do triângulo vocálico no

espaço acústico num falante e no aumento da sua dimensão noutro indivíduo.

Para concluir, demonstrou-se que:

(i) a diferente configuração e localização do triângulo vocálico no espaço acústico

resulta da variação inter-falante;

(ii) os parâmetros relevantes para a distinção de falantes na voz normal são F0, F3 e

F4, mas também F1 e F2 se utilizados em conjunto;

(iii) os vários disfarces não actuam todos da mesma forma;

(iv) há disfarces mais eficientes do que outros;

(v) cada parâmetro acústico não é afectado de igual modo pelos vários disfarces;

(vi) a robustez dos parâmetros está dependente do tipo de disfarce;

(vii) algumas vogais são mais permeáveis à influência do(s) disfarce(s);

(viii) mesmo na presença do(s) disfarce(s), são preservadas algumas marcas individuais

de cada falante, que se podem observar através dos triângulos vocálicos.

5.2. Limitações do estudo

A principal limitação do presente estudo prende-se com o facto de um dos disfarces (D2) não

ter sido bem sucedido. Tal como se demonstrou através da análise de D2, a maioria dos

Informantes não efectuou a descida da frequência fundamental. Assim, os resultados

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obtidos são, de certa forma, condicionados, uma vez que não revelam com precisão a

influência do disfarce nos parâmetros acústicos analisados. No entanto, apesar de o

conjunto dos dados relativos a este disfarce não espelhar, com rigor, as alterações

provocadas nos parâmetros, estes resultados permitiram concluir que a performance do

disfarce está dependente de cada falante, pelo que o mesmo tipo de disfarce não é eficaz

para todos os indivíduos.

Adicionalmente, o reduzido tamanho da amostra e as suas características (faixa etária e

dialecto) podem ser apontados como um factor limitador, na medida em que não são

representativos do padrão populacional.

5.3. Perspectivas futuras

Numa perspectiva futura, aposta-se, em primeiro lugar, na análise mais aprofundada dos

parâmetros acústicos estudados, bem como a extensão da análise a outros parâmetros

relevantes para o Reconhecimento de Falantes. Importa prosseguir a investigação na

procura de parâmetros, por um lado, potencialmente discriminadores da identidade e, por

outro, robustos perante o disfarce. Desta forma, é fundamental estender a investigação a

diferentes parâmetros como a banda formântica, a transição entre segmentos, a amplitude,

a duração de segmentos, o jitter, o shimmer, entre outros. Do mesmo modo, é essencial

alargar a investigação a outros tipos de disfarce que surgem no contexto forense, como a

nasalidade, o sussurro, a mudança de dialecto ou a rouquidão, por exemplo, de forma a

compreender a acção de cada um nos parâmetros geralmente utilizados na Identificação de

Falantes. Por outro lado, é relevante estender o presente estudo a uma amostra mais

abrangente, relativamente à faixa etária e à variedade dialectal. Fica, ainda, por explorar a

perspectiva perceptiva do disfarce da voz, já que é necessário verificar em que medida é que

o disfarce difere do ponto de vista perceptivo e acústico. Por agora, fica o contributo da

presente investigação como ponto de partida para o conhecimento e desenvolvimento dos

estudos sobre o disfarce da voz no âmbito da Fonética Forense.

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ANEXO 1

Valores F0, F1, F2, F3, F4 – VN

Info

rman

te 4

F4

3747

40

91

3857

40

13

3949

41

69

4054

39

30

3843

39

62

4334

41

69

4293

42

88

4132

38

34

4141

38

98

4164

40

72

3820

38

71

4233

42

28

4027

40

91

3866

41

27

4043

16

3

F3

2949

28

43

3210

28

53

3114

29

44

2935

30

22

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Page 102: O Disfarce da Voz em Fonética Forense · 2014-12-23 · i RESUMO O presente trabalho tem por objectivo estudar quatro tipos de disfarce da voz, de forma a averiguar as consequências,

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41

2385

23

94

2376

23

71

2559

25

04

2022

23

66

2467

22

06

2568

27

33

2334

21

28

2357

24

76

2293

29

67

2192

23

62

2438

19

5

F2

761

913

1169

82

5 10

36

2197

20

96

1224

10

23

1605

17

89

1270

17

43

1903

13

12

1142

79

3 10

96

1596

21

42

931

1046

18

30

1834

83

7 22

88

1151

17

24

1403

47

7

F1

339

307

587

275

431

257

289

431

523

527

408

670

495

385

670

569

261

647

523

280

408

560

399

408

312

275

660

523

444

136

F0

105

106

100

99

96

108

91

94

97

102

97

90

97

91

89

91

87

92

91

101

96

82

90

87

96

94

89

94

95

6

Pa

lavr

a

ab

ono

abut

re

adón

is

adub

o an

dorr

a ar

dido

as

ilo

azot

o ba

bosa

ba

rbel

a ca

beça

ca

dáve

r ca

dela

ca

dete

ca

saco

ca

sota

ca

sulo

ca

valo

do

nzel

a er

vilh

a fa

vore

s ga

ivot

a ga

veta

ga

zeta

gr

avur

a na

biça

ta

baco

tr

aves

sa

méd

ia

d.p.

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93

ANEXO 2 Valores F0, F1, F2, F3, F4 – D1

Info

rman

te 4

F4

4297

42

15

4132

44

99

4279

46

96

4586

45

04

4403

-

4416

- -

4609

-

4279

- - -

4742

-

4196

-

4756

43

16

4655

- -

4446

20

2

F3

3793

37

29

3618

38

71

- 33

85

3568

35

86

3802

35

63

3458

37

47

3485

35

40

3655

38

02

3770

38

94

3559

35

18

3761

37

74

3366

35

63

3573

33

80

3485

34

07

3617

15

8

F2

963

1206

13

57

1197

11

88

2896

29

03

1348

13

02

2321

24

58

1674

21

33

2742

17

84

1376

11

97

1293

19

90

3077

11

51

986

2431

26

05

1307

28

62

1445

23

71

1842

69

3

F1

518

472

890

454

610

472

454

569

839

926

482

1252

87

1 47

2 12

38

885

472

752

780

436

560

871

504

454

449

472

945

812

675

243

F0

451

462

441

451

439

241

445

450

400

475

411

420

445

468

408

431

454

436

446

439

419

458

479

443

436

478

246

237

422

67

Info

rman

te 3

F4

3403

-

3403

38

71

- - - - 34

12

- - 37

70

3976

-

3614

-

3632

38

29

- 45

04

3527

- -

4059

37

47

- 38

25

- 37

55

301

F3

- 27

10

2953

27

98

2742

26

83

- 30

86

- 31

55

- 28

34

2958

-

2811

33

16

2807

29

58

2875

29

40

2706

29

08

3527

28

34

2541

-

2871

-

2905

22

2

F2

885

1110

12

66

1165

11

83

2325

23

80

1069

95

4 19

81

2220

11

33

2142

22

20

1046

12

93

1101

12

75

2110

22

38

991

1055

21

97

2013

11

05

2348

12

52

1995

15

73

550

F1

477

390

715

408

454

390

404

518

564

720

500

837

619

454

743

743

408

853

615

390

445

509

472

440

427

390

794

560

544

150

F0

423

385

426

404

402

377

396

428

373

473

442

419

419

444

346

454

405

431

385

374

411

371

423

392

416

393

402

387

407

28

Info

rman

te 2

F4

4137

- -

4857

40

36

- 47

33

4114

- -

4435

35

77

- 44

62

4421

42

19

4283

42

70

4201

45

59

- 44

39

4293

44

67

- 41

69

3972

-

4297

28

5

F3

- 32

10

3582

30

86

2976

38

43

3151

- -

3476

33

30

2495

38

02

- 31

74

2834

29

99

3256

-

3866

-

3440

- - - -

2495

36

92

3262

41

5

F2

1101

10

96

1101

10

91

1059

29

81

2600

13

07

1144

24

99

2587

19

49

2339

26

09

1949

11

37

1119

14

95

2541

27

61

1069

11

74

2669

25

64

1078

31

23

1500

23

89

1858

73

7

F1

674

537

958

518

944

495

518

913

1023

10

18

518

1036

11

24

532

1014

99

5 53

7 10

29

1014

56

0 58

2 10

32

560

523

537

518

944

890

769

236

F0

260

274

255

256

252

482

259

257

269

258

247

253

268

255

253

268

263

265

264

277

264

272

268

257

265

262

249

270

269

42

Info

rman

te 1

F4

3926

- -

4132

-

4265

- - - - - -

4288

-

3843

-

4013

- - - - - - - - - -

4357

41

18

196

F3

3146

33

16

3274

30

64

3160

32

84

3274

34

85

3307

31

78

3123

33

89

3151

32

06

2917

34

44

3201

34

40

3270

34

12

3178

35

08

3105

32

70

3082

32

61

3375

29

21

3241

15

2

F2

958

1032

12

11

1229

10

09

2843

25

54

1110

11

97

1775

25

50

1362

24

44

2454

13

76

1280

11

19

1325

17

20

2802

92

6 12

38

2596

25

32

853

2798

13

85

2279

17

13

698

F1

468

472

780

431

491

422

408

518

766

853

454

766

784

468

752

674

408

761

770

431

509

798

518

468

408

408

793

775

591

165

F0

434

467

399

425

380

420

410

395

398

451

467

372

368

395

366

344

403

369

369

427

394

419

432

411

393

412

372

378

402

31

Pa

lavr

a

ab

ono

abut

re

adón

is

adub

o an

dorr

a ar

dido

as

ilo

azot

o ba

bosa

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a ca

beça

ca

dáve

r ca

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ca

dete

ca

saco

ca

sota

ca

sulo

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valo

do

nzel

a er

vilh

a fa

vore

s ga

ivot

a ga

veta

ga

zeta

gr

avur

a na

biça

ta

baco

tr

aves

sa

méd

ia

d.p.

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94

Info

rman

te 8

F4

3476

36

14

3729

37

61

3660

38

20

3738

37

70

3637

38

02

- 37

51

3760

37

51

3884

37

38

3660

36

96

- 38

78

3632

36

41

3573

36

83

3696

36

92

3706

37

15

3710

89

F3

2499

34

53

2394

26

23

2325

27

10

2357

24

54

2344

21

28

- 22

15

- 23

44

2278

23

30

2518

24

76

2779

35

77

2449

23

07

2252

21

88

2527

23

53

2068

22

52

2469

35

0

F2

991

1018

13

53

1110

10

59

2004

17

98

1321

11

24

1601

19

67

1206

18

44

1830

13

76

1229

10

00

1133

17

98

2293

10

91

1247

17

93

1688

92

2 18

07

1270

17

66

1451

38

2

F1

495

495

637

482

495

495

472

509

624

615

518

876

541

482

835

610

472

665

702

454

518

693

486

486

454

472

807

527

568

121

F0

495

435

480

470

459

374

475

473

461

254

498

466

467

468

470

465

468

465

453

456

450

469

466

464

444

462

467

464

455

45

Info

rman

te 7

F4

4004

40

95

- 41

73

4215

45

31

4522

43

38

- - 43

75

4618

- -

4563

-

4183

-

4270

43

48

4017

-

4449

46

27

3985

43

29

- 44

71

4322

20

8

F3

3132

32

61

3286

32

74

3082

31

74

- 31

46

- - - 32

06

3132

-

3284

33

20

3485

33

20

3114

32

97

3082

-

3307

33

20

3164

32

38

3339

31

23

3231

10

3

F2

1023

13

02

1279

11

42

1201

28

16

2706

96

8 13

44

2820

28

85

1789

22

66

2692

12

47

1431

10

04

1298

22

93

2697

92

2 12

89

2261

25

87

945

2623

16

79

2183

18

10

712

F1

569

472

863

408

693

454

390

537

908

858

504

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78

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0 56

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7 10

55

367

569

858

742

766

454

431

1101

82

1 68

6 23

4

F0

411

455

410

416

386

458

389

396

379

463

475

466

443

428

409

460

364

412

382

363

441

383

370

395

442

410

369

321

411

38

Info

rman

te 6

F4

- - 44

81

- - - - 37

47

4880

45

36

4715

41

55

4040

47

92

4426

- -

4490

48

43

- - 34

12

4783

- - -

4756

-

4433

44

4

F3

2853

33

52

2568

34

44

2692

26

19

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27

10

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25

96

2476

27

61

- - - 26

28

3761

28

75

3380

35

63

2830

24

67

2137

-

3086

37

19

- - 29

43

466

F2

1018

11

10

991

1238

13

57

2119

23

02

1018

15

87

1880

17

24

1472

17

43

2215

13

16

1275

11

05

1293

18

94

2302

10

59

1362

17

29

1724

11

28

2334

13

30

1766

15

50

431

F1

514

477

839

486

592

454

454

518

885

550

518

901

821

477

862

853

486

825

879

454

527

968

477

500

477

472

848

807

640

187

F0

466

473

455

474

466

453

453

452

446

453

449

451

437

430

453

445

476

431

461

452

463

452

447

438

453

464

444

452

453

12

Info

rman

te 5

F4

3843

38

89

3962

40

95

4114

42

79

4545

40

95

3917

42

47

3862

38

43

4091

36

96

3917

-

4141

40

36

4072

-

4146

39

49

4155

41

23

- 44

90

3811

40

13

4053

20

0

F3

3174

31

23

3128

-

3082

30

59

3008

34

26

3022

30

31

2752

27

88

2798

28

30

2756

32

65

4141

29

17

2908

-

3132

28

20

2788

28

16

- 31

14

2596

28

53

3013

30

3

F2

968

848

1234

92

6 91

7 24

54

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10

96

1029

18

07

2036

14

63

1789

21

19

1486

10

87

885

1188

19

22

2476

96

8 94

0 22

20

1940

90

3 25

04

1376

20

13

1536

58

1

F1

468

335

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321

358

303

303

362

711

679

367

913

624

335

825

624

303

807

550

303

390

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326

362

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280

848

555

500

204

F0

321

324

317

307

309

305

301

312

265

343

320

279

313

303

307

295

298

289

280

294

319

276

310

315

269

280

285

287

301

19

Pa

lavr

a

ab

ono

abut

re

adón

is

adub

o an

dorr

a ar

dido

as

ilo

azot

o ba

bosa

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rbel

a ca

beça

ca

dáve

r ca

dela

ca

dete

ca

saco

ca

sota

ca

sulo

ca

valo

do

nzel

a er

vilh

a fa

vore

s ga

ivot

a ga

veta

ga

zeta

gr

avur

a na

biça

ta

baco

tr

aves

sa

méd

ia

d.p.

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95

ANEXO 3 Valores F0, F1, F2, F3, F4 – D2

Info

rman

te 4

F4

3678

38

11

3605

41

46

3609

38

89

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36

96

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37

24

3907

- -

3843

-

3733

38

02

3692

-

3811

37

15

3779

39

49

3953

39

26

3852

37

47

- 38

08

131

F3

2935

29

12

3018

29

53

3004

29

03

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30

54

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26

32

2683

31

83

2820

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88

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35

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30

64

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31

32

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28

11

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28

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2995

30

54

2917

15

0

F2

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5 10

78

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23

25

1014

10

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92

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45

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15

27

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92

2 11

88

1917

24

81

981

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21

19

1578

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0

F1

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394

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385

385

408

390

294

216

837

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445

198

F0

199

224

193

211

201

190

211

194

195

180

211

185

189

208

189

190

202

191

195

211

198

184

206

195

204

209

175

202

198

11

Info

rman

te 3

F4

3064

31

51

3210

32

88

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34

63

3343

33

94

3022

32

38

3481

33

71

3476

33

89

3660

32

61

3219

34

72

3495

33

07

3132

31

51

3270

34

53

3183

33

20

3481

34

58

3318

15

5

F3

2353

23

16

2454

24

21

2536

26

69

2440

25

45

2637

21

05

2316

24

76

2399

24

67

2454

25

50

2366

26

87

2412

24

44

2614

26

78

2266

23

89

2215

24

44

2532

21

19

2439

15

2

F2

917

922

1096

84

8 88

5 20

73

1995

92

6 91

7 15

82

1834

12

66

1683

18

99

1293

11

05

885

1041

15

82

2013

89

9 93

1 17

93

1880

88

1 20

45

1124

16

79

1357

45

1

F1

408

275

555

280

408

303

248

381

486

463

371

693

472

335

670

546

307

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238

592

468

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126

F0

114

119

113

115

112

110

115

115

119

113

114

113

114

108

113

115

107

105

111

112

108

108

110

111

110

115

111

111

112 3

Info

rman

te 2

F4

3155

-

3385

32

52

3229

- -

3261

33

94

3338

34

25

3513

34

39

3402

34

48

3527

33

25

3384

34

90

3380

30

94

3325

33

06

3402

-

3403

36

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33

74

121

F3

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24

05

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55

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32

79

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25

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24

00

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26

85

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-

2524

26

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28

16

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28

43

2188

23

49

2370

27

24

2818

24

83

2629

28

5

F2

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780

1004

96

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49

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11

33

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18

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15

31

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12

18

1302

94

0 10

67

1595

18

85

777

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1710

17

15

1025

19

90

1200

16

00

1327

39

5

F1

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376

225

316

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477

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474

372

575

537

316

524

524

316

336

495

395

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290

266

566

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409

109

F0

199

198

198

194

186

200

200

199

191

199

202

192

187

191

197

184

182

181

183

198

189

186

207

201

193

199

187

191

193 7

Info

rman

te 1

F4

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37

70

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37

33

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40

13

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09

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36

37

3903

38

43

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40

17

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29

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36

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49

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39

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5

F3

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88

2885

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17

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35

2963

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29

08

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28

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29

99

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29

72

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28

85

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31

60

2894

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F2

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197

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205

201

186

182

199

13

Pa

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o an

dorr

a ar

dido

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ivot

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veta

ga

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gr

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a na

biça

ta

baco

tr

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sa

méd

ia

d.p.

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96

Info

rman

te 8

F4

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30

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55

3128

29

40

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59

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30

31

- 33

25

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-

3004

31

64

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32

93

- 31

37

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32

74

- - 29

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22

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22

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21

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24

90

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24

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46

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53

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22

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20

96

2283

13

6

F2

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926

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18

25

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97

2 89

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0

F1

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394

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330

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F0

136

134

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131

140

135

131

130

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133

135

128

128

135

129

124

129

133

131

133

133

133

136

131

129

132 4

Info

rman

te 7

F4

- 34

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- 42

42

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40

36

- 37

24

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44

35

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33

5

F3

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26

55

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26

51

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26

60

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28

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24

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2476

29

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27

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29

76

3215

-

2761

29

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2637

29

26

2591

27

20

- 29

95

2756

27

75

2805

22

5

F2

936

1046

12

06

1055

10

87

2169

19

58

1192

11

69

1706

20

27

1454

18

71

2128

14

72

1243

10

14

1247

17

79

2366

10

87

1165

20

50

2096

11

28

2238

13

62

1894

15

41

457

F1

472

312

647

335

472

316

344

413

670

532

330

825

546

422

780

624

330

770

518

335

477

656

394

482

330

312

830

500

499

167

F0

170

184

174

176

165

181

179

168

171

176

171

171

182

175

171

165

168

173

168

176

170

164

170

162

167

169

161

165

171 6

Info

rman

te 6

F4

3013

27

70

- 29

95

3216

31

55

- 30

50

3355

32

70

3261

35

73

3389

31

64

3518

34

42

3082

35

68

3453

33

52

2985

32

44

3302

32

24

- 31

32

3513

34

99

3261

20

9

F3

2611

23

85

2564

24

67

2481

22

20

- 26

48

2638

23

89

2376

25

82

2587

23

57

2628

26

43

2425

27

52

2532

25

18

2467

25

92

2334

23

66

2545

24

17

2637

24

99

2506

12

4

F2

883

853

1044

10

69

1054

16

74

1706

99

8 95

6 14

13

1550

11

74

1550

16

46

1128

10

30

991

1023

14

86

1848

10

35

915

1660

16

10

986

1724

10

87

1518

12

72

319

F1

411

376

476

394

411

344

344

365

462

472

390

486

427

353

482

499

362

587

454

353

323

393

390

376

298

376

486

468

413

66

F0

127

131

122

121

135

119

133

129

127

119

121

120

130

122

125

129

131

120

123

121

124

127

129

126

126

132

122

115

125 5

Info

rman

te 5

F4

2921

32

52

3325

30

82

3105

32

61

3178

31

28

3187

33

48

3362

36

23

3398

32

93

3508

34

67

3412

36

60

3490

30

31

3045

34

53

3348

33

39

- 31

14

3339

34

53

3301

18

4

F3

2449

24

21

2738

23

62

2376

26

09

2504

24

86

2697

22

70

2339

24

54

2403

23

99

2229

26

74

2266

23

66

2444

24

90

2311

24

21

2325

23

76

2151

26

92

2476

24

54

2435

14

4

F2

693

592

1096

84

8 97

7 21

42

1972

93

6 88

5 14

31

1793

12

29

1692

18

71

1202

10

23

706

1036

15

68

1935

78

4 95

4 17

93

1738

66

0 20

91

1192

15

59

1300

48

5

F1

344

238

550

294

436

257

275

404

509

518

408

688

518

390

688

560

252

624

495

252

371

523

417

422

252

248

688

523

434

144

F0

89

89

90

84

93

96

93

85

85

92

87

81

87

86

80

85

82

78

86

89

85

82

87

88

87

87

90

88

87

4

Pa

lavr

a

ab

ono

abut

re

adón

is

adub

o an

dorr

a ar

dido

as

ilo

azot

o ba

bosa

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a ca

beça

ca

dáve

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dela

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dete

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ca

sota

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sulo

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valo

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nzel

a er

vilh

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vore

s ga

ivot

a ga

veta

ga

zeta

gr

avur

a na

biça

ta

baco

tr

aves

sa

méd

ia

d.p.

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97

ANEXO 4 Valores F0, F1, F2, F3, F4 – D3

Info

rman

te 4

F4

3880

39

58

3806

40

59

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41

05

3857

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88

3784

38

48

4050

39

62

4137

42

15

3889

37

88

4059

39

94

4045

41

14

3770

37

42

4150

40

77

3967

40

27

3939

40

91

3963

13

5

F3

2999

29

12

3252

29

81

3027

28

85

2765

30

82

3100

26

92

2692

29

53

2871

28

62

2935

31

09

3022

26

92

2995

28

94

2981

29

86

2742

27

84

2885

29

90

2921

28

25

2923

13

7

F2

922

991

1280

88

3 10

78

2499

23

11

1119

10

82

1807

20

41

1546

19

49

2156

13

94

1229

91

7 12

93

1816

24

86

1069

12

15

2100

21

37

1036

26

28

1399

19

81

1584

55

4

F1

399

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761

376

454

289

353

399

560

560

371

812

537

376

803

610

367

784

537

367

495

514

390

408

353

266

757

504

492

162

F0

188

199

182

202

187

188

182

186

185

182

184

170

181

180

173

175

189

163

172

188

177

173

180

176

185

182

178

170

181 8

Info

rman

te 3

F4

3187

33

25

3197

31

09

3164

33

48

3316

33

16

3293

31

51

3320

35

04

3660

34

03

3485

34

03

3302

34

07

3403

32

19

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33

02

3270

34

30

3219

33

02

3499

33

30

3325

12

4

F3

2509

23

80

2490

22

66

2476

24

90

2376

27

01

2720

20

73

2339

25

27

2467

24

31

2412

25

41

2467

24

81

2421

23

80

2463

25

68

2330

24

58

2353

26

19

2495

23

16

2448

12

9

F2

784

862

1073

99

5 10

08

2004

19

22

931

908

1495

17

43

1229

17

29

1834

13

02

1142

87

1 98

1 14

63

1981

91

7 94

9 17

38

1784

88

5 20

50

1124

16

10

1333

42

6

F1

394

261

495

303

417

307

303

330

504

495

404

647

482

381

610

537

321

555

477

303

353

523

408

408

307

257

637

518

426

115

F0

104

104

98

104

109

95

103

100

109

98

103

102

102

103

99

105

100

97

103

101

103

100

102

104

102

107

105

97

102 3

Info

rman

te 2

F4

4169

42

79

3825

40

31

3852

44

07

4215

41

32

3806

41

47

4239

43

13

4372

43

31

4211

43

38

4150

41

47

4207

37

79

4152

39

26

4137

41

98

4331

42

42

4138

42

44

4154

17

4

F3

2784

28

30

2454

26

37

2862

27

93

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27

75

2353

22

94

2630

25

50

2736

26

57

2193

27

06

2793

25

13

2768

28

66

2823

26

23

2657

27

03

2795

27

79

2455

23

82

2646

18

2

F2

1014

11

19

1302

10

55

1133

24

81

2266

12

70

1091

18

34

2009

13

93

2023

21

88

1554

13

35

1091

12

23

1669

24

35

1034

12

06

2188

20

23

1159

24

40

1365

19

08

1600

50

1

F1

449

408

644

390

449

422

358

408

622

600

409

860

515

432

823

633

422

745

685

394

372

670

440

432

395

358

828

506

524

156

F0

204

213

207

221

202

216

225

200

213

216

207

197

208

215

208

200

210

205

220

222

203

209

221

212

216

220

200

211

211 8

Info

rman

te 1

F4

3889

40

04

3719

38

94

3706

42

10

3944

38

02

3907

38

16

4050

38

48

4242

40

54

3907

37

61

- 40

08

3742

-

3733

38

11

3889

41

05

3843

42

10

3733

-

3913

16

1

F3

3050

29

26

2995

29

08

2963

30

59

2843

29

40

3036

28

75

2880

29

58

2921

29

58

2875

29

40

2921

29

67

2986

30

54

2866

30

13

2954

30

13

2871

30

27

2875

29

21

2950

64

F2

977

1041

13

67

1096

10

36

2628

23

11

1211

11

69

1853

22

43

1403

20

22

2243

14

72

1330

88

5 12

34

1867

26

23

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11

47

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20

32

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25

73

1426

20

22

1622

56

5

F1

436

326

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316

449

335

335

449

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523

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482

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587

326

720

495

321

449

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440

431

326

321

775

504

479

138

F0

162

167

170

160

155

159

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164

157

166

164

164

162

163

161

165

150

157

157

159

158

163

169

157

168

167

154

157

162 5

Pa

lavr

a

ab

ono

abut

re

adón

is

adub

o an

dorr

a ar

dido

as

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azot

o ba

bosa

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ivot

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veta

ga

zeta

gr

avur

a na

biça

ta

baco

tr

aves

sa

méd

ia

d.p.

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98

In

form

ante

8

F4

3247

32

29

3508

31

97

3132

35

73

3197

33

25

3274

33

62

3366

34

14

3490

33

57

3385

33

43

3325

34

26

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32

84

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32

79

3302

34

95

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33

39

3426

34

03

3331

11

7

F3

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22

66

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22

01

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24

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20

78

2201

23

53

2284

22

75

2288

23

57

2467

23

07

2288

22

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21

23

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22

84

2220

21

42

2160

21

69

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10

1

F2

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85

1747

92

6 81

2 14

63

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12

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16

83

1330

10

50

858

958

1344

19

03

803

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16

05

913

1812

10

41

1518

12

53

386

F1

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523

321

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321

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427

89

F0

135

134

131

114

115

134

111

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112

126

139

116

116

120

131

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127

104

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109

115

110

114

120

121

119

109

119

10

Info

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te 7

F4

3829

37

10

4260

36

73

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40

04

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42

65

- 44

94

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41

73

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42

24

3797

42

19

4348

39

94

3829

39

21

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42

24

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39

94

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40

77

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21

9

F3

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29

26

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28

75

2875

28

02

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29

08

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26

97

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29

63

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25

41

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29

53

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27

33

2875

27

79

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27

38

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26

65

3077

27

38

2596

26

55

2823

16

5

F2

1064

10

78

1403

11

69

1234

23

25

2013

13

57

1174

16

65

2032

15

46

1885

19

17

1518

12

84

1142

12

93

1720

24

17

1206

12

80

1990

19

17

1114

22

84

1376

18

30

1580

41

4

F1

587

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770

353

500

353

344

514

670

601

495

757

541

482

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720

362

748

578

344

504

660

518

477

344

344

816

518

538

157

F0

181

184

173

189

174

188

184

181

170

195

179

171

172

168

175

171

177

168

173

173

175

166

173

173

177

177

161

168

175 7

Info

rman

te 6

F4

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30

36

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32

48

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08

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24

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33

02

3770

34

75

3169

36

23

3563

33

15

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33

92

3284

33

71

2995

32

61

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34

95

3373

20

2

F3

2583

23

57

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25

22

2643

23

16

2330

26

85

2735

22

79

2394

26

55

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23

25

2412

25

74

2683

26

42

2435

24

23

2440

26

38

2311

23

16

2412

25

18

2490

24

03

2481

13

7

F2

813

812

1109

92

6 97

0 18

99

1839

96

6 92

9 16

79

1816

12

15

1679

18

39

1270

10

40

775

1156

16

14

2009

93

3 92

0 17

43

1812

85

3 19

45

1234

16

92

1339

42

8

F1

393

321

564

321

439

312

316

420

522

518

404

651

500

404

711

545

316

656

482

321

453

504

408

422

330

303

683

472

453

121

F0

165

169

151

155

163

152

160

159

160

171

151

146

158

158

154

149

166

150

159

157

155

159

147

155

162

162

147

152

157 6

Info

rman

te 5

F4

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31

87

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13

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33

66

3540

37

56

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33

80

3774

36

51

3407

37

29

3605

33

48

3178

33

57

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35

13

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49

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34

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21

1

F3

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22

15

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22

93

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28

30

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23

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24

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23

99

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23

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53

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22

70

2399

24

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28

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2000

24

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20

1

F2

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23

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21

65

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10

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43

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9

F1

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289

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390

390

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537

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146

F0

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111

102

103

102

106

96

96

92

93

97

92

95

95

84

95

90

88

100

99

93

90

97

98

87

100

84

90

96

6

Pa

lavr

a

ab

ono

abut

re

adón

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ivot

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gr

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a na

biça

ta

baco

tr

aves

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méd

ia

d.p.

Page 109: O Disfarce da Voz em Fonética Forense · 2014-12-23 · i RESUMO O presente trabalho tem por objectivo estudar quatro tipos de disfarce da voz, de forma a averiguar as consequências,

99

ANEXO 5 Valores F0, F1, F2, F3, F4 – D4

Info

rman

te 4

F4

3600

35

96

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33

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33

3637

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34

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37

61

4063

38

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35

31

3715

34

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3536

35

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35

63

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20

7

F3

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30

31

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29

49

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29

58

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29

26

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26

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29

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29

99

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45

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30

59

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29

58

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29

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21

2

F2

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08

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F1

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376

339

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F0

211

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204

219

184

213

197

196

176

211

205

187

189

191

199

200

196

180

178

177

180

175

185

192

197

192

195

186

194

13

Info

rman

te 3

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3421

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67

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23

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34

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30

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13

8

F3

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43

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22

33

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24

21

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24

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22

79

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24

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21

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22

70

2201

24

54

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62

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57

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21

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6

F2

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19

26

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19

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14

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14

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9

F1

335

243

482

344

339

326

307

381

472

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527

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493

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518

500

321

349

491

390

408

298

289

550

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410

88

F0

106

106

105

102

100

98

106

101

103

105

103

106

108

105

104

98

98

99

99

101

102

100

103

104

100

104

105

100

102 3

Info

rman

te 2

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40

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-

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41

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-

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39

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- 42

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42

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-

4090

16

6

F3

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46

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27

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5

F2

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00

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6

F1

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408

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F0

207

213

211

210

200

206

214

211

203

209

204

204

201

204

203

197

205

201

202

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196

199

201

185

215

218

196

192

204 7

Info

rman

te 1

F4

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36

78

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37

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38

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ANEXO 6

Corpus

Eu digo barbela, Paulo.

Eu digo ardido, Paulo.

Eu digo cabeça, Paulo.

Eu digo adónis, Paulo.

Eu digo abono, Paulo.

Eu digo abutre, Paulo.

Eu digo casaco, Paulo.

Eu digo azoto, Paulo.

Eu digo cadáver, Paulo.

Eu digo cadela, Paulo.

Eu digo casota, Paulo.

Eu digo favores, Paulo.

Eu digo gravura, Paulo.

Eu digo nabiça, Paulo.

Eu digo Andorra, Paulo.

Eu digo cadete, Paulo.

Eu digo casulo, Paulo.

Eu digo babosa, Paulo.

Eu digo gaivota, Paulo.

Eu digo gazeta, Paulo.

Eu digo tabaco, Paulo.

Eu digo gaveta, Paulo.

Eu digo asilo, Paulo.

Eu digo cavalo, Paulo.

Eu digo adubo, Paulo.

Eu digo donzela, Paulo.

Eu digo ervilha, Paulo.

Eu digo travessa, Paulo.

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ANEXO 7

Declaração de Objectivos

Fica determinado que o material gravado pela mestranda Raïssa Ricardo Gillier, aluna nº 32755 da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, será utilizado, divulgado e disponibilizado nas circunstâncias e condições abaixo explicitadas:

1. No âmbito do Mestrado em Linguística Portuguesa (“O disfarce da voz em fonética forense”). Para o desenvolvimento da investigação, será necessário fazer uso do material recolhido, nos seguintes contextos situacionais:

- elaboração da Tese de Mestrado;

- apresentação regular, em aula, da investigação em curso;

- colaborações e/ou participações em congressos, conferências, entre outros eventos.

2. Conservação em bases de dados, com aplicações e fins exclusivamente científicos.

Deve salientar-se que a identificação explícita de qualquer interveniente nas gravações não ficará expressa em nenhuma das circunstâncias acima apresentadas sendo, apenas, reveladas as seguintes informações.

- naturalidade;

- idade;

- sexo;

- habilitações literárias;

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ANEXO 8

Termo de Aceitação

Eu, abaixo-assinado, considero-me informado acerca do uso, bem como das condições e circunstâncias de divulgação e disponibilização do material resultante da minha participação nas gravações efectuadas pela mestranda Raïssa Ricardo Gillier, aluna nº 32755 da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Concordo com as condições apresentadas e autorizo a utilização dos dados, conforme os termos descritos na declaração em anexo a este documento.

Assinatura __________________________________________