O enterro da tiffany

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Texto VII: O enterrro da Tiffany Autoria: Carol (tema) e seu Pai (texto) Março de 2011 http://caroleseupai.blogspot.com

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Texto VII: O enterrro da Tiffany

Autoria: Carol (tema) e seu Pai (texto)

Março de 2011

http://caroleseupai.blogspot.com

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Texto VII: O enterro da TiffanyDurante muito tempo, pediu ao pai que lhe desse um cachorro. Ele sempre dizia que ia pensar, e não comprava o bichinho. Muitas vezes, ele consultava a mãe e as irmãs, e elas não aceitavam. Elas diziam que um cachorro ia dar muito trabalho e que ninguém na casa ia cuidar dele direito, e que ia ficar para o pai e a secretária limparem as sujeiras do animal.

- Já pensou como é que vai ser quando a gente viajar? Quem vai cuidar do bicho?

Lá embaixo, no prédio, quase todos os finais de semana, sempre tem alguém brincando com seu bichinho de estimação. A vizinha já teve um gato, e agora tem um cachorro. Os tios em Brasília também têm cachorros. Um dos tios tem um cachorro bem pequeninho e já bem velho chamado “Nala”. Já o outro tio tem vários cachorros, de várias raças, pequenos e grandes, e convivem numa casa grande, com bastante espaço no quintal.

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Tem pessoas que têm medo de cachorro, que não podem ficar num elevador com um cachorro, mesmo que ele esteja nos braços do dono, que ficam meio com medo. Meio com medo porque têm vontade de pegar no bicho, fazer um carinho, mas parece que não conseguem, é uma sensação de insegurança, por achar que eles podem morder.

De tanto falar com o pai, convenceu-o a comprar senão um cachorro um “hamster”. Estava tudo quase certo na casa. O pessoal ficou ainda meio estressado, mas tudo estava resolvido. No dia da compra, já na loja, o pai desconversou, e decidiu comprar um porquinho da índia.

-É muito melhor do que um hamster, é muito mais legal, é maior e não parece um rato!

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A loja ficava no caminho do colégio para casa. Os três porquinhos da índia que restaram de um lote que já estava havia quase dois meses na pet não agradaram ao pai.

-Eles estão muito crescidos. O melhor é que seja um filhote, de uns dois meses. Vamos ver se a gente consegue em outro lugar.

Ao sair da loja, uma vendedora entregou num papel um telefone e disse que poderia ligar: “eles vendem por um preço bem mais barato do que aqui”.

O pai ligou e no mesmo dia, à noite, foram ter numa casa, numa rua próxima da casa da avó por parte de mãe. Era um lote de esquina, um terreno grande com uma casinha bem ao fundo. Vários cachorros vieram receber os dois.

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Dava receio, apesar de se avistar algumas crianças brincando na casa. Uma mulher grávida veio ao portão e disse que poderiam entrar. Só depois que um homem segurou um pit bull que estava preso por uma corda e o amarrou a uma corrente foi possível cruzar o trajeto do portão à varanda.

A casa parecia um ninho, por todos os cantos havia cachorros, pequenos e de várias raças. Também havia hamster´s e num quadrado se via um porquinho da índia.

- Este é o único que restou. Talvez, amanhã, a gente receba uma nova ninhada. Foi você que ligou não foi? Se chegar eu ligo para o senhor.

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Apesar de ainda não ter o porquinho, já havia comprado a gaiola e a comida, agora não havia desculpa. No sábado o pai prometera ir ao centro e passar em todas as lojas para comprar o bicho.

Foram visitadas as lojas na Rua Marechal Deodoro, perto da Avenida Duque de Caxias, mas os porquinhos estavam muito feios. Perto da Catedral, numa loja especializada em aves, havia um lote de vários porquinhos, aparentemente não tão velhos. Lá foi comprada uma fêmea. Não era malhada, como se queria, mas tinha duas cores, só que um pouco escuras.

Pela sua aparência e pelo seu jeito meio tímido, porque não se movimentava muito, talvez estranhando a falta dos irmãos, foi chamada de Tiffany. 5

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Geralmente quando se compra um bicho e ainda não se colocou o nome, a melhor forma de internalizar o nome na mente e na casa é não deixar de chamá-lo a toda hora. Era Tiffany pra cá, Tiffany pra lá, enfim, em pouco tempo todos a estavam chamando pelo nome.

Aparentemente a Tiffany havia se adaptado e até porque era muito bem tratada, inclusive com cenoura e pepino – os porquinhos gostam muito – se esperava que ela começasse a interagir mais.

Mas de uma hora para outra, ela começou a ficar estranha, já não se alimentava direito, as fezes estavam estranhas, o seu pêlo não tinha o mesmo reflexo de antes.

- Pai, a Tiffany está cagando sangue. Eu acho que ela vai morrer

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A Tiffany não sentiu a brisa gostosa da tarde naquele dia. O sentimento era de tristeza. O pai confortou a filha e disse que iria comprar outro porquinho. Agora era hora de dar um fim ao corpo do animal. A filha não compreendia daquela forma e não considerava o bichinho um animal.

-Não pai, não vamos deixar o corpo dela por aí, em qualquer lugar. A gente vai enterrar. Eu e D. Sandra vamos fazer o enterro dela lá embaixo, no quintal do prédio.

Na manhã seguinte à morte da Tiffany, logo cedo, aconteceu o enterro. A secretária fez quase tudo. Tirou a bichinha da gaiola, colocou num saco plástico, pegou um pedaço de madeira que havia sobrado do conserto dos armários da cozinha, e que seria usado para cavar a cova do porquinho.

Era melhor que fosse bem cedo mesmo, porque quase todos os meninos do prédio já sabiam que a Tiffany morrera e não se queria ter muita gente no enterro para não chamar atenção. 7

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No pouco tempo que passou na casa a Tiffany era muito querida. Isto apesar dela não ter estabelecido muitos relacionamentos: nem um grunhido para chamar a atenção que estava com fome, nenhum “grito” quando passava uma sombra de um gavião na varanda, nenhum “olhar” pedinte. Talvez ela fosse tão querida porque foi muito esperada e muito bem cuidada. Mas a morte, às vezes chega, independente disso.

Depois do corpo da porquinha da índia, ou preá como queiram, ter sido enterrado o desejo era poder colocar uma lápide ou qualquer coisa para registrar a sua presença na terra: “aqui está enterrada a Tiffany, uma porquinha da índia muito bonitinha e que ela siga em paz”.

À tarde, naquele sábado, souberam que os meninos e meninas do prédio fizeram uma homenagem a Tiffany. Todos foram ao lugar em que ela havia sido enterrada e, lá, rezaram.

Fim

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