O DNA da Igreja - Comunidades cristãs transformando a nação

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Rubens Muzio Comunidades cristãs transformando a nação O DNA DA IGREJA

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“O que está acontecendo com a igreja evangélica brasileira?” As pessoas não parecem estar levando a igreja a sério. Apesar de os evangélicos estarem mais presentes e visíveis no Brasil, eles não têm conseguido influenciar decisivamente a cultura nem tentado impactar o processo histórico desta nação. Em O DNA da Igreja - Comunidades crIstãs transformando a nação, Rubens Muzio vai a fundo nas questões básicas da igreja, ou em seu “DNA”. Como, por exemplo, o enfraquecimento da igreja pela falta de uma teologia mais robusta; a busca por uma visão saudável de mundo ou uma cosmovisão bíblica; a contribuição da igreja local para a transformação da sociedade brasileira; as marcas e funções da igreja; seus ministérios; e passos práticos para guiar o líder em movimentos de plantação e crescimento de igrejas. O convite de Rubens Muzio em O DNA DA IgrejA é claro: “larguemos este cristianismo do tamanho de um aquário e naveguemos pelo vasto oceano bíblico que Deus nos oferece!

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R u b e n s M u z i o

Ru

be

ns

Mu

zio

Comunidades cristãs transformando a nação

R u b e n s R A M i R o M u z i o ,bacharel em Teologia pelo Seminário

Presbiteriano do Sul, de Campinas,

Mestre em Teologia Pastoral pelo Calvin

Thelogical Seminary, em Michigan e Dou-

tor em Teologia Pastoral pelo Westminster

Theological Seminary com validação pela

PUC-Rio. De 1999 a 2001, dirigiu uma

igreja internacional na cidade de Toronto,

Canadá. Atualmente Rubens coordena

o Projeto Brasil 21, é o atual diretor da

SEPAL para o Sul do Brasil, e é professor

da Faculdade Teológica Sul Americana,

lecionando as disciplinas na área de Teo-

logia Prática, em Londrina, onde mora.

É autor e organizador dos livros Revo-

lução Silenciosa I, Revolução Silenciosa II,

O DNA da Liderança Cristã e co-autor do

livro O Pastor Urbano.

Rubens e sua esposa Dely têm dois

filhos (Alexandre e Aline).

“Parece-me que os cristãos não conseguem influenciar decisi-vamente a cultura brasileira, nem nosso processo histórico pela falta de uma boa visão da pessoa, da vontade e dos planos de Deus. Precisamos de uma teologia maior que as questões sociais, mais atraente que o consumismo, mais robusta que as necessidades psicológicas e emocionais. Precisamos de uma saudável visão de mundo se-gundo Jesus - uma cosmovisão bíblica - que transforme a men-talidade e a vida do cristão pós-moderno. Se nossa mentalida-de não mudar, dificilmente nostornaremos pessoas melhores. Larguemos este cristianismo do tamanho de um aquário e naveguemos pelo vasto oceano bíblico que Deus nos oferece!”

C a p a _ I g o r C a m p o s

“O que está acontecendo com a igreja evangélica brasileira?”

As pessoas não parecem estar levando a igreja a sério. Apesar de os evangélicos estarem mais presentes

e visíveis no Brasil, eles não têm conseguido influenciar decisivamente a cultura nem tentado impactar

o processo histórico desta nação.

Em O DNA DA IgrejA - COmuNIDADes CrIstãs

trANsfOrmANDO A NAçãO, Rubens Muzio vai a fundo nas questões básicas da igreja, ou em seu “DNA”.

Como, por exemplo, o enfraquecimento da igreja pela falta de uma teologia mais robusta; a busca por uma visão saudável de mundo ou uma cosmovisão bíblica;

a contribuição da igreja local para a transformação da sociedade brasileira; as marcas e funções da igreja;

seus ministérios; e passos práticos para guiar o líder em movimentos de plantação e crescimento de igrejas.

O convite de Rubens Muzio em O DNA DA IgrejA é claro: “larguemos este cristianismo do tamanho de um aquário

e naveguemos pelo vasto oceano bíblico que Deus nos oferece!”.

O DNADA IgrejA

O DNA

DA

IgrejA

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RUBENS MUZIO

O DNADA IGREJA

Comunidades cr is tãs t ransformando a nação1ª Ed i ção

Cur i t i ba2010

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Rubens Muzio

O DNA da IgrejaComunidades cristãs transformando a nação

Coordenação editorial: Walter Feckinghaus

Revisão: Sandro Bier e Josiane Zanon Moreschi

Capa: Igor Campos

Ilustrações págs. 31, 77 e 134: Igor Campos

Mapas págs. 183, 218, 219, 220 e 222: SEPAL / IBGE

Outras ilustrações: Josiane Zanon Moreschi

Editoração eletrônica: Josiane Zanon Moreschi

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:1. Igreja cristã : Eclesiologia : Cristianismo

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Todas as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional (NIV), publicada pela Sociedade Bíblica Internacional.

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total e parcial sem permissão escrita dos editores.

Editora Evangélica EsperançaRua Aviador Vicente Wolski, 353 - CEP 82510-420 - Curitiba - PRFone: (41) 3022-3390 - Fax: (41) [email protected] - www.esperanca-editora.com.br

Muzio, Rubens O DNA da Igreja : comunidades cristãs transformando a nação / Rubens Muzio. - - 1. ed. - - Curitiba, PR : Editora Esperança, 2010.

Bibliografi a ISBN 978-85-7839-028-0

1. Igreja 2. Missão da Igreja 3. Palavra de Deus (Teologia) 4. Vida cristã I. Título.

10-03911 CDD-260

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Sumário

Prefácio................................................................................

Introdução............................................................................

Princípios teológicos...........................................................

Capítulo 1 - Em busca de uma visão cristã de mundo...................

Capítulo 2 - Igrejas que transformam a nação...............................

Princípios eclesiológicos.......................................................

Capítulo 3 - A Igreja, suas marcas e funções.................................

Capítulo 4 - Novos modelos eclesiais............................................

Princípios missiológicos........................................................

Capítulo 5 - Evangelização e crescimento de igrejas......................

Capítulo 6 - Pesquisando e analisando a realidade.........................

Princípios metodológicos.....................................................

Capítulo 7 - O processo de “nascimento” da igreja........................

Bibliografia...........................................................................

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A meus pais, Rubens Quaglio Muzio

e Clarice Ramiro Muzio

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PREFÁCIO

Neste livro, o leitor irá se deparar com uma pergunta extremamente pertinente nos dias de hoje, quando tanto se fala sobre a plantação de novas igrejas: Que tipo de igreja queremos plantar e ver crescer?

Desde o primeiro capítulo, Rubens Muzio mostra a necessidade de termos uma visão do nosso mundo que não seja a visão do mundo. Para que isso aconteça ele mostra as bases para uma cosmovisão (definida como “um modo de se olhar para a vida em termos de origem, propósito, limites de conduta apropriados, relaciona-mentos transcendentais e destino” Nash, 1990, p. 37).

As bases para uma cosmovisão cristã são firmadas na criação, que é resultado de uma revelação especial de Deus. Surge então a tragédia da humanidade em Adão, mas Deus não desampara o homem e providencia a redenção em Jesus Cristo, sen-do ele o fundador da igreja. Com sabedoria são descritos os passos da igreja, ficando claro que Satanás não terá a última palavra e que o julgamento final é real.

Outra pergunta é feita pelo autor: “Qual seria o resultado para o Brasil se nos alinhássemos com essa cosmovisão bíblica? Se Jesus fosse o Senhor do Brasil, como se pareceria nossa nação?” Ele passa então a mostrar e demonstrar como tem sido fraca e fragmentada a influência da igreja na vida da cidade e da nação. Mostra como estamos em situação desesperadora, reafirmando que a Bíblia teria respostas para as várias áreas apresentadas no livro.

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12 O DNA da Igreja

A verdade é que o número de evangélicos aumenta, mas o impacto sobre a nação não é sentido. Para que a igreja possa ser o que deve ser, algumas pergun-tas precisam de respostas. Estas perguntas são feitas e respondidas pelo Rubens: “Qual é o futuro da igreja? Qual é a finalidade da igreja neste mundo pós-moder-no? Qual é seu propósito, sua essência, seu DNA?”

Que tipo de igreja queremos plantar e ver crescer? Os novos modelos eclesiais e exemplos da aplicação destes são apresentados e ilustrados com ótimos gráficos.

O autor também trabalha com a “Evangelização e Crescimento de Igrejas” e “A realidade sobre o movimento evangélico”. Ele mostra que na maioria dos casos, para a igreja crescer, tudo vale, “os fins justificam os meios”. Para muitos, o cresci-mento numérico é mais importante do que uma doutrina bíblica sólida, com valo-res inegociáveis, o que é considerado um absurdo. É pertinente a citação de Michael Green, “quase todo teólogo não gosta de evangelização e quase todo evangelista não gosta de teologia”. Infelizmente, creio que em muitos casos isto seja verdade, mas há também brilhantes exceções. Há muitos pastores que levam Deus e sua Palavra a sério, amam a teologia e têm ao mesmo tempo um grande amor pelos perdidos, tudo fazem para que sejam capturados pela Graça maravilhosa do nosso Deus.

Sobre isso, o autor reforça: “Não encontramos Paulo preocupado com o ta-manho e crescimento das igrejas. Sua principal preocupação está na fidelidade e na integridade de seu testemunho, que o evangelho seja pregado, os gentios se convertam e sejam santificados pelo Espírito Santo (Rm 15.15-19).”

Falando do crescimento do número de evangélicos no Brasil, Rubens mostra que uma pesquisa feita projeta o crescimento deste número de forma impres-sionante e fenomenal. Queira Deus que isto seja na realidade um crescimento autêntico, bíblico e que resulte em verdadeiros cristãos. O autor concorda com Orlando Costa, fazendo uma pertinente citação do mesmo: “Precisamos de uma teoria de crescimento integral, pois é um processo multidimensional e a igreja uma realidade dinâmica e completa. As igrejas tendem a crescer desproporcional-mente, enfatizando ou concentrando-se em uma certa dimensão em detrimento da outra. Quatro dimensões brotam do crescimento integral: numérica, orgânica, conceitual e diaconal.”

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13Prefácio

Tendo abordado a velocidade do crescimento evangélico no Brasil, o autor cuidadosamente demonstra que este crescimento não é igual em todo o país, há várias regiões em que a presença evangélica ainda é pequena. Ele classifica o nasci-mento das igrejas no contexto histórico do mundo evangélico no Brasil começan-do com igrejas imigrantes e terminando com as igrejas neopentecostais.

O capítulo sobre a Pesquisa oferece vários modelos de como utilizar este instrumento na plantação de uma igreja. Considere, à guisa, de exemplo estas poucas perguntas:

• Quais são nossas forças? O que fazemos que supera as expectativas e aponta promessas para o futuro?

• Quais são nossas fraquezas? Quais são as áreas que estão abaixo da expectativa e que poderiam ser otimizadas, se atuássemos com o máximo de vigor e eficiência?

• Quais são nossas oportunidades? Quais são as oportunidades que Deus está nos dando que mostram consideráveis promessas para o futuro?

• Quais são nossas ameaças? Quais são os desafios e riscos que, se negligencia-dos, poderiam nos impedir de realizar o máximo de nosso vigor e eficácia?

O leitor ganhará muito com os princípios metodológicos apresentados pelo autor. Ele trata do processo de nascimento de uma igreja saudável, leva o leitor a considerar qual é a “missão”, “visão” e “valores”, dando os principais elementos do nascimento da igreja e os da fase de crescimento. Fica claro que nada do que foi escrito é para ser executado na “força da carne ou da personalidade” do líder, mas na dependência de Deus em oração. São essenciais as recomendações e ensino no preparo de liderança. O livro termina com atividades práticas para o leitor e plantador de igrejas.

Este livro fornecerá ferramentas para o leitor, pastores e líderes, que pensa em ter e plantar igrejas saudáveis.

Ary Velloso

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INTRODUÇAO

Soren Kierkegaard, famoso teólogo e filósofo dinamarquês do século 19, certa vez contou uma parábola que descreve muito bem o papel assumido pela igreja na sociedade de hoje. Certa feita, um circo veio à cidade e instalou sua tenda alguns quilômetros fora dela. Quando passaram pela cidade, os palhaços fizeram apresentações para promover o circo. Eles faziam as pessoas rirem, porque era isso que eles deveriam fazer. No entanto, suas faces maquiadas e atividades engraçadas eram meramente uma fachada. Ninguém leva um palhaço a sério. Um dia, eles chegaram à cidade com suas roupas e com seus rostos pintados e começaram a gritar: Fogo! Fogo! Fogo! Os palhaços pediam às pessoas que ajudassem a apagar um incêndio na tenda do circo, mas elas simplesmente gargalhavam, achando en-graçado o espetáculo. Mesmo a seriedade dos palhaços era engraçada para elas. O fato é que palhaços são seres estereotipados, enfeitados, ornamentados. Ninguém acredita neles!

Essa também pode ser uma parábola para a igreja brasileira. As pessoas não parecem estar levando a igreja a sério. Apesar de os evangélicos estarem mais presentes e visíveis, eles não têm conseguido influenciar decisivamente a cultura nem tentado impactar o processo histórico desta nação. Em novembro de 2007 quando comecei as pesquisas para este livro, o Jornal de Londrina mostrou o ex-

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presidente da Federação Paranaense de Futebol, Onaireves Rolim de Moura, pre-so pela Polícia Federal por desvio de dinheiro e fraude: ele estava plantando uma igreja que se chamaria Rede de Deus, em Camboriú, com o intuito de “lavar” o seu dinheiro. Em novembro de 2009, enquanto finalmente terminava este livro, José R. Arruda, Governador do Distrito Federal fora acusado de encabeçar o esquema de arrecadação de propina entre empresários e pela distribuição do dinheiro para deputados, secretários e assessores. Esta seria uma cena relativamente comum em Brasília se não fosse acompanhada por um vídeo dramático filmado pela Receita Federal e lançado no YouTube chamado “oração de propina”, estrelado por de-putados evangélicos que agradeciam vergonhosamente e oravam fervorosamente para que Deus abençoasse o uso dos milhares de reais estufados em seus bolsos. Que palhaçada trágica!

Os Guiness, em seu artigo More Victimized Than Thou, resumiu algumas das atitudes da sociedade com relação aos evangélicos em geral: “o nosso status deca-dente, uma crescente intolerância contra nós e um endurecimento do processo político contra a nossa influência”. A sua declaração é cada vez mais verdadeira e descreve como muitos se sentem com relação à igreja e à sua mensagem. Pat Buchanan, no lançamento do polêmico filme “A última tentação de Cristo”, de Martin Scorcese, escreveu o seguinte: “Vivemos em uma época em que ridicula-rizar os negros é proibido e o antissemitismo é punível com a morte política, mas malhar o cristianismo é um esporte popular, e filmes zombando de Jesus Cristo são considerados de vanguarda”.

Devemos permanecer passivos diante dessa ridicularização produzida pelo mundo, da qual muitas vezes somos culpados? Os evangélicos devem aceitar essa tentativa de marginalização em silêncio? A tarefa que temos diante de nós é com-preender o relacionamento entre a igreja e o mundo, além de verificar como a igreja realmente pode transformar o mundo. Por que isso é tão necessário? Porque a igreja se tornou tão privatizada, superespiritualizada, eclesiocêntrica e ensimes-mada ao ponto de perder a sua salinidade (ser sal) e sua luminosidade (ser luz) em um mundo decadente? Rodney Clapp observa que a igreja é tão “centrada em si mesma que se torna sectarista e triunfalista”1. Essa centralização, por outro lado, 1 Rodney Clapp, A Peculiar People (Illinois: InterVarsity Press, 1996), 140.

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17Introdução

resulta em um tipo de “tribalismo”, um cristianismo introvertido, de olhos fe-chados dentro do salão de cultos e mãos levantadas para o teto. Assim, de muitas maneiras, a igreja acaba sendo parte do problema. E isso intensifica a escuridão que cobre toda a terra. Para que a glória de Deus se expanda em toda a terra como as águas cobrem o mar, é fundamental que creiamos e pratiquemos uma saudável eclesiologia missiológica. Ou seja, precisamos compreender a natureza e a missão da igreja no mundo.

Há quase 15 anos, o tema “plantação e crescimento de igrejas” penetrou fundo nas minhas veias, tornando-se uma das minhas principais ênfases minis-teriais. Tendo pessoalmente trabalhado na pesquisa, análise, plantação e cres-cimento de algumas igrejas, tanto no Brasil quanto fora, bem como envolvido com os ministérios do DAWN (Discipling the Nation), GCPN (Global Church Planting network), Brasil 21 (antes Brasil 2010) e Sepal, participando e mi-nistrando em conferências, seminários e workshops, eu percebo claramente a necessidade de compreender melhor certos valores bíblicos, implicações mis-siológicas e estratégias metodológicas que respeitem os contextos regionais e realidades sociais.

Três anos atrás, quando sonhamos com um curso de treinamento para plan-tadores de igrejas focalizado nas regiões menos alcançadas do Brasil (há mais de 1.100 cidades brasileiras pouco evangelizadas), eu não tinha a mínima ideia que o projeto resultaria em um livro. Na verdade, esse curso foi inicialmente compilado em um manual que, como o Windows da Microsoft, foi passando por atualizações e upgrades 1.5, 2.3, 3.4. Algumas melhores, outras piores. Ministramos este curso da Sepal / Brasil 21 para centenas de líderes em vários Estados do Brasil.

Mas antes de colocar a carroça na frente dos bois – isso talvez soe ridículo para você que não viveu o suficiente para encontrar bois na frente de uma carroça nas ruas urbanizadas de sua cidade – eu precisava de respostas para as inúmeras perguntas sobre os diversos tipos de igrejas que estão sendo plantadas, sobre a qualidade dos seus modelos, as características principais dos seus líderes, os prin-cípios e estratégias mais eficazes e assim por diante. Esta é outra faceta da minha

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personalidade: a curiosidade, que me leva a perguntar (assustar-me e angustiar-me também): “O que está acontecendo com a igreja evangélica brasileira?” Entrei nesse barco e, como disse Lewis e Clark, rumei para o oeste, dizendo: “A gente não sabe o que vai encontrar quando chegar lá, mas com certeza vamos te contar quando voltarmos”.

Em 2007 e 2008, enviei centenas de e-mails, e dezenas de seminaristas, meus alunos na FTSA, bem como amigos pastores que participavam do projeto Brasil 21, aplicaram pessoalmente inúmeros questionários. Em um processo sistemático via internet, através de telefonemas ou por meio de longas entrevistas conversa-mos com pastores de igrejas grandes, médias e pequenas; interioranas, suburbanas e centrais; sulistas, paulistas, cariocas, nordestinas; algumas de brasileiros na di-áspora (imigrantes nos EUA, Canadá e América Latina); tradicionais, históricas, pentecostais e neopentecostais. Enfim uma variedade de cores, bandeiras e sabo-res que representam a multiforme graça de Deus presente na igreja de Cristo (pois afinal, há apenas uma igreja no Brasil). O resultado foram centenas de questioná-rios, horas e horas de gravações em mp3, suficientes para escrever alguns livros da história e testemunhos da obra evangélica em diversas partes do Brasil.

É importante notar que nossa pesquisa não se restringe apenas a igrejas “ven-cedoras” ou “bem sucedidas” em termos de estatísticas e crescimento. Veremos à frente que este é um tema controvertido. Boas igrejas, às vezes não crescem e aquelas que crescem às vezes não são boas (saudáveis) igrejas. O sucesso na igreja é relativo ao espaço que ocupa dentro do Reino de Deus. Por vezes, o fracasso e martírio de missionários resultaram em considerável expansão para o Reino de Deus. Outras vezes, o crescimento da igreja produziu inchaço numérico, heresias, escândalos sociais, conversões superficiais. A inquisição e as cruzadas foram tam-bém motivadas pela expansão da igreja.

Apesar da dificuldade que é juntar informações entre os evangélicos, inclusi-ve pela suspeita: “O que será feito com esses dados?”; o fato de fazê-lo em nome do Projeto Brasil 21, ministério que pertence à Sepal, facilitou o processo, tra-zendo mais credibilidade, transparência e sinceridade. As perguntas abrangeram os seguintes temas:

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19Introdução

1. Qual é o propósito de sua igreja? (para quê sua igreja existe?)

2. Como sua igreja foi fundada? (descreva os fatos mais relevantes)

3. Quais os princípios bílicos mais importantes na plantação e crescimento de sua igreja? (em especial, a fundamentação bíblica que orienta seus métodos e modelos de crescimento)

4. Quais atividades e programas Deus tem usado para produzir crescimento em sua igreja?

1. Pregação/ensino

3. Visitação

5. Plantação de novas igrejas

7. Grupos pequenos/células

9. Discipulado

11. Eventos/cursos/seminários

13. Comunhão/relacionamentos

15. Adoração/louvor

17. Curas e sinais

5. Em relação ao processo de plantação de igrejas, quais modelos vocês têm utilizado? (igreja em células, G12, redes, igreja com propósitos, se você usa mais de um modelo, explique como você os combina)

6. Quais são as principais características/ênfases do(s) modelo(s) de plantação de igrejas que você utiliza?

7. Quais são os pontos positivos deste modelo? O que está funcionando bem?

8. Quais são os aspectos negativos no modelo? O que não está funcionando muito bem?

9. Qual é o perfil ideal para um plantador de igrejas?

2. Capacitação de líderes

4. Evangelismo pessoal/público

6. Área social

8. Oração/interseção

10. Missões urbanas e transculturais

12. Acampamentos/integração

14. Expressões artísticas/coreografias

16. Libertação/batalha espiritual

18. Outro? ____________________

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20 O DNA da Igreja

10. Qual é o processo de escolha, treinamento e desenvolvimento do(s) plantador(es) de igrejas?

11. Como são assistidos (pessoal e financeiramente) o(s) plantador(es) de igre-jas em sua igreja local ou denominação?

12. Quais são suas preocupações e expectativas quanto à plantação de novas igrejas no Brasil nos próximos 10 ou 20 anos?

270 igrejas de todo o Brasil, representantes de dezenas de denominações, respon-deram detalhadamente à pesquisa.

Quanto ao conteúdo teológico dos capítulos 1 a 3, eu devo muito ao Dr. Jun Vencer, amigo e mentor, excelente teólogo asiático, por quase 10 anos Diretor Executivo da WEA (Aliança Evangélica Mundial). Traduzi e interpretei tantas vezes Jun em suas vindas ao Brasil que reconheço: absorvi “descaradamente” vá-rios dos seus pensamentos. Todos já olharam a vida por cima dos ombros de gigantes. Meus amigos, Luis André Bruneto, Johny Stutzer e Valmor Quintani, fizeram valiosas sugestões quanto ao conteúdo teológico, missiológico e estratégi-co. Eder Wilton Calado, meu aluno e assistente administrativo na Sepal, auxiliou nas pesquisas, elaboração e sistematização dos capítulos 1 a 4. Duas sociólogas de São Paulo (Maria de Araujo e Gláucia Monteiro) contribuíram na catalogação dos dados originais, codificando-os em porcentagens e gráficos. Com exceção da pergunta 4, lidamos com perguntas abertas, com total liberdade para expressão e posicionamento. Por um lado, isso torna mais difícil a análise. Por outro, isso abre o leque para respostas inimagináveis, impensadas. Depois procuramos separar os grandes temas abordados. Por exemplo, quando na primeira pergunta inquirimos sobre o propósito da igreja, separamos as respostas em categorias como evange-lização, a glória de Deus, evangelho, discipulado, missões, transformação social, adoração, oração, etc. Sempre que possível, dividimos as respostas em categorias gerais, que irão nortear vários dos capítulos deste livro.

É importante notar que os resultados nos levam a deduções empíricas apura-das a partir das respostas. Não começamos esta pesquisa tentando provar nossa

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21Introdução

própria teoria, como muitas das pesquisas hoje fazem. Elas têm objetivos em vista e partem de uma determinada teoria (por exemplo: quero comprovar que o café faz mal ou quero comprovar que o café faz bem) ou aquilo que já pensam de antemão, antes de até mesmo começarem a pesquisa. Procuramos construir ideias do zero, a partir da base de dados, simplesmente refletindo sobre o resul-tado obtido. Vamos nos restringir aos resultados gerais, sacando algumas impli-cações práticas para cada aspecto do capítulo. Estas análises estarão espalhadas nos vários capítulos do livro de acordo com os temas abordados. Vocês ficarão surpresos com os resultados!

No capítulo 1 observamos que as igrejas se enfraquecem pela falta de uma teologia mais robusta, perdem o ânimo pela ausência de uma mentalidade bíblica mais sólida. Como poderíamos formar igrejas teologicamente saudáveis se conti-nuarmos a enfatizar prosperidade financeira, autoajuda psicológica e emocional, cultos de libertação sem santificação e uma adoração repleta de entretenimento, sem consistência bíblica? Precisamos refletir sobre essa igreja que atrai multidões, mas distorce a Palavra de Deus! Não é apenas adultério, corrupção ou drogas que mandam as pessoas para o inferno. A heresia também. Parece-me que os cristãos não conseguem influenciar decisivamente a cultura brasileira nem nosso processo histórico pela falta de uma boa visão da pessoa, da vontade e dos planos de Deus. Precisamos de uma teologia maior que as questões sociais, mais atraente que o consumismo, mais robusta que as necessidades psicológicas e emocionais. Preci-samos de uma saudável visão de mundo segundo Jesus - uma cosmovisão bíblica - que transforme a mentalidade e a vida do cristão pós-moderno. Se nossa menta-lidade não mudar, dificilmente nos tornaremos melhores pessoas. Larguemos este cristianismo do tamanho de um aquário e naveguemos pelo vasto oceano bíblico que Deus nos oferece!

Mas qual seria o resultado se nos alinhássemos com essa cosmovisão bíblica? Penso que veríamos bairros, povoados e cidades mais impactados pelo Reino de Deus e influenciados pelo senhorio de Jesus Cristo através da presença de igre-jas saudáveis, missionais, generosas, diaconais, adoradoras e santificadoras. Os valores do Reino estariam personificados nos cristãos de tal maneira que seriam

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naturalmente acrescentados suficiência econômica, paz social, justiça pública e retidão às instituições nacionais, estruturas políticas, organizações sociais e comunidades locais. A igreja local pode e deve contribuir para a transformação da sociedade brasileira.

Sabemos que as ações ministeriais da igreja são moldadas pela sua natureza, impactadas pela sua identidade, seus propósitos. Os valores gerados a partir de certa figura mental escolhida determinarão seus ministérios cotidianos. A questão hoje não é plantar ou fazer crescerem igrejas. A pergunta principal é: que tipo de igreja você quer plantar e fazer crescer? No capítulo 3 falaremos sobre as princi-pais marcas e funções da igreja. A igreja é o povo de Deus reunido para adorá-lo, para ouvir a sua Palavra proclamada, para celebrar as ordenanças e para observar a ordem e disciplina em suas vidas. A partir dessa definição, sugerimos quatro mar-cas essenciais da igreja: Adoração, Palavra, Ordenanças e Governo. Na realização dos seus ministérios, nós podemos derivar quatro funções principais: koinonia, kerigma, diakonia e marturia. A igreja existe como comunidade (koinonia) serva (diakonia) e proclamadora da mensagem (kerygma) do evangelho, na sua missão (marturia) dentro do mundo.

Na pesquisa feita, perguntamos acerca dos principais modelos utilizados em relação ao processo de plantação e crescimento da igreja. Veremos no capítulo 4 a proliferação das propostas de modelos funcionais, ou seja, aqueles que enfocam o que a igreja faz em termos de funções, ações, programas. Dentre as principais, destacaremos os modelos com pequenos grupos e células, igreja nas casas, igreja com propósitos, igrejas emergentes, associação Willow Creek e assim por diante. Há inúmeras opções no mercado evangélico pressionando o líder na busca pelo sucesso, crescimento numérico e resultados estatísticos. Precisamos estudá-los so-ciologicamente e compreendê-los biblicamente. Cada igreja, contudo, tem sua própria impressão digital. Não podemos simplesmente clonar um modelo. Deve-mos analisá-los com suas vantagens e áreas de risco, derivando os valores gerais, aplicando ou não seus princípios à igreja e ao contexto onde servimos.

Quando olhamos ao redor, incorremos na ilusão de achar que o Brasil é um país completamente evangelizado. Isso não é verdade. Será que o crescimento que

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23Introdução

vemos ao redor representa claramente um avanço no Reino de Deus? Qual seria realmente a função evangelizadora da igreja de Cristo? Como ela pode crescer de maneira saudável? Quais seriam algumas das motivações saudáveis para a evange-lização e o crescimento integral da sua igreja? O que significa evangelismo, afinal de contas? No capítulo 5 falaremos sobre a igreja como agente de evangelização e a realidade do movimento evangélico brasileiro.

Conhecer a realidade e pesquisar o contexto é atitude essencial em todas as disciplinas do conhecimento humano. Essa regra não pode ser esquecida pelas igrejas. O conhecimento da cidade, bairro ou povoado onde a igreja está inse-rida, sua configuração econômica, educacional, familiar, níveis de violência, in-justiça, pobreza e outros dados são importantíssimos para o sucesso ministerial. O levantamento dos dados evangelísticos, sociológicos, econômicos, geográfi-cos e históricos auxilia no cumprimento da Grande Comissão e no desenvolvi-mento de ministérios missionais e relevantes. Queremos no capítulo 6 mostrar que a pesquisa deve ser reconhecida como ferramenta e instrumento científico a serviço da missão.

No último capítulo (o mais extenso), incluímos uma tabela baseada no ciclo de vida que guiará o líder em movimentos de plantação e crescimento de igrejas. Há passos práticos, ministeriais e estratégias específicas para cada fase do projeto: o planejamento inicial do projeto, a concepção e visão da igreja, o desenvolvimento pré-natal a ser feito antes de se plantar oficialmente a nova igreja, a celebração vin-da com o nascimento bem como o crescimento e lutas da infância e adolescência da igreja. Esse capítulo tem várias pausas, onde perguntas são feitas e você pode refletir e pensar nos assuntos de forma bem específica, prática e contextualizada. Aproveite para fazer isso em pequenos grupos de discussão.

Minha oração é para que o Senhor encoraje, fortaleça e motive sua vida com a leitura deste modesto livro!

Rubens Ramiro Muzio

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PRINCÍPIOS TEOLÓGICOS

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Capítulo 1

Em busca de uma visao crista de mundo

Você conseguiria imaginar, ainda que por apenas um dia, como seria o mundo se todos os brasileiros vivessem em completa obediência aos Dez Mandamentos e se praticassem a ética proclamada no Sermão do Monte (Mateus 5-7)? Se todos vi-vêssemos como se os dois grandes mandamentos sancionados por Cristo – amor a Deus e amor ao próximo – fossem prioridades na nossa agenda? Quando olhamos para o mundo ao nosso redor, sabemos que ele não caminha como deveria. Deus não criou o mundo assim. Na verdade, no fundo da alma, ansiamos por um mundo melhor. Lá dentro, no fundo do coração, bate forte uma visão admirável de mundo, um sonho maravilhoso originado em Deus. Aspiramos por um mundo perfeito, desejando um mundo no qual a luz e o amor, justiça e retidão reinem plenamente.

Em geral, as igrejas se enfraquecem e falecem por falta de uma teologia mais robusta e mais sólida. Como poderíamos formar igrejas teologicamente saudáveis apenas enfatizando a prosperidade financeira, autoajuda psicológica e culto de libertação? É possível que igrejas numericamente crescentes atraiam multidões ao mesmo tempo em que distorcem a Palavra de Deus? Sem dúvida, inadequação ministerial e irrelevância cultural derivam da falta de profundidade bíblica e te-ológica. Parece-me que os evangélicos não conseguem influenciar decisivamente a cultura nem o processo histórico desta nação. Alguns estão conscientes disso. Quando perguntamos aos pastores e líderes quais eram suas preocupações e críticas, sonhos e expectativas quanto à plantação e crescimento das igrejas no Brasil nos próximos 10-20 anos, as respostas foram as mais variadas possíveis:

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28 O DNA da Igreja

PREOCUPAÇÕES E CRÍTICAS Total %

Crescimento sem profundidade / que não faz diferença 49 18

Banalização do pastorado e do Evangelho / heresias / distorção da fé e doutri-nas bíblicas

48 18

Falta de visão do Reino e contextualização 40 15

Enriquecimento da igreja / orgulho / visão egoísta 40 15

Misticismo / humanismo / relativismo / secularismo 37 14

Missão, valores e visão deturpados 33 12

Plantadores com boa visão e formação teológica, missiológica e cursos de capacitação 31 12

Falta de vontade de pregar / compromisso 31 12

Difi culdades fi nanceiras / falta de compreensão organizacional e gestão de recursos 31 12

Discipulado defi ciente / ênfase nos resultados numéricos 31 12

Falta de bons pastores / obreiros / comodismo / apatia 27 10

Falta de plantação de igrejas e organização na fundação 27 10

Falta de unidade / política eclesiástica / falta de testemunho cristão 27 10

Dogmatismo e descrença / corrupção / sincretismo 23 9

Povos e regiões não alcançados 21 8

Resolução de questões teológicas 20 7

Falta de apoio aos plantadores e melhor formação missiológica para as gerações futuras

17 6

Muita regra e pouco amor / fervor / concorrência 15 5

Mega-igrejas / comércio gospel 15 5

Igrejas próximas das outras 14 5

Excesso de igrejas nas grandes cidades 14 5

Não responderam 14 5

Resistência à criação do novo 13 4

Igrejas históricas crescem menos / decadência 12 4

Apoio às regiões carentes 12 4

Não há preocupações 12 4

Demora a deslanchar e crescer 11 4

Falta de voluntariado 10 4

Má administração / falta de projetos / ações pequenas 06 2

Identidade da denominação 03 1

Voltar aos modelos antigos de crescimento 03 1

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29Capítulo 1 - Em busca de uma visão cristã de mundo

SONHOS E EXPECTATIVAS Total %

Plantação de igrejas onde o povo está 60 23

Evangelismo 45 17

Finanças / apoio a igrejas pequenas / recursos humanos 35 13

Capacitação dos líderes / cursos contextualizados 33 12

Misticismo / sincretismo / heresias 20 7

Maior assistência pastoral aos membros / discipulado 20 7

Crescimento saudável e aprofundado na Palavra 17 6

Não responderam 14 5

Visão missionária 12 4

Igrejas fi éis / Evangelho integral / maturidade 11 4

Restauração de vidas / aprofundamento da fé cristã 11 4

Unidade / quebra de barreiras e paradigma denominacional 10 4

Presença da igreja na sociedade / Corpo de Cristo 08 3

Despertamento espiritual / caráter / ação do Espírito Santo 06 2

Ação social / transformação social e política 05 2

Preparação da nova geração 04 2

Confi ar em Deus 04 2

Não sabem 04 2

Retorno à fé reformada / fé cristã 03 2

Discipulado no templo de Deus 03 2

Mais celebrações com estilo brasileiro 02 1

Melhorar a comunicação 01 0,5

Precisamos de uma teologia maior que os problemas sociais, mais signifi cativa que o consumismo, mais robusta que as necessidades psicológicas e emocionais da atualida-de. Precisamos de uma saudável visão de mundo – uma cosmovisão bíblica – que trans-forme a mentalidade e a vida do cristão pós-moderno. Larguemos este cristianismo do tamanho de um aquário e naveguemos pelo vasto oceano teológico que Deus nos oferece. Entretanto, antes de partirmos em busca dessa cosmovisão cristã, devemos en-tender pelo menos o signifi cado desse conceito, que o dicionário de língua portuguesa Aurélio traduz apenas como visão de mundo. Segundo Ronald Nash, cosmovisão con-

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siste em um modelo mental da “visão de uma pessoa sobre o seu mundo”, que varia de pessoa para pessoa, de cultura para cultura, de nação para nação. Uma cosmovisão é “um modo de se olhar para a vida em termos de origem, propósito, limites de con-duta apropriada, relacionamentos transcendentais e destino” (Nash, 1990, p. 37). A cosmovisão de um indivíduo responde suas questões com respeito à natureza da rea-lidade transcendental, do cosmos, da humanidade, da ética e moralidade, da morte, etc. Ela aborda o próprio sentido da história humana: de onde viemos e quem somos (criação)? O que aconteceu de errado com o mundo (queda)? O que podemos fazer para consertar isso tudo (redenção)? Charles Colson e Nancy Pearcey explicam cos-movisão como representando a “soma de todas as nossas crenças a respeito do mundo, o ‘quadro geral’ que dirige as nossas decisões e ações diárias” (Colson & Pearcey).

Qual seria a necessidade de uma cosmovisão bíblica? Conseguiríamos encontrar uma visão de mundo essencialmente bíblica? Desde Agostinho (falecido em 430 dC) até o final do século 18, a história da Europa norteou-se pela providência divina: os planos de Deus eram a chave para o entendimento da história do mundo bem como as histórias locais (como a história dos europeus), foram escritas a partir dessa perspec-tiva. Depois do Iluminismo a história tornou-se principalmente a história das nações. O Estado Nacional carregava o sentido da história na era pós-iluminista europeia.

O mundo pós-moderno, multicultural e pluralista de hoje é marcado pela presença de uma multidão de cosmovisões alternativas. Os valores e crenças com que os grupos étnicos, países, tribos, e religiões enxergam a vida são variados e pluralistas! Elas desgraçadamente convivem umas com as outras apesar de serem distintas e, muitas vezes, opostas. Qualquer afirmação de quem quer que advogue a verdade acerca de Deus ou que esteja confiante em qualquer crença absoluta é considerada ignorância, arrogância e dogmatismo para o mundo contemporâneo. Os seres humanos rejeitaram as autoridades, leis, valores éticos e virtudes consi-deradas dignas desde os filósofos gregos. Cada grupo se coloca autonomamente como “legislador do seu próprio mundo”. Eles tornaram-se o seu próprio deus, definindo seus próprios valores e prioridades sociais além de serem encorajados a agir conforme sua própria consciência, mesmo que seja assassinar o seu vizinho, jogar a criança pela janela do carro roubado ou explodir-se a si mesmo em uma praça repleta de turistas. As implicações disso são colossais!

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R u b e n s M u z i o

Ru

be

ns

Mu

zio

Comunidades cristãs transformando a nação

R u b e n s R A M i R o M u z i o ,bacharel em Teologia pelo Seminário

Presbiteriano do Sul, de Campinas,

Mestre em Teologia Pastoral pelo Calvin

Thelogical Seminary, em Michigan e Dou-

tor em Teologia Pastoral pelo Westminster

Theological Seminary com validação pela

PUC-Rio. De 1999 a 2001, dirigiu uma

igreja internacional na cidade de Toronto,

Canadá. Atualmente Rubens coordena

o Projeto Brasil 21, é o atual diretor da

SEPAL para o Sul do Brasil, e é professor

da Faculdade Teológica Sul Americana,

lecionando as disciplinas na área de Teo-

logia Prática, em Londrina, onde mora.

É autor e organizador dos livros Revo-

lução Silenciosa I, Revolução Silenciosa II,

O DNA da Liderança Cristã e co-autor do

livro O Pastor Urbano.

Rubens e sua esposa Dely têm dois

filhos (Alexandre e Aline).

“Parece-me que os cristãos não conseguem influenciar decisi-vamente a cultura brasileira, nem nosso processo histórico pela falta de uma boa visão da pessoa, da vontade e dos planos de Deus. Precisamos de uma teologia maior que as questões sociais, mais atraente que o consumismo, mais robusta que as necessidades psicológicas e emocionais. Precisamos de uma saudável visão de mundo se-gundo Jesus - uma cosmovisão bíblica - que transforme a men-talidade e a vida do cristão pós-moderno. Se nossa mentalida-de não mudar, dificilmente nostornaremos pessoas melhores. Larguemos este cristianismo do tamanho de um aquário e naveguemos pelo vasto oceano bíblico que Deus nos oferece!”

C a p a _ I g o r C a m p o s

“O que está acontecendo com a igreja evangélica brasileira?”

As pessoas não parecem estar levando a igreja a sério. Apesar de os evangélicos estarem mais presentes

e visíveis no Brasil, eles não têm conseguido influenciar decisivamente a cultura nem tentado impactar

o processo histórico desta nação.

Em O DNA DA IgrejA - COmuNIDADes CrIstãs

trANsfOrmANDO A NAçãO, Rubens Muzio vai a fundo nas questões básicas da igreja, ou em seu “DNA”.

Como, por exemplo, o enfraquecimento da igreja pela falta de uma teologia mais robusta; a busca por uma visão saudável de mundo ou uma cosmovisão bíblica;

a contribuição da igreja local para a transformação da sociedade brasileira; as marcas e funções da igreja;

seus ministérios; e passos práticos para guiar o líder em movimentos de plantação e crescimento de igrejas.

O convite de Rubens Muzio em O DNA DA IgrejA é claro: “larguemos este cristianismo do tamanho de um aquário

e naveguemos pelo vasto oceano bíblico que Deus nos oferece!”.

O DNADA IgrejA

O DNA

DA

IgrejA

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