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O ENSINO DA GEOGRAFIA POR MEIO DA LITERATURA: VIAJANDO NA

GEOGRAFIA DE MONTEIRO LOBATO E DONA BENTA

Autora: Cleuza Ferreira da Silva Nardielle1 Orientadora: Cleres do Nascimento Mansano2

RESUMO

O presente artigo relata uma experiência pedagógica com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Professor Francisco José Perioto, localizada no Município de Mandaguaçu Paraná, no primeiro semestre do ano de 2013. Ele apresenta a utilização do material didático produzido no decorrer do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), em que o objeto de estudo foi o uso da Literatura no Ensino de Geografia com o objetivo de proporcionar aos educandos os conhecimentos geográficos por meio dessa temática, sendo utilizadas partes da obra do Autor Monteiro Lobato: A Geografia de Dona Benta, a fim de desenvolver a capacidade de análise e criticidade dos estudantes, dando ênfase para construção dos saberes geográficos inseridos no contexto literário. Ao final do trabalho, observou-se que houve compreensão dos conceitos contidos na obra. As atividades propostas foram bem aceitas pelos alunos e o resultado foi satisfatório levando em consideração o potencial de cada um dos envolvidos.

Palavras-chave: Ensino de Geografia; Material Didático; Literatura.

1 Introdução

Este artigo é decorrente das experiências vivenciadas durante o Programa

Desenvolvimento Educacional (PDE), durante os anos de 2012 e 2013. Este

programa proporciona aos professores da Rede Estadual de Ensino do Paraná, uma

ampliação de estudos e formação específica para as áreas de formação acadêmica

e trabalho profissional.

Para este trabalho, ocorreu o envolvimento de professores do ensino superior

e da educação básica paranaense tendo como referencial a prática em sala de aula

com visões diferentes de como acontece o dia a dia em cada ambiente escolar. Isto

sendo por meio de palestras, de minicursos de debates e de muito estudo para

1 Docente da Escola Est. Professor Francisco José Perioto – Ensino Fundamental, Mandaguaçu-Pr.

Especialista em Educação Especial e Metodologia ao Ensino da Geografia e Graduação pela Faculdade Est. de Ciências e Letras de Campo Mourão. 2 Professora do Ensino Superior, da área de Ensino-DG-UEM- Maringá e do Ensino Básico - Colégio

Estadual João de Faria Pioli - Ensino Fundamental e Médio, Maringá-PR. Especialista em Administração, Supervisão e Orientação Educacional pela Unopar - Londrina-Pr. Mestre em Educação para Ciência e o Ensino da Matemática pela UEM e Doutoranda em Geografia pela UEM.

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juntos conseguirmos chegar a um parâmetro de melhoria na aprendizagem e na

qualidade da educação paranaense.

Cada passo do programa levou os professores à reflexão da sua prática

pedagógica, buscando teorias para o fortalecimento do processo de ensino

aprendizagem, do qual estamos inseridos, fazendo com que cada professor

frequente as bibliotecas das Instituições de Ensino Superior (IES), em busca da

ampliação do conhecimento voltado para o seu enriquecimento pessoal e assim

sendo poder contribuir de forma satisfatória para o ensino aprendizagem do aluno,

afinal é por ele que o professor paranaense tem o prazer de retomar seus estudos.

Os estudos realizados, os diálogos e orientações dos professores ligados às

(IES), foram importantíssimos para que a produção dos materiais fosse possível. Em

primeiro lugar, o projeto de intervenção, cujo tema foi “O Ensino de Geografia por

meio da Literatura: A Geografia de Dona Benta”. As leituras realizadas para

formulação desse projeto foram de grande valia, pois as mesmas deram base para a

construção do material didático que seria a segunda parte do Programa de

Desenvolvimento Educacional.

O material foi direcionado para alunos do sexto ano do ensino fundamental,

que fizeram uso do mesmo onde ocorreu a sua aplicabilidade. Sua elaboração se

deu a partir da leitura do Livro “Geografia de Dona Benta”, do Autor Monteiro Lobato,

em que o autor aborda assuntos de conhecimentos geográfico tais como:

Localização do Planeta Terra no Universo, Brasil estados e capitais, Vegetação e

Economia do Paraná entre outros. Foram elaboradas atividades que privilegiavam

os conteúdos do 6ºano de ensino fundamental de forma que os alunos puderam

compreender a sequência didática entre a obra e o material didático. As atividades

iam aprimorando os conceitos básicos da Geografia abordada pelo autor com os

conceitos que temos da Geografia de hoje, afinal a obra é do ano de 1962 e é

necessário mostrar ao aluno as mudanças que a geografia teve no decorrer do

tempo, podendo fazer comparações com a atualidade.

Segundo Cunha (2009), obras literárias que envolvam, por exemplo, aspectos

culturais das regiões podem fortalecer o processo de ensino-aprendizagem e a

valorização da cultura local. A literatura é totalmente capaz de exaltar tais aspectos

culturais, assim como pode servir de fonte de inspiração à paisagem geográfica,

portanto, uma análise geográfica do livro é relevante para o estudo literário. Da

mesma forma, a representação que os poetas fazem desta paisagem geográfica traz

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elementos novos para o estudo geográfico. São duas leituras que se

complementam, com a literatura traduzindo o essencial das relações homem e

espaço e a geografia subsidiando a interpretação dos textos literários que abordam

o espaço trabalhado no contexto do aluno. As alternativas de transposição dos

múltiplos conhecimentos trazidos para o contexto escolar passam a ser um recurso

didático-pedagógico na sala de aula.

2 Revisão teórica

As Diretrizes Curriculares do Paraná (2008) estabelece que as relações com

a natureza façam parte das estratégias de sobrevivência dos grupos humanos desde

suas primeiras formas de organização. Nesse contexto, desenvolveram-se outros

conhecimentos, como os relativos à elaboração de mapas, discussões a respeito da

forma e do tamanho da terra, da distribuição de terras e águas, bem como a defesa

da tese da esfericidade da terra, o cálculo do diâmetro do planeta, cálculos sobre

latitude e definições climáticas, entre outros (PARANÁ, p. 38).

No entanto, o aluno precisa ver que os conceitos geográficos: território, lugar,

paisagem, região, sociedade, natureza, espaço geográfico são comuns os

comentários em sala de aula, eles fazem parte do seu cotidiano, por meio deles é

possível entender o mundo fora do seu ambiente habitual. Saber que existem outras

culturas, outros povos e compreender que a luta pelo poder acontece em todos os

lugares, gerando problemas políticos, econômicos, ambientais e sociais, em que o

ser humano é o objeto de ação, construção e destruição do próprio meio em que

vive.

É preciso ler muito, entender o que os autores dizem em seus livros, no caso

da Geografia é necessário fazer uma leitura de mundo para compreendê-lo melhor.

O ensino da Geografia por meio da Literatura possui uma abordagem que

facilita o entendimento do conteúdo pautado em um mundo de aventuras, em que o

leitor irá vivenciar a história e ao mesmo tempo incorporar o saber geográfico, numa

perspectiva lúdica, levando o aluno a participar da apropriação do conhecimento, do

espaço e de sua vivência.

Sempre que possível, o professor deverá estabelecer relações

interdisciplinares dos conteúdos geográficos em estudo, sem perder a especificidade

da Geografia, possibilitando uma aprendizagem de forma dialogada com

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questionamentos e a participação dos alunos para que a compreensão e a

aprendizagem crítica aconteçam (PARANÁ, p. 76).

Completando o que diz a Diretriz Curricular, Kaercher afirma que:

È necessário estimular a participação via oral e escrita doaluno, estimular a criaçãodealternativa ao mundo desigual e injusto de hoje, superior a visão de simplicidade que muitos tem do mundo em que vivem ainda diz que se estimulo meus alunos a fazer relações entre escola e mundo, se os estimulo a serem ativos e participativos, na escola e fora dela, se relaciona geografia com o mundo e com as pessoas´, então estou indo na direção do rompimento da fronteira. Contribuo assim para novas leituras e visões do mundo e da escola. (KAERCHER, 2000, p. 83).

Partindo desse pressuposto, esse estudo é de suma importância, retrata uma

grande necessidade de praticar cada vez mais a leitura em sala de aula. Esta que é

praticada em todas as disciplinas, de acordo com o contexto de cada uma, se ler é

um ato de agregar conhecimentos e ao mesmo tempo viajar sem sair do lugar, de

sonhar acordado, então praticá-la é fundamental. Trabalhar a leitura, não é tarefa

fácil, é competir com um mundo de atrativos que dispersam a atenção do aluno. É

preciso criar estratégias para tornar agradável o processo do ensino aprendizagem e

colocar o aluno como o principal agente nesse processo, driblando assim os

conflitos contemporâneos que adentram a escola.

Para que haja uma aprendizagem significativa é necessário planejar e

associar o conteúdo com alguma metodologia que proporcione o saber geográfico,

incentivando o aluno a construir os pré-requisitos indispensáveis para a leitura de

mundo.

Para complementar esse pensamento nada melhor do que a frase de Santos

(2006, p. 11) que diz: Uma disciplina é uma parcela autônoma, mas não

independente, do saber geral.

Com o intuito de deixar a aula dinâmica e para que os alunos se interessem

pelo assunto trabalhado e o auxiliem nas suas curiosidades, as Diretrizes

Curriculares de Geografia do Paraná (2008) trazem algumas práticas pedagógicas

que podem facilitar o ensino aprendizagem em sala de aula com o uso de: filmes,

trechos de filmes, programas de reportagem, imagens, fotografias, slides, charges,

ilustrações, literatura.

A leitura em geografia propicia novas formas de pensar, de questionar, de desencadear aprendizagens significativas na direção de mudanças na

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compreensão de conceitos e na adoção de atitudes e de valores. A leitura do livro didático de geografia, tanto quanto a dos demais, precisa pautar-se na preocupação com o ato de ler. Neste sentido, a adoção e a devida exploração de textos complementares, inclusive de paradidáticos, podem enriquecer e problematizar a aprendizagem, levando a novas investigações (SCHAFER, 1991, p. 97).

Esse trabalho foi realizado por meio da Literatura, já que esta possibilita a

abordagem geográfica de acordo com a etapa de escolarização dos alunos. Temos

vários autores que abordam as realidades brasileiras em seus diversos gêneros, tais

como: Grandes Sertões Veredas de Guimarães Rosa, O Cortiço de Aluízio de

Azevedo, Macunaíma e Pauliceia Desvairada de Mário de Andrade e muitos outros

que enriquecem nossa cultura com detalhes de determinados lugares, povos e

costumes. No nosso país a dimensão cultural é riquíssima e a sua contribuição para

a aprendizagem com base em romances será prazerosa e rica, sem utilizar apenas

os livros didáticos.

Segundo Reichwald (2006) a literatura facilita o trabalho da geografia em sala

de aula, ela poderá contribuir com o aprendizado do aluno. O Brasil tem um termo

cultural diversificado. Os autores brasileiros deixam claros os elementos que

conduzem suas tramas. Uns são voltados para o aspecto físico de alguma região

como: as condições climáticas, de relevo, de vegetação, ou então, mostra a

condição financeira dos seus personagens, da vida política envolvendo as

influências de uns personagens sobre outros. Assim vai enraizando a história com o

aspecto geográfico de cada região brasileira levando em conta as suas

particularidades.

A literatura, aliada ao olhar geográfico, com certeza forma um binômio que possibilita aos alunos e alunas lerem o mundo nas suas complexidades e dinâmicas. Na aula de geografia, pode-se tomar a obra literária como um dos subsídios para entender os contextos do lugar (espaço que dá identidade ao sujeito) e as interações que este espaço tem com outras partes do país e do mundo. “As tramas literárias representam a pessoa comum”, seus dramas (política, cultura e economia) e seus espaços cotidianos (o lugar) (REICHWALD, 2006, p. 70-71).

O texto precisa ser lido com a intenção de ser entendido. Na literatura, o leitor

pode alcançar esse objetivo, por meio da dramatização, ou seja, sua leitura será

viva, alegre e assim será entendida. Ela consegue retratar o lugar e o espaço,

exatamente como são.

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A Literatura amplia fronteiras, aproxima povos, cada um com suas identidades

e expressões culturais distintas, dentro do mesmo contexto histórico-cultural. Essas

são algumas questões abordadas geograficamente com o enfoque literário. O uso

da literatura favorece a integração do adolescente em equipes para realização de

trabalhos, ajuda no pleno desenvolvimento do ensino aprendizagem a que se

destina, para que isso aconteça, serão utilizados como recursos didáticos: textos

informativos, cópias da produção didática, computador, a televisão, o DVD e outros

que no momento for oportuno.

De acordo com Dorfman (2002) o exame do valor cultural da obra literária

permite ainda a detecção de pertinências geográficas mais ou menos explícitas. As

paisagens, os modos de vida e as manifestações identitárias registrados nas obras

de ficção trazem em si as marcas do lugar, do espaço da ação e do pertencimento

geográfico do autor. Por isso, uma obra de ficção também pode ser lida como um

documento, para fins de interpretação científica.

Reforçando o que disse Dorfman, as Diretrizes Curriculares de Geografia do

Paraná colocam que: “As obras literárias, por sua vez, podem ser entendidas como

uma representação social condicionada a certos períodos históricos e utilizadas, no

ensino de Geografia, como instrumento de análise e confronto com outros contextos

históricos” (PARANÁ, 2008, p. 84).

O documento afirma ainda que a Literatura, em seus diversos gêneros, pode

ser instrumento mediador para a compreensão dos processos de produção e

organização espacial, dos conceitos fundamentais à abordagem geográfica.

A Literatura reflete os contextos sócio-político-culturais em que está inserida.

Trazendo a discussão para o campo de interesses em questão, pode-se dizer que,

ao refletir, em alguma medida, o momento histórico em que está inserida

possivelmente a obra literária trará em seus meandros algo revelador de seu berço,

de sua cor local, ou seja, a obra literária estará influenciada pela geografia, restando

agora estabelecer a dimensão que se pretende explorar desta influência (IBGE,

2013, p. 20).

Pensando em tudo o que a Literatura pode fazer para atrair a atenção do

aluno é que este trabalho foi pautado, com o intuito de tê-la como apoio nas aulas de

Geografia, proporcionando uma aula dinâmica e participativa, levando o aluno a

entender que, ler torna o leitor mais crítico em relação ao conhecimento e influencia

a escrita. Ele escreve melhor, seu vocabulário fica mais rico e amplia sua descoberta

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sobre novas palavras. Ao mesmo tempo facilita a análise e interpretação de diversos

tipos de textos em que os conceitos geográficos muitas vezes estão presentes.

Conhecer e aprofundar na leitura faz com que o aluno tenha muitas informações

referentes ao mundo em que vive, e assim, possa entendê-lo melhor, obtendo um

aprendizado significativo na sua vida escolar.

3 Elaboração do Material Didático

O material didático elaborado: “O Ensino da Geografia por meio da Literatura:

Viajando na Geografia de Monteiro Lobato e Dona Benta”, é fruto de estudos

desenvolvidos na segunda fase do Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE), com o apoio do professor orientador.

Após várias fontes bibliográficas sugeridas, foi decidido pelo Material Didático,

e sua confecção veio de acordo com a leitura da obra escolhida no caso, o Livro: “A

Geografia de Dona Benta de Monteiro Lobato”. Algumas das atividades contidas no

material são:

-Dramatização de partes do livro em que retrata o Planeta Terra, (órbita,

Movimentos de Rotação e Translação da Terra e suas consequências).

- Estados e capitais do Brasil.

- Meios de orientação no espaço geográfico.

- Localização do Paraná no Brasil, (vegetação, relevo e economia).

- América do Sul.

-Município de Mandaguaçu, (história, mapa de localização, cultura, economia,

ilustrações e produção de texto).

Este material foi aplicado na Escola Estadual Professor Francisco José

Perioto, no sexto ano do Ensino Fundamental, no primeiro semestre de 2013,

focando um dos problemas que essa escola apresenta, a dificuldade da inserção

dos alunos ao mundo da leitura. Esta obra vem de encontro com a realidade da

escola, ela traz questões que abordam o conteúdo geográfico de forma lúdica e

eficaz para os alunos dessa faixa etária.

A literatura foi escolhida, pensando em melhorar a aprendizagem do aluno.

Esta metodologia possibilita uma integração maior do professor ao mundo do aluno,

juntos eles vivenciarão a obra literária, tudo o que ela poderá oferecer de bom e útil.

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Vários autores colocam o uso dos recursos didáticos para atrair a atenção do

aluno para a aula, algo que faça com que o estudante não seja apenas um receptor,

mas que ele interaja com a aula e assim aconteça à aprendizagem de forma

agradável. As obras literárias são fontes de informações, de conhecimentos, ela

descreve o enredo rico em detalhes, demonstrando os lugares, as paisagens, o

modo de viver das pessoas dentro do contexto que se desenrola a história.

4 A Implementação do Material Didático

No começo do ano letivo de 2013, na Semana Pedagógica, o Projeto e a

Produção Didática foram apresentados aos professores, à equipe pedagógica e aos

demais funcionários da escola Professor Francisco José Perioto. Todos apreciaram

o material, e incentivaram a sua aplicabilidade.

A implementação ocorreu no primeiro semestre de 2013, com os alunos do 6º

ano B, da Escola Professor Francisco José Perioto. No primeiro momento o Projeto

foi apresentado para a turma, sobre a forma de questionamentos: Quem é Monteiro

Lobato? O que fez Monteiro Lobato? Quais as obras de Monteiro Lobato? Quem são

os personagens mais famosos desse autor?

Para elucidar estas questões, foi passado o filme: Vida e Obras de Monteiro

Lobato, ele conta sua vida, suas principais obras e de como surgiu o Sítio do Pica-

Pau Amarelo, mostrando suas personagens ilustres. Na sequência foi apresentado o

livro que seria objeto de estudo dos alunos: A Geografia de Dona Benta e Monteiro

Lobato.

A discussão foi espontânea, as crianças conheciam as personagens do livro

por meio de desenho animado que está sendo transmitido pela emissora de

televisão de canal aberto e fechado. Os alunos pegaram o livro, folhearam e alguns

pediram para levar o livro para ler em casa. Após esse contato, as aulas foram

fluindo de uma forma agradável, receberam o material didático, perguntaram se era

para o ano todo, manifestaram interesse de usar o material, apreciaram as

ilustrações e demonstraram uma grande participação, tanto na leitura, como na

resolução das atividades propostas no material.

Primeiramente foi feita a leitura e a interpretação do livro, por meio de teatros

em que os personagens foram escolhidos pelos próprios alunos, vestiam roupas

apropriadas dos personagens e representaram bem, cada um o seu papel.

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Ocorreram teatros de dedoches com os personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo.

Alguns eram apenas lidos por meio de um narrador e assim a obra foi lida.

Figura 1 - Teatro Figura 2 - Teatro

Durante as leituras eram feitas comparações com a geografia da época da

publicação do livro com os fatos atuais. Percebendo assim o quanto a geografia é

viva e como houve mudanças no cenário geográfico daquela época, até agora. Eles

faziam anotações das mudanças ocorridas no decorrer do tempo, em uma folha

caracterizada: A geografia antes/ A geografia agora. Exemplos: A vegetação original

do Paraná era em grande quantidade,

ocorreu à destruição para criação das

cidades e para o cultivo agrícola. O

Mato Grosso não era desmembrado. O

número de estados brasileiros eram

outros e as curiosidades aumentavam

a cada episódio do livro.

Figura 3 - Momento Leitura

Para melhor compreensão dos alunos foi trabalhado o Município de

Mandaguaçu, onde residem. Aprenderam a história, a localização, a cultura e a

economia desse espaço, e o lugar que ele ocupa no estado e no país em que está

inserido. Foi trabalhado partindo da história por meio de slides. Depois com o auxílio

de fotos da cidade, em diferentes anos, os alunos fizeram comparações das

mudanças ocorridas no espaço geográfico em que a cidade está inserida e

descobriram que tudo acontece por causa do progresso. Notaram também, que o

espaço geográfico sofreu muitas transformações e que essas transformações

continuam ocorrendo, devido o trabalho do ser humano que muda o espaço em que

vive.

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.

Figura 4 - Mapa da cidade de Mandaguaçu

Após a aplicação do material didático foi possível perceber que os alunos

aprenderam o que foi exposto, com o auxílio desse material. Eles puderam contribuir

na elaboração de textos, ilustrações e opiniões referentes ao que foi estudado,

garantindo assim, a aprendizagem. Essa metodologia fez com que alguns alunos

lessem outras obras de Monteiro Lobato. Assim o hábito de ler que é um dos

objetivos deste trabalho está acontecendo de forma modesta, mas benéfica para o

aprendizado geográfico.

Veja o comentário de uma aluna na íntegra:

Por meio da Geografia aprendi várias coisas e também sobre o Sítio do Pica-Pau Amarelo de Monteiro Lobato. Aprendi o que o livro falava sobre a vegetação, os estados, os rios do Brasil e também sobre o clima, tudo isto dentro de um navio imaginário do pessoal do Sítio que viajava pelo litoral brasileiro. Eu era a Narizinho, usava um vestido xadrez, adorei fazer o teatro. O tempo todo o gente estava estudando geografia e nem percebia, a professora ia falando sobre: lugar, região, natureza, de acordo com o que falava no livro, depois ela esclareceu que eram alguns conceitos da geografia e aí achei fácil.

Trabalhar com a literatura trouxe vida às aulas de geografia, foi possível viajar

com as crianças por meio da leitura, dos questionamentos, da imaginação. Qualquer

fato pode ser relatado de uma forma crítica, mais com sentido. As crianças gostaram

da experiência e com certeza de uma forma ou de outra a leitura vai fazer parte de

suas vidas não como obrigação, mas por prazer. É claro que não são todos, mais

são a maioria.

No decorrer das aulas eram percebidos os alunos que tinham facilidades no

entendimento dos conteúdos. Aqueles que não apresentavam essa facilidade eram

ajudados pelos colegas de uma forma espontânea e assim todas as atividades eram

executadas. A atividade envolvendo o Planeta Terra, deu a oportunidade de além do

livro Geografia de Dona Benta, ainda foram utilizadas outras fontes como:

Planetário, em que os alunos aprenderam a manusear, verificar como acontecem as

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estações do ano em cada hemisfério, fizeram ilustrações para exemplificar os

Movimentos da Terra. Com o computador puderam ver as imagens de satélites e

conhecer a localização da Terra no Universo, juntamente com seu estado, país e

continente. O aproveitamento foi muito bom, as atividades foram realizadas com

prazer, tudo chamava a atenção.

Trabalhar com os meios de orientação sempre foi difícil, os alunos

apresentam muitas dificuldades de orientação espacial, mas com as explicações de

Dona Benta que estão no livro, nas páginas onze e doze, por meio da dramatização

do trecho que retrata os Pontos Cardeais e Colaterais, ficou mais fácil. Essa

personagem colocou elementos do dia a dia do pessoal do Sítio para eles

entenderem. Assim os alunos entenderam o que era comentado entre os

personagens. Para complementar, realizaram ainda a atividade no pátio da escola,

desenharam a rosa dos ventos e completaram com os Pontos Cardeais e Colaterais

seguindo o roteiro:

- Local da escola que se localiza ao Norte, ao Sul, e assim por diante, (os

locais eram: cantina, secretaria, sala de orientação, biblioteca, quadra, portão, sala

de computação). Em outra atividade realizada por equipe, uma equipe desenhou a

Rosa dos Ventos e a outra desenhou o

que era pedido, por exemplo: fazer uma

casa na direção Sudeste, depois em outra

direção. A equipe que fizesse primeiro

ganhava pontos. Essas atividades

contribuíram para tirar todas as dúvidas.

Figura - Desenho da Rosa dos Ventos

O resultado foi satisfatório, os alunos aprenderam brincando, tanto que foi

utilizado com as demais turmas de sextos anos.

O Material Didático elaborado foi bem aproveitado, suas atividades são claras

e objetivas e contribuiu para a aprendizagem dos alunos. Além do mais, abre um

leque para ser complementado com outras atividades que venha de encontro com o

conteúdo trabalhado.

Buscar recursos didáticos é sempre uma nova forma de ensinar e de trazer a

aprendizagem em um processo gradativo e contínuo na vida do educando.

4.1 Grupo de Trabalho em Rede (GTR)

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Paralelo a implementação em sala de aula, acontecia o Grupo de Trabalho

em Rede (GTR), este é um curso de capacitação online, com duração de sessenta

horas, voltado para professores de Geografia da Rede Estadual de Ensino do

Paraná, ocorreu no período de 19/04/2013 à 06/05/2013, com a inscrição de

dezesseis participantes, dos quais, quinze concluíram. Este curso deu a

oportunidade de trocas de experiências e de conversas referentes à Literatura nas

aulas de Geografia.

Muitos professores usam essa metodologia e gostam de aproveitar o que a

cultura brasileira tem de melhor. Vários autores têm em suas obras enredos ricos em

detalhes geográficos, em que o aluno possa visualizar questões de relevo,

hidrografia, vegetação, diferenças regionais e demais aspectos de sentido

geográfico em suas obras.

Dentre os diversos trabalhos apresentados um dos participantes escreveu o

seguinte:

A Literatura é uma área extremamente abrangente, principalmente a nossa literatura brasileira onde os escritores têm uma intimidade enorme com o lugar onde estão ou viveram parte de suas vidas e o descrevem em detalhes ou em algumoutro momento de suas obras. Sem contar que o povo latino é extremamente emotivo e coloca suas emoções em todas as formas de arte. Trazer essa arte para o espaço escolar é imprescindível para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem para torná-lo mais concreto e prazeroso tanto para o aluno quanto para o professor.

Outra participante escreveu:

A leitura é uma atividade permanente da condição humana, uma habilidade a ser adquirida desde cedo e treinada em várias formas. Lê-se para entender e conhecer, para sonhar, viajar na imaginação, por prazer ou curiosidade. Devemos estimular de alguma forma a leitura para vários fins: como fonte de informação de caráter geral ou específico; para seguir instruções (saber como fazer); para aprender; para revisar nossos próprios escritos; por prazer, etc. Não podemos esquecer e sempre falar, de que fazemos leitura de tudo o que está ao nosso redor; estamos lendo o tempo todo, e isso tem de se fazer notório para o aluno. Partindo desse pressuposto, a escola não deve delimitar o significado e a função que se atribui à leitura. Tendo em vista que ainda hoje o ensino de geografia é visto como uma coisa chata e enfadonha onde os conteúdos são apresentados de forma fragmentada e distante da realidade do aluno, este estudo através da literatura, se propõe a apresentar mecanismos que permitem uma maior interação entre o aluno e o professor e destes com o conteúdo a ser apresentado, porque muitas vezes o conteúdo das aulas é chato e enfadonho para o professor que fica preso às abordagens tradicionais de repetição e memorização.

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Durante o GTR, aconteceram trocas de experiências de várias localidades

paranaenses, pois este curso favorece a interação entre os professores através de

conversas, debates, sugestões de atividades e até desabafos. Afinal a constatação

das dificuldades de aprendizagem e de desinteresses dos alunos é geral, sendo que

todos procuram de uma maneira ou de outra buscar recursos que venham

enriquecer a prática em sala de aula.

5 Considerações Finais

A experiência que foi descrita nesse artigo é rica, de crescimento intelectual, e

muita leitura, de fatos acontecidos em sala de aula, onde o principal foi o processo

de ensino-aprendizagem. No decorrer de uma implementação, onde as dificuldades

de aprendizagem foram surgindo, como por exemplo, a própria leitura, em que o

aluno tinha vergonha de ler, de se expressar, foi diminuindo e até superado. Os

alunos ajudavam os que apresentavam dificuldades. Alguns conteúdos e conceitos

geográficos puderam ser abordados e construídos a partir das leituras do livro: “A

Geografia de Dona Benta”; de trechos de filmes que abordavam o assunto. Desta

forma, a aprendizagem que é um processo gradativo e contínuo, foi acontecendo.

O trabalho com a literatura é um convite para que o leitor se predisponha a

enriquecer a sua rotina diária ao ousar e experimentar uma nova forma de atuação

em que o professor, os alunos, colegas, estarão igualmente envolvidos em aprender

e buscar resultados. A literatura lhe dará a oportunidade de se tornar um curioso

caçador de novos conhecimentos e mexer com a realidade, sempre pronto a fazer

boas perguntas e descobrir como respondê-la. Podendo ocorrer surpresas diante de

resultados esperados e inesperados. Aluno que parecia não se envolver de repente

dá perguntas e respostas que surpreendem o professor e colegas, demonstrando

com as respostas positivas que sabia do que se tratava o assunto que estava sendo

estudado.

Os alunos demonstraram ter dificuldade em ler e interpretar o que estava

lendo, com o projeto O Ensino de Geografia por meio da Literatura: A Geografia de

Dona Benta, notou-se um interesse maior na prática da leitura. Todos queriam ser

personagens, sentiam-se a vontade em comentar o assunto e discutir o conteúdo

que estava sendo trabalhado. Neste projeto o aluno foi convidado a conhecer, a

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compreender e observar o mundo a sua volta com um olhar geográfico e perceber o

quanto a geografia faz parte de sua vida.

Quanto maior for à interação e a comunicação entre professor e aluno, mais

informações o professor obterá de seu aluno e maior será o conhecimento que terá

sobre o seu processo de aprendizagem e do nível escolar a qual se encontra.

Como toda metodologia a ser aplicada, é preciso lembrar que o professor não

é o único que ensina, mas que este, também aprende e que sua metodologia deve

considerar uma diversidade de estratégias instrutivas, em função do tipo de

conteúdo a ser desenvolvido para adaptá-lo às diferentes necessidades de uma sala

de aula.

É preciso ajudar o aluno a pensar, a administrar o seu tempo, ensinar a

estabelecer metas, estimular seu raciocínio, sugerir buscas de “porquês” dos fatos.

Em uma sala de aula a aprendizagem não acontece de forma homogênea, é preciso

acompanhar o crescimento da aprendizagem do aluno independente da metodologia

usada. Nesta, foi abordada a Geografia e a Literatura e houve dificuldade de

entendimento para alguns alunos, eles sentiram dificuldades de interpretar a leitura

com a execução de algumas atividades. Com o auxílio do professor e também dos

colegas, eles conseguiram realizar todas as atividades propostas.

Por meio desta experiência didática, percebemos que um grande auxiliador

do professor no processo de ensino/aprendizagem é a literatura, que por meio dela o

aluno poderá aprender geografia, lendo e vivendo histórias ou romances, ou seja,

ele estará sendo estimulado a ler e ao mesmo tempo ganhando conhecimento de

cunho geográfico. Lembrando que não são todos os alunos, mas os que

conseguirem já é bom e faz a diferença.

Considerando todos os aspectos relacionados ao tema, vemos que atividade

lúdica é importante para o ser humano em qualquer idade. É importante ler para

conhecer e ao mesmo tempo entender o mundo que nos cerca. A leitura proporciona

aprendizagem, ajuda à escrita e a fala, organiza o pensamento e está presente em

todas as disciplinas. É indispensável para o crescimento intelectual de qualquer

indivíduo e prepara o ser humano para atuar dentro desse universo tão complexo

que se chama vida.

Diante do que foi exposto verifica-se a importância de se estudar geografia

por meio da literatura. Por meio dela, percebe-se a interação homem-natureza,

homem-espaço geográfico construído ou em construção. A apropriação do espaço

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geográfico com escala local, ou global para atender as necessidades humanas

referentes a vários aspectos de ordem pessoal ou territorial. A sociedade está

organizada socialmente, economicamente e culturalmente e sua dependência dita a

harmonia entre todos os povos que habitam o Planeta Terra.

Pelo que foi observado na implementação do projeto, teve-se a certeza que

houve uma melhor compreensão dos conceitos da Geografia e que os resultados

almejados foram alcançados.

6 Referências Bibliográficas

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