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    SE VOC TEM PRESS USE S U G NT T MM IS PR SS QU VO

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    ALENCAR BURTI presidente da CSPALoySIO BIONDI jornalistaCARMEM MAYRINK VEIGA socialiteCAMILO COLA empresrioCLSIO ANDRADE presidente da CNToRCIO MUNHoZ prof da UFRJEUGNIO STAUB presidente do fEDI

    GERALDO CARBoNEpresidente do BankliostonGLAUCo ARBIX pro f da USPGUSTAVO LoyoLA economistaHORCIO LAFER PIVA

    p residente da FibaLUIS Ro ERTo jomalistaLUIS NASSIF jornalis taLUIS G BELUZZo economistaMARCOS CINTRA economista

    IVO PITANGUY cirurgioMANUEL FLIX presidente daBM FMAURcIO HUGO jo rnalistaNELSON SIRoTSKI presidentedaR SNILSoN MONTEIRO jornalista

    VICENTINHo sindicalistaLUCIANO COUTINHO prof da UnicampPAULO PEREIRA DA SILVA sindicalistaWILLIAM ElO prof da FGVWILSON CANO prof da UnicampJOS HENRIQUE DE FARIA prof da UFPRMARIA DA CONCEiO TAVARES economistaMAILSoN DA NBREGA economista(*) Ojri indicou 30 nomes, dentre os quais osleitores escolheram 20 homenageados AMADOR AGUIAR : Uma das mais bem-sucedidas carreiras de self made man do Pas l

    ComLrlcoOo Inl.SA. AJC SeMa ao lBiIaI. ccec 221W 01009-91Q S6aPo.Ao - SP2. ll11cN>SeMaaoLeitor (011) 83$-8433 romol 1310 3. Por emal 3Qedt0m3can.l1r _ S6a PoJe> Ilu\\WcJ11 Speeo. um - Lopo de leDo. - e(011)8J5.843ranaIs1243.1257e P ooM edOISSo.18 -Cenl1O.1 .'(011m 1lS.1lIa de Ja1eOertode Oliveira.Ddo de Jesuse0demI 5,RomoSERVlOS GRFICOS Gefente de PrOduo : ecoooAmoFraga.COOfC enOdOrGtflco:DevonilRuedoFerrariPIIDMoES Editorde Afte:LuisCarlosde Morces AssIstenteDbora MortensonNogueira . OlogrOmodOf: AdilsonC. Umallustrodoro:ChOstiane S.MessIas. ROOator RoocIdoBresscr.eMARKETlNGDIIn:TOR:Co1osNM;Jaay GERENTE: ludcno ZarcnPUBUClDADESOPAUlO:DretOf ngeIo de S..lr GerentesExecutM>s:Andreo M 01 Tomo:so . Fred MIer Joo CIoudo Abreu eMacebSlvei'oEx CUfivo de Pt.bIicJdode .Guenda GaIeazziAlves. AS5sfente ComerclO/: rvonete M. Fernandes .C ~ I O o M _ ~ > t l t o 1 l o s e m e O iMOOa Dias. IUODE JANEIRO: Virator. srcocecc de PcUoFreitas.Gerente: PI::Jl... R. P. Freitas. Represer1ta 1es: cnstnoMatO. -.mo Mendona e Po.JoMaIdonodO . jo-es: (021)24).2075,24).2523aElOHORtZONTE:CIo Mero oe 0llVar0I PgOO PtJ:>kidode 00 . Fonee(031)29/c (051) 33J.S955. flORlANPOUS,Mmo kaI- Cen deC '-

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    A fotografia que publicamos nacapa de O Cientista do Sculo,fascc ulo encartado na edio1557 de ISTO a baixo, dir.),no de OswaldoCruz. Para corrigi r o equvoco, estamos reproduzindo esq.) a mesma capa de st avez, com a foto gra fia cor re ta dopesquisador.

    ERRATA

    vid soci l

    OConde Francesco Ma- Itarazzo - eleito o Empreendedor do Sculopelos leitores de STO - urbanizou bair-ros operrios em torno de suas fbricas na capital.paulsta, Nos anos 10, no serto de Alagoas , Delmiro Gouveia ergueu a Vila de Pedra. Eram 256 casascom energia eltrica e gua encanada regalia que amaior parte dos moradores das cidades no conhecia. Na crise de 1929, quando a Bolsa de Nova Yorkfoi a pique e levou junto a economia mundial , emSo Paulo o industrial Luiz Dumont Villares redu

    ziu os salrios e equilibrou a empresa no fio danavalha, mas no despediu ningum. Nos anos 70,o empresrio e intelectual Jos Mindlin garantiaaos funcionrios de sua indstria de autopeas farta refeio. Queria que tivessem do bom e do melhor, mas nunca de graa. Cobrava uma quantianfima, caso contrrio , no dariam valor, explica.As lies documentadas neste fascculo deveriaminspirar um Pas que , s vsperas do sculo XXI,teima em ignorar as desigualdades. Alm do arrojo e da perspiccia para realizar bons negcios, aconscincia das mazelassociais uma das virtudes essenciais dos grandes empreendedores

    W LTHER MOREIR S LLES Banqueiroe embaixador. 22OL VO SETB L Transformou o Itano segundo maior banco do Pas...24NORBERTO ODEBRECHT: Descentralizoupara aumentar o lucro 26JORGE GERD U JOH NNPETER :Gigante do ao RUBEN BERT : Fez da Varig amaior empresa area do Brasil ... 30DELMIRO GOUVEI :Apostou noprogresso do Norde ste LUZVLL RES Industrial ideali stae arrojado 36CLUDO B RDEL: Um empresriocom conscincia poltica 38 BR M K SINSK: Ex-dono daCofap, recomeou aos 82 anos... 39LEON FEFFER Revolucionou atecnologia do setor de papel ....... 40 LOYSIO FAR Levou o Banco Realao topo do ranking financeiro ..... 41HORCIO L FER Idelogo da polticaindustrial 42ISTOO BRASL IRO DOSCULO IO.EMPREENDEDOR 5

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    r ncesco ~ t r z zcaba (SP). Meses depois ecreveu para a famlia que dexara na Itlia - a me Marngela, a esposa Filomenoito irm os e do is filhoAbri uma venda em Sorocba e no procurei, nem jamaprocurarei, ter o que se chma de patro.Emprstimajudaram-no a abrir o pequno empreendimento. Na mecearia, as estantes viviaabarrotadas de produtos de tdos os tipos - ele cismava eimportar tudo o que aparecese. Se a clientela pedisse aguma coisa que ele no tinh

    tratava de arrumar mais qudepressa. Por ironia, o campeo de vendas era a banhde porc o importada, o mesmo produto que ele trouxerda Itlia e repou sava no fundo do mar. Era ingredientde primeira necessidade para conserva de alimentos.Ele no estava morrendde fome na Itlia. A idia dtentar a sorte demonstra qutinha um temperamento inquieto e visionrio , disseISTO Andrea Matarazzoatual secretrio de Comuncao Social da Presidnci

    cas registradas. Alm do porte fsico que lhe beneficiava- era difcil no se resignardiante de homem to altivo impunha respeito com pouqussimas palavras. Ningumacreditava quando dizia ques concluiu o ensino fundamental. O pai morreu quando ele tinha 18 anos e, sendoo prirnognito, abandonou osestudos para sustentar a famlia. No Brasil, encarnou afigura do imigrante que deucerto, transformou-se nummito e foi idolatrado pela colnia italiana, qual defen-

    dia com unhas e dentes.No entanto, ao desembarcar no Rio de Janeiro, em1881, tinha tudo para se desesperar. A tonelada de banha de porco que trazia daterra natal para comercializaraqui afundou com a embarcao que levava a carga donavio, por puro azar, poucoantes de aportar no Brasil.Sem perspectivas e com pouco dinheiro no bolso, a nicaesperana de se manter vivoera encontrar um velho amigo e conterrneo, FernandoGradino, que vivia em Soro-

    menta Nacional do Caf e oEstado de So Paulo.Se desejssemos dar umapincelada ainda maior de realidade ao nosso exerccio deimaginao, poderamos situar esta famlia de consumidores da marca Matarazzo noBrs, bairro paulistano nascido justamente para abrigar ostrabalhadores das IRFM. Havia pelo menos sete mil laresque, nos anos 20, dependiamdos salrios do industrial. Considerando que cada um de seusempregados tinha mais quatrobocas para sustentar, chegaram

    a depender de Matarazzo cerca de 35 mil pessoas, nadamenos que 6 da populaoda capital paulista na poca.Com quase 1,90 metro dealtura, Francesco Matarazzoera daqueles homens de elegncia nata. Ficava bem emqualquer roupa que vestisse,mas durante a vida usou poucas coisas que no fossemtemos impecveis. A fisionomia era tpica dos homen s dosul da Itlia (nasceu em Castellabate , a 9 de maro de1854) e a calvcie e o bigodesempre alinhado eram mar-

    Dpara imaginar a cenade uma tpica famliapaulistana da dcada de20. Na mesa do caf da manh, a banha enlatada, o acar e o presunto cozido servidos pela dona de casa ao marido e numerosa prole tinham no rtulo um s emblema: IRFM- Indstrias Reunidas Francesco Matarazzo.Na prateleira da cozinha, elaguardava amido Brilhante,arroz Iguape, azeite para saladas Sol Levante o preferido pela sua pureza, lixvia So Jorge sem rival paral impar cristais e panelas eLicor Brasil, todo s produzidos pelo imigrante italianoFrancesco Matarazzo. Na estante do banheiro, um vidrode gua de colnia Mimi , osabonete Rex que deixa suapele acetinadae ainda umfrasco de perfume Seduo.

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    nipr s nt Enfei tava acama do casal a colcha Princeza, que a dona de casa slavava com sabo de cocodes t inado para tecidos finos . A famlia usava roupas feitas com cortes da tecelagem Maringela, umadas 365 fbricas que formavam o imprio das IRFM. noit e, as velas acendidas nacasa eram da marca Progresso e o jantar era sucedido deuma dose de conhaque degengibre Matarazzo. A onipresena da marca do imigrante no dia-a-dia dos brasileiros d bem a idia de seupoder io econmico. Nosanos 30, a renda brut a doconglomerado era a quartamaior do Brasil. Faturavammais que Matarazzo apenasa Unio Federal , o Departa-

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    Deve haver outra igualesta, em estado melhor, naquele armrio ali.O funconrio, duvidando que o chefe conhecesse tanto assim omilhes de armrios de suafbricas, foi conferir. E encontrou a pea . Matarazzo tnha uma s explicao para proe za : Intuio. Quemno sabe o que dirigir umimenso complexo industriae milh ares de funcionriodurante quase trs dcadaque duvide.Se como administr doera um exemplo de sociablidade - perdia tempo proseando com os empregadoe tinha sempre uma histrpara contar nas reunies ddiretoria - , como chefe dfamli a no se pode dize rmesma coisa. Austero e pouco afvel com os 13 filhofazia questo de manter a odem em casa . A educao vnha em primei ro lugar e

    ISTO O BRASILEIRO SCULO OEMPREENDEoo

    GR N E F M U Como filho Francisco Jniorl esq. e na tecelagemcom os operrios -chegou a te r 15 mi leram de origem italiana. Eleprprio trata va de provar atese. Por mais de 30 anos,foi o primeiro a chegar, ssete horas, e o ltimo a sairda fbrica, 14 horas depoi s.Era rgido e tinha comport mento exempl r para osfuncionrios. Considerava-seo operrio nmero um,dizAndrea. Com muito sac rifcio , a esposa Filomena conseguia impedi-lo de sai r scinco para peg r no batente,argumentando que nem s detraba lho vive o homem. Rezaa lenda que, quase octogenrio, numa de suas visitasdiri as s indstrias, o velhoOuV de um operrio a reclamao de que uma ferramenta qualquer estava inutilizada. Matarazzo resolveu:

    las, pregos e outra dezena deindstrias, que funcionavamcom a energia de uma usinaprpria. Nos anos 30, abriufiliais em Ponta Grossa (PR),Joo Pessoa, Rio de Janeiro,Santos e Curitiba.Dizendo que o povo desua terra possua inigual veis fora e capacidade deproduo , nove entre deztrabalhadores que contratava

    da Repblica e sobrinho-bisneto do imigrante. Veio obstinado com a idia de ganhardinheiro e estava frente deseu tempo. Na rabeira do sucesso de vendas da banha emseu armazm, decidiu fabricar o produto , j que porcosno faltavam. O mtodo erasimples: bastava um caldeiro no fundo do quintal paraderreter a banha. O segredoest na compra e no na venda , dizia o comerciante aosamigos, com a propriedade dequem sabia negociar no atacado como ningum. Comprou quase todos os porcosda regio e, alm de barateara produ o, tambm revendia o animal. No incio, entregava pessoalmente os barris, que eram devolvidos e repostos aps a utilizao. Maistarde, veio a grande sacada:enlatar o produto.

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    ntuio gu d o negcio prosperou e, em 1890,suas pretenses j no cabiammais em Sorocaba. Quandopartiu para a capital pauli sta,j tinha mandado buscar a esposa, os filhos e trs irmos- Guiseppe, Luigi e Andrea- em Castellabate. A intui-o aguada de bom empreendedor no lhe abandonavanunca. Quando a farinha detrigo faltou no Pas, Matarazzo no pensou duas vezes.Foi pedir ajuda ao Londonand r zili n nk par aconstruir um moinho, em SoPaulo, e seu faturamento cresceu absurdamente. Em 1887,a cifra chegava a 20 contosde ris, e em 1900, possua2.020 contos - um crescimento de 9.950 em 13 anos. Em1920, ergueu o primeiro grande parque industrial do Brasil, na Agua Branca, zona oeste de So Paulo. Numa reade 100 mil metros quadrados, reuniu serraria, refinaria,destilaria, frigorfico, fbricade carroas, de sabes, perfumes, adubos e inseticidas, ve-

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    COMEO Inaugurando o Bradesco em 1943 em Marl ia ltimo esq

    m dor gui r VIDA DURA Posaos 12 anos deidade emSertozinhoquando largou aescola para pegaa enxada na roadesco. No dia da inaugurao, a morte repentina dsc io escolhido para dirigo novo negci o fez dAmador Aguiar o diretopresidente. Alm de plenopoderes, foi agraciado comum tero das aes do banco , que , por sinal, naquemomento, nada valiam.Bradesco era to insignifcante que o prprio Aguifazia piada da sigla da inti tu io nascente. BancBrasileiro dos Dez Contose h? , algum perguntava, e ele respondia s gagalhadas: No h Em 1946, ele transferiusede do banco de Marlpara a rua 15 de Novembrono centro de So Paulo - seanos depois, a administrado Bradesco seria instaladem Osasco, na Grande SPaulo, de onde nunca masaiu. Foi o pioneiro em separar a administrao daagncias , disse a ISTOLzaro Brando, sucessor dAguiar e presidente do Bradesco at pouco tempo atr- atualmente , preside o Conselho de Administrao. Segundo Brando, a idia dAguiar era afastar os altoexecutivos do Bradesco doproblemas corriqueiros daagncias. Com isso, sobra

    SOo Dois anos depois, numacarreira fulminante , ele jocupava o cargo de gerente .Mais do que ambio , eleatribua o xito a um detalhe aparentemente secundrio. Todo o meu sucessoprofis si onal eu tri uo asma. Eu no dormia noitee, por isso, lia tudo sobre asatividades bancrias. Assim,superei muitos funcionrio smais letrados do que eu.Dez contos Em 1943, oprojeto de virar banqueirocomeou a se concretizarquando, com amigos, adquiriu a Casa Bancria Almeida, um banco falido deMarlia (SP). A instituiog nhou de imedi to umnovo nome : Banco Brasileiro de Descontos, o Bra-

    (SP), Amador Aguiar aindaestava sem rumo em Bebedouro quando entrou numrestaurante. O dono olhoupara o rapazote de mos calejadas e perguntou se elequeria comer alguma coisa.No, primeiro eu quero trabalhar e s depois vou aceitar o prato de comida, disse Agui r . No demoroupara que ele encontrasse emprego numa tipografia, naqual perdeu o dedo indicador da mo direita numa mquina de impresso.Em 1926, aos 22 anos,Aguiar era office-boy na filial de Birigui (SP) do Banco Noroeste do Estado deSo Paulo. Foi nessa pocaque comeou a acalentar aidia de subir na vida e, algum dia, tornar-se podero-

    VOC S ? Num hotel em Manausesqueceram de colocar toalhas no quarto.No quis incomodar acamareira esee I go com acamisa. No restaurante ogarom no oreconheceu epediu para elemudar de mesa. Ele est s fazendo oseutrabalho aceitou Aguiar sem recla a

    58 22 S V T SOundador do Bradesco,o maior banco privado da Amrica Latina,com patrimnio lquido deR$ 6 bilhes e 67 mil funcionrios, dormiu um dianum banco de praa . Tinha16 anos e acabara de fugirda fazenda de caf ondeempunhava a enxada, emSertozinh o (SP). Quatroanos antes , quando cursavao quarto ano primrio, opai, o lavrador Joo Antnio Aguiar, que tinha 13 filhos, o tirara da escola paraque ele o ajudasse na plantao. Aos 16 anos, ele escapuliu (revoltado com ocomportame nto do pai, quebebia de mai s e er t idocomo mulherengo) e pegouno sono , ao relento , naquele banco de praa em Bebedouro (SP). De madrugada, foi acordado por ummendigo, que lhe pediu umtroca do. Aguiar revirou osbolsos e s achou uma moeda. Ento, ele pensou: parece mentira, mas existe gente que tem menos do queeu , contou a ISTO a netaDenise Aguiar.Nascido a II de fevereirode 1904, em Ribeiro Preto10 ISTO .O BRASILEIRO SCULO. IOEMPREENDEoo

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    ONTINUID DO fundador acima, dir. com LzaroBrando, que osucedeu no comandodo maior bancoda Amrica Latinaria tempo para eles se dedicarem aos grandes negcios.Outra inovao: o Bradescofoi o primeiro banco a aceitar o pagamento das contasde luz. Com sua viso aguada, ele fez com que o Bradesco se transformasse, jem 1959, no maior bancoprivado da Amrica Latina,posio que nunca mais perdeu , disse Brando . Na fachada do prdio do Bradesco em Osasco ainda hoje sel a frase que sempre inspirou Aguiar: S o trabalhopode produzir riquezas.Em seu caso, gerou umafortuna pessoal avaliada emUS 86 milhes MasAguiar - que teve trs filhase 13 netos - foi um homemde hbitos simples at o fimda vida. Fazia questo de dirigir seu prprio carro, umFusca. A maior diverso eracortar lenha em uma das fazendas espalhadas pelo Pas.Gostava de dormir em redee, curiosamente, nunca usoutalo de cheques. Tampoucoguardava dinheiro no bolso.Afastou-se da administraodo Bradesco, em 1990, emorreu a 24 de janeiro de1991 de parada cardaca. Ficou a lenda de uma das maisbem-sucedidas carreiras deself made man do Pas.ISTO.o BR SILEIRO DOSCULO lO EMPREENDEDOR 11

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    Ompeto guerreiro que ofez construir um dosmaiores imprios industriais do Pas associado fabricao de cimento alumnio ferro ao e zinco seforjou na vida de provaesdo menino nascido no soloseco do serto pernambucano. Jos Ermrio de Moraesque desembarcou neste mundo a 21 de janeiro de 1890pertencia a uma tpica famlia da aristocracia rural doNordeste. O pai ErmrioBarroso de Moraes era umsenhor de engenho j decadente ao morrer - o garototinha apenas dois anos deidade. A me Francisca Jesuna Pessoa de Albuquerque ou dona hiquinhacomo todos a chamavampassou a administrar os negcios familiares na pequena Nazar da Mata a 60 quilmetros do Recife.Ladres de cavalo Almde espantar os cangaceirosque tentavam roubar os cavalos dona Chiquinha esmerava-se em viabilizar o sonho do falecido esposo quedesejava dotar o nico filhohomem sobrevivente na famlia de slida formao intelectual e tcnica . No queria ver o moo enredado nobacharelismo em voga napoca. Aos 16 anos JosErmrio embarcou para osEstados Unidos para formar-se engenheiro de minasna Colorado School of Mines. Cresci ouvindo meupai elogiar a coragem devov Chiquinha disse aISTO o filho e tambmempresrio Antonio Ermrio de Moraes.

    Alguns meses aps a partida Jos Ermrio tratou deenviar uma carta para donaChiquinha. Estava dispensando a mesada porque havia conseguido um trabalhofora do horrio das aulas. Lpegou no cabo da p nas mi-

    nas de chumbo para se sustentar. Quando retornou aoBrasil em 1921 tornou-seum profissional disputado apeso de ouro e foi contratado pela Secretaria da Agricultura de Minas Geais parapercorrer em lombo de mula

    todo o Estado com a incubncia de mapear as riquzas minerai s da regio. Dsistiu de ser funcionrio pblico porque ficou semceber salrio - os cofres pblicos estavam raspado s.Em 1924 conheceu

    VOC SABIA? mtinha sonhos depremonioNumdeles recebeu oaviso da morte deum dos filhosErmrlo. Omaridomorto apareceuedisse: O Jos

    ISTOO BRASILEIRO DOSCULO.IO MPR NDED

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    do da Votorantim para concorrer a uma vaga de senador pelo PTB de Pernambuco. Teve a campanha boicotada, mas conseguiu elegerse. Os tecidos das faixas usadas para sua propagandaeleitoral eram de alta qualidade e, por isso, a populao carente passou a roublas para a confeco de roupas. Em 1963, foi nomeadoministro da Agricultura dopresidente Joo Goulart, cargo que ocupou durante apenas cinco meses. Veio o golpe militar, em 1964, e o industrial foi atacado por suasposies tidas como excess ivamente progressi stas,como a defesa da reformaagrria. No trmino de seumandato de senador, em1971, retomou ao comandodo grupo Votorantim.Sem favorecimentos Aesta altura, um mdico particular o acompanhava paratodos os lugares - estavacom a sade debilitada emvirtude de um derrame cerebral - e tratou de prepararos filhos Jos Ermrio, Antonio Ermrio, Maria Helenae Ermrio para passar o comando do imprio, hoje formado por 46 empresas. Morreu de isquemia cerebral a 9de agosto de 1973. Num discurso no Senado, afirmou:Como jamais pedi favoresou privilgios, tenho provocado a ira dos pobres-diabosque no acreditam se possavencer sem negcios fceisou favorecimentos. Minhavida tem sido de trabalho,trabalho e mais trabalho.

    OBSTINAAOJos Ermlrlo pouH.IeIUlporbtretrlltos - fllhdoportuAnt6n1o P.relr.IpjcIo donod8 m.lortec:eIq.m doP .de 2CSP Aouumlr osn 6cIosdoS08fO JosErmlrlo criouumv.toImprioIndustrl8lAo -do osprimrdiosdocon8lomer8doque b8rc8r18merc8dos comoos do clm.ntoumlnlo IIO de tecidos

    nhia Nitroqumica. Mas ogrande salto aconteceu em1938, quando criou a UsinaSiderrgica da Barra Mansa. O industrial pernambucano acreditava, por pura intuio, que o alumnio - atento importado - seria ometal do futuro. No inciodos anos 50, abriu a Companhia Brasileira de Alumnio CBA) para suprir a demanda no mercado brasileiro, com pleno xito.Em 1962, Jos Ermriodecidiu se afastar do coman-

    em So Paulo, em 1925. Nomesmo ano, Jos Ermrio assumia a diretoria dos negcios do sogro e transformoua tecelagem num conglomerado de empresas com tentculos em vrios segmentosde mercado. Em 1933, iniciou sua audaciosa estratgia para expandir os negcios da empresa. Abriu umaindstria de cimento, cujaproduo inicial foi destinada construo do Viadutodo Ch, em So Paulo. Em1935, ele fundou a Compa-

    paulistana Helena e seu pai,o industrial portugus Antnio Pereira Igncio, dono domaior complexo industrial detecelagem do Pas na poca,em Sorocaba SP), a Sociedade Annima Fbrica Votorantim. Quando o portuguspsosolhos naquele rapaz elegante e cheio de boasmaneiras, sentiu instatneaafinidade. Jos Ermrio erao esteretipo do genro e scio que todo pai procura. Ocasamento foi celebrado nosofisticado Hotel Esplanada,

    seu mas oErmrlomeu. Aprevldose confirmou equando Jos secrismou amieagregou-lhe onomedo irmlo morto. Elepassou ase chamarJos Ermrlo

    ISTO.O BRASILEIRO DOS ULO IO.EMPREENDEDOR

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    AbUio Diniz

    VOC SABIA? s qu rt s feir s de manhos funcionrios esto sempre preparadospara suas visitas surpresaAblio verificos preos observa atendimento eservecafezinho para as senhoras que esperamna fil da carneMas fic uma fer seencontra algum caixa sem atendente

    anos em AdministraoEmpresa s pela FundaGetlio Vargas. Fazia plnos de seguir carreira acdmica - cursou ps-gradao na Michigan State Unversity mas a missoajudar na direo da emprsa falou mais alto. Comou como gerente de vedas , quando o Po de Acar era uma locomotiva quse expand ia a todo vapoOs supermercados ganhvam os clientes dos antigaougues e merceariasbairro. Com Ablio frete do negcio, o grupo tonou se um dos maiorconglomerados do Bras ilabriu filiais em Portugal.O inferno astral veio nfinal dos anos 80. Primognito de seis herdeiros, Ablio s se tomou scio majritrio da empresa aps umsrie de desavenas familires. O assunto se resolvcom a redistribuio daes - Ablio ficou co51%, seu pai com 41% e sirm Luclia com 8%. Ma vieram os planos econmico s congelando prequ e colocaram o Po dAcar beira da insolvcia, sem dinheiro sequpara pagar os fornecedorePara completar, em dezembro de 1989, Ablio foi squestrado em So Paulolibertado depois de 153 hras no cativeiro.

    340 lojas e fatura R 5,47bilhes por ano. Chegamosat aqui com trabalho e humild ade , mas agradeo pri meiramente a Deus , dissea ISTO es te devoto deSanta Rita de Cssia.Inferno astral Paulistanonascido a 28 de dezembro de1939, Ablio cresceu entre osfregueses da confeitaria dopai e as barras de fe rro daacademia onde comeou apraticar capoei ra e levantamento de peso. Dividindose entre o estudo e o esporte, o esbelto rapaz de 1,80 mde altura formou-se aos 20

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    un idades da rede haviamsido fechadas e mais de 30mil funcionrios, demi tidos.Parecia no restar alternativa seno esperar o grupo definhar at morrer. Ablio nose conformou. Vendeu imveis , tomou emprstimos eanunciou a venda dos carros cedidos aos gerentes ediretores. Depois, extinguiubraos do Po de Acar,co mo os supermercadosJumbo e Minibox , contaminados pela imagem de careiros. A tacada final foi seduzir as donas de casa compromoes irresistveis. Deucerto . Hoj e , o grupo tem

    A istria do Grupo Pode Acar pode ser dividida em duas partes.A primeira remete a 1929,quando Valentim, o patriarca dos Diniz, hoje octogenrio, embarcou num naviocom o so nho de comearvida nova na Amr ica. Oimigrante portugus acabarade cruzar o Atlntico e encantou-se com a beleza deum macio de pedra no horizonte. o Po de Acar, avisou um passageiro.A partir de uma discreta padaria , o jovem lusitano ergueu, em 1948, um estabelecimento que se tomou ponto de encontro das madamespaulistanas na poca: a doceira Po de Acar. Dezanos depois, foi aberto o primeiro supermercado. Logoser iam dezenas espalhadosPas afora. A segunda parteda histria da empresa temcomo marco a recupe raodo abismo em que ela se encontra va no final dos anos80. a que entra o mpetoempresarial de Ablio dosSantos Diniz . Quatrocentas

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    Os tempos de vacas magras fazem parte do passado. Nos ltimos anos, o Grupo Po de Acar incorporou alguns de seus principaisconcorrentes - Paes Mendona, Extra, Peralta e Barateiro. Nosso desafio agora penetrar na periferiacom as marcas que adquirimos , anuncia Ablio. A sade do grupo se estende aosfuncionrios. Ablio se d aoluxo de manter uma academia de ginstica para qualquer empregado disposto amalhar. Pelo menos 800usam e abusam da regalia.Quem faz esporte aprendea lidar com a competio notrabalho, afirma.ol iro Na verdade, elemesmo irradia bons hbitos. Acorda s cinco hora sda manh para correr dezquilmetros. Evita almoosde negcios, pois reserva ohorrio para nadar ou fazer musculao. A jornadaesportiva complementadapelo jogo de squash no final da tarde . Fui goleirono clube dos advogados deSo Paulo e, se quisesse,poderia ter virado profissional , jura Ablio. A julgar pela quantidade de trofus e medalhas em suasala de trabalho ele j praticou halterofilismo, moto-e triatlo, entre outras modalidades) no se

    trata de nenhum exagero.Aos 59 anos, est casado pela segundavez e tem quatro filhos. Os dois mai snovo s no querem sabe r deen vol vimentonos negcios.Adri ana mantm distnciada empresa ePedro Pauloco nti nua ganhando seu espao nas pistasda Frmula 1. Fico ner vosoquando acontecealgum acidente,mas garanto quenunca vou pedirpara ele parar decorrer. J os filho s mai s velhos ,Ana Maria e JooPaulo , contriburamdecisi vamente na reconstruo do GrupoPo Acar. Ele s co stumam participar dastradicionais reunies queAblio faz com cerca de40 diretores todas s segundas feiras de manhna sede em So Paulo. Estampada na parede, umafrase do dramaturgo franc s Jean Cocteau d umapista do esprito empreendedor do patro: No sabendo que era impossvel,ele foi l e fez.

    CORRIGINDO AROTA Apaixonadopelas pistas,Abllio ganhouas Mil Milhasde Interlagos,em 97 esq I ]depois dereerguer o Pode Acarfechando algunsde seus braos,como o Jumbocentro, elerecebeu dos paisao lado as aesque o fizeramdono do grupo

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    ntonio rmrio de Moraes49 89 DOS VOTOS jfUa lio Antonio Ermrio j amai s esqueceu. Era garoto quando ameacei matar uma andorinha. Meu pai tinha umvizinho alemo robusto edefensor da natureza quetomou o estilingue da minha mo. Nunca mais pensei em matar uma mosca se-

    quer contou ele a ISTO.Sorte de poucos um imprio j o esperava quandonasceu a 4 de j unho de1928 em So Paulo. Alfabetizado no tradici onal colgio Rio Branco decidiuseguir a trilh a do pai Josrmri o de Mor es. Em1945 partiu para o Colora-

    do nos EUA para se formar engenheiro metalrgico na mesma faculdade dopatriarca a Colorado Scho1of Mines. No dia da minha viagem chovia muito .Os passage iros est v mcom os ps lambuzados delama e o avio decolou como cho forr ado de jornal.

    Da temp orada americanele se lembra com nostagia. No Natal fui convdado para jantar na casa dprofe ssor que eu mais gotava. Isso foi a maior horaria que j recebi na vidaApelidado de Tony pelcolegas americanos vivequatro anos num quarto d16 ISTO O BRASILEIRO SCULO 1 EMPR N OO

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    VOC SABIA? Tomou banho num hotelde beira de estrada em Juazeiro BA).Ochuveiro era uma lata com furos poronde escorria agua eocho limbosoexigia que ele usasse meias. Ao desligarochuveiro cortou amo. Sem hospitalpor perto um senhor costurou oferimentocom linha eagulha . Ficou uma perfeio

    penso ao preo de US$ 10ao ms. Para economizar,comeu muito sanduche .Certo dia, um amigo veiocorrendo lhe contar que elehavia tirado a maior notada turma , 97. No nico diaem que provou usque navida, o empresrio descobriu que havia nascido comum rim s. Foi socorrido nohospital americano e saiu del com a seguinte recomendao: beber muita gua.O retorno ao Brasil , em1949, no foi to amistoso como ele esperava. As-

    ARTE E POLITICA Nadcada de 8 , ao lado deRuth Escobar, BrunaLombardi e FernandoHenrique Cardoso, entosenador acima ; ao lado,trocando o sapato em meio campanha para o governode So Paulo, em 986,quando era o candidato doPTB e foi derrotado porOrestes Qurcia, do PMDB

    sim que o pai ps os olhosno filho em casa, alertou:H muito tr lho pelafrente. Vou lhe dar um salrio e fazer uma experincia com voc . Se noder certo, no vou lhe contratar. No mesmo dia Antonio Ermr io encarou seuprimeiro dia de trabalhonuma das fbricas do grupo Votorantim.Bastaram seis anos paraele anunciar sua primeiravitria, a fundao de suaprpria firma, a CompanhiaBrasileira de Alumnio, em

    1955. Em 1962, AntonioErmnio assumiu todas asempresas e o grupo no parou de crescer. Inauguroufbricas de cimento, zincoe nquel. Sem reclamar, elediz que desde que pisou naVotorantim no tira fr ias .Mas minh as viagens detrab lho t m sa bo r de

    aventura. Nos anos 70, estava no Cear em busca dejazidas de cobre. A ausncia de restaurantes o obrigou a passar 15 dias comendo fruta-de-conde.Terno surrado Em 1986,abocanhou I, I milho deeleitores concorrendo ao governo do Estado de So Paulo pelo PTB - perdeu paraOrestes Qurcia. Meu paidizia que poltica suja paraum homem de empresa e euo desobedeci , disse o empresrio, que se desculpouajoelhado ao tmulo do pai.H dez anos investe no teatro. Brasil S A pea de suaautoria que estreou em 1996,foi escrita quando ele viajava para Londres, nas 18 horas do voo.Pediu algunsguardanapos de papel e em cimado cardpio escreveu a peaque j estava em sua menteh tempos. Para escolher onome de umdos personagens,abri o cardpio. A primeirapalavra que li foi camaro. isso, o meu personagem sechama CamaroCasado com Maria Reginae pai de nove filhos, umhomem de hbitos simples.Costuma ouvir atento os pedidos de emprego que recebeao ser reconhecido nas ruas.Dispensa seguranas, no usacarro blindado e - dizem asms-lnguas - veste sempre omesmo temo surrado. Nemaparenta o empresrio que,em 1996, foi apontado pelarevi sta americana Forbescomo um dos mais ricos domundo, com uma fortuna estimada em US$ 5 bilhes.

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    VOC SABIA Deu um tapa com luva depelica num passageiro cara de pau quesurrupiara uma garrafa de usque no avioVou levar para casa Foi omelhor que j

    At conquistar o cu, efrento u dificuldades. Umdelas foi a descobertaum tumor na garganta, e1992, extirpado em trs crurgias nos Estados UnidoA segunda o deixou deprmido por quase um anEm 1996, a queda de u

    das. As mulas eram drogadas e tinham as patas amarradas. Depois entravam naaeronave e ficavam com metade do corpo para fora. Sedurante o vo alguma delasacordava, tinha que jog-la.Era a mula ou o avio. Paraengrossar o oramento, vendia roupas e radinhos de pilha num armazm em SoJos do Xingu (regio doAraguaia), de onde comandava a empresinha que montara. Em dois anos compreidez monomotores, mas desisti quando tive a stima crise de malria. J perguntavaaos p ss geiros qual dasduas pistas que eu enxergava era a verdadeira.O empresrio Rolim decolou em 1972, ao adquirir metade das aes da TAM compraria a outra metade

    quatro anos depois. Entrou naond de um mercado emfranca expanso, mas ningum duvida que foi o olhodo dono que fez o boi engordar. Dirige uma companhiaarea que fatura R 800 milhes por ano e faz 550 pousos e decolagens dirios.

    me para piloto privado, o aeroclube inventou uma taxade dez cruzeiros. Sem umtosto, ele viajou 200 quilmetros de trem e de caronapara recorrer a outro tio, fazendeiro no interior paulista. Teve que dar meia-volta.O sonho de sua me era vlo como balconista das Casas Pernambucanas e vocdesistiu. Preferiu ir atrs daaviao, coisa de vagabundo e louco. V trabalhar.

    Tomou, enfim, o dinheiro emprestado de um amigo, o que permitiu ao co-

    mandante trabalhar na TAM(Txi Areo Marlia) e naVasp, at receber uma proposta tentadora, em 1966..Fui para a Amaznia ser piloto particular. Em troca, recebi financiamento para acompra do meu primeiroCes sn , lem r . De umpouso emergencial numa estrada em Minas ao transporte de uma tribo de xavantespara um lugar perdido na selva, Rolim realizou uma srie de faanhas. Na falta deestradas, at os animais eramlevados de avio s fazen-

    oisade v g undocarregado sotaque caipira remete tranquilidade de Pereira Barreto, cidade do oeste paulista onde ele nasceu a15 de setembro de 1942. Aosseis anos, Rolim j ganhavaos ares no colo do tio, donode um monomotor. Menosafeito a peripcias, o pai tocava a vida com o armazmde secos e molhados em SoJos do Rio Preto, para ondese mudara. O rapazote abandonou a escola na stima srie para ajudar nas despesasde casa . Foi assistente demecnico, aprendiz de escrevente em cartrio e entregador de sanduches, mas o vrus da aviao estava no organismo. A lambreta comprada com o salrio minguado serviu para pagar o cursode piloto, que ele concluiuaos 18 anos. Se o primeirobrev Rolim nunca esquece,o segundo quase no saiu.s vsperas de fazer o exa-

    rach na lapela do pa

    let indica, em letrasgrandes e na foto bemvisvel, quem est chegando.Fala alto e desliza as mossobre os cabelos alinhados,que escondem um arrependimento. Certa vez, algumgozou a minha calva na praa da Repblica , no centrode So Paulo. Arrisquei umimplante capilar, mas a cirurgia doeu demais. Foi umao gem , di sse el e aISTO. No melhor estilo interiorano, que confessa adorar, Rolim Adolfo Amaro ou simplesmente o comandante Rolim - vai narrandoseus c usos uma infindvelsucesso de aventuras.

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    bebi. olim enviou lhe uma carta juntocom meia dzia de garrafas da bebida :Isto para osenhor tomar antes de cadaviagem conosco . rato pela preferncia.

    okker-IOO que fazia aponte Rio- So Paulo causou a morte de 99 pes soas.Nove meses depois, outropassageiro morreu quandouma bomba explodiu noavio que fazia o trajetoSo Jos dos Campos SoPaulo um professor o

    principal suspeito do suposto atentado).Em todos os momentos,Rolim encontra o amparo deNoemi , sua esposa h 34anos. O caula dos trs filhos, Marcos, 15anos, fruto de um romance furtivo.Todo homem est sujeito a

    um acidente de percurso ,mas eu seria um calhorda seno assumisse o menino. Afamlia no desfruta de muito tempo para v-lo. Geralmente , o comandante chegaem casa s s dez da noite ,toma uma sopa de aveia eva i para a cama. Nas rarfssimas horas vagas, compemodas de viola, gravadas,ent re outros, por Faf deBelm. No gosta de badalaes, mas no resiste aum convite para andar demoto, c ontou a ISTO oamigo Luciano do Valle. A

    INCANSVEL s seis damanh est recebendo ospassageiros: Se descansoum pouco no avio eles meperguntam se j enriquecio locutor esportivo pegouem seu ponto fraco . Donode 13 maquines de duas rodas , Ro lim s veze s vai rodando fazenda em PontaPor MS) e se atreveu ata cruzar a Cordilheira dosAndes em cima de uma motocicleta. Para quem desdeos seis anos de idade vivenas nuvens, isso brincadeira de criana.

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    eb stio m rgo37 56 S V T S

    Sebastio Camargo , ofundador da construtora Camargo Corra, viveu umbilicalmente ligado terra e preservou os costumes sertanejos. Sempre comum cachimbo na boca, reservava os fins de semana parase atirar no mato. No erararo ele se aventurar em caadas no Mato Grosso. Podia-se medir a paixo observando a coleo particular deanimais empalhados na fa-zenda em Ja SP), cidadeem que nasceu a 25 de setembro de 1909. Pelo menosuma vez por ano embrenhava-se em alguma selva africana. Tudo mudou radicalmente em 1988, quando ocaador quase virou caa. Aodeparar com um leo, ele mirou a fera e errou o alvo. Ofelino correu em direo aoempresrio e, no fosse aprovidencial ajuda do guia,que liquidou o animal famin-

    to com um tiro certeiro, adiverso teria terminado emtragdia. E le dedicou-seainda criao de javalis,patos, gado e cavalos , disse a ISTO o amigo e exfuncionrio Joo Mattos.Sebastio Ferraz de Camargo Penteado era filho deagricultores e estudou s ato terceiro ano primrio. Aos17anos, aprendeu a transportar terra retirada de construes usando uma carroa pu-

    xada por um burro. Tomogosto pelo negcio e, em1939, comprou duas carroaCom a p em punho e as rdeas nas mos, Camargo ajdou a construir as estradaque se multiplicavam pelo iterior de So Paulo na pocLogo aprendeu a tcnicda terraplenagem e se tranformou num modesto empreiteiro. Quando conheceo advogado Sylvio Corrainda em 1939, abriu comele uma pequena construtora, a Camargo Corra CLtda. Engenheiros e Contrutores, com um capital d200 contos de ris. Comeles nada entendiam de engenharia, a palavra engenheiros foi usada para sal20 ISTO .O BRASILEIRO DO SCULO IO.EMPREENDEDO

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    para as obra s da ponte RioNiteri e tirou o segundolugar. At parece que rogou uma praga. Morte depedreiros e desmoronamentos em meio construoda ponte obrigaram o presidente Emlio GarrastazuMdici a pedir ao audacioso empreiteiro que assumisse a obra. Pois no, senhorpresidente, mas vou fazerdo meu jeito. Vou comearderrubando tudo e partir dozero , respondeu Camargo.Bilionrio A empresa foiresponsvel por mais de milobras (incluindo as rodoviasImigrantes e Bandeirantes, ogasoduto Brasil-Bolvia ,alm da usina nuclear de Angra I e as hidreltricas deIlha Solteira, Itaipu e Tucuru). A partir dos anos 90,Camargo passou a fazer parte da lista de bilionrios darevista or es e sua fortuna pessoal foi avaliada emUS 1,3 bilho. Era casadoe tinha trs filhas e II netos. O controle da holdingMorro Vermelho queabrangia 34 empresas dosmais variados setores, incluindo agricultura, siderurgia,txtil, alumnio e transporte, passou para os genroslogo aps sua morte por insuficincia respiratria, a 26de agosto de 1994.

    queria proporcionar trabalhoa seus conterrneos. Conseguiu mai s do que isso transformou a empresa numagrande produtora de tecidos.Nos anos 50, a construo de Braslia era o sonhomaior do empreiteiro. Aoparticipar da licitao, ouviu de um assessor do presiden te Ju scelino Kub itschek que a Camargo Corra no tinha mquinas emnmero suficiente para encarar as obras da nova capital. Pois ento me d trsdia s e eu provo que o senhor est eng anado , respondeu, contrariado. Quando o prazo expirou, o empresrio desfilou pelo cer rado com mais de 100 tratore s vindos de seus canteiros de So Paulo, Rio deJaneiro e Goi s. Resultado:coube Camargo Corra aabertura de vrias estradasque possibilitaram o acesso capital federal. Em 1960,JK sugeriu que Camargoconstrusse um moinho detrigo para abastecer Braslia. Preocupado com o rigor tcnico que a tarefa exigia, ele tratou de importar um especialista em moinho da Sua para garantira qualidade do servio. Batizou-o de Moinho de Trigo Jauense. Em 1962, quando a empreitei ra cons truiua hidreltrica Usina de Jupi, no rio Paran, uma dasmaiores do Brasil, concluda em 1968, a imponnciada obra obrigou que uma cidade fosse construda aoseu redor para alojar os 12mil funcionrios.Nos anos 70, a con struto ra ent rou na licitao

    admitia homem barbudo, cabeludo ou desquitado na firma. Certa vez, um engenheiro que no fizera a barba,sem saber da implicncia doseu Bastio, candidatou-se auma vaga na construtora e foireprovado. Inconformado ,procurou um psiclogo paraentender a importncia dabarba num processo de seleo. Em Ja, Camargo fundou a tecelagem Companhi aJauense Indu strial porque

    entar que os empreendedore s estavam di spostos aqualquer empreitada. E trabalho no faltava. Em 1940,Camargo adquiriu um trator, o que significou grandevantagem tecnolgica em relao concorrncia. Oscontratos se avolumaram. Oastuto Bastio , como erachamado pelo s mais ntimos, ou Ch ina , para amaioria , devido aos traosorientai s de seus olhos , no

    VOC SABIA? Na construo de Itaipu quase provocou um atrito diplomtico. CamargoCorra no havia sido aceita para aobra do lado brasileiro. Oditador paraguaio AlfredoStroessneramigo de pescaria do construtor protestou: Onde est Don Sebastin?Ameaou melar onegcioobrigando ogoverno brasileiro acontratar aCamargo CorraISTO BRASILEIRO DOSCULO.IO.EMPREENDEDORES 21

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    WaltherMoreira Salles29 73 S V T SQando fez a primeiraviagem aos EstadosUnidos, aos 27 anos,Walther Moreira Salles eradiretor da Companhia Brasileira de Caf, recm-criada pelo pai, Joo Salles, em1938. A inteno era vendero produto aos clientes americanos, mas ele estava maisinteressado em experimentar a lt ima palavra emtran sportes: o hidroavio,um monstrengo que voavaa cerca de 500 metros de altura e mal chegava aos 150quilmetros por hora . DoRio de Janeiro a Miami foram cinco dias de viagem,com esca las em outras 15cidades. O resultado da viagem no poderia ter sidomais desastroso, do ponto devista dos negcios. Waltherno conseg uiu fecha r nenhuma transao porque asoperaes da Bolsa de Cafamericana haviam sido suspensas. O motivo? Do outro lado do Atlntico, os estrondos de bombas denunciavam o incio da Segunda Guerra Mundial.O episdio curioso porque esta foi uma das rarasvezes em que no deramcerto os negcios de Walther, mineiro de Poos deCaldas, nascido a 28 demaio de 1912. Pudera, elefoi acostumado a lidar como comrcio desde criana,quando passava as tardesatendendo clientes e arrumando prate leiras no armazm do pai. O velho Joomandou o filho estudar em

    So Paulo, no Colgio Liceu Fra nco Brasileiro. Ficou co ntente quando, alguns anos depois , Walt herinformou que pretendia estudar Direito . Mas sabiaque o futuro do rapaz estava em dar pro sseguimentoao s negcios familiare s.Walther no havia se formado ainda quando viro uscio do pai na Casa Bancria ore ira alle s , onovo ramo em que Joo sehavia ave nturado pensandoexclusivamente em financiaros produtores de caf. Nasmos de Walther, o bancoprosperou e, em pouco tempo, virou um banco respeitvel, com clientela at noRio de Janeiro. Faltava enfrentar os grandes bancos dacapital paulista, cidade quecentralizava j na poca omercado financeiro, o queno demorou a acontecer.Negociando com Mo suce sso do banco nasprincipais capitais do Pasfoi a alavanca para a entrada na cena poltica. Com aposse do presidente GetlioVargas, em 1951, HorcioLafer foi nomeado ministroda Fazenda e convidou Walther para dirigir a Superintend ncia da Moeda e doCrdito Sumoc , embrio doatual Banco Central. No anoseguinte, assumiu o posto deembaixador em WashingtonEUA e, em sintonia comHorcio Lafer, tentou obtermais financiamento para oPas. O resultado foi desa-

    nimador. Em 1953, o governo americano declarou queno concederia emprstimospar a o Brasil. Abalado peloinsucesso das negociaes,no restou a Walther outraalternativa seno re tomarsuas ativi dades como empresrio, que, afinal, iam devento em popa.As incurses diplomticaslhe renderam a fama de conciliador e Juscelino Kubits-

    chek no pensou duas vezeem cham-lo para assumirnovamen te , a em ba ixadbrasileira em Washingtonem 1959. Com Jnio Quadros no Palcio do Planalto, o nome do banqueiro mineiro voltou a ser lembrado. Desta vez no para ocupar qualquer pasta, mas parauxiliar na renegociao dadvid a ex terna brasileiraMesmo fora do governo, fir

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    VOC S BI Quase teve umt que de nervos porque umvendedor de ilhetes deloteri grit v ensandecidona porta do banco Pa ra selivr r logo do homem mandoucomprar todas as c rtel sedistri uiu como brinden t lino aos funcionrios

    rnou ao lado do ento embaixador Roberto Campos,um dos melhores acordosque o Pas j vira at ento.Alm de prorrogar os prazos de pagamento, ainda arrancou dos americanos novos financiamentos.Em 1961, Walther visitava um amigo numa fazendaem Itatiba (SP) quando soube, pelo rdio, que Jnio havia renunciado. Estabeleceu-

    se o impasse: os militaresno aceitavam a posse dovice, Joo Goular t. A soluo foi costurada com a sada parlamentarista - Tancredo Neves seria o primeiroministro. Em ago sto , emmeio confuso, o presidente da Varig , Ruben Bert a,veio ao encontro de Walther.O presidente faz questo deter uma conversa com voc,disse Berta. Qual presiden-

    te? , qui s saber o banqueiro.Referi a- se a Jango, que acabara de aceitar o parlamentarismo. Todos os aeroporto s estavam fechados e Berta prec isou montar uma operao de guerra para chegara Jan go em Porto Alegre.Embarcaram escondidos emum hang ar e, sob o pretextode socorrer um avi o em(lane, conseguiram decolar.As dez da noite , a aeronave

    pousa va s escuras, numapista iluminada por fari sde aut omveis . Quero quetu aceites ser o ministro daFazenda , di sse Jango. Obanqueir o relutou , ma sacabou -aceitando . Vocme arruma um avi o paravoltar a Itatiba? perguntou a Berta. Agora impo s sve l , a Aeronuticaest derrubando todo oaparelho que segue para oNorte . Mas coloco-o numavi o para Buenos Aires ede l voc parte para SoPaulo num vo internacional, sugeriu o presidente daVarig. S h um problema,estou sem dinheiro , retrucou Walther. Foi preciso queJango pusesse a mo no bolso e emprestasse US 250para o banqueiro.mante das artes De volta ati vidade empresarial,ap s deixar o governo, articulou a compra do bancoPredial e do Agrcola eMercantil. Em 1967 , o grupo passou a se denominarUni o de Bancos Brasileiro s e, finalmente , em 1975 ,ganhou sua cara mais famosa: Unibanco. Quando o paimorreu , em 1968 , Waltherassumiu em definitivo o comando da instituio. Hojecom 87 anos, casado e paide quatro filhos - um deles o cineasta Walter SallesJr. , de entral do rasil - , um amante das arte s. Desligou-se do banco em 1991para dedicar-se exclusivamente s ati vidades culturai s frente do In stitutoMoreira Salles.

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    vz grossa, semb lanfechado, olhar imponent e. No h queno se intimide, num primero momento, com a seriedde do banq ueiro Olavo Stbal. A impresso se defaz, porm, com as gargalhdas vibrantes acompanhadade sonoros bofetes na mescvde trabalho. Sen9 tado entre fotoda famlia e umesc ultura de Aleijadinho esua sa la no Centro Emprsar ial lta, em So Paulo, ese alegra ao con ta r compre tende atravessar o milnio. Vou passar o rveillonum cruzeiro em guas carbenhas. Comprei a passageh dois anos , delicia-se edi zer. Olavo acredita quplanejar com antecedncia ocompromissos o segredde seu negcio. 'Todo mde novembro edito uma cicular inte rna em que marcas datas das reunies intenas, assemblias e as minhaviagens durante o ano seguinte , afirmou a ISTOCumpro pelo menos 80da agenda e sugiro que todmundo faa o mesmo. Vindo do homem que transfomou uma frgil instituio fnanceira no segundo maiobanco do Pa s , o conselhno de se jogar fora.ltimo p i o Paulistannascido a 16 de abril d1923, Olavo Egydio Setba(o sobrenome tem origem ncidade homnima em Portugal, onde nasceu o tatarav nunc a deu o brao a torceNem o apelo do pai, que sofria de tuberculose, o demoveu da escolha de ser engenheiro. Escr itor de sucesse bomio, Paulo Setbal quiter uma conversa com o flho antes de morrer. ngnhari a uma carrei ra de segunda. Voc deve ser advogado porque a eles competa direo do Brasil , disse

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    Philco, fabricante de computadores - , do qual o presidente. Aos 76 anos, trabalha dez horas por dia e volta para casa a tempo de assistir a todos os telejornaisda noite. um de seus vcios incurveis, assim como aleitura de revistas sobre finana s - pouco antes de falar a ISTO, devorava trspublicae s es trangeirasquase ao me smo tempo .Para quem pensa que ele secontenta em ficar com a segunda posio no ranking dosistema bancrio, o empresrio lembra uma conversaque te ve com AmadorAguiar . O falecido presidente do Bradesco lhe disse: Voc vai passar todosos bancos, mas a mim noDepoi s de comprar recentemente o Banerj e o Bemge(Banco do Estado de MinasGerai s) , agora o Ita olha desoslaio para a venda doBanespa, que deve acontecerno ano que vem. E Olavo arrisca um desafio: O Bradesco fruto daquele gnio chamado Amador Aguiar. O Ita fruto de uma lgica racional. Essa a grande diferena entre os dois. O futuro dirse os frutos dos gnios resistem a vrias geraes. A lgica sobrevive.

    mais trabalho do que presidir um banco. E a remunerao muito mais baixa ,completa s gargalhadas. Abreve ca rrei ra poltica ganhou sobrevida com a nomeao, no incio do gove rno do presidente Jos Sarney, para o Ministrio dasRelaes Exteriores (Tancredo Neves o havia chamado para ser ministro da Fazenda). Derrotado numaconveno interna do PFL,desistiu da idia de concorrer ao gove rno de So Paulo em 1986 e retirou -se davida pblica.Casado pela segunda vez(a primeira esposa morreuem 1977 deixando-lhe setefilhos) , est aposentado dadiretoria do banco h 11anos. Mas continua envolvido at o fio de cabelo noconse lho de administraoda Itasa - holding controladora do grupo, que hojetambm engloba a Itautec

    - PLOMT O Como prncipe Charles esq , e os presi entesFigueire o e Tanre o

    Noites de insnia Se naju ventude ele acompanhavaa distncia o movimento nosgrmios estudantis, o sucesso no meio empresarial estreitou sua relao com a poltica. Em 1975, o governador Paulo Egydio Martins oconvidou para assumir aPrefeitura de So Paulo.Foi um dos raros perodosem que tive insnia e precise i tomar remdio para dormir , diz Olavo, como ochamam os amigos. Ele ocupou o cargo at 1979. Administrar a cidade uma coisa fantstica, da qual mehonro muito, mas d bem

    compra do Ita, que tinhaenorme clientela rural , obanco se tornou o 162 maiordo Brasil. Novas fu sesaconteceram e, de gro emgro, Olavo se transformou,antes que acabassem os anos70, no segundo maior banqueiro do Pas.

    A me, dona Francisca, assumiu a educao do garotode 13 anos com mos de ferro. Que grande mulher Tinha valores ticos e moraisrgidos, mas uma viso muito ampla, lembra. Em 1945,ele diplomou-se pela EscolaPolitcnica da Universidadede So Paulo e passou a trabalhar como professor-assistente no Instituto de Pesquisas Tecnolgicas.Com os US$ 10 mil quejuntou, Olavo e um antigoamigo de escola compraramduas mquinas e fundaram aDeca, que fabricava peas defechadura e de torneiras econtava com dez empregados. Os primeiros anos foram difcei s, mas em 1953 aempresa deu sinais de recuperao ao incorporar umaindstria de vlvulas de descarga. Como a Deca ia devento em popa, ele foi chamado para reestruturar os negcios do tio, Alfredo, donoda Duratex e do pequenoBanco Federal de Crdito e tirou as duas instituiesdo vermelho.Com a morte do tio, eleassumiu de vez a direo-geral do Federal de Crdito em1959. Saiu caa de grandes clientes e obteve recursos que permitiram financiaroperaes de maior vult o.Uma das primeiras medidasfoi estabelecer que todos osgerentes deveriam ter, pelomenos, curso ginasial completo. Nos anos 60, constatou que no havia outro caminho para a expanso dosnegcio s seno incorporaroutras instituies. Com a

    VOC SABIA? Uma vez por ms rene os amigos da poca de solteiro para um jantarno Casserole restaurante de cozinha francesa no centro de So Paulo. ramos 15mas cinco j morreram conta OIavo esclarecendo que osaudosismo nunca se sentamesa do grupo durante aconfraternizao. Umade minhas caractersticas que custo a fazer amizades . Quando isso acontece costuma durar indefinidamenteISTO BRASILEIRO SCULOIO.EMPREENDEooRES 25

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    Nascido a 9 de dezembrde 1920, no Recife, Odebrecht mudou-se para Salvdor aos seis anos de idadAqui necessrio abrir umparntesis: os primeiros Odebrecht que migraram da Alemanha para o Brasil se intalaram em Itaja (SC) povolta de 1850, desbravando Sul do Pas em lombo dburro e enfrentando onanas florestas. O pai, Emlitransferiu-se para o Rio dJaneiro em meados dos anoIpara estudar EngenhariQuando se formou , foi paro Nordeste, onde estava sendo construda a hidreltricde Paulo Afonso, em Alagoas. Emlio abriu uma contrutora e acabou fixando-sno Recife aproveitando obons ventos do ciclo do acar. Em 1926, as exportaede acar despencaram e siniciou o ciclo do cacau nBahia, para onde a famlise mudou.Aulas nas ladeiras Resutado de um choque culturaa formao de NorbertOdebrecht combina a rigideluterana e a flexibilidade baana. Aos 12 anos, quandentrou no ginsio Ipirangade Salvador, no sabia falaportugus, porque o idiomem casa era o alemo. Fquei impressionado ao ver omeninos que tinham babmamezinhas para fazermala. Eram pessoas acostumadas a serem servidas, e ea servir. A disciplina foi en

    VOC SABIA Um militar fezseveras crticas construoda sede da Petrobras acargo da Odebrechl Asinformaes so falsasgarantiu oempresrio aogeneral Ernesto Geisel

    a gente percebe se o sujeito empresrio ou no.Tudo uma que sto de enfoque , afirma ele.No intervalo entre umpico e outro de febre alta ,Odebrecht traou o novoperfi l da empresa com nfase na descentralizao.Cada funcion rio a partir deento seria t ra tado comoum scio, compartilhando aresponsabilidade pelo xito da empreitada. Mais difcil foi negociar com oscredores. Mandou um recado aos banqueiros: Arranjem me obras que eu pagoas dvidas . Logo ele reduziu o tempo de const ruode um edifcio residencialna capi tal baiana de tr sanos para nove mese s. Emquatro anos, os dbitos estavam zerados. E hoje aholding Odebrecht faturaR 4,5 bilhes por ano , estando presente em 24 pases de quatro continentes .A receita do sucesso estem no se deixar sucumbirem nenhuma circunstncia.Empresrio que s sequeixa s tem uma coi sa afazer : decidir como dar umfim na vida dele, porqueest atrapalhando muita gente.

    res qu e batiam porta ,Odebrecht tinha ainda dedar satisfao aos clientescujas obras estavam paralisadas. Aprendi na vidaa transformar problemasem oportunidades . a que

    Norberto Odebrecht2619 S V T S

    Aatalidade de uma doena que o deixou 47dias de cama - a malria - mudou os planos deNorberto Odebrecht, dono deuma construtora em gravesdificuldades financeiras nolongnquo ano de 1944,em Salvador. Nobastassemos credo-

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    SUCESSAO Norberio recebeu o comando da empresa dopai no retrato da parede) e o passou ao filho Emllio de p)

    presidente da estatal na poca Volte em15 dias eprove que est certo Ele provoueGeisel demitiu omilitar que oacusaraAps assumir aPresidncia da Repblica ,quando havia obra importante arealizar,Geisel recomendava Entreguem quelenordestino malcriado. Era um elogio

    Unio Sovitica - uma prova de que, no mundo capi talista, as parcerias obedecem necessidade do lucroe no tm fronteiras ideo lgicas . Foram os russos queindicaram a Odebrecht paraa construo de uma hidree ltrica em Angola, em1986 , ento sob o comandode um governo de esquerda. L, a empresa ergueuuma cidade com escri trios,alojamentos, escolas e clubes. A segurana era feitapor tropas ferozmente armadas, j que o pas vivia umasangrenta guerra civil.Escndalo poltico A cumplicidade com os polticos (oEstado o cliente nmero 1das empreiteiras) levou Odebrecht a ter sua empresa envolvida, no incio dos anos90, no escndalo do impeachment de Fernando Collor,Foi citada como financiadora da campanha eleitoral dopresidente afastado. Na poca , Od ebrecht de cl arou : Nossa companhia umadas mais ticas do Pas. Contribuimos para a campanhade vrios presidenciveis,porque nossos lderes gozamde autonomia e cada qualofereceu apoio ao candidatocom quem mais se afinava.Passou o basto ao filho Emlio, em 1991, e h dois anosdeixou o Conselho de Administrao para dedicar-se aos13 netos e trs bisnetos, semse descuidar das fazendas decacau na Bahia e da organizao no governamentalque criou para proteger osmanguezais.

    Em meados dos anos 70,entretanto, Odebrecht percebeu que o chamado milagreeconmico dava sinais dedesgaste. As obras gigantescas , marca registrada do governo militar, eram cada vezme nos frequentes. Maisuma v z se viu obrigado arepensar a estratgia dos negcios, como fizera 30 anosantes. Odebrecht olhou parao mercado externo como soluo, num tempo em que apalavra globalizao no eramoda e no era abundantemen te citada na seo deeconomia de jornais e revistas. Em 1979, construiu umahidreltrica no Peru em parceria com es ta ta is da ex-

    Odebrecht construiu o edi fc io-sede da Petrobras , noRio. O bom relacionamento com os militares valeu construtora a realizao deobras importantes como oaeroporto internacional doGaleo (atual Antnio Carlos Jobim) e a usi na nuclear de Angra dos Reis, a lmda ponte Colombo Sales,em Florianpolis, sem falar na expanso da Usiminas, em Minas Gerais.

    de salto que deu no finaldos ano s 60, quando tratoude conquistar o mercado daregio Sudeste. Os militares haviam tom ado o poder em 1964 e se dedicavam a grandes obras de infra-estrutura. Em 1969 , a

    empresa - e recuperar-se damalria que o fez ter a visodo futuro que desejava paraa empresa Odebrecht usufruiu do ciclo de desenvolvimento da Bahia, nos anos40, que propiciou a construo de pontes, edifcios, indstrias e barragens. Na dcada seguinte, ele se tornaria parceiro da Petrobras,construindo oleodutos noRecncavo. Essa parceria seria fundamental para o gran-

    sinada desde cedo pela me,dona Hertha, que lhe incumbia tarefas dirias como arrumar a cama , rachar lenhae engraxar os sapatos . Dossete aos 12 anos, foi educado pelo pastor Arnold, que,ao chegar da Alemanha, passou a morar com a famlia.Os ensinamentos eram transmitidos em longos passeiospelas ladeiras da capital baiana e durante pescarias beira de lagoas. Aos 14 anos, orapazote comeou a trabalharcomo pedreiro na construtora do pai. Conviver cum ospees, respirar nuvens de cal,cimento e areia, ficar ensurdecido com o som das britade ir as, serras-e l t ricas ebate-estacas, tudo isso foi toimportante para a sua formao quanto as aulas tericasdo pastor Arnold.Tudo ia bem at a ecloso da Segunda Guerra Mundial, cujos estilhaos causaram estragos nos negcios daconstruo civil do lado dec do Atlntico. Agastadotambm com a hostilidadeaos de scendentes de ale mes, intensificada com .aentrada do Brasil na guerra,o pai resolveu arrumar asmalas e retornar para SantaCatarina, onde ainda viviaparte do cl dos Odebrecht.Em 1943, entregou o comando da construtora ao jovemNorberto, que nem sequerera engenheiro formado, jque ainda cursava a EscolaPolitcnica da UFBA. Apsretomar a sade financeira da

    ISTO.O BRASILEIRO DOSCULOIO.MPR N OR S 27

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    Jorge GerdauJohannpeter24 86 S V T S Apraia deserta prxima aGaropaba, no litoral deSanta Catarina, o refg io do homem de ao .Quando o mar favorvel,Jorge Gerdau Johannpeter,62 anos, dono de 16 siderrgicas que faturam R 2,27bilhes por ano, produzindo6,6 milhes de toneladas deao no Brasil, na Argentina,no Uruguai, no Chile e noCanad, pode ser visto quebrando as ondas no parasoparticular. No um surfista desajeitado. Pelo contrrio, j que - na dcada de 50- , juntamente com o irmoFrederico, Gerd au foi umdos pioneiros do surfe no Suldo Pas. Eram pranches demadeira que mandvamostrazer de Copacabana, noRio de Janeiro. Pegvamoso impulso da onda com ump s , contou ele a rSTO .O esporte prepara para enfrentar desafios. a psicosede bater recorde s. Sou umser competitivo e fanticopela qualidade Os Gerdau que saram deHamburgo, na lemanha,com destino ao Brasil, em1869, eram igualmente fanticos pela superao. Existia a disposio de tomadade risco, de aventura , afirma o empresrio. O bisavJoo era agricultor e dono deum armazm que abasteciaa colnia alem fixada emSanto ngelo, no Rio Grande do Sul. Em 1901, Jooabriu em Porto Alegre umafbrica de pregos com o fi-

    lho Hugo . Era uma empresafamiliar estvel que s passou a enfrentar dificuldadespara obter matria-primanos anos 40 por causa daSegunda Guerra Mundi al.Nessa altura, o comandoestava nas mos do alemoCurt Johannpeter, genro deHugo, que num lance audacioso comprou a Siderrgica Riograndense para solucionar o suprimento de aoe produzir os pregos. Paraisso, vendeu vrios imveisacumulados em dezenas deanos. Foi um passo bastante corajoso, porque rompeuo conceito histrico de empresa pobre-famlia rica, relata Gerdau.Viso pragmtica o velho Curt era um sujeito gentil, mas inflexvel. Negavase a assinar uma carta se adatilografi a no fosse impecvel. Para preencher os postos importantes, mais do queo parentesco, import ava aVOC SABIA? hipismo uma das paixesdo empresrio Pratica oesporte desdeos nove anos de idade Como criador decavalos da raa holstiner orgulha-se deter sido onico acolocar trs animaiseganhar duas medalhas de bronze nasOlimpadas de Atlanta em 1996Um doscavaleiros vencedores era ofilho Andr

    dedicao profissionaQuem os desejar que aprsente suas credenciais. Vencero os mais capazes , dzia . Jorge Johannpeter Gedau, terceiro filho de Curtnasceu a 8 de dezembro d1936 - entendeu o recadoAos 14 anos, no perodo dfrias escolares, debutou nfbrica operando as mquna s de produ zi r pr egoConstru uma viso extrmamente pragmtica graaao convvio com os operr

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    os. Depois, passou a estudar contabilidade noite, enquanto trabalhava tarde noescritrio aprendendo a tirarnotas fiscais. Com 20 e poucos anos, estudante de Direito, j integrava a Federao das Indstrias gachas.Formou-se em 1961 - Fuio nico sucateiro da turma,os demais saram desembargadores , brinca - e passoupor todas as reas da empre sa at assumir a presidnciado grupo em 1983. LEILO da os Finos Piratini crescer para no definharISTO.O BR SILEIRODOSCULO .EMPREENDEDOR

    Desde a dcada de 60,quando auxiliava o pai naconduo dos negcios, tinhaclaro que o dilema era crescer ou definhar. A expansoiniciou com a compra da Fbrica de Arames So JudasSP). Depois, foi a vez da Siderrgica Aonorte PE). Em1972, assumiu a CompanhiaSiderrgica da GuanabaraCosigua). A partir da , ogrupo no parou mais. Assim como, h 30 anos, entendia que era preciso sairdo Rio Grande, hoje estouconvencido de que necessrio ultrapassar a fronteirado Pas para no perder acompetitividade. A Gerdau hoje a 359 no ranking mundial da siderurgia.usc de eic inci Gerdau lidera a Associ aoQualidade RS, movimentoque tenta agregar eficincia a instituies pblicase pri vadas. Reduziu, porexemplo, o tempo de espera para at endimen to naSanta Casa de Misericrdiade Port o Alegre de oito horas para 13 minutos. Investe ainda em arte, pelo prazer que me d , especialmente na Fund ao Iber amargo, pr eservando aobra do artista plstico gacho Sobra tempo ai ndapara tocar a Ao Empresaria l Brasileira, que pretend e achar uma sada econmi ca para o Pas. Tarefadifcil? No para um surfi st a acos tumado ao marbravo. Depois de enfrentar as ond as, no h planoeconm ico que assuste.

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    u en rt24 73 S V T S @Ole mo Ott o E stMeyer tinha um mtodo que julgava infalvel para saber em quem podia confiar: a firmeza doaperto de mo, a franquezado olhar e os sapatos limpos. Usou a regra para selecio nar os candidatos queapareceram em resposta aoanncio que publicou nosjornais de Porto Alegre, em1927, oferecendo empregona companhia que pretendiaabrir, a Viao Area Rio-

    grandense (Varig). Um moode 19 anos - Ruben MartinBerta nasceu a 5 de novembro de 1907 - , neto de alemes e hngaros, foi o quemai s o impressionou. Erainquieto, curioso e de memria espantosa. E o principa l: nem discutiu o salrio, que no era dos melhores. Tambm no se importou com o fato de ser o nico funcionrio da empre sa.Para completar, tinha os sapatos engraxados

    DINAMO Trabalhava 6horas por dia; acima emraro momento de lazercomemora 57 anos como neto Raul no coloAt ento , jamais passarapela cabea de Berta embarcar em tal aventura. At os13anos, enquanto os dois irmos brincavam na calada,ele sumia da vista da me e

    escondia-se na biblioteca dum vizinho. Tinha at plnos de ser mdico. A o pcontraiu tuberc ulose eafastou da fbrica de foge cofres. Ele empregou-se nloja de tecidos de um padrnho para ajudar o sustenda casa. Era um servio seperspectiva e, por isso, aguns anos depois, quando leo anncio da companhia area, entusiasmou- se. Contdo, a me, dona Helena, fcou furiosa ao saber que epretendia trocar o certo peduv idoso. No tem cabmento largar a loja parameter nessa maluqui ce dvoar. Berta dormiu trs notes no escritrio da Varig aa me se acalmar.

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    gurou a linha de Porto Alegrea Montevidu. Em 1946, chegou ao Rio de Janeiro. Em1955, no vo inaugural io-Nova York, Berta passou amaior parte do tempo (a viagem durava 22 horas,com trsescalas) na copa-cozinha supervisionando o servio debordo. No favor atenderbem o passageiro. ele quepresta um grande favor quando nos procura.Em 1965, assumiu as linhas para a Europa, a frica e o Oriente Mdio da falida Panair.Extremo Oriente Ao sofrero primeiro infarto, em 1950,tratou de estudar doenascardacas a fundo. O objetivo era convencer o mdicode que no precisava reduzir o ritmo de trabalho,lembra a filha Ivone. O segundoinfarto o pegou em seu gabinete , a 14 de dezembro de1966. Sentiu-se mal, mascontinuou a ditar tarefas enquanto o mdico o atendia.O Velho,como era carinhosamente chamado, morreu 20 minutos depois deataque do corao, sem vera Varig dar a volta ao mundo, como sonhara. Em 1972,um jato da companhia pousaria suavemente no aeroporto de Tquio, no ExtremoOriente. A utopia se transformara em realidade.

    LDE oNos anos 2os passageiroseram levadosde barco at ohidroavio norio Gualba emPorto Alegre;o aparelhovoava a 14km por hora.A Varlg faziaconexes comnavios paraviagens longas

    a ISTO Ivone, a filha maisnova. A confiana em seuscomandados se consolidariaem 1945, quando - inspirado no papa Leo XIII , quesugeria repart ir a propriedade em nome da bondade eda justia - convenceu osacionistas a doarem 50 daVarig Fundao dos Funcionrios. Hoje, rebatizadaFundao Ruben Berta , elacontrol a 87,5 da empresa.Traou o plano de voo paraconquistar o mundo no inciodos anos 40. Em 1942, inau-

    VOS SEMANAES

    SERV IO MUTUO ~ I G O N D ORIO GRANDE - RIO J NEIRO

    EM COMBINAA b COM QTRA TlANTlCO

    che para Berta e se afastouda empresa. Berta era to dedicado companhia que amulher, Wilma - que lhe deuduas filhas e sete netos - ,brincava: Sei que ele temuma amante, no precisa medizer . a Varig. Impressionava o pessoal da manuteno ao dar palpites certeirosem assunto to complexo.Cansei de v-lo sair de casa, uma hora da manh, levando uma cesta de sanduchesque minha me preparavapara os mecnicos , contou

    Na Varig, alm de varrer ocho, foi guarda-livros, datilgrafo, caixa e carregador demalas. A origem da empresafoi pico. Meyer, observadorareo no front da PrimeiraGuerraMundial, ao chegar aoBrasil, em 1921, perceberaque, dada a dimenso continental do Pas, a aviao comercial por essas bandas haveria de ser um bom negcio.Em 1925, convenceu o governador gacho Borges de Medeiros a lhe conceder isenofiscal por 15anos.Animais na pista Era apoca do s hidroavie s.Meyer e Berta arregaavamas calas at os joelhos e remavam para levar os passageiros at a aeronave. O barco ia ziguezagueando, a bordo homens de temo e chapu e mulheres de vestidolongo, a lata de combustvela seus ps, at alcanar oavio, que voava a 140 kmpor hora sobre a Lagoa dosPatos. Em 1932, a Varig passou a operar com avies terrestres, que flanavam sobreas coxilhas sem rdio, guiando-se pelas estradas l embaixo em meio neblina edando rasantes para afastar osanimais dos campos de pouso. Quando nem existia Ministrio da Aeronutica , aVarig implantou por contaprpria equipamento de rdio que abrangia 130 localidades e instalou luzes depista em 19 aeroportos paraviabilizar os vos noturnos.Em 1941, com os estrondo s da Segunda uerra,Meyer, que temia ser alvode vio lncia por causa daorigem alem, passou o man-

    VOC SABIA? Autodidata estudou botnica mineralogia eagricultura Suas idiasavanadas lhe valeram dois convites para ser ministro de Juscelino Kubitschek.Foi onico homem que no nos pediu nada e quando convidado para ministro deixouopresidente trs dias espera de uma resposta para afinal recusar escreveu JKlSTOO R SILEIRODOSCULO. .EMPREENDEDOR 31

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    Delmiro Gouveia

    VOC SABIA Apesar de fluente na lnguainglesafazia se de desentendido quandoalgum estrangeiro oprocurava na indstriaou no comrcio Dizia insistentemente queno estava compreendendo uma palavraobjetivo era se livrar dos clientesbritnicos que insistiam em pechinchar

    merciante respeitado peltradicionais dono s do podeVestia-se com elegantes tenos brancos e transformaa casa onde morava em paco para festas noturnas mmorveis. De dia , encontrvam-no sempre se declarado apaixonado para a espsa - er a um beijoqueicompulsivo. Em 1899, votou da Expo sio Universde Chicago com a idiaconstrui r um enorme mecado onde se pudesse econtrar de tudo. O Mercado Derb y no demorou acar pronto. Era o primeiestabelecimento comercida capital pernambucacom energia eltrica , vedia produtos pela metado preo e funconava 2por dia . Tambm contacom hotel, parque de diveses e restaurante .Recomear do zero Inmigo declarado do prefeirecifense, Delmiro tornou-alvo das campanhas de difmao movidas pelos jonai s. em dar bola paameaas, viu que no estvam brincando quandomercado foi incendiado. Onegcio s iam mal e ele isistia em torrar dinhe iro eviagens ao Exterior. No doutra: as empre sas falira

    se para o Recife e viu a mefalecer quando ele tinha 5anos . Analfabeto e sem dinheiro, foi atrs dos primeiros trocados como bilheteiro na estao ferro viria deOlinda. Aos 18 anos, empregou-se na lf ndega ,mas os despacho s burocrtico s nunca o seduziram.Ante s que morresse de tdio, Delmiro foi t rabalharno comrc io de courinhos , artig os de pele debode e c arneiro popularssimos no Nordeste da poca.Em 1891, fundou, com umamigo de or igem inglesa, aLevy Delmiro.Aos 35 anos, era um co-

    saber que ela existiu na longnqua dcada de 10. Seu idealizador acreditava que a educao era a nica maneira deacabar com a praga do cangao e da fome no Nordeste.Beijoqueiro compulsvoDelmiro Augus to da CruzGouveia nasceu a 5 de ju nho de 1863, no interior doCear, 14 anos antes de umagrande seca vitimar 500 milnordestinos. O pai morreulutando na Guerra do Paraguai. Oficialmente, deixouuma viva e seis filhos. Os timo reb ento , Delmiro ,veio de um caso extraconjugal. Ainda criana, mudou-

    23 69 S V T S

    o moradores das 256casinhas de alvenariaencravadas no ser toalagoano eram o mais autntico retrato da fe licidade.Trabalhavam para DelmiroGouveia e tornavam realidade o devaneio de indus trializar o Nordes te. Na Vila daPedra , uma espcie de comuna criada pelo patro, osoperrios - todos com jornada de oito horas por dia tinham casa, escola e assistncia mdica gratuitas. Asmulheres iam para a fbricatranquilas , pois deixavamseus filhos numa creche. Enquanto a poucos quilmetrosa seca castigava a terra rachada, ali os trabalhadore srecebiam gua encanada. Obanho dirio era obrigatrio.Os adultos aprendiam a ler eescrever noite. E faziamplanos para o futuro, garantindo a aposentadoria custade contribuies de trs tostes semanais. Se a Vila daPedra d a impresso de tersido um cantinho do Primeiro Mundo no Brasil, assusta

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    em 190I, com uma dvidade 1,7 milho de ris. O empree ndedor recomeou dozero. Sem gastar nada - doisscios entraram com o capital montou uma fbrica decourinhos , Recuperou aconfiana dos credores, mastropeou nas coisas do amor.Separado da primeira esposa, apaixonou-se pela afilhada do governador doEstado, SegismundoGonalves. s vsperas de completar40 anos, raptou amenina, de 16, ea lev ou para ointerior de Pernambuco (el alhe daria trsfilhos) . Com apriso de cre-tad a, fugiupara a minscula cidade degua Branca,no serto alagoano, onde constitu iu seu imprio industrial.Instalado numafazenda da periferia,ao lado de uma grande cachoeira, ele botou na cabea que construiria umagrande hidreltrica. Importou equipamentos e,em 1911, trouxe para a terrinha um grupo deengenheiros americanos, que elaboraram umprojeto de aproveitamento e explorao dorio So Francisco. Nascia a Hidreltrica dePaulo Afonso . Par aconstrui-la, o coroneldo progresso enfren-CORONEL DOPROGRESSO Paraindustrializar oNordeste Delmiroconstruiu audes esq. emOlinda levougua encanada aos rt o dlr. emontou umacompanhia fabril

    tou o pavor dos operriosem descer os 80 metros deprofundidade da queda- gua. Para desfazer omedo do s sertanej os oprprio Delmiro se aventurou no penhasco, amar-rado a uma corda . Em seguida, obrigou os a imitlo . Pre cavido contra qual-q ue r dem onstrao deco vardia , po sicio-nou-se na beira dacachoeira, revl-ver em punho. Aide quem se atrevesse a recuar

    us di Em1913 ele r va vaque o Nordest e t in hapotencial industriai, sim.Com a hidreltrica em funcionamento, aluz e a gua finalmente chega-ram s fbricas, a400 qui lmetros decentros como Recife eSalvador. No comr-

    cio , o coronel passoua exportar 1,5 milhode toneladas de peles.E, em mai s um arroubode ou sadia , fundou aCompanhia Agro Fabril

    Mercantil, que logo nos primeiros meses de vidaj produzia 216 mil carretis delinha de algodo - ramo dominado pelos ingleses daMachine Cottons. Ao tocarem monoplios tradicionais,Delmiro se metera numa encrenca das piores. Mandouce rc ar sua casa grande econtratou guardas armados ,mas costumava sair para sedei tar com suas amantes.Numa dessas vezes , no dia10 de outubro de 1917, trstiros queima-roupa acabaram com o sonho de cobrir oserto de mquinas. Apesardas suspeitas recarem sobrea Machine Cottons, o crimejamais foi solucionado. Noprocesso judicial - em queningum nunca acreditou o acusado de disparar os tiros foi condenado a 30 anosde priso. Era um ex-operrio da Companhia Agro Fabril - comprada em 1929 pelos ingle ses - que moravajustamente na Vila da Pedra.

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    abar com a pacinciade Jos Mindlin no tarefa das mais fceis.Sujeito de extrema cordialidade, gosta mais de ouvir doque falar. Se algum retrucaum de seus comentrios, elese aproxima do rosto do interlocutor e levanta as sobrancelhas. Logo abre um som-soo Sem que se d conta, jforam duas horas de conversa sobre sua atividade empresarial. E ele se sente terrivelmente incomodado por noconseguir explicar o que umpisto - pea que sua indstria chegou a exportar paramais de 50 pases. Acho quevoc j tem material suficiente sobre a empresa MetalLeve, no ? , pergunta acanhado ao reprter, em tom deapelo, esperando um ar deaprovao para que possa falar sobre sua biblioteca particular - a maior da AmricaLatina, com 30 mil volumes,grande parte rarssima.trs d relqui Quandoo assunto livro, difcil conter sua eufor ia Cadaexemplar, uma histria. Aprimeira edio de O u -r ny (Jos de Alencar, 1857)foi um teste de pacincia.Nos anos 60, um leiloeirogrego o ofereceu a amigosdo empresrio por US 1mil, mas nenhum deles se interessou. Mindlin fez a encomenda para um livreiro deLondres, que deixou o volume escapar por ach-lo carodemais. Em 1977, finalmente ele se viu frente a frentecom a relquia num sebo parisiense. Pagou um preo es-

    tratosfrico, mas ao desembarcar em So Paulo percebeu que deixara o livro cado no tapete do avio . Paraseu alvio, a Air France o encontrou trs dias depois, emBuenos Aires.Como um bom romance,a vida de Jos Ephim Min-

    dlin esconde uma surpresaem cada pgina. Virei empresrio por acaso , disse aISTO. Antes, aos 15 anos(nasceu a 8 de setembro de1914, na capital paulista), foicontratado como reprter deO Estado de S Paulo e participou da Revoluo de

    1930. Como era um dos pocos nojornal que falavam igls, o dono de O EstadJlio de Mesquita Filho ,encarregava de passar infomaes por telefone aos rvolucionrios no Rio de Jneiro, driblando os censoremonoglotas. ISTO R SILEIRO DOSCULO.10EMPREENDEDO

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    do o cmbio sobrevalorizado reduziu bruscamente asexportaes e abriu o mercado brasileiro para as autopeas importadas. Aps trsanos amargando prejuzo,Mindlin vendeu suas aesem 1996. Do ponto de vista emocional, foi muito difcil. Mas, racionalmente,deveria ter vendido antes .Sempre comum livro de-baixo do brao, agradece aDeus - emboraseja agnstico - ao ficarpreso em congestionamentono trnsito, para poder devorar bons romances. Acre

    dita ter lido, em clculo otimista, oito mil volumes.Gostaria de viver 300 anos,o que me permitiria ler de25 a 30 mil livros. No fundo, Mindlin sabe que no qualquer um que chega aos85 anos com tanta disposio. Todo dia caminha quatro quilmetros no quintal dacasa onde mora no Brooklin, na zona sul de So Paulo. D 40 voltas no ptio de100 metros. E se d ao luxode no evitar suas guloseimas preferidas: chocolate,marzip e bala de ovo. Notenho nenhuma pressa emme separar da biblioteca ,brinca. Em caso de surpresa, no entanto, j adiantouaos filhos que gostaria dedescansar em paz num tmulo que tivesse o seguinte epitfio: Jos Mindlin - Fabricou pistes a maior parte davida sem saber o que eram.

    HUMANISTACom metio e irmosCeie oprimeiro dechapu esq. ; acimaa carteira dejornalista do stado apsvender aet l Leve dedica-seinteiramente biblioteca

    Mindlin chegou a empregarseis mil pessoas. Posso dizer, sem pretenso e guabenta, que ajudamos a desenvolver o Pas. E sem tirar um tosto dos cofres pblicos. A prosperidade durou at o incio do PlanoReal, na dcada de 90, quan-

    OC S BI Filho de imigrantes judeus russos recebeu ameaastelefnicas de ne lstas, Estremeceu ao ver um jovem tirandofotos de sua casa. notouaplaca do carro do rapaz econstatou:odono tinha sobrenome ge ico . Para minha surpresa eraapenas um estudante de Arquitetura especialista em fachadas

    teira do desenvolvimento daindstria automobilstica, aMetal Leve se tomasse umapotncia no setor de autopeas. A slida estrutura financeira , cujo segredo era evitar endividamentos, permitiua abertura de filiais no Exterior. Presidindo a empresa,

    o jornalismo perdeu o tanto de Mindlin quando ele'na Faculdade de Dieito do Largo So Francis, em 1932. Enquanto osfessores liam montonaselees, o jovem estudane sentava-se ao fundo dalasse para devorar a obrao francs Montaigne - omor pela leitura comeouos 13 anos , ao entrar numbo pela primeira vez. Nosrimeiros dias de aula douinto ano de curso, cruou nos cor redores comma caloura que vinha seno assediada pelos veteraos para entrar nos partidosolticos da poca. Ele tou coragem: Olha, tudosso uma bobagem, porue o melhor partido soucasamento com donaita aconteceu poucos mees depois e completar 61em dezembro tmatro filhos e 11 netos).

    imigrantesormado, ele atuou 15 anosomo advogado. Durante otado Novo, defendeu imiantes europeus que tentam ingressar no Brasil, fuindo da Segunda Guerra,as tinham sua entrada ne

    pelo governo. Em50, alguns clientes o proraram para redigir um conato de sociedade com umaabricante alem de pistesem tempo: so peas cindricas que sugam ombustvel permitindo oncionamento do motor.mo os clientes desistiramnegcio, Mindlin no pereu a oportunidade e assuo compromisso. Juntoue a outros quatro empreenedores e fundou a Metaleve - nome escolhido emmenagem ao alumnio,ria-prima do produto.Comeou com 50 funciorios. No demorou at quescelino Kubitschek cheasse Presidncia e, na es-

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    uiz umont Villares23 32 S V T S

    Para dom ar o stressLuiz Dumont VilIares- dono das IndstriasVilIares, que fabricavam oselevadores Atlas - recorriaa um antdoto: voar. O temperamento audacioso era herana familiar. or ria nosangue do tio Alberto,ouSantos Dumont, o inventordo avi o, irmo de sua me.Luiz era metido a piloto desde a poca de es tudante deEngenharia em Zurique, naSua , nos anos 20 . Em1947, compro u um monomotor que ele prpriodiri gia para ir de SoPaulo a So Jos do s ampos no inverno. Outradiver so eram os automveis. Num final de tarde, j na dcada de 60 , acompanhou o filho Paulo quandoeste foi apanhar o Fusca quedeixara na oficina. Na volta,ao volante de seu Jaguar , ovelho Luiz aproveitou a parada no semforo para abrir

    a janela e propor um peEum, doi s e trs ...pisou fundo. S no semro seguinte se deu contaque o Fusca em seu calnhar no era o do filho. Plo Diederichsen VilIareslembra em depoimento aTO: Fiquei atnito aopapai passar em frente csem entrar na garagem ecarro a persegui-lo. Depocontou que o desconheciresolveu tirar satisfaesele simplesmente mandousujeito lamber sabo.rfo duas vezes Nasdo na cidade do Porto (Ptugal) a 28 de dezembro1899, Lu iz foi registracomo brasileiro no consudo, como reve la o livro idito de Igncio de LoyBrando e Deonsio Silem comemo rao aosanos das Ind strias VilIa(completados em 1998),qual ISTO teve acesso.pai, Carlos, construiu fervias no interior do Brasiltes de voltar para Portugem 1894. Cantava pera,cava violino e apresentavaem circos por distrao. E1911, foi encontrado mona cabine de um trem notno que ia para Paris, epidio at hoje no esclareciA partir da, outro Carlosirmo mais velho, assumpara Luiz a figura paterEm 1917, o irmo veio po Brasil, enquanto Luiz esdava na Sua. Carlos viscio da Pirie, VilIaresCia., firma de So Paque importava peas pmontar elevado respassou a producomponentes el

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    o ln l 11Iltl1l 1 . . . . . . Ui IICIt I aLI talH_ ut . _ r d l M ~ . . . u . ..__ .

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    Em 1966, sentiu-se mal nometr de Nova York. Eramos primei ros sintomas dosproblemas circulatrios que omatariam a 14 de junho de1979. As dificuldades levaram a empresa, em 1995, aassociar-se Acesita e aogrupo Sul Amrica. E foi justamente o desinteresse dosscios em prosseguir no ramodos elevadores que levou aholding a vender a Atlas, emmaio de 1999. Como a empresa ia bem, era hora boapara vender. A famlia tinhaapenas 16 da companhia eficou em posio fragilizadapara toc-Ia sozinha , afirmaPaulo Villares. Um instantedepois, como se lembrasse atrajetria do pai, ele acrescenta: Vender a Atlas doeumuito, doeu demais.

    PASSEIO DE DOMINGO Era andar deescada rolante, novidade do incio dosanos 5 Villares produziu as primeirasno Pas, como a da 4 de Maio em SPA partir da, o crescimentofoi vertiginoso. Batizou deAtlas a fbrica de elevadorese criou a Aos Villares. Eramtempos mais amenos. Quando pediu Light um acrscimo de energia eltrica, nohouve assinatura de contrato.O presidente da Light, Odilon de Souza, puxou um fioda barba para selar o compromisso, que foi cumprido.Nos anos 50, a Atlas era aterceira do mundo e ele ganhou a concorrncia para instalar elevadores em todos osprdios oficiais de Braslia.Em 1963, aceitou ser presidente da Cosipa (estatal doao) e, quando os militarestomaram o poder, instauraram inqurito contra ele. Em1965, a denncia foi rejeitada pelo Ministrio Pblico.

    cerca em que as mquinaseram ligadas por correias decouro a um motor central distante. s vezes, o rio Tietsubia e tudo se transformavaem vrzea. Ento, o guardanoturno virava barqueiro .Fio do bigode Luiz prosseguia irredutvel com a inteno de implantar a indstria, apesar das intempries.Passou a fabricar motore s,cabinas e portas de elevadores. Quando percebeu que osfornecedores no tinham flego para acompanh-lo, resolveu ele prprio produzirpeas fundidas em ao. Em1941 , recebeu a visita do presidente Getlio Vargas aoinaugurar a primeira prensade forjamento de ao de 500toneladas da Amrica Latina.

    s e mecnicos. Tinha umampanheira fiel: a motoci. Em 1922, derrapou nosos do bonde da avenidao Joo e bateu a cabeaontra o meio-fio. Morreu aosanos. Luiz sentiu-se rfoa segunda vez.A princpio como funcioo e logo como scio, Luizupou o lugar do irmo nasa que fun cionavaa casa apertada no ceno de So Paulo. Parte daagem dos elevadores eraita na calada sob o viadude Santa Efignia. Os clis eram conquistados norpo a corpo. Ao avistar umrdio em construo, per: Tem elevador?contecia de, ao instalar o, descobrir queo cabia no poo. Na poa, usavam-se fitas mtricasas com medidas dies em cada face. De um, polegadas inglesas e, deo, polegadas portuguesas.Em 1926, casou com Leoor e aproveitou a lua-deel nos Estados Unidos paraisitar a fbrica da Westingouse. Ficou surpreso quano o s americanos ofereceramrepresentao de um proto revolucionrio, a gelaira eltrica. Na volta, adou agressiva e primi tivaala direta: pegava a listalefnica e oferecia a Frigiire a padarias, aougues eorveterias. O sucesso daladeira permitiu a ele acuo p-de-meia necesso para montar a fbrica doanind, onde tudo comeu , conta o filho Paulo.a um galpo sem portas ou

    SABIA Tinha viso futurista e introduziu no Pas idias como ada garagemVai chegar um momento em que estacionar ser impossvel eaestocar carros em prdios , previu no incio dos anos 50. Custou aseres em 1960 construiu aGaragem Arajo , em So Paulo, com 25 andares pa ra2 automveis Tambm fabricou os primeiros trlebus nibus eltricos nacionaisO .O BRASILEIRO SCULO \O.EMPREENDEOOR 37

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    ludio ardellaind stria nacional, quetica va a crescente estatio. O Pa s virou um fdo de estatais associadamultinacionais, enquantnossa iniciativa privadacou a ver navios.

    Quem o ouve falanmanso nem sequer imana as inmeras cri ses qsuportou no comandoempresa durante 40 anPaulistano nascido a 23novembro de 1938, asmiu a Bardella S.A. ande concluir o curso de Egenharia Indu strial Menica na PUC de So PauQuis ajudar o pai , Bardella, a passar por muma etapa difcil. Ainbem que eu no vivi a pdas cri ses, em 1929 .hoje fao acupuntura psuportar a barra, no teaguentado naquele tempA Bardella S.A. mantse firme e forte at hoembora as perspectivas nsejam das melhores. je i to que as coisas vtudo tende a piorar , ama. Cludio se queixaatual momento polticoPas, mas no esconde qvotou em Fernando Henque . Arrependido ou ndisposio para discutirrumos da indstria nacnal no lhe falta. mebro do Instituto de Estudde Desenvolvimento Indtria i Ied i), mas no amenta iluses. No temfora para vender nosidias porque o Brasil cno canto da sereia. Ainno es tamos pr eparadpara a globalizao.

    poltica , diz. No entanto,sabe bem como cr ia r polmicas. Em 1977, por exemplo, foi um dos autores doDocumento dos Oito, ass inado por pesos pesados da

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    era respeitado e dificilmente eu sofreria represlias.Assumi uma certa liderana , defendendo a aberturapara o bem das classes produtoras, mas no sei fazer

    ider n As lies dedemocracia ele aprendeuna marra. At as vsperasdo golpe milit ar de 1964,no queria nem sabe r depoltica. Estava mais preocupado em tirar do buracoa Bardella S.A. - a maisantiga indstria mecnicado Pas, fundada em 1911por seu av , Antnio Bardella. Mas aps o go lpe,passou a dizer o que bementendesse. Nosso setor

    Um reprter perguntoua Cl udio Bard el la,durante uma coletiva,em 1974, s e ele era a favorda legali zao do PartidoComuni sta. Como se estivesse dizendo a coisa maisbvia do mundo , respondeuque sim, pois, se queremosdemocracia, ela tem de serpara todos. Na fase maisdura do regime militar, eraa primeira vez que um empresrio brasileiro ousavadar tais declaraes. Nojantar depois da entre vista,as pessoas desviavam demim, como se eu fosse ummau elemento e tivesse ligaes com o Partido, oque no era verdade, disseele a lSTO. A fama de esquerdi sta vinha desde 1972,quando governav a EmlioGarrastazu Medi ei. O empresrio liderou a visita deuma delegao brasilei ra Repbli ca Popular da China e ficou marcado pela linha dura dos militares. Masa visita foi o primeiro passo para que as relaes diplomticas entre os dois pases melhorassem.

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    mKasinski

    VOC SABIA? Corintiano roxo num jogoentre So Paulo ePalmeiras torceu paraotricolor claro. Me enganei e fui pararna torcida palmeirense. OSo Paulo fezum gol comemorei eme olharam feio. Nosegundo avisei que era cor intiano enoso-paulino. Foi pior me quebraram todo

    N G IO NOVOKasinski : Vencitodos os desafioscontados s e continuasse dependendo de produtos importados. Con venceu umdos irmos - o pai j falecera - a investir numa fbrica e com ele criou a Cofap. Ningum queria comprar pea nacional. Corri oBrasil, c