O Educador e o Texto Bíblico

download O Educador e o Texto Bíblico

of 10

Transcript of O Educador e o Texto Bíblico

  • 7/23/2019 O Educador e o Texto Bblico

    1/10

    O EDUCADOR E O TEXTO BBLICO

    Reinaldo Arruda Pereira1

    Os sonhos no determinam o lugar onde vocs vo chegar, mas produzem afora necessria para tir-los do lugar em que vocs esto. Augusto Cury

    RESUMOEstamos vivendo em uma poca de diversidade de conceitos, ideias, ideologias e modelos,gerados por ambientes de complexidades e diversidades. E essa variedade est presente nosdiferentes segmentos da sociedade. Na educao no diferente. Neste cenrio de pluralidadee diversidade, torna-se desafiador trabalhar com a educao, principalmente, quando o

    contexto em que ela acontece religioso e o eclesial. Diante desta conjuntura de diversidade ede diversificao, um dos desafios da educao religiosa e de todos que militam no campoeducacional na igreja compromisso inegocivel com o texto bblico. Este importantecompromisso no est isolado, desdobra-se tambm na ao de educar e de discipular, a qualexige um tratamento criativo, criterioso e rigoroso do texto bblico. Para mostrar a estreitarelao entre o educador e o texto bblico, a parbola do semeador utilizada e colocada emdestaque, j que o processo de ensinar, discipular e educar tem a ver com sementes,semeadores e terrenos frteis aprendizagem e transformao de vida.

    Palavras-chave: Diversidade, Educao, Igreja, Discipulado

    ABSTRACTWe are living in an age of diversity of concepts, ideas, ideologies and models generated byenvironments of complexities and diversities. And this variety is present in different segmentsof society. In education is not different. In this scenario of plurality and diversity, it ischallenging to work with education, especially when the context in which it happens isreligious and ecclesial. Faced with this situation of diversity and diversification, one of thechallenges of religious education and all who work in the educational field in the church isnon-negotiable commitment to the biblical text. This important commitment is not isolated,also unfolds up in action to educate and discipleship, which requires a creative treatment,solid and rigorous of the biblical text. To show the close relationship between the educatorand the biblical text, the parable of the sower is used and put on the spotlight, as the process

    of teaching, discipleship and education has to do with seeds, sowing and fertile land tolearning and transformation lifetime.

    Keywords: Diversity, Education, Church, Discipleship

    1. Introduo

    O Congresso de Educao Crist, criativamente chamado de Educar, um importante

    evento promovido por uma das igrejas de Belo Horizonte, a Igreja Batista do Barro Preto

    1Pastor, membro da Igreja Batista do Barro Preto. Graduado em Teologia, Pedagogia e Filosofia; mestrado emeducao e doutorado em Cincias da Religio. Professor da Faculdade Batista de Minas Gerais.

  • 7/23/2019 O Educador e o Texto Bblico

    2/10

    2

    (IBB). Com um relevante tema - Vem comigo - o Educar II foi sonhado, pensado e

    planejado com bastante antecedncia, o que j educativo e pedaggico, pois, educao

    sempre exige antecipao, sonho, projeto. A nfase do congresso o discipulado, o que exige

    sempre formas criativas de encontro e de relacionamento com o outro.

    , portanto, dessa nfase no discipulado e de sua relao estreita com a prtica educativa que

    surgir a temtica Vem comigo, pois juntos podemos fazer realizar muito mais e melhor. O

    discipulado tanto quanto a educao religiosa, pela prpria natureza que lhes so inerentes,

    envolve a ideia de transformao, compromisso com a vida, profisso de f, transferncia de

    vida, o que se realiza somente por meio da graa de Deus. E, tal como caracterizou

    Bonhoeffer (1995) a graa no pode ser sem discipulado, sem cruz e sem o Cristo vivo e

    encarnado.

    Devido importncia que o Educar vem assumindo na IBBP, um esclarecimento se faz

    necessrio: neste texto colocamos a palavra evento entre aspas, pois educao no pode ser

    pensada e muito menos compreendida e praticada como se fosse um evento. Evento no

    incomoda tanto. A educao, ao contrrio, quando bem planejada e pensada ousada e

    criativamente, incomoda, desacomoda, tira-nos do lugar de conforto, da comodidade. Por

    isso, o convite: vem comigo.

    Vale esclarecer tambm que este texto foi preparado para orientar os participantes de uma

    oficina, cujo tema o educador e o texto bblico. Portanto, nossa inteno abordar a

    pertinncia entre a educao religiosa e o educador cristo a partir de uma perspectiva

    confessional, holstica e globalizante do texto bblico. Esta perspectiva foi adotada porque a

    educao religiosa, como qualquer outro tipo de educao, no pode ser parcial, fragmentria

    e compartimentada. Isto significa que a educao no adestramento, um mero treinamento.

    A partir da concepo de que a educao transformao e emancipao, o texto bblico um

    elemento central no trabalho do educador cristo, o que deve sempre ser associado ideia

    teolgica neotestamentria: o evangelho. Iniciamos nossa abordagem do tema fazendo uma

    contextualizao e em seguida trabalhamos o texto bblico com seus elementos e conceitos

    principais. Para dar um destaque intrnseca relao entre o educador e o texto bblico,

    utilizamos de uma parbola, a do semeador, para demonstrar que a educao religiosa requer

    um compromisso inegocivel do educador com o texto bblico, que a Palavra de Deus. Da a

    ideia de conectividade entre educao, texto bblico e o discipulado.

  • 7/23/2019 O Educador e o Texto Bblico

    3/10

    3

    2. Contextualizao

    O tema da nossa oficina O educador e o texto bblico -, traz dois termos

    importantssimos: educador e texto bblico. Na perspectiva crist, estes dois termos so

    inseparveis, intrnsecos, e, portanto, no podem ser pensados e nem configurados

    separadamente. Se assim acontecer a separao entre eles, a compreenso mais aprofundada

    da Palavra de Deus e da educao crist, tanto quanto a vivncia da verdade e a prtica da f

    ficam comprometidas. A falta de valorizao das dimenses mais amplas do evangelho

    inevitavelmente conduz a uma distoro da misso da igreja (PADILLA, 2005, p. 15).

    O discipulado uma parte da misso e do crescimento da igreja. Mas, para alcanar e manter

    o crescimento significativo, segundo Hemphill (2005), a igreja deve contar com lderes

    conscientes da Grande Comisso. O fundamento do discipulado a Palavra de Deus. Mas, o

    discipulado, de acordo com Bosch (2014), para cumprir sua funo uniabrangente precisa da

    educao.

    A salvao que o evangelho proclama no se limita reconciliao do homem comDeus: abarca a reconstruo total do homem em todas as dimenses de seu ser; tema ver com a recuperao de todo o homem para o propsito original de Deus parasua criao (PADILLA, 2005, p. 90).

    O texto bblico a prpria Palavra de Deus. Esta, por possuir uma natureza especial

    revelao de Deus por si mesma nossa mais importante mestra, instrutora e educadora.

    Mesmo assim, com a sabedoria do seu autor, o pedagogo eterno, Deus escolheu pessoas,

    homens e mulheres, para esta mais elevada tarefa, a educao crist/religiosa, a sabedoria da

    f, a piedade partilhada e o discipulado. Mas, os educadores humanos so diferentes, pois

    foram transformados imagem do filho de Deus.

    Considerando o fato de que o Educar II prope a Oficina como uma estratgia metodolgica e

    pedaggica para tratarmos e estudarmos o discipulado, o conceito de educador um eixo

    importante do nosso trabalho. Com isso, h a necessidade de que este conceito seja associadoainda mais ao texto bblico, que o eixo fundamental e essencial da educao crist. Isso

    significa que o texto bblico o fundamento, a base e o substrato no s do discipulado, mas

    de todo trabalho que se realiza na igreja e na educao religiosa.

    Assim, a proposta de trabalho nesta oficina afirmar e reafirmar a relao estreita entre o

    educador e o texto bblico, j que o palco da atuao daquele a igreja e o contedo principal

    do seu trabalho o texto bblico. Para tanto, o objetivo desta oficina , antes de tudo, apreciar

    o texto bblico e ainda extrair dele princpios norteadores para a prtica do ensino, cuja meta

  • 7/23/2019 O Educador e o Texto Bblico

    4/10

    4

    a nfase do discipulado. Por isso, iremos estudar um texto da Bblia, que a Palavra de Deus,

    viva e eficaz, apta ...e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir

    em justia; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda

    boa obra(II Timteo 3.16).

    3. O texto bblico e seus elementos e conceitos principais

    Fazer referncia ao conceito e ideia de texto bblico implica, num primeiro momento, em

    um importante reconhecimento histrico e teolgico: o texto bblico so as Sagradas

    Escrituras. A Bblia a Palavra de Deus e, como tal, por ser escrita por homens escolhidos

    por Deus no pode ser vista somente como um livro de literatura. Reconhecemos, portanto,

    que as Escrituras exigem f e como destaca Berkhof (2013), confessamos que esta Palavra de

    Deus tem uma particularidade distintiva: no foi entregue pela vontade homem, mas que

    homens santos de Deus falaram movidos pelo Esprito Santo.

    Reconhecemos e afirmamos que a Bblia inspirada por Deus, mas, a linguagem usada a

    humana. Isto indica que o texto bblico contm parbolas, figuras de linguagem e de

    pensamento, estilo gramatical e gneros textuais, entre outros. De acordo com Lund & Nelson

    (2011), a linguagem bblica contem superabundncias de palavras, expresses figuradas e

    simblicas. Neste contexto, reconhecemos que o professor tem um papel decisivo nainterpretao dos textos bblicos, no ensino da Palavra de Deus e tambm na prtica do

    discipulado. Conforme aponta Welch (1982), os professores so importantes porque ensinam

    o melhor livro e porque so interpretes dos textos bblicos.

    A Bblia pode e deve ser considerada como a mensagem de Deus ditaao ser humano. Ela

    revelao do amor do eterno Deus e por este contedo tambm uma das obras-primas da

    literatura mundial. Talvez nenhuma outra obra literria tenha personagens to mundialmente

    conhecidos; enredos to amplamente divulgados, mensagens e histrias que a maioria das

    pessoas do Ocidente ouve desde a mais tenra idade.

    Nessa direo, podemos reafirmar nossas crenas:

    A Bblia e o texto bblico no podem ser concebidos apenas como literatura, mas como

    Palavra de Deus. A literatura, em contrapartida, toda e qualquer produo cultural: um

    romance, um texto histrico, um dirio, sermes, ou mesmo a letra de uma msica funk,

    considerada literatura;

  • 7/23/2019 O Educador e o Texto Bblico

    5/10

    5

    A Bblia, sendo a Palavra de Deus, foi e divinamente inspirada e qualquer ensino que

    ignore este processo ser deficiente,pouco slido e superficial;

    A Bblia deve ser lida, estudada e interpretada a partir de uma perspectiva teolgica, a

    qual passa a ocupar o foco central em todo tipo de abordagem do texto;

    O ensino do texto bblico e dos preceitos da Palavra de Deus deve pautar-se num princpiogeneralizante: a Escritura interpreta a Escritura;

    A Bblia a verdade de Deus que tem poder santificador e libertador para todo aquele e

    aquela que crer de todo corao;

    A Bblia Escritura, no literatura;

    As Escrituras Sagradas so o resultado da existncia do Invisvel operando sobre o visvel

    e humano;

    Um dos personagens centrais da Bblia o prprio Deus, o qual se revelou de inmerasmaneiras no decorrer da histria.

    A partir das consideraes salientadas, faz-se necessrio tambm apontar a pertinncia entre o

    texto bblico e os conceitos de oficina e discipulado. O texto bblico o contedo, aquilo que

    ensinado, compreendido e praticado. a semente a ser semeada, pois se refere Palavra de

    Deus. A oficina o lugar que se faz algo, espao da prtica. O conceito de oficina, portanto,

    permite a aproximao da sala de aula, do seminrio, lcus, espao ou lugar em que se faz a

    semeadura. O discipulado a razo de se utilizar o texto bblico e a oficina. O discipulado o

    processo que interliga e concretiza a razo de ser do texto bblico e da oficina.

    Utilizando-se destas terminologias e pensando nelas a partir da prtica pode-se afirmar a

    interdependncia entre aprender e crer, ensinar e discipular. Crer tem como imperativo o

    aprender. O pressuposto que a f crist tem uma conexo histrica com a educao. Jesus

    o mestre dos mestres. Da a exigncia de que cada uma delas, f, educao e discipulado,

    principalmente no contexto da igreja, seja desenvolvida com muita humildade, pois segundoStreck (2005), a educao antes de tudo um exerccio de humildade intelectual. O

    discipulado envolve o desenvolvimento espiritual, intelectual e a formao de uma

    mentalidade crist.

    Nesta mesma direo, h tambm o conceito de educador. Este o mediador tanto do acesso

    e compreenso do texto bblico, quanto do incentivo e orientao para o discipulado. O

    educador aquele que, de fato, esclarece e ensina o texto bblico e ainda pratica e vive odiscipulado. por isso que o educador tem a ver com o professor, aquele que professa, isto

  • 7/23/2019 O Educador e o Texto Bblico

    6/10

    6

    , que tem f, que acredita, confia e espera no poder de Deus. Como destaca Cortella (2014),

    f no crena vazia, fora vital; neste sentido, f uma entrega de ns e daquilo que

    iremos fazer para que Deus nos ajude a edificar o que est ausente.

    Vale destacar, ento, que o tema O educador e o texto bblico, assinalam para a experinciade f. Contudo, no de uma f que no tem base, fundamento, mas de uma f que seja um

    movimento contnuo de parceria com os alunos, de orao e reverncia, mas tambm de

    inclinao em que se debrua sobre uma ao: o discipular. A ao de discipular tem a ver

    com a redeno e esta inclui no somente a alma, mas o ser humano na sua integralidade, o

    que tem profundas implicaes sociais, econmicas, polticas, intelectuais. Nessa direo,

    trabalhar com o texto bblico e ser um educador cristo, conforme Greg Ogden (2010),

    influenciar pessoas, investindo nelas diariamente, como Jesus fez.

    J que existe uma relao intrnseca entre o educador e o texto bblico, como se o primeiro

    estivesse para o segundo e vice-versa, lana-se mo de uma parbola bblica para estudar

    como deve ser tal relacionamento. Por reconhecermos tambm uma forte imbricao entre

    ensinar e aprender, educar e discipular, tanto quanto entre o texto bblico e o discipulado,

    imbricao esta que associa ideia de semear sementes e de cuidar delas. Por isso, a proposta

    apropriar da parbola dos semeadores. Portanto, na parte que se segue logo abaixo, a

    inteno trabalhar com diretamente com o texto bblico, mostrando sua importncia para o

    trabalho do educador, bem como a necessidade de uma interpretao contextual, focada no

    discipulado.

    2. O Educador, o texto bblico e o discipulado na parbola do semeador

    Este a parte mais relevante deste texto, mas, ela perde o sentido se desconectada daquelas

    que a antecederam. a parte mais importante, porque nela se busca vincular o educador aotexto bblico, neste caso, a uma parbola2. A opo pedaggica de utilizarmos uma parbola

    para pensarmos e abordarmos o educar e o texto bblico se d porque este recurso textual e

    pedaggico (a parbola) tratava diretamente das realidades da vida diria dos tempos de Jesus.

    Jesus ensinava por parbolas e, segundo Kaiser & Silva (2009), o mestre o fazia porque cada

    uma delas refletia certas preocupaes teolgicas.

    2

    Joachim Jeremias, estudioso do N. T., afirma que o termo parbola pode ser traduzido pelos sinnimos:metfora, provrbio ou comparao. Ainda segundo Jeremias, estes termos e muitos outros ainda podem serreunidos sob o termo genrico marchal, o qual abrange toda sorte de linguagem figurada. Para maiores detalhescf. JEREMIAS, J. As parbolas de Jesus. So Paulo: Paulinas, 1986.

  • 7/23/2019 O Educador e o Texto Bblico

    7/10

    7

    A nfase principal desta parte a relao possvel entre a parbola do semeador, que se

    encontra em Mt 13.1-9; Lc 8.4-8; e, Mc 4.1-9, e os princpios da educao crist. A parbola

    foi e uma tcnica pedaggica, cuja meta facilitar a memorizao, o ensinamento de fundo

    e a compreenso de uma lio significativa. O objetivo de uma parbola apresentar um

    raciocnio que deve culminar numa concluso. Contudo, este trabalho, mesmo fazendo uso deum texto bblico, uma parbola, no pretende apresentar nenhuma exegese, nem tampouco um

    estudo hermenutico profundo do texto bblico escolhido.

    O que se intenciona, com nesta trplice associao, tecer algumas consideraes a respeito

    do educador e sua conexo com o texto bblico. Para tanto, partimos de uma convico

    profunda de que todo cristo comprometido com a misso da igreja, o Reino e a Palavra de

    Deus, deve ser preocupar com a educao. Esta convico se respalda na afirmao de que a

    revelao de Deus no decorrer da histria no est separada da educao. Isto significa que o

    princpio teolgico da revelao (Deus se revela para ensinar) , ao mesmo tempo, um

    princpio pedaggico, tal qual enfatizou Agostinho de Hipona na obra De Magistro, p. 109.

    A principal ideia da parbola do semeador o trabalho de semear. Ora, o trabalho de semear

    possibilita que se estabelece uma articulao entre a parbola do semeador, a educao e o

    papel do educador. Devido a esta articulao, semear um processo ativo, gerador e

    multiplicador de vida. Sendo um processo ativo, o trabalho de semear envolve o educador (o

    semeador), a semente (a Palavra de Deus) e o aluno (o terreno), o que vai alm das tcnicas de

    ensino, pois requer cuidado, empenho, cultivo, relacionamento e f de que haver germinao

    (crescimento).

    Para tecer nossas consideraes e reflexes sobre o temao educador e o texto bblico, antes

    de mais nada, faz-se necessrio recorrer ao texto bblico:

    Eis que o semeador saiu a semear. Enquanto lanava a semente, parte dela caiu beira docaminho, e as aves vieram e a comeram. Parte dela caiu em terreno pedregoso, onde no haviamuita terra, e logo brotou, porque a terra no era profunda. Mas, quando saiu o sol, as plantasse queimaram e secaram, porque no tinham raiz. Outra parte caiu no meio dos espinhos, quecresceram e sufocaram as plantas. Outra ainda caiu em boa terra, deu boa colheita, a cem,sessenta e trinta por um. Aquele que tem ouvidos para ouvir, oua! (Mateus 13.1-9).

    Utilizamos uma parbola para reforar a ideia de que existe uma relao intrnseca, prpria e

    inerente entre o educador e o texto bblico. Em nossa compreenso, estes dois termos so

    perpassados pelo conceito de educao e esta pelo vis espiritual, religioso, cristo. Isto

    porque a palavra educao vem do radical latim ducere, originado de educere, que significa

    doce. Neste sentido, educar alimentar o outro com algo que doce. O salmista assim

  • 7/23/2019 O Educador e o Texto Bblico

    8/10

    8

    expressou: Oh! quo doces so as tuas palavras ao meu paladar, mais doces do que o mel

    minha boca (Sl 119:103).

    Educar utilizando-se do texto bblico, por um lado, exige docilidade, por outro, exige

    maravilhamento de quem aprende e de quem ensina. por isso que educar com a Palavrade Deus no mera transmisso de conhecimento. Nesse sentido, educar a partir do texto

    bblico tem a ver com docilidade e conduo no caminho certo, com o semeio da semente no

    solo frtil e produtivo. O educador que ama e cr no texto bblico, no pensa somente em

    aulas, pensa em eternidade, porque acredita sempre na transformao do ser humano.

    A prtica educativa de um educador cristo uma prtica humana absolutamente tica. A

    razo afetiva e fundamental de tal compromisso tico se enraza na prpria natureza do texto

    bblico (revelao) e na dimenso metafsica do ser humano. A tica, segundo Cortella (2014)

    no pode faltar a quem assume a educao porque consistncia para a docncia. Educar e

    discipular exigem a corporificao das palavras pelo exemplo, pois como enfatizou Freire

    (1999), pensar certo fazer certo.

    Corporificar o ensino no exemplo era o que Jesus almejava fazer com a parbola do

    semeador. Ele era o mestre (o educador) e os alunos (os discpulos, seus seguidores). Pela

    expresso inicial da parbola eis que, que significa certo dia, certa vez, Jesus convida

    seus aprendizes a abrirem os ouvidos porque Ele tinha uma lio moral para ensinar. Logo no

    incio do texto bblico, descobre-se quem o personagem principal: o semeador que saiu a

    semear.

    Descobre-se ainda que o semeador no ficou parado. Ele saiu para semear, ps seus ps

    para fora do seu lugar de conforto e partiu para a ao. Diante deste compromisso, somos

    confrontados por trs coisas: a) o semeio uma ao gradativa e processual. No uma aofortuita e nica; b) o semeio um processo que exige preparo, prontido e dedicao de quem

    o faz; c) as sementes que germinam necessitam de cuidado, acompanhamento e proteo.

    Uma coisa lanar as sementes e esperar pelos frutos, outra coisa completamente diferente,

    cuidar para que elas nasam, cresam e produzam frutos.

    O semeador que saiu a semear tinha uma forte convico: existem diferentes tipos de terrenos.

    Mas, ele estava motivado porque possua a semente, mirava um campo, um lugar para o

    semeio, e esperava os resultados: a cem, a sessenta e a trinta por um(Mt 13.8 e 23). Os

  • 7/23/2019 O Educador e o Texto Bblico

    9/10

    9

    grandes problemas da educao e, principalmente da educao religiosa, residem exatamente

    nestas coisas. Falta de convico e de rumo de quem ensina e inabilidade de ouvir e de

    dialogar com a realidade que est sua volta.

    A parbola do semeador riqussima e apresenta uma moralde carter duplo que deve serconsiderada e aprendida por todos que militam na educao religiosa e no discipulado: a)

    quem quiser ser professor (educador) no deve passar por cima dos outros; b) o evangelho se

    espalha como uma semente, nem sempre frutfera, pois nem sempre cai em um terreno

    preparado e bem cuidado, frtil. O homem e a mulher, servos de Deus, ao se converterem

    no esto prontos, precisam ser educados e a educao nos molda, orienta, organiza nossa

    trajetria e nos prepara para o servio cristo.

    Consideraes finais

    A partir do tema o educador e o texto bblico e da parbola do semeador, fica o desafio de

    resgatarmos o conceito de educao como docilidade, como discipulado e como graa de

    Deus. A virtude de docilitas tem a ver com uma educao permeada por docilidade e para a

    docilidade, cuja meta a identificao com Cristo, o filho de Deus. nEle, e com a sua

    Palavra, que descobrimos a diferena entre, de um lado, to somente semear sementes e, de

    outro, preparar o terreno, semear e cuidar afetiva e docilmente das sementes que caem em

    terra boa.

    O caminho da docilidade e do discipulado o caminho do corao e do relacionamento

    estreito e prximo com quem aprende. O caminho pedaggico que tem corao tem

    tambm um semeador comprometido, aquele que investe diariamente nos educandos, tanto

    desejando que aprendam, quanto cuidando para que aprendam. O semeador faz de cada aula

    um tempo de dedicao para que Deus trabalhe de modo que a boa semente germine eproduza vida.

    A educao religiosa que se pauta na criatividade, no compromisso, na profisso e no texto

    bblico tem a ver com o discipulado e diretamente com todo o evangelho e o evangelho todo.

    Considerando que esta deve a pauta da educao religiosa e do discipulado, o sentido terico

    e prtico de ambos se encontra no texto bblico e na ao graciosa do Cristo encarnado, o qual

    torna possvel a genuna experincia da transformao de vida. Portanto, na educao e no

    discipulado a graa de Deus deve sempre prevalecer, pois A graa preciosa o evangelho

  • 7/23/2019 O Educador e o Texto Bblico

    10/10

    10

    que se deve procurar sempre de novo, o dom pelo qual se tem que orar, a porta qual se tem

    de bater (BONHOEFFER, 2010, p. 10).

    BIBLIOGRAFIA

    BERKHOF, Louis. Princpios de interpretao bblica. So Paulo: Cultura Crist, 2013.

    BONHOEFFER, D. Discipulado. So Leopoldo: Sinodal, 2008.

    BOSCH, David J. Misso transformadora: mudanas de paradigma na teologia damisso. So Leopoldo: Sinodal, 2014.

    CORTELLA, Mario Sergio. Pensar bem nos faz bem.Petrpolis: Vozes, 2014.

    FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessrios

    Prtica Educativa.So Paulo: Paz e Terra, 1999.

    HEMPHIL, Ken. Redescobrindo a alegria das manhs de domingo: usando a Escoladominical para fazer sua igreja crescer.So Paulo: Hagnos, 2005.

    KAISER, Walter C.; SILVA, Moiss. Introduo hermenutica bblica: como ouvir apalavra de Deus apesar dos rudos de nossa poca.So Paulo: Cultura Crist, 2009.

    LUND, Eric; NELSON, P. C. Hermenutica: princpios de interpretao das SagradasEscrituras.So Paulo: Vida, 2011.

    OGDEN, Greg. Elementos essenciais do discipulado: um gruia para edificar sua vida emCristo. So Paulo: Vida, 2010.

    PADILLA, C. Ren. Misso integral: ensaios sobre o Reino e a Igreja. Lonndrina:Redescoberta, 2005.

    STRECK, Danilo. Correntes pedaggicas: uma abordagem interdisciplinar. Petrpolis:Vozes, 2005.

    WELCH, Norvel. Melhor ensino bblico para adultos. Rio de Janeiro: JUERP, 1982.